Monografia SCANDALOUS

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SCANDALOUS GUILHERME VALENTE PESTANA



AGRADECIMENTOS Agradeço aos meus pais, Elizabete Valente e Paulo Jorge, minhas irmãs, Fernanda Valente e Rafaella Valente, que sempre me apoiaram em todas as dificuldades que passei e que me ajudaram no meu processo de aceitação. Agradeço a todas as artistas que me inspiram e dão força para lutar pela causa: Linn da Quebrada, Urias, Leandra Leal, Erika Palomino, Glória Groove, Nany People... Agradeço às minhas amigas da graduação que sempre me incentivam e me deixam confortável ao me expressar, Amanda Barnabé, Ana Luiza Delfino, Rosiane Souza, Valentina Tuccilo e Vanessa Ruguê, vocês são minha família e terminar esse ciclo com vocês ao meu lado é uma honra. Agradeço também a todos professores que incentivaram minha criatividade e me orientaram: Simone Mina, João Marcos, Vânia Medeiros, Walquiria Caversan, Guto Marinho, Márcio Banfi, Renata Zaganin, Adriana Bernardino, Monika Debasa e Márcio Ito, todos foram fundamentais para a realização deste projeto.



Este trabalho busca debater as questões contemporâneas que vieram de uma herança envenenada, a afeminofobia e a LGBTfobia, evidenciando fatos do passado que refletem em questões atuais. Scandalous

estabelece

um

diálogo

e

aborda

como

a

moda pode ser uma ferramenta de autoaceitação para pessoas afeminadas, com foco na noite paulistana, ambiente majoritariamente LGBTQIAP+. Ainda, trata de contar um breve histórico do movimento LGBTQIAP+ no Brasil e do ser afeminado. À vista disso, com base na obra, Babado Forte da escritora Erika Palomino, publicado em 1999 e em séries documentais como São-Paulo em Hi-Fi do Cineasta Lufe Steffen, será explorado o movimento LGBTQIAP+, com foco na relação entre a moda e a vivência de pessoas afeminadas. Palavras-chave: Afeminada, Moda, Vida Noturna, LGBTQIAP+, São Paulo.

RESUMO

ABSTRACT This came

from

work a

seeks

poisoned

to

discuss

heritage,

contemporary

afeminophobia

issues

and

that

LGBTpho-

bia, highlighting facts from the past that reflect on current issues. Scandalous establishes a dialogue and addresses how fashion can be a tool for self-acceptance for effeminate people, established in the nightlife of São Paulo, a mostly LGBTQIAP+ environment. Still, it tries to tell a brief history of the LGBT movement in Brazil and of being effeminate. In view of this, based on the work Babado Forte by writer Erika Palomino, published in 1999 and in documentary series such as São-Paulo in Hi-Fi by Filmmaker Lufe Steffen, the LGBTQIAP+ movement will be explored, focusing on the relationship between fashion and the experience of effeminate people. Keywords: Effeminate, Fashion, Night, Night Life, LGBTQIAP+, São Paulo.


umário


INTRODUÇÃO 1.A história da comunidade LGBTQIAP+ 1.1. Afeminada - Expressão de gênero e vivências, da colonização aos tempos de hoje. 1.2 Movimento LGBTQIAP+ no Brasil

2. Moda e autoaceitação

8 10 10...13 14..17

20..21

2.1 Diálogos de autoaceitação e moda sendo afeminado

20..21

2.2 A moda como forma de combater a LGBTfobia e a afeminofobia.

22..25

3. SCANDALOUS

26..29

3.1 Processo criativo

30

3.2 Mapa-Mental e Moodboards 3.3 Cartela de cores e maquetes de superfície 3.4 Estudo de Formas e Volumes 3.5 Público- Alvo

31...35 36..37 38...39 40..41

3.6 Esboços, cabeças de assinatura e corpos que vestem

42...43

3.7 Estampas e bordados

44...45

3.8 Ilustração

46...49

3.9 Styling e Beleza e casting

50.52

3.10 Coleção

54...59

3.11 Line-up

60...61

3.12 Pranchas de criação

62...63

4. Considerações Finais

64

5. Referências Bibliográficas

65...66

6. Anexos

67...68


INTRODUÇÃO O objetivo do presente projeto é dar visibilidade para pessoas afeminadas e propor representatividade, além de identificar as problemáticas que envolvem esse grupo. Assim, além de vivenciar e dialogar sobre o assunto, Scandalous é um grito de protesto e resistência. Diante disso, ao desenvolver o projeto tridimensional, será inserida na coleção uma estética overdressing, exagerada, pensando na noite paulistana como um oásis gay, onde cada um é o que deseja ser. A noite e a moda se tornam presentes na vida da maioria das pessoas LGBTQIAP+, a roupa é expressão, é armadura, é política e a noite é libertação, fuga da realidade onde os prazeres da carne são sentidos e saciados. A pessoa afeminada sente-se bem-vinda, pronta para enfrentar qualquer coisa, para vestir o que quiser. Os capítulos foram divididos em três

assuntos: o primei-

ro aborda sobre a história da comunidade LGBTQIAP+, ao qual apresenta-se a figura da pessoa afeminada e explica-se todas as questões que envolvem essa temática e também sobre o movimento LGBTQIAP+ no Brasil; o segundo

versa sobre

a moda e autoaceitação, ao qual se estabelece uma relação de vivências pessoais,

discussão da afeminofobia e LGBTfobia ten-

do como cenário a noite paulistana especificamente a Rua Augusta que foi e permanece sendo o cenário predominantemente LGBTQIAP+, sendo ponto de referência para o desenvolvimento deste projeto; por fim temos o terceiro capítulo metodológico, no qual mostra-se o processo de desenvolvimento e criação.



1.A história da comunidade LGBTQIAP+ 1.1. Afeminada - Expressão de gênero e vivências, da colonização aos tempos de hoje.


Ser afeminado é estar fora dos papéis de gênero1 estabelecidos pela sociedade como por exemplo uma mulher masculinizada e um homem afeminado, isso independente da orientação sexual2 . Uma pessoa hétero pode não performar ao que lhe foi imposto diante seus semelhantes, portanto um homem hétero que apresenta trejeitos femininos pode sofrer com a misoginia assim como uma pessoa LGBTQIAP+3. Desta forma, dentro do padrão pode ter certa “passabilidade”4

diante da sociedade, fazendo alu-

são a famosa frase: “Pode até ser viado, mas não precisa dar pinta né “5. Ao pesquisar em alguns dicionários virtuais como: origemdapalavra.com.br e dicio.com.br, através da análise do docente D’Silva Filho, autor do livro Prontuário Universal, Consultor do ciberdúvidas da Língua Portuguesa, desvela-se que a palavra afeminada é tida como sinônimo de efeminado. Logo, afeminado carrega a função de adjetivo, de tal modo que ser feminino é uma característica. Afeminado, tem como significado aquele que deixou de ter modos viris, considerados másculos. Etimologicamente

a

palavra

afeminada

é

derivada

da

negati-

va “a” com origem Grega “ateu” e do adjetivo “feminino”. Efeminado vem do latim effeminatu que é um termo vernacular. O “A-” de Afeminado tem igual significado à “afinidade”, onde o objetivo do “A” é no sentido de proximidade que significa a aproximação da feminilidade da mulher.

