Revista Rock Meeting Nº 64

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EDITORIAL “Aah, o underground é isso mesmo: sem apoio, sem dinheiro, feito de qualquer jeito... posto meus cartazes de graça, não deveria cobrar, perde o sentido”. Certo momento foi dito isso por alguém que está no meio. Quem está no underground não quer ser pago com pastel com suco de maracujá e tocar com qualquer tipo de equipamento, porque o “underground é isso mesmo, feito de qualquer jeito”. “O produtor tem custos altos” e a banda, não? Músico algum quer continuar no “underground”, gastando seu tempo e dinheiro, sendo pago com um tapinha no ombro, dois litros de refrigerante e um “muito obrigado”, como se o produtor estivesse fazendo um favor a eles. Viver de uma utopia, ok! Esta é uma visão medíocre de uma cena, bater no peito de que faz parte dela e você não ter consciência de que só prejudica, desmotiva e acaba com o sonho daquele que quer ter uma banda e mostrar o seu som? Desculpa, mas este não é o seu lugar. Isso é conflitante, pois em nenhum momento o underground se posicionou como “feito de qualquer jeito”, e sim como o “do it yourself”, o faça você mesmo, que não é si-

nônimo do qualquer jeito. Se as bandas facilitam todo o processo, ótimo! Já ajuda quem está tentando fazer algo. E, mais uma vez, não quer dizer que será pago com pastel e suco. O undeground tem preço sim. E sabe quando ele realmente mostra quando tem preço? Quando alguma coisa dá errado. Teste para você ver o que lhe acontece. Muitos “rip-off”, pode ser certeza disso. “Se cobra para postar cartaz, não é underground. É capitalista”. Todo mundo tem seus custos, nem por isso vai deixar de ser de um meio para entrar noutro. Nós, enquanto mídia virtual, temos nossos custos. Deslocamento para os shows, organização de eventos, passar horas diagramando a revista, cobrar de nossos colaboradores…Tudo é custo. E sabe para onde vai o que conseguimos arrecadar? Devolvemos em evento, pagando os custos deste. É isso! Faça mais e fale menos. Seja menos um revoltadinho da internet e comece a fazer as coisas de verdade. Se não é aceito pelos seus, problema é seu. Agora não venha criticar o trabalho dos outros. Ah, o que foi que você fez mesmo?! Ah, para!


TABLE OF CONTENTS

07 - Coluna - Doomal 11 - News - World Metal 15 - Entrevista - Eye of Gaia 18 - Previs達o - O que esperar de 2015? 20 - Review - Destruction em duas doses 30 - Entrevista - Hatefulmurder 38 - Capa - Ratos de Por達o 46 - Entrevista - Kattah 54 - Entrevista - Maicon Leite 60 - Coluna - Perfil RM - Vitor Rodrigues 66 - Coluna - O que estou ouvindo?


Direção Geral Pei Fon Revisão Rafael Paolilo Capa Alcides Burn

Colaboradores Ellen Maris Jonathas Canuto Leandro Fernandes Mauricio Melo (Espanha) Rodrigo Bueno Sandro Pessoa CONTATO contato@rockmeeting.net



Por Sandro Pessoa (Sunset Metal Press & União Doom BR)

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ais um ano se passou e como sempre também deixou seu rastro de bons lançamentos musicais. Bandas já bastante conhecidas, e outras nem tanto, mostraram que o Doom Metal ainda queima forte no coração dos Doomsters, já que a qualidade das obras ainda nos impressiona bastante, apesar de muitos ainda se focarem na velha receita de bolo dos anos 80 e 90. O que importa é que foram bons álbuns cuja qualidade serviu para sustentar o Doom Metal ainda por muito tempo. Deste modo, baseado em uma lista do site Sputnik Music, que contou também com a votação do público, vamos apresentar dez dos álbuns listados mais marcantes de 2014. Darkest Era Álbum: Severance Música de Destaque: Beyond The Grey Veil

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Triptykon Álbum: Melana Chasmata Música de Destaque: Aurorae

The Graviators Álbum: Motherload Música de Destaque: Narrow Minded Bastards

Dead Congregation Álbum: Promulgation Of The Fall Música de Destaque: Serpentskin

Pallbearer Álbum: Foundations Of Burden Música de Destaque: Foundations


Thou Álbum: Heathen Música de Destaque: Into the Marshland

Ethereal Riffian Álbum: Aeonian Música de Destaque: Wakan Tanka (Awareness)

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Emptiness Álbum: Nothing but the Whole Música de Destaque: Nothing but the Whole

Boris Álbum: Noise Música de Destaque: Heavy Rain


Doom:vs Álbum: Earthless Música de Destaque: Earthless

In Absenthia EP: A Subtle Teardrop Part 1: Lonely Sinking Música em Destaque: My Eerie Affair

Para saber quais foram os outros álbuns também presentes nesta lista você pode clicar AQUI e conferir todos os 39 selecionados, dentre estes Vallenfyre, Empyrium, Novembers Doom e etc... Aqui no Brasil o ano não passou a limpo e também teve seus bons lançamentos como:

Em Nome do Medo - A Brazilian Tribute To Moonspell Tributo dedicado a banda portuguesa Moonspell no qual também participaram bandas consagradas do Doom Metal nacional. Ouça no Youtube.

...Do Fundo… Abismo & Labore Lunae (Split) Álbum: Mórbidos Dizeres

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Como vocês podem perceber, 2014 foi um bom ano para o Doom Metal, vamos torcer para que 2015 seja melhor ainda!


Lindemann O que esperar de Peter Tägtgren (Hipocrisy/Pain) e Till Lindemann (Rammstein)? Lindemann. Um projeto muito ousado de caras bem loucos. Segundo o vocalista/guitarrista/tecladita da banda sueca Raubtier, Pärr Hulkoff, este álbum “ecoará pela eternidade”. E acrescentou “escutei uma pequena parte explodiu minha mente”. Ainda não tem nada certo sobre o lançamento, mas é aguardar. Por hora, acompanhe as notícias na página oficial da banda AQUI.

Entrevista

“Return to Death”

E a banda mineira Necrobiotic estão em destaque no programa Calango News, projeto de variedades em formato de Web Tv que dá espaço para músicos de diversos estilos. A cada programa, uma banda tem a exclusividade total num programa que dura em média de 15 minutos, com entrevista e clipe. Você pode assistir a entrevista clicando AQUI.

Completando a trilogia de vídeos para o álbum Return to Death, a banda Krueger lança o vídeo da música título, “Return to Death” que disponível anteriormente apenas em Lyrics Video. Com uma super produção e focando em imagens old school, o Krueger demonstra uma total dedicação ao Metal. Ficou curioso? Clique AQUI e assista!

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Last of us

Intervals

Quem está ansioso para ouvir algo dos portugueses do Moonspell? Pois você já pode conferir uma música do novo álbum dos caras, “Extinct”. O lançamento está para março pela Napalm Records. O álbum foi finalizado no Fascination Street Studio, na Suécia com o produtor Jens Bogren que já trabalhou com Katatonia, Amon Amarth, Opeth e Paradise Lost. Escute agora “Last of us” AQUI.

Mário Kohn, acaba de lançar o vídeo, no qual interpreta a música “Ephemeral” da banda canadense Intervals. O vídeo faz parte da audição de Mário para fazer parte da banda. Kohn é formado em canto erudito pela Faculdade de música Carlos Gomes, e leciona canto desde 2001 e passou por professores como Carmo Barbosa e Ariel Coelho. Assista ao vídeo AQUI.

Endless Forms Most Beautiful Os finlandeses do Nightwish já anunciaram o nome do sucessor de “Imaginaerum” e a data de lançamento. “Endless Forms Most Beautiful” é o oitavo álbum da banda e todos vão saber o que tem nele no dia 27 de março. Antes disso, no dia 13 de fevereiro, já vai ser possível escutar o primeiro single deste novo álbum. “Élan” vem para iniciar este novo ciclo do Nightwish que conta com Floor Jansen (ReVamp) nos vocais, Troy Donockley e suas gaitas, além de Kai Hahto no lugar de Jukka Nevelainen, que foi cuidar da saúde. E lembrar que a banda pode passar pelo Brasil em 2015. Segundo o jornalista, José Norberto Flesch, que não costuma errar, eles devem tocar no Rock in Rio 2015. 12


“Fazer o que quero” Há quem não aguente esperar pelo segundo álbum do powertrio The Winery Dogs. A banda é composta por Mike Portnoy (bateria), Billy Sheehan (baixo) e Richie Kotzen (guitarra). Segundo Kotzen, eles vão se reunir para discutir o sucesso do auto intitulado da banda. “Nós vamos escrever o que vamos escrever. Vamos entrar numa sala e vamos fazer o que fizemos da última vez. Mike toca alguma coisa, eu coloco alguma ideia para o coro e Billy vai jogar algo do baixo, vamos numa jam e escrever para ela”, disse Kotzen. E acrescenta: “O que vai ser será, a música não é uma equação matemática, é algo que você sente, que vem da criatividade”.

