RTRO #33

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rtro magazine nº 33


Boa Leitura 

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O medo é uma força poderosa. Podem constatá-lo à medida que folhearem esta edição da RTRO. Não foi deliberado mas, à medida que a revista se ia compondo, fui-me apercebendo de que esse sentimento espreitava por entre as páginas. O medo de largarmos as doces recordações de Verão e de mergulharmos de cabeça no Outono, que nos perpassa através da sessão fotográfica “Goodbye, Summer”; o medo que continua a saber reinventar-se, alimentando salas de cinema e movimentando milhões de dólares; o medo que é o melhor amigo do Cancro, concedendo-lhe uma força quase impossível de igualar – uma força que derrotou até o mestre do medo, Wes Craven, a quem prestamos homenagem. O medo infiltra-se também na nossa vida política, verga-nos e faz com que vacilemos perante a hipótese de fazermos a escolha errada. Por isso hesitamos, entre a direita e a esquerda, sem nunca sabermos bem para onde ir. O medo acaba assim por empurrarnos para lugares confortáveis, distantes daqui, algures no mundo das séries – onde as escolhas não têm um impacto definitivo palpável. Mas a solução não passa sempre por fugir – e se há coisa que podemos aprender com Freddy Krueger, que assombrou as crianças de Elm Street durante longos anos, é que a melhor forma de vencer o medo é enfrentá-lo e ridicularizá-lo, pois isso retiralhe a força. Já dizia Jamie Lee Curtis na comédia de acção True Lies: “Fear is not an option”.

magazine

Editorial

Margarida Cunha Editora


rtro staff

editora Margarida Cunha redactores Ana Cristina Silva Jorge Barbosa Luísa Silva Margarida Cunha paginação Manuel Costa fotografia Lucy Soares foto de capa Blanca Sala Samper

A rtro está sempre à procura de modelos, fotógrafos,stylists, maquilhadores, designers, que queiram colaborar, expor os seus trabalhos, se achas que tens o que é preciso contacta-nos para o nosso email.

geral@rtromagazine.com


INDÍCE

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Rosa Choque

As séries da Rentrée 2015

Sessão Goodbye, Summer

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O Último Grito

Indecisões Legislativas

It Boy The Final Cut


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A Febre do Quiz

Português à Escolha do Freguês

A Lua Nos Signos

72 Ler. Ver. Ouvir.


ROSA CHOQUE

O MARKETING DO MEDO POR DETRÁS DO CANCRO DA MAMA por Margarida Cunha

Em Maio de 2013, Angeline Jolie tornou-se numa heroína. Já a tínhamos visto, anos antes, nesse papel, quando encarnou a lendária arqueóloga Lara Croft no cinema. Mas desta vez a batalha era bem real: num editorial assinado para o New York Times, Jolie confessou ter-se submetido a uma dupla mastectomia preventiva. Uma revelação surpreendente, já que – embora fosse público que a mãe da actriz tinha sido vitimada pelo cancro – Angelina nunca tinha falado abertamente do seu historial clínico. No editorial, revelou que testes genéticos a que se submeteu demonstraram uma probabilidade de 87% de vir a desenvolver cancro da mama e de 50% de vir a sofrer de cancro dos ovários. Estes números devem-se, no seu caso, à mutação do gene BRCA1, que herdou da mãe – e que, juntamente com a mutação do gene BRCA2, é responsável por entre 5% a 10% de todos os cancros da mama, segundo o National Cancer Institute.


O “Efeito Angelina” passou a ser o termo utilizado para classificar o fenómeno do aumento de pedidos de mastectomias preventivas e de testes genéticos

O EFEITO ANGELINA O eco juntos dos media e da opinião pública escalou de tal forma que, de repente, o grande “C” estava de volta às conversas de todos os dias: o Cancro. Em Maio de 2013, no mesmo mês em que assinou o editorial “My Medical Choice”, Jolie apareceu na capa da revista Time, com o título “The Angelina Effect” – numa edição que explorava o alcance das suas revelações no âmbito da ciência, da política e das probabilidades. Para ilustrar o ascendente de Jolie junto das massas, a Time recordou aos leitores que a também embaixadora da ONU e realizadora teve uma filha em 2008, que chamou de Vivienne – no ano seguinte, o nome surgiu no Top 1000 de nomes atribuídos a recém-nascidas, um feito inédito nos EUA, desde 1930. O “Efeito Angelina” passou a ser o termo utilizado por especialistas e órgãos de comunicação social para classificar o fenómeno, comprovado estatisticamente por vários estudos, do aumento de pedidos de mastectomias preventivas e de testes genéticos, na sequência das revelações da protagonista de “Tomb Raider”. Se uma das mulheres mais lindas e sensuais do planeta sublinhava que a sua escolha a fortaleceu, não diminuindo a sua feminilidade, o que há a temer?

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Rosa Choque

O MARKETING DO MEDO O Cancro é uma das maleitas do século XXI, não fosse ele apelidado de “The Big C”, gerando ansiedade e temor dificilmente conseguidos por outros fenómenos, clínicos ou não. É disso que nos apercebemos quando digitamos a palavra numa barra de pesquisa. Ou quando a palavra salta da notícia do jornal para nos perseguir durante os breves minutos em que nos detemos a lê-la. Ou quando uma amiga afirma ter sentido qualquer coisa no ritual mensal do auto-exame da mama. Parece não haver meio-termo na forma como lidamos com o cancro: ou fingimos que só acontece aos outros e preferimos prosseguir as nossas vidas na ignorância ou, na impossibilidade de escaparmos ao tema, conferimos-lhe o estatuto de uma espécie de Senhor da Morte e arrumamos com o assunto, rematando que o melhor é nem pensar nisso – eu própria, enquanto digito estas palavras (depois de um par de anos a adiar a redacção deste artigo), me sinto assombrada, como se o assunto fosse demasiado sério para ser abordado por mim, como se eu não tivesse o direito de falar disto, como se o materializar em palavras pudesse de algum modo atrair o cancro. Antes de poder crescer nos nossos corpos, o cancro já é um gigante nas nossas cabeças. E sabem em que é que resulta esse medo? Em lucro. Todos os anos, o mês de Outubro é celebrado internacionalmente como o Breast Cancer Awareness Month – em Portugal conhecido como o Mês Internacional de Sensibilização para o Cancro da Mama. Em território nacional, o fenómeno tem ganho visibilidade graças a instituições como a Laço ou a Liga Portuguesa Contra o Cancro, que, associadas a parceiros comerciais das mais diversas áreas, promovem a educação e a pesquisa sobre a doença, bem como o acompanhamento de doentes e iniciativas no sentido de angariar fundos para a causa do cancro da mama. Em Portugal, o fenómeno dá-se a conhecer. Nos EUA, o cancro da mama impõe-se. O país pinta-se de cor-de-rosa e não há negócio ou produto que não se enquadre no esquema – desde perfumes a baldes de frango frito, passando por cremes, bebidas, latas de sopa, chocolates, produtos de limpeza… a lista é infindável.

Parece não haver meio-termo na forma como lidamos com o cancro: ou fingimos que só acontece aos outros ou conferimos-lhe o estatuto de uma espécie de Senhor da Morte


Nos EUA, o cancro da mama impõese. O país pinta-se de cor-de-rosa e não há negócio ou produto que não se enquadre no esquema

O que começou por ser um “cupcake” tornou-se hoje num bolo gigante e lucrativo do qual todos querem uma fatia. Na América, o marketing à volta do cancro da mama insinua-se por todos os lados. É brilhante. É irresistível. É inescapável. Que o diga o departamento policial da localidade de Greenfield, Massachusetts, que anunciou que durante o mês de Outubro deste ano iria usar algemas cor-de-rosa, sob o mote “Arrest Brast Cancer”…

UM NEGÓCIO DE MILHÕES Mas como começou esta febre cor-de-rosa? Há quem aponte o dedo à Susan G. Komen for the Cure – também conhecida como Susan G. Komen Foundation. Trata-se da maior e mais célebre organização americana para o combate ao cancro da mama, criada em 1982 por Nancy Goodman Brinker. Pouco antes de perder a irmã, Susan, para a doença – que a vitimou aos 36 anos – Nancy prometeu-lhe fazer todos os possíveis para eliminar o cancro da mama. O que começou por ser uma causa nobre tornou-se num negócio bem lucrativo para Brinker. De acordo com Joseph Mercola, profis-

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Em Outubro, o cancro da mama torna-se, assim, mais do que numa causa nacional, numa espécie de fantasia colectiva sional de saúde de renome nos EUA, a Komen Foundation – movida pelo slogan “For the Cure” – apresentou um lucro de 312 milhões de dólares no ano fiscal que terminou em Março de 2010. Desse total, apenas 20,9% foram destinados à pesquisa. As restantes percentagens dividem-se da seguinte forma: 39,1% em educação pública; 13% em rastreios; 11,3% em custos administrativos; 10% em angariação de fundos e 5,6% em tratamentos.