1 Papel de gênero: O papel de gênero é construído ao longo da infância, através do processo de construção da sua identidade. A sociedade exige que façamos parte do que já foi determinado, porém pode haver fugas desse tipo de comportamento esperado, situação que provoca na criança problemas sociais e emocionais, pela falta de sensibilidade e informação dos pais. Sendo assim, Papel de gênero é um conjunto de comportamentos que definem o gênero da pessoa. 2 Orientação sexual: É a ligação afetiva que se sente por outra pessoa, heterossexuais, homossexuais, bissexuais, pansexuais, (atração por pessoas independente do gênero) e ainda assexuais (atração por nenhum, embora possa haver relacionamento amoroso). 3 LGBTQIAP+, representa o movimento político e social que defende a diversidade e busca mais representatividade e direitos para esse grupo. L: Lésbicas - É uma orientação sexual e diz respeito a mulheres (cisgênero* ou transgênero) que se sentem atraídas afetiva e sexualmente por outras mulheres (também cis ou trans). G: Gays - É uma orientação sexual e se refere a homens (cisgênero ou transgênero) que se sentem atraídos por outros homens (também cis ou trans). B: Bissexuais são pessoas que se relacionam afetiva e sexualmente tanto com pessoas do mesmo gênero, quanto do gênero oposto (sejam essas pessoas cis ou trans). T: Transexuais, Transgêneros, Travestis - Este é um conceito relacionado à identidade de gênero e não à sexualidade, remetendo à pessoa que possui uma identidade de gênero diferente do sexo designado no nascimento. As pessoas transgênero podem ser homens ou mulheres, que procuram se adequar à identidade de gênero. Q: Queer - É um termo da língua inglesa usado para qualquer pessoa que não se encaixe na heterocisnormatividade, ou seja, que não se identifica com o padrão binário de gênero, tampouco se sente contemplada com outra letra da sigla referente a orientação sexual, pois entendem que estes rótulos podem restringir a amplitude e a vivência da sexualidade. I: Intersexo - É uma pessoa que nasceu com a genética diferente do XX ou XY e tem a genitália ou sistema reprodutivo fora do sistema binário homem/mulher. A: Assexual - É um indivíduo que não sente nenhuma atração sexual por qualquer gênero. P: Pansexualidade - É uma orientação sexual em que as pessoas desenvolvem atração física, amor e desejo sexual por outras pessoas independentemente de sua identidade de gênero. +: Demais orientações sexuais e identidades de gênero - O símbolo de soma no final da sigla é para que todos compreendam que a diversidade de gênero e sexualidade é fluida e pode mudar a qualquer tempo, retirando o “ponto final” que as siglas anteriores carregavam, mesmo que implicitamente. Disponível em: <https://www. trt4.jus.br/portais/trt4/modulos/noticias/465934>. Acesso em: 10 de agosto de 2022. 4 Passabilidade trazendo para a presente discussão é quando soa apresenta e expressa o gênero a qual lhe foi designado, plo um homem homossexual que expressa um ser masculino tem sabilidade do que um homem homossexual que expressa um ser

uma pespor exemmaior pasafeminado.

5 O termo dar pinta, é uma expressão que se popularizou como algo pejorativo, que visava diminuir as pessoas que tivessem mais trejeitos, que fosse afeminada.


Analisando essa expressão de gênero1 no cenário brasileiro,

primeiro jornal homossexual (surge em 1978) e di-

tem-se um dos primeiros relatos em 1576 por Pero de Maga-

versas figuras importantes como Erika Palomino, co-

lhães de Gândavo2 . Segundo o livro, Devassos no Paraíso:

lunista da Folha de São Paulo com sua coluna Noite Ilustrada que retratava cenas da noite paulistana, conhecido como Miss Biá, pioneiro

Os índios se entregavam ao vício da so-

Eduardo Albarella1

domia como se neles não houvera razão

na arte drag queen no Brasil em 1958, entre outros.

de homem. Segundo Jean de Léry rela-

Quase 320 (trezentos e vinte) pessoas LGBTQIAP+

tava que quando os índios discutiam xin-

morreram por causas violentas no Brasil em 2021, se-

gavam-se com palavrão tivira (ou tibirô),

gundo um levantamento do Observatório de mortes e

que na língua tupi seria sinônimo de via-

violências contra LGBTQIAP+, publicado pela CNN Brasil.

do e que literalmente significa “homem do

Portanto fica evidente que a Afeminofobia e a LGBTfobia

traseiro roto”. (TREVISAN, 2020, p. 64).

ainda são motivo de preocupação para esses grupos, a violência vai além da sofrida nas ruas, é a tortura psico-

Ainda no Livro de Trevisan (2020, p. 64) Carl von

lógica, é a falta de oportunidade que consequentemente

Martius relatou a existência dos chamados Cudinas, ho-

leva a profissões menos valorizadas, essas questões são

mens castrados, “que se vestem de mulher e se entre-

como uma bola de neve onde uma coisa influência a ou-

gam exclusivamente a ocupações femininas como: fiar,

tra e acaba prejudicando essas pessoas cada vez mais.

tecer, fabricar potes etc...”. Representam na tribo o papel de prostitutas. Através da leitura de pequenos trechos do livro percebe-se que para algumas tribos não havia nem sequer a distinção de gênero, para alguns índios como os Botocudo, não havia homens e mulheres. Portanto, a pessoa afeminada desde suas primeiras aparições históricas, é tida como escória, marginalizada, sendo objetificada, isso fica claro na misoginia3 e nos preconceitos que pessoas que expressam o feminino sofrem até hoje. Concomitantemente vemos que no Brasil contemporâneo, essa problemática não é muito diferente, apesar dos direitos conquistados através da luta de diversos grupos como: SOMOS (Grupo de afirmação Homossexual) , DZI Croquetes, conjunto de artistas que quebravam todos padrões de gênero, o jornal O Lampião da Esquina,

1 Expressão de gênero: É como alguém se expressa, veste ou se apresenta diante do masculino ou feminino, pode vir por meio do vestuário, acessórios, estilo e linguagem corporal. 2 Pero Magalhães de Gândavo: historiador e cronista português do século XVI, é o autor da primeira história do brasil. (1540 – 1579) 3 Misoginia: guage, é a no.

segundo o dicionário da Oxford Lanaversão à mulher ou ódio ao feminihttps://languages.oup.com/google-dictionary-pt/

1 Eduardo Albarella: conhecida por Miss Biá, foi pioneira na arte drag no Brasil, sua ação foi revolucionária, nos anos 50 chegou a ser presa por estar performando, graças a ela, existe uma maior visibilidade e respeito a arte drag.



1.2 Movimento LGBTQIAP+ no Brasil


Em 1968 o desejo de afeto entre pessoas do mesmo

O Lampião da esquina primeiro jornal gay ti-

sexo era alvo do peso de um regime autoritário com o intui-

nha matérias como: Mais tesão menos encucação,

to de manter a moral da sociedade e criar uma imagem de

esquadrão mata-bicha, essas manchetes foram pos-

família nuclear, monogâmica e heterossexual. Pode-se afir-

tadas durante a ditadura, desafiando a censura e o

mar isto através da fala de Cid Furtado, político brasileiro,

conservadorismo da época, discutia homofobia, ra-

em 1975 na Câmara Federal sobre a legalização do divórcio:

cismo e questões ambientais, o conselho editorial era formado por cerca de onze jornalistas, entre eles:

Desenvolvimento e segurança nacio-

João Silvério Trevisan, Aguinaldo Silva e Caio Abreu.

nal não se estruturam apenas com tra-

Trecho

tores, laboratórios ou canhões. Por de trás

de

tudo

solidária,

isso

está

compacta,

a família,

santuário

ca

o

editorial

lançamento

do

que Lampião

mar-

da

Esquina:

onde

pai, mãe e filhos representam o caráter

O que nos interessa é destruir a

da

imagem padrão que se faz do ho-

nacionalidade.

(QUINALHA,2020).

mossexual, segundo a qual ele é

À vista disso, desvela-se a moralidade alcançada du-

um ser que vive nas sombras, que

rante a ditadura que pairou pelo Brasil de 1964 a 1985. FUR-

prefere a noite, que encara sua pre-

TADO é um reflexo das ignorantes mentes daquele período,

ferência sexual como uma espécie

ao qual incomodava-se com a revolução dos costumes, a

de maldição. (...) o que nós quere-

libertação sexual com a mulher ocupando espaços, com que

mos é resgatar essa condição que

as pessoas LGBTQIAP+ perdessem o medo de se assumirem.

todas as sociedades construídas em

Motivado por essa necessidade de mudança sur-

bases machistas lhes negaram: o

ge o movimento LGBT brasileiro na década de 1970. Nes-

fato de que os homossexuais são

te período, havia diversas necessidades de mudanças,

seres humanos e que, portanto,

nos regimes políticos, participação política, justiça so-

têm todo o direito de lutar sua ple-

cial e pelo reconhecimento das identidades de gênero.

na realização. (CARVALHO, 2020).

