Odontologia de Grupo em Revista Nº 26

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ANO VII - Nº 26 - JUL / AGO / SET 2015

em revista

Água fluoretada

Um bom negócio para a saúde da população

Halitose

Dietas alimentares podem trazer mau hálito

Odontologia social

Trabalho do dentista está além do consultório

A geriatra Ana Cláudia Quintana Arantes, da Associação Casa do Cuidar, ensina doentes terminais a viver em sua plenitude

ISSN 2175-2419

Odontologia de Grupo


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EDITORIAL

O conhecimento como base

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Como entidade representativa em todo o território nacional das operadoras de odontologia de grupo, o Sinog, ao longo dos últimos anos, estruturou-se para atender o associado em algumas linhas de atuação, entre as quais a de disseminação do conhecimento. Acreditamos que, para as operadoras manterem-se atuantes e conectadas com a realidade do mercado, necessitamos criar momentos para que o material humano de nossas organizações possa ter contato com novos conhecimentos e formar redes de relacionamento para a troca de experiências. O conhecimento é uma das principais ferramentas que utilizamos para a obtenção de meios que sirvam à nossa sobrevivência e à interação com a sociedade. Constantemente precisamos aperfeiçoar nossas bases de informação para encontrarmos referências, estudos e reflexões que nos levem a responder questionamentos cotidianos e solucionar problemas que interfiram em nossa trajetória pessoal e profissional. O Sinog esmera-se por dar a oportunidade a todos os colaboradores das operadoras, sejam elas associadas ou não, de terem acesso aos eventos, cursos e workshops promovidos pelas entidades do Sistema Abramge e pela Universidade Corporativa Abramge – UCA. Além disso, reuniões das comissões técnico-regulatória, jurídico-tributária e econômico-atuarial propiciam aos associados um ambiente para elucidação de dúvidas e direcionamento de ações práticas, já que o cipoal das leis e normativas que regulam nosso setor exige um complexo esforço de entendimento. Nessas ocasiões em que a presença física é necessária, é possível ter contato com novas abordagens, reciclagem de conhecimento e diferentes pontos de vista que nos permitem enxergar com outros olhos os temas que podemos julgar esgotados. Ou ainda fazer o networking, como costumamos chamar no mundo corporativo essa rede de contatos que criamos para trazer benefícios mútuos. Prova disso é o sucesso do Sinplo – Simpósio Internacional de Planos Odontológicos, realizado no primeiro semestre, e os Congressos Abramge e Sinog que acontecem no segundo. Em ambos, conseguimos capitalizar contatos que sejam úteis para colhermos adiante resultados que possam ser promissores para os nossos negócios. O Sinplo caminha para sua SUMÁRIO Editorial............................................ 3 Fluoretação - Capa............................. 4 Olhos................................................ 7 OPME................................................ 8 Inverno........................................... 10 Meditação....................................... 12 Vegetarianas................................... 14 Exercícios mentais........................... 16 Entrevista....................................... 18 Estomatite...................................... 21

11a edição em 2016 com a certeza de ser um evento catalisador e disseminador de novos conhecimentos, base para a compreensão dos cenários político, econômico e social no Brasil. No que se refere ao nosso segmento, lançamos, conjuntamente com a UCA, o inédito curso Excelência em Gestão de Operadoras Odontológicas. Dividido em sete módulos, o curso espera prover conhecimento quanto ao sistema de saúde suplementar odontológico, à segmentação do mercado e produtos, à regulação do mercado e ANS, à gestão da rede assistencial, à qualidade e gestão de contas odontológicas, às questões legais e éticas na gestão da rede assistencial e ao atendimento pós-venda. O curso é uma excelente oportunidade para que as operadoras capacitem e reciclem seus colaboradores, além de dar a oportunidade aos demais profissionais, incluindo cirurgiões-dentistas, em conhecer a operacionalização dos planos odontológicos. No âmbito do compartilhamento das informações digitais, desenvolvemos novas ferramentas para propiciar uma experiência mais interativa com os associados. No Portal Sinog, além de conter toda a documentação expedida para os contatos cadastrados no mailing, criou-se o Fórum de Discussões, em que moderadores e participantes podem levantar questionamentos a respeito de diversos assuntos relevantes para as operadoras, e a Bolsa de Empregos, para que empresas possam abrir vagas para seus quadros funcionais e candidatos disponibilizem seus currículos para visualização e contratação. Já o Clipping Saúde, a mais recente ferramenta criada por nossa área de comunicação, integrou os clippings diários em um produto mais responsivo e dinâmico a todos os colaboradores das operadoras. Com ele, as principais notícias de interesse ao setor saúde, publicadas nos mais diversos veículos de informação, são agrupadas em editorias para facilitar o entendimento de cada assunto ali abordado. Como um dos eixos condutores de nossas atividades dentro do Sinog, a disseminação do conhecimento e o compartilhamento das informações são peças fundamentais para que as operadoras estejam conectadas, não somente a nós, mas ao mundo globalizado que nos encontramos. Isso nos permitirá compreender melhor os novos rumos que o setor saúde está trilhando. EDIÇÃO 26 - JUL/AGO/SET 2015 Halitose.......................................... 22 Modelos de remuneração.................. 24 Economia compartilhada................... 26 Flávio Tiné...................................... 28 Espaço Livre.................................... 29 Paulo Castelo Branco........................ 30 Responsabilidade Social.................... 31 Odontologia social............................ 32 Mercado.......................................... 34

. Geraldo Almeida Lima . P residente do Sinog

Diretoria (2014-2017) Geraldo Almeida Lima - Presidente Reinaldo Camargo Scheibe - Vice-presidente Flávio Marcos Batista - 1o Secretário Sérgio Ulian - 2o Secretário Roberto Seme Cury - 1o Tesoureiro Claudio Aboud - 2o Tesoureiro Walter Carmo Coriolano - Assuntos Profissionais Nivaldo Vanni Filho - Assuntos Institucionais Wagner Barbosa de Castro - Procurador

Assessoria de Comunicação e Marketing

L uís Fernando Russiano Ramos (Mtb

27.279/SP) - Jornalista responsável. Camila Pupo e Amauri Gonçalves Assistentes de Comunicação. Redatores, Repórteres e Colaboradores desta edição: Alessandro Polo, Amaury Bullock, Elisandra Escudero, Flávio Tiné, Gustavo Sierra, Keli Vasconcelos, Lucita Briza, Martha Ramos, Neusa Pinheiro, Paulo Castelo Branco, Renata Bernardis, Silvana Orsini, Sueli Zola, Tatta Santos. Revisão: Lia Marcia Ando. Ilustrações internas: Marcelo Rampazzo. Pesquisa e documentação: Amauri Gonçalves, Camila Pupo. Produção Gráfica: Morganti Publicidade. Impressão: AR Fernandez Tiragem desta edição: 6.200 exemplares SINOG – SINDICATO NACIONAL DAS EMPRESAS DE ODONTOLOGIA DE GRUPO Endereço para correspondência: Rua Treze de Maio, 1540 - São Paulo - SP CEP 01327-002 Fone: (11) 3289-7299 Fax: (11) 3289-7175 Portal: www.sinog.com.br E-mail: secretaria@sinog.com.br

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FLUORETAÇÃO

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Combate contra a cárie

A recomendação é unânime: a ingestão de água fluoretada é a principal prevenção contra as cáries. A indicação não é válida somente para o Brasil, mas para o mundo inteiro. O que muda, dependendo dos princípios dos pesquisadores da área, é a quantidade mínima de adição de fluoreto na água. Segundo Silvio Jorge Cecchetto, presidente da Associação Brasileira de Cirurgiões-Dentistas – ABCD, e Marco Manfredini, secretário do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo – Crosp, a primeira menção que se tem notícia recomendando oficialmente a adição de flúor à água de abastecimento público no Brasil, foi feita pelo 10o Congresso Brasileiro de Higiene, realizado em 1952, na cidade de Belo Horizonte. Posteriormente, em 1986, com a 1a Conferência Nacional de Saúde Bucal, e, em 1988, com a aprovação da Política Nacional de Saúde Bucal, confirmou-se a fluoretação das águas de abastecimento público como um dos pilares básicos para a prevenção da cárie dentária no Brasil. No início do século XXI a recomendação foi apoiada e reivindicada unanimemente por todas as entidades de odontologia, da área de saneamento e de saúde pública do Brasil. A Organização Pan-Americana da Saúde – OPAS e a Organização Mundial da Saúde – OMS preconizam a fluoretação das águas de abastecimento público como medida da mais alta prioridade para prevenção e controle da cárie dentária. Na 60a Assembleia Mundial da Saúde, realizada em Genebra, em 2007, a OMS reiterou sua recomendação de que os países deviam seguir utilizando fluoretos para prevenir cárie e que a fluoretação é a principal tecnologia a ser empregada, devendo ser priorizada. Em Santa Catarina, a coordenadora estadual do Programa da Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (VigiÁgua), Michele Marcon Telles Prado, conta que o programa funciona nacionalmente, vinculado ao Ministério da Saúde, e tem por objetivo fazer o monitoramento da qualidade da água em todos os municípios. Todos os meses, os técnicos das vigilâncias municipais coletam a água em diferentes pontos de seu município, tanto a água tratada como a não tratada, e levam todas as amostras para o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacem). Além do monitoramento do material coletado, os fiscais de vigilância municipal devem incluir, mensalmente, os resultados e os demais dados no Sistema de Informação da Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua). “Nós temos que fazer um comparativo entre os dados coletados pela Vigilância e os dados que o controle monitora. O quantitativo de amostras está preconizado na Diretriz Nacional do Plano de Amostragem, do Ministério da Saúde, e a quantidade m b.co oclu t o de amostras tem que estar de acordo com a h llarp us

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. Martha R amos .

Importância do flúor

Dados comparativos entre cidades que têm fluoretação e as que não têm mostram que o CPO-D (índice de dentes cariados, perdidos ou obturados) nas crianças até 12 anos é de 2,27 nos municípios sem água fluoretada, enquanto naqueles onde não há este tratamento o índice é de 3,38 (49% maior). O flúor presente na cavidade bucal vindo da água fluoretada não consegue evitar completamente a ocorrência de cárie, mas reduz aproximadamente em 50% a incidência, tornando-se, portanto, uma medida econômica importante e fundamental para a saúde da população. Contudo, o Crosp e a ABCD alertam para o excesso de flúor que pode ser prejudicial à saúde. Se usado em doses muito altas, os dentes podem ficar manchados ou até quebradiços. A população de cada região deve se informar sobre o sistema de fluoretação de sua localidade, evitando a ingesta de flúor acima do preconizado. O uso em doses extras tem de estar sob o controle de um odontólogo.

Para o coordenador estadual de Saúde Bucal de Santa Catarina, Nestor Antônio Schmidt de Carvalho, além da fluorose dental, o excesso de flúor pode também ter repercussão em nível sistêmico, causando problemas no fígado, cérebro e, principalmente, nos ossos. Carvalho lembra que a ingestão de alimentos cozidos com essa água, como arroz e feijão, por exemplo, traz o mesmo benefício. Assim, mesmo que não consumam a água de abastecimento público fluoretada, pessoas que vivem nessas regiões são beneficiadas pelos alimentos preparados com ela. © Nenitorx | Dreamstime.com

população total do município, com base nos indicadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística”, explica Michele. Quando a água não está de acordo com o previsto na legislação, é feita uma inspeção e a empresa de abastecimento de água da cidade é multada. Nesse processo, que deve estar de acordo com a Portaria 2.914/2011 do Ministério da Saúde, que estabelece os modelos para a verificação da qualidade da água, é conferido desde a captação da água até o seu consumo.

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Água fluoretada é a melhor prevenção, afirmam especialistas

Nos consultórios dentários, o uso do flúor também deve ser feito caso a caso, para evitar o excesso de flúor nos dentes. O cirurgião-dentista Eduardo Rumpf esclarece que a profilaxia da boca deve ser feita rotineiramente com o intuito de remover a placa e o tártaro (placa bacteriana calcificada e de difícil remoção) que podem causar gengivite, cáries, mau hálito e outros problemas, como a perda óssea e consequente perda dos dentes por falta de sustentação. “Fazendo a higienização adequada, você não deixa que os ácidos das bactérias desmineralizem


FLUORETAÇÃO

seu dente”, explica Rumpf. O flúor, em forma de fluoreto (F-1), diminui a desmineralização e ativa a remineralização do esmalte e da dentina.