“Monstruoso”

“Como ser um homem”

O novo álbum do americanos do Lamb of God soa “monstruoso”, como diz o seu frontman, Randy: “temos grandes shows este ano, mais cedo ou mais tarde vamos escrever o álbum”. E acrescenta: “o que os caras tem mostrado é o mais monstruoso até aqui”. Ainda não tem previsão para o seu lançamento, mas acredita-se que será para o segundo semestre de 2015. Resta agora esperar pelo sucessor de “Resolution”.

Duff McKagan vai lançar seu livro chamado “How to be a man (and other illusions)”. O livro vem do mesmo nome de uma coluna no Seattle Weekly que Duff escreve há cinco anos. Nele ele conta como ser um pai, marido e rock band. Guia da cidade, como ele vê a cidade. E muitas outras coisas e muitas histórias. Esperançosamente, vai ser um livro divertido”, diz. O livro será lançado no dia 12 de maio pela Da Capo Press.

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“Mudamos muito a forma de pensar” Por Leandro Fernandes (leandro@rockmeeting.net) Fotos: Carol Munhoz

O Eyes of Gaia é uma banda que não precisa de muitas apresentações pois o som é de muita competência e de um carisma incrível. Trabalhou com grandes artistas em suas produções e já estão na fase final do tão aguardado “The Power Of Existence”. Para explicar um pouco mais sobre a banda e seus planos, o vocalista Mário Kohn e o baterista Betto Cardoso nos concederam uma conversa divertida e bem aberta. Relaxe e leia! Primeiramente gostaria que se apresentassem e pergunto, por que o nome Eyes Of Gaia e qual o significado dele para a banda. Mário Kohn: O Eyes Of Gaia começou em 15

2008. Esse nome surgiu da ideia de englobarmos tudo que gostamos, sem restrições ou rótulos. E nada melhor do que o nome Gaia. Pensamos em Eyes, porque seria os olhos que observam tudo nesse planeta. A banda lançou a DEMO “Final Tears”, em 2009, o single “Stand Up Again”, em 2012, o single “Hidden From The Light”, em 2014, e em 2015 lançaremos o nosso primeiro álbum “The Power Of Existence”. Nesse período fizemos muitos shows, incluindo tocar com bandas como Almah, Dragonforce e Glenn Hughes. Quais são as principais influências da banda? Mário Kohn: Temos várias influências des-


de Hard Rock até Trash Metal, cada um da banda vem de um estilo de rock/metal diferente. Betto Cardoso participou dos testes para o cargo de baterista do Slipknot. Qual foi o resultado disso tudo? Betto Cardoso: AA audição não era oficial, tanto que o escolhido não fez parte do concurso. O escolhido foi o filho do baterista do Bruce Springsteen. Mas, apesar de eu não ter sido escolhido, o meu vídeo foi o que teve maior número de curtidas e de visualizações. Além das curtidas na minha página do Facebook e na página da banda. A banda absorveu algo de positivo desse teste? Betto Cardoso: Sem dúvida. A demanda pelo som próprio do Eyes, que gravei e postei no meu canal do Youtube, teve uma repercussão internacional por conta da Drum Talk TV 16

tê-lo compartilhado. Qual a relação de vocês com outras bandas nacionais. Existe alguma que o contato é mais próximo? Ótima!! Temos grandes amigos no meio, Almah, Perc3ption, Inheritance, etc. Em todas temos contatos mais próximos com um integrante ou outro. Assim como vocês, algumas bandas estão investindo em lançamento digital dos trabalhos. A que se deve a isso? A internet é um meio mais fácil de consumir hoje, você recebe o material na sua casa ou baixa ele e também acaba pagando mais barato do que em uma loja. Além da parte da divulgação. Qualquer um pode postar algo no Youtube, não precisamos esperar alguém de alguma TV ou rádio aprovar para colocar na programação.


A banda passou por algumas reformulações há tempos atrás. Isso reflete um pouco na produção ou no som? Com certeza. Mudamos muito a forma de pensar e o formato das músicas, principalmente pelas influências de cada um serem tão diferentes.

Como tem sido o contato com o exterior relacionado a shows e alguma participação em festivais. Enquanto não lançarmos o álbum fica difícil. Mas também pretendemos ir com calma. Primeiro visamos o nosso país, depois pensaremos fora dele.

Um balanço rápido da banda. Desde o surgimento até os tempos de hoje, como foram os dias de estrada, shows. aconteceu algo inusitado ou engraçado que vocês sempre lembram? Foram muitos momentos bons, mas tiveram os ruins também. É difícil ter uma banda de Heavy Metal em um país onde os produtores de eventos não nos valorizam como profissionais. Lógico que não podemos generalizar. Mas, em compensação, os fãs são ótimos. Nos proporcionam momentos memoráveis e alguns engraçados como perder o dente no bate cabeça e vir te mostrar depois (risos).

O que esperar do ano que está por vir, novidades? Além do álbum, temos contatos para fazermos alguns shows pelo Brasil.

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Agradeço pela imensa atenção de vocês e já desejando um 2015 de muita luz, sucesso e agenda lotada! Dediquem esse espaço a quem quiserem. Esperamos que todos tenham um ótimo 2015 cheio de grandes shows e muita curtição. Vemos vocês nos shows do Eyes Of Gaia!!!


Por Leandro Fernandes (leandro@rockmeeting.net) Fotos: Divulgaçao

2014 foi bastante atrativo. Houve excelentes shows internacionais e também nacionais, grandes discos lançados e outros nem tanto. As bandas gringas que desembarcaram por aqui nesse ano foram de extrema competência e carisma, grandes festivais e belos shows. As famosas organizações duvidosas deram o ar da graça lesando alguns artistas e deixando outros “a ver navios”. Destacamos nossas bandas que fizeram bonito por onde passaram como a excelente tour do Cavalera Conspiracy, os shows do Angra com o talentoso Fabio Lione (Rhapsody in Fire, Vision Divine), o Festival Metal Manifest realizado em São Paulo que contaram com o Krisiun, Korzus e os irmãos Cavalera. Também rolou uma épica apresentação dos monstros do Kansas, o trio de peso do Des18

truction, o Metal Cristão do Stryper que foi muito bem elogiado por onde passou, o metal sinfônico do Within Temptation e também uma trinca de peso com as bandas Edguy, Hammerfall e Gotthard. O que podemos esperar para o ano de 2015? Se realmente confirmarem tudo aquilo que está previsto teremos um ano bastante agitado e inesquecível. Já teremos logo de cara o festival Lollapalooza que contará com a participação da grande lenda Robert Plant e várias bandas alternativas nacionais e internacionais. Rumores de que Rush, The Who e AC/DC também poderão aparecer em terras tupiniquins. Repito: apenas rumores. Outro evento de grande importância e bastante aclamado será o Rock In Rio e seus 30 anos. Sempre realizado com diversos ar-


tistas e de musicalidade distintas, sempre rola o dia do som pesado, do Heavy Metal e nele já temos presença garantida do System Of A Down e também dos finlandeses do Nightwish, outros nomes de peso que se encontram na lista de desejos são: Rolling Stones, U2 e o camaleão mais famoso do mundo David Bowie. Iremos iniciar o ano com uma atração de peso. Logo no mês de janeiro teremos o Metal Singers, que será realizado na cidade de São Paulo, no dia 25 e terá as presenças de Tim “Ripper” Owens (Ex – Judas Priest e Iced Earth), Blaze Bayley (Ex – Iron Maiden), UDO (Ex – Accept) e Mike Vescera (Ex – Loudness e Yngwie Malmsteen), será uma pancada logo de início. Outros shows confirmados por aqui são do Epica, em março, e dos suíços do Eluveitie que irá levar seu Folk Metal a três capitais brasileiras no início do mês de abril. Sem contar o lendário guitarrista Marty Friedman (Ex – Megadeth) que irá se apresentar por aqui no mês de março com várias datas já 19

confirmadas. A atração mais esperada e já tem causado grande alvoroço pela internet e nas redes sociais, será mais uma edição do Monsters Of Rock, que está com um line-up que, com certeza, valerá cada centavo investido nos dois dias de festival. De cara, no dia 25/04, teremos as bandas: Ozzy Osbourne, Judas Priest, Motörhead, Black Veil Brides, Coal Chamber e Primal Fear. Já no segundo dia, que será na data de 26/04, o festival receberá: Kiss, Manowar, Accept, Unisonic, Yngwie Malmsteen e Steel Phanter. Esse sim promete destruir muitos pescoços dos headbangers presentes. Confirmado também em Florianópolis, no segundo semestre do ano, o Festival Psicodália que terá ninguém menos como atração principal o multi-instrumentista Ian Anderson (Jethro Tull). Até o momento teremos um ano de 2015 bastante agitado e com muito som de peso, e que os rumores deixem de estar no campo das ideias. Agora é aguardar e preparar o bolso. Muito importante, hein?!


