Design thinking e gestão de projetos

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DESIGN THINKING E GESTÃO DE PROJETOS

RUBEM DE SANTANA FILHO1 MARIVALDO DA SILVA OLIVEIRA2

RESUMO

Este artigo visa colocar as principais distinções entre Design thinking e gestão de projetos e verificar de que forma estas diferenças podem se complementar através do intercâmbio de informações entre as fases do projeto, segundo o padrão estipulado pelo PMBOK. Quer se ressaltar também a importância da aplicação de ferramentas inovadoras para explorar novos mercados, como é o caso do design thinking, adicionado à metodologia de gestão de projetos para uma maior eficácia do processo de desenvolvimento de novos produtos ou serviços. Palavras-chave: design, thinking, pmbok, projetos, gestão.

1 INTRODUÇÃO Este artigo está assim subdividido: num primeiro momento será apresentado um comparativo entre gestão de projetos e design thinking, com o objetivo de responder a uma importante indagação: Como as práticas do design thinking contribuem para ampliar o processo de resolução de problemas em gestão de projetos? Os problemas relatados pelas empresas são de diversas ordens, desde a questões relacionadas a gestão de pessoas ao desenvolvimento de novos serviços ou produtos. Num

segundo

momento,

os

procedimentos

metodológicos

serão

apresentados com os principais autores escolhidos para fundamentar o trabalho, demonstrando como o design thinking tem despontado como uma nova forma de pensar (alinhada com a nova geração de jovens), e que tem foco no ser humano, além de trazer um questionamento ao modelo tradicional das organizações que 1

Graduado em Design pela UFBA, BA; Especialista em Educação Profissional pelo Senac-SP, Especialista em Design de Produto UNEB-BA, Mestrando em Educação UNEB-BA. 2

Graduado em Medicina Veterinária pelo UniCesumar de Maringá, PR; Especialista em Clínica e Cirurgia de Grandes Animais pela UniCesumar; pós-graduado em Docência no Ensino Superior pelo EAD UniCesumar; mestrando em Gestão do Conhecimento nas Organizações pela UniCesumar.


buscam apenas resultados sem enfatizar a realização pessoal. Empresas como a Apple, utilizam a metodologia como uma das principais ferramentas no processo de gestão da empresa, principalmente na resolução de diversos tipos de problemas, garantindo um suporte para a geração de ideias inovadoras. O método também foi utilizado por empresas de grande porte como a IBM, que investe continuamente em treinamento da sua equipe nesta metodologia. Atualmente,

grandes

consultorias

tradicionais

vêm

adquirindo

empresas

especializadas na área. Nas palavras de Stuber (hsm, 2016): "A ascensão do design thinking se deve ao fato de muitas empresas almejarem a inovação para criar valor (resultados financeiros e bem-estar das pessoas), mas não saberem ao certo como produzi-la. Como o método científico, o DT parte de hipóteses e faz pesquisas, observações e experimentos". Aqui no Brasil temos o exemplo do computador ‘Faces’, da Positivo. Ele foi fabricado em 2008 e demonstra bem esta visão focado no ser humano baseado em pesquisas e observações do meio em que vive: O fabricante constatou que habitantes das periferias de São Paulo e Rio de Janeiro costumavam deixar o computador na sala, compondo a decoração. Além disso, muitos não tinham carro, o que dificultava o transporte do equipamento em caso de reparo. A partir dessas constatações a Positivo criou a linha ‘Faces’, cujos computadores tinham alça e frente acrílica que pode ser personalizada com diferentes imagens. A boa aceitação do produto se comprovou no sucesso de vendas dessa linha. (FURUSHO, 2012)

A visão do design será colocada aqui como um implemento ao fazer prático da gestão de projetos, pois, como foi citado nos exemplos acima, podemos ter sua aplicação voltada para uma grande diversidade de áreas desde a criação de produtos (objetos) ou serviços, embora, na visão do design, todo o produto se resume a síntese de um serviço que será prestado ao usuário, seja través de uma interface de interação humana ou através do próprio produto como objeto de uso. Encerraremos nosso artigo com as considerações finais, oferecendo sugestões para aplicação da visão do design em gestão de projetos, não para modificar a metodologia, mais sim criar a possibilidade de um incremento a todo esse processo, melhorando seu desempenho e a relação com os Stakeholder, pois esta é uma metodologia específica para resolução criativa de problemas, ou seja, pode ser utilizado em várias as fases do processo de gestão de projetos.