Histórico da fluoretação

Ao relembrar o histórico da fluoretação das águas potáveis, a professora convidada do Curso de Especialização em Implantodontia da UniABO, da Associação Brasileira de Odontologia, seção Santa Catarina, Nadia Maria Fava, esclarece que este procedimento é utilizado desde 1945 como recurso para prevenção da cárie dentária, sendo considerado uma tecnologia à disposição da saúde pública e preconizada pela OMS. O processo de fluoretação da água iniciou-se na década de 1940, em Michigan, nos Estados Unidos, como forma de manter a saúde oral e fortalecer os dentes. Em 1969, após aprovação pela OMS, diversos países começaram a fluoretar suas águas. No Brasil, o começo foi em 1953, em Baixo Guandu, no Espírito Santo,

mas foi nos anos 1970, durante o governo de Ernesto Geisel, pela Lei Federal 6.050/74, que a fluoretação das águas de abastecimento se tornou obrigatória, com a implantação das Estações de Tratamento (ETA). Essa prática foi implementada também em municípios que não contam com ETA e, até mesmo, onde o sistema de abastecimento é misto, com poços artesianos. Após a adoção pelas principais cidades brasileiras, observou-se a diminuição da incidência da cárie. Ainda assim, nas regiões Norte e Nordeste e em algumas capitais estaduais, o uso da fluoretação ainda não é sistemático.

Realidade brasileira

O Brasil Sorridente, política nacional de saúde bucal, é o programa do governo que promove, previne e recupera a saúde bucal da população do País, por meio da Vigilância em Saúde Bucal, e a Vigilância Sanitária controla a fluoretação das águas potáveis.

A professora Nadia Fava explica que, para o emprego seguro da fluoretação da água, é preciso a realização da vigilância sanitária da água, com base no heterocontrole, de modo que a água tratada esteja fluoretada corretamente, nem abaixo do nível, para poder prevenir cárie, nem acima do aceitável, pois se torna prejudicial à saúde. A fluoretação deve se dar em níveis aproximados entre 0,6 e 1,0 ppm (parte por milhão), evitando a toxicidade do flúor. No Brasil usa-se 0,7 mg F/l, com variação de 0,6 a 0,8 mg F/l, dependendo das médias das temperaturas máximas anuais em cada localidade. Cidades com baixas temperaturas médias, o ideal é 0,8 mg F/l. As técnicas de fluoretação variam conforme cada sistema de tratamento. Do ponto de vista econômico, a fluoretação da água também se mostra um bom negócio. A OMS revela que, para cada dólar investido em fluoretação, são economizados 50 dólares, que poderiam ser destinados para tratamentos dentários. P martharamos89@hotmail.com

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OLHOS

Além dos óculos

Os óculos ganharam um peso que ultrapassa o mero posto de ajudar os olhos a enxergarem com mais nitidez, corrigir disfunções como miopia (afeta o foco em objetos distantes), astigmatismo (apresenta córnea irregular, distorce imagens) e hipermetropia (figuras focadas atrás da retina), ou mesmo “afugentar” os temidos espectros de raios UV. Hoje, ocupam o status de acessório chique, equiparando-se a itens desejados como bolsas e relógios de grifes renomadas. Literalmente, são opções a “perder de vista”, que podem revelar a personalidade de quem os usam, e estão espalhados em lojas do ramo e estabelecimentos que vendem réplicas de marcas famosas. Seus materiais fundamentalmente conferem resistência e estilo, com uma variedade de lentes que prometem impedir riscados, embaço e a entrada das radiações solares. Em números, o faturamento do segmento foi de mais de 20 bilhões de reais, em 2014, segundo pesquisa da Abióptica (Associação Brasileira da Indústria Óptica). Do total, no entanto, quase a metade ficou na informalidade. O estudo constatou ainda que quatro em cada dez consumidores já compraram produtos do gênero – de

grau, escuros e armações – contrabandeados ou pirateados. Embora haja enormidade de versões, valores e até um apelo de consumo, o alerta dos especialistas é que não basta adquiri-los para evitar lesões mais graves, como as de retina ou mesmo o glaucoma. “O principal papel dos óculos de grau é fazer o paciente enxergar melhor, já os de sol são destinados àqueles que têm maior sensibilidade à luz, proporcionando mais conforto”, reforça Rubens Belfort Júnior, professor titular do Departamento de Oftalmologia da Unifesp (Universidade Federal do Estado de São Paulo). Para Sandra Alice Falvo, oftalmologista do IMO – Instituto de Moléstias Oculares, em São Paulo, os óculos de grau necessitam ser “personalizados”, ou seja, indicados conforme cada indivíduo e histórico. Ela também enumera alguns danos provocados pela exposição prolongada ao sol, como a fotoceratite, uma inflamação da córnea, cuja sensação é de “areia” na vista. “Podemos citar o pterígio (processo degenerativo da conjuntiva), a DMRI – doença macular relacionada à idade, o surgimento precoce de catarata, além de câncer de pele nas pálpebras”, descreve.

Cuidado nunca é demais

E as crianças, podem usar óculos de sol? A médica responde que os exemplares precisam ser confortáveis e que se ajustem ao rosto dos pequenos: “Não podem ser nem apertados, muito menos largos, e é aconselhável escolher lentes resistentes a riscos e quedas. Se a criança usa os de grau, deveria ter também um modelo solar”, destaca. Vale lembrar que cuidar dos olhos é relevante em todos os períodos da vida. Postergar a consulta ao oftalmologista é negligenciar possíveis agravamentos, advertem os profissionais. Para se ter ideia, até 75% da cegueira resulta de causas tratáveis e previsíveis, apontam dados do Conselho Brasileiro de Oftalmologia. Rubens Belfort Júnior endossa: “A ida ao especialista regularmente é importante para a ­realização de exames específicos, com a avaliação e o diagnóstico precisos das funções oculares. A adoção de bons hábitos, mais saudáveis, também auxilia nessa manutenção. É dar a devida atenção à saúde, ter uma alimentação balanceada e parar de fumar, que é um agravante”. P vasconceloskeli@gmail.com

. Keli Vasconcelos .

Independentemente do preço ou apreço do item, é indispensável avaliação médica e hábitos saudáveis para manter a boa visão

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OPME

NO CAMINHO DA JUSTIÇA

Lucio Bernardo Jr. / Câmara dos Deputados

Reunião para leitura, apresentação e discussão do relatório da CPI, do deputado André Fufuca (PEN-MA)

. Gustavo Sierra .

Pedro Ramos, diretor da Abramge, cobrou agilidade do governo na solução de problemas causados pela Máfia das Próteses

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4 de janeiro de 2015. O programa Fantástico da TV Globo veicula sua primeira reportagem com mais de 20 minutos de duração sobre a Máfia das Próteses – organização que vinha sangrando os cofres dos setores público e privado de saúde sem nenhuma restrição. O esquema, que causou espanto em muitos, vem há anos trazendo grandes prejuízos aos planos privados de saúde, ao Sistema Único de Saúde (SUS) e, principalmente, aos pacientes, expondo-os muitas vezes ao risco de morte, vitimados por indicações de cirurgias desnecessárias, frequentemente advindas de liminares. A veiculação dessa reportagem que investigou durante mais de quatro meses as fraudes praticadas provocou uma ação imediata do governo federal com a criação do Grupo de Trabalho Interinstitucional sobre Órteses, Próteses e Materiais Especiais (GTI-OPME) e, posteriormente, de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) – tanto na Câmara como no Senado – para averiguar as denúncias desse cartel que atua no território nacional. A composição estabelecida pelo ­G TI-OPME contemplou representantes

dos Ministérios da Saúde, Fazenda e Justiça e entidades vinculadas, além do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), que se dedicaram a traçar um diagnóstico sobre o setor, bem como propor medidas para a sua reestruturação, de forma que seja induzida a correção de disfuncionalidades do mercado e de condutas irregulares de profissionais. O controle e a repressão de práticas e comportamentos ilícitos não foram objeto do grupo, que nesses casos se reportou às instâncias de fiscalização, auditoria e polícia judiciária competentes. Após a designação do senador Humberto Costa (PT-PE) e do deputado André Fufuca (PEN-MA) como relatores das CPIs do Senado e da Câmara, deu-se início às investigações focadas em oitivas de diversas testemunhas, investigados, autoridades públicas e especialistas, entre as quais se destacam a de Arthur Chioro, ministro da Saúde, e de Pedro Ramos, diretor da Associação Brasileira de Medicina de Grupo – Abramge, em requisição de documentos e outras ações.


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Em sua oitiva, a primeira realizada pela CPI da Câmara, o ministro Arthur Chioro chamou a atenção para a dificuldade de agir no setor de órteses e próteses em virtude da ausência de marco legal para definir precisamente o que são as OPMEs (em âmbito mundial denominadas “dispositivos médicos implantáveis”). “Na cadeia de produção, distribuição e uso, numerosos elementos se conjugam para encarecer os dispositivos. Em um exemplo de prótese de joelho, o preço de fábrica é de R$ 2.096,00 e o consumidor final paga R$ 18.362,00”, afirma. Outra distorção frequente é a discrepância de preços para um mesmo produto, que em um dado exemplo variou até 5.000%. “É um segmento sensível que já motivou diversas ações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Ministério da Saúde”, alertou. Há consenso sobre a necessidade de regulamentar o setor de órteses e próteses, que, embora sejam de grande importância para o atendimento à saúde, dão ensejo a muitos desvios de conduta. “O preço excessivamente alto dos dispositivos no Brasil se dá em parte por falta de padronização na nomenclatura, mas também porque o contato direto de médicos com os revendedores favorece a criação de esquemas de corrupção”, garante Mauro Luiz de Britto Ribeiro, representante do Conselho Federal de Medicina (CFM). Ele avisa: “O CFM vem trabalhando em conjunto com o Ministério da Saúde para desenvolver meios de coibir os desvios”. Outro fato, e ainda mais grave, foi lembrado por Martha Oliveira, diretora de Desenvolvimento Setorial da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS): “Estudos têm mostrado que ao menos entre 40% e 50% dos casos poderiam ter outro tipo de indicação que não a cirurgia, como fisioterapia, tratamentos medicamentosos e outros”. Pedro Ramos, diretor da Abramge, cobrou mais agilidade dos órgãos governamentais para dirimir ou, ao menos, resolver em parte os problemas enfrentados pelos setores público e privado de saúde no que tange aos produtos de OPME em questão, pois trazem risco à qualidade de vida do

paciente, impactam os custos dos beneficiá­ rios de planos de saúde, além de extraírem recursos de quem realmente precisa.

Alex Ferreira / Câmara dos Deputados

Depoimentos

Judicialização da saúde

A judicialização das demandas na área de saúde é mais uma consequência dos problemas e distorções que desequilibram o mercado. Entre as principais falhas detectadas, estão a solicitação de materiais especiais não padronizados, que não fazem parte das listas do Ministério da Saúde, e a indicação desnecessária e o superfaturamento de procedimentos e medicamentos. Atenta aos fatos, a Procuradoria do Estado do Rio Grande do Sul detectou pedidos de liminares cujos valores pleiteados eram de cinco a seis vezes maiores do que o normal. “O Poder Judiciário é usado sistematicamente para chancelar e legalizar falcatruas desse tipo, utilizando pessoas necessitadas, com uma estrutura de advogados e de médicos, o que leva o juiz a dizer, em outras palavras: ‘Certifico e dou fé que está tudo correto’”, concluiu João Barcelos de Souza Júnior, desembargador do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. De acordo com informações apresentadas por Elton Chaves, do Conasems, a judicialização vem atingindo em cheio os pequenos municípios e comprometendo há anos seus orçamentos. “Quase 70% dos municípios judicializados são pequenos, com até 25 mil habitantes”, esclarece. Ney Wiedemann Neto, desembargador do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, foi além e afirmou que essas práticas estão lesando todos. Recursos que poderiam ser destinados a curas de doenças, medicamentos, tratamentos, criação de leitos hospitalares e vacinação são desviados sem motivo algum, porque são demandas artificiais ou superfaturadas. Lesam os planos de saúde, que também perdem os recursos do seu orçamento para os tratamentos dos conveniados, muitas vezes precisando até mesmo, perante a ANS, solicitar o aumento da contribuição dos associados dos planos de saúde porque seus recursos foram drenados. Lesam os particulares – ainda há alguns que poderiam pagar com a sua poupança esse tipo de tratamento, quando ele é indevido – e também a saúde pública.

Pedro Ramos, diretor da Abramge, em audiência pública

Relatórios finalizados

No último mês de julho, o ­ TI-OPME e a CPI da Câmara puG blicaram seus relatórios sobre tais esquemas fraudulentos denunciados. Diante das repetidas ocorrências, uma das propostas apresentadas para tentar inibir essas práticas de alguns profissionais inescrupulosos foi a elaboração de projeto de lei que estabeleça normas procedimentais visando, sempre que possível, à manifestação de profissional de saúde apto a subsidiar a Defensoria Pública e os magistrados em julgamentos na área da saúde, quando da decisão de questões clínicas, a fim de melhor resguardar os direitos dos interessados. Entre outras sugestões de projeto de lei, destacam-se a de criminalização das condutas perpetradas pela Máfia das Órteses e Próteses; a obrigação de publicar os preços de importação e/ou de fabricação de OPME/dispositivos móveis implantáveis; e medidas para disciplinar as relações de profissionais de saúde com empresas produtoras de dispositivos implantáveis. P


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INVERNO

Q . Lucita Briza .

