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Distribuição Gratuita | Publicação Trimestral | Nº 41

Janeiro Fevereiro Março 2013 b o l e t i m

RENASCER

www.scmsines.org

i n f o r m a t i v o

Santa Casa da Misericórdia de Sines

(Página 3)

DESTAQUES

Aposta na Formação

pág. 4

Actividades de Animação

pág. 14

À Conversa com… Isabel Valente

pág. 8


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Dentro da experiência adqui‐ rida, considero que a realida‐ de social e as práticas sociais que a suportam, apesar da sua universalidade, divergem de acordo com a geografia dos lugares, o tipo de culturas e os hábitos adquiridos. Sines é o Concelho mais pequeno do Litoral Alenteja‐ no, com cerca de 15 000 habitantes. A sua localização é junto ao mar e, por razões sobejamente conhecidas, a sua população foi gradual‐ mente adquirindo caracterís‐ ticas mais cosmopolitas. Na década de 60, os proprietá‐ rios detentores de algum património rural foram expro‐ priados, empobrecendo até ao desespero, aqueles que desse rendimento viviam. Pelas suas águas profundas, nasceu um porto marítimo para barcos de grande porte, com escalas internacionais, resultando daí a vinda de novas gentes, e consequente‐ mente o aumento populacio‐ nal e de postos de trabalho. A par desta evolução, aconte‐ ceu também a formação e aprendizagem profissional de muitos Sineenses, assistindo‐ se a uma analogia interessan‐ te: Sines albergou novas gen‐ tes e, ao mesmo tempo, veri‐ ficou‐se a emigração de mui‐

tos Sineenses. Com estas transformações, Sines perdeu grande parte das suas raízes e identidade e, simultaneamente, a coesão e solidariedade sociais. Neste contexto, a área social e humana só têm expressão quando a necessidade bate directamente à porta de cada um. As próprias empresas inves‐ tem apenas em actividades e eventos de grande visibilida‐ de e mediatismo, esquecen‐ do‐se desta área, quando somos nós, os actores sociais, que recolhemos a maioria das pessoas que nestes últi‐ mos 40 anos deram o seu grande contributo para o desenvolvimento da região e manutenção da qualidade de vida dos seus quadros empre‐ sariais. As pessoas que recorrem ao Lar são pessoas já muito dependentes, e destas, cerca de 85% com demência e outras patologias graves; nos casos de demência, passámos nestes últimos 3 anos de cer‐ ca de 28 % para 47%. Ora, este tipo de utentes exi‐ ge uma maior atenção e cui‐ dados mais assíduos, bem como equipamentos adequa‐ dos e pessoal mais especiali‐ zado.

Da parte das famílias, tam‐ bém sentimos que está em crescendo o aumento do stress, não só pelas dificulda‐ des que as medidas de auste‐ ridade estão a provocar, como pelo desgaste do tem‐ po despendido a cuidar dos seus familiares, repercutindo‐ se depois, em muitos casos, no desequilíbrio psicológico que se traduz na forma como lidam com os funcionários e situações nas horas de visita. Como tal, procuramos colma‐ tar estas problemáticas com mais formação profissional, melhoria das condições físi‐ cas dos estabelecimentos e ajustamento das condições gerais aos níveis das exigên‐ cias legais e normas instituí‐ das. Mas com as medidas de aus‐ teridade em curso no país, estamos a sentir o efeito dos cortes por parte da Seguran‐ ça Social e a diminuição dos recursos financeiros das famí‐ lias, que se reflectem tanto na altura das admissões, como depois no cumprimen‐ to das responsabilidades assumidas. No nosso caso, como dispo‐ mos de múltiplas valências, as situações são bem mais complexas, pois as respostas são mais numerosas, diversi‐

EDITORIAL

A NOSSA REALIDADE FACE À CRISE

Luís Maria Venturinha de Vilhena Provedor da Misericórdia de Sines

ficadas e exigentes. E como os comportamentos e hábitos humanos vão evo‐ luindo em todas as suas ver‐ tentes, não podem estas Ins‐ tituições permanecer estáti‐ cas e ficar aquém das respos‐ tas e necessidades com que diariamente se vão deparan‐ do. Terão obrigatoriamente, para que acompanhem esta evolução natural da vida, de se irem reestruturando, adap‐ tando aos novos paradigmas e investindo sempre que as parcas posses o permitam. A palavra solidariedade assu‐ me, neste contexto, um carácter de urgência, uma junção eficaz de sinergias, uma responsabilidade acres‐ cida para todos os parceiros, uma vontade política de encontrar soluções e um compromisso colectivo de cidadania. 

