Booklet "Eu + Tu = NÓS"

Page 1

+

EU + TU = NÓS

+

COMO MANTER SAUDÁVEL A RELAÇÃO NOS ALTOS E BAIXOS DA VIDA? Serviço de Consulta Psicológica da Universidade da Madeira (2013)


+

“EU + TU = NÓS” MATERIAL DE APOIO Este material de apoio foi elaborado como suporte teórico do grupo de treino de competências pessoais “EU + TU = NÓS. Como manter saudável a relação nos altos e baixos da vida!”, realizado a 16 de fevereiro de 2013, no Colégio dos Jesuítas, Universidade da Madeira. Formação: Carla Vale Lucas, psicóloga do SCP-UMa

2


Numa relação temos de ser como um jardineiro que olha todos os dias pelo seu jardim... e que o procura manter bonito e bem tratado.

O AMOR EXIGE: Autoconhecimento Maturidade emocional Projeto afetivo individual e outro em comum

+

-­‐

Cada etapa tem a sua forma de sentir o amor.

-­‐

Quando

as

condições

mudam,

a

relação

deve

adaptar-se

às

novas

circunstâncias. -­‐

Não podemos confundir o amor com a fase de atração mútua inicial que ocorre no princípio da relação. Essa fase é transitória. No entanto, apesar desta atração mútua inicial passar não significa que com a passagem do tempo, o amor perca a sua intensidade. Ele pode ser alimentado, cuidado e florescer...

3


A

UNIÃO

processo

AMOROSA que

envolve

é

um duas

pessoas, procurando o equilíbrio entre proximidade e distância, entre o desejo de pertença e de autonomia, equilíbrio esse que exige

uma

permanente

adaptação e mudança face ao outro (Whitaker, 1989 cit in Relvas & Alarcão, 2002).

MODELO DO DESENVOLVIMENTO DO COMPROMISSO (Stanley, 2002) Semelhanças e diferenças levam à atração. Satisfação com o tempo que passam juntos Vinculação e ansiedade de perda Desenvolvimento do compromisso para uma vinculação segura Casamento: eu aceito...

Uma boa relação é aquela que tira de nós aquilo que temos de melhor. 4


+ +

SATISFAÇÃO CONJUGAL Assume funções protetoras

Ligação afetiva a alguém significativo e intimidade

fonte de apoio emocional

As pessoas que não estão felizes com o

fertiliza a autoestima e autoconfiança

casamento parecem ser ainda mais vulneráveis do que as divorciadas a problemas de saúde física ou mental.

essenciais para gerir o stress Narciso, Costa & Prata (2002)

A COMUNICAÇÃO CONJUGAL exige autoconhecimento e capacidade de se colocar no lugar do outro 5


+ +

Conhecermo-nos, gostarmos de nós e refletirmos sobre as coisas, é o melhor prognóstico para uma relação saudável!

1.ª fase: CONHECER-SE A SI PRÓPRIO. Investir num projeto individual.

2.ª fase: TER CONSCIÊNCIA DE QUE SE QUER A RELAÇÃO. Esta vai dar trabalho.

3.ª fase: É PRECISO VER SE É AQUELA A PESSOA QUE SE QUER e se ela está preparada para uma relação.

Direitos assertivos “Eu tenho direito...” Ser tratado com respeito. Ser ouvido quando falo. Dizer "não percebo" e pedir esclarecimentos ou ajuda Estabelecer os meus próprios limites e dizer “não” Definir os meus objetivos e lutar pela sua realização Determinar quais são as minhas necessidades e pedir o que preciso. Expressar os meus sentimentos e opiniões. Errar Relacionar-me com os outros sem ficar dependente da sua aprovação

6


+

ATITUDES QUE DESAJUDAM NA MANUTENÇÃO DE UMA RELAÇÃO SAUDÁVEL •

Expectativas excessivas para a relação. Esperar do parceiro aquilo que ele não nos pode dar.

Não aceitar a diferença e as diferentes leituras por parte do outro. Impor a nossa opinião quando se trata de princípios fundamentais.