Entre os custos administrativos pode incluir-se o salário de Brinker, que, segundo o site Jezebel, de 2011 a 2012 sofreu um aumento de 64%, passando de 417 000 a 684 717 dólares anuais – para efeitos comparativos, o site realça que a média para um CEO de uma organização sem fins lucrativos é de 132 739 dólares e que a antecessora de Brinker auferia 120 000 dólares. Mas a polémica não se fica pelos números. As parcerias comerciais estabelecidas pela fundação ao longo dos anos têm levantado muitas dúvidas, gerando acusações de que muitos dos produtos patrocinados


pela Komen Foundation são de facto potenciais causadores de cancro. Um desses casos diz respeito à Baker Hughes Inc., uma empresa de perfuração hidráulica texana que, segundo a NBC News, passou, em 2014, um cheque de 100 000 dólares a Nancy Brinker. Acontece que há cientistas que defendem que certos químicos envolvidos na perfuração estão associados ao aparecimento de cancro. Também a NFL – National Football League – tem apostado em campanhas de sensibilização e merchandising direcionados ao combate do cancro da mama. Mas, de acordo com o Business Insider, depois de distribuídos os lucros, apenas 8% é destinado à pesquisa sobre o cancro.

DANOS COLATERAIS Nos EUA, em Outubro, o cancro da mama torna-se, assim, mais do que numa causa nacional, numa espécie de fantasia colectiva, quase um imperativo social que se impõe sobre tudo o resto. Não basta criar produtos subordinados ao tema, é preciso criar toda uma cultura em torno da doença. Adopta-se terminologia bélica, em que o processo de passar por um cancro é uma batalha e quem vence é considerado sobrevivente. Uma abordagem considerada injusta por pessoas como Laurie Becklund, falecida jornalista do LA Times que, afectada por um cancro metastático, no seu leito de morte assinou um editorial em que afirmava: “Prometam-me, disse aos meus amigos e familiares, que nunca dirão que eu morri depois de ‘travar uma batalha corajosa

Um outro lado da moeda do cancro da mama é o da sexualização. Muitas campanhas abordam a doença pelo prisma da sexualidade 10 – 11 | rtro


Rosa Choque

contra o cancro da mama’. Esta velha deixa desonra os mortos e os que estão a morrer ao insinuar que nós, as vítimas, somos responsáveis pelas nossas mortes ou que a luta que travávamos era sequer justa”. Um outro lado da moeda do cancro da mama é o da sexualização. Muitas campanhas abordam a doença pelo prisma da sexualidade, em que a tónica da mensagem não é colocada na sobrevivência mas na preservação dos seios, pelo papel que desempenham no âmbito da atracção sexual – que é como quem diz: “Mulher, tens de travar esta batalha para não perderes as mamas e continuares a ser atraente aos olhos dos outros!”.

Foi o que sentiu Lara Huffman, que no artigo “My Disease Isn't a Cutesy Slogan” (algo como “A minha doença não é um slogan bonitinho”), que assinou para o Huffington Post, desabafa: “A minha imagem corporal após a minha dupla mastectomia mudou completamente, e não foi para melhor. Quando vejo “salvem as maminhas”, sou constantemente recordada do que existe debaixo da minha t-shirt: cicatrizes, estrias e silicone. Estes slogans bonitinhos ou provocadores ofendem-me porque reduzem as mulheres a uma única parte do corpo – os nossos seios (…) Deus te livre de perderes a parte do corpo que faz com que os outros se sintam atraídos por ti, pois se perderes a tua sexualidade, perdes o teu valor”. Huffman defende ainda que não existe mais nenhuma doença em que haja tanta pressão para as vítimas se alegrarem e terem sentido de humor, comparando o cancro da mama aos problemas cardíacos, que são a primeira causa de morte das americanas, e que não são alvo de toda esta mediatização.

Em Portugal, em 2013, houve mais homens a morrer com cancro do que mulheres


Em 1993, o National Cancer Institute tinha abandonado a recomendação de que as mulheres deveriam submeter-se a mamografias a partir dos 40 anos A omnipresença do cancro da mama durante o mês de Outubro resulta ainda na obscuração de problemáticas importantes, como a violência doméstica – o décimo mês do ano é também o da sensibilização para essa causa, nos EUA. Segundo o site The Cut, a violência doméstica é uma causa mais difícil de mobilizar, pois, ao contrário do cancro da mama (que se trata de um problema apenas de saúde que todos podem apoiar), envolve questões como o poder, a cultura da violação, a culpabilização das vítimas e os papéis do género. Para muitos, o facto de o Cancro se ter tornado num negócio muito lucrativo já é suficientemente mau. É o caso do projecto Think Before You Pink, que apela a uma maior transparência por parte das empresas envolvidas nas angariações de fundos, ao mesmo tempo que pretende encorajar os consumidores a levantar questões acerca das promoções associadas ao laço cor-de-rosa. Contudo, o problema de instituições como a Komen Foundation ou a NFL não se limita ao aproveitamento económico: segundo muitos especialistas, essas organizações estão a enganar o público, transmitindo mensagens erradas. A mais flagrante? A de que o diagnóstico precoce, através de mamografias, cura vidas.

PARA ALÉM DOS NÚMEROS O cancro da mama mata. Em Portugal, segundo a Laço, morrem anualmente 1 500 mulheres na sequência da doença, sendo que 1 em cada 11 irá ter cancro da mama ao longo da sua vida. Nos EUA, a American Cancer Society estima que, em 2015, cerca de 40 000 mulheres morrerão devido à maleita. Para efeitos comparativos, segundo o Jornal de Negócios, em Portugal, em 2013, houve mais homens a morrer com cancro do que mulheres,

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Quando a palavra “cancro” foi usada, metade das pacientes optou pela cirurgia. Nos outros casos, o número de mulheres que escolheram a cirurgia caiu para um terço com os tumores de mama malignos a surgirem depois dos da traqueia, brônquios, pulmões, cólon, recto, ânus, estômago e próstata. Ainda assim, são as doenças do aparelho circulatório que ceifam o maior número de vidas portuguesas: das 106 876 mortes ocorridas em 2013, 31 528 deveram-se a complicações cardíacas, tendo os Acidentes Vasculares Cerebrais (AVCs) vitimado 12 273 pessoas. O mesmo se passa na América, em que, de acordo com os Centers for Disease Control and Prevention, os problemas cardíacos são a primeira causa de morte feminina – tendo matado 292 188 mulheres em 2009, o que contabilizava 1 em cada 4 mortes. Apesar destes números, nenhuma outra doença tem ganho tanta notoriedade como o cancro da mama. Durante as últimas décadas, tem sido evidenciado o papel do diagnóstico e da prevenção, com as mulheres a serem fortemente incentivadas a submeter-se a mamografias a partir dos 40 anos. Contudo, nem todos os especialistas concordam nas recomendações. Peggy Orenstein, num artigo de fundo sobre o cancro da mama escrito em 2013 para o New York Times, cita um estudo conduzido ao longo de três décadas e publicado pelo The New England Journal of Medicine – que revelou que o impacto da mamografia é dúbio. Por um lado, reduz, numa pequena percentagem, o número de mulheres a quem é diagnosticado cancro em fase avançada; por outro, a mamografia apresenta uma maior probabilidade de resultar num sobre-diagnóstico e em tratamento desnecessário, incluindo cirurgia, radiação e medicamentos potencialmente tóxicos. O site Mother Jones avança que o número de americanas sobre-diagnosticadas se situa nos 1,3 milhões – revelando ainda que, já em 1993, o National Cancer Institute tinha abandonado (por falta de benefícios comprovados) a recomendação de que as mulheres deveriam submeter-se a mamografias a partir dos 40 anos.