Duas doses de Texto e Fotos: Pei Fon (@poifang | peifang@rockmeeting.net)

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e destruição 31


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m um momento único, a banda alemã de Thrash Metal, Destruction, desembarcou em Maceió pela primeira vez, seguindo a sua agenda de shows pelo Brasil, onde tocaram os clássicos dos seus 30 anos de existência. O “Brazilian Thrash Attack 2014” passou por onze cidades brasileiras, mas só tocou em dez delas, pois no festival em Rio Negrinho houve problemas e a banda não se apresentou. Fora estas questões, a inédita aparição da banda na cidade alagoana causou um rebuliço nos fãs mais antigos e nos mais novos. Em duas semanas de divulgação dos ingressos, a galera foi logo adquirir o seu passaporte para este dia inesquecível. Ainda assim, vendo os caras de pertinho na cidade natal, fomos conferir a performance do trio na cidade de Recife, em Pernambuco, o último show da turnê brasileira. Junto com eles estavam os americanos do Suffocation e os pratas da casa, Inner Demons Rise. Maceió Com aquele sentimento de incredulidade expectativa, os fãs foram chegando ao Orákulo Chopperia. O show ainda contava com a “abertura” da banda alagoana Raiser, que só tocou após o Destruction, pois os instrumentos e toda a passagem de som estava disposta para os caras.

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O Destruction subiu ao palco às 20h30. A galera já se acomodava ainda do lado de fora quando se ouviu os primeiros sons vindo da bateria. De repente, começou a encher a casa e todo mundo foi procurando o seu lugarzinho para ver o show. De forma matadora, “Total Desaster” abriu os trabalhos. “Thrash ‘Till Death” veio logo em seguida para ficar bem claro que eles não estava para brincadeira. E por aí foi uma sequência de clássicos para fã algum botar defeito. “Nail to the Cross”, “Mad Butcher”, “Armageddonizer”, “Black Death”, “Eternal Ban”, “Hate is my Fuel”, “Bestial Invasion” foram algumas que estavam na lista. A primeira parte foi embebida das principais músicas do grupo. No segundo momento veio a divulgação do seu último trabalho “Spiritual Genocide”, canções deste álbum como “Carnivore” foram tocadas. E ainda houve um momento para o “pedido do fã” onde eles tocaram três músicas escolhidas pelo público. Muito interessante isso da parte deles, ouvir quem mais ouve suas músicas, o fã. E essa galera ainda tinha uma carta na manga, finalizaram o show com “The Butcher Strikes Back”, onde muitos só esperaram o açougueiro aparecer no palco para completar a festa. E não pode deixar de falar na iluminação do show. Sob um forte contraluz, luzes fortes, elas acompanhavam os riffs e todas as investidas dos músicos. Sincronia total. Sem dúvidas, ficou difícil de dizer qual música faltou no setlist dos caras. Democrático, eles tocaram o que o povo pediu. Não tem do que reclamar mesmo! E o show durou 2 horas. Imagine só, duas horas de “Total Desaster”. Em muitas vezes o baixista e líder da 24


Banda Raiser finalizando a noite matadora com o Destruction

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banda, Marcel Schmier, elogiava o público pela sua força nos circlepit e chegou a dizer: “Vocês trabalham forte! É isso mesmo, galera”. A banda ficou alguns dias na cidade e aproveitaram bem o calor e a praia maceioense. Certamente, quando ouvirem novamente sobre em tocar em Maceió, eles não vão pensar duas vezes. Já a banda Raiser ficou encarregada de finalizar o show e eles fizeram muito bem. Tocando músicas próprias, o quinteto se prepara para lançar novas músicas este ano. Sob o clima de “descarregar as emoções”, dois integrantes da Raiser fizeram suas homenagens aos parentes que se foram em 2014. Aqui fica os nossos votos de superação. Força rapazes! Recife A segunda dose aconteceu na cidade pernambucana. Aproveitando o ensejo de que havia outra banda estrangeira no lineup fomos conferir de perto. Estavam escaladas para o show: Inner Demons Rise (PE), Sanctifier (RN), Suffocation (EUA) e Destruction (ALE). Porém, a baixa veio da banda de Natal, Sanctifier. Por problemas pessoais, um dos integrantes da banda não pode viajar para Recife, por isso a apresentação da banda foi cancelada. No entanto, quem estava no Baile Perfumado, ao lado do Jóquei Clube de Pernambuco, onde aconteceu o show histórico do Iron Maiden, a noite foi mágica. Inner Demons Rise, a prata da casa, começou bem. Seus trinta minutos de show foram para apresentar o som próprio, técnico e veloz. E não faltou melodia e simpatia. O grupo, que está em nova formação, tende 26

Suffocation com Ricky Myers assumindo os vocais


Inner Demons Rise abrindo o show para o Suffocation e Destruction

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a alavancar em 2015. Segura esse nome aí! primeira atração internacional da noite, Suffocation, trouxe a brutalidade do Death Metal com uma técnica apuradíssima, sem contar com a presença de palco dos caras, que foi um show a parte. Só clássicos foram tocados, além de músicas do seu atual cd “Pinnacle of Bedlan”. Com apenas uma guitarra e Ricky Myers assumindo o vocal de Frank Mullen, o quarteto da noite segurou a onda e fez um show de impressionar. Poderoso e cativante. A sensação era de dúvida por não saber se curtiria o show no circlepit ou observava o show acontecer e sentir toda aquela energia que vinha do palco. O que se via nos gestos e feições da galera era que o som estava agradando e desopilando o fígado. Logo depois foi o Thrash Metal do Destruction. Executando o mesmo setlist de Maceió, a diferença foram nas escolhas do público. No final das contas, a banda que mais tocou no Recife, fez um show incrível.

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“Falamos sobre a Por Leandro Fernandes (leandro@rockmeeting.net) Fotos: Assessoria/ Divulgação

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a nossa realidade� 31


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Hatefulmurder está em grande ascensão pelas Américas divulgando seu excelente debut “No Peace”. A banda vem colhendo grandes frutos e sendo muito prestigiada por onde passa. Em uma conversa o grande Renan Campos ele nos deu detalhes sobre a grande devastação que a banda faz por onde passa também nos contou sobre projetos e a grande repercussão do disco. Confira! Agradeço pela oportunidade da entrevista e já desejo mais sucesso ainda pra vocês. A banda por onde passa deixa um sinal claro de devastação com um som cru e pesado, algo que o público realmente gosta. Aqui em nosso país, onde se encontra o público mais fiel ao som pesado? Renan Campos: Muito obrigado! A gente agradece o espaço. Acredito que em todo lugar do nosso país existe público que gosta de Metal Extremo, em geral. Nas grandes capitais, obviamente, tem mais gente mas já tocamos em cidades do interior de vários estados e a galera compareceu em peso, até mesmo porque não rola eventos de metal com grande frequência. Aqui, no nosso país, a gente recebe mensagens de todos os cantos, o que deixa claro que os fãs do estilo não ficam só em uma determinada região. Qual era a função de cada membro da banda antes da mesma nascer. Bem, quando comecei essa banda eu tinha entre 17 e 18 anos, era estudante e fazia alguns trampos com minha irmã na época, mas já havia tocado em banda. O Lameira, nosso vocalista trabalhava produzindo show de Metal no Rio. O Thomás era estudante e já tocava batera numa banda de Thrash, enquanto o Modesto morava em Londres e tocava na 33


noite, levando ritmos brasileiros e até Forró. O Exodus é uma banda bastante aclamada em nosso país e vocês se já apresentaram com os caras…Como a banda reagiu a esse momento que, com certeza, foi de grande importância? Foi realmente uma puta honra. Acredito que esse convite foi um dos melhores “presentes” que já recebemos. Subimos lá e fizemos o nosso: destruição pura. O público reagiu muito bem, ficamos muito felizes com o feedback da galera e nos rendeu novos fãs. Sem contar que o Exodus é uma grande influência. Nós ouvimos Exodus juntos. Nosso som tem muito a ver com o que eles fazem e fizeram. O álbum “No Peace” é um grande des34

taque desse ano pois mostra originalidade e um peso realmente brutal. O retorno do público está agradando a banda? Obrigado pelos elogios, amigo. É um disco feito a partir de inspiração e muito trabalho. O retorno tem sido incrível, tanto do público como da mídia. As vendas nos surpreenderam, as pessoas mandam mensagens e elogiam. As resenhas também têm sempre trazido algo que nem nós mesmos percebemos no trabalho antes. Uma coisa sempre acontece em nosso país, em relação às grandes bandas internacionais, quando se colocam entradas para os shows a venda e com essa facilidade toda que temos via in-


ternet, em pouco tempo já se esgotam e lotam grandes estádios e casas aqui no Brasil. Quando se trata de uma banda nacional, por um preço acessível a todos, a galera pouco valoriza. Porque isso acontece? Bem, se você observar grandes ícones do Heavy Metal, como Iron Maiden, KISS ou Black Sabbath, é certo de ter entradas esgotadas. Afinal, não é todo dia que você vê um show como esse. Acho que a galera dá mais valor realmente ao que está mais longe, o que é natural no comportamento humano. Por outro lado, eu observo que temos bandas aqui que não devem nada a qualquer banda gringa. As pessoas percebem isso aos poucos. Boas produções e divulgações contribuem para mudar isso. 35

Recentemente vocês estiveram no Chile apresentando o trabalho, como foi à recepção do público chileno? Acho que essa foi a uma das melhores experiências que vivemos até agora. Além de tocar para um público apaixonado pelo Metal, nós fomos muito bem recebidos por todos, e sim, existe muito headbanger no Chile, por todos os lados você vê alguém com camisa de banda. Fizemos três shows pelo país, para diferentes públicos, com diferentes estruturas, e a recepção foi animal em todos eles. De onde surgiu a ideia de batizar a banda como o nome HatefulMurder. É um nome bastante chamativo e instigante. A ideia do nome foi do Lameira (vocalista).