Práticas esportivas ajudam a evitar problemas respiratórios – natação é o exercício mais completo

Quando o ar está mais frio, com menor incidência de chuvas ou com alternância de chuva, sol, frio e calor no mesmo dia, nossa saúde se fragiliza e aumenta a incidência de problemas respiratórios relacionados a processos virais, bacterianos e também ambientais, por conta do aumento da poluição atmosférica e da diminuição da umidade relativa do ar. Alguns desses problemas podem ser evitados com medidas simples como cuidados caseiros ou vacinação; já há outros cujos sintomas servem de alerta para a procura de ajuda médica, a fim de evitar complicações. “A temperatura mais baixa não é, em si, um fator desestabilizador da saúde pulmonar”, diz Jefferson P. de Freitas, pneumologista e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Com o frio, no entanto, as pessoas se aglomeram mais e a qualidade do ar piora, fazendo crescer o número de casos que vão de um resfriado comum à pneumonia – enfermidade que está entre as três principais causas de morte, depois das doenças cardíacas e cardiovasculares. O aumento da poluição se deve à inversão térmica – frequente em grandes centros urbanos industrializados –, quando o ar frio (mais denso) é impedido de circular

por uma camada de ar quente (menos densa) e fica retido nas regiões próximas ao solo com grande concentração de gases poluentes, formando uma camada acinzentada na atmosfera. A falta de chuvas dificulta a dispersão dos gases. O resultado, além de olhos irritados, é a maior incidência dessas enfermidades.

Prevenção

Nosso sistema respiratório é constituído pelos órgãos que conduzem o ar para dentro e para fora dos pulmões – fossas nasais, boca, faringe, laringe, traqueia, dois pulmões e, dentro deles, os brônquios, bronquíolos e alvéolos. Para protegê-los, diz o otorrinolaringologista Luiz Fernando Imperatriz, de São Paulo, é preciso redobrar os cuidados de sempre: além de alimentação sadia e boa hidratação (ingestão de pelo menos 2 litros de líquidos por dia), é importante fazer higienização nasal (com soro fisiológico a 0,9%) e evitar praticar exercícios – em especial os aeróbicos – nas horas mais quentes e secas do dia. Pode-se aumentar a umidade do ar colocando um balde d’água ou toalha molhada no ambiente. Outra precaução é contra o excesso de umidade e de ácaros, responsáveis por doenças alérgicas. Malhas, casacos e cobertores devem ser lavados e/ou colocados ao sol. Para evitar travesseiros úmidos, mulheres não devem lavar a cabeça à noite

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Tratamento

Se tais providências não tiverem eliminado o perigo, é preciso tratar das afecções das vias aéreas superiores: sinusites (inflamações nos seios da face) são tratadas com lavagem com soro fisiológico, anti-inflamatórios ou antibióticos, dependendo de sua gravidade; as rinopatias (irritações ou inflamações da mucosa nasal), com solução nasal, medicamentos tópicos, anti-histamínicos ou corticoides ou, ainda, com dessensibilização das alergias por vacinas; e, para amigdalites, faringites e laringites – que, além de irritação e dor, podem deixar o paciente rouco ou afônico –, o tratamento vai depender da causa a ser detectada pelo médico. Também tem de ser investigada a razão da queixa mais levada ao pneumologista: a tosse. Uma delas é a asma brônquica, chamada de bronquite asmática ou alérgica: os asmáticos sofrem muito na época de inverno por causa da dificuldade respiratória (falta de ar) provocada pela inflamação e obstrução dos brônquios. Outra causa é a DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica), ou enfisema/bronquite crônica, que, em geral, ataca idosos tabagistas ou ex-tabagistas, embora 15% dos casos se devam a algum tipo de exposição ocupacional a poeiras minerais, vapores de indústrias químicas ou fogão de lenha. Os que sofrem de doenças pulmonares mais raras, crianças desnutridas e idosos acamados ou afetados por doenças como diabetes ou sequelas de acidente vascular cerebral completam o grupo dos mais sujeitos à pneumonia, uma infecção pulmonar de vários tipos, atribuí­ dos a diferentes agentes causadores. Destes, os mais comuns são as bactérias pneumococos – responsáveis pela chamada pneumonia da comunidade – e as clamídias; e os mais perigo-

sos são as bactérias Staphylococcus aureus, Legionella e Pseudomonas, mais encontradas em ambientes fechados com ar condicionado.

Fique atento

Servem de alerta sintomas como febre alta, tosse, mal-estar, mas só o exame de imagem confirma o diagnóstico. O idoso dificilmente tem febre, mas, se estiver apático, muito sonolento ou inapetente e com tosse e falta de ar ou, no caso do diabético, com aumento da glicemia, deve ser levado ao médico. A internação só é feita em casos mais graves, pois hoje há medicamentos que permitem o tratamento em casa. Postos de saúde oferecem para idosos, crianças p e qu en a s , gestantes e outros grupos de risco a vacina contra a gripe ou influenza – que, associada a complicações provenientes de bactérias ou do próprio vírus causador, pode virar pneumonia. Laboratórios particulares – e até o SUS, se o médico do paciente requisitar – oferecem a vacina antipneumococos, que deve ser aplicada a cada cinco anos nas pessoas com mais de 60 anos. Práticas esportivas também ajudam a evitar problemas respiratórios, sendo a natação considerada a mais completa para os que têm bronquite, que devem evitar piscinas com excesso de cloro. P lucitab@terra.com.br

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e quem transpira muito deve trocá-los entre seis e oito meses. Em casa, é preciso manter boa ventilação e evitar dormir com bichinhos de pelúcia ou animais de estimação peludos. Tapetes, carpetes e cortinas devem ser higienizados ou, em casos extremos, retirados. Para aquecimento doméstico, no escritório ou no carro, quem recorre ao ar condicionado deve cuidar de sua manutenção.


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MEDITAÇÃO

A

. Neusa P inheiro .

A técnica auxilia na qualidade de vida, trazendo benefícios para a saúde

A meditação, técnica milenar, muito ligada às filosofias e religiões orientais, pode também ser utilizada como ferramenta de alívio do estresse e ansiedade, muito comuns no mundo moderno, em que a busca por resultados instantâneos é frenética, colocando o ser humano em uma condição de pressão, muitas vezes acima de suas capacidades. A palavra meditação, por si só, é um pouco ambígua, ou até contraditória. Na busca da palavra em dicionários, encontra-se meditação como uma forma de intensa concentração da mente em um assunto. Por outro lado, a meditação é usada para aliviá-la, ocupá-la com algo que não seja ligado a pensamentos lógicos ou discursivos. A palavra mais correta, portanto, seria contemplação.

data. Em 1995, o Journal of Alternative and Complementary Medicine publicou um estudo que mostrava que a meditação provocava uma diminuição da adrenalina, noradrenalina e cortisol, hormônios que levam ao estresse, no sangue de pessoas que meditavam habitualmente. Na medicina, segundo Cardoso, ela é mais voltada para o combate à ansiedade generalizada, dores crônicas, problemas de sono, depressão leve e moderada etc. Do lado psicológico, é como se fosse um banho relaxante, uma massagem. Como consequência, o paciente fica mais atento e focado em suas ações diárias. No aspecto fisiológico, há mudanças comprovadas cientificamente. Quando a pessoa está meditando, o córtex pré-

Prática para aliviar o estresse Enfim, alguns dizem que é o processo de esvaziar a mente e outros, o de preenchê-la com algo que a ocupe com a ausência de pensamento. O médico Roberto Cardoso, ginecologista e praticante da técnica, defende a segunda opção: “É um exercício para preencher a mente, impedindo-a, por alguns momentos, de nos ocupar. É um tipo de relaxamento da lógica”.

Benefícios

Os efeitos da prática são comprovadamente benéficos, pois, além de relaxar, melhora a concentração e consciência das pessoas. A medicina já comprovou essas benesses para a saúde humana há longa

frontal, parte do cérebro que planeja e toma decisões, é desligado. Observa-se também a diminuição de atividade do lobo parietal, que é responsável pela orientação temporal e espacial. Reduz-se o envio de informações sensoriais do tálamo para outras partes do corpo e há uma reversão de estímulos no córtex, que promovem estados de alerta, pelo chamado tronco encefálico. A meditação “mexe” também com a estruturação química do cérebro no sistema nervoso central, melhorando a memória e a capacidade cognitiva. Outros estudos apontam para a ampliação das ondas cerebrais relacionadas com o relaxamento, redução da frequência cardíaca e menor consumo de


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oxigênio. A médica e pesquisadora Sara Lazar, de Harvard (EUA), diz que há até uma mudança física no córtex, que tem sua espessura aumentada no cérebro de pessoas que praticam a meditação. “O tamanho é aparentemente proporcional ao tempo de experiência com a meditação”, diz.

Como fazer?

Para meditar, é preciso ter uma técnica própria específica, dirigida por um instrutor. Cardoso diz que é necessário preencher o cérebro com uma âncora, capaz de deter os fluxos incessantes de pensamentos. Essa âncora nada mais é do que um foco para o qual você dirige sua atenção. Pode ser um mantra – repetição de sons ou palavras de forma incessante, o ritmo da respiração ou o movimento do abdome. Ele recomenda a prática de 15 minutos diários por dois meses para obter os efeitos benéficos preconizados. Um dos benefícios, inclusive muito divulgados pela prática oriental, é a transcendência. O córtex, responsável pelas sensações, é preenchido com a âncora, que reduz as suas percepções corpóreas e dá a sensação de transcendência dos limites do corpo, uma realidade superior. Segundo o psicólogo e psicanalista Rubens Maciel, que coordena o Programa de Redução do Estresse da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, a prática da medita-

ção é recente no Brasil e ainda sofre muitos preconceitos. Ele busca seguir adiante com suas pesquisas para associá-las às práticas tradicionais de terapias, visando à maior aceitação por parte dos meios acadêmicos e médicos. Segundo ele, os dados apontam uma diminuição de até 70% na busca por atendimento médico por praticantes e de 80% nos casos de atendimentos por problemas mentais. É necessário quebrar preconceitos e desvincular a prática à adoção de religiões e filosofias. A meditação é recomendada para todos, mas é preciso atenção especial com os portadores de esquizofrenia. Para praticá-la, é necessário um ambiente livre de ruídos – pelo menos no nível inicial – e uma postura física adequada. Para Cardoso, não precisa ser necessariamente a posição de lótus, mas que seja confortável para a coluna, deixando-a em posição retilínea. Porém, não é recomendado meditar deitado com a cabeça apoiada, pois pode acontecer de a pessoa adormecer. “A prática ensina”, diz o médico. É comum, no meio do processo, a pessoa perder a concentração e surgirem pensamentos. Neste caso, a pessoa deve voltar a sua atenção à “ancora”, no movimento correto do abdome. A respiração deve ser feita pelo nariz, de forma lenta, e o movimento vai e vem do umbigo deve ser sentido e observado. É preciso ficar imóvel. No término, respire forte três vezes, abra os olhos lentamente e procure ficar sem conversar por uns três minutos. P neusapinheiro@ig.com.br

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VEGETARIANAS

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. Renata Bernardis .

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A alimentação vegetariana promove o crescimento e o desenvolvimento adequados e pode ser adotada em qualquer idade

Denomina-se vegetariana cerca de 10% da população brasileira, segundo o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope). Esse contingente de pessoas, que tem aumentado a cada ano, deve ganhar ainda mais adeptos nos próximos anos, se considerado que um casal vegetariano transmite aos seus filhos suas escolhas e seus exemplos. E elas só têm a ganhar com a opção, garante o médico Eric Slywitch, mestre em nutrição pela Universidade Federal de São Paulo. Ele explica que aqueles que são vegetarianos desde cedo crescem com hábitos enraizados, baseados em uma alimentação mais variada e, portanto, mais rica e saudável. “A maioria das crianças vegetarianas é influenciada pelos pais, que lhes passam os seus valores, e, apesar de não entenderem as questões do meio ambiente, muitas dei-

xam de comer carne pelo afeto aos animais. Quando descobrem que o animalzinho morreu para virar alimento, passam a ter repulsa de se alimentar deles”, diz Slywitch. O aumento do número de vegetarianos mirins também se dá porque seus pais estão mais esclarecidos acerca do assunto. Eles leem mais e acompanham estudos fundamentados em trabalhos sérios e não mais em mitos do passado, que preconizavam que, ao se retirar a carne do cardápio de uma criança, negligenciava-se a importância da proteína da alimentação. Hoje se sabe que é possível oferecê-la de outras formas, afinal a proteína é fundamental para o desenvolvimento das crianças e sua deficiência pode acarretar déficit de crescimento, alterações imunológicas, retenção de líquidos, alterações em cabelos e pele, entre outros.

