Revista Rock Meeting #42

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Editorial

Bilhar e o papa B em, o mundo não acabou. Embora inúmeras profecias tenham surgido nos últimos anos, estamos aqui para provar que elas todas estavam erradas. Mas há pessoas que acreditam que esse é só o começo do fim. O que é verdade é que um novo ciclo parece ter começado. Descobrimos, enfim, que, ao contrário do filme hollywoodiano “Armaggedon” – é aquele da música do Aerosmith, sim –, não temos a menor ideia quando um meteoro surgirá em nossa órbita amigável. Trinta minutos, esse foi o prazo dado pelos especialistas para detectar uma catástrofe. O meteorito que caiu no chão gelado da Rússia há pouco é um exemplo de como estamos perdidos em nosso “mundinho”. Mundo este que cada vez mais está a ruir e se reconstruir. Deus, como disse Albert Einstein, joga dados com o universo. Ou bi-

lhar. Ou roleta. Russa. Quem perdeu as apostas e todas as fichas nesse cassino numa casca de noz foi a Igreja Católica com a saída do papa Bento 16. Os fiéis não notam, contudo, a instituição vive uma das maiores crises de sua história. Como alguém que representa o próprio Cristo na Terra diz que está sem gana? Se Deus dá forças (ou não mais), os devotos se apoiarão em quê? É desse terreno fértil que os músicos de Rock N’ Roll regam todas as suas perguntas – mesmo que as respostas não criem sequer raízes. Mas creio que esses dois temas devam estar em algum álbum, de alguma banda, de algum lugar do planeta, logo, logo. Lembrando, claro, que agora só existem 30 míseros minutos para se rezar pela nossa não extinção e a do próprio Rock. Só assim ele pode morrer um dia.


Table of Contents 06 - Coluna - Doomal 09 - News - World Metal 14 - Matéria - Thrash Revival 18 - Matéria - Sleeze Beez 23 - Capa - Sonata Arctica 31 - Matéria - O museu Rock N Roll 35 - Entrevista - Kiko Loureiro 44 - Série - Promoters 47 - Matéria - NWOBrazilianHM 51 - Coluna - O que estou ouvindo?


Direção Geral

Pei Fon

Revisão

Breno Airan Katherine Coutinho Rafael Paolilo

Capa

Alcides Burn

Diagramação Pei Fon Conteúdo Breno Airan Daniel Lima João Marcelo Cruz Jonas Sutareli Lucas Marques Colaboradores Igor Miranda Mauricio Melo (Espanha) Vicente de A. Maranhão Wesley Varjão CONTATO Email: contato@rockmeeting.net Facebook: Revista Rock Meeting Twitter: @rockmeeting Veja os nossos outros links: www.meadiciona.com/rockmeeting



Por Vicente de A. Maranhão (Sunset Metal Press)

Retrospectiva Doomal Conclusões e perspectivas Continuamos com essa narrativa épica a referendar os principais lançamentos de 2012, tentando traçar um panorama do que se tem feito na cena mundial em termos de musicalidade dentro do gênero. Ao concluirmos a construção desse funesto retrato, abriremos as apostas dos primeiros esboços do que esperar para o ano de 2013. Respirem fundo e adentrem novamente nesse obscuro universo. Lethian Dreams - Season of Raven Words (Orcynia Records): os franceses aparecem com uma sonoridade diferencial neste segundo Full-length. Um som extremamente atmosfé-

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rico, onde os vocais de Carline Van Roos entram em plena consonância com as melodias. Uma banda que fugiu de determinismos e rótulos se pautando apenas na originalidade e dedicação para a construção desse belo registro. My Dying Bride – A Map of All Our Failures (Peaceville Records): o lançamento foi uma grata surpresa para os fãs da banda, um disco cheio de momentos cativantes e músicas que oscilam entre melodias suaves e momentos de bruta-


lidade intensa. Aaron canta como nos bons e velhos tempos, sentindo a dor de cada personagem. Parece que a noiva moribunda foi ressuscitada e pode nos dar um bom exemplo de uma arte real. Paradise Lost – Tragic Idol (Century Media Records). O 13° álbum da banda reconecta o Paradise Lost às suas raízes doom e góticas, contendo um grande trabalho de composição através de arranjos refinados, com o uso constante de melodias, consegue criar no disco um apelo imediato, tornando as musicas extremamente cativantes. Saturnus - Saturn in Ascension (Cyclone Empire Records). Após seis anos de espera, Saturnus lança o novo disco fortemente influenciado pelo death metal melódico, iluminando os horizontes para os ouvintes, com músicas criativas de

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sonoridades sombrias, melancólicas e atmosfera emocional. The Howling Void The Womb Beyond The World (Solitude Productions): sombriamente bonito em alguns pontos e sutilmente épico em outros. Além dos teclados atmosféricos, este one man band aplica as guitarras e bateria para adicionar o conteúdo real e peso para a música. Uncle Acid And The Deadbeats - Blood Lust (Rise Above Records) é um álbum que parece ter tudo o que é preciso para se tornar um dos clássicos contemporâneos do renascimento do occult/ doom rock, arranjos e estruturas de canção para canção são diferenciados o suficiente, de modo a manter o interesse do ouvinte. As referências são as mais variadas, desde o glam


rock dos anos 70, blues e muita “psicodelia”, misturadas com composições de temática satanistas tiradas de filmes b. Witchsorrow - God Curse Us (Rise Above Records.) O power trio britânico lança um disco surpreendente, com todos os elementos para se tornar um clássico da mais alta ordem. A sonoridade lembra os primeiros trabalhos de Cathedral, sendo extraordinariamente consistente e definindo tudo o que é pesado, diabólico, sinistro, infeccioso e mortal dentro de doom metal. Façam suas apostas para 2013! Com o panorama do ano passado, podemos vislumbrar algumas promessas para o ano de 2013. Algumas bandas já começaram o ano surpreendendo, como o caso dos americanos do Egypt, que lançaram seu debut “Become the Sun”; The Flight of Sleipnir com

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o seu terceiro disco “Saga”; os holandeses do Officium Triste com seu esperado disco “Mors Viri”; o quarteto de Boston Gozu com sua obra prima, Stoner “The Fury of a Patient Man” e os Finlandeses do Hanging Garden com seu álbum “At Every Door”. Dentre as bandas que produzirão discos que com certeza darão o que falar em 2013, temos em primeiríssimo lugar os suecos do Ghost, com o seu segundo álbum “Infestissumam”. Memory Garden é outra banda atentamente esperada, os britânicos do Orange Goblin, a banda do Fred Norrman October Tide, Amorphis e seu novo título: O stoner do Spiritual Beggars; os hippies depressivos do Cathedral, os israelenses do Orphaned Land, os pioneiros do Trouble, o doom metal ocultista do Witch Mountain, os irlandeses do Mourning Beloveth. No Brasil temos dois grandes destaques voltando a lançar discos depois de um grande hiato: os cariocas do Imago Mortis e a one man band gaucha Blood Tears. E vocês, já têm suas apostas para esse ano?


