Arquitetura Religiosa e o Espaço de Culto Cristão

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ARQUITETURA E URBANISMO

RUAN VENTURINI

Igreja da Santíssima Trindade

ARQUITETURA RELIGIOSA E O ESPAÇO DE CULTO CRISTÃO

VILA VELHA/ES - BRASIL 2014


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RUAN VENTURINI

ARQUITETURA RELIGIOSA E O ESPAÇO DE CULTO CRISTÃO

Projeto de pesquisa apresentado à disciplina “Trabalho de Conclusão de Curso” do curso de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Vila Velha.

VILA VELHA 2014


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RUAN VENTURINI

ARQUITETURA RELIGIOSA E O ESPAÇO DE CULTO CRISTÃO

Projeto de pesquisa apresentado à disciplina “Trabalho de Conclusão de Curso” do curso de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Vila Velha.

COMISSÃO EXAMINADORA

________________________________________ Prof. Ms. Arquiteto Clóvis Aquino de F. Cunha Universidade Vila Velha Orientador

________________________________________ Profª. Ms. Arquiteta Priscilla Silva Loureiro Universidade Vila Velha Co-orientador

________________________________________ Arquiteta Raquel Scheneider Universidade Federal do Espírito Santo 3º Membro Convidado


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AGRADECIMENTOS

Primeiramente quero agradecer ao DEUS TRINO, o grande “ARQUITETO DO UNIVERSO”.

Agradeço aos PAIS sempre presentes, apoiadores e estimulantes. Agradeço à MADRINHA e aos AMIGOS que com muita paciência, sobreviveram aos 5 anos de uma “limitada convivência”, devido as diversas “noitadas de projetos” (risos).

Sou grato ao GRUPO DE ORAÇÃO UNIVERSITÁRIO DA UVV, ao MINISTÉRIO UNIVERSIDADES RENOVADAS, ao movimento RENOVAÇÃO CARISMÁTICA e a IGREJA CATÓLICA pelo valor que agregaram a minha vida acadêmica. Posso afirmar que a motivação desta pesquisa veio a partir da convivência nestas comunidades cristãs, e também pelo desejo de unir a razão a minha fé.

Agradeço aos AMIGOS ACADÊMICOS, agora parceiros profissionais pela união neste tempo.

Agradeço aos DOCENTES que partilharam de sua ciência, experiência profissional e por terem nos permitido adentrar em suas vidas.

Um obrigado ao professor orientador CLÓVIS, por perceber em uma simples partilha a possibilidade de um belo estudo científico, e pela estreita relação orientador X orientando.

Obrigado a professora co-orientadora PRISCILLA, pelas aulas de Teoria e História da Arquitetura que sempre nos levavam a uma “viagem” da sala de aula para o mundo! Aulas estas que iluminaram esta pesquisa.

Obrigado a arquiteta Raquel Scheneider pela inspiração a partir de suas obras de arquitetura religiosa.

Obrigado a Universidade Vila Velha, pelo cuidado em proferir com zelo este curso.


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“[...] A Igreja precisa de arquitetos, porque tem necessidade de espaços onde congregar o povo cristão e celebrar os mistérios da salvação. Depois das terríveis destruições da última guerra mundial e com o crescimento das cidades, uma nova geração de arquitetos se amalgamou com as exigências do culto cristão, confirmando a capacidade de inspiração que o tema religioso demonstra ter sobre os critérios arquitetônicos de nosso tempo. De

fato,

não

raro

se

construíram

templos,

que

são

simultaneamente lugares de oração e autênticas obras de arte.” [Carta do Santo João Paulo II aos artistas, 1999]


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RESUMO

A pesquisa consiste em fazer uma sintética análise do ambiente de oração desde os primeiros locais de culto (a.C), com uma rápida compreensão do seu processo evolutivo durante os séculos, passando pelos cenáculos, catacumbas e casas dos primeiros cristãos, apontando a sua principal mudança arquitetônica com o nascimento das primeiras basílicas a partir da liberdade de culto reconhecida por volta do ano 250 d.C.

O estudo indica como deve ser o espaço celebrativo contemporâneo, após o Concílio Vaticano II com seus principais elementos, e apresenta uma proposta de edifício religioso liturgicamente amparado e inserido como Marco Local na Paisagem Cultural da cidade. Palavras Chave: evolução arquitetura religiosa – arquitetura e liturgia - elementos espaço de oração - marco local


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ABSTRACT

The research aims to provide a summary analysis of the prayer room since the earliest places of worship (BC), with a quick understanding of its evolutionary process over the centuries, through the cenacles, catacombs and houses of the first Christians, pointing its main architectural change after the first basilicas, which came from the freedom of worship recognized around the year 250 AD.

The study indicates how the contemporary celebratory space should be after the Vatican II, with its main elements, and proposes a religious building liturgically supported and inserted as landmark in the Cultural Landscape of the city.

Key words: religious architecture evolution - architecture and liturgy - elements prayer space – landmark


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LISTA DE FIGURAS

Figura 01 - Zigurate de UR .................................................................................................. 18 Figura 02 – Acrópole ............................................................................................................. 19 Figura 03- Reconstituição do Templo de Jerusalém ....................................................... 20 Figura 04 - Perspectiva Templo de Jerusalém ................................................................. 20 Figura 05- Mosaico do Templo de Jerusalém, representando a porta do Templo, o altar dos holocaustos, o Sancto Sanctorum e a Arca da Aliança .................................. 20 Figura 06- Croqui esquemático da Sinagoga.................................................................... 21 Figura 07- Ruínas da Sinagoga de Cafarnaum ................................................................ 21 Figura 08 - Planta da Sinagoga de Cafarnaum ................................................................ 21 Figura 09 - Cátedra de Pedro – Basílica São Pedro, Roma ........................................... 22 Figura 10 – Cenáculo ............................................................................................................ 23 Figura 11 Croqui - Planimetria de uma antiga casa romana .......................................... 23 Figura 12 Casa de Quinto Pompeu. ................................................................................... 24 Figura 13 - Perspectiva Isométrica de uma casa romana............................................... 24 Figura 14 Planta da Domus Ecclesiae de Dura Europos. Síria, séc. III. (Revela a existência de espaços distribuídos segundo os usos pastorais..................................... 25 Figura 15 Perspectiva da Domus Ecclesiae de Dura Europos ...................................... 25 Figura 16 Ângulo da Domus Ecclesiae da Dura Europos. Síria, séc. III ...................... 25 Figura 17 - Catacumba de São Calixto, Roma ................................................................. 26 Figura 18-Catacumba de São Sebastião,Roma ............................................................... 26 Figura 19 Catacumba de São Calixto................................................................................. 26 Figura 20 - Maria amamentando o...................................................................................... 26 Figura 21 Basílica Constantiniana do Santo Sepulcro. Corte Leste-Oeste e .............. 27 Figura 22 Basílica do Santo Sepulcro (exterior). A ideia da planta não é só de venerar os espaços sagrados, mas o espaço é ocupado pelo Corpo de Cristo, a Assembleia. .................................................................................................................................................. 27 Figura 23 Basílica do Santo Sepulcro, por fora. ............................................................... 28 Figura 24 Basílica de Santa Maria Maior. Roma, séc. IV. Reconstruída no séc. V. ... 28 Figura 25- Croqui esquemático de Igreja Paleo-cristã .................................................... 28 Figura 26 Esquema Basílica Pagã...................................................................................... 29 Figura 27 Planta da Basílica de Maxênico ........................................................................ 29 Figura 28 Ruínas da Basílica de Maxênico Fonte: Wikipedia, 2013 ............................. 29 Figura 29 Esquema Basílica Cristã..................................................................................... 30 Figura 30 Planta Basílica Vaticana Constantiniana. Século IV ...................................... 30 Figura 31 Perspectiva Basílica Vaticana Constantiniana, Séc. VII. .............................. 30 Figura 32 Basílica Vaticana Constantiniana. Roma, séc. VII ......................................... 31 Figura 33 Imagens superiores: Elevação Frontal e Lateral do Panteão;...................... 32 Figura 34 Interior Panteão ressaltando a Cúpula. ............................................................ 33 Figura 35 Cúpula Panteão ................................................................................................... 33 Figura 36 Pintura do Panteão por Clóvis Aquino. ............................................................ 33 Figura 37 Representação da Cúpula do Panteão. ........................................................... 33 Figura 38 "Caixões" da cúpula aumentam a sensação de monumentalidade. ........... 34 Figura 39 Óculo no alto da Cúpula, representa o Sol. A iluminação interna altera de acordo com o passar do dia................................................................................................. 34


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Figura 40 Croqui Abóboda de Berço .................................................................................. 36 Figura 41 Croqui Abóboda de Aresta. ................................................................................ 36 Figura 42 Croqui Nave Principal Basílica Romana .......................................................... 36 Figura 43 Naves Laterais ..................................................................................................... 36 Figura 44 - Deambulatório basílica românica ................................................................... 37 Figura 45 Capelas Radiantes - Basílica Românica .......................................................... 37 Figura 46 - Abside - Basílica Romana................................................................................ 37 Figura 47 - Transepto Basílica Românica ......................................................................... 37 Figura 48 - Cruzeiro Basílica Românica ............................................................................ 37 Figura 49 Coro - Basílica Românica ................................................................................... 38 Figura 50 - Nártex - Igreja Românica ................................................................................. 38 Figura 51 Planta Baixa em cruz latina da Igreja de Santa Sabina, Roma. Uma das principais igrejas do período românico. ............................................................................. 38 Figura 52 Nave Igreja de Santa Sabina, Roma ................................................................ 39 Figura 53 Nave da Igreja de Santa Sabina, Roma........................................................... 39 Figura 54 Planta Baixa Catedral de Notre Dame, Paris. ................................................. 40 Figura 55 Arco Ogival: Evolução do arco romano............................................................ 40 Figura 56 Abóboda Nervurada ............................................................................................ 40 Figura 57 Vitral Catedral de Notre Dame, Paris. .............................................................. 41 Figura 58 Vitral Basílica St Nazario. ................................................................................... 41 Figura 59 Interior da Catedral de Notre Dame de Paris. Monumentalidade. .............. 41 Figura 60 Planta Baixa Santa Maria Delle Carceri da Sangallo do Arquiteo Giuliano da Sangallo, nota-se simetris, rítimo. ................................................................................. 42 Figura 61 Fachada da Igreja Santa Maria Delle Carceri da Sangallo do Arquiteto Giuliano da Sangallo. ............................................................................................................ 42 Figura 62 Planta Basílica de Santo Andre. ........................................................................ 43 Figura 63 Fachada Frontal Basílica Santo André. Fonte: Sant-andrea-roma, 2009... 43 Figura 64 Corte Basílica Santo Andre, Roma ................................................................... 44 Figura 65 Cúpula Basílica Santo Andre, Roma. Fonte: Wikipedia, 2013 ....................... 44 Figura 66 Interior da Basílica de Santo Andre, Roma: Abóbada de Berço. ................. 44 Figura 67 Planta Baixa ........................................................................................................ 45 Figura 68 Corte da Igreja de San Carlo ............................................................................. 45 Figura 69 Interior da Cúpula San Carlo. ............................................................................ 45 Figura 70 Vista Externa Cúpula San Carlo........................................................................ 45 Figura 71 Fachadas Frontal e Lateral, ............................................................................... 46 Figura 72 Fachada Frontal, .................................................................................................. 46 Figura 73 (A) Basílica de São Pedro, Projeto de Bramante - 1506. .............................. 47 Figura 74 (B)- Projeto para a Basílica de São Pedro, Peruzzi - 1502........................... 47 Figura 75 Corte Cúpula Basílica de São Pedro. ............................................................... 47 Figura 76 Planta Baixa - Cúpula Basílica de São Pedro. ................................................ 47 Figura 77 Interior da Cúpula Central da Basílica de São Pedro. Pintura de Michelângelo. ......................................................................................................................... 48 Figura 78 (C) Basílica de São Pedro, ................................................................................. 48 Figura 79 (D) - Basílica de São Pedro - Michelângelo, 1546. ........................................ 48 Figura 80 Fachada Principal da Basílica de São Pedro após extensão ....................... 49 Figura 81 Aquarela de Clóvis Aquino – ao fundo Basílica de São Pedro, Roma........ 49 Figura 82 Aquarela de Clóvis Aquino - ao fundo Cúpula de São Pedro Vista a partir da ponte Sisto, Roma............................................................................................................ 49


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Figura 83 Pintura de Clóvis Aquino da Basílica de São Pedro a Partir da Praça São Pedro, Roma. ......................................................................................................................... 50 Figura 84 Praça e Basílica São Pedro, Roma .................................................................... 50 Figura 85 Cúpula da Basílica de São Pedro, .................................................................... 50 Figura 86 Praça de São Pedro vista a partir da Cúpula. ................................................. 50 Figura 87 Mais de 100mil fiéis lotam a Praça São Pedro para conhecerem o novo Papa. Vemos a importância da Praça para a Comunidade Cristã. ............................... 51 Figura 88 Papa Francisco na sacada da Basílica de São Pedro, sendo apresentado ao público Católico da Praça e do Mundo, 13/03/2013. .................................................. 51 Figura 89 Planta Baixa Catedral São Paulo, Londres. .................................................... 52 Figura 90 Catedral de São Paulo, Londres. A Cúpula foi inspirada a partir da Cúpula da Basílica de São Pedro, Roma. ....................................................................................... 52 Figura 91 Fachada Principal Catedral São Paulo, Londres............................................ 52 Figura 92 Interior da Catedral de São Paulo, Londres. ................................................... 52 Figura 93 Santo João XXIII convocou o Concílio Vaticano II ........................................... 54 Figura 94 Interior da Basílica de São Pedro durante o Concílio Vaticano II, Roma ... 54 Figura 95 Basílica de São Pedro - Vaticano – Roma local onde aconteceu o Concílio Vaticano II (1962-1965) ........................................................................................................ 54 Figura 96 Catedral de Notre Dame, 1163 Paris ............................................................... 57 Figura 97 Torre da Catedral de São Mateus - São Mateus/ES...................................... 57 Figura 98 Perspectiva Comunidade Nossa Senhora Aparecida, Itaim Paulista -São Paulo SP - Projeto da Arquiteta Regina Céli de Albuquerque Machado ...................... 58 Figura 99 Planta Baixa Comunidade Nossa Senhora Aparecida, Itaim Paulista -São Paulo ........................................................................................................................................ 58 Figura 100 Croqui para a Catedral de Brasília, por Oscar Niemayer. .......................... 58 Figura 101 Croqui para a Catedral de Brasília, por Oscar Niemayer. .......................... 58 Figura 102 - Acesso a Catedral Metropolitana de Brasília pelo Átrio" Subterrâneo” (em desnível). ......................................................................................................................... 59 Figura 103 - Catedral Nossa Senhora Aparecida (Catedral de Brasília). O acesso a nave se dá em desnível, direcionando para um átrio todo escuro. ........................................................... 59 Figura 104 O átrio direciona o fiel a nave central, que é banhada com muita luz natural devido a presença dos vitrais. ................................................................................ 59 Figura 105 Construção da Catedral de Brasília................................................................ 59 Figura 106 Visita a Catedral de Brasília. ........................................................................... 59 Figura 107 Presbitério da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Vila Velha. Projeto da arquiteta Raquel Sheneider. ............................................................................. 60 Figura 108 Altar da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Vila Velha. Projeto da arquiteta Raquel Sheneider. ............................................................................. 61 Figura 109 Ao fundo, cadeira da Presidência e dos Ministros. As peças em granito possuem a .............................................................................................................................. 62 Figura 110 Ambão em granito da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Vila Velha. Projeto da arquiteta Raquel Sheneider. Detalhe para a composição do piso destacando o elemento arquitetônico. ............................................................................... 63 Figura 111 Cruz Processional ao lado da Mesa da Eucaristia, e ao fundo pintura do Cristo Ressuscitado - de Dom Ruberval Monteiro, OSB Doutor em Iconografia Cristã. Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Vila Velha. Projeto da arquiteta Raquel Sheneider. ................................................................................................................. 64 Figura 112 Pia Batismal da Paróquia Nossa..................................................................... 66 Figura 113 Planta Baixa Catedral de São Mateus - São Mateus ES ............................ 67

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Figura 114 - Confessionário da Catedral de São Mateus – São Mateus/ES. .............. 67 Figura 115 Sacrário em Bronze........................................................................................... 69 Figura 116 Capela do Santíssimo da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Vila Velha. ............................................................................................................................... 69 Figura 117 Ao fundo, imagem do Cristo Ressuscitado. Ao lado direito da foto, acima de três castiçais, imagem da padroeira da comunidade. Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Vila Velha. Projeto da arquiteta Raquel Sheneider. ....................... 70 Figura 118 Círio Pascal próximo a fonte batismal. Igreja Paroquial São Pedro e São Paulo, Curitiba, 1994............................................................................................................. 71 Figura 119 Croqui esboçando a relação do “Edifício Igreja" e sua inserção na “Paisagem Cultural”. Fonte: Arquivo Pessoal, 2013 ........................................................ 72 Figura 120 Catedral Metropolitana da Capital Vitória - ES. ............................................ 73 Figura 121 Matriz de São marcos, Nova Venécia. ........................................................... 74 Figura 122 Capela Universidade Vila Velha, Campus Boa Vista. ................................. 74 Figura 123 Capela Fazenda Venezza, SP - Arquiteto Decio Tozzi. .............................. 74 Figura 124 Santuário de Fátima, Portugal. ........................................................................ 75 Figura 125 Basílica Nossa Senhora de Aparecida, SP. Visitada por milhares de fiéis de todo mundo. ...................................................................................................................... 75 Figura 126 Tela de Clóvis Aquino – Convento da Penha, Vila Velha. Fonte: Clovis Aquino,2011 ........................................................................................................................... 76 Figura 127 Tela de Clóvis Aquino - Convento da Penha visto a partir da Prainha, Vila Velha. Vencedor do concurso “Pinta Prainha”, 2011. Fonte: Pinta Prainha, 2011. .... 76 Figura 128 Capela Mor - Mosteiro de São Bento, RJ. Missa do Galo,2009. ............... 76 Figura 129 Mosteiro de São Bento, RJ .............................................................................. 76 Figura 130 Ideia de Marco Local por Kevin Lynch ........................................................... 80 Figura 131 Ópera de Sydney como Marco Local. Fonte:................................................ 80 Figura 132 Catedral de S. Maria del Fiore –Florença, como Marco Local. .................. 80 Figura 133 - Catedral Metropolitana Nossa Senhora da Vitória .................................... 82 Figura 134 Capitania do Espírito Santo. Mapa de autoria de João Teixeira Albernaz, que mostra a Baía de Vitória, sua sede, a Vila Velha e os engenheiros de Azevedo, de Francisco Aguiar e de Leonardo Fróis. Destaque para a Vila da Vitória. ............... 83 Figura 135 Levantamento da Vila da Vitória e da região vizinha, José Antônio Caldas, 1764. Destaque para o posicionamento da edificação religiosa. ................................... 84 Figura 136 - Prospecto da Vila da Vitória. Autoria de José Antônio Caldas, 1767 ..... 84 Figura 137 Em primeiro plano, antiga sede da Assembleia Legistlativa, ao fundo a antiga Matriz no final da década de 1910. ......................................................................... 85 Figura 138 Na Fachada Frontal, inspirada na Catedral alemã de Colônia, destaca-se a volumetria das duas torres e do frontão profusante. .................................................... 86 Figura 139 Vitória, início do século XX, 1910. .................................................................. 86 Figura 140 Área de aterro do Campinho (atual Parque Moscoso). ............................... 86 Figura 141 Mapa dos Aterros ocorridos nas proximidades da Villa Vitória. ................. 87 Figura 142: Aterros do Centro de Vitória. .......................................................................... 87 Figura 143 Traçado do Novo Arrabalde tem uma de suas principais avenidas voltadas para o Convento da Penha. ................................................................................. 87 Figura 144 Aterros e verticalização do Centro de Vitória. ............................................... 88 Figura 145 Edifícios Verticalizados do Centro de Vitória. Destaque para a atual Catedral Metropolitana. ........................................................................................................ 88 Figura 146 Evolução da área de estudo. O processo de verticalização, a mudança de cenário urbano e o desaparecimento da vista da Catedral de Vitória. ......................... 89