2 DIFERENÇAS ENTRE AS DUAS METODOLOGIAS E ADAPTAÇÕES NECESSÁRIAS PARA SUA APLICAÇÃO. A abordagem serve como uma proposta de aproximação entre estas duas visões de processo de gestão, e um questionamento de como podemos agregar mais valor ao tradicional modo de gestão de projetos, segundo o PMBOK, para obtermos melhores resultados na resolução de problemas e a aplicação de ideias inovadoras. Sobre design thinking, começaremos por definição introdutória de Stuber (Revista hsm, 2016): "Esse método para gerar inovação diferencia-se por lidar bem com problemas complexos, que não são bem definidos e, em geral, envolvem pessoas; primeiro, ele define cada problema com empatia por quem o sofre e só então oferece soluções.". O método tornou-se bastante conhecido através do empresário David Kelley, que fundou a empresa IDEO, e seu colega Tim Brown, atual CEO da mesma. Começaremos pela definição de design thinking, que, se traduzido ao pé da letra significa o "o modo de pensar do design". Esta forma de pensar foi definida a partir das observações de um modo de trabalho específico do design que é: "multifásico e não linear - chamado fuzzy front end - que permite interações e aprendizados constantes. Isso faz com que o designer esteja sempre experimentando novos caminhos e aberto a novas alternativas: o erro gera aprendizados que o ajudam a traçar direções alternativas e identificar oportunidades para a inovação."( VIANNA

2009) A distinção maior está na presença do pensamento abdutivo que interrompe a noção continua de crenças e hábitos enraizados para, consequentemente, criar propostas inovadoras que são colocadas pelo designer através do questionamento contínuo e da criação de experiências que possam quebrar com o paradigma vigente dentro de uma empresa, nas palavras de Gonzalez apud Pierci: O pensamento criativo parece oscilar entre crenças bem estabelecidas e dúvidas ou surpresas que as abalam, iniciando o processo de origem de novas crenças, o qual possibilitará a substituição das crenças anteriores. O processo de interrupção e abandono de uma crença não ocorre apenas por acaso, mas exige que alguma experiência se contraponha às expectativas: “a interrupção de uma crença pode apenas ocorrer com o surgimento de uma nova experiência” (CP 5.524).


Desta forma a visão mercadológica e o desenvolvimento tecnológico podem se beneficiar das propostas inovadoras do design thinking com o objetivo de dar "soluções que gerem novos significados e que estimulem os diversos aspectos (cognitivo, emocional e sensorial) envolvidos na experiência humana."(VIANNA, 2009) O principal entrave na aplicação do método está em mudar a cultura da empresa para inclusão do processo criativo como escreveu Kruk apud Nussbaum (2011): “Para parecer interessante à cultura dos processos de negócios, ela foi despida da bagunça, dos conflitos, falhas, emoções, do andar em círculos que é parte e parcela do processo criativo. Em algumas companhias, CEOs e gerentes aceitaram essa bagunça junto com o processo e a inovação aconteceu. Em muitas outras, não”.