Ficha Técnica

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boletim informativo

Propriedade, Edição e Impressão SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE SINES Periodicidade Trimestral Número 41 Edição Janeiro| Fevereiro | Março 2013

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Director Luís Maria Venturinha de Vilhena Redacção Rita Camacho Revisão de Texto José Mouro, Rita Camacho Fotografia Ricardo Batista, Rita Camacho

Grafismo | Montagem | Paginação Ricardo Batista, Rita Camacho Tiragem 300 exemplares Depósito legal 325965/11 Distribuição Gratuita


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497 ANOS DE HISTÓRIA E SOLIDARIEDADE Não é possível descrever com todo a funcionar nas instalações do Sana‐ Infantário “Capuchinho Vermelho”, o rigor a história da Santa Casa da tório Prats, local que antes do 25 de em 1988 iniciou‐se o Serviço de Misericórdia de Sines. No entanto, Abril albergava a Casa dos Pescado‐ Apoio Domiciliário e em 1998 as mais antigas referências encon‐ res, gerida pela extinta Junta Central entrou em funcionamento o Centro tradas em documentos históricos

de Dia. No ano de 2001 a Misericór‐

indicam que esta Instituição já exis‐

dia passou a apoiar menores em ris‐

tia em 1516. Constituída como

co, através do Lar de Rapazes “A

Associação de Fiéis na ordem Jurídi‐

Âncora” e jovens mães solteiras

ca Canónica, a Misericórdia de Sines

através do Centro de Apoio à Vida

foi criada com o objectivo de satisfa‐

“Mãe Sol”. Em 2003 nasceu o Cen‐

zer carências sociais e praticar actos

tro Acolhimento Temporário “Porto

de culto católico, em harmonia com

D’Abrigo” para apoiar mulheres víti‐

aquilo que são as Obras de Miseri‐

mas de violência doméstica.

córdia. Entre outras, a Santa Casa da

Mais recentemente, durante o ano

Misericórdia foi criada com a finali‐

de 2012, a Misericórdia, numa bus‐

dade de “rogar a Deus pelos vivos e

ca constante para apoio a quem

pelos mortos, curar os enfermos,

mais necessita, criou a Cantina e a

cobrir os nus, dar de comer aos

Maria José Ritta no 485º Aniversário

Loja Social. A par disso, tem sido desenvolvida nos últimos anos uma

famintos, dar de beber a quem tem

sede, dar pousada aos peregrinos e das Casas dos Pescadores. A partir actividade intensa, pensada primei‐ pobres e enterrar os mortos”.

daí a Misericórdia passou a ocupar‐ ramente no bem‐estar dos cerca de

Inicialmente a Misericórdia ter‐se‐á se dos idosos que já viviam no Sana‐ 480 utentes, que são assistidos dia‐ instalado na Capela do Espírito San‐ tório Prats, criou as condições riamente por duas centenas de cola‐ to, anexa ao hospital do mesmo necessárias para receber outros ido‐ boradores.  nome. Em 1585 o Provedor e os sos necessitados e diversificou a sua Irmãos da Instituição iniciaram actividade. Em 1987 foi criado o esforços para construção de uma nova Capela, a actual Capela de Misericórdia, cujo edifício subsiste como foi construído, embora com algumas alterações pontuais. Em 1630 a Misericórdia de Sines passou a administrar o Hospital exis‐ tente na localidade, sendo aí presta‐ dos todos os cuidados de saúde à população, até à década de 70. Nes‐ sa altura, com a reestruturação dos serviços de saúde, o Hospital foi desactivado e a Misericórdia passou

Bagão Félix inaugura valências da Santa Casa (2003) 3


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O DIA DO ANIVERSÁRIO No dia 22 de Fevereiro a Santa uma Missa no Salão Social, durante Entre

utentes,

colaboradores,

Casa da Misericórdia de Sines com‐ a manhã, e um programa/convívio, órgãos sociais, voluntários e pletou 497 anos de existência. Para durante a tarde, com música, uma irmãos da Santa Casa, várias pes‐ assinalar este dia simbólico, a Insti‐ homenagem às funcionárias com soas marcaram presença nesta tuição organizou um conjunto de 25 anos de serviço, e os tradicio‐ comemoração que assinala quase actividades nas diferentes valên‐ nais “Parabéns a Você”, acompa‐ 500 anos de uma das mais antigas cias, entre as quais a celebração de nhados de Bolo de Aniversário. Misericórdias do país. 

