E book Vozes Poéticas dos Morros Garapenses

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Vozes PoĂŠticas dos Morros

Garapenses Antologia dos Poetas da APA

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Vozes Poéticas dos Morros

Garapenses Antologia dos Poetas da APA

Francisco Carlos Machado Pesquisa, texto e organização

2014

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Foto da capa: Lagoa da Oleria, em Duque Bacelar. Premiada em 2011, em 2º lugar no concurso de fotografia “Conhecer para Preservar: um Olhar sobre as Unidades de Conservação do Maranhão”, de autoria de Francisco Carlos Machado; sendo a arte da capa de Daniel Saymon e revisão de Sammis Reachers.

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Não há dúvida que uma literatura, sobretudo uma literatura nascente, deve principalmente alimentarse dos assuntos que lhe oferece a sua região; mas não estabelecemos doutrinas tão absolutas que a empobreçam. O que se deve exigir do escritor, antes de tudo, é certo sentimento íntimo, que o torne homem do seu tempo e do seu país, ainda quando trate de assuntos, no tempo e no espaço. Machado de Assis

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Para Você que criou as nascentes, os riachos, lagos e rios. As muitas formas de árvores, gramíneas e arbustos do cerrado, caatinga e da floresta de palmáceas. O colorido e a beleza das folhas, das flores e dos frutos. Criou cada vivente que nada, rasteja, corre, pula e voa. Criastes os homens e as mulheres para juntos cuidarem com carinho e alegria de todos os seres vivos e inanimados da APA dos Morros Garapenses.

Aos ambientalistas dos Morros Garapenses que acreditaram e lutaram pelo sonho da APA e ainda lutam unidos para ele dar certo.

A Othelino Neto, que quando Secretário de Estado de Meio Ambiente do Maranhão, sonhou inicialmente conosco a criação da APA.

Para Washington Rio Branco, que sendo Secretário, apoiou a criação do Conselho da APA.

Ao Victor Mendes, Secretário de Estado de Meio Ambiente do Maranhão, que foi o primeiro dos secretários a visitar o sonho real da APA, e aprovar os recursos para a elaboração do Plano de Manejo da Unidade.

Para os amigos e funcionários da SEMA-MA: Clarisse Coelho, Eliane Alhadef, Inácio Amorim, Luis Jorge, Marina Barros, Laís Moraes, Raissa Azulay, Yassodhara Brandão, Shiley Leão e os demais que se envolveram na ideia do sonho, na comemoração dele realizado e continuam o trabalho da duradora construção deste sonho Morros Garapenses.

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Para Gilson Morais, líder que levantou a bandeira da APA em Coelho Neto, cuja dedicação o levou a ser o primeiro Secretário do CONAMG.

A todos os conselheiros do CONAMG - Conselho da APA dos Morros Garapenses, marco em Unidades de Conservação no Maranhão.

Para os familiares e amigos dos poetas garapenses aqui antologados, pelas colaborações com depoimentos, fotos e poemas. Aos meus pais e irmãs: Francisco Carnaúba, Dozinha, Rosilene e Edna Machado; aos amig@s: Aliandro Borges, Ivanice da Costa, Sammis Reachers, Daniel Souza, Elizabeth Faria, colaboradores em minha vida e na produção da antologia. Para Gínia Bontempo, Raquel Aroucha, Andréia Santos, da A Rocha Brasil, que vindas de Minas e São Paulo, nos ajudam a cuidar da APA.

Em memória do Governador Jackson Lago que assinou o Decreto criador da APA dos Morros Garapenses.

Em memória do professor Nonato Sampaio, um colaborador inicial.

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Sendo a poesia o sentimento de tudo que é belo no interior, no entorno e acima da existência dos seres humanos, torcemos para ela conseguir com sua força unir poetas e escritores da APA dos Morros Garapenses, e assim, unificados e organizados, venham contribuir com ações para a preservação e valorização das dignidades sociais e culturais da nossa humanidade regional, como dos ecossistemas naturais dessa Unidade de Conservação.

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Índice A Área de Proteção Ambiental dos Morros Garapenses .......................................................... 11 Participação cidadã na Unidade de Conservação ..................................................................... 14 Os Poetas Morros Garapenses ................................................................................................. 16 Antologia Vozes Poéticas dos Morros Garapenses .................................................................. 22 Poesia e Políticas Públicas na APA dos Morros Garapenses / Victor Mendes ......................... 24 Lili Lago ............................................................................................................................ 26 Buriti / Manhã da Minha Terra / Riacho do Morro Brincando de Garrote / Sonhei Contigo / Revendo o Passado Abraão Ribeiro .................................................................................................................. 33 Sobre o Amor / A Floresta Sofia Rocha ....................................................................................................................... 39 Saudade / A chegada do Meu Filho / Buriti / A Lágrima José Borges ....................................................................................................................... 46 Lágrimas de um Poeta / Encontro / A marca do Teu ódio / Separação Fatal Chico Cantador .................................................................................................................. 50 Paixão Escondida / Obrigado meu Deus Altair Martins .................................................................................................................... 56 Encontro/ Ternura / Solidão / Não Posso Esquecer João Cardoso ..................................................................................................................... 62 A Culpa foi toda dela / Paixão de Infância / Beber de Desgosto Bill de Jesus ....................................................................................................................... 67 Ventre Sacrossanto / Índio / Mal-de-Vina / A Minha História Lulu Rocha ......................................................................................................................... 75 A Triste Saga do Trabalhador / No meu Ermo / Sozinho / Desertificação Aliandro Borges ................................................................................................................. 80 Um amor quase perdido / Entre Tudo / Minha Vida / A Chuva Moacir Viana ..................................................................................................................... 84 Baião do Moacir / O Meu Verso / Seu Moço / Fatalidade Vilmar Machado ................................................................................................................ 90 Aos olhos de minha avó / O Coração / Angústia / Se perdoasse Chico Murici ...................................................................................................................... 95 Solidão Poética / Eu, Poeta Chico Murici / Visita / Despedida 9


José Machado ................................................................................................................. 100 Amor Sentido / Apelo / ABC Político / Maria de Tal Tralha / Deprê / Tal e Tal Maria de Lurdes Bacelar Viana ........................................................................................ 106 Meu Tesouro / Ação de Graças Seu Mundo ...................................................................................................................... 113 Seja quem for / Coelho Neto / Minha Cidade / Exaltação Patriótica Raimundo Oliveira ........................................................................................................... 118 Desejos / Devaneios / Desilusão / Água Felipe Neres .................................................................................................................... 124 O Amor / Poema para as Mães / A contribuição de Martinho Lutero para a Educação Eliran Sousa ..................................................................................................................... 129 Poesia / Navegar é preciso / Desejo / Mãos / Sertanejo O Passarinho Solto/ Louco / Alegria Zé do Ciro ........................................................................................................................ 135 Coelho Neto / Lembranças do Meu Chã / Poema do Zezinho de Barro/ Boi Coração Elian Sousa ...................................................................................................................... 141 Deus / Mãe Natureza / Devaneios / Comparação do Amor Costa Sousa ..................................................................................................................... 146 Luta Social / Mutações / Febre e Solidão / Não é você Anexos Poéticos .............................................................................................................. 151 Dois Poetas: Coelho Neto e Afonso Cunha Coelho Neto .................................................................................................................... 152 Ser Mãe / No Deserto / Canção / As Donzelas / Maria Canção Vernal / O Rhapsodo Afonso Cunha .................................................................................................................. 162 Caxias / A Enchente / Vitória - Régia / Itapirema Organizador: Francisco Carlos Machado .......................................................................... 168 Ecos da Crítica ........................................................................................................................ 169 Fontes Bibliográficas ....................................................................................................... 171

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A Área de Proteção Ambiental dos Morros Garapenses Nos últimos dias do ano de 2008 o governador do Maranhão, Jackson Lago, assinou um Decreto a pedido do Secretário de Estado de Meio Ambiente Othelino Neto, transformando oficialmente, após sua publicação no Diário Oficial, os municípios de Duque Bacelar, Coelho Neto, Buriti e Afonso Cunha em uma Área de Proteção Ambiental Estadual denominada Morros Garapenses. O Decreto assinado pelo Governador realizava um intenso sonho, coroando a exitosa luta ecológica de um grupo de ambientalistas da cidade de Duque Bacelar que um dia concluíram que para preservar os belos morros que circundam sua cidade e a vegetação que os formavam; como promover a preservação das nascentes, dos riachos, os lagos e as lagoas das adjacências do seu torrão natal; e o rio Parnaíba, os pássaros e os animais nativos, só seria possível, se a área onde estes ecossistemas e seres vivos se encontravam, legalmente se tornasse protegida em uma Unidade de Conservação. Para tanto, os ambientalistas que há anos militavam num movimento, concluíram também ser preciso fundar uma Associação legalmente organizada. Assim, em Dezembro de 2003, eles fundaram a Associação Bacelarense de Proteção ao Meio Ambiente – ABAMA – e logo no ano seguinte seu líder começou a percorrer os gabinetes do IBAMA no Maranhão levando a proposta da criação da Unidade, e fazendo denuncias contra os crimes e a destruição que o agronegócio instalado há mais de 30 anos na região insistia em praticar contra o ambiente natural. Porém, essas visitas surtiram poucos resultados, pois este órgão do Governo Federal era distante da realidade local e não conseguia sonhar com os ambientalistas. Paralelo, na busca do sonho da Unidade de Conservação, os ambientalistas da ABAMA passaram intensificar as caminhadas e protestos em defesa dos ecossistemas e contra a destruição da vegetação nativa dos Morros Urbanos da cidade. Também passeios com crianças e estudantes das escolas eram organizados pelas florestas de babaçuais e pelas lagoas ainda sobreviventes, incutindo-os educação ambiental e sentimento de cuidados com a natureza criada, através do conhecer os pássaros e os animais, junto com palestras nas escolas e eventos culturais de sensibilização e conscientização. Após três anos de ações e frustrações, a história de luta e sonhos dos ambientalistas de Duque Bacelar foi apresentada a Othelino Alves Neto, que sendo o Secretário da pasta ambiental do Governo do Estado, passou a se envolver pessoalmente, propondo apoiar a causa. Logo, no começo de 2007 um grupo de técnicos da SEMA-MA visitaram pela primeira vez a cidade para coletar informações que viabilizassem a criação da Área de Proteção Ambiental. Os mesmos, Inácio Amorim e Luiz Jorge Dias, competentíssimos, depois de verem a vegetação transitória de cerrado, caatinga e matas de babaçuais; o rio Parnaíba, os lagos e açudes, e terem subido os Morros dos Patins e Garapa (o símbolo do movimento), como 11


observado pegadas de animais e pássaros diversos, e uma das coisas mais surpreendentes, árvores fossilizadas nas proximidades (que posteriormente se concluiu ser o maior afloramento de árvores petrificadas do Maranhão), e, assim, pela realidade de uma Área de Proteção Ambiental (APA) ser extensa, e das demais características ambientais vistas serem relevantes, não somente os arredores da cidade de Duque Bacelar deveriam ser transformados em Unidade de Conservação, mas todo o município. Até por que o avanço avassalador da monocultura da soja no Baixo Parnaíba que a cada dia engolia sem piedade todos os ecossistemas naturais da região, com a criação da Unidade de Conservação, teoricamente, em Duque Bacelar, seria barrado parcialmente. Essa então seria a resposta e o dever do Estado em guardar conservado para as gerações futuras da região e de todo Maranhão alguns dos ecossistemas naturais transitórios, autóctones, do leste, e até disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso destes ecossistemas necessários para a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas. Agora então, a causa de preservação ambiental e da sustentabilidade do município não era somente uma luta direta dos ambientalistas, mas também passou a ser do Estado do Maranhão. Em 1º e 2º de Junho de 2007 uma conferência e audiência de consulta pública com todos os segmentos sociais de Duque Bacelar, desde estudantes, pescadores e políticos, foi realizada para saber se realmente a sociedade desejava que o Estado criasse a Unidade de Conservação em seu território. Sim, a população desejava. E a Unidade chamada de APA dos Morros Garapenses, em alusão ao antigo nome da cidade, Garapa, e devido à sistematização da luta ambiental dos militantes ambientalistas ter se dado no Morro Garapa, cuja topografia de mais de 200 metros se encontra no centro da cidade. Nisto foram colhidas mais de 500 assinaturas e formado um Comitê de Cidadãos Ambientalistas com representantes do poder público local e da sociedade civil para trabalharem na implantação da Unidade. Em Setembro deste mesmo ano o Governador Jackson Lago convidou representantes da sociedade civil de 24 municípios do Baixo Parnaíba maranhense para o “Encontro do Governador do Maranhão com a Sociedade Civil”, realizado na cidade de Chapadinha, onde os mesmos divididos em 10 grupos de trabalhos para definir as reivindicações que pretendiam apresentar ao Governador em áreas afins de políticas públicas, incluindo meio ambiente, decidiram que entre as três pautas emergenciais para serem atendidas pelo Governado em política ambiental no Baixo Parnaíba, seria a criação de mais Unidades de Conservação. Como já tramitava o processo de criação da APA dos Morros Garapenses em Duque Bacelar, a sociedade civil da região presente no grupo de trabalho, junto com o Secretário de Meio Ambiente e os técnicos da SEMA-MA, decidiram que fosse anexado no processo todo o território do município de Buriti de Inácia Vaz e partes do de Coelho Neto, que inicialmente seriam o entorno, mas passavam agora a serem partes integrais da Unidade em criação. Sete meses depois um grupo de biólogos e geógrafos vindos aos municípios coletaram informações com a comunidade sobre a fauna, flora, relevo, solos e rochas para compor as informações de 12


um laudo geoambiental e biológico da região, avaliando mais em detalhes o estado de conservação da área proposta para ser a APA dos Morros Garapenses. Este documento complementaria uma das etapas para a criação da APA, sendo que o mesmo foi o primeiro estudo feito na região na perspectiva de Unidade. Redigido o laudo, a documentação completa fora entregue ao jurídico da SEMA, e posteriormente ao Gabinete da Casa Civil do Estado do Maranhão, que analisaram e aprovaram o mesmo. Por fim, é redigido um documento com 10 considerações fundamentais, justificando a criação da Unidade de Conservação na região do Baixo Parnaíba. Tudo pronto, o Governador Jackson Lago assinou a pedido da população e do Secretário de Meio Ambiente o Decreto 25.087 de 31 de Dezembro de 2008, criando a APA Estadual dos Morros Garapenses.

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Participação cidadã na Unidade de Conservação Entre as sete Unidades de Conservação Estadual do Maranhão de uso sustentável: APA do Itapiracó, APA do Maracanã, APA dos Pequenos Lençóis, APA da Lagoa de Ana Jansen, APA Upaon-Açu, APA da Baixada Maranhense e APA das Reentrâncias Maranhenses; e entre as cinco de Uso Integral: Parque do Bacanga, Parque do Mirador, Parque Marinho do Parcel Manoel Luis, Estação Ecológica do Rangedor e Reserva de Recursos Naturais das Nascentes do Rio das Balsas; a APA dos Morros Garapenses foi a primeira criada pelo governo tendo como motivação a mobilização e participação popular. O contexto que esse fato ambiental histórico de política pública se forjou no Maranhão, está atrelado aos diversos fatores do novo cenário político e social do país e no mundo, onde a democracia participativa e a consciência socioambiental, na aspiração de um “modus viventis” sustentável em tudo, se consolidam de forma paulatina e precisa, diante do ultimato dos homens reaprenderem a viver e usar os recursos naturais do planeta, partindo do seu local, de forma carinhosa e com amor, ou tudo se tornará caos, extinção generalizada de formas belíssimas de vidas, ameaçando em primazia, inevitavelmente, a própria vida humana. A APA dos Morros Garapenses é o resultado de esforços abdicados de cidadãos, neste rincão do Maranhão, que na busca de nova realidade social e ambiental para suas vidas, objetivam alcançar na força do amor essa meta de sobrevivência humanitária e da biodiversidade dos demais seres, aclamada de sustentabilidade. Ela tem a bela ambição de unir pessoas e seres vivos diferentes; unir instituições sociais e governos; unir ecossistemas diversos; artes e culturas afins cultivadas pelos indivíduos, em prol da causa maior da vida, que deva ser plena e digna, no qual todos os que existem e sentem o mundo habitável, possuem direito divino de usufruir. Ela é uma mega ação permanente, construída em pequenas ações, quotidianamente, pelos cidadãos comprometidos de Buriti, Duque Bacelar, Coelho Neto e Afonso Cunha, e todos os cidadãos do Brasil e do mundo, que estão se unindo a nós, na busca dos resultados desejados e sonhados de sustentabilidade regional. Obviamente, embora sejam todos convidados para as ações de sustentabilidade integral em nossa Unidade; muitos não desejaram participar e se envolver. Ficaram só observando, e descrentes, falaram frases desmotivadoras. Participar ou não dessa construção comunitária é uma escolha pessoal. Convocamos sim pessoas, mas elas têm liberdade de não querer. É uma decisão de cada um. O que não pode acontecer, é, com maldade no coração e na razão, pessoas se oporem contra as ações executadas em prol da preservação e das dignidades da vida dos seres vivos. É inaceitável pessoas agirem contra a busca do nosso objetivo comum, a sustentabilidade social, ambiental, econômica e cultural na APA dos Morros Garapenses. Mediante, convocamos pessoas com suas forças de vontade para as discussões, decisões e ações a serem desenvolvidas com atos de paixões, em escolhas diárias, 14


em prol desses nossos objetivos comuns (pessoas dessa geração e de outras gerações do passado e vindouras), pois esses nossos objetivos demandam construções de longo prazo, onde os envolvidos, em seus campos de atuação diversos, com os dons, talentos e recursos, tendo os mesmos propósitos e sentimentos, deverão se empreender, até alcançarmos a realização de nosso sonho comunitário regional. Os que decidirem construir conosco o sonho da sustentabilidade na APA dos Morros Garapenses, devem agir eticamente, com amor, democracia e cidadania, assumindo que em nossas mãos está o nosso destino comum, pois a construção da sociedade sustentável que queremos, depende da vontade e da escolha que cada cidadão faz. Um ativista social boliviano, José Bernardo Toro disse: Toda ordem social é criada por nós. O agir ou não agir de cada um contribui para a formação e consolidação da ordem em que vivemos. Em outras palavras, o caos que estamos atravessando na atualidade não surgiu espontaneamente. Esta desordem que tanto criticamos também foi criada por nós. Portanto e antes de converter a discussão em juízo de culpabilidades se fomos capazes de criar o caos, também podemos sair dele. Somos capazes de criar uma ordem distinta.

Então, “não aceitar a responsabilidade pela realidade em que vivemos é, ao mesmo tempo, nos desobrigarmos da tarefa de transformá-la, colocando na mão do outro a possibilidade de agir. É não assumirmos o nosso destino, não nos sentirmos responsáveis por ele, porque não nos sentimos capazes de alterá-lo. A atitude decorrente dessas visões é sempre de fatalismo ou de subserviência, nunca uma atitude transformadora.” A nova ordem socioambiental, dentro dos territórios dos quatro municípios da APA dos Morros Garapenses é feita, e só poderá funcionar pela força participativa dos cidadãos. Serão cidadãos capazes de criar ou transformar com outros, essa nova ordem social e ambiental, no qual também caberá cumprir e proteger as leis que eles mesmos ajudaram a criar. Participação popular e cidadã. Participação dos governos municipais, grupos sociais e empresas é o processo imprescindível para alcançarmos os objetivos socioambientais sustentáveis da APA dos Morros Garapenses. Mas não uma mera participação, sem o envolvimento da alma e do coração; sem metas, meio e fim para se alcançar o bem comum. É e deve ser uma participação do viver e do defender valores da democracia, respeitando os direitos, as crenças e as diversidades culturais, onde tornar-se-á possível conviver e produzir economicamente, socialmente, politicamente e culturalmente, incluindo com convicção neste respeitar, o direito dos ecossistemas serem preservados, sendo verdadeiro para todos os seres vivos: o homem, as plantas e os animais, uma existência com dignidade. E assim tentaremos caminhar. Assim caminharemos para alcançarmos esse grande projeto. 15


Os Poetas Morros Garapenses Nos quatro últimos meses de 2010, caminhando a APA dos Morros Garapenses para os seus dois anos de criação; eu, poeta e um dos cidadãos que muito se esforçou para a existência da Unidade de Conservação, realizava noites de autógrafos de obras poéticas de minha autoria e oficinas de leituras nas sedes das quatro cidades da APA (Duque Bacelar, Coelho Neto, Buriti e Afonso Cunha), levando cultura literária para as pessoas, na compreensão de que a sustentabilidade no qual ambicionávamos para se concretizar nessa Área de Proteção Ambiental, os aspectos culturais e educativos, com suas manifestações artísticas locais, deveriam ser estimuladas e trabalhadas. Até porque, em se tratando de sustentabilidade, todos os aspectos do desenvolvimento humano, bem como das demais espécies de seres vivos, são importantes; portanto, merecedores de dedicação e sério compromisso de ação. Sendo que as expressões culturais e artísticas das comunidades que formam a APA (nas artes cênicas e visuais, danças, canto, música, poesia e prosa) em nosso entender como gestores da Unidade, deveriam receber atenção devida. Estávamos salvaguardados legalmente pelo Decreto governamental criador da Unidade, Nº 25.087 de 31 de Dezembro de 2008, em seu artigo 3º, que diz “caberá ao Estado, na representação administrativa da SEMA-MA, em conjunto com os seus parceiros, propor ou proceder a estudos de interesse científico, social e cultural, com o objetivo de salvaguardar o patrimônio natural, ecológico e cultural da Área de Proteção Ambiental dos Morros Garapenses”. E nas noites de lançamento dos meus livros, alguns poetas locais, convidados pelos apoiadores dos eventos eram-me apresentados. Conhecia alguns deles como cidadãos, de encontros sociais, sem, contudo, nada saber de suas produções literárias (eram anônimas); outros desses poetas me eram completamente desconhecidos, até como pessoas. O conhecer de tais artistas garapenses da palavra fez brotar mais forte uma antiga curiosidade intelectual, de saber sobre e quem eram nossos poetas regionais; conhecer suas vidas e obras. Tal curiosidade, acredito, nasceu quando pré-adolescente, em viagens pra São Luís, lia uma placa na entrada da MA 034, no povoado Palestina, convidando para se conhecer “Buriti, terra do poeta Lili Lago”. Existe um poeta em Buriti?! Indagava exclamativamente, quando lia essa placa, no imaginário sobre esse ser, que na época em meu pequeno mundo intelectual, era personagem de livros, distante da minha convivência. Posteriormente, quando pela força do destino me tornei um poeta, a indagação passou a ser feita no buscar do livramento da solidão poética e intelectual na qual vivia na região. Perguntava: existem mais poetas por essas paragens? Bem, o Lili Lago da placa, uma resposta; e em Duque, onde moro, a talentosa Vilmar Machado; o falecido Moacir Viana, e o excêntrico Chico Murici, são considerados. Porém, entre mim e estes, nunca houvera uma comuna poética permanente, rarefeita até em 16


demasia; havendo conosco somente contatos sociais ocasionais. Nunca, da minha parte, houvera a iniciativa de divulgar ou de organizar um trabalho num movimento literário/cultural poético destes artistas citados, como também qualquer outro da região. E havendo outros poetas, o que se sabia poética/biograficamente sobre os mesmos? O que produziam? Como tudo tem um momento certo para acontecer, na veraz compreensão de que tanto nossas vidas, como nossos dons e talentos, devem ser desenvolvidas como partes de uma missão existencial terrena; as buscas das respostas sobre os poetas regionais descritos, passaram ser inflamadas internamente agora, atreladas ao compromisso motivador de fazer com que a APA dos Morros Garapenses desse certo, diante da urgente necessidade de conhecê-la em seus mais diferentes aspectos, tanto biológicos e geográficos, como também antropológicos, sociais, históricos e culturais, buscando o levar do desenvolvimento socioambiental e sustentável da Unidade. Assim, tomei a firme decisão de pesquisar, contribuindo em partes, numa área do conhecimento que dominava ( os aspectos culturais/poéticos/literários da Unidade) contribuindo com o Plano de Manejo da APA que agora trabalhávamos e discutíamos para ser elaborado. Morando mais em São Luis, nos dias em que me encontrava na APA - com a ideia e a coragem de começar um projeto de pesquisa - passei viajar de moto e ônibus para as quatro cidades, colhendo informações e fazendo entrevistas sobre poetas mortos e vivos, conhecidos entre a população. No saber em construção e encantamento originado nas pesquisas das histórias de vida e sonhos dos poetas Morros Garapenses, o amor pela causa do bem no qual sempre me envolvi, me levou a decidir não somente produzir um estudo e uma antologia, mas também socialmente, fazer algo a mais pelos poetas. Descobri existir entre eles um desejo de agrupamento, uma vontade, mesmo acanhada, de seus trabalhos literários se tornarem mais conhecidos. E por que isso não poderia acontecer se tínhamos talentos para tanto? Tínhamos um celeiro de poetas (e bons) na região, que produziam com técnica e emoção, mas vivendo num anonimato prejudicial à arte e a cultura, não somente regional, mas do país. E propusemos mudar essa realidade. Ela não poderia mais continuar. Foi triste saber pelas pesquisas que alguns de nossos poetas, falecidos, tendo livros prontos para publicação, não conseguiram por falta de recursos. E poetas vivos, com obras conclusas ou em conclusão, também sem meios financeiros e conhecimentos dos caminhos das editoras, engavetavam projetos, estagnando seus sonhos. E mais alguns outros que se sobressaíram, tendo versos publicados em antologias e até livros, porém, desconhecidos pela maioria dos leitores locais, pelos estudantes e a população regionalmente. Destes, se discute agora, com conhecimento de causa, Lili Lago com seu magnífico “Meu Baixo Sertão”, que cantou seu torrão Buriti em versos cheios de vida e humor; e José Borges, que deixou obras concluídas na cidade; e na prosa, membros da família Marques, Faria, Machado. Em Coelho Neto, Elian Sousa com diversos poemas publicados em antologias, e sua irmã Eliram, com obras prontas para a publicação, além de esta cidade ser berço de Lurdes Bacelar Viana, 17