Crianças também


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Metabolismo

“Os feijões, em geral, são ricos em proteínas e fornecem todos os aminoácidos que as pessoas precisam em quantidade igual ou superior à carne”, garante Slywitch, que ainda utiliza as diretrizes do Guia Alimentar da Sociedade Brasileira de Pediatria para retratar uma dieta de 1.300 kcal, estabelecida para uma criança de 2 a 3 anos de idade, na qual foi feita a substituição da carne por mais feijões, foram adicionadas batatas (contêm pouca proteína) e óleos (não contêm proteína). O mix garantiu a ingestão de 42 gramas de proteína, ou seja, mais que o dobro do que o necessário a uma criança. A lisina e a metionina, aminoácidos mais questionados quanto à segurança de uma dieta sem carne, foram, nesse caso, ingeridos em quantidade cinco vezes maior que a necessária. Já o ferro, também fundamental para o crescimento da criança, que é utilizado para aumentar o volume de sangue e músculos, é mais bem metabolizado quando proveniente dos vegetais do que da carne. “Em 100 gramas de carne vermelha magra há 1,9 miligrama de ferro, contra 4,2 miligramas encontrados em uma concha de feijão. A criança absorve 18% (0,34 mg) do ferro dessa carne e 10% (0,42 mg) do ferro desse feijão. Por mais que a absorção do ferro seja maior na carne, a maior quantidade existente nos feijões supera a absorção obtida pela carne. Assim, a recomendação de ferro na infância será a mesma para uma criança vegetariana”, esclarece Slywitch. A nutricionista Ana Ceregatti conta que o único nutriente fornecido exclusivamente pelos alimentos de origem animal é a vitamina B12, que pode ser suprida com suplementação, quando necessário, principalmente pelos veganos. Esse é um grupo que vai além da alimentação. Recusam o uso de componentes animais não alimentícios, como vestimentas de couro,

lã e seda, assim como produtos testados em animais. Os dois outros grupos mais comuns de vegetarianos são: ovolactovegetariano, que é o vegetariano que utiliza ovos e laticínios na sua alimentação, e lactovegetariano, que não utiliza ovos, mas faz uso de laticínios.

Planejamento

A endocrinologista pediátrica Adriana Aparecida Siviero-Miachon conta, com base nos preceitos do Conselho Nacional de Nutrição (CRN), que a alimentação vegetariana, quando bem planejada, promove o crescimento e o desenvolvimento adequados e pode ser adotada em qualquer idade. “O cardápio das crianças deve ser elaborado com base na idade delas e, portanto, em suas necessidades nutricionais específicas”, diz. Ela recomenda, para melhorar o aproveitamento do ferro, frutas ricas em vitamina C (laranja ou mexerica) após as refeições, evitar sobremesas lácteas após as refeições e, antes de cozinhar os grãos e cereais, deixá-los de molho em água por 12 horas. Adriana relata ainda que, para crianças com mais de 4 anos, considerando uma dieta de 2.000 calorias/dia, a recomendação diária de proteínas é de aproximadamente 50 g/dia. “De acordo com o CRN, apesar de a população vegetariana ingerir menos proteína que a onívora, ela consome mais que o necessário e não está em risco de desnutrição proteica. Além disso, a incorporação da proteína vegetal não é diferente da animal no organismo humano e todos os aminoácidos essenciais são encontrados em abundância no reino vegetal”, finaliza. P

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podem... e devem


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EXERCÍCIOS MENTAIS

Inteligência ampliad P

Para ter bom desempenho, qualquer pessoa – estudante, profissional na ativa ou aposentado – sabe a importância de se manter saudável e, por isso, seguir orientações médicas como exercitar o físico, controlar a dieta e vários índices corporais. O desafio é manter afiadas as funções intelectuais comandadas pelo cérebro, que, segundo a neurociência, se bem exercitadas, podem ser preservadas e até ampliadas. Para isso, além dos estímulos tradicionais, muitos neurocientistas buscam hoje novas tecnologias tanto para avaliar a performance cerebral como para desenvolver jogos eletrônicos que a impulsionem. Exercícios são tão importantes para o cérebro quanto atividades físicas para o resto do corpo, diz Jorge Pagura, neurocirurgião no Hospital Albert Einstein e professor de Neurociências da Faculdade de Medicina do ABC (SP). Mas é preciso exercitar vários tipos de atividades, pois, “assim como numa

. Lucita Briza .

Aprenda a estimular e manter o cérebro cada vez mais saudável

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da

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floresta, o corte de uma simples árvore pode interromper circuitos importantes da mata, no cérebro todas as funções cognitivas são importantes e precisam manter-se ativadas”. Exercitá-las faz aumentar as conexões entre os neurônios, reforçando o mecanismo de plasticidade cerebral.

Reserva cognitiva

Essa plasticidade é a capacidade de o sistema nervoso mudar-se, ao longo do tempo ou diante de novos desafios, seja aprender novas habilidades ou responder a uma lesão, como um acidente vascular encefálico, explica André Helene, professor e coordenador do Laboratório de Ciências da Cognição no Instituto de Biociências da USP. Os neurônios são capazes não só de interpretar, armazenar e emitir respostas a estímulos, como de provocar rearranjos em suas conexões a partir de novas informações. Quanto mais se exercita o cérebro, mais circuitos neurais se formam; e essa densa e ramificada rede torna possível que o cérebro encontre caminhos alternativos para operar, se alguns neurônios sofrerem danos. Estes rearranjos aumentam a reserva cognitiva, que é tudo aquilo que o cérebro armazena do que se produz através dele, consciente ou inconscientemente. “Tudo que você já fez vai para a reserva, como acontece quando exercita um músculo que depois vai ajudá-lo em situa­ ções reais”, explica Pagura. Nas duas últimas décadas, ganhou força a noção de que nossa inteligência pode ser “dramaticamente ampliada”, como afirma o neurocientista Stephen Kosslyn, professor das universidades de Harvard e Stanford, nos EUA. Por outro lado, a neurociência diz que há uma tendência natural de diminuição do volume do cérebro e do número de neurônios ao longo da vida, que começa por volta dos 25 anos, mas só é percebida a partir dos 60 ou 70 anos. Sabe-se que a preservação das funções cognitivas está diretamente relacionada com

a manutenção fisiológica do sistema nervoso, mas também se sabe que o bom desempenho destas funções não depende só do número de neurônios e suas conexões, já que uma boa reserva cognitiva ajuda a preservá-las. Certas falhas persistem: a partir dos 50 anos de idade, 10% da população saudável pode apresentar um declínio cognitivo considerável, diz Pagura, e em metade destes casos vai se desenvolver uma síndrome demencial, como a Doença de Alzheimer. O problema é que entre 80% e 90% destas pessoas ficam sem diagnóstico precoce, só sendo avaliadas quando o quadro já é de alto comprometimento. Porém, se tais quadros não podem ser evitados, é possível retardar o tempo de seu aparecimento, mudando hábitos de vida e treinando o cérebro. Há falhas imperceptíveis; outras interferem na vida diária e são percebidas pela família. Às vezes, adverte o médico, pacientes com queixas leves se submetem repetidamente a exames de imagem sem que se consiga formatar um diagnóstico, quando num exame computadorizado já se poderia detectar o possível declínio.

Estímulos saudáveis

Kosslyn defende o uso de alguns videogames e de outras atividades interativas como “combustível para a extensão da inteligência”. Na mesma direção seguem pesquisas de outros neurocientistas em universidades dos EUA (em Pittsburgh e Yale) e na Austrália (em Melbourne). No Brasil, há estudos promissores, embora incipientes, na USP (pesquisas para incentivar a memória com estímulos eletrônicos) e Unifesp, em São Paulo, e na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Na internet, sites anunciam “ginástica para o cérebro” com jogos baseados na psicologia cognitiva e na neurociência, mas os resultados deste uso, observa Helene, são dados por

um sistema de pontos que não expressa o desempenho das pessoas de fato e se torna difícil de generalizar. Também há clínicas particulares como a Neurability, em São Paulo, que avalia funções como memória, atenção, tempo de reação por meio de testes computadorizados, que podem ser presenciais ou online. A vantagem dos presenciais é que, por trás do paciente, existe uma equipe (neurologista, neurocirurgião, neuropsicólogos, médico e psicólogo do esporte, fisiatra) medindo os resultados – e os abaixo da média são cuidadosamente analisados. O declínio pode não ser uma doença, e os fatores que podem interferir no trabalho cerebral como ansiedade, depressão e estresse também são monitorados. A avaliação final dá um quadro da performance cerebral, mas o diagnóstico médico exige outros exames feitos por especialista habilitado. Até porque levantamentos já realizados mostram que a maioria das pessoas se sente insatisfeita com a memória, mesmo que a queixa não se justifique clinicamente. O treinamento com base nos resultados de cada pessoa é específico para seus objetivos e perfil: criança ou jovem, atleta ou executivo, idoso, pessoa hiperativa ou com déficit cognitivo em razão de doença ou trauma. Um bom treino, seja por meios tradicionais ou eletrônicos, necessita de boas estratégias. A memória, por exemplo, exige elementos eficientes de associação. “Ao deixar seu carro no shopping, não basta memorizar que ele ficou ao lado de um pilar; é preciso gravar em que andar e setor foi deixado”, diz Helene. Mesmo quem tem boa escolaridade precisa realizar práticas intelectualmente desafiadoras, desde ações habituais de modo diferente (como segurar os talheres com a outra mão) até atividades em grupo, pois, além de motivadoras, combatem o estresse, seja jogar xadrez, frequentar aulas (de línguas, dança ou culinária) ou praticar um esporte –pesquisas mostram que pessoas que fazem atividade física têm menor chance de desenvolver a Doença de Alzheimer. P lucitab@terra.com.br


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ENTREVISTA

Vida PLENAaté o fim

O

O tom alegre da voz e o indisfarçável entusiasmo sinalizam: a entrevistada desta edição é uma médica apaixonada pelo seu trabalho. Formada pela USP, com residência em geriatria e gerontologia no Hospital das Clínicas da FMUSP, Ana Cláudia Quintana Arantes se dedica de coração e alma aos seus pacientes. Oferece assistência integral às pessoas que sofrem de doença incurável em progressão. Pós-graduada em Psicologia – Intervenções em Luto e especialista em Cuidados Paliativos pelo Instituto Pallium e Universidade de Oxford, Ana Cláudia aborda com naturalidade um tema quase sempre evitado – a finitude da existência humana. “É possível estar vivo mesmo tendo que lidar com a verdade do fim próximo”, diz. Trabalhando com medicina paliativa desde 1995, a especialista faz questão de esclarecer: “Não ajudo ninguém a morrer. Meu empenho é proporcionar vida plena até que a morte chegue”. E os recursos que ela utiliza são exatamente aqueles que o paciente precisar. Incluindo nesse rol a prescrição de poesia. Sócia-fundadora da Associação Casa do Cuidar, Ana Cláudia atua também no ensino, é autora dos livros Linhas Pares (poesia) e Manual de Cuidados Paliativos – ANCP (2009) e coautora do livro Cuidado Paliativo, do Cremesp (2008). Leia a seguir a íntegra de sua entrevista.

divulgação

. Sueli Zola .

C o m o s e d e f in e m c ui d a d o s ­paliativos? É a assistência integral oferecida para pacientes (e seus familiares) quando estão diante de uma doença grave que ameace a continuidade da vida. Pallium vem do latim e quer dizer manto, cobertor; era a capa usada pelos cavaleiros das cruzadas para protegê-los das intempéries. Cuidados paliativos são, portanto, os cuidados de proteção que melhoram a qualidade de vida dos pacientes, ao aliviar o sofrimento que a doença pode trazer. Os cuidados paliativos são aplicados somente aos pacientes terminais? O cuidado paliativo também se aplica aos pacientes com diagnóstico de doença grave, mas que ainda não está em progressão e não apresenta risco de morte.

.

Ana Cláudia Q. Arantes .

A medicina está focada no ato de curar. Como deve ser a atuação do profissional da saúde quando essa perspectiva não existe mais? Penso que a atitude profissional, especialmente do médico, diante de um paciente que tem uma doença incurável

deve ser talhada na mesma dedicação que ele teria para curar outra doença. O médico deveria se empenhar em cuidar desse paciente. As pessoas que têm doenças graves e incuráveis atravessam períodos de grande sofrimento. Hoje, a medicina tem muita coisa a oferecer para o alívio desse sofrimento. Quando a pessoa recebe cuidados paliativos tem grande chance de obter uma melhora tal do seu estado que permite a ela ter uma vida com qualidade e sentido por mais tempo. Acontece o contrário do que a maioria imagina? Quando os pacientes são encaminhados para cuidados paliativos, todos têm a impressão de que o médico titular “jogou a toalha”, desistiu. Ao desistir, é como se determinasse um tempo curtíssimo de vida. Essa concepção equivocada faz com que o encaminhamento para a medicina paliativa seja muito tardio. E o que realmente podemos oferecer para o paciente fica muito limitado por causa da condição clínica dele. O paciente poderia ser encaminhado antes, viver mais e melhor?