Celebração de Missa no Salão Social

Comemoração no Lar “Anexo II” 4

Homenagem às funcionárias


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FUNCIONÁRIAS HOMENAGEADAS Antónia Pereira, de 61 anos, ajudante de cozinha no Infantário “Capuchinho Vermelho” e Fátima Neves, 48 anos, auxiliar de acção educativa na mesma resposta social da Instituição, foram as duas funcionárias homenageadas no dia 22 de Fevereiro. O “Renascer” recolheu o testemunho de ambas sobre os 25 anos de dedicação à Instituição. «Comecei por trabalhar na limpeza e mais tarde passei a ser ajudante de cozinha, funções que exerço ainda hoje. Sempre trabalhei no Infantário “Capuchinho Vermelho” e sem dúvida gosto muito do emprego que tenho, sobretudo pela alegria das crianças e pelo bom relacionamento com as colegas. O meu dia‐a‐dia de trabalho passa por ajudar a preparar os almoços, depois ajudo a distribuir as refeições às crianças, preparo os lanches e ajudo novamente as crianças na toma dessa refeição. É minha tarefa também pôr e arrumar as mesas. Nunca tinha trabalhado com crianças, mas a adapta‐ ção foi muito fácil, e fui ficando, fui ficando… até hoje. Em 25 anos, não considero que tenham acontecido grandes mudanças no Infantário. Apenas as mudanças de instalações. A nossa forma de trabalhar e de educar as crianças é a mes‐ ma. No futuro, espero continuar por aqui e ir vivendo um dia de cada vez. Tenho 61 anos, já não posso desejar muito, mas quero continuar a ver a alegria destas crianças e ver passar por aqui filhos de meninos que já cá estiveram. E é uma gran‐ de satisfação quando eles nos vêm visitar e dizem que têm saudades da comida do Infantário. Encaro isso como um reco‐ nhecimento ao meu trabalho.» Antónia Pereira

Antónia Pereira (ao centro) com outras funcionárias do Infantário

«Actualmente sou auxiliar de acção educativa no Infantário “Capuchinho Vermelho”, mas quando vim trabalhar para a Misericórdia de Sines, tinha outras funções. Era funcionária do serviço de limpeza, nos lares de idosos. Como gostava mui‐ to de crianças, uns anos mais tarde, pedi transferência para o Infantário. Nunca tinha trabalhado numa Instituição de Soli‐

Fátima Neves com Gabriel, um dos meninos da sua sala

dariedade Social, mas agarrei esta oportunidade porque sem‐ pre gostei muito de crianças. O que mais gosto no meu trabalho são as actividades que desenvolvo com as crianças e os passeios que damos com elas. Já trabalhei com crianças mais velhas, mas a grande experiência que tenho é na sala dos bebés. Todas as crianças dão trabalho, mas as tarefas com os bebés são mais exigentes porque temos de lhes fazer tudo: dar comida, mudar fraldas, dar atenção… 25 anos é muito tempo e penso que as diferenças entre o Infantário de hoje e o que encontrei quando para cá vim tra‐ balhar, não são muitas. Apenas ao nível das instalações é que se verificaram mudanças, pois o dia‐a‐dia de trabalho man‐ tem‐se. Acho muito engraçadas as gracinhas que as crianças fazem e o podermos acompanhar meninos e meninas que uns anos mais tarde trazem também para cá os seus filhos. Eu nestes 25 anos já assisti a isso e é muito engraçado ajudarmos a criar os filhos de quem também já ajudamos a criar. O futuro a Deus pertence, mas para já posso dizer que me sin‐ to muito bem aqui no sítio onde trabalhei praticamente toda a minha vida.» Fátima Neves 

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APOSTA NA FORMAÇÃO A qualificação dos recur‐ Até ao momento já termi‐ mento de problemas de profissionais que confec‐ sos humanos constitui naram duas dessas saúde mais comuns na cionam e manuseiam ali‐ uma das prioridades da acções de formação, uma Terceira Idade. Além dis‐ mentos e outra na área Misericórdia de Sines, delas sobre “Saúde da so, os formandos ficaram dos Primeiros Socorros, uma vez que esta verten‐ Pessoa Idosa – Prevenção habilitados a identificar e direcionada para todos os te se revela extremamen‐ de Problemas” e outra prestar cuidados a doen‐ colaboradores da Institui‐ te importante na adopção denominada “Abordagem tes em estado terminal. ção que podem ser con‐ de um modelo de gestão Geral de Noções Básicas No caso da formação em frontados com situações da qualidade, que assegu‐

de emergência.