Milson e Elzion Coutinho, na poesia e na prosa. E em Duque Bacelar, José Machado, jornalista profissional e poeta; e Vilmar Machado, exímia poetisa. O certo era existir sim uma literatura poética oriunda da região da APA dos Morros Garapenses, e a mesma deveria ser descoberta para o Maranhão e para o Brasil. Muitos de seus protagonistas, mesmo com alguns morando anos fora da região, produziam suas obras carregadas de sentimentos locais. E essa literatura ainda não havia sido analisada, estudada e divulgada devidamente; e o que era preciso fazer agora, dentro de todos estarem inseridos no novo contexto geográfico de moradia, numa Unidade de Conservação. E essa nova moradia queria conhecer seus talentos poéticos e culturais. Sendo assim, uma nova bandeira e causa de luta socioambiental era levantada para ser trabalhada. Para tanto decidimos começar outro movimento, dentro do grande movimento, que valorizaria a pessoa humana, na representatividade artística dos poetas e escritores, e as mentes pensantes e intelectualizadas da região garapense. Era preciso estimular esses à produção literária, não mais deixando seus dons no anonimato e astrocismo, levando a poesia dos nossos poetas para o povo, onde a mesma deveria contribuir com a vida da população e com a história regional. Divulgando os resultados das pesquisas entre os amigos e companheiros da nossa causa, e conseguindo seus apoios para o surgimento da literatura garapense, conseguimos organizar, na concretização de alguns objetivos planejados, no mês de Março de 2011 um chá literário em Coelho Neto com alguns poetas. Em Abril do mesmo ano em Duque Bacelar com poetas, músicos e intelectuais da região, com a presença da imprensa local, uma alegre feijoada às margens do rio Parnaíba, com uma pequena exposição de livros e poemas dos literatos regionais. Em 11 de Junho, audaciosamente, realizemos um evento maior: o “Primeiro Encontro Literário APA dos Morros Garapenses”, envolvendo diversos produtores culturais locais e as lideranças do Conselho da APA dos Morros Garapenses, apoiados pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Maranhão, a prefeitura de Coelho Neto e o jornal Pequeno, que antes em sua página de opinião, passou a publicar poemas e artigos sobre poetas que pesquisávamos. Também jornalistas e poetas vinculados a este jornal, em São Luis, Alberico Carneiro, Paulo Melo, Antonio Ailton e José Machado, nos apoiaram e se fizeram presentes no evento, assim como o escritor Álvaro Ubiratan, Presidente da Confederação das Academias de Letras do Maranhão e a poeta Dilercy Adlear; e Frederico Rebelo, acadêmico e poeta, da visinha Miguel Alves, no Piauí. A vinda desses objetivava apoiar moral, espiritual e culturalmente os poetas, escritores e compositores anônimos da APA. Consistia em lhes dizer que sim, era possível neste rincão do leste maranhense, surgir um movimento literário que trabalhasse as preocupações interiores dos artistas e de suas artes, atrelando a isso as necessidades humanas e ambientais locais, sendo real e necessário à organização de uma agremiação cultural com caráter associativo ou acadêmico, como fator agregador e promotor da literatura, pois em muitas regiões do Brasil e do Maranhão essas 18


agremiações criadas e hoje consolidadas, contribuem significativamente com a cultura e as artes. O Encontro Literário APA dos Morros Garapenses foi um sucesso de público e crítica, divulgado e elogiado pela imprensa local e estadual via televisão, jornal impresso e blogs. Do Jornal Pequeno de São Luis, no encarte JP Turismo, de 17 de Junho de 2011, transcrevemos partes de uma matéria sobre o evento: Foi realizado no último dia 11 de Junho, em Coelho Neto, o I º Encontro Literário APA dos Morros Garapenses articulado pelo escritor e ambientalista Francisco Carlos Machado e demais integrantes do movimento cultural local. O evento contou com a participação de escritores locais e de mais três outros municípios que integram a APA, Buriti, Afonso Cunha, e Duque Bacelar. Participação especial do competente maestro Adelino, acompanhado da cantora Raquel Santos, dos poetas Lulu, Eliram Bantim Sousa, dentre outros. A cantora Raquel Santos interpretou a canção “O Bordado”, letra premiada no Festival SESI, composta por seu esposo, Maestro Adelino, que também acompanhou no violão a cantora. O debate prosseguiu, no qual a temática abordou a APA dos Morros Garapenses e dos benefícios que a mesma poderá trazer para o desenvolvimento sócio-sustentável das comunidades dos municípios se houver engajamento e unidade dos seus cidadãos. ‘O evento foi um sucesso, e as pessoas que se envolveram com a proposta estão satisfeitas, já que as nossas expectativas foram atendidas, que é estimular a produção literária dos escritores que integram a APA dos Morros Garapenses, além de fazer também integração entre os escritores de São Luis e Teresina com os escritores dos quatro municípios da APA, promovendo ainda a divulgação da área de conservação junto aos participantes do Encontro’, declarou Francisco Machado. O Encontro também serviu para promover o fortalecimento do crescimento do sentimento de pertencimento dos moradores em relação a essa área, pois cabe à população realizar a gestão da mesma, de forma sustentável, com estimulação da cultura das populações que nela habitam. Integrante do Conselho da APA, como Secretário Executivo, Gilson Rocha, por sua vez, diz que, ‘quando a área de proteção foi criada, somente a questão ambiental era vislumbrada, mas, o encontro literário veio ampliar o leque de atuação da APA, de tal forma que a área de proteção pode trazer muito mais benefícios para a nossa região, representada pelos quatro municípios que integram a unidade de conservação. A articulação do evento foi feita em tempo hábil e, apesar dos contratempos, o resultado foi bastante positivo, com ampla participação da sociedade, professores, alunos, escritores. Dessa forma, alcançamos os nossos objetivos’.

Podemos afirmar que o I Encontro Literário APA dos Morros Garapenses foi o marco social do começar definitivo da consolidação do Movimento Literário na nossa região, e o renascer e o crescimento criativo da nossa literatura morros garapenses, voltada para o bem 19


e o enriquecimento cultural de nossa gente e dos demais seres vivos e dos ecossistemas. Como resultados primários, passar-se-á a contar alguns resultados positivos dessas ações: O poeta Paulo Melo Sousa, que no evento proferiu palestra e lançou livros de sua autoria, como os demais escritores presentes, particularmente, aderindo moralmente ao nosso movimento, sendo um ambientalista também, logo depois ao Encontro literário, passou publicar em sua sessão do JP “Alça de Mira”, poemas dos poetas da APA, no objetivo de continuar a motivá-los. A sonhada busca de unidade e dos vínculos sociais humanos de cooperação em prol do Meio Ambiente entre poetas, escritores e compositores da APA, juntamente com os ambientalistas foi concretizada, e ainda hoje o envolvimento dos artistas da palavra acontece, independentemente e coletivamente, em prol da causa. Um ano depois do I Encontro Literário, poetas e ambientalistas morros garapenses, na mais organizada caravana maranhense que se dirigiu à histórica Conferência da ONU Rio + 20, foi ao Rio de Janeiro, entre os dias 13 e 20 de Junho de 2012, e num belíssimo exemplo de organização e empenho, para cidadãos do mundo inteiro distribuíram poemas em marcadores de texto impressos em papel reciclado, retratando os ecossistemas e as belezas da nossa APA. Neste evento mundial, poetas como Felipe Neres, Aliandro Borges tiveram oportunidades de declamarem seus versos e proferir palestras na Conferência planetária. Também a realidade trabalhada para se valorizar os talentos literários locais é um pouco melhor, com tendência de mais crescer entre a população. Na 3ª edição do Salão do Livro de Coelho Neto, em Julho de 2012, diversos dos poetas garapenses de Coelho Neto aqui antologados foram homenageados, recebendo placas pelas suas contribuições culturais. Sendo que a prefeitura municipal começou também organizar uma antologia com autores da cidade. Neste mesmo ano, em Setembro, na cidade de Manaus, Amazonas, para um público de mais de 400 pessoas de diferentes regiões do país, num evento Nacional de responsabilidade social, fui convidado para testemunhar sobre esse sonho de unir poetas, ambientalistas, artistas, crianças, professores e cidadãos do bem em geral, em áreas de atuação diversas, para levar ao desenvolvimento sustentável e a integração social de nossa região. E agora, estando em suas mãos o primeiro volume da Antologia “Vozes Poéticas dos Morros Garapenses”, você é convidado a não somente continuar a leitura e conhecer a história de vida e a poesia de alguns de nossos poetas, mas em contribuir com esse grande sonho, em construção, que é uma humanidade local, garapense, que cuida e respeita as pessoas, e os demais seres vivos, com bons exemplos morais e éticos. Na belíssima e inspirativa musica “Coração Civil”, de Milton Nascimento, uns dos versos diz profeticamente: 20


Se o poeta é o que sonha o que vai ser real, Vou sonhar coisas boas que o homem faz E esperar pelos frutos no quintal. Torna-se preciso na realidade de participação da população, anteriormente dissertado, e enfatizando a participação dos nossos poetas e também escritores, músicos e artistas no geral, no continuar de ações para a APA dos Morros Garapenses ser uma realidade de vida abundante e de sucessos para nossas gentes e aos demais seres e ecossistemas, que no ocorrer da elaboração do Plano de Manejo da Unidade, cujos recursos já foram aprovados pelo Conselho da Câmara Técnica de Compensação Ambiental do Maranhão, em reunião dia 18 de Dezembro de 2012, que todos participem da construção dele, pois um Plano de Manejo se dá com ampla participação popular, onde temas comuns são debatidos, e os anseios e necessidades das comunidades deverão ser ouvidos e atendidos. Como documento técnico-científico a ser elaborado por uma equipe multidisciplinar de profissionais, o Plano levará em consideração as características físicas, biológicas e socioeconômicas de todos os ambientes, naturais e humanos, objetivando o desenvolvimento sustentável e a conservação dos recursos naturais dos quatros municípios. Ele estabelecerá como será a gestão da Unidade, as normas de zoneamento ambiental e o grau de proteção de cada trecho, bem como as atividades econômicas permitidas para cada área geográfica da APA. O mesmo conterá informações das espécies de fauna e flora, as regiões mais preservadas e também as mais degradadas, assegurando adequadamente a conservação da diversidade biológica e dos ecossistemas da Área de Proteção, incluindo a implantação das estruturas físicas necessárias à gestão da Unidade. Quando o Plano começar a ser elaborado e a população convocada para as audiências de consultas e participação, se tornará necessário não somente a participação dos poetas e dos artistas com suas sensibilidades e saberes, mas de todos os cidadãos na elaboração do mesmo, pois quanto maior for a participação de todos, mais a APA dos Morros Garapenses alcançará os seus objetivos de preservação e cuidados com a vida em geral.

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A Antologia Vozes Poéticas dos Morros Garapenses No tocante aos aspectos culturais/poéticos da APA dos Morros Garapenses, conforme pincelados e discutidos anteriormente, mediante a nova realidade da Unidade de Conservação propor a união de pessoas e das culturas dos quatros municípios, essa obra antológica “Vozes Poéticas dos Morros Garapenses”, tratando da realidade dos poetas, foi escrita para ser uma contribuição ao Plano de Manejo da nossa Unidade de Conservação na dimensão cultural, estudando a vida e a poesia de 25 de nossos poetas. Outros, sem dúvida existem nas cidades e povoados de nossa Área de Proteção Ambiental, e esperamos que eles desejem sair dos esconderijos da vergonha e do medo de não desenvolverem mais suas artes e estilos, mostrando-as; expondo assim seus sentimentos. Eles devem não somente sair dos esconderijos, como devem trabalhar para a literatura e a vida nos Morros Garapenses. Na obra, primeiramente, se traçaram perfis biográficos, inserindo contextos históricos desses literatos que nasceram ou moram na APA, juntamente com mostras de seus poemas, cujos estilos de versos modernos, livres, com o uso abundantemente de rimas. Na segunda parte da antologia, como fonte de informação e contribuição ao conhecimento e à cultura de nossas gentes, temos em anexo, o resgate da vida e dos poemas de Coelho Neto e Afonso Cunha, poetas que dão nome a duas das cidades garapenses, e uma nota biográfica do organizador da antologia e algumas críticas/depoimentos de amigos dele, que não podendo se autocriticar na obra, não poderia também ser excluído como um dos poetas garapenses. Sendo o livro uma antologia poética, gênero literário que agrupa poemas de diversos autores, o mesmo não possui nada de novidade como gênero, são comuns essas antologias como publicações literárias mundo afora. Essa, porém, carrega um diferencial como antologia poética, ao se tornar um marco literário na região pelo pioneirismo, buscando consolidar e erguer, sendo fonte num movimento de literatos; e mais ainda, ser uma obra, cuja peculiaridade além de objetivos literários, é também ambiental, dentro de um engajamento no qual poetas e escritores de uma Unidade de Conservação estão inseridos. Podemos sim afirmar que essa antologia é o marco escrito do movimento literário e poético garapense. Um manifesto, sem ser manifesto, mostrando algumas veredas a serem trilhadas para promoção de uma literatura regional no leste do Maranhão, onde as características próprias dessa região, com os sentimentos, sons e cores, emoções e memórias de vivências humanas influenciadas pelas histórias locais, em seus mais diversos aspectos, e no ambiente natural de clima quente e escaldante; os ipês e flores nativas na primavera de setembro; pelos rios, lagos e igarapés; as florestas e matas transitórias de cerrado, palmáceas e caatinga do baixo Parnaíba maranhense. O Movimento Literário Morros Garapenses, como movimento de gênero, não visa defender um estilo de plástica escrita das escolas literárias consolidadas na história, como fonte de expressão, com suas técnicas e objetivos. No contexto pós-moderno no qual 22


vivemos, com ampla liberdade de opções individuais e relativismo, entendemos que o legado do passado, com opções diversas de expressões de escolas e estilos, é opcional a cada artista adotar, trabalhando assim livremente seu estilo e forma escrita. O nosso movimento, como agremiação puramente social, visa somente motivar as produções pessoais dos literatos da região, cuja somatória contribuirá para um acervo regional de escritos e publicações. Além de, se deve enfatizar novamente, uma nova junção de forças para que a cultura da sustentabilidade social, econômica e ambiental venha vigorar na mente e nos corações dos moradores da APA dos Morros Garapenses e de seu entorno. Acreditamos que os poetas e escritores podem, têm vocação e talentos para essa contribuição. Poetas e escritores devem ser homens e mulheres de seu tempo. Eles, inseridos no meio em que vivem, devem sentir e viver as aspirações em prol das dignidades libertárias de todos os seres vivos. A boa humanidade sempre trabalhou para esse ideal. Enfim, mais um projeto em prol de nossos semelhantes. Não foi fácil, deu muito trabalho e aflição de espírito. Foram diversas viagens dentro da Unidade, pesquisando e entrevistando horas a fio pessoas, e em cidades como Caxias, São Luis, Manaus e Brasília, onde também pesquisei em bibliotecas. Entretanto, a certeza de saber que essa antologia contribuirá com a valorização, o estímulo, o conhecimento, a cultura e a educação da população morros garapenses dos quatros municípios e de seus poetas, como um convite para juntos, com boa vontade e em amor, cuidarmos das vidas nessa Unidade de Conservação, sem dúvida, é a nossa grande satisfação, o nosso maior prêmio.

Francisco Carlos Machado

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Poesia, Cidadania e Políticas Públicas na APA dos Morros Garapenses Publicar é expor-se, revelando a alma, pensamentos e anseios. Publicar é também uma forma de preservar memórias e sentidos e colocá-los à disposição de gerações e gerações. Com satisfação recebi o convite para apresentar a presente publicação, um conjunto de pequenos ensaios biográficos e poemas dos poetas da APA dos Morros Garapenses que, muito mais do que uma tentativa de fazer literatura, representam os ideais de seu autor, o também poeta e ambientalista Francisco Carlos Machado, um profundo defensor das belezas naturais do Maranhão, particularmente dos ecossistemas abrigados na Área de Proteção Ambiental dos Morros Garapenses. Tem ele em si uma identificação forte com aquela região, a quem cultiva no coração. Quando há três anos iniciei a gestão na Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Naturais, nos primeiros dias, em audiência, foi-me apresentado o Francisco Carlos, e logo soube da mobilização e esforço dele com os demais cidadãos da região de fazer com que essa Unidade de Conservação Estadual APA dos Morros Garapenses continuasse dando certo no Maranhão. Soube que o sonho deles era que a APA fosse um exemplo. Isso era um desafio. Como Secretário, era também um desafio, e deveria me esforçar para fazer e vivenciar um amplo processo de melhorias na gestão da SEMA-MA, cujo saldo, sem dúvida, foi o melhor preparo do Órgão para executar a política estadual de meio ambiente, um dos compromissos do Governo do Estado. E esse salto de gestão que se viveu na Secretaria trouxe avanços em todos os aspectos, desde as instalações físicas do Órgão, passando por melhorias na prestação de melhores serviços à sociedade e pela formulação de um conjunto de normas e leis que criam as condições para a gestão sustentável do patrimônio natural do Maranhão. Nesse processo, alguns aspectos são relevantes pelas consequências práticas que possibilitaram: a garantia de funcionamento pleno dos conselhos estaduais de Meio Ambiente (CONSEMA) e de Recursos Hídricos (CONERH); captação de novas parcerias e fontes de recursos, com destaque para projeto pioneiro, aprovado pelo BNDES; a ampliação do quadro funcional, priorizado o reforço às atividades de fiscalização, monitoramento e licenciamento; a renovação da frota de veículos e do parque de informativa; a regulamentação da política estadual de recursos hídricos e a proposição das leis que garantem o uso sustentável dos recursos hídricos subterrâneos e superficiais. Também se destacam a criação do Fundo Estadual de Unidades de Conservação FEUC, que garante recursos oriundos da compensação ambiental para o manejo sustentável e melhorias nas Unidades de Conservação Ambiental. A criação da legislação estadual de Compensação Ambiental e o funcionamento da Câmara Estadual de Compensação Ambiental, 24


que tem garantido que as Unidades de Conservação Estaduais, como a APA dos Morros Garapenses, receba os recursos para a elaboração de seu Plano de Manejo, aprovado dia 18 de Dezembro de 2012, no valor de 8.000 que garantirá a convivência harmoniosa entre a preservação ambiental e o uso sustentável e responsável dos recursos ali abrigados. No tocante ainda a essa Unidade de Conservação Estadual, a atual gestão também apoiou as ações do Conselho da Unidade - CONANG - único Conselho de UC em atuação no Maranhão, garantindo as reuniões periódicas, atendendo suas demandas e ações, como a idealização do I Encontro Literário da APA dos Morros Garapenses; o apoio para seus Conselheiros e demais ambientalistas da APA irem à Conferência RIO+20, em Junho de 2012, somando 45 cidadãos, representando as Unidades de Conservação do Estado, no qual fizeram muito bem. Fruto desses e demais esforços, a SEMA tem hoje condições plenas de continuar os avanços iniciados, estabelecendo uma gestão inovadora, participativa e comprometida com o futuro sustentável, não somente nas Unidades de Conservação, mas em todo Maranhão. Assim, com os olhos voltados ao futuro, saúdo a iniciativa de Francisco Carlos com esta publicação, que deve servir de estímulo ao seu esforço de contribuir com a realização de políticas públicas duradouras na APA dos Morros Garapenses, na luta em favor de seu meio ambiente e em defesa da vida. Que o livro sirva de inspiração aos poetas, escritores, demais artistas e ambientalistas da APA dos Morros Garapenses; que todos se envolvam na defesa do patrimônio ambiental abrigado na Unidade, no fortalecimento das consciências de que preservar é preciso, sem que se perca a dimensão da responsabilidade, sustentabilidade e finitude destes recursos. Parabéns, meu amigo, pelo corajoso esforço de trazer a público suas ideias e pensamentos. É dessa forma, com diálogo e capacidade de articulação, respeito e desejo de luta, que os homens constroem suas obras mais belas. Sucessos sempre.

Victor G. Mendes Deputado Federal e Ex- Secretário de Estado de Meio Ambiente – MA

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Aristotelino Carvalho Lago, vulgarmente Lili Lago, filho de Antonio Teixeira Lago e Laura Rosa de Carvalho Lago, estes oriundos de Brejo, de tradicionais famílias. O bisavô de Lili Lago, Luis Pereira Lago e o avô Luis Pereira do Lago Junior, foram deputados em diversas legislaturas no Estado do Maranhão. Nascido em 31 de Março 1911 em Buriti, fez as primeiras letras na sua terra, de onde partiu para Teresina-PI a cursar o ginásio no emérito Instituto Demóstenes Avelino, fazendo só até o 2º ano. Em Buriti, no exercer de ocupações, Lili Lago foi Tabelião Público do 2º Ofício e fundador da Escola Lili Lago, dedicando-se à formação educativa da juventude. Lili, foi também o primeiro agente nos Correios de Buriti. Casa-se em Outubro de 1944 com Letícia Faria Costa Lago, que fora sua aluna na escola que fundou, tendo originado do consócio os filhos: Carlos Rogério, Adhemar Wallace, Josélia Maria, Getúlio Roosevett e Aristóteles Lincoln Lago, Aristotelino Carvalho Júnior e Allan Acásio. Desejando residir em São Luis, deixa sua terra no ano de 1948. Na capital ocupou os cargos de Secretário e Chefe de Gabinete de diversos prefeitos, chegando a ser em um deles presidente da Comissão de Abastecimento de Preços do Maranhão. Desde jovem dedicou-se aos estudos de direito, adquirindo o status de advogado provincionado, tendo assim exercido o ofício nas Comarcas de Buriti, Coelho Neto e Chapadinha. Político, foi getulista no Estado Novo, e sempre militando no PDT. Em vida publicou no ano de 1990 o livro “Meu Baixo Sertão”, obra poética dividida em três partes, “Folclore de Salão”; “Miscelânia” e “Memórias de minha Infância”. No livro escrito com versos de rimas leves e transparentes, bastante humor, irreverência e saudosismo, o poeta Lili descreve as suas vivências buritienses: episódios da infância e juventude, o cotidiano e a cultura da gente simples de sua terra, as histórias e os causos; a natureza da chapada, os riachos e morros. Lili Lago quando organizava em Buriti o lançamento de “Meu Baixo Sertão”, na noite de 30 de Março de 1990, foi acometido de um ataque cardíaco fulminante, que lhe ceifou a vida. Faltava poucas horas para o poeta completar seus 79 anos, e dos convites para o lançamento já terem sido enviados aos amigos e conterrâneos. José Moura, amigo saudosista de Lili, também editor de “Meu Baixo Sertão”, pelo SIOGE, confidencia que Lili Lago era um amigo e uma figura humana formidável. Moura pretendia publicar uma outra obra poética de Lili, mas após sua morte devolveu o original para a família do poeta. Porém, como um legado cultural e literário para todos, temos em “Meu Baixo Sertão”, um testemunho autêntico de um bom poeta, que lutou por justiça e defendeu os pobres e trabalhadores, descrevendo em versos cândidos os sofrimentos e a vida do povo de seu torrão natal. Um poeta cujo viver intenso, apaixonante, se eternizou na poesia como um menino que nadou no riacho do Morro, catou piqui na chapada, fez grandes amigos, bebeu cachaça à fole e namorou as caboclas e mulatas da terra de Inácia Vaz.

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Buriti Recordo-me de ti, ó minha terra, das gostosas tiquiras que aí tem. Das festas do sertão, da linda serra e dos buritizais belos também. Recordo-me de ti, ó minha terra, o que o carro-de-boi cantando vem, a beleza que o rio do Morro encerra e das caboclas que eu tanto quis bem. Saudades tenho da pinga de cana, do Bumba-Boi, das noites de São João e da pomposa festa de Sant’Ana. Recordo o arroz gostoso com piqui, e não posso esquecer no coração o teu nome, querido Buriti. e diviso também os juçarais cobertos de beleza e de poesia. Com estridente canto matutino, a cigarra desperta a soledade. Um sabiá entoa bonito hino com notas de tristeza e saudade. Do lado do nascente, bem ao longe, ouve-se o soluçar da juriti. Um sino pelas mãos de velho monge plange lá na Matriz de Buriti.

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Manhã de Minha Terra Manhã maravilhosa: vejo a serra envolta em manto verde-encantador. É o belo jardim da minha terra, ornamentado pelo Criador. Eu vejo o encanto dos buritizais e a aurora trazendo um novo dia, e diviso também os juçarais cobertos de beleza e de poesia. Com estridente canto matutino, a cigarra desperta a soledade. Um sabiá entoa bonito hino com notas de tristeza e saudade. Do lado do nascente, bem ao longe, ouve-se o soluçar da juriti. Um sino pelas mãos de velho monge plange lá na Matriz de Buriti.