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Figura 147 Igreja do Jubileu do ano 2000 ......................................................................... 90 Figura 148: Implantação e entorno Igreja do Jubileu do ano 2000 ............................... 91 Figura 149: Volumetria Igreja do Jubileu do ano 2000 .................................................... 91 Figura 150: Pavimento Subsolo Igreja do Jubileu do ano 2000..................................... 92 Figura 151: Conchas em concreto protendido revestidas em mármore travertino. Fonte: Acervo Pessoal Clóvis Aquino, 2014 ..................................................................... 92 Figura 152 O espaço entre as conchas é vedado com caixilharia. ............................... 92 Figura 153: Pavimento Térreo Igreja do Jubileu do Ano 2000. ...................................... 93 Figura 154 Interior da Igreja do Jubileu. ............................................................................ 93 Figura 155 Interior da Igreja do Jubileu. Os Caixilhos de Vidro levam iluminação natural em abundância para a nave. Fonte: Acervo pessoal Clóvis Aquino, 2014 ..... 93 Figura 156 Presbitério da Igreja do Jubileu. ...................................................................... 94 Figura 157 Altar retangular com linhas curvas - Igreja do Jubileu................................. 94 Figura 158 Banco em madeira Igreja do Jubileu. ............................................................. 94 Figura 159: Interior da Igreja do Jubileu do ano 2000. .................................................... 95 Figura 160: Pavimento Superior Igreja do Jubileu do Ano 2000. .................................. 95 Figura 161: Fachada frontal. Igreja do Jubileu do ano 2000. ......................................... 96 Figura 162 Visão do Entorno da Igreja do Jubileu do ano 2000, a partir da sua Praça. .................................................................................................................................................. 96 Figura 163 Fachada Frontal e em perspectiva da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, Munique, Alemanha. ................................................................................................................ 97 Figura 164 Corte Esquemático da Igreja do Sagrado Coração de Jesus. Volumetria em Caixote. Torre retangular na parte ............................................................................... 98 Figura 165 Fachadas Laterais, durante o dia e a noite. Nota-se a estrutura externa em vidro, e interna em madeira........................................................................................... 98 Figura 166 Volumetria em Caixote de Vidro. A fachada frontal é composta por apenas duas portas inteiriças que se abrem. ................................................................... 99 Figura 167 "Deambulatório entre as estrutura .................................................................. 99 Figura 168 O Altar recebe iluminação difusa, devido ao posicionamento das lamelas de madeiras nas laterais. ................................................................................................... 100 Figura 169 O interior da Igreja segue o modelo tradicional com os fiéis de frente para o altar, longitudinalmente. .................................................................................................. 100 Figura 170 Localização da cidade de Nova Venécia, região noroeste do Espírito Santo. .................................................................................................................................... 102 Figura 171 Brasão da Cidade de Nova Venécia. Na faixa azul, o leão alado representa a religiosidade do povo veneciano. Fonte: Wikipédia, 2013 .................... 102 Figura 172 Macrozoneamento da Cidade de NOva Venécia. ...................................... 103 Figura 173 Zonas de Uso - Macrozona Urbana Nova Venécia com localização do terreno escolhido. ................................................................................................................ 104 Figura 174 Localização Área de Projeto e dimensões terreno .................................... 106 Figura 175 Vista da cidade de Nova Venécia a partir do terreno. ............................... 107 Figura 176 Vista do terreno para a cidade de Nova Venécia. Fonte: Arquivo Pessoal, 2014 ....................................................................................................................................... 107 Figura 177 Vista para a cidade de Nova Venécia, a partir do ponto mais alto do terreno, no cruzamento das ruas Lírio Gadiolli e São Vicente de Paula. ................... 107 Figura 178 Vista técnica ao terreno. ................................................................................. 107 Figura 179 Cruzeiro Existente na Área de Projeto.Fonte: Arquivo Pessoal, 2014 ... 108 Figura 180 Cruzeiro da Área de Projeto e o destaque da Paisagem. Fonte: Arquivo Pessoal, 2013....................................................................................................................... 108


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Figura 181 Cruzeiro e o destaque da Área de Projeto durante o dia; ......................... 108 Figura 182 Cruzeiro e o destaque da Área de Projeto durante a noite; ..................... 108 Figura 183 Vista do Terreno a partir de outro ponto de Nova Venécia. ..................... 108 Figura 184 Perspectiva da Igreja da Santíssima Trindade. .......................................... 110 Figura 185 Perspectiva da Igreja a partir do encontro das ruas ruas Lírio Gadiolli e São Vicente de Paula. ........................................................................................................ 111 Figura 186 Perspectiva da Fachada Posterior. As portas em madeira se abrem para a Praça externa.................................................................................................................... 112 Figura 187 Perspectiva da Fachada Lateral com localização da torre sineira, marcando a entrada do Bloco Administrativo. ................................................................ 113 Figura 188 Simulação da Igreja da Santíssima Trindade como Marco Local na Paisagem Cultural da cidade de Nova Venécia/ES ....................................................... 117


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SUMÁRIO 8 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 14 1. O LUGAR DE ORAÇÃO DESDE OS PRIMEIROS CRISTÃOS ............................................ 17 1.1.OS PRIMEIROS LOCAIS DE CULTO ....................................................................................... 17 1.2.CENÁCULO, CATACUMBAS E CASAS DOS FIÉIS ............................................................. 22 1.3.AS BASÍLICAS CRISTÃS: “FRUTO” DE UM ESPAÇO PAGÃO .......................................... 29 1.3.1.O Panteão e sua eterna Cúpula: Arquitetura Pagã X Inspiração Arquitetura Cristã......................................................................................................................................32 1.4.ARQUITETURA ROMÂNICA E SEU “PALCO HUMANO” ..................................................... 35 1.5.ARQUITETURA (RELIGIOSA) GÓTICA: MONUMENTALIDADE E ONIPOTÊNCIA DIVINA..................................................................................................................................................39 1.6.ARQUITETURA RENASCENTISTA: O RETORNO DO OLHAR PARA O HOMEM ......... 42 1.7.ARQUITETURA BARROCA ........................................................................................................ 44 1.7.1.Basílica e Praça São Pedro, Roma: Centralidade da Fé Católica.............................. 46 1.8.ARQUITETURA NEOCLÁSSICA ............................................................................................... 51 1.9.CONCLUSÕES... .......................................................................................................................... 53 1.10.APROVEITAMENTO DO CAPÍTULO PARA O PROJETO FINAL ..................................... 53 2.O ESPAÇO ARQUITETÔNICO DE CELEBRAÇÃO CRISTÃ NA CONTEMPORANEIDADE................................................................................................................54 2.1.ARQUITETURA RELIGIOSA APÓS CONCÍLIO VATICANO II (1962-1965).. .................... 54 2.2.OS ELEMENTOS QUE COMPÕEM O ESPAÇO ARQUITETÔNICO LITÚRGICO ........... 55 2.2.1.A Torre (Ou Campanário) ..................................................................................................... 56 2.2.2.O Hall (Também conhecido como Átrio na Liturgia) .................................................... 57 2.2.3.O Presbitério e a Nave .......................................................................................................... 60 2.2.4.Mesa da Eucaristia - O Altar ................................................................................................ 61 2.2.5.Cadeira da Presidência e dos Ministros........................................................................... 62 2.2.6.O Ambão ou Mesa da Palavra ............................................................................................. 63 2.2.7.Cruz................................ ........................................................................................................ 64 2.2.8.Credência..... ............................................................................................................................ 65 2.2.9.O Batistério... ........................................................................................................................... 65 2.2.10.O Confessionário – lugar da reconciliação ................................................................... 66 2.2.11.O Espaço destinado ao Coro ............................................................................................ 68 2.2.12.A Sacristia.............................................................................................................................. 68 2.2.13.Capela do Santíssimo ......................................................................................................... 69 2.2.14.Imagens...... ............................................................................................................................ 70


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2.2.15.Círio Pascal ............................................................................................................................ 70 2.2.16.Sala do Dízimo ...................................................................................................................... 71 2.3.APROVEITAMENTO DO CAPÍTULO PARA O PROJETO FINAL ....................................... 71 3.IGREJAS E PAISAGEM CULTURAL ......................................................................................... 72 3.1.O EDIFÍCI RELIGIOSO E SEUS TIPOS ................................................................................... 72 3.1.1.Catedral........ ............................................................................................................................ 73 3.1.2.Igreja Paroquial (ou Igreja Matriz) ...................................................................................... 73 3.1.3.Capela........... ........................................................................................................................... 74 3.1.4.Santuário.................................................................................................................................. 75 3.1.5.Basílica......... ............................................................................................................................ 75 3.1.6.Outras Igrejas .......................................................................................................................... 76 3.2.A PAISAGEM CULTURAL .......................................................................................................... 77 3.3.DEFINIÇÃO DE “MARCO”, POR KEVIN LYNCH .................................................................... 79 3.4.A IGREJA PERDEU O TÍTULO DE “MARCO LOCAL” .......................................................... 81 3.5.APROVEITAMENTO DO CAPÍTULO PARA O PROJETO FINAL ....................................... 81 4.ESTUDOS DE CASOS .................................................................................................................. 82 4.1.CATEDRAL METROPOLITANA DE VITÓRIA – IMPONÊNCIA X PERDA DE MARCO LOCAL............... .................................................................................................................................. 82 4.1.1.As várias estações: iniciada com uma Capela, passando por Matriz até se consolidar na atual Catedral Metropolitana Nossa Senhora da Vitória ............................. 83 4.1.2.O processo de modernização e a perda do título de “Marco Local” Da Catedral 86 4.2.ESTUDO DE CASO 2: IGREJA DO JUBILEU DO ANO 2000 – MARCO E SIMBOLISMO CRISTÃO............................................................................................................................................. 90 4.3.ESTUDO DE CASO 3: IGREJA DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS – UMA IGREJA QUE “SE ABRE” PARA O POVO ..................................................................................................... 97 4.4.APROVEITAMENTO DO CAPÍTULO PARA O PROJETO FINAL ..................................... 101 5.ÁREA DE ESTUDO ...................................................................................................................... 102 5.1.CIDADE DE NOVA VENÉCIA: REPRESENTATIVIDADE CRISTÃ EM SEU BRASÃO . 102 5.2.CONDICIONANTES LEGAIS - ÁREA DE PROJETO .......................................................... 103 5.3.DIMENSIONAMENTO DO TERRENO .................................................................................... 106 6.CONCLUSÃO GERAL E APROVEITAMENTO DA PESQUISA.......................................... 109 7.PROJETO FINAL - IGREJA DA SANTÍSSIMA TRINDADE: UMA IGREJA QUE SE ABRE PARA O POVO E PARA DEUS! ................................................................................................... 110 7.1.ESPACIALIDADE E PARTIDO ARQUITETÔNICO .............................................................. 111 8.REFERÊNCIAS ............................................................................................................................. 118


3


14

INTRODUÇÃO

O tema proposto Arquitetura Religiosa e o Espaço de Culto Cristão, carrega consigo divergentes conceitos que fazem uma apologia à fé e a razão. A Fé pela representatividade cristã a partir dos monumentos religiosos, a Razão devido à racionalidade histórica de cada período, que juntas traduzem a vivência de todo um povo numa determinada época, num determinado local.

Este estudo tem por objetivos, analisar o ambiente religioso fazendo uma dinâmica leitura do espaço de culto cristão durante estes séculos e uma importante compreensão do seu processo evolutivo, apontando os valores simbólicos dessas edificações que muitas vezes são deixados em segundo plano pelos profissionais na concepção de novos projetos ou reformas, e assim sugerir uma igreja dentro de parâmetros “interno litúrgico-cristão” e a integração do “monumento igreja” como marco local na paisagem cultural local.

O trabalho desenvolve-se em cinco partes que vão desde a questão historicista no que compete a arquitetura e urbanismo do edifício religioso, passando por especificidades de seus elementos internos e até mesmo a sua comunicação com o entorno.

O primeiro capítulo relata em caráter objetivo, a evolução histórica do lugar de oração desde os primeiros locais de culto (a.C.) passando pelos cenáculos, catacumbas e casas dos primeiros fieis. Ele apresenta um dos principais acontecimentos que marcaram a liberdade de expressão do Cristianismo adquirida a partir do ano de 250 d.C. reconhecida pelo imperador Constantino, o que impulsionou o aumento dos cristãos bem como a necessidade de espaços maiores para o culto. É um momento importante pois a partir disso, surgem as primeiras basílicas cristãs (por volta do século IV). Este capítulo traz ainda, as principais características dos períodos sequenciais: Românico, Gótico, Renascentista, Barroco e Neoclássico. Trata-se de uma rápida “viagem no tempo”, posicionando-os quanto o caráter arquitetônico de cada período, base para a arquitetura religiosa contemporânea.


15

No capítulo dois será apresentado as principais alterações que o espaço arquitetônico litúrgico sofreu a partir do Concílio Vaticano II, que deu novos rumos a liturgia e ao local de oração dos templos atuais. Este relata os elementos e a funcionalidade

dos

locais

de

culto

cristão,

exemplificando

especificidades

dimensionais do altar, ambão, presbitério, capela do santíssimo, torre e outros elementos que compõe o espaço interno litúrgico.

O terceiro capítulo traz um questionamento feito pela arquiteta Regina Céli de Albuquerque Machado em seu livro “Arquitetura e Liturgia - O Local de Celebração” (2007). A Arquiteta questiona que as Igrejas perderam o título de “marco local”, dizendo que não são mais as torres das igrejas que se destacam nos altos dos morros e sim as torres de TV, os edifícios verticalizados. Este capítulo aponta a necessidade de se retomar a representatividade do “edifício igreja” na inserção da Paisagem Cultural em caráter local, e indica a complexa definição de “Paisagem Cultural” de acordo com os parâmetros da UNESCO e do IPHAN. O estudo aponta ainda as variadas titulações que recebe o edifício igreja.

O quarto capítulo exemplifica a arquitetura religiosa com três distintos estudos de caso. Um em caráter local: A Catedral de Vitória, e outros dois internacionais: Igreja do Jubileu do Ano 2000 - Roma, e a Igreja do Sagrado Coração de Jesus Alemanha. No estudo de caso 1, a Catedral Metropolitana de Vitória, aparece como comprovação do questionamento feito pela arquiteta Regina Céli (...a Igreja perdeu o título de Marco Local...). Será descrito a relação da Catedral de Vitória com o seu entorno e como o processo de modernização - aterros, verticalização, Novo Arrabalde, entre outros aspectos, contribuíram para a camuflagem do edifício igreja do atual bairro Centro de Vitória. O estudo de caso 2, mostra a Igreja do Jubileu do ano 2000 do arquiteto Richard Meier que ao contrário do estudo de caso 1, o templo tornou-se um marco local para a periferia de Roma. Destaque este, adquirido a partir da volumetria que apresenta conceitos simbólicos a questão da expressão de fé católica, e da grande praça ao entorno. Este segundo estudo nos traz também uma boa espacialidade interna litúrgica. O terceiro estudo de caso, revela uma Igreja que literalmente “se abre” para acolher o povo.


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O quinto e último capítulo, indica a área de intervenção e suas principais diretrizes: as leis vigentes para a cidade de Nova Venécia (área de estudo escolhida) e o partido arquitetônico do projeto.

Portanto com este estudo científico, pretende-se chegar ao fim desta pesquisa com a proposta de um edifício religioso da Igreja Católica para a cidade de Nova Venécia, dimensionada com arquitetura interior de acordo com orientações litúrgicas após Concílio Vaticano II, e com o monumento religioso inserido na paisagem cultural da área apontada, se tornando um marco local.


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1. O LUGAR DE ORAÇÃO DESDE OS PRIMEIROS CRISTÃOS

1.1.

OS PRIMEIROS LOCAIS DE CULTO

O Espaço Arquitetônico de Culto na atualidade arrasta consigo uma solução arquitetônica herdada por séculos, que foi-se ajustando a linguagem de cada período histórico vivido, mas para melhor se entender o dinamismo de todo este

processo

evolutivo,

precisa-se

retomar

alguns

conceitos

que

antecederam a cultura desse espaço, sobretudo as culturas precedentes mais antigas, como o judaísmo. Esse encontro com o passado é primordial para a compreensão da arquitetura religiosa na contemporaneidade.

Gabriel Frade, autor do livro Arquitetura Sagrada no Brasil (2007), traz uma análise que segundo ele, nas sociedades mais arcaicas o lugar de oração muitas vezes acontecia não em um templo edificado, poderia ser numa montanha, gruta, uma árvore ou sepultura, conforme a tradição de cada povo. Posteriormente, o “templo arquitetônico” é construído com a ideia-guia do seguinte simbolismo cósmico. O telhado do templo representa o céu; as paredes, os quatro pontos cardeais; o poço ou elemento aquático, quando existe, é uma representação das águas. O templo simboliza o “centro”, o lugar sagrado por excelência. (FRADE;GABRIEL, 2007, p. 19).

