Gestão participativa como ferramenta de melhoria no processo de

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Gestão participativa como ferramenta de melhoria no processo de produção e comercialização das hortaliças orgânicas em Solânea-PB Luziélia Santos de Souza (UFPB) luzielisam@hotmail.com Hélio Luiz Beretta Dal Monte (UFPB) hlbdm@hotmail.com José Eduardo Ferreira Espínola(UFPB) jefeespinola@hotmail.com Maria José Araújo Wanderley (UFPB) mjwander@gmail.com

Resumo Desenvolveram-se em propriedades rurais de Solânea-PB, produtoras de hortaliças orgânicas, atividades visando a melhoria do sistema de cultivo utilizando-se de uma Gestão Participativa. Foram selecionadas, no ano de 2009, duas propriedades pilotos em duas comunidades, realizando-se avaliações de cultivo e posteriores demonstrações práticas de correção de manejo, sob a orientação de docentes/discentes da UFPB/CCHSA, com a participação de integrantes da ONGIFA. Adotaram-se o uso de curva de nível, consorciação das culturas, compostagem, defensivos naturais. Houve assimilações de novos conhecimentos técnicos associado com a formação de agentes multiplicadores. Realizou-se no período de maio a junho de 2010, após transferência do local da feira orgânica para um espaço aberto e público, pesquisa direta com finalidades de revelar a preferência e consumo por produtos orgânicos, e das instalações de comercialização do espaço agroecológico. Como resultado tem-se uma estimativa para uma maior produtividade nas propriedades após a utilização das técnicas de manejo, outro resultado foi a satisfação dos consumidores em encontrar produtos orgânicos, com tendência a crescente demanda.

Palavras Chave: Manejos, Produtividade, Demanda.

1 Introdução Um novo cenário se descortina nas três últimas décadas no Brasil e no mundo em torno dos paradigmas de desenvolvimento e gestão públicas trazendo novas perspectivas elaboradas a partir da sistematização de experiências sustentáveis e democráticas. Este final de século revela novas realidades nos aspectos econômicos, políticos, ecológico mundial e regional (Jara, 1999), tendo na gestão participativa um dos pilares essenciais para a efetividade de políticas públicas e de modelos de desenvolvimento economicamente viável, socialmente justo e ecologicamente equilibrado. A Gestão Participativa vem acompanhando o debate político e de gestão das últimas décadas. Os grandes acontecimentos mundiais como a globalização, a internacionalização das atividades, abertura dos mercados, exigências de competência, a competitividade, as inovações tecnológicas, entre outros, têm trazido grandes consequências para a organização do trabalho, sua dinâmica no interior das organizações e sobre as relações de conflito e consenso, na sociedade e no interior das organizações que se instalam frente a essas mudanças de cenário.