Segundo o livro, História do movimento LGBT NO BRASIL: Sendo

assim,

vê-se

jornal,

criado

num

a

importância

O ano de 1978 representou um mar-

se

co fundamental na redemocratização

tia para expor a violação dos direitos humanos e

do Brasil e na história do movimen-

LGBTfobia em uma época em que a perseguição po-

to LGBT. Isso porque, dentre as for-

licial contra gays e travestis era frequente nas ruas.

cas políticas que se engajaram nessas

Uma das ações militares mais violentas foi a cha-

lutas democráticas, merece destaque

mada operação limpeza, comandada pelo delegado

o então chamado Movimento Homos-

José Wilson Richetti que agia violentamente contra a

sexual

N.

população LGBT de São Paulo nos anos 80, em uma

Green, Renan Quinalha, Marcio Cae-

declaração ao Lampião, Richetti disse: “Estou limpan-

tano e Marisa Fernandes, 2018, p.10).

do a cidade com prisões de travestis e vou continuar

brasileiro

(MHB).

(James

momento

de

desangús-

fazendo...”, as ações militares naquele período eram Em maio de 1978 o MHB se torna o grupo SOMOS1,

de extrema violência e muitas pessoas morreram por

grupo de Afirmação homossexual. O jornal Lampião da Es-

ser quem eram e expressarem isso, o jornal contribuiu

quina foi o que encorajou a comunidade LGBT a falar e se

dando visibilidade para esses casos e denunciando.

expor. Em tempos de ditadura um jornal explicitamente

Ao se discutir a homossexualidade, temos suas pri-

GAY era uma provocação à “moral e aos bons costumes”.

meiras constatações históricas sobre a prática homossexual citadas pelo professor de direito de Yale, William Eskridge, no livro, The Case for Same-Sex Marriage:

1 SOMOS: foi um grupo que atuava em defesa dos direitos LGBT, fundado em 1978 e considerado o primeiro grupo brasileiro em defesa desses direitos, o grupo foi fundado graças à movimentação gerada pelo jornal O Lampião da Esquina.


As sociedades egípcia e mesopotâ-

Segundo Lina Pereira, conhecida como

mia antigas, consideradas como importan-

Linn da Quebrada “eles colocam o feminino

tes antecedentes da cultura ocidental, apa-

num lugar recluso”, (Bixa Travesti, minuta-

rentemente não apenas toleravam relações

gem 3:33 – 1:14:48), quando a Linn se re-

homossexuais, como também as reconhe-

fere a eles está expondo o homem, aquele

ciam em sua cultura, literatura e mitologia.

que aponta o dedo, que dá nomes que es-

(ESKRIDGE, 1993, p. 1437-1438, nota 49).

tereotipa. Ainda, em sua música BlasFêmea, Linn revela que “-eu to correndo de homem,

Contudo as evidências disso são indiretas, não havendo

homem que consome só come e some ho-

muitos registros, um deles é a tumba do faraó Akhenaton, que

mem que consome só come fodeu e some”.

contém figuras dele em posições íntimas com seu companheiro,

Está música fala sobre afeto, sobre rela-

o que, para o período era muito importante, pois nas tumbas a

ções que ela vivência enquanto uma mulher

representação de homem e mulher era quase sempre formal.

trans, tornando notório a quão grandiosa é

Segundo o site:

Aventuras na História, Khnumhotep e

a luta pela igualdade de gênero e pela acei-

Niankhkhnum foi o primeiro casal homossexual da história, ten-

tação do feminino, do masculino feminino,

do evidências arqueológicas dos dois encostando os narizes que

do não performar um gênero, da fluidez.

era um gesto afetivo no Egito antigo.

Ainda citando Eskrid-

ge, outra evidência, porém na Mesopotâmia, se refere ao rei Zimri-Lim e ao rei Hammurabi da Babilônia, que “tinham amantes homens semelhantes a esposas” (Eskridge, 1993, p. 1439). Portanto através dos fatos apresentados temos que a prática homossexual existe a muito tempo e que as sociedades antigas respeitavam e sabiam conviver sem julgar as pessoas pela orientação sexual, porém com a dissipação dos povos e mudanças sociais perdeu esse caráter e criou-se um novo, ao qual o ser fora do padrão é condenado a exclusão e as penumbras sociais. Na realidade a pessoa afeminada se tratando de um homem gay afeminado ou uma mulher trans, ambos são historicamente os mais afetados pela Lgbtfobia, bem como pela afeminofobia, ao qual esse preconceito pode acontecer dentro da própria comunidade.

Figura

1:

Representação

de

Khnumhotep

e

Niankhkhnum em sua tumba - Wikimedia Commons





2. Moda e autoaceitação 2.1 Diálogos de autoaceitação e moda sendo afeminado


Como reflexo de uma sociedade que tem instaurada

A autoaceitação é entender e aceitar tudo que faz par-

uma herança patriarcal consolidada, na qual o homem é vis-

te de si, seja físico ou emocional. Para pessoas afeminadas,

to como uma figura autoritária, forte e soberana, torna-se

na infância ocorre algumas problemáticas como o precon-

extremamente conflituoso ser uma pessoa LGBTQIAP+. De-

ceito que uma pessoa sofre perante a família, o julgamento

corrente dessa situação, o ser LGBTQIAP+ passa por inúme-

social, podendo ter dificuldades no ambiente de trabalho e

ros processos, sendo um dos primeiros o da autoaceitação,

acadêmico. Quando desde pequeno performa-se o femini-

que costuma surgir após questionamentos internos e auto-

no, os olhares e os tratamentos são diferentes. Ademais,

conhecimento. Outro fator relevante nesse processo é enten-

por conta da violência verbal ou até mesmo física quan-

der que nem todas as pessoas pensam da mesma maneira

do se demonstra trejeitos considerados femininos, muitas

e isso acaba gerando um sentimento de não pertencimento,

crianças acabam reprimindo sua sexualidade e retardando o

muitas das vezes a família vem com um agravante que é a

processo de autoaceitação, gerando frustrações e traumas.

incompreensão da situação, a falta de diálogo e a negação.

Diante todas essas dificuldades, é na roupa que se bus-

Quando trazemos essa perspectiva se tratando de pes-

ca abrigo, uma espécie de armadura, a roupa durante a ado-

soas LGBTQIAP+ afeminadas (homens homossexuais afemi-

lescência nos permite expressar quem somos e assim passar

nados e mulheres transexuais e travestis), percebe-se que há

uma mensagem para o mundo, o corpo afeminado é políti-

uma complexidade maior, ao qual os afeminados carregam

co, é arma, é resistência e para isso a roupa nos serve como

consigo o feminino.

Essa fluidez entre os gêneros é mui-

uma couraça onde nos transformamos no personagem que

to malvista pela sociedade, à medida que as pessoas afemi-

desejamos ser, que verdadeiramente é o que queríamos ser.

nadas estão fora do padrão e são condenadas diariamente.

A identificação com o feminino ocorre quando crian-

Segundo Linn da Quebrada, no filme, (Bixa Travesti, mi-

ça, ao calçar os sapatos da mãe, ao passar o batom, ao

nuto, 21:46), desvela que: “Batam palmas para as travestis que

se sentir pertencente ao grupo de meninas no colégio.

lutam para existir e a cada dia conquistar o seu direito de viver

Portanto, com o sentimento de pertencimento e identifi-

e brilhar...”. À vista disso, Linn da quebrada que se define como

cação conseguimos nos aceitar, criamos uma rede de aco-

uma mulher travesti, performa sua vida através das músicas

lhimento e uma imagem estética que permite transmi-

que canta sobre transfobia, objetificação do corpo feminino e

tir o que quiser e a indumentária é responsável por isso.

o ser feminino. Através de artistas como ela, pessoas afemi-

A moda para pessoas LGBTQIAP+ está direta-

nadas têm maior visibilidade e aceitação diante a sociedade.

mente ligada ao processo de aceitação, a roupa é iden-

Recentemente Lina participou do reality show mais

titária, quando aprendemos que “existe roupa femini-

conhecido do Brasil, o Big Brother Brasil, uma mulher tra-

na e roupa masculina”, e questionamos o desejo de usar

vesti sendo apresentada para milhões de brasileiros, con-

o que seria destinado as garotas é onde entendemos o

tando

acontecimen-

sentimento de pertencimento que a roupa pode nos

to foi marcante para a representatividade que ela carrega.

agregar e como é possível usá-la como ferramenta de

A representatividade para pessoas LGBTQIAP+ é algo

autoaceitação, trazendo conforto estético através dela.

sua trajetória

e

suas dores.

