Competências Empreendedoras de empresários de sucesso no municipio de Areia - PB

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COMPETÊNCIAS EMPREENDEDORAS DE EMPRESÁRIOS DE SUCESSO NO MUNICÍPIO DE AREIA - PB Andréia Lourenço da Silva (UFPB VIRTUAL) andloureno@yahoo.com.br Francisco Kleveny Soares da Silva (UFPB VIRTUAL) klevenydm@bol.com.br Gina de Lourdes Nobre Rodrigues (UFPB VIRTUAL) ginnanobre@yahoo.com.br Maria da Conceição Lourenço da Silva (UFPB) conloureno@yahoo.com.br

Resumo: O empreendedorismo cada vez mais confirma sua crescente importância na economia global, sendo representado por protagonistas que através de suas habilidades, personalidade e conhecimento atuam como agentes de mudança e contribuem para o desenvolvimento econômico e social, revelando suas competências empreendedoras. Nesse contexto, o presente trabalho é resultante de uma pesquisa de caráter exploratório e descritivo, realizada junto aos empresários de sucesso que atuam na cidade de Areia – PB, com o objetivo de identificar as competências empreendedoras utilizadas por estes empresários, tomando por base o modelo de Man e Lau (2000) adaptado por Paiva Junior et al (2003), o qual considera sete categorias de competências, a saber: de oportunidade, de relacionamento, conceituais, organizacionais, estratégicas, de comprometimento e de equilíbrio. Os dados foram coletados por meio de questionários e entrevistas semi-estruturadas e foram tratados de forma qualitativa e quantitativa. As principais conclusões do estudo indicaram a predominância das competências de relacionamento e de equilíbrio na amostra pesquisada, sendo que as competências conceituais e estratégicas foram as que apresentaram maior divergência entre o comportamento esperado e o comportamento praticado pela maioria dos entrevistados. Palavras-chave: Competências empreendedoras; Empreendedor; Sucesso.

1 Introdução O empreendedorismo ganha ênfase a cada instante, onde as exigências e pressões sobre as empresas para enquadrar-se e garantir sobrevivência no mercado são inúmeras. Nesse contexto, o empreendedor, como grande idealizador que é, precisa acompanhar o ritmo das mudanças e estar apto a desenvolver e aprender novas habilidades que possibilitem o crescimento do seu negócio, ou seja, precisa ”aprender a aprender” visando aprimorar suas competências empreendedoras tornando-se mais competitivo. Devido à importância dos empreendedores como agentes de mudança, observa-se que nos últimos anos tem aumentado o incentivo às iniciativas empreendedoras, seja pela necessidade de se buscar idéias e soluções criativas e inovadoras para os mais variados problemas da sociedade de consumo, seja pela necessidade de criar alternativas de geração de emprego e renda para a população em geral. Diante do exposto, parece crítico que se procure compreender os comportamentos relacionados às competências empreendedoras, as quais podem ser concebidas como uma série de características que englobam diferentes traços de personalidade, habilidades e conhecimentos.


A relevância de se estudar a dinâmica dessas competências justifica-se na medida em que tais estudos buscam aprofundar os conhecimentos acerca do comportamento empreendedor, apontando os caminhos para que os empreendedores possam aperfeiçoar as características integrantes do seu perfil, adquirir novos conhecimentos e habilidades importantes e buscar parceiros com características complementares às suas para que possam contribuir no crescimento e sucesso dos seus empreendimentos. Neste sentido, a presente pesquisa procurou responder ao seguinte questionamento: Quais as competências empreendedoras utilizadas pelos empresários de sucesso que atuam na cidade de Areia – PB? Para responder a esse questionamento, foi estabelecido como objetivo geral do estudo: Identificar as competências empreendedoras utilizadas pelos empresários de sucesso que atuam na cidade de Areia – PB. Alguns objetivos específicos foram também elaborados para viabilizar o alcance deste objetivo geral: 1. Traçar o perfil sócio-demográfico e profissional dos entrevistados; 2. Levantar dados pertinentes aos empreendimentos dos empresários pesquisados; 3. Identificar as competências empreendedoras utilizadas pelos entrevistados, com base no modelo de Man e Lau (2000) adaptado por Paiva Junior et al (2003); 4.Verificar quais destas competências identificadas são predominantes na amostra pesquisada. Para a realização desta pesquisa, foram considerados como empresários de sucesso, aqueles cujos empreendimentos conseguiram ultrapassar cinco anos de atuação no mercado, independentemente do porte ou ramo do negócio. Espera-se que os resultados desta pesquisa contribuam para ampliar os conhecimentos acerca das competências empreendedoras e possam estimular a realização de novos estudos que possibilitem uma melhor compreensão acerca dessa temática, desde que pesquisadora é natural do município de Areia espera-se também que este trabalho venha a contribuir com o desenvolvimento local desta cidade. 2 Empreendedorismo Nos últimos dois séculos, o empreendedorismo passou a ser estudado de maneira formal e somente há 50 anos despertou interesse científico através do seu crescimento inesperado em todas as suas dimensões. Segundo Dolabela (1999), empreender com sucesso significa ser capaz de desenvolver um potencial de aprendizado e criatividade, junto com a capacidade de programá-lo em velocidade maior que o ritmo de mudanças no mercado. Toda essa mudança abriu um leque de oportunidades, onde ser criativo é o diferencial, mas principalmente é preciso estar disposto a aprender, para garantir destaque e conseguir sobreviver num mercado cada vez mais competitivo. O termo empreendedor é oriundo da língua francesa – entrepreneur; e o significado é atribuído àquele que assume riscos e começa de novo; ou ainda, é aquele que “está entre ou estar entre”. A própria evolução do conceito é marcada por diferentes pontos de vista, identificando personagens empreendedores – como o exemplo de Marco Pólo, o mercador italiano que estabeleceu rotas comerciais com o oriente; empreendedores da Idade Média identificados na figura da pessoa encarregada de projetos de