Nota-se que esse exemplo de templo microcosmo perpetua até os dias de hoje. Segundo o padre e arquiteto André Andrade Brandão (2010), no livro Espaço Sagrado Após Concílio Vaticano II, no terceiro milênio a.C. na Mesopotâmia, se desenvolveu uma civilização de cidade-estado. Os locais da reunião de oração aconteciam nos chamados “Zigurates” ou templo-torre (Figura 01 Zigurate de UR), herança judaica principalmente dos sumérios, acádios e babilônicos.


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As fachadas destes locais possuíam colunas e eram decoradas com lápis azul, madrepérola, conchas, e também esculturas de cobre, cerâmica, gravuras e selos. Era uma característica dos sumérios esta facilidade em lapidar a pedra e a madeira. Eram construídos em sete níveis, ou camadas que representava os sete céus, ou sete planetas e os sete metais a eles associados e suas cores correspondentes.

Figura 01 - Zigurate de UR Fonte: Brandão, 2011

Na Grécia Antiga, os Montes começam a receber as primeiras construções religiosas, reforçando a presença de um Deus. Estas construções seguiam o esquema simbólico apresentado, eram edificações toscas de pedra ou de madeira, denominada Acrópole1 (

Figura 02). Eram localizadas em

locais altos para facilitar a visibilidade e remetia ao simbolismo da proteção dos deuses.

1

“É o Santuário ou a fortaleza das partes mais elevadas das cidades gregas” (ZEVI,

Bruno.1998). 2

“É o conjunto de representantes de uma comunidade que possuem poderes de legislação. É


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A planta de um templo típico presente na acrópole era retangular elevada, com uma série de colunas apoiadas sobre esta e um entablamento contínuo que sustentava o teto. Nestes locais, a arquitetura delimitava o acesso direto ao interior do templo apenas para os sacerdotes. O povo participava das atividades apenas ao lado de fora.

Figura 02 – Acrópole Fonte: Frade, 2007

A análise de Brandão (2010), mostra o surgimento do templo de Jerusalém (Figura 03 e Figura 04), na época da popularização de Abraão por volta do ano 500 a.C. Este era composto por duas partes: um pátio aberto onde estava o altar dos holocaustos – duas colunas de bronze com capitéis floridos (pórtico) – e um edifício fechado, dividido em três ambientes: vestíbulo, „o Santo‟ e o „Santo dos Santos‟, sede da „Morada de Deus‟.


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Figura 03- Reconstituição do Templo de Jerusalém Fonte: Brandão, 2011

Figura 04 - Perspectiva Templo de Jerusalém Fonte: Frade, 2007

Figura 05- Mosaico do Templo de Jerusalém, representando a porta do Templo, o altar dos holocaustos, o Sancto Sanctorum e a Arca da Aliança Fonte: Brandão, 2011

Em 750 a.C. aparecem as sinagogas (Figura 06). Judá teve seus habitantes dispersados após ser conquistada pelos Babilônios. Foi neste regresso de seus habitantes que o judaísmo começou a se desenvolver. Era a sinagoga o lugar que eles utilizavam como local para as reuniões de oração. Estes templos, tinham como centro a Arca da Palavra (torá) não possuíam imagens religiosas ou peças de altar. Os rituais religiosos se baseavam numa leitura, e do transporte de rolos até o púlpito (Bimá). Com esta disposição, encontra-se o núcleo de espiritualidade que irá inspirar o espaço arquitetônico das primeiras igrejas cristãs.


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Figura 06- Croqui esquemático da Sinagoga. O modelo superior (A) mostra as sinagogas mais antigas, a porta era voltada para Jerusalém. O modelo inferior (B) mostra as sinagogas mais recentes, a abside era voltada para Jerusalém. Fonte: Adaptado de Brandão, 2011

Figura 07- Ruínas da Sinagoga de Cafarnaum Fonte: Brandão, 2011 Figura 08 - Planta da Sinagoga de Cafarnaum Fonte: Frade, 2007

A partir de Cristo, aumentou o número de crentes e adeptos ao então “Cristianismo”. Os cristãos se reuniam nas sinagogas, casas de fiéis e até nas catacumbas.

No séc. I d.C., havia o templo e outros espaços arquitetônicos destinados ao culto, cuja leitura da lei posicionava-se de maneira central à edificação. Sinagoga – do grego synagoghe, que traduz, na versão grega do Antigo Testamento, o hebraico qahal, assembleia.


22

A Sinagoga enfatizava através de elementos a ligação com a Palavra. O lugar de reunião – um dos mais importantes aspectos, carregava consigo a funcionalidade de um espaço para no mínimo 10 pessoas (Figura 08). (...) a seguir, a presença dos rolos da Lei (Torá) guardados no armário ou Arca (Aron-hakodes), que por sua vez era protegida por um véu; diante dela ardiam as sete lâmpadas da menorá, o candelabro de sete braços (esta disposição era um eco da Arca da Aliança presente no Santo dos Santos); depois, o estrado (bemá) para a leitura da Escritura com um eventual púlpito (tevá) e, finalmente, a chamada “Cátedra de Moisés”, símbolo de um fiel depositário da tradição vivente da Palavra de Deus. (FRADE;GABRIEL, 2007, p. 29).

Sobre esta citação do livro onde a Cátedra de Moisés está posicionada de modo que a assembleia entenda que existe um “líder de fé” a frente daquele povo, esta aplicase nas Igrejas Contemporâneas a partir da Cátedra nas das Catedrais Diocesanas (Figura 09).

Figura 09 - Cátedra de Pedro – Basílica São Pedro, Roma Fonte: Saint Peter Basílica, 2010

1.2.

CENÁCULO, CATACUMBAS E CASAS DOS FIÉIS

Segundo Brandão (2011), o Cenáculo (Figura 10) era uma grande sala situada num pavimento superior, era dividido por três pilares em três naves. Basicamente uma


23

grande sala de festas, onde aconteceu a primeira reunião de oração com os discípulos.

Figura 10 – Cenáculo Fonte: Brandão, 2011

Como analisado por Brandão (2011) e Pastro (2010), as reuniões destes primeiros cristãos continuaram no templo, mas quando a assunto era a fração do pão, habitualmente utilizavam as casas comuns (Figura 11), que se dividiam em três tipos: a domus, ou casa particular; a villa, ou casa de campo; e, as insulae, que eram casas de apartamentos. Estas são as chamadas “Igrejas Domésticas” – domus ecclesiae. Na primeira fase, “Ecclesia Domestica”, a assembleia 2se reunia nas próprias casas.

Figura 11 Croqui - Planimetria de uma antiga casa romana Fonte: Adaptado de Pastro, 2010

2

“É o conjunto de representantes de uma comunidade que possuem poderes de legislação. É sinônimo de uma democracia participativa tendo em conta que toda a comunidade tem a possibilidade de participação” (Dicionário online 2013).


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Figura 12 Casa de Quinto Pompeu. Pompeia, séc. I. Típica casa romana com o Atrium e o Impluvium, exemplo de Ecclesia Domestica. Fonte: Pastro, 2010

Figura 13 - Perspectiva Isométrica de uma casa romana Fonte: Brandão, 2011

Na segunda fase, no fim do século II, com o aumento dessas reuniões e o número, surgem as “Domus Ecclesiae”, que seriam edifícios mais amplos e funcionais.

A Domus Eclesiae de Dura Europos (Figura 14), foi encontrada na metade do século III, na Mesopotâmia. Em sua planta nota-se a especificidade dos usos pastorais: um espaço para o batismo, outro para sala de aula (catequese), e uma sala ampla com jarros para a celebração da tradição cristã.


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Figura 14 Planta da Domus Ecclesiae de Dura Europos. Síria, séc. III. (Revela a existência de espaços distribuídos segundo os usos pastorais. Fonte: Adaptado de RSanz Carrera, 2008

Figura 15 Perspectiva da Domus Ecclesiae de Dura Europos Fonte: Adaptado de RSanz Carrera, 2008

Figura 16 Ângulo da Domus Ecclesiae da Dura Europos. Síria, séc. III Fonte: Pastro, 2010

Os autores afirmam que um dos fatores que impulsionaram essas Igrejas Domésticas era a clandestinidade, devido a perseguição que os cristãos sofriam o que impulsionou também outro espaço destinado ao culto: as catacumbas. As catacumbas (Fig. 16 e Fig. 17) na Roma antiga, eram cemitérios subterrâneos – verdadeiras galerias, utilizadas durante os tempos do Império romano, entre os


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sécs.II e séc. V da era cristã. Eram escavadas em um tipo de rocha macia de origem vulcânica, conhecidas como tufo.

Figura 17 - Catacumba de São Calixto, Roma Fonte: Brandão, 2011

Figura 18-Catacumba de São Sebastião,Roma Fonte: Brandão, 2011

Figura 19 Catacumba de São Calixto Fonte: Historia del arte cbe, 2012

Figura 20 - Maria amamentando o Menino Jesus. Imagem do Século II, Catacumba de Priscila, Roma. Fonte: Wikipedia, 2011

Segundo Pastro (2010) e Brandão (2011), a partir do ano de 250 d.C., o imperador Constantino reconhece a liberdade de ação religiosa. E, com isso veio naturalmente a necessidade de um espaço físico estruturado a partir da liberdade de expressão. Trata-se da terceira fase, a “Ecclesia Basilicalis” que está ligada as construções grandiosas para dar mais espaço ao crescente número de fiéis. As naves eram divididas em três ou cinco por pórticos de colunas, teto com forros dourados.


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Figura 21 Basílica Constantiniana do Santo Sepulcro. Corte Leste-Oeste e Planta baixa. A. Martiryum B. Calvário C. Anastasis - Jerusalém, séc. IV Fonte: Pastro, 2010

Figura 22 Basílica do Santo Sepulcro (exterior). A ideia da planta não é só de venerar os espaços sagrados, mas o espaço é ocupado pelo Corpo de Cristo, a Assembleia. Fonte: Pastro, 2010


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Figura 23 Basílica do Santo Sepulcro, por fora. Fonte:Farol de Luz, 2010

Figura 24 Basílica de Santa Maria Maior. Roma, séc. IV. Reconstruída no séc. V. Fonte: Pastro, 2010

Com o avanço dos tempos e a propagação do Cristianismo, o templo de oração passa a evoluir a funcionalidade litúrgica eucarística, sempre a forma que ocupará o espaço será de “sinapse eucarística” - voltada para a celebração do corpo de Cristo - segundo a tradição cristã. A Igreja paleo-cristã3 apresenta uma disposição cujo a sede do bispo se coloca no fundo, na abside. O ambão com o coro dos ministros, e o altar no centro com toda a assembleia ao seu redor. O batistério posiciona-se na porta principal de acordo com análise de Brandão.

Figura 25- Croqui esquemático de Igreja Paleo-cristã Fonte: Adaptado de Brandão, 2011 3

“Arquitetura produzida por cristãos sob o patrocínio cristão desde o início do século II até o final do século V” (Wikipedia, 2013).


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1.3.

AS BASÍLICAS CRISTÃS: “FRUTO” DE UM ESPAÇO PAGÃO

A análise de Frade (2007) e Brandão (2010), mostra que por volta do século IV (313d.C) quando o Cristianismo tornou-se a religião oficial do império romano, surgem as Basílicas Cristãs. Com este reconhecimento por parte do império e com a liberdade de culto, aconteceu assim a concessão da faculdade, havendo a necessidade de se construir espaços mais amplos já que as casas onde aconteciam as reuniões não comportavam o aumento dos fiéis. A tipologia arquitetônica destas basílicas deriva das casas romanas (comentadas anteriormente) (Figura 13) e da basílica civil (que já existiam). As basílicas civis (Figura 26) aconteciam na Pérsia, eram uma sala de audiências do rei. Em Roma, estas basílicas serviam para as reuniões cívicas, os tribunais de justiça e os negócios entre mercadores e banqueiros. Uma das últimas basílicas civis construídas no Fórum Romano (300 d.C.), foi a Basílica de Maxênico (Figura 27 e Figura 28) também conhecida como basílica Nova, ou basílica de Constantino. Logo, estas salas prestavam-se perfeitamente para o uso do culto cristão ( Figura 29).

Figura 26 Esquema Basílica Pagã 1- Pretor 2- Juízes assistentes 3- Altar de Minerva 4- Ambão de testemunhas 5- Ambão de advogados Fonte: SCHUBERT ,1978, p. 43.

Figura 27 Planta da Basílica de Maxênico Fonte: Wikipedia, 2013

Figura 28 Ruínas da Basílica de Maxênico Fonte: Wikipedia, 2013


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As Basílicas Cristãs (Figura 29, Figura 30, Figura 31) herdaram das casas dos romanos a imitação do atrium, o qual era precedido um pórtico ou um pátio. Das basílicas civis, herdaram a forma retangular, o telhado e as vastas dimensões. A diferença da basílica civil para a basílica cristã, é que a Cristã é recortada por naves paralelas, formada a partir de pórticos interiores, por outro lado a basílica civil se apresenta apenas como uma sala retangular simples.

Figura 29 Esquema Basílica Cristã 1- Bispo 2- Clero 3- Altar 4- Ambão do Evangelho 5- Ambão da Epístola 6- Batistério Fonte: SCHUBERT ,1978, p. 44

Figura 30 Planta Basílica Vaticana Constantiniana. Século IV Fonte: Pastro, 2010

Figura 31 Perspectiva Basílica Vaticana Constantiniana, Séc. VII. Fonte: Pastro, 2010

De acordo com Frade (2007) e Brandão (2011), a basílica cristã era composta por três principais ambiências: vestíbulo, nave e abside.

O vestíbulo ou pórtico era o lugar que separava o templo das movimentadas ruas de Roma, por isso na maioria das vezes sua localização era na parte frontal da basílica, simbolizando também uma transição entre o que é “profano” e o que é “sagrado”. Neste local, ficava um reservatório de água para os fiéis lavarem as mãos e o rosto antes de entrar no templo. Representava a purificação. A partir do pórtico, existiam


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três entradas que permitiam o acesso ao interior da Igreja. A porta central era destinada aos clérigos, a lateral esquerda para as mulheres e à direita para os homens. A nave poderia se dividir em duas ou ainda três a cinco. Essa divisão acontecia com uma sequência de colunas. A abside localizava-se no final da nave, era o “Santuário” - o lugar sagrado, um espaço semicircular ou poligonal podendo até ser quadrado e às vezes continha janelas. Ao seu redor ficavam os assentos dos sacerdotes, e ao fundo o cátedra que deveria ser mais elevado para que este tivesse a visão sobre a assembleia.

O telhado da basílica cristã possui formas simples (Figura 32), com estrutura de madeira com telhas de barro, que ao passar do tempo, foram sendo inseridos mosaicos as paredes, que referenciavam a história cristã.

Figura 32 Basílica Vaticana Constantiniana. Roma, séc. VII Fonte: Pastro, 2010


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1.3.1. O Panteão e sua eterna Cúpula: Arquitetura Pagã X Inspiração Arquitetura Cristã. Mesmo se tratando de um espaço pagão, a Cúpula do Panteão foi inspiradora para o que futuramente, viria se tornar a base maior da Igreja: a Basílica de São Pedro. Vemos novamente aqui, a herança pagã no espaço divino.

Segundo Zevi (2002), o Panteão (Roma 118-128 d.C.) acontece como um belo exemplo para impressionar o espectador a partir de sua cúpula. Ele foi um dos pioneiros da inovação desse elemento arquitetônico. A impressão que esta transmite é de um caráter cósmico do firmamento: o espaço circular, centralizado no eixo vertical, a grande abertura no zênite da cúpula. Existe uma ligação entre a monumentalidade cósmica e a ordem humana, levando o homem a se sentir explorador, conquistador, como um deus inspirador, um produtor de história de acordo com o plano divino. Essa centralidade vem de encontro a reflexão que o homem deposita em mesmo. Existe aqui a divinização do homem.

Figura 33 Imagens superiores: Elevação Frontal e Lateral do Panteão; Imagens inferiores: Corte Longitudinal e Planta Baixa do Panteão. Fonte: Traumwerk, 2005


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Figura 34 Interior Panteão ressaltando a Cúpula. Fonte: Estudi-arte, 2010.

Figura 35 Cúpula Panteão Fonte: Estudi –arte, 2010.

Uma das coisas mais interessantes ao analisar o Panteão, é o fato de existir um enorme espaço interno de 43,5m de diâmetro e também a sua cúpula subindo 43,5m de altura. É como se pudéssemos colocar uma esfera com diâmetro de 43,5m dentro do Panteão (Figura 37).

É o maior espaço interno de toda a arquitetura clássica!

Figura 36 Pintura do Panteão por Clóvis Aquino. Fonte: Clovis Aquino, 2009

Figura 37 Representação da Cúpula do Panteão. Fonte: Adaptado de Traumwerk, 2005


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O efeito dos caixões nas laterais da cúpula, aumenta ainda mais essa monumentalidade. No alto da cúpula que representa a esfera celeste, está o óculo representando o sol. Poeticamente descrito pelo autor Bruno Zevi (2002), trata-se do homem que se juntou a divindade.

Figura 38 "Caixões" da cúpula aumentam a sensação de monumentalidade. Fonte: Traumwerk, 2005

Figura 39 Óculo no alto da Cúpula, representa o Sol. A iluminação interna altera de acordo com o passar do dia. Fonte: Polatkaya, 2006


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1.4.

ARQUITETURA ROMÂNICA E SEU “PALCO HUMANO”

Brandão (2011), afirma que após o século XI (1054d.C. – 1545d.C.), na Igreja Medieval Ocidental, situam-se as grandes construções cristãs que traziam uma junção de funcionalidade e gênio artístico, gênio este inspirado pelo belo e pela intuição do mistério. O espaço arquitetônico religioso aparece com uma separação entre presbitério e a nave através de uma parede divisória decorada com ícones que separa a nave da Igreja do Santuário, conhecida como uma alta iconostasis. Segundo Bruno Zevi no livro “Saber ver a Arquitetura” (2002), a arquitetura românica possuí características sólida sob influência beneditina4. É natural a redução da dimensão da basílica romana, pois trata-se de um período histórico que exigia um palco humano, físico, mais próximo do usuário, o qual deveria ser elevado e acolhido espiritualmente.

Os edifícios religiosos possuíam aspecto pesado, muros maciços e pequenas janelas. Existia o uso de arcos de volta perfeita e as abóbadas de berço ambos derivados da tradição construtiva romana. As plantas eram de esquema longitudinal, basilical, com cabeceiras complexas e transepto desenvolvido.

As grandes basílicas do século IV eram grandiosas, mas seus tetos eram de madeira e incendiavam-se com facilidade. No românico, devido a necessidade do reforço estrutural para os arcos e abóbadas, a pedra passa a ser o principal material do sistema construtivo. Essas Igrejas eram construídas a partir do seu “esqueleto”. Existia uma grande preocupação com a estrutura, pilastras, arcos e abóbadas nervuradas, tudo com equilíbrio de forças. As paredes são mais grossas que o comum, e existem poucas aberturas. Criou-se então, uma atmosfera mística em seu interior, levando o usuário ao clima de interiorização. O telhado de madeira também é trocado por abóbadas de berço (Figura 40) e de aresta (Figura 41), o que reforça esta

apologia

a

“fortaleza

de

Deus”.