Desta forma a aplicação do método requer um tempo de assimilação para a mudança do processo e sua inclusão desde o início do processo e não apenas em uma única fase, como é o caso do momento do desenvolvimento de produtos. Requer dos gestores do projeto, mais atenção e maior liderança para manter o grupo coeso para que não seja dado impressão de desorganização como citado por Nussbaum. O esquema abaixo (Fig.01) foi baseado na metodologia utilizada por Eduardo Freire que propõe a utilização não só do design thinking como também a complementação por outras metodologias, como por exemplo, Project Model Canvas. O esquema da Fig. 1, faz uma comparação entre os dois métodos e dá uma visão geral da sequência do método de design thinking e gestão de projetos. Em design thinking os retornos as diversas fases podem ser feitas de forma mais flexível enquanto que em gestão de projetos, apesar de ser um processo ágil, tem uma característica linear pois o retorno a uma fase anterior do projeto pode significar uma mudança das restrições de escopo, custo e cronograma principalmente se se tratar de uma organização funcional e altamente hierarquizada, em contraponto com organizações direcionadas para o projeto ou "horizontais"(SANTOS, 2014).


Fig.01 - Esquema comparativo design thinking e gestão de projetos. https://tecnundesign.wordpress.com/2011/04/08/

A interface entre os dois métodos pode ser feita através da flexibilização e redesenho de processos antes pensados de forma fragmentada. Em entrevista para a revista HSM, Jeanne Liedtka, professora da Darden School of Business, coloca três exemplos de aplicação de design thinking nas empresa, um dos exemplos está relacionado a produção de produto para o publico da base da pirâmide social ou de renda mais baixa, onde ferramentas comumente utilizadas pelo design como pesquisa etnográfica e "mapeamento da jornada do usuário, ajudam a tomar decisões melhores ao lidar com demandas diferentes das que os gestores conhecem"(STUBER, 2016). Um segundo exemplo, está em soluções que dependam da modificação do comportamento das pessoas para geração de um produto mais sustentável, como por exemplo, o redesenho de processos para o preenchimento de vagas em uma empresa que foi definido pelos próprios stakeholders: "o candidato à vaga, o executivo que contrata o profissional e o setor

de recursos humanos, que coordena o processo"(STUBER, 2016). No caso do método sugerido pelo PMBOK(2008, p.11) para gestão de projetos, o guia define o projeto como sendo um esforço temporário empreendido para criar um produto, serviço ou resultado exclusivo. O método ou a forma como este "esforço" será aplicado é que irá demonstrar se é eficiente ou não, e a aplicação de uma metodologia específica irá depender da área ou empresa em que é aplicado o método, ou seja, enquanto que em escritórios de design, o design thinking é comumente utilizado, na gestão de projetos o foco maior é dado à uma administração ágil do processo. Os dois métodos poderiam ser complementares


como sugerido por Miolo: a "gestão eficiente dos projetos e a capacidade de inovar são dois fatores centrais à sobrevivência das organizações que buscam liderança em seus segmentos”. (MIOLO, 2015) É importante levar em consideração que o gerenciamento de projetos não gere um processo de burocratização ou engessamento, mas sim um esforço para estruturar os elementos constituintes dos projetos em fases coerentes, segundo especificado pelo PMBOK como sugestão para lidar eficazmente com os eventos: "Deste modo, entende-se que a delimitação de prazos e datas target seja natural e inerente ao processo industrial, raramente não sendo uma restrição. A recomendação aqui é planejar as datas levando em consideração o favorecimento ou, no pior dos casos, o não detrimento de todas as etapas do desenvolvimento. Evitar a formação de ambientes insalubres de pressão e cobrança acima dos necessários e fomentar a criação de um ambiente salutar e estimulante é uma possibilidade viável em qualquer organização." (MIOLO, 2015)

Outra questão a ser tratada é da departamentalização dos setores, enquanto que seria mais interessante um processo de integração do processo gerando um maior nível de comunicação entre as áreas. Enfim é importante considerar que cada empresa tem a sua peculiaridade e que tanto o design thinking quanto a gestão de projetos tem o seu arcabouço de informações necessárias a um conjunto de ações eficientes(dentro do status quo de cada empresa), e que deve ser reconhecido por suas lideranças, gerando um processo de evolução contínua do produto ou serviço fornecido pela empresa. 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 

Comparar e descrever as duas metodologias e verificar as semelhanças;