produção em larga escala; os clérigos responsáveis pela construção de castelos, abadias e catedrais, dentre outros. (HISRICH E PETERS, 2004). Já no Brasil, o empreendedorismo tornou-se importante devido ao grande número de novos negócios que são criados a cada ano, em decorrência da degradação do trabalho formal e do aumento dos índices de desemprego. Estes empreendedores nascem de diversas formas, desde a vontade de ser o próprio chefe, colocar em prática um sonho, sair deste índice assustador de desemprego que cresce a cada instante e muita força de fazer acontecer. 2.1 O Empreendedor Este grande personagem do novo cenário econômico aborda uma variedade de definições por estar inserido em diversas áreas, sejam estas comportamentais ou econômicas. De acordo com Filion (apud Dolabela, 1999), um empreendedor é alguém que imagina, desenvolve e realiza visões. Nesse contexto, o empreendedor apresenta-se como aquele indivíduo que além de ser imaginativo, é capaz de desenvolver suas idéias e realizar coisas concretas, como produtos e serviços que contribuam para mudar o ambiente no qual está inserido. Naturalmente esse processo envolve sua capacidade criativa, mas também o estabelecimento e cumprimento os objetivos e metas com tenacidade, internalidade e criatividade, sendo também indispensáveis: conhecimento do mercado e capacidade de detectar oportunidades nele presentes; processo de aprendizagem constante e busca de informações; capacidade para assumir riscos moderados; e capacidade de contribuir com algo novo e diferente para o desenvolvimento econômico. Segundo Dornelas (2001, p.30), “o empreendedor possui características e alguns atributos pessoais como, por exemplo: são visionários, sabem tomar decisões, são indivíduos que fazem a diferença, sabem explorar ao máximo as oportunidades por serem determinados e dinâmicos, otimistas, apaixonados pelo que fazem independentes e constroem o próprio destino, ficam ricos, são lideres e formadores de equipe, bem relacionados, organizados, planejam, possuem conhecimento, assumem riscos calculados e criam valor para a sociedade”. Em resumo, o empreendedor é um grande avaliador de oportunidades, encorajado pelo desejo de mudança pessoal e profissional, motivado pela força de vontade e pela busca do sucesso, onde toda incerteza torna-se certeza porque ele sabe aonde quer chegar. A persistência é uma característica típica do empreendedor, pois este não desiste de suas idéias: ele acredita e põe todas as suas energias para vê-las realizadas. (RAMAL, 2006). Sua sede de vencer é testada a cada dia, pois o mercado é exigente e nele só os persistentes sobrevivem. Mesmo diante de tantos desafios, o empreendedor sempre considera que é possível crescer e expandir seu empreendimento. Mas é importante contar nesse processo com uma boa dose de organização e planejamento.

2.2 Definições de Competências Ao longo de algumas décadas de estudos, o conceito de competência ganhou diversas abordagens, dependendo da maneira como é empregado. Assim, a


competência pode ser entendida como um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes para atingir objetivos organizacionais ou como o conhecimento que se manifesta na prática, na ação, como forma dinâmica de saber fazer ou agir. No entanto para Magalhães apud Rodrigues (2003),as competências individuais e gerenciais é definida como um conjunto de conhecimentos, habilidades e experiências que credenciam um profissional a exercer determinada função. Enfatizando que essas competências são qualificações que permite que uma pessoa tenha performance superior em um trabalho ou situação, são características individuais que quando desenvolvidas mostram as habilidades gerenciais, agregando valores necessários para obtenção de resultados positivos na organização. Salientando que uma das competências gerenciais é saber trabalhar em equipe e ser um verdadeiro líder,onde segundo Fleury & Fleury (2001), é Um saber agir responsável e reconhecido que implicam mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos, habilidades, que agregue valor econômico à organização e valor social ao individuo. Observase que essas competências mostram as habilidades profissionais que correspondem às exigências da empresa, visando à inovação estratégica, à competitividade, e introduzindo uma nova gestão na organização que resulta em lucratividade e credibilidade no mercado. 2.2.1 Competências Gerenciais A atuação gerencial e sua vinculação com os resultados têm sido alvos de crescente interesse por parte dos que estudam e escrevem sobre o assunto, sendo reflexo do contexto atual em que as empresas estão inseridas. Dias (2001) afirma que a mudança tem produzido novas formas de concepção quanto à atuação dos gestores, na medida em que provoca ou identifica a vinculação do seu papel com a estratégia organizacional, por ser considerado um ponto de relevância nas abordagens baseadas nas competências. Neste sentido, o desenvolvimento de competências gerenciais tem possibilitado que as práticas organizacionais sejam direcionadas para uma gestão mais efetiva e compatível com a estratégia competitiva da empresa. A chave para o aprimoramento das práticas de trabalho e para o envolvimento de todas as pessoas na organização reside na questão da adoção de atitudes mais apropriadas à nova realidade que se impõe. O desenvolvimento de competências gerenciais deve se visto, portanto, como uma forma de atingir melhores resultados organizacionais e como uma prática para desenvolver as competências essenciais (BITENCOURT, 2001). 2.2.3 Competências Empreendedoras Competência empreendedora pode ser considerada como tipo de característica superior que destaca os indivíduos, denominados competentes, por diferentes traços de personalidade, habilidades e conhecimentos, que se refletem na atitude. Além disso, esses traços são influenciados pela experiência de cada um, a sua educação tradicional e familiar. Assim, a competência empreendedora será refletida na atitude do empreendedor em seu cotidiano, diante de cada etapa do empreendimento, desde seu crescimento, maturidade e declínio.


Em seus estudos sobre as competências empreendedoras na Europa, Onstenk (apud Honma, 2003) aponta que, em relação à literatura, as competências e características dos empreendedores podem ser abordadas em três situações: 1. Empreendendo habilidades-chaves, ou seja, habilidades-chaves são aplicáveis a uma variada gama de atividades empreendedoras, entretanto, estas devem ser concretizadas de fato. Em relação a um cidadão normal, com boas habilidades, existem poucas diferenças referentes a características comportamentais, como flexibilidade, criatividade, solução de problemas. O que diferencia a competência empreendedora é a atitude para iniciar efetivamente um negócio, por exemplo. 2. O empreendedor, como gerente considera o papel de gerenciamento do empreendedor, que deve planejar, organizar, gerenciar as finanças, liderar e controlar. Além destas, o empreendedor deverá desenvolver várias outras perspectivas, principalmente para a sua empresa poder competir no mercado globalizado. 3. O empreendedor como empreendedor, refere-se à competência de empreender na prática, desde abrir a empresa, como crescer dentro do mercado e para fazer com que a organização cresça ou se mantenha. Sobre este assunto, Mamede e Moreira (2005) afirmam: Existem competências associadas a posturas empreendedoras que auxiliam no entendimento de atributos geradores de respostas de valor positivo, na interação com grupos internos e externos à organização. Elas se vinculam ao senso de identificação de oportunidades, à capacidade de relacionamento em rede, às habilidades conceituais, à capacidade de gestão, à facilidade de leitura, ao posicionamento em cenários conjunturais e ao comprometimento com interesses individuais e da organização (Mamede e Moreira, 2005, p.27).