Querer moldar o parceiro.

Não providenciar apoio emocional (dar apoio emocional implica que nos descentremos de nós e que escutemos ativa e empaticamente o parceiro. Envolve compreensão, valorização, respeito, dar atenção, proteger...)

Falhas de comunicação -­‐ Pretender que o outro adivinhe aquilo que precisamos ou que esperamos dele. -­‐ Não esclarecer situações conflituosas -­‐ ...

A queixa permanente. Esta converte-se no pior inimigo. Em vez de ajudar a alcançar objetivos, afasta-nos deles e das pessoas que nos rodeiam.

Permitir ataques à nossa dignidade e / ou se anular em função do outro.

Continuar com o parceiro quando a relação está esgotada.

7


+CRISES E DÚVIDAS NA RELAÇÃO As crises no casal podem constituir oportunidades quando bem aproveitadas, para que a relação seja reformulada e amadureça. Não são sempre negativas. (Reyes, 2003)

As

dúvidas

inevitáveis. surgem

numa Passado

dúvidas.

relação algum

Mas

estas

são

tempo não

precisam ser perigosas. Quando chegam,

é

necessário

vivê-las

como parte do processo e não como o início de um fim. Se passarmos a vivê-las a partir do medo, é como se estivéssemos num estado permanente de alarme (Reyes, 2010).

O que fazer com as dúvidas? Analisar o que está a acontecer

Estar conscientes do que estamos a pensar Familiarizar-se com as suas próprias emoções e as dos outros. Estar consciente das diferenças que nos separam (Quando muito angustiados com as dúvidas) conceder um tempo de descanso a si e/ou distrair a mente para analisar os factos com clareza

8


+O FIM DE UMA RELAÇÃO É sempre o princípio de uma etapa de esperança. No entanto, não convém começar uma nova relação com as feridas abertas, pois sangraríamos face às primeiras dificuldades.

Quando há amor, e quando esse nos enche de felicidade e de esperança, e quando os dois, de forma livre, manifestam a sua vontade de superar as barreiras e circunstâncias adversas que estão a viver, vale a pena continuar a investir. Quando o desejo de continuar apenas vem de uma das partes, devemos aprender a respeitar a decisão do outro e saber retirar-nos a tempo.

NÃO EXISTEM SEMPRE DOIS CULPADOS aquando o fim de uma relação... Frequentemente, uma das pessoas fez o impossível para salvar esse sentimento de afeto, que no princípio ambos pareciam partilhar...

9


+

COMUNICAÇÃO É CHAVE A comunicação é uma condição fundamental na vida humana e nas relações sociais.

O nosso comportamento e a forma como comunicamos afeta sempre a relação que estabelecemos com os outros e o modo como estes se relacionam connosco. Devemos estar atentos ao nosso comportamento, ao modo como comunicamos, porque isso vai influenciar o modo como o outro se relaciona connosco. Todos nós possuímos formas mais ao menos estáveis de comunicar.

Muitos casais têm problemas no funcionamento porque um ou ambos se comportam segundo modelos passivos ou agressivos que provocam no outro respostas inadequadas, dando assim origem a um desajuste pessoal e emocional de um ou de ambos. Comunicação pode ser: • •

Funcional – capacidade de unir Disfuncional – que afasta os parceiros É impossível não comunicar. Até o silêncio transmite uma mensagem. Basta um simples gesto e / ou palavra para criar um universo de significados e mal entendidos.

No processo de comunicação é fundamental termos em conta não só aos significados que atribuímos à realidade, gestos, palavras e expressões faciais, mas também às possíveis significações que as outras pessoas, com quem comunicamos, lhe podem atribuir. Variáveis que afectam o comportamento / comunicação/ relação: 1. Auto-estima (representação de si) 2. Percepção/Representação do outro 3. Percepção/Representação da situação 10


+

Barreiras da comunicação

Há pessoas que...