Vendedor de veneno O vocalista Rob Zombie anunciou em seu perfil do Facebook que já tem o nome do seu novo full-length. “No caso de vocês não terem ouvido ainda, o meu novo CD é chamado de ‘Venomous Rat Regenaration Vendor’ [algo como, em tradução livre, ‘Vendedor de Veneno de Rato para Regeneração’]”, postou ele. Em 10 minutos, havia mais de 1.500 curtidas. Zombie ainda confirmou que o álbum chega nas prateleiras no próximo dia 23 de abril. O roqueiro, que também é diretor, ressaltou que seu novo filme “The Lords of Salem” estreia três dias após o lançamento de seu CD.

Ace sem lar

Lombardo fora 1

O ex-guitarrista do Kiss, Ace Frehley, não paga as prestações da hipoteca de sua casa em Yorktown, localizada no condado de Westchester, em Nova Iorque, desde o dia 1º de março de 2011. Como consequência, a propriedade será apreendida e leiloada. A US Bank Association deu entrada no pedido de reapropriação no último dia 15 de fevereiro.

Um comunicado do baterista Dave Lombardo, do Slayer, pegou os fãs de surpresa nessa manhã do último dia 21 de fevereiro. No comunicado, Lombardo pede desculpas aos fãs da Austrália que compraram os ingressos esperando que ele estivesse presente. Ele diz ter sido informado no dia 14 que não seria mais o baterista da turnê e que isso deixou-o muito triste e chocado.

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Van Halen desistiu

Now What?

Isso é algo que provavelmente jamais saberemos, ou, pelo menos, jamais saberemos todos os detalhes. A informação que vem do jornalista José Norberto Flesch, uma das vozes mais bem informadas do país sobre o mundo do show business, é que a banda americana de Hard Rock, Van Halen, um ícone no estilo, teria confirmado sua presença no festival Rock In Rio 2013, mas que já teria cancelado a sua apresentação. Veja o que ele disse no Twitter.

As lendas britânicas do Deep Purple vão lançar seu 19º álbum de estúdio, “Now What?!”, pela earMUSIC, uma gravadora alemã. Ele será lançado entre os dias 26 de abril e 1º de maio. Após várias sessões de composição na Europa, a banda gravou e mixou o álbum em Nashville, nos EUA, com o famoso produtor Bob Ezrin. O CD contém 11 faixas, incluindo “Out Of Hand”, “Hell To Pay”, “Weirdistan”, “Uncommon Man” e “Above And Beyond”.

Rifferama Em recente entrevista, o guitarrista do Queen, Brian May, afirmou que o guitarrista do Black Sabbath, seu amigo Tony Iommi, tem um ‘acervo infindável’ de riffs guardados em eu estúdio. “A ideia era lançar todos esses riffs de algum modo que as pessoas pudessem construir suas próprias músicas em torno deles”, disse May. “Você poderia compor sua própria música com Tony Iommi na guitarra!”. Não se sabe como os fãs ou músicos poderão usar tais riffs ou se Iommi vai mesmo disponibilizá-los para domínio público, como parece. Não há previsão para esse projeto. Iommi, no momento, está dando os retoques finais no novo álbum do Black Sabbath, ‘13’. 10


A volta do Led? O ex-vocalista do Led Zeppelin, Robert Plant, concedeu uma entrevista à edição Australiana do prestigiado jornalístico televisivo ’60 Minutes’, exibida em meados de fevereiro. Plant conversou com a jornalista Tara Brown e abordou vários assuntos, dentre eles suas raízes musicais, a formação e a construção da lenda do Zeppelin, passando pelo show de 2007 que foi lançado ano passado, o ótimo ‘Celebration Day’. “Nós só queríamos tocar e ver como era e estarmos bem por uma vez”, disse Plant. “Porque houve tantos períodos ruins desde que John faleceu; era a hora de estarmos bem… e estávamos. Bem, [...] eu não tenho nada pra fazer em 2014”.

Nova canção dos EUA

Baixista doente

Algo inusitado até para acontecer nos limiares dos EUA. Dois representantes do partido democrata entraram com projetos no congresso de Massachusetts para que a clássica canção “Dream On”, dos veteranos do Aerosmith, se torne canção oficial do estado. A banda de Steven Tyler e Joe Perry surgiu em Boston, capital local, no ano de 1970.

Nos últimos anos, várias notícias tristes vêm acometendo o mundo do Rock. Mais uma chegou ao conhecimento da imprensa. O baixista Trevor Bolder, do Uriah Heep, confirmou em entrevista que se ausentará da próxima turnê do grupo devido a uma cirurgia para tratar de um câncer no pâncreas. “Retiraram uma parte do órgão e agora estou fazendo quimioterapia. Assim que terminar, voltarei ao que faço normalmente”, declarou o músico.

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Lombardo fora 2

Confirmado

Ele comenta também que, junto ao vocalista e baixista Tom Araya, contratou alguns auditores para descobrir o que realmente estava acontecendo com as contas do Slayer, mas que não tiveram acesso aos dados detalhados e aos documentos necessários. Houve uma reunião entre os membros da banda e, segundo ele, tentou propor um novo modelo de negócio, porém guitarrista Kerry King não concordou com isso e afirmou que, caso Lombardo não concorde esse, deveria deixar a banda.