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Riacho do Morro É por baixo de moitas verdejantes e por entre um frondoso palmeiral, que vão correndo as águas sussurantes desse lindo riacho de cristal. E lá bem perto às pedras corcovantes formou-se um majestoso cachoeiral, que está sempre a gemer, como os amantes quando vivem sofrendo um grande mal.

Tudo forma poesia no riacho até as folhas secas sem destino que descem lentamente águas abaixo. Por isso, meu riacho bom de serra, que eu te revejo e o tempo de menino que vivi sob o céu da minha terra.

Brincando de Garrote Quando eu era molecote na minha terra natal eu brincava de garrote com as vacas do curral. Certa vez com um amigo metido a gente de bem resolveu junto comigo a ser garrote também. 30


Era noite de luar quando nós fomos brincar... - Lá no local combinado onde a vaca estava presa ele saltou p’ra o cercado numa grande ligeireza. E bem do lado de fora, eu esperava a minha hora. -Nisso a vaquinha berrou. eu fiquei logo espantado. quando o colega voltou estava todo cagado. O coitado do pixote nunca mais quis ser garrote.

Sonhei Contigo Esta noite sonhei que te abraçava, estavas nua, trêmula de arquejado... Eu, louco de desejo te beijava, sentindo a chama ardente de teu beijo. Teu peito no meu peito latejava. E na ânsia da luxúria e com bocejo, tu já gozavas... eu também gozava no mais febril e lúbrico desejo. E tremias de amor, de gozo e anseio. E eu beijava teu corpo sem cessar, mordendo o ereto bico de teu seio. Ainda ofegante acordei, e rogo para de novo sonhar. O belo sonho que de noite sonhei.

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Revendo o Passado Dez de dezembro. Tarde calma. Penso. - E preso de tristeza e de saudade, eu recordo no meu pesar imenso todo o tempo da minha mocidade. Eu sinto n’alma nitída lembrança de minha terra, dos seus palmerais, do meu alegre tempo de criança, o belo tempo que não volta mais. Revejo, com maior satisfação, Os adoráveis banhos do Tubi. e trago presa no meu coração, saudades dos forrós do Buriti. Lembro-me da tiquira de mandioca, do Bumba-Boi, das noites de São João, da boa carne de sol feito paçoca e das lindas mulatas do sertão. O passado lembrado, no momento, está gravado no meu coração.

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O inverno caudaloso do ano de 1924 fez o rio Parnaíba avançar assustadoramente pelo povoado São Francisco, distante 6 km da cidade de Buriti. Zulmira Marques, diante das tribulações das inundações, dá à luz o sexto filho. O seu marido Gideão Ribeiro, católico fervoroso, batizou o menino de Abraão, em alusão ao patriarca bíblico. Em um ambiente religioso de orações a Deus, aos santos e leituras da Bíblia no cair da tarde, feitas por seu pai para a família e os vizinhos, Abraão Ribeiro cresceu. Na realidade de família rural, com pequenas posses, o menino passou a ajudar desde cedo nas lavouras, na criação dos animais e na extração de frutos nativos do cerrado. Não tendo professora em seu povoado e já com idade de alfabetização, aos sete anos, Abraão caminhava 2 km até a casa da professora Tonica Guimarães no qual seus pais contrataram para lhe ensinar a ler, escrever e contar. Ele cursou somente um ano de estudos particulares, conseguindo ser alfabetizado. Em 1933 um golpe terrível abateu Abraão e a sua família. Seu pai, Gideão, morre de “serão” depois de pegar um forte resfriado numa chuva. A família do falecido inicialmente passou grandes dificuldades financeiras, conseguindo superá-las. Em 1944 Abraão casa-se com Angélica Januário. O enlace foi celebrado pelo Padre Alfredo Bacelar, na época pároco de Buriti e Coelho Neto. Após o casório passaram morar no povoado Salamanca. Vieram os primeiros filhos e na busca de melhoras para a família moraram em diversos povoados como Boa Hora, João Lobo, Sítio Velho, Vargens, Pedras, onde sempre trabalhavam na lavoura e em pequenas vendas. Em 1974 mudaram definitivamente para a cidade de Buriti. Morando na cidade de Buriti, Abraão que desde criança foi católico praticante, se envolve mais ainda nas atividades e celebrações da Paróquia de Sant’Ana. Nesta década disseminando a Teologia da Libertação pelo Brasil, ele com alguns buritienses tendo contato com essa doutrina e com consentimento dos padres Julio e José Costa, fundaram dezenas de Comunidades Eclesiásticas de Base - CEBs, em povoados de Buriti. É neste momento da vida de Abraão Ribeiro, no consolidar do líder religioso/comunitário, que surge o poeta, pois tendo que catequizar o povo, começou a escrever poemas e cordéis, literatura que muito gostava, sendo leitor desde criança. Logo ele passou a militar na política. Funda partidos, concorrendo a cargos de vereador e vice-prefeito, contudo, nunca obteve êxito. O que não o impediu de continuar trabalhando pelo povo buritiense, tanto na política, como em movimentos sociais, onde fundou a Colônia de Caça e Pesca, e alguns Conselhos Municipais. Neste ínterim, escrevia seus textos, poemas e cordéis. Publicou o cordel “Minha Terra”, com 300 versos, descrevendo com muita riqueza e simplicidade os ecossistemas de Buriti, sua flora e fauna, a vida social, cultura e a religião de sua terra. Muitos de seus textos são homenagens a pessoas e sobre datas comemorativas, numa poética cheia de lirismo e romantismo. Ele começou a escrever sua autobiografia, deixando-a, incompleta. De idade avançada recebeu uma comenda em 2010 de “Ilustre Cidadão Buritiense”, por prestar relevante contribuição à arte, a cultura e a população de Buriti.

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Sobre o Amor Vou escrever sobre o amor dando a minha opinião: existe o amor verdadeiro e outros de traição. O amor é como dordonho. Ele nasce nos olhos, mas quem manda é o coração. O amor verdadeiro origina-se de Deus. Quando o amor é realista a gente não o compra O amor a gente conquista. Seja de que forma for nunca se iluda com o amor logo na primeira vista. O amor real vem de Deus O falso é uma farsa O amor sincero é como uma rocha O falso é como uma fumaça. O amor que não é puro só fica seguro enquanto o vento passa. O amor ilusório e corriqueiro em todo lugar é capaz. Em cidades e povoações é onde se praticam mais Ele é como a vela que se parece tão bela mas com o calor se desfaz.

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Jovens se um dia o cupido invadir seu coração bote os joelhos em terra. a Deus peça sua proteção Pode não ser seu amado é outro que vem de lado com amor de traição. Essa palavra atraente conhecida por amor é uma palavra abstrata Ela queima com ardor mas quando não é fiel amarga mais do que fel e perde todo o sabor.

Agora caro leitor faça sua meditação. Se seu amor é real ou é só uma ilusão. Dobre os joelhos com fé. e peça o Senhor Javé pela sua convenção.

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Floresta Caros leitores me preste bem atenção, se caso não for enfadonho ler com pontuação, o nome de todas as árvores de nossa região. Temos árvores nativas e as árvores de plantação que produzem frutas para a alimentação. Vou citar nome por nome nesta minha narração: Tem pau d´água caripirina que flora amarelo, jatobá, pau terra, sapucarana, mescia, janacuba, tuturubá, capitão do campo, o criuzeiro, unha de gato e ingá. Amargoso, pé de condensa, sucupira, gameleira, ateira, mama de cachorra, pau dói, cajazeira, açoite-cavalo, tinguizeiro e a mangabeira. Pau-cacundo, pau-pereira, angelim, piquizeiro, angico branco e preto, tatajuba, juazeiro, pinheiro burra leiteira, folha larga e jucazeiro. Axixá, almanda, mororó, oiticica, pitombeira, paraíba, pau-roxo, umbaúba, caroba, sapucaieira, algodão branco, pau chapada e faveira. Buriirana, bacabeira, fava danta, agulheiro, pau d´gua, arariba, que nasce do tabuleiro. Jacarandá e oiticica as margens do ribeiro. Abacateiro, siriguela, tamarindo, jaqueira, lima doce, araticum, macajuba, carnaubeira, pé de murici, tangerina e laranjeira. Também tem o caraubeira, canafista, bacuri, puçá e almóra, pau-cacundo, cumati, pente de macaco, sambaíba e o tamboril. Ainda tem jenipapeiro, palmeira babaçu e buriti, macajuba, jaçareira, mangabeira e peti. Tem o chamado de violeta e o Camaçari. Tem a velha canfista, o mulungu, a sucupira do campo, tapoca, coançú, embira-tanha, lacre, farinha seca e pageu. Tem a canela- de- velho, bicuíba, 37


pau pombo, folha larga, pau-pereira, Maria preta, carnaubeira, paraíba. Também o pé de condensa, macajuba açai, amora, amendoeira e cumati, azeitona, abacateiro, pente de macaco e jataí. Tem miolo de negro, aroeira, burdão. Cedro, gonçalave, que serve para armação. Açoita-cavalo, caroba, tapoca e barba- timão. Pau-d’arco, casco de burro, catinga-branca, Jasmeira, jangada, quina-quina, butambeira angélica, juremeira, espinheiro preto, bacuri-bravo. Agora mudo de assunto, tomando outra direção pra falar de nossas matas e de sua destruição. Dos incêndios e das motos serras fazendo o desmatamento. Os grandes proprietários não defendem a natureza. Destroem toda ecologia com ganância por riquezas. E o pequeno dono de terra acompanha com certeza. Os ricos são ambiciosos e menos inteligentes. Não pensa no futuro, só quer saber do presente. Destroem as margens dos rios, acabando com as nascentes. Aqui nossa justiça não toma conhecimento. Os madeireiros fazem o que querem sem nenhum constrangimento. Para eles não existe lei, nem regulamento. Eu tenho amor pelas matas, pelas aves e animais que vivem nos campos e dentro dos matagais. À procura de alimentos, pouco encontram mais. O mundo está caminhando para um breve fim. Destruindo as coisas boas, em troca de coisas ruins. E tudo aquilo que é belo, Jesus disse vinde a mim. Aqui termino os meus versos. Fui fiel na descrição. Peço agora aos leitores que ouviram a narração: respeitem a natureza e denuncie a devastação. 38


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O pai da poetisa e professora Sofia Rocha - um descendente dos cearenses fugitivos das secas que no final do€ século XIX chegaram em Buriti - não gostou em nada da notícia de que a filha de 10 anos, estudante da Escola Reunida Municipal, estivesse com namoro sério com um colega de classe, o Antonio Pereira Rocha, da mesma idade. Os pais aconselharam Sofia a deixar o amor infantil, eram muito novos, não sabendo os mesmos que desde os 8 anos eles já se gostavam, e tal amor seria para toda a vida. Sofia dos Santos Rocha, buritiense, nascida em 18 de Setembro de 1937, teve precocidade em muitas coisas da vida. Menina que cresceu na rua do Tubi, onde em muitas manhãs, ainda aurora, antes dos porcos chegarem, ia às pressas com o pai e os irmãos catarem os frutos de buritis caídos no brejal preservado da nascente do riacho que originou a cidade, no qual se faziam doce e cambica. Nesta época o Tubi de águas caudalosas, também propiciava banhos frios e prazerosos, e Sofia, diariamente, como toda população buritiense, usufruía desse deleite natural. Na escola, sua primeira professora, Maria Helena, com palmatórias e castigos, comuns na didática da época, lhe alfabetizou, abrindo os olhos para a leitura e escrita. Entretanto, foi com a professora Carmem Costa, uma influência marcante da sua infância, que Sofia Rocha se encantou com a beleza das palavras rimadas e da poesia. Carmem Costa que admirava a capacidade de decorar da menina, lhe dava poemas para ela declamar nas datas comemorativas festejadas, onde Sofia recebia muitos aplausos. Concluindo o 5º ano em Buriti, sem poder sair da cidade para continuar os estudos, o pai de Sofia fechou contrato com chefes de famílias nos povoados Angelim e Mata do Meio para a filha alfabetizar a criançada das casas. Assim, dos 11 aos 18 anos, precocemente, tornou-se professora. Cansada da docência forçada, desejando constituir uma família, se casou com o namorado de infância, Antonio Rocha, em 12 de Outubro de 1955. Do casamento geraram cinco filhos. Aprovada no concurso da prefeitura de Buriti em 1966, começou a lecionar como funcionária efetiva no povoado Valença. De 1970 a 1973, lecionou no povoado Bom Jesus. Em dezembro de 1979, perde seu marido Antonio Rocha. Foi um golpe duro para ela. Teve que lidar sozinha, além dos filhos crianças e adolescentes, os alunos da escola e os estudos em Magistério. Mas conseguiu ser forte, superou e venceu. Ela conclui em 1980 o Magistério e o 4º ano adicional em 1982. Anos depois, em 2008, aos 71 anos, aposentada, começou fazer Matemática pelo Ensino à distância UEMA Net. Fez até o terceiro módulo. Alérgica a plantas urticantes, certo dia tocou em cansanção, que queimou e feriu suas pernas. Sendo o período invernoso, e com dificuldades em ir de moto pra escola, seu único transporte, perdeu muitas aulas, não tendo mais como recuperar o módulo. Sofia, no crepúsculo da vida, dedica seus dias a leituras, viagens e a poesia. Dias dos meses reside em sua casa em Buriti, e dias em Teresina, na casa de uma das filhas. Recentemente, nos anos de 2010 e 2012 foi vencedora em 1º e 2º lugar no Festival de Poesia de Buriti, na categoria melhor idade, promovido pela Associação dos Amigos de Buriti.

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Saudade Saudade palavra doce que também traz amargor Porque fere muito o peito de quem conhece o amor. Saudade é um sentimento que sentimos por alguém Mas só sentimos saudades de quem queremos bem. Saudade palavra triste assim podemos falar Quem sente uma saudade é bem difícil ocultar. Saudade é sempre saudade Não podemos definir Quem não ama de verdade saudade não pode sentir. A saudade é como o solo que fecunda e faz crescer Bate no peito e perdura só nos faz sofrer. Saudade é um dom de Deus Ele mesmo permitiu Assim, amemos uns aos outros Como Jesus nos pediu.

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A chegada do meu filho Agora estou feliz dá para perceber. Vou abraçar o meu filho com imenso prazer. Vieram do Amazonas esta família tranquila Meu filho, minha nora e duas netas queridas. Esperei com ansiedade por este dia feliz que chegassem sãos e salvos a Deus sempre eu pedi No ano de 1997 cinco ou seis de Janeiro meu filho saiu de casa como um grande aventureiro Trabalhou em Manaus mas não foi bem sucedido A firma não pagou seu salário merecido. Partiu pra outra cidade, trabalhou como professor Lá ficou quatro anos mas enfim, a casa retornou O destino é sempre assim traz coisas boas e ruins mas de tudo, o melhor: meu filho perto de mim

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De lá não trouxe riquezas nem bens materiais Trouxe apenas um tesouro que não se acaba mais.

Buriti Buriti, terra fértil e valiosa do amor que dás és grandiosa Berço esplêndido dos filhos teus, somos nato, ao somos filisteus. Buriti, terra querida faz parte de nossas vidas. Considerada uma estrela no baixo Parnaíba. Neste torrão que retratas a beleza dos montes desponta O frescor da aurora nos marca esse amor que a todos encanta. O orgulho de ser maranhense orgulha essa geração. Por ser uma bela cidade do nosso Maranhão.

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A Lágrima A lágrima salobra que rola pelos olhos e pela face também é a mesma que se chora quando perdemos alguém. A lágrima por ser salobra não apresenta odor. Sentimos rolar nos olhos, mas não sentimos sabor. A lágrima que corre nos olhos nos conforta o coração Chorar, alivia o peito em muitas situações. A lágrima ao rolar nos olhos demonstra alegria, angustia e dor. Por isso é que a lágrima não define o seu sabor. A lágrima nos determina alegria ou sofrimento. Por isso é que pra chorarmos não escolhemos momento.

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Nasceu o poeta José Borges em Teresina, capital do Piauí, em 6 de Janeiro de 1950. Quando criança seus pais, a mãe cearense e pai piauiense, se mudaram para o município de União, 60 km da capital, morando no povoado Sitio. O menino Borges cresceu num ambiente rural: com criação de bichos, produção de frutas e verduras, e trabalho em roças. Ele sempre para se manter trabalhou duro. Adolescente, estudando para técnico agrícola em Teresina, foi comerciário na Firma Expedito Leite Chaves; depois cobrador e fiscal de ônibus. Posteriormente foi apontador e auxiliar de contador numa empresa de São Paulo, que tinha filiação em Teresina. Seu último emprego na capital foi de recenseador por um mês no IBGE, quando passou a morar em Coelho Neto na casa de uma irmã, no final de 1970, onde trabalhou cinco meses no Grupo Bacelar. De Julho de 1971, no governo de Uiran Souza, foi secretário adjunto na Prefeitura. Em Coelho Neto conhece a primeira mulher, a buritiense Maria de Graça, casando-se em 1974. Do consórcio nasceram seus seis primeiros filhos. Em 1975 eles vieram morar em Buriti. José Borges trabalhou como operador da Telma e escrivão da Polícia da cidade, chegando ser também delegado substituto. Os vereadores gostando dos serviços que ele prestou à comunidade, lhe outorgaram em Setembro de 1979, em uma sessão da Câmara Municipal o titulo de Cidadão Buritiense. Em 1983 passa residir em Santa Quitéria, onde trabalhou no INCRA. Nesta cidade foi Secretário na Prefeitura Municipal da cidade e professor de diversas disciplinas na Escola Cônego Nestor Cunha. Ele com a família retornam para Buriti. O casamento, porém, com Maria de Graça se desfez no fim de 1990. Em Buriti o seu círculo de amizades era formado de membros das diversas camadas sociais. Cultivou grande amizade com o poeta Lili Lago (39 anos mais velho), se tornando companheiros de trabalhos e boemia. Nos botecos e cabarés de Buriti, viviam declamando seus poemas, cantando os dilemas da vida, a terra nativa e as mulheres. Organizou “Lágrimas de Um Poeta”, coletânea poética com 56 poemas. Na obra, José Borges com uma temática que enfatiza o romantismo, as dores e conflitos do amor pela mulher, os seus dissabores e sofrimentos, transformados em dissabores pessoais e lágrimas doloridas. Borges se dedicou também ao teatro, produzindo algumas peças. Escreveu o cordel “O Sonho de Pelé”, e um estudo sobre a história, a geografia e as personalidades de Buriti, sendo um dos pioneiros em estudar os diversos aspectos do município. Foram também famosos os seus panfletos satíricos e políticos, que circulavam nas ruas da cidade em forma de folhetins. Em vida não realizou o sonho de ver sua obra “Lágrimas de Um Poeta” publicada, algo que lamentava, assim como diversos projetos literários. Em 15 de Outubro de 1997, dia do Educador, por volta das 2h da madrugada, o coração de Zé Borges, intelectual, professor e poeta, acima de tudo, sentiu fortes contrações. Levado às pressas para o hospital Smith Braz, não resistiu, desvanecendo quando o dia clareava. A cidade de Buriti, enlutada, sentiu muito a perda dele, que com sua inteligência multifacetada havia prestado diversos serviços à comunidade em áreas da agronomia ao magistério, do direito ao ativismo esportivo e comunitário; da literatura ao jornalismo. Seu filho primogênito, Alan Borges, que guardou os manuscritos do pai, testemunha que o poeta Zé Borges “foi um cidadão servidor. Viveu para a educação dos filhos e em servir as comunidades onde estava inserido: Coelho Neto, Buriti e Santa Quitéria. Ele defendia, como advogado, pessoas humildes que não podiam pagar honorários. E profissional da EMATER-MA, conseguiu muitos projetos como açudes. Ele servia com humildade e dedicação”. 46


Lágrimas de um poeta Com dedicação e carinho, orgulho-me de ser poeta: necessidade de quem tem amor. Pois sorris: escrever e amar é profético. Profetizar nas horas de dor, lembrando com tristeza e alegria. Abatendo os inimigos do amor, dando sorrisos e poesia. Poeta, a pura existência da dor. Abastado é o poeta que ama de verdade. Orgulho que banha com prantos, o seu amor. na busca da felicidade. Chamo o teu nome, de coração. Pois, da existência divina, tu és herança. Alvo da minha existência e razão. Grito teu nome bem alto e com esperança. Olho para o céu, vejo estrelas, lembro os momentos de amor. Irrigo os meus olhos com lágrimas. Visto está longe, sinto dor. Conforto-me escrever sem agonia. Irrigando com lágrimas, por ser sofredor. Repito, dedico-lhe esta poesia. Adeus, até breve - meu amor.

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Encontro Gosto do teu jeito, e, adoraria tê-la para mim. Nada no mundo impedirá de falar que te amo. Logo, terei que te amar. Dentro de mim paira a dor e a vontade de te beijar. Sou o teu escravo, o riso e a dor, que é, um campo de concentração. Somente tu aliviarás, a dor do meu coração. Lendo o livro de minha vida, orgulho-me de te amar. Para que o amor seja real, e, para que eu possa te beijar, um encontro será ideal.

A Marca do teu ódio Cinco dedos, cinco unhas, deixando a marca do teu ódio e dor nos tecidos frágeis do meu peito. E, sensivelmente ferido o nosso amor. Peito meu, amando sem ser amado, sendo odiado sem odiar. Será meu Deus... ...que é pecado amar?! O amor é transparente. E não é previsível, vem do coração. Coração este ferido pelos cinco dedos de tua mão. 48


Separação Fatal Ai, que saudades, eu tenho do meu amor. Dos meigos olhares e dos doces beijos. Ai, que saudades. Sinto dor. Tuas faces são tão lindas, e a ausência do teu calor, faz dor no coração. Tudo isto, somente por culpa desta fatal separação. Mas, um dia, eu terei novamente o teu calor, pois, o meu coração não mente. Ele palpita, mesmo com dor. Meu pobre coração, tudo isto, por culpa desta separação fatal.

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No povoado Centro dos Teixeiras, distante 22 km de Brejo - MA, eis o menino Francisco Teixeira aprendendo ler aos cinco anos, se apaixonando pela leitura de Cordel. Um padrinho seu, amante e também leitor ávido dos livretos, lhe emprestava para ler. Essa era a literatura mais acessível às camadas populares do interior maranhense de então. O menino não se contentando apenas com as leituras dos romances em versos, passou a decorar vários deles, como também poemas que sua professora Maria de Jesus o estimulava a fazer. Por decorar muitos poemas, recebeu o apelidando de “célebro de raio x ”. Certa noite no aniversário do seu pai se organizou uma cantoria e um dos repentistas faltou. Na ansiedade pela espera do cantador, o menino cheio de cantorias na cabeça, tomou coragem, e se pondo no lugar da apresentação dos artistas, começou a cantar e declamar, chamando a atenção de todos. Desde então passou a ser conhecido como o “menino cantador”, iniciando assim sua carreira de poeta repentista. Neste tempo, final da década de 60, a população dos municípios do Baixo Parnaíba, como Brejo, era majoritariamente rural. Nas noites de verão, diversos cantadores itinerantes vindos principalmente do Ceará, como Manoel Batista, atraiam muitas pessoas para ouvirem seus duetos e desafios. Estando no povoado Centro dos Teixeiras, o “menino cantador” conhece e passa ser mentoriado por Manoel. O mesmo lhe ensina técnicas de cantorias e acordes de violão. Inteligente e dotado de mente prodigiosa, toma fôlego pela arte, se torna companheiro de Manoel Batista, fazendo juntos turnês pela região. Algum tempo depois , em 1968, uma rivalidade entre famílias no povoado, resultando na morte de entes queridos envolvidos, faz os pais do menino cantador venderem sua propriedade, indo morar em Chapadinha. Numa noite de 1973, aos 26 anos, cantando no povoado Estiva, conhece a moça Benedita. Casando começa residir neste povoado. Fazendo apresentação na propriedade Ana Maria em 1979 na casa de uma cunhada, é convidado pelo proprietário da terra a morar nesse povoado de Duque Bacelar. Politizado, nas eleições de 1998, por apoiar ao candidato contrário ao dono das terras, é intimado a deixar a propriedade logo após a vitória de seu aliado. Morando com a família na cidade de Duque Bacelar, a mulher se emprega como enfermeira pela prefeitura e ele se dedica às suas cantorias e a lavouras. Tendo conflitos com a esposa separam-se. Em 1991 se casa novamente. Adquirindo terras no povoado Sítio Cruz, em Buriti, decidiu manter residência permanente no lugar. Ambientalista, resistiu ao avanço da monocultura da soja em Buriti, preservando a vegetação de sua terra, onde mantém um empreendimento de criação de abelhas nativas, se tornando o maior produtor de mel policômico na região. Chico Cantador, ativo ainda em sua arte de cantoria, participa de diversas apresentações. Porém, melancólico acredita que a tradição da cantoria está acabando na região da APA dos Morros Garapenses, “pois somente as aves antigas mantêm esse canto”. De fato, as atuais gerações, tendo acesso a outras culturas e tecnologias de entretenimento, como a TV, internet, CDs de músicas populares com ritmos diversos, até mesmo nos povoados mais distantes, não desejam cultivar a arte e a cultura riquíssima das cantorias. Arte que no passado trouxe educação, música e encanto poético para nossa gente.