4 “Ordem Beneditina ou Ordem de São Bento, é uma ordem religiosa católica de clausura monástica que se baseia na observância dos preceitos destinados a regular a convivência comunitária. É considerada como a iniciadora do chamado movimento monacal” (OSB, 2013).


36

Figura 40 Croqui Abóboda de Berço Fonte: Adaptado do site Imperio Romano, 2011

Figura 41 Croqui Abóboda de Aresta. Fonte: Adaptado do site Imperio Romano, 2011

Fazendo um comparativo entre a as Igrejas românicas com as basílicas românicas, observa-se mudanças consideráveis. A maioria das Igrejas tinha uma planta em forma de cruz, logo, esse estilo arquitetônico trouxe os transeptos e o coro foi ampliado na direção leste. É perceptível que esse estilo começa a trazer uma nova disposição dos espaços internos reservados ao culto.

Zevi (2002) afirma que a basílica romana possui simetria nos eixos das colunatas de frente para colunatas, e abside de frente para abside. Permite assim, um espaço que possui um centro específico e não do caminho humano. Todo esse espaço tem uma medida de caráter dinâmico: a trajetória do observador.

A seguir, um esquema da basílica romana e sua composição espacial arquitetônica: Sempre com orientação leste-oeste, a nave principal (Figura 42) é mais larga que as laterais (Figura 43).

Figura 42 Croqui Nave Principal Basílica Romana Fonte: Adaptado de Um olhar sobre a Arte, 2009

Figura 43 Naves Laterais Fonte: Adaptado de Um olhar sobre a Arte, 2009


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Prolongando as naves laterais e contornando a abside, o deambulatório (Figura 44) funciona como uma espécie de corredor, que leva de 3 a 5 capelas radiantes (Figura 45) que serviam de instalação dos altares secundários.

Figura 44 - Deambulatório basílica românica Fonte: Adaptado de Um olhar sobre a Arte, 2009

Figura 45 Capelas Radiantes - Basílica Românica Fonte: Adaptado de Um olhar sobre a Arte, 2009

Na abside (Figura 46), localiza-se o altar-mor, sempre posicionado no alinhamento da nave principal.

Figura 46 - Abside - Basílica Romana Fonte: Adaptado de Um olhar sobre a Arte, 2009

O Transepto (Figura 47) atravessa a planta basilical de um lado ao outro. Além de evidenciar o formato de Cruz ao edifício, é aonde acontece o arejamento e a entrada de luz no templo, a partir do cruzeiro (Figura 48).

Figura 47 - Transepto Basílica Românica Fonte: Adaptado de Um olhar sobre a Arte, 2009

Figura 48 - Cruzeiro Basílica Românica Fonte: Adaptado de Um olhar sobre a Arte, 2009


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Seguido do transepto, localiza-se o coro (Figura 49) destinado ao clero.Em algumas Igrejas românicas, apareciam o “Nártex” (Figura 50), que era uma espécie de vestíbulo ou pátio de acesso a edificação religiosa.

Figura 49 Coro - Basílica Românica Fonte: Adaptado de Um olhar sobre a Arte, 2009

Figura 50 - Nártex - Igreja Românica Fonte: Adaptado de Um olhar sobre a Arte, 2009

Na Igreja de Santa Sabina (Figura 51, Figura 52 e Figura 53) o espaço está disposto no sentido do comprimento, existe ritmo no caminhar do observador, pelo desfilar dos arcos e das colunas. Tudo está disposto de maneira a integrar este observador, existe uma escala humana que é acolhedora devido a proporção da coluna e da estatura do homem.

Figura 51 Planta Baixa em cruz latina da Igreja de Santa Sabina, Roma. Uma das principais igrejas do período românico. Fonte: Zevi, 2002


39

Figura 52 Nave Igreja de Santa Sabina, Roma Fonte: Aquivo Clóvis Aquino, 2014

Figura 53 Nave da Igreja de Santa Sabina, Roma Fonte: Zevi, 2002

Esse estilo permitiu que os arquitetos pudessem experimentar diversos novos sistemas construtivos, como o das citadas abóbadas por exemplo, que abriram caminho para o próximo estilo arquitetônico: a arquitetura gótica.

1.5.

ARQUITETURA (RELIGIOSA) GÓTICA: MONUMENTALIDADE E ONIPOTÊNCIA DIVINA

Durante toda a história da arquitetura religiosa, o espaço arquitetônico de culto foi-se ajustando as necessidades espaciais e exigências litúrgicas. Por volta no ano de 1300, a Europa sofre grandes mudanças políticas, econômicas, sociais e religiosas. Nesse período, surgem as Catedrais Góticas, que refletem esse momento e a nova concepção de mundo que nascia.

De acordo com Frade (2007), a arquitetura gótica evolui do estilo românico, aparece como um grande volume vertical, a luz era filtrada pelos vitrais, as imagens da Mãe de Deus, as imagens piedosas. Tudo isto era uma tradução da nova piedade popular


40

e uma procura estática de um Deus místico. A planta destas basílicas (Figura 54) continuavam sendo com uma, três ou cinco naves, com absides e átrio rodeado de arcadas na frente da Igreja. Outra forte característica desse período, é o uso dos arcos em formas de ogivas (Figura 55), iniciadas em canteiros de construção e abóbodas nervuradas (Figura 56).

Figura 54 Planta Baixa Catedral de Notre Dame, Paris. Fonte: Zevi, 2010.

Figura 55 Arco Ogival: Evolução do arco romano. Fonte: Adaptado de Arquiteta Katia, 2010.

Figura 56 Abóboda Nervurada Catedral de Notre Dame. Fonte: Artetropia, 2010.

Com o reforço estrutural de pedra a partir do período românico, não havia necessidade de muitas paredes, que eram substituídas por grandes vitrais (Figura 57, Figura 58). Esses vitrais filtravam a luz, e representavam cenas da história sagrada

e

da

vida

dos

santos.


41

Figura 57 Vitral Catedral de Notre Dame, Paris. Fonte: Allposters, 2013

Figura 58 Vitral Basílica St Nazario. Fonte: 360 Meridianos, 2012

É interessante observar que as igrejas são monumentais, verdadeiras fortalezas e assemelham-se a uma coroa imperial. O templo arquitetônico buscava passar a imagem da onipotência de Deus a partir do estilo vivido neste momento.

Figura 59 Interior da Catedral de Notre Dame de Paris. Monumentalidade. Fonte: Diocese de Ourinhos, 2013


42

1.6.

ARQUITETURA RENASCENTISTA: O RETORNO DO OLHAR PARA O HOMEM

Segundo Frade (2007), Por volta de 1420 em Florença na Itália, aparece o Renascimento.

Este

período

é

consequência

de

circunstâncias

históricas

importantes, como grandes invenções e descobertas, a ascensão da burguesia, o florescimento do comércio mundial e das cidades. É um período voltado para a ação e não para a meditação. Ele traz também uma nova concepção de vida. O homem e a mulher desejam substituir o “Deus da Idade Média” pelo ser humano como medida de todas as coisas, o módulo original e natural da arquitetura. As construções das catedrais góticas são “interrompidas”, surge a arquitetura renascentista. A arquitetura religiosa do renascimento aparece menos espiritualizada, bem como o estilo humanista adotado no momento. Uma das Igrejas a ser destacada nesse período é a Igreja Santa Maria Delle Carceri de Sangallo do Arquiteto Giuliano da Sangallo. A fachada (Figura 61) torna-se com uma escala mais humana, existe equilíbrio entre as linhas horizontais e verticais. O edifício religioso com as características renascentistas deixa o caráter místico espiritualizado, e se transforma numa realidade grandiosa. A ideia é de que as construções deveriam eternizar o presente, e não como no passado, sugerir um amanhã incerto.

Figura 60 Planta Baixa Santa Maria Delle Carceri da Sangallo do Arquiteo Giuliano da Sangallo, nota-se simetris, rítimo. Fonte: Po-net.prato.it, 2009

Figura 61 Fachada da Igreja Santa Maria Delle Carceri da Sangallo do Arquiteto Giuliano da Sangallo. Fonte: Po-net.prato.it, 2009


43

Além dos inúmeros palácios que aparecem nesse período, as igrejas refletem essa nova ordem que surgiu a partir da expansão comercial, enfatizando o poder civil. É interessante observar que os palácios passam a refletir a posição e o poder da família que o reside, mas mesmo assim os edifícios religiosos não perderam sua importância. A perfeição das formas é destinada as igrejas, os “desvios” dessa perfeição só serão permitidos para os edifícios privados, era uma espécie de hierarquia neste período, segundo Zevi (2002).

As catedrais renascentistas são bem distintas das medievais. No renascimento existe um ideal formal, um universo matematicamente organizado, um novo conceito de ordem.

A Basílica de Santo Andre (Roma), revela uma arquitetura em cruz latina (Figura 62), que possui em seu interior, a nave coberta por uma abóbada de berço (Figura 66) seguido por capelas laterais, com arcos de apenas uma volta - como da fachada (Figura 65). A planta livre estilo “salão” é o resultado da proposta de acolher os fiéis que peregrinavam a festa da “Ascension” para ver um frasco que segundo a tradição cristã, trata-se do Sangue de Cristo.

Figura 62 Planta Basílica de Santo Andre. Fonte: Commons, 2012

Figura 63 Fachada Frontal Basílica Santo André. Fonte: Sant-andrea-roma, 2009


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Figura 64 Corte Basílica Santo Andre, Roma Fonte: Sant-andrea-roma, 2009

Figura 66 Interior da Basílica de Santo Andre, Roma: Abóbada de Berço.

Figura 65 Cúpula Basílica Santo Andre, Roma. Fonte: Wikipedia, 2013

1.7.

ARQUITETURA BARROCA

O Concílio de Trento em 1545 trouxe consigo um novo direcionamento para a arquitetura do Espaço Sagrado: o barroco. Toda a organização dos espaços proclama a autoridade da Igreja e do Estado. O presbitério ocupa toda a abside, e dá acesso direto à sacristia. A iconostasis é substituída por uma balaustrada. Os bancos da nave são direcionados para o presbitério e o púlpito passa a substituir o ambão. O coro é posicionado sobre o átrio principal, e nas laterais a presença de altares com imagens de santos devocionais. Todos os escultores, pintores e arquitetos são chamados a criação de uma obra simbolicamente faustosa.

Este novo layout permanecerá desde o Concílio de Trento até meados do século XX. O altar não mais ocupa o centro e a assembleia litúrgica passa a ser mera espectadora. O Altar aparece como apoio aos santos e ao sacrário. Neste momento


45

histórico, existe uma supervalorização dos elementos devocionais, tais como as imagens dos santos, os altares laterais e elementos estéticos da época, segundo FRADE (2007).

Figura 67 Planta Baixa Fonte: Wikipedia, 2013

Figura 68 Corte da Igreja de San Carlo Fonte: Wikipedia, 2013

Figura 70 Vista Externa Cúpula San Carlo. Fonte: Roma Felix, 2003 Figura 69 Interior da Cúpula San Carlo. Fonte: Wikipedia, 2013


46

Figura 71 Fachadas Frontal e Lateral, San Carlo. Fonte: Roma Felix, 2003

Figura 72 Fachada Frontal, San Carlo. Fonte: Múltiplos Estilos, 2010

1.7.1. Basílica e Praça São Pedro, Roma: Centralidade da Fé Católica Outro edifício religioso que não poderia deixar de ser citado neste estudo é a Basílica de São Pedro, tamanha é a sua representatividade para a Igreja Católica, onde está a sede do bispo de Roma que segundo a doutrina, está o sucessor do apóstolo São Pedro.

A Basílica sofreu diversas alterações ao longo dos séculos, mas sua última alteração foi concluída no período barroco.

Segundo Wolfgang Lotz, no livro Arquitetura na Itália (1998), a exata planta que a obra teve início não é clara. Mas pode ser atribuída a Bramante, que permaneceu até sua morte em 1514 (Figura 73).


47

Figura 73 (A) Basílica de São Pedro, Projeto de Bramante - 1506. Fonte: Lotz, 1998.

Figura 74 (B)- Projeto para a Basílica de São Pedro, Peruzzi - 1502. Fonte: Lotz, 1998.

De acordo com Lotz (1998), a cúpula da basílica de São Pedro foi inspirada pelo Panteão (Figura 33 a Figura 39), único modelo no mundo ocidental, ideal reforçado pelos degraus ao pé da cúpula. A proposta de Bramante em trazer simplicidade da forma espacial e da vista exterior, foi a razão pela qual o impulsionou a manter o método de “calota única” desde o início. Logo, o retorno do Panteão foi inspirador além arquitetura. A cúpula foi finalizada em 1590 com 24,5m de altura e 49m de diâmetro, pela razão dimensional da largura das naves laterais da antiga basílica.

Figura 75 Corte Cúpula Basílica de São Pedro. Fonte: Lotz, 1998.

Figura 76 Planta Baixa - Cúpula Basílica de São Pedro. Fonte: Lotz, 1998.


48

Figura 77 Interior da Cúpula Central da Basílica de São Pedro. Pintura de Michelângelo. Fonte: Obviousmag, 2003

Após a morte de Bramante, foram realizados diversos estudos para a Basílica de São Pedro, idealizados por Peruzzi e Giuliano da Sangallo. Peruzzi explorou estudos teórico, sem intenções de realiza-los. O novo projeto de Sangalo – 1539 ( Figura 78), fazia uma conciliação entre a planta central e a forma basilical. A cúpula, a cruz grega e as quatro torres angulares do projeto anterior foram mantidos, mas com essa extensão dessa fachada, cria-se uma outra fachada independente, criando uma planta com um formato longitudinal. Com essa duplicação do lado leste do edifício, se perdeu-se a proporção da cúpula com o edifício, criado anteriormente por bramante. A cúpula central ficou “escondida” após essa modificação.

Figura 78 (C) Basílica de São Pedro, Antônio da Sangallo - 1539. Fonte: Lotz, 1998.

Figura 79 (D) - Basílica de São Pedro Michelângelo, 1546. Fonte: Lotz, 1998.


49

Figura 80 Fachada Principal da Basílica de São Pedro após extensão longitudinal da planta: a cúpula ficou "escondida" pela fachada para o visitante que está próximo a Basílica. Fonte: Adaptado de Vatican.va, 2010

Figura 81 Aquarela de Clóvis Aquino – ao fundo Basílica de São Pedro, Roma. Fonte: Premio lucadamico, 2012

Figura 82 Aquarela de Clóvis Aquino - ao fundo Cúpula de São Pedro Vista a partir da ponte Sisto, Roma Fonte: Clovis Aquino, 2009


50

Com isso, a Praça São Pedro aparece também com a intenção de valorizar a cúpula central, criando um distanciamento dos visitantes em relação ao edifício facilitando a visualização da cúpula.

Figura 83 Pintura de Clóvis Aquino da Basílica de São Pedro a Partir da Praça São Pedro, Roma. Fonte: Clovis Aquino, 2009

Figura 85 Cúpula da Basílica de São Pedro, visualizada a partir da Praça. Fonte: Filhos de Hiran, 2012

Figura 84 Praça e Basílica São Pedro, Roma Fonte: Editora Ecllesia, 2009

Figura 86 Praça de São Pedro vista a partir da Cúpula. Fonte: Olhares.uol, 2007


51

A Praça possui também grande representatividade na fé cristã e aparece em igrejas por todo o mundo. É aonde o povo se reúne para os eventos maiores da Igreja local, além de contribuir para a valorização arquitetônica do edifício igreja (ver estudos de caso 1 e 2).

Figura 87 Mais de 100mil fiéis lotam a Praça São Pedro para conhecerem o novo Papa. Vemos a importância da Praça para a Comunidade Cristã. Fonte: CBN, 2013

1.8.

Figura 88 Papa Francisco na sacada da Basílica de São Pedro, sendo apresentado ao público Católico da Praça e do Mundo, 13/03/2013. Fonte: G1, 2013

ARQUITETURA NEOCLÁSSICA

Segunda a Carla Mary Oliveira (2000) Os arquitetos do século XVIII devido as influências do contexto cultural do iluminismo europeu, começaram a rejeitar a intensidade da expressão religiosa e do exagero do barroco. Surge um novo tempo na história da arquitetura: o estilo neoclássico. Na verdade não se tratava de um estilo propriamente dito, mas de uma releitura, uma cópia do formal clássico com a aplicação de novas tecnologias na composição dos edifícios novos, sem muitas alterações em sua planta. Um bom exemplo desse período é a Catedral de São Paulo, em Londres (St Paul's Cathedral).

Em 1666, a Catedral de São Paulo foi queimada por um grande incêndio, vale ressaltar que até este período já havia sido construído outros edifícios, que também foram danificados com outro incêndio. O projeto atual é do arquiteto Christopher Wren (1670).


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Figura 89 Planta Baixa Catedral São Paulo, Londres. Fonte: Pindorama, 2009.

Sua cúpula é a segunda maior do mundo, ficando atrás apenas da cúpula da Basílica de São Pedro - Roma, comentada anteriormente.

Figura 90 Catedral de São Paulo, Londres. A Cúpula foi inspirada a partir da Cúpula da Basílica de São Pedro, Roma. Fonte: Wikipedia, 2013

Figura 91 Fachada Principal Catedral São Paulo, Londres. Fonte: heritagedaily, 2009

Figura 92 Interior da Catedral de São Paulo, Londres. Fonte: Wikipedia,2009


53

1.9.

CONCLUSÕES...

Vale frisar que este “passeio” pela história está muito longe de ser completo! Faltaria dizer muito sobre cada estilo e período citados. Sem contar os lugares sagrados dos povos primitivos, das culturas orientais, das Igrejas protestantes e a arquitetura religiosa no Brasil. O Objetivo não era aprofundar o tema, mas observar que na história da Igreja, a razão de uma linguagem arquitetônica muito contribuiu para “levar a mensagem” aos féis: quando determinado período remetia à ostentação, a monumentalidade, a ideia de um “Deus Onipotente e Poderoso” a arquitetura religiosa se manifestava com uma escala monumental, com uma ambiência interna mística e uma cruz longitudinal reforçando todas essas características. Por outro lado, quando a Igreja precisou apresentar um Deus mais próximo ao fiel devido novamente a razão do período em que vivia, a arquitetura se manifestava com uma escala mais humana, com um altar central, com limpeza de detalhes, mais próxima ao fiel. No livreto “Estudos 106 da CNBB” (2013), é afirmado que a igreja nunca teve um próprio estilo, e sim aceitou o estilo da época que estava inserida, de acordo com a realidade de cada povo, criando assim no decorrer dos séculos um tesouro artístico.