Anteriormente, as preocupações no âmbito do trabalho se davam no que tange às modificações institucionais, legislativas e contratuais das relações de trabalho. Com o cenário de crise as maiores preocupações se referem às questões de desenvolvimento das empresas e da otimização e melhora da utilização dos recursos disponíveis para a sua produção. As ditas regulações coletivas, neste contexto, passam por uma lógica operativa baseada na premissa de que os indivíduos das organizações se identificam fortemente com a empresa e seus objetos, o que faz com que a empresa obtenha vantagens competitivas (HERMEL, 1990). Outro tema necessário ser entendido, é a sustentabilidade, pois não podemos falar de gestão participativa na produção de alimentos orgânicos sem uma breve conceituação a cerca do tema. Seguindo a linha da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD, 1988), preconiza-se desenvolvimento sustentável alicerçado em três eixos, econômico, social e ambiental, inter-relacionados, num processo de transformação que transcende limites geográficos-políticos e coloca a sobrevivência do Homem, e das outras espécies, como seu objetivo maior. Entende-se o sustentável como um desenvolvimento social e de progresso econômico, mantendo e conservando os recursos naturais, origem do futuro comum de uma humanidade que pretende tornar os impactos econômicos sobre o meio ambiente coisas do passado. Nesse sentido o ambientalismo, face política da questão ambiental, representa uma subversão aos valores atuais, e deve recolocar antigas questões como cultura e ética. O tema Gestão Participativa vai surgir no cenário da Administração como uma das estratégias das empresas para envolverem seus colaboradores no processo de produção e assim obterem, por meio do processo de produção, vantagens competitivas. A participação comunitária na gestão da produção e comercialização das hortaliças orgânicas acontece em vários aspectos: através da agregação do conhecimento tradicional ao conhecimento científico, por meio do envolvimento dos pequenos produtores das comunidades, da Universidade Federal da Paraíba – Campus III e Organização Não Governamental de Integração da Família – ONGIFA em todas as etapas de execução das atividades técnicas. Promover a melhoria dos sistemas produtivos dos agricultores familiares no tocante aos manejos de solo, água e insumos de duas propriedades modelos dos agentes multiplicadores em duas comunidades rurais, do município de Solânea por meio de informações técnicas sustentáveis. Bem como contribuir com a expansão da comercialização desses produtos foi o objetivo do estudo. 2 Referencial Teórico 2.1 Gestão Participativa O termo gestão (do inglês management) pode ser definido como “o conjunto de ações, métodos e processos de direção, organização, assimilação de recursos, controle, planejamento, ativação e animação de uma empresa ou unidade de trabalho” (HERMEL, 1990) A administração de forma geral, no último século, passou por várias transformações no que se refere à forma de gestão dos negócios. FARIA (2001) apresenta um modelo básico de tipos de gestão, que é ilustrado no quadro a seguir:


Como Administra ISOLADAMENTE

Quem

EM GRUPO

COLETIVAMENTE

Administra UM POUCOS

Heterogestão

Gestão Participativa

Gestão Participativa

Absoluta/Monárquica

Consultiva

Representativa

Heterogestão

Gestão Participativa Grupal

Gestão Cooperativa/

Relativa/Oligárquica

MUITOS

Gestão AnárquicoIndividualista/

Associativa Co-Gestão

Autogestão Democrática/Solidária

Oclocrática

Quadro 1 - Modelo Básico de Tipos de Gestão. Fonte: FARIA (2001).

A Gestão Participativa, então, pode ser entendida como a forma de gestão em que um ou poucos administram, utilizando um grupo de trabalho ou o coletivo como um todo. Dependendo da forma de como se administra, ou das pessoas que administram, a Gestão Participativa acontece das formas: consultiva, grupal ou representativa. O termo participação na área das organizações pode ser trabalhado por várias perspectivas. Mendonça (1987) compreende e concebe o termo participação em quatro categorias: socialista, democrática, relações e desenvolvimento humano e produtividade e eficiência. As divergências conceituais do termo participação e a forma com que é utilizada na prática das gestões organizacionais são um aspecto inerente deste tema. Para compreendê-lo é preciso, além de compreender as divergências conceituais, também compreender alguns temas, como: divisão do trabalho; alienação; e, integração e conflito (MENDONÇA, 1987). Assim como o termo participação, esses termos acima também podem ser compreendidos por concepções teóricas diferentes e divergentes. A participação pode ser classificada como direta ou indireta. A participação direta é aquela “dirigida à pessoa individualmente considerada” e a indireta “destinada aos trabalhadores coletivamente considerados” (MENDONÇA, 1987). A participação indireta pode ser classificada em quatro espécies: negociação coletiva, comitê de empresa, co-gestão e auto-gestão. Segundo Mendonça (1987), a participação direta é aquela relacionada com o estilo de liderança e é mais utilizada nos Estados Unidos, numa perspectiva mais gerencialista e de relações humanas. É o tipo de participação psicológica e pessoal. Já a participação indireta está relacionada com o sistema de governo da empresa, está mais ligada aos países europeus e tem origem na abordagem de conflito de interesses, que diz que o conflito é preexistente no sistema social e assim internalizado na organização do trabalho. A participação indireta é