Alguns estudos sobre empreendedorismo revelam que podem existir diferenças consideráveis em relação às competências entre os proprietários e gerentes de pequenas empresas e proprietários de grandes empresas. Além disto, é possível identificar algumas competências “universais”, mas dentro de cada setor, existem diferenças baseadas no contexto do ambiente interno e externo, como o grau de maturidade de um empreendimento, a natureza do setor, e o modelo de gestão e controle. Em setores como o de serviços, é visível a ênfase em algumas competências orientadas à pessoa. 2.2.4 Modelos de Competências Empreendedoras 2.3.4.1 Modelo de Man e Lau As competências, de acordo com o modelo de Man e Lau (2000) foram originalmente categorizadas em seis áreas distintas de comportamento, conforme destacadas por Paiva Junior et al (2003): competências de oportunidade, de relacionamento, conceituais, organizacionais, estratégicas e de comprometimento, as quais são descritas a seguir: 

Competências de oportunidade


Correspondem basicamente à identificação das oportunidades de negócios, através de experiência prévia em mercados potenciais; avaliação e mudanças de mercado, competição e tendências e também busca de oportunidades de negócios, com considerações completas, antes da tomada de decisão e ação.  Competências de relacionamento Correspondem à construção e manutenção de redes de relacionamento com clientes existentes e potenciais, associações, parceiros de negócios e funcionários, que serão utilizadas para adquirir e fortalecer oportunidades de negócios, assim como adquirir os recursos e habilidades necessárias. Importa que o empreendedor demonstre lealdade e confiança, com uma comunicação efetiva, para que ocorra a construção positiva de sua imagem profissional e fidelização dos seus clientes internos e externos.  Competências conceituais O empreendedor deve estar atento para analisar, avaliar sob diferentes ângulos e tomar decisões de forma intuitiva e rápida, em relação a oportunidades de mercado, solução de problemas organizacionais, necessidades dos empregados e para a melhoria organizacional, sem utilizar os passos lógicos e tradicionais. A inovação deve ser utilizada para a entrada em novos mercados, serviços, imagem, mercados, uso da tecnologia, recursos e distribuição.  Competências organizacionais As competências organizacionais consistem no planejamento das operações e alocações dos recursos externos e internos, além da definição de metas para os funcionários, buscando-se reduzir hierarquias desnecessárias. Liderar funcionários para atingirem as metas organizacionais, auxiliá-los nas mudanças e nas dificuldades, afinar a cultura organizacional com forte influência pessoal. Delegar responsabilidades e ao mesmo tempo continuar acompanhando as decisões mais importantes, fatos e dados, procurando novas soluções. O empreendedor utiliza-se de regras e regulamentos, para definir sistemas de recompensa e punição, ou seguir os padrões estabelecidos para controlar.  Competências Estratégicas Nesta área de competência, o empreendedor deverá ter visão de longo prazo para o direcionamento dos negócios, responsabilidade da empresa para com a sociedade e papel único dentro da companhia. Além de ter também visão para satisfação das expectativas pessoais. Definir objetivos reais e atingíveis, além de planos de contingência, buscando planejar de maneira formal e flexível, sempre avaliando os planos antes da tomada de decisões. É necessário estar atento às mudanças estratégicas na empresa, em função de respostas do ambiente e condições de mercado, em ambientes adversos. Posicionar a empresa em um nicho de mercado ou diferenciar nichos de mercado utilizando diferentes marcas e monitorando o resultado da estratégia implementada. 

Competências de comprometimento


Nesta competência, o empreendedor sustenta o comprometimento com os negócios, desde o período do seu desenvolvimento, durante crises internas ou externas e em situações de difíceis condições competitivas. Comprometem-se com os objetivos do negócio de longo prazo, mais que em curtos períodos, além de dedicar a maior parte do seu tempo ao trabalho de forma intensa. Compromete-se com os negócios, entendendo-o como responsável pelos funcionários e com os negócios para realização pessoal das crenças e valores, persistindo mesmo com as dificuldades. 3 Aspectos Metodológicos Quanto aos seus objetivos esta pesquisa caracterizou-se como descritiva, caráter exploratório,pesquisa de campo e o tratamento dos dados foi ao mesmo tempo quantitativa e qualitativa. Assim, o universo da presente pesquisa foi constituído pelos empresários estabelecidos na cidade de Areia – PB, município localizado na mesorregião do Agreste Paraibano e na microrregião do Brejo Paraibano, com uma população de 24.992 habitantes (IBGE, 2007). Portanto, na presente pesquisa optou-se por trabalhar com uma amostra nãoprobabilística do tipo intencional e por acessibilidade, onde foram estabelecidos como sujeitos integrantes da amostra apenas aqueles empresários cujos estabelecimentos possuem mais de cinco anos de atuação no mercado. Esse critério justifica-se, uma vez que o objetivo geral do estudo consistiu em analisar as competências empreendedoras dos empresários de sucesso, sendo considerado como sucesso o fato de conseguir permanecer no mercado por um período superior a cinco anos, já que as pesquisas realizadas pelo SEBRAE indicam que menos de 30% das empresas brasileiras conseguem ultrapassar cinco anos de existência. Neste sentido, a amostra foi composta por 15 empresas de diversos ramos de atividade, em sua maioria micro e pequenas. Assim, a presente pesquisa utilizou na coleta de dados um questionário estruturado contendo 14 (quatorze) questões objetivas, subdivididas em duas partes, sendo a primeira composta por 09 (nove) questões relacionadas ao perfil do empresário e a segunda composta por 05 (cinco) questões relacionadas ao seu empreendimento. Por serem de fácil preenchimento, tais questões foram respondidas diretamente pelos sujeitos da pesquisa minutos antes de serem iniciadas as entrevistas. O conteúdo das entrevistas obedeceu a um roteiro semi-estruturado contemplando duas partes, sendo a primeira composta por 07 (sete) questões relacionadas ao empreendedor e sua relação com o negócio e a segunda parte composta por perguntas baseadas nas categorias de competências empreendedoras estabelecidas por Man e Lau (2000) com as adaptações feitas por Paiva Junior et al (2003), totalizando 28 perguntas distribuídas em 07 (sete) blocos, cada um deles contendo 04 (quatro) questões referentes a uma das competências, a saber: de oportunidade, de relacionamento, conceituais, organizacionais, estratégicas, de comprometimento e de equilíbrio. O roteiro semi-estruturado forneceu à pesquisadora o suporte necessário durante a realização das entrevistas, as quais não puderam ser gravadas, já que os entrevistados demonstraram certa resistência a essa prática. Entretanto, ao longo das entrevistas, as observações mais relevantes foram registradas tanto quanto