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Sim. É importante ressaltar que, quando o paciente está em cuidados paliativos em paralelo ao tratamento da doença de base, ele ganha condições clínicas para vencer os obstáculos do próprio tratamento. Vemos isto claramente na oncologia. O paciente que está em quimioterapia recebendo, em paralelo, cuidados paliativos, dá conta de fazer mais tempo de tratamento, o corpo dele consegue receber doses maiores dos quimioterápicos. Quando o paciente não recebe esse cuidado, acaba por interromper a quimioterapia por falta de condição física para tal. Quais benefícios os cuidados paliativos produzem de forma a obter esses resultados? Os benefícios estão ligados ao controle dos sintomas manifestos por causa da doença de base, tais como dor, falta de ar, desconfortos gastrintestinais, anorexia. Há ainda o controle de outras comorbidades que o paciente possa ter além do câncer: hipertensão, diabetes, doença renal, pulmonar. Se o paciente tratar só o câncer, poderá descompensar todas as outras enfermidades. O médico do cuidado paliativo tem condição de fazer o gerenciamento dessas outras doenças

junto com oncologista para que o paciente possa ter um bom controle clínico e, assim, dar conta do tratamento. São abordadas também, com o mesmo grau de importância, as questões emocional e familiar. Por que os cuidados paliativos incluem os familiares? A maior parte das famílias padece por falta de informação, por falta de comunicação com o médico. A equipe está toda voltada para o câncer e ninguém dedica o olhar para o sono do paciente, para a depressão dele, o desgaste e exaustão do familiar. E isto conta no momento de dar sequência ao tratamento. Em sua palestra divulgada na internet você diz que a última impressão é a que fica. O que quis dizer com essa afirmação? A nossa condição social e cultural faz com que, ao longo da vida, a pessoa se esconda. Ela constrói máscaras, véus, ilusões a fim de se preservar, se poupar, para ser aceito. A pessoa se distancia do que ela é de fato, deixa de lado o que realmente importa. Quando chega a consciência de sua

“Cuidado paliativo: assistência oferecida para pacientes e familiares diante de uma doença grave que ameace a continuidade da vida”


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ENTREVISTA

morte, ela se desfaz desses enganos e tem a chance de transmitir a verdade sobre si mesma. É essa impressão, essa essência que ela vai deixar marcada na memória das outras pessoas após a morte. O ideal seria ir ao encontro de si mesmo sem precisar ficar doente. Afinal de contas, o que importa nesta existência é ir de ponta a ponta sendo você mesmo. E não fazer escolhas para agradar a terceiros. Na hora de embarcar, embarcamos sozinhos. Quando a pessoa recebe um diagnóstico de doença grave, incurável, começa a agir como se não estivesse vivendo. É comum isto? Sim. Meu trabalho é mostrar para a pessoa que ela não morreu. Ela está muito viva. Está numa condição de muita gravidade, mas nesse tempo em que está – agora – é possível estar vivo, muito bem vivo, sim. Mesmo tendo que lidar com a verdade do fim próximo. Eu não ajudo ninguém a morrer. O meu trabalho está voltado a propiciar vida plena até que a morte chegue. Este é o empenho da equipe de cuidados paliativos: proporcionar vida em toda a sua plenitude, de maneira amorosa, confiante, dentro do espaço de tempo que a pessoa ainda tiver e de acordo com sua possibilidade física e humana. Claro que há situações em que não dá para proporcionar o que o paciente considera ideal, mas, dentro do que é possível, consigo fazer muita coisa. A melhora no estado dos pacientes sob cuidados paliativos não resulta numa redução de custos com a assistência médica? A redução de custo não pode ser o objetivo do trabalho. É sim consequência. Em números absolutos, eu chego a reduzir a conta de um paciente do Hospital das Clínicas em quase 80%. Consigo fazer um atendimento de nível de excelência, com resultados alucinantes de tão bons, com baixo custo. Como consegue isto? Faço um empenho sobre-humano na formação dos profissionais envolvidos nos cuidados, pois, senão, vamos ter má prática

médica: a arte de suspender intervenções. Está errado. O cuidado paliativo é a arte de desenvolver equidade do recurso. Dar o necessário para quem precisa. Este é o propósito. Nos países mais desenvolvidos nessa área, como Canadá e Estados Unidos, e também na Europa (principalmente Espanha e Inglaterra), as instituições governamentais e privadas percebem que os cuidados paliativos têm essa clareza de objetivos e, por causa dessa clareza, alcançam esse conceito da equidade. Ainda que não seja o objetivo reduzir custos, acaba acontecendo. Sim, porque eu olho para o paciente, eu examino, se vejo que ele precisa de oxigênio, eu vou prescrever; se não tiver indicação o uso de oxigênio, eu vou cuidar dele com o mesmo empenho e qualidade, sem usar oxigênio. Mas existem casos de obstinação terapêutica em que são utilizados inúmeros recursos em pacientes que já não têm chance nenhuma de melhora? Muitas vezes sou procurada por familiares para ver paciente internado na UTI. Eles me perguntam o que fazer, pois os médicos não param de propor intervenções — fazer diálise, dar antibiótico, transfusões de sangue. Quando vou conversar com o médico que trata do paciente, ele diz: “A família, a toda hora, me pergunta o que está acontecendo? O que vai ser feito? E aí sou obrigado a fazer”. Veja, é o mesmo paciente. A família acha que o médico está exagerando, por causa disso pergunta o que ele vai fazer. O médico, por sua vez, interpreta a pergunta como cobrança. Então, é uma questão básica de comunicação. Às vezes, eu só converso com os dois lados. Explico para o médico titular que talvez os familiares queiram apenas uma opinião real sobre o prognóstico. Eu acabo fazendo a mediação e dá tudo certo. É comum a prática da obstinação terapêutica? É comum. Mas o médico com obstinação terapêutica busca fazer o melhor para o paciente. Busca fazer o que ele pode e que sabe fazer. A maior falha mé-

dica, neste momento, está relacionada à comunicação com o paciente. Mas os médicos são formados para lidar com o lado emocional do paciente e da família? Com certeza não. Eu fiz medicina na FMUSP (Faculdade de Medicina da USP) e não tive nem cinco minutos de aula a respeito disso. O estudante aprende medicina, não aprende a se comunicar. Não aprende nada sobre humanidade. Não aprende nada sobre pessoas. Aprende sobre doenças na teoria. Daí ele descobre que a doença está dentro de uma pessoa. E as doenças dentro das pessoas não se comportam como previsto no livro. Sua atuação nesta área vem desde 1995. A medicina paliativa evoluiu nesse período aqui no Brasil? Sim. Antes não se podia tocar no assunto. Agora, há palestras divulgadas no YouTube. Eu preparei o curso “Conversas sobre a morte” e há 200 pessoas na fila de espera para participar. Então, tem algo mudando. Desde 2011, a medicina paliativa é reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina e é citada no Código de Ética Médica. Mas precisamos evoluir na disponibilidade de leitos, que ainda está muito abaixo do necessário. Em seu consultório são prescritas poesias para os seus pacientes? No consultório eu prescrevo mesmo. Peço para o paciente ler e trazer outra poesia na próxima consulta. Também já levei para os meus pacientes hospitalizados uma contadora de histórias. Ela interpretava a poesia. É bem ativa essa minha prática. Uma aluna de medicina, do Maranhão, pediu autorização para usar meu livro de poesia numa pesquisa que fez para uma publicação internacional. E a poesia teve um resultado estatisticamente significante na melhora da dor, da depressão, e o mais bonito: no índice de esperança. E os pacientes sofriam de câncer terminal. Como ela gravou a poesia, conseguiu usar essa intervenção inclusive com paciente analfabeto. suelizola@uol.com.br


ESTOMATITE

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Feridas dolorosas V Você já deve ter ouvido falar alguma vez de “estomatite”, palavra originária do vocábulo grego “estômato”, que quer dizer boca. Estomatite é uma inflamação da cavidade oral, provocada por vírus, caracterizada pelo aparecimento de aftas, acompanhadas de dor, febre e muito desconforto. Não à toa, as crianças são as que mais sofrem com a dificuldade de se alimentar por causa desse problema. Normalmente, o vírus responsável é o da herpes simples (HSV-1). Em menor incidência, os da família Coxsackie também causam estomatites. Ambos se aproveitam de momentos de baixa imunidade, provocados por uma gripe, por exemplo, para entrar em ação. Segundo Fabiana Quaglio, membro da Câmara Técnica de Estomatologia do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (Crosp), a lesão fundamental do processo inflamatório da estomatite é a úlcera, que se inicia com pequenos pontos de vermelhidão nas áreas afetadas, seguidas de erupções ou pequenas bolhas que, ao se romperem, dão origem às úlceras que são extremamente doloridas. “Os locais mais afetados são as gengivas, língua, início de orofaringe e região das amídalas, mas pode-se acometer a mucosa oral de maneira geral”, diz. O processo infeccioso dura, normalmente, entre 10 e 15 dias e as úlceras variam de 3 a 5 mm de tamanho nos casos mais graves. Não existe um levantamento da incidência de estomatite aftosa no Brasil, conforme explica o professor Fabio Nunes, coordenador do Laboratório de Patologia Molecular e chefe do Departamento de Estomatologia da Universidade de São Paulo (USP). “Estima-se que 20% da população seja afetada, mas a frequên­cia pode variar de 5% a 50%, dependendo da etnia e do grupo socioeconômico. Em crianças pode ser perto de 40%, se for uma doença presente em ambos os pais”, ressalta. Para o especialista, vários fatores podem predispor à estomatite aftosa, como trauma, microrganismos, deficiência de vitaminas do complexo B, problemas imunológicos, estresse psicológico e alergia a alimentos.

Além disso, algumas doenças podem ser confundidas com a estomatite aftosa, por isso é necessária a consulta com um dentista, preferencialmente um estomatologista. Na temporada de gripes, que corresponde ao período do outono e inverno, ou mesmo na primavera, quando os problemas alérgicos podem causar uma baixa do sistema imunológico, é muito comum o aumento dos casos de contaminação pelo vírus, já que a circulação em ambientes fechados, assim como o contato com as feridas contaminadas, dissemina a infecção, facilitando a transmissão viral. “A doença é mais comum na primeira infância e pode ocorrer a partir dos 6 meses, sendo que a maior incidência se concentra entre 2 e 5 anos, período de maior convívio social das crianças em idade escolar”, avisa Quaglio.

. Elisandra Escudero .

Inflamação bucal causa muito desconforto, febre e falta de apetite

Tratamento

O tratamento da estomatite aftosa depende da intensidade e frequência dos sintomas, assim como do número e tamanho das úlceras. “Embora não exista tratamento específico, os corticoides tópicos são muito usados para as úlceras pequenas e, em casos mais graves, podem ser utilizados corticoides sistêmicos. Têm sido propostos anestésicos tópicos, nitrato de prata, cloreto de zinco e anti-inflamatórios não esteroidais, entre outros medicamentos. É muito importante que esses tratamentos sejam indicados e acompanhados por um profissional de saúde habilitado”, alerta Nunes. Os especialistas avisam que o ideal é ficar em repouso, ingerir bastante líquido e alimentos pastosos frios, como iogurte, sorvete, gelatina e suco de frutas, como maçã, banana e mamão. Para evitar o problema, não existe um meio totalmente eficaz. A qualidade de vida e a saúde bucal estão intimamente ligadas. Somos uma máquina perfeita que funciona com engrenagens delicadamente integradas; quando uma pequena parte desse mecanismo entra em desarmonia, todo o organismo sente e fatalmente o processo “doença” se instalará. P eliescudero@gmail.com

divulgação

Dicas para evitar a estomatite Ter uma boa higiene oral. Manter sempre boas condições sistêmicas, alimentando-se bem e corretamente. Manter o corpo sempre hidratado. Procurar um dentista caso apareça alguma lesão bucal suspeita.


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HALITOSE

Perdendo o sorriso F . Tatta Santos .

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A busca por emagrecimento pode trazer diversos problemas, incluindo os bucais

Fazer uma dieta alimentar tornou-se algo frequente para perder peso. Seja por questão estética ou de saúde, cada vez mais pessoas estão restringindo a alimentação que, se não for feita com correto acompanhamento médico-nutricional, pode trazer prejuízos à saúde. Um dos agravantes comuns de quem passa por um regime alimentar é a halitose, o famoso “bafo”. Caracterizada pela liberação de odores desagradáveis da boca, esse distúrbio pode ser uma alteração fisiológica ou patológica, que altera o odor do hálito.

