Revista em Família nº57

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INSPETORIA SANTA CATARINA DE SENA

Inspetoria Santa Catarina de Sena

| Ano 40 | n° 57 setembro outubro novembro e dezembro | São Paulo | SP

“...um Filho nos foi dado..”

Isaías 9,5


Editorial “Agradeçamos de verdade o Senhor que nos faz tantas graças” Prezados Leitores, Ao chegar ao final de mais um ano, é louvável parar, refletir e contemplar as grandes maravilhas, graças e bênçãos recebidas das mãos do bom Deus no decorrer de cada dia. “É belo louvar o Senhor e cantar a teu nome, ó Altíssimo, Anunciar de manhã o teu amor, e tua fidelidade durante a noite” (Salmo 92,1). Estamos nos preparando para a celebração dos 150 anos do Instituto e, neste ano, 2019-2020 - somos convidadas a AGRADECER: “Agradeçamos de verdade o Senhor que nos faz tantas graças” (MM - carta 37,10). Contemplando a caminhada de nossas Comunidades Educativas, só nos resta alargar o coração e a mente e, com gratidão e admiração perceber a riqueza da santidade, da paixão educativa, da criatividade missionária que floresce nos corações de tantas Irmãs, jovens, leigos e leigas. Como filhas de Dom Bosco e Madre Mazzarello, o nosso olhar deve ser sempre positivo para saber colher as sementes de vida, de amor e de bem presente nos diversos lugares e situações, sinais de esperança que nos fazem exultar de alegria e aclamar: “Por tudo, dai graças”! É muito significativo o convite que Madre Yvonne nos faz na circular 989: “Renovemos a certeza de que Maria caminha conosco, nos “sustenta e acompanha, protege e abraça” (Christus Vivit, 45). Com ela, pronunciamos o nosso sim e dela aprendemos a fazer o que Jesus nos diz (Cf Jo 2,5) para sermos com seu auxílio “auxiliadoras” da vida, testemunhas da alegria e da esperança”. Desejo um feliz e abençoado 2020 e que, cada dia, seja repleto de muitas graças e bênçãos do Alto, vivido sob o olhar carinhoso de nossa querida Mãe, Maria Auxiliadora! Feliz Natal! Iluminado Ano Novo! Um abraço fraterno e agradecido, Fraternalmente,

Ir. Helena Gesser Redação, produção e distribuição Ir. Maria de Lourdes Macedo Becker, Andréa Pereira Projeto gráfico: 6 Andréa Pereira Capa : Freepik Revisão Ir. Maria de Lourdes Macedo Becker, Fotos Inspetoria Santa Catarina de Sena Google, Pixabay Colaboração Irmãs e Comunidades da Inspetoria Santa Catarina de Sena Contato editorial@fmabsp.org.br 2 | Em Família

EM FAMÍLIA | Ano 40 | nº 57

Centro de Comunicação Marinella Castagno Rua Três Rios, 362, Bom Retiro 01123-000 São Paulo | SP Tel. 55 11 3331 7003 www.salesianas.org.br Em Família é uma publicação formativa que divulga e informa sobre o cotidiano das comunidades das Filhas de Maria Auxiliadora na Inspetoria Santa Catarina de Sena, e suas frentes de trabalhos.


Sumário

Relembre e fique sabendo o que aconteceu em nossas comunidades nos meses de setembro, outubro, novembro e dezembro programe-se para as próximas atividades. Divirta-se, emocione-se, Em Família.

Editorial Capa Artigo Entrevista Registro É Festa Lembrança

Cartas Ti ringrazio molto per avermi inviato Revista em Família nº56. E’ ricca di notizie e di interessanti eventi di Chiesa e di Istituto. Dio renda fecondo di bene questo servizio che mette in circolazione la vostra bella realtà, piena di speranza e aperta a grandi orizzonti. Sono in comunione con tutte per voi per il buon esito del Sinodo Panamazzonico. E’ un momento di grazia che ci tocca profondamente! Grazie per il dono della tua e vostra preghiera. Anch’io ti ricordo nella mia con gran affetto. Dio benedica la tua vita e la missione che con tanto amore stai portando avanti. Un abbraccio grande. Sr. Yvonne Reungoat, fma

A Ir.Becker e a tutte le collaboratrici: complimenti per la bellissima rivista “EM FAMÍLIA” che avete realizzato. E’ uno strumento molto agile, suggestivo, per conoscere la vostra realtà e sentirci sempre di pù in comunione con voi. Grazie di cuore per avercela inviato. Un grande abbraccio, Sr. Julia Arciniegas, fma

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A Ir.Becker e a tutte le collaboratrici: complimenti per la bellissima rivista “EM FAMÍLIA” che avete realizzato. E’ uno strumento molto agile, suggestivo, per conoscere la vostra realtà e sentirci sempre di pù in comunione con voi. Grazie di cuore per avercela inviato. Un grande abbraccio, Sr. Piera Cavaglià Grazie di cuore per il dono di “Em Familia” che mi ha donato la vostra vita e la qualità delle esperienze che l’Ispettoria realizza. Che tutto sia Vita per i giovani. Vi penso con riconoscenza e amicizia e prego per tutte voi. Un grande abbraccio e un saluto a tutte. Sr. Emilia Musatti Agradeço o envio da Revista em Família tão rica e mensageira. Deus fecunde sempre mais o trabalho dedicado de vocês. Nossa Senhora Auxiliadora os acompanhe. P. Asídio Deretti - Inspetor - BPA Agradeço o envio da Revista em Família tão rica e mensageira. Deus fecunde sempre mais o trabalho dedicado de vocês. Nossa Senhora Auxiliadora os acompanhe. Com carinho, Ir. Silvia Boullosa

Errata: o artigo “Projeto de Espiritualidade Missionária” publicado no EM FAMÍLIA número 40 é de autoria das Irmãs Huimin Chen e de Irmã Célia Regina Pinto. setembro | outubro| novembro e dezembro 2019


Capa

Carta Apostólica Admirabile Signum do Santo Padre Francisco sobre o significado e valor do presépio 1. O SINAL ADMIRÁVEL do Presépio, muito amado pelo povo cristão, não cessa de suscitar maravilha e enlevo. Representar o acontecimento da natividade de Jesus equivale a anunciar, com simplicidade e alegria, o mistério da encarnação do Filho de Deus. De fato, o Presépio é como um Evangelho vivo que transborda das páginas da Sagrada Escritura. Ao mesmo tempo que contemplamos a representação do Natal, somos convidados a nos colocar espiritualmente a caminho, atraídos pela 4 | Em Família

humildade d’Aquele que Se fez homem a fim de Se encontrar com todo o homem, e a descobrir que nos ama tanto, que Se uniu a nós para podermos, também nós, unir-nos a Ele. Com esta Carta, quero apoiar a tradição bonita das nossas famílias de preparar o Presépio, nos dias que antecedem o Natal, e também o costume de o armar nos lugares de trabalho, nas escolas, nos hospitais, nos estabelecimentos prisionais, nas praças… Trata-se verdadeiramente dum exercício de imaginação criativa, que recorre aos


Capa mais variados materiais para produzir, em miniatura, obras-primas de beleza. Aprendese em criança, quando o pai e a mãe, juntamente com os avós, transmitem este gracioso costume, que encerra uma rica espiritualidade popular. Almejo que esta prática nunca desapareça; mais, espero que a mesma, onde porventura tenha caído em desuso, possa ser redescoberto e revitalizado.

Honório III, a aprovação da sua Regra em 29 de novembro de 1223. Aquelas grutas, depois da sua viagem à Terra Santa, faziamlhe lembrar de modo particular a paisagem de Belém. E é possível que, em Roma, o «Poverello» de Assis tenha ficado encantado com os mosaicos, na Basílica de Santa Maria Maior, que representam a natividade de Jesus e se encontram perto do lugar onde, segundo uma antiga tradição, se conservam 2. A origem do Presépio se deve, antes precisamente as tábuas da manjedoura. de mais nada, a alguns pormenores do nascimento de Jesus em Belém, relatados As Fontes Franciscanas narram, de forma no Evangelho. O evangelista Lucas limita-se detalhada, o que aconteceu em Gréccio. a dizer que, tendo-se completado os dias de Quinze dias antes do Natal, Francisco chamou Maria dar à luz, «teve o seu filho primogénito, João, um homem daquela terra, para lhe pedir que envolveu em panos e recostou numa que o ajudasse a concretizar um desejo: «Quero manjedoura, por não haver lugar para eles representar o Menino nascido em Belém, para na hospedaria» (2, 7). Jesus é colocado numa de algum modo ver, com os olhos do corpo, as manjedoura, que, em latim, se diz praesepium, dificuldades pelas quais Ele passou pela falta donde vem a nossa palavra: presépio. das coisas necessárias a um recém-nascido, por ter sido colocado na palha duma manjedoura, Ao entrar neste mundo, o Filho de Deus entre o boi e o burro».[2]Mal acabara de encontra lugar onde os animais vão comer. A o ouvir, o fiel amigo foi preparar, no lugar palha torna-se a primeiro berço para Aquele designado, tudo o que era preciso, segundo que Se revelará como «o pão vivo, o que o desejo do Santo. No dia 25 de dezembro, desceu do céu» ( Jo 6, 51). Uma simbologia, que chegaram a Gréccio muitos frades, vindos de já Santo Agostinho, ao lado de outros Padres vários lados, e também homens e mulheres da Igreja, tinha entrevisto quando escreveu: das casas da região, trazendo flores e tochas «Deitado numa manjedoura, torna-Se nosso para iluminar aquela noite santa. Francisco, ao alimento».[1]Na realidade, o Presépio inclui chegar, encontrou a manjedoura com palha, vários mistérios da vida de Jesus, fazendo- o boi e o burro. À vista da representação do os aparecer familiares à nossa vida diária. Natal, as pessoas lá reunidas manifestaram uma alegria indescritível, como nunca tinham Passemos agora, à origem do Presépio, tal sentido antes. Depois, o sacerdote celebrou como nós o entendemos. A mente leva-nos solenemente a Eucaristia sobre a manjedoura, a Gréccio, na Valada de Rieti; aqui se deteve mostrando também deste modo a ligação que São Francisco, provavelmente quando existe entre a Encarnação do Filho de Deus vinha de Roma onde recebera, do Papa e a Eucaristia. Em Gréccio, naquela ocasião, setembro | outubro| novembro e dezembro 2019


Capa não havia figuras; o Presépio foi formado e vivido pelos que estavam presentes.[3] Assim nasce a nossa tradição: todos à volta da gruta e repletos de alegria, sem qualquer distância entre o acontecimento que se realiza e as pessoas que participam no mistério. O primeiro biógrafo de São Francisco, Tomás de Celano, lembra que, naquela noite, à simples e comovente representação se veio juntar o dom duma visão maravilhosa: um dos presentes viu que jazia na manjedoura o próprio Menino Jesus. Daquele Presépio do Natal de 1223, «todos voltaram para suas casas cheios de inefável alegria»[4].

e perdemos o rumo, e um amigo fiel, que está sempre ao nosso lado; deu-nos o seu Filho, que nos perdoa e levanta do pecado. Armar o Presépio em nossas casas, ajudanos a reviver a história sucedida em Belém. Naturalmente os Evangelhos continuam a ser a fonte, que nos permitem conhecer e meditar aquele Acontecimento; mas, a sua representação no Presépio ajuda a imaginar as várias cenas, estimula os afetos, convida a sentir-nos envolvidos na história da salvação, contemporâneos daquele evento que se torna vivo e atual nos mais variados contextos históricos e culturais.

3. Com a simplicidade daquele sinal, São Francisco realizou uma grande obra de evangelização. O seu ensinamento penetrou no coração dos cristãos, permanecendo até aos nossos dias como uma forma genuína de repropor, com simplicidade, a beleza da nossa fé. Aliás, o próprio lugar onde se realizou o primeiro Presépio sugere e suscita estes sentimentos. Gréccio torna-se um refúgio para a alma que se esconde na rocha, deixando-se envolver pelo silêncio.

De modo particular, desde a sua origem franciscana, o Presépio é um convite a «sentir», a «tocar» a pobreza que escolheu, para Si mesmo, o Filho de Deus na sua encarnação, tornando-se assim, implicitamente, um apelo para O seguirmos pelo caminho da humildade, da pobreza, do despojamento, que parte da manjedoura de Belém e leva até à Cruz, e um apelo ainda a encontrá-Lo e servi-Lo, com misericórdia, nos irmãos e irmãs mais necessitados (cf. Mt 25, 3146).

Por que motivo suscita o Presépio tanto enlevo e nos comove? Antes de mais nada, porque manifesta a ternura de Deus. Ele, o Criador do universo, abaixa-Se até à nossa pequenez. O dom da vida, sempre misterioso para nós, fascina-nos, ainda mais, ao perceber que Aquele que nasceu de Maria é a fonte e o sustento de toda a vida. Em Jesus, o Pai deu-nos um irmão, que nos procurar quando estamos desorientados

4. Agora gostaria de repassar os vários sinais do Presépio para apreendermos o significado que encerram. Em primeiro lugar, representamos o céu estrelado na escuridão e no silêncio da noite. Fazemo-lo não apenas para ser fiéis às narrações do Evangelho, mas também pelo significado que possui. Pensemos nas vezes sem conta que a noite envolve a nossa vida. Pois bem, mesmo em tais momentos, Deus não nos deixa sozinhos,

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Capa mas faz-Se presente para dar resposta às questões decisivas sobre o sentido da nossa existência: Quem sou eu? Donde venho? Por que nasci neste tempo? Por que amo? Por que sofro? Por que hei de morrer? Foi para dar uma resposta a estas questões que Deus Se fez homem. A sua proximidade traz luz onde há escuridão, e ilumina a quantos atravessam as trevas do sofrimento (cf. Lc 1, 79). Merecem também uma referência as paisagens que fazem parte do Presépio; muitas vezes aparecem representadas as ruínas de casas e palácios antigos que, nalguns casos, substituem a gruta de Belém, tornando-se a habitação da Sagrada Família. Parece que estas ruínas se inspiram na Lenda Áurea , do dominicano Jacopo de Varazze

(século XIII), onde se refere a crença pagã segundo a qual o templo da Paz, em Roma, iria desabar quando desse à luz uma Virgem. Aquelas ruínas são sinal visível, sobretudo, da humanidade decaída, de tudo aquilo que cai em ruína, que se corrompe e definha. Este cenário diz que Jesus é a novidade no meio dum mundo velho, e veio para curar e reconstruir, para reconduzir a nossa vida e o mundo ao seu esplendor originário. 5. Uma grande emoção se deveria apoderar de nós, ao colocarmos no Presépio as montanhas, os riachos, as ovelhas e os pastores! Pois, assim lembramos, como preanunciaram os profetas, que toda a criação participa na festa da vinda do Messias. Os anjos e a estrela-cometa são o sinal de que

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também nós somos chamados a pôr-nos a É precisamente este encontro entre Deus e os caminho para ir até à gruta adorar o Senhor. seus filhos, graças a Jesus, que dá vida à nossa religião e constitui a sua beleza singular, que «Vamos a Belém ver o que aconteceu e que transparece de modo particular no Presépio. o Senhor nos deu a conhecer» ( Lc 2, 15): assim falam os pastores, depois do anúncio 6. Nos nossos Presépios, costumamos colocar que os anjos lhes fizeram. É um ensinamento muitas figuras simbólicas. Em primeiro lugar, muito belo, que nos é dado na simplicidade as de mendigos e pessoas que não conhecem da descrição. Ao contrário de tanta gente outra abundância a não ser a do coração. ocupada a fazer muitas outras coisas, os Também estas figuras estão próximas do pastores tornam-se as primeiras testemunhas Menino Jesus livremente, sem que ninguém do essencial, isto é, da salvação que nos é possa expulsá-las ou afastá-las dum berço de oferecida. São os mais humildes e os mais tal modo improvisado que os pobres, ao seu pobres que sabem acolher o acontecimento redor, não destoam absolutamente. Antes, os da Encarnação. A Deus, que vem ao nosso pobres são os privilegiados deste mistério e, encontro no Menino Jesus, os pastores muitas vezes, aqueles que melhor conseguem respondem, pondo-se a caminho rumo a Ele, reconhecer a presença de Deus no meio de nós. para um encontro de amor e de grata admiração. 8 | Em Família


Capa No Presépio, os pobres e os simples lembramnos que Deus Se faz homem para aqueles que mais sentem a necessidade do seu amor e pedem a sua proximidade. Jesus, «manso e humilde de coração» ( Mt 11, 29), nasceu pobre, levou uma vida simples, para nos ensinar a identificar e a viver do essencial. Do Presépio surge, clara, a mensagem de que não podemos deixar-nos iludir pela riqueza e por tantas propostas efémeras de felicidade. Como pano de fundo, aparece o palácio de Herodes, fechado, surdo ao jubiloso anúncio. Nascendo no Presépio, o próprio Deus dá início à única verdadeira revolução que dá esperança e dignidade aos deserdados, aos marginalizados: a revolução do amor, a revolução da ternura. Do Presépio, com meiga força, Jesus proclama o apelo à partilha com os últimos como estrada para um mundo mais humano e fraterno, onde ninguém seja excluído e marginalizado. Muitas vezes, as crianças (mas os adultos também!) gostam de acrescentar, no Presépio, outras figuras que parecem não ter qualquer relação com as narrações do Evangelho. Contudo esta imaginação pretende expressar que, neste mundo novo inaugurado por Jesus, há espaço para tudo o que é humano e para toda a criatura. Do pastor ao ferreiro, do padeiro aos músicos, das mulheres com a bilha de água ao ombro às crianças que brincam… tudo isso representa a santidade do dia a dia, a alegria de realizar de modo extraordinário as coisas de todos os dias, quando Jesus partilha conosco a sua vida divina.

e de José. Maria é uma mãe que contempla o seu Menino e O mostra a quantos vêm visitáLo. A sua figura faz pensar no grande mistério que envolveu esta jovem, quando Deus bateu à porta do seu coração imaculado. Ao anúncio do anjo que Lhe pedia para Se tornar a mãe de Deus, Maria responde com obediência plena e total. As suas palavras – «eis a serva do Senhor, faça-se em Mim segundo a tua palavra» ( Lc 1, 38) – são, para todos nós, o testemunho do modo como abandonar-se, na fé, à vontade de Deus. Com aquele «sim», Maria tornava-Se mãe do Filho de Deus, sem perder – antes, graças a Ele, consagrando – a sua virgindade. N’Ela, vemos a Mãe de Deus que não guarda o seu Filho só para Si mesma, mas pede a todos que obedeçam à palavra d’Ele e a ponham em prática (cf. Jo 2, 5). Ao lado de Maria, em atitude de quem protege o Menino e sua mãe, está São José. Geralmente, é representado com o bordão na mão e, por vezes, também segurando um lampião. São José desempenha um papel muito importante na vida de Jesus e Maria. É o guardião que nunca se cansa de proteger a sua família. Quando Deus o avisar da ameaça de Herodes, não hesitará a pôr-se em viagem emigrando para o Egito (cf. Mt 2, 13-15). E depois, passado o perigo, reconduzirá a família para Nazaré, onde será o primeiro educador de Jesus, na sua infância e adolescência. José trazia no coração o grande mistério que envolvia Maria, sua esposa, e Jesus; homem justo que era, sempre se entregou à vontade de Deus e pô-la em prática.

7. De pouco em pouco, o Presépio leva-nos à 8. O coração do Presépio começa a palpitar, gruta, onde encontramos as figuras de Maria quando colocamos lá, no Natal, a figura setembro | outubro| novembro e dezembro 2019


Capa do Menino Jesus. Assim Se nos apresenta Deus, num menino, para fazer-Se acolher nos nossos braços. Naquela fraqueza e fragilidade, esconde o seu poder que tudo cria e transforma. Parece impossível, mas é assim: em Jesus, Deus foi criança e, nesta condição, quis revelar a grandeza do seu amor, que se manifesta num sorriso e nas suas mãos estendidas para quem quer que seja.

quisermos alcançar o sentido último da vida.