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Paixão Escondida Querida, vivo pensando em você seus tristes olhos me causam dor. Se você me olhar lembrando de nós fico assim, um triste sofredor. Lembrando seus beijos e abraços sigo seus passos cheios de amor. Fui ingrato, como você também. Hoje outro alguém é seu senhor. Você me olha, eu sinto medo. É um segredo que quer me contar. Você já tem um amor ao seu lado, e sei que por mim não vai deixá-lo. É um suplício eu viver sozinho, Sem seu carinho vou lamentar. Sinto uma forte dor no peito, só existe um jeito, eu me findar. Eu sinto pena de você querida pois nosso amor não vai continuar. Muitas vezes ausente de ti sinto vontade de te procurar. Seus olhos tristes me mostram ciúmes. O seu perfume eu sinto exalar. Penso em nossos beijinhos, sem seus carinhos me ponho a chorar. Eu sinto muito pelo seu desprezo Você fez lá por outro alguém. Eu sinto um peso que me dói na alma. Fico com calma que isto me faz bem. Embora esta cruel paixão seu coração sentir isto vem Esta dor que eu fico sofrendo Sem estar devendo esta conta a ninguém.

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Guardo o segredo de nossa amizade. Quando vou embora deixo a despedida Nesta distância que vou ficar Quando eu voltar pra seu lar, querida nós trocaremos beijos e abraços Caio em seus braços e findo a partida. Nunca mais saio do seu pé. Isso é uma paixão escondida. Sinto muito pelo seu desprezo. Você fez isso por outro também. Eu sinto um peso que me dói na alma. Fico com calma, isso me faz bem. Embora esta cruel paixão seu coração sentir isto vem. Esta dor que fico sofrendo Faço de conta sem estar devendo a ninguém. Guarde o segredo de nossa amizade que vou embora, deixo a despedida Nesta distância que eu vou ficar. Quando voltar pra seu lar querida nós trocaremos beijos e abraços. Cairei em seus braços e findo a partida. Nunca mais saio do seu pé. Isso que é uma paixão escondida

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Obrigado meu Deus Esta noite eu sonhei com nós dois unidos e como foi interessante. Neste sonho você era a minha amante. Entre seus beijos e gemidos, nossos corpos suando, se entretendo, aumentava a grande sensação. Acordei com um barulho de trovão e caia uma chuva no terreiro. Fiquei no pior desespero, procurando você no colchão. Velei muito, aí tornei dormi. Em outro sonho, você estava sentada, com suas amigas na calçada. Ao me ver começou a sorrir. Chegando perto, me mandou subir, e me disse: “sente neste sofá, que temos muito que conversar”. Você se aproximou de mim, me saudou com um beijo, dizendo ser esse o desejo de quem é proibido amar. Neste sonho eu colhi seu riso doce, seu abraço, beijo e carinho. Acordei de novo, pensando estar juntinho. Mas notei que era outro sonho, e o desespero outra vez me trouxe o pensamento que eu tive outrora que eras minha senhora, e que tinhas você só para mim. Vou lutar com o destino até o fim para ver que o tempo colabore.

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Você é minha princesa encantada e possui um castelo de riqueza. Eu só tenho um coração e pobreza Mas riqueza no mundo não é nada. Se você quer ser minha amada, se me ama escondida e a ninguém diz. Eu também nunca falo do que fiz. Vamos nos encontrar em segredo que os dois quando se amam não têm medo. E juntos são mais felizes. Se você não está dormindo em seu quarto ouvindo este programa. Telefone dizendo que me ama, que eu atendo sua ligação sorrindo. Nosso amor está se completando. quero você do meu lado. Nosso amor é o mais apaixonado e a gente se casa na matriz. Nosso amor será muito feliz. Oh, meu Deus, muito obrigado.

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Altair Martins Coelho, também conhecida pela alcunha de Senhorinha, é uma poeta alegre e gentil. Com a altura de 1,50m, espírito jovem, sorridente, ganha a vida como professora primária. É uma poeta que cultiva um romantismo amoroso e imaginário. Nascida em Fevereiro de 1956, em Cajapió, sendo a terceira filha de Airton de Sousa Carvalho e de Odinéia de Jesus Martins. Seu pai trabalhava na SUDEPE como técnico, quando em estadia na cidade marítima de Cajapió se enamora de Odinéia, logo se casando. A itinerância do trabalho do pai da poeta, os faziam morar em diversas cidades maranhenses. Depois de deixarem Cajapió foram morar na cidade de Rosário, onde Senhorinha estudou o Ginásio em 1975, na Escola Dom Senhor Geraldo e o Normal na Escola Tomaz Brito Sales, em 1979. Aos 16 anos ela se casa com um homem mais velho, um pescador marítimo, que não a amou. Era rude e beberão, fazendo o casamento se desfazer. Após a aposentadoria, seu pai conseguindo residência em São Luis leva a família para a capital. A saudade, as lembranças de seu Buriti, porém, pulsaram forte e ele decidiu em 1982 retornar a sua terra natal. E Altair Martins acompanhou seus pais. Com vida nova em Buriti, Altair começou lecionar no jardim Moranquinho, tendo um sustento. Depois, em 1999, lecionou na Escola Mundo Infantil. O dom de poeta aflorara neste momento na vida de Altair, aos 39 anos. Deu-se quando ela passou sentir forte no seu interior uma necessidade de expor os sentimentos íntimos, então sufocados. Assim, vieram diversos versos e poemas (com boa temática romântica), escritos em cadernos pequenos, onde um amor do passado, estando longe, vivendo no mundo das emoções e das paixões da poeta. Os poemas de Altair Martins são produzidos na quentura da inspiração, quando esta poeta, nos afazeres domésticos ou na prática da docência com as crianças que educa, é envolvida pelo belo. Logo ela começa registrar suas obras, surgindo os poemas frescos, de singeleza lírica e romântica. Estando solteira, morando sozinha numa aconchegante e organizada casa, Altair Martins é uma das vozes poéticas femininas buritienses das mais autênticas e sensíveis.

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Encontro Quando te encontrei o dia estava lindo o sol estava forte o mar estava calmo. Quando te encontrei vieste para mim sorrindo dando-me um abraço forte dizendo: eu te amo. Quando te encontrei tudo se modificou. A vida virou um mar de rosas no nosso amor constante. Só então lembrei que tudo se passou. A esperança e a alegria são gloriosas quando moram no peito da gente. Nosso amor foi tudo entre pesadelos e sonhos. Mentiras e realidade, tristeza e alegria. Não podemos viver escondidos. Vamos encontrar nossos caminhos na pura realidade do nosso amor em intensa orgia.

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Ternura Ternura é o teu modo Tua maneira de falar Tua meiguice Teu jeito de falar. Ternura é compreender Saber carinhos dar. É como se, teus olhos falassem: só a ti sei amar. Tua ternura me conforta esteja onde estiver Permanecerá na lembrança desse amor eloquente. Tua ternura me conforta no meu entardecer. Nascendo uma esperança desse amor envolvente.

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Solidão Estar sozinho é sentir falta de alguém, um aperto no coração, andar numa estrada sem fim. É a falta do teu carinho O tempo passa, e tu vais e vem. Uma triste canção. A morte da rosa e do jasmim. Solidão é ficar sem teus beijos Ficar sem teus abraços. E não achar nossos caminhos. E o amor que se distancia. Solidão é sentir desejos Duas almas em embaraços tentando achar seus caminhos em triste demasia. Solidão é saudade, em um canto triste. É a falta de seu calor, uma eterna agonia. Solidão é a ansiedade, nossa alma ardente. Vem mais forte o amor na esperança de te ver um dia.

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Não Posso Esquecer Não posso esquecer teu rosto e teu olhar, tão meigos e sombrios como o entardecer. Tua voz e teu jeito de falar não devo esquecer. Sinto falta de teus carinhos, de te dar o amor que é só teu. Não posso esquecer quando partistes. Meu coração ficou em choros, com saudades.

Tu fostes muito importante. Agora só tenho tuas lembranças, e a persistência da saudade que deixou. Minha esperança é te encontrar, meu amor.

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Quando adolescente, o poeta João Cardoso pedalava em sua bicicleta todo dia, nos finais de tarde, 18 km até Buriti para estudar à noite. Noutro dia, manhã, voltava para casa. Nesta peleja ela já moldava em seu caráter um espírito de determinação no buscar de seus objetivos. Assim, quando aos 16 anos comprou seu primeiro violão, fruto de economias, ninguém duvidava que ele aprendesse o ofício de violeiro. Nascido em 21 de Abril de 1958 no povoado Riacho Seco, sendo o sexto dos oito filhos de Raimundo José de Oliveira e Acelina Alves Cardoso, João de Deus Cardoso de Oliveira, cresceu em lar católico praticante, cujo pai era um líder comunitário preocupado não somente com a fé, mas também com a educação e o caráter de seus filhos, bem como de todos da comunidade. O pai ao contratar uma professora para ensinar o ABC aos filhos, estimulou várias famílias a matricularem seus filhos também, construindo um barracão de taipa para 40 alunos do Riacho Seco e de outros povoados adjacentes. O menino João, aos seis anos, aprendeu a ler e contar em um ambiente educativo com castigos e palmatórias, práticas da didática da época. Para dar sequencia nos estudos, em 1972 ingressa no Projeto Minerva em Buriti, na Escola Carmen Costa, frequentando até a 7º série, pois aos 18 anos, enamorando da amiga de escola Lucia Conceição, se casaram. Iniciando a vida conjugal no Riacho Seco, com a vinda dos quatros filhos, João não consegue conciliar, não enfrentando mais os estudos. Sendo poeta, com viola e paixão pela cantoria, no qual admirava desde infante, continuou autodidaticamente se esforçando para aperfeiçoar sua técnica e se habilitar melhor nos acordes. Em 1986, João Paraíba, cantador solteiro, em turnê pelo baixo Parnaíba, conhece João Cardoso, começando entre os dois sólida amizade. Este reconhecendo o talento do jovem cantador e exercendo influência sobre o mesmo, estimula João Cardoso a fazer apresentações, dando-lhe muitas instruções sobre a arte de versejar e cantorias. Até que um dia João, na casa de Máximo Dedé, no povoado Barras, saindo definitivamente do anonimato (mesmo usando chapéu e óculos como disfarce), fez sua primeira apresentação pública, não parando mais. Desde então, João Cardoso, fazendo apresentações percorreu nos anos seguintes, as cidades e povoados da região, como diversas cidades dos Estados do Piauí e Ceará. Ele em sua trajetória, gravou CDs de cantorias, vaquejadas, temas, motes e repentes. Tendo sua causa como arte, atualmente apresenta nos finais de semanas em rádios de Buriti os programas “Cultura mais perto de Você” e “Você e a Viola”, divulgando a poesia, as cantorias, vaquejadas e repentes, além de receber e entrevistar diversos cantadores da região e de outros Estados. João Cardoso nunca deixou suas raízes buritienses. Nasceu e vive até hoje no Riacho Seco, se tornando como seu pai um líder comunitário, coordenando a Pastoral da Comunicação na capela São Francisco das Chagas. Em pleno avanço da monocultura e destruição do cerrado no município, recebeu muitas propostas para vender seu sítio Ponta do Mato, de 120 hectares, nunca cedendo. Em seu sítio, João manteve de pé uma bela floresta de cerrado, com projetos de extrativismo, vive da terra, criando pequenos animais e aves de corte, abelhas tiúba em cortiços de troncos secos e em pés de manga do pomar (de diversas frutas); lavrando roçados lucrativos, sendo também um produtivo agricultor familiar.

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A culpa foi toda dela Já amei uma mulher que jurou muito me querer. Eu não conto as diversas vezes que ela dizia, insistentemente, dizia nunca me deixar. Antes preferia morrer.

Eu lhe jurei amor eterno. Ela também me jurou. E nosso amor foi muito bonito. Porém, depois tudo mudou. Quando menos eu esperava ela me abandonou.

Ela me escreveu uma carta: “eu não te amo mais. Desculpe-me a sinceridade, mas eu já tenho outro amante. Procure outra que lhe queira ”. Foi assim, duro demais.

Quando eu li a carta confesso que até chorei. Passei o lenço no rosto dobrei a carta e guardei. Entreguei tudo a Jesus, e nunca mais procurei ela.

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Algum tempo, numa noite de natal, andava eu passeando, quando chegou um amigo, que foi logo me falando: “Tem alguém que quer te ver. Vamos ali, no lugar esperado”. O acompanhei sem nada saber. Quando chegamos ao local, na casa de um parente, se encontra ela, debruçada numa janela. De imediato me pergunto se ainda gostava Calmamente lhe respondi: “No passado, sim, te amei, mas aquela carta enviada me deixou muito abalado. Então fiz como me recomendou e tenho outra ao meu lado.” Com essas minhas palavras ela ficou atordoada. Ainda puxei do bolso a carta rasgando na cara dela. Virei as costas pra ela e saí sem dizer mais nada.

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Paixão de Infância Em tempo de infância eu amei uma pequena, uma menina bonita, mulata de cor morena. Num filme de TV vejo diversas cenas de nosso amor. Essa menina me apareceu com seu corpo genuíno. Parece coisa de sorte, criado pelo destino. Tempos bons, nós dois bem jovens no esplendor da existência. Tenho doces recordações das cartas que ela fazia. Sentia uma emoção Nas declarações das frases escritas. Dizia que meu coração era dela como eterno dia. Sim, realmente era ainda criança quando amei esta mulata. Mas lembro bem do dia, ano, mês e data. E a saudade traz uma agonia, a paixão volta, e maltrata.

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Ela agarrada comigo, Sorrindo, dizia assim: “Tu és um anjo do céu que Jesus mandou pra mim. Antes morrer, desejo, que nosso amor chegar a um fim ”. Porém, tal amor de infância com o tempo foi embora. Só pra me fazer vingança O destino jogou fora. Por isso negra paixão Mora dentro deste peito.

Beber de Desgosto Eu vou contar minha vida chorando apaixonado. Por causa de bebedeira meu amor foi desprezado. Triste vida neste mundo, de quem vive abandonado. Convidei dois amigos pra beber alcatrão. A cachaça está no copo, o cigarro está na mão. Eu vou beber pinga nos bares pra não morrer de paixão. Sou perdido no mundo por dinheiro e bebedeira. Pelo som de violão, anfona e mulher sineira. Por causa de amor fingido eu vivo desta maneira. 67


Tenho sofrido tanto neste mundo de ilusão. Por causa de uma ingrata que não me deu atenção Se Deus não dê mais um jeito eu vou morrer de paixão. Nem a polícia empatará, eu chorar por minha querida. Eu solucei de saudade Quando amor fez partida. Por isso não há quem me prive de chorar e tomar bebidas.

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Na caixa de e-mail pessoal se recebe a notícia enviada por Elizabeth Faria de quer Bill de Jesus, na manhã de 4 de Agosto de 2011, em São Luis, havia falecido aos 53 anos. Professor, teatrólogo, ativista cultural multifacetado e poeta, o buritiense Benedito Ferreira de Jesus, popularmente Bill de Jesus, dedicou sua vida para as expressões culturais populares e artísticas. Nascido em 26 de Março de 1958, filho de Raimundo Nonato de Jesus e Maria José Ferreira de Jesus. Viveu em sua cidade natal até 1975, quando partiu para São Luis, objetivando continuar os estudos e realizar os sonhos pessoais. Na capital cursou o 2º grau no CIPE, concluindo em 1982. Paralelo, em 1981, com vocação para as artes cênicas, faz cursos de Sensibilização Teatral e Dicção, instruído por Aldo Rebelo e Eudózia Acunã, no Grupo Gangorra. Estudou também técnica de Teatro de Bonecos e atuação para atores. Em São Luis atuou no FETEMA (Federação de Teatro do Estado do Maranhão) e LOBOART - Grupo de renome na capital - além do Grumate e o Grupo Pote, idealizado por ele e a atriz Ana Tereza Desterro. Em 1985, Bill que há um ano havia se mudado para a cidade de Arari, participa em Brasília do Seminário Brasileiro de Teatro. Em Arari, que adotou como sua, continuou ativamente se envolvendo nas produções teatrais, ora sendo diretor e ator; ora sendo contra regra e cenógrafo em grupos como “Mistura”, fundado em 1988, transformado em Companhia em 2003. Seus bonecos gigantes, os “Bonecos de Bill”, tornaram-se atrações culturais e tradicionais nos carnavais de Arari, no qual foi grande animador. Como professor de artes, literatura e história em redes públicas e privadas locais, Bill de Jesus foi um mestre que unia teoria e prática no processo de aprendizado de seus alunos, contextualizando a realidade socioeconômica e cultural dos mesmos. Os educandos eram companheiros de Bill, e juntos movimentavam o ambiente cultural das escolas, organizando peças estudantis, recitais poéticos e musicais; seminários com temáticas diversas, voltadas sempre para a comunidade arariense, participante fiel dos eventos. Tornando-se enfim, uma das principais lideranças culturais da cidade que adotou, recebeu em 2003 o título de Cidadão Arariense, em reconhecimento aos extensos trabalhos educativos e culturais realizados. Gestor de cultura da prefeitura local desde 2007, conseguiu dentre muitas conquistas, a reativação da Escola Municipal de Música da cidade. Bill pelas peças teatrais que escrevia e dirigia; pelos poemas publicados em jornais locais, chegou a receber oficialmente convite para ser membro da Academia Arariense-Vitoriense de Letras, mas por razões pessoais não aceitou. Historiador, graduado pela Universidade Estadual do Maranhão, pesquisava sobre o tambor de Crioula da Trizidela de Miguel Campelo, visando um artigo de conclusão da pós-graduação. Como poeta, aliás, um bom poeta, de versos eloquentes, maduros e criativos, onde faz uso de fortes e belas expressões – Bill de Jesus organizava sua primeira antologia, pretendendo lançá-la no aniversário de 54 anos. Nos encontros de gestores culturais dos municípios maranhenses, Bill sempre me perguntava por Buriti, e o que se fazia pela cultura de sua terra, onde em última visita no final de Julho de 2011, colhendo depoimentos de amigos e conhecidos, gravando cenas e lugares de sua infância e adolescência, objetivava organizar um documentário autobiográfico, pelo qual deixou em andamento. Na manhã do dia 2 de Agosto de 2011, dirigindo uma performance teatral numa conferência pública em Arari, Bill passou mal. Foi levado às presas para um hospital local. Não tendo melhoras é enviado para São Luis, falecendo na manhã do dia 3 de Agosto. A pedido, depois de ser velado em Arari, cuja população, amigos e admiradores ficaram profundamente comovidos, seu corpo mortal retornou à sua cidade Buriti, onde foi sepultado no cemitério São José. 70


Ventre Sacrossanto O corpo sacro grita pela salvação do ventre verde, de uma terra em chamas e ao mesmo tempo fria. Chamas de um inferno sem dono, mas, ao mesmo tempo, de bilhões de lucíferes, fria, de geleira sombria de amor a Deus. Ó ventre de minha Mãe Sagrada! Ó mata verde-brilhante! Ó grande Tupã! Não deixes cair em tentação de Anhangá, demônio de um Capitalismo sem fronteiras. Ó Terra Sagrada! Teu Corpo Sacrossanto grita pela salvação do ventre-verde de uma mata sem plantas, pássaros, água, ar e jabutis, cujo ventre gerou também a paciente preguiça, que acreditou jamais acabar a fonte de sua alimentação. Ó Mãe Maria da Paz! Trazei de volta ao ventre os sonhos coloridos de flores, frutos, peixes, ventos, mares e arco-íris, que outrora eram o Paraíso.

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Índio O corpo nu pintado de cores geograficamente surtidas. Horas de guerras Horas de alegrias Horas de reflexão Se arrastando pelas aldeias azedas e fétidas. Sem injeção de respeito, dignidade, auto- estima. Sem cidadania! São milhões de perdidos, sofridos e saqueados. Humilhados! Sofridos às margens do rio-social amargo. De uma conjuntura sem dó, sem dor e sem pudor. Que estraçalha a vida humana com dinheiro mesquinho de um mundo sem deuses, de uma elite pobre. Índios homens que pátria tu tens? Que homem tu és? Que sonhos tiveste? O teu sonho, a tua cidadania... se foram!!! Como uma pomba branca Que até hoje continua branca, nebulosa e cinzenta. Sem corresponder ao sonhado sonho da paz!!! Sim. Da paz!!! Simplesmente porque é pomba. E pássaro não vale nada para eles.

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E você simplesmente porque é índio Saudosa maloca!!! Aldeia querida!!!

Mal-de-vina É de manhã... Um grito de menino soa pelas tantas, que despertando o caminho pirento, vive uma sinfonia dolorosa. O sol espalha-se encontrando o homem da casa que já está muito cedo na boca do igapé, arrastando a rede, e de lá retirando o sustento do pão do meio-dia. Lá na esquina, a música de Bartor Galeno estraçalha corações de mariposa que não foram felizes na calada da noite e amanheceram no desespero. - Chorei! Ah, como eu chorei, Maria! Por culpa da vontade louca pelo orgasmo, enganada na expressão. - Até quando Deus quiser! Carregando na barriga mais um do povo. Na cozinha! (já quase meio dia), o cachorro pirento vive uma sinfonia dolorosa (desta vez, lenta e triste); Nas pedras, uma panela repousa calejada pelo tempo, na espera seca como as palhas das paredes, a peixada magra na água e sal. E a cara do verminoso! Como panos surrados no varal. Poídos? Todos. Da lavagem do Mearim quase morto, que sabe só e guarda com tanto segredo as mágoas dessa gente. 73


E você! Parado aí, nessa almofada mofada de peidos, com a garganta presa na gravata que te impõe e delega podres poderes nesta cidade apagada de “Das graças”. O que te impede de ser gente? Nada! Apenas o conformismo.

A Minha História A minha história cai como a gota de orvalho e depois evapora O meu amor acaba na tristeza da solidão. A história, a gota e o amor ardem como boca de um vulcão em lava. Como erosão de um rio em trapos de um Mearim fatídico A minha história se funde como a cabeça alegre e doida de um pensador humanista da idade renascente da vitória humana Se você conhece pode ter certeza que o amor é lindo como a força da alegria que emana nos corações da vida.

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A mãe do poeta Lulu Rocha, a professora e poetisa Sofia, no povoado Bom Jesus, distante seis quilômetros de Buriti, não tendo com quem deixar seu filho de cinco anos em casa, o levava para a alfabetização do Projeto João de Barro. Junto com os adultos e jovens do povoado, em sala de aula o menino aprendeu a ler. Para fazer os estudos formais vai morar em Buriti, estudando na Escola Inácia Vaz. Faz o primário na Escola Antonio de Faria e o Ginásio no Bandeirante. Muito ativo, ambicionando crescer mais ainda nos estudos, parte em 1982 para Teresina, cursando o Científico no Liceu Piauiense. Tendo neste período contato com a literatura, principalmente com poetas românticos e modernistas, seu dom de poeta eclodiu. De memória prodigiosa, decorava os poemas dos poetas que gostava, escrevia os seus próprios poemas e passou a participar de recitais na escola. Quando em férias em Buriti, travou amizade com os poetas Lili Lago e José Borges, que o reconheceram como poeta. Formando um trio de poetas, eles nas ruas, bares e nas conversas, viviam a declamar e discutir poesia. Concluindo o científico, tentou vestibular para Direito. Não obtendo êxito e pretendendo não parar os estudos, começou fazer mecânica e um curso de soldador no SENAI . Retornando para Buriti é contratado para lecionar física e química na Escola Carmem Costa. Em 1988 morando em Coelho Neto e trabalhando como torneiro mecânico na Fabrica Itajubara, iniciou sua busca pela estabilidade financeira e de aventuras pelo Brasil. Tendo uma tia em Porto Velho-RO, viaja pra trabalhar neste Estado, ficando dois anos. Depois, trabalha nas cidades de Pontes, Lacerda, Várzea Grande e Santa Elina, no Mato Grosso. Somente em 1993 volta novamente para Buriti, onde por concurso público começou a ser professor do Estado. Neste ano ele casa com Francilene Braga, de cuja relação nasceu duas meninas. Nas eleições de 1996, disputando uma vaga no legislativo buritiense, não é eleito. Muito endividado pelos gastos da campanha vai trabalhar em Manaus, objetivando saldar as dívidas. Consegue contrato como professor pelo Estado do Amazonas. Presta vestibular para Letras na Universidade Federal do Amazonas, concluindo o curso em 2001. Em Dezembro de 2002 retorna outra vez ao seu Buriti. Reassume o trabalho de Secretário na Escola Carmen Costa. Passando num concurso da Prefeitura em 2007 começa a lecionar em escolas municipais, se dedicando definitivamente à docência. Sempre dedicado e buscando o saber, começou em 2010 cursar Física no Programa Darcy Ribeiro na UEMA, no Polo Coelho Neto. Neste ano também, afligido por crises existenciais e alcoolismo, decidiu voltar para Deus, restaurando uma amizade que viveu com Ele na adolescência quando estudante em Teresina. O mesmo se juntou a uma comunidade cristã para comungar a fé, alcançado a paz e o equilíbrio interior almejado. Atualmente o poeta Lulu organiza sua antologia de poemas. Projeto que devemos encorajar para o enriquecimento da literatura local/regional.