Para quem estava esperando a confirmação de Bon Jovi no Rock in Rio, a produção do evento já fez as honras e tratou logo de por os norteamericanos no cast do evento. Bon Jovi tocará no dia 20 de setembro, no mesmo dia que dos canadenses do Nickelback. O festival ainda promete algumas surpresas, uma delas é o Black Sabbath que pode adiantar sua tour sulamericana e começar pelo Brasil. Vamos aguardar!

HQ do Clube dos 27 Após um ano e meio de sua morte, mais uma homenagem será concedida à diva soul da nossa geração, Amy Winehouse. Uma editora brasileira planeja lançar em março deste ano uma história em quadrinhos (HQ) sobre as desventuras da cantora, conhecida por seus excessos. A Conrad Editora intitulará a obra de “O Clube dos 27”, que, para tanto, contará com passagens sobre os ícones roqueiros que morreram aos 27 anos – idade que Amy também se foi –, como Kurt Cobain, Brian Jones, Jim Morrison, Jimi Hendrix, Janis Joplin e Robert Johnson. Por ano, a pretensão é lançar um livro com um astro diferente. Para o de Winehouse, a assinatura é dos artistas franceses Goffette, Eudeline e Fernandez. E, para 2014, o excêntrico Kurt Cobain, do Nirvana. 12



The revival of Thrash Metal Old School Por Tรกrcio Rodrigues Bezerra

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entro da árvore taxonômica do Heavy Metal, que tipifica o estilo em inúmeros gêneros e subgêneros, definitivamente, aquele que mais me contagia é, o Thrash Metal! O velho e bom Thrash provoca em mim, um metalhead já quarentão, as mesmas reações de quando eu tinha os meus 14 anos: vontade de ‘bater cabeça’ (com o tradicional acompanhamento do punho fechado em riste), de acompanhar a música imitando um guitarrista ou baterista e, se for a um show, de me embrenhar no caos do pitt, subir no palco e executar aquele stage dive. Como todos já estão cansados de saber, o Thrash Metal é um gênero derivado do Heavy Metal, que apareceu no início dos anos 1980, inicialmente nos Estados Unidos (na região da Califórnia conhecida como Bay Area e em Nova Iorque) e logo em seguida na Alemanha. Aí, o negócio simplesmente ‘desembestou’ mundo afora. Perdoem-me, mas vou citar, sim, a minha listinha de bandas de Thrash do coração. Que passe na sua cabeça um medley das músicas destas bandas: Nos EUA, temos o Metallica, Slayer, Megadeth, Anthrax, Testament, Forbidden, Exodus, Heathen, Defiance, Overkill, Demolition Hammer, Pantera, Sacred Reich, Whiplash, Nuclear Assault, Death Angel e Sadus (YEAH!!!); no Canadá, Sacrifice (eu adoro essa banda!!!), Voivod, Anihilator; na Europa, Artillery, Assassin, Destruction, Kreator, Sodom, Tankard e Onslaught; e, claro, nossos brazucas Sepultura, Chakal, Korzus, WitchHammer, Torture Squad … ufa!!! Chega! Infelizmente, o gênero passou por uma crise no início dos anos 90, com o fortalecimento do grunge e o surgimento de outras ra15

mificações mais híbridas, como o New Metal. Enquanto o Metallica se “desonerava” em uma terrível crise de identidade e criatividade, alguns bravos ainda conseguiam ‘segurar a peteca’, a exemplo do resto do Big Four – Anthrax, Slayer e Megadeth –, a turma da Alemanha – Kreator e Destruction – e, claro, o Pantera. Enfim, os thrashers ficaram vivendo do material do passado e dos ótimos trabalhos das bandas sobreviventes. De uns sete anos pra cá, felizmente, o Thrash Metal ressurgiu das cinzas, de duas formas distintas. Em uma vertente, velhas bandas conhecidas retornaram à estrada e produziram excelentes petardos. Voltaram o Testament, há quase 10 anos sem


lançar um trabalho de estúdio; Heathen, que passou 20 anos sem gravar; Exodus, após um hiato de 8 anos; Sacrifice, depois de 16 anos de jejum; Onslaught, após 8 anos parado; Death Angel, depois de 14 anos de abstinência ; e por aí vai ... Em meio a tantas novas tendências da música pesada, com diferentes fusões e influências musicais, parecia que a meninada não se interessava mais em fazer Thrash como nos bons tempos. Parecia que isto era som de “tiozão do metal”. Aí vem a segunda vertente: o “Revival Thrash”, uma nova onda de bandas fazendo aquele thrash old school, com riffs de guitarra rápidos e viscerais, vocais rasgados, cozinha pesada e groovada, melodias simples e diretas, solos virtuosos e, ao mesmo tempo, 16

cheios de fantásticos noises no melhor estilo Gary Hold. Tudo isto com produções fantásticas proporcionadas por equipamentos e tecnologia de gravação cada vez melhores e mais acessíveis. Essa rapaziada tem nome: Havok, Lazarus AD, Bonded by Blood, Evile, Violator, Municipal Waste, War Bringer, SSS, Gama Bomb e Hötten. Pra escrever este artigo, pesquisei algumas bandas que ainda não havia parado pra escutar ou sequer ouvido falar. Galera, tem muita (!) coisa boa aparecendo. Os garotos estão enfurecidos, botando pra f...!!! Tiozões do metal: escutem estas bandas! Nada mais a falar, a não ser... THRASH ‘TILL DEATH!!! TOTAL THRASH!



O legítimo Hair Metal holandês Num período turbulento para o estilo, os garotos do Sleeze Beez abusaram, com êxito, das levadas que consagraram bandas da época. Mas o grunge chegou e...