9. Quando se aproxima a festa da Epifania, colocam-se no Presépio as três figuras dos Reis Magos. Tendo observado a estrela, aqueles sábios e ricos senhores do Oriente puseram-se a caminho rumo a Belém para conhecer Jesus e oferecer-Lhe de presente ouro, incenso e mirra. Estes presentes têm também um significado alegórico: o ouro O nascimento duma criança suscita alegria e honra a realeza de Jesus; o incenso, a sua encanto porque nos coloca perante o grande divindade; a mirra, a sua humanidade sagrada mistério da vida. Quando vemos brilhar os olhos que experimentará a morte e a sepultura. dos jovens esposos diante do seu filho recémnascido, compreendemos os sentimentos de Ao fixarmos esta cena no Presépio, somos Maria e José que, olhando o Menino Jesus, chamados a refletir sobre a responsabilidade entreviam a presença de Deus na sua vida. que cada cristão tem de ser evangelizador. Cada um de nós torna-se portador da Boa-Nova «De fato, a vida manifestou-se» ( 1 Jo 1, 2): para as pessoas que encontra, testemunhando assim o apóstolo João resume o mistério a alegria de ter conhecido Jesus e o seu amor; da Encarnação. O Presépio faz-nos ver, e fá-lo com ações concretas de misericórdia. faz-nos tocar este acontecimento único e extraordinário que mudou o curso da história Os Magos ensinam que se pode partir de e a partir do qual também se contam os muito longe para chegar a Cristo: são homens anos, antes e depois do nascimento de Cristo. ricos, estrangeiros sábios, sedentos de infinito, que saem para uma viagem longa O modo de agir de Deus quase cria vertigens, e perigosa e que os leva até Belém (cf. Mt 2, pois parece impossível que Ele renuncie à sua 1-12). À vista do Menino Rei, invade-os uma glória para Se fazer homem como nós. Que grande alegria. Não se deixam escandalizar surpresa ver Deus adotar os nossos próprios pela pobreza do ambiente; não hesitam em comportamentos: dorme, mama ao peito da pôr-se de joelhos e adorá-Lo. Diante d’Ele mãe, chora e brinca, como todas as crianças. compreendem que Deus, tal como regula Como sempre, Deus gera perplexidade, é com soberana sabedoria o curso dos astros, imprevisível, aparece continuamente fora assim também guia o curso da história, dos nossos esquemas. Assim o Presépio, derrubando os poderosos e exaltando os ao mesmo tempo que nos mostra Deus humildes. E de certeza, quando regressaram tal como entrou no mundo, desafia-nos a ao seu país, falaram deste encontro imaginar a nossa vida inserida na de Deus; surpreendente com o Messias, inaugurando convida a tornar-nos seus discípulos, se a viagem do Evangelho entre os gentios. 10 | Em Família


Capa Queridos irmãos e irmãs, o Presépio faz parte do suave e exigente processo de transmissão da fé. A partir da infância e, depois, em cada idade da vida, educa-nos para contemplar Jesus, sentir o amor de Deus por nós, sentir e acreditar que Deus está conosco e nós estamos com Ele, todos filhos e irmãos graças àquele Menino Filho de Deus e da Virgem Maria. E educa para sentir que nisto está a felicidade. Na escola de São Francisco, abramos o coração a esta graça simples, deixemos que do encanto nasça uma prece humilde: o nosso «obrigado» a Deus, que tudo quis partilhar conosco para nunca nos deixar sozinhos.

PAPA FRANCISCO

10. Diante do Presépio, a mente corre de bom grado aos tempos em que se era criança e se esperava, com impaciência, o tempo para começar a construí-lo. Estas recordações induzem-nos a tomar consciência sempre de novo do grande dom que nos foi feito, transmitindo-nos a fé; e ao mesmo tempo, fazem-nos sentir o dever e a alegria de comunicar a mesma experiência aos filhos e netos. Não é importante a forma como se arma o Presépio; pode ser sempre igual ou modificá-la cada ano. O que conta, é que fale à nossa vida. Por todo o lado e na forma que for, o Presépio narra o amor de Deus, o Deus que Se fez menino para nos dizer quão próximo está de cada ser humano, independentemente da condição em que este se encontre.

Queridos irmãos e irmãs, o Presépio faz parte do suave e exigente processo de transmissão da fé. A partir da infância e, depois, em cada idade da vida, educa-nos para contemplar Jesus, sentir o amor de Deus por nós, sentir e acreditar que Deus está conosco e nós estamos com Ele, todos filhos e irmãos graças àquele Menino Filho de Deus e da Virgem Maria. E educa para sentir que nisto está a felicidade. Na escola de São Francisco, abramos o coração a esta graça simples, deixemos que do encanto nasça uma prece humilde: o nosso «obrigado» a Deus, que tudo quis partilhar conosco para nunca nos deixar sozinhos. Fotos: Google e Pixabay

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Artigo

Estreia 2020 oferece a oportunidade de reconstruir o que Dom Bosco pensava e o seu jeito de fazer e agir, no meio dos seus jovens Enquanto apresentava o comentário à Estreia 2019 à Família Salesiana em Turim Valdocco, alguns já pediam o esboço da Estreia 2020, para poderem tê-la no início do ano educativopastoral de algumas partes do mundo. Faço-o com alegria, mas insistindo que aqui apenas se esboça um esquema, um rascunho com os pontos essenciais que serão desenvolvidos, quando prepararei uma reflexão ponderada, interiorizada, tranquila e, o quanto possível, profunda e compreensível ao mesmo tempo. Gostaria que a Estreia continue a ajudar-nos a ter um fio condutor na guia pastoral do novo ano em todas as partes do mundo. Abençoo-vos a todos. 12 | Em Família


Artigo Após o encontro da Consulta mundial da Família Salesiana de maio, em Turim, pensei propor para a Estreia de 2020 um tema que, na forma de binômio, encarnasse a essência da nossa educação salesiana. Nós o recebemos do próprio Dom Bosco: ajudar os nossos adolescentes, as nossas adolescentes e jovens a serem «bons cristãos e honestos cidadãos». Precisamos aprofundar sempre mais a nossa identidade de evangelizadores e educadores da fé. Há uma crescente fragilidade, e, às vezes, incapacidade, em ser apóstolos e missionários dos jovens. E, ao mesmo tempo, há o risco de não educar os nossos jovens para um sentido forte de cidadania, justiça social e valores evangélicos que levem a interiorizar, como programa de vida, o serviço aos outros, o empenho na vida pública, a honestidade pessoal e a “alergia” a qualquer tipo de corrupção, a sensibilidade pelo mundo da migração, o criado e a “casa comum”, que nos foi dada, no empenho pela tutela dos indefesos, dos que não têm voz, e que são descartados. Pergunto-me: se não conseguimos educar para esses valores, o que estamos obtendo? E que evangelização estamos realizando no nome de Jesus? Justamente por isso, este empenho educativo é hoje expressão da palavra de Jesus: «Seja feita a tua vontade, como no céu, também na terra». Essa é e continuará a ser a verdadeira “política do Pai nosso” de Dom Bosco.

0. O que entendemos com “política do Pai nosso” em Dom Bosco? Sendo a referência a Dom Bosco sobre tão direta e sobre um tema entre os mais sensíveis da sua história “dentro” do contexto social – político – eclesial em que viveu, creio ser importante dar atenção ao que as nossas fontes têm a dizer sobre o tema. É preciso ter uma ideia clara do que foi para Dom Bosco o envolvimento na “polis” do seu tempo: seus grandes “sins” e seus firmíssimos “nãos”, que certamente não podem ser transferidos inteiramente para o nosso contexto. A Estreia deste ano permite-nos reconstruir o que Dom Bosco pensava e qual era o seu modo de fazer e agir entre os jovens, com a intenção de prepará-los para a sociedade em que viviam, sujeita a mudanças impetuosas, em plena revolução industrial, em que para muitos a pobreza chegou a níveis extremos: a imensa disparidade social e econômica, ao aumento do fenômeno da mendicidade, o abandono de crianças “migrantes”... Tudo isso na Itália do século XIX. a) A partir das Memórias Biográficas, é muito conhecida e expressão “política do Pater noster” usada por Dom Bosco por ocasião de um encontro com o Papa Pio IX em 1867: «Tão logo Dom Bosco ficou na presença de Pio IX, este lhe disse sorrindo: “Com que política saireis de tantas dificuldades?”. “A minha política – respondeu Dom Bosco – é a de Vossa Santidade. É a política do Pater noster. No Pater noster suplicamos todos os setembro | outubro| novembro e dezembro 2019


Artigo

dias que venha à terra o reino do Pai Celeste, ou seja, que se estenda sempre mais, que se faça sempre mais sentido, sempre mais vivo, sempre mais poderoso e glorioso: Adveniat regnum tuum! e é o que mais importa”». b) Em todo caso, esta convicção, que devemos compreender em profundidade e em todo o seu significado (como faremos no desenvolvimento do texto da Estreia), é também iluminada por outros pensamentos de Dom Bosco como este: «De fato, com a nossa obra não fazemos política; nós respeitamos as autoridades constituídas, observamos as leis que é preciso observar, pagamos os impostos e tocamos para frente, somente pedindo que nos deixem fazer o bem à juventude pobre e salvar almas. Se se quiser, nós também fazemos política, mas de modo totalmente inocente, antes, 14 | Em Família

vantajoso para cada governo. A política se define como a ciência e a arte de bem governar o Estado. Ora, a Obra dos Oratórios na Itália, na França, na Espanha, na América, em todos os países onde já se estabeleceu, dedicando-se especialmente a fazer o bem à juventude mais necessitada, tende a diminuir o número dos maus e vagabundos, dos pequenos malfeitores e pequenos ladrões, a esvaziar as prisões, numa palavra, tende a formar bons cidadãos que, longe de dar problemas às autoridades públicas, são de apoio para elas, a fim de manter na sociedade a ordem, a tranquilidade, a paz. Esta é a nossa política; desta somente nos ocupamos até agora, desta nos ocuparemos no futuro. É precisamente este método que permitiu a Dom Bosco fazer o bem, antes a vós, depois a tantos outros jovens de qualquer idade e lugar». c) Foi esta mesma “política” que levou


Artigo Dom Bosco a dar respostas eficazes a novas e Dom Bosco a paixão evangelizadora para levar persistentes urgências pelo bem dos seus jovens. todo adolescente, todo jovem ao encontro com Jesus. Eis porque jamais podemos deixar de ser 1. Bons cristãos evangelizadores dos jovens, sabendo que «a evangelização procura também o crescimento, Vivendo na Fé do Senhor e com a guia o que implica tomar muito a sério em cada do Espírito pessoa o projeto que Deus tem para ela». O nosso ser educadores e evangelizadores Há um texto da carta aos Efésios que dos jovens requer, da nossa parte, antes de exprime a beleza e a grandeza do amor a que tudo, a experiência pessoal, que podemos sonos chamados; horizonte que jamais deve apresentar aos jovens com palavras, gestos desaparecer em qualquer contexto a que se e ações que Deus os ama, que «para Ele, és é enviado. Nada poderá tirar a dignidade e realmente valioso; tu não és insignificante. a grandeza divina que está dentro e antes de Importa-se contigo ». toda vida humana como seu destino. O fato de ser Paulo a dizê-lo, que tinha diante de si um Verdadeiros Cristãos e educadores mundo ainda todo pagão, torna estas palavras hoje com a espiritualidade ainda mais encorajadoras: «Por essa razão, dobro os joelhos diante do - Sublinhando a espiritualidade de Deus no Pai, de quem recebe o nome toda paternidade quotidiano, no céu e na terra. Que por sua graça, segundo - com um modo de viver a espiritualidade a riqueza de sua glória, sejais robustecidos, por salesiana em que o clima de amizade entre o meio do seu Espírito, quanto ao homem interior. educador e o jovem é de grande ajuda para Que ele faça Cristo habitar em vossos corações o crescimento pessoal. Na tradição de São pela fé, e que estejais enraizados e bem Francisco de Sales, crescer na fé, mesmo com firmados no amor. Assim estareis capacitados a um guia, não será possível se não houver entender, com todos os santos, qual a largura, verdadeira amizade, ou seja, comunicação, o comprimento, a altura, a profundidade; influxo recíproco; uma amizade que chega a ser conhecereis também o amor de Cristo, que verdadeiramente espiritual. ultrapassa todo conhecimento, e sereis repletos - A relação entre o formador salesiano da plenitude de Deus». e os jovens deve ser marcada pela “maior cordialidade”, porque “a familiaridade traz Vivendo à Escuta de Deus que nos amor”, e o amor traz confiança. É o que abre fala. Vivendo o que se anuncia. Com a os corações e, então, os jovens revelam tudo necessidade de evangelizar e oferecer o sem temor (...), porque estão certos de serem primeiro anúncio e a catequese amados». «Esta sociedade, em seu início, era um simples catecismo». Isso nos leva às nossas origens e às nossas raízes. Aprendemos de setembro | outubro| novembro e dezembro 2019


Artigo Bons cristãos no desafio ambientes não cristãos

dos

Uma fé vivida em comum e em saída de nós mesmos

- O testemunho do nosso irmão P. Tom Uzhunnalil, prisioneiro no Iêmen por 557 dias, testemunha para nós que, numa situação humana extrema, a sua interioridade espiritual e a sua fé o mantiveram “sadio na mente e no espírito”. Ali, mesmo em silêncio, ele deu testemunho com a sua vida. - Ser capaz de viver um diálogo e um testemunho que se tornam proféticos.

- A dimensão espiritual de toda ação pastoral salesiana deve ser vivida e oferecida adequadamente e sem dicotomias. Há muito do que se esvaziar, no que se empenhar, de modo a ver e viver a nossa paternidade no mundo, com os outros, como testemunho de fraternidade humana, que é a razão evangélica de como tratar os outros (de todas as idades, raças, culturas e religiões), cientes de sermos filhos do mesmo Deus. Chamar e tratar os outros como irmãos é reconhecer Deus como Pai, e reconhecer Deus como Pai significa ver os outros como irmãos. - Individuamos nesta síntese a base de toda a espiritualidade cristã que se empenha por fazer do mundo um lugar de encontro com Deus e fazer do encontro com Ele ocasião de construir um mundo melhor.

Bons cristãos no desafio dos ambientes pós-crentes e pós-cristãos - Desafio que é, antes de tudo, um dom precioso que temos a oferecer à Igreja e que nos é pedido pela Igreja e pelo mundo. Talvez, nenhuma família carismática na Igreja esteja mais envolvida com um número tão grande de pessoas, das quais a maioria é de jovens, que não são cristãos porque pertencem a outras fés ou não o são mais. - Isso nos põe no caminho de uma missão única em seu potencial de testemunho e evangelização. A Igreja pede-nos não só para caminhar, mas para sermos precursores nessa frente na Igreja, onde se joga todo o futuro dos jovens. 16 | Em Família

- O Papa Francesco ajuda-nos nisso ao afirmar: «Quando um encontro com Deus se chama “êxtase” é porque nos tira fora de nós mesmos e nos eleva, cativados pelo amor e a beleza de Deus. Mas podemos também ser levados a sair de nós mesmos para reconhecer a beleza escondida em cada ser humano, a


Artigo sua dignidade, a sua grandeza como imagem de Deus e filho do Pai. O Espírito Santo quer impelir-nos a sair de nós mesmos, para abraçar os outros com o amor e procurar o seu bem. Por isso, é sempre melhor vivermos a fé juntos e expressar o nosso amor numa vida comunitária, partilhando com outros jovens o nosso afeto, o nosso tempo, a nossa fé e as nossas preocupações. A Igreja oferece muitos e variados espaços para viver a fé em comunidade, porque, juntos, tudo é mais fácil». - Este é um verdadeiro convite a viver com sempre maior intensidade a eclesiologia de comunhão, em que só se descobre e se valoriza ao máximo o DOM que cada um é e tem no seu estado de vida e vocação quando se o ‘doa’ aos outros, quando é colocado a serviço, numa ‘saída’ que começa a alcançar antes de tudo os mais próximos.

2. HONESTOS CIDADÃOS Os jovens esperam-nos na “casa da Vida” - As expectativas dos jovens são sempre mais urgentes e dramáticas ao se olhar para eles com um olhar amplo. Pode-se dizer que, certamente, a população juvenil no mundo nunca foi tão numerosa como hoje e, proporcionalmente, jamais foi tão ‘pobre e necessitada’ como o é hoje, pelo número e, talvez, também pelas condições de vida. - Continua não menor «a porção mais delicada e preciosa» da sociedade como a definia Dom Bosco. Um campo, pois, muito aberto à Família Salesiana, para onde, porém, deve ajudar-nos a olhar. - Creio existir o perigo em diversos ambientes de os salesianos permanecerem facilmente “dentro dos muros”, contentando-se com

aqueles que entram pelos nossos portões. - Por isso, o grande clamor dos jovens é o de ir ao encontro dos seus problemas ‘reais’: sentido de vida, falta de oportunidades, formação, inserção no trabalho...

Educar-nos e educar os nossos jovens à Cidadania e ao empenho social - Como emerge dos documentos dos Sínodos (os três) há uma justiça e uma cidadania de que os jovens vão se tornando profetas, que vai além daquelas dos Estados aos quais pertencem. Há uma justiça maior do que a expressa pelos ordenamentos jurídicos nacionais e pelos nossos governos. Há uma cidadania do mundo casa-comum e do futuro que, sem dúvida, pertence mais às novas gerações do que à nossa. - Deveríamos educar-nos para a coragem dessa visão exigente da justiça (Laudato si’, Evangelii gaudium...) que tem em mira o desenvolvimento sustentável (os sustainable development goals das Nações Unidas, os vários Global Compact, em especial o recente sobre a migração que vergonhosamente algumas nações não assinaram). - E também fazer-se ouvir contra visões muito míopes e centradas em interesses restritos de categoria – notar a sensibilidade ecológica dos mais jovens e o fechamento de não poucos governos sobre esses temas. - Faltam no mundo de hoje líderes credíveis, e isso também nos questiona quanto aos nossos processos educativos.

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Artigo Educar-nos e educar os nossos jovens Educar-nos e educar os nossos jovens no empenho e no serviço político na honestidade e a manter-se livres da corrupção - Creio que aqui há muito terreno a recuperar como Igreja, como Congregação Salesiana e como Família Salesiana. Apesar de ser um apelo que retorna de forma mais ou menos forte em todos os documentos (de sínodos a capítulos gerais), na prática, a “doutrina social da Igreja”, que é como a “magna charta” desse empenho, é um pouco como a ‘cinderela’ da ação educativo-pastoral. - Há jovens das nossas presenças e também jovens religiosos e religiosas da nossa Família Salesiana que se perguntam se, realmente, o fim último das nossas obras deve ser a “produção” de laureados com os melhores títulos de estudo para uma sociedade muito competitiva, sem jamais questionar o modelo socioeconômico que está por trás de tudo isso... - Trata-se também do ponto em que a diversidade da abordagem de Dom Bosco se fará sentir mais: justamente para sermos hoje fiéis ao seu espírito precisamos usar expressões quase opostas à sua. O Pai nosso pede-nos para ensinar aos jovens, não só como indivíduos, mas também como grupo, a serem mais protagonistas do bem-comum, mesmo no campo explicitamente administrativo e político. - É preciso entender bem o que queremos dizer com serviço político e como um cristão não pode ignorá-lo. - Será uma “longa batalha”, sobretudo conosco mesmos, consagrados e consagradas, que não crescemos com essa mentalidade, mas é um clamor do mundo e dos jovens de hoje. - Uma luz vem da realidade do voluntariado, como itinerário gradual e pedagógico para um maior empenho na transformação da sociedade. 18 | Em Família

- É verdadeiramente enorme a potencialidade da Família Salesiana nesse campo e também a realidade dos Salesianos cooperadores e exalunos no “mundo”, a sua presença na política e nos setores de influência. - É um forte apelo à nossa coerência interior. Sobretudo na relação com os leigos. - Será, também, uma oportunidade para caminhar na criação de uma cultura da ética social ou fazer que seja mais visível.

Sensíveis e corresponsáveis num mundo em movimento e migração. - Os jovens migrantes foram os primeiros destinatários do Oratório de Dom Bosco. - A maior parte da migração dos povos, jamais tão grande anteriormente na história, é feita de jovens. Não será um apelo dirigido à Família Salesiana, a mais capilarmente presente em todos os continentes? Não deveríamos ser ESPECIALISTAS neste campo (investindo também em “elevada formação”, como se faz para a tecnologia ou a filosofia...)? - Se não formos nós a ‘criar cultura’ nesse front aberto da vida humana, que se alargará sempre mais no futuro, quem o será? Quem na Igreja deve ser mais profético nesse front? Os cartuxos, talvez? - Parece-me não ser uma insanidade pensar no nosso Movimento Juvenil Salesiano como um movimento pelos jovens em movimento.


Artigo Cuidando da casa-comum como nos pedem os jovens (Laudato si’,13) - O empenho pela casa-comum (visão da ecologia proposta pela Laudato si’) não é um empenho a mais: é um horizonte que interpela a totalidade da nossa cultura, da nossa fé, do nosso estilo de vida, da nossa missão... educação e evangelização. Não há muito a inventar, porque nisto (tanto a vertente da ecologia como a dos direitos dos menores), a direção para onde caminhar já foi claramente traçada pelo magistério da Igreja e, agora, intensamente com o Papa Francisco. Como nos deixaremos converter...? - A ecologia integral fala-nos de uma proposta educativa integral (em seus valores humanos e espirituais).

Na defesa dos direitos humanos, especialmente nos direitos dos menores. - A finalidade para que fomos suscitados pelo Espírito Santo em Dom Bosco como Família Salesiana é entregar toda a nossa vida aos menores, aos jovens, aos adolescentes e às adolescentes do mundo, dando prioridade sobretudo aos mais indefesos, aos mais necessitados, aos mais frágeis, aos mais pobres. - Por isso, devemos ser especialistas na defesa dos direitos humanos, especialmente dos direitos dos menores, e pedir perdão até às lágrimas quando não agimos assim. Não podemos ser cúmplices de qualquer abuso, entendendo com isso «abusos de poder, econômicos, de consciência, sexuais» – como definido por ocasião do Sínodo sobre Os jovens, a fé e o discernimento vocacional.

3. Com a ajuda de Maria nossa Mãe A presença de Maria no sistema educativo de Dom Bosco tem uma importância fundamental que não podemos negligenciar ou ignorar. Dom Bosco apresentou-A aos seus jovens como Imaculada, como uma mulher simples e cheia de ternura, que vive com alegria o projeto que Deus sobre Ela. Apresentou-A também como Auxiliadora, como Mãe amorosa, preocupada para que todos os seus filhos e suas filhas possam viver plenamente o sonho que Deus tem sobre cada um deles. Na perspectiva de uma educação que ajude adolescentes e jovens e todos nós, como educadores e evangelizadores da Família Salesiana, a presença de Maria tem uma dimensão não só devocional, mas também “política”: é a Mãe que ajuda seus filhos e suas filhas a viverem plenamente o próprio empenho por Deus e pelo mundo criado. É a “política do Pai nosso”. Que a nossa Mãe Auxiliadora interceda por todos nós.