possível, de modo a ser preservado o conteúdo das falas, possibilitando, assim, a transcrição e análise de alguns relatos espontâneos emitidos pelos entrevistados. 4 Apresentação e Análise dos Dados 4.1 Sistematizações dos Dados Quantitativos 4.1.1 Parte I - Perfil do empreendedor e da empresa Nesta parte estão contempladas 09 (nove) questões relacionadas ao perfil dos entrevistados bem como dados relativos à empresa, envolvendo: faixa etária, sexo, estado civil, escolaridade, atividade anterior, outras atividades atuais exercidas pelo empresário, ramo da empresa, tempo de funcionamento e número de funcionários. Quanto a faixa etária dos entrevistados, observou-se que 40% dos entrevistados estão acima dos 41 anos de idade, enquanto 60% têm idades que variam de entre 31 e 40 anos, o que revela certa maturidade e experiência de vida, embora muitos deles tenham iniciado o negócio quando eram ainda bem jovens, já que a maioria das empresas possui mais de 10 anos de atuação no mercado.Já, quanto ao gênero, prevaleceu na amostra o sexo masculino com 67%, mostrando que as mulheres ainda são minoria nos empreendimentos de sucesso da cidade de Areia - PB. Sobre o estado civil dos sujeitos pesquisados, 100% da amostra correspondem a empresários casados, o que é compatível com a predominância de faixa etária observada, além de revelar uma situação estável em termos de vida pessoal e familiar, já que não há divorciados entre eles. De acordo com o grau de escolaridade dos empreendedores, nota-se que 60% dos empresários entrevistados possuem escolaridade que varia do segundo grau completo até o superior completo, revelando um bom nível de escolaridade entre na amostra pesquisada. Quanto ao tipo de atividade que cada empresário exercia antes de criar sua empresa apenas 33% deles já trabalhavam como autônomos, significando que a maioria representada por 67% eram assalariados, seja de empresas públicas ou privadas, que abdicaram de seus empregos para arriscar uma atividade empreendedora em busca de melhores rendimentos. Logo, 87% dos empresários entrevistados dedicam-se exclusivamente ao seu negócio, não exercendo outras atividades econômicas paralelamente, o que constitui ponto favorável para a gestão do empreendimento, já que a dedicação exclusiva é fundamental para a manutenção e crescimento da empresa, principalmente por tratar-se, em sua maioria, de empreendimentos de micro e pequeno porte, onde há pouca ou nenhuma viabilidade financeira de contratação de profissionais qualificados para assumir o comando dos negócios na ausência do proprietário, 94% dos empreendimentos pesquisados estão concentrados nos ramos de comércio (67%) e de serviços (27%), o que já era esperado, tendo em vista estarem localizados numa cidade pequena do interior do estado, onde não há infraestrutura que possa atrair a instalação de indústrias, sendo estas em pequeno número no município, verificando que 60% das empresas pesquisadas estão em funcionamento há mais de 10 anos e 27% há mais de 20 anos. Isso revela a solidez desses empreendimentos, confirmando o sucesso de sua permanência no mercado, em contraste com as estatísticas de mortalidade de empresas no Brasil. No que se refere ao número de funcionários que trabalham na empresa, observa-se que 47% das empresas possuem entre 1 e 5 funcionários, o que confirma o pequeno porte desses empreendimentos, mas também demonstra


sua contribuição em termos de geração de emprego e renda para o município, uma vez que 33% dessas empresas empregam 6 até 30 funcionários. 4.1.2 Parte II – Processo de criação do empreendimento Nesta segunda parte do questionário procurou-se avaliar como a empresa foi criada, sendo incluídos alguns fatores como: principal motivação para empreender; atividades realizadas ao abrir a empresa; interesses e objetivos; origem do capital inicial; e os principais fatores críticos de sucesso. A principal motivação para empreender segundo 40% dos entrevistados foi a identificação de uma oportunidade de trabalho, comportamento este considerado por vários autores como sendo típico de pessoas empreendedoras, tendo em vista a facilidade que tais indivíduos têm para ver oportunidades onde outros enxergam dificuldades, revelando que 87% dos empresários entrevistados não realizaram qualquer tipo de atividade visando ao planejamento do seu negócio, durante a fase de implantação da empresa, o que confirma o perfil predominante do micro e pequeno empresário brasileiro, já demonstrado em diversas pesquisas realizadas por estudiosos do tema, no que se refere a não elaboração de um plano de negócios e a não realização de pesquisa de mercado, itens considerados pela literatura como imprescindíveis para iniciar um negócio em qualquer ramo de atuação. Ocorre que o típico empresário brasileiro de pequeno porte acredita muito no seu feeling pessoal para o negócio e não dá muita importância aos aspectos formais, até porque não se sentem preparados para elaborar um plano de negócio nos moldes técnicos requeridos. O mesmo pode-se dizer em relação à pesquisa de mercado. Ainda assim, estes empreendimentos conseguiram manter-se no mercado até os dias atuais. Quando questionados acerca do seu maior interesse ao criar sua empresa, 54% dos entrevistados responderam que seu interesse maior foi o de obter lucros e aumentar a renda familiar. A busca pela independência foi apontada por 33% dos respondentes, mostrando que estes preferem a atividade empreendedora, pois com ela tornamse independentes. Observou-se que a poupança deu origem ao capital inicial utilizado na criação de 67% das empresas pesquisadas, mostrando que estes empresários investiram por um determinado tempo na construção de uma reserva de recursos financeiros com o objetivo de abrir seu próprio negócio. Apenas 33% dos entrevistados recorreram a empréstimos bancários para iniciar a sua atividade empresarial, o que também demonstra um espírito empreendedor, na medida em que revela sua capacidade para assumir os riscos do negócio face aos compromissos assumidos com a instituição financeira credora. Dentre os fatores que os empreendedores consideram como mais importantes para o sucesso da empresa, ter capital de giro foi o mais indicado com 17% e ter crédito e ajuda de fornecedores veio em segundo lugar com 14%, o que revela a importância de manter a liquidez financeira da empresa e o cumprimento dos seus compromissos. Outros aspectos relevantes estão ligados à própria motivação e capacitação dos empreendedores, sendo igualmente importantes: gostar do que faz ter conhecimento do ramo e ter bom atendimento, todos com 13% das indicações. 4.2 Sistematizações dos Dados Qualitativos Nessa etapa da análise, os dados serão tratados qualitativamente, ou seja, através do material obtido na pesquisa realizada, a partir da estratificação dos discursos dos