UM ENIGMA CHAMADO “CDIS” O problema das sobre-avaliações de risco em relação ao cancro da mama tem estado na ordem do dia sobretudo graças a uma sigla: CDIS (Carcinoma Ductal In Situ). Considerado por muitos especialistas uma espécie de cancro em fase inicial (ou zero), o CDIS consiste em células malignas contidas nos ductos mamários (os canais do leite) e que não têm poder de se espalhar – podem ou não fazê-lo no futuro. Devido a essa característica, há profissionais que defendem que o CDIS é um pré-cancro, outros que o definem como um cancro não-invasivo, enquanto outros defendem que não é sequer cancro. Por detrás da popularidade desta sigla está o facto de surgir recorrentemente nos resultados dos exames. Segundo noticiou o New York Times em Agosto, anualmente, 60 000 mulheres são diagnosticadas com CDIS. O jornal citava ainda um estudo – que acompanhou 100 000 mulheres ao longo de 20 anos – que atesta que pacientes que sofrem de CDIS possuem um risco de morrer de cancro da mama na ordem dos 3,3% (independentemente do tratamento por que possam ter passado) – o mesmo que o de qualquer mulher – sendo por isso injustificável a abordagem radical que a maior parte dos profissionais de saúde adopta perante este problema: o recurso a cirurgias invasivas

O problema da investigação científica é que por muito conforto que os números nos tragam, empalidecem perante o medo 14 – 15 | rtro


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e debilitantes, tais como mastectomias. Deve, contudo, frisar-se que existem grupos de mulheres que apresentam um risco mais elevado – tais como as de idade inferior a 40 anos ou as afro-americanas. A ênfase de muitos especialistas é a de arrancar o mal pela raiz e de eliminar quaisquer células cancerígenas com o potencial para se espalhar – antes que resultem nas infames metástases. Contudo, há profissionais que contestam essa linha de pensamento, pois consideram que parte da premissa de que existe apenas um modelo de cancro, que se comporta de forma igual em todos os casos. Tal parece não ser verdade, havendo progressivamente uma maior aceitação de que não se pode falar de cancro, mas de cancros. Há inclusive quem defenda que a palavra “carcinoma” deva ser removida da sigla CDIS não só pela inexactidão científica, como pelas repercussões psicológicas que provoca. É o caso de Shelley Hwang, cirurgiã especialista em cirurgia mamária, que, na edição de Junho de 2015 da Elle americana, relatou histórias perturbadoras de mulheres que foram submetidas a mastectomias, na sequência de diagnósticos de CDIS. Além das cicatrizes físicas e da dor crónica que muitas vezes fazem parte do quadro pós-operatório, Hwang menciona a perda de qualidade de vida que algumas das suas pacientes evidenciaram. Como tal, adopta muitas vezes uma filosofia clínica mais conservadora, optando pelo acompanhamento através de mamografias e ressonâncias magnéticas. A médica sabe que o peso das palavras conta e a comprová-lo surge um estudo, que co-autorou, em que pediu às suas pacientes para optarem por um tratamento para o seu problema. A um dos grupos, revelou que sofriam de CDIS; ao outro, optou por termos como “lesão mamária”, “células anormais” ou “cancro da mama não invasivo”. Os resultados? Quando a palavra “cancro” foi usada, metade das pacientes optou pela cirurgia, em detrimento de vigilância activa ou medicação. Nos outros casos, o número de mulheres que escolheram a cirurgia caiu para um terço. Apesar de todas as revelações recentes relativamente ao CDIS, à Elle Hwang reconhece fazer parte de uma minoria – equacionando que muitos profissionais optam por tratamentos mais agressivos por terem medo de ser processados ou porque simplesmente estão habituados a proceder de uma determinada forma.


SERENIDADE VIGILANTE O problema da investigação científica é que por muito conforto que os números nos tragam, empalidecem perante o medo. E é muitas vezes o medo que motiva as nossas escolhas. O medo de não termos feito o que era possível. O medo de fazermos diferente dos outros. O medo de optarmos pelo pouco convencional. Porque pior do que fazer uma escolha é fazer uma não-escolha, ou seja, optar deliberadamente por não se fazer algo. Parece irresponsável, até porque fazer algo – o que quer que seja – parece sempre mais acertado e previne futuros arrependimentos (que afectam 100% da população e não têm cura). Quanto ao Cancro, o Cancro como entidade, aquele que se escreve com letra maiúscula, já está para sempre inscrito nas nossas cabeças. Pela nossa parte, resta-nos, através da informação, impedir que o medo dele nos tolde a objectividade e a alegria de viver. Porque é possível viver com uma serenidade vigilante. É possível viver sem levar as coisas tão a peito.

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AS SÉRIES DA RENTRÉE 2015 por Ana Cristina Silva

O REGRESSO DAS “NOSSAS” SÉRIES Findo o Verão e chegado o Outono, é altura de deixar as férias e voltar ao trabalho e à escola. Também no mundo das séries made in America regressam aquelas que são as nossas preferidas e estreiam algumas que prometem fazer de nós fãs. Os grandes canais de televisão americanos, responsáveis pelas séries que povoam os canais abertos ou pagos de Portugal, já divulgaram os seus calendários para as estreias das novas temporadas das suas séries originais, que mais tarde chegarão também a Portugal. Assim, nos meses de Setembro e Outubro, assinalou-se o regresso das seguintes séries: SETEMBRO 21/09 The Big Bang Theory - CBS (temporada 9) Gotham – FOX (temporada 2) Scorpion – CBS (temporada 2) Castle – ABC (temporada 8) NCIS: Los Angeles – CBS (temporada 7) 22/09 NCIS – CBS (temporada 13) 23/09 The Mysteries of Laura – NBC (temporada 2) Empire – FOX (temporada 2) Law & Order SVU – NBC (temporada 17) Modern Family – ABC (temporada 8) Black-ish – ABC (temporada 2) Nashville – ABC (temporada 4)


24/09 Grey’s Anatomy – ABC (temporada 12) The Blacklist – NBC (temporada 3) Scandal – ABC (temporada 5) How to get away with murder – ABC (temporada 2)

27/09 Once upon a time – ABC (temporada 5) The Simpsons – FOX (temporada 27) Brooklin Nine-nine – FOX (temporada 3) 29/09 Marvel’s Agents of SHIELD – ABC (temporada 3) 30/09 Criminal Minds – CBS (temporada 11) Chicago PD – NBC (temporada 3)

OUTUBRO 1/10 Bones – FOX (temporada 11) Sleepy Hollow – FOX (temporada 3) 4/10 Madam Secretary – CBS (temporada 2) The Good Wife – CBS (temporada 7) CSI:Cyber – CBS (temporada 2) 6/10 The Flash – FOX (temporada 2) iZombie – FOX (temporada 2)

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As séries da Rentrée 2015

7/10 American Horror Story: Hotel – HBO (temporada 5) Arrow – FOX (temporada 4) Supernatural – FOX (temporada 11) 8/10 The Vampire Diaries – FOX (temporada 7) The Originals – FOX (temporada 3) 11/10 The Walking Dead – AMC (temporada 6) 12/10 Fargo – FX (temporada 2) Jane The Virgin – FOX (temporada 2) 24/10 Da Vinci’s Demons – FOX (temporada 3)


AS ESTREIAS MAIS AGUARDADAS Agora que os vencedores dos Emmys, os óscares da televisão, já foram apurados, é altura dos canais lançarem novas apostas e se prepararem já para arrebatar as nomeações do próximo ano. Muitas são, então, as séries que canais como ABC, NBC, FOX ou CBS estreiam este ano. Ficam aqui as sinopses de algumas que prometem atravessar o oceano e chegar a Portugal para ficar.

Blindspot (NBC) Com: Jaimie Alexander (Thor), Sullivan Stapleton (Strike Back) Sobre: Depois de uma mulher (Alexander) ser encontrada nua em Times Square sem qualquer memória de quem é ou de como lá foi parar, o FBI mostra interesse uma vez que o seu corpo se encontra repleto de misteriosas e intrincadas tatuagens. Apenas uma delas é clara: o nome do agente Kurt Keller (Stapleton) tatuado nas suas costas. O FBI começa assim a interpretar e seguir as tatuagens no corpo da desconhecida para descobrir a sua verdadeira identidade. Limitless (CBS) Com: Jake McDorman (Greek), Jennifer Carpenter (Dexter) Sobre: Baseada no filme de 2011 com o mesmo nome, a série segue a vida de Brian Finch (McDorman), que descobre os efeitos poderosos da misteriosa droga NZT e é obrigado pelo FBI a usar o seu novo e extraordinário poder cognitivo para resolver casos complexos em parceria com o governo.

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As séries da Rentrée 2015

Heroes Reborn (NBC) Com: Zachary Levi (Chuck), Ryan Guzman (Pequenas Mentirosas), Masi Oka (Heroes) Sobre: Trata-se de uma mini-série de 13 episódios passada no universo da série original de 2006, Heroes, onde pessoas normais tentam perceber e viver com os seus poderes fora do comum. Serão apresentados novos heróis, mas algumas das personagens originais regressarão [Jack Coleman (Noah), Masi Oka (Hiro)]. Quantico (ABC) Com: Priyanka Chopra, Jake McLaughlin (Believe) Sobre: Um grupo de jovens recrutas do FBI treinam na base militar de Quantico, na Virginia. A série oscila entre flashbacks ao passado das personagens, os treinos por que passam no presente e um flash-forward ao futuro próximo em que se revela que um dos recrutas é o responsável por um ataque terrorista no solo dos EUA. The Grinder (FOX) Com: Rob Lowe (Parks and Recreation), Fred Savage Sobre: Rob Lowe é Dean Sanderson, um adorado advogado num programa de televisão que, de regresso à cidade natal, decide tornar-se um advogado de verdade, muito para desconcerto do irmão (Savage), que lidera a firma de advocacia da família.