Acham que têm pouco a oferecer. Acham que falar não resolve nada

Não têm hábito de conversar. Não aprenderam a partilhar sentimentos.

Com medo de se entregarem na relação.

Barreiras que funcionam como manipulação e/ou amedrontamento

Silêncio Lágrimas e/ou gritar

Violência (fisica, psicológica, moral...)

Fazer caretas (...)

PARA HAVER COMUNICAÇÃO é necessário: •

Haver vontade de comunicar dos dois lados

Desenvolver a nossa capacidade de observação

A nossa análise deve ser feita na objetividade dos factos, não na subjetividade dos sentimentos

Não há comunicação se não houver escuta

A pessoa não se sente ouvida se não se sentir compreendida

11


+

Princípios para uma correta comunicação

É preferível fazer um pedido do que fazer uma

exigência.

demonstra

Fazer

respeito

e

um

pedido

melhora

a

comunicação. •

É preferível fazer perguntas a fazer acusações.

Ao criticar o outro, falar do que ele faz, não do que ele é. Os rótulos não ajudam a que a pessoa se modifique, apenas reforçam as defesas.

Não acumular emoções negativas sem as comunicar. Estas acabariam por explodir e conduzir a uma hostilidade destrutiva.

Discutir os assuntos um a um, não “aproveitar” o facto de se estar a discutir a falta de pontualidade do companheiro para, a propósito disso, o censurar por ser um despistado, que se esquece de tudo e não é carinhoso.

Evitar generalizações. Os termos sempre e nunca raramente são corretos e tendem a formar rótulos.

Não cultivar uma sinceridade excessiva no relacionamento. Pensar antes de dizer certas coisas, sobretudo quando as consequências não vão ser positivas.

Escolha as últimas horas do dia para falar.

Nunca discuta na presença de outros / filhos.

Não discuta se o outro está ocupado.

Marque um horário para conversar e tente cumprir.

No final de cada conversa, deve estar predisposto a dizer três frases: Desculpa; eu estava errado, eu gosto muito de ti.

12


+ Desenvolva competências de comunicação na relação com o companheiro

APOSTE NUMA ATITUDE EMPÁTICA. Se aprendermos a observar e a pôr-nos no lugar do outro, ser-nos-á mais fácil entender o que sentem e o que necessitam. Apesar de uma relação ser feita de duas pessoas, cada uma controla o que faz e pode influir em algumas condutas do outro. Desenvolva uma atitude compreensiva e respeito pelo outro. No entanto, manifestar respeito e afeto pelo outro não garante que aconteça o mesmo ao contrário.

PRATIQUE A ESCUTA ATIVA Não há comunicação sem escuta. A escuta ativa exige: disponibilidade física e mental (ouvir até ao fim), interesse real pela pessoa, prestar atenção à linguagem verbal e não verbal, o olhar, e reformular, para ver se perceber bem a mensagem e espírito crítico (confrontar aquilo que escuta com aquilo que pensa e sabe). Não se precipite a concordar ou discordar, aceitar ou rejeitar as ideias dos outros. A escuta ativa, ajuda-o a analisar a situação de forma mais precisa e objetiva; ajuda a pessoa a clarificar o que estão a dizer e a sentirem-se ouvidos, ajuda a reduzir a ativação emocional que bloqueia o pensar corretamente; ajuda a diminuir as defesas e resistências do outro. 13


+

Só quando o amor se alimenta dia a dia continuará a crescer, com doses de flexibilidade, generosidade, afeto, humor e atitude positiva.

Cultive o diálogo com o outro. Pense antes de falar. Seja claro, concreto e específico a expressar as suas ideias, opiniões e sentimentos. Fale na 1.ª pessoa (“Eu sinto-me irritado..” Em vez de “tu irritas-me”). Esteja atento a ver se o outro compreendeu o que quis transmitir. Dê espaço para que o outro expresse o que pensa, sem o interromper. - Não pressuponha que a outra pessoa já sabe o que quer dizer, apenas porque o sugeriu ou deu algumas pistas.