mais sociológica, política e coletiva. A Gestão Participativa é uma forma de gestão que se encontra no primado da gestão capitalista e é uma ofensiva integradora do capital, sendo que “não ultrapassa o nível de uma estratégia ou tecnologia de gestão a serviço da acumulação capitalista” (FARIA, 1987). Ao contrário da heterogestão, que pode ser classificada como a forma mais tradicional e primeira da organização do trabalho dentro da perspectiva capitalista, a Gestão Participativa surge no seio da administração e do management como uma forma de colocar o colaborador para participar da gestão, das decisões, ou seja, fazer com que se sinta implicado no processo de trabalho e tenha possibilidade de agir sobre esse processo. No entanto, a Gestão Participativa, na realidade, é uma das formas mascaradas de obter o comprometimento do trabalhador, fazendo com que este se sinta efetivamente fazendo parte do processo, mas que no entanto não tem nenhum poder sobre este, ou não está no nível de controle e estabelecimento de objetivos do processo de trabalho. Segundo HERMEL (1990) as razões pelas quais as empresas e organizações se interessam pela Gestão Participativa são: a busca de resultados; as considerações humanistas; a preocupação pela „vida interior da empresa‟; as necessidades da direção; e, a necessidade de mudança. Outro tema importante para a Gestão Participativa é o papel da gerência participativa, que “intervêm na tecnologia, no indivíduo e na função com o objetivo de melhorar a produtividade, aumentar o grau de flexibilidade na utilização dos recursos (via layout e utilização mais intensa dos meios de produção), modificar o clima de trabalho e enriquecer as funções” (FARIA, 1987). Ainda para Matos (1980) é a liderança dos gerentes que é a fonte de participação, onde é possível definir a gerência participativa como “uma gerência aberta que, por meio de processos participativos estimula a motivação, a cooperação e a liberação do potencial criativo da equipe induzindo maior engajamento e co-responsabilização por resultados”. Segundo HERMEL (1990), algumas das características da Gestão Participativa, além do enriquecimento do perfil do gestor e da coerência entre estratégia e ação, são: criação de atores e disseminadores; repartição das funções de gerenciamento entre direção/gerentes e subordinados; inserção de uma gestão global e finalizada; articulação entre indivíduos e grupos; busca de sinergia, e; a complementaridade entre o funcionamento cotidiano e as perspectivas. Segundo Maranaldo (1989) administração participativa é o conjunto harmônico de sistemas, condições organizacionais e comportamentos gerenciais que provocam e incentivam a participação de todos no processo de administrar os três recursos gerenciais (Capital, Informação e Recursos Humanos), obtendo, através dessa participação, o total comprometimento com os resultados, medidos como eficiência, eficácia e qualidade. Seguindo este conceito, antes de implantar um processo participativo numa empresa, é necessário harmonizar três aspectos: a) seus sistemas (produção, comercialização, recursos humanos, administração e finanças, entre outros): se há conflitos de estilos diferentes de gestão entre estes sistemas, é


difícil implantar a gestão participativa numa empresa; b) condições organizacionais: é preciso flexibilizar a estrutura organizacional, com menor número de níveis hierárquicos e normas mais adaptáveis; c) comportamentos gerenciais: certamente é o mais importante dos três, pois os gerentes serão os principais mobilizadores das pessoas para o processo participativo. A segunda parte do conceito aborda outro aspecto importante: indicam os dois pilares que sustentam a gestão participativa, ou seja, a "participação de todos" e o "comprometimento total com os resultados". “Participação de todos” significa que, a princípio, nenhuma pessoa, em qualquer nível hierárquico, deve ser excluída do processo participativo. Neste sentido, é imprescindível que a organização, antes de implantar a gestão participativa, defina claramente os objetivos ou resultados a serem alcançados, entre os quais, melhoria da qualidade, maior produtividade, melhoria do clima de trabalho, enriquecimento das funções e flexibilidade na utilização de recursos. 2.2 Agricultura Familiar Sustentável Como expressa Wanderley (2001) a agricultura familiar não é uma categoria social recente, nem a ela corresponde uma categoria analítica nova na sociologia rural. No entanto, sua utilização, com o significado e abrangência que lhe tem sido atribuído nos últimos anos, no Brasil, assume ares de novidade e renovação.[...] que além de produzir alimentos e matériasprimas, gera mais de 80% da ocupação no setor rural e favorece o emprego de práticas produtivas ecologicamente mais equilibradas, como a diversificação de cultivos, o menor uso de insumos industriais e a preservação do patrimônio genético. O modelo familiar teria como característica a relação íntima entre trabalho e gestão, a direção do processo produtivo conduzido pelos proprietários, a ênfase na diversificação produtiva e na durabilidade dos recursos e na qualidade de vida, a utilização do trabalho assalariado em caráter complementar e a tomada de decisões imediatas, ligadas ao alto grau de imprevisibilidade do processo produtivo (FAO/INCRA, 1994). Todo agricultor tem um conjunto de práticas técnicas, econômicas e sociais coerentes com a finalidade dada ao seu sistema de exploração. Compatibiliza os objetivos familiares com o meio ambiente, interagindo elementos e subsistemas muito além da constatação elementar da sua estrutura produtiva e das recomendações técnicas. É por isso, que os agricultores familiares têm razão de fazer o que fazem (Brossier&Petit, apud DURAND,). Têm razões que permitem explicar porque atuam de maneiras diferentes entre si e em relação aos empresários capitalistas. No Brasil a importância quantitativa da produção familiar cristaliza-se na tipologia de KAGEYAMA & BERGAMASCO (1989/90), onde, em 1980, dos 5,1 milhões de estabelecimentos rurais existentes, 3,6 milhões (70,5%) foram classificados como familiares, ou seja, utilizam o trabalho da família total ou parcialmente em relação ao emprego de mãode- obra assalariada. Outra estimativa, mais recente, refere-se a 6,5 milhões de estabelecimentos familiares, ocupando uma área de 100 milhões de hectares (GUANZIROLI, 1994).