sujeitos pesquisados no que se refere ao empreendedor e às competências de oportunidade, de relacionamento, conceituais, organizacionais, estratégicas, de comprometimento, e de equilíbrio trabalho/vida pessoal. Portanto, procura-se explicar da melhor maneira possível os extratos das falas referentes às observações feitas pelos sujeitos durante a realização das entrevistas. 4.2.1 Parte I - Sobre o empreendedor Os questionamentos iniciais se referem ao empreendedor, tendo nesse primeiro nível de analise, o objetivo de verificar alguns aspectos importantes da relação do empreendedor com o seu empreendimento, em termos de: como surgiu a idéia de ser empreendedor; o porquê da escolha do ramo; o conhecimento necessário para a abertura do negócio; as dificuldades encontradas no inicio; as dificuldades para manter o funcionamento da empresa; a possibilidade de desistência do negócio; e o principal motivo para o sucesso da empresa. As sínteses descritas a seguir mostram as tendências de percepção refletida por todos os entrevistados: Com relação ao surgimento da idéia de ser empreendedor foram apontados os seguintes discursos: ”Não me identificava com outra profissão a não ser esta que me deixa independente e sou o meu chefe”; “Necessidade financeira”; “Através da motivação do meu marido e pela cidade que na época tinha grande deficiência no meu tipo de comércio”; “Por acaso e muita necessidade financeira”; “Pouca concorrência”; “Meu esposo recebeu um dinheiro extra na época, daí, percebi a oportunidade de investir esse dinheiro entrando no comércio”. Os relatos apontados revelam que na amostra pesquisada há empreendedores motivados pela necessidade, também identificados como empreendedores involuntários, os quais ainda constituem maioria no Brasil, mas também há alguns relatos que apontam para o empreendedorismo por oportunidade, o qual é também chamado de voluntário. No que tange à escolha do ramo de negócio, foram apontados os seguintes discursos: “Pensando em me vestir melhor, pois, vendendo roupas, tinha a oportunidade de comprar roupas bonitas”; “Pouca concorrência na época da criação”; ”Era o que mais me identificava”; “Porque já trabalhava no mesmo”; “Pela facilidade de me relacionar com as pessoas”; ”Sempre sonhei em ser comerciante, segui os passos do meu pai, antes já era sacoleira”; ”Sem planos concretos, vi uma oportunidade de aumentar a renda familiar e deu certo”.Observa-se que a escolha do ramo tende a ser influenciada por aspectos bem diversos na concepção dos empresários, variando da identificação pessoal e experiência anterior no ramo até a busca por um nicho de mercado ainda pouco explorado pela concorrência. Tratando-se da questão sobre a necessidade de adquirir algum tipo de conhecimento adicional na abertura do empreendimento, a maioria respondeu que não porque muitos já trabalhavam no próprio comércio e adquiriram experiência no dia a dia. Já com relação às dificuldades encontradas no inicio e para manter as atividades da empresa foram relatados como principais: crises, altos impostos, concorrência, falta de capital de giro e alto índice de inadimplência. Referindo-se à possibilidade de desistência do seu empreendimento, as respostas ficam equilibradas entre “sim”, pela grande dificuldade em manter o comércio e quando estão com dívida e “não”, pois não desistiriam mesmo diante de qualquer dificuldade.


Quanto ao principal motivo para o sucesso da empresa foram apontados os seguintes discursos: ”Vontade de vencer, gostar do comércio”; ”Renda mesmo que pequena, enfim certas vantagens”; ”Atendimento, e pensar sempre que o cliente é quem manda, trabalhamos para eles”; ”Ter uma grande variedade de produtos, atendendo a todos os tipos de clientes, seja do mais simples ao mais sofisticado, sem perder a qualidade”; ”Dedicação, amor ao que faço mix de produto, horário flexível, preço e alegria no que fazemos”; ”Ter clientes pontuais”; ”É uma empresa enxuta, só compro à vista, nunca dou um passo maior que as pernas, tenho como braço direito minha esposa, ganhei a confiança dos clientes, mercadoria de boa qualidade e preço baixo”. Percebe-se pelos relatos supracitados que os empresários entrevistados possuem uma visão clara da importância de se garantir a satisfação dos clientes, priorizando a qualidade no atendimento, como forma de manter o sucesso da empresa. 4.2.2 Parte II – Competências empreendedoras Nesta parte são apresentadas e comentadas as competências empreendedoras, tomando por base o modelo de Man e Lau (2000) adaptado por Paiva Junior et al (2003), perfazendo um total de sete competências conforme demonstradas a seguir. 4.2.2.1 Competências de oportunidade As questões incluídas nessa categoria de competências foram elaboradas com o intuito de saber se o empresário efetua atualmente algum tipo de levantamento ou pesquisa para buscar oportunidades de crescimento para a sua empresa; se procuram avaliar a concorrência e também se diferenciar dela, bem como se procuram se atualizar para acompanhar as novas tendências de mercado em seu ramo de atuação e como é feita essa atualização. Quanto à busca de oportunidades, a maioria respondeu que procura saber quais as necessidades dos clientes e quais mercados ainda não foram explorados, mas também se observou, embora em menor número, afirmações do tipo: “Não, nunca faço nenhum tipo de levantamento”.Quanto à avaliação dos concorrentes, para identificar seus pontos fortes e fracos e quais as estratégias usadas pela concorrência para conquistar clientes, bem como os preços por ela praticados, os relatos mais surpreendentes foram: ”Sim só os preços, como trabalham não me interessa procuro fazer sempre o melhor” e “Não, nunca faço, como é uma cidade pequena procuro sempre fazer o melhor.” No quesito diferenciação da concorrência, no que diz respeito à melhor qualidade, menor preço, maior prazo, descontos especiais, atendimento diferenciado, entre outras formas de diferenciação, todos responderam que procuram se diferenciar da concorrência principalmente através da melhor qualidade, menor preço e do atendimento ao cliente. Em termos da atualização do seu empreendimento, através do lançamento de novos produtos, aquisição de equipamentos modernos, etc., a maioria respondeu afirmativamente e os meios de atualização mais utilizados são os próprios fornecedores e também através da internet. A participação em feiras e eventos do setor foi pouco mencionada como meio de atualização, o que já era de se esperar, já que na amostra pesquisada predominaram as empresas do ramo comercial.


