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Toda pessoa é um artista, exceto quem não é Sesc São Paulo

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A 13ª edição da Bienal Naïfs do Brasil questiona os instrumentos conceituais que hierarquizam formas de pensamento, sensibilidades e manifestações culturais. Neste sentido, confronta o tipo de entendimento da realidade que se baseia na noção de progresso ou, em outros termos, numa sequência de etapas a serem transpostas por indivíduos e comunidades a fim de atingirem patamares “elevados”. É este padrão dominante, inclusive, que acaba por investir de legitimidade certos conhecimentos e expressões, em detrimento de tantos outros. Contrapondo-se a essa lógica produtora de distinções e assimetrias, o mote adotado pela Bienal (Todo mundo é, exceto quem não é) sugere que o ‘modo de ser’ naïf seria comum a todos nós, com exceção daqueles que, por nutrirem a crença na superioridade de si e dos grupos aos quais pertencem, o rejeitam – como se ele fosse apenas o passo inicial de uma pretensa linha de desenvolvimento. O emblema-título da exposição condensa, portanto, uma provocação dirigida à perspectiva ocidental, acostumada a subestimar tudo aquilo que não coincide com seus preceitos. Em sintonia com essas problemáticas e desobrigada dos vícios de uma educação conteudista ou meramente instrutiva, a presente publicação representa um dispositivo de interação com a mostra. As páginas a seguir abdicam da função de elucidar as obras, assumindo-se, em vez disso, como suportes favoráveis à invenção poética por parte do visitante, em diálogo com elementos da exposição, mas também com aspectos que a extrapolem. O que se pretende é instigá-lo a ocupar uma posição dupla, enquanto espectador e autor, borrando a fronteira entre esses papéis. É possível ouvir, neste quesito, o eco da afirmação do artista alemão Joseph Beuys, de que “toda pessoa é um artista”. A propósito, a compreensão dos públicos como sujeitos aptos a responder poeticamente àquilo que lhes é apresentado relaciona-se com a forma como o Sesc concebe sua ação cultural e seus centros culturais e desportivos: terrenos férteis às capacidades criadoras de seus frequentadores.



Desenhar é também lembrar que podemos desenhar! Claudinei Roberto da Silva

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A 13ª edição da Bienal Naïfs do Brasil do SESC tradicionalmente realizada na cidade de Piracicaba trás o singelo, mas provocativo título “Todo mundo é, exceto quem não é”. O título da mostra ilustra, num certo sentido, as idéias que são queridas àquelas pessoas responsáveis pelo conceito por trás da exposição. “Todo mundo é, exceto quem não é” sugere um universo de possibilidades aberto àqueles que como os artistas presentes nesta exposição têm a alegria audaciosa dos que se permitem criar arte. Definir e classificar o termo Naïf e os artistas aderentes a ele é uma tarefa que vem sendo realizada no decorrer dessas muitas bienais e é também um esforço empreendido pelo Sesc ao longo dos anos em programações dos mais variados caracteres que possuem na arte popular – e na sua esfuziante multiplicidade – o tema principal. O professor Danilo Santos de Miranda em texto do catalogo da mostra de 94 define a arte dita naïf como sendo “insubmissa e veraz”. Arte “resistente – como tudo que é genuíno, e sólida como tudo que é verdadeiro”. Audácia, sempre audácia, é o convite que faz este elenco de artistas, audácia de saber-se artista e coragem de praticar sua arte apesar das adversidades que possam enfrentar ou da incompreensão que não raramente compromete o julgamento daqueles que têm a sorte de se aproximar desses autores. Nas páginas brancas desse caderno fica explicito o convite ao livre exercício da nossa criatividade, animados pelo exemplo desses artistas que pintam, desenham, gravam, esculpem, bordam e, sobretudo, inventam uma realidade fundada na vontade, mas também na necessidade urgente e incontornável de criar mundos onde habita a fantasia, a crítica, a ironia e o lirismo livre. Vamos nós também participar dessa aventura criativa imitando esses artistas naquilo que eles têm de melhor, que é atender ao apelo da imaginação e da própria sensibilidade. Linguagens da arte. Toda a manifestação de arte funda uma linguagem, um código e seu vocabulário que é utilizado pelos artistas conforme suas necessidades e experiências. As linguagens artísticas têm particularidades, mas podem ser combinadas e às vezes essas combinações dão origem a propostas bastante inusitadas e divertidas, podendo até fundar outro tipo de manifestação. Na pintura é preciso sentir as qualidades do material empregado na sua realização; sentir as texturas (ou a falta delas) criadas pela tinta ou pelo giz de cera pode ser uma “viagem” deliciosa, assim como deixar-se seduzir pelo brilho das cores, conduzir-se por seus ritmos. Do mesmo modo observar as variações das linhas que fazem um desenho pode exigir uma atenção que nem sempre dispensamos ao observar esse tipo de trabalho. Mais que descrever uma cena ou contar uma história, a obra de arte trás a descrição do percurso dos materiais empregados na sua realização, ou seja, marcas de um processo bem vivo e à disposição daqueles que tiverem um pouquinho de paciência para, diante de um trabalho artístico, imaginar o caminho das mãos – e das mentes – que realizam um bordado ou que juntam materiais inusitados para criar objetos lúdicos e belos... afinal desenhar é também lembrar que podemos desenhar! O desenho é nossa primeira escrita, então qualquer idéia de perfeição não é mais importante que a própria realização. Mãos e mentes a obra!

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Efigênia Rolim Rei Florenço na floresta, 2016 72 x 20 x 20 cm

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Jean Zuqui Sacirupiraboitatacapixaba, 2015 87 x 19 x 30 cm


adiSSEnY Maestro, 2016 34 x 23 cm

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aREaS JR. Pescador no ver-o-peso, 2016 58 x 59 cm


JofERSanT Os irracionais na graça do grandioso zôo de São Paulo, 2014 72 x 103 cm

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gEo Favela, 2014 30 x 31 cm


Vânia Mignone Sem título, 2016 60 x 60 cm

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Raquel Trindade – A Kambinda Laroyê Exu, 2015 80 x 80 cm

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Todo mundo é, exceto quem não é Material Educativo


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