Quando estávamos começando a banda e pesquisando nomes, eu me lembro de comentar com ele que precisávamos de algo forte, de impacto. Exatamente como a proposta do nosso som. Existe um tema específico para as composições das letras ou gostam de abordar temas aleatórios. Não há uma regra pra isso, basicamente a gente fala sobre a realidade que vivemos nua e crua. Não abordamos nada sobre fantasia, lendas ou mitos. Falamos sobre a nossa realidade, nosso dia-a-dia, sobre o que vemos e vivemos, muitas vezes por uma perspectiva

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psicológica e até filosófica. Todos nós temos uma fonte de inspiração e, se tratando de música, a coisa é bem ampla. Quais são, ou qual é a banda que a Hatefulmurder se inspira? Eu considero o nosso som uma mistura de tudo que a gente ouve e ouviu. Procuramos adicionar elementos de outros gêneros dentro da nossa música. A gente busca trabalhar os arranjos de forma mais variada, e menos óbvia. Não temos uma banda que nos inspira, temos influência de vários elementos musicais dentro e fora do Metal. A gente faz, literalmente, o som que a gente quer ouvir.


Já existe alguma composição ou músicas já para o próximo trabalho? Sim! Já estamos trabalhando em músicas para o próximo trabalho. A ideia agora é dar continuidade a divulgação do ‘No Peace’ com turnês e novos materiais em cima dele. De qualquer jeito, não deixamos de trabalhar nas novas músicas, até mesmo porque a gente não resiste. Posso adiantar que temos três músicas bem encaminhadas pro próximo disco. Agradeço mais uma vez pelo papo e gostaria de desejar um ano de 2015 de

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agenda cheia e bastante compromissos. O espaço está aberto! Nós que agrademos o espaço, obrigado a todos que nos acompanham. Sem vocês, nada disso seria possível! Nos vemos em 2015! Stay Hateful! Hatefulmurder: Felipe Lameira – Vocal Renan Campos – Guitarra Felipe Modesto – Baixo Thomás Martin – Bateria hatefulmurder.com


Estraperlo Club del Ritme Barcelona / Badalona 18/12/2014 Texto e Fotos: Mauricio Melo 38


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uinta-feira, 18 de Dezembro, uma atípica noite de inverno na cidade Condal, Barcelona. O frio que há bem pouco golpeava com força, se cansou e deve ter ido incomodar outros países e cidades. Assim como o frio, quem deixou de comparecer no Estraperlo Club del Ritme em Badalona (Barcelona), perdeu uma grande noite de diversão e despedida. Sim! O nosso clube favorito, onde registramos imagens e palavras de grandes shows de hardcore, nos últimos seis anos, fechará suas portas. É claro que o fechamento não poderia acontecer antes da visita do Ratos de Porão, ausente por estes lados há mais de década. Enquanto esteve aberto, grandes bandas passaram pelo Estraperlo: Napalm Death, Sick of it All, Agnostic Front, Madball, Jello Biafra & The Guantanamo School of Medicine, Doom, Extreme Noise Terror, D.R.I. e muito mais. Foram inúmeras e todas estas grandes bandas levaram públicos impressionantes. Nossa dúvida era uma só: será que nossos “Ratones” atrairiam um bom público em pleno dia de semana ? Enquanto nossa dúvida pairava no ar, encontrei o Boka e o Juninho do lado de fora do local, passando desapercebido pela maioria das pessoas que, com certa antecedência, fazia fila no local, já era um bom sinal. Até que um cidadão mais atento, de um grupo de pessoas que vieram de Montpellier, sul da França (350 km), somente para assisti-los reconheceu o Boka. Em seguida muita gente cumprimentando nosso batera com apertos de mão e algumas palavras em português. Do lado de dentro o Himura derretia os ouvidos de um bom público com temas como

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“Cordura”, “Prohibidos”, “Progreso Homicida” e “Autopsia del Hombre”, um excelente grindcore proveniente de Zaragoza. Destaque para Edu que com seu baixo BC Rich fazia o local tremer. Vamos aos fatos: Ver a galera gritando “Ratos! Ratos!” enquanto Boka montava sua bateria, Jão e Juninho davam os últimos ajustes em seus instrumentos foi de dar orgulho. Lamento muito por aqueles que os consideram isso ou aquilo, por aqueles que comentam na web que banda brasileira sai do país para tocar na gringa e toca em cubículos ou lugares feios. Quem assim opina, não sabe porra nenhuma de uma palavra única chamada underground. O Ratos de Porão colocou o mesmo público no Estraperlo que muitas bandas lendárias que por lá tocaram e outras nem isso conseguiram, porém com um adicional, nem todas tiveram uma recepção tão forte. Além de estar fora do eixo EUA / Europa, no que se diz lançamentos, distribuição, marcas como Vans e Impericon bancando mini-festivais e agências que monopolizam tunês. Ver o Ratos de Porão ganhar o público exclusivamente por sua história e competência de quem muito batalhou, é um orgulho. Iniciaram o set com música a música nova, “Conflito Violento”. O público não se conteve, um integrante do Mosher Team já invadia o palco para o primeiro vôo da noite, Juninho com seu descascado e adesivado Rickenbacker chutava, saltava e berrava. João Gordo deixava claro que seu vocal esté mais em forma do que nunca e suas expressões faciais cada vez melhores nas interpretações das letras. Jello Biafra fez escola. Do lado oposto, Jão, que prestigiava a banda Oitão com uma camiseta, não deixava por menos e descia a palheta nas seis cordas. Na cozinha, 42


Boka dava conta do recado com a competência de sempre. Ainda em ritmo de abertura e apresentando novas pérolas de Século Sinistro tocaram “Viciado Digital”. Na sequência, “Ascensão e Queda” fez a alegria da galera. Isso foi apenas a introdução extrema do que estava por vir: “Vivendo Cada Dia Mais Sujo e Agressivo” entrou tão colado que só nos demos conta quando ouvimos o Gordo gritando o refrão, brutal. E não acabou por aí, “Crucificados Pelo Sistema” só “agravou” a situação e por um momento passou pela cabeça: “Porra, é a quinta música em mais ou menos 10 minutos.” imaginar o que estava por vir era impossível. Público debruçado no palco, braços abertos para gritar Crucificados pelo Sistemaaaa!. João sorria, dançava como o skunker do D.R.I. mas sem sair do chão, a noite já estava ganha. Talvez, quem vos escreve, tenha passado muito tempo sem assistir a uma apresentação do R.D.P., mais por falta de oportunidades do que por opção. Voltando ao passado e forçando a memória não é difícil de lembrar que “Anarkophofia”, por um tempo tinha ficado de lado, mas ao que parece recobrou forças e se tornou um clássico, rolou até uma mão de fogo por parte do público enquanto Jão soltava o solo da música em questão. Também fizeram parte da sequência “Vida Animal” e “Herança”, um setlist recheado de músicas do Brasil, mas perfeitamente equilibrado, abordando todas as fases do grupo. Até mesmo “Diet Paranoia” deu o ar de sua graça. Tudo isso somado a clássicos como “Crianças Sem Futuro”, “Aids Pop Repressão”, “Amazônia Nunca Mais”, “Morrer”, “Agressão / Repressão”, “Beber Até Morrer”, “Arranca Toco” e cover do Extreme Noise Terror. Ainda assim não especificamos todo 43


o setlist escolhido e tocado. Muita gente pediu “Mucha Polícia” um clássico nacional do Ekorbuto mas que o grupo apenas fez uma referência. Após o show oficial, ainda tivemos a oportunidade de ver Juninho, Jão e Boka numa jam bem jazzística. O público curtiu mas não arredava pé na esperança de que algo hardcore pudesse ser tocado. No entanto, posso confessar que já estava de bom tamanho. Volto a repetir, orgulho de ter presenciado este show no mesmo lugar em que outras bandas que tanto consideramos históricas também o fizeram. Os Ratos não devem nada a ninguém e por isso estão com o foda-se ligado desde 1981. Quebraram tudo!!!