P. Ángel Fernández Artime, S.D.B. Reitor-Mor Trad.: JAV Fotos: Agenzia Info Salesiana ANS Ilustração: Agustin de La Torre

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Artigo

Madre Mazzarello: mulher de relações no estilo de Maria. (1º parte) Por Ir. Piera Cavaglià - Tradução: Ir. Vilma Bertini

Premissa Na Circular n. 969, nossa Madre partilhou um sonho: “Comunico-lhes um sonho que me dá esperança e confiança: pensar nossas comunidades como lugares onde habita a paz, o perdão, onde estamos prontas a partilhar fragilidades, fraquezas, medos e inseguranças com coração habitado pelo Espírito Santo e pela solicitude materna de Maria”. É este o caminho privilegiado para tornar-se 20 | Em Família

construtoras de paz num mundo que sofre pela carência de amor e de relações. Existe um estranho paradoxo em nossa cultura. Em um mundo caracterizado pela comunicação global onde, de modo prodigioso, foram aperfeiçoados e facilitados os sistemas de comunicação planetária, em tantos níveis, sentimos uma grave pobreza relacional e comunicativa que provoca até doenças. Vivemos em meio a tanta gente,


Artigo somos bombardeados por mensagens, e de uma economia nem sempre administrada frequentemente experimentamos a solidão e de forma evangélica. sofremos pela falta de comunicação. Reconhecemos, portanto, que sobre nossas O “Monumento vivo” do Instituto, que juntas dificuldades relacionais existe sim uma construímos, não é feito de pedras, mas de influência cultural pesada, todavia isso não nos pessoas vivas. Infelizmente, com frequência, absolve, nem justifica... ficamos muito preocupadas pelas condições É verdade que nosso carisma está impregnado externas em que ocorrem as relações pessoais, de relações, de encontros, exatamente porque pois estas são mais facilmente controláveis. é educativo. A educação e, em particular a Dom Bosco, na Carta de 1884, chama nossa educação na ótica do “Sistema Preventivo”, é atenção para aquilo que é realmente essencial: uma realidade relacional e, nesta arte, ninguém “Falta algo mais...” pode julgar-se mestre, pois somos todos Na Comunidade, tudo parte deste algo mais, discípulos da vida. isto é, do indispensável respeito e amor pela pessoa. Hoje, vamos nos colocar na escola de Maria A pessoa, que é um valor em si mesmo, é um Mazzarello, de quem recordamos o dies natalis, tesouro precioso, aliás, é o tesouro mais precioso quando deixou esta terra pelo céu. Era o dia 14 que existe sobre a terra. É a mais perfeita das de maio de 1881. Ela estava com 44 anos. criaturas, pois traz em si uma centelha divina, mesmo quando esta centelha está sufocada ou “Como era Maria Mazzarello?” É a pergunta quase apagada... É um reflexo de Deus, uma sua que retorna com força de geração em imagem em carne e ossos, portanto, envolvida geração. Existe sempre o risco, aliás bem real, pelo seu amor, pela sua ternura, e, por isso, de considerar Maria Mazzarello por meio de cada pessoa é digna da maior consideração e clichês interpretados parcialmente ou filtrar as do mais delicado respeito. características de sua personalidade mediante preconceitos ou julgamentos a priori. O que nos é confiado não é uma coisa, um objeto do qual podemos nos apropriar! É-nos Uma carta de Maria Mazzarello nos diz que confiada uma vida, um tesouro a ser preservado as primeiras Filhas de Maria Auxiliadora que com imenso cuidado, um dom a ser defendido, partiram em 1877 como missionárias para protegido, promovido e valorizado. a América, desejavam ardentemente uma foto de quem tinha sido para elas mãe e guia A verdadeira riqueza do Instituto são as segura e que, de longe, continuava a inspirarpessoas. Se as pessoas estão bem, existe lhes a generosidade. Um desejo mais que fecundidade apostólica e projeção futura. legítimo, reconhecido também por Maria Hoje, o que frequentemente está em crise são Mazzarello, como podemos concluir desta sua as relações pessoais e não a vida religiosa em carta: “Desejam o meu retrato, não é mesmo? si. É uma crise no ambiente humano-relacional, De boa vontade o enviaria a vocês, mas ainda ligado a outros problemas: o desgaste da vida não foi feito!” Quando foi realizado, depois de espiritual, o declínio evangélico da fraternidade, alguns anos, não agradou nem a quem a tinha a falta de motivação para a missão e a fragilidade conhecido nem a nós hoje, habituadas como setembro | outubro| novembro e dezembro 2019


Artigo estamos a técnicas mais sofisticadas. O desejo de contemplar o semblante de Maria Mazzarello acompanha a história do Instituto: inspira biografias, sobre ela, tecidas sobre o fio das lembranças de seus contemporâneos e das fontes históricas, motiva o árduo trabalho do processo de canonização, estimula os numerosos estudos que há pouco mais de cem anos floresceram ao redor de sua pessoa. Tipos de Fontes Existem dois tipos de fontes que nos permitem contemplar Maria Mazzarello numa breve distância de tempo: a primeira, são as Cartas, 68 apenas, suficientes porém, para compreender e ver o semblante de uma mãe. Como observa Sabino Palumbieri: “Uma carta é sempre o registro de um fragmento de vida interior. Tantas cartas, tantas peças de mosaico para reconstruir um semblante a partir de expressões que revelam momentos de interioridade, verdadeiros fragmentos de intimidade. Não por nada, as cartas, não tanto aquelas já destinadas à publicação, mas as que foram encontradas fortuitamente numa coleção de depoimentos de testemunhas, desde a antiguidade foram consideradas ‘reflexos do coração’”.

é uma interlocutora vibrante, arguta, capaz de encorajar, pronta em discordar e corrigir. Exigente e, ao mesmo tempo, respeitosa, compreensiva, sempre otimista em relação às pessoas e situações. Quem se descreve “a mais necessitada de todas” é uma irmã, uma mãe que se revela como “aquela que tanto vos ama no Senhor” (C47,14; 55,10; 67,8) e disposta a fazer qualquer coisa para o bem de suas Irmãs (cfr. C55,10). Das cartas, janelas inteiramente abertas sobre o mundo interior de Maria Domingas, emerge também o seu “senso de Deus”: ela sente o coração de Deus como um lugar de comunhão, uma casa onde todos se encontram, se conhecem, falam, abraçam e reencontram. Outra fonte é a primeira biografia elaborada por Dom G.B.Lemoyne que conheceu mais profundamente o coração de Madre Mazzarello por ter sido seu diretor espiritual. Inicialmente sentiu um certo desconforto no encontrar-se em Mornese. A dificuldade sofrida diante da missão que Dom Bosco lhe tinha confiado contribuiu para torná-lo cauteloso, prudente e objetivo no relacionamento com as Irmãs, mesmo quando se tratou de escrever a biografia de Madre Mazzarello.

A função que ele desempenhou, na primeira comunidade das FMA, não era apenas a de um Mesmo se as cartas não manifestam diretor espiritual; era também uma presença apenas um “meio diálogo”, pois não temos as de observador atento, de um inteligente e respostas das destinatárias, Maria Domingas sábio colaborador na grande tarefa de realizar

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Artigo o projeto de Dom Bosco. Ele, que amava intensamente o Pai, não podia deixar de refletir sobre a nascente obra das FMA, estudando sua origem, acompanhando seu desenvolvimento, recolhendo minuciosamente informações e testemunhos. A Madre, as Irmãs e as próprias educandas tinham para com ele um grande afeto e uma profunda gratidão, como podemos perceber nas cartas que Madre Mazzarello e as primeiras Irmãs lhe escreviam. Esta primeira biografia não é apenas uma estória edificante, desprovida de fontes históricas. O autor, em várias partes da narração, assegura ao leitor a veracidade de suas palavras, apresentando, junto ao seu próprio testemunho, aqueles de outras pessoas autorizadas. Devemos dizer que os leitores e leitoras, desta primeira contribuição, tinham conhecido pessoalmente a Madre e, portanto, Lemoyne não ia se expor ao risco de ser desmentido ou criticado por distorcer os fatos. Existe um detalhe curioso nesta biografia: as virtudes da modéstia, da humildade, do silêncio que nas biografias sucessivas serão colocadas em evidência, aqui não estão em primeiro lugar: aqui, prevalece a capacidade de relação de Madre Mazzarello, a sabedoria na condução das almas, o empreendedorismo corajoso, o ardor missionário.

Tanto as cartas quanto esta primeira biografia são, portanto, fontes seguras e credíveis. Em ambos os casos se revela o semblante de uma mulher de “agradável companhia”, isto é, “especialista na arte do encontro”.

Características de uma mulher aberta à relação. Falando às Capitulares, em 2014, Papa Francisco evidenciava que o mundo de hoje “sofre pela pobreza, mas também pela carência de amor e de relações”. 6 Na personalidade de Maria Mazzarello e em sua obra educativa emerge a responsabilidade de cada encontro, isto é, uma evidente disposição para estabelecer relações significativas com as pessoas e comunidades, adultos, jovens e com o território – a colocar-se em rede – partindo sempre de problemas concretos e focalizando o bem, o desenvolvimento, o potencial das pessoas. Diríamos hoje que ela é uma especialista da “cultura do encontro”. Cada encontro alimenta potencialidades relacionais e tem valor “formativo” isto é, modifica e transforma. Naquela mesma Audiência, Papa Francisco nos disse: “O encontro é fonte de água sempre fresca e vital onde podemos alimentar aquele amor que revitaliza a paixão por Deus e pelos jovens”. O Papa mesmo oferece o testemunho de

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Artigo uma pessoa que vive a dinâmica evangélica do encontro, dando o primeiro passo, abaixandose, aproximando-se do outro com discrição e bondade. Está verdadeiramente convencido que “a aproximação faz bem a todos. A distância, pelo contrário, nos faz adoecer. Quando nos afastamos, nos fechamos em nós mesmos e nos isolamos, incapazes de nos relacionar somos tomados pelo medo. Precisamos aprender a nos ultrapassar para encontrar os outros.

é a condição para saber estar com os outros, em pura gratuidade. Quem é “um” com Deus é “um” consigo mesmo e com os outros.

No coração da Virgem Maria existe uma total pureza de espirito. Nela tudo é unificado, isto é relacionado a Deus que a enriqueceu de graça. Nela, portanto existe unicamente espaço para a sua Palavra, para o festivo louvor àquele que fez grandes coisas na disponibilidade de seu coração. Nada mais a atrai senão entrar na sua Maria Mazzarello aprendeu a se ultrapassar e, lógica, fazer a sua vontade. “Faça-se em mim ao longo de toda a vida, desde sua juventude, segundo a tua palavra” (Lc 1,38) é a atitude configurou-se a Jesus “manso e humilde de fundamental de seu coração. coração”. Olhou com afeto filial a Maria para viver em si mesma e educar as outras, a viver Quando a Palavra de Deus penetra no coração, a dimensão da filiação, da fraternidade e da purifica, renova, transforma, abre à comunhão. maternidade. Não somente contemplou Maria, Desencadeia um dinamismo de simplicidade e rezou, mas deixou-se formar por ela. Na hora da de liberdade. A sua Palavra nos torna realmente morte cantou a alegria de ser Filha de Maria. livres. Livres para amar. Existe, portanto, uma forte sintonia entre Maria e Madre Mazzarello no que diz respeito à O beneditino Anselmo Grunn descobre em capacidade de relação de ambas, como emerge Maria Domingas, a “simplicidade do coração” das fontes. Procurarei acenar a algumas. como uma das dimensões mais importantes de sua espiritualidade. Vê a simplicidade como 1. A simplicidade do coração qualidade relacional. A raiz de toda relação é o coração e condição fundamental de uma boa relação é que ele seja “O coração simples tornou-se um com Deus. indiviso. É o que Madre Mazzarello recomenda E porque tornou-se um, conhece somente o a uma jovem missionária (18 anos!) Ir. Otávia Um: Deus verdadeiro fundamento da vida. O Bussolino: “Ama todos e todas as suas Irmãs, coração simples não tem segundas intenções ame-as sempre no Senhor, mas não divida seu [...], não pretende servir-se de Deus, mas coração com ninguém, que ele seja todo inteiro entrega-se inteiramente a Ele. [...] O olho de Jesus” (C.65,3). simples vê as coisas como são, não envolve O relacionamento com Jesus garante a suas projeções ao considerar a realidade, possibilidade de amar gratuitamente, sem pelo contrário, vê tudo à luz de Deus. ceder a parcialidades. De um coração reto, puro, verdadeiro, em sintonia com Deus, derivam Para os Padres gregos, a simplicidade é a relações retas, autênticas, livres, genuínas característica, de uma pessoa que experimentou porque iluminadas pelo seu mesmo amor. Deus, que através de Deus tornou-se “um” “Estar sempre na presença de Deus”, trabalhar em si mesma e com tudo o que nela existe. “com o único fim de agradar a Deus” (C. 23, 3-4) Simplicidade significa que tudo, em mim, foi 24 | Em Família


Artigo elevado à comunhão com Deus. Maria Mazzarello não fala em teologia mística. Mas a simplicidade do coração mostra que ela experimentou Deus e que nada do que é humano lhe é estranho. Por isso, pode falar com amorevolezza das fraquezas humanas sem indignar-se. Sua espiritualidade não tem o tom moralizante de quem condena a inobservância dos mandamentos. Para Maria, tudo é natural: o amor de Deus mas também as fraquezas humanas. Se ela exorta frequentemente as Irmãs a superar as fantasias negativas é porque cultiva e deseja cultivar também nos outros a simplicidade de coração. Quem é simples, em seu coração e em seu olhar, vê as pessoas em seu verdadeiro ser. Através dos problemas psicológicos, sabe ver no luminoso fundo da alma que existe em todos, o desejo do bem. Podemos colher a simplicidade do coração da Madre, também pelo fato que ela busca uma única coisa: amar Jesus, comprazer-se de seu amor e tornar felizes as pessoas que lhe foram confiadas”. A condição para fazer crescer a simplicidade em nosso coração, que é livre, é agir como nos lembram as Constituições no artigo 80: “unificar todo o nosso ser na vontade do Pai”, isto é, abrirse à sua ação, assumir seu projeto, permanecer no seu amor e irradiá-lo. Só assim será possível “fazer com liberdade tudo o que nos pede a caridade” (cfr. C35,3) porque a fonte será o amor de Deus que nos impulsiona, nos unifica e nos simplifica.

2. Humildade no servir A atitude do “Eis-me, sou a serva do Senhor” (Lc 1,38) se reflete de forma transparente em Madre Mazzarello. Ela sente-se bem quando está servindo, quando está no último lugar. Aliás, o considera verdadeiramente, o seu lugar.

Madre Mazzarello em suas cartas, relaciona frequentemente humildade e caridade. Sem humildade, a caridade é uma utopia, mas, por outro lado, sem a caridade, a humildade é um formalismo vazio e sem autenticidade. Para abrir-se aos outros é necessário superar o desejo do individualismo e a síndrome da autossuficiência para aprender a colocar-se em relação de reciprocidade com os irmãos e as irmãs, acolhendo o dom que são para nós e doarmo-nos a eles. Madre Mazzarello em suas cartas, relaciona frequentemente humildade e caridade. Sem humildade, a caridade é uma utopia, mas, por outro lado, sem a caridade, a humildade é um formalismo vazio e sem autenticidade. Observa Anselmo Grunn: “a humildade é a coragem de olhar as próprias zonas de sombra e aceitar-se com a própria humanidade e limitações. A humildade como humilitas ainda tem a ver com o humor. Porque humilitas é a disponibilidade para aceitar o próprio húmus e isto leva ao humor. A humildade recomendada por Maria não tem nada a ver com a autodepreciação ou o desprezo de si mesma. Ao mesmo tempo, Maria diz que as Irmãs não devem ter medo dos próprios defeitos. Ela não quer o perfeccionismo, mas setembro | outubro| novembro e dezembro 2019


Artigo

Os fundamentos das relações comunitárias estão aqui, no saber superar a tentação de uma falsa perfeição, aquela que não leva em conta a fragilidade das pessoas, de seus limites, seus medos e imaturidade. Madre Mazzarello sabe compreender e ter paciência porque ela mesma luta, fortemente, consigo e seu “eu” (cfr. C. 9,9). a disposição de colocar-se no caminho de um sincero conhecimento de si mesmas. Assim, a humildade une-se à libertação do medo, à sinceridade, à autenticidade. Esta autenticidade, irmã da simplicidade do coração, encontra-se em todas as cartas de Maria Mazzarello. Ela não se auto exalta nem se rebaixa. Pelo contrário, se reconhece como é e, deste modo, coloca-se em contato com cada uma de suas Irmãs. Escreve tanto à simples noviça como às diretoras. Evidentemente, não existe nenhuma barreira entre ela e as Irmãs jovens que entram no Instituto. A humildade, para Maria, está a serviço da capacidade de relação. Não se afasta das outras como superiora, mas se coloca como irmã entre as Irmãs.” Os fundamentos das relações comunitárias estão aqui, no saber superar a tentação de uma falsa perfeição, aquela que não leva em conta 26 | Em Família

a fragilidade das pessoas, de seus limites, seus medos e imaturidade. Madre Mazzarello sabe compreender e ter paciência porque ela mesma luta, fortemente, consigo e seu “eu” (cfr. C. 9,9). A pessoa que mantém viva a consciência da realidade de seus limites, mas ao mesmo tempo das maravilhas que Deus realiza nela, cultiva uma constante atitude de humildade e possui um olhar de acolhida e benevolência para com os outros11.

3. A acolhida Maria de Nazaré não apenas acolhe o Anjo que lhe anuncia o mistério da encarnação do Filho de Deus, mas acolhe Jesus como filho; n’Ele, abre o coração à solidariedade para com Isabel e mostra, para com ela, a solicitude do amor e da acolhida: “... levantou-se e foi rapidamente... tendo entrado em casa de Zacarias saudou Isabel” (Lc 1, 39-40). Uma das qualidades mais importantes que abre o coração, até dos caráteres mais difíceis, é a acolhida. Quem se sente acolhido, com confiança e não julgado, abre-se, dispõe-se a colaborar e colocar-se a serviço para o bem da comunidade. As Constituições falam da acolhida das Irmãs “com respeito, estima e compreensão” (C. art. 50). A acolhida é uma atitude do coração e da mente torna as pessoas abertas, confiantes, tolerantes e sempre atentas ao bem que desabrocha. Em cada pessoa, Maria Mazzarello descobre – diria Simone Weil – aquele “depósito de ouro puro a ser valorizado” e entende a educação e a animação como a descoberta de um caminho que será colocado em evidência. O olhar de Maria Mazzarello é um olhar consciente do valor de cada pessoa e pronto para acolher potencialidades e dons, como também a contribuir para vencer limites e fraquezas.