Esse

de extrema importância, ocupar lugares que antigamente não eram permitidos como bares e restaurantes, além de outras problemáticas como não serem aceitos em vagas de emprego, por puro preconceito, circunstância que ocorre até hoje.1 Diante dessa perspectiva, a representatividade é algo fundamental, principalmente quando fala-se no combate a LGBTfobia e na inserção de LGBTQIAP+ na sociedade. Ser representado é sentir-se capaz, acolhido e seguro no ambiente que você estiver ocupando, artistas como Pabllo Vittar, a Drag Queen com mais seguidores no mundo, cerca de 12,6 milhões, e a primeira a se apresentar no Coachella carrega o fato de que uma pessoa LGBTQIAP+ pode ocupar o lugar que ela quiser. A representatividade é ganhar visibilidade na sociedade, é identificar-se com alguém semelhante.

1 Segundo o site: http://www.petprod.ufc.br/blog/blog_09_representatividade_lgbtq/, cerca de 90% das mulheres transexuais e travestis acabam sobrevivendo da prostituição, isso acontece pois muitas das vezes jovens LGBTQIA+ são expulsos de casa ainda na adolescência e tem que buscar emprego para sobreviver e consequentemente acabam deixando de lado os estudos, logo sem o apoio familiar e sem educação as opções se resume a vida nas ruas. Esta que carrega diversos riscos como a violência e a exposição a DSTs.


2.2 A moda como forma de combater a LGBTfobia e a afeminofobia.


A LGBTfobia é muita das vezes sintetizada pelo termo

LGBTQIAP+ e por ser feminino, acaba sofrendo a afemi-

homofobia, porém este ato é exclusivo, a LGBTfobia mostra a

nofobia. Como dito anteriormente, a moda ajuda no pro-

violência contra esse grupo 1, segundo Maria Berenice Dias,

cesso de autoaceitação para pessoas afeminadas e temos

Presidente da Comissão da Diversidade Sexual do conselho

ela como aliada no combate a LGBTfobia e a afeminofobia.

Federal da OAB assegura que: “Homofobia é o ato ou mani-

Ser uma pessoa afeminada é um ato de resistência.

festação de ódio ou rejeição a homossexuais, lésbicas, bis-

Ao estabelecer uma rememoração do passado, o Brasil em

sexuais, travestis e transexuais”. Ao relacionar com o tema

1964 sofreu um golpe militar que derrubou o governo do

em questão, temos um recorte dentro desta pauta que é a

presidente João Goulart e as forças armadas assumiram

afeminofobia. Segundo o jornal El PAÍS, no texto publicado:

o controle do país. Em 13 de dezembro de 1968 foi decretado o Ato institucional N.5, que concedia aos militares

A afeminofobia, o desprezo por aque-

poder totalitário à liberdade dos civis, concomitantemente

las pessoas que saem de seus papéis

surge o grupo DZI Croquettes em que era considerado

de gênero. Ou seja, contra os homens

revolucionário e anarquista, estando a frente do seu tem-

afeminados e as mulheres masculinas,

po. O grupo criticava as instituições com muito humor,

é a prova definitiva que confirma que

no filme DZI croquettes, (min 9:43), artistas como Ney

os homossexuais não são tão respei-

Matogrosso, Gilberto Gil e Betty Faria falam sobre o gru-

tados como se acredita, uma vez que

po: “Foi uma explosão de novo, de moderno, a coisa do

contém uma regra nunca dita, mas in-

andrógino. - Eram lindos, eram homens peludos, barbas

teriorizada por muitos: você pode ser

e não queriam ser mulheres. – Você via homens cheios

gay ou lésbica, mas sem dar bandeira.

de pelo, pisavam duros, vestidos de mulher uma sexu-

Uma regra seguida não só por mem-

alidade núbia, mexiam com a sexualidade das pessoas.”

bros do mundo hétero, mas também

A roupa agregava o feminino, eram engraçados, sexys.

por alguns do universo homossexual,

A partir da análise do filme, pode-se entender como

que ainda estigmatizam seus camara-

o corpo e a roupa podem gerar mudanças, DZI instigava

das menos discretos. (El País, 2017).

uma revolução sexual, era um grupo de 13 homens peludos que usavam maquiagens com muito brilho e car-

A

comunidade

LGBTQIAP+,

principalmente

o

G

regavam uma estética através do corpo e da roupa, com

(gays), conta com diversos aplicativos como: Grindr, Tin-

uma linguagem de cabaré, inspirado no carnaval cario-

der, Hornet,

que deveriam proporcionar a integração e a

ca, o feminino se misturava com o masculino e é claro

socialização dos pertencentes a esse grupo. Porém quan-

que gerou um desconforto aos que desejavam a ‘caretice’.

do tratamos de pessoas afeminadas é diferente. Segundo a dissertação “Não sou nem curto afeminados: Reflexões viadas acerca da masculinidade hegemônica e da efeminofobia no Grindr” de Mahamoud Baydoun ao programa de Pós- Graduação em psicologia, “os aplicativos não exercem essa função inclusiva para tais indivíduos, ficando explícito em várias situações a exclusão violenta de gays afeminados ou que performam feminilidade...”. Portanto através desses textos, desvela-se que as relações sociais e afetivas para pessoas afeminadas são muito difíceis, ocorre uma discriminação fora e dentro da própria comunidade, inferiorizando essas pessoas por serem fora dos padrões impostos. Sendo assim, a pessoa afeminada é duplamente discriminada, geralmente por ser uma pessoa

1 Segundo o site: https://www.fundobrasil.org.br/blog/a-lgbtfobia-no-brasil-os-numeros-a-violencia-e-a-criminalizacao/, “ Cerca de 20 milhões de brasileiras e brasileiros (10% da população), se identificam como pessoas LGBTQIA+, de acordo com a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT). Cerca de 92,5% dessas pessoas relataram o aumento da violência contra a população LGBTQIA+, segundo pesquisa da organização de mídia Gênero e Número, com o apoio da Fundação Ford. “. Essa pesquisa foi realizada em 2018, quando o atual presidente com falas homofóbicas e racistas foi eleito.


Figura 2: DZI Croquettes, 13 homens vestidos de mulher para cantar e dançar nos palcos. Fonte:http://redeglobo.globo.com/globoteatro/bis/noticia/2013/09/com-irreverencia-dzi-croquettes-marcou-cultura-brasileira.html

Ao mesmo tempo DZI, contribuiu com uma revolu-

Erika mostra como a noite é um refúgio para

ção estética, a era da purpurina, ao trazer essa perspectiva

as pessoas LGBTQIAP+ e até para os que não fazem

para o presente, a roupa é ferramenta para que o corpo re-

parte dessa comunidade. Ainda no livro Babado For-

volucione, o feminino se fazendo através de um homem de

te, ela faz menção a diversos casos em que a roupa

tanga e purpurina, o corpo masculino com trejeitos e tra-

foi motivo de alarde e inovação, o estilo da noite

jes femininos. Assim percebe-se que não muito diferente de

era chamado de montação 1, a noite era compos-

1970, vive-se uma ditadura velada, e a moda, a roupa, ser-

ta por diversas figuras que influenciavam a moda,

vindo como fonte de expressão é e sempre será aliada no

um deles era Eloy W., promoter da balada Nation,

processo de luta contra esse tipo de política suja e violenta,

ele usava boás de pena, paetês, plataformas, tudo

assim como foi no passado, é no presente e será no futuro.

que pudesse chamar atenção e ser glamouroso.

2.3 Moda, poder e influência dentro da comunidade LGBTQIAP+ na cena noturna paulistana dos anos 90. Através de vivências pessoais e dos depoimentos do livro, Babado Forte, da escritora ERIKA PALOMINO, entende-se que o ambiente noturno, tem papel fundamental na vida de uma pessoa LGBTQIAP+, o ato de se arrumar da forma como quiser podendo ousar, esse é o poder da noite para a comunidade. No livro Babado Forte discorre sobre a temática e evidencia fatos que ocorreram nos anos 90 na noite paulistana: É que sob um segundo olhar, esse demi-monde noturno imita o que podemos chamar de ‘a vida real ‘. A saber em março de 1990, a posse de Fernando Collor simbolizava

descontentamento,

mas

no fundo havia uma ponta de esperança. Como se diz na noite, é melhor “se jogar”. Combinava com aqueles tempos cair na gandaia, cair no hedonismo escapista dos clubes … (PALOMINO, 1999, p.12). 1 Montação era uma gíria usada pelas travestis, em que montada é a pessoa que se veste de mulher. Porém o termo é generalizado para a vestimenta clubber em si, quando a montação passa a ser um modo de vestir-se mais extravagante


Figura 3: Selma Self-Service, aka Edu Corelli, tocando na festa de despedida da promoter Bebete Indarte, representa um pouco do estilo montação. Fonte:https://musicnonstop.uol.com.br/dj-modelo-host-genio-do-pajuba-o-multiclubber-johnny-luxo-e-o-chefe-da-gangue-das-lyndas-conheca/

Em 1995 havia uma androginia, teatralidade e glamour no modo de se vestir. Uma das principais representações estéticas desse momento é Johnny Luxo, que aparece na Nation.