O

próximo

capítulo

busca

a

representatividade

da

arquitetura

religiosa

contemporânea, e apresenta uma breve abordagem sobre a atual instrução da própria Igreja Católica (institucionalmente), na concepção de projetos.

1.10. APROVEITAMENTO DO CAPÍTULO PARA O PROJETO FINAL

Ao final de cada capítulo da pesquisa, será direcionado em tópicos o aproveitamento parcial para o projeto de arquitetura. Deste primeiro capítulo, a síntese que direcionou o partido arquitetônico foi: - Releitura da Planta em Cruz Latina; - Formato do Arco Ogival – Valorização da história da Arquitetura; - Praça em torno da Igreja - A importância para a Comunidade Cristã, a partir das festividades religiosas.


54

2. O ESPAÇO ARQUITETÔNICO DE CELEBRAÇÃO CRISTÃ NA CONTEMPORANEIDADE 2.1.

ARQUITETURA RELIGIOSA APÓS CONCÍLIO VATICANO II (1962-1965)

O Concílio Vaticano II (1962-1965) foi um concílio ecumênico da Igreja Católica, convocado pelo Papa João XXIII (Agora São João XXIII), que discutiu e regulamentou variados temas da Igreja. Foi um momento de reflexão global, que direcionou a novos rumos a Igreja Católica.

Figura 93 Santo João XXIII convocou o Concílio Vaticano II Fonte: Vatican.va, 2010

Figura 94 Interior da Basílica de São Pedro durante o Concílio Vaticano II, Roma Fonte: Vatican.va, 2010

Figura 95 Basílica de São Pedro - Vaticano – Roma local onde aconteceu o Concílio Vaticano II (1962-1965) Fonte: Vatican.va, 2010


55

A Igreja após o Concílio Vaticano II, examina e transforma todos os aspectos de sua trajetória. Segundo o arquiteto e padre André Andrade Brandão (2011), dos documentos, decretos e declarações, a Constituição Sacrosanctum Concilium que se refere à liturgia e ao Espaço Sagrado, é de grande relevância para este estudo. Ela orienta como deve ser a ambiência e disposição deste espaço, alcançando até especificidades do mobiliário adequado. Podemos dizer que existe uma disposição do espaço arquitetônico religioso antes e depois deste Concílio. No final do ano de 2013 a CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, divulgou um documento específico para direcionar os envolvidos nas obras religiosas, que vão desde arquitetos, engenheiros, construtores até a liderança da comunidade envolvida. Tudo isto para unificar e atender liturgicamente essas edificações. O livro “Estudos da CNBB 106 - Orientações para projeto e Construção de Igrejas e disposição do Espaço Celebrativo”, teve vários contribuintes em sua 1ª edição, dentre eles duas arquitetas que serão citadas neste estudo de caso: Regina Céli de Albuquerque e Raquel Tonini Schneider. Este estudo é um dos mais atualizados documentos da Igreja no Brasil, sobre a orientação de composição do espaço interno litúrgico e irá direcionará esta pesquisa.

2.2.

OS ELEMENTOS QUE COMPÕEM O ESPAÇO ARQUITETÔNICO LITÚRGICO

Os locais de celebração do povo de Deus assumiram no decorrer dos séculos formas diferenciadas, ainda que conservando alguns dos elementos básicos. Mas todos esses locais desempenharam a mesma função litúrgica: hospedar a assembleia dos fiéis para a celebração do mistério da fé. Segundo Dom Armando Bucciol, no “Estudos 106 da CNBB” (2013), o Concílio Vaticano II tinha um grande critério na reforma ou construção de novos templos “a Igreja sempre foi amiga das belas-artes e procurou continuamente o seu nobre mistério” (SC, n122). Ele ainda reafirma a necessidade de quando construirmos uma


56

igreja, não esquecermos que toda ela é um Ícone, uma imagem viva. O Estudos 106 (2013) também afirma que nas últimas décadas as igrejas são pouco inspiradoras, até mesmo reproduzem de maneira mecânica modelos passados. Este estudo reforça a ideia da necessidade de inovação, de espaços de beleza que inspirem a relação do homem com Deus.

O

espaço

litúrgico

contemporâneo

é

composto

por

diversos

elementos

arquitetônicos, que foram evoluindo e se adequando as realidades e tempos vividos.

De acordo com o teólogo e liturgista Frei José Ariovaldo da Silva (2001), quatro destes elementos são fundamentais na contemporaneidade: o altar, a mesa da palavra, o espaço da assembleia e a cadeira da presidência. Será descrito sobre estes e os outros elementos, necessários a funcionalidade e simbolismo de um edifício religioso cristão.

Uma das edificações com seus elementos do espaço celebrativo analisados foi a Igreja Paróquia “Nossa Senhora do Perpétuo Socorro”, localizada na Praia da Costa - Vila Velha/ES. A razão desta escolha é o fato do edifício religioso estar liturgicamente amparado após a sua reforma (2012-2013), idealizada pelo então pároco Padre Renato Paganini e pela Arquiteta especialista em Liturgia, Raquel Scheneider. Em paralelo a Igreja citada, a pesquisa citará outros monumentos religiosos reconhecidos em nível nacional ou internacional.

2.2.1. A Torre (Ou Campanário) A arquiteta Regina Céli de Albuquerque Machado (2007) afirma que ter uma torre em um edifício igreja nunca foi obrigatório! Nem mesmo durante o período gótico, que muito valorizava este elemento arquitetônico, ainda assim encontramos igrejas sem ela. Foi a partir do século V que elas começaram a ser inseridas no contexto do edifício religioso, e geralmente eram acompanhadas por sinos – denominados então campanários (torres com sinos).


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O livreto “Estudos da CNBB 106” (2013), afirma que é facilmente possível identificar o edifício igreja a partir deste elemento vertical arquitetônico, mas que podem haver outras formas de colocar os sinos para destacar o monumento religioso.

A torre trata-se de algo bastante particular, que se adapta a realidade local. Muitas vezes por restrição de recursos, estas são facilmente substituídas por uma cruz, ou algum outro elemento na fachada.

Figura 96 Catedral de Notre Dame, 1163 Paris Arquitetura Gótica com duas torres laterais Fonte: Editora Cleofas, 2012

Figura 97 Torre da Catedral de São Mateus São Mateus/ES Projeto da Arquiteta Regina Céli de Albuquerque Machado Fonte: Albuquerque, 2007

2.2.2. O Hall (Também conhecido como Átrio na Liturgia) Segundo Céli (2007), o hall também conhecido na liturgia como “átrio”, surgiu desde a época das basílicas. É um espaço intermediário que “separa” a área externa da área interna, ele dá entrada à igreja. Simbolicamente o átrio dá ideia de passagem, é o que prepara o mistério convidando para entrar. Ele pode ser de diversos tamanhos, formatos, externo com cobertura ou interno, tudo dependerá do projeto e concepção arquitetônica.

É bastante funcional! Ele filtra o ruído da rua, das pessoas que entram conversando. Neste espaço, pode haver quadro de avisos, folhetos, ou ainda “água benta” enaltecendo ainda a entrada no edifício religioso.


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Figura 98 Perspectiva Comunidade Nossa Senhora Aparecida, Itaim Paulista -São Paulo SP - Projeto da Arquiteta Regina Céli de Albuquerque Machado Fonte: Albuquerque, 2007

Figura 99 Planta Baixa Comunidade Nossa Senhora Aparecida, Itaim Paulista -São Paulo O item “1” corresponde ao Átrio da Igreja. Projeto da Arquiteta Regina Céli de Albuquerque Machado. Fonte: Albuquerque, 2007

O livreto “Estudos da CNBB 106” (2013), direciona que as dimensões deste espaço devem ser proporcionais ao espaço celebrativo, e as necessidades de outros ritos que acontecem no decorrer do ano litúrgico.

Oscar Niemayer, no projeto da Catedral Nossa Senhora Aparecida (Catedral de Brasília), surpreendeu com esta “transição” da área externa para a área interna. A igreja é de caráter monumental, e seu interior é banhado com muita luz natural, devido seu fechamento de teto todo em vitrais. O átrio da Catedral, foi uma releitura das Igrejas Góticas, onde o misticismo, o jogo de luz e sombra eram evidenciados na arquitetura. O Arquiteto fez do átrio uma rampa em desnível, que direciona os fiéis/visitantes para um local de passagem todo escuro, e ao passarem por este espaço, nos deparamos com uma nave central com abundância de luz.

Figura 100 Croqui para a Catedral de Brasília, por Oscar Niemayer. Fonte: Adaptado de Carol honeys, 2008

Figura 101 Croqui para a Catedral de Brasília, por Oscar Niemayer. Fonte: Carol honeys, 2008


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Figura 102 - Acesso a Catedral Metropolitana de Brasília pelo Átrio" Subterrâneo” (em desnível). Fonte: Adaptado de Google Maps

Figura 103 - Catedral Nossa Senhora Aparecida (Catedral de Brasília). O acesso a nave se dá em desnível, direcionando para um átrio todo escuro. Fonte: Brandão, 2011

Figura 104 O átrio direciona o fiel a nave central, que é banhada com muita luz natural devido a presença dos vitrais. Fonte: Wikipedia, 2010

Figura 105 Construção da Catedral de Brasília. Fonte: Brasil Acadêmico, 2010

Figura 106 Visita a Catedral de Brasília. Fonte: Arquivo Pessoal, 2010


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2.2.3. O Presbitério e a Nave

Vimos neste estudo científico, que no processo evolutivo da arquitetura religiosa os primeiros cristãos se reuniam nas casas dos fiéis. Nesse período não existiam elementos arquitetônicos do culto cristão, este já direcionava um espaço que posteriormente seria de extrema importância para a igreja antiga e para as basílicas, trata-se do lugar da presidência seguido da mesa da celebração da eucaristia. Antes ainda do altar, surgiu a Cátedra do bispo, e em torno desta estava o presbitério – lugar destinado aos presbíteros, especialmente nas basílicas, que também devido ao aumento dos fiéis, teve que adaptar o seu espaço para acomodar toda a assembleia. Este simbolismo estava ligado ao ensinamento. Era destinado somente ao clero. A nave central acomoda o ambão (mesa da palavra) e o altar, e nas colaterais os fiéis. O termo “nave” é derivado da palavra navio, que antigamente a estrutura do telhado central da basílica parecia com o cavername de um barco, segundo Frade (2007).

Regina Céli (2007) diz que para facilitar a acústica e a visibilidade, o presbitério deve ficar elevado, mas sempre passando a ideia de próximo do povo. Uma boa forma projetual de evitar este distanciamento, é elevar o presbitério em degraus com linhas curvas, linhas retas passam a impressão de separação. Este espaço deve ser suficiente para a mesa da palavra, o altar, a cadeira da presidência, e devemos evitar sobrecarregar com muitos arranjos, muitos elementos para não desviar a atenção do fiel.

Figura 107 Presbitério da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Vila Velha. Projeto da arquiteta Raquel Sheneider. Fonte: Arquivo pessoal, 2013.


61

“Estudos da CNBB 106” (2013), diz que a qualidade do espaço da assembleia reflete na maneira dos fiéis se relacionarem com Deus. O espaço precisa ser acolhedor, favorecer a comunhão e a ação litúrgica. A sua dimensão deve ser sempre proporcional ao tamanho da assembleia. Não pode passar a sensação de apertado, nem ser muito grande, limitando o a ideia de unidade. O livreto direciona também que as cadeiras ou bancos podem ser fixos ou móveis, com genuflexórios ou não, e que precisam ser fabricados com material de boa qualidade.

Os assentos de

serviços ministeriais como leitores, acólitos e outros, devem se localizar próximos ao local de ação litúrgica. 2.2.4. Mesa da Eucaristia - O Altar

Segundo Céli (2007), após Concílio Vaticano II, a mesa da eucaristia passa a ser única. O Altar destinado ao sacrário (reserva da eucaristia) por exemplo, não precisa de um altar especial. Esta peça precisa ser única, central e facilmente rodeado. Quanto a sua materialidade, preza-se por algo nobre: concreto, ferro, madeira ou pedra. O material deve ser verdadeiro, nunca imitação! O livreto “Estudos da CNBB 106” (2013) indica que, caso existir relíquias autênticas de mártires ou outros santos, que estas sejam posicionadas abaixo do altar, no piso. Segunda a Tradição Cristã, é o altar que dignifica o sepulcro dos mártires. O livreto direciona também, que não se deve colocar na frente do altar nenhum objeto que impeça os fiéis verem o que se realiza sobre ele, como flores, cadeiras ou toalhas.

Figura 108 Altar da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Vila Velha. Projeto da arquiteta Raquel Sheneider. Detalhe para a paginação de piso evidenciado a peça. Fonte: Arquivo Pessoal, 2013


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2.2.5. Cadeira da Presidência e dos Ministros

Segundo a arquiteta Regina Céli (2007), a cadeira da presidência deve exprimir o sentimento que existe um líder que preside a assembleia. O Concílio Vaticano II passa a não utilizar mais o antigo “trono”. Junto com o ambão e com o altar, a cadeira da presidência completa os três principais elementos do presbitério. Deve estar em um plano mais elevado para que o presidente não seja encobrido pelo altar. Mas, deve passar a ideia de proximidade do povo, nunca pode estar à frente do altar. O livreto “Estudos da CNBB 106” (2013), também afirma que esta peça deve estar em destaque, e que o lugar mais apropriado é de frente para o povo, no fundo do presbitério. Não deve possuir aparência de trono, como comentado anteriormente. O “Estudos 106”(2013) direciona que perto da cadeira da presidência também se posicione os assentos dos outros concelebrantes, e harmonia na materialidade, nunca se destacar da cadeira da presidência.

Figura 109 Ao fundo, cadeira da Presidência e dos Ministros. As peças em granito possuem a mesma linguagem que a mesa da eucaristia. Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Vila Velha. Projeto da arquiteta Raquel Sheneider. Fonte: Arquivo Pessoal, 2013


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2.2.6. O Ambão ou Mesa da Palavra

O Concílio Vaticano II também trouxe com sua reformulação litúrgica, uma valorização da mesa da palavra. Antes, as celebrações eram rezadas em latim, após houve uma valorização da língua local, para que a Igreja estivesse mais perto do fiel. Com isto, a mesa da palavra ganha um destaque especial no espaço arquitetônico do edifício religioso.

O ambão na maioria dos casos, está localizado dento do presbitério, ao lado do altar. Mas não é uma localização obrigatória! Esta “peça” deve estar em destaque – bem visível, sem estar distante da assembleia. Ele manifesta a importância do anúncio da Palavra de Deus. Pode ser móvel, ou fixo, com material nobre, geralmente harmonizado com o altar, a partir da ideia da arquiteta Regina Céli (2007). “Estudos da CNBB 106” (2013), também afirma que esta peça não deve ser tratada como estante, e que o espaço superior deve ser suficiente para um livro aberto (neste caso o evangeliário, utilizado na liturgia cristã). A materialidade aplicada a esse elemento arquitetônico junto ao altar e a cadeira da presidência, ajuda a levar a mensagem do seu verdadeiro significado litúrgico.

Figura 110 Ambão em granito da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Vila Velha. Projeto da arquiteta Raquel Sheneider. Detalhe para a composição do piso destacando o elemento arquitetônico. Fonte: Arquivo Pessoal, 2013


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2.2.7. Cruz

Céli (2007) afirma que a partir do século IX, o Cristo passa a ser representado na Cruz com os olhos fechados e semblante de morto. Antes, as primeiras representações da Cruz ele aparecia vivo vestido semelhante a um sacerdote, sobre a Cruz.

Após o Concílio Vaticano II, a indicação da Igreja é que não se utilize crucifixos fixados nas paredes, nem em tamanhos exagerados, e sim que façam o uso da cruz processional que remete ao simbolismo de uma cruz que acompanha o cristão em sua caminhada.

Sendo assim, na arquitetura religiosa contemporânea, a Igreja indica que a Cruz esteja em um apoio de pé ou na parede, no presbitério, nunca sobre o altar, podendo conter ou não a imagem do Cristo, morto ou ressuscitado.

Figura 111 Cruz Processional ao lado da Mesa da Eucaristia, e ao fundo pintura do Cristo Ressuscitado - de Dom Ruberval Monteiro, OSB Doutor em Iconografia Cristã. Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Vila Velha. Projeto da arquiteta Raquel Sheneider. Fonte: Arquivo Pessoal, 2013


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2.2.8. Credência

Como analisado por Regina Céli (2007), a credência é como uma mesinha que fica posicionada próximo ao altar. Tem a função de suporte para a paramentação litúrgica da missa: patena, cálice, galhetas livros e afins. O ideal é que ela fique encostada na parede próxima ao altar. Pode ser fixa, ou móvel, depende da proposta. Por ser mais uma peça que compõe o presbitério, esta deve estar em harmonia com os materiais deste espaço.

Estudos da CNBB 106 (2013) afirma ainda que a mesa é de apoio ao altar, deve estar em local discreto e não integrada na composição dos outros elementos.

2.2.9. O Batistério

O lugar para o batismo varia de acordo com a doutrina de cada religião. No caso do espaço arquitetônico em templos católicos, após Concílio Vaticano II existe um direcionamento para a praticidade e funcionalidade do batistério próximo ao altar, na frente da assembleia. Segundo o estudo de Céli (2007) e de Frade (2007) percebese que nem sempre foi assim! As primeiras comunidades usavam as águas dos rios, lagos ou outros tipos de água corrente para o batismo, até como simbolismo do batismo do Cristo no Rio Jordão. Por volta do século VI, este lugar começa a ser previsto na entrada dos edifícios religiosos, simbolizando essa “entrada” para a vida em comum dos cristãos. De acordo com “Estudos da CNBB 106”, o lugar do batistério deve ser planejado, sobretudo levar em conta que o rito batismal acontece em diferentes momentos dentro da liturgia, não sendo realizado sempre no mesmo lugar. Deve-se considerar o caráter comunitário desse ato. O simbolismo é reforçado quando agrega-se água corrente a fonte batismal. Deve-se prever também lugar para o Círio Pascal e para os sagrados óleos.


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Figura 112 Pia Batismal da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Vila Velha. Projeto da arquiteta Raquel Sheneider. Fonte: Arquivo Pessoal, 2013

2.2.10.

O Confessionário – lugar da reconciliação

Regina Céli (2007) em seu livro explica que o confessionário é destinado ao sacramento da confissão, onde o fiel está em diálogo e contato pessoal com o sacerdote. Trata-se de um espaço discreto, que permita posturas como ficar em pé, ou sentado ou ainda de joelhos.