Dietas populares, como as que envolvem grande ingestão de proteínas e gorduras, podem aumentar o mau hálito. De acordo com Carolina Tarouco Alvares Soares, dentista e membro do departamento científico do Centro de Excelência no Tratamento da Halitose (CETH), as dietas ricas em lipídeos (alimentos gordurosos) e proteínas como carnes, leite e ovos são inimigas do hálito. “A alta ingestão de proteína e dieta baixa em carboidratos pode colocar seu corpo em cetose: um estado em que se queima gordura em vez de glicose para produzir energia. Quando a ingestão de carboidratos é limitada, o corpo tem que usar a gordura armazenada para a energia, que pode ser uma maneira a curto prazo de emagrecimento. Quando o corpo queima gordura, subprodutos chamados cetonas são liberados. A maioria deles será expulsa na urina e no suor, mas alguns serão liberados pela respiração e cetonas não cheiram bem, resultando na halitose”, esclarece Carolina Soares. Ficar longos períodos sem comer também pode causar mau hálito. Segundo Marcos Moura, presidente da Associação Brasileira de Halitose (ABHA), após quatro a cinco horas sem se alimentar, o organismo, para produzir energia necessária para seu funcionamento, vai queimar gorduras e, nesse processo, há a liberação de compostos mal cheirosos que, via pulmonar, são liberados pela respiração. Ele esclarece ainda que esta liberação, vindo internamente pelas vias respiratórias, é a causadora do grande mito de que o mau hálito provém do estômago. Atualmente, sabe-se que apenas 1% das causas de halitose é decorrente de problemas estomacais.

Insistente

O mau hálito matinal é considerado normal, pois ocorre em virtude do baixo fluxo salivar, leve hipoglicemia e aumento da flora bacteriana anaeróbica proteolítica durante a noite. No entanto, se após a higienização ou primeira refeição do dia o odor não desaparecer, é preciso um diagnóstico para identificar a origem dele.


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Há no mercado uma variedade de remédios que auxiliam o emagrecimento, contudo eles produzem alterações na composição da saliva, além de sua diminuição, conhecida como xerostomia ou boca seca. “O uso de fórmulas para emagrecer costuma provocar desidratação pelos laxantes contidos na composição e, por este motivo, leva à redução do fluxo salivar, o que facilita o aumento da descamação da mucosa bucal e o acúmulo de bactérias no dorso na língua, formando uma camada amarela esbranquiçada sobre a língua conhecida como saburra lingual (principal causadora de mau hálito)”, alerta Carolina Soares. A saliva tem importante papel na prevenção do mau hálito, pois desempenha ações de autolimpeza e função antimicrobiana, agindo como um detergente bucal e evitando que as bactérias fiquem estagnadas na boca nos períodos entre as refeições. Há ainda alimentos que podem contribuir para o mau hálito como brócolis, couve, repolho, cebola e alho, que, apesar de saudáveis, exalam compostos derivados do enxofre, deixando forte cheiro na boca. Mas isso não implica a eliminação destes alimentos das refeições, é preciso apenas ter uma dieta balanceada e cuidado com a higiene oral.

Medidas cautelares

De acordo com Marcos Moura, para amenizar o mau hálito, é preciso sempre uma boa higiene bucal após as refeições, com escovação, fio dental e uso de limpadores de língua, além de visitas regulares ao dentista. “Deve-se abusar de alimentos ricos em fibras, como frutas, verduras, cereais integrais e arroz integral. Estes alimentos tendem a melhorar o trânsito intestinal, diminuir a proliferação de bactérias e, consequentemente, a liberação de gases. Independentemente da dieta que se quer adotar, é importante se alimentar a cada três horas e tomar cerca de dois litros de água diariamente”, complementa Carolina. O mau hálito, apesar de não ter grandes repercussões clínicas para o indivíduo, pode, na maioria das vezes, trazer danos sociais, como insegurança em se aproximar das pessoas, dificuldades em estabelecer relações amorosas, vergonha em sorrir etc. Quando a halitose já está instalada, é preciso buscar a ajuda de um ­cirurgião-dentista especializado para descobrir a causa e oferecer o tratamento adequado a este quadro. P statta79@gmail.com

Há medicamentos que produzem alterações na composição da saliva, além de boca seca


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MODELOS DE REMUNERAÇÃO

Como controlar

A

. Amaury Bullock .

divulgação

Mais de 20 países já adotaram o Diagnosis Related Group – DRG (Grupos de Diagnósticos Relacionados) como forma de melhorar a gestão dos players da saúde suplementar

Paulo Furquim de Azevedo

A saúde suplementar no Brasil está passando por grandes transformações e tem uma complicada equação para solucionar: aumentar a oferta de serviços e diminuir os custos com despesa assistencial. O resultado dessa questão representa economia tanto para os beneficiários quanto às operadoras de planos de saúde. Provocado pela Associação Brasileira de Medicina de Grupo – Abramge, o Instituto de Estudos de Saúde Suplementar – IESS e a Federação Nacional de Saúde Suplementar – FenaSaúde, o Centro de Pesquisa em Estratégia – CPE do Insper – instituição de ensino superior e de pesquisa sem fins lucrativos – encarregou-se de tentar encontrar, se não o resultado final, ao menos um meio de equilibrar essas contas.

Alta dos custos

Paulo Furquim de Azevedo, coordenador do Núcleo de Regulação e Concorrência do Insper, apresentou um inédito estudo sobre os custos de assistência à saúde no Brasil, com demonstração da evolução desses gastos nas últimas décadas e sugeriu possibilidades de como proceder nos próximos anos. “A principal mensagem dessa pesquisa é que, mesmo com uma forte tendência de crescimento dos custos, em parte fruto do desenvolvimento do País, é sim possível contornar este caminho sinuoso e preparar-se melhor para os desafios que virão”, afirmou. De acordo com a pesquisa, os efeitos da transição demográfica, epidemiológica, o aumento da renda per capita e as falhas no mercado exercem forte influência no crescimento dos gastos. Ele também salientou que a tecnologia é um fator essencial para a elevação dos custos em razão da incorporação de equipamentos de última geração. “Parte dessas despesas pode ser atribuída à melhoria da qualidade da oferta do serviço aos pacientes; por outro lado, existe um problema da forma que a tecnologia entra no sistema de saúde, fazendo com que se encavale sobre os custos preexistentes”, declarou.

Segundo Furquim, há muitas falhas de mercado que necessitam ser corrigidas. Para ele, o modelo de coparticipação em que o paciente se envolve com parte do custo tem resultado interessante, pois o consumidor de planos de saúde acaba por utilizar os serviços oferecidos com mais parcimônia.

Benefícios do DRG

Diante do panorama apresentado por Paulo Furquim, no seminário internacional Evolução dos Custos na Saúde Suplementar, em São Paulo, diversos países já aplicam métodos alternativos para conter a alta dos gastos com saúde. Atualmente, mais de 20 países adotaram o Diagnosis Related Group – DRG (Grupos de Diagnósticos Relacionados), modelo de remuneração e de controle de custos que classifica os pacientes e ajuda a diferenciar de acordo com a complexidade das demandas hospitalares, no qual a sua principal função é classificar e remunerar os hospitais por tratamento, com valores preestabelecidos. Sam Rossolines e Etienne Dreyer, ambos diretores de Healthcare da PricewaterhouseCoopers (PwC) na África do Sul, disseram como foi a implantação e quais foram os resultados obtidos com

Sam Rossolines


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esse modelo de remuneração em seu país de origem. Primeiramente, Sam Rossolines pontuou alguns dos desafios enfrentados ao instalar os DRGs, entre os quais, destacou a relação de desconfiança entre os prestadores de serviços e os pagadores, pois no início um acha que receberá menos e o outro que pagará mais pelos mesmos tratamentos já oferecidos. A padronização e garantia da qualidade da codificação clínica, ferramenta fundamental do DRG; a implantação de centros de custos padronizados e de negócios dentro dos hospitais e os altos custos dos hospitais de alta complexidade e especializados são outras dificuldades. De acordo com Rossolines, o DRG é subdividido em 25 categorias diagnósticas que são semelhantes ao corpo humano, porém esta divisão pode variar dependendo do país ou perfil da doença. “Os DRGs são um sistema vivo em evolução que precisa ser refinado regularmente, conforme as novas técnicas de tratamento e tecnologia que vão surgindo”, salientou. Etienne Dreyer relatou que a implementação do DRG no país africano deu-se no início do ano 2000 e, de acordo com dados consolidados até 2013, os resultados foram bastante positivos – as operado-

Etienne Dreyer

ras de saúde tiveram maior lucro mesmo com a desaceleração do ritmo de crescimento dos prêmios pagos pelos consumidores de planos de saúde. O diretor destacou ainda que a melhoria na sustentabilidade do setor de saúde na África do Sul propiciou o incremento de 19 % no número de hospitais privados entre o período de 2002 e 2014. Os benefícios dos DRGs são diversos: a concentração dos custos médicos e melhoria na eficiência dos serviços hospitalares; a mudança no comportamento médico, pois é mais focado em resultado e não em quantidade de atendimentos; a diminuição dos tratamentos excessivos e muitas vezes desnecessários; o aumento da transparência dos gastos hospitalares e a melhora dos índices de produtividade. Segundo sugere estudo apresentado pelo IESS, realizado por José Carlos Serufo Filho, em 2014, somente os hospitais brasileiros poderiam ter economizado mais de R$ 9 bilhões. De acordo com os dados, o gasto médio por internações hospitalares em 2012 foi de R$ 6.815,27. No mesmo período, esses custos alcançaram R$ 32 bilhões, o que representaria uma economia de 28,4% no setor de saúde suplementar (somente hospitais). P amaury_bullock@hotmail.com

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r os custos


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ECONOMIA COMPARTILHADA

Nova onda ou futuro econômico? O . Silvana Orsini .

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Empresas inovadoras atuam em três frentes de trabalho: prestam serviços, fomentam o mercado e proveem plataformas

Os novos modelos de negócios – economia compartilhada ou colaborativa – já estão espalhados por toda parte. Graças à era digital chegaram para sacudir o formato tradicional, unir pessoas com interesses sociais ou necessidades comuns, que podem ser divididas, facilitar o acesso a bens e serviços e resgatar a confiança das pessoas. Se os novos formatos econômicos, marcados pelo compartilhamento e pela colaboração, vieram para ficar ou não, é tema bastante polêmico. Mas é certo que estão mexendo com modelos de negócios tradicionais e conseguindo incentivar, incomodar e acomodar novas formas de pensar de pessoas e empresas.

Na economia colaborativa, todos podem ser fornecedor e consumidor ao mesmo tempo. A vantagem é gastar menos (com menor impacto ambiental e mais sustentabilidade), descentralizar o fluxo entre clientes e empresas (o que é facilitado pelas tecnologias digitais e as redes sociais) e promover aproximação com a comunidade (por meio de opções que estão ao alcance de todos). Para Gilberto Braga, professor de Finanças da Escola de Negócios Ibmec, no Rio de Janeiro, a economia compartilhada é a releitura de um conceito antigo, quando as cidades eram pequenas, com menos moradores, e as pessoas compartilhavam o que tinham, ajudando umas às


outras para satisfazer suas necessidades. Hoje, o conceito é relançado com um sentido mais amplo. Por meio de um aplicativo, uma empresa ou indivíduo consegue um táxi para um usuário sem que tenha qualquer veículo; por meio de um programa, é possível organizar um transporte solidário de caronas que economiza dinheiro e recursos naturais, como o petróleo. “O conceito prioriza o uso e a utilização de serviços ou produtos e não a posse e a propriedade”, ressalta. Segundo Braga, as grandes corporações devem repensar seus modelos de negócios tornando-se prestadoras de serviços, fomentadoras de mercado ou provedoras de plataformas. As empresas com visão de futuro empregam um modelo, enquanto as mais inovadoras podem empregar os três, com a corporação no centro, abandonando fórmulas tradicionais de atuação, cujo foco está basicamente em preço, mercado e produto. “É um movimento irreversível, que pode coexistir com os modelos dos mercados tradicionais.” No Brasil, principalmente nas principais capitais, como São Paulo e Rio, o serviço de compartilhamento já se proliferou. Cas sio Krupinsk, ­s ócio-fundador da Wi Group, uma incubadora e aceleradora de startups, lembra o recente mas já clássico exemplo do aplicativo Uber, uma plataforma de tecnologia que conecta motoristas particulares a passageiros e fica com uma parte do que é cobrado pelo dono do veículo. “O que está em alta hoje é o empreendedorismo inclusivo como fonte de renda extra e oferta de serviços.” Para Krupinsk, a era digital é a solução para a economia atual, dando oportunidade e capacitando pessoas para que elas cresçam. Atualmente, ele está trabalhando em um aplicativo de lavagem de carro a seco, o Lavme. “É só chamar e um profissional vai até o local executar o serviço.” Michel Alcoforado, sócio e fundador da Consumoteca, antropólogo especialista em comportamento, não faz parte da corrente dos que acredi-

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tam que o modelo de economia compartilhada é uma onda que vai passar nem dos que dizem que é o futuro da economia. “Veio para construir relações interessantes. O que interessa é a experiência. Estamos passando da experiência do querer ter para a de querer experimentar ter”, diz. Na Suíça, por exemplo, comprar um imóvel é coisa do passado. Tudo se aluga. Curiosamente, no Brasil, a classe A já está começando a pensar em ter a experiência de ter, enquanto a classe C quer a posse.