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“Da ilusão à Por Leandro Fernandes (leandro@rockmeeting.net) 46


à realidade” 47


Banda que surgira em 2006, o Kattah pertence a cena curitibana no qual a mesma vem crescendo e revelando grandes bandas ao longo dos anos. Victor Brochard e Roni Sauaf nos concederam uma entrevista onde abordaram temas interessantes e falaram também sobre a proposta da banda e tudo aquilo que esperam de 2015. Confira aí! Obrigado pelo tempo cedido para essa entrevista. Gostaria que se apresentasse por gentileza. Victor Brochard: Olá! Em nome de todos da banda, eu é que agradeço pelo espaço e tempo cedidos pela revista. Eu sou o Victor Brochard, guitarrista e um dos compositores e fundadores do Kattah, e será um grande prazer conversar com vocês. O nome Kattah foi devido a uma inspiração árabe, como surgiu essa ideia? O nome foi criado pelo Roni e representa um personagem árabe que retrata a maneira de ser das pessoas, da ilusão à realidade. E é exatamente esta ideia que passamos para as letras da banda, apesar de nem sempre estar claro que aquilo se refere exatamente ao personagem, mas são sempre assuntos importantes e que estimulam o raciocínio. No Brasil o Heavy Metal a cada ano vem revelando excelentes bandas e óbvio que o Kattah está entre as grandes. Pra vocês o som feito no país se compara aos gringos ou já podemos nos considerar superiores a eles? Acho que seria um pouco exagerado dizermos que os superamos, pois há coisas muito boas em todos os lugares do mundo. Mas eu concordo totalmente que temos revelado grandes bandas e que muitas já estão à altura 48

Foto: Alisson Palaoro


das gringas, inclusive as qualidades do material mesmo tem se tornado cada vez melhor e mais profissional. Precisamos agora de mais qualidade na finalização de discos e de mais estúdios capacitados para que possamos confeccionar tudo aqui dentro do país sem precisar de apoio de fora para algumas etapas da criação de um álbum. Isso é uma tendência do futuro. Outro detalhe que acho importante é as bandas tentarem encontrar sua própria personalidade, que tem sido uma das grandes características das ótimas bandas emergentes brasileiras e algumas já consagradas tanto no mainstream quanto no underground. Como foi trabalhar com o grande Roy Z? Foi uma grande aula, pois a forma com que ele trata a música é bem diferente do que comumente vemos. A parte da inspiração, naturalidade e personalidade é algo que o Roy preza muito quando está trabalhando. Após essa produção nos sentimos músicos muito mais maduros e prontos para a estrada. Além disso, firmamos uma grande amizade e ele também nos passou dicas para o âmbito profissional da carreira da banda e nos ensinou muito sobre como utilizarmos equipamentos e sentir o som como se estivéssemos tocando em um palco para milhares de pessoas. Foi realmente um grande aprendizado, além do ótimo resultado final do álbum. Roni Sauaf: O Roy tem o foco sobre o objetivo do trabalho, da obra musical. “Palco grande” como diz ele, a autoestima, conhecimento e percepção que ele nos passa, nos estimula a atravessar fronteiras que nem imaginávamos. Roy Z se identifica e muito com as bandas brasileiras, creio que seja uma 49


grande satisfação pessoal ao trabalhar com nossos músicos. O que ele acha das produções brasileiras? Uma vez ele foi bem claro em relação a isso. Ele disse que o Brasil tem grandes bandas que ninguém conhece. Eu concordo com ele nessa parte, precisamos nos fortalecer para aparecermos como um grande fornecedor de metal para o mundo. Acredito já estarmos nesse caminho e o futuro pode ser ótimo para nós e nosso metal. Ele também já destacou em recentes entrevistas, alguns ótimos estúdios e produtores. Em Curitiba ele tem trabalhado muito com o Alan Artuso do estúdio Caverão que é engenheiro de mixagem e elogiou o estúdio de gravação Click Audioworks, onde gravamos o “Lapis Lazuli”, também em Curitiba Em 2011 vocês excursionaram com o Angra pela Europa, como foi a recepção do público em ver duas bandas brasileiras levando nosso Metal até eles? Foi extremamente positiva. Eles, claramente, gostam muito do metal brasileiro, tanto que vendemos todos os CDs que levamos e conquistamos muitos fãs por lá. Um dos pontos interessantes é que foi a primeira vez que o Angra levou uma banda brasileira para uma turnê europeia com eles, e ficaram impressionados com a receptividade do público com o Kattah. Além da ótima receptividade pudemos conhecer diversos lugares e culturas diferentes, além de concluir que a pizza da Itália é pior que a brasileira (risos). Também fizemos amizade com os donos dos fã-clubes do Angra na Itália e França, que acabaram se tornando fãs da banda também. A parte engraçada em relação ao presidente do fã-clube da França foi que ele não sabia falar inglês, então a co50

Foto: Alisson Palaoro


municação ficou engraçada e difícil, mas conseguimos firmar uma boa amizade, mesmo assim. Acabamos nos aproximando também dos integrantes do Angra e experimentamos ótimas cervejas belgas nos camarins, foi uma viagem incrível. Existe já alguma proposta para retorno a Europa? Estamos estudando possibilidades e realmente pretendemos voltar à Europa o mais breve possível para a turnê do “Lapis Lazuli”. No entanto, começaremos a turnê pelo Brasil em 2015. Em breve devemos revelar as datas. Vocês estão promovendo o recente trabalho “Lapis Lazuli”, como está sendo a aceitação do disco e porque o mesmo foi batizado por esse nome? Está sendo ótima! Este álbum é muito importante para nós. É como uma grande obra-prima! Realmente estamos muito felizes com a ótima aceitação que ele vem tendo tanto do público quanto da crítica. O nome é baseado em uma pedra árabe que era considerada a pedra dos deuses no Egito e tem uma belíssima cor de um azul extremamente profundo, que retrata perfeitamente o conceito do álbum sobre todos os mistérios que são desconhecidos pelos seres humanos e nosso grande desejo em desvendá-los. Percebemos que a cena Paranaense evolui a cada dia revelando grandes bandas. O Kattah mostra muita maturidade e competência no que fazem, o público local valoriza sempre aquilo que “vem de casa”? Antigamente, parecia que não. Mas nos dias de hoje o público daqui tem valorizado muito as bandas locais, inclusive o Kattah. Em um 51


show que fizemos, em novembro, pudemos concluir isso. As pessoas estavam muito animadas com o nosso show, conheciam grande parte das músicas e, as que não conheciam, estavam extremamente empolgadas. Foi uma grande satisfação para nós ver o público de nossa cidade daquela forma Sabemos do talento de Roni Sauaf que possui uma voz realmente firme e potente. Recentemente fora lançado um trabalho solo que é de muito bom agrado. Como está sendo a reação dos fãs? Roni Sauaf: Está sendo muito bem recebido pelo público, destaque para a rádio catarinense Rock Mania que vem colocando no playlist toda semana a pedido de fãs e cast da rádio. Tenho gostando bastante do feedback

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do single lançado digitalmente. Victor Brochard: O Roni juntou toda sua experiência e maturidade dos anos e a adquirida no álbum, e fez um grande trabalho produzindo seu projeto solo em parceria com o Alan Artuso, no estúdio Caverão. É possível sentir um pouco do Kattah na música pelo fato do Roni também ser compositor da banda e claro, pelos vocais, mas é um som distinto e bem pessoal dele. Pretende seguir com essa maneira paralela de trabalhar assim como alguns vocalistas e instrumentistas, ou foi apenas uma experiência? Roni Sauaf: Por agora, foi sim uma experiência. Penso em mais pra frente lançar um álbum solo, mas por enquanto na “Cloud of


London” usei um pouco da composição e da produção musical que aprendi ao longo destes anos com grandes produtores que trabalhei. Estamos na porta de 2015, a banda já fez algum balanço sobre o ano de 2014 e o que espera com 2015? 2014 foi um ano muito importante para nós onde assinamos novos contratos, firmamos novas parcerias, lançamos o disco “Lapis Lazuli”, recebemos os primeiros feedbacks do público e crítica especializada, e começamos os primeiros shows da turnê do “Lapis Lazuli”. Em breve estaremos também gravando o videoclipe da música “Vetus Espiritus”. Por isso 2014 foi um ano um pouco mais de bastidores, que prepara 2015 para ser um ano

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de mais atividade com muitos shows, turnês, lançamento de clipe e muitas surpresas e conquistas. Desejando já enorme sucesso para o ano que se aproxima, esse espaço é livre para dizerem o que quiserem. Gostaria de, em nome de todos da banda, agradecer a revista Rock Meeting pela ótima entrevista e gostaria de convidar a todos para conhecerem nosso novo disco “Lapis Lazuli” e quando tiverem a oportunidade, prestigiar a banda em shows ao vivo, que é o local em que mais nos sentimos à vontade e onde é possível conhecer a banda em sua totalidade. Grande Abraço!