4.2.2.2 Competências de relacionamento Quanto às competências de relacionamento, as questões elaboradas tiveram como objetivo saber se as empresas pesquisadas procuram manter uma boa relação com os seus fornecedores; se fazem reuniões periódicas com seus funcionários; se estes recebem treinamento específico para o atendimento aos clientes e como isto é feito e finalmente se a empresa considera o atendimento ao cliente como prioridade e como se dá o relacionamento entre ela e seus clientes. No que se refere ao relacionamento com fornecedores, todos afirmaram não ter problemas. Não foram relatadas reclamações quanto à qualidade das mercadorias fornecidas, nem quanto à ocorrência de atraso nas entregas, ou aborrecimentos de qualquer natureza. Todos afirmaram que consideram que têm um bom e saudável relacionamento com os fornecedores. Quanto à realização de reuniões periódicas com seus funcionários, seja para dar orientações sobre o trabalho ou comunicar mudanças, os relatos mais expressivos foram: ”Sim, procuro saber das dificuldades, e dar orientação que sempre o cliente esta em 1° lugar”; ”Sim só quando necessito”; ”Sim, semanalmente”; ”Não, como são poucos sempre estou conversando”. No que tange à realização de algum tipo de treinamento com os funcionários, foi observado que essa prática ainda é restrita nas empresas pesquisadas, o que já se esperava em decorrência do porte das empresas, conforme atestam os relatos dos empresários: ”Não, o treinamento é a prática do dia a dia, procuro ver o que não está dando certo e procuro melhorar”; ”Não, observamos e se for preciso chamamos atenção e corrigimos os erros”; A resposta ”Sim pelo SEBRAE” apareceu timidamente como caso isolado entre os depoimentos. O atendimento ao cliente, em termos daquilo que é oferecido pela empresa visando à satisfação da clientela, bem como a forma de solucionar eventuais problemas com clientes, tais como reclamações e insatisfações, foi assumido como prioritário por todas as empresas pesquisadas, havendo o reconhecimento unânime de que a empresa depende do cliente para sobreviver e, portanto, precisa dar toda assistência necessária gerando confiança no relacionamento, o que resulta na fidelização da clientela. 4.2.2.3 Competências conceituais Referentes às competências conceituais, foram feitos questionamentos no intuito de identificar até que ponto os empresários pesquisados costumam observar, analisar e avaliar as situações de forma subjetiva ou se preferem agir de forma mais objetiva e rápida; além disso, buscaram identificar se os entrevistados procuram analisar os caminhos para alcançar melhores soluções ou se preferem adotar as soluções que já são conhecidas para encurtar o caminho. Outras questões enfatizaram a busca pela inovação no negócio e por fim, a capacidade de percepção e avaliação de situações de risco para o negócio. No que diz respeito a pensar muito antes de tomar as decisões ou ser mais rápido para decidir as coisas, foram unânimes em responder que sempre agem com cautela, pensando muito antes de tomar qualquer decisão. Quanto à opção por analisar os caminhos alternativos ou adotar as soluções que já são conhecidas, os relatos ficaram divididos: ”Busco as duas alternativas, analiso os alternativas e dependendo da situação procuro adotar as que já conheço”; ”Nem sempre podemos encurtar o caminho”; ”Procuro analisar os caminhos alternativos para alcançar melhores soluções”. Sobre a procura da inovação do empreendimento, em ternos de interesse por produtos ou serviços diferenciados e novas tecnologias, os principais relatos


foram: ”Procuro atender o tipo que o meu cliente procura, nem sempre é o mais inovador, atual, moderno, é mais simples e básico”; ”Através de produtos diferenciados e nova tecnologia”; ”Sim, conhecer novas tecnologias hoje é fundamental nos negócios”; ”Primeiro peço exclusividade de algumas marcas, e faço sempre promoção às vezes até perdendo (valor) para ganhar mais na frente”. Em termos de se sentir capaz de avaliar situações duvidosas em que a empresa possa estar correndo algum risco, ou seja, se o empresário considera que possui intuição para identificar um mau negócio ou um investimento arriscado, a maioria das respostas pode ser representada pelos relatos: ”Sim, dizem que o meu faro vai à cima do que é bom, dificilmente erro na escolha”; ”Sim, são experiências do dia a dia”; Mas há também os que não se consideram infalíveis: ”Sim, mas nem sempre acerto”. 4.2.2.4 Competências organizacionais Neste grupo de competências foram incluídas questões objetivando identificar se os empresários entrevistados planejam com antecedência as ações futuras da empresa; como eles definem e comunicam as metas aos funcionários; se eles controlam os recursos de forma racional e criativa; e se existem regras claras que os funcionários têm que seguir, bem como se há um acompanhamento e avaliação do desempenho dos mesmos e como isto é feito na empresa. Quanto ao planejamento das ações a maioria respondeu positivamente. Alguns relatos ilustram as respostas: ”Sim, mas às vezes sou impulsiva”; ”Sim, antes não fazia, mas agora priorizo planejar para avaliar meu negócio como um todo”; Entretanto alguns responderam negativamente, o que pode ser exemplificado pelo relato de um deles: ”Não, deixo que venha um dia atrás do outro, trabalho sempre pensando em crescer nunca em perder”. No que se refere ao modo como são definidas e comunicadas as metas para os funcionários todos responderam ser através de reuniões e, dependendo da situação, de maneira informal. Quanto ao controle do uso dos recursos de forma racional e criativa, as respostas variaram entre: ”Sim, evito desperdícios, os fornecedores dizem que sou segura demais”; e: ”Às vezes, mas sei que preciso melhorar para evitar desperdícios”. Todos os entrevistados afirmaram que adotam regras claras para os funcionários seguirem e avaliam os resultados em termos de desempenho dos funcionários: ”Sim, como horários, desempenho, atendimento e faço acompanhamento mensalmente”; ”Sim e são analisados por mim”; ”Sim, mas lidar com o ser humano muitas vezes é complicado”. Relatos demonstram a preocupação em controlar os resultados e também o reconhecimento da dificuldade em lidar com pessoas. 4.2.2.5 Competências estratégicas Com relação às competências estratégicas, foram elaboradas questões visando identificar a percepção dos empresários em relação ao que consideram melhor em suas empresas e também ao que consideram que ainda precisa ser melhorado. Também foram feitos questionamentos para saber até se estes empresários estão cientes das principais oportunidades que se apresentam atualmente ou no futuro, bem como das principais ameaças a serem enfrentadas. Complementarmente, procurou-se identificar quais os planos da empresa no horizonte de curto prazo (um ano) e de longo prazo (cinco anos). Com relação ao que a empresa tem de melhor todos ressaltaram: atendimento, preço, qualidade, localização e com relação ao que precisa ser melhorado responderam: estética do comércio, aumentar