Por Weslei Varjão (@weslei_varjao | weslei.varjao@gmail.com) Fotos: Divulgação

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lgo extremamente comum na história do Rock são bandas que perderam o timing no lançamento de seus discos. Apesar de terem bons trabalhos em mãos, lançaram os mesmos em épocas que não teriam atenção merecida, seja por falta de divulgação de suas gravadoras ou por falta de apoio do público, que estava preocupado com o novo hype do momento. E isso foi algo muito recorrente no começo dos anos 1990, em que as bandas do famigerado Hair Metal perderam força perante ao grunge surgido de Seattle.E E um grupo que foi amaldiçoado pela falta desse timing foram os holandeses do Sleeze Beez. Apesar de a maioria das bandas que 18

estouraram no final dos anos 1980 serem de Los Angeles, principalmente da efervescente Sunset Boulevard, alguns fortes representantes surgiram na Europa, como os suecos do Europe, o Def Leppard na Inglaterra (apesar de ser originário da NWOBHM) e Bonfire, na Alemanha, só para citar alguns. E, com certeza, se tivessem surgido uns três anos antes, esses holandeses teriam melhor sorte. A banda foi formada em 1987 pelo guitarrista Chriz Van Jaarsveld e o baterista Jan Koster. Van Jaarsveld já tinha uma reputação, por conta de ter três anos passados no Picture, que já era uma banda conhecida na Holanda – o que facilitou para que a banda tivesse um contrato com uma gravadora chamada


Red Bullet Records, mesmo com apenas dois membros. Com a adição de um vocalista chamado Tigo “Tiger” Fawzi, gravaram uma demo, que conclamou a atenção da cena local. Após essa demo, completaram o line-up com o guitarrista Don Van Spall e o baixista Ed Jongsma. Com a formação estabelecida, lançaram o disco “Look Like Hell”, que não conseguiu gerar muita atenção para o grupo, seja pelo som um pouco perdido ou por Tiger não ser um vocalista que sem encaixasse com a proposta da banda. Após uma pequena turnê, demitiram Tiger e contrataram o vocalista Andrew Elt, o qual Van Jaarsveld viu em uma premiação, onde ele ganhou com sua antiga banda, chamada Gin On The Rocks. Com essa alteração, entraram pressionados para a gravação do disco “Screwed Blue & Tattoed”, que chamou a atenção da Atlantic, com interesse em distribuir o disco em solo norteamericano. E criaram grandes expectativas, pois o single “Stranger Than Paradise” teve uma boa repercussão, com o grupo atingindo o 115º lugar na Billboard e uma turnê em conjunto com o Skid Row, que estava estourado com seu incrível disco de estreia. Empolgados para a gravação de seu terceiro disco, acabaram por entrar nos excessos que as bandas da época tinham, com mulheres e festas, lançando “Powertool”, apenas em 1992. E, como bem sabemos, nessa época, o grunge já estava começando a dominar o cenário, o que fez que mesmo com um bom disco em mãos, a banda não tivesse atenção, tanto que após este, teve seu contrato encerrado com a Atlantic. 19

Em 1994, ainda lançaram o disco “Insanity Beach” e seguiram o mesmo caminho que muitas outras bandas seguiram na época, com um som mais alternativo e sujo, mas que ainda garante bons momentos, porém, com repercussão ainda mais nula que seu antecessor, o que acabou causando a dissolução do grupo em 1995. Voltaram para uma apresentação ao vivo em 2010, junto com o Aerosmith em sua terra natal e lançaram um cover para “Faithfully”, do Journey, no começo de 2011, e ainda esporadicamente fazem alguns shows, contudo não há nenhuma grande novidade além disso. Mas quem sabe que se inspirem com essa onda de revivals e lancem um disco, para provar que aquele talento não era algo passageiro... Quem sabe?


Discografia Look Like Hell (1987) Aqui, temos um banda ainda tentando se encontrar e com muitos clichês de bandas daquela época, apesar de apresentar um ótimo potencial. Talvez o que destoe seja o vocalista Tiger, que está abaixo dos outros integrantes do grupo, com um vocal um pouco estranho e sem muito brilho para a proposta da banda. Muito embora, a dupla de guitarristas é um grande destaque, com melodias cativantes e grudam na cabeça de quem escuta. Das canções que conseguem chamar a atenção, temos “Too Wild To Be Inocent” com belos riffs e um refrão grudento. A acelerada “Jesse” e a paulada “Look Like Hell” também mostram que o grupo 20

pode evoluir, mas este é com certeza o trabalho mais fraco deles. Passe adiante, pois os trabalhos posteriores são melhores. 1. Girls Girls, Nasty Nasty 2. Party Animals 3. Hit and Run 4. Warchild 5. Too Wild to Be Innocent 6. Dyin to Live 7. Shame, Shame, Shame 8. Jesse 9. Hot and Heavy... Women 10. Look Like Hell


errar. 01.Rock In The Western World 02.House Is On Fire 03.Screwed Blue’N Tattooed 04.Stranger Than Paradise 05.Damned If We Do, Damned If We Don’t 06.Heroes Die Young 07.This Time 08.When The Brains Go To The Balls 09.Don’t Talk About Roses 10.Girls Girls, Nasty Nasty

Screwed Blue & Tattoed (1990) O maior sucesso da carreira da banda e a entrada de Andrew Elt nos vocais. E que diferença, pois agora com um bom vocalista, a banda apresenta canções que grudam na cabeça do ouvinte; algumas vezes aceleradas e rápidas e por outras bem melódicas, como na semi-balada “Stranger Than Paradise”, que foi o single que despertou a atenção para o grupo. Porém, além de “Stranger”, “Damned If We Do, Damned If We Don’t” gruda na cabeça logo na primeira audição, com refrão contagiante e feito para ser berrado a plenos pulmões. A balada “This Time” também tem um refrão que se destaca. A bem-humorada “When The Brains Go To The Balls” pode ser encarada como uma bela homenagem aos heróis do AC/DC, seja em seu andamento, até a letra, que remete a fase Bon Scott. Pode ir sem medo de

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Powertool (1992) Na minha opinião, o ápice da carreira do grupo. Ainda que não tenha tido a repercussão de seu antecessor e que tenha tido muita intercessão da gravadora, temos uma sequência de músicas que poderiam ter estourado se fossem lançadas por volta de 1987. A banda toda estava inspirada. Um ótimo exemplo é em “Dance”, que poderia estar em qualquer disco do Aerosmith do final dos


anos 1980, com sua levada sacana. “Bring Out The Rebel” remete ao que o Def Leppard clássico, com a dupla de guitarristas afiada e com melodias que não saem da cabeça por dias. “Raise Little Hell” e “Watch The Video” continuam a apresentar como o grupo estava inspirado, com refrães matadores. A bela balada “ I Don’t Wann Live Without You” é outro grande destaque e mostra o quanto Andrew Elt é um bom vocalista. Bem, aqui temos um disco que nenhum fã de Hard Rock botará defeito. 01. Appetizer 02. Raise A Little Hell 03. Watch That Video 04. Dance 05. Like a Dog 06. I Don’t Want To Live Without You 07. Head To Toe 08. Put Your Money Where Your Mouth Is 09. Bring Out The Rebel 10. Fuel For The Fire 11. What’s That Smell? 12. Pray For A Miracle Insanity Beach (1994) Neste play, o som muda totalmente. Já que o negócio era ser alternativo e pesado, foi nisso que a banda investiu suas forças. Com o som muito mais sujo e distorcido, parece que estamos diante de outro grupo. “Save Myself” é uma pancada nos ouvidos, completamente diferente comparado a tudo que o grupo tinha lançado antes.