Figura 4:Johnny Luxo, figura marcante na noite paulistana e no estilo da noite. Fonte:https://musicnonstop.uol.com.br/dj-modelo-host-genio-do-pajuba-o-multiclubber-johnny-luxo-e-o-chefe-da-gangue-das-lyndas-conheca/

Jhonny no livro, Babado Forte, (1999, p. 221), diz que:

as casas noturnas LGBTQIAP+. Através dos filmes

“Gosto de coisas de mulher e de coisas esquisitas”. O retrô

percebe-se que as boates antigamente tinham um

na estética daquele período era muito marcante, lamê, pe-

ar de sofisticação, ao passar do tempo essa sofisti-

rucas, cílios postiços, calças boca-de-sino e hot-pants eram

cação foi virando uma ferveção que permanece até

alguns itens que faziam parte do armário de todo clubber.

hoje. A sociedade ganha mais noção social e política

A moda foi responsável por marcar a noite, nos

e esse comportamento é refletido nas boates, com di-

filmes documentais de Lufe Steffen, A Volta da Pauli-

versas festas para pessoas gays, pretas e periféricas.

ceia Desvairada e São Paulo em Hi-fi que expõe a noi-

Sendo assim, moda, noite e militância se transfor-

te paulista no passado e no presente pode-se ver como

mam em uma única coisa, ser LGBTQIAP+ é fazer da sua

a roupa é singular para cada grupo, o sentimento de

existência ativismo e através disso ocupar espaços, telas,

pertencimento ao seu semelhante graças a indumen-

palcos, assim como Johnny faz da roupa sua aliada, DZI

tária é como a moda potencializa o poder da noite.

Croquettes a usam para performar as pessoas afeminadas

Os filmes citados acima se passam na Augusta, cen-

e como forma de combate a todo preconceito e opressão.

tro da badalação paulista LGBTQIAP+. A Rua Augusta era e é um ambiente onde as pessoas se sentem acolhidas e seguras, ela faz parte da vida destas pessoas.No ano de 1971 é inaugurada a Medieval, considerada pioneira entre




3.SCANDALOUS Scandalous é uma coleção que precisa ser vivida ao qual agregou-se diversas referências; buscou reviver a experiência de sair após a pandemia da COVID-19, onde foi possível refletir e analisar o poder do ambiente noturno. Através dessa pesquisa geográfica e experimental, foi decidido o tema do projeto: A MODA COMO FERRAMENTA DE AUTOACEITAÇÃO PARA PESSOAS AFEMINADAS DENTRO DA CENA GAY NOTURNA PAULISTANA. Durante a pesquisa pelas casas noturnas, pude conhecer Johnny Luxo figura muito importante na noite paulista nos anos 90 até hoje. Em uma conversa com ele pude compreender qual era a visão das pessoas em relação ao Johnny naquela época, ao qual se vestia de forma diferente dos outros, usando plataformas enormes e peças chamativas com muito brilho que era sua marca registrada. Johnny atua como DJ na noite e ficou conhecido por seus looks escandalosos. A coleção ganha forma através das referências visuais e das pesquisas realizadas. Ao se tratar de pessoas afeminadas, coube a ideia de buscar animais que possuem relações homoafetivas de forma natural e através desse viés, a pesquisa foi-se ramificando, algumas das inspirações principais para este projeto são: Dzi Croquettes, Animais com relações homoafetivas ( pato-real, elefante, bisão-americano, penguim, girafa e leão), noite paulistana ( tema no qual o livro Babado Forte de Erika Palomino pode contribuir profundamente) e o ser afeminado. Scandalous é um projeto de autoaceitação, resistência e autoestima, onde a moda serve como instrumento de expressão.



3.1 PROCESSO CRIATIVO O processo criativo se inicia com o ato de criar, que é o ato de formar algo, o poder de dar forma a algo. Segundo Fayga Ostrower em Criatividade e Processos de criação: O ato criador abrange, portanto a capacidade de compreender; e esta, por sua vez, a de relacionar, ordenar, configurar, significar. (Ostrower, 2008, PG.9) Diante tal perspectiva, desvela-se que o homem é um ser que relaciona e forma, sente e logo agi e assim tem-se algo, o ser humano se relaciona e da formas as texturas, cheiros e sensações, a fim de compreende-los. Sendo assim o homem cria pois existe uma necessidade de respostas, a fim de crescer quanto ser, dando forma e ordenando. O processo de criação surge da intuição, ao começar um projeto, o mesmo apresenta diversos caminhos ( configurações) a serem seguidos e é a intuição que ordena este processo, o qual ganha consciência na medida que são realizados. Diante um projeto de moda é necessário estabelecer uma narrativa, um tema ou uma inspiração, para o desenvolvimento do mesmo a narrativa que se encontra presente é a luta das pessoas afeminadas diante a sociedade que exalta a masculinidade. A história qual serve de inspiração é de uma pessoa que está se descobrindo quanto um ser afeminado, e o processo da descoberta, da revelação é cercado de medos e incertezas; quando a pessoa está exposta verdadeiramente, se sente vulnerável e é assim que as pessoas afeminadas se sentem. Entendendo esse mix de sentimentos e tendo a vulnerabilidade como expoente deles é necessário criar uma força, uma armadura para enfrentar qualquer tipo de preconceito e perigo, e é assim que surge Scandalous.

A elaboração da coleção começa com um pequeno mapa mental, a fim de refinar as ideias, após esse primeiro estudo é realizado um moodboard de referências, onde é inserido uma primeira ideia de ambiente, público-alvo, textura e formas. A partir desses estudos o projeto vai ganhando forma e uma linearidade, ademais como a pesquisa teórica ocorreu paralelamente a criação do projeto, foram agregadas algumas referências, sendo assim o processo de criar moodboards foi constante, até chegar em um onde se sintetiza as principais referências do projeto. Scandalous antes da pré-banca realizada em junho, era uma coleção mais rasa técnicamente, dando maior ênfase ao conceito em si, com o direcionamento proposto, a coleção ganhou mais técnica sem perder a força conceitual que carrega. Para tal mudança, houve um resgate a filmes e documentários que inspiram o projeto, como: Bixa Travesty que conta a história de Lina Pereira conhecida como Linn da quebrada e traz diversas reflexões sobre o ser feminino, A volta da Paulicéia desvairada e São Paulo em hi-fi que mostram um pouco da noite paulistana nos anos 80/90 e atualmente e Dzi Croquettes, filme que conta a história do grupo que quebrou as barreiras da ditadura no Brasil dos anos 70. Através dessas referências partiu-se para o abstrato, onde foram criados diversas silhuetas feitas em nanquim1 a fim de explorar as formas que poderiam ser experimentadas diante a mancha feita no papel. Diante as primeiras manchas foram feitos esboços os mesmos deram inicio a novos esboços que foram gerando bons resultados, o exercício para criação foi escolhido pois na noite existe o momento onde só existem silhuetas se mexendo e preenchendo o ambiente, onde a escuridão preenche o ambiente e os seres ali.

1Exercício proposto pelo professor João Novelli na matéria de desenho de observação no primeiro ano de graduação


3.2 MAPA MENTAL E MOODBOARDS O primeiro item criado para desenvolver a coleção foi o mapa-mental, nele pude colocar todas ideias e temas que se interligavam a minha palavra chave que para criar o mapa era Comunidade LGBTQIAP+, o mapa possibilitou uma maior visão diante o tema e ajudou a chegar na definição dele. O mood criado inicialmente foi um reflexo do mapa mental, onde naveguei pelos ambientes de estudo, personalidades que fazem parte da história do movimento além de filmes e qualquer forma de arte que pudesse contribuir visualmente para o seguinte projeto. Através deste mood pude me nortear para o desenvolvimento da pesquisa, tendo como principal fonte de conhecimento o livro Babado forte de Erika Palomino, Através do moodboard inicial a coleção ganha suas primeiras formas e referências, estás que também auxiliaram no processo de pesquisa teórica. O segundo moodboard foi onde inseri todas informações e referências imagéticas do meu tema,o mesmo ganhou proporções além do caderno, nele pude experimentar o mix da estética que busquei para a coleção, o mesmo possui todas referências: pessoas afeminadas, animais com relações homo afetivas, artistas que são afeminades e que discutem sobre isso, a cena gay noturna, ativistas e grupos de ativismo e filmes/documentários, através desse mood identifiquei o que gostaria de passar com a construção da coleção através das colagens e sobreposições. Por fim o moodboard final foi uma sintese de todos os itens citados acima, nele foi realizado um mix de todas as ideias para realização do projeto, os seres viraram hibridos , com a cena gay noturna de fundo e animais sobrepostos nos rostos das pessoas.