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A Triste saga do trabalhador Êta! Vida miserável! A vida do trabalhador. Seja letrado, seja agricultor, é doida. É lamentável. O pobre coitado, trabalha feito condenado. De sol a pino, a sol a pino. E ainda há quem diga: é coisa do destino. Entra governo, sai governo. Entra administração, sai administração. Permanece o sufoco, a mesma situação. O mesmo desespero, o mesmo inferno. A precisão e a necessidade parece estar colado em sua pele que até sua alma fere de tão amarga que é nessa triste realidade. Ao voltar pra casa no final do dia. Sofre mais outra agonia. Em seu fogão, só há cinzas, nenhuma brasa. Senhor, será que isso é doença que não tem cura? Trabalhar até morrer neste rio de amargura? Mais não desanime não sô, somos filhos do mesmo Senhor. Enquanto houver vida, há esperança. Continue com a mesma perseverança. Por que há sempre um lugar ao sol pra quem trabalha. A justiça divina tarda, mas não falha.

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No meu ermo Todo ano parece ser igual mas tudo é bem diferente a começar pelo estado emocional que habita o coração da gente. Todavia uma coisa é certa Todo mês de maio desperta na alma da gente uma nova inspiração uma nova emoção Todo mês de maio é hora de abrir o coração e deixar fluir as palavras e dizer mãe, como é bom ter você. Sem que estejas por perto é como vaga por um imenso deserto sem saber pra que rumo seguir. E nesse meu ermo, será difícil prosseguir sem ti.

Sozinho Eu tenho andado tão sozinho Necessito ter alguém ao meu lado Será que Deus me dará tua companhia? Morro de medo de sofrer tudo de novo. De cair na língua do povo. Disso não, não peço segredo.

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Vivo correndo atrás daquilo que sempre quis. Ser amado Ser feliz. Se quiseres ser minha, que seja por inteira. Se não for amor, que seja paixão mas se for paixão, que seja verdadeira.

Desertificação Era tudo muito bonito o verde da mata contrastava com o azul do infinito. Mas tudo, digo: findou, foi... perdemos pros homens, perdemos nos barulhos das motosserras. O que antes estava intacto, vivaz: pequi, araticum, bacuri e murici, espinha dorsal da nossa imponente Chapada Virou só poeira, estrada, rala gramínea. Sem sombra, um solo cansado, desértico, arenoso, com pouca ou sem nenhuma chance de recuperação. É o que resta do nosso pequeno torrão. Um verdadeiro caos, antecipando juízo final. E por onde agora se passa: poeira, fogo, fumaça, madeira que virou carvão, e a chapada, desertificação.

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Aliandro Silva Borges, nascido em 20 de Fevereiro de 1980, é um poeta jovem, culto e determinado. Quarto filho do poeta Zé Borges com Graça Silva, herdou do pai o talento e a inteligência para os estudos e as letras. Desde cedo foi adotado por sua avó Mundica, sua bisavó Dindinha e o avô Pintonho. Os seus pais, mesmo concordando que os avós criassem o menino, nunca deixaram de acompanhá-lo. Quando Aliandro terminou o ginásio em Buriti, Zé Borges foi à casa dos avós avisar que ele continuaria os estudos em São Luis. Sendo um aluno estudioso, ao terminar a oitava série era considerado um dos melhores da cidade. Na capital se inscreve para a prova de admissão no Liceu de São Luis, passando em primeiro lugar. Aprovado, passa a morar na casa de Dona Amparo, amiga de seus pais, que acolheu o jovem buritiense como filho. Concluindo o Ensino Médio como aluno exemplar, Aliandro decidiu fazer o vestibular de 1998 na Universidade Estadual do Maranhão para Licenciatura em Química, sendo aprovado. No 7º período de curso, em 2002, fazendo outro vestibular na Universidade Federal do Maranhão pra Farmácia, é aprovado em 9º colocação. Assim, tendo concluído Química em 2005, defende a tese “Análise Fisioquímica de Méis de Melícuna Combressiper Sasciculata”, a popular Tiúba, com bolsa do CNPQ. Na defesa do curso de Farmácia em 2009, dissertou sobre “Análise Euthorbia tirucalli L., a planta ‘pau pelado’”. Em 2005, Aliandro que lecionava em escolas comunitárias como universitário para ajudar nas despesas, fez o concurso para professor do Estado. Sendo nomeado em 2007, é lotado no Centro de Ensino Cidade Operária, passando a lecionar química. Em 2009 nesta escola é promovido ao cargo de vice-diretor. Apaixonou-se por livros desde criança, Aliandro Borges em vivências acadêmicas no campus da UEMA e da UFMA, nas horas vagas das aulas, habituou-se a percorrer os corredores das Bibliotecas, conhecendo todos os livros do acervo. É neste período que motivado pelo amor e as questões filosóficas do seu interior que ele começou a escrever poemas e crônicas, e também adquirir compreensão social e política. Ele filia-se ao PT de Buriti, se tornando depois vice-presidente do diretório municipal. Em 2004 se candidatou pela primeira vez vereador no município. Sua campanha feita nos finais de semana quando deixava São Luis para percorrer os povoados de Buriti lhe rendeu ainda 39 votos. Ainda participando das discussões políticas, alia seu talento de escrever para analisar e criticar as ações e comportamentos dos políticos e da política buritiense, como também nacionalmente, através da internet, sendo da geração digital, onde as notícias correm rápidas e democráticas, Aliandro posta seus textos no blog o “Correio Buritiense”, noticiário eletrônico mais lido, polêmico e comentado pela população. O certo é que Aliandro Borges com sua juventude íntegra e exemplo de vencedor ao deixar sua terra com diversas dificuldades sociais e econômicas, alcançou muitos de seus objetivos, e com esse espírito poderá contribuir na renovação e melhoria da política da terra de Inácia Vaz; como também nas lutas sociais para a dignificação da vida de seu povo e engrandecimento desta terra onde as pessoas amam o trabalho e a poesia. Como um intelectual e poeta sensível, possuidor de cultura humanista, há de se juntar à galeria dos filhos ilustres de Buriti, que no cenário estadual e nacional muito fizeram para o país e nossa gente.

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Um Amor quase perdido A viagem é longa Há emoção exaltante e contentamento incontrolável. Crescente é a expectativa do encontro imaginado. Mas nada ocorreu. Não vieste ao encontro marcado. Fez depressão em mim. Não existe o mundo. Ele é ilusão ou sonho profundo. Sendo a vida isso, não quero viver.

Entre Tudo Entre o silêncio e a música… … o desejo e a resistência… … a espera e a partida… … a felicidade e a tristeza… … o ser e o não ser… …o pensar e o amor… … o sonho e a realidade… … o sol e a chuva… … o olhar e o soslaio… … a noite e a dor… …a inocência e a maledicência... …os homens e os deuses… …entre o poeta e a palavra… …a paz e a guerra… …a juventude e a velhice... …o tudo e o nada… … você e eu… … entre o criador e a criatura … … O AMOR… 82


Minha Vida Quero a paz dos teus braços, o aconchego do teu corpo, o consolo das tuas palavras, o alimentar dos teus beijos. Quero adormecer nos teus sonhos. despertar no brilho do teu olhar, e na eternidade da tua beleza. Por ti ser amado em todos os dias. Esse é o desejo da minha vida.

A Chuva Cai a chuva. Tudo parece voltar novamente. As gotas são como as lágrimas: lubrificam tudo aonde passam. A chuva me leva a tempos passados. Desafiando-me a prognosticar o futuro, entristecendo meu presente, deixando um vazio dentro da alma. Ah! Quanta chuva! É como se cada gota deslizando representasse a difícil tarefa de viver. Não me importo mais. Estar presente talvez seja suficiente.

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Raimundo Viana era uma criança retirante das secas do Ceará, quando juntamente com seus familiares encontraram guarida no Boqueirão, centenário povoado e porto fluvial, no fértil vale do rio Parnaíba, no Maranhão. Estando jovem, Raimundo Viana, em visitas a cidade de Miguel Alves-PI, conheceu e enamorou Remédios Soares trabalhando nos comércios da tradicional família Rego. Casaram em 1933. Três anos depois, nasceu em 28 de Maio de 1936, seu primogênito Moacir. Após o nascimento do filho, Raimundo Viana recebe convite do comerciante Benedito Gonçalves Machado para trabalhar no povoado Garapa, distante 15 km do Boqueirão, passando a ser um dos seus vaqueiros. O menino Moacir Soares Viana cresceu na rua principal do Garapa, onde com as professoras do povoado aprendeu as primeiras letras. Chegando à adolescência seu pai consegue que o deputado Raimundo Bacelar lhe dê oportunidades em São Luis, visando o continuar dos estudos e trabalho para o filho. Na capital, Moacir não teve muitas oportunidades com os Bacelar. Ele, porém, conseguiu estudar até a sexta série, e sobreviveu arrendando um pequeno comércio de uma viúva amiga. Em São Luis ele aprende também tocar violão e deu vazão à sua arte poética. Na capital, em 1956, conhecendo uma moça, Sônia Santos, se casam, e logo volta a morar no Garapa, agora cidade Duque Bacelar. O casamento não dura muito. Separados, Sonia volta para São Luis com um filho gerado do casamento. Moacir continuou a vida trabalhando como locutor nos alto-falantes dos comércios da família Oliveira em Coelho Neto. Solteiro e artista festeiro, se dedica a boemia e cabarés, declamando seus versos e tocando violão. No ano de 1966, o pai de Moacir desgostoso da vida social e política do antigo Garapa decidiu morar na cidade de União - PI, levando consigo toda a família. Nesta cidade Moacir organiza um comércio, trabalhando por conta própria. Nunca deixando sua arte de declamador e violeiro, se apresentava na frente de seu negócio e nas festas de União, acabando por despertar paixão nas moças. Dentre elas, Jesus Gomes, que com seus olhos verdes, acaba despertando o coração do poeta. Eles se casam em 1968, gerando quatro filhos da relação. Em 1971 a família volta para Duque Bacelar. Moacir mais amadurecido, tendo apoio de membros da família Oliveira, é eleito vereador para o quinquênio de 1977 a 1981. Não conseguindo se reeleger no mandato seguinte, só retorna ao legislativo municipal nos mandados de 1993 a 1996; de 1997-2000 e de 2001 a 2004. Enquanto esteve na política, continuou atuando como artista e poeta. Declamava poemas nos eventos, e em serestas, cantando e tocando seu violão. Atuou muito como locutor nas emissoras de rádio locais, onde foi um dos pioneiros do radialismo regional, apresentando o programa Forró da Saudade, na Rádio Tapuio. Moacir faleceu em 13 de Junho de 2002, sem deixar obra publicada. Uma perda para a cultura garapense, pois era possuidor de grande talento e autêntico espírito poético. Muitos de seus poemas, manuscritos em folhas de cadernos comuns, se perderam.

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Baião do Moacir Já fui lavrador, fui soldado, balconista e fui vaqueiro. Agora vereador, ganhando pouco dinheiro. Meu mundo é diferente não faço parte de nada. E vou levando pra frente tudo àquilo que me agrada. Meu Duque, minha terra amada de bom clima Deus que me deu de presente o mundo cheio de rima. Este baião é um presente presente de despedida. Sei muito bem minha gente que nunca fui nada na vida. Não tenho letra profunda para entrar na academia Meus versos ficam no mundo sem nem uma valia Se dona vida quiser conversar com minha alegria. É só me dar a valer: velhice, amor e poesia.

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O meu verso O meu verso rasteiro, singelo, e sem graça, não entra na praça do rico salão. Meu verso só entra no campo e na roça, nas pobres palhoças da serra ao sertão. Sertão alguém te cantou. Eu sempre tenho cantado, e ainda cantando tô. Porque tu és meu Duque amado. Muito te quero e te prezo. Aqui eu vejo teus mistérios que ninguém pode decifrar. A tua beleza é tanta, que o poeta canta, canta e ainda fica o que cantar. No romper da aurora, na minha Duque Bacelar, quando escuto a voz sonora do saudoso sabiá. Peço a Deus, a mãe santa Maria que me dê essa alegria de sempre meu Duque cantar. Meu Duque, minha terra amada, de bom e saudoso clima, que me deu de mão beijada, um mundo cheio de rima. Mas, eu não invejo o grande tesouro seu. Os livros do seu colégio, onde você aprendeu, pra gente aqui ser poeta, e fazer rima completa, não precisa ser professor. Basta ver no mês de Maio um poema em cada gota um verso, em cada flor uma rima. 87


Fatalidade Neste estilo popular nos meus singelos versinhos, o leitor vai encontrar em vez de rosas, espinhos, da minha constante lida. Conheço no mar da vida as temerosas tormentas. Eu sou poeta da roça tenho mãos calosas e grossas, do cabo das ferramentas. Nesta batalha do nada, correndo pra lá e pra cá, tenho a pele bronzeada do sol do meu Ceará. Porém, o maior tormento que me abala. Este sentimento que a Providência me deu, é saber que há desgraçados por este mundo jogado, sofrendo mais do que eu. É saber que há muita gente na mais cruel privação. Vagando constantemente sem roupa, sem lar e sem pão. É saber que há inocentes, infelizes e indigentes. Que por este mundo vão seguindo errado caminho, sem ter da mãe o carinho, nem do pai a proteção.

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Seu Moço Seu moço aqui no meu Duque a coisa é diferente. Todo mundo é igual parece ser irmão da gente. Eu me criei no meu Duque não posso dizer que não. Cheguei aqui muito moço. e hoje me vejo cantando baião. E peço a Jesus que me dê sempre inspiração para eu cantar o meu Duque nos versos simples deste baião.

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VILMAR MACHADO 90


Neta de Benedito Gonçalves Machado, comerciante e político, que na década de 30 apregoava a criação do povoado Garapa em cidade, nasceu a menina Maria Vilmar Machado Vilar em 24 de Maio de 1948. Afligida aos oito meses por paralisia infantil, desde cedo sua mãe Euzamar Machado, buscando tratamento para sua filha primogênita, viajava com ela para longas temporadas no Rio de Janeiro. Na capital do Brasil, se hospedavam na casa da tia-avó, Maria Conceição Machado, na época Diretora Geral do Banco Brasil. Entre as sessões de tratamento contra a paralisia e recuperação de operações cirúrgicas, a menina Vilmar fora alfabetizada secretamente pela tia aos seis anos. Em 1956, com oito anos, ela sofreu o doloroso golpe de perder a mãe Euzamar. Episódio que viera repercutir em toda sua vida e sensibilidade poética. A morte de Euzamar também afetou toda a família Machado, sendo uma das razões que levaram sua avó Candoca Machado a voltar morar na cidade de Buriti, onde Vilmar passou a residir, começando ali seus estudos formais. Na cidade de Buriti estudou no Grupo Escolar Antonio Faria de 1957 a 1960. Aos 10 anos de idade escreveu seu primeiro poema, “O Sal”, começando sua produção poética. Enviada pelo pai Vicente Vilar para Grato, no Ceará, fez o Ginásio, estudando em escola de freiras. No Rio de Janeiro, também em escola dirigida por freiras, fez o Clássico na Escola Notre Dame. Formou-se em Direito pela UFPI, em Teresina, com distinção e louvor, em 1974. Logo depois, em 1975, de volta a sua terra, é eleita pela Arena a primeira mulher Prefeita de Duque Bacelar. Como Prefeita trabalhou com afinco pela educação dos bacelarenses, fundando a Escola Euzamar Machado Vilar, de ensino técnico em Magistério, que se tornou uma instituição marcante na educação da cidade. Construiu a Praça Central, a Gruta de Pedras, compondo o Hino de Duque Bacelar em 1977. Elegendo seu sucessor em 1982, Vilmar Machado decidiu residir em São Luis, onde como educadora, a frente da Escola São Judas Tadeu, no bairro Turu, passou a educar as crianças e jovens da capital. Entretanto, nunca abandou politicamente sua terra natal e nem deixou de contribuir culturalmente com a mesma. Elegeu-se Vice-Prefeita na chapa de Francisco Carnaúba para o quatriênio de 1989-1992, e recentemente fundou o Grupo Folclórico Boi Majestoso, acompanhado de um bonito CD Musical com letras de sua autoria, em destaque a música “O Milagre do Vaqueiro Antenor” e “Índia Ribeirinha”, que exaltam a terra garapense, enriquecendo nossa cultura e cooperando na formação sociocultural da juventude. Na sua vida inteira, em todas as terras que peregrinou para sua formação educativa e mesmo na prática da política, Vilmar Machado sempre se dedicou à produção poética. Muitas vezes escrevendo por encomenda de amigos e admiradores; outras pelo dom pulsando na sua alma, externando assim suas dores, questionamentos e conflitos internos de poeta diante da existência. Além de vasta produção de poemas e músicas, dedica-se também aos gêneros de crônicas e teatro. Suas peças teatrais, criativas, recheadas de humor e espiritualidade são encenadas com sucesso pelos alunos da Escola São Judas Tadeu em São Luis. Porém, essa Emily Dickinson garapense com diversas obras inéditas de peças, crônicas, músicas e poemas: belos, inteligentes e profundos; deve não só a publicação de seus textos à cultura garapense, mas como à cultura literária maranhense em geral.

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Aos Olhos de Minha Avó Os teus olhos embaçados de velhice. Ao fitar, talvez, na treva a própria luz, reflete-me todo bem que fizestes. Todas as cores de amor colorindo a tua cruz. Quando nasci tu já fitavas o mundo com olhos claros descobertos e atentos. Quando cresci e conheci a dor, sob teus olhos encontrei alento. Senhor! Nunca consinta que durante a vida fuja dos olhos desta mãe querida a visão do mundo. A visão da luz. Porque da alma não apagaram nela a visão singela do amor. A visão de Ti, meu Senhor Jesus.

Coração O coração é um relógio oculto que sem cordas vive a trabalhar. Se estamos acordados ou dormindo ele pulsa. Pulsa sem cessar. O coração é quem primeiro sente ao nos invadir a dor e a alegria. E quando descem as lágrimas dos olhos o coração há muito já sabia. O coração é um sol profundo. Que nos clareia as cores do mundo. Embora com algum obstáculo. 92


E o coração é o órgão principal que nos revela o bem e o mal. Enfim, ele é um vivo tabernáculo.

Angústia Deus! É tão triste o meu penar de crente. Deus! Escuta a dor que sempre me envolveu. Eu creio em tua grandeza cegamente. Procuro obedecer aos mandamentos teus. Perdoa-me, Senhor, se ouso confessar um desejo de não mais crer no teu amor. Quantas vezes, Senhor, me vistes soluçar uma dúvida cruel que me abraçou e de mim se apoderou. Tudo aconteceu quando naquele dia deixando doente mamãe, na capela em oração. Saúde pra mamãe chorando eu te pedia. Porém, ela já estava morta quando eu voltei. Chorei desiludida, saudade, solidão. Não entendi por que não me ouvistes. Eu acreditei quando mamãe me disse - “Ele sempre atende o filho que está triste.” Perdoa-me, Senhor, eu sou uma pecadora. Eu quero crer na salvação que me deste. Morrerei tranquila se soubesse que em Ti gozarei com ela do prazer celeste. Senhor, eu reconheço a minha dor. Sei também o quanto padecestes. Mas a dor de órfão não sentistes nunca. Pois foi nos braços de mãe que Tu morrestes.

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Se Perdoasses Se perdoasses o que eu penso, amigo, confessaria tudo de uma vez. E certamente só terias ouvido. Porque falar só te doeria, talvez. Se perdoares o que sinto, amigo. Minha alma em festa te daria mil graças. Toda branquinha, isenta de perigo. Ficaria olhando para a rua que passas. Se perdoasses o que sinto, amigo. Se me punires com algum castigo Eu te diria que o meu coração em vez do tic-tac corriqueiro, soletra o teu nome o dia inteiro. E não há meio de ensiná-lo outra lição.

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CHICO MURICI

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José Murici, jovem viúvo, após a perda da mulher na fazenda Conceição dos Bacelar, em Miguel Alves-PI, decidi morar no Maranhão, no povoado Croa da Onça, conseguindo moradia nestas terras de João Furtado. Certa noite, numa festa convida pra dançar Maria de Cruz, moradora do povoado Ana Maria. A moça gostou e começaram uma conversa séria, à moda da época. Ocorreu que na caminhada de volta pra casa, em turba de amigos, ao se aproximarem da casa de Maria, a mãe da mesma reclama dela está em companhia de um desconhecido. Diante de uma repreensão pública, José envergonhado e revoltado convidou Maria para morarem juntos. Ela concorda e vai para a casa de José. No outro dia, João Furtado, o agregador do jovem viúvo, o chama e lhe dar um ultimato de casamento com Maria. É dessa relação que nasce o poeta Chico Murici, em três de Maio de 1934, filho único do casal. Sendo José Murici muito trabalhador (o Murici é apelido anexado ao nome por ser o nome do povoado em que nasceu e cresceu no Piauí) é observado pelo comerciante Zuza Machado, que o convida para cuidar de sua fazenda nas Caraíbas. Mediante algumas conversas, Zuza e Murici acertam as contas com João Furtado. O casal Murici vai com o filho serem rendeiros na fazenda Caraíbas. O menino Chico Murici cresceu nesta fazenda, e recebeu o apelido do pai Murici. José foi um pai muito apegado ao seu filho Chico Murici. O mesmo proporcionando as condições possíveis para sua dignidade e cidadania, contratou professores: Alvina, de Coelho Neto; Corina, de Miguel Alves e o professor Anísio José de Carvalho, marcante professor da vida de Murici. Ele aplicava uma metodologia progressista em sala de aula. Ensinava a tabuada cantando para o melhor aprendizado. Ensinou geografia, gramática e ciências naturais. Foi neste tempo, idos de 1950 e 1951, que Chico Murici começou fazer os seus primeiros versos, materializando o sentimento que nutria pelas coisas belas e as cantorias dos poetas repentistas que ouvia nas Caraíbas. Desejou ser poeta e músico também, mas seu pai o desencorajou veementemente. Sensível, Murici que nutria encanto por músicas, os cantos de passarinhos e a natureza às margens do rio Parnaíba, acabou abandonando seu intento poético e artístico. Em 1953, 23 de Junho, ele casou com Ricardina Rodrigues, moradora do vizinho povoado Boqueirão. Tiveram cinco filhos, dos quais dois nasceram sem vida. Em 1964, eles deixaram as Caraíbas, indo morar no povoado Cercado, onde seu pai comprou 323 hectares de terra do senhor Zé Basílio. Ele, que não teve como continuar nos estudos, tornou-se um lavrador. E na relação com a terra, algo pessoal e espiritual para Murici, no observar dos cantos dos pássaros, da beleza das palmeiras e de toda flora do cerrado, seus pensamentos e emoções são tomados de encanto e poesia. Assim, em 1970 seu ser poético gritou forte novamente e ele voltou a versejar as coisas sentidas da alma. Nos poemas analisados de Murici, manuscritos em cadernos comuns, vê-se toda emoção de um poeta criativo, simples e místico, que trabalha em versos rimados, cheios de músicas e ritmos, mesmo não tendo ele formação formal. Se bem mais lapidado e estimulado, o talentoso nato de Murici engrandecerá em muito a arte em nossa região garapense.

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Poeta Chico Murici Nas horas de Deus, amém, e também da virgem Maria, quero tanto adquirir o pão diário a custa da poesia. Vivendo sempre de roça com 77 anos, tremendo e cansado, assim mesmo, errado, escrevo. Tenho bastante ternura, os pés e as mãos calejadas. A pobreza se faz e eu sinto. Por isso que o Murici faz versos de pé quebrado. Desde 1970, estando com 36 anos quis escrever músicas e histórias. Ninguém me acolheu sempre me jogaram fora. Em todo este tempo tenho esses planos. Já escrevi muitos versos. Com fé em nosso Deus Soberano um dia chegará o meu sonho. Escritório eu não tenho pra sentar e escrever. Escrevo pelo mato, pela forma de não ter nem o local nem o ganho pra poder me conter. De trabalhar de roça vou parar de verdade Não estou mais aguentando por causa da idade. Trabalhar com versos e música É minha completa vontade. 97


Sou um maranhense exato falando com fé e firmeza. Não sou malvado, ingrato, gosto da mãe natureza. Vivendo aqui neste meio entre flores e espinhos vim ao campo criar meu canto na companhia de passarinhos. Curupião, passarinho bonito. Xexeu imita qualquer canção quando dá um grito. De noite canta o caburé. A nambuzinha de pé vermelho truvu e fogo apagou. Há o gavião pistoleiro da mata. Pega e mata. Não tem amor. Bem-te-vim que diz triste vida. Sabiá que é cantor. Araponga é o ferreiro. Bem distante canta o tororó. Sibite tem sua cantiga. O Chico preto tem seu canto.

Visita O bem-ti-vi de peito amarelo, com asas coloridas, boné de marinheiro, cauda longa e pico preto, és um passarinho bem brasileiro. Nas liras da poesia tu és meu companheiro.

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Solidão Poética Quis encontrar companheiros para não cantar sozinho. Não encontrei nem o pobre, nem o rico, nem homem culto, nem o filho do vizinho. Como não encontrei ninguém cantei com os passarinhos.

Despedida No dia que eu falecer a poesia vai sentir. Ficarei entre terras cavadas. Não verei mais as ramalhadas onde cantava o bem-ti-vim. Quando eu falecer a poesia vai chorar. Ficarei entre quatro barreiras E não olharei mais palmeiras Onde cantava o sabiá. Quando eu falecer debaixo da terra ficarei sozinho dentro de um caixão. Não dará mais pra entender os cantos dos passarinhos.