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Esse clima soturno continua por todo registro e deve ter causado certo estranhamento para quem conhecia a banda de outrora, porém, está longe de ser um disco ruim. “Gun Culture”, “Human Zoo” e “The Long Goodbye” são os destaques do encerramento até o momento da carreira desses holandeses. 01. Tell It To The Judge 02. Save Myself 03. Gun Culture 04. Youth Is A State Of Mind 05. DUI (Intoxicated) 06. Human Zoo 07. Best Things In Life Are Free 08. The Long Goodbye 09. Sacrifice 10. Hate Rock And Roll 11. Insanity Beach 12. Scream (Encore)


“Não existe show ruim no B 23


Brasil! Os fãs são incríveis!” 24


A Finlândia é famosa pela sua excelente diversidade cultural e musical. E, por mais incrível que pareça, o heavy metal tem sido o principal produto de exportação deste país nórdico. A quantidade e a qualidade das bandas que surgem por lá chega a ser assustadora. Um ótimo exemplo disso é o Sonata Arctica. O grupo formado por Tony Kakko (vocal), Elias Viljanen (guitarrista), Marko Paasikoski (baixo), Henrik Klingenberg (teclado) e Tommy Portimo (bateria) é um dos grandes nomes deste cenário, ainda mais agora, com a conquista do disco de ouro com “Stones Grow Her Name”. Prestes a desembarcar no Brasil, a Rock Meeting, em parceria com The Ultimate Music, teve a oportunidade conversar com o vocalista Tony Kakko para falar sobre diversas curiosidades sobre o novo álbum, a expectativa de reencontrar os fãs, além de outros assuntos pertinentes sobre a carreira do Sonata Arctica. Por Juliana Lorencini Edição Costábile Salzano Jr - The Ultimate Music Press Fotos: Site Oficial (Divulgação)

A última vez que vocês estiveram no Brasil foi em 2010. Vocês se apresentaram em São Paulo e o show foi praticamente sold out. Quais recordações vocês têm dessa passagem e quais são as expectativas para esse retorno ao Brasil? Tony Kakko: Esse foi show foi muito especial! Não acho que seja possível ter um show ruim no Brasil. O público é tão incrível, que por si só faz o show por nós. Espero que eles tenham gostado disso também. Acredito que nenhum de nós tenha uma expectativa diferente do que da última vez. Será como andar em uma montanha russa e espero que todo mundo esteja preparado para se juntar a nós! No ano passado, vocês iniciaram a Stones Grow Her Name World Tour, que já passou por diversos países da Europa. Como tem sido a receptividade dos fãs até o momento em relação a “Stones Grow Her Name”? TK: Tem sido em grande parte positiva. Estamos cada dia em rumo de uma nova direção e, felizmente, com isso, temos conquistado novos fãs. Espero que os brasileiros façam parte deste sucesso. 25

Sempre que um novo álbum é lançado, isso significa adicionar as novas canções ao presente setlist e remover algumas outras, alterações que nem sempre agradam os fãs. Como o Sonata prepara seu setlist a cada nova turnê? E de alguma forma há uma preocupação em agradar aos fãs? TK: Fomos muito criticados no passado por tocar o mesmo setlist muitas vezes, o que na verdade nesse caso diz algo sobre os álbuns lançados. Tínhamos um monte de músicas de muitos dos álbuns que simplesmente não traduzem o momento. E isso é realmente infeliz. Mas com “Stones Grow Her Name” isso é completamente diferente. É ótimo ao vivo, divertido de tocar e fácil para “entender”. Então sim, tendo dito isso, renovamos MUITO nosso setlist desde a última vez. Não podemos ouvir muito o que os fãs dizem quando estamos montando o setlist, alguns gostam de sopa outros preferem salada e há elementos que não necessariamente compõe uma boa mistura. Abandonamos um monte de coisas “super rápidas”, o que naturalmente não agrada aos fãs, mas por um outro lado, as pessoas que descobriram o Sonata Arctica mais recentemente, podem não gostar de


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“Blank File”. Acho que é fundamental primeiro agradar a si mesmo e fazer um setlist que você goste de tocar. E isso aparece quando a banda tem um bom momento no palco, isso faz um show melhor. Falando um pouco sobre o mais recente trabalho “Stones Grow Her Name”. Como foi o processo de composição e gravação? Quais foram as principais influências de vocês para esse trabalho? TK: KISS não tem nada a ver com isso, embora eu tenha escrito “K.I.S.S.” no meu desktop enquanto estava escrevendo as músicas. Mantenha isso como algo besta. Então eu apenas tentei escrever as músicas que soam mais como algo conhecido, algo como nós fizemos em “Ecliptica”, apenas um pouco diferente. “Full Moon” caberia muito bem em “Stones Grow Her Name”. Então posso dizer que as minhas principais influências neste álbum foram o próprio Sonata Actica. O processo de composição foi muito fácil. Pensei que tivesse esquecido como escrever músicas assim e ido muito fundo no final progressivo do poço. Mas, depois de uma pequena luta e algumas conversas com os caras, eu estava convencido que esse seria o caminho que tomaríamos agora. Deste ponto, a vida é ridiculamente fácil. Tenho ouvido bastante Devin Townsend e seu trabalho deve ter tido alguma influencia, mas não sei. Deixo isso para vocês decidirem. De alguma forma, o que vocês têm ouvindo antes ou durante o processo de composição os influência? TK: Não escuto muitas bandas ou música em geral quando estou compondo. Simples-