Supergirl (CBS) Com: Melissa Benoist (Glee), Mehcad Brooks (Terapia de Choque) Sobre: A série, produzida em associação com a Warner Bros. Television centra-se na vida de Kara Zor-El (Benoist), que fugiu de Krypton aquando da sua destruição há anos atrás, e tem vindo a esconder os poderes que partilha com o seu primo, Super-Homem, desde que chegou ao planeta Terra. Agora, aos 24 anos, resolve assumir as suas habilidades sobre-humanas e utilizá-las para o bem, tornando-se numa heroína dos tempos modernos. Wicked City (ABC) Com: Ed Westwick (Gossip Girl), Erika Christensen (Parenthood), Gabriel Luna (Matador) Sobre: A série criminal segue em cada temporada uma investigação diferente. A primeira temporada passa-se nos anos 80 e foca-se na busca encetada por dois polícias de Los Angeles de um casal de criminosos (Estwick e Christensen) responsáveis por dezenas de assassinatos. Em terras portuguesas as grandes novidades prenderam-se com a chegada ao nosso país da HBO e da Netflix nos meses de Setembro e Outubro, respetivamente. A HBO conta com mais de 30 milhões de assinantes em todo o mundo e programas transmitidos em mais de 50 países. Responsável por séries como Game of Thrones, True Detective e Girls, a produtora americana reforça a sua presença em Portugal pela mão do canal TVCine&Séries, detido pela Nos Lusomundo TV. Novos conteúdos da HBO vão ser exibidos no TVSéries, que ganhará a assinatura “Home of HBO”. Já a chegada a Portugal do Netflix aconteceu em Outubro. Este serviço de TV através da Internet existe já em 40 países e conta com mais de 50 milhões de subscritores. Chegam, assim, a Portugal milhares de filmes e séries, algumas originais, como Daredevil, Sense8 e Marco Polo.

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Goodbye, Summer Fotografia/Retoque/Estilismo: Lucy Soares

Modelo: Blanca Sala Samper


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A FEBRE DO QUIZ por Ana Cristina Silva

Num momento em que cada vez mais a cultura é apreciada em todos os seus aspetos e aqueles que dela mais entendem são considerados os mais inteligentes: está na moda pôr à prova a nossa cultura geral, sobre temas como desporto, moda, línguas, ciência ou artes. Muitos são os programas televisivos que a testam, casos do “Quem quer ser milionário”, d’“O preço certo” ou, mais recentemente, do “Money Drop”; famoso é também o jogo eletrónico “Buzz” que testa a cultura geral dos jogadores. Mas muito antes ainda da existência do “Quem quer ser milionário” surgiu em Itália, em 1999, pelas mãos da empresa “Creativa” o “Dr. Why”, um jogo eletrónico de quiz para ser jogado ao vivo, e que se tem vindo a espalhar rapidamente pelo nosso país. O conceito é simples: juntar os amigos, formar equipas, pegar no comando wireless, pôr os olhos no ecrã e responder às perguntas o mais correta e rapidamente possível. O “Dr. Why” tem inúmeros representantes em diversos países, estando, no entanto, mais presente em Itália, na Polónia e em Portugal.


No nosso país são muitos os distritos onde este quiz se destaca e passou a fazer parte das noites dos portugueses, são cerca de 300 os locais onde se joga “Dr. Why”. Em Braga, o representante da empresa é Patrício Bernardino, mais conhecido por Patrick, que anima as noites de quiz, quer em locais públicos, quer em eventos privados. Cada vez mais os cafés e estabelecimentos noturnos apostam nas noites temáticas, promoções ou em concertos ao vivo para atrair mais clientes; desde o ano passado as noites de quiz também entram nessas opções. São muitos os locais em Braga em que as noites de quiz já se tornaram tradição e sucedem com uma periodicidade semanal ou mensal. Bernardino comenta: “o Dr. Why já marcou presença em cerca de vinte bares a nível distrital, apesar de haver ainda muitas zonas por explorar que ainda não conhecem este tipo de eventos”. Atualmente, Patrício anima vários bares e cafés onde as noites de quiz decorrem com uma periocidade mensal e até semanal, “às terças, o “Carpe Noctem”, às quartas o “Berber” e às quintas o “Club Astória”, tudo na cidade de Braga”.

A RTRO assistiu à primeira noite de “Dr. Why” n’“O Nosso Caffé”, estabelecimento localizado perto do Braga Parque, que na primeira noite do jogo teve casa cheia. Paulo Campos, dono do café, conta-nos que a ideia de trazer o “Dr. Why” surgiu por “se inserir na temática da casa, a cultura”, dispondo de “jogos como o Trivial Pursuit para, diariamente, quem quiser jogar poder fazê-lo”. Mas a vertente do negócio também pesou na decisão, “as noites de quiz arrastam muita gente, o que até é surpreendente num país como o nosso em que as audiências preferem a “Casa dos Segredos”, um show de cultura geral ter muita afluência.” Paulo garante que a aposta foi bem-sucedida, “não estava à espera de que fosse correr tão bem, rapidamente o café ficou cheio e já não dava para sentar mais ninguém”, e é para continuar, “no verão será uma vez por mês, mas a partir de setembro será semanal”.

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A Febre do Quiz

No ”Carpe Noctem”, café situado perto da Universidade do Minho, as noites de quiz já se realizam há mais de um ano e a maioria dos participantes são jovens estudantes que todas as semanas disputam o melhor lugar no ranking de equipas. Mário Abreu, dono do estabelecimento, afirma que “há sempre a necessidade de experimentar coisas novas, como noites temáticas, para chamar clientela e há cerca de um ano e meio resolvemos implementar o “Dr. Why”. Mário explica facilmente a razão do sucesso das noites de quiz “para além de a cultura geral ser um assunto que atrai cada vez mais pessoas, há também a vertente da competição, aqui as pessoas conhecem-se quase todas umas às outras e isso torna o jogo mais divertido, uma competitividade saudável”.

Neste jogo, as equipas estão constantemente em luta, quer contra o tempo, quer contra outras equipas. A gestão da noite é feita por um apresentador, que lê as perguntas, faz comentários sobre os resultados e oferece prémios aos melhores jogadores. Para Mário Abreu esta é outra mais-valia, “o Patrick anima muito a noite, não se limita a fazer as perguntas, como já é da casa e já conhece muitos dos participantes, faz umas brincadeiras, manda umas piadas e aumenta a diversão e interação entres as pessoas”:


Para além de pôr à prova os conhecimentos das equipas participantes, estas também se habilitam a prémios consoante o lugar em que terminem as rondas de perguntas. Dada a vertente de negócio que lhe assiste e à enorme afluência e implementação do jogo, atualmente a participação de uma equipa numa noite de quiz acarreta custos de inscrição, o que visa também permitir que os prémios atribuídos possam ser mais aliciantes, podendo ir de garrafas de bebidas ou ofertas de jantares em estabelecimentos parceiros a vouchers de alojamento, dependendo das empresas parceiras do evento. Ser participante assíduo também compensa; “qualquer grupo de amigos que jogue de uma a duas vezes por semana é incentivado a criar uma equipa fidelizada do jogo”, registando a equipa e jogadores no site oficial [drwhy.pt], o que lhes permite seguir a sua performance mais atentamente, passando a fazer parte dos rankings distritais, nacionais e até internacionais, além de estarem habilitados a participar em eventos especiais.

Com a chegada do outono/inverno, para Patrício Bernardino, a expectativa é de agendar mais noites com um periodicidade definida, para “poder trabalhar seis a sete noites por semana e até, quem sabe, ter duas equipas a fazer a animação”. A moda das noites de quiz parece, então, ter chegado para ficar.