Artigo Esta capacidade a orienta a levar a sério as pessoas que encontra, a abrir-se a elas em atitude de admiração e gratidão, a desejar que cada uma seja ela mesma e descubra a melhor parte de si. No entanto ela não se ilude. Em seu realismo, que aprofunda as raízes, na cultura do campo e numa forte espiritualidade ascética, descobre em si e nos outros aquelas “ervas daninhas” (cfr. C. 50,1-2) que não cessam de crescer no jardim do coração: a vaidade, a falsidade, a tristeza, a inveja, a bajulação, a superficialidade. Para Madre Mazzarello, cada pessoa é única! Para ela nenhuma Irmã é igual à outra e nem sempre é ela mesma... A Madre percebe que, em cada uma, a mudança é sempre possível. Por isso, se adapta às pessoas e leva em conta as experiências que estão vivendo. Aceita cada pessoa como é: com suas características espirituais, físicas, sua realidade familiar, cultural, afetiva. Estabelece assim uma sintonia profunda porque consegue conhecer o coração humano em suas diferentes vibrações. Quem tem o dom de uma profunda intuição do coração, faz a pessoa se sentir compreendida. O verdadeiro amor ilumina o olhar, dilata os espaços do coração e deixa entrever o bem, mesmo sob as dobras dos limites ou imaturidades pessoais. Assim escreve à Ir. Angela Vallese que se lamentava de sua Vigária (de 19 anos!) inexperiente na animação comunitária: “Ir. Joana é muito jovem e não suficientemente prudente para exercer a função de superiora [...] Veja, precisa estudar o modo de ser das pessoas e compreendê-lo para conseguir melhorá-lo, precisa inspirar confiança” (C. 25,2). Referindo-se a uma jovem Irmã, escreve à sua diretora: “Com Ir. Vitória, precisa que você tenha paciência e lhe infunda pouco a pouco o espirito de nossa Congregação. Ela ainda

não o tem, pois esteve muito pouco tempo em Mornese. Parece-me que, se souber entendêla, dará bom resultado. Assim acontece com as outras. Cada uma tem seus defeitos, é preciso corrigi-las com caridade, mas não pretender que sejam sem defeitos e nem pretender que se corrijam de tudo numa só vez” (C. 25,3). Em geral – como é relatado pela pedagogia – as pessoas de qualquer idade, agem de acordo com o que os outros pensam delas e da confiança que lhes atribuem. Manifestar confiança está relacionado também ao cultivo da admiração diante dos outros para descobrir aspectos novos que ainda não tinham sido percebidos. Madre Mazzarello estava repleta de admiração e maravilhada ao constatar que, não obstante às limitações pessoais, a caridade reinava em toda parte, que as Irmãs estavam unidas, serenas, humildes. Reconhecia tudo como graça, aliás, uma série de “grandes graças” que, apesar de sua indignidade tinham sido concedidas às comunidades por Deus e por Maria Auxiliadora (cfr C 9,6; 26,4; 7,2). Comunhão e caridade implicam também a acolhida dos pobres que não estão entre nós. Em cada comunidade existem irmãos e irmãs pobres, frágeis, marginalizados, inseguros, em crise, doentes, imaturos, sozinhos, indiferentes. Não é fácil fazer a paz com as pobrezas da própria comunidade. Isso exige ser misericordioso, aceitar as fragilidades, promover o bem que já existe, levar os pesos, renunciar a sobressair diante dos outros, não condenar. A comunidade é escola de gratuidade e de solidariedade. Lugar onde “acontece o paciente trabalho cotidiano, de passar do eu ao nós, do meu empenho ao envolvimento comunitário, da busca dos meus interesses à busca dos interesses de Cristo”. Fotos: Google setembro | outubro| novembro e dezembro 2019


Artigo

Madre Mazzarello: Mulher de um coração enamorado Por Ir. Celene Couto

“Roubaste meu coração minha amada, noiva minha, roubaste meu coração com um só dos seus olhares” (Ct4, 9) Biblicamente, o coração é centro das decisões do homem e traduz o seu interior. É a sede das faculdades e da personalidade, de onde nascem pensamentos e sentimentos, palavras, decisões, ações. Deus o conhece profundamente e é, em seu coração, que o homem procura a Deus, que o ouve, faz uma experiência, que o serve e o ama¹. 28 | Em Família

O coração reto, simples, puro é aquele que não está dividido por nenhuma reserva ou segunda intenção ou em segunda aparência em relação a Deus e às outras pessoas. Ao perguntarem a Jesus qual seria o maior mandamento da Lei, respondeu: “Amar ao Senhor teu Deus de todo o coração, de toda


Artigo a tua alma e de todo o teu espírito” (Mt 22,37) e continuou dizendo, que o segundo maior mandamento era semelhante e consistia em amar o teu próximo como a ti mesmo (Mt 22,39).

com a ajuda das mediações humanas e sua abertura ao Espírito, pode manter juntos o vazio, a plenitude, a presença e a ausência. Moldando assim, seu coração para ser todo de Deus.

Esse foi o novo mandamento que Jesus nos deixou e nos apresenta os dois preceitos do amor de Deus. Entender essa nova visão, significou deixar muitas leis e um mero cumprimento de regras para dar um passo na aproximação do verdadeiro desejo de Deus: trabalhar o ser para ser e não para aparecer.

Em sua obra ontológica, intitulada “Sobre a vontade na natureza” (1986), o filósofo alemão Schopenhauer, afirma que a música é a arte que melhor consegue expressar verdadeiramente o ciclo da vida e seus itinerários. Para ele, a sinfonia é o grande arquétipo dessa metáfora, pois, precisa-se de uma partitura escrita com pausas, diferentes figuras e notas musicais, escrita de forma O novo mandamento foi plenamente personalizada para cada instrumento, e, por entendido, absorvido e vivido por Main que, conseguinte, de instrumentistas. desde criança, com seu coração desejoso do transcendente, com os limites psicológicos e Atenção, disciplina e olhar fixo naquele físicos de sua pouca idade, já demonstrava que comanda, o maestro, também são preocupação na vivência de um amor que necessários. Só assim, uma sinfonia pode vem do alto. ser executada e apreciada. Caso contrário, ela simplesmente está no papel e na mente Em sua vida, podemos observar seu do compositor. Uma sinfonia só é sinfonia amadurecimento na forma de amar, quando pode ser executada no pulsar do contextualizado de diferentes formas, coração de cada participante. na presença e na ausência de Deus, nos momentos de sofrimento, de provações e Main percebeu, o quanto a vida é uma alegrias. sinfonia escrita de forma personalizada por Deus para cada um de nós. Por isso, foi se ITINERÁRIO ESPIRITUAL COMO deixando dedilhar, como um instrumento SINFONIA COMPOSTA POR DEUS de cordas, por cada mediação enviada por Deus. “Quisesse alguém dar tudo o que tem para comprar o amor… Mulher não acomodada e sempre em Seria tratado com desprezo”. busca de seu autoconhecimento foi (Ct 8, 7b) aberta, sensível, sobretudo, a si mesma. Conhecia suas qualidades, potencialidades O que observamos na vida de Madre e igualmente, seus defeitos, mas nunca se Mazzarello é uma sapiência genuína que, entregou ao desânimo. setembro | outubro| novembro e dezembro 2019


Artigo Mas, também foi instrumentista de sua história, pois, ao ponto que compreendia os desígnios de Deus, sabia que necessitava trabalhar-se interiormente, com “determinada determinação”² (DÁvila, 2006), para executar com brilhantismo a partitura que foi escrita como sendo seu caminho personalizado de santidade. A verdadeira sinfonia de sua vida. Desde muito nova, percebia em seu coração a força de um amor sem medidas. Podemos nos arriscar a dizer que, na sua simplicidade infantil, já intuía que se Deus é único e Trino, vivia em um amor circulante, transbordante e eterno, ou seja, amava em comunhão. Isso, significa que Pai, Filho e Espírito Santo, amavam-se mutuamente, e, nós, devemos imitá-los, amando a todos como a nós mesmos.

mistério da Trindade. (Moreira, 2019). Esse foi o início de seu itinerário espiritual. Podemos perceber a profundidade mística e teológica de Main que, no concreto da vida, aprofundava suas percepções e convicções de fé, trabalhando na vinha junto de seu pai, ajudando sua mãe nos deveres da casa, no cuidado com os irmãos, ensinando-os a rezar, ajudando a direcionar seus olhares e corações para Jesus.

Da pequena janela da Valponasca, indica às suas irmãs, a igreja: “Jesus é o Sacramento. Quando não podemos ir pessoalmente, devemos ir até lá com o pensamento “(Maccono I 53). Seu amor por Jesus era manifestado por meio de seus, gestos, palavras e ações. Dizia: “...quando você passar em frente à igreja e não puder entrar, envie pelo menos uma saudação a Jesus, fazendo a comunhão espiritual” (Maccono II O diálogo com seu pai, por volta dos 153). 6 anos de idade, denota sua abertura às questões do transcendente e tendência CORAÇÃO DE UM ÚNICO DONO à busca ao que só se vê e se entende por meio da fé. Quando perguntou-lhe: “Papai, “Como és bela minha amada, e o que fazia Deus antes de criar o mundo? como és bela! Teus olhos são pombas. ”O pai responde: “Amava-se a si mesmo, Como és belo meu amado, e que adorava a si mesmo e contemplava-se a si doçura!”. mesmo… A sábia resposta do pai, homem (Ct1, 15-16) aberto também ele a Deus, imergiu-a no

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Artigo Na vida de Madre Mazzarello, o amor a Deus e ao próximo se fazia presente no concreto da vida cotidiana, de forma espontânea, comunicativa, delicada, na simplicidade, na firmeza, na oração e no trabalho. Não devemos nos equivocar em achar que seja um amor efêmero, pelo contrário, sua vida foi ramo da verdadeira videira e, por isso, mantinha sempre os olhos fixos em seu verdadeiro Maestro. Lendo suas cartas, encontramos um testamento espiritual que muito nos revela sua vida interior, a força, o vigor e profundidade de sua fé. Penetramos em seu santuário mais íntimo e assim podemos ter pistas para compreender sua entrega total a Deus. Ao ler suas cartas, percebemos, indiscutivelmente, que Jesus, não ocupava apenas o centro de seu coração, mas, era o único dono por excelência. Como toda mulher que possui um coração enamorado, seu desejo era estar sempre com seu Amado, fazendo-lhe companhia. Para ela, “quão maravilhoso seria se pudéssemos estar sempre perto de Jesus! Se você pudesse costurar na igreja, no último balcão, para fazer-lhe companhia! Pelo menos o veríamos o mais rápido que pudéssemos “(Cr I, 123) Em sua simplicidade, sabia que quem ama tem pressa de ver e de estar com o amado.

Literalmente apaixonada pela Eucaristia, ela fez da celebração eucarística o coração do seu dia, e, incentivava todas a irem ao encontro de Jesus Eucarístico com o mesmo fervor, pois, “gostaria que sempre lembrassem de ir e receber Jesus com alguma oferta da própria vontade, pois, se Ele se entrega inteiramente a nós, é certo que também devemos lhe oferecemos algo “(Maccono II 85). Para ela, Jesus era o Esposo que receberia no céu àquelas que fossem boas religiosas, igualmente, como um esposo recebe sua esposa (C 40.3). Era o amante, o amado e, por isso, encorajava às Irmãs a corresponder esse amor tentando “aprender a amar o Senhor” (C 23,6). Dizia com entusiasmo: “Somos e queremos ser todas as esposas de Jesus” (Cron III 192). Ele é o confidente, o consolador, quem tudo pensa e faz. Seu amor é traduzido em confiança inabalável ao Esposo. Com os duros golpes da vida aprendeu que Jesus deveria ser toda a sua força, pois com Ele, “os pesos tornam-se leves, os trabalhos sossegam, os espinhos se convertem em doçuras” (C 22,21).

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Artigo Na certeza de que pertencia ao seu Amado e Ele era dela aconselhava “não compartilhe seu coração com ninguém, seja inteiro para Jesus “(C 65,3). Somente nessa dinâmica gratuita de amar é que os problemas podem ser resolvidos. O coração de Jesus era seu lar habitual: “Estou no coração de Jesus” (C 19,3; C 22,21). Era o ponto de encontro privilegiado: “eles vão lhe procurar todos os dias no coração de Jesus; tenha cuidado para se deixar encontrar lá “(C 13,1). Para ela, o coração de Jesus era o lugar da unidade, da oração mútua e da constante possibilidade de diálogo que diminui e elimina as distâncias: “muitas vezes entrem no coração de Jesus, eu também entrarei nele e, com frequência, conseguiremos nos encontrar e nos dizer muitas coisas” (C 17,2). MAESTRINA DE SINFONIAS “Meu amado é meu e eu sou dele”. (Ct2,16)

jovens, sobretudo, por meio de seu próprio testemunho, o caminho para chegar a ter um coração totalmente enamorado por Jesus. Como uma boa mestra, ensinava que era necessário ter: “... grande confiança em Jesus e Maria, e acreditar sempre, que, sem Ele, não é capaz de outra coisa a não ser, cometer erros (C 64,1). Por isso, “ confie nEle e espere tudo Dele”. Coragem, quando estiver cansada e aflita, vá e coloque seus problemas no coração de Jesus, e ali encontrará alívio e consolo “(C 65,1,3). Seu amor era confiante, alegre e vivaz e, é esse o ensinamento que transmitia a todos: “Confie em Jesus, coloque todos os seus problemas no coração dele, deixe-o fazer, ele consertará tudo” (C 25,3). Somente, “ele a ajudará vencer, dando-lhe graça e força para lutar e a consolará” (C 57,2).

Ao longo de sua vida, ensinou continuamente que o nosso coração Tal confiança, levou-a de instrumentista é feito apenas para amar o Senhor (C de sua vida à maestrina espiritual de 63.4), e, somente muitas sinfonias, pois, mostrava Ele pode nos às Irmãs e às satisfazer

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Artigo plenamente, nos fazer verdadeiramente Referências Bibliográficas felizes (Maccono I 128; II 164). Afirmava quão ¹(Bíblia de Jerusalém, 2001 - Gn8, 25, nota grande consolo é termos um coração para b) amar o Senhor e poder demonstrar nosso Itinerário Espiritual de Santa Domênica amor sofrendo as dores da vida de boa Mazzarello – Vani Alves Moreira, 2019 vontade e pacientemente (Cron II 112). Cartas de Madre Mazzarello,1992 Cronistórias do Instituto das Filhas de Dessa forma, animava, ensinava e regia Maria Auxiliadora, volumes I, II e III a vida de suas Irmãs e das jovens que lhes O Livro da Vida – Santa Teresa de Ávila, foram confiadas. Hoje, ao consultarmos suas 2006 cartas, aprendemos com Madre Mazzarello, Palavras da Fonte – Jean Yves Leloup,2000 a orientar o nosso coração inteiramente a Deus. Cada Filha de Maria Auxiliadora é uma instrumentista sendo regida pela grande maestrina espiritual. Nossa fidelidade às Constituições, consiste, também, em termos os olhos fixos nos ensinamentos de nossa mãe espiritual. Não ofusquemos o som de seu pedido que ressoa em nós e, que é base de nossa consagração: “Vamos amá-lo, vamos amar a Jesus!” (C 58, 9).

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Onde não há caridade, não pode haver justiça! Por Paulo Pio

A caridade é uma das molas mestras que impulsionam a evolução da sociedade. Ela é o antídoto contra o egoísmo, chaga que por milênios têm barrado a desenvolvimento da humanidade. Caridade é sinônimo de amor ao próximo e a nós mesmos, pois quem a pratica em sua vida cotidiana, sente o retorno das atitudes positivas que realiza junto ao seu próximo. Vivemos em uma coletividade egoísta e desigual e, muitas vezes, confunde-se caridade com assistencialismo inoperante. Os detratores dessa forma de agir costumam dizer que 34 | Em Família

assistência social é um atributo dos governos. Que se pagam impostos exorbitantes para que a Federação, os Estados e Municípios utilizem melhor os recursos para suprir as demandas da sociedade. O que se esquece com essas afirmações é que estamos todos no mesmo barco e que se ele afundar, todos irão sofrer as consequências do naufrágio. Os valores atemporais e intangíveis da caridade, estimulam a sociedade como um todo a rever suas atitudes em relação ao próximo e diante da sua família em particular. Exemplo disso são os acidentes em larga escala ou as


Artigo tragédias climáticas que comovem a todos e nos convidam à doação de bens materiais para solucionar um problema emergencial. O Brasil ainda está aprendendo a praticar a caridade como uma forma de equalizar as diferenças sociais gritantes que fazem parte do dia a dia de todos. Nos Estados Unidos e Europa, detentores de grandes fortunas doam em vida boa parte de seus bens para ajudar os menos favorecidos. Virtude sem caridade não passa de nome Isaac Newton A caridade pode ser aplicada em qualquer situação ou contexto de nossa vida. Eis alguns exemplos de como começar a praticá-la cotidianamente:

- Com o desafeto: esquecimento das ofensas. - Com o filho: disciplina e amor incondicional. - Com o amigo: partilhar a alegria de viver. - Com o malfeitor: bons pensamentos e não julgamento. - Com o ignorante: educação e exemplo no bem. - Com o aflito: o ouvido, o ombro, a consolação. - Com o nervoso: o silêncio e a calma. - Com a família: amor, zelo e paciência. - Com o trabalho: responsabilidade e dedicação. Caridade é você, antes de pensar em doar algo, tirar uma parte de seu coração e embrulhar junto porque é, por meio desse sentimento, que estamos doando um pedacinho de nós mesmo - Jader Amadi Fotos: Pixabay

- Com a criança: proteção, educação e amparo. - Com o faminto: o alimento material e espiritual. - Com o enfermo: bons pensamentos e presença constante. - Com o idoso: auxílio fraterno, ouvido amigo.

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A (des)redenção dos Rebentos de Cam Por João Carlos Teixeira

A tela “A redenção de Cam” é uma pintura academicista brasileira, produzida pelas talentosas mãos do artista espanhol lotado no Brasil, Modesto Brocos. Para uma primeira mirada, o espectador afeito apenas a obras de arte ‘bem executadas’, ‘bonitas’ e ‘não-tortas’ (adjetivos próprios da ‘degenerada arte’ moderna), o quadro até parece agradável ao olhar. Uma análise semiótica um pouco mais apurada, contudo, revela um raciocínio longe de ser agradável. Bom, iniciemo-lo pelo título. Como se sabe, Cam é um dos três filhos de Noé. Segundo a narrativa do Gêneses, após salvar a si e aos seus (além dos animais), Noé teria aproveitado para usufruir dos frutos de sua vinha (vinicultor que era). Passado algum tempo, entretanto, Cam presenciou o pai embriagado e nu, e nada fez para ajudá-lo, ao contrário, relatou a seus irmãos o ocorrido e achou graça pelo fato. Noé, por sua vez, amaldiçoou Canaã, filho de Cam, e suas descendências, como atores que, eternamente, seriam servos das demais linhagens. Pois bem, ocorre que a manipulação ideológica deste texto, ao longo dos séculos, fez 36 | Em Família


Artigo com que povos dominantes subjugassem etnias negras, vinculando a estas o castigo dirigido a Canaã. Assim, a África, enquanto continente, passou a ser compreendida como terra herdeira da maldição, o que justificaria, muito convenientemente, o processo de escravização, o colonialismo, a pobreza e epidemias, imperativos contemporâneos. Dito isso, passemos à leitura iconográfica do quadro de Brocos: Na obra, observase um cenário externo que remete a um quintal de chão batido, a porta de uma casa simples, com um cômodo cujos tecidos dependurados sobre um varal rompem uma penumbra parcial. Na porção externa da cena se pode ver quatro pessoas. À esquerda, de pé, uma senhora negra, mais velha que os demais, com as mãos para o alto, como se agradecesse uma benção. À direita dela, uma mulher mais jovem de tom de pele mais clara com uma criança branca em seu colo que aponta para a senhora em pé. Logo, a seu lado, um homem de pele clara, traços faciais europeus, meia idade, sentado em pose descontraída. São, portanto, três gerações. A anciã, mãe da moça (cuja pele já revela certa miscigenação) e avó da criança agradece a Deus o fato de seu neto ser branco como o pai. Este sorri e observa tudo, satisfeito com a façanha. A pintura, como o título sugere, revela um raciocínio presente no período de sua execução (1895), momento seguinte ao decreto do fim da escravização, quando se discutia o futuro de nossa sociedade,

“...a manipulação ideológica deste texto, ao longo dos séculos, fez com que povos dominantes subjugassem etnias negras, vinculando a estas o castigo dirigido a Canaã. Assim, a África, enquanto continente, passou a ser compreendida como terra herdeira da maldição, o que justificaria, muito convenientemente, o processo de escravização, o colonialismo, a pobreza e epidemias, imperativos contemporâneos” e como o contingente afrodescendente (agora ‘cidadão’ como as demais etnias componentes de nossa pátria) seria absorvido pela sociedade como um todo. A eugenia (“ciência de melhoramento” biológico – tese largamente difundida na transição do século XIX para o XX) foi uma solução encontrada pelo governo que precisava, exatamente, lidar com a interação entre as distintas raças. Assim, o casamento entre negros e brancos foi incentivado como política pública que resolveria a situação, uma vez que, segundo teorias eugênicas, a raça branca seria superior à negra, e se sobreporia a ela em, no máximo, três gerações. O Brasil, com efeito, não foi o setembro | outubro| novembro e dezembro 2019


Artigo É inevitável ver “A redenção de Cam”, tomar conhecimento das políticas eugênicas do governo de branqueamento populacional e não se consternar. Afinal, a ideia de uma raça superior a outra por conta da quantidade de melanina produzida parece ser tão rudimentar, medieval e longínqua que, este espanto, por si, já parece posicionar a nós, habitantes do século XXI, em um anestesiado patamar superior.