Nem sempre é possível encontrar nas igrejas este local específico a confissão individual. Este ambiente pode ser na nave, ou uma pequena saleta acoplada a capela, pode ter duas cadeiras, com uma mesa pequena, ou pode aparecer ainda como um mobiliário específico. No livreto “Estudos da CNBB 106” (2013), direciona que o ambiente da reconciliação deve ser preparado para esta finalidade, permitindo todos os rituais. Pode-se também fazer uso da iconografia sugerindo um Deus que acolhe e renova a sua aliança.


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Figura 113 Planta Baixa Catedral de São Mateus - São Mateus ES Destaque para o Confessionário à direita do templo. Projeto da Arquiteta Regina Céli de Alburquerque Machado. Fonte: Albuquerque, 2007

Figura 114 - Confessionário da Catedral de São Mateus – São Mateus/ES. Projeto da Arquiteta Regina Céli de Alburquerque Machado. Fonte: Albuquerque, 2007


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2.2.11.

O Espaço destinado ao Coro

Como analisado por Regina Céli (2007), na Igreja atual não existe a necessidade de um lugar em destaque para o coro. A função deste coro é estar em diálogo com a assembleia, animando-a. Logo este precisa estar inserido próximo a nave. Geralmente, os músicos e seus instrumentos, ficam posicionados entre a nave e o presbitério, numa lateral, em nível intermediário. Este espaço não deverá “concorrer” com o altar, nem chamar muita atenção.

Nos primeiros séculos, este espaço específico nem existia. Era a comunidade inteira que participava, havia o espaço apenas para quem tocava o instrumento musical. Foi a partir do século VII que surgiu o coro, que geralmente era ocupado por monges. Nas igrejas monásticas românicas, este espaço ficava entre os fiéis e o santuário, e durante o período renascentista, este se isolou da assembleia indo para o fundo da nave. Em “Estudos da CNBB 106” (2013), a orientação é que os músicos e cantores deverão ocupar o lugar junto à assembleia, mas deverá prever infraestrutura adequada para os instrumentos musicais, microfones, retorno, caixas de som entre outros.

2.2.12.

A Sacristia

Existe uma localização para a sacristia antes e depois do Concílio Vaticano II. Antes, era muito utilizada próxima ao presbitério. Com a renovação da liturgia optando pela entrada solene do celebrante pela nave central, quase que obriga a sacristia a se localizar próxima a entrada da igreja. Sobretudo, a localização deste espaço antes do concílio ainda é bastante utilizada nos edifícios religiosos, tendo em vista que não impede que o celebrante saia pela lateral e se posicione na entrada da nave.

Segundo Estudos da CNBB 106 (2013), a sacristia é um lugar de serviço. Neste espaço, guarda-se as roupas dos celebrantes, os objetos para a celebração, uma mesa com cadeira, uma pia, e se possível um banheiro. Pode haver duas sacristias:


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uma mais perto do altar para guardar os utensílios necessários a celebração e outra mais próxima da entrada da igreja, onde os ministros se trocam, no início e final da procissão. Também pode ser chamada de paramentação neste caso.

2.2.13.

Capela do Santíssimo

O “Sacrário” que conhecemos hoje, é um nicho fechado, que pode ser em madeira, metal, ou outro material, é destinado a conservar as hóstias consagradas nas missas, deve ser nobre, fixo, e com fechadura. De acordo com “Estudos da CNBB 106”, seu tamanho vai depender da realidade de cada comunidade.

Até os séculos XII e XIII, estas hóstias ficavam na sacristia. Com o Concílio de Trento (1545 a 1563), as igrejas passam a ter a capela do santíssimo. Um Espaço fechado, para a adoração eucarística. A partir do século XVI, esta capela, ocupa um altar-mor, o lugar mais importante da igreja.

Atualmente, a capela do santíssimo é o espaço concebido para receber o sacrário, e com ele a visitação dos fieis em clima intimista e de adoração a eucaristia.

Figura 115 Sacrário em Bronze Fonte: Dominidomus, 2013

Figura 116 Capela do Santíssimo da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Vila Velha. Projeto da arquiteta Raquel Sheneider. Fonte: Arquivo Pessoal, 2013


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2.2.14.

Imagens

Segundo a arquiteta Regina Céli (2007), após o Concílio Vaticano II, a Igreja diz que a imagem central deve sempre ser a do Cristo que pode ser pintado, ou em ícone ou ressuscitado ou ainda na cruz. E, em seguida a imagem do padroeiro daquela determinada comunidade. As outras imagens devem ser discutidas e avaliadas para que não haja exagerados, como avaliado pelo concílio. Essas imagens não necessariamente devem estar sobre o presbitério (exceto a cruz), é mais interessante que estejam em locais acessíveis aos fiéis, como na nave por exemplo.

Figura 117 Ao fundo, imagem do Cristo Ressuscitado. Ao lado direito da foto, acima de três castiçais, imagem da padroeira da comunidade. Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Vila Velha. Projeto da arquiteta Raquel Sheneider. Fonte: Arquivo Pessoal, 2013

2.2.15.

Círio Pascal

Trata-se de uma grande vela, que se destaca das outras devido a sua representação simbólico-litúrgica, que dentro do catolicismo, é Sinal de Cristo ressuscitado. Círio pode ficar sobre o presbitério, ou ainda junto a pia batismal. Seu apoio pode ser em madeira, ferro ou outro material.


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Figura 118 Círio Pascal próximo a fonte batismal. Igreja Paroquial São Pedro e São Paulo, Curitiba, 1994 Fonte: Pastro, 2004

2.2.16.

Sala do Dízimo

A Sala do dízimo quando houver necessidade, de acordo com a realidade de cada comunidade/pastoral, não poderá compor o mesmo espaço da celebração segundo o livreto Estudos da CNBB 106. Poderá prever uma sala perto do acesso ou da secretaria.

2.3.

APROVEITAMENTO DO CAPÍTULO PARA O PROJETO FINAL

O segundo capítulo, direciona para o projeto como deverá ser projetada uma Igreja Católica na atualidade, explicando seus principais elementos arquitetônico-litúrgico.


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3. IGREJAS E PAISAGEM CULTURAL Está encravado na história da arquitetura e do urbanismo a relação do edifício igreja com a paisagem cultural de onde este está inserido. A proposta deste capítulo é esclarecer os titulos da edificação religiosa, exprimir o sentido de Paisagem Cultural bem como a palavra “marco”, segundo o urbanista Kevin Lynch.

Figura 119 Croqui esboçando a relação do “Edifício Igreja" e sua inserção na “Paisagem Cultural”. Fonte: Arquivo Pessoal, 2013

3.1.

O EDIFÍCIO RELIGIOSO E SEUS TIPOS

Antes de entendermos a definição de Paisagem Cultural, precisamos distinguir os vários títulos dados ao “edifício religioso”, que é classificado segundo sua dimensão, especificidade e prática litúrgica.

De acordo com o Monsenhor Shubert (1978) na publicação Arte para fé, ele diferencia os títulos da edificação religiosa: catedral, igreja, capela, santuário, basílica e outros títulos.


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3.1.1. Catedral O nome Catedral, é derivado da palavra “Kátedra”, que dentro do Cristianismo representa a cadeira do bispo”. A Catedral representa a Igreja mãe de uma diocese. A diocese pode ser Episcopal (igreja do bispo) ou Arquiepiscopal (Igreja do arcebispo).

Exemplificando, no Estado do Espírito Santo possuímos quatro dioceses: São Mateus, Colatina, Cachoeiro e a quarta diocese e também a Arquidiocese de Vitória, (pois abrange a capital do Estado), que também pode ser denominada como Catedral Metropolitana. Esta é para cerimônias especiais, geralmente executadas pelo bispo.

Figura 120 Catedral Metropolitana da Capital Vitória - ES. Fonte: Arquivo Pessoal, 2013

3.1.2. Igreja Paroquial (ou Igreja Matriz)

A igreja matriz funciona como uma sede para as outras igrejas de determinada região. O bispo nomeia um padre como “pároco” para administrar a paróquia. Segundo Mons. Guilherme Schubert (1978, p. 10): “[...] é a célula-mater da vida comunitário-religiosa [...]”. Eliva de Menezes, na tese de mestrado “Arquitetura Luz e


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Liturgia” (2006), afirma que o arquiteto que souber projetar uma igreja paróquia não terá problema nenhum em projetar as outras igrejas, pois todas partem da funcionalidade de uma igreja Matriz.

Figura 121 Matriz de São marcos, Nova Venécia. Fonte: Panorama, 2009

3.1.3. Capela

Em sua maioria, as capelas possuem dimensões reduzidas e para um público com poucas pessoas. Fogem da limitação de institucionalmente estarem ligadas a Igreja, podendo ser para uma família, para alunos de um colégio, para quartéis militares, cemitério, entre outroas.

Figura 123 Capela Fazenda Venezza, SP Arquiteto Decio Tozzi. Fonte: Pini Web, 2009

Figura 122 Capela Universidade Vila Velha, Campus Boa Vista. Fonte: UVV, 2012


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3.1.4. Santuário

Segundo Schubert (1978) uma igreja com este título refere-se ao lugar centro de peregrinações, devido a devoção a Deus e aos Santos. Os fieis formam filas para ver ou rezar junto à imagem.

Figura 124 Santuário de Fátima, Portugal. Fonte: Cleofas, 2013

3.1.5. Basílica

Vimos neste estudo o surgimento da basílica cristã a partir da basílica pagã. Foram algumas destas igrejas de Roma, o título de basílica é dado a notável veneração dos fiéis a determinado santo (a), ou a sua importância história e artística.

Figura 125 Basílica Nossa Senhora de Aparecida, SP. Visitada por milhares de fiéis de todo mundo. Fonte: Adf.org, 2009


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3.1.6. Outras Igrejas Igreja Filial – é uma igreja subordinada à matriz, popularmente conhecida como “comunidade”. Igreja Colegiada – nesta atua um grupo de padres, onde recitam o Ofício Divino (raro no Brasil). Conventual – é uma Igreja que tem ligação a um convento de religiosos (as). Como exemplo, o Convento da Penha (Figura 126 e Figura 127) – Vila velha/ES. Abacial – seu superior é um abade. Ex.: os beneditinos – mosteiro de São Bento – RJ (Erro! Fonte de referência não encontrada. e Erro! Fonte de ferência não encontrada.). Irmandade – A irmandade tem como administradora uma

associação religiosa de leigos, amparada pelo bispo. Também funciona como uma igreja filial.

Figura 126 Tela de Clóvis Aquino – Convento da Penha, Vila Velha. Fonte: Clovis Aquino,2011

Figura 129 Mosteiro de São Bento, RJ Fonte: Wikipedia, 2009

Figura 127 Tela de Clóvis Aquino - Convento da Penha visto a partir da Prainha, Vila Velha. Vencedor do concurso “Pinta Prainha”, 2011. Fonte: Pinta Prainha, 2011.

Figura 128 Capela Mor - Mosteiro de São Bento, RJ. Missa do Galo,2009. Fonte: Wikipedia, 2009


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3.2.

A PAISAGEM CULTURAL

De acordo com Torelly no artigo paisagem cultural, uma contribuição ao debate publicado em novembro de 2008 pelo importante site vitruvius, os rios, as montanhas, as árvores são elementos naturais que estão ao nosso redor e possuem “vida” diferente da nossa. Também somos rodeados pelas criações humanas: casas, pontes, estradas, edifícios. Ambas criações (naturais e humanas), são passíveis de transformações. São formados não apenas por volumes, mas por cores, movimentos, texturas, sons, odores.

A princípio, qualquer paisagem é cultural, seja ela intocada pelo homem ou totalmente alterada pela ação antrópica. Este conceito é bastante amplo e complexo, e não tem contornos claramente definidos, o que traz uma subjetividade ao tema. O comitê do Patrimônio Cultural da Unesco enfatiza a ação do homem como definidor das paisagens culturais, dividindo-as em três categorias: as paisagens claramente definidas, a paisagem evoluída organicamente, a paisagem cultural associativa. Essa definição vai desde as paisagens com intervenção humana, bem como as imateriais, intangíveis.

Quase todos os princípios e critérios tem como referências fundamentais a Convenção Relativa à proteção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural da Unesco que foi aprovada em 1972, e a resolução do Comitê do Patrimônio Mundial de 1992, que juntas, reconheceram “as interações significativas entre o homem e o meio natural” como paisagens culturais.

Alguns desses critérios, são aplicados para o conceito da paisagem cultural deste estudo: 1. A presença e imbricamento singular da “cultura” e da “natura”, a luz dos condicionantes ambientais, culturais, sociais e econômicos; 2. O caráter evolucionista da presença humana, seus testemunhos e a sinergia entre os ambientes naturais, construídos e os modos de produção; 3. A ocorrência de manifestações e representações do patrimônio material e imaterial, integrantes de um mesmo universo cultural;


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4. Outorga de valor a uma fração territorial e as atividades nela desenvolvidas que envolva os aspectos anteriormente citados, capaz de agregar valor econômico, gerar emprego e renda e oportunidades de fomento as cadeias produtivas; 5. Notabilidade das obras do homem ou da conjugação destas com a natureza; 6. Gestão pactuada e compartilhada entre o poder público, a sociedade civil e a iniciativa privada; 7. Plano de manejo ou preservação, integrado ao plano diretor do município(s) onde se localiza a paisagem; 8. Ações educativas permanentes e forte coesão social; 9. Sentido de identidade e pertencimento da população que habita ou trabalha no território abrangido pela paisagem. (Cf. RIBEIRO, Rafael Winter, 2007).

Quanto a definição da paisagem contida nos dicionários “extensão de território que o olhar alcança num lance” – dicionário Houassis, mesmo sendo possível sua aplicação a uma pequena parcela de paisagens culturais, o que mais chama a atenção é a necessidade de uma limitação espacial geográfica.

A paisagem cultural pode exibir dentro do caráter evolutivo, um grande número de possibilidades que dependerão da internvenção do homem, incluindo intensidade e qualidade. Em se tratando de ecossistemas naturais de grande extensão, ou ainda conjuntos arquitetônicos, paisagísticos, sítios arqueológicos e monumentos, que possuem pequena influencia econômica, é possível um processo de gestão centralizado em um ente privado ou público com instâncias participativas locais. Por outro lado, as situações com forte dinamisco econômico e social, recomenda-se o critério da eleição para escolha. Neste caso, aplica-se as paisagens rurais e urbanas, presentes nas necessidades de preservação e proteção, e na dinâmica da economia. A instituição da “Paisagem Cultural” será um grande avanço no que se refere ao patrimônio natural e cultural, e irá depender de diversas variáveis, sobretudo de políticas públicas que sejam compatíveis a cada realidade e que potencialize atividades econômicas, como o turismo, o artesanato e manufatura, entre outros.

O tombamento instituído pelo Decreto Lei nº 23 de 1937, junto aos instumentos jurídicos, urbanísticos, tributários criados pelo Estatuto das cidades são importantes


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para a proteção e preservação de paisagens culturais, mas não são suficientes, bem como medidas restritivas não seguram mais as fortes pressões sociais e econômicas que essas áreas estão sujeitas.

No Brasil, essa aplicação bem sucedida do conceito de paisagem cultural como instrumento de planejamento e gestão, só ocorrerão a partir do momento que houver motivação, coesão e participação social, vinculados a uma sério de aspectos que dizem respeito ao setor privado, público e da sociedade em geral. Milton Santos (1982) afirma que o traço comum da paisagem “(...) é ser a combinação de objetos naturais e de objetos fabricados, isto é, objetos sociais e ser o resultado da acumulação da atividade de muitas gerações”.

Na Carta de Bagé ou Carta da Paisagem Cultural Bagé, Rio Grande do Sul, 18 de agosto de 2007: Artigo 2 – A paisagem cultural é o meio natural ao qual o ser humano imprimiu as marcas de suas ações e formas de expressão, resultando em uma soma de todas os testemunhos resultantes da interação do homem com a natureza e, reciprocamente, da natureza com homem, passíveis de leituras espaciais e temporais. Assim um maior entendimento do termo “Paisagem Cultural”, nos possibilita a uma embasada discussão sobre a relação do monumento religioso com o seu entorno, e a sua importância na busca da harmonia deste diálogo com a paisagem local.

3.3.

DEFINIÇÃO DE “MARCO”, POR KEVIN LYNCH

Kevin Lynch urbanista e escritor, é responsável por uma importante obra para a arquitetura e urbanismo em todo o mundo: seu livro a Imagem da cidade (1960). Este é fruto de cinco anos de pesquisas sobre a visão individual de cada pessoa, em relação a percepção e organização de informações aleatórias no tráfego do espaço urbano de três cidades norte americanas. A partir deste estudo, Lynch traçou o conceito de percepção do indivíduo em relação a cidade. Ele fala sobre a “Imagem da cidade e seus elementos”. São eles: caminhos, limites, bairros, pontos nodais e marcos.


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Como Marco Local, Lynch classifica em diversas escalas, passando desde torres, domos, edifícios, a esculturas etc. São elementos pontuais que o observador não entra.

Figura 130 Ideia de Marco Local por Kevin Lynch Fonte: Adaptado de Urbanidades, 2008

A singularidade é uma das principais características. O aspecto único e memorável para o contexto de marco local pode ser alcançado a partir da ideia de ser visto de muitos lugares, ou até mesmo sendo um contraste dos elementos ao redor. Geralmente o termo de marco local é mais utilizado pelos moradores acostumadas aquela cidade.

Figura 131 Ópera de Sydney como Marco Local. Fonte: Foto: Tim Sheerman-Chase, 2008

Figura 132 Catedral de S. Maria del Fiore – Florença, como Marco Local. Fonte: Benevolo (1999)


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3.4.

A IGREJA PERDEU O TÍTULO DE “MARCO LOCAL”

Segundo a arquiteta Regina Céli de Alburquerque Machado (2007), nos dias atuais não são mais as torres das Igrejas que marcam os centros das Cidades, e sim os edifícios verticalizados, as antenas das emissoras de comunicação, e outros.

Com esta análise, nota-se que a arquitetura religiosa se descaracterizou perdendo o título de “Marco Local”. São vários os fatores que contribuíram para tal acontecimento, dentre estes: a inserção das novas denominações, muitas destas sem referência doutrinária e ou sem uma concepção arquitetônica bem definida, a dissociação entre Estado e Igreja (laiciscimo), a verticalização dos edifícios sem um planejamento adequado de visuais, a falta de políticas públicas de valorização destas edificações (planejamento urbano).

O primeiro estudo de caso desta pesquisa irá identificar o processo de modernização da capital do Espírito Santo - Vitória, com um paralelo entre a camuflação da Catedral Metropolitana no decorrer das décadas e a expansão do “Novo Arrabalde”.

3.5.

