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TRAÇOS DA DIVERSIDADE

Ilustrações de autoria negra em livros para as crianças inspiram outras formas de ser e enxergar o mundo POR MARIA JÚLIA LLEDÓ

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Ilustração de Rodrigo Andrade para o livro Com que penteado eu vou (Melhoramentos, 2021), escrito por Kiusam de Oliveira.

Em Moçambique, quando alguém deseja contar uma história, diz, em voz alta: “Karingana ua karingana!”. Essa frase, em ronga (uma das línguas originárias do país africano), é utilizada pelo contador ao pedir licença para narrar enredos que, a partir daquele momento, passarão a habitar o corpo de cada ouvinte. Esse processo ancestral de incorporação simbólica também permeia as imagens que moram nas histórias contadas por um livro. Se as páginas são espaços de encontro, “um ilustrador carrega consigo muita gente”, afirma a especialista em livros para as infâncias Ananda Luz, cocuradora da exposição coletiva Karingana – Presenças negras no livro para as infâncias, que entra em cartaz em 15/7, no Sesc Bom Retiro [Leia mais em Territórios Lúdicos], reunindo 92 ilustrações de 50 artistas visuais negros dedicados à literatura para as infâncias.

Cada ilustração abraça diferentes técnicas, linguagens e significados que, segundo Ananda Luz, foram guiados pelos valores civilizatórios afro-brasileiros defendidos pela pensadora Azoilda Loretto da Trindade (1957-2015), tais como circularidade, ludicidade, ancestralidade e comunitarismo. “A ilustração negra apresenta outras possibilidades de ser e de existir, outras muitas, porque apresentam o quanto pessoas negras e suas culturas são plurais e, por isso, têm uma infinidade de narrativas e histórias potentes para contar. E isso é imenso para todos os leitores e leitoras”, complementa Luz.

Assim descreve Josias Marinho Casadecaba, um dos artistas presentes na exposição: “O lápis das ilustradoras e dos ilustradores seria como um raio que ilumina o céu [e o texto], nos chamando a atenção para ele, enquanto sua luminosidade nos permite ver detalhes de um ambiente. E com um pouco mais de atenção, podemos perceber detalhes naquele ambiente, naquela página. São camadas de percepção que se misturam às cores, aos traços, àquelas texturas que dão vontade de passar o dedo para tentar sentir um atrito”. Deste modo, a ilustração é um convite para crianças e adultos entrarem numa roda onde o encantamento salta das páginas dos livros em imagens de autoria negra, valorizando a diversidade das situações, dos tons de pele, das vestimentas, das texturas dos cabelos e dos penteados.

Gr Fica

Ilustração de Aju Paraguassu para o livro Sejamos todos feministas – versão adaptada para jovens (Companhia das Letrinhas, 2021), escrito por Chimamanda Adichie.

para ver no sesc / gráfica