Confiança

Para Bruno Kunsler, economista comportamental da consultoria DZN, na economia colaborativa pode-se alugar uma bicicleta para passear ou até emprestá-la para alguém daquele grupo. A moeda de troca é a confiança. Se a pessoa sumir com a bike ou

estragá-la, as informações vão para o aplicativo e essa pessoa perde a credibilidade e não entra mais na jogada. “Empresas como o Fleety, o Tem Açúcar, o DogHero, o Uber, o Airbnb, entre outras, desenvolvem seus próprios mecanismos de confiabilidade. Mas o segredo do sucesso está na reputação dos usuários.” O economista observa que existem várias empresas e grupos da sociedade aderindo aos novos modelos, mas nas organizações mais tradicionais há uma certa resistência aos novos conceitos. “Esses conceitos mexem com o status quo de anos, atingindo desde pessoas até o produto final tradicional; no entanto, os novos modelos começam a ficar cada vez mais fortes e consequentemente mais adotáveis, o que forçará o mercado a mudar”, enfatiza. P sorsini@terra.com.br


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CRÔNICA

. Flávio Tiné .

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Enquanto os farmacêuticos são proibidos de vender certos produtos sem o devido receituário, o Dr. Google informa tudo, gota por gota

O autor é jornalista e foi assessor de imprensa do HCFMUSP durante 21 anos flavio.tine@gmail.com

Pergunte ao Dr. Google

Recorrer aos mais velhos em busca de um conselho parece algo antiquado, diante da oferta de informações sobre novas tecnologias, doenças e tratamentos. Basta consultar o Dr. Google, que na prática democratizou o acesso aos mais diferentes tipos de questões em quaisquer ramos de atividade. Na área médica, os farmacêuticos, as pessoas mais velhas, os vizinhos, os aposentados, as comadres, os vigários, ninguém com mais autoridade do que o Dr. Google, que, além de sabichão, não cobra nada. Mas, cuidado! Não vá com tanta sede ao pote, nem deixe de ouvir seu médico, pois essa história de recorrer ao computador e, a partir daí, fazer autodiagnóstico pode trazer prejuízos irreversíveis. Aparentemente, as doenças são iguais, mas cada caso exige, além do diagnóstico, acompanhamento específico ao longo do tratamento. É verdade que mesmo os mais experientes curandeiros perderam a oportunidade de vender mais, diante da proibição da venda de antibióticos sem receita e de outras providências preconizadas pelas autoridades. Mas a automedicação continua sendo um problema grave, cujas consequências não podem ser apreciadas por absoluta falta de dados a respeito. Quem pratica automedicação, em geral, não comunica aos médicos suas decisões. Colocadas à disposição do público em qualquer computador, as novidades em medicamentos e em tecnologia da saúde são um prato cheio para as mais diversas deliberações. Assim, enquanto os farmacêuticos são proibidos de vender certos produtos sem o devido receituário,

o Dr. Google informa tudo, gota por gota. O paciente faz o que acha melhor para ele, sem saber que está se prejudicando. Houve uma época, não muito distante, em que as famílias tinham por hábito recorrer aos mais velhos. Era assim nas tribos indígenas, nas quais a pajelança tudo resolvia. Não há resposta satisfatória para o fato de alguns tratamentos alternativos milenares não terem acolhida nas faculdades. Na Faculdade de Medicina da USP, uma das mais conceituadas, por exemplo, a homeopatia não consta entre as 55 especialidades. Para seus adeptos, é imperdoável. Contraditoriamente, o médico dos funcionários do Instituto do Coração pratica a homeopatia junto a seus pacientes, receitando suas fórmulas com absoluta segurança. Não o fosse abertamente, seria clandestinamente. Se há alguém benquisto entre os servidores, esse homem só pode ser o médico que os atende carinhosamente. Nem o Dr. Google explica. Se é verdade que o Dr. Google pesquisa exaustivamente antes de divulgar seus palpitantes temas, ninguém, nem mesmo os gênios da informática, está livre de equívocos. Afinal, os brutos também amam, ou melhor, os médicos também erram. Parece haver um descompasso entre os tratamentos e os resultados, como se a natureza reagisse com sua rebeldia. Assim, da mesma maneira que é salutar recorrer aos conhecimentos do Dr. Google, é recomendável desconfiar de tudo, mesmo quando as informações aparecem como verdadeiras e insuspeitas, apesar de não constar sequer indícios de reclamações por parte dos órgãos de defesa dos médicos, como o Conselho Federal de Medicina e os conselhos regionais. Por enquanto, a discussão interna a respeito não aponta nenhuma resolução ou providência. A vida é cheia de erros e acertos.P


ESPAÇO LIVRE

Atletas na poluição – Pesquisa feita durante um simpósio que tratava a respeito da imunologia no esporte na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) colocou quatro atletas em esteiras dentro de câmaras para correrem em situações diferentes, simulando diversidades climáticas e ambientais. O exercício feito em ambiente quente, úmido e poluído trouxe piora no tempo dos atletas. Em consequência, os batimentos cardíacos aumentaram em virtude da poluição e exames de sangue e secreção nasal apontaram danos inflamatórios no trato respiratório e marcadores de estresse oxidativo. A intenção dos médicos era comprovar que a repetição das práticas sob tais condições pode tornar-se um problema à saúde do atleta.

Proteína abaixa a pressão – Ao ingerir proteína, o indivíduo não faz bem apenas para a obtenção de mais músculos. Um trabalho feito pela Universidade de Boston, nos Estados Unidos, demonstrou que quem consome em média 100 gramas de proteína por dia – animal ou vegetal – tem 40% menos chance de ter pressão alta a longo prazo. Concluiu-se também que quem ingere boa quantidade de fibras diminui esta chance na mesma proporção em até 60%. Doenças da Geração Z – Quem nasceu entre 1990 e 2010 já nasceu interligado e conectado, tem contato diário intenso e grande afinidade com a tecnologia. Porém algumas pessoas da Geração Z têm desenvolvido doenças modernas, como, por exemplo, depressão no Facebook – caso de inveja da vida alheia; cibercondria – medicar-se e pesquisar em excesso na internet por doenças e remédios; e efeito Google – a pessoa não se preocupa mais em memorizar as informações pela facilidade de acesso. É preciso ficar atento aos sintomas!

Tamanho não é documento – O British Journal of Urology International analisou o comprimento médio do pênis e concluiu que a média fica em 13 cm ereto e 9 cm flácido. O estudo visou à obtenção de dados para subsidiar tratamentos de transtornos e situações clínicas e terapêuticas. De acordo com o médico Antonio de Moraes Júnior, existem muitos homens que vinculam o tamanho do pênis à sua virilidade, mas é um ledo engano, pois um órgão de 10 cm ereto pode sim ser eficaz. Ele adverte: “Um pênis muito grande pode machucar a mulher, inibindo o prazer do ato sexual”.

Controlando o estresse – Vários são os fatores motivadores do estresse. De acordo com a psicóloga Daniela Guimarães Cipriano, o estresse é um desgaste físico e mental que, com o passar do tempo, pode levar a outras patologias. Os fatores estressores principais são violência, problemas financeiros, discussões e até mesmo a própria pessoa, que “é uma fábrica de estresse para si mesma, interpretando tudo de forma negativa”, diz. Para aliviar, procure conversar com amigos, praticar esportes, além de ajuda psicológica.

Epistaxe: nariz sangrando – Esse diferente nome esconde o quanto é comum o fato. Muitas pessoas têm seu nariz sangrando de forma espontânea e f icam assustadas. Na verdade, o sintoma ocorre quando os frágeis vasos sanguíneos da mucosa que reveste a parte interna do nariz se rompem. Para estancar o sangue, incline a cabeça para a frente e tape as narinas com algodão ou gaze.

Suco de uva para a memória – O dia a dia das pessoas está cada vez mais exigindo a memória. Temos que nos lembrar de várias senhas, compromissos e atividades e, muitas vezes, o cérebro falha. A Universidade de Cincinnati comprovou melhoras nas memórias de pessoas idosas que consumiram dois copos de suco de uva integral por dia. Isso ocorre porque os polifenóis ou resveratrol presentes na fruta reduzem as alterações degenerativas das células. Além da memória, o aprendizado também foi potencializado com o consumo.

Amigos para sempre! – Um estudo da Brigham Young University (EUA) concluiu que o isolamento do convívio social por vontade própria ou não aumenta o risco de mortalidade para idosos com mais de 65 anos. O pior é que há uma tendência mundial entre os jovens para o isolamento.

Ficar banguela é uma boa? – Claro que não. Uma pesquisa elaborada pelo Ibope afirma que metade dos brasileiros entre 35 e 45 anos perdeu pelo menos 12 dentes na vida e, quando eles ficam idosos, 80% tendem a ter apenas 20 dentes. O fato afeta a qualidade de vida, pois compromete a mastigação, desencadeia doenças sistêmicas e cardíacas, mexe com o convívio social e pode levar até à depressão. Para evitar isso tudo, é simples: escovar os dentes após as refeições, visitas periódicas ao dentista e aplicar flúor.

Picamalácia – Conhecido também como desejos de grávida, nada mais é que a vontade excessiva de ingerir substâncias inadequadas. O problema está associado à carência de nutrientes como o ferro no organismo. O cérebro interpreta a informação de maneira equivocada e a pessoa tem “desejo” de comer coisas esquisitas como argila, tijolo, areia e reboco. Além disso, as grávidas ficam ainda mais sensíveis e carentes e, por meio dessas vontades, expressam suas necessidades de atenção. Em casos como esses recomenda-se procurar profissional habilitado para controlar a saúde da mãe e do bebê.

TEXTO: NEUSA PINHEIRO / ILUSTRAÇÕES: MARCELO RAMPAZZO

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CRÔNICA

Erro de pessoa

A . Paulo C astelo Branco .

Adélia decidiu retomar a vida saudável. Fez exames clínicos que não constataram nenhuma doença ou recomendação negativa de praticar exercícios

Paulo Castelo Branco é advogado, escritor e membro da Academia Brasiliense de Letras

A viuvez a pegou balzaquiana. Os cinquenta anos chegaram com Adélia se sentindo muito bem. Mas tudo mudou com o trágico falecimento do marido. Era um atleta e, com um ano a menos do que ela, praticava triatlo, jogava tênis e futebol com destaque. Foi no meio da pelada com os amigos, programa de todas as segundas-feiras às dez horas da noite, que sentiu uma pontada aguda no peito. Caiu no gramado e partiu para um lugar melhor. Adélia ficou arrasada com a perda. Parou com as aulas de Pilates, a musculação e a adorável aula de dança que compartilhava com o marido. Por opção, não tiveram filhos, dedicaram-se a trabalhar, viajar e praticar esportes. Saíram pelo mundo em busca de aventuras. Mergulharam em águas profundas, escalaram montanhas e se preparavam para um cruzeiro marítimo ao redor do mundo. Tudo ficou no passado. Desiludida, Adélia engordou, perdeu massa muscular e, de tanto chorar, marcou a face com profundas rugas. Quase dois anos de tristeza até que, da janela, observou um rapaz no prédio em frente. Parecia ser bem jovem. Ao vê-la, cumprimentou-a com um leve aceno. No dia seguinte, sabe-se lá a razão, acordou animada e desceu do apartamento para pegar sol. Em quinze minutos sentiu-se revigorada com a beleza do dia de outono. Distraída não percebeu a presença do

homem parado ao seu lado. Era o rapaz da janela. Estava suado como se tivesse acabado de correr quilômetros. Notou que não estava ofegante. Os músculos rijos fizeram-na lembrar do saudoso marido. – Bom dia, sou Marcelo, seu vizinho do outro prédio. Achei que já a conhecia, você não é Adélia? – Ela respondeu que sim. Entabularam conversa e relembraram os jogos de futebol das ­s egundas-feiras. Ele era um dos participantes da pelada semanal. Adélia decidiu retomar a vida saudável. Fez exames clínicos que não constataram nenhuma doença ou recomendação negativa de praticar exercícios. Ao voltar para casa, entrando no elevador, não percebeu que ele não estava no andar e caiu no poço, ficando entalada no caminho da máquina. De repente, machucada e sem ninguém que a socorresse, viu o elevador descer rapidamente e, com ele, a Morte com sua foice. Pediu-lhe que não a levasse, pois acabara de recomeçar a vida. A Morte cedeu e prometeu deixá-la viver mais vinte anos. Com o susto, resolveu olhar para o futuro. Foi à janela e chamou Marcelo para dividir uma garrafa de vinho. Ele aceitou. No dia seguinte, como já estava decidida a mudar de vida, consultou o melhor cirurgião plástico da cidade e marcou uma restauração geral. – Quero voltar a ser linda como era – disse, sorrindo. A cirurgia foi um sucesso e, em dois meses, já estava malhando e acompanhando Marcelo em curtas corridas. Estava feliz e parecia uma jovem de trinta anos. Numa dessas corridas de fim de semana, às margens de avenida movimentada, um ônibus perdeu a direção e atingiu Adélia em cheio. No além, encontrou-se com a Morte e a lembrou da promessa de viver mais vinte anos. A Morte, constrangida, disse: “Criatura de Deus, nem a reconheci!”. P