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Português à Escolha do Freguês por Jorge Barbosa

SIM

O Ã N

A Língua Portuguesa é a quarta língua mais falada no mundo, com cerca de 345 milhões de falantes situados em vários países como Portugal, Brasil, Angola e São Tomé e Príncipe, entre outros. Tem-se vindo a notar que a par da evolução tecnológica vem também ao de cima, através de redes sociais, blogs, etc., que a maioria da população tem uma imensa dificuldade em escrever de forma correta o português. Mas porque é importante escrever corretamente? Não se percebe assim? É umas das perguntas que mais se ouve hoje em dia nas redes sociais quando se tenta corrigir alguém. É verdade que o mais importante na escrita é transmitir alguma ideia, pensamento ou informação,

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Português à Escolha do Freguês

mas não será importante escrever de forma correta também? Qual é a ideia com que ficamos quando vemos um texto com erros ortográficos? Confiamos no seu conteúdo? Já para não falar das pessoas que estão a aprender a nossa língua, a dificuldade extra que será perceber qual é a forma correta ou errada de escrever. Na Argentina e no Uruguai, por exemplo, já faz parte do ensino obrigatório o ensino da Língua Portuguesa. Noutros países como os Estados Unidos da América e a China também já se ensina a nossa língua. Tendo isto em conta, não será importante e necessário o Acordo Ortográfico de 1990 (AO)? Há quem ache que sim, há quem ache que não, mas a maior parte da polémica situa-se em Portugal. A meu ver, nós Portugueses somos muito mais apegados à nossa História e costumes e temos dificuldade em alterar esse registo. No fundo, somos uns românticos incuráveis... Mesmo instituições com algum nome em Portugal não aderiram ao AO, como é o caso do jornal Público. Será que o AO é o problema, como diz José de Almeida Moura: "Este Acordo é o problema, por falta de conhecimento [da língua] e pela adulteração radical dos seus sistemas ortográficos, que reflectem traços culturais próprios da história dos povos que a falam e escrevem." - in Público Será por orgulho no Português de Portugal ou será que acham mesmo que a nossa identidade, enquanto portugueses, se perderá? Recentemente a Stack Exchange (SE), responsável por um conjunto alargado de sites de perguntas e respostas (Q&A), lançou o site Portuguese Language (http://portuguese.stackexchange.com/) que é um site de perguntas e respostas sobre a Língua Portuguesa. Tem-se vindo a verificar que as variantes do português têm as suas peculiaridades, mas regem-se pelo mesmo conjunto de regras, o que facilita muito a comunicação e a aprendizagem do Português. Um dos usuários do site, Brasileiro a viver em Espanha, disse-me uma vez, enquanto eu lamentava o aparecimento duma nova palavra leiaute (do inglês layout) no Brasil:


Não tenho problema nenhum em usar a linguagem criativamente nem em aceitar neologismos ou transmutações da palavra. Gosto do espírito americano (da Patagônia ao Alaska) de não estar nem aí para o que diz a "Real Academia de la Lengua". Também não tenho problema com a formalidade e classicismo europeu, me divirto também. - Brasofilo É curioso como ele nós vê como um povo formal e clássico. Será esse o nosso problema com o Acordo Ortográfico? Ou será que vemos a nossa língua como um dos mais ilustres escritores portugueses? Minha pátria é a língua portuguesa - Fernando Pessoa

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A Lua nos Signos por Luisa Silva

O Outono chegou e com ele a necessidade de aconchego. Do ponto de vista astrológico é a Lua que nos fala desta vontade de conforto e da forma como lidamos com as emoções. Desde o outrora que a posição da Lua no mapa astral retrata o subconsciente, aquilo que no fundo nos torna diferentes de alguém com o mesmo signo solar. Num outro patamar, a Lua é associada a características da nossa mãe e a experiências da nossa infância. É na Lua que encontramos o caminho rumo à criança que existe em nós. A Lua, é sem dúvida, toda a qualidade intrínseca que não conseguimos esconder e que por vezes nos é difícil gerir. Cada signo lunar transforma o indivíduo. Para determiná-lo é indispensável a hora exacta e local de nascimento pois a Lua muda rapidamente de signo.


Lua em Carneiro – Não aceita não como resposta e é o signo lunar mais impulsivo. Para ele é preferível reagir emocionalmente no momento do que guardar rancor. Não consegue distinguir o que quer do que precisa. Será quem corre o risco e consegue alcançar o que quer. Pode ser inconsequente mas nunca acusado de manipulação. Lua em Touro – É o signo solar com mais resiliência e equilíbrio. Valoriza a segurança emocional e adora dar conforto a quem o rodeia. É teimoso mas irradia calma. Dificilmente esquece quem lhe quebre uma promessa. A lealdade faz parte do seu charme. Pode tornar-se previsível ao ser prisioneiro de rotinas. Lua em Gémeos – Este signo lunar associa a emoção ao intelecto. É com facilidade que se aborrece mas com destreza que descreve os sentimentos. É curioso por natureza e precisa de interacção social para se sentir vivo. Pode por vezes ceder ao nervosismo apesar de ser quem está mais apto a lidar com stress. Lua em Caranguejo – É-lhe importante sentir-se em família. É um signo solar devoto a quem mais gosta e nenhuma emoção lhe escapa. Tímido para os desconhecidos, padece de mudanças de humor. A indiferença magoa-o mas nunca o dirá. Pode remoer os sentimentos mas é protector. Lua em Leão – O centro das atenções é a sua posição ideal. Precisam de se sentir acarinhados e, caso não recebam o amor suficiente, tendem a lamuriar-se mas em privado. Leais e generosos por natureza, não lidam bem com ingratidão. Podem cair na tentação de recusar conselhos por acreditarem que estão sempre certos. Lua em Virgem – Ajudar o outro é a forma que tem de demonstrar carinho. Actividades do quotidiano fazem-no sentir útil e apreciado. Não consegue viver sem rotina. É prático pois o seu amor vê-se nos pequenos afazeres e não gosta de grandes demonstrações de afecto. Pode ter baixa auto-estima mas é um excelente conselheiro. Lua em Balança – Não consegue viver sem uma relação amorosa. Contudo, é importante haver conexão emocional e intelectual. É o último a ter a palavra e tentará corrigir os defeitos do parceiro. Por ser social, é com a ajuda de outros que alcançará os seus objetivos. Pode se debater por horas com uma decisão. 50 – 51 | rtro


A Lua Nos Signos

Lua em Escorpião – Este signo lunar deseja sentir intensamente e não se fica por meias medidas, seja ciúmes ou carisma. Para ele a conexão emocional tem de ser significativa e nenhuma nuance no outro passa despercebida. Pode ser intimidativo, em parte pela tendência controladora, e não gosta de ser criticado. Lua em Sagitário – É um optimista por natureza que odeia a rotina. Actividades físicas fascinam-no, tal como a liberdade nos relacionamentos. É a experiência que os motiva e não o sentimento de posse. Apresenta uma dualidade, ora é descrito como independente, ora como irresponsável. Pode ser impaciente dada a vontade de aprender algo novo. Lua em Capricórnio – Tem de se sentir produtivo. Não exprime nem lida bem com as emoções escondendo-se por detrás de uma faceta sarcástica. Gosta de tudo preto no branco por medo a ser rejeitado. É-lhe importante ter a admiração dos outros. Pode parecer calculista pois não sabe como demonstrar afecto a quem mais gosta.


Lua em Aquário – É o signo lunar que mais analisa as emoções e o outro. Precisa sentir-se único. Possui grande sentido de humor mas tem dificuldade em compreender as suas próprias emoções. Pode ser visto como imprevisível e frio ao querer ser superior a qualquer ciúme ou sentimento de posse. Lua em Peixes – Sente como nenhum outro signo solar as emoções do outro. Esta empatia por vezes leva-o a envolver-se demasiado nos problemas do outro. Mostra sem receios os seus sentimentos. Quando não se sente acarinhado tende a evadir-se para um mundo fantasioso. Pode ter tendência a sentir pena de si.

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O ÚLTIMO GRITO

AS REGRAS DO TERROR 2.0 por Margarida Cunha


A segunda metade dos anos 90 foi um período notável para o género do terror. Em particular, o segmento slasher – sub-género em que existe um assassino em série – atingiu uma grande popularidade, com o lançamento de títulos como Scream (1996), I Know What You Did Last Summer (1997) ou Urban Legend (1998). O tempo e as modas acabariam por condenar o género ao esquecimento, com algumas sequelas a fazerem (dispensáveis) aparições pelo meio.

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O Último Grito

UM REGRESSO INSIDIOSO Recentemente, algo mudou. Insidious, um filme de terror sobrenatural estreado em 2011, foi rodado com um orçamento de 1,5 milhões de dólares e arrecadou 97 milhões em todo o mundo. Sinister – uma produção despretensiosa protagonizada por Ethan Hawke que custou 3 milhões de dólares – gerou quase 78 milhões nas salas de cinema. Já The Conjuring (2013), capitalizando o sucesso de Insidious (com quem partilha o realizador, James Wan), teve direito a um orçamento de 20 milhões de dólares – que viriam a traduzir-se em receitas na ordem dos 318 milhões.

O início da década comprovou o apetite do público pelo terror paranormal, tendência que começou a desenhar-se em 2007, com a estreia, precisamente, de Paranormal Activity. Assim, e porque os êxitos de bilheteira citados proporcionaram um terreno fértil para investimentos seguros no segmento do horror, os anos seguintes viriam a ser pautados pela emergência de novas produções – como Mama ou Annabelle –, pelo remake de clássicos – como Carrie, Evil Dead ou Poltergeist – e, claro, por sequelas.