Verificar como o design thinking pode ser utilizado como principal ferramenta para a geração de ideias criativas e inovadoras dentro de gestão de projetos. A metodologia aplicada seguirá o padrão de documentação indireta: utilização

de dados coletados por outras pessoas obtidos por intermédio de pesquisa documental (fontes primárias) e pesquisa bibliográfica (fontes secundárias). (LAKATOS, p43). Esta análise documental, será realizada a partir do levantamento da comparação entre as duas metodologias utilizando a bibliografia existente nas duas áreas ou os principais autores. Como exemplo, poderia ser feito um quadro


comparativo com os comentários sobre o que poderia ser aproveitado do design thinking e em gestão de projetos. Em gestão de projetos, a depender da dimensão do projeto, o líder deve estar prepara para fornecer soluções rápidas e criativas, e se possível trazer para equipe uma resposta inovadora para a criação de novos produtos ou serviços, esta característica de inovação e criatividade poderia ser verificada através da análise de dados ou artigos com informações comparativas entre as duas metodologias. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Devido a globalização as empresas passaram por processo de adaptação radical, e para que não sofressem tanto com a evolução dos processos tecnológicos, nada mais coerente do que envolver-se com novas formas de abordagem, como é o caso do design thinking com uma aplicação voltada especificamente para a gestão de projetos na fase de desenvolvimento de produto ou na construção de uma cultura colaborativa de equipes. O que se quer colocar aqui é que a implementação destas ideias, até a sua efetivação no mercado é um processo empático com foco no cliente, que é um reflexo da ação de "colocar o ser humano no centro do processo, tanto para entender o usuário final quanto para envolver os especialistas como colaboradores constantes"(VIANNA 2009) e reforça a ideia principal de Kezner sobre o processo de gestão não ser apenas uma ferramenta: "....é baseada na minha crença de que gerenciamento de projeto é muito mais comportamental do que quantitativo, já que projetos são gerenciados por pessoas e não por ferramentas." Por coseguinte, em momentos diferentes podem ser utilizados abordagens diversas, ou seja, o design thinking pode oferecer ferramentas que podem ser utilizadas tanto em métodos tradicionais de gerenciamento assim como nos mais inovadores.


5 REFERÊNCIAS

FREIRE, Eduardo. Design thinking: Gestão de Projetos de Inovação. Disponível em:< http://www.frameworkgp.com.br/> Acesso em: 23 de Abril de 2016. FURUSHO, Elisa, Design Thinking nas empresas estimula inovação, espírito de equipe e motivação. Disponível em: <http://www.amcham.com.br/gestaoempresarial/noticias/design-thinking-nas-empresas-estimula-a-inovacao-espirito-deequipe-e-motivacao> Acesso em: 04 de Abril de 2016. GONZALEZ, Maria Eunice Quilici. Raciociocínio Abdutivo, Criatividade e

Auto-organização. UNESP-Marília. Cognitio, São Paulo, nº 3, nov. 2002, p. 22-31. GUIA PMBOK®. UM GUIA DO CONHECIMENTO EM GERENCIAMENTO DE PROJETOS — Quinta Edição-2013 KERZNER, Harold. Gerenciamento de Projetos, Uma abordagem sistêmica para planejamento, programação e controle. Editora: Blucher, 2011. KRUK, Maryana. Thinking? E onde está o design? Publicado em Janeiro 17, 2014 no Mestrado de Design de Comunicação e Novos Media da FBAUL. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 1991. MIOLO, Robinson Aurélio. Aplicação dos processos de design thinking em metodologias de gerenciamento de projeto. Disponível em:< http://www.arcos.org.br/artigos/aplicacao-dos-processos-de-design-thinking-emmetodologias-de-gerenciamento-de-projeto/> Acesso em: 24 de Maio de 2015. SANTOS, Daniel Eduardo dos. Metodologia para Elaboração de Projetos. Publicação revista e atualizada, Maringá - PR, 2014. STUBER , Edgard Charles. Design thinking. hsm-manegement | edição 115, Março de 2016. VIANNA, Maurício et al. Design thinking: Inovação em Negócios. Rio de Janeiro: MJV, 2009.


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