Fale positivamente e expresse os seus sentimentos a partir do afeto. Afeto gera afeto e produz bem estar. Distanciamento potencia relações frias e faz crescer hostilidade e isolamento. Aumente o número de momentos afetivos. Mostre constantemente os afetos, não só a conversar, mas a comunicar com o toque, o olhar, beijos e carinhos.

14


+

Os sentimentos facilitam-se. Não se impõem!

Não se deixe manipular pelo parceiro. É

importante

apresentarmo-nos

como

pessoas

assertivas, que acreditam em si e sabem defender os seus princípios. Se aprendermos a observar e a pôrnos no lugar do outro, ser-nos-á mais fácil entender o que sentem e o que necessitam.

Não perca a sua própria identidade, autonomia e independência. As

diferenças

aproximam-nos

quando

as

sabemos compreender. Para perdurar, um casal deve convergir no fundamental, nos valores e princípios básicos, mas deve divergir na sua forma de ser, na forma de agir e nas aptidões perante a vida. Procuramos alguém que nos complemente, melhore... potencie as nossas qualidades e mitigue defeitos. 15


+

“Tu tornas-te eternamente responsável por aquilo que cativas” (Antoine de Saint Exupery) Uma pessoa nunca está conquistada definitivamente!

Fale o mais possível sobre os problemas, em casa, para não discutir à frente de terceiros, depois. Aprender a lidar com as zangas do outro: saiba se é preferível discutir no momento ou deixar passar algum tempo para o fazer. Escolha as críticas que considera justas e importantes serem feitas. Diga “eu gosto de ti, mas preciso de dizer-te isto na mesma”... esta técnica desativam a zanga e alivia a discussão.

Projete atividades em comum, que ambos apreciem. Cuide das diferentes partes da relação. Sempre que na vida se descura uma parte de nós, física ou emocional, o relacionamento não é autêntico, equilibrado e completo.

16


+ Referências bibliográficas

Castanyer, O. (2002). A Assertividade. Expressão de uma auto-estima saudável. Salamanca. Edições Tenacitas. Estanqueiro, A. (2007). Saber lidar com as pessoas. Princípios da comunicação Interpessoal. Editorial Presença. Freire, C. (2010). Um amor para sempre. Lisboa. A esfera dos Livros. Gameiro, J. (2007). Entre Marido e Mulher…Terapia de Casal. Lisboa: Trilhos Editora. Gottman, J.M. & Silver, N. (2001). Os Sete Princípios do Casamento. Cascais-Portugal: Editora Pergaminho. Reyes, M. J. (2008). Nem as mulheres são tão complicadas nem os homens tão simples. Estratégias para melhorar a sua relação. Lisboa. Esfera dos Livros Pascoal, N. (2010). O namoro no jovem adulto: Compromisso e atitudes face à cohabitação. Tese de Mestrado em Psicologia. Universidade de Lisboa. Faculdade de Psicologia. Relvas, A.P. & Alarcão, M. (Coords.) (2002). Novas Formas de Família. Coimbra: Quarteto Editora. Silva, C. (2008). Caminhando entre passos tradicionais e modernos: Um olhar sobre a satisfação conjugal. Tese de Mestrado em Psicologia. Universidade de Lisboa. Faculdade de Psicologia e de Ciências de Educação.

17


O ÊXITO DA RELAÇÃO NÃO É A SUA PERMANÊNCIA NO + TEMPO, MAS A VIGÊNCIA DOS SENTIMENTOS E DAS EMOÇÕES QUE NOS ENCHEM DE FELICIDADE E PLENITUDE. O amor é possível encontrar e manter, mas o caminho para lá chegar é difícil e dá muito trabalho (Freire, 2010).

“EU + TU = NÓS” A RELAÇÃO DO CASAL É DIÁRIA PELO QUE DEVEMO-NOS PERGUNTAR O QUE FIZEMOS OU ESTAMOS A FAZER PARA CUIDAR E ALIMENTAR ESTA RELAÇÃO?


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.