3 Metodologia A tipologia do estudo foi exploratório-descritiva, utilizada nas ciências sociais por estar voltada a análise de conjuntura e aplicação prática, uma vez que se apresentou como objetivo primordial a descrição das características de determinada população, fenômeno ou unidade (VERGARA, 2000). Quanto aos meios de investigação utilizou-se da pesquisa bibliográfica para embasamento teórico do trabalho, que determinou a investigação conceitual sobre o tema (VERGARA, 2000). Enquadra se também como pesquisa de campo, uma vez que contou com a coleta de dados através da observação sistemática (GIL, 2002). Os sujeitos da pesquisa foram os proprietários das unidades de produção observadas. Na primeira etapa da pesquisa selecionaram-se duas comunidades rurais, em áreas distintas no município de Solânea, adotando duas propriedades por comunidade. As propriedades foram visitadas, passando a ser laboratórios de campo para disseminação de informações aos demais produtores das comunidades rurais. As variáveis observadas e avaliadas foram: culturas, manejos e conhecimentos técnicos. Realizou-se através da gestão participativa a introdução de manejos orgânicos e práticas corretivas em período correspondente a sete meses no ano de 2009, com intervalos semanais das atividades entre as comunidades, com participação coletiva entre pesquisadores acadêmicos do CCHSA-UFPB, produtores e ainda membros da Organização Não Governamental de Integração da Família-ONGIFA. Utilizou-se de recursos e materiais didáticos oriundos do laboratório de Agricultura e Mecanização da UFPB – CCHSA – Campus III. Na segunda etapa realizou-se a aplicação de um questionário estruturado de caráter qualiquantitativo (Severino, 2000), com a amostra de 40 consumidores no espaço agroecológico. Os dados foram coletados durante o mês de maio de 2010, através de entrevistas diretas. As variáveis contempladas e descritas foram múltiplas, expondo do perfil dos consumidores a preferência revelada de consumo. 4 Resultados A Gestão Participativa entre as ONGS, AS-PTA (Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa), ONGIFA (Organização Não Governamental de Integração da Família), Universidade Federal da Paraíba – Campus III e produtores rurais de Solânea. Após as visitas as comunidades rurais selecionadas diagnosticaram-se quais as maiores dificuldades enfrentadas pelos pequenos produtores. Foram implantadas as técnicas de manejos de solo, água e insumos, antes desconhecidos pelos agricultores, essas por sua vez foram primordiais para a concretização do aumento de produtividade dos alimentos produzidos. Durante os meses compreendidos entre abril e setembro de 2009, foram disseminados conhecimentos tanto teóricos quanto práticos na construção e uso de ferramentas de melhoria para produção das hortaliças. Algumas dessas foram: construção de instrumentos procedimento de aparato técnico, apresentando-se aos produtores como manusear (e construir) um instrumento conhecido como “pé de galinha” utilizado para medir o nível do