O início da década comprovou o apetite do público pelo terror paranormal, tendência que começou a desenhar-se em 2007 TERROR EM SÉRIE Entretanto, no pequeno ecrã, a série pós-apocalíptica The Walking Dead, estreada em 2010, acumulava um número cada vez mais expressivo de espectadores fiéis. Segundo dados da Wikipedia, o que começou por uma média de 5 milhões foi crescendo a cada temporada, com a quinta a concluir-se com uma média de 14, 4 milhões de espectadores. O sucesso da saga foi de tal forma expressivo que este ano estreou uma série que pretende funcionar-lhe como prequela: Fear the Walking Dead.

Em 2011, surgia uma série de terror um pouco diferente: American Horror Story, uma espécie de antologia em que cada temporada funciona como uma mini-série subordinada a um tema. A popularidade junto do público assegurou uma sexta temporada, Hotel, estreada em Outubro, nos EUA. O regresso do género do horror é, portanto, indiscutível – como se fosse ele próprio o protagonista de uma sequela e tivesse voltado para reclamar o que em tempos foi seu.

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O Último Grito

O ÚLTIMO GRITO Como um gigante adormecido, apoderou-se quer das salas de cinema, quer das salas de estar para nos proporcionar momentos de suspense e alguns sustos. As bases estavam lançadas, A recepção do público parecia garantida. O momento era ideal – senhoras e senhores, abram alas para o regresso do slasher. Em 2013, a MTV anunciava a adaptação televisiva de uma das mais amadas franchises de terror de sempre: Scream. Fã inveterada da saga de Wes Craven, ainda me lembro do cepticismo que me invadiu – estávamos a falar da MTV e do seu talento inato para estragar tudo em que tocava. Será que já não havia terrenos intocáveis? Será que precisávamos de fazer remakes de tudo? As novas gerações não são capazes de apreciar as delícias de algo que seja servido a menos de 720p? 30 de Junho de 2015: Scream: The TV Series estreia na cadeia (outrora musical) americana. Apostando na fórmula original – uma adolescente que é perseguida por um serial killer que semeia o caos na escola que frequenta – a série manteve a atmosfera juvenil dos filmes que a antecederam mas deixou para trás a máscara de Ghostface e apostou numa história e protagonista completamente novas. A estreia de Brandon James – o novo assassino em série – cativou o interesse de um milhão de pessoas mas a partir daí foi sempre a descer: segundo dados da The Nielsen Company, o número de espectadores foi diminuindo, caindo para praticamente metade no nono (e penúltimo) episódio. A tendência inverteu-se apenas no capítulo final da primeira temporada, que prendeu cerca de 750 000 pessoas ao ecrã – e, curiosamente, foi para o ar dois dias depois da morte de Wes Craven, que foi sempre creditado como produtor executivo da série, apesar de ter confessado que o seu envolvimento no projecto se resumia à presença do nome.


KILLING IT No início da rentrée, Scream: The TV Series já tinha terminado mas, a 22 de Setembro, chegou uma nova série para os amantes do género slasher: Scream Queens. Em comum com a saga Scream, Scream Queens não tem apenas o nome: é protagonizada por Emma Roberts, que deu vida a nem mais nem menos que Jill Roberts, prima da protagonista Sidney Prescott (Neve Campbell), em Scream 4 (2011) – o último filme da franchise. A nova aposta da FOX – desenvolvida por Ryan Murphy, Brad Falchuk e Ian Brennan (responsáveis pelo musical adolescente Glee e por American Horror Story) – é uma comédia de terror cuja primeira temporada gira em torno da irmandade Kappa Kappa Tau e de um assassino, mascarado de diabo, que lhe vai subtraindo membros e candidatas. Com um elenco esmagadoramente jovem, Scream Queens pisca o olho a uma geração amante de terror um pouco mais velha, ao trazer de volta a “rainha dos gritos” dos anos 70 e 80 – Jamie Lee Curtis.

Scream Queens conseguiu perto de 500 000 seguidores no Instagram, cerca de 900 000 gostos no Facebook, 400 000 tweets durante a estreia e uma fatia de 4 milhões de espectadores 58 – 59 | rtro


O Último Grito

A série representa um investimento forte por parte da FOX, que apostou numa campanha de marketing que, segundo o The Wrap, envolveu a distribuição de bebidas cor de sangue na Semana da Moda de Nova Iorque, bem como saltos em queda livre na Comic Con. O resultado? Perto de 500 000 seguidores no Instagram, cerca de 900 000 gostos no Facebook, 400 000 tweets enviados no decurso das duras horas de estreia e uma fatia de 4 milhões de espectadores. Embora, considerando o investimento, muitos consideram tratar-se de uma estreia em televisão desapontante, uns adicionais 3 milhões de espectadores foram acrescentados à audiência televisiva nos dias seguintes, por intermédio dos serviços de streaming FOX NOW e Hulu. Esta tendência de acréscimo posterior de público tem-se mantido, embora se assista a um declínio no total de espectadores. REESCREVENDO AS REGRAS Como pôde o terror sobreviver tanto tempo? Como é ainda possível assustar-nos e pôr-nos aos saltos na cadeira quando já conhecemos todas as manhas, todas as portas semi-abertas, todos os falsos endings, todos os estereótipos, todas as músicas de suspense? Como pode ele cativar-nos numa era em que sabemos tudo, conhecemos tudo e, o que não conhecemos já, está a um clique de distância? Como poderia Randy, o nerd da saga Scream, reinventar as regras dos filmes do género, de modo a que se adaptassem a um público vidrado nas tecnologias e no imediatismo? Esqueçam as regras para sobreviver num filme de terror: eis as regras para que o género de terror sobreviva nos nossos dias. 1. Criar uma estética polida, sexy e irresistivelmente consumível Nos filmes e séries de hoje, a forma não compete com a substância – complementa-a para criar um produto final que todos querem devorar. Atentem nos pósteres promocionais de Scream Queens: miúdas giras, magras, bem-vestidas, impecavelmente maquilhadas e de olhar penetrante e provocador – verdadeiros ícones do capitalismo estético de Gilles Lipovetsky, em que “ (…) as indústrias de consumo, o design, a moda, a publicidade, a decoração, o cinema criam, de forma massificada, produtos plenos de sedução (…) ”.

Como pode o terror adaptar-se a um público vidrado nas tecnologias e no imediatismo?


Já não se vive no Twitter. Hoje, morre-se no Twitter Personagens tão sedutoramente belas e ocas que vocês não têm a certeza se querem que elas se salvem ou que morram. Uma coisa vocês querem: acompanhar cada passo que elas dão nas suas vidas luxuosamente miseráveis. 2. Tudo tem de ser partilhável tweetável Longe vão os tempos em que uma desorientada Drew Barrymore era perseguida por chamadas anónimas no telefone fixo. Mudam-se os tempos, mudam-se as ameaças. E podem tirar esse sorriso que se vos estampou no rosto quando pensaram que são modernaços por usarem o Facebook. A rede criada por Mark Zuckerberg é já considerada tradicional – pelo menos para Brooke (Carlson Young), de Scream: The TV Series. Quando a protagonista, Emma (Willa Fitzgerald), confessa ter recebido uma chamada de um anónimo que denunciava as falsas vidas perfeitas dos adolescentes no Instagram e no Facebook, Brooke responde: “Deve ser bem antiquado se acha que ainda estamos no Facebook”. Num mundo social em que o bullying saltou do ginásio da escola para os smartphones, as vergonhas pessoais são multiplicadas pelo número de seguidores. Nesse contexto, o Snapchat é rei. A aplicação de mensagens instantâneas permite que os utilizadores não só partilhem fotos e vídeos como estipulem um prazo para que estes desapareçam. 15 minutos de fama? Experimentem 15 segundos. Lembram-se de uma das frases mais proferidas em todos os filmes de terror, “Call 911” (que é como quem diz “Chamem o 112”)? Esqueçam. Hoje, não se fazem chamadas de emergência; enviam-se tweets de emergência. Já nem se vive no Twitter. Isso é coisa de há 10 anos. Hoje, morre-se no Twitter. Que o diga Chanel nº2 (Ariana Grande), em Scream Queens. Depois de, cara a cara com o assassino, trocar com ele mensagens de texto (em que ele revela que vai matá-la), Chanel nº2 acorre ao Twitter para partilhar com os seguidores que está a ser assassinada. Antes de concluir o envio, o assassino desfere-lhe uma facada mortal. Mas como o anonimato seria pior do que a morte, Chanel nº2 regressa do outro mundo por um instante para carregar no “Tweet”. 3. Estereótipos e self-awareness devem misturar-se com moderação No início, era a ignorância. As vítimas morriam e não sabiam porquê. Não havia padrões, não se estabeleciam regras. Depois, começam a emergir tendências: porque eram sexualmente promíscuas, porque gozavam com os mais fracos, porque eram simplesmente próximas da(o) protagonista. Os anos 90 marcam a emergência das personagens-