único país com práticas eugênicas. Argentina e México, além de diversos outros países, também adotaram práticas de limpeza étnica contra populações indesejadas. Nosso vizinho portenho, por exemplo, liquidou a maior parte de sua população negra, enviando volumosas somas de negros para o front das guerras que o país se envolveu na segunda metade do século XIX (algumas regiões do país chegaram a registrar 54% de presença afrodescendente, mas este número agora se resume a menos de 1% da população). É inevitável ver “A redenção de Cam”, tomar conhecimento das políticas eugênicas do governo de branqueamento populacional e 38 | Em Família

não se consternar. Afinal, a ideia de uma raça superior a outra por conta da quantidade de melanina produzida parece ser tão rudimentar, medieval e longínqua que, este espanto, por si, já parece posicionar a nós, habitantes do século XXI, em um anestesiado patamar superior. Claro, afinal quem de nós não pode bater no peito e bradar “eu não sou racista... Tenho até amigos negros”?! O governo poderia ter tomado políticas reparadoras para as populações negras, ao invés de adotar práticas eugenistas, de instituir o crime de vadiagem (que, obviamente penalizaria os negros recém libertos e desempregados), de proibir que frequentassem escolas públicas durante o império e início da república e até proibir rodas de samba em locais públicos. Mimimi esquerdista, alguém pode dizer a esta altura. Recordemos que diversos estados cederam terras a imigrantes europeus recém-chegados em terras brasileiras para ‘começarem’ suas vidas, por aqui, no mesmo período histórico (início do século XX). “A escravização permanecerá por muito tempo como característica nacional do Brasil”. Disse um dia o abolicionista Joaquim Nabuco. Acaba de passar o feriado da Consciência Negra e tomamos ciência de um sujeito nomeado para a Fundação Palmares – decisão revogada pela justiça –, que disse em uma rede social que ‘a escravização não foi ruim para os negros, pois eles vivem melhor aqui do que na África”. Vimos nove jovens mortos (a maioria de negros) em uma ação desastrosa da polícia militar na comunidade


Artigo de Paraisópolis, a despeito de simpatizarmos ou não com o tipo de música e a qualidade de entretenimento que buscavam ali. Vimos os dados de que no ano de 2017, 4 em cada 5 assassinatos foram contra negros e que, ainda que os números sobre homicídios no Brasil tenham sofrido alguma redução em 2019, os da população negra cresceu 429% . Assim que quase 62% da população carcerária é composta de afro descendentes ; ou ainda que somente 34% dos universitários brasileiros são negros , bem como 16% dos professores universitários. Quando finalmente tomarmos ciência destes dados perceberemos que Nabuco tinha toda a razão, e que os descendentes de Cam estão longe de alcançarem sua redenção. https://www.cartacapital.com.br/sociedade/ assassinatos-de-jovens-negros-no-brasilaumentam-429-em-20-anos/ https://www2.camara.leg.br/atividadelegislativa/comissoes/comissoes-permanentes/ cdhm/noticias/sistema-carcerario-brasileironegros-e-pobres-na-prisao

Referências: A Redenção de Cam. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2019. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/ obra3281/a-redencao-de-cam>. Acesso em: 11 de Dez. 2019. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7 VEIGA, Cynthia Greive. Escola pública para os negros e os pobres no Brasil: uma invenção imperial. Rev. Bras. Educ. vol.13 no.39 Rio de Janeiro Sept./Dec. 2008 Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Educação Disponível em : http://www.scielo. br/scielo.php?script=sci_arttext&pid =S1413-24782008000300007 Acesso em 09/12/2019 às 23h35. https://aventurasnahistoria.uol.com.br/ noticias/reportagem/consciencia-negraargentina.phtml Acesso em 10/12/2019 às 20h05

https://www2.ufjf.br/noticias/2017/11/20/ consciencia-negra-apenas-34-dos-alunos-deensino-superior-sao-negros-no-brasil/

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O Impacto do Meio Digital no Rádio ANTUNES, Luciana - SANTOS, EW - TEIXEIRA, Renato

Com a autonomia adquirida pela população para a busca de conteúdos que lhe interessam, os meios de comunicação passaram as últimas décadas tentando se adaptar aos formatos novos e inovadores que surgiram. O rádio, o veículo que tinha até então a exclusividade no fato de poder acompanhar seu ouvinte em qualquer lugar, passa a dividir esta possibilidade com a televisão e a mídia impressa em função da internet e dos aparelhos móveis. Soma-se a isso o crescimento na oferta de conteúdos propagados das mais diversas formas, como os sites, blogs e redes sociais que passam também a replicar informações das mais diversas fontes, inclusive da mídia tradicional. Com todas as mudanças o ouvinte de rádio com o tempo vai se transformando também, e o meio passa a ter muitos concorrentes, pois o que não muda é a estrutura do dia, que segue tendo 24 horas. Porém quando uma rádio consegue manter um ouvinte, este acaba sendo mais importante que os que deixaram de ouvi-la, já que ele passa a realmente se identificar com o emissor. Enxergar isso é o ponto inicial para que as emissoras possam manter seu público através de um relacionamento mais próximo usando as redes sociais para atraí-los e assim fazer com que estes tragam novos fãs

Palavras chave: Rádio; Rádio web; Marketing Digital; Redes Sociais. 40 | Em Família


Artigo Introdução Apesar de muito se propagar sobre a importância das redes sociais, o que vemos hoje nas emissoras de rádio é o uso principalmente do Facebook, Twitter e do Whatsapp como os substitutos do telefone, que nas décadas de 80 ou 90, era muito utilizado para contato com os ouvintes no ar e também para se fazer promoções. Se visitarmos ainda passados mais remotos, estas ferramentas teriam sido as cartas que duraram um pouco mais e eram comuns nos interiores do país nas décadas anteriores. Nota-se que ainda não há uma utilização destes pontos das redes sociais como pontos de contato com a audiência para se criar um vínculo com eles. Nos tempos atuais, a velocidade da comunicação trouxe hábitos que visam saciar necessidades de forma muito mais rápida. Uma era digital na qual quanto menos toques, cliques ou botões para se iniciar algo, melhor. A relação com a rádio deve então estar também facilitada, se não há um aparelho tradicional de rádio por perto, mas uma rede wi-fi, ou acesso ao 3G ou 4G, e um aplicativo, sintonizar a emissora se torna mais fácil, assim como a interação não pode depender mais do telefone ou da carta. ...a modernidade introduz um dinamismo elementar nas coisas humanas, associado a mudanças nos mecanismos da confiança e nos ambientes de risco. Não penso que seja verdade que, como sugerem alguns, a era moderna seja uma era marcada por alta ansiedade em contraste com épocas anteriores. Ansiedades e inseguranças afetaram outras épocas além da nossa, e é provavelmente pouco justificável supor

Nos tempos atuais, a velocidade da comunicação trouxe hábitos que visam saciar necessidades de forma muito mais rápida. Uma era digital na qual quanto menos toques, cliques ou botões para se iniciar algo, melhor. A relação com a rádio deve então estar também facilitada, se não há um aparelho tradicional de rádio por perto, mas uma rede wi-fi, ou acesso ao 3G ou 4G, e um aplicativo, sintonizar a emissora se torna mais fácil, assim como a interação não pode depender mais do telefone ou da carta. que a vida em culturas menores e mais tradicionais tenha um teor mais equilibrado que o de hoje. Mas o conteúdo e a forma das ansiedades predominantes certamente muito mudaram.(GIDDENS, 2002, P. 37) A velocidade do acesso também se torna uma questão para que as emissoras de rádio cativem a audiência, pois quanto mais rápido o processo deste contato, menor será a chance de que as ansiedades sejam sanadas por terceiros.

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As velhas mídias não morreram. Nossa relação com elas é que morreu. Estamos numa época de grandes transformações, e todos nós temos três opções: teme-las, ignorá-las ou aceitá-las. (JENKINS, 2008, p.8)

O que mudou Quando surge a televisão na Alemanha em 1935, e até sua popularização, o senso comum fragiliza o rádio em detrimento deste novo e mais promissor meio, mas de fato o que ocorre, e em especial no Brasil, é que a televisão de certa forma copia o rádio em alguns aspectos, como as novelas. Muitos futurólogos de botequim previam o fim do rádio, com a chegada da televisão. Na verdade, o rádio influenciou muito mais a TV do que o contrário..... É bom lembrar que, antes de 1969, o rádio sofre muito menos a concorrência da TV – até porque a infraestrutura de telecomunicações do Brasil até aquele ano não permitia as transmissões de âmbito nacional. A TV era um fenômeno local. Tanto assim que o Jornal Nacional, da Rede Globo, só nasce nesse ano de 1969. Até então diversas capitais não falavam entre si por telefone por falta de troncos de longa distância. (SIQUEIRA, 2010) 42 | Em Família

Estes dois meios, o rádio e a TV foram os percursores da mídia de massa, e a cada nova tecnologia que surge desde então é decretado o fim de um deles, como comenta Mark Warshaw na apresentação do livro Cultura da Convergência: Não é segredo que ocorreu uma mudança de paradigma no modo como o mundo consome as mídias. Ouvimos todo aquele discurso apocalíptico. O comercial de 30 segundos morreu. A indústria fonográfica morreu. As crianças não assistem mais à televisão. As velhas mídias estão na UTI. Mas a verdade é que continuam produzindo música, continuam veiculando o comercia de 30 segundos, um novo lote de programas de TV está prestes a estear, no momento em que escrevo estas linhas - muitos direcionados a adolescentes. As velhas mídias não morreram. Nossa relação com elas é que morreu. Estamos numa época de grandes transformações, e todos nós temos três opções: teme-las, ignorá-las ou aceitá-las. (JENKINS, 2008, p.8) Mas podemos sim dizer que mudanças drásticas ocorreram com a chegada da internet e foram para todos os meios de comunicação, tais como jornais, rádios, revistas e televisão, que passam a ter seus conteúdos publicados nela. Alguns formatos tradicionais passaram a ser criados diretamente na web como é o caso da webTV e webradio, que estão disponíveis apenas na internet, como comenta Lemos (2010). O resultado disso é que qualquer conteúdo de qualquer meio pode ser encontrado em qualquer lugar do mundo que tenha acesso ao ciberespaço. Questões como onde foi publicado, passam a ser menos importantes, já que o acesso se torna fácil para todos, e


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podemos dizer que o conteúdo é então cada vez mais importante do que a forma de acessa-lo. Ora, mídias são meios , e meios como o próprio nome diz, são simplesmente meios, isto é, suportes materiais, canais físicos, nos quais as linguagens se corporificam e pelos quais transitam. Por isso mesmo, o veículo, meio ou mídia de comunicação é o componente mais evidente, quer dizer, aquele que primeiro aparece no processo comunicativo. Não obstante sua relevância para o estudo desse processo, veículos são meros canais, tecnologias que estariam esvaziadas de sentido não fossem as mensagens que nelas se configuram. Consequentemente, processos comunicativos e formas de cultura que nelas se realizam devem pressupor tanto as diferentes linguagens e sistemas sígnicos que se configuram dentro das mídias em consonância com o potencial e limites de cada mídia, quanto deve pressupor também

as misturas entre linguagens que se realizam nas mídias híbridas de que o cinema, a televisão e, muito mais, a hipermídia, são exemplares. (SANTAELA 2003 p.116) Almeida e Magnoni, (2010, p.276), afirmam que com a web o rádio passou a contar com plataforma multimídia complementar para ampliar seu alcance de sintonia e diversificar a audiência. Desta forma podemos dizer que a internet se tornou para o rádio uma aliada. As rádios propagadas através das ondas hertzianas do mundo todo passaram a ser transmitidas também pelas páginas web das emissoras, para isso o site da emissora normalmente tem o player disponível para o internauta ouvir a programação ao vivo. A internet também possibilitou que desenvolvedores criassem aplicativos específicos para as emissoras, ou grupo de emissoras que permitem ouvir aos conteúdos das rádios sem ter que passar antes pelo site da emissora. Assim, acessar ao conteúdo setembro | outubro| novembro e dezembro 2019


de áudio ao vivo da emissora passou a ser possibilitado por apenas um toque na tela do smartphone ou tablet, ampliando o leque de opções para se ouvir rádio. Grande parte das emissoras no Brasil já possui um aplicativo próprio. Outros aplicativos sugiram com a ideia básica de facilitar o acesso a conteúdos sonoros, inicialmente para música, tais como Rdio, Deezer, Spotfy e TunIn. Este último, especialmente, habilita o usuário a encontrar rádios de diversos lugares do mundo nos smartphones, smart TVs e tablets , além de ser uma plataforma de compartilhamento de músicas. Além de aplicativos, a divulgação do canal para audição das emissoras na web também é feita por outros sites que tratam de assuntos voltados ao meio rádio, e que são verdadeiros aglutinadores de endereços de players de emissoras. Esse tipo de site é comum não só com emissoras locais mas também com emissoras de países diversos. Há inclusive o projeto holandês de pesquisa radiofônica e digital, que é um bom exemplo, 44 | Em Família

o Radio Garden , onde o usuário escolhe no mapa-múndi um lugar de onde quer ouvir a rádio e aponta para ele até “sintonizar” a emissora desejada, no smartphone, computador ou tablet. Combinando duas coisas: rádios e mapas, a interface simples, o design enxuto e a forma de usar bastante amigável, nem dá pistas de que esse projeto holandês demandou 3 anos de vasta pesquisa radiofônica e digital, (2013 a 2016) envolvendo o Netherlands Institute for Sound and Vision, a Martin Luther University of Halle-Wittenberg, o Transnational Radio Knowledge Platform e outras 5 universidades européias e, foi financiado pelo HERA, um dos institutos mais prestigiados da Europa. (Senscast, 2017) Assim como as empresas perceberam a necessidade de terem uma página na web para servir de interface com o público, o rádio entra na internet da mesma forma, conforme comenta Prata (2008). Diversas emissoras passaram a ter suas webpages onde incluíram informações sobre a rádio,


dados de seus locutores, tabelas de preços entre outros. Com o passar do tempo e a assimilação da importância de estar na internet, as emissoras aos poucos passaram a oferecer transmissão online, ou seja, passou a ser possível ouvir o conteúdo do rádio no computador acessando suas páginas na internet, ao mesmo tempo em que as transmissões são feitas. No mesmo estudo, Prata (2008) também diz que a partir de 1998 passam a surgir no Brasil emissoras que não existiam no dial do rádio, e tem seu conteúdo divulgado ao vivo com exclusividade na internet, e passam a ser conhecidas como webradios. O rádio tradicional, por sua origem, pode ser ouvido em qualquer lugar pelo dial desde que seu sinal alcance a região. Mas com a sua propagação também pela web, onde existir uma conexão de internet é possível ouvir a emissora, seja em um computador, tablet ou smartphone, o que só acrescenta força ao meio. É nesse cenário que a audiência passa também a ter voz, pois consegue interagir com os meios. Os ouvintes passaram também a ser difusores do conteúdo. Esta revolução digital implica, progressivamente, a passagem do mass media (cujos símbolos são a TV, o rádio, a imprensa e o cinema) para formas individualizadas de produção, difusão e estoque de informação. Aqui a circulação de informação não obedece à hierarquia da árvore (um-todos) e sim a multiplicidade do rizoma (todos-todos). (LEMOS ,2002,p.73) A chegada da internet e o avanço das tecnologias que a utilizam, criaram um novo ambiente na comunicação onde o marketing de maneira geral precisou se adaptar e segue se adaptando constantemente. A

grande diferença deste novo ferramental, ou meio, foi o de possibilitar a participação dos variados tipos de audiências, sejam leitores, ouvintes ou telespectadores, que de maneira mais ágil passam a ter voz interagindo com os propagadores das mensagens que lhes são entregues, tornando a comunicação de massa uma via de mão dupla. A internet permite além de novas possibilidades de comunicação, o rastreamento do que nela é feito, facilitando a mensuração de consumo deste conteúdo, e conhecendo em detalhes estes consumidores já estão cada vez mais expostos. Ela escaneia aquilo que o consumidor estava fazendo quando achava que ninguém estava olhando suas mais sinceras atitudes, conforme comenta Adolpho (2011, p. 201) Redes Sociais As redes sociais são meios de comunicação através dos quais os indivíduos buscam o contato com outras pessoas de forma virtual com intuito de se inter-relacionarem, e buscarem entretenimento. No início funcionavam com a troca de mensagens entre seus participantes, com a evolução foi possível mais do que isso, e hoje as pessoas disponibilizam grande parte de suas informações pessoais, como onde estão ou estiveram, suas características pessoais, suas fotos, entre outros dados. A princípio a finalidade é troca de informações sobre assuntos que interessam aos que fazem parte da rede, e segundo Howard Rheingold (1996), especialista em implicações culturais, sociais e políticas dos modernos meios de comunicação, as comunidades virtuais são agregados sociais. setembro | outubro| novembro e dezembro 2019


Artigo Comunidades virtuais emergiram de uma interseção surpreendente de humanidade e tecnologia. Quando a ubiquidade da rede mundial de telecomunicações é combinada com as capacidades de estruturação e armazenamento de informações dos computadores, um novo meio de comunicação torna-se possível. Como aprendemos com a história do telefone, do rádio, da televisão, as pessoas podem adotar novos meios de comunicação e redesenhar seu modo de vida com rapidez surpreendente. Computadores, modems e redes de comunicação fornecem a infraestrutura tecnológica de comunicação mediada por computador (CMC); O ciberespaço é o espaço conceitual onde palavras e relações humanas, dados e riqueza e poder são manifestados por pessoas que usam a tecnologia CMC; comunidades virtuais são agregações culturais que emergem quando pessoas suficientes se cruzam muitas vezes no ciberespaço. (RHEINGOLD, 1996 p.413) É nas redes sociais que as pessoas encontram afinidades e semelhanças com outras, e ali compartilham seus interesses, formando comunidades dos mais diversos temas e interesses. Redes sociais e suas comunidades são um meio de comunicação de expressarmos nosso estilo de vida para nossos amigos, já que eles acompanham nossas “atualizações, mostramos quem somos nós para o mundo... O que “curtimos” no Facebook, o que compartilhamos por meio do Twitter, as comunidades que participamos no Orkut e outros meios fazem com que coloquemos uma “tag” em nós mesmos, criando assim nosso estilo de vida – aquilo que é pessoal, intransferível e que nos faz coesos. (ADOLPHO, 2011 p. 276) 46 | Em Família

Desde o surgimento das redes sociais na internet o relacionamento interpessoal mudou e as pessoas passaram a se utilizar delas para várias outras coisas que não só o relacionamento, mas indicações, compra, venda, busca de dados, e uma série de outras funções que foram surgindo. As empresas tendem a se beneficiar das redes sociais em função principalmente de poderem nelas encontrar mais do que o perfil de sexo, classe social e idades dos consumidores para traçarem suas estratégias de comunicação. É nas redes sociais que estão as pessoas como indivíduos, ou seja cada uma com sua característica de personalidade, gostos, sentimentos, e hábitos de consumo. Portanto para as marcas é muito importante estar presente nas comunidades virtuais, e se possível analisar as reações dos diferentes públicos em relação não só a seus produtos, mas também da concorrência e de questões econômicas, políticas, ecológicas, culturais e tudo mais que cada um se deixar expressar. O poder das redes sociais hoje pode ser exemplificado facilmente pelo alcance do Facebook, criado em 2004, que em 2017 alcançou 2 bilhões de usuários por mês no mundo, desses 102 milhões eram brasileiros, segundo o próprio Facebook. Este poder de alcance de tantos indivíduos fez com que as empresas passassem a estar presentes nele com o intuito de estar mais perto e poder interagir com os consumidores. Outro dado do Facebook mostra que ao redor do mundo hoje são três milhões de empresas anunciando ativamente em sua plataforma, sendo que 70% desses anunciantes estão fora dos EUA. As redes sociais representam hoje uma forma de comunicação muito importante


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para a população, e segundo o Global Digital Report 2018 , no Brasil as pessoas gastam em média cerca de 3 horas e 40 minutos diariamente acessando as suas redes, o que coloca o país no segundo lugar do ranking de mais tempo despendido usando alguma rede social. O fato de que a grande maioria das emissoras de rádio ainda não aproveita o potencial de engajamento que as redes sociais podem oferecer a partir de processos bem conduzidos, pode estar relacionado a duas hipóteses: recursos e mensuração. Diferente dos grandes anunciantes que se utilizam de agências digitais para promoverem suas marcas, ou mesmo para criarem conceitos, engajarem seus consumidores, ou ainda reverterem situações críticas, as rádios se utilizam de equipes da própria emissora. Na maioria das vezes, não se trata de equipe propriamente, mas a mesma pessoa que é responsável pela análise de dados de audiência e também

pelo marketing que inclui as redes sociais. Esta manutenção de modelos ultrapassados de estrutura organizacional, deve ser um dos principais responsáveis pela dificuldade da aceitação de que é necessário ter especialistas cuidando desse processo de forma constante. Para manter sua presença digital é necessário publicações frequentes em diversas redes sociais e para isso geralmente os empresários optam por contratar agências de publicidade, visto que agências não tomam tempo do empresário e estão cada vez mais investindo em novas técnicas e em conhecimento de marketing digital. (Exame 30/10/17) Ainda não são realizadas avaliações conjuntas de dados das redes sociais em associação aos dados da audiência da emissora, juntamente com dados outros pontos de contato como blogs e sites. O que torna este tipo de levantamento mais setembro | outubro| novembro e dezembro 2019


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Fica evidente neste novo ambiente comunicacional que o antigo ouvinte típico de rádio passou a ter um leque gigantesco de opções de escolha de sintonia, seja de frequências da sua própria cidade, do seu país, ou de qualquer emissora de qualquer lugar do mundo. complexo é a grande pulverização na disseminação do conteúdo ao vivo através de distribuidores como Todo Rádio , Rádios ao Vivo , Guia de Mídia , entre muitos outros e os próprios players nos sites das rádios. Tudo isso dificulta chegar ao total de ouvintes da emissora. Esse fator pode estar fazendo com que diversas emissoras tenham resultado de audiência auferido aquém do que de fato teriam se considerando todas as formas possíveis de acesso, e um resultado mais baixo do real reflete no desempenho comercial, que por sua vez limita o investimento em especialistas de marketing digital. Fica evidente neste novo ambiente comunicacional que o antigo ouvinte típico de rádio passou a ter um leque gigantesco de opções de escolha de sintonia, seja de frequências da sua própria cidade, do seu 48 | Em Família

país, ou de qualquer emissora de qualquer lugar do mundo. Mobilidade Toda a evolução trazida pela internet não foi suficiente para a satisfação do ser humano. Em paralelo, a forma de se comunicar por voz evoluiu com os celulares que hoje são smartphones, e que trazem dentro deles verdadeiros computadores ligados à internet, trazendo toda a velocidade que faltava, e mais que isso, com mobilidade. Com isso não mais é necessário esperar chegar até um computador para ler uma mensagem, ou mesmo enviar uma foto para alguém, ou transmitir ao vivo uma situação, entre tantas outras coisas que só eram possíveis pelo computador com acesso a web. Os dispositivos móveis estão literalmente na palma das mãos, isso obrigou os profissionais de comunicação e marketing a estudarem as mais diversas formas de atingirem seus objetivos comunicacionais. O relacionamento do consumidor com o dispositivo não é mais aquele relacionamento passivo, “relaxado, que ele tem com a TV, ou o mais ativo, mais ansioso”, que ele tem com o computador pessoal, mas sim a mobilidade interativa total “avançada”. Ela é próxima, pessoal e está sempre ligada. (MARTIN , 2013, p.17) A tecnologia que tornou viável a mobilidade trouxe o smartphone que acabou sendo o aparelho que além da intermediação da comunicação, é uma ferramenta para a organização da vida das pessoas. Cada indivíduo elege o que vai ter em seu aparelho, usando o aplicativo