terreno, possibilitando dessa forma, que se faça a plantação toda em curva de nível, o marcador de canteiros para que as culturas passassem a ser cultivadas em dimensões corretas, o marcador de canteiro agiliza a operação, encurtando o tempo e ocupando apenas uma mão de obra, disponibilizando assim, pessoas da família para outras tarefas. O procedimento posterior trouxe a alternativa de como trabalhar com as mudas para transplante usando copos descartáveis, de 180 ml e copinhos de 20 ml. Uma orientação muito importante dada aos produtores foi à utilização de Churume, tampouco a utilização da urina da vaca onde, encontramos vários nutrientes como o nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio, enxofre, ferro, manganês, boro, cobre, zinco, sódio, cloro, cobalto, molibdênio, alumínio (abaixo de 0,1 ppm), os fenóis, que são substâncias que aumentam a resistência das plantas. Também encontramos o ácido a indolacético, que é um hormônio natural de crescimento de plantas. Portanto, o uso da urina de vaca sobre os cultivos tem efeito fertilizante, fortificante (estimulante de crescimento) e também o efeito repelente devido ao cheiro forte. A urina deve ser recolhida em um balde e logo após ser envasada em recipiente fechado por no mínimo três dias antes de usar. Em recipientes fechados a urina poderá ser guardada por até um ano. Para usar: diluir a 1% (um litro de urina em 100 litros de água), fazer pulverizações semanais em hortaliças e em frutíferas a cada quinze dias. A compostagem também foi apresentada como alternativa viável para sistemas de produção orgânica, em virtude de sua elevada qualidade nutricional e biológica. A elevação dos teores de matéria orgânica, fósforo, potássio e cálcio, magnésio, pH e saturação por bases permite obter um elevado grau de fertilidade dos solos no sistema orgânico Atualmente, os materiais mais utilizados são: restolho de culturas; palhas e cascas (espiga de milho, arroz, palhada do feijão; vagem; bagaço de cana; palha de carnaúba; palha de café; serragem; sobra de cocheiras e camas de animais). A Feira da Agricultura Familiar é um empreendimento coletivo, fruto de uma gestão participativa, realizado a mais de três anos, semanalmente, na cidade de Solânea. Está inserida na proposta de desenvolvimento territorial e é gerida pela ONGIFA (Organização não Governamental de Integração da Família, uma ONG comunitária instituída para representar os interesses dos/as feirantes, fortalecer a produção orgânica e o consumo de produtos saudáveis e ampliar as possibilidades de negociação com os vários segmentos envolvidos -- prefeituras municipais, Universidades, associações de moradores, sindicatos e população de forma geral. A Feira é realizada no centro de Solânea, todas as sextas-feiras, das 6:00 às 11:00 horas, por agricultores/as do município, que vendem seus produtos orgânico sem o uso de insumos químicos no processo de produção de hortaliças, Os preços são equivalente aos praticados nas feiras livres e nos supermercados do território e os produtos trazem uma qualidade a mais do que os produtos convencionais, por serem produzidos sem agrotóxicos, pela força de trabalho familiar e focados na perspectiva do desenvolvimento local, ancorado numa nova base socioeconômica, política e cultural e de relação recíproca, considerando-se que vem favorecer a melhoria das condições de vida de quem produz e de quem consome. A proposta da Feira insere-se num processo de transição agroecológica com ampliação do leque de parcerias, maiores investimentos nas dimensões sociais,


ambientais e econômicas e o desencadeamento de ciclos de capacitação e serviços de assistência técnica, para fortalecer as dinâmicas de produção e comercialização, numa perspectiva de estruturação das cadeias produtivas. Os resultados obtidos referentes ao perfil e preferência do consumidor por produtos orgânicos (Tabela 1), revela que em relação ao conhecimento por alimentos orgânicos a resposta foi unânime, enquanto que, 87,50% possuem preferência por este tipo de produto, 57,5% dos entrevistados consumem estes produtos a mais de um ano, e todos se abastecem de orgânicos semanalmente, com relação à quantidade de consumo 55% não souberam precisar seu consumo, e que 57,5% dos entrevistados confirmaram serem consumidores de orgânicos a mais de um ano.