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mente não existe tempo para isso e preciso do meu silêncio também. Acredito que essa coisa de “não escutar música” é algo muito comum para compositores. Você sente medo de acidentalmente copiar algo. Há alguns anos, o Sonata lançou dois álbuns contendo apenas covers. Como foi feita a escolha das faixas que compõe o álbum? Lançar um álbum de covers para vocês é uma forma de homenagear as bandas que vocês gostam ou apenas uma vontade pessoal da banda de tocar músicas que vocês gostem ou de alguma forma os influenciaram? TK: Eu realmente gostaria de ouvir mais sobre esses álbuns... Não posso me lembrar de nós gravando um álbum cheio de covers, esqueça aqueles dois álbuns. Se tais coisas estão lá, elas não serão lançadas em nenhuma instancia oficial e não ganharemos um centavo por elas, o que é triste. Mas, sobre os covers que gravamos, alguns apenas queríamos gravar porque gostamos da banda em particular ou de alguma música. No começo da nossa carreira nos pediam para gravar algumas músicas para álbuns tributo. Coisas como Helloween, Scorpions e Metallica. Coisas divertidas! O Sonata Arctica faz parte de um grupo seleto de bandas bem-sucedidas dentro do que chamamos de metal melódico. Depois de tantos anos, como vocês veem o gênero através dos anos até hoje em dia? TK: Isso é engraçado, mas não sigo nenhum gênero, logo não posso falar muito sobre isso. Certamente mudamos bastante durante esses

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anos, mas... Eu penso que o metal extremo é “pop” atualmente, ou por enquanto. Pra mim, o melódico é um grande amor e sempre será. É isso que eu sei. Existe alguma banda mais recente que mereça ser destacada por vocês como uma promessa para um futuro próximo? TK: Battle Beast, da Finlândia! Eles são realmente melódicos e heavy metal com lindos vocais femininos, ásperos, jovens e ansiosos. Em uma época onde o MP3 domina o mercado fonográfico, como foi ganhar um disco de ouro com “Stones Grow Her Name”? TK: Isso é bom. Embora alcançar isso na Finlândia não signifique ganhar dinheiro de fato... Nada sendo 10.000 cópias. Não acho que se quer podemos cobrir nossas despesas com isso. Mas é bom saber que pessoas ainda compram CDs. Fico feliz em saber que ainda existem lugares oficiais e legais onde você pode comprar ou baixar músicas e álbuns. Apenas não consigo entender essa moda, isso não soa bem... Ou eu estou apenas muito velho para toda essa merda? (risos) A Finlândia é mundialmente conhecida pela grande quantidade de bandas que de lá vem, em especial as de metal. Para vocês, enquanto músicos, é possível viver apenas de música no seu país ou mesmo com essa abertura cultural trabalhar apenas com música ainda não é algo viável para os músicos fin-

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landeses? TK: Sim, felizmente nós estamos nessa posição. E realmente não temos nenhuma opção para isso. Eu não me contrataria como um empregado. Gasto muito do meu tempo com essa banda, em turnê ou no estúdio. Não é nenhum pródigo que fazemos, mas isso alimenta famílias. Após inúmeras turnês, qual momento mais engraçado ou até mesmo estranho vocês já tiveram durante um show? TK: Ah, há muitos coisas engraçadas que aconteceram. A maior parte são apenas piadas internas entre a banda e Crew. O Masters of Rock Festival, na República Tcheca, em 2008, foi memorável podemos dizer, pelo menos. A energia elétrica foi cortada por causa de uma tempestade e todos os instrumentos ficaram mudos, exceto meu microfone, por qualquer razão. Mas o show deve continuar, penso, e comecei a cantar “Full Moon” à capela. Você pode achar vídeos no Youtube feitos pelo público. E isso foi engraçado e estranho ao mesmo tempo. A The Ultimate Press e Rock Meeting agradecem pela entrevista e eu gostaria que vocês deixassem uma mensagem para os fãs brasileiros do Sonata Arctica. TK: Demorou um pouco, mas agora finalmente estamos de volta! E estamos muito empolgados! Não sei quantos shows inesquecíveis pode-se ter no Brasil, mas eu já sei que esse será mais um! Vejo todos vocês em breve! Venham cantando e com sapatos de festa!


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O museu do Ro de Rock te

Por Igor Miranda (igormiranda93@gmail.com)

Q

ualquer instituição com fins mercadológicos que afirme contemplar uma ampla gama de manifestações artísticas acaba se equivocando. Talvez pela arte ser algo tão subjetivo e relativo que não esteja passível de julgamentos frios. Basta notar, por exemplo, as críticas que premiações como o Grammy e o Oscar, respectivamente, em âmbitos musical e cinematográfico, recebem. Sempre receberam e sempre vão receber. De todas essas, a que traz mais falhas na execução de sua concepção é o Rock And Roll Hall Of Fame. A instituição, fundada em 1986, tem um museu localizado na cidade estadunidense de Cleveland, Ohio, que engloba os artistas que, na opinião de avaliadores, mais influen31

ciaram o Rock n’ Roll. Anualmente, acontece uma cerimônia para incluir novos artistas e grupos. Soa como uma afronta o fato do museu para um estilo de origem e apreciação altamente populares ter o seu conteúdo administrado por meros avaliadores, que muitas vezes nem são músicos ou têm história ligada à música. E torna-se ainda mais contestável a repercussão que os veículos midiáticos dão à instituição, pois é sabido que as escolhas não prezam da imparcialidade necessária para algo tão importante. As contradições começam por onde o museu se situa. A instituição justifica a escolha de Cleveland como sede lembrando que foi ali onde nasceu o DJ Alan Freed, um dos responsáveis pela popularização do termo


ock n’ Roll que em pouco

rock n’ roll. Mas nem a cidade, nem a região tem história relevante relacionada ao gênero. Diferente de Seattle, que abrigou o movimento grunge, ou Los Angeles, que presenciou o nascimento do Hard Rock dos anos 1980. É sabido, aliás, que o salão foi construído dentro de um plano urbano de crescimento feito por distrito do município, North Coast Harbor. Questões políticas e financeiras, muito provavelmente, se envolveram na escolha do local. Esse é só um dos pontos duvidosos da existência do Hall Of Fame. Anualmente, uma seleta lista de artistas é induzida durante uma cerimônia que tem cobertura mundial pelos maiores veículos de mídia. Esses artistas precisam ter lançado seu primeiro trabalho full-length (ou seja, um 32