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Quando estudante primário na Escola publica Dr. Paulo Ramos, em Duque Bacelar, o jornalista José Machado, que alguns dias antes tinha sido escolhido para declamar um poema na festa do dia das mães da escola, chegou seguro para a diretora Geny Oliveira anunciando já haver decorado o longo poema lhe atribuído. Surpresa a diretora pediu que Machado o declamasse para ela. Provando a veracidade da informação, a diretora, que nutria estima pelo garoto, disse que agora ele tinha que saber interpretar o poema, passando assim a ensiná-lo dicção e a performance. No dia da apresentação, as mães, professores e a comunidade presente foram às lágrimas, aplaudindo com entusiasmo a declamação. Desde cedo a comunicação e as letras acompanham o poeta e jornalista José da Silva Machado, filho de Agostinho Machado e Bernada da Silva, nascido em Duque Bacelar, em 14 de Junho de 1957. Seu pai oriundo do Ceará chegou criança com a família no povoado Garapa na segunda década do século XX. E dona Bernada, sua mãe, era descendeste dos quilombos nas proximidades do Garapa. Casando, o casal passou residir numa casa de tijolos na Rua do Campo (hoje Zuza Machado), onde com muito trabalho em lavouras e criações de víveres, criaram com decência e dedicação os filhos. Dona Bernada era a que mais estimulava e investia na educação dos filhos. Zé Machado, quarto filho homem, bem correspondeu, sendo sempre aplicado nos estudos, ao ponto de ser o primeiro dos 13 filhos do casal a ingressar na Universidade Federal do Maranhão, em 1978, em São Luis, onde a família, na busca de melhores condições de vida, passou residir desde 1º de Março de 1970. É em São Luis que o talento para as letras levou José Machado a se realizar, alcançando seus objetivos profissionais. Chegando à cidade, aos 12 anos, continuou os estudos ginasiais na Escola Luis Viana, no bairro Alemanha. O segundo grau fez na Escola Gonçalves Dias. Aos 14 anos, soube que a FEBEM (na época instituição profissionalizante da juventude) oferecia cursos. Matriculando-se, aprende a operar máquinas linotipo, indo na sequência estagiar no Serviço de Obras Gráficas do Estado – SIOGE - de onde saiu para trabalhar no Jornal Pequeno, aos 16 anos, com carteira assinada. Envolvido num ambiente de jornal e jornalistas, caindo também nas graças de Ribamar Bogeá, é influenciado para a carreira. Capaz, passou a revisar os textos do matutino e escrever artigos. Ainda estudando, ganhou um concurso de redação no dia do Estudante, e o texto foi publicado no jornal O Estado do Maranhão. Ao concluir o científico, optou por Comunicação Social na UFMA. Acadêmico, mais gabaritado, inicia atividades de repórter, e na companhia do poeta João Alexandre Junior, coordena uma sessão de juventude no Pequeno, editando poemas e textos afins. José Machado se pós gradua pela USP. Em sua carreira trabalhou em outros jornais da São Luis, como o Imparcial, onde foi repórter, editor e secretário de Redação. Foi editor de Política do “Diário do Norte”. Um dos ápices de sua carreira de jornalista ocorreu em 2005 e 2006, quando ocupou o cargo de Secretário de Comunicação do Governo do Maranhão, na gestão de José Reinaldo. Atualmente é um dos diretores da Rádio Capital, desenvolvendo assessoria junto ao político Roberto Rocha. Autor de inúmeros textos jornalísticos, artigos e crônicas políticas, sociais e de poemas, publicou em 1997, aos 40 anos, sua primeira antologia poética, “As Quatro Estações do Homem”. Obra onde a essência de jornalista e poeta se mescla, trazendo ao lume poemas líricos e sintéticos, cheios de humor, ironias e críticas à vida social, cultural e política do homem; na cosmovisão do meio no qual está inserido o poeta, permeados de gostosos micro poemas com reflexões filosóficas. Machado atualmente mantém o “Blog do Machado”, onde exercita sua vocação jornalística e formação de ideias.

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Amor sentido O amor a gente s贸 sabe que sente quando a pessoa amada grita de dor de dente.

Apelo Quebra-me os ossos depois de invadir-me a carne. Faz de dois corpos um corpo s贸, uno, indivis铆vel... Gozo comum

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ABC Político ABC... O papel está na máquina. A política, na rua, nos bares, nos becos, nos lares. No céu de quem merece, no pé de que padece. A política existe, mas a politicalha persiste não se sabe até quando. O povo não canta e nem sempre se espanta. A esperança esmorece e outra vez se padece. Hoje é sábado; amanhã, domingo; Depois, segunda, terça, quarta, quinta, sexta e novamente sábado. Agora é janeiro. E lá vem fevereiro, março, abril, outubro, novembro, dezembro... e novamente março... Mormaço. Maranhão. Cansaço de tanta repetição de tantos filhos pródigos, de tantos filhos da puta.

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Maria de tal Maria, concebida com pecado Maria, que trabalha no mercado. Maria, a que não leva o seu recado ao prefeito, deputado, senador. Maria, a que carrega, sozinha, a sua dor. Maria fulana, que brigou com a sicrana. Maria do “pau”, acabou com o arraial. Maria Simplícia, conhecida da polícia. Maria de tal, da notícia do jornal. Maria concebida com pecado e deixou o resultado na esquina prá dona Josefina cuidar. Maria, Que gerou mais um Cristo que não vai se salvar.

Tralha Políticos... Só papo... Só papo... Só papo... Sopapos!

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Deprê Nada sai de mim Neste instante menor de depressão maior Em busca de sonhos que não brotam Na esperança de paz que não vem. O que se faz? Reage, meu cara, reage... Ou dorme!

Tal e Tal Tentei sistematizar a vida. Tapei buracos produzi feridas.

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Maria de Lurdes Bacelar Viana, filha caçula de Alfredo Furtado Bacelar e Ana de Lima Couto Bacelar, nasceu em Coelho Neto, no dia 28 de Janeiro de 1913. Nessa cidade seu pai foi proprietário da Fazenda São José, advogado provinciano, nomeado juiz em 1906. Na década de 1920 se mudam para São Bento, cidade da baixada maranhense, onde começou vida pública na política, elegendo-se vereador em 1927. De inteligência prodigiosa, Lourdes Bacelar, aprendeu as primeiras letras em Coelho Neto, onde aos três anos de idade, nos saraus organizados em sua casa, declamava poemas de grandes poetas. Cedo então a poesia e as letras a acompanharam, e por toda a vida. Formando-se no curso de normalista em São Bento, logo foi nomeada professora. Aos 22 anos, em 1935, se casa com o poeta e médico Fernando Viana, que recém-formado pela Escola de Medicina da Bahia, começou o ofício da profissão em São Bento. Pouco tempo, porém, se mudaram para São Luis. Na capital o casal constrói sua família, se dedicam às carreiras e ao desenvolvimento dos diversos ofícios e talentos. Fernando, o esposo, se destacou, além de bom médico, como jornalista, poeta, trovador, cronista e professor, sendo eleito membro de várias agremiações literárias e culturais, como a Academia Maranhense de Letras e o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Em 1947 e 1950 ele foi eleito deputado estadual. Lurdes Bacelar Viana, além de mãe exemplar, dedica-se a educação dos sete filhos, e a escrever seus poemas e crônicas nos matutinos da capital como os jornais, “O Jornal do Povo” e “O Combate”. Ela, uma mulher de crença e devoção, praticante da fé católica, se destacou como exímia cronista conselheira, recebendo diariamente dezenas de cartas de mulheres leitoras de seus textos nos jornais, lhe rogando conselhos. A casa deles, um simpático solar na Rua dos Remédios, era ponto de encontro de grandes personalidades políticas e literárias de São Luis, dentre eles, Neiva Moreira, Odylo Costa, Filho, Clóvis Sena e do padre João Mohana. Nestes encontros, Lourdes Viana, após servir deliciosos cafés e bolos, apresentava muitas de suas crônicas e poemas, que João Mohana considerava fascinantes, oriundas do coração. Lourdes Bacelar Viana em 1993 publicou “Meu Tesouro”, coletânea de belos poemas espirituais, religiosos, de versos longos, tecnicamente maduros e emocionantes. Ela era irmã do famoso Padre Alfredo Bacelar Filho (cujo litígio com Duque Bacelar entrou nos anais históricos do catolicismo maranhense); e mãe dos escritores e acadêmicos Waldemiro Viana e Alfredo Bacelar Viana. De vida longa e bem aventurada, faleceu em São Luis, aos 98 anos, no dia 14 de julho de 2011.

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Meu Tesouro Tenho guardado um tesouro. Vale mais que todo ouro que existe em cima da terra. Coloquei-o num sacrário, num seguro santuário que com ciúmes o encerra. Sem joias lindas, formosas, muito, muito mais preciosas que aquelas que mais o são. Tal é o tesouro raro que eu guardo com zelo avaro, no fundo do coração. Seis joias, seis diamantes. - Os mais valiosos brilhantes que Deus, eu penso, criou. Gemas uma delas é um filho dos seis que Deus me mandou. Com que ternura e respeito eu os escondo no peito e os trago no coração! Com que entrego ao Senhor numa férvida oração. O grande bem que lhe quero, como é profundo e sincero. E puro e terno este amor. Parece até que minha alma se suaviza e se acalma ao lhes gozar o candor.

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Singelíssimas criaturas, cujas próprias travessuras tem encantos para mim. E as mais doces esperanças coloco nessas crianças - As flores do meu jardim. Flores vivas, diferentes, nascidas de outras sementes, geradas no coração. Criaturas - flores humanas que todas as mães, ufanas, cultivam com devoção. A sorte que lhes almejo, o porvir que lhes desejo, sabe-se o Deus, sei-o honrada, de virtude coroada sob o lema: fazer bem. Fazer bem, distribuindo alegrias, esparzindo venturas e paz à mão cheia. Sorrir se alguém está sorrindo. Sofrer com os outros, sentindo a própria desgraça alheia. Que sigam do pai o exemplo erguendo no peito um templo ao culto da caridade - Luz que conforta e ilumina, a mesma essência divina. Fonte que jorra bondade. Que aproveita cada dia, “Crescendo em sabedoria inteligência e em graça”.

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Mas que saibam compreender que é só completo o prazer se ele é puro, sem jaça.

Alegres e sorridentes, quero-os jovens atraentes, tenham o dom da simpatia. Que se diga: não existe perto deles ninguém triste pois são a própria alegria. Meu Jesus, no teu sacrário, teu bendito santuário, guardei minha riqueza: - Seis alminhas pequeninas, almas simples, cristalinas, singelas, por natureza. Serás seu mais terno Amigo. Vivendo sempre contigo banhados por essa luz, maravilhosa, divina, que reconforta e que anima, serão felizes, Jesus.

Ação de Graças A graça do Senhor em mim plantada - semente benfazeja e generosa Se não me faz da vida um mar de rosa, dá-me força e vigor na caminhada. Tu sempre me amparaste, meu Jesus. E eu sempre me apoiei no teu regaço. É contigo, ao calor do teu abraço, que venho carregando a minha cruz.

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Benção, favores, tantos e abundantes, que dão sentido novo à minha vida, Presentes sempre, em todos os instantes, mostram-me o rumo certo na partida. Mas de todos os dons que Tu me emprestas, das graças que recebo com fervor, aquele que mais me deixa a alma em festas é o dom de amar, Senhor. Pode amar a tua Criação. E através dela amar a criatura. Abrir de par em par o coração num extravasamento de ternura. Amar a vida, que é bela, o céu, sol, o luar. Amar até a procela que encrespa as ondas do mar. Amar a flor, na beleza da sua policromia. Amar toda a natureza em perfeita sintonia. Também a ave canora, a fonte que rumoreja. - A vida, onde quer que esteja a Tua mão criadora. Amar assim a toda a Humanidade: em cada ser humano ver o irmão - Meu próximo, a quem devo caridade, a quem devo acolher com devoção. Amar, servir a essa Humanidade de alma aberta e coração contrito. Num sentimento de fraternidade: - levar o meu amor ao infinito.

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E, dando cumprimento ao teu preceito firmado na divina lei do Amor, eu quero meu amor seja perfeito: - eu quero amar, Senhor.

Eis que me vejo ao fim desta jornada, sentimento que transpus a encruzilhada - e parto rumo a ti. Se deparei tropeços no caminho, não me faltou jamais o teu carinho. -Então, sobrevivi. Agora só te peço que me faças amar-te num total desprendimento. E deixa-me entoar neste momento meu canto de Ação de Graças.

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Inteligente, dotado de diversos dons e talentos, o coelhonetense Raimundo Nonato da Cunha Filho, eternizado Seu Mundo, nasceu em 22 de Janeiro de 1945. As mulheres, filhos, amigos e admiradores de Seu Mundo são unânimes na afirmação de quer ele era a encarnação da alegria. “Era uma piada”, diz Beth Cunha, filha dele com Nazaré da Costa. E em tudo, nas falas, histórias e acontecimentos cotidianos, até mesmo os negativos, Seu Mundo retirava máximas de humor, transformando os limões lhe presenteados na vida em limonadas saborosas de risos. São inúmeras as histórias de humor envolvendo ele, no qual fazem hoje parte do anedotário popular e folclórico de Coelho Neto. Não se sabe quando passou a ser alcunhado de Seu Mundo. O “Seu” aqui, não é um pronome, mas uma supressão da palavra “senhor”; e “Mundo”, não é um substantivo masculino, mas outra síncope do nome pessoal “Raimundo”, assim como “Mundico” e “Dico”. A formação educacional inicialmente do poeta Seu Mundo se deu na Escola Dona Maria Bacelar. Estudou em São Luis, onde concluiu o 1º grau. Cedo tomou gosto pela música, pelas letras e artes plásticas, se tornando poeta, compositor, violonista, marceneiro, desenhista, pintor e humorista. Exímio na madeira construía seus próprios violões, no qual dominava a arte dos acordes. Chegou esculpir na madeira um busto do escritor Coelho Neto. Em 1986 o poema “Exaltação Patriótica”, foi publicado em uma antologia nacional, consagrando o poeta. A música “Vivendo é que se aprende”, de sua lavra se tornou também bem conhecida. Depois de servir o exército, morar em Caxias e Brasília Seu Mundo retornou a Coelho Neto. Constituiu família, tendo gerado sete filhos de três relacionamentos. O seu sustendo pessoal e familiar obteve como servidor público, no qual foi por 24 anos. Ele exerceu cargos de professor (fundou uma escola comunitária no Bairro Sarney), foi agente pedagógico, auxiliar de escritório e nos ano 90 oficial de justiça, ocupação em que veio se aposentar. Apesar de toda inteligência, espírito livre de poeta humorista e artista multifacetado, Seu Mundo, que cedo, aos 10 anos de idade, começou a consumir bebidas alcoólicas, se tornou viciado. Em sua vida teve algumas crises pessoais que o motivavam a beber dias seguidos, no final, passou a beber todos os dias. Nunca, porém, prejudicou alguém com palavras torpes ou violência quando embriagado. Ele na situação tirava era humor. Quando os amigos e parentes o pediam para parar, dizia que se fizesse “morreria de sede”. A bebida “ofendia somente ele”, diz Marlene de Araújo, sua última mulher. E foi devido aos muitos goles que esse poeta aos 56 anos sofreu derrame cerebral na manhã de 11 de Dezembro de 2001, enquanto dormia altas horas da manhã. Sua mulher, nos afazeres domésticos ao perceber o seu prolongar na cama foi chamá-lo. Ouvindo um som estranho no respirar do poeta, e percebendo que parte de seu corpo estava já paralisado, pediu ajuda de vizinhos para o levarem para o hospital Ivan Rui. Algum tempo ainda estando com consciência Seu Mundo manteve alguma fala. Depois entrou em coma. Na madrugada do dia 14 de Dezembro, ele veio ao óbito. Seu velório ocorreu na casa de seus pais na Rua Rio Branco. No cortejo fúnebre, seguido por uma multidão, rumo ao Cemitério principal da cidade, músicas e poemas seus eram lidos e cantados, lhe prestando as últimas homenagens e despedidas. Parentes, amigos e a população de Coelho Neto choraram comovidos pela morte deste seu poeta e humorista de primeira grandeza, no qual vivo lhes deu muitas alegrias. . 114


Seja quem for Seja lá pra onde quem for. Seja lá quem é você. Seja feito o que quiser Tu serás minha mulher. Eu te vejo todo dia nos meus sonhos de amor. Eu te amo sem saber que conhece a minha dor. Tu serás o meu amor. Amor perfeito que te dedico nas noites de insônia. Amor perdido tu não conheces meus dias de fome. Quem tu amavas te disse adeus para não mais voltar Amor perfeito sei que tens e podes me dar.

Coelho Neto Pelo giro da terra o sol lentamente corta as várzeas que formam minha cidade, deslumbrado no peito do homem uma saudade. A mim traz essa inspiração. Ó Deus vivo, grandioso é o teu poder que em meu peito faz crescer adormecendo com vontade de ver. Quando penso erguendo os olhos para os céus do alto atento dias, muito tu me espias com teu olhar calmo e doce observando minha vida fantasia. Soluço calmo a vida murmurando o que vejo nesse longo infinito. Maravilhas que jamais alcançarei belas coisas, lindas cores tão bonitas. 115


Minha Cidade Que rua comprida e triste que ao passar me faz lembrar... Lembranças amargas e esquecidas de gentes já perecidas O silêncio é rico, pobre. que jamais hão de voltar. A escura noite é nobre. Na garganta um nó que dobra No pensamento uma vigília. Naquela noite tudo sobra. Ó tempo fresco! As ondas a pular. O pensamento no infinito. As belas coisas procurar. A chamar por Deus procuro por Deus a procurar. Que noite de vigília grande não posso mais suportar. Que supressa traz meu peito por ouvir tu me chamar. Acordo, sinto que é sonho. Outra vez quero sonhar.

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Exaltação Patriótica Que bom! Eu ter nascido brasileiro neste torrão verdadeiro de homens cheios de amor e viver bem nesta terra que em meu peito encerra justiça, paz e labor. Que bom! Eu sou filho de um país onde a humanidade diz a guerra já se acabou. Pode amar minha pátria usar no peito a gravata cantar um hino em louvor. Que bom! Eu dizer amigos meus que somos filhos de Deus, que Deus é feito de amor. Olhar o céu cheio de glória cantar sempre uma vitória junto com meu defensor.

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Homem de mente polivalente, estudioso e amante do saber, o poeta Raimundo Oliveira é também compositor, professor de diversas disciplinas, e engenheiro civil. O mesmo nasceu em Teresina, no dia 31 de Agosto de 1948. Seus estudos primários, ginasial e técnico ele fez na capital do Piauí. Os estudos preparatórios para a universidade fez em São Luis, onde adentrou na UFMA em 7º lugar para cursar engenharia civil. Nesta época, enquanto ainda estudava lecionou na Escola Técnica do Maranhão, no PROIPMO – Programa Intensivo de Preparação de Mãos de Obra, lecionando e sendo também monitor de topografia do curso na universidade. Depois de formado voltou para Teresina, iniciando sua carreira de engenheiro na Prefeitura da cidade, no órgão ENTUP, aonde chegou a ser diretor de obras. Trabalhou também num firma de engenharia como assessor. Neste período separando-se da primeira mulher, se casa novamente em 1977 com Fátima dos Santos, cujo enlace gerou cinco dos seus sete filhos. Em 1988, contratado pelo prefeito de Coelho Neto, Raimundo Guanabara, para o projeto de construção da praça do Balão, fato que o levou a ser contratado definitivamente pela prefeitura, e nunca mais voltar pra sua cidade natal. Consolidado em Coelho Neto, além do trabalho de engenharia da prefeitura, continuou na docência, lecionando nas escolas Maria Regueira, José Sarney, Pequenópolis, disciplinas como sociologia, química, física e matemática. Algum tempo foi diretor da Escola Sarney. Atualmente, é professor do Instituto de Educação Coelhonetense, INECN, onde leciona no curso de Segurança do Trabalho, Estatística Aplicada, Desenho Técnico e Segurança na Construção. A vocação de literato do professor Raimundo, como é popularmente conhecido em Coelho Neto, acompanha sua vida inteira, fruto de leituras e autodidatismo, no qual buscando externar suas reflexões e indignações diante das injustiças – situação que repugna em tudo – como também maneiras de melhorar sua metodologia no processo de ensino com os seus alunos. Ele escreve poemas com temáticas das aulas, discutindo e lendo na sala de aula, como até cantando, pois musicou alguns. São obras bem escritas, inteligentes, cheias de saberes. Sua produção dá-se também por crônicas, artigos e contos humorísticos e infantis, tendo esboços e projetos de livros em andamento.

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Desejos Afinal, quem você é? Chega assim tão de repente arrebata o sossego da gente com esse jeito de quem nada quer?. Esse seu olhar de não sei o quê Que desperta sonhos maliciosos intrigantes, lascivos, maldosos capaz até de enlouquecer? Confesso que não consigo te olhar Lá nos olhos, bem fundo pois sinto um arrepio profundo. Os olhos querendo saltar. Um abraço, um beijo, um desejo qualquer, daqueles que não se reprime. Inverossímeis, que não se define. Afinal, és anjo, demônio ou mulher? Teus lábios carnudos despertam um afã de serem mordiscados, como uma doce maçã. Provocam desejos, os mais absurdos, o umbigo perfeito, as coxas roliças. O arfar dos teus seios, tuas carnes maciças, tetas apetitosas, qual morangos maduros? Com este corpo tão escultural volúpia do prazer e do mal te vestes de curvas tão sinuosas delineadas, sublimes, maravilhosas. Transpiram desejos os mais ardentes ousados, atrevidos, inconsequentes. Afinal, quem você é?

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Desilusão Um olhar, um sorriso, um aceno. Parecia sonho, vindo daquele rosto sereno. Mera impressão, ingênua e infantil fantasia. Aquilo que poderia ser uma grande alegria não por castigo, mas sim por pura ironia transformou-se assim em amargo veneno. Minha vida, como num passe de mágica mudou o coração ora apático, explodiu, incendiou. Bateu, reagiu, relutou, cedeu. E como um belo cravo, cresceu, floresceu Mas, logo em seguida, aos poucos desapareceu curvou-se, abateu-se, definhou, murchou. O sonho criado por intempestiva imaginação fora apenas o efeito de incauta visão Mas trouxe-me enfim, de volta à realidade Amá-la jamais, poderia eu na realidade, pois a joia que exibia, impedia tal vontade. Culpa de uma fiel aliança, presa à sua mão.

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Devaneios Um dia vi um pássaro. Noutro dia vi uma flor. Certo dia, vi uma cascata. Deslizando entre a mata, e me achei um trovador. Um dia vi um caçador. Noutro dia um agricultor. Certo dia fiquei triste. Vi um produtor, dedo em riste como se da “terra”, fosse o Senhor. O pássaro foi abatido a flor foi queimada e aquela cascata tal qual a verde mata, tudo se acabou, nada restou. Espero ainda um dia. Ver pássaros sobre as matas infinitas e borbulhantes cascatas enfeitando e colorindo a natureza. Nesse dia, tenho certeza, a vida terá mais sentido. Pois conviver com a natureza não é luxo, mas riqueza. Nesse dia sim, valeu a pena ter vivido.

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Água Água alimento da vida que brota da terra que desce da serra. Água que desce a encosta lá da nascente onde o rio é corrente. Água onde o peixe respira. Que corre entre a mata que cai da cascata. Água que cai lá da chuva ou em suave garoa que forma a lagoa. Água que rega as plantas alimenta as flores de todas as cores. Água que forma os mares das históricas navegações de grandes embarcações. Água que mata a sede. A Divina bebida alimento da vida. Água que o homem polui na cobiça do garimpo, onde outrora era limpo.

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No ano de 1973 a CEPALMA - Celulose e Papéis do Maranhão, e a Usina Itapirema, grandes empreendimentos industriais da família Bacelar em Coelho Neto, funcionavam em pleno vapor, atraindo para a cidade milhares de famílias do país, principalmente as das cidades vizinhas. Os pais do poeta Felipe Neres deixaram Brejo do Padre, povoado de Aldeias Altas, com toda a sua prole rumo a Coelho Neto. Os mesmos desejavam a melhora na vida de seus filhos, e queriam lhes dar educação. O menino Felipe que na infância fora alfabetizado em casa por sua mãe Maria Patrocínio, tendo passado também alguns meses de estudo no Mobral, já em Coelho Neto, no final do ano histórico de 1973 e começo do ano de 1974. Porém, só aos 14 anos de idade, ele inicia os estudos formais na Escola Maria Bacelar, fazendo a primeira série. Em 1977 tendo que trabalhar na fábrica abandona os estudos. Neste período também envolvido ativamente com o grupo de jovens da Paróquia de Santana, começou ler muito, principalmente nas vigílias das noites e madrugadas no Posto de Captação de água, onde trabalhava às margens do Parnaíba. As diversas leituras fizeram aflorar sua veia poética. Felipe Neres, então, começou a registrar as coisas de seu coração e fatos da sociedade coelhonetense em texto no estilo cordelista. Escreveu o cordel “A Crise de Isabel”, cantando os conflitos da fábrica em 1975; o cordel “A História do irmão que matou o outro irmão”, em 1984 (dramático e melancólico cordel de 312 versos, cuja tragédia familiar ocorrida neste ano na cidade, onde um irmão mais velho com uma punhalada, devido a uma bicicleta, mata o irmão mais jovem); e o cordel “Os Pleitos de Guanabara e Lucia”, e outros textos com pseudônimo. Em 1987, casado, pai de três filhos, Felipe Neres decide continuar e finalizar seus estudos. Inicialmente, se forma em Magistério em 1997. Ano que também buscando ajuda para o problema do alcoolismo, se converte ao adventismo do sétimo dia, fato influenciador em toda a sua vida e também obra literária. Em 2005, com o avanço do ensino superior no país, ele se forma em Licenciatura de História pela Universidade Estadual do Piauí; posteriormente pós-gradua-se em “História do Brasil”, pelo Instituto Coelhonetense de Educação. Felipe Neres é um dos mais talentosos literatos que temos na região da APA dos Morros Garapenses. Um poeta cultivador de textos satíricos, dramáticos, com descrição realista, possuidor de bom domínio em versos cordelistas. Além de ser um cidadão coerente com suas crenças, dedicado à família e a profissão de professor.