Tabela 1. Perfil do consumidor de orgânicos no município de Solânea – 2010 Variável

Frequência

%

Conhece produtos orgânicos Sim

40

100,00

Tem preferência por orgânicos Sim Não

35

87,50

5

12,50

Tempo que consume orgânicos Menos de 1 ano

13

32,50

1 ano

4

10,00

Mais de 1 ano

23

57,50

Frequência de compra semanal 1 vez

40

100,00

Consumo semanal (kg) Não sabem

22

55,00

1 kg

7

17,50

2 kg

8

20,00

3 kg

3

5,00

Fonte: Pesquisa direta

O estudo revelou (Tabela 2) que 60% dos consumidores possuem família composta por mais de três pessoas e que em 87,50% das famílias, todos consomem os produtos orgânicos. Revelou-se que a razão pela qual 55,26% dos consumidores optaram por alimentos naturais está relacionada ao cuidado com a saúde da família. Observou-se pelos resultados que os produtos mais demandados foram: alface (72,5%), coentro (70%), tomate (72,5%), batatadoce (55%) e inhame (50%).


Tabela 2. – Consumo e preferência por alimentos naturais – 2010 Variável

Frequência

%

Num. de pessoas na residência Menos de 3

5

12,50

3

11

27,50

Mais de 3

24

60,00

Qnts.consomem prod. orgânicos Todos

35

87,50

Nem todos

5

12,50

Razão preferência por orgânico Saudável

21

55,26

Sem agrotóxico

11

28,95

Qualidade

6

15,79

Preferência por alface Não preferem

11

27,50

Preferem

29

72,50

Preferência por coentro Não preferem

12

30,00

Preferem

28

70,00

Preferência por tomate Não preferem

11

27,50

Preferem

29

72,50

Preferência por batata doce Não preferem

18

45,00

Preferem

22

55,00

Preferência por inhame Não preferem

20

50,00

Preferem

20

50,00

Fonte: Pesquisa direta

A feira orgânica em Solânea em espaço aberto ocorreu recentemente, havendo colaboração e acompanhamento na mudança do local de comercialização, antes realizado na sede da ONGIFA, para local aberto com cerca de 800m², localizado no centro da cidade e vindo a ser espaço exclusivo para comercialização dos alimentos orgânicos, denominado de espaço agroecológico. Os resultados de pesquisa revelaram o grau de satisfação dos consumidores em relação ao novo espaço de comercialização (Tabela 3), onde 85% dos consumidores estão satisfeitos com a atual localização da feira. As variáveis (organização, limpeza, conservação e higiene das hortaliças) destacam-se pelos índices apresentados, sendo consideras boas e ótimas as condições para comercialização. Atentou-se ao fato, quando investigou-se estas variáveis, que a condição perecível


se torna nítida na comercialização em feiras-livres, geralmente, com tendência de diminuição do preço quando próximo do encerramento das atividades comerciais diárias. Com isso, as oscilações de preço entre os máximos e mínimos tendem a ocorrer mais frequentemente com produtos perecíveis que em relação a demais produtos agrícolas, embora haja exceções. Foi considerado por 67,50% dos consumidores, ser boa a conservação das hortaliças e de 70%, de haver higiene das hortaliças Estas condições revelaram-se condizentes para boas margens de comercialização no varejo, somado ao fato de que o preço dos orgânicos foi considerado por 55% dos consumidores equivalente aos convencionais. Quanto as vestimentas dos produtores orgânicos usadas na feira agroecologica, foi considerada por 95% dos entrevistados necessárias para identificação. Tabela 3 - Análise do espaço agroecológico pelos consumidores de Solânea – 2010 Variável