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O Último Grito

As personagens não se limitam a ser personagens – elas sabem que o são e representam uma categoria que as transcende -tipo, da desconstrução do género, uma tendência que viria para ficar. As personagens não se limitam a ser personagens – elas sabem que o são e que representam uma categoria que as transcende enquanto indivíduos. Quando a série Scream foi apresentada, as personagens foram sendo introduzidas no site da MTV como estereótipos: The Good Girl, The Fool, The Loner, The Sex Object… É uma forma de a cadeia de televisão importar o formato slasher para o pequeno ecrã, trazendo para o terreno fórmulas reconhecíveis. E nem percam tempo em dizer que o slasher não funciona na TV. Noah (John Karna) tem a resposta na ponta da língua: “Não se pode transformar um filme slasher numa série de TV. Os filmes slasher ardem rapidamente. A TV precisa de esticar as coisas”. A MTV sabe que vocês sabem que o formato pode não resultar. Mas… e se resultar? Contudo, a self-awareness (que pode traduzir-se como auto-consciência) e os seus inevitáveis excessos estão agora a ser consumidos com moderação. O género que se constrói desconstruindo-se não está na base de Scream Queens. Em entrevista ao The Hollywood Reporter, um dos criadores, Brad Falchuk, disse (a propósito de comparações com a saga Scream): “Tentámos conscientemente não fazer o que os filmes Scream fizeram muito bem – como desconstroem o filme de terror. Usaram personagens que eram conscientes. Elas tinham visto os filmes e não iriam cair nas armadilhas ou, se iam, iriam comentá-lo. Não quisemos fazer isso. Queríamos voltar à ignorância das personagens em termos daqueles estereótipos dos filmes de terror para que pudessem experimentá-los um pouco mais ingénua ou inocentemente (…) ” [Excerto traduzido livremente do The Hollywood Reporter] 4. Nunca esquecer as referências culturais As personagens da era 2.0 não se limitam a ser auto-conscientes: são conscientes acerca do mundo que as rodeia, socorrendo-se de produtos e figuras culturais do seu tempo para ilustrar as suas piadas e pontos de vista. É bom que tenham os vossos apontamentos de Cultura Pop em dia; caso contrário, não saberão imediatamente quem é Choupette – o gato persa de Karl Lagerfeld (director criativo da Chanel) – e terão de esperar pela explicação da líder da irmandade Kappa Kappa Tau, a Chanel nº1 (Emma Roberts). Quando em Scream: The TV Series os alunos da turma de Emma devem juntar-se em pares para representar diálogos de casais famosos, Jake (Tom Maden) propõe a dupla Anastasia Steele e Christian Grey. Referências não faltam quer no grande, quer no pequeno ecrã. As produções actuais também representam fielmente hábitos pós-modernos. Café do Starbucks ou afins? Check.


5. Recorrer a celebridades Anna Wintour – directora da Vogue americana – sabia o que fazia quando, nos anos 90, decidiu começar a colocar celebridades fora do espectro da Moda nas suas capas. As vendas dispararam e hoje a Vogue é, ela própria, uma celebridade no seu segmento. O género do terror soube fazer o mesmo. Scream Queens foi buscar os cantores Ariana Grande, ex-estrela da Nickelodeon, e Nick Jonas, dos Jonas Brothers. American Horror Story conta, nesta temporada, com Lady Gaga e Naomi Campbell. Há mais de 10 anos, em 2003, Freddy vs. Jason já tinha ido buscar Kelly Rowland – ex-Destiny’s Child e agora cantora a solo – para fazer parte do elenco. Pink, Snoop Dog, Aaliyah ou Fergie são outros exemplos de artistas que atravessaram a fronteira da música pop para integrarem temporariamente o universo do terror. O recurso a celebridades é uma aposta segura: os fãs correm para ver os seus ídolos, a indústria de entretenimento alimenta-se a si mesma e os famosos mantêm-se frescos na memória do público. Quando o assunto é terror, as abordagens possíveis são muitas: copiar regras, cortar fórmulas, colar personagens… tudo é possível. Apenas um princípio subsiste, e foi enunciado por Sidney Prescott em Scream 4: “Don't fuck with the original!”.

O recurso a celebridades é uma aposta segura: os fãs correm para ver os seus ídolos e estes mantêm-se frescos na memória do público 62 – 63 | rtro


Indecisões Legislativas por Jorge Barbosa

"Fraude é a maneira como PS e PSD, e toda a comunicação social, deturpam o sistema político português: aqui elege-se deputados diretamente, não o governo ou um primeiro-ministro. Só depois dos resultados apurados, e ouvidos todos os partidos, é que o presidente nomeia alguém para formar governo. Ainda que seja inédito, é algo que a lei e constituição permitem e que se faz um pouco por toda a Europa." - Anónimo


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Indecisões Legislativas

No passado dia 4 de outubro realizaram-se as eleições legislativas com o propósito de escolher os 230 deputados à Assembleia da Republica. Embora este seja o propósito destas eleições, a maioria das pessoas pensa que têm o propósito de eleger o Primeiro-Ministro e o Governo. E de forma indireta até se poderá dizer que sim. Mas é importante não esquecer que cabe ao Presidente da República nomear o Primeiro-Ministro1.

Conforme os resultados das eleições podemos verificar que nenhum partido politico e/ou coligação conseguiu uma maioria absoluta no parlamento, ou seja, mais de 115 deputados na Assembleia. Este facto pode ser considerado preocupante porque sem uma maioria parlamentar o governo será um governo de instabilidade, seja ele qual for.

Fonte Wikipedia


Tem-se visto muita polémica por causa de uma possível coligação à esquerda, mas qual é o problema? Ou então uma outra coligação qualquer? Sejam quais forem os partidos, a possibilidade de se juntarem para formarem um governo com maioria parlamentar é completamente legítima, alias, é parte da democracia representativa em que vivemos. Claro que, por exemplo, no caso de uma coligação a 3 à esquerda (PS + BE + CDU), podemos argumentar que quem votou no PS não votou no BE e quem votou no BE não votou no PS, mas na verdade votaram em representantes do vosso círculo eleitoral e esse vosso representante pode, e deve, tomar esse tipo de decisões, individualmente ou partidariamente. Lembram-se do deputado Daniel Campelo, que, à revelia do seu partido, CDS-PP, resolveu não seguir o partido e lutar pelo bem da comunidade que estava a representar, comunidade essa que votou nele e o elegeu? Não deveria ser assim que deveríamos pensar quando vamos votar nos nossos representantes? Fica a pergunta. As conversações continuam entre os vários partidos representados no parlamento e o Presidente da República que se espera que decida brevemente qual será o XX Governo de Portugal.

Constituição da República Portuguesa CAPÍTULO II - Artigo 187.º

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1. O Primeiro-Ministro é nomeado pelo Presidente da República, ouvidos os partidos representados na Assembleia da República e tendo em conta os resultados eleitorais. 2. Os restantes membros do Governo são nomeados pelo Presidente da República, sob proposta do Primeiro-Ministro.

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it Boy

The Final Cut

em memória de Wes Craven (1939-2015) por Margarida Cunha


A morte de Wes Craven surgiu como uma facada – o trocadilho é fácil mas adequa-se (e ele teria adorado). Assombrado por um tumor no cérebro, faleceu aos 76 anos na sua casa, em Los Angeles. Ironicamente, 48 horas depois chegava também ao fim a primeira temporada de Scream: The TV Series – projecto da MTV que não teria sido possível sem a saga homónima que Craven trouxe ao mundo em 1996. Antes, contudo, de sucumbir ao cancro, Craven deixou-nos um legado terrivelmente delicioso. Depois de um percurso que passou pela indústria pornográfica, Wesley estreia-se no mundo do horror com The Last House On The Left, em 1972 – película que viria a ser alvo de um remake em 2009, pela direcção de Dennis Iliadis. Na década seguinte nascia a sua obra-prima: The Nightmare On Elm Street. Desde 1984, Freddy Krueger (interpretado por Robert Englund) tem muitos louros a reclamar: arruinou a infância de uma geração inteira, cimentou o nome de Craven no mercado dos filmes de terror e, bónus, catapultou Johnny Depp para a fama. E, claro, gravou para sempre nas nossas memórias uma melodia tão arrepiante como inesquecível: One, two, Freddy’s coming for you… O sucesso da saga conduziu-a por caminhos desastrosos, sendo notória a ausência do génio de Craven nas cinco sequelas que se seguiram – todas elas conduzidas por realizadores diferentes. À sétima, foi de vez: Craven reclamou o que era seu de direito e colocou literalmente a sua assinatura no derradeiro capítulo da história de Freddy Krueger: Wes Craven's New Nightmare. Aí, o filme é-nos apresentado como a vida real, em que os actores que deram a vida a personagens de The Nightmare On Elm Street são assombrados por Krueger. Estavam lançadas as bases da self-awareness que iria caracterizar uma das obras-primas de Craven, um par de anos depois. Embora não seja considerado uma sequela, a verdade é que The New Nightmare foi lançado dez anos depois do original e costuma ser encarado como o fim da saga de Elm Street. A partir daí, Krueger voltaria a aparecer no grande ecrã (em Freddy vs. Jason, em 2003, e num remake, com o título original, em 2010) mas não seria levado tão a sério. Em 1996, surge a saga que iria cativar uma nova geração de amantes de terror: Scream. Irónico, jovem e refrescante, o novo projecto de Craven – escrito por Kevin Williamson (argumentista de Dawson’s Creek) – traz ao grande público um terror renovado, protagonizado por caras conhecidas quer do grande (Drew Barrymore), quer do pequeno ecrã (Neve Campbell e Courteney Cox). Sidney Prescott (Neve Campbell) era a nova heroína: forte mas sensível, decidida mas sofredora; Ghostface surgia como o novo anti-herói, tornando-se literalmente no rosto do horror durante vários anos – e inspirando disfarces de Halloween e chamadas anónimas por esse planeta fora.