álbum de músicas inéditas com mais de oito faixas e/ou 40 minutos de duração) 25 anos anteriores à cerimônia. Mas, apesar de ser um museu destinado ao Rock n’ Roll, inúmeros músicos e grupos de outros estilos são indicados. A proposta é trazer, também, nomes que tenham sido influentes para o estilo. E é evidente que o Rock traz influências de outros gêneros. A indução de músicos como Johnny Cash, do country, e de Etta James, do R&B, entre outros, é justa – diversos astros do Rock os citam como pilares criativos. Mas qual o propósito de indicar os rappers do Public Enemy ou a cantora pop Madonna, por exemplo? A qualidade musical é incontestável, mas para quem eles fizeram diferença no universo do Rock? Ninguém, até onde se


sabe. Enquanto indicações questionáveis aconteceram – provavelmente para agradar veículos de mídia e atrair visitantes além dos fãs do estilo principal –, grupos de Rock n’ Roll que também são influentes no gênero simplesmente não marcam presença na tal lista do Hall Of Fame. É o caso de bandas como o Deep Purple e o Kiss. Algo curioso, inclusive, aconteceu na seleção para os induzidos para o ano de 2013. Pela primeira vez, a instituição abriu a escolha para votação do público. Ou seja, o povo escolheria as atrações a receberem as honrarias na cerimônia deste ano, que acontece no dia 18 de abril – o Rush estará por lá. O Deep Purple recebeu uma imensa aprovação pelos participantes da enquete e chegou a liderar a contagem, mas não entrou porque “os avaliadores do Hall Of Fame tam32

bém interfeririam na escolha”. E uma lenda do rock continua de fora do museu dedicado ao estilo. As dissonâncias do Rock And Roll Hall Of Fame em seus critérios de seleção fez com que os Sex Pistols recusassem publicamente a honraria. Músicos como Axl Rose e Izzy Stradlin, respectivamente, vocalista e ex-guitarrista do Guns N’ Roses, não compareceram à cerimônia quando foram selecionados. O Rock n’ Roll não precisa de uma instituição com intenções majoritariamente mercadológicas para decidir quem são os artistas ou grupos dignos de estarem em um mero museu. A história do estilo fala por si. Homenagens devem ser feitas por quem realmente tem conhecimento do gênero, que sobreviveu à própria rejeição dos grandes veículos de mídia durante vários anos.



“Não esquecer que é brasileiro e nosso legado musical é incrível e temos que usá-lo”

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Não é muito difícil perguntar a uma pessoa que inicia na arte da música, através da guitarra, quem são suas influências. Vários nomes podem surgir, como Jimi Hendrix, Jeff Beck, Joe Satriani, Slash, Van Halen, entre outros. Mas se perguntar sobre algum brasileiro a lista cresce. Não muito distante dessa realidade, os músicos brasileiros têm se destacado bastante nas suas qualidades individuais, sem contar na colaboração em suas bandas. O papo aqui é sobre guitarra e quem melhor para falar sobre a arte das seis cordas estridentes do que Kiko Loureiro, que dispensa apresentações. Aproveitando a tour brasileira de seu novo álbum, “Sound of Innocence”, a Rock Meeting conversou antes com ele sobre música, Angra e, claro, sua carreira solo. Leia a entrevista bastante descontraída com esse guitarrista que influencia vários outros no Brasil e no mundo. Por Pei Fon (@poifang | peifang@rockmeeting.net) Fotos: Assessoria (Divulgação) É como imensa satisfação que podemos dialogar um pouco contigo. E só por uma curiosidade, vasculhando sua biografia, um dos caras que foi/é sua inspiração é o alagoano Hermento Pascoal. O que ele influenciou na sua vida musical? Hermeto é a música personificada. Atitude, composições, liderança, influência na música brasileira. Uma inspiração constante para qualquer músico. Você deposita todo o seu feeling em seus projetos solos e o jazz tem presença garantida. O Fusion é algo “novo”, porém já explorado por você nesta mistura de ritmos. Está satisfeito ou busca mais do que pode imaginar? A busca é constante. Seja em trazer influências de outros estilos para o Angra, seja em projetos que os outros estilos estejam claros. Os caminhos estão sempre abertos na minha 37

cabeça. Recentemente você esteve na cidade de Garanhuns (PE) participando do Festival de Jazz da cidade no carnaval. Conta para nós como foi a jam session com o Andreas Kisser e sua oficina no Jazz Kids? O festival foi impressionante. Em pleno carnaval, tanta gente para ouvir estilos tão diversos. As jams, com Tico Santa Cruz, Andreas, Grupo de maracatu dentre tantos outros músicos, foram incríveis. Sempre é bom tocar com músicos diferentes e aprender com estas interações. A oficina tinha crianças e adolescentes. É muito difícil ensinar crianças para quem não tem formação para isso, como eu. Ao menos vários pais estavam ali para perguntar o melhor caminho para seus filhos iniciantes. Em alguns momentos você participou


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da turnê e até da composição de um álbum da finlandesa Tarja Turunen. Como foi que você chegou até ela? Tarja procurou por você...? Ela conhece bem o Angra. Fizemos uma turnê no Japão uma vez, quando o Nightwish abriu para o Angra. Ela sempre gostou de nossas partes acústicas. Por isso fui convidado a gravar violões no primeiro álbum dela e depois a turnê. Diante de toda a sua contribuição para música brasileira, você se considera fonte de inspiração para os guitarristas brasileiros? Além dos meus álbuns, tenho o meu blog na Guitar Player que busco este caminho de inspirar e incentivar os guitarristas mais novos. Não sei se sou, mas quero ser sim, afinal está é a função da música. Angra Não muito distante de seus trabalhos, mas não é possível deixar de falar no Angra, a banda que te lançou no mundo. Estiveram no cruzeiro “70000 Tons of Metal” com novo vocalista. E aí, o que você pode adiantar para nós? Fabio Lione fica? Vamos fazer um show em São Paulo, pois a gente não consegue abandonar os palcos, a amizade dentro da banda e os fãs do Angra. O show no 70 000 tons foi um ótimo incentivo para isso e por isso chamados o Fabio enquanto recebemos o material dos cantores. O que você achou do desempenho dele e o que deu para sentir da receptividade do público? Muito boa. Ele é um super cantor, como já sa40