o número de funcionários, informatizar o comércio, investir mais no comércio e tentar diminuir a inadimplência. Sobre as oportunidades que a empresa pode aproveitar no mercado atual ou futuro, as respostas mais relevantes foram: ”As grandes facilidades de vendas, através de cartão, boleto bancário, cheque e etc.”; ”Aumentar nossa venda no grosso para as cidades circunvizinhas”; ”A informática para ficar atualizada”; ”Investir em marketing”. Quanto às ameaças enfrentadas e que impedem o crescimento do empreendimento ressaltaram: juros altos, impostos altíssimos, política do governo, concorrência de empresas clandestinas, desemprego (que afeta o poder de compra da clientela) e pouco capital de giro. Ao serem indagados se a empresa tem planos definidos para daqui um ano a maioria respondeu: ”Sim tenho muitos planos para o meu empreendimento, crescer e expandir-se”; ”Tem, quero mudar os equipamentos para dar uma boa aparência na loja e o ambiente ficar agradável e atraente para o consumidor”; mas alguns responderam: ”Não, ainda são indefinidos”. No plano do longo prazo (planejamento para cinco anos) nenhum empresário se pronunciou, confirmando o foco no curto prazo que é predominante no perfil de pequenos empresários. 4.2.2.6 Competências de comprometimento No que se refere às competências de comprometimento, as perguntas foram elaboradas visando identificar até que ponto os empresários se sentem pessoalmente responsáveis pelo sucesso do seu negócio; se estão dispostos a cumprir seus compromissos com a empresa mesmo em situações de crise; se conseguem colocar os objetivos da empresa acima dos seus objetivos pessoais; se há dedicação em tempo integral à empresa e de quantas horas é essa jornada diária; e finalmente se esses empresários já tiveram que abrir mão dos seus interesses pessoais e familiares por causa da empresa. Sobre a responsabilidade pelo sucesso do negócio e cumprimento dos seus compromissos com a empresa mesmo em situações de crise, a maioria dos entrevistados se considera diretamente responsável pelo sucesso, com uma exceção: ”Não, trabalho em conjunto com o meu esposo e sempre cumpro com os meus compromissos”; Entretanto, todos concordaram que assumem sempre os seus compromissos: ”Sim, sempre cumpro todos os compromissos”. Quanto a colocar os objetivos da empresa acima dos seus objetivos pessoais, as respostas ficaram divididas, conforme atestam os relatos: ”Sim porque faz parte da minha vida”; ”Já coloquei muitas vezes”; ”Nunca, primeiro eu, como lidar com os problemas profissionais se não estiver bem comigo mesmo?”. ”Não, procuro sempre equilibrar para a mente funcionar bem e que possa melhorar meu trabalho sempre”. No que tange à dedicação exclusiva ao negócio e à jornada de trabalho destes empresários, a maioria dedica-se em tempo integral, com jornadas variando entre 8 e 14 horas por dia. Mas foi identificado um caso diferente, conforme relato: ”Não, só meio período”. Ao serem questionados se já tiveram que abrir mão dos próprios interesses (pessoais ou familiares) por causa do empreendimento, as respostas ficaram divididas: ”Sim, porque cuido pessoalmente de tudo”; ”Não, precisei estudar aos sábados e deleguei a outros o meu trabalho na empresa”; ”Não, meus projetos familiares consigo conciliar e dar prioridade, só me perdi nos sociais”; ”Não, a família vem em primeiro lugar”. 4.2.2.7 Competências de equilíbrio


Com o objetivo de identificar as competências de equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, foram feitos questionamentos no sentido de saber se os empresários procuram desenvolver outras atividades fora da empresa, tais como participar de atividades em igrejas, times de futebol, clubes ou associações. Também se buscou verificar se os entrevistados enfrentam a rotina de trabalho com bom humor, e como percebem o nível de estresse a que são submetidos em seu trabalho diário na empresa. Outro fator investigado foi quanto à prática de atividades que contribuam para a melhoria de sua qualidade de vida; se procuram reservar um tempo para o lazer com a família e os amigos e se consideram esse tempo suficiente e satisfatório. Por fim, os entrevistados foram questionados quanto ao trabalho nos domingos e feriados.Foi constatado que a maioria dos entrevistados procura desenvolver outras atividades fora da empresa: ”Claro, participo de um time de vôlei para tirar o estresse”; ”Sim, participo de divulgar o reino de Deus”; ”Sim, participo da igreja e de uma associação”; Mas também foi registrada a não participação de alguns em outras atividades fora o trabalho: ”Não, no momento estou sem participar de nada”.Quanto à rotina da empresa, é enfrentada de forma bem humorada e foram detectados diferentes níveis de estresse (médio, alto e baixo, conforme depoimentos transcritos: ”Sim, meu humor é ótimo e meu estresse médio, pois, adoro trabalhar”; ”Sim, humor elevado e o meu estresse é muito baixo; ”Sim, procuro manter o bom humor mesmo com meu alto estresse”; ”Tento manter o bom humor e meu nível de estresse é médio, não tem como não se estressar, o próprio comércio estressa demais”. Com relação à qualidade de vida as respostas apresentaram-se bem divergentes, conforme relatos: “Sempre viajamos com os filhos, o lazer é fundamental”; ”Sim, de preferência viajar mas não é satisfatório nem suficiente”; ”Sim, tenho lazer com a minha família e amigos e acho satisfatório”; ”Não acho que tá bom”;”Sim, mas sei que preciso melhorar”; ”Sim, faço musculação e final de semana sempre tenho lazer e acho satisfatório”; ”Sim, gosto de fazer programas familiares e considero o tempo suficiente”. ”Sim, atividade física e faço lazer com minha família e acho o tempo insuficiente e insatisfatório”. Quando questionados quanto ao costume ou necessidade de trabalhar aos domingos e feriados, as respostas ficaram divididas: ”Não, é dia de descanso”; ”Nunca, domingo é dia da família e de Deus”; ”Sim, desde que haja necessidade”; ”Sim, meio período porque o meu tipo de comércio exige”. Com base nos relatos aqui apresentados e comentados, foram elaboradas as considerações finais do presente estudo, contendo as principais conclusões obtidas a partir das análises realizadas à luz do modelo teórico escolhido, que possibilitaram o atendimento aos objetivos estabelecidos no estudo com o intuito de responder ao problema de pesquisa proposto neste trabalho. 5Considerações Finais Empreender não é uma tarefa fácil, principalmente no Brasil, diante das dificuldades enfrentadas por aqueles que se enveredam no caminho do empreendedorismo, que vão desde a burocracia inicial para a abertura de um negócio até a sua manutenção e crescimento mediante os altos impostos a que são submetidas as empresa brasileiras. Para manter-se num mercado extremamente exigente e turbulento, somente com uma boa dose de talento e perseverança, que são essenciais ao perfil de um empreendedor de sucesso,