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O Amor O amor é o sentimento mais nobre. O mais rico e o mais pobre. No amor o livre é dominado. O valente é amansado, pois sua força interior é mais forte que a morte. O amor traz alegria embalando a fantasia. No aroma de uma flor é a essência da criação, celeiro de gratidão, de um Deus que tanto amou. Nem sempre, porém, o amor é bem compreendido. E uma vez, mal vivido, traz tristeza e ilusão. Machucando o ser que ama sua nobreza vira lama e suas vidas são destruídas.

Poema para as Mães Mãe tu és a fada de todas as noites O sonho de todos os anjos O riso de todas as crianças A luz de todo o universo A força de toda a nação. Tu és a paz do meu paraíso A flor de meu florescer. O raio que me ilumina A raiz que me sustenta. A ceia que me alimenta.

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Tu és o remédio pra minha dor. O conforto pra meu desespero. O retrato de minha alma. Guia do meu caminho. O aconselho do meu ninho. Tu és a joia lapidada do Senhor. A razão de tudo que hoje sou. Neste dia tão feliz de nossas vidas. Eu oferto a você, oh, mãe querida. Meu carinho, meu afeto, meu amor.

A Contribuição de Martinho Lutero para a Educação O grande Martinho Lutero, pensador e monge alemão foi um grande baluarte em defesa dos cristãos. Criou com muita eficácia o conceito de educação. A criação da escola pública foi ele quem idealizou. Como mestre em Teologia os três grandes ciclos criou. Ensinou fundamental e médio e também superior. O projeto educacional de Lutero era bastante profundo, pois fazia distinção entre a fé e o próprio mundo. A esfera espiritual e o lado hediondo. A venda de indulgências para angariar capital pra Basílica de São Pedro Lutero combateu esse mal. 127


Publicando 95 teses contra a autoridade papal. O sistema escolar luterano nasceu no século XVI. As ideias educacionais fluíam com altivez. Surgiu a escola pública o povo passou a ter vez. Havia um antagonismo entre Lutero e a Igreja. Ele queria educação para toda a pobreza. O Estado concedia somente para a nobreza. Lutero acreditava numa saída para a nação. Observou que as armas não eram solução Incentivou os governantes investir na educação. Lutero era inovador e não revolucionário. Sobre as causas populares fazia seu comentário. Alertava a população contra o conto do vicário. A reforma Luterana foi a mais importante. Sendo um divisor de águas entre católicos e protestantes. O Estado e a Igreja deixaram de ser amantes.

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Filha primogênita do casal Eliza Bantim e Uiram Sousa, Eliran Bantim Sousa nasceu na manhã de 2 de Junho de 1960, em Teresina-PI. Em Coelho Neto onde residiam seus pais na Rua Raimundo Bacelar, tinham como vizinhos os avôs Valentim Sousa e Joaquina Pereira. À medida que a menina crescia passava mais tempo na casa dos avôs que na dos pais. Logo Eliran, muito querida pelos avôs, fora definitivamente adotada por eles. O avô de Eliran, Valentim, chegou a Coelho Neto, convidado por Duque Bacelar que o conhecia de São Luis quando era secretário do Colégio Ateneu Teixeira, onde estudavam os filhos de Duque. Em Coelho Neto, Valentim começou trabalhando na gerência dos negócios do coronel. Com o tempo passou a ter sociedade nos mesmos, se tornando depois autônomo. Ele em 1952 e 1953, apoiado por Duque Bacelar foi Prefeito de Coelho Neto. Era um leitor dedicado e possuidor de uma das poucas bibliotecas particulares da cidade. É na biblioteca do avô que Eliran Sousa teve seu primeiro contato com o mundo dos livros. Aprendendo a ler com a professora Maria Celeste Couto, seu avô a estimulava à leitura dos diversos livros. Inteligente e dedicada nos estudos seus avós e os pais, em 1970, decidiram enviá-la para cursar a 4º série na Escola Raimundo Correia em São Luis. No ano seguinte começou estudar na Escola Técnica Centro Caixeiral, fazendo o ginásio. Fez Magistério na Escola Ateneu Teixeira, se formando em 1977. É em São Luis que a poeta começou escrever seus poemas, tomada por um impulso de inspiração ao assistir um jogo de futebol na televisão. Decidida a voltar para Coelho Neto, iniciou sua carreia no magistério local lecionando nas Escolas Professor Valter e Maria Requeira. Em 1986 se casou com o artista plástico Café, nascendo do matrimônio sua filha Eliza Raquel. Em 1992 passando no concurso do Estado para professora é lotada no Centro de Ensino Médio José Sarney, onde lecionou língua portuguesa. Passando no vestibular da segunda etapa do programa educativo PROCAR no Campus da Universidade Estadual do Maranhão em Caxias, cursa Licenciatura em Letras, concluindo em 2001. Em 1999 ela começou a trabalhar como Secretária na Câmara Municipal de Coelho Neto, exercendo hoje a diretoria administrativa da casa. Na gestão de Magno Bacelar foi convidada para ser Secretária de Educação do município. Um dos marcos da sua gestão foram as ações voltadas para o estímulo da leitura nas escolas e na comunidade coelhonetense, através do Projeto Leitura na Praça. Todas as semanas barracas eram montadas na Praça Duque Bacelar com centenas de livros e revistas. Professores, contadores de histórias recebiam os estudantes, as crianças, a juventude e a comunidade em geral para as leituras e atividades educativas desenvolvidas no Projeto. Como poeta Eliran Bantim, é possuidora de um estilo lírico, com uma poética enxuta e criativa, cheia de singeleza e claridade. Ela organiza atualmente o livro de poesia “Pedaços da Alma”; e “Contos Nossos de Cada Dia”, uma reunião de contos e crônicas de casos reais e humorísticos vividos por personalidades da sociedade coelhonetense, como fruto da faceta alegre e descontraída de sua personalidade.

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Poesia Poesia é vida, paixão, emoção. Poesia é bênção, orvalho, canção. Poesia é silêncio, segredo, saudade. Poesia é sonho, sentido, sensação. Poesia é calma, motivação. Poesia é primavera, outono. Poesia é inverno, verão. Poesia é enigma, alegria. Poesia é desafio. Poesia é palavra lavrada na alma.

Navegar é Preciso Quero navegar nesse imenso mar rasgar os horizontes sem fim. Alimentar o meu olhar de maresia na tormenta e na calmaria. E nesse barco de ilusão banhar-me de sol, de sal. Salgar a pele e a alma na paz dessa imensidão.

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Desejo Deixa-me invadir tua aura. Desnudar tua alma, descobrir teus desejos Navegar nos teus sonhos acalmar teus anseios e fazer um acalanto com o mais doce encanto pra acalmar teu pranto.

Mãos Mãos que trabalham que tecem fios que lavram a terra que acariciam flores que acariciam faces que escrevem que acenam que se cruzam em oração que salvam vidas que constroem versos que fazem canções e por isso tecem história e emoções.

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Sertanejo Da alma simples do sertanejo brota a terra, brota a vida e o verde, brota o lamento da seca inimiga, que intriga e castiga.

O Passarinho Solto O passarinho saiu de fininho da gaiola aberta. Abriu feliz as alas aladas e festejou no cĂŠu a liberdade amada.

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Louco O louco serpenteia e cai e levanta e grita e chora e se esconde estreita-se nos vãos labirínticos das alheias retinas e no seu mundo caleidoscópio cospe e escarnece dos sãos.

Alegria Eternidade clama nessa chama de vida que serpenteia e espuma no alegre colorido da luz dessa manhã de orvalho e de flores. No canteiro o beija-flor da flor sorve o néctar e rodopia e festeja radiante o dia que nasce e todas as flores balançantes alegram-se e clamam da mão amiga uma carícia nesta festa de vida brilho e eternidade.

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Ciro Pereira, pai do poeta repentista Zé do Ciro era um sujeito duro e autoritário. No povoado Cipó, 40 km da sede de Coelho Neto, era o único dos moradores casado com três mulheres. Zé do Ciro foi o terceiro da prole de quatorze filhos com Maria dos Santos, somando-se aos demais 34 filhos com as outras mulheres. Patriarcal e intransigente, o pai usava métodos violentos para disciplinar os filhos, reprimindo-os de frequentarem bailes, beber e fumar, e até ir à escola, considerada espaço de malandragem. Todos deveriam se dedicar somente ao trabalho da roça, e ficar em casa. No povoado que moravam, poetas repentistas apareciam uma vez por outra. Menino, Zé do Ciro, ouvindo de longe os desafios, se apaixonou pela arte. Sentindo-se capaz, e escondido do pai, dentro da mata, passou improvisar versos soltos. No ano de 1988, aos 24 anos ele cria asas, e almejando independência vai morar em Brasília, permanecendo três meses. De volta a Coelho Neto, se casa em Março de 1990. Arranjou emprego para sustentar a família como vigilante na fábrica Itapagé, trabalhando até 1992. E neste ano, que a paixão de criança pelo repente retorna forte, permanecendo desde então na vida de Zé do Ciro. Ele começou participando das cantorias como ouvinte assíduo. Depois ele comprou uma viola com o seguro desemprego do trabalho de vigilante, e seu amigo José Bona lhe ensinou a tocar. Adquirindo domínio da técnica dos versos improvisados, amigos passaram lhe convidar para apresentações. Numa manhã de sábado na Rádio Guanabara, participando do programa popular de Jeová Alburqueque, foi sucesso entre os ouvintes. Passou ser atração em vários sábados, recebendo cartas, até de ouvintes de cidades vizinhas. Diante do sucesso é convidado para apresentar um programa cultural de repente nos finais das tardes, da segunda a sexta na Rádio Guanabara. Um dos seus ouvintes era seu velho pai, cujo coração derrotado e mudado diante do tempo e do sucesso do filho, se encontrava despido de preconceitos. O mesmo se tornou tão fã do programa que quando seu rádio tinha algum problema, ele corria pra casa de um vizinho para ouvir. E quando Zé do Ciro em visitas a família, esquecia sua viola, o pai pedia emprestado uma com alguém do povoado para ouvir com orgulho a arte do filho. Chegou até organizar em sua casa duas cantorias. Um dia emocionado vendo o filho se verteu em lágrimas. Zé do Ciro em sua trajetória fez apresentações nas cidades da APA dos Morros Garapenses, em Codó, Caxias e Teresina, onde num Festival de Repente do Piauí, cantou para oito mil pessoas. É um dos mais expressivos poetas de Coelho Neto. No momento decidido a terminar seus estudar, um direito lhe negado quando criança, finaliza o curso fundamental numa escola, pretendendo chegar à universidade.

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Coelho Neto Cidade pequena e ordeira. Onde habitam pessoas lutadoras e ditosas. Gente pacata, hospitaleira, de vida simples e laboriosa. Bom e bendito torrão altaneiro. Não deve existir outro igual. Pedaço do nordeste brasileiro com gosto de leite, manga e caju. A vida tem certas coisas difíceis de entender. Tem gente que fere a mata e o mal consegue esconder. Gritar é preciso sim. O mundo precisa ouvir. A verdade sempre dói e tem o dom de ferir.

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Lembranças do meu Chão Lembro do meu sertão onde nasci e me criei. As coisas que lá deixei tenho recordações. Prato, panela, fogão onde mamãe cozinhava. Depois ela me chamava pra servir a comida. Nunca pensei que a vida nos separaria pra bem longe. Lembro da cacimba e do riacho onde bebia e banhava. Ali a gente contemplava as palmeiras botando cachos de babaçu onde o porco fuçava debaixo, e o gado comia capim. A mamãe alimentando com cupim os peixes e os capotes. Eu lembro até dos chicotes que papai batia em mim. Me maltrata o coração, me falta os pulso, e aumenta as dores, quando vejo as fotos de borboletas e beija-flores. São coisas do meu sertão, o meu pedaço de chão, a terra que me pertence.

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Poemas do Zezinho de Borro Deus que inspira os poetas venha me favorecer com a poesia santa ao me inspirar com você pra concluir o poema. Eu convido a mão Suprema pra me ajudar escrever, pois fui solicitado pelo irmão de um cliente e com a sua permissão devo seguir em frente. Tomei conhecimento e vou falar do sofrimento de uma família inocente. Em 18 de Novembro de 2011 Zezinho de Borro saiu da sua localidade com destino a Buriti. Quando chegou ali foi vítima de fatalidade. Sem chance de defesa tinha muito comentado o processo em cima da mesa e a família lamentando a ação do delegado de lhe prender pra ser julgado com a juíza interrogando.

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Boi Coração Oh, Deus, meu pai celestial, mande um anjo mensageiro, com inspiração divina para ajudar o violeiro a escrever um versinho da Fazenda Marinheiro. Conheço esse povoado do município de Coelho Neto distante 25km da zona urbana por demais afastado, onde Antonio do Carmo vivi criando seus gados. Na sua fazenda nasceu um bezerro de estimação, filho da vaga Rainha e do garrote Trovão. E seus donos lhe apelidaram com carinho Boi Coração.

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Elian Maria Bantim Sousa, irmã caçula, sete anos mais nova da poeta Eliran Bantim. Assim como sua irmã, foi despertada desde cedo para o mundo da literatura observando a beleza plástica dos livros na estante do avô Valentim Sousa, onde eram muito bem organizados, com os volumes enfileirados e juntos por tamanhos e formas. O avô, que ficava partes das horas diárias no comércio, não se incomodava que sua neta folheasse os livros, desde que cuidasse deles, fosse “amiga dos livros”. E ao folhear os volumes, atraída inicialmente só pelas diversas figuras contidas neles, deixava após todos em ordem. Todavia, foi Eliran, a irmã mais velha, estudante da capital, em férias em Coelho Neto, que definitivamente a levou para um despertar apaixonante para a leitura e a poesia. Assim, quando Elian foi fazer o ensino Médio em Teresina-PI, na Escola Éden, ela não somente era uma amante das artes literárias, mas como das artes em geral. Após concluir o curso voltou para Coelho Neto, e começou sua carreira de docente, lecionando inicialmente na Escola Pequenópolis. Em 1994, aos 27 anos, Elian Bantim casa-se. Teve uma única filha da relação, mas o casamento durou poucos anos, deixando no desfecho tristezas em sua alma. É neste período difícil de melancolia, ano de 2002, que ela é despertada para a escrita, motivada pelo curso superior de Letras e pelo desafio de escrever discursos e mensagens para as festas e datas comemorativas da Escola, sem a ajuda de sua irmã Eliran Bantim. Em 2005 a poeta licencia-se em letras pela Universidade Estadual do Maranhão, tendo pós-graduação em Supervisão Escolar e Educação do Campo. Atualmente faz Teologia pelo Instituto Superior de Estudos do Maranhão. Como católica praticante, cultiva devoção pessoal por suas crenças, participando ativamente da vida de fé e comunitária na Paróquia de Santana. Elian Bantim é poeta que verseja envolvida pela emoção e inspiração, tendo já amadurecimento da técnica poética, usa as experiências do cotidiano e da sua fé religiosa como matéria prima na sua produção. Uma das poetisas mais conhecidas e profícua de Coelho Neto, com diversos poemas publicados em sete antologias nacionais, além da produção de cartas, crônicas, orações e contos, sendo uma de nossas poetas e artistas com enorme potencial para o enriquecimento em títulos e grandeza da nossa literatura.

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Deus És meu motivo maior de inspiração. O que escrevo, o que materializo é obra mais tua do que minha. As palavras brotam orgulhosas porque lembram de você, as rimas se encontram porque enxergam sua face. Os versos se multiplicam porque querem enaltecê-lo. E na minha escrivaninha prossigo trazendo-o até mim mesmo que em pensamento buscando o seu olhar, adornando a sua vida trazendo-o até mim num eterno poetar.

Mãe Natureza Por uma ambição desmedida a natureza pede guarida carrega o peso da destruição somente alguns têm compaixão. Matas, rios, animais... preciosidades sem iguais por si só adornadas quisera fossem guardadas numa imensa redoma. Tocadas apenas com o olhar cantadas em versos apreciadas com o coração 143


Pobre natureza, sucumbe lentamente. Suas forças exaurem são impiedosos os algozes sugam as poucas espécies retirando da mãe natureza o pouco que lhe resta

Devaneios Entre o bailar da chuva e do vento te vi estavas lindo...a água escorrendo na face, a roupa molhada impregnando o corpo de vida, os cabelos grisalhos deslizavam no ar tua beleza era parte daquela obra. Aproximar-me era o meu desejo, mas não estendias a mão e mirava-te, admirando teus gestos, traçava-os em desenho mental e materializava-os no coração. Se ao menos me notasse seguraríamos juntos as mãos e sairíamos a rodopiar naquele vendaval de amor.

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Comparações do amor Guardo-te no pensamento aconchegado e terno como a ostra guarda a pérola. Guardo-te no coração acomodado e eternizado como a abelha guarda o mel. Guardo-te na alma preso e intocável como a flor guarda o néctar. Guardo-te nas mãos protegido e amado, como o útero guarda a vida. Guardo-te em meu ser escondido e ansiado como a terra abriga o diamante. Guardo-te em mim apreciado e entrelaçado, como a teia mágica tecida pela natureza. Guardo-te em mim... Não é luxo, mas riqueza nesse dia sim, Valeu a pena ter vivido

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Primogênito do casal Francisco Costa e Maria Deusuita, nascido em 23 de Janeiro de 1973, na cidade de Olho D’água das Cunhas, o poeta Sousa Costa desde cedo demonstrou ser um batalhador pela família e um colaborador do seu meio social. Criança, na roça, e nos lagos e igarapés pescando com seu pai, ajudava no sustento de casa, principalmente, no quebrar coco babaçu com a mãe e avô. Com dez anos, 1982, com a família de volta a Coelho Neto – de onde em 1968 tiveram que ir embora por opressão dos donos do poder local que os obrigaram a vender suas terras no povoado Criminosa, 30 km da sede - Costa Sousa estava alfabetizado. Sendo que nesta cidade continuou seus estudos nas escolas Valter Manuel Brito (primário e ginásio), na Escola Sarney (1º ano/Médio) e Maria Requeira (2º ano). Em 1991, com sua avó muito doente, vai morar na cidade de Santa Inês para ajudar cuidar dela, onde continuou os estudos. No ano seguinte, devido uma crise familiar que ocasionou a separação dos pais, retorna a Coelho Neto. Tendo irmãos pequenos, se viu no dever de ajudar sua mãe na criação dos mesmos. Começou trabalhando como ajudante de pedreiro, depois se empregou numa frutaria, e posteriormente, numa experiência de três meses, mesmo ainda cursando magistério, lecionou na escola Pequenópolis. Em depoimento Costa diz: Lecionei meio na fogueira, mesmo sendo estudante aplicado. Porém, tive que deixar a sala ao aparecer uma oportunidade através de um convênio do extinto Banco do Estado do Maranhão com a escola, e fiz um teste para estágio remunerado. Os candidatos foram escolhidos por bom desempenho: estudei, e fui aprovado como primeiro colocado. Fui trabalhar no Banco. Antes de completar os dezenove meses do contrato, surgiu um concurso público do Estado do Maranhão na área da educação. Senti interesse em fazer para professor, pois gostava dos estudos, mas como ainda não tinha terminado o magistério, optei para o cargo de agente administrativo. Costa Sousa consegue aprovação no concurso, o que lhe deu certa tranquilidade financeira, principalmente porque o contrato no banco estava findando. Logo, ao terminar o curso de Magistério, foi convidado para lecionar matemática numa escola do município e na escola Maria Requeira. Nesta época, por lecionar em duas escolas e trabalhar no banco, se sentia bem realizado. A vida, com seus reveses, porém, se abateu contra Costa. Morre sua avó materna, a quem muito estimava. Sensível, ele se abateu muito, caindo em profunda depressão. Sentia-se culpado em não lhe ter visitado no momento da doença terminal. Não tendo condições emocionais de lecionar, perde o contrato na escola particular, deixa a sala de aula na escola pública, e volta a ser agente administrativo. Volta a lecionar somente em 1998, quando passa para um cargo de professor no concurso municipal da prefeitura de Coelho Neto. No ano seguinte, é aprovado no vestibular da UEMA, e consegue um contrato na prefeitura pra lecionar em outro turno. A vocação poética de Costa Sousa desabrochou na adolescência, junto a sua vocação social e política, quando deslumbrado com os estudos literários e nas leituras dos escritores e poetas, principalmente os românticos, viu-se capaz de externar seus sentimentos através da poesia e da participação popular. Ele ganhou em 1993, aos 20 anos, um concurso de poesia e redação na escola, e se uniu ao líder Gilson Moraes e Américo Sousa, dentre outros, fundando o PT e o Sindicato dos professores na cidade. Em 1997, foi classificado com o poema Meu Amor, no Concurso de Poesia e Cultura de Coelho Neto, promovido pela prefeitura. Nos dias correntes, o poeta organiza seus poemas para publicar em uma antologia pessoal. É casado com a professora Francisca Feitosa, pai de uma criança, possuindo uma carreira consolidada na docência. Assim, ele segue em frente na busca do encontro com sua arte, com seu mundo interior e em seu papel como cidadão participante para o bem social da comunidade.

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Mutações Nuvens negras estão sobre sua cabeça. Pedras no seu caminho se acumulam. Dá uma vontade de chutar o balde. Se desligar de tudo, não estando nem aí pra nada. Chega a fúria por estar nesta situação. E aquela emoção lhe sobe à cabeça. E você não consegue parar e age violentamente, por impulso. No outro lado da moeda você é senhor de si, de suas emoções e ações, controlando situações arrebatadoras, mesmo por uma musa que lhe inspira. Aquela forte batida do coração lhe leva a se declarar por ela. Fazer papelão de ridículo, agir baseado em uma intuição forte para viver a emoção. São duas situações opostas. E no estado de espírito da primeira qualquer decisão pode ser errada. No caso da segunda decisão as chances são enormes para dar certo.

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Luta Social Eu e você lutamos num mundo para que possamos existir nele de direito. Não pretendemos dominar o mundo para nós, como pensam alguns.

Os que pensam assim estão redondamente enganados. São idiotas, egoístas e morreram desse jeito.

Febre e Solidão Falar?! Não quero. Não sei o que dizer. Dê-me uma luz, não me deixe assim. Cadê você? Não gostas de mim? Seus beijinhos, cadê? Seus carinhos, cadê? Procure-me, por favor. Eu não sei te procurar. Aliás, não sei procurar nada e nem ninguém.

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O meu corpo está fervendo. Estou delirando, muita febre e solidão. Venha me procurar, por favor. Estou morrendo de amor, precisando do teu olhar.

Não é você Não é você a pessoa que desejo. Não é você com quem quero sonhar, e a pessoa que deve estar comigo? Não é você que sinto chegar A pessoa com que me vejo curtindo a vida entre quatro paredes. Não é você que quero que me faça sorrir. Retire-se agora de perto de mim. Procure alguém que lhe deseja. Não é mais você. Não quero nem tua amizade. Nem comigo fale mais. O meu corpo é fraco. Por isso me castigo como auto inimigo.