re a renovação de conhe‐

No futuro estão previstas

cimentos, práticas e pro‐

outras formações na área

cedimentos dos colabora‐

dos primeiros socorros e

dores. Além disso, a reali‐

da segurança alimentar e

dade social não é uma realidade estanque, daí

Sistema de HACCP e tam‐ bém uma formação sobre

que a qualificação e efi‐

a comunicação na inte‐

ciência da intervenção

Os colaboradores da SCMS numa formação sobre Manutenção

racção com o utente, cui‐

dador e família já a pen‐ neste campo dependa, cada vez mais, da forma‐ de Primeiros Socorros”. A “Primeiros Socorros”, os sar nos colaboradores ção de todos os agentes formação sobre “Saúde 20 formandos ficaram que vão integrar o novo que nela intervêm.

da Pessoa Idosa”, com a habilitados a prestar uma Lar Prats Sénior.

Assim, para o ano de duração de 50 horas, con‐ ajuda imediata mais cor‐ Além deste protocolo 2013, a Santa Casa da tou com a participação de recta, em situações como com a União das Miseri‐ Misericórdia de Sines tem 15 colaboradores que acidentes, lesões e doen‐ córdias Portuguesas, a protocolado com a União desenvolvem

tarefas ças súbitas. Esta forma‐ Santa Casa também pro‐

das Misericórdias Portu‐ directamente com idosos ção teve a duração total move algumas acções de formação em parceria guesas 225 horas de for‐ e teve como objectivo o de 25 horas. mação, em diferentes reconhecimento de facto‐ A decorrer desde dia 8 de com o Instituto de áreas, que pretendem res que contribuem para Abril está uma formação Emprego e Formação Pro‐ abranger o máximo de a promoção da saúde, sobre “Higiene e Seguran‐ fissional. colaboradores.

bem como o reconheci‐ ça Alimentar” destinada a

PRIMEIROS SOCORROS A formação “Abordagem Geral de Noções Básicas de Primeiros Socor‐ ros” teve a duração de 25 horas, sen‐ do 10 delas dedicadas a práticas simuladas. O objectivo geral desta formação consistiu em habilitar os formandos com conhecimentos em 6

primeiros socorros. Em termos de objectivos específicos estes foram: compreender como é organizado e coordenado o Sistema Integrado de Emergência Médica; conhecer os dados a comunicar por via telefónica ao Centro de Orientação e Distribui‐

ção de Situações Urgentes; ser capaz de responder eficazmente a uma situação emergente de paragem car‐ dio‐respiratória, através da utilização de técnicas de permeabilização das vias aéreas e de reanimação cardio‐ pulmonar; responder com eficácia a


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uma situação de doença súbita (hemorragia, intoxicação, engasga‐ mento, entre outras) permitindo a estabilidade da vítima até chegarem ao local os meios e os profissionais especializados. Os formandos em pri‐ meiros socorros foram; funcionárias do Infantário e do Lar “A Âncora”, funcionárias das valências de lares de idosos e motoristas da Misericórdia de Sines. A formação é um processo organiza‐ do de educação através do qual os alunos enriquecem os seus conheci‐ mentos, desenvolvem as suas capaci‐ dades e melhoram as suas atitudes ou comportamentos, aumentando, deste modo, as suas qualificações com vista à satisfação e realização pessoal. A formação assume uma posição de destaque enquanto agen‐ te de mudança e traz benefícios directos aos seus intervenientes e à Instituição que a promove. O balanço desta formação foi claramente positi‐

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borras de café, sal, açúcar ou qual‐ quer outro produto para “estancar” hemorragias; usar sim compressas esterilizadas ou um pano limpo e sem pelos para comprimir o local. No caso de um traumatismo que cause hematoma, nunca colocar água quente na região afectada; colocar sim um saco com gelo embrulhado numa toalha ou pano. Nunca usar pasta de dentes, manteiga, vinagre ou qualquer pomada nas queimadu‐ ras. A tendência será agravar a lesão. O mais correcto é colocar sempre a queimadura em água fria e depois avaliar se é de 1º, 2º, ou 3º grau e ter especial atenção à profundidade, extenção e localização da queimadu‐ ra para a tratar ou encaminhar para o hospital. Ao nível da segurança, nun‐ Acção de Formação em Primeiros Socorros ca esquecer uma regra de ouro: “o socorros que futuramente poderão socorrista deve ter a preocupação de aplicar! não se tornar a próxima vítima”.  Miguel Reis Ao nível dos Primeiros Socorros aqui (Enfermeiro da SCMS) ficam alguns conselhos: nunca usar vo, na medida em que os formandos mostraram bastante interesse no tema e foram capazes de apreender conceitos e práticas de primeiros