Frequência

%

A feita está em local adequado Não Sim

6

12,50

34

85,00

Há um local mais adequado Local atual

34

85,00

Mercado público

3

7,50

Local anterior

3

7,50

Feira em espaço aberto Não preferem

2

5,00

Preferem

38

95,00

Organização da feira Ótima

9

22,50

Boa

24

60,00

Regular

7

17,50

Limpeza da feira Ótima

8

20,00

Boa

20

50,00

Regular

12

30,00

Conservação das hortaliças Ótima

9

22,50

Boa

27

67,50

Regular

4

10,00

Higiene das hortaliças Ótima

8

20,00

Boa

28

70,00


Regular

4

7,50

Vestimentas dos feirantes Necessárias para higienizar

1

2,50

Necessárias para padronizar

1

2,50

Necessárias para identificar

38

95,00

Atendimento Ótimo

18

45,00

Bom

22

55,00

Preço Mais caro

14

35,00

Igual

22

55,00

Mais barato

4

10,00

Fonte: Pesquisa direta

5 Conclusão A gestão participativa no processo de produção e comercialização de hortaliças orgânicas, implicou necessariamente na cooperação mútua e, demonstrou o ensejo no atingimento de uma economia solidária e de alternativas de produção e comercialização não convencionais. As atividades propiciaram a ampliação de conhecimentos técnicos e práticas de manejos realizados in locus nas propriedades, com formação de agentes multiplicadores que passaram a disseminar métodos de manejo antes não realizados. E revelou-se que as condições estruturais de comercialização do espaço agroecológico atendem as necessidades da atividade comercial de hortaliças, satisfazendo os consumidores solanenses. 6 Referências ARBAGE, Alessandro P. Fundamentos de Economia Rural. Chapecó: Argos, 2006. 272 p. CARMO, Maristela S. do. A produção familiar como locus ideal da agricultura sustentável, Agricultura em São Paulo, SP, 45(1):1-15, 1998. Disponível em <http://dgta.fca.unesp.br/docentes /elias/dea-pgea/LOCUSIEA.pdf> Acesso em: 28. set. 2010. COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO (CMMAD). Nosso Futuro Comum. Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, 1988. DURAND, Guy Agriculture et environnement : les apports de la demande systémique. Paris, s.d. (mimeo) FAO/INCRA. Diretrizes de Política Agrária e Desenvolvimento Sustentável. Brasília, Versão resumida do Relatório Final do Projeto UTF/BRA/036, março, 1994. FARIA, José Henrique de. Comissões de fábrica: poder e trabalho nas unidades produtivas. Curitiba: Criar, 1987 FILGUEIRA, F. A. R. Manual de Olericultura: cultura e comercialização de hortaliças. 2 ed.rev. e ampl. São Paulo. Ed. Agronômica Ceres. 1981. 338p. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4a Ed. São Paulo: Atlas, 2002. GUANZIROLI, Carlos E. coord. Diretrizes de política agrária e desenvolvimento sustentável para a pequena produção familiar. (versão preliminar). Brasília, FAO/INCRA (Projeto UTF/BRA/036). 1994. HERMEL, Philippe. La gestion Participativa. Barcelona: Gestion 2000, 1990.


JARA, Carlos Júlio. Novos conceitos e estratégias de desenvolvimento rural. I Curso de Planejamento do Desenvolvimento Municipal Sustentável. SEAS/PAPP – MEIOSUFRN-ILCA, Natal, agosto de 1999. (mimeo). KAGEYAMA, Ângela A. & BERGAMASCO, Sonia M. P. P. A Estrutura da Produção no Campo em 1980. Perspectivas, São Paulo, 12/13: 55-72. 1989/90. MARANALDO, D.. Estratégia para a competitividade. São Paulo: Produtivismo, 1989. MATOS. F. Gomes de. Gerência participativa. Rio de Janeiro: Biblioteca do exército, 1980. MENDONÇA, Luis Carvalheira de. Participação na Organização: uma introdução aos seus fundamentos, conceitos e formas. São Paulo: Atlas, 1987. SEVERINO, A. J. Metodologia do Trabalho Científico. 21 ed.rev. e ampl. São Paulo: Cortez, 2000. VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. São Paulo: Atlas, 2000. WANDERLEY, N. Raízes históricas do campesinato brasileiro. In: TEDESCO (Org.) Agricultura familiar: realidades e perspectivas. Passo Fundo- RS: UPF, 2001.


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