Mapa mental construido para organização das ideias e definição do tema do projeto. A contrução do mesmo partiu da referência: Comunidade LGBTQIA+, que deu origem a temas como a, cena LGBT noturna, relações homoafetivas na natureza, autoaceitação, tendo esses itens, pude definir o tema do projeto e desenvolver os moodboards seguintes.

Primeiro moodboard criado com os principais pontos de partida para o desenvolimento da coleção como os filmes citados ao lado, artistas como Pablo Vittar, Glória Groove a ativista Marsha P. Johnson, a Rua Augusta e suas baladas.

Primeiro mood com referências texteis, texturas e padrões.


Segundo moodboard criado partindo das referências do mapa mental e do primeiro mood criado, neste há um maior direcionamento do que será a coleção, no mesmo contém um pouco da estética que foi atribuida, esse mix de ambiente noturno selvagem, com a força que se há na revolta contra a agressão a nossos semelhantes e o caráter performático da coleção.




3.3 CORES, MATERIAIS E MAQUETES As cores tem papel muito importante dentro da comunicação visual do presente projeto, pelo fato das cores transmitirem ideias e emoções, podendo captar a atenção do público de forma forte e direta. Se tratando de um projeto que tem como referência pessoas afeminadas, suas lutas e formas de lidar com elas, como a moda, buscou-se trazer cores que projetassem essa estética, impulsionando a compreensão do projeto. Para Goethe, de acordo com Barros em: A cor no processo criativo 2007.p297, “O orgão visual torna-se um agente principal para percepção da cor e de como ela se manifesta na natureza, assim como a cor se expressa em uma composição”. Diante essa fala, desvela-se que durante a contrução de cada look e do todo, foi necessário planejar qual cor seria usada e a proporção qe a mesma seria apresentada . As cores da coleção forma extraídas dos moodboards realizados, ademais todas a cores possuem luminosidade alta, uma certa vibração, outro fator que influênciou na escolha das cores, foi a busca por uma cartela colorida, acolhedora e divertida, sem ser alegórica.


Após os desenhos da coleção, era o momento de buscar os materias que melhor representariam a coleção, foram escolhidos tecidos elegantes e brilhosos, a fim de trazer maior glamour a coleção, alguns dos tecidos usados foram: crepe, brim e tule. Como a coleção possui grandes formas e volumes principalmente na região das mangas, foi necessário usar materiais que dessem maior sustentação as peças.

As maquetes foram criadas a fim de dar textura aos tules que serão aplicados. Além das maquetes feitas através da costura, a coleção conta com estampas e plissados. A coleçãocontou com diversas maquetes que fizeram parte do processo criativo, para visualização completa Anexo II.

Maquete feita em tule de poliamida, foram feitas três costuras retas com calcador de franzir.

Maquete feita com tule de poliéster, foi amarrado cordões por um rolo de tule depois foi cortado, assim dando a forma de flores.


3.4 ESTUDO DE FORMAS E VOLUMES Os estudos foram essências para o desenvolvimento da coleção pois a coleção surge do resgate a estes processos, foram usadas duas metodologias, a primeira foi através do estudo de formas, onde uma peça de roupa ganhava novas formas e recortes, através de mudanças físicas (cortes) e manuseio do tecido (amarração, torção...). Esses experimentos foram fotografados e redesenhados, nele foi possível extrair caimentos interessantes, recortes e explorar a criatividade através de uma “moulage”com peças prontas, o segundo exercício que impulsionou o desenvolvimento foi a criação através das manchas de nanquim, a silhueta preta possibilita a mente de criar qualquer coisa, a mancha fez resgatea cena da balada quando só vemos um corpo dançando, assim pude me nortear por essa ideia, onde as roupas foram ganhando formas diversas e através das formas iniciais foram criadas novas formas que geraram um impulso criativo. Diante os primeiros esboços realizados, o redesenho seriado foi utilizado para definir melhor a criação da coleção,pensando em texturas, tecidos, volumes e conceito. Ao criar as silhuetas não há o intuito de definir nada, somente se deixa levar pelos movimentos do pincel preenchendo um espaço, exercício difícil para mentes que buscam o figurativo em tudo, com a definição das silhuetas buscou-se olhar para o moodboard, a fim de incorporar a estética selvagem presente no projeto, a silhueta por suas proporções pode me dar abertura para desenvolver volumes interessantes. Portanto, foi através do desenho em nanquim, da mancha criada, da silhueta noturna que surge os primeiros esboços da coleção, que foram redesenhados e assim pude definir os looks finais.


Para visualização completa dos estudos AnexoI- Estudos de criação

Redesenho feito a partir do exercício de moulage e styling com uma peça pronta. Para visualização completa do estudo conferir ANEXO III.


3.5 PÚBLICO-ALVO O Público-alvo da coleção foi definido através das pesquisas teóricas, diante os filmes assistidos e livros que deram rumo ao tema, foi definido que SCANDALOUS, é feita para todas pessoas, apesar de existir a persona ativista, ousada, que busca o ineditismo, está que não se define como homem ou mulher , apenas entende que deve ser e se sentir da melhro forma sendo o que é naquele momento. SCANDALOUS entende a necessidade de um Ser, ser múltiplo, as pessoas não estão cabendo nos padrões estabelecidos pela sociede, está que parece estagnada diante o constante processo de evolução



3.6 ESBOÇOS, CABEÇAS DE ASSINATURA E CORPOS QUE VESTEM O desenvolvimento do projeto conta com uma parte visual completa, isso incluia uma assinatura de cabeça própria, a fim de trazer mais personalidade a coleção. Para as cabeças de assinatura, utilizei a mesma linha do desenvolvimento das ilustrações, onde os animais se misturam com corpos humanos. Os corpos para aplicação das roupas foram 4 no total um corpo masculino, feminino, feminino plus e um corpo trans, busquei ter uma diversidade nos desenhos para aplicar a roupa a fim de entender como seria no corpo real.

Esses foram definidos como oficiais, o objetivo de ter feito 3 cabeças era para poder dar uma diversificada no visual da coleção, como no line. Porém a cabeça mais utilizada foi a do pato com calcinha na cabeça e afro puff ( penteado)


Corpo feminino magro, feminino plus e masculino, não consegui uma modelo trans para o desfile portanto não coube manter o desenho aqui projetado.


3.7 ESTAMPAS E BORDADOS As estampas foram criadas através da padronagem das girafas, para elas foi aderido uma variedade de hachuras para que refletisse a caoticidade da noite paulistana e a diversidade, as mesmas foram feitas em sublimação em tecido 100% poliéster. A príncipio foram feitos alguns testes em diferentes tecidos para ver como saíria a cor final, além disso foram testados dois tamanhos de rapport, um 32x26cm e outro de 16x13 cm. No final os testes foram positivos e aproveitados para o desenvolvimento da coleção. A figura a cima a direita representa a estmpa ja veotrizada e a imagem abaixo, é o primeiro esboço feito.


Para a coleção foram criados paetês em forma de S, que surge pelo nome da coleção, eles serão bordados em algumas peças junto com cristais,a maioria será aplicada em golas e pequenos recortes das peças, para dar um glamour a mais nas mesmas.


3.8 ILUSTRAÇÕES


As ilustrações foram fundamentais para o processo, foi onde pude criar o ser que vestiria minhas peças, um ser híbrido, sexy, fantasioso e delicado, uma espécie de “bixo bicha”. Foi escolhida a técnica de aguada para pintar pois poderia fazer as manchas que representa as girafas. Foram elaboradas 4 ilustrações, a primeira é uma mistura de um ser humano sem genêro definido e o Pato Real que tem relações homoafetivas em sua natureza, para as outras ilustrações foi aderida a mesma estética.