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Á CONVERSA COM... Isabel Valente

Em 1926, mais precisa‐ mente no dia 12 de Novembro, nascia em São Vicente, na ilha da Madei‐ ra, Maria Isabel Valente. Filha de pais camponeses, Isabel recorda que nasceu numa terra linda e que teve uma infância muito feliz. «A terra onde nasci é um encanto, pequenina em tamanho, mas grande em beleza. Fica no meio de umas rochas muito grandes, de onde descia uma cascata de água lim‐ pa. Os meus pais, avós e irmãos deram‐me muito carinho e isso foi o que mais me marcou durante a minha infância. O meu 8

pai era o sustento da famí‐ lia trabalhando na agricul‐ tura e trazendo para casa parte daquilo que colhia. A minha mãe trabalhava como bordadeira. Fazia os tradicionais bordados da Madeira que já na altura eram exportados para todo o mundo.» Ao todo, Isabel Valente teve seis irmãos e vivia numa casa cheia, onde o convívio e o respeito entre todos era palavra de ordem: «Lembro‐me que ao serão, à luz do luar, tinha eu os meus quatro anos, juntávamo‐nos todos numas escadas que havia em minha casa. O meu pai

cantava e tocava viola e vinham muitos vizinhos também. Era uma grande alegria. Tínhamos uma vizinhança sagrada. E lem‐ bro‐me, ainda, que era um tempo de grande respei‐ to.» Isabel Valente recorda com saudade o facto de ser do tempo em que os filhos pediam a bênção aos pais e cumpriam à ris‐ ca as regras por eles impostas. Desde cedo que a religião marcou presença na vida de Isabel e, ao mesmo tempo que ajudava a cui‐ dar dos irmãos e da casa, tinha aulas de catequese. «Tinha cerca de seis anos

quando fiz a 1ª Comunhão e o Crisma. Sempre fui muito devota a Deus e ainda hoje sou. E não esqueço quando me diziam que se não cum‐ príssemos os ensinamen‐ tos de Deus, íamos para o Inferno e, se calhar por isso, sempre fui muito devota a Deus e sempre segui o Cristianismo.» A grande mágoa que guarda dos tempos de criança está relacionada com a escola. «Na minha altura só os rapazes é que iam à escola, e eu chorava mui‐ to, com pena de não aprender a ler e a escre‐ ver. Tive sempre uma


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grande tristeza por não ter frequentado a escola, mas graças à minha força de vontade, aprendi mais tar‐ de. E hoje, aqui no lar, aquilo de que mais gosto são as actividades de escrita.» As brincadeiras de criança, apesar de não terem sido muitas, também ficaram na memória de Isabel Valente. «Como não tive muitos brinquedos lembro ‐me de quase todos os que possuí. Parece que estou a ver aqui mesmo à minha frente, uma boneca saloia, vestida com o traje típico da Madeira, que a minha mãe me comprou uma vez que foi ao Funchal, e uma matrafona que me fez uma vizinha minha. Esta boneca era feita num tear e cheia com serradura. Eram os únicos brinquedos que tinha e, tirando isso, brincava com coisas muito simples. Lembro‐me, por exemplo, de brincar com duas latas de conserva calçadas nos pés para fazer o barulho dos saltos altos. Eram brincadeiras simples, mas que nos tra‐ ziam uma enorme felicida‐ de.», refere Isabel bastan‐ te divertida. Aos 12 anos de idade, quando arranjou o seu pri‐ meiro emprego, Isabel deixou definitivamente para trás os tempos de infância. «Comecei por trabalhar numa casa de costura, mas ganhava

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pouco e a patroa em vez de nos ensinar a costurar mandava‐me, a mim e às minhas colegas, fazer a “lida da casa”, por isso não tive muito tempo nes‐ se trabalho. Fui depois para uma Casa de Borda‐ dos onde já ganhava qua‐ tro escudos por dia. Era uma casa muito grande onde se fazia o Tradicional Bordado da Madeira. As bordadeiras bordavam na rua, onde havia mais lumi‐

ros amores. «Eu e as minhas colegas ia‐mos a pé para o trabalho. Demo‐ rávamos 30 minutos e, de vez em quando, cruzava‐ mo‐nos com um rapazito, que nos deitava um olhar mais atrevido. O primeiro rapaz por quem me apai‐ xonei chamava‐se António e chegámos mesmo a tro‐ car fotografias um com o outro, mas depois as coi‐ sas não foram mais além.» Conversar sobre a