juntamente com algumas competências fundamentais que os diferenciam das demais pessoas. Nesse contexto, o presente estudo buscou Identificar as competências empreendedoras utilizadas pelos empresários de sucesso que atuam na cidade de Areia - PB. A partir da aplicação do modelo de Man e Lau (2000) adaptado por Paiva Junior et al (2003), foram pesquisadas sete categorias de competências empreendedoras: de oportunidade, de relacionamento, conceituais, organizacionais, estratégicas, de comprometimento e de equilíbrio. Com base nos resultados analisados foi possível chegar a algumas conclusões em torno da amostra pesquisada, as quais são descritas a seguir. Quanto à caracterização da amostra, composta por 15 empresários de sucesso que atuam na cidade de Areia – PB, em termos de faixa etária podem ser considerados em sua maioria maduros, já que 60% situam-se entre 31 e 40 anos de idade e 40% possuem entre 41 e 50 anos ou mais; a maioria é constituída pelo sexo masculino, com 67% da amostra; todos os empresários entrevistados são casados; 60% deles possuem bom nível de escolaridade, variando entre 2º grau completo a superior completo e incompleto; a maior parte deles representada por 67% dos entrevistados eram assalariados de empresas públicas ou privadas e atualmente dedicam-se exclusivamente ao empreendimento.Quanto às empresas pertencentes a estes empresários, 67% são do ramo comercial; 87% estão há mais de 10 anos no mercado e boa parte delas contribui com a geração de 1 a 5 empregos, colaborando para a evolução econômica do município. Quanto ao processo de criação da empresa, observou-se que entre os entrevistados o principal motivo relatado foi “identificação de uma oportunidade de trabalho”, e que houve uma preparação em termos de construção de uma reserva financeira através de poupança com o objetivo de iniciar o próprio negócio, todavia, em termos de planejamento em si, os empresários em sua maioria não realizaram nenhum tipo de pesquisa de mercado ou elaboração de plano de negócio para avaliar a viabilidade do empreendimento, apenas arriscaram, agiram intuitivamente, acreditando na sua possibilidade de sucesso. Com relação à criação do negócio, os entrevistados responderam que seu interesse maior foi o de obter lucros e aumentar a renda familiar. Dentre os fatores que os empreendedores consideram como mais importantes para o sucesso da empresa, ter capital de giro e dispor de crédito e ajuda de fornecedores foram os mais citados. Além dos resultados acima, foi possível avaliar também outros aspectos importantes relacionados à motivação para empreender e manter-se no negócio.Neste sentido, os empreendedores foram em sua maioria motivados pela necessidade de melhorar a renda familiar, havendo poucos relatos que apontam para o empreendedorismo por oportunidade. Quanto à escolha do ramo, apresentou resultados bastante heterogêneos entre os entrevistados, variando entre identificação pessoal e experiência anterior até a busca por um nicho de mercado ainda pouco explorado pela concorrência. Já em relação à necessidade de adquirir algum tipo de conhecimento adicional na abertura do empreendimento, a maioria considerou desnecessário. As dificuldades iniciais mais citadas foram: falta de capital, busca de fornecedores, conquista de clientes e contratação de funcionários qualificados. Já para manter sua sobrevivência no mercado atualmente, as maiores dificuldades enfrentadas são: crises econômicas, impostos, concorrentes, falta de capital de giro e alto índice de inadimplência. Tudo isso muitas vezes desanima o empresário, trazendo aquela idéia de desistir do negócio, mas a maioria respondeu que não desiste nunca, mostrando ao mesmo tempo persistência e flexibilidade para criar alternativas de


sobrevivência. Quanto aos fatores críticos de sucesso, a maioria considera fundamental gostar do que faz, ter qualidade no atendimento, variedade de produtos, dedicação exclusiva ao negócio, clientes pontuais e acima de tudo trabalhar com prazer e alegria. No que se refere às sete categorias de competências empreendedoras, as conclusões do estudo apontam para a predominância das competências de relacionamento e de equilíbrio, as quais apresentaram maior incidência de comportamentos convergentes. Ao passo que as competências conceituais e estratégicas apresentaram maior divergência entre o comportamento esperado e o comportamento praticado pela maioria dos entrevistados. Quanto às demais competências analisadas, a saber: de oportunidade, organizacionais e de comprometimento, observou-se que os comportamentos declarados pelos empresários revelaram-se muito heterogêneos, mostrando opiniões divididas que apontam para comportamentos extremos de concordância ou divergência, além de muitos posicionamentos intermediários, não sendo possível afirmar, em termos da amostra pesquisada, que tais competências têm uma presença significativa na amostra, já que não se procedeu a análise de cada indivíduo e sim do grupo como um todo. Embora considerando a representatividade empresarial dessas empresas na cidade de Areia – PB, o estudo limita-se na configuração de um horizonte amostral de 15 empresários de sucesso, dentro de um contexto de micro e pequenas empresas localizadas no interior da Paraíba, não sendo, portanto, tais conclusões generalizáveis para outras amostras de caracterização e/ou proporção diversa. Neste sentido, sugere-se a realização de outros estudos junto a diferentes amostras de modo a contribuir com estudos comparativos e elucidativos para a evolução dessa temática ao mesmo tempo tão complexa e relevante na atualidade. REFERÊNCIAS BITENCOURT, C. C. A gestão das competências gerenciais: a contribuição da aprendizagem organizacional. Porto Alegre, 2001. Tese (Doutorado). Programa de pós-graduação e pesquisas em administração, Universidade Federal do Rio |grande do Sul, Porto Alegre. DIAS, E. L. Um estudo comparativo entre empreendedores e intra-empreendedores sobre os valores referentes ao trabalho. Universidade Federal de Santa Catarina – PPGEP. Dissertação. Florianópolis, 2001. DOLABELA, F. C. C. Oficina do empreendedor. São Paulo: Cultura Editores Associados, 1999. DORNELAS, José Carlos Assis. Empreendedorismo: Transformando idéias em negócios. Rio de Janeiro: Campus, 2001. FERREIRA, A. B. de H. Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. FLEURY, M. T. L.; FLEURY, A. Construindo o Conceito de Competência. Revista de Administração Contemporânea, Edição Especial 2001: 183-196. GLOBAL. HISRICH, R. D.; PETERS, M. P. Empreendedorismo. Porto Alegre: Bookman, 2004. HONMA, Edson T. Competências Empreendedoras: Estudo de Casos Múltiplos no Setor Hoteleiro em Curitiba. Dissertação do Mestrado, UFPR, 2007. IBGE. Cidades, 2007. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat. Acesso em 30 jun.2009.


MAMEDE, M. I.; MOREIRA, M. Z. Perfil de Competências Empreendedoras dos Investidores Portugueses e Brasileiros: um estudo comparativo na rede hoteleira do Ceará. In: ENCONTRO DE ESTUDOS EM ESTRATÉGIA, 1, 2005, Curitiba. ANAIS DO 1º 3E„S. PARANÁ: 2005. PAIVA JR, F. G. de; LEÃO, A. de S. & MELLO, S. C. B. de. (2003) – Competências empreendedoras em comportamentos de dirigentes de êxito socialmente reconhecido. In: XXVII ENCONTRO DA SSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – ENANPAD. Anais... Atibaia: ANPAD. RAMAL, Silvina Ana. Como transformar seu talento em um negócio de sucesso – Gestão de Negócios para Pequenos Empreendimentos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.

RODRIGUES, Lucinaldo dos Santos. Indicadores de engajamento organizacional dos indivíduos na perspectiva da gestão do conhecimento. Tese de Doutorado. Universidade Federal de Santa Catarina, 2003.


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