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It Boy - The Final Cut

Tendo sido pioneiro na revitalização do sub-género slasher, Scream marcou o regresso do terror aos êxitos de bilheteira – sendo certamente responsável pela onda de filmes do género que inundou o grande ecrã, na segunda metade dos anos 90. Vários projectos se seguiriam, embora a carreira de Craven tenha decorrido sobretudo em torno de sequelas das suas criações – tais como as de Scream e de The Hills Have Eyes – tendo Scream 4 sido a sua última grande estreia (e, presumivelmente, o capítulo final da série).


E eis que, a 30 de Agosto, chega o último take. Scream: The TV Series presta-lhe homenagem, abrindo o episódio final da primeira temporada com: “Thanks for the screams”. O Twitter torna-se palco das mais diversas manifestações de pesar. Rose McGowan – que interpretou Tatum em Scream, e é conhecida por não ter papas na língua – escreveu: “Obrigada por seres o homem mais generoso, o homem mais delicado, e um dos homens mais espertos que conheci. Por favor diz-me que há uma reviravolta na história”. Robert Englund, que encarnou Freddy Krueger durante vários anos, desabafou: “RIP Wes Craven, meu realizador, meu amigo. Um homem brilhante, bondoso, gentil e muito engraçado. Um dia triste em Elm Street e em todo o lado. Vou sentir a sua falta”. Também Neve Campbell, a actriz canadiana que protagonizou a saga Scream (e cuja carreira cinematográfica se deveu a Wes Craven), expressou a sua tristeza através de um comunicado: “Perdemos muita magia ontem. Estou devastada com a notícia do falecimento do Wes. A minha vida não seria o que é sem ele. Estar-lhe-ei grata para sempre pela sua realização brilhante, pelo seu sentido de humor perverso e pela sua bondade e amizade. Entreteve-nos a todos durante décadas e inspirou tantos a seguirem o caminho dele. Eu amava ternamente o Wes e sentirei sempre a sua falta. Obrigada Wes!!!”. Neste mundo que já não é maniqueísta, é difícil saber se os bons vão para o Céu e os maus para o Inferno. Mas para onde quer que Wes tenha ido, uma coisa é certa: de agora em diante, os seus habitantes passarão a ser terrivelmente bem dirigidos.

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Ler. Ver. Ouvir. por Ana Cristina Silva

Ler Grey Autor: E. L. James Editora: Lua de Papel Ano: 2015 Género: Romance A trilogia que tem andado nas bocas do mundo recebeu este ano mais uma adição ao seu universo. E. L. James lançou “Grey”, “As Cinquenta Sombras de Grey” narradas por Christian Grey. Como a própria autora explicou num comunicado aquando do lançamento, foi a pedido dos fãs que o escreveu: "Christian é um personagem complexo e os leitores sempre foram fascinados pelos seus desejos e motivações, e o seu passado conturbado.” A saga original do best-seller é contada pela jovem Anastasia Steele, que, durante uma entrevista, fica encantada pelo empresário. “Grey” trata-se de uma outra versão do primeiro livro, narrado pelos olhos do intrigante protagonista. Assim, como seria de esperar a narrativa é mais explícita, mais pesada que o original, um romance mais realista e bastante mais gráfico. A obra permite-nos imergir na mente do bilionário Grey, que parece entregar-se ao seu psicopata interior, afastando a ideia de se tratar de um playboy frio e sem sentimentos e assumindo uma faceta mais imperfeita; apresentando-se acima de tudo como alguém que, apesar de viver no e do controlo, o parece perder em relação a Anastasia. A obra foi lançada nos Estados Unidos a 18 de Junho, dia de aniversário de Christian Grey, e vendeu mais de um milhão de cópias em menos de dez dias; a Portugal, chegou a 10 de Setembro.


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Mulher de Ouro

Empire OST

Realização: Simon Curtis

Autor: Vários

Elenco: Ryan Reynolds, Helen Mirren

Editora: Columbia

Ano: 2015

Ano: 2014

Género: Drama

Género: R&B, Hip-Hop

“Mulher de Ouro” trata-se de um drama baseado em factos verídicos que se estendem desde a II Guerra Mundial a séc. XXI. Está baseado no caso de Maria Altmann, uma judia que processou o estado austríaco, acusando-o de se ter indevidamente apropriado de várias obras de arte pertencentes à sua família. Entre as obras de arte encontravase a “Mulher de Ouro” (ou “Retrato de Adele Bloch-Bauer”) de Klimt, que retrata a sua falecida tia e que estava em exposição na galeria Beldevere em Viena, e que dá nome ao filme.

Aquela que foi eleita a melhor série do ano nos Estados Unidos merece uma banda sonora à sua altura e a ela teve direito. Estreouse no nº 1 da tabela de álbuns de R&B E Hip-Hop, tornando-se na primeira banda sonora de uma série a conseguir esse feito. O mérito é atribuído a Timbaland, o supervisor musical da série da FOX, que com a colaboração do produtor Jim Beanz, proveu os criadores da série de criações musicais originais semana após semana. A série retrata um império musical familiar cujas estrelas são os irmãos Lyon, o rapper Hakeem (Yazz) e o cantor R&B Jamal (Jussie Smollett). Os actores e cantores outrora totalmente desconhecidos surgiram do universo ficcional e assumem-se como verdadeiras estrelas musicais e televisivas.

Helen Mirren assume o papel de Altmann, que, ajudada pelo jovem, ingénuo mas ambicioso advogado Randy Schoenberg (Ryan Reynolds), vai em busca de justiça encetando uma verdadeira campanha legal para reclamar aquilo que julga ser seu por direito. O filme mistura factos históricos e ficcionados, alternando flashbacks à época da invasão nazi com a luta judicial protagonizada pelos personagens principais, Altamnn e Schoenberg, que oscilam e vacilam perante a burocracia e a indignação causadas por um processo complicado que os leva a Viena e ao Supremo Tribunal dos Estados Unidos. A obra cinematográfica chama atenção para as arbitrariedades e injustiças perpetradas pelos nazis, mas em particular para as restituições de guerra: estima-se que mais de 100 mil obras de arte foram levadas pelos nazis e não foram ainda devolvidos aos seus verdadeiros donos.

“Empire”, o álbum, pode ser dividido em duas partes: a primeira metade apresenta-nos as canções lançadas no decurso da primeira temporada da série; a segunda parte é composta inteiramente de músicas novas, a maioria resultantes de colaborações das estrelas do programa com verdadeiras estrelas da indústria. Da primeira metade destacam-se “No Apologies” (considerada o tema não-oficial da série), e a versão os irmãos de “Money for nothing”, onde os raps de Yazz e a voz de Smollett encaixam perfeitamente e demonstram a forte química existente entre os dois. Mas a verdadeira estrela do álbum é Smollett, vocalista de “Good Enough”, “Kepp your Money”, “I wanna Love you” e “Nothing to Lose”, que com um tom de voz similar ao de Justin Timberlake, vale por si próprio pelo alcance e emoção que a sua voz transporta. É ele que transforma a outrora lançada a solo “Conqueror” de Estelle, numa faixa repleta de significado que está, em Portugal, no top de músicas mais ouvidas muitas rádios. Para além de Estelle, são muitas as outras estrelas que colaboram no álbum: Rita Ora e Juicy J, Mary J. Blige e a diva Jennifer Hudson. “Empire” é claramente direcionado para um público mainstream, ao mesmo tempo que tenta ser mais do que um mero acompanhamento da série.

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