Isabel Valente (ao centro) a participar numa das actividades da SCMS

nosidade e dentro de casa fazíamos outro tipo de trabalho, como por exem‐ plo, recortar e passar a ferro os bordados. Nessa altura ainda era uma miú‐ da e nem sempre dava o despacho que os patrões pretendiam, mas felizmen‐ te as minhas colegas aju‐ davam‐me para evitar que fosse despedida.» Nesses tempos de menina e moça, Isabel Valente recorda também, com muita saudade, os primei‐

fase dos primeiros amores leva Isabel Valente a recordar uma história curiosa e que ilustra o fac‐ to dos namoros de antiga‐ mente serem diferentes dos de hoje em dia. «Antigamente havia muito mais respeitinho e era impensável as raparigas darem confiança aos rapazes. A maior parte dos namoros acontecia por correspondência. Comigo até se passava uma coisa muito curiosa:

a minha irmã que tinha uma idade muito próxima da minha, para não rece‐ ber as cartas do namora‐ do em casa, pedia para ele enviar as cartas para o meu emprego e assim eu recebia as cartas do meu namorado e do da minha irmã. Os meus patrões achavam que eu era uma moça muito concorrida, mas enganavam‐se.» De acordo com Isabel Valente os amores eram vividos de forma mais intensa e fazia ‐se de tudo em busca de um cruzar de olhares. «Uma vez fiz de tudo para ir a uma Festa na Ribeira Brava só porque sabia que o António, o meu primeiro amor, também lá estava. Quando estávamos apai‐ xonados e víamos os nos‐ sos namorados o coração batia desalmadamente.» Com cerca de 20 anos Isa‐ bel conheceu aquele que viria a ser seu marido, com quem casou 4 anos depois. «O meu primeiro casamento deu‐me aquilo que tenho de mais precio‐ so, os meus dois filhos. Estive casada durante 24 anos e quando decidi separar‐me a minha vida deu muitas voltas.» Isabel Valente, que na altura já vivia em Lisboa, divorciou‐ se pouco depois do 25 de Abril, numa época em que poucas mulheres o faziam, o que foi uma atitude muito corajosa. «Orgulho‐ me de ter sido capaz de 9


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terminar com um casamento que não foi aquilo que estava à espera e depois disso parti para uma aventu‐ ra em Inglaterra. Vivi e trabalhei lá durante 6 meses, mas as saudades de casa falaram mais alto e quando soube que ia ser avó voltei para Portugal. Algum tempo depois, também vivi e trabalhei nos EUA, numa localidade chamada Canéri‐ ca, mas mais uma vez voltei, por‐ que não há nada como a nossa ter‐ ra.» Aos 53 anos, depois de ter estado uma segunda vez nos EUA, Isabel voltou definitivamente a Por‐ tugal e voltou a casar. «Tinha 59 anos quando casei pela segunda vez e nessa relação sim, fui muito feliz. Apesar só ter estado casada durante seis anos, foram tempos maravilhosos em que passeei muito

e em que tive um grande compa‐ da para o Lar aconteceu para ela de nheiro ao meu lado.» forma natural, uma vez que enviu‐ Em Maio de 2013 faz 2 anos que vou e passava muito tempo sozi‐ nha. «Nunca gostei de estar sozi‐ nha, principalmente à noite, custa‐ va‐me muito, por isso a vinda para o Lar acabou por ser de minha livre vontade. E esta experiência de 2 anos aqui tem‐me agradado muito. O que mais estranhei foi a comida, mas de resto já tenho muitos ami‐ gos, adoro o convívio com as fun‐ cionárias, as lições de português e o carinho que todos têm por mim, pois esta também já é a minha família. Ganho muita alegria por Isabel Valente com cerca de 40 anos estar aqui e posso mesmo dizer que me sinto feliz nesta casa, que é de Isabel Valente escolheu a Misericór‐ todos nós.»  dia de Sines como residência. A vin‐

Informações Úteis SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE SINES Avenida 25 de Abril, n.º 2 Apartado 333 7520‐107 SINES Site: www.scmsines.org Email: scmsines@mail.telepac.pt

Provedoria Tel.: 269630462 | Fax: 269630469 Email: provedoria.scmsines@mail.telepac.pt Horário de Atendimento: 09h00‐13h00 | 14h00‐16h00

Secretaria Tel.: 269630460 | Fax: 269630466 Email: secretaria.scmsines@mail.telepac.pt Horário de Atendimento: 09h00‐13h00 | 14h00‐16h00