APROVEITAMENTO DO CAPÍTULO PARA O PROJETO FINAL

O terceiro capítulo, contribui para o projeto: - Igreja Filial (ligada a uma Matriz) – Que será de apoio a Paróquia; - O Edifício Religioso inserido na Paisagem Cultural da Cidade; - A Igreja como Marco Local.


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4. ESTUDOS DE CASOS

4.1.

CATEDRAL METROPOLITANA DE VITÓRIA – IMPONÊNCIA X PERDA DE MARCO LOCAL

Figura 133 - Catedral Metropolitana Nossa Senhora da Vitória Fonte: Arquivo Pessoal, 2013


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4.1.1. As várias estações: iniciada com uma Capela, passando por Matriz até se consolidar na atual Catedral Metropolitana Nossa Senhora da Vitória Segundo Letícia Baccalli (2009), em seu livro “Vitória Sítio Físico e Paisagem”, Vitória foi fundada em 1551 pelos colonos portugueses que estrategicamente se implantaram tirando partido da condição geofísica da Ilha que permitia instalar fortificações, se protegendo dos ataques dos inimigos indígenas. A então “Vila da Vitória” foi implantada numa colina pouco elevada, cercada por vegetação, que influenciou na configuração da paisagem.

Figura 134 Capitania do Espírito Santo. Mapa de autoria de João Teixeira Albernaz, que mostra a Baía de Vitória, sua sede, a Vila Velha e os engenheiros de Azevedo, de Francisco Aguiar e de Leonardo Fróis. Destaque para a Vila da Vitória. Fonte: Adaptado de ADONIAS, 1993.

Beccalli (2009) afirma que esse belo desenho da paisagem possui elementos naturais que limitam sua expansão: o mar, o morro, as montanhas, as áreas alagadiças.

No alto, concentravam-se as construções mais importantes,

características do esquema adotado pelos portugueses. Dentre estas estava a capela Nossa Senhora da Vitória que posteriormente viria se tornar a Matriz Nossa Senhora da Vitória, e atualmente a Catedral Metropolitana.


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Figura 135 Levantamento da Vila da Vitória e da região vizinha, José Antônio Caldas, 1764. Destaque para o posicionamento da edificação religiosa. Fonte: Adaptado de Reis, 2000.

Figura 136 - Prospecto da Vila da Vitória. Autoria de José Antônio Caldas, 1767 Destaque para a edificação religiosa. Fonte: Adaptado de Reis, 2000.

Nessa época, as edificações eram na sua maioria, de um ou dois andares, com silhueta mais fechada, com linhas suaves predominantemente horizontais. Essa horizontalidade das edificações e da paisagem natural era quebrada pela


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implantação das igrejas no ponto mais alto do terreno, sempre em posição de destaque reforçando o poder dessas instituições. Até este momento da história da paisagem de Vitória, podemos destacar que a ocupação da ilha pela cidade, foi se adequando às possibilidades e dificuldades do seu sítio físico. Nota-se com propriedade, a forte presença do Maciço Central, das Igrejas – Capela, Colégio dos Jesuítas, Igreja de São Tiago e Nossa Senhora da Misericórdia e da baía na paisagem da cidade.

Figura 137 Em primeiro plano, antiga sede da Assembleia Legistlativa, ao fundo a antiga Matriz no final da década de 1910. Fonte: Acervo do Instituto Goia.

A então Catedral Metropolitana teve início em sua construção a partir de 1920 e foi finalizada 50 anos depois, em 1970. De acordo com Pedro Canal (2010), organizador da coleção “Vitória em monumentos”, a Catedral Metropolitana de Vitória (Figura 138) é sem dúvida uma referência arquitetônica na Cidade Alta, é uma das principais atrações sem desmerecer os outros monumentos, que foi concluída em 1880, pelo autodidata, arquiteto e construtor Andé Carloni.


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Figura 138 Na Fachada Frontal, inspirada na Catedral alemã de Colônia, destaca-se a volumetria das duas torres e do frontão profusante. Fonte: Adaptado de Tóten do projesto visitar exposto na Catedra, 2013

4.1.2. O processo de modernização e a perda do título de “Marco Local” Da Catedral

De acordo com Beccalli (2009), o fim dessa “paisagem natural” chega com os aterros, que iniciam o processo de modernização e verticalização que virá a ser implantado ao longo dos anos. Foi a partir de 1812 e 1819 que foram realizados os aterros próximos ao núcleo central, nas regiões alagadas, sendo concluídos nos anos e 1830 e 1860.

Figura 140 Área de aterro do Campinho (atual Parque Moscoso). a- Ao fundo, Igreja de São Gonçalo; b- Uma das torres da igreja de São Tiago anexa ao Palácio do Governo em 1906. Fonte: Adaptado de Acervo do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo.

Figura 139 Vitória, início do século XX, 1910. Fonte: Acervo do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo


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Figura 141 Mapa dos Aterros ocorridos nas proximidades da Villa Vitória. Fonte: Adaptado de MIRANDA (2001) e do instituto Jones dos Santos Neves.

Figura 142: Aterros do Centro de Vitória. Fonte: Arquivo Público Municipal.

Um dos aspectos que desvalorizou a inserção do edifício religioso na paisagem cultural foi o fato desta modernização não integrar o monumento igreja.

De acordo com Letícia Beccalli (2009), a proposta do Novo Arrabalde para Vitória projeto datado de 1896, é a expansão de uma nova área 5 ou seis vezes maior que a cidade até então. Sua localização fica a nordeste da ilha, em planícies arenosas. Era uma área com algumas ilhas, morros, mangues e brejos e com terrenos secos.

A proposta do engenheiro sanitarista Saturnino de Brito, foi de ter um desenho com base ortogonal, cortada na diagonal por duas avenidas, uma delas a Reta da Penha com angulação voltada para o Convento.

Figura 143 Traçado do Novo Arrabalde tem uma de suas principais avenidas voltadas para o Convento da Penha. Fonte: De olho na ilha, 2010


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Trazendo este traçado para a realidade de pesquisa, nota-se o oposto do ocorrido no processo de modernização da antiga Vila Vitória. O engenheiro Saturnino de Brito utilizou do urbanismo e parcelamento do solo para valorizar a edificação religiosa Convento da Penha, como marco visual e simbólico. Fato que não aconteceu com a então Catedral Metropolitana na renovação da área urbana.

No século XX, com a implantação dos altos edifícios a partir dos aterros comentados, perdeu-se a visibilidade da cidade alta e baixa e seus monumentos religiosos, essencialmente a Catedral Metropolitana, assunto deste estudo de caso.

Figura 144 Aterros e verticalização do Centro de Vitória. Fonte: Adaptado de Cartão Postal.

Figura 145 Edifícios Verticalizados do Centro de Vitória. Destaque para a atual Catedral Metropolitana. Fonte: Adaptado de Cartão Postal.

Como uma breve conclusão deste estudo de caso, analisa-se o processo evolutivo da antiga Vila da Victória até o atual bairro Centro de Vitória, conhecido como “Cidade Alta”. Nota-se que o Edifício Igreja estava posicionado em local de destaque, compondo a paisagem cultural entre o maciço e o mar. Com a necessidade de renovação da malha e modernização da cidade, vieram os aterros, o novo arrabalde (plano de ampliação da cidade) e assim o processo de verticalização para a região em estudo, e com isto a criação de um novo cenário urbano, que desvincula o edifício religioso do título de marco e referência local.

Esta análise comprova também a necessidade um planejamento urbano que viabilize além desenvolvimento, buscando a valorização cultural de monumentos religiosos/históricos.


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Figura 146 Evolução da área de estudo. O processo de verticalização, a mudança de cenário urbano e o desaparecimento da vista da Catedral de Vitória. (A) Villa da Victória em 1767; Fonte: Adaptado de Miranda, 2001. Acervo do Arquivo histórico do Exército. (B) Cidade de Vitória em 1889; Fonte: Adaptado de Luis Silveira,1956. (C) Centro de Vitória na atualidade, mostra os edifícios verticalizados e a camuflagem da Catedral Metropolitana. Fonte: Adaptado de Morro do Moreno, 2010.

O que vimos neste estudo de caso, são dois fatos diretamente ligados a esta fala da arquiteta Regina Céli. O primeiro (Modernização Centro Vitória), desvincula a relação do edifício religioso com o seu entorno. O segundo (Novo Arrabalde) valoriza e insere o monumento cristão no contexto da paisagem cultural da cidade, exaltando a sua importância através de marcos visuais encravados por leis do município. Notase assim, a importância que o planejamento urbano tem em favorecer ou não a inserção do Edifício Igreja na cidade.


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4.2.

ESTUDO DE CASO 2: IGREJA DO JUBILEU DO ANO 2000 – MARCO E SIMBOLISMO CRISTÃO

Figura 147 Igreja do Jubileu do ano 2000 Fonte: Arco Web, 2004

No estudo de caso anterior, viu-se alguns motivos que levaram o “Templo Igreja” a perder a referência de marco local, a partir do exemplo da Catedral Nossa Senhora da Vitória. Este segundo estudo de caso traz um outro questionamento bastante pertinente ao simbolismo, muitas vezes deixado de lado na concepção do projeto destes edifícios religiosos.

A Igreja do Jubileu do ano 2000, foi projetada pelo arquiteto norte-americano Richard Meier. Trata-se de um projeto escolhido a partir de um concurso da Igreja Católica, idealizado para ser a Igreja do Milênio, em Roma/Itália. Devido os três anos de atraso, a obra teve sua inauguração no final de 2003, coincidindo com o jubileu do pontificado do Papa João Paulo II, resultando assim o nome do templo. Participaram

deste

concurso,

japonês Tadao Ando, o

outros

renomados

alemão Günter Behnisch,

arquitetos,

tais

como

o

o hispano-suíço Santiago

Calatrava, o norte-americano Peter Eisenman e o canadense radicado nos EUA Frank Gehry.


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Figura 148: Implantação e entorno Igreja do Jubileu do ano 2000 Fonte: Arco Web, 2004

Localizada na região periférica de Roma – Itália, a Igreja do Jubileu foi implantada em um terreno com 10.072m² de área, tendo 2.501 m² de área construída divididos em três pavimentos – subsolo, 1º pavimento e 2º pavimento.

Figura 149: Volumetria Igreja do Jubileu do ano 2000 Fonte: Arco Web, 2004


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O pavimento subsolo (Figura 150) possui espaços destinados aos serviços internos do centro comunitário, duas grandes salas de reuniões e um auditório ambos abrindo-se para um pátio, são áreas voltadas para atendimento ao público.

Figura 150: Pavimento Subsolo Igreja do Jubileu do ano 2000 Fonte: Arco Web, 2004

No pavimento térreo (Figura 153) o batistério, confessionário e capela foram posicionados na parte lateral direita do templo. As curvas acentuam a ala sacra da edificação, o que na verdade foi o resultado do partido arquitetônico do projeto. As conchas de concreto protendido revestidas com placas de mármore travertino (Figura 151), que segundo o arquiteto, fazem discreta alusão as três pessoas da Santíssima

Trindade

Figura 151: Conchas em concreto protendido revestidas em mármore travertino. Fonte: Acervo Pessoal Clóvis Aquino, 2014

tradição

da

Igreja

Católica.

Figura 152 O espaço entre as conchas é vedado com caixilharia. Fonte: Arco Web, 2004


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Figura 153: Pavimento Térreo Igreja do Jubileu do Ano 2000. Fonte: Arco Web, 2004

Figura 154 Interior da Igreja do Jubileu. Fonte: Acervo pessoal Clóvis Aquino, 2014

Figura 155 Interior da Igreja do Jubileu. Os Caixilhos de Vidro levam iluminação natural em abundância para a nave. Fonte: Acervo pessoal Clóvis Aquino, 2014


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Outro fator positivo no projeto de Meier, foi o mobiliário liturgicamente correto da igreja, desde o presbitério até os bancos da nave principal.

Figura 156 Presbitério da Igreja do Jubileu. Fonte: Acervo Clóvis Aquino, 2014

Figura 157 Altar retangular com linhas curvas Igreja do Jubileu. Fonte: Acervo Pessoal Clóvis Aquino, 2014

Figura 158 Banco em madeira Igreja do Jubileu. Fonte: Acervo pessoal Clóvis Aquinos, 2014

A área “profana” do edifício religioso é formada por sobreposições sucessivas de quadrados e retângulos, uma das fortes características do arquiteto idealizador Richard Meier. O acesso principal se dá na orientação leste oeste, e visualmente “divide” esses volumes.


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Entre as conchas, os espaços são vedados por caixilhos de vidros (Figura 152, Figura 155), permitindo a entrada de luz natural, que no decorrer da mudança das estações do ano, o tempo e a intensidade de luz vão modificando a percepção do espaço ( Figura 159).

Figura 159: Interior da Igreja do Jubileu do ano 2000. Fonte: Acervo pessoal Clóvis Aquino, 2014

O segundo pavimento (Figura 160) é marcado pela estrutura domiciliar do Padre da paróquia, outro diferencial da obra, nele estão os quatro dormitórios, cozinha, sala de estar e jantar.

Figura 160: Pavimento Superior Igreja do Jubileu do Ano 2000. Fonte: Arco Web, 2004


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Um dos aspectos curiosos do projeto do arquiteto Richard Meier para a Igreja do Jubileu do ano 2000, é o fato de ser o primeiro templo católico romano desenhado por um judeu. O arquiteto conseguiu traduzir na arquitetura do templo religioso particularidades da Igreja Católica, levando em conta a espacialidade e funcionalidade específicas para o edifício igreja. O arquiteto também conseguiu atribuir a monumentalidade e o destaque da edificação no entorno inserido.

Figura 161: Fachada frontal. Igreja do Jubileu do ano 2000. Fonte: Arco Web, 2004

Figura 162 Visão do Entorno da Igreja do Jubileu do ano 2000, a partir da sua Praça. Fonte: Acervo pessoal Clóvis Aquino,2014


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4.3.

ESTUDO DE CASO 3: IGREJA DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS – UMA IGREJA QUE “SE ABRE” PARA O POVO

Figura 163 Fachada Frontal e em perspectiva da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, Munique, Alemanha. Fonte: Allmannsattlerwappner, 2013

A Igreja do Sagrado Coração de Jesus pertence a arquidiocese de Munique, na Alemanha (Figura 163). A Arquidiocese de Munique possui um grande número de edifícios religiosos sofisticados, são mais de 2000 igrejas distribuídas em 757 paróquias. O interessante desta arquidiocese é o fato de existir um Departamento de Construção para promover a arte e cultura, e se divide em três secções: Liturgia e Música Sacra, Arte Sacra e Arquitetura Religiosa. Este departamento atua dando continuidade à tradição da arquitetura eclesiástica.

A arquiteta Estela Cameirão, em um artigo publicado no blog per-deum 2010, vem falando sobre um dos exemplos desta promoção da seção de arquitetura religiosa deste setor: a Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Munique. Esta é fruto de um concurso realizado pelo departamento da construção em 1996, que teve como vencedor o atelier dos arquitetos Markus Allman, Amandus Sattler e Ludwig Wappner. A conclusão da Igreja aconteceu em 2000 (Figura 164).


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Figura 164 Corte Esquemático da Igreja do Sagrado Coração de Jesus. Volumetria em Caixote. Torre retangular na parte frontal do templo. Fonte: Allmannsattlerwappner, 2013

O arquiteto Amandus Sattler do atelier vencedor, na apresentação sobre a obra explica que a transcendência e a imaterialidade foram dois aspectos importantes na concepção do projeto. E completou que para qualquer projeto de edifício religioso, este deverá se referir a algo que não é tangível, algo diferente do nosso dia a dia, deve revelar segredos não evidenciados em primeiro contato.

Sobre a Igreja do Sagrado Coração de Jesus, sua volumetria é em formato de caixa de vidro, e sua parte interna é revestida em uma estrutura interna de madeira lamelada (Figura 165).

Figura 165 Fachadas Laterais, durante o dia e a noite. Nota-se a estrutura externa em vidro, e interna em madeira. Fonte: Allmannsattlerwappner, 2013

O arquiteto faz um paradoxo entre o espaço fechado e o aberto, uma Igreja que se “comunica com o povo, que se abre para receber” (Figura 166). Entre as duas


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estruturas (vidro e madeira), aparece um espaço que funciona como um apertado deambulatório ( Figura 167).

Figura 166 Volumetria em Caixote de Vidro. A fachada frontal é composta por apenas duas portas inteiriças que se abrem. Fonte: Allmannsattlerwappner, 2013

Figura 167 "Deambulatório entre as estrutura externa e interna. Fonte: Allmannsattlerwappner, 2013

Um dos aspectos da arquitetura sagrada durante os séculos de sua existência, é a articulação da luz. Neste edifício religioso, a captação da luz se dá por vitrais azul luminosos, remetendo a essa tradição. As lâminas de madeira “vão se abrindo” à medida que o usuário se aproxima do altar. Esta ciência luminosa dá a região do presbitério onde está o altar uma iluminação difusa não sendo perceptível sua origem, o que torna o ambiente ainda mais místico.


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Figura 168 O Altar recebe iluminação difusa, devido ao posicionamento das lamelas de madeiras nas laterais. Fonte: Allmannsattlerwappner, 2013

Figura 169 O interior da Igreja segue o modelo tradicional com os fiĂŠis de frente para o altar, longitudinalmente. Fonte: Allmannsattlerwappner, 2013


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4.4.

APROVEITAMENTO DO CAPÍTULO PARA O PROJETO FINAL

O quarto capítulo, aponta a partir dos estudos de caso novos direcionamentos para o Projeto de Arquitetura.

Estudo de Caso 1 (Catedral de Vitória): - A necessidade do Planejamento Urbano para valorização do Edifício Religioso – Monumento Cristão/histórico como marco Local.

Estudo de Caso 2 (Igreja do Jubileu do ano 2000): - Praça em torno da Igreja; - Volumetria e espacialidade interna com embasamento na doutrina cristã; - Área Sacra = Formas curvas/ Área Profana = Formas retas; - As Três pessoas da Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo (segundo a Tradição Católica); - Uma Arquitetura de Interiores liturgicamente amparada; - Mística a partir da Iluminação – Entrada de Luz durante o ano.

Estudo de Caso 3 (Igreja do Sagrado Coração de Jesus): - Uma Igreja que “Se Abre”, simbolismo de acolhimento de Deus com seu povo; - Iluminação interna diferenciada a partir do caminhar do usuário; - Torre Sineira em harmonia com a edificação.


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5. ÁREA DE ESTUDO 5.1.

CIDADE DE NOVA VENÉCIA: REPRESENTATIVIDADE CRISTÃ EM SEU BRASÃO

A cidade de Nova Venécia fica localizada na região noroeste do Estado do Espírito Santo (Figura 170). Possui o slogan de “Capital Nacional do Granito”, devido sua topografia montanhosa com as diversas jazidas de granito.