“Necessidade de resgatar o passado”

E

ra uma vez três amigos que tinham desejos parecidos, tinham anseios e vontade únicas. Certo dia resolveram se reunir e decidiram contar uma história. A história vai mexer com o imaginário afetivo das pessoas e instigar aqueles que não vivenciaram o que vai ser escrito. Informar as pessoas sobre o seu passado é criar laços com o presente para colher bons frutos no futuro.“Tá no Sangue” é bem isso. Para sabermos sobre o livro, conversamos com um dos idealizadores do livro, Maicon Leite. Junto com ele estão Douglas Torraca e o Luis Augusto Aguiar. Leite foi sincero, direto e sem rodeios. Fala sobre o livro e suas perspectivas, além de suas experiências no meio da música. Acompanhe! Só têm verdades! Opa Maicon, tudo joia?! Gostaria que se apresentasse para nossos leitores. 54

Por Pei Fon (@poifang |

peifang@rockmeeting.net)

Olá, Pei! Bom, talvez alguns leitores já me conheçam aqui da própria Rock Meeting, ou de outras publicações que colaboro, mas para resumir um pouco, lá vai: tenho 32 anos, ouço Rock/Metal desde os 7, ou seja, sou totalmente precoce neste mundo de riffs e berros enlouquecidos. Minha iniciação foi com Napalm Death lá por 1989 e meu início neste meio foi com o fanzine Monsters of Rock, no qual era datilografado e xerocado. Tive a sorte de pegar a época das trocas de correspondências. Gosto de lembrar a primeira vez que entrevistei o Krisiun, e foi por carta, com o Max respondendo as perguntas atrás de flyers de shows... Surreal. Isso foi mais ou menos em 1997/1998, e em 2001 entrei para a Roadie Crew, no qual permaneço até hoje. De lá pra cá, participo/participei de várias outras revistas, zines e sites, como Metal Warriors, Lucifer Rising, Hell Divine, Slammin, Metal Attack, etc. Além disso, possuo uma assessoria de imprensa, dentre outros projetos.


Maicon Leite junto com o Krisiun

Como um conhecedor da música e o que tange esse mundo, o que você pode elencar o que foi de bom e de ruim que já viu na cena Rock/Metal no Brasil? Existem muitas coisas boas e muitas coisas ruins, claro. Acho que atualmente a pior coisa que temos presenciado é o fato de alguns produtores, ou, supostos produtores, terem feito muita merda, desrespeitando o público, que é um fiel consumidor. Quando você compra um carro, você quer que ele venha com os bancos e rodas, correto? Então, para bom entendedor, meia palavra basta. O que tenho visto também, e não sei se você concorda comigo, é um radicalismo infantil, dentro de alguns gêneros em específico. O lado bom? É ver gente tentando fazer as coisas acontecerem de maneira correta, correndo atrás e não medindo esforços para o fortalecimento do Heavy Metal, fora os excelentes shows e lançamentos que estão acontecendo.

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Como um dos autores do livro “Tá no Sangue – A História do Rock Pesado Gaúcho – anos 70 e 80”, em que momento você viu essa necessidade de contar esta história? Bom, vou falar por mim, mas creio que o Luís também tenha a mesma visão. Surgiu da intensa necessidade de resgatar o passado construído por estes pioneiros, pois até o momento não havia nada que colocasse estes feitos para o público em geral. É uma história de luta e dedicação, que resultou em grandes álbuns, shows memoráveis e uma parte da estrada pavimentada e que agora nós trilhamos. Tem sido legal ouvir destes caras uma aprovação pelo resultado final do livro! Muitos ficaram emocionados já que, até então, ninguém tinha “lembrado” deles, o que é inconcebível. Esta publicação se inspirou em alguma


outra como o “PEsado – Origem e consolidação do Metal em Pernambuco”, por exemplo? Não. Nosso projeto teve início em 2009, basicamente na mesma época que o Wilfred deu o pontapé inicial no livro dele, só que nem fazíamos ideia que ele também estava com a mesma ideia, só que, é claro, contando a história do Metal em Pernambuco. O lançamento do “PEsado” ocorreu alguns meses antes de lançarmos o “Tá no Sangue!”, e nossa abordagem é um pouco diferente, até mesmo o formato. Aliás, indico o “PEsado” para todos os apreciadores de uma boa leitura e que curtam saber um pouco mais como foi a criação da “cena” de outros lugares. É um ótimo trabalho, no qual considero coirmão com o nosso. No entanto, houve uma pequena inspiração em relação ao livro “Gauleses Irredutíveis”, que conta a história do Rock gaúcho, mas de uma maneira meio superficial, sem abordar os estilos mais pesados. Nós procuramos ir a fundo ao que se diz respeito ao Rock pesado, indo do Rock Progressivo ao Death Metal, passando pelo Hard Rock e Punk Rock, sem distinções. Viajamos até a década de 50, quando as bandas de baile surgiram, passando pela influência de Beatles e Rolling Stones, até chegar à “semente do peso”, na década de 1970. Mas foi na década de 1980 é que o Heavy Metal em geral começou a infectar os jovens, surgindo assim as primeiras bandas de som realmente pesado, o que na verdade aconteceu com força em todo o mundo, principalmente após o Rock in Rio. No que se diz respeito às influências de outras publicações, creio que “Heavy Metal”, de Ian Christe, seja recorrente ao que buscamos em geral, especialmente no formato. Vocês mesmo tem ido a feiras de li56

Foto: Ricardo Almeida

Luis Augusto Aguiar, Marco (Spartacus), Ivan (Astaroth) ,Douglas Torraca, Maicon Leite, Marcos (Virgem Atômica) – Sessão de Autógrafos da Feira do Livro de Porto Alegre

vros e tendo essa aproximação com o público. O que você pode falar sobre o feedback dos leitores? Creio que participar da Feira do Livro de Porto Alegre, por exemplo, tenha sido o ponto máximo de nossa trajetória. Foram duas semanas intensas, onde pudemos bater um papo com leitores de várias regiões do Brasil, o que nos deu maior visibilidade. Uma coisa curiosa em relação à sessão de autógrafos, que tivemos o privilégio de conceder, se refere à produção, que naquela tarde nos negou utilizarmos umas mesinhas que estavam mais no canto, porque não éramos “grandes escritores” ou “famosos”. Ok, entendi perfeitamente a recusa, afinal, havia grandes escritores, premiados, fazendo suas sessões de autógrafos no mesmo horário que o nosso. Quando estava chegando perto do nosso horário, que era às 20h, começou a chover, daí pensei: “fo-


deu, não vai vir ninguém!”. Grande engano. Em certo momento o fotógrafo pediu para eu olhar a fila, que estava bem grande. Foram quase 1h e meia de assinaturas (o normal é 50 min), sucesso total, enquanto aqueles “escritores famosos” estavam meio que às moscas. No final, o pessoal da produção veio elogiar nosso lançamento, certamente arrependidos do que disseram horas antes. O que eu quero expressar aqui é o fato de que o Heavy Metal geralmente é subjugado ao “segundo lugar”, mas há exceções, como é o caso de grandes jornais aqui da região nos cedendo um grande espaço em suas publicações físicas e online, divulgando o livro. Então, resumindo: participar de uma Feira do Livro tão importante (é a maior da América Latina) nos deu a chance de estar cara a cara com o leitor, e o respaldo tem sido maravilhoso, inclusive em outras sessões especiais de lançamento que 57

fizemos em cidades da região e festivais. Até agora, só elogios! Esta foi só uma primeira edição de três. Conta para nós o que vem a seguir. Há datas para o lançamento? A ideia inicial seria lançar apenas um livro, ou seja, não tínhamos ideia de que precisaríamos de, pelo menos, mais dois volumes para completar a saga. Mesmo conhecendo a fundo o Metal gaúcho, não passava pela nossa cabeça que o projeto fosse crescer tanto. O formato inicial era outro, mas, fomos obrigados a criar uma trilogia. Já temos bastante material pronto para as duas próximas edições, mas, agora, em janeiro, iremos verificar o que falta e correr atrás de mais material e entrevistas. Nossa ideia é sempre lançar na Feira do Livro de Porto Alegre, que ocorre no mês de novembro. Então, teremos muito tra-


Foto: Aline Jechow

Marcelo (ex-Panic), Flávio (Leviaethan), Ratão (Leviaethan), Jacques (Rosa Tattooada), Hugo (ex-Distraught) Sessão de Autógrafos da Feira do Livro de Porto Alegre

balho até lá. Desta vez contando toda a história no que se refere aos acontecimentos da década de 1990. E garanto, não é pouca coisa. Nesta década, em especial, é que as coisas começaram a ficar mais extremas. Este livro está mexendo com o imaginário dos que vivenciaram o período descrito no livro e com os mais novos. É este mesmo objetivo da publicação, tocar na memória dos fãs do Rock/Metal gaúcho? O objetivo é resgatar tudo o que foi realizado desde os primórdios até 1989, ano limite que nos impusemos nesta primeira edição. O livro funciona como um “pagamento de dívida” com o pessoal que criou o som pesado fei58

to aqui nos pampas. Se não fossem eles, talvez eu nem estivesse aqui, respondendo esta entrevista. Ao mesmo tempo em que buscamos este resgate e valorização, queremos que o público aprenda como era difícil naquela época, e se acham alguma coisa difícil agora, sinto muito, era bem pior! Porém, se formos analisar por outro ângulo, havia mais respeito, admiração e apoio, pois era tudo tão difícil que cada fita K7 ou vinil adquirido era motivo de alegria e conquista para muitos.Shows? Bons equipamentos? Era tudo feito na raça! Obviamente não havia internet, e isso fazia com que a molecada comparecesse nos shows em peso. Esperamos que ao ler o livro, a galera mais nova sinta-se pilhada em tocar, bem como a ir a shows, e pelo que temos