Acção Social (Lares, Centro de Dia, Apoio Domiciliário) Tel.: 269630460 | Fax: 269630466 Email: social.scmsines@mail.telepac.pt Horário de Atendimento: 09h00‐13h00 | 14h00‐17h00

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Infantário “Capuchinho Vermelho” Telem.: 967825287 Email: infantario.scmsines@mail.telepac.pt Horário de Funcionamento: 07h45‐19h45

Loja Social “Sinergia Solidária” Horário de Funcionamento: Segundas‐feriras: 14h00‐17h30 | Quintas‐feiras: 09h00‐12h30

Outros Contactos: Animação: animacao.scmsines@mail.telepac.pt Gabinete de Informação: gab‐info.scmsines@mail.telepac.pt Voluntariado: voluntario.scmsines@mail.telepac.pt Gabinete de Psicologia: gab‐psico.scmsines@mail.telepac.pt Recursos Humanos: rh.scmsines@mail.telepac.pt Saúde: saude.scmsines@mail.telepac.pt Contabilidade: contab.scmsines@mail.telepac.pt


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BREVES

DIA DA MULHER Dia 8 de Março comemora‐ se anualmente o Dia Inter‐ nacional da Mulher e a Misericórdia de Sines assi‐ nalou a data homenagean‐ do todas as mulheres da Instituição. Assim, neste dia, foram distribuídas flo‐ res por todas as utentes e colaboradoras da Santa Casa, que além disso tive‐

ram direito a um bolo em sua homenagem. Do universo de todos os utentes adultos da Institui‐ ção, 63% são mulheres. Do total de colaboradores, 92% são do sexo feminino. Não podia, por isso, a Santa Casa deixar passar em claro o Dia Internacional da Mulher. 

A PÁSCOA NA SANTA CASA A celebração da Páscoa na da Páscoa proporcionou um Misericórdia de Sines traz convívio diferente entre os inevitavelmente até à Insti‐

idosos e as crianças do

tuição ovos, amêndoas, Infantário “Capuchinho Ver‐ folares e a visita das famí‐ melho”. No dia 22 de Mar‐ lias. Este ano, a distribuição ço, um grupo de idosos des‐ de amêndoas a todos os locou‐se ao Infantário da utentes aconteceu no dia Misericórdia com o propósi‐ 28 de Março, quinta‐feira to de participar na Festa da santa. Além disso, a época Primavera.

CARNAVAL 2013 Sendo o Carnaval uma festa do Sal, Grândola, Odemira e naval de Sines, no dia 10, tes. Por isso deixamos o com grande tradição no con‐

Santiago do Cacém junta‐

tendo a Associação “Siga a nosso reconhecido agradeci‐

celho de Sines, a Santa Casa ram‐se à festa e participa‐

Festa” oferecido gentilmen‐

mento à Associação “Siga a

da Misericórdia organizou ram no concurso de másca‐

te as entradas para os uten‐

Festa”.

na tarde do dia 11 de Feve‐

ras, nesta tarde que decor‐

reiro um Baile para todos os reu bastante animada. No utentes. Durante este Baile final do baile os presentes de Carnaval, abrilhantado desfrutaram de um lanche pelo músico Carlos Azevedo, convívio. realizou‐se um concurso de Alguns utentes da Misericór‐ máscaras, no qual participa‐

dia de Sines assistiram tam‐

ram utentes e colaborado‐

bém ao Carnaval dos Peque‐

res da Instituição.

ninos, no dia 8 de Fevereiro,

As Misericórdias de Alcácer e ao desfile do corso do Car‐ 12


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ACTIVIDADES DE ANIMAÇÃO Durante os primeiros 3 aconteceu no âmbito de meses do ano, o serviço uma oferta de quadradi‐ de Animação Sociocultu‐ nhos de lã à Cercisiago, ral da Misericórdia, além instituição que apoia pes‐ das actividades perma‐ soas com deficiência. Os nentes, envolveu os ido‐ quadradinhos de lã foram sos da Instituição noutras feitos pelas utentes dos iniciativas pontuais. Entre Lares e Centro de Dia da estas, são de destacar a Misericórdia, para um Comemoração do Dia dos projecto que deu origem Namorados, no dia 14 de a uma manta de retalhos Fevereiro, uma visita ao gigante.

Passeio ao Mercado Municipal

Centro de Dia de Cercal Sempre que as condições do Alentejo, no dia 21 de meteorológicas o permi‐ Março, e uma visita à Cer‐ tem, os idosos da Miseri‐ siago em Santiago do córdia fazem também os Cacém, no dia 20 do mes‐ seus passeios pela cidade mo mês. Esta última visita de Sines.