A ilustração acima, foi feita com o intuito de representar a cabeça de assinatura. A mesma foi feita primeiramente com grafite e depois foi trabalhada a aguada de nanquim, as manchas feitas e texturas foram inseridas a fim de representar as manchas da girafa e fazer referência a estampa que carrega hachuras. Ela é um ser híbrido que mistura o humano, elefante, bisão e girafa, compondo essa “bixa bicho”.

Está ilustração representa o mix entre a girafa, o pato real e a mistura do feminino com o masculino.


Por fim, nesta ilustração há a referência ao pinguim, girafa e o bisão americano. Todas ilustrações partiram das cabeças de assinatura a fim de representar o ser que veste a roupa e que inspira a coleção, No livro Desenho de moda de John Hopkins o mesmo afirma que: O desenho continua sendo uma forma prática de gerar ou comunicar uma ideia, ele também deve permitir que sonhemos e imaginemos o que queremos compartilhar com o outro. (HOPKINS,P.160, 2011) As ilustrações partem desse pressuposto, de comunicar e de compartilhar uma informação, que no caso é a naturalidade do ser afeminado, do ser um bixo bicha, a Ilustração que é somente o rosto mais próximo, parecida com a última criada, faz mensão aos mesmos animais, ela foi criada como uma segunda opção/ zoom da última ilustração).


3.9 STYLING COM PROPOSTA

A proposta de stylig vem para auxiliar o entendimento da coleção, foram elaboradas orelhas de metal no formato da orelha das girafas, será usado redes de segurança com pedras bordadas fazendo referência as grades socias que prendem o ser afeminado, ademais será adotada uma estética andrógena,a fim de brincar com a fluidez do gênero e da expressão do mesmo. A beleza será análoga ao styling, como referência para ela trouxe o DZI Croquettes com olhos marcantes, brilho, uma mistura de feminino e masculino.


DE BELEZA E PRÉ CASTING Além disso, para conversar com a estética da cena gay noturna dos anos 80/90 os acessórios serão todos em metal: cobre, ouro e prata, a coleção conta com brincos de crochê em fio de cobre , assim como a bolsa que foi feita em latão e o trabalho de croche nas laterais.


Para a seleção do casting, busquei pessoas normais que fizessem parte da história que busco contar, pessoas que estão engajadas com a causa LGBTQIA+, como SCANDALOUS se trata de um projeto para todes, não quis estreirar o casting somente em pessoas afeminadas. No shooting realizado, haverá uma maquiagem que ascenda o caráter andrógeno presente no projeto.



3.10 COLEÇÃO A coleção foi criado com a narrativa de uma pessoa afeminada que está se descobrindo e se revelando, passando pelo processo de metamorfose, Scandalous possui peças com elementos de revelação como, tule estampado que sai da peça, tule coberto por zíperes entre outros, a fim de expor essa ideia do sair do armário, de se expor e lutar contra todo tipo de discriminação. Para cada look existe um animal como principal inspiração, ademais cada look ganha o nome de uma balada gay dos anos 80/90. Look1: Medieval O primeiro look é inspirado no bisão americano, o mesmo é composto por um macacão preto com ombros que remetem aos chifres do bisão. Para o look também foi feito um adorno em latão que é um paetê gigante que será colocado na frente do peito,fazendo alusão a uma armadura,como se a pessoa estivesse se preparando para se revelar. O look carrega uma tela de proteção que será pendurada no ombro, bordada com cristais, a mesma faz referência a tudo que aprisiona uma pessoa afeminada e a impede de ser quem realmente é. Look 2: Nostro Mundo Para este look também foi incorporado formas que lembram o bisão, as patas largas por conta do pelo e os ombro altos também deram signifcado a este look, o mesmo carrega a estampa criada para a coleção inspirada nas manchas da girafa. Aqui é onde a pessoa afeminada começa a se encontrar, onde a revelação começa a acontecer, compondo o look temos: mangas bufantes com uma leve lamina de tecido partindo de um top justo que é cortado sobre o busto e a calça de cintura alta com volume aplicado na diagonal contendo duas alturas.


3.10.1

3.10.2


Look 3: Homo Sapiens Ainda tendo como principal referência o bisão americano, o look é composto por um macacão com corset em forma do animal, o desenho é feito com vivo emborrachado, o look apresenta mangas (asas) que servirão como elemento revelador, as mesmas serão estampadas e plissadas.

Look 4: Madame Satã O quarto look trás como elemento principal a orelha do elefante, a forma será inserida na manga que vem do busto e segue fazendo o desenho, para compor o look será feito um casaco fofo com os ombros abertos para que a manga possa passar, o look é o ápice de estampa e cores da coleção.


3.10.3

3.10.4


Look 5: CORINTHO O quinto look trás também o caráter revelativo, através de zíperes que cobrem uma camada interna de tule estampado, ademais o look possue asas, resgatando a ideia do processo da metamorfose e libertação, para tal look foi usada a girafa como referência pensando nas estampas e na longelinearidade do look e o espetáculo apresentado no filme do Dzi croquettes, onde eles falavam sobre a metamorfose com asas enormes de borboletas.

Look 6: NATION O look final é o ser afeminado em sua completa efervescência, tendo o elefante como fonte inspiradora e o grupo Dzi Croquettes, a blusa possue mangas que remetem a orelha do elefante com uma leve característica de borboleta, o look é drámatico e volumoso, apresenta babados, bordado e estampa localizada nas costas.


3.10.5

3.10.6


3.11 LINE- UP

O line-up foi criado através desses seres metamorfos, uma mistura de bixo bicha, eles possuem pernas e orelhas de girafa e bicos de pato em sua maioria, foi utilizado linhas para trazer um jogo de profunidade assim como as sombras atrás dos looks. Todos desenhos foram feitos manualmente, pintados com caneta a base de álcool e lápis de cor, depois escaneados onde pude aplicar a estampa e melhorar as cores e sombras de cada look através da manipulação digital.



3.12 PRANCHAS DE CRIAÇÃO As pranchas de criação consistem em: desenho feito sobre o corpos reais, para enxergar como a roupa funciona no mesmo, variação cromática, mini moodboard de referências e desenho técnico com expecificações técnicas como tecidos usados, aviamentos e o pensamento da construção das peças. Abaixo segue as pranchas:



4. CONSIDERAÇÕES FINAIS A monografia apresentada foi motivada a partir da reflexão diante da vivência e da revolta com as injustiças e o preconceitos que as pessoas afeminadas sofrem, a exclusão social e a marginalização deles. Além de ser relevante para que essas pessoas se sintam representadas através dessa pesquisa. Ademais, no decorrer da minha trajetória acadêmica, pautei meus trabalhos em cima da comunidade LGBTQIAP+, buscando externalizar todas as sensações vivenciadas por uma pessoa afeminada. Assim, Scandalous mostra como a moda foi ferramenta para o meu processo de aceitação, analisando perspectivas de outros pensadores em conexão com a noite paulistana. Segundo Natalie Catuogno para o jornal Estadão em março de 2021, o mercado tem recebido melhor a moda no-gender alavancando pequenas marcas, porém, a falta de engajamento e o desespero social diante do atual governo, causam sentimentos diversos. A ânsia por mudança cria um cenário onde este projeto é importante, pois dialoga com questões que estão em constante debate e que afetam uma minoria potente. Scandalous, evidência o poder da roupa no ativismo e no processo de autoaceitação, o presente projeto é um chamado à resistência, esta que será vestida com muito brilho e extravagância.


5. REFERÊNCIAS 5.1 Livros

5.3 Textos e artigos

BAYDOUN, Mahmound. Não sou nem curto afeminados: Reflexões viadas sobre a efeminofobia nos apps de pegação. 1 Edição. Editora, Devires, 2021

ESKRIDGE, William. CASE FOR SAME SEX MARRIAGE: From Sexual Liberty to Civilized Commitment Hardcover. USA. Free Press, 1996.

NONATO, Murillo. Vivências Afeminadas: Pensando corpos, gêneros e sexualidades dissidentes. São Paulo. Editora, Devires, 2020. FARO, Julio Pinheiro. Uma nota sobre a homossexualidade na história. Rev. Subj., Fortaleza , v. 15, n. PALOMINO, Erika. Babado Forte: moda, música e noite. 1, p. 124-129, abr. 2015. Disponível em: <http:// São Paulo. Editora, Mandarim, 1999. pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&piPAZMINO, Ana. Como se cria: 40 métodos para design d=S2359-07692015000100014&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 27 mai. 2022. de produtos. São Paulo. Editora, Blucher, 2015.