Artigo que quiser, dependendo do que é mais importante para ele em sua rotina diária, além de ser repositório de memórias dos mais variados tipos. O smartphone passou então a ser diferente de indivíduo para indivíduo, já que cada um carrega nele o que lhe é importante ou necessário, dando ao aparelho a sua identidade. Pelo fato do smartphone ser tão pessoal e individual, cada usuário tende a visualizar o mercado móvel pela sua perspectiva única. Os profissionais de marketing que buscam maiores investimentos em mobile marketing deveriam estar cientes desta mudança de marketing de massa para marketing pessoal, isto porque aqueles que controlam os orçamentos poderão desenvolver percepções próprias sobre as estratégias móveis propostas através de suas lentes pessoais, baseadas na maneira como eles usam seus próprios devices. (MARTIN, 2013, p.33) Os aparelhos e as tecnologias neles inseridas também fizeram com que as pessoas mudassem seus hábitos de utilizar as redes sociais. As redes sociais por sua vez também se adaptaram rapidamente para as plataformas móveis, sabendo da importância de ter mais e mais usuários participando ativamente. Segundo The Digital Report 2018, 57% dos brasileiros que possuem contas ativas em redes sociais, acessam suas redes via mobile, enquanto que a média entre 40 países investigados foi de 39%. O mesmo estudo mostra que quase a totalidade (95%) dos usuários ativos de contas do Facebook acessam via smartphone ou tablet esta rede social, o que já é um número expressivo, mas se torna muito mais importante ao se comparar

com o volume de pessoas que o fazem por computadores, apenas 31,8%. Isso significa que para as redes sociais, os aparelhos móveis como celulares e tablets não são a segunda tela mas sim a primeira. Os aparelhos de celular atuais podem ser usados para a audição de rádio de pelo menos três formas. A primeira segue a tecnologia tradicional sintonizando através de chips receptores de rádio e que não necessitam de internet, onde houver sinal é possível localizar no dial a emissora. Duas outras formas dependem de acesso a internet, uma seria através do uso de aplicativos e a outra entrando em sites onde estão disponíveis os players das emissoras. Em pesquisa realizada na cidade de São Paulo para este estudo, nota-se que os aplicativos para se ouvir rádio pelo smartphone já estão bastante difundidos, sendo a forma utilizada por mais da metade dos consultados (54%) entre os que declararam ouvir pelo smarthphone, seja por aplicativos de emissoras (22%) seja por outros aplicativos (25%). Com todas as novas plataformas digitais de comunicação, as emissoras de rádio foram de certa forma obrigadas a criarem no princípio ao menos seus sites. Mas atualmente, de modo geral qualquer empresa de comunicação passou a poder ter de maior interação com seus públicos o que vai além do site. Para isso o veículo precisa também estar na rede social habilitando seus seguidores a comentarem e interagirem com eles. As redes sociais permitem que as pessoas comuns que fazem parte da audiências do rádio, da televisão, do jornal e da revista, façam ali seus comentários, cobranças, críticas, elogios, e que reverberem sua forma de pensar e suas setembro | outubro| novembro e dezembro 2019


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inquietudes. Especificamente no caso das emissoras de rádio, o uso das redes sociais está bastante difundido em São Paulo, onde a maioria das rádios está presente de forma ativa principalmente no Facebook e Twitter. No caso do Twitter é possível notar através de rápida consulta em cada uma das páginas das emissoras que quase a totalidade das emissoras começaram a participar desta rede em 2009. E entre as que começaram mais tarde, 2012 está a CBN. Apesar de estarem cadastradas nas redes desde uma determinada data, não necessariamente estariam ativas e usando a rede no dia a dia, o mais provável é que se cadastraram para garantir suas marcas antes que outro o fizesse, o mesmo aconteceu para diversas emissoras. No caso das emissoras essencialmente jornalísticas, as primeiras a se preocuparem em estar interagindo efetivamente com os ouvintes via redes sociais foram as que também têm como característica serem prestadoras de serviços para a população, 50 | Em Família

tais como informações sobre o tempo, o trânsito e o transporte público da cidade ou problemas com prefeitura, entre outros. Antes o telefone era o principal canal de comunicação entre radialista e ouvinte, hoje as redes sociais e o Whatsapp. De fato, se forem consideradas as rotinas das maiores redes do segmento All News no país, a Central Brasileira de Notícias (CBN), pertencente ao Sistema Globo de Rádio (SGR), e a BandNews, do Grupo Bandeirantes, há preocupação em estabelecer diálogos com as redes sociais on-line, por meio de remissão do conteúdo veiculado em ondas hertzianas a blogs, sites e perfis em redes sociais, institucionais ou dos próprios comunicadores e comentaristas . (KISCHINHEVSKY, 2016, p.105) Há uma preocupação de locutores, jornalistas e apresentadores das rádios de manterem seus nomes também vinculados às emissoras, onde compartilham opiniões e interagem com seus ouvintes e fãs. Eles mantêm perfis vinculados à emissora na


Artigo qual atuam. Na cidade de São Paulo existem duas emissoras FM que são voltadas ao gênero musical rock: a Kiss FM e 89 FM. A Kiss está presente com algum conteúdo no Facebook, Twitter e Instagram e Youtube. Em maio de 2013, quando lançou sua página no Facebook, a diretora geral da emissora, Taís Abreu disse ao site todoradio. com : “O Templo do Rock foi elaborado sob medida, levando em conta as vontades do nosso público. Não há, hoje, projeto semelhante no país”. Atualmente a principal linha de conteúdo da emissora diz respeito às informações de bandas e cantores de rock. Tentando mostrar uma interação maior com o ouvinte, a Kiss publica em seu Facebook fotos de todos os ouvintes que foram até a emissora retirar prêmios, notícias rápidas sobre artistas, e faz chamadas de programas. No Twitter inclui comentários do tipo memórias, que tratam sobre algum acontecimento no mundo do rock do dia especifico, geralmente incluindo uma foto ou vídeo relacionado, e também repetem o mesmo conteúdo do Facebook. Em ambas as redes, depois que os programas vão ao ar postam o link do conteúdo que fica num canal da emissora no Youtube. No Instagram a emissora inclui imagens de seus locutores e apresentadores, as bandas e artistas que tocam na emissora, e chamadas para os programas. O Youtube se tornou uma nova possibilidade de transmissões radiofônicas só que com vídeo. A partir do momento que se é possível a transmissão de imagens ao vivo pela internet, as emissoras testaram e passaram a usar este formato para mostrarem seus estúdios e a cara das suas vozes durante a programação. E esses conteúdos

muitas vezes são disponibilizados em canais específicos no Youtube. Segundo Almeida e Magnoni (2010, p. 278), a característica de interatividade e portabilidade que sempre fizeram do veículo estar perto do ouvinte, e mais do que isso, nesta fase institucionalmente as emissoras passaram a mostrar seus bastidores, e mostram estúdios, seus locutores em fotos ou vídeos, além de terem ali mais um espaço para divulgação de suas propagandas fazendo uso de imagem, seja com fotos ou vídeos de qualidade, o que faz aumentar quantidade de espaços onde sua comunicação é feita. Atrelando o fato do meio estar ativo nas redes sociais, com a utilização massiva dos smartphones para acesso a elas, e também à possibilidade de se ouvir o conteúdo pelo mesmo aparelho, a relação ouvinte emissora tende a ser cada vez mais próxima. A presença da rádio nas redes sociais cumpri o papel de se fazer presente, porém alguns detalhes podem estar afetando a participação do ouvinte nestes ambientes virtuais. Tomando-se como base a emissora Kiss FM, segundo dados que o Likealyzer oferece em seu site, podemos ter alguns indicativos de onde a Kiss FM pode não estimula seu público do Facebook a comentar, curtir ou compartilhar seus conteúdos. Ora, se a rede social pode auxiliar na divulgação dos conteúdos da emissora através de seus seguidores , há que se rever a forma de se usar esse ferramental.

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Entrevista

Entrevista com Ir. Iolanda Pilotto 1- Descreva um pouco de sua infância e adolescência ( sua família, sua cidade, sua escola, amizades, o que gostava de fazer, (etc). Com alegria e saudades, relembro o meu passado. Morávamos num sítio próximo de Guaraci, cidade que fica ao norte do Estado de São Paulo, entre Olímpia e Barretos. Do nosso sítio até Guaraci, tínhamos que andar a pé, cerca de 1 Km. Meus pais: Catharino Pilotto e Maria Pereira são falecidos. Tiveram 6 filhos (três homens e três mulheres). Eu sou a segunda filha. Hoje somos apenas três: a minha irmã Evanda com 87 anos, eu com 84 e meu irmão Amilton, com 76 anos. No nosso sítio, havia a Olaria “São José.” O barro era tirado da lagoa pelos senhores que trabalhavam para o meu pai na fabricação de tijolos. Todos os dias levavam também um carrinho de barro para a minha mãe. Ela fazia potes, vasos de vários tamanhos, tinas (naquele tempo não 52 | Em Família


Entrevista existia máquina de lavar roupa) e cochinhos para as galinhas e outros animais beberem água. Depois de prontos, na hora de levar os tijolos para o grande forno na Olaria, levavam também os que a minha mãe havia feito. Ela sempre tinha encomendas. Lembro também da minha mãe cuidando da horta de verdura, do jardim, fazendo queijo, doces, pães, quitandas, além dos trabalhos manuais como crochê, costura, tricô e dos serviços de casa. Meu pai também, além do Olaria, tinha outros trabalhos como tirar leite das vacas, cuidar dos animais e da roça onde era plantado milho, arroz, mandioca, etc e no nosso quintal, muitas frutas. Lembro com saudades dos anos que vivi no sítio. Quando eu era pequena, com a idade de 5 ou 6 anos, vivia andando de velocípede no quintal da minha casa. Só parava quando a minha mãe me chamava para tomar as refeições ou por outros motivos. Na idade escolar, íamos para a escola a pé, junto com as nossas primas que moravam perto de nós. Todas as meninas usavam um laço de fita branca no cabelo. Todas bem uniformizadas. Na escola, a disciplina era bem rigorosa. Sinto saudades das minhas professoras. Relembro também como ficávamos felizes quando se aproximava o Natal. Nas vésperas, cada um de nós, punha capim dentro de um sapato e o colocava atrás da porta. No dia de Natal, bem cedo íamos ver o nosso presente. Que alegria! Outros momentos felizes da minha infância era quando eu brincava de fazer comidinha debaixo das árvores. Tinha um fogãozinho, panelinhas, etc. Gostava também de brincar de boneca, de escolinha, de amarelinha e outras brincadeiras. Minhas irmãs brincavam comigo e, às vezes, eram as minhas primas ou coleguinhas que vinham de Guaraci com seus pais. Muitas vezes, íamos brincar na lagoa, mas tomávamos cuidado por causa do jacaré. De longe, o avistávamos tomando sol

e quando entrava na água, saíamos correndo de medo. Os meus irmãos também brincavam muito. Jogavam futebol, pega-pega, estilingue, corrida, salto à distância e altura, pião e muitas outras brincadeiras. Com alegria, posso dizer que tivemos uma infância feliz. Lembro-me também, com emoção, das procissões que fazíamos quando éramos crianças. Quando o sol era muito quente e não chovia, ao meio dia, íamos descalços, pisando na areia quente, rezando o Pai Nosso e Ave Maria, levando uma garrafinha de água para jogar numa cruz que ficava perto de um barranco. Na adolescência, tínhamos as nossas obrigações. Quando chegávamos da escola ou nas férias, os meninos ajudavam o meu pai em tudo que ele precisasse e nós, meninas, ajudávamos a nossa mãe. Cada semana, uma realizava uma obrigação. Às vezes era arrumar a casa ou lavar a roupa e passar, etc. A água era tirada do poço e era sacrificado, tanto para lavar a roupa como para lavar a louça, etc. E para passar a roupa? Usava o ferro de brasa. Era difícil, muito sacrificado, mas conseguíamos e fazíamos tudo com alegria. Nas horas vagas eu gostava muito de bordar. Terminava um trabalho e eu já começava outro. À noite, tínhamos o costume de rezar o terço, de joelhos. Éramos muito devotos de Nossa Senhora Aparecida. Aos domingos, levantávamos cedo e íamos participar da Missa, às 7h00, na Igreja do Senhor Bom Jesus, em Guaraci. Foi nesta Igreja que fizemos a 1ª. Comunhão e fomos crismados. Nunca faltávamos à nenhuma cerimônia da Igreja. Gostávamos também de passear e íamos todos juntos. Aos sábados, à noite, íamos ao cinema. Gostávamos de assistir os seriados e aos filmes. De vez em quando, passava um filme de freira, só que no final, ela saía da Congregação. Quando chegava um circo ou parque de diversões, nós setembro | outubro| novembro e dezembro 2019


Entrevista íamos no domingo à noite. Todos nós, nos divertíamos muito. Um certo dia, meu pai mostrou o desejo de mudarmos para São José do Rio Preto. De início, alugou uma casa e lá fomos nós. Depois de algum tempo, minha irmã continuou os estudos e eu, no ano seguinte, iniciei o Curso de Admissão que era obrigatório para entrar no Ginásio. Graças a Deus, depois de um ano de estudo, passei no exame e, no ano seguinte, iniciei a 5ª. série, numa Escola Estadual. Meu pai comprou uma casa no bairro Bela Vista, não muito longe da Igreja Nossa Senhora Aparecida e da minha Escola. Fizemos amizade com algumas jovens, nossas vizinhas e saíamos sempre juntas para irmos à Igreja ou para algum passeio. Foi um tempo maravilhoso. Todos nós estudávamos e alguns dos meus irmãos trabalhavam. Eu e minhas amigas fazíamos parte do coral e íamos ensaiar, todas as vezes que éramos solicitadas. Era costume na época, cantar a ladainha após o terço. Tudo corria muito bem na nossa família. Em dezembro, no final do ano, meu pai nos deu a notícia: Vamos voltar para Guaraci. Imagino como o meu pai devia sentir saudades do sítio onde era tão acostumado e não se adaptou na cidade. Sentimos muito ter que deixar tudo, mas era preciso obedecer. Recomeçamos tudo de novo. Depois das férias, continuamos os estudos na cidade de Olímpia, que fica próxima de Guaraci. Todos os dias íamos no ônibus escolar que passava perto do nosso sítio. Em casa, sobrava pouco tempo para ajudar os nossos pais, nos afazeres diários. Na Igreja, a minha irmã e eu, entramos no grupo das Filhas de Maria. Em todas as Cerimônias festivas, usávamos roupa branca e , na cintura, uma fita larga de cor azul. Era um grupo bem organizado, com reuniões mensais. Com alegria, a minha família voltou aos costumes de outrora. Às vezes, por algum 54 | Em Família

motivo, meus pais não podiam ir em alguma festa, nós, os maiores íamos sozinhos. Da nossa casa até Guaraci, passávamos ao lado do cemitério. Na volta, tudo escuro, passávamos bem depressa e em silêncio. Ao ouvir algum barulho, corríamos de medo. Hoje, quando volto em Guaraci, para uns dias de férias com a minha família, e passo perto do cemitério lembro das nossas aventuras do passado.

2 - Como conheceu as Irmãs Salesianas? Lembra-se de alguma de modo especial ?

Quando eu estava cursando o segundo. ano do Curso Normal, no final do ano, uma das minhas amigas me disse que iria fazer o terceiro Normal num Colégio de Irmãs, em Bebedouro, para aprender Catequese e depois transmitir aos seus alunos. Achei a idéia ótima e eu disse que gostaria, também, de fazer o mesmo. Acredito que, neste momento, Deus começou a me chamar. Quando cheguei em casa, falei sobre o assunto e, no dia seguinte fui a Barretos para ver se conseguiria uma vaga no Colégio das Irmãs. Toquei a campainha e uma Irmã abriu a porta para me atender. Perguntei-lhe sobre a possibilidade de uma vaga no 3º. ano do Curso Normal e ela respondeu-me que a classe já estava completa, mas que eu voltasse no dia seguinte. Fui para a casa de minha tia que ficava bem perto do Colégio. No dia seguinte. lá estava eu no Colégio novamente. A mesma Irmã me atendeu e, com um sorriso, me disse que tinha conseguido uma vaga para mim. Fiquei muito feliz. No ano seguinte fui morar na casa da minha tia e estudar no Colégio. Aos sábados, eu viajava para Guaraci e só retornava no domingo. Aos poucos, fui conhecendo a vida das Irmãs. Um dia, a Diretora, Irmã Odette Cesar, me chamou para conversar. Fez várias perguntas e, no final,


Entrevista

perguntou: alguma vez você pensou em ser Irmã? Eu disse que não. Ela me emprestou um livrinho de Dom Bosco e me disse que, depois era para conversar com ela, sobre o assunto. Um certo dia fui entregar-lhe o livrinho de volta e ela me fez a mesma pergunta. Eu respondi que estava pensando sobre o assunto. Aos poucos, fui conhecendo as Irmãs. Todas elas eram muito atenciosas e simpáticas. Eu observava muito a Irmã Maria Aparecida Franco. Era minha professora no período da manhã e, à tarde, dava aula para as crianças do primário. Gostava muito de conversar com ela. Eu me sentia feliz por estar estudando no Colégio das Irmãs Salesianas. No final do ano, conversando com Irmã Odette, demonstrei-lhe o desejo de ser Irmã. No dia de Pentecostes senti uma força muito grande dentro do meu coração e eu falava muito para as pessoas sobre a importância do Espírito Santo nas nossas vidas. Até hoje, eu me lembro do momento em que eu estava saindo

da minha casa para ir a Guaraci, quando vi uma estrada longa no alto e ouvi a voz forte de Deus me chamando. Senti naquele momento a força do Espírito Santo. Continuo lembrando o momento do meu chamado e sinto que Deus continua me chamando para algo novo. Por isso, todos os dias ao me levantar, eu me coloco à disposição de Deus, com alegria e muito amor. Depois da minha Formatura, no querido e saudoso Colégio de Barretos, voltei a morar no sítio, junto à minha família. No ano seguinte, comecei a exercer a minha profissão de professora, como substituta na Escola Estadual. Gostava de chegar um pouco mais cedo na escola e reunia as crianças para falar de Deus. Os anos se passaram e eu fui perdendo aos poucos, o meu contato com as Irmãs, mas a voz de Deus continuava me chamando. Muitas vezes eu pensava: não vou ser Irmã, não quero e continuava a minha vida de jovem junto às setembro | outubro| novembro e dezembro 2019


Entrevista

minhas amigas. Em janeiro, completei 24 anos de idade. Não havia decidido nada, apesar de sentir a voz de Deus me chamando. De repente, a minha vida mudou. Recebi uma carta de Ir. Odette Cezar dizendo que, se eu não chegasse no Colégio até o dia 11 de julho, não poderia entrar mais. De imediato, tomei a decisão. Comuniquei aos meus pais e eles, apesar de não estarem muito de acordo, deram o seu sim. No dia seguinte, fui ao Colégio para falar sobre a minha decisão e saber o que eu deveria levar. Exatamente, no dia 11 de julho cheguei ao Colégio. No dia seguinte viajamos de trem para São Paulo. As Irmãs iriam iniciar o Retiro.

de Santa Inês. Fui muito bem recebida e achava tudo muito lindo. Eram muitas as Aspirantes. As Irmãs sempre nos ajudavam e tivemos um bom tempo de formação e de muita oração. Lembro-me, com carinho, de todas as Irmãs, pois estavam sempre no meio de nós. O que dizer das Irmãs de hábito, brincando no recreio, após o jantar? E a Capela do Colégio de Santa Inês? Maravilhosa! Ao olhar para a imagem de Nossa Senhora Auxiliadora, me consagrei a Ela. Não podia voltar atrás, pois já havia dado o meu sim à Deus. Só tenho que agradecer a Deus pelo meu tempo de Aspirantado passado no Colégio de Santa Inês. Depois do Aspirantado, fomos para a cidade de Araras, iniciar o Postulado. A nossa Assistente 3 - Quais são suas lembranças do era a Ir. Maria do Carmo Braz. Excelente tempo de formação? (aspirantado, educadora. Eram muitas as Postulantes. postulado, noviciado). Tínhamos aula de formação, de Catequese, momentos de estudo e outros trabalhos. A Fiz o Aspirantado em São Paulo, no Colégio Irmã Maria do Carmo dava aula no primeiro ano 56 | Em Família


Entrevista primário. Quando, por algum motivo ela não podia ir, eu a substituía. De vez em quando, saíamos para passear; era muito divertido. A nossa turma era muito alegre. O Postulado foi um tempo rico de aprendizado e de muitas orações. Vencendo o prazo do Postulado, fomos fazer o Noviciado em São Paulo, no bairro Ipiranga. Fomos muito bem recebidas pela Diretora e pela Mestra. Tínhamos várias aulas, sendo assim, tínhamos que estudar bastante. Éramos muito fervorosas. Tínhamos também muitos serviços a realizar, durante o dia, e éramos sempre acompanhadas pela nossa querida e saudosa Ir. Rosetta. Finalmente, no dia 24 de janeiro de 1963, fizemos a nossa profissão religiosa. Fiquei muito feliz quando vi meus pais na Igreja, assistindo a minha profissão.

