1 minute read

desigualdadesNO MERCADO DE TRABALHO

No Brasil, a inserção – assim como a ascensão – no mercado de trabalho é desigual, dependendo de uma série de fatores, como escolaridade, classe, cor e gênero. A população negra, por exemplo, tem menor representatividade e reconhecimento, como bons cargos e salários. Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apresentados no ano passado, e que integram a segunda edição do levantamento Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil, demonstram essa realidade. Em 2021, mais da metade dos trabalhadores brasileiros (53,8%) era formada por pretos e pardos, mas os dois grupos, somados, ocupavam apenas 29,5% dos cargos gerenciais. E, entre aqueles que estão empregados, os brancos recebem um salário, aproximadamente, 74% maior que o de trabalhadores pretos, e 68% acima da quantia recebida por autodeclarados pardos.

Segundo Emerson Ferreira Rocha, professor do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade de Brasília (UnB), a desigualdade racial no mercado de trabalho brasileiro pode ser explicada por dois fatores. “Os atributos e recursos adquiridos, dentre os quais podemos destacar a escolaridade; e o tratamento diferencial que as pessoas recebem, em função da raça, quando competem por posições no mercado de trabalho”. Sendo assim, “combater essas formas de discriminação, que existem e persistem à margem do que é publicamente declarado, assim como das normas e dos procedimentos formais, é um dos nossos grandes desafios para o futuro”, defende Rocha.

Para além do quadro de desigualdade racial, Luiz Augusto Campos, que é professor de sociologia e ciência política na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), destaca a necessidade de uma leitura ainda mais ampla, uma vez que o mercado de trabalho pode ser considerado o principal espaço de reprodução das desigualdades, e elas dificilmente se reduzirão sem um compromisso das esferas pública e privada. “Em todo o mundo, políticas de ação afirmativa baseadas em critérios de classe, raça, gênero etc. são adotadas por empresas, algo ainda raro no Brasil”, ressalta Campos.

Neste Em Pauta, Rocha e Campos analisam as múltiplas faces das desigualdades no mercado de trabalho brasileiro e apontam caminhos para entendermos a complexa rede de desafios lançados à sociedade.