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Anexos Poéticos  Dois Poetas: Coelho Neto e Afonso Cunha  Organizador: Francisco Carlos Machado  Ecos da Crítica

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Henrique Maximiano Coelho Neto, filho de Ana Silvestre Coelho, índia aculturada e do pai português, Antônio da Fonseca Coelho, nasceu em Caxias, em 21 de Fevereiro de 1864. Aos seis anos, em 1870, sua família deixa o Maranhão, indo residir no Rio de Janeiro. Na capital do Império, estudando no Colégio Pedro II, começou desenvolver suas potencialidades intelectuais. Com 11 anos traduziu do latim Cícero. Aos 17 anos na sessão paga do Jornal do Comércio, em Dezembro de 1881, estreia seu nome na literatura com o poema “No Deserto”. Começou sua formação superior em medicina, desistindo logo depois. Continua com Direito na Faculdade de São Paulo, fazendo um ano em Recife, instruído por Tobias Barreto, chegando a concluir o curso em 1885 na capital paulista. De volta ao Rio de Janeiro inicia sua carreira jornalística no Jornal Gazeta da Tarde de propriedade do abolicionista José de Patrocínio. Envolvido desde estudante com as causas sociais e políticas de seu tempo, como a escravidão, continua essa luta em prol da abolição dos negros em campanhas e nas páginas do jornal; também lutando pela implantação do sistema republicano brasileiro. Com 26 anos, em 1890, ocupando o cargo de secretário de Governo do Estado do Rio de Janeiro, se casa com Maria Gabriela Brandão. No ano seguinte, 1891, inicia o ciclo dos livros e dos filhos – cento e vinte e seis livros e treze filhos, dos quais sobreviveram sete. Em 1892 é nomeado professor de História da Arte na Escola Nacional de Belas Artes. Lecionando literatura no Colégio Pedro II, posteriormente, leciona História do Teatro e Literatura Dramática na Escola de Arte do Rio. Eleito deputado Federal pelo Maranhão em 1909, é reeleito para mais dois mandatos, em 1912 e 1915. Dotado de extraordinária inteligência para a escrita, ao longo dos seus 70 anos, publicou em diversos gêneros, desde romances, contos, artigos jornalísticos; crônicas, peças de teatro, ensaios, conferências, críticas, discursos, memórias e poemas - uma carreira profícua, que o levou a ser nas primeiras décadas do século XX o literato brasileiro mais lido e admirado. Consagração que o fez ocupar diversos cargos em agremiações culturais e literárias, como a Academia Brasileira de Letras, onde foi membro fundador e seu Presidente em 1926. Recebeu diversas honrarias, como em 1928 o título máximo de Príncipe dos Prosadores Brasileiros; e em 1932, a Academia Brasileira de Letras lançou oficialmente sua candidatura ao Prêmio Nobel de Literatura pelo conjunto colossal de sua obra, cuja linguagem, embora acadêmica, ornamental e parnasiana - sendo objetivo de crítica severa de alguns modernistas em ascensão - possuía uma temática voltada em defesa da dignidade humana e do país, engrandecendo-o em todos os seus aspectos, como o ambiental, pois Coelho Neto, como escritor e homem público foi um dos nossos primeiros a manifestar em seus escritos preocupações ecológicas, denunciando desmatamentos e as queimadas nos biomas nacionais. Em 28 de Novembro de 1934, gravemente enfermo, faleceu Coelho Neto, causando uma comoção nacional. Diversas homenagens lhe são prestadas país afora, bem como no exterior. No Maranhão, os intelectuais e políticos se organizam e concordam que a cidade de Curralinho, no leste do Estado, através do Decreto Nº 746 de 22 de Dezembro, fosse a partir de então chamada de Coelho Neto fato que só sucedeu em 1938, pelo Decreto Nº 45 de 29 de Março. Uma justa homenagem a um escritor que foi um orgulho para o Maranhão e o Brasil, contribuindo intelectualmente como poucos com o país.

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Deserto É noite! O simun uiva furente. O lar doura o areal ardente. Treme o palmeiral. O caimão dormita além da brenha, A cascata ruidosa se despenha N´um lago de cristal. Brame iroso o tigre beluíno, atravessa o Saara o debuíno à frente dos camelos; se ergue no deserto a múmia eterna; sai a África do fundo da caverna envolta nos cabelos. Caminha arrastando os férreos grilhos, Grita, procura, chama pelos filhos, o eco lhe responde. Desliza oculto e vagaroso o Nilo, ouvindo o eco, lesto o crocodilo no caniçal s´esconde! Escravo! Brada a esfinge sibilando. Escravo! Diz a brisa s´embalando Nas folhas do baobá. Maldito seja o dia em que o formoso Chan tu viste e disseste: ´sê meu esposo... Serei tua Eloá!

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Ser Mãe Ser mãe é desdobrar fibra por fibra o coração! Ser mãe é ter no alheio lábio que suga, o pedestal do seio, onde a vida, onde o amor, cantando, vibra. Ser mãe é ser um anjo que se libra sobre um berço dormindo! É ser anseio, é ser temeridade, é ser receio, é ser força que os males equilibra! Todo o bem que a mãe goza é bem do filho, espelho em que se mira afortunada, luz que lhe põe nos olhos novo brilho! Ser mãe é andar chorando num sorriso! Ser mãe é ter um mundo e não ter nada! Ser mãe é padecer num paraíso!

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Canção Pastora que vens da serra pastora que eu acompanho, não vês que do teu rebanho a ovelha melhor se aberra? Ai, de ti! Linda Pastora, teu coração vai-se embora. Não te prendas à cigarra que conta nos olivais. Olha lá que se desgarra Tua alma e não a vês mais. Ai, de ti! Linda Pastora que se vai tua alma embora. Não dês ouvidos ao canto, foge ao que diz o traidor: que o amor pra viver quer pranto como quer o orvalho a flor. Ai, de ti! Linda Pastora Vai se te a fortuna embora.

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As Donzelas Não te exponhas, disse a velha, à luz fria do luar. Deixa que se perca a ovelha, gado não te há de faltar. É o lobo e não a farauta que te atrai ao seu lugar, não saias, donzela incauta, ao luar. Mas a moça, a noite inteira ouvia a ovelha balar. Tão triste e só na clareira que não pode descansar. E, enquanto a velha dormia fugiu, deixando o seu lar. Era claro como o dia o luar. Desde então anda escarrada pela montanha, a chorar, a pobre moça enganada naquela noite de luar. A lua é mãe da tristeza. E é mais traidora que o mar. Desconfia da beleza do luar.

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Maria Dormi tranquilamente aconchegando ao meu amor. Tendes no colo um ninho quente onde achareis sempre calor. Silve, rebrame o vento agreste que muda em neve a água do rio... Mais pode o amor do que o nordeste que traz dos montes tanto frio. Meu coração arde e se inflama para aquecer-vos, meu Senhor. Não há calor como o da chama que nasce, esplêndida, do amor. Gia. Que importa! A noite é alta. O vento geme, uiva a torrente. Junto de mim nada vos falta dormi, dormi tranquilamente.

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Canção Vernal Foge, levando os malditos sudários, o frio inverno lívido. Já pelos montes solidários o sol esplende vivido. No lar revive a lâmpada mortiça, papeia o ninho, enflora-se a ramada e a andorinha emigrada Torna de longe e nos telhados trissa. O rouxinol sucede a cotovia. Soam nos cerros flautas de pastores; e onde outrora a geleira aparecia ora aparecem flores. Já se não teme a Korrigan nem a nevasca que regela: o sol esplende de manhã Mal morre a estrela. Os ursos da montanha albina não vem fremir junto aos casais; e no arvoredo a carambina não se vê mais. Oh! Que nos dera uma perene primavera.

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O Rhapsodo Quem sou, di-lo meu todo: um mísero rhapsodo. Sombra do que fui grande, espectro de fastígio que perdeu a beleza, o esplendor e o prestígio. Fui no princípio, Homero. Hoje sou mendigo. Cantei hinos e peans, ora canções redigo. Nas quais não há rumor de quadrigas de guerra. Nem se encontram signares dos deuses sobre a terra. Canto, e não raro o choro instila no meu canto: cada estrofe remata-a uma gota de pranto. Durmo onde para à noite e o cansaço me atira. Tendo por travesseiro a minha pobre lira. Se acho versas no chão sobre as versas me deito. Se não faço de areia ou das pedras meu leito, adormeço no estio ouvindo o rouxinol, desperta-me a cotovia anunciando o sol. Se é de inverno tirito e gemo na tristeza de uma furna, não raro, antiga sepultura. E, acordado, a tremer, sem lume que me aqueça, Ouço o vento ulular dentro da treva espessa. E, ao romper da manhã, na nevoaça que rola saio a cantar e o canto é que me atrai a esmola. Assim vivo e ainda assim, bendigo a vida ingrata. As manhãs de ouro vivo e as estrelas de prata! Como é doce viver quando o campo floresce! Toda a tristeza esvai-se, a dor mesma amortece.

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Quando, ao sair do sono, em madrugada clara, vê-se, ondulando ao sol, o grande mar da serra onde as gaivotas são as lestas cotovias. Que remontam ao céu glorificando os dias! Ai! De nós se não fosse o viço da esperança! Flor que desbota n’alma da criança. E conserva no ancião o mesmo olor fragrante. Que trescala, ao nascer, no coração do infante. cego, este espera ver; medo, espera falar. Na agonia inda o enfermo canta melhorar. No temporal o nauta espera que a bonança venha o vento amainar. Há em tudo esperança. Sob a neve do inverno a terra triste espera, o esplêndido calor do sol da primavera. O pobre, esse que espera além do certo a morte? Espera um Deus de amor que lhe mitigue a sorte. Um Deus todo bondade, um Deus como o Messias que anunciam, há tanto, as meigas profecias. Um Deus que ampare o fraco e levante o humilhado. Um Deus de amor que seja o próprio bem sonhado. Que Ele, ao nascer, realize o milagre que espera. A tristeza do mundo - a nova primavera.

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Em sua obra “Onde Canta o Sabiá”, o crítico Clóvis Ramos afirma que Afonso Cunha foi um “mestre dos sonetos alexandrinos”, pertencente ao parnasianismo, sendo sucessor de grandes maranhenses que cultivaram este estilo literário, como Teófilo Dias, o primeiro parnasiano brasileiro, Raimundo Correia, o maior deles; Dunshee de Abranches e Maranhão Sobrinho, dentre outros nomes do Estado. Afonso de Moura Cunha, poeta cujo nome batiza a cidade mais jovem da APA dos Morros Garapenses, nasceu em 27 de Outubro de 1894, em Caxias. Em vida também foi advogado, jornalista, político e amigo solidário dos seus. Os estudos primários e preparatórios foram feitos em sua cidade natal, continuando os mesmos em Teresina - PI, distante 108 km de Caxias. Em 1912, aos 18 anos, matricula-se na Escola Jurídica do Recife. Todavia, dado as boemias, abandonou o curso diversas vezes, chegando a não se graduar. Enquanto esteve em Recife foi redator do Jornal Pequeno, ao lado de Assim Chateaubriand, colaborando também na imprensa do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte. Ocorrendo a febre da borracha no norte do país, se transferiu para Manaus, no Amazonas, onde redigiu O Imparcial, com Álvaro Maia, um dos principais poetas amazonenses. Na década de 1920, ao retornar para Caxias, foi nomeado juiz municipal e Promotor Público. Elegeu-se Deputado Estadual em 1927 no Governo Magalhães de Almeida, passando residir em São Luis. Em “Caxienses Ilustres”, obra de Milson Coutinho, esse autor escreveu que no parlamento Afonso Cunha foi um excelente tribuno. Não sendo eleito para um segundo mandato, se dedica à advocacia em Caxias, Buriti Bravo e Coelho Neto, onde contratado por Duque Bacelar, acompanhava as pendências jurídicas na regularização e demarcação das terras do Coronel. Tornou-se amigo íntimo e querido do mesmo e por seus familiares. Tanto que em vida Duque Bacelar o homenageou, batizando seu filho caçula de Afonso. Quando se hospedava no Itapirema, majestoso casarão colonial construindo em 1810, aonde chegava a mulas e a cavalos, na companhia de outros amigos, Afonso Cunha declamava seus versos nos saraus familiares. Ele, inspirado pelo ambiente de fartura e riqueza, “com manhãs de opala e tardes de ametistas”, onde tudo era belo para o poeta, escreveu um bonito soneto em homenagem ao anfitrião, declamando numa rede o poema para o Duque ouvir. Em 1945, foi Prefeito de Caxias por cinco meses e 28 dias, de 18 de Maio a 16 de Novembro, quando era interventor do Maranhão Clodomir Cardoso. Algumas desilusões amorosas, segundo depoimentos de amigos do poeta, o levaram a permanecer solteiro, não constituindo família para si. Ele também não publicou seus textos literários em livro, ficando dispersos nos diversos jornais em que colaborou no país. A morte de Afonso Cunha, estando ele com 53 anos, ocorreu na madrugada de 22 de Maio 1947, em São Luis, na Santa Casa de Misericórdia. A pedido de familiares e do povo de Caxias, seu corpo foi embalsamado e levado de trem para ser sepultado nessa cidade, acompanhado de diversas autoridades, como os desembargadores Severino Dias Carneiro, Aquinelo Costa e da Deputada Maria Dalva Bacelar. Doze anos depois, o influente filho político de Duque Bacelar, Raimundo Emerso Bacelar conseguiu que a Assembleia Legislativa do Maranhão, através da Lei Nº 07, de 10 de outubro de 1959, transformasse o povoado Regalo, entre as divisas de Coelho Neto e Chapadinha, no município de Afonso Cunha - oficialmente instalado no dia 25 de março de 1961, sendo esta a maior homenagem póstuma que o poeta recebeu.

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Caxias Muitas vezes, pensando nos remotos dias ilustres desta grande terra, vejo passarem diante dos meus olhos soberbos e mais belos do que nunca os heróis das batalhas mais famosas e os peregrinos poetas que as cantam.

Vejo no altivo Morro das Tabocas, batidos pelo sol quente de agosto aqueles que, no entrechocar da luta, ergueram tanto o nome de Caxias. Que, embora decorridos tantos anos, Caxias sente que combatem ainda!

E é por isso, talvez, que este meu povo, quando se lhe antepõe a tirania, tem atitudes de guerreiro antigo: e então se escuta, pelo espaço afora, um clamor de clarins, e de tambores, e de cavalos ardidos de guerra...

Nuvens de pó, que se erguem no horizonte, como criações de minha fantasia. Fazem-me um campo de batalha, Em que Alecrim de novo me aparece, revidando as injúrias do presente, com as mesmas armas que empunhava, outrora.

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Cada soldado que lhe segue os passos, tem para a morte um riso de ironia. Porque bem sabe que não vale a pena viver um povo que não tem coragem de arrebentar os seus grilhões de escravos numa explosão de cólera bendita.

E à proporção que assisto a esse combate em que se apraz meu louco devaneio, fico a pensar de que serviria a vida, sem esses lances trágicos e belos dos que morreram pela liberdade e vivem agora para o nosso culto

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A Enchente Entre regougos e ais, ribombos e rugidos, a água vinha em cachão, de pedra em pedra, e atroando como infrene tropel de corcéis incontidos, planuras marginais invadindo, alagando... Tudo o rio carrega e, enorme e formidando, rompendo a cerração e os planos impedidos roças, habitações em seu curso arrastando, deixa o rio, onde passa, um mundo de gemidos!... E a água sempre a crescer! E a noite que não finda! E este céu tão escuro e este clamor horrendo! Ai de ti, camponês, ou boiadeira linda! Ouves? É o alto estridor de um repiquete de água subindo o vale e a serra em fragor estupendo, entre ululos de dor e mungidos de mágoas... 165


Vitória-Régia Sob a doçura azul de um céu azul-turquesa e o flamínio fulgor de um sol equatorial, ei-la, esplendendo, à luz, a esplêndida riqueza da alva corola em flor de forma escultural. Unge-a de ouro purpúreo o sol; e, ungida e acesa, lembra uma estrela em meio ao múrmuro cristal do rio, que marulha em múrmura represa, e tem cintilações de pérola e coral. Magnífica expressão da alma da natureza. É um resumo feliz da flora original que aqui rebenta em luz e assomos de beleza... Não há, porém, conter-lhe a vida vegetal, que a vida desta flor, de surpresa em surpresa atinge à perfeição do supremo ideal!

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Itapirema Se eu fosse Duque, um poeta panteísta capaz de surtos magistrais de artistas celebraria num famoso poema a maravilha que é o Itapirema. Manhãs de opala, tarde de ametista a mata verde a se perder de vista. O verde mar das plagas de Iracema, o verde da esperança mais suprema. Este céu, este sol, esta paisagem não são porventura, a própria imagem dos sonhos, que sonhei, quando sonhava. Itapirema como tudo é belo. De certo, eu fui um Rei, neste castelo um grão-senhor que tudo dominava.

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Organizador

Francisco Carlos M. Machado, 1978, maranhense, organizador da antologia “Vozes Poéticas dos Morros Garapenses” é poeta, escritor, professor, teólogo, missionário evangélico, fotógrafo e ambientalista. Tem dois livros de poemas publicados: “Na Escuridão e no Dia Claro” e “Adolescência Poética” (também em E-book). É organizador de outra antologia “Escritos dos Morros”, e autor do livro “Discursos das Causas Primeiras”, “Autoritarismo pastoral no Maranhão”; como participante de duas antologias poéticas: “Poesia Falada” e “Águas Vivas 3”, e dos ensaios “Áreas de Proteção Ambiental do Maranhão”, e “Serviço Social Cristão”. Sua produção escrita em prosa também se manifesta via artigos, cartas, e crônicas, tendo textos seus esparsos nos principais jornais do Maranhão e em revistas de circulação nacional. Como homem e cidadão comprometido com o avanço do bem nos espaços socioambientais em que já viveu, se dedicou com afinco para a educação, cultura e cuidados sociais de crianças, adolescentes, jovens e adultos. Ele já organizou grupos comunitários, associações, Igrejas, bibliotecas e corais musicais; deu aulas e facilitou a promoção de debates, conferências e audiências públicas, retiros espirituais e caminhadas ecológicas e muitos protestos em favor da vida e dos direitos humanos. Como orador e declamador, já proferiu palestras, pregações religiosas e declamou seus poemas em capitais como São Luis, Recife, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Manaus, Brasília e Belém, além das muitas pequenas e médias cidades, povoados e aldeias de índios que visita em suas viagens de trabalho e evangelização. Parte dessas experiências de dedicação aos cidadãos do Maranhão e pela preservação da vida das plantas e dos animais, especificamente nos municípios de Duque Bacelar, Coelho Neto, Buriti e Afonso Cunha/APA DOS MORROS GARAPENSES, no leste do Estado, foram brevemente descritos nos livros “Assim na Terra com nos Céus”, em 2011. Atualmente, trabalha na produção da sua autobiografia ambiental e em seu terceiro volume de poesia.

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ECOS DA Crítica Dono de um lirismo exato, belo e seco, sem transbordamentos excessivos e com o metaforismo simples dos cantores alforriados dos jogos exacerbados do às vezes intelectualismo inócuo, a poética de Francisco Carlos Machado, desenvolvida pela práxis da sua vivência como ambientalista e homem defensor do seu chão natal, torna-se agora numa das vozes mais autênticas da nova poesia maranhense. Nauro Machado, poeta A poesia de Francisco Carlos é um mosaico de emoções vividas, ou no silêncio das horas mortas, ou na contemplação do verde que reverbera das folhagens. Ele sabe extrair de cada palavra a emoção mais forte. Transforma a poesia em trincheiras de luta contra os que ameaçam a natureza. Herculano Moraes, jornalista, poeta, escritor Poeta por inescapável vocação, cristão de olhos libertários e coração vibrante, rico amálgama do poeta lírico e do engajado, Francisco Carlos Machado é a própria figura do homem holístico, preocupado com o corpo, a psique e o espírito do homem seu semelhante, e preocupado com a terra, seja a sua, a do sertanejo, a do índio. Coração como um fortim a postos a albergar novos amigos, novos sonhos, novas causas que as demandas da vida, com seu rol de injustiças, faz aflorar diante de seus olhos de andarilho. Sua poesia nutre e inspira, enleva e ensina. Poeta de ternuras tantas, escreve como quem planta, como agri-cultor ciente que lança sua cápsula-poema, cápsula de vida, tendo na face o sorriso pacífico, erigido em serena, mas radical esperança, sorriso que só as grandes almas costumam envergar. Comissionado por Cristo, amigo, Senhor e incontornável norte de sua bússola, e inspirado pela simbiose que mantém com a natura, musa e mãe, o poeta avança firmado na ciência de que escrever é, sempre e fundamentalmente, semear. Sammis Reachers, poeta e antologista Francisco Carlos Machado canta porque o seu coração está afinado ao ideal de servir à Árvore da Vida, para ele, plantada no chão da aldeia natal, banhada pelo Rio Parnaíba, que impregna e alimenta a sua alma de força mística. Luis Augusto Cassa, poeta À sua maneira, e com sua juventude pulsante, sua sede universal e sua ansiedade de irmanar mundos mesmo contraditórios, na plena dialética desentranhada no poético, Francisco Carlos Machado me lembra Walt Whitman. “Vive em mim a humanidade inteira”, diz ele, Francisco, no poema noturno [diurno?...] de abertura do seu Na Escuridão e no Dia claro. Não é só a humanidade que vive nele, mas a possibilidade do Todo, como a nascer no exato momento em que um pequenino abre seus olhos, estende as mãos e tenta abraçar as estrelas. Assim, essa poesia chega a uma autoiluminação proporcionada pelas contradições, e nos toca, e parece rasgar a catarata dos nossos olhos para ver de novo, a terra, a vegetação, as águas, os montes, a chuva, nossa irmandade enfim com o que nos rodeia e transforma outra vez nosso corpo em linguagem e metáfora do universo. Mas seu outro tom, o grande e solene tom, é o tom do noviço que ainda sofre com sua caneta-membro e seu chicote nas alcovas escuras, canalizado ora para o tom do Cristo que sofre a vigília do horto, ora para o grito do Batista que se descobre sozinho clamando, em linguagem duplamente afrontosa, repetidamente no deserto: “Abaixo a corrupção! Abaixo a politicagem!” Alguns ouvirão, poeta. Alguns o seguirão. Outros pedirão sua cabeça. Antonio Ailton, poeta, doutor em Teoria Literária

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Um ambientalista apaixonado e um cristão sério. Como parceiro no Projeto de Educação Ambiental da A Rocha Brasil no Maranhão, ele tem trabalhado muito para mobilizar a igreja para proteger uma área de conservação em sua cidade. Seu comprometimento com a causa ambiental em benefício de todos também se expande para a poesia, pois sua sensibilidade de descrever e "poetizar" as belezas da região maranhense tem contribuído para a cultura local, também como meio de proteção a este bioma tão ameaçado e frágil. Andrea Ramos Santos, Bióloga, Diretora Executiva da A Rocha Brasil Francisco Carlos: morros... poemas... risadas... buritis... histórias... fósseis... pessoas... livros... ação... cultura... canção... crianças... oração... encontros... reação... lutas... vitórias... derrotas... Francisco é o poeta da vida. Um profeta da sobrevivência! Gínia Bontempo, professora de Biologia na UFV, doutora em Meio Ambiente Conhecemos Francisco Carlos no ano de 2006, seminarista, envolvido em um projeto espiritual: fundar a Igreja Batista Nacional em sua cidade, entre seu povo, sendo que fomos indicados para tutelá-lo. Além dessa causa maior, o seu envolvimento nas questões sociais e ambientais da sua região muito nos aproximou. Passamos a conhecer sua liderança junto a ABAMA, onde em São Luis, na busca de apoio junto a Secretária de Estado de Meio Ambiente, e demais parceiros como o Centro de História Natural Arqueologia do Maranhão, realizou a 1ª Conferência Ambiental da ABAMA. Na ocasião, fui convidada para publicamente reconhecer a existência de material fossilífero nos arredores da cidade (até nos quintais das casas) que veio posteriormente ser confirmado como um dos mais belos Sítios de árvores silicíficados conhecidos no Brasil. E o sonho ambiental de Francisco Carlos de ver os fósseis preservados, como todos os ecossistemas da sua região, ocorreu com a criação da Unidade de Proteção Ambiental dos Morros Garapenses. Agostinha A. Pereira, Pastora, Bióloga, coordenadora de Paleontologia do CHNA-MA Francisco Carlos, faz um bom trabalho na defesa do Meio Ambiente na região da APA dos Morros Garapenses, em parceria com os educadores ambientais dessa importante região maranhense. As iniciativas têm gerado uma maior sensibilização da população da Unidade de Conservação sobre a importância da preservação ambiental local. Com esperança, desejo ainda pleno êxito aos defensores da APA dos Morros Garapenses, iguais a ele, nas demais ações socioambientais planejadas. Auridenes Matos, Educadora e gestora ambiental Como definir este ser de alma livre, que na sua infinita busca de sabedoria mostra-se firme e preocupado em defender as coisas da terra, da água e de tudo que respira, possuindo ao mesmo tempo a sensibilidade de enxergar no além, coisas maravilhosas e inimagináveis aos olhos comuns que só os poetas podem sentir e possuir. Seria mais fácil falar de um menino franzino, de cabelos rebeldes nascido e crescido no Garapa, entre morros verdejantes e banhados pelas águas caudalosas do rio Parnaíba. Este menino com talentos diversos que tinha na mente e nas mãos o dom de transformar e de ver o sentido da vida em formigas, em flores, e de escrever isso em versos, muitos versos. Ele que tinha a facilidade de se indignar com a corrupção dos governantes e de se sacrificar em greves de fome para a população se sensibilizar. Mas bom mesmo era se deixar contagiar com seu sorriso fácil nas “Noites do Sorriso” ou relaxar com saraus regados a chá e torradas, em tardes memoráveis, e de encabeçar uma luta com muitos seguidores em favor do ambiente, que aos poucos se esvaziava de suas belezas naturais? Falar do Francisco, irmão da chuva, amigo do sol e da beleza dos pássaros, defensor do rio e dos igarapés não é difícil, até porque este Francisco está aqui bem próximo de nós. Suas lutas são as nossas lutas e suas vitórias são as nossas vitórias. Assim, tão nosso ele é. Nesse contexto, cabe o poeta, cabe o escritor, cabe o aventureiro que viaja quilômetros a pé pra ver seus sonhos se concretizarem; o louco andarilho de inteligência ímpar que faz da sua constante busca por sabedoria a realização dos seus sonhos de menino, alimentado por uma coragem sem limites, onde só os protegidos por Deus são capazes de ter. Ednilda Moraes, professora e historiadora em Duque Bacelar 170


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