Gosto muito também do que dizia Santa Tereza de Calcutá: “Não devemos permitir que alguém saia da nossa presença sem se sentir melhor e mais feliz”. É importante também saber que, cabe a nós e aos pais, que somos educadores, dar às crianças e aos jovens, uma educação integral, para que sejam pessoas de respeito, de boa educação e 4- Há quantos anos, a senhora é Filha de Maria Auxiliadora e em quais que cumpram seus deveres na família, na escola e na Comunidades morou? sociedade. Os anos passaram rápido e eu já completei 56 anos como Filha de Maria Auxiliadora. Só tenho que agradecer a Deus por todas as maravilhas acontecidas na minha vida. Sinto saudades de todas as Casas por onde passei e de todas as amizades conquistadas. Tudo está guardado, com carinho, no meu coração. No meu primeiro ano de Vida Religiosa fui para o Estado de Santa Catarina. Morei em Rio do Sul e depois em Campos Novos. Voltando para o Estado de São Paulo, fui morar em Batatais , depois em Itapevi, em Araras e de lá, voltei para Itapevi onde estou até hoje.

Dom Bosco, o nosso fundador, dizia: “Não basta amar os jovens, é preciso que eles se sintam amados”. Por isso, as crianças, os/as jovens, as pessoas adultas e todos que se aproximarem de nós, se sintam acolhidos e amados. Gosto muito também do que dizia Santa Tereza de Calcutá: “Não devemos permitir que alguém saia da nossa presença sem se sentir melhor e mais feliz”. É importante também saber que, cabe a nós e aos pais, que somos educadores, dar às crianças e aos jovens, uma educação integral, para que sejam pessoas de respeito, 5 - O que é ser uma Educadora de boa educação e que cumpram seus deveres Salesiana? na família, na escola e na sociedade. Nas nossas Educadora Salesiana é aquela que trabalha orações, peçamos ao Espírito Santo que nos com amor, com carinho, paciência. e humildade. ilumine sempre. setembro | outubro| novembro e dezembro 2019


Entrevista 6- Há alguns anos, a Senhora está inserida na Obra Social Recanto da Cruz Grande, fale-nos um pouco dessa Obra e de sua missão entre as crianças, adolescentes, jovens e famílias de Itapevi. Há 56 anos atrás, a Obra Social Recanto da Cruz Grande estava sendo fundada.Quantas pessoas unidas e corajosas deram o primeiro passo.Quanto sacrifício, mas não se deixaram abater. Ano por ano, as idéias foram surgindo, os alunos aumentando e as primeiras Irmãs, cada vez mais animadas e confiantes em Nossa Senhora Auxiliadora.

58 | Em Família

Hoje, quem chega ao Recanto, pode constatar o quanto cresceu. Temos a Escola Ir. Jécia Pinheiro que atende crianças do 1º. ao 5º. ano. Para os alunos do 3º ao 5º ano da nossa Escola e de outras escolas próximas, cujas mães trabalham, o Projeto “Crescendo em Cidadania”, onde aprendem muitas coisas nas várias oficinas que temos. Atualmente, estamos com 140 alunos em 2 períodos. Iniciamos, neste ano, o Curso “Inspire Jovem”, em parceria com o Instituto “Cacau Show”, que acolhe 120 adolescentes e jovens, em dois períodos, preparando-os para o mercado de trabalho, como jovens aprendizes. Atualmente estão sob os nossos cuidados, as crianças, os adolescentes e jovens da “Casa Lar”, em Itapevi. Ao todo são 60. Está sendo uma nova experiência para nós. O Recanto da Cruz Grande fica no bairro Monte Serrat, na estrada “Cruz Grande”, onde o progresso da cidade está chegando com seus desafios. Que Nossa Senhora Auxiliadora alcance de Deus, muitas graças para todos nós. Sempre gostei muito de morar aqui. Na primeira vez em que fui transferida para cá, fiquei 13 anos. Muitos foram os meus alunos, pois eu lecionava nos dois períodos. O mesmo acontecia com as demais Irmãs. Ficávamos o dia inteiro na Escola. Só íamos à residência durante os intervalos. Depois de algum tempo, Ir. Guilhermina Moura contratou uma jovem para lecionar no Recanto. Ela morava conosco e, no final da semana, ia para sua casa, em São Paulo. Lembro-me da Ir. Guilhermina que sempre estava atenta a fazer o melhor para as Irmãs e para o Recanto. Ir. Alice Goulart sempre a acompanhava com o seu jeito alegre e disponível. Aos sábados, após o almoço, tínhamos o Oratório. Vinham muitos jovens, crianças e suas famílias. À tarde, todos se reuniam e, depois de uma boa orientação, iam para o salão onde era celebrada a Santa


Entrevista

Missa. Foi um tempo muito bom para as famílias e para as Irmãs. Hoje, frequentamos a Igreja do nosso bairro, mas as famílias não, por causa da distância. Daqui, do Recanto, fui morar em Araras. Foram anos maravilhosos. Fiz muitas amizades e senti muitas saudades ao sair de lá. Novamente, fui transferida para Itapevi e já estou comemorando os meus 32 anos vividos aqui. Só tenho que agradecer a Deus por estar neste lugar maravilhoso. Relembro os meus grupos de oração com adultos, jovens e crianças, numa Capelinha à beira da estrada Cruz Grande. Fazíamos reflexões do Evangelho, rezávamos, e depois, íamos à Missa. Muitos outros movimentos foram realizados aí. Na Semana Santa, rezávamos a Via-Sacra pelas estradas do nosso bairro, com a participação de muitas pessoas, outras vezes, eram os terços em família. No Natal, tinha até Papai Noel para a distribuição dos brinquedos para as crianças e até presentes para os jovens e

adultos. O tempo foi passando, muitos trabalhos e novas perspectivas surgindo. As famílias pobres ao nosso redor aumentaram e muitos são os desempregados. São pessoas simples e humildes. Muitos dos seus filhos estudam aqui na nossa escola. A minha maior alegria é quando me encontro com eles, principalmente com as crianças. Peço a Deus que me ajude a ter, cada vez mais, um coração misericordioso. Que eu possa distribuir amor, carinho e ser solidária para com todos. Peço a Nossa Senhora Auxiliadora que caminhe comigo, Ela que sempre marcou presença na minha vida.

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Registro

I Seminário Interamericano e Caribenho de Educomunicação das FMA Por Noviças: Adriana Soares Dantas – BMT e Tatiane Cristina das Graças - BBH

Realizou-se nos dias 2 a 6 de setembro de 2019, no Instituto Salesiano Pio XI, Alto da Lapa, São Paulo, o I Seminário Interamericano e Caribenho de Educomunicação do Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora. O encontro aconteceu em terras brasileiras e contou com a presença especial da Conselheira Geral, Ir. Maria Helena Moreira, responsável pelo âmbito da comunicação do Instituto das FMA, e de Irmãs, leigos, noviças e palestrantes que a, partir do tema, “Educomunicação Força Profética do Sistema Preventivo” abordaram assuntos referentes aos novos meios de comunicação e a ação educativa neste novo contexto. Tendo em vista a sociedade, em constante evolução, onde, a cada dia, novos termos são incorporados ao vocabulário e novas tecnologias são 60 | Em Família


Registro disponibilizadas às pessoas, faz-se necessário a “Educomunicação e um Novo Mundo compreender o impacto destas mudanças na para a formação Integral das Pessoas”. No vida dos jovens que são os interlocutores da encerramento, contamos com a presença do nossa ação educativa.

Dr. Ismar de Oliveira Soares que abordou o

Na abertura, Ir. Maria Helena expressou tema “Educomunicação: compromisso para a que todo tempo traz belezas misturadas transformação social”. com desafios. É próprio do DNA do carisma

Para nós noviças do Noviciado Inspetorial

salesiano viver de milagres, crer e contar Nossa Senhora das Graças de São Paulo, com possibilidades, partir rumo a horizontes, participar do encontro foi uma oportunidade de transformar o presente, dar esperança ao aprofundar o carisma salesiano, sob a ótica da futuro! Assim habitamos a contemporaneidade educomunicação e perceber a responsabilidade que não é só “uma categoria temporal. É uma que temos enquanto educadoras, de nos relação complexa com o próprio tempo para educar e educar os jovens para o uso dos uma leitura profunda do cenário social, político, meios tecnológicos. Enquanto educadorasreligioso, institucional, educativo, cultural em comunicadoras temos a responsabilidade de que se vive. O homem contemporâneo é aquele produzir conteúdos formativos, visto que, no que, mesmo percebendo o escuro do presente, cenário atual, encontra-se muita informação e é capaz de compreender e apreender a luz que pouca formação. Durante estes dias, formamos vislumbra, é capaz de interpretar o próprio uma grande comunidade, em torno da mesa tempo, colocando-se em relação ao passado, da Palavra e da Eucaristia, onde fizemos a continuando a tecer a história transformando experiência do espírito de família e da alegria Kronos, tempo da finitude em Kairós, tempo da salesiana que nos convocam e nos enviam salvação, sempre abertos ás surpresas de Deus”. aos jovens, interlocutores primeiros, da nossa Dra Letícia Silva apresentou o tema; “Revolução missão. 4.0 e sua influência sobre a Educação”, P. Gildásio Mendes, Ph.D, discursou sobre “O Sistema Preventivo de Dom Bosco e a Neurociência – Pressupostos Para um diálogo com as Novas Abordagens

da

Contemporaneidade”,

Dr

José Ignacio Aguaded Gómez aludiu sobre setembro | outubro| novembro e dezembro 2019


Registro

Curso de Formação para as Neo-ecônomas De 4 a 23 de novembro de 2019, em

Criou-se um clima sereno e de grande

Roma, na Casa Geral das Filhas de Maria aplicação,

favorecido

também

pelo

Auxiliadora, foi realizado o Curso de acolhimento por parte da Comunidade Formação para as Neo-ecônomas, com 28 da Casa Geral (RCG) e da Comunidade participantes vindas de várias Inspetorias Sagrado Coração da Inspetoria S.João do mundo, que estudaram diversos Bosco (IRO). temas da economia. Dezenove FMA´s e duas colaboradoras leigas se uniram ao

Alguns dos temas tratados foram: como

grupo, nos últimos cinco dias, para um conjugar vida e pobreza e espírito de aprofundamento sobre a Plataforma de empresa; elementos de direito canônico colaboração. 62 | Em Família

e do direito civil; Órgãos eclesiásticos e


Registro outras formas legais de organização; rigor

A competência profissional exige

da contabilidade e proteção de ativos; estudo e monitoramento das várias investimentos e sustentabilidade; gestão situações. e vida religiosa; leigos e carisma; o cimento, nós e a ecologia; responsabilidade de

O conhecimento hoje também se

proteção à criança e representação legal; faz tendo dados seguros, objetivos e trabalhar para o desenvolvimento e o atualizados à disposição. caminho da solidariedade. Um espírito empreendedor é um A volta das participantes às Inspetorias caminho para a sustentabilidade das de origem está cheia de desafios, mas

obras e para o futuro dos jovens.

também enriquecida por princípios orientadores compartilhados:

A complexidade da realidade econômica hoje exige a formação de

A pessoa e não o dinheiro está no centro da economia.

uma equipe de trabalho coordenada pela Ecônoma Inspetorial: nada mais sozinha.

A economia está a serviço da missão. O bom êxito deste curso se tornou O Instituto FMA é uma grande

possível, graças a todas as pessoas que

família, animada por um mesmo

ofereceram pontos de reflexão e de

espírito, no serviço aos jovens,

formação atuais e bem documentados

especialmente àqueles que precisam

e por toda participante que aderiu com

de mais cuidados. Isto exige uma visão

entusiasmo e positividade.

justa também dos bens. Fonte: Site do Instituto

O relacionamento é sustentáculo para a confiança, fundamento da economia. setembro | outubro| novembro e dezembro 2019


Registro

II Seminário de Espiritualidade Salesiana Por Noviças: Ir. Denize Salvador (BPA) / Luana Oliveira (BSP)

Neste ano, marcado pela abertura do triênio, em preparação aos 150 anos de fundação do Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora e iluminado pelo convite da busca pela santidade do cotidiano, proposta pelo Reitor Mor da Família Salesiana, foi realizado no dia 24 de novembro de 2019, na Comunidade do Noviciado Interinspetorial Nossa Senhora das Graças/SP, o II Seminário de Espiritualidade Salesiana, com o tema: “Na Trilha de Madre Mazzarello, Rumo a Santidade!”. Estavam presentes a Inspetora, Ir. Helena Gesser, Irmãs da Inspetoria Santa 64 | Em Família

Catarina de Sena e catequistas da Paróquia Dom Bosco, do Alto da Lapa. Após a acolhida, realizada pela Mestra de Noviças, Ir. Rosangela Clemente. Ir. Vani Alves Moreira (BBH), que durante o ano ministrou as aulas de Itinerário Espiritual de Madre Mazzarello e incentivou a realização desse frutuoso evento, promovendo o aprendizado e o protagonismo na formação das Noviças, fez a abertura com uma oração baseada nas palavras de Madre Mazzarello que nos convida a reacender a chama do amor de Deus em nossos corações, dando,


Registro em seguida, a abertura para as apresentações dos temas. O aprofundamento do Itinerário espiritual de Madre Mazzarello é uma oportunidade de mergulhar e descobrir uma Mulher sábia e de grande profundidade espiritual, que nos incentiva na busca alegre da santidade no cotidiano de nossas vidas e é testemunho de uma consagração fecunda que visa o encontro com Cristo, em vista do bem dos jovens, especialmente dos mais pobres. E, foi com esse desejo de mergulhar na vida de Mazzarello, tornando-a conhecida e amada por todos, que as noviças desenvolveram e apresentaram os temas escolhidos, de forma profunda, dinâmica e criativa, despertando em quem assistia, o desejo de descobrir muito mais sobre nossa cofundadora. Na parte da manhã, as apresentações começaram a partir do tema desenvolvido por Adriana Soares (BMT): “O Dom da intuição em Santa Maria Domenica Mazzarello”. Adriana expressou, em sua colocação, esse dom tão forte em Mazzarello que era caracterizado pela sua vida de oração e pelo caráter familiar. Com seu olhar contemplativo, Mazzarello era testemunha de uma mulher intuitiva, que tocava o coração das Irmãs e das meninas por meio da aproximação. A base de sua intuição estava na escuta de Deus que se dá por meio da experiência de um silêncio orante, que gera uma sensibilidade profunda para distinguir os fatos com sabedoria. Adriana apresentou situações em que Mazzarello foi intuitiva com relação às meninas, de modo especial, com relação a Catarina Daghero que, posteriormente, assumiu a direção do Instituto das FMA por 43 anos.

Nos intervalos foram apresentadas breves cenas do teatro em italiano L’ora di Mornese albori di Santità, evidenciando a vida de Maín e o despertar para o projeto de Deus em sua vida; a sua missão como membro do grupo de jovens Filhas de Maria Imaculada e posteriormente como Filha de Maria Auxiliadora. “Madre Mazzarello: uma vida de oração”, foi o tema abordado por Justiane Pinheiro (BMT), que ressaltando a profundidade da vida interior de Mazzarello, recordou suas atitudes de abertura a Deus e sua capacidade de fazer da experiência da paternidade humana, uma experiência de fé. Foi no seio familiar que Maín aprendeu a pensar em um Deus ‘pessoa’, e a contemplá-lo no outro e na criação. A vida de oração de Main, além de ser regada pela família, foi um fruto maduro de uma vivência paroquial e do acompanhamento de Pe. Pestarino, que lhe ensinou a cultivar uma relação amorosa de intimidade com Deus, como experimentou o próprio Jesus. Apresentando o trabalho e a oração de Madre Mazzarello como FMA, Justiane nos levou a refletir a vida de oração das Filhas de Maria Auxiliadora no hoje, e a importância desse cultivo interior que nos fortalece na missão. A noviça Natalina Melo (BMT) apresentou o tema: “A alegria: Profunda Vivência de Mazzarello”. Com alguns conceitos sobre a alegria, Natalina iniciou sua colocação, aprofundando a experiência de Mazzarello que resultava em uma alegria, sinal de um coração que ama muito a Deus e que revelava a presença do Divino. Mazzarello era decidida e, ao escolher Deus para setembro | outubro| novembro e dezembro 2019


Registro sempre, impressiona o grupo das FMI, sendo testemunho de uma vida alegre na saúde e na doença, o que expressa com humildade, sua força criativa. Como FMA, Mazzarello ajudou a primeira comunidade de Mornese a se fortalecer e, mesmo diante das dificuldades, dos problemas e da pobreza, reinava ali, a mais perfeita alegria. Natalina nos levou a refletir sobre o nosso testemunho de FMA na vivência da santa alegria, firmando a necessidade de revelar aos jovens o segredo da alegria que existe na vida salesiana. Complementando, a noviça Olívia Matas (BRE), apresentou o tema: “Maín: uma vida Eucarística”, mostrando a relação e a curiosidade de Main, desde menina, pelas ações de Deus, pelo que ele fazia e o seu anseio pelo encontro com Ele. A sua Primeira Eucaristia marca, por toda sua vida, o profundo encontro com o seu amado. Seu olhar revelava a alegria do encontro com Cristo Eucarístico e em seu coração inflamava o desejo de torna-Lo conhecido e amado. Olívia destacou as características da verdadeira piedade que brotava do coração de Mazzarello, e que a levava a ser atenta e disponível. A Eucaristia era o centro unificador de sua vida, sua fonte de alegria, de simplicidade e de humildade, fonte que a levou a tornar-se uma com Deus, nutrindo um profundo amor por Ele. Olívia encerrou sua apresentação com um lindo mantra, composto por ela e que fala da experiência da vida eucarística de Main.

que após apresentar o conceito e as etapas do processo de maturação no itinerário de crescimento da pessoa humana, por meio do conto das “Três Línguas”, relacionou o processo vivido pelo protagonista da história com a vida de Mazzarello. Bruna destacou o amadurecimento que Maín experimentou desde menina, tendo que se trabalhar interiormente para florescer e saber lidar com seus sentimentos e emoções e com os dos outros. Neste processo, Mazzarello não caminhou sozinha, contou com a ajuda dos pais e de Pe. Pestarino, sendo capaz de fazer a experiência profunda de maturação humano e espiritual que era necessária diante da missão que o Senhor lhe confiaria. O momento de sua Primeira Eucaristia, da Crisma e da Consagração Religiosa foram experiências numinosas que fizeram dela uma mulher sábia e com maturidade para enfrentar as dificuldades emergentes da vida cotidiana. Fechando a parte da manhã, foi aberto um momento de ressonância, onde os presentes parabenizaram as apresentações e ressaltaram pontos principais de cada colocação, fixando a importância do estudo da vida de nossa Cofundadora.

Após o almoço, dando continuidade às exposições dos temas, a Noviça Diana Aguiar (BMT), apresentou: “A vivência do Mistério Pascal de Madre Mazzarello”, trazendo a centralidade do mistério pascal para a vida de Mazzarello, destacando os fatos marcantes que permitiram uma contínua experiência de “O Processo de Maturação Humano e morte e ressurreição. A contaminação pelo Espiritual de Madre Mazzarello” foi o tema Tifo, o exílio à Valponasca e a transferência trabalho pela Noviça Bruna Lôbo (BBH), de Mornese para Nizza Monferrato, 66 | Em Família


Registro simbolizam essa passagem de Mazzarello, que com abertura para o novo, vivenciou com profundidade as consequências de responder ao projeto de Deus que age na história. O cultivo da espiritualidade pascal de Madre Mazzarello se dá a partir da sua abertura à ação do Espírito Santo, e com sabedoria abraça e compreende o mistério da cruz pelo qual deve passar. Diante do fato em que Mazzarello ensina à suas filhas que precisamos estar unidas a Cristo em sua cruz, Diana nos questionou em como estamos ensinando os jovens a olhar os símbolos cristãos e recordarem de Cristo. Mazzarello atingiu a plenitude da caridade a partir da experiência de morte de si mesma, com austeridade de vida e uma doação integral. Tinha convicção de que a morte era a hora de Deus, por isso recomenda que seja um momento vivido com coragem e confiança. Mazzarello nos ensina com seu testemunho que o Paraíso é estar com Jesus, em comunhão com Deus. Escuta, discernimento e liberdade são virtudes que nos remetem à vida de Mazzarello, por isso, com o tema: “Obediência: caminho de escuta, discernimento e liberdade”, a noviça Denise Alencar (BMT), desenvolveu os conceitos de obediência em sintonia com a liberdade interior que precisa ter um coração para ser obediente. Diante das virtudes apresentadas, Denise nos mostrou que se configuram dentro de um horizonte cultural e quando modificadas, sua prática passa por uma hesitação tendo consequências negativas e positivas. Após apresentar essas consequências, nos levou a ver a obediência como um sublime exercício de liberdade vivido por Madre Mazzarello.