RESPONSABILIDADE SOCIAL

Saúde bucal em movimento

E

“Eu já o tinha levado em três dentistas, mas ele não chegava nem a entrar pela porta.” É assim que Tereza Janoélia Alexandre Lopes, agente comunitária de saúde da cidade de Moreilândia, Pernambuco, conta sobre a dificuldade em levar seu filho Davi Lopes da Silva, de 9 anos, diagnosticado como hiperativo e com déficit de atenção, ao dentista. Ela explica que, além da dificuldade em se manter quieto, Davi tinha muito medo e foi Thiago Reis Picanço o responsável por acalmar a criança. Thiago Reis Picanço é odontólogo e supervisor da Unidade Móvel OdontoSesc, que atende em Pernambuco. O projeto é parte da Assistência Odontológica do Sesc que, com 59 unidades móveis, chega à periferia das grandes cidades e municípios do interior do Brasil para atender as comunidades que não têm acesso a tratamentos odontológicos. O OdontoSesc, em parceria com a prefeitura de cada cidade, faz uma triagem para que sejam atendidos prioritariamente pacientes de baixa renda e que não tenham condições financeiras de ir ao dentista. Segundo Thiago, os procedimentos mais frequentes nas unidades, além da profilaxia, são raspagem para remoção de tártaro, tratamento de cárie, endodontia, procedimentos cirúrgicos e também estéticos, para recuperar não só o bem-estar físico do paciente, mas também o emocional. Tereza tem também uma filha de 6 anos, Sara Gabriela Lopes da Silva, que sempre teve muito medo de ir ao dentista e, por conta disso, estava com cáries. Para Tereza, os profissionais do projeto têm uma dinâmica muito interessante para tratar as crianças, pois explicam tudo o que está em volta delas, desde a cadeira do dentista até o tratamento em si, e assim a criança vai perdendo o medo. Sara foi a primeira a passar pelo OdontoSesc e, após vencer o medo e fazer o tratamento dentário, convenceu Davi a ir também ao dentista. Para lhe dar força,

segurou a mão de seu irmão na primeira consulta a pedido dele. Por causa do histórico de Davi, a mãe tinha receio de que ele não conseguisse fazer o tratamento odontológico, pois, além de sentir medo, é muito agitado e não queria sequer ficar sentado na cadeira do dentista, mas Thiago, com muita paciência, ­acalmou-o e o ajudou a vencer esta barreira. “O tratamento do Davi não serviu apenas para a sua saúde bucal, pois, como ele venceu essa etapa do medo, nós sempre o lembramos que é capaz de conseguir outras coisas e de romper com outros medos”, disse Tereza. Desde 1994 a Assistência Odontológica do Sesc é integrada ao programa de promoção de saúde bucal Brasil Sorridente, que entende que a saúde bucal é parte essencial da saúde geral do indivíduo. Para tanto, trabalha a fim de desenvolver ações integradas de saúde buscando combater e prevenir doenças bucais. “Fora das unidades também são realizadas atividades educativas à população, porque é muito importante priorizar a questão da prevenção. Não adianta tratar do paciente se, posteriormente, ele não souber prevenir-se de doenças bucais”, salienta Thiago. O OdontoSesc realiza essas atividades para diferentes públicos, nas unidades móveis, clínicas fixas e unidades do Sesc, além de escolas, creches, empresas, associações e espaços sociais. Atende diferentes públicos, entre crianças, jovens, adultos e idosos, tudo isso com o objetivo de contribuir para a promoção da saúde integral de cada um. “Trabalhar com o social é algo muito belo, muitas vezes resgatamos uma pessoa que estava afastada de uma condição ideal, e, além de dentista, nos tornamos também um amigo ao acolher um paciente, é algo muito realizador”, afirma Thiago. statta79@gmail.com

. Tatta Santos .

Com unidades móveis, o OdontoSesc leva atendimento odontológico às comunidades carentes

divulgação

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ODONTOLOGIA SOCIAL

Dentistas cidadãos

A

. Alessandro Polo .

Formação faz com que o trabalho dos dentistas esteja além dos consultórios e promova a melhoria na saúde bucal da sociedade como um todo

A saúde bucal no País tem melhorado a cada ano. A diminuição das cáries e o fácil acesso aos serviços de saúde odontológica são exemplos do atual panorama da odontologia no Brasil. Para que essa melhoria seja contínua, são necessárias pesquisas em saúde coletiva que abordem as necessidades sociais das comunidades como um todo. E esta é uma área promissora para os dentistas brasileiros. A odontologia social foi criada na metade do século passado e tem avançado consideravelmente nos Estados Unidos. Assim como um clínico atende um paciente isoladamente, a odontologia social está completamente direcionada para os grupos, as comunidades e os serviços públicos. “Seus programas são voltados para a sociedade e não para os indivíduos em particular”, esclarece José Roberto de Magalhães Bastos, mestre em Odontologia Social e Preventiva e doutor

em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo – USP. Na Faculdade de Odontologia de Bauru da USP, os alunos são apresentados ao tema logo no primeiro semestre, com continuidade até o último ano. Antes conhecida como odontologia social, hoje denomina-se Odontologia em Saúde Coletiva. “Eu diria que a saúde coletiva preocupa-se com a qualidade de vida e, consequentemente, com quantidade de vidas”, complementa Bastos. No curso de graduação os alunos aprendem a teoria e a filosofia da saúde coletiva, que os levam à prática dentro de disciplinas tradicionalmente ensinadas e também algumas específicas, de acordo com a matriz curricular de cada faculdade. As tradicionais são Epidemiologia Bucal, Educação em Saúde Bucal, Odontologia Preventiva, Bioestatística, Saúde Coletiva, Orientação Profissional e até mesmo Odontologia Legal. © Kzenon | Dollarphotoclub.com

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“Essas disciplinas são importantes para a formação dos dentistas, pois lhes possibilitam adquirir competência e habilidade para desenvolver ações de prevenção, promoção, proteção e reabilitação da saúde bucal”, esclarece Doralice Severo da Cruz Teixeira, especialista em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da USP e presidente da Associação Brasileira de Saúde Bucal Coletiva – Abrasbuco. Para ela, essa formação contribui tanto individualmente quanto no âmbito coletivo, pois assegura que a prática esteja integrada com o sistema de saúde, fazendo o profissional ser capaz de pensar criticamente e analisar os problemas da sociedade para buscar soluções exatamente como estão descritas nas diretrizes curriculares do curso de odontologia. A formação profissional ampliada e os odontólogos cada vez mais capacitados em relação às políticas públicas voltadas à odontologia fizeram com que a antiga odontologia preventiva e social fosse uma mola propulsora para que, no final dos anos 1980, o índice de doenças bucais desse uma guinada para baixo, melhorando e muito o quadro epidemiológico do País. Entretanto, essas mudanças não foram reflexos somente da formação, outros fatores também contribuíram. “Medidas públicas, a ciência odontológica, o acesso a tratamentos, o Sistema Único de Saúde – SUS, políticas locais e locorregionais são fatores que devem ser lembrados para que o progresso fosse sentido”, explica José Roberto. Para Doralice, muito foi feito e ainda há muito a se fazer. Embora tenha havido muitas mudanças na grade curricular, ainda prevalece a formação com currículos rígidos e com grande concentração de conteúdos técnicos, utilizando pedagogia de transmissão, um modelo de clínica odontológica fragmentada e ausente de mecanismos que promovam a participação do aluno em atividades de ensino, pesquisa e extensão, especialmente nas faculdades privadas. “Essas difi-

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culdades atendem aos interesses dos empresários do ensino que não têm preocupação com educação e saúde, mas sim com a acumulação e a reprodução do capital nesse setor”, adverte Doralice Severo. Os dentistas que optarem por uma atuação na odontologia social deverão desenvolver maior compreensão dos conceitos fundamentais da odontologia coletiva, que lhes proporcionem um raciocínio voltado às ações epidemiológicas necessárias à área de saúde bucal. Um profissional bem qualificado poderá exercer procedimentos mais analíticos com maior eficiência. O odontólogo não precisa atuar em todas as áreas da graduação, porém, ao seguir pela área social, deverá exercer sua atuação de forma mais preponderante nos projetos voltados à comunidade. Muito mais que a formação acadêmica, cada cirurgião-dentista é, acima de tudo, um cidadão. É nesse sentido que, após a graduação, vão buscar melhorias na aplicação das técnicas apreendidas e colocá-las em prática, seja no consultório particular ou, preferencialmente, no atendimento à comunidade, pro-

movendo e recuperando a saúde bucal da população. A inserção dessa capacitação nos princípios do SUS obriga o profissional a conhecer os conceitos do processo saúde-doença, para que faça diagnósticos e realize pesquisas na área da saúde bucal coletiva. É necessário conhecimento dos sistemas de prevenção e controle das doenças, dos sistemas de trabalho e das formas de atendimento à população. Além disso, o odontólogo deverá ser capaz de avaliar os serviços de saúde por meio de indicadores, conhecendo os índices e coeficientes das principais doenças que afetam a saúde da população (epidemiologia) e, assim, desenvolver ações de caráter coletivo voltadas às políticas públicas na promoção da saúde bucal da população nas esferas municipais, estaduais e federal. “O programa Brasil Sorridente, do governo federal, tem feito esse esforço e é muito bem-sucedido. A oferta de ações de saúde bucal no nível da atenção básica aumentou desde a implantação do programa e melhorou a saúde bucal dos brasileiros”, revela Doralice. alessandropolo@uol.com.br


MERCADO

Turma da Mônica Jovem

A Condor lança seus primeiros produtos especialmente licenciados para o público pré-adolescente. Com os personagens Mônica e Cebola, da Turma da Mônica Jovem, os modelos foram feitos para meninas e meninos a partir dos 7 anos de idade. Com os personagens renovados em versão teenager e traços de mangá, as escovas dentais TMJ da Mônica e TMJ do Cebola têm cabo emborrachado, que garante mais segurança e conforto na escovação, cerdas multiníveis e cabeça pequena, que alcança os lugares mais difíceis, oferecendo uma higiene mais eficiente. As duas versões vêm com capa protetora e estão disponíveis em supermercados, drogarias e perfumarias.

Escovas infantis Doctor Duck

Para as crianças, estimular a imaginação na hora da escovação pode ser essencial para desenvolver o hábito da higiene oral desde cedo. Com essa proposta, a Dentalclean apresenta a linha infantil Doctor Duck. As escovas têm cabo estendido e são autoportantes, ou seja, mantêm-se em pé de forma divertida e atrativa para os pequenos. Desenvolvidas para crianças de até 7 anos, as escovas colecionais estão disponíveis em seis modelos: Caverna, Pato, Girl, Amor, Princesa e Baby e acompanham um protetor de cerda com ventosa para preservá-la e protegê-la de microrganismos.

Oral-B para sensibilidade dentária

Oral-B Pro-Saúde Sensi-Alívio™ oferece alívio à sensibilidade dental, além de proporcionar tratamento efetivo para dentes e gengivas sensíveis. A fórmula bloqueia os túbulos dos estímulos quentes e frios e forma uma proteção microfina ao redor dos dentes. A Oral-B apresenta também a escova dental Indicator® Sensi Soft, com cerdas macias, que foi ergonomicamente projetada para oferecer mais conforto e controle durante a escovação. Suas cerdas são arredondadas e contam com um indicador de troca, uma fita azul que avisa quando deve ser feita a substituição da escova.

CARTAS Agradecemos o envio da Odontologia de Grupo em Revista, edição no 25, a qual é de grande valia para os nossos alunos, professores e demais associados de nossa entidade. Aproveitamos o ensejo para externar votos de elevada estima e consideração. José Luiz Negrinho – Presidente da ACDBS – Associação dos Cirurgiões-Dentistas da Baixada Santista Quero agradecer pelo envio da revista, recebo-a há mais de um ano e o conteúdo é sempre muito bom, as matérias são informativas e esclarecedoras. Seria ótimo se fosse mensal. Parabéns pela publicação. José Airton Peres Cervantes – Caxias do Sul – Rio Grande do Sul A Odontologia de Grupo em Revista agradece pelos ­e-mails enviados pela ABO-PG – Associação Brasileira de Odontologia

de Ponta Grossa e CROSP – Conselho Regional de Odontologia de São Paulo. Cartas e mensagens eletrônicas poderão ser endereçadas para: Odontologia de Grupo em Revista. Rua Treze de Maio, 1540 – Bela Vista – CEP 01327-002 – São Paulo – SP. E-mail: revista@sinog.com.br. Aquisição de exemplares Para o recebimento gratuito das edições da Odontologia de Grupo em Revista, é necessário o preenchimento do formulário de solicitação que está disponível no endereço www.sinog.com.br/revista. Operadoras de Odontologia de Grupo associadas ao Sinog poderão solicitar número adicional SELO de exemplares para distribuição interna, mediante solicitação pelo ­e-mail ­revista@ sinog.com.br.

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