barco. Uma banda lança um CD, e quer que as pessoas ouçam, e quer que elas compareçam aos shows. Para isso, elas precisam divulgar o material, com entrevistas (zines, revistas, sites, blogs, etc), resenhas, etc. Todos fazem parte disso por mais que fujam desta responsabilidade. Quero que impacte no crescimento do Metal em geral, de uma forma ou de outra. Não sei como isso seria possível mas acho que se cada um fizer sua parte tudo andará perfeitamente. Não importa que tipo de som sua banda faça, se é Black ou Melódico, estamos todos nessa, lutando nesse lamaçal. Portanto, do que adianta brigarmos entre si, enquanto quem está de fora apenas ri de nossa cara? Modas estão aí, são passageiras, mas o Metal, por mais clichê que seja, é imortal. Então, larguem mão de infantilidades dentro da própria “cena” (esta palavra tem um conceito totalmente diferente para cada um) e vamos batalhar para que tudo dê certo, para todos. Respeito entre si, sempre, já que fora dessa “bolha” não somos respeitados. acompanhado nestes cinco anos do projeto, muitas bandas antigas, da década de 80 e 90, voltaram às atividades, muitas delas claramente influenciadas pelo “Tá no Sangue!”. O que para nós é de uma alegria imensa. Que se construa uma nova história, não é mesmo? Qual é o impacto que você, como autor do livro, quer gerar com o “Tá no Sangue”? Que as pessoas busquem se informar, não somente do que se passou no Rio Grande do Sul, mas tudo o que se passou no Brasil e em outros países. Acredito que quanto mais informações a pessoa tem, mais ela entenderá os problemas atuais e buscará algo para transformar isso. Afinal, estamos todos no mesmo 59

Por fim, o livro está chegando onde imaginavam? Sucesso ainda mais e já aguardamos pelos próximos números. Muito obrigado pelo espaço cedido, em nome de toda a equipe! É sempre bom expor um pouco nossas ideias, mesmo que nem todos concordem com elas. Sucesso à Rock Meeting e aos seus projetos! Quem quiser saber um pouco mais sobre o livro basta acessar AQUI, bem como ouvir no Soundcloud algumas bandas que estão presentes nesta primeira edição. E, também estamos ansiosos pelos próximos capítulos (risos). Estamos felizes por chegarmos até onde imaginávamos, e talvez até ter ultrapassado nossas expectativas. Contamos com o apoio de todos.


Apresente-se! Meu nome é Vitor Rodrigues, comecei a curtir Metal quando vi a estreia do clipe da música Aces High, do Iron Maiden, na TV, e de lá pra cá são mais de 30 anos à serviço desse estilo de música do qual amo muito. Comecei minha carreira musical com uma banda chamada RTH, que teve várias formações, mas nada gravado. Após isso, entrei no Torture Squad e permaneci por 19 anos chegando a gravar 6 álbuns de estúdio e um ao vivo, e inúmeras turnês pelo Brasil e pelo mundo. Agora estou à frente do Voodoopriest lançando nosso primeiro disco, Mandu. Quem era você no começo da carreira e quem é você hoje? Eu era apenas um patinador no supermercado Carrefou com muitos sonhos na cabeça. Hoje, estou mais centrado devido às experiências de vida e continuo com os mesmos sonhos. No entanto, a vontade de realizá-los está mais forte do que nunca. Já realizou todos os seus sonhos ou ainda falta algum? Ainda não realizei todos os sonhos, mas com a idade vem também a perseverança. Saber esperar o momento certo e dá tempo ao tempo para fazer a parte dele. Por isso não tenho medo em afirmar que o momento virá e vai ser muito especial. 60

Do que você tem medo? À medida que você vai vivendo e aprendendo, os medos se tornam parte da vida e, quanto mais você os aceita, menos poder eles terão sobre a sua pessoa. Não tenho medos duradouros. Talvez alguns de momento, mas são passageiros. É apenas a vida tentando lhe dizer que temos o poder de enfrentá-lo. O que costuma fazer quando não está em turnê? Dormir por mais tempo? Costumo ler, mas ouvir música está em primeiro lugar. Ouço de tudo, excetuando-se coisas que não irão me alimentar tanto mental como espiritualmente. Bem, vocês já sabem que tipo de “música” estou falando (risos). Quando era criança o que você dizia que iria ser? Não tive encucações com o esse tipo de coisa. Mas algo me dizia que seria pra arte, e um exemplo disso era a facilidade com o que eu desenhava personagens da Hanna-Barbera e heróis da Marvel Comics e DC. Certa vez, ganhei um álbum de figurinhas e meu passatempo era ampliar aqueles desenhos, e dessa forma pude perceber a facilidade que tinha


Foto: Amanda Louzada

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de desenhar à mão livre. O que você faria se não fosse músico? Com toda a certeza seria um chef de cozinha e em segundo lugar algo relacionado à fotografia. Qual foi a sua maior realização pessoal? Foram diversas. Ganhar o Wacken Open Air de 2007 me deu uma sensação indescritível, mas cantar Roots Bloody Roots com Max Cavalera no palco, até o momento, foi o ápice da minha carreira. Conhecer o cara que me inspirou a ser vocalista de metal, poder dividir os vocais com ele e ver toda uma plateia pular de felicidade na hora da música, são recordações que levarei até o fim dos meus dias. Qual foi o seu pior momento? Não sou muito de falar sobre isso mas, com certeza, foi a perda da minha mãe. O que te motiva? O público que chamo carinhosamente de “headbangers”! Houve algum momento na sua carreira que você pensou em desistir? Desistir, com certeza não! Mas dar um tempo, sim. Foi uma época turbulenta, com a cabeça na lua, e naquele momento queria apenas ficar um certo período incomunicável. Mas o carinho que tive de todos os amigos e amigas – meus queridos headbangers – me motivou, e muito, a continuar e seguir em frente. Eles me mostraram a real dimensão da pessoa que sou e não sou nada sem o apoio de todos eles. Qual são as 5 bandas que você mais gosta? Cite um álbum e fale deles. 62

Iron Maiden – Foi a primeira banda de Heavy Metal que vi e ouvi. Quando assisti à estreia do clipe Aces High na TV senti dentro de mim que era aquilo que eu queria fazer, não sabia como, mas a minha vida já estava traçada. Disco preferido: Somewhere In Time Sepultura– Minha irmã e eu colecionávamos a revista Bizz, e certa vez li uma matéria sobre o impacto e a destruição que o Sepultura estava fazendo na Europa. Quando vi o vídeo da Inner Self fiquei louco e fui no outro dia comprar o disco Beneath The Remains. A partir daquele momento decidi ser vocalista de banda de thrash e Max Cavalera foi o primeiro cara que comecei a imitar. Disco preferido: Arise King Diamond – MMeu primeiro disco foi o The Eye comprado na famosa loja Woodstock Discos. Lembro que foi uma surpresa incrível e, no outro dia, lá estava eu com dinheiro pra comprar mais um do King Diamond, Abigail. O que mais me fascinava – e me fascina até hoje – era a capacidade dele mudar suas vocalizações, e o poder dramático de suas performances, e da parte lírica. Ou seja, ele continua sendo uma fonte de estudo e inspiração pra mim. Hail to the King! Disco Preferido: Abigail Judas Priest – O maior baluarte do Heavy Metal puro. A banda de certa forma já fazia parte da minha vida, mas com o show deles no Rock In Rio 2 é que a coisa ficou séria. Painkiller para mim é uma das maiores obras-primas do metal tradicional com um glossário de riffs, bateria potente e a voz cortante de Rob Halford detonando tudo. Sem mais. Disco preferido: Painkiller, mas na próxima semana pode ser o Defenders Of The Faith, e na outra pode ser o Point Of Entry... e por aí vai. (risos) Running Wild – Poderia citar outras ban-


Foto: Leandro Cherutti

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das aqui – Testament, Coroner, Malevolent Creation, entre outras – mas citarei o RW porque é a banda que mais ouço na vida. Gosto muito, e quando gosta não tem muito o que se explicar. A gente gosta e pronto! (risos). Disco preferido: Black Hand Inn Tomar decisões não é fácil. O que essa decisão de sair do Torture Squad mudou na sua vida? Antes e depois. Decisões são escolhas, e esse é o maior poder que o ser humano tem. Apenas fiz uma escolha. Fico feliz em saber que o Torture continua firme e forte e agradeço pelos momentos maravilhosos que tive ao lado dos caras, mas agora, focado no Voodoopriest, estou vendo como as coisas realmente funcionam, e isso só está me fazendo aprender coisas novas a cada dia. Mudar é bom. 64