GREEN, James; QUINALHA, Renan; CAETANO, Marcio; FERNANDES, Marisa. História do movimento LGBT NO BRASIL. 1 edição. São Paulo. Alameda, 2018.

QUINALHA, Renan. Contra a moral e os bons costumes: A ditadura e a repressão à comunidade LGBT. São Paulo. Editora, Companhia das Letras, 2021. SILVÉRIO, João. Devassos no Paraíso: A homossexualidade no Brasil da colônia à atualidade. 4° Edição. Rio de Janeiro. Editora, Objetiva, 2018. OSTROWER, Fayga. Criatividade e Processo de Criação. 23 edição. Petrópolis, Vozes, 2008. BARROS, Lilian Ried Miller. A Cor no Processo Criativo - Um Estudo Sobre a Bauhaus e a Teoria de Goethe. 2.edição. São Paulo: Senac, 2007. HOPKINS, John. Desenho de moda; tradução: Mariana Bandarra. Porto Alegre. Bookman, 2011. JONES, Sue Jenkyn, Manual do estilista, Tradução: Iara Biderman. São Paulo: Cosac NAIFY, 2005. 5.2 Videografia A VOLTA DA PAULICEIA DESVAIRADA. Direção: Lufe Steffen. Produção de Lufe Steffen. Brasil, São-Paulo.2012. Internet. BIXA TRAVESTI. Direção: Kiko Goifman e Claudia Priscilla. Produção de Canal Brasil, Paleotv, Válcula Produções, Brasil. 2019. Globoplay. DZI CROQUETTES. Direção de Tatiana Issa e Raphael Alvarez. Produção de Tria Productions. Brasil. 2009. Disponível em: <https://filmelgbt.com/movies/dzi-croquettes-lancado-em-2009/>Acesso em: 29 mai,22

5.4 Web grafia A AUTOACEITAÇÃO DA HOMOSSEXUALIDADE A PARTIR DE UM CASO REAL. Disponível em:<https://meuartigo.brasilescola. uol.com.br/atualidades/a-autoaceitacao-homossexualidade-partir-um-caso-real.htm>Acesso em: 29 mai,22 ABUNDANCIA,Rita, ‘Afeminofobia’: o desafio de ser autêntico em um mundo que cultua o macho. O coletivo homossexual ainda tem que lidar com uma regra nunca dita: você pode ser gay ou lésbica mas sem dar bandeira. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2017/06/28/estilo/1498676098_711307.html>Acesso em: 29 mai,22 Bis!: Dzi Croquettes marcou a cultura brasileira com irreverência Grupo saiu dos padrões da época para contestar a sociedade. Disponível em: <http://redeglobo.globo.com/globoteatro/bis/noticia/2013/09/ com-irreverencia-dzi-croquettes-marcou-cultura-brasileira. html> Acesso em: 29 mai,22 Brasil é o país que mais mata LGBTs no mundo: 1 a cada 19 horas. Disponível em: <https://catracalivre.com.br/cidadania/brasil-mais-mata-lgbts-1-cada-19-horas/#:~:text=Brasil%20 é%20o%20pa%C3%ADs%20que%20mais%20mata%20LGBTs,uma%20v%C3%ADtima%20da%20violência%20contra%20 a%20população%20LGBT>Acesso em: 28 mai,22 CARVALHO, Diana. Qual a importância do jornal O Lampião da esquina para a comunidade LGBTQIA+. Disponível em: <https://www.uol.com.br/ecoa/amp-stories/lampiao-da-esquina/>Acesso em: 28 mai,22 DJ, modelo, host, gênio do pajubá: o multiclubber Johnny Luxo é o chefe da gangue das lyndas, conheça. Disponível em: <https://musicnonstop.uol.com.br/dj-modelo-host-genio-do-pajuba-o-multiclubber-johnny-luxo-e-o-chefe-da-gangue-das-lyndas-conheca/>Acesso em: 29 mai,22

PARIS IS BURNING. Direção: Jennie Livingston. Produção de Academy Entertainment; Off White Productions. Estados Unidos. Miramax. 1991.Netflix POSE. Direção: Ryan Murphy; Brad Falchuk e Steven Canals. Produção de Janet Mock; Our Lady; Lou Eyrich e FERNANDES, Naiarlisson, A importância da representatividade Erica Kay. Estados Unidos: 20th Television ( T,1-2) DisneyLGBTQ+ na atualidade. Disponível em: ABC Domestic Television (T.3).2018 - 2021.Netflix <http://www.petprod.ufc.br/blog/blog_09_representatividade_lgbtq/>Acesso em: 29 mai,22 SÃO PAULO EM HI-FI. Direção: Lufe Steffen. Produção de Cigano filmes. Brasil, São Paulo. 2013. Youtube TATUAGEM. Direção: Hilton Lacerda. Produção de Rec produtores. Brasil, Recife. Imovision. 2013. Netflix.


KHNUMHOTEP E NIANKHKHNUM: O PRIMEIRO CASAL HOMOSSEXUAL DA HISTÓRIA? Os dois homens do Egito Antigo foram enterrados juntos e, em sua tumba, foram representados abraçados, de mãos dadas e, ainda, encostando seus narizes. Disponível em: <https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/khnumhotep-and-niankhkhnum-o-primeiro-casal-homossexual-da-historia.phtml>Acesso em: 29 mai,22 LGBTQIAP+: Você sabe o que essa sigla significa?. Disponível em: <https://www.trt4.jus.br/portais/trt4/modulos/ noticias/465934#:~:text=Como%20a%20representatividade%20dos%20homens,passou%2Dse%20%C3%A0%20 denomina%C3%A7%C3%A3o%20LGBTQIAP%2B. > Acesso em: 16 mai, 22 Movimento LGBT: o que é, história e muito mais!. Disponível em: <https://www.stoodi.com.br/blog/atualidades/ movimento-lgbt-o-que-e/#:~:text=O%20Movimento%20 LGBT%20brasileiro%20nasceu,amadurecimento%20do%20 movimento%20no%20Brasil.> Acesso em: 06 mar, 22 ‘Não tem ninguém antes de mim’: conheça Miss Biá, drag pioneira com 57 anos de carreira. Disponível em: <https:// g1.globo.com/pop-arte/noticia/nao-tem-ninguem-antes-de-mim-conheca-miss-bia-drag-pioneira-com-57-anos-de-carreira.ghtml>Acesso em: 28 mai,22 O que é afeminado, dicionário. Disponível em: <https:// oquee.space/dicionario/afeminado/#:~:text=Etimologia%20%28 origem%20da%20 palavra%20 afeminado%29.,Part.%20de%20 afeminar.%20Termo%20Relacionado%3A> Acesso em: 06 mar, 22. Orientação sexual e identidade de gênero. Disponível em: <https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/orientacao-sexual.htm>Acesso em: 28 mai,22 Origem da palavra Afeminado. Disponível em: <https://origemdapalavra.com.br/palavras/afeminado/>Acesso em: 28 mai,22 Papéis de género: rosa para meninos e azul para meninas?. Disponível em: <https://www.psicoajuda.pt/psicologia-infantil/papeis-de-genero/>Acesso em: 28 mai,22. Quase 320 pessoas LGBTI+ morreram por causas violentas no Brasil em 2021, diz entidade. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/quase-320-pessoas-lgbti-morreram-no-brasil-em-2021-diz-entidade/>Acesso em: 28 mai,22 QUINALHA, Cid. História do movimento LGBT brasileiro. Globo. Disponível em: <https://gente.globo.com/a-historia-do-movimento-lgbt-brasileiro/>. Acesso em: 29 de maio de 2022. Significado da sigla LGBTQIA+. Disponível em: <https://www.fundobrasil.org.br/blog/o-que-significa-a-sigla-lgbtqia/> Acesso em: 06 mar, 22. Significado de Afeminado. Disponível em: <https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/ efeminado-afeminado/13065>Acesso em: 28 mai,22


ANEXOS Anexo I - Estudosde criação

Anexo III - Maquetes desenvolvidas como parte do processo de criação


Anexo II - Estudo de volumes, caimentos e tecidos.



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