Comemoração do Dia dos Namorados

Visita ao Centro de Dia de Cercal do Alentejo

Espaço Informativo da Santa Casa da Misericórdia de Sines na Rádio Sines

TERÇAS-FEIRAS 11:15 | SEXTAS-FEIRAS 15:40 | DOMINGOS depois das 09:00 14


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HÉLDER ALMEIDA PARTILHA EXPERIÊNCIA PELO PAÍS Hélder Almeida, médico Além disso, pretendo Sul. Apanhei muito mau evitados, tais como o na Unidade Local de Saú‐ demonstrar a importân‐ tempo, fiz subidas com consumo de álcool e de de do Norte Alentejano, cia da reabilitação e do mais de 30km, e inicial‐ tabaco. De resto, tam‐ foi vítima de um enfarte acompanhamento médi‐ mente a minha condição bém tenho sido muito do miocárdio em 2010. co neste tipo de doenças, física não era a melhor bem recebido em todos Quando se sentiu recupe‐ em que a taxa de mortali‐ porque não tinha por os quartéis dos bombei‐ rado dispôs‐se a partilhar dade é muito elevada e, hábito andar assim tanto ros e, quando não me a sua experiência para quando

os

doentes de bicicleta. Tenho feito podem acolher, como

ajudar a população e, sobrevivem, ficam sem‐ cerca de 70km por dia, aconteceu aqui em Sines, simultaneamente, trans‐ pre com sequelas. Depois todos os dias, e é muito encaminham‐me

para

mitir uma mensagem de de um enfarte do miocár‐ duro. Inicialmente tam‐ outras Instituições. esperança. Para tal, este dio ou de um AVC, ainda bém me perdia muito, R – Que mensagem deixa médico de 63 anos, deu a

a quem contacta consi‐

volta ao país em bicicleta,

go?

durante um mês. No dia

HA – Digo a todas as pes‐

21 de Abril passou por

soas que devem ter aten‐

Sines, e pernoitou no Lar

ção aos factores de risco

Prats da Misericórdia. O

comportamentais, assim

“Renascer” aproveitou a

como àqueles que são

ocasião e esteve à con‐

controláveis pelo médico

versa com Hélder Almei‐

de família. Só assim se

da.

pode reduzir a probabili‐

Renascer – Com que

dade de vir a sofrer de

objectivo decidiu dar a

Herder Almeida viajou de bicicleta pelo país

volta a Portugal em bici‐ cleta, durante 30 dias?

enfarte ou AVC. Mas, mesmo que se tentem

há uma vida toda para porque não conhecia os controlar todos os facto‐

Hélder Almeida – O gran‐ viver e é importante que trajectos e até os cães me res, as coisas acontecem. de objectivo desta aven‐ as pessoas não se esque‐ tentavam atacar. Foi sus‐ Assim, para quem sofreu tura, à qual decidi cha‐ çam disso, não se deixem to atrás de susto, mas ou venha a sofrer de um mar “Volta do Coração”, ir abaixo e tenham força felizmente não caí, não destes problemas de saú‐ consiste em sensibilizar de vontade como eu tive. adoeci e a bicicleta não de, o conselho que dou é: as pessoas para a neces‐ R – Como tem corrido a avariou. A divulgação fei‐ “pensem que não é o fim sidade de prevenir e viagem?

ta pelas rádios e pela da linha e lembrem‐se de

combater o enfarte do HA – Saí de Portalegre no televisão também têm mim.” Sofri um enfarte e miocárdio e o acidente dia 1 de Abril e subi pelo corrido bem e têm sido depois disso dei a volta a vascular cerebral (AVC), interior em direcção ao importante,

sobretudo Portugal em bicicleta.

levando informação onde Norte depois desci e ago‐ para alertar para factores Convosco pode acontecer ela possa não existir. ra já vou em direcção ao de risco que devem ser o mesmo, ou melhor.  15


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O “Renascer” agradece a todos os patrocinadores e amigos que contribuem para que este meio de comunicação da nossa Instituição se tor‐ nasse uma realidade. Uma vez que é nosso objectivo melhorar gradualmente a forma e os conteúdos deste boletim informativo, assim como aumentar a sua tira‐ gem e, consequentemente, divulgá‐lo junto de um público cada vez mais vasto, revela‐se de grande importância o apoio destes e de outros patrocinadores. Obrigada por nos ajudarem a sermos melhores!

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