Figura 170 Localização da cidade de Nova Venécia, região noroeste do Espírito Santo. Fonte: Adaptado de Wikipédia, 2013

Figura 171 Brasão da Cidade de Nova Venécia. Na faixa azul, o leão alado representa a religiosidade do povo veneciano. Fonte: Wikipédia, 2013

Em seus primórdios, a cidade foi colonizada por imigrantes italianos, tendo forte influência cultural até os dias atuais. A estimativa do IBGE (2010) é que no ano de 2013 sua população chegou a mais de 49,5 mil habitantes e que desta população, 60% se declaram Católicas, representatividade que está descrita no Novo Brasão da cidade (Figura 171) a partir da imagem do Leão Alado que representa a força, a determinação e a religiosidade (Paganismo e Cristianismo) do povo.

A Paróquia São Marcos é marcada por atividades que envolvem manifestações religiosas nas ruas da cidade, como procissões, Caminhadas e desfiles paroquiais.


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Essa representatividade cristã na cidade foi um dos motivos que impulsionou a proposta projetual de inserção de mais um edifício religioso para beneficiar o povo cristão de Nova Venécia. A proposta para este “edifício igreja”, é que ele esteja inserido dentro do contexto da paisagem do local, se destacando no alto de um monte, tendo os parâmetros de arquitetura interior liturgicamente correta.

5.2.

CONDICIONANTES LEGAIS - ÁREA DE PROJETO

A cidade de Nova Venécia é ocupada em sua maior parte territorial, pela macrozona rural. O terreno escolhido, está localizado na macrozona urbana, na zona de uso residencial I.

Figura 172 Macrozoneamento da Cidade de NOva Venécia. Fonte: PDM de Nova Venécia, 2006


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Figura 173 Zonas de Uso - Macrozona Urbana Nova Venécia com localização do terreno escolhido. Fonte: Adaptado de PDM Nova Venécia, 2007


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O PDM LEI Nº 2.787-2006, da cidade de Nova Venécia diz:

Art. 99. São empreendimentos ou atividades de impacto: I - aqueles não residenciais com área superior a 3.000m² (três mil metros quadrados) localizados nas Áreas Urbanas de Consolidação e nas Áreas de Diretrizes Especiais e com área superior a 6.000m² (seis mil metros quadrados) nas Áreas Urbanas de Dinamização e de Expansão Urbana.

O Código de Obras da Cidade de Nova Venécia, aprovado pela lei complementar 007-2008 considera:


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Afastamentos e Índices Urbanísticos

Afastamento Frontal mínimo: 3,00m Afastamento Lateral mínimo: 1,50m Coeficiente de Aproveitamento mínimo:0,2 Máximo 2,0 Taxa de Permeabilidade: 10% 5.3.

DIMENSIONAMENTO DO TERRENO

O terreno em declive possui formato retangular contornado por três ruas e por uma área de preservação ambiental. Na rua Lírio Gadioli possui testada de 92m, a frente para a rua São Vicente de Paula possui testada de 68m, e para a rua projetada 78m. A principal vista para a cidade é rodeada por uma área de preservação ambiental, reconhecida pelas leis vigentes do município. A área total do terreno é de 5.930,00m².

Figura 174 Localização Área de Projeto e dimensões terreno


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Fonte: Adaptado de Plano Diretor Municipal de Nova Venécia, 2007

A área de estudo citada, está localizada em um ponto elevado da cidade, podendo ser visualizado de vários locais da cidade. A razão da escolha deste terreno vem de encontro a proposta de uma “Igreja como Marco Local, se inserindo na paisagem cultural da cidade”. Atualmente, existe um cruzeiro construído, que a noite sua iluminação destaca-se do seu entorno, acentuando ainda mais a referência de destaque.

Figura 175 Vista da cidade de Nova Venécia a partir do terreno. Fonte: Arquivo Pessoal, 2014

Figura 176 Vista do terreno para a cidade de Nova Venécia. Fonte: Arquivo Pessoal, 2014

Figura 177 Vista para a cidade de Nova Venécia, a partir do ponto mais alto do terreno, no cruzamento das ruas Lírio Gadiolli e São Vicente de Paula. Fonte: Arquivo Pessoal, 2014

Figura 178 Vista técnica ao terreno. Fonte: Arquivo Pessoal, 2014


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Figura 179 Cruzeiro Existente na Área de Projeto.Fonte: Arquivo Pessoal, 2014

Figura 180 Cruzeiro da Área de Projeto e o destaque da Paisagem. Fonte: Arquivo Pessoal, 2013

Figura 181 Cruzeiro e o destaque da Área de Projeto durante o dia; Fonte: Arquivo Pessoal, 2013

Figura 182 Cruzeiro e o destaque da Área de Projeto durante a noite; Fonte: Arquivo Pessoal, 2013

Figura 183 Vista do Terreno a partir de outro ponto de Nova Venécia. Destaque para a relação da igreja Matriz, o cruzeiro e a paisagem da cidade.


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6. CONCLUSÃO GERAL E APROVEITAMENTO DA PESQUISA Abaixo uma síntese do aproveitamento teórico de cada capítulo desta pesquisa com as suas conclusões e direcionamentos para o partido arquitetônico do projeto final.

O capítulo 1 nos possibilita um entendimento sobre a evolução do espaço Sagrado durante os séculos, base histórica para o partido de muitos projetos de Arquitetura Sacra, diferenciando os tipos de plantas das igrejas e suas principais características. Para o projeto arquitetônico, propõe-se uma Igreja com planta em Cruz Latina, inspirada a partir do formato de um arco Ogival, envolvida por uma grande praça para eventos cristãos.

O capítulo 2 apresenta os elementos que compõe o espaço arquitetônico litúrgico após Concílio Vaticano II (1962-1965), indicando a forma projetual de um espaço litúrgico contemporâneo.

Após o entendimento das diversidades de títulos de uma edificação religiosa, o capítulo 3 indica a tipologia da Igreja resultante desta pesquisa: uma igreja filial, popularmente conhecida como “Comunidade”, que está ligada à Igreja Matriz de apoio aos eventos da Paróquia. Neste capítulo também é apontado a inserção do monumento religioso na paisagem cultural da cidade, se destacando como “Marco Local”.

No capítulo 4 a pesquisa destaca três estudos de caso, onde cada um possui particularidades aproveitadas no projeto final de arquitetura.

Do Estudo de Caso 1 (Catedral Metropolitana de Vitória), destacou-se a importância do planejamento urbano na valorização (ou não) dos monumentos religiosos. Novamente, direcionou a uma Igreja como marco local!

No Estudo de caso 2 aproveitou-se para o projeto a importância da praça com o edifício igreja.


110

A contemporânea Igreja do Jubileu do ano 2000 de Richard Meier, direcionou para o projeto final o partido arquitetônico das três conchas em concreto branco isoladas com caixilhos de vidro, inspiradas a partir do “Deus Trino”: O Pai, O Filho e o Espírito Santo - segundo a Tradição Cristã, inclusive em sua volumetria: Área Sacra= Formas curvas/ Área Profana= Formas retas. Além disso, inspirou a espacialidade interna, liturgicamente bem amparada.

O terceiro estudo de caso, a Igreja do Sagrado Coração de Jesus, levou para o projeto final de arquitetura sacra, a proposta de uma Igreja que literalmente “se abre” para o povo, a partir de suas duas enormes portas ocupando toda a fachada principal.

O capítulo 5 indica as leis vigentes quanto ao parcelamento do solo da cidade de Nova Venécia, área de estudo para a implantação do edifício religioso e o terreno definido para implantação do edifício religioso. 7. PROJETO FINAL - IGREJA DA SANTÍSSIMA TRINDADE: UMA IGREJA QUE SE ABRE PARA O POVO E PARA DEUS!

Figura 184 Perspectiva da Igreja da Santíssima Trindade.


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7.1.

ESPACIALIDADE E PARTIDO ARQUITETÔNICO

O Complexo de toda a Igreja foi subdividido em 3 blocos: Nave principal, bloco administrativo e Presbitério. A Nave principal é composta por três “conchas” em concreto branco. Essas conchas foram inspiradas na Igreja do Jubileu do ano 2000 (estudo de caso 2), projetada por Richard Meier, Roma. O projeto deste arquiteto, teve como partido as Três pessoas da Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo segundo a tradição cristã).

Figura 185 Perspectiva da Igreja a partir do encontro das ruas ruas Lírio Gadiolli e São Vicente de Paula.

A edificação religiosa fruto desta pesquisa, nada mais é do que uma releitura da obra de Meier, em formato de arcos ogivais (também apresentados neste estudo), trazendo à tona uma importante herança do período Gótico, que revolucionou o sistema construtivo da arquitetura.


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O espaço livre fruto da modulação dos arcos ogivais sobrepostos um pelo outro, que formam a cobertura da nave, foram isolados com caixilhos de vidro insulado azul duplo 8mm fixados com alumínio anodizado cor branco, como acontece na fachada frontal. Com esses dois materiais, criou-se um jogo de luz e sombra no interior da igreja, resultando em uma mística a partir da insolação no percorrer do dia, durante as estações do ano.

O presbitério, localizado no fundo da Igreja também acontece em um grande arco ogival destacado do grande bloco retangular administrativo que compõe a volumetria da edificação. A diferença está na mescla de concreto e vidro no próprio arco. Esse fator projetual também permitirá uma diferenciação na luminosidade, vistos de diversos ângulos da nave.

Figura 186 Perspectiva da Fachada Posterior. As portas em madeira se abrem para a Praça externa.

Este bloco retangular do setor administrativo é revestido com placas de ACM cor silver metalic, e tons terrosos, se destacando das formas curvas do restante da Igreja. Isto acontece uma vez que é partido arquitetônico que toda a nave fosse


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formulada a partir de linhas curvas, e os outros setores formados por linhas retas, como na Igreja de Meier. As principais aberturas acontecem para a fachada posterior da edificação. Na fachada frontal, um mosaico com as placas de acm e as esquadrias em perfil alumínio e vidro de mesmo formato camuflam a presença das aberturas, que levam luz e ventilação necessária para os corredores do setor administrativo. A volumetria do bloco administrativo possui um rasgo (goivete) que o “secciona” ao meio. Este rasgo é revestido em alumínio cromado. O bloco recebeu também uma torre sineira com 9mx4,5m e altura de 30m, que sobressai 90 cm desta fachada, criando um eixo para a entrada principal do setor administrativo, e ressaltando ainda mais o caráter religioso do edifício. A Cruz posicionada no alto desta torre se faz presente de maneira discreta, para não disputar espaço com o cruzeiro imponente em seu lado oposto. O projeto prevê uma cruz em aço inox, com diâmetro de 10cm. A torre sineira foi toda revestida em textura amarelo ouro referência Nova Cor Sherwin Willians.

Figura 187 Perspectiva da Fachada Lateral com localização da torre sineira, marcando a entrada do Bloco Administrativo.


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As esquadrias externas são em Aço Corten, exceto a porta corta-fogo da escada semi-enclausurada e as portas de correr do Presbitério/Fundos. Na fachada posterior, a composição se dá com esquadrias estilo "janelas em fita", painéis envidraçados e revestimento em placas ACM.

É importante destacar também neste partido, que todas as medidas (LxCxH) da volumetria dos blocos derivam do número “3”, fazendo apologia as Três Pessoas da Santíssima Trindade: O Pai, O Filho e O Espírito Santo, segundo a Tradição Cristã, o que reforça o nome dado a Igreja. O partido é a Santíssima Trindade, mas a centralidade do rito é "Cristocêntrica", tem o Cristo como centro.

O Bloco Administrativo possui 9x35x18m; A Nave possui três conchas: a menor 15x9m, a média 18x9m, a maior 21x9m. A altura da menor= 12m, a média 12+1,5m a concha maior 12+3m. A espessura do concreto destas lajes com 0,3m. O espaçamento entre as conchas possui 1,50m. A Cruz em inox com 6m de altura + 1,5m fixada na edificação e largura igual a 3m. Tudo isto para reforçar o partido “3” da "Santíssima Trindade".

O pavimento térreo possui no hall administrativo, banheiros acessíveis feminino e masculino para servir especificamente aos fiéis. A acessibilidade também se faz presente nas rampas inseridas nos acessos da nave e presbitério. No hall principal, está localizado a sala de som, paramentação e sala do dízimo. A razão de trazer a paramentação para a entrada da Igreja é o fato deste espaço servir de apoio para o padre e ministros em missas com procissões de entrada. No Hall principal também se localizam painéis específicos para avisos da igreja local. A partir deste ambiente, uma escada dá acesso ao mezanino, que possui assento para 92 fieis.

A nave principal foi prevista com um corredor central em forma de cruz latina, com 2,2m de largura. Os outros corredores variam entre 120 a 150cm. A nave comporta 436 fiéis sentados (incluindo 4 cadeirantes), totalizando com o mezanino 528 fiéis sentados. Além das reservas para PNE, o projeto direciona o lugar reservado para os músicos que mesmo fazendo parte da assembleia, possuem lugares específicos para os instrumentos. Os lugares reservados para ministros de eucaristia foram


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concentrados próximo à capela do santíssimo e sacristia, ambientes interligados para facilidades litúrgicas. Na capela do Santíssimo além dos bancos, possui genoflexório. Este mobiliário permite o fiel se ajoelhar para os momentos de oração e devoção. A nave também possui um espaço destinado a reconciliação e aos momentos de confissão em salas específicas.

O acesso ao bloco administrativo comentado anteriormente, que acontece nos pavimentos superiores é marcado pelas circulações verticais: escada e elevador, e um grande hall com pé direito de 7,50m. Entre o hall administrativo e a nave, existe uma circulação de transição que além de conectar os diferentes setores, acontece como uma transição entre o “profano” e o “sagrado”.

O Presbitério aparece como um ambiente mais inovador e "conflitante" ao mesmo tempo. Este é composto por um altar com 1,5x1,5m a cadeira da presidência com mais quatro cadeiras em mármore para os outros celebrantes, o ambão (ou mesa da palavra) e o batistério. Todo o presbitério está a 68cm acima do nível da nave, apenas o batistério foi seccionado com um rebaixo de um degrau a menos em relação ao presbitério, o que coloca o altar e a cadeira da presidência em destaque de toda a nave.

Sabemos das diversidades de manifestações que acontecem na comunidade cristã durante todo o ano litúrgico: procissões, missas campais, shows religiosos, eventos e outras atividades que em decorrência do grande número de fiéis superlotam as igrejas, exigindo assim a necessidade espaços maiores, levando muitas vezes os eventos para a área externa da edificação religiosa. Pensando nesta justificativa, e em uma alternativa plausível e liturgicamente amparada para atender esta demanda, o então ambiente “presbitério” recebeu portas de correr em madeira que permitem a abertura parcial de 9m de sua extensão, para uma praça de eventos destinada a atender um número em torno de 2mil pessoas. A inspiração veio da proposta da Igreja do Sagrado Coração de Jesus (Estudo de Caso 3). A diferença é que com esta abertura, estamos integrando a nave interna, com a área externa, formando um grande lugar de culto. Assim, projeto previu uma rotação de 180º do presbitério a partir de um sistema de automação no piso, que é marcado por um círculo e


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diferenciação de acabamentos. Este sistema somente seria utilizado em eventos específicos.

Atrás do presbitério, com a diferença de 1 espelho de 17cm de um degrau, está localizado um palco para servir de apoio a outras atividades, como shows cristãos ou eventos ligados a comunidade. Até mesmo para servir as missas campais, fazendo instalações flexíveis, não tendo a necessidade do uso do sistema automotivo no presbitério. Com esse “seccionamento e independência” entre presbitério e palco, o projeto não propõe um conflito litúrgico, tendo em vista que a pesquisa não encontrou nos documentos indicados pela Igreja Católica nenhum caso semelhante ao proposto e assim, nenhuma restrição. Com essa nova possibilidade, elimina-se também a necessidade de contratação temporária de palanques, palcos e afins – atos realizados constantemente no decorrer do calendário litúrgico.

A Praça de eventos, destinada para essas atividades, está posicionada 1,53m abaixo do nível do Presbitério, tornando novamente o presbitério como ambiente principal, centro da atenção. A Cruz em concreto no teto deste presbitério, atende também as duas posições de uso: para dentro e para fora da edificação. Com esta nova possibilidade, abrimos um novo mundo de exploração da arquitetura religiosa. Devido a mescla de laje em concreto e a entrada de luz superior permitida pelos vitrais da cobertura do presbitério, e as portas se abrindo para a área externa, podemos classificar a Igreja Santíssima Trindade como: Uma Igreja que se abre para o Povo e para Deus!

O pavimento subsolo possui ligação direta com esta praça de eventos, lá estão localizados os banheiros para atender o público estimado. Um grande foyer recebe este público, a partir de duas escadas, uma de cada lado.

Neste pavimento, encontra-se também uma cozinha semi-industrial, almoxarifado e outros ambientes de serviço, e um auditório com previsão para 177 lugares. A mesma circulação vertical que passa pelo hall administrativo, leva o usuário até o subsolo e para os próximos pavimentos.


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O primeiro pavimento é destinado ao uso administrativo da instituição. Neste está a recepção com banheiros acessíveis, secretaria, a sala da contabilidade, arquivo. A sala do padre e vigário possuem aberturas com vidro fixo para facilitar a visualização do que está acontecendo ao seu redor, e também porque institucionalmente, a Igreja Católica direciona que a sala do sacerdote seja uma sala com visibilidade. Neste pavimento o projeto também previu uma copa, uma sala de reuniões e um dormitório com suíte de apoio para o padre ou ainda visitantes de outras paróquias. O segundo pavimento possui 4 salas de catequese com previsão para 20 pessoas em cada. Foram calculados banheiros para atender especificamente os usuários deste andar.

O último pavimento, é o pavimento cobertura. A escada semi enclausurada permite o acesso direto ao andar, e a área técnica dos reservatórios, condensadoras, casa de máquinas do elevador e a torre sineira.

O acesso a parte mais alta da torre sineira acontece por uma escada marinheiro, que leva deste pavimento cobertura até a laje onde estão localizados 3 sinos de diferentes tamanhos.

O Complexo Religioso resultou numa área construída em torno de 3mil m², implantado em um terreno em declive com mais de 5,9mil m², que contempla Praça da Igreja, Praça de eventos, Praça Mirante e uma praça destinada a estacionamento. A Igreja da Santíssima Trindade, aparece como um marco para a área apontada, devido a sua localização e imponência de sua volumetria.

Figura 188 Simulação da Igreja da Santíssima Trindade como Marco Local na Paisagem Cultural da cidade de Nova Venécia/ES


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