Recordando os artigos das Constituições que abordam o voto de obediência e com o salmo 119, refletiu a humildade obediente de Mazzarello que, desde menina foi obediente, por isso, testemunha essa obediência nos momentos de provações como no Tifo, no exilio à Valponasca, quando foi eleita Superiora Geral e na transferência para Nizza. A vida de Mazzarello nos fala de uma humildade constante que a levou a sair de si, atingindo um silêncio habitado pela Trindade que a fortaleceu nos momentos de discernimento com o dom da sabedoria, e com seu testemunho atraía as irmãs, despertando o desejo de viverem a obediência como uma resposta de amor. Denise encerrou sua colocação com uma bela poesia autoral, baseada no testemunho de amor à obediência que ela pode colher nas Filhas de Maria Auxiliadora e nos Salesianos de Dom Bosco que conheceu. Madre Mazzarello, assim como cada um de nós, também vivenciou momentos de crises e dificuldades que foram superadas por sua força resiliente. E foi com o tema: “A Autotranscendência de Madre Mazzarello”, que a noviça Luana Oliveira (BSP), desenvolveu o sentido da crise como um elemento fundamental no caminho de crescimento humano-espiritual. Com base na Cronistória apresentou fatos da vida de Mazzarello em que identificamos momentos de crises e apresentou também as características de uma pessoa resiliente, verificadas nos fatos da vida de Madre Mazzarello. Porém, para Luana, dizer que Mazzarello foi uma mulher resiliente é muito pouco, por isso destacou a autotranscedência de Mazzarello como um passo além da resiliência. Utilizando de uma setembro | outubro| novembro e dezembro 2019


Registro

Mágica mostrou a diferença entre resiliência e autotranscedência. Em seguida, trazendo a imagem da argila que se deixa trabalhar sob a influência dos quatro elementos da natureza, destacou em uma analogia, a ação da Santíssima Trindade e de Maria como a Terra, o Fogo, o Ar e a Água, no caminho de fortalecimento de Mazzarello para se tornar uma mulher autotranscendente. Luana finalizou com a importância de ser, no hoje da história, Filhas de Maria Auxiliadora que testemunham a autotranscedência, conduzindo nossos interlocutores a este mesmo processo. Precisamos ser tutoras de resiliência para os jovens de hoje, compreende-los e ajuda-los no encontro pessoal com o Transcendente que forma e transforma. “A comunicação em Mazzarello como meio de Evangelização”, foi o tema apresentado por Giselle Ferreira (BRE). Para 68 | Em Família

Mazzarello, a família foi sua base, seus pais tiveram grande influência em seu modo de ser e agir. No seio de uma família humilde e cristã, aprendeu a se comunicar com Deus e com as pessoas de forma simples, mas profunda. Com Pe. Pestarino aprende a construir um Projeto de Vida que teve como centro Jesus Cristo, por isso, na relação com a comunidade paroquial, aprendeu a comunicar os valores do Evangelho aos seus conterrâneos. Para Mazzarello, a escrita foi o principal e mais importante meio de comunicação. Com muita dedicação e força de vontade, já como Superiora, aprende a escrever, com o firme objetivo de transmitir os valores e o amor pelas irmãs, principalmente para as missionárias distantes. Utilizava da comunicação como uma forma de cultivo do carisma em suas filhas, deixando o legado de uma comunicação evangelizadora eficaz. Comunicar é saber tocar o coração,


Registro com essa motivação, Giselle nos incentivou Novamente, foi aberto um momento de a ser como Mazzarello, comunicadoras e ressonância sobre os temas da tarde, onde evangelizadoras eficazes e eficientes no os presentes parabenizaram as colocações cotidiano. e incentivaram a dar continuidade na exposição dos temas, para que mais irmãs Na canonização de Madre Mazzarello, o e leigos possam conhecer e amar nossa Papa Pio XII disse que, ao canoniza-la estava querida Madre Mazzarello. canonizando toda a primeira comunidade Para as noviças, este seminário de de Mornese, e foi assim que a Noviça Tatiane culminância das aulas de Itinerário Espiritual Cristina (BBH) apresentou o tema: “A Primeira de Madre Mazzarello foi uma experiência Comunidade Vive a Santidade”. Trazendo renovadora: o conceito de santidade na filosofia e na espiritualidade, Tatiane destacou a santidade como uma fonte de graça, um dom do Espírito, e em Mornese, encontramos uma comunidade dócil e aberta à ação do Espírito Participar do 2° Seminário foi uma Santo, permitindo que Ele conduzisse suas vidas. A santidade salesiana não é intimista, é experiência muito rica e gratificante. É vivenciada na humildade e na simplicidade, sempre uma alegria poder aprofundar como ensina Madre Mazzarello: “Faça com algo sobre os nossos fundadores, neste liberdade tudo que a caridade exige.” Assim, ano sobre Madre Mazzarello. Sou grata a primeira comunidade era composta por esta oportunidade de crescimento, de irmãs abertas a Deus e inspirada pelo tanto em conteúdo como em poder rezar espírito alegre de Mazzarello. Emília Mosca a vida de Maria Domenica Mazzarello, foi um dos exemplos de santidade silenciosa foi como ter tido um diálogo com ela e e humilde, que passou quase todo o tempo por tudo isso sou grata a Deus”. Adriana de seu postulado ensinando às irmãs, Soares (BMT) postulantes e educandas, mas sempre “Foi uma rica experiência participar do arrumava um tempinho para fazer os ofícios para ajudar na renda da comunidade. II Seminário de Espiritualidade e poder Inspiradas no testemunho da primeira aprofundar um pouco mais a vida de comunidade, Tatiane nos mostrou que para Madre Mazzarello. Pude crescer na certeza vivenciar a santidade hoje é necessária a de que a sua simplicidade, humildade, firme decisão de viver com perseverança, profundidade e união com Deus a fez paciência, mansidão, alegria, estar em santa na pequenez do cotidiano. Mais que oração constante e viver em comunidade. um estudo pessoal é gratificante também Com essas características de uma pessoa termos a oportunidade de partilharmos que busca a santidade e inspiradas a viver as pesquisas feitas e juntas vivermos um o espírito de Mornese, encerraram-se as bonito momento de família.” Bruna Lôbo apresentações. (BBH)

Depoimenos

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Registro “Aprofundar sobre a vida de nossa querida Madre Domenica Mazzarello é sempre uma graça. Poder compartilhar aquilo que temos como conhecimento às Irmãs, é graça maior ainda. Embora no momento tenha ocorrido nervosismo, é gratificante, pois temos o privilégio de aprofundar pelo estudo a vida desta grande Santa e nossa Cofundadora. Esta experiência de forma muito intensa deixa marcas, marcas de que uma vida doada pelas outras vidas, vale a pena, mesmo hoje onde o “mundo” opta pelo contrário e que a santidade é possível através de nossas ações realizadas com amor.” Denise Alencar (BMT)

ela é para nós no jeito de como comunicar e evangelizar com eficácia segundo o carisma salesiano.” Giselle Ferreira (BRE)

“Acredito que o tempo do estudo de aprofundamento do itinerário espiritual foi muito valioso e gratificante. Retomar a raiz da nossa espiritualidade feminina, o “ espírito de Mornese”, foi ocasião de saborear as virtudes da caridade, fé, oração, simplicidade e entusiasmo diante da vida e da missão que Deus nos confia. O testemunho de vida de Mazzarello é muito tocante e ensina muito no caminho de vida espiritual. Por isso, participar do seminário foi uma oportunidade de adentrar mais no conhecimento da vivência espiritual de Madre Mazzarello.” Diana Aguiar (BMT)

“O aprofundamento no Itinerário de Madre Mazzarello foi de grande contribuição para meu caminho. Estudar e desenvolver a Autotranscendência de Madre mazarello, me levou a perceber os desígnios de Deus que age na nossa história e nos fortalece de acordo com a missão que nos é confiada. A vida de Main é inspiradora, e me desperta à ser testemunha credível aos jovens de hoje.” Luana Oliveira (BSP)

“O Seminário de Espiritualidade Salesiana foi um momento significativo e valioso sobre nossa querida Madre Mazzarello, no qual pude estudar o seu estilo de comunicação-evangelizadora e perceber o grande modelo e inspiração que 70 | Em Família

“Neste segundo seminário, pude sentir toda a história de Mazzarello, até o seu último momento de vida, que me motivou e despertou um entusiasmo de viver, de doar a minha vida dedicando- a juventude, assim como Madre Mazzarello. Por isso, agradeço por tudo aquilo que a vida de Main nos ensinou e continua ensinando, gratidão pela sua vida doada e por cada FMA, que dão seu testemunho de vida no hoje da história.” Justiane Ferreira (BMT)

“Fiquei muito feliz ao apresentar o tema, “Alegria: profunda vivência em Mazzarello”. Foi uma oportunidade de adentrar um pouco mais na vida da cofundadora Maria Domenica Mazzarello, de modo todo particular na virtude da alegria. O trabalho me ajudou a cultivar intensamente aquela alegria permanente que vem do interior do ser. E o que


Registro realmente brota do coração é o sentimento de gratidão a Deus: as noviças e as irmãs que nos acompanharam mais de perto no processo. Madre Mazzarello foi mulher de uma profundidade de coração, que amou verdadeiramente a Deus. Na qual hoje é vivenciado a herança espiritual deixada por ela a da “santa alegria” de uma forma criativa junto aos jovens.” Natalina Melo (BMT)

desenvolvimento dos trabalhos, à mestra Ir. Rosângela Maria Clemente, à Ir. Célia Regina Pinto, membros da comunidade formadora do noviciado. O agradecimento se estendeu à presença da Provincial, Ir. Helena Gesser, às irmãs de diversas comunidades, à Comunidade Santa Teresinha que gentilmente ofereceu as refeições ao longo do dia, às leigas que vieram da Paróquia São João Bosco.

“O Seminário de Espiritualidade Salesiana, foi para mim uma experiência rica. Poder aprofundar e falar um pouco dos valores espirituais de Madre Mazzarello é verdadeiramente, mergulhar nas riquezas que o nosso Instituto adquiriu como fontes preciosas. De fato, é muito gratificante e valoroso cada expressão e conhecimentos vivenciados. Olívia Matas (BRE)

Irmã Helena Gesser, complementando os agradecimentos, destacou que, para nós, este domingo da festa de Cristo Rei e recordação mensal de Maria Auxiliadora, foi vivido como uma grande graça, um dia de Kairós, por poder escutar, conhecer e partilhar tantas coisas bonitas sobre Mazzarello. Ir. Helena encerrou, desejando que tudo que foi colhido se torne vida para cada uma, para todas nós e que ao contemplar a figura de Madre Mazzarello, possamos ser hoje, para os jovens a presença de Mazzarello. E, como compromisso, ressaltou que o maior presente que podemos apresentar à nossa cofundadora é o nosso compromisso de um testemunho de vida autêntico. E assim, bendiremos o Senhor que nos cumula de tantas graças e que em nossos corações, reacenda sempre a chama do amor de Deus com tão belos testemunhos de santidade que encontramos em nossa Família Salesiana.

“Participar do Seminário de Espiritualidade Salesiana, levou-me a revisitar a história do Instituto e assegurar que nas origens do mesmo, existiram mulheres de coração grande e generoso, desapegadas de tudo o que não conduzia a Deus e a busca da santidade. E que, portanto, é possível vivermos e buscarmos também hoje a santidade, desde que como a primeira comunidade, vivamos sob o influxo do Espírito e tenhamos Cristo, como a perda principal do nosso edifício, físico e espiritual”. Tatiane Cristina das Graças (BBH) Antes de finalizar foi feito o momento de agradecimento à Ir. Vani Moreira, pela coordenação do Seminário, à Ir. Denize Salvador pelo acompanhamento no

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Festival da Juventude Salesiana Festival da Juventude Salesiana reúne milhares de pessoas em São Paulo No último sábado de outubro, dia 26, foi realizada mais uma edição do FEST Festival da Juventude Salesiana. O evento reuniu as expressões juvenis presentes nas Obras Salesianas de todo o Estado de São Paulo: Escolas, Paróquias, Obras Sociais, Universidades, Oratórios, entre outros. O tema deste ano foi “A Santidade é também para você”, seguindo a proposta da Estreia do Reitor-Mor Pe. Ángel Artime, sucessor de Dom Bosco. O dia de festa teve início com a Celebração Eucarística, seguida pelas mais variadas atividades propostas e concluído com uma grande Vigília da juventude, em que foram recordados os santos e beatos jovens salesianos/as, 72 | Em Família

exemplos inspiradores para todos. No FEST, os jovens tiveram a oportunidade de conhecer e participar de diversas oficinas e apresentações: Bandas, Teatro, Música, Dança, Esportes e Artes. Além da juventude, também participaram, enriquecendo o evento, a nossa Inspetora FMA, Irmã Helena Gesser, Irmã Alaíde Deretti, Conselheira Geral para as Missões das FMA, o Inspetor dos Salesianos, Pe. Justo Piccinini, Pe. Roque Luiz Sibioni e Irmã Cláudia Correia Ribeiro, responsáveis pela animação da Pastoral Juvenil nas Inspetorias SBD e FMA. Foi um lindo momento de partilha da vida e oportunidade de encontro entre todos aqueles que compartilham do Carisma de Madre Mazzarello e Dom Bosco.


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IV Oficina de treinamento do Projeto de Capacitação para Escritórios de Planejamento e Desenvolvimento – OPDs – e Centros de Formação Profissional Salesiana na América Latina Por Ir. Ana Luiza Medeiros e Ir. Celene Couto

Nos dias 21 a 25 de outubro de 2019, em Cochabamba, Bolívia, foi realizado a IV Oficina de treinamento do Projeto de Capacitação para Escritórios de Planejamento e Desenvolvimento – OPDs – e Centros de Formação Profissional Salesiana na América Latina. Participaram 74 | Em Família

da

Oficina

representantes, gestores leigos, sacerdotes e Irmãs de vinte três Províncias Salesianas - dezoito dos SDB e quatro das FMA – de dezessete países: República Dominicana, Argentina, Bolívia, Brasil, El Salvador, Costa Rica, Nicarágua, Honduras, Chile, Colômbia, Equador , Haiti, México, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela. Também houve a oitenta participação de representantes das ONG


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Don Bosco Mondo, Alemanha; VIA Don Bosco, Bélgica; Missões Salesianas, EUA; VIS, Itália, e Juventude e Desenvolvimento, JyD. A Inspetoria Santa Catarina de Sena foi representada por Rosemeire Gomes Silva, leiga Gestora do Polo São Paulo de Ação Social das FMA, Irmã Ana Luiza da Silva Medeiros e Irmã Celene Couto Rodrigues.

No dia 21, o grupo foi enriquecido com a apresentação de algumas experiências que estão obtendo resultados positivos: Energias Renováveis: Desenvolvimento Curricular por Competências pelo facilitador Carlos Ormachea, GIZ, que expôs as iniciativas, realizadas bem próximo ao local onde estávamos hospedados, que estão mudando as condições de vida dos Durante os trabalhos, os OPDs habitantes da montanha, em Cochabamba. desenvolveram conteúdos dos eixos transversais no campo da Cooperação No dia seguinte, fomos divididos para o Desenvolvimento, especificamente em dois grupos para a apresentação e em Meio Ambiente, Incidência Política e reflexão sobre: o Posicionamento da Igreja, Direitos Humanos. Por outro lado, as CFPs problema ambiental e o posicionamento continuaram o Desenvolvimento Curricular salesiano diante dos problemas ambientais, por Competência, com foco na Avaliação e assessorado por Juan Pablo, COM; *visão no Apoio Social e Trabalhista dos jovens. geral das atividades e Movimentos desenvolvidos nas diferentes CFP’S da setembro | outubro| novembro e dezembro 2019


Registro América. As apresentações culminaram com a riqueza das partilhas de experiências que podem ser contextualizadas nas nossas diversas realidades. O grupo da Colômbia iniciou os trabalhos do dia 25 com a reflexão sobre a Abordagem Psicosocial. A partir das vivências dos núcleos de seu País, a psicóloga Lorena Flores Rodríguez, CAM expôs conteúdos práticos e testemunhos de casos concretos. Após a colocação, forma iniciados os trabalhos em grupos para aplicação das ferramentas

ensinadas. Os núcleos que possuíam algumas experiências significativas partilharamnas, na plenária, contribuindo para complementar o trabalho e contribuir com novas ideias para a missão diária nas diferentes realidades. Hernando Mendivelso, COB, socializou, com o grupo, o modo como acompanha o Curso Profissionalizante, a partir do questionamento: Como estamos fazendo as avaliações? Referindo-se as atividades oferecidas aos educandos, aos educadores e também à Equipe Gestora. Suas falas foram permeadas de dinâmicas, fazendo assim com que todos facilmente assimilassem os conteúdos e se autoanalisassem.. A Oficina foi concluída com a elaboração de ‘memes’ de como nossos educandos reagem mediante o termo “avaliação ou prova”. O trabalho foi apresentado entre os grupos e o mais criativo premiado. É importante destacar que, no quarto dia, o grupo da OPDs trabalhou a temática dos Direitos Humanos: experiência no campo salesiano, assessorado por Rosemeire Gomes Silva de nossa Inspetoria. A IV Oficina foi momento de crescimento, partilha das experiências de nossas frentes de trabalho, com a finalidade de nos ajudar para melhor responder aos desafios diários

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Entre as principais conclusões da IV Oficina estão: o compromisso de consolidar as Redes de Trabalho; a colaboração entre nossos OPDs e PCPs, além da articulação com outras Redes Salesianas locais e regionais. Destacou-se, também, a necessidade de fortalecimento no campo da conscientização, da mobilização social e da defesa social e política, função estipulada no documento das “Linhas gerais do modelo e das funções dos Escritórios provinciais de Planejamento e Desenvolvimento no mundo salesiano”.

da ONG Don Bosco Mondo, da Alemanha, para formular uma proposta de projeto abrangente sobre o assunto no nível regional. Comprometemo-nos a socializar efetivamente os resultados desta reunião com nossos Inspetores, Inspetoras e seus Conselhos para que estejam conscientes do processo que iniciamos, com seu apoio, e que com nossas contribuições e experiências continuarão se consolidando.

Neste encontro, foi consolidado nosso interesse em trabalhar e fortalecer a conscientização e a corresponsabilidade em relação às questões ambientais com todos os atores envolvidos em nossas comunidades educacionais pastorais. Para isso, contamos e contaremos com o apoio setembro | outubro| novembro e dezembro 2019


É Festa

Celebrando a vida - Aniversariantes JANEIRO

03. Dorcelina de Fátima Rampi 04. Márcia Mucci 05. Luzia Maria de Morais (Miziara) 06. Maria Auxiliadora Magalhães 08. Maria Luiza Miranda – (Cons. Geral – Família Salesiana) 14.Yvonne Reungoat- Madre Geral 16. Iolanda Pilotto 19. Isaura Chereguini 21. Teresinha Vicente 22. Dulce Mirian Hirata – Maria das Graças Rodrigues 27. Diomira Marcolin – Maria Lucília Gomes Fernandes Relva Adriana Soares Dantas (nov.) 29. Maria Auxiliadora Barros FEVEREIRO

02. Elza Aparecida Rodrigues 03. Ana Alves de Jesus Marinho 04. Heloisa Monaco do Nascimento 05. Margarida Santos 09. Teresa Crist. Pisani Domiciano Maria de Lourdes Fidelis dos Santos 11. Maria Tereza de Jesus Rodrigues Ramos 15. Violeta Horvath

22. Maria Nair de Souza 25. M. Eunice Wolff Valentina Augusto – M. L. M.Becker 27. Asilé Elcy Fachini MARÇO

02. Helena Maria César Marcondes 05. Olga Leme 06. Sílvia Boullosa – Cons. Visitadora 07. Olympia Dias 10. Sílvia Irene Pela 14. Maria Martha de Lima 17. Zilá Maria de Godói 18. Maria José Aparecida dos Santos 19. Maria do Carmo de Souza 20. Denise Menezes Alencar (nov.) 22. Anna Aparecida da Conceição Monteiro 24. Martha Mansur 25. Ap. Bernardete V. Florentino 27. Olga de Sá 30. Giuseppina Ronchi Maria Diana Azevedo Aguiar (nov.) 31. Maria Isabel Salles

LEMBRANÇA + 27 de setembro, Irmã Cecília Nascimento, da Casa Maria Auxiliadora de Lorena + 13 de novembro, avó avó de Ir. Ana Luiza Medeiros Mirandina + 07 de dezembro, Neuza Aparecida Bedaque, sobrinha da Ir. Maria das Graças Alves + 10 de dezembro, Edith Florentino, cunhada de Ir. Aparecida Bernardete Florentino + 16 de dezembro, Sra. Laudira Ausilia de Souza, Mãe de Irmã Maria das Graças de Souza, Inspetora de Angola

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PROGRAME-SE

Receita de Ano Novo Carlos Drummond de Andrade

Para você ganhar belíssimo Ano Novo cor do arco-íris, ou da cor da sua paz, Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido (mal vivido talvez ou sem sentido) para você ganhar um ano não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, mas novo nas sementinhas do vir-a-ser; novo até no coração das coisas menos percebidas (a começar pelo seu interior) novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota, mas com ele se come, se passeia, se ama, se compreende, se trabalha, você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita, não precisa expedir nem receber mensagens (planta recebe mensagens? Não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta. Não precisa chorar arrependido pelas besteiras consumadas nem parvamente acreditar que por decreto de esperança a partir de janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações, liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver. Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.

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