Suas raízes são do Norte e Nordeste. Quais lembranças que você tem diante do que seus pais lhe contavam sobre os lugares que nasceram? Fico feliz em ter pais talentosos e amantes das artes. Meu pai, por exemplo, sempre trazia toda semana um vinil debaixo do braço que ouvíamos todos os domingos. Minha mãe era uma cantora de samba sensacional, pena que a única plateia que ela teve em vida foram nós, os filhos. Meu pai contava muitas histórias do encontro dele com os índios do Norte do Brasil e das aventuras dele ao redor do mundo. Ele foi marinheiro e sempre estava viajando em navios estrangeiros. Já minha mãe, nordestina de Vitória da Conquista na Bahia, me contava histórias das batalhas entre as tribos antes mesmos dos conquistadores pisarem naquele fim de mundo. Histó-


declaração de cunho separatista e xenofóbico, apesar de que as pessoas têm o direito de expressar suas opiniões, desde que sejam embasadas. Enfim, músico é pra fazer música e pronto. Ideologia nenhuma deve se sobrepor à arte. Essa influência indígena, que está bem presente no seu último trabalho, o que ela representa para você? Representa a minha descendência. Representa a memória dos menos favorecidos, dos verdadeiros donos da terra que hoje são tratados com desdém e seus direitos inexistem. Representa um trabalho árduo mas feito com muito amor e carinho, e que culminou numa humilde porém justa homenagem a um dos heróis brasileiros que sequer é citado nos livros de História. Mandu Ladino morreu mas seu legado vive, e fico extremamente satisfeito com o resultado desse disco. rias de bravura, violência, misticismo e fé. Ela também viajou muito, mas somente no Brasil. Como você enxergou as manifestações dos músicos sobre o resultado eleitoral? Sendo muitas delas com cunho separatista e xenofóbico? Discutir política, religião e futebol é muito complicado. Procuro sempre evitar porque são opiniões tentando se impor e se você não tiver em um estado de espírito preparado, vai reagir violentamente. Infelizmente, algumas pessoas foram levadas pelo calor do momento, e das manifestações panfletárias culminando em declarações sem sentido, e hoje que estamos numa época onde a internet nos torna mais próximos, o impacto foi devastador. Claro que não concordo com nenhuma 65

Todo mundo tem uma mania, qual a sua? (Risos) A minha única mania é dormir de meia até mesmo no calor. Não me pergunte o porquê, mas isso vem desde que eu era pivete. Deixa aqui uma mensagem para nossos leitores. Muito obrigada! A todos os meus amigos e amigas da Rock Meeting desejo tudo de bom em suas vidas, e quero agradecer de coração todo o apoio que vocês têm me dado em todos esses anos. Digo e repito, não sou nada sem o apoio de todos vocês. E quero agradecer também a você Pei Fon e à equipe da Rock Meeting. Muito saúde a todos, e que 2015 venha repleto de sucesso e de muitas realizações. Awerê!


DECORIAH – WISDOM FLOATS Guga Burkhardt - Acclamatur zine

Costumo dizer que música boa é aquela que arrepia, aquela que arrasta algo dentro de mim, como um xamã arrancando espíritos. O Doom Metal tem esse poder, essa sensação de crescente no transcorrer da música que geralmente vai se elevando, terminando num final quase apoteótico. Lá pelo final dos anos 90, viajei para João Pessoa e visitando a loja de um grande amigo, a Óliver Discos, passamos uma tarde inteira, ouvindo de tudo, até que ele lembrou de uma banda e colocou para tocar, o finlandês Decoriah. O transporte espiritual para outras paragens foi imediato diante da melancolia quase progressiva desse disco. Vocais limpos, às vezes até meio gregorianos, e uma guitarra solo nos moldes do mestre Gilmor, guitarras lindas, chorosas como um pedido de salvação de uma alma perdida. Viajei? Claro que viajei, é impossível ficar com o pé no chão com a quantidade de imagens, de paisagens etéricas, céus, infernos, acenos de adeus, tudo o que uma música rica e emocional consegue fazer, transformando o som em imagens totalmente concretas. Comprei o Windom Floats, e ainda levei o segundo da banda e com um sorriso de quem conhece intimamente um amigo. Óliver me disse no fim de uma longa tarde de buscas, “sabia que era uma coisa assim que você estava procurando”. Hoje quando quero desenhar, pintar ou simplesmente escrever termino buscando no Wisdom Floats a fonte para despertar aquela inspiração escondida na alma. 66


BJARM – Imminence – 2014 Marcos Garcia – Metal Samsara

Bem, descobrir bandas novas é sempre um prazer, ainda mais quando se tem acesso ao material. Graças às contribuições do Big Daddy aqui, tive a oportunidade de conhecer uma das maiores revelações do ano de 2014, o sexteto russo Bjarm, que debutou em CD este ano com “Imminence”, um disco realmente fascinante. identificação com a banda foi imediata, já que umas das maiores paixões deste autor no Black Metal é justamente a sonoridade mais melodiosa e sinfônica entre 1995 e 1999, quando trabalhos como Enthone Darkness Triumphant (do Dimmu Borgir), Nexus Polaris (Covenant), Dusk and Her Embrace (do Cradle of Filth) e Sacro Culto (do Opera IX) surgiram. Sempre fui um entusiasta do uso de teclados, bem como de estruturas harmônicas mais sofisticadas dentro do do Metal extremo como um todo. Ao me deparar com a banda (sendo que a tecladista é uma garota, que ainda participa com vários vocais), fui seduzido. Soturno, pesado, trabalhado sonoramente sem ser enfadonho, com ótimas guitarras, base rítmica muito bem trabalhada (mas com peso), teclados muito bem encaixados 67

e que fogem um pouco à ostentação orquestral e instrumental que se faz modelo após o Puritanical Misanthropic Euphoria, além de vocais que usam e abusam de urros semi-guturais (que fogem do escopo usado no Black Metal), bem como timbres mais rasgados e outros femininos, podemos dizer que os russos acertam a mão por buscarem não ser sinfônicos demais, apenas Black Metal melódico sóbrio. Não há como não se apaixonar, mesmo porque o sexteto busca não ser convencional em nada. Nem mesmo no visual, que não tem nada de maquiagem e spikes. O visual é sóbrio, lembrando mais bandas de Metal sinfônico. Ao ouvir músicas como Knowledge of Doom, a trabalhada The Nine Worlds, a tenebrosa Oracle, Secrets of the Immortals, e Tree to the Bones é certeza plena de que a banda tem um futuro brilhante, bastando a chance e a atenção merecidas. Não sai de meu MP3 player há tempos, e indico demais para quem gostar de achar bandas novatas e que tenham potencial. Acesse: Bjarm


Krisiun – Black Force Domain

Maicon Leite (Wargods press | Roadie Crew)

Vá em um show do Krisiun e repare na estampa que mais se destaca dentre as camisetas da banda. Você notou que é a do disco “Black Force Domain”? Pois é, já se passaram duas décadas de seu lançamento e a cada show a multidão brada “Black Force Domain” com os punhos erguidos, tornando-se um hino obrigatório a ser executado em todos os shows. Dentre seus nove “full length”, “Black Force Domain”, além de ser um divisor de águas para a carreira da banda, tornou-se também um item importante para o fortalecimento do Death Metal na década de 90. Sobretudo, pela queda de qualidade em muitas bandas clássicas. O petardo serviu também para influenciar muitas bandas pelo Brasil, forjando assim uma nova identidade ao Metal brasileiro, algo que apenas Sepultura, Mystifier e Sarcófago haviam conseguido. Com as primeiras viagens da banda para o exterior, acabaram que conquistando não apenas o público aficionado em Death Metal, mas também as bandas que dividiam o palco, algo realmente surpreendente, criando uma base de seguidores muito forte. Meu contato com este disco, inicialmente, foi através de uma fita K7, trocada via correspondência com algum contato do Brasil, e logicamente, através de entrevistas nas revistas Rock Brigade, Metalhead, etc. Até então, executando-se Cannibal Corpse, Napalm Death ou Deicide 68

(por exemplo), eu não havia ouvido algo tão extremo. A sonoridade brutal, realmente brutal, e agressiva atingiu em cheio meus tímpanos, e eu ficava pensando: “como pode existir uma banda desta surgida aqui no Rio Grande do Sul??”. A própria faixa-título abre os trabalhos, numa velocidade estonteante, culminando com seu refrão clássico, seguida de “Messiah of the Double Cross”, que inclusive poderia voltar a fazer parte do set list, ou, pelo menos em comemoração aos 20 anos do disco. Interessante notar também a instrumental “Infamous Glory”, que deu origem ao nome da banda paulistana. Moyses Kolesne já mostrava suas habilidades com grande competência nos pouco mais de 2 minutos de duração da faixa. Em “Evil Mastermind” é Max que dá uma amostra de sua técnica. Uma verdadeira aula de Death Metal, sem exageros. Seu lançamento oficial, ocorrido em agosto de 1995, pela gravadora Dynamo, do Eric de Haas, e seu posterior sucesso no underground, levaram a gravadora alemã Gun Records relançar o material em 1997, dando ao Krisiun o suporte necessário para maiores investidas em território europeu, crescendo cada vez mais, o que não é segredo para ninguém que os acompanha. Que venha 2015, um novo disco e, pelo menos, um show de comemoração deste lançamento, não é mesmo?




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