bemos. O público de todas as partes, fãs novos e antigos também falaram muito bem dos dois shows. Você já deve saber que vídeos e mais vídeos com a participação de Lione foram postados no Youtube, bem como compartilhados nas redes sociais. Já chegaram comentários a respeito da escolha do vocalista? Estamos recebendo material sim. Temos ótimos cantores no Brasil. Foi a primeira vez do Angra tocar num navio. Só a ideia de um cruzeiro dedicado ao Heavy Metal é fenomenal. Mas conta para nós, qual foi a sensação de estar no 70000 Tons of Metal? Organização, estrutura... Como eram as coisas por lá? É algo muito diferente. 24 horas de metal. Nos corredores, restaurantes em todos os lugares se toca metal. Shows em três palcos constantemente. Público de todos os lugares, com predominância alemã. É algo bem surreal, aquela ilha paradisíaca cheio de caras vestidos de vikings, jaquetas de couro enchendo a cara. (risos) Como não havia para onde correr, o cruzeiro te deixa bem próximo do público e de outras bandas, claro. Chegou a conversar com o público? Viu o show de alguma banda em especial? O que achou? Bastante! Por isso saímos bem motivados. Vimos praticamente todos os shows e conversamos com muita gente: fãs, músicos e empresários. O Rock In Rio já está marcado, alguma


sinalização de que o Angra participe da edição 2013? Não, estaremos não. Há datas para uma tour no Brasil com Fabio Lione? Não. Só o Live and Louder em São Paulo. Carreira Solo Vamos ao que interessa. Seu último lançamento tem rendido boas críticas. “Sounds of Innocence” saiu do jeito que esperava ou seria “inocente”? Sim, a recepção foi bem positiva. Gosto muito das músicas e do conceito. Foi algo bem natural para mim. Essa é a melhor forma de compor, deixar fluir a parte musical mais íntima sem se preocupar com nada. Por isso o nome do álbum. Tenho certeza que será um trabalho que vá durar na cabeça das pessoas, porque foi produzido com muito detalhe. As composições são boas e as melodias são o que rege o álbum e não tanto qualquer lado mais técnico. SOI teve a participação de Felipe Andreoli e Virgil Donati. Ambos já estavam previstos para tocar contigo? Como surgiu o convite? Superou suas expectativas? Eles sempre superam as expectativas. O Virgil já tinha contato faz muito tempo e sempre quis fazer algo com ele. O Felipe já é parceiro de muito tempo. Chegou a hora de juntar os dois. Doug Wimbish do Living Color, Maria

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Ilmoniemi, que era Tarja, gravaram também. Matias Kupiainen, do Stratovarius, gravou as guitarras. O Pertu Vanska que ajudou no Turisas também me ajudou. Dennis Ward (Angra e No Gravity) mixou. Fale-se bem do seu novo álbum, mas o que você tem a dizer sobre ele? O que difere do “Fullblast”, por exemplo? Considera mais maduro? Creio que foi mais emotivo. Estava vivendo fora do país e isso me ajudou muito na minha perspectiva e olhar de quem eu sou. De onde saiu sua inspiração para o “Sounds of Innocence”? A quem ou ao que você atribui? Como disse, morar fora ajuda muito a olhar para nós mesmos. Muito importante também foi o nascimento da minha filha. Compus tudo no período pré-nascimento e gravei quando ela estava com alguns meses. A turnê de seu novo álbum solo vem com tudo. Quais as expectativas? Nervoso? Expectativa de tocar bem as músicas, se divertir, reencontrar os fãs, conhecer novos músicos pela estrada e viajar. Nervoso não... tranquilo. Não será meu primeiro show na vida... Ainda sobre música, mas falando um pouco mais sobre você. O que Kiko Loureiro tem escutado? Faça um top


cinco das bandas que tem escutado e fale um pouco sobre elas. Esta vida de Iphone e Spotfy é difícil concentrar em algo. Posso colocar algo pesado/moderno. Animal as Leaders Devin Tonwshed, ou colocar algo de violão brasileiro. Duo Assad, Ulisses Rocha, Yamandu. Quem sabe em um outro dia, um jazz anos 60. Miles Quintet ou o metal dos anos 80 Sabbath com Dio, Metallica... Então varia muito.... Eu prefiro não ir de cabeça numa banda só para não correr o risco de me influenciar demais. Muitos falam da vaidade dos guitarristas. Você possui alguma? Algum cuidado especial com seu equipamento? Vaidade é um pecado básico dos seres humanos. Temos apenas que guardá-la e procurar controlar... Não é exclusividade de guitarristas né? Equipamento eu vejo como uma ferramenta.... Não como uma joia. A Rock Meeting agradece pela sua entrevista, e o que você recomenda para os nossos leitores que estão começando agora a tocar guitarra e para aqueles que esperam um estímulo para continuar aprendendo. Sucesso sempre neste novo momento de sua carreira. Sempre buscar referências motivadoras, ter disciplina, criar o hábito do estudo regular. Ouvido aberto, escutar de tudo. Não esquecer que é brasileiro e nosso legado musical é incrível e temos que usá-lo... E por aí vai. Abraços!

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Charles Johnson

Com a baixa do dólar, Europa estagnada e saturada, o Brasil tornou-se um novo mercado para shows de diversos estilos musicais. Em virtude disso, bandas que antes eram impossíveis de se imaginar estar nas terrinhas tropicais brasileiras estão cheRock Meeting: Saudações, Alcides. É com prazer que iniciamos esta série especial sobre os promotores de eventos. Neste primeiro momento, quem é Alcides Burn? Alcides Burn • Eu sou eu. Se tiver outro, é contrabando (risos) Minha mãe costuma dizer isso... Bom, sou apaixonado por artes e Música. Me inspiro muito nessas duas coisas pra tentar fazer o meu trabalho cada vez melhor.

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gando com força. Com estas possibilidades aumentando, os fãs do segmento Rock/Metal agradecem, pois mais shows estão acontecendo e cidades do Norte e Nordeste tendo oportunidades iguais as do Sul e Sudeste, que também parece saturado. Nesta perspectiva, a Rock Meeting inicia uma série de entrevistas com os promotores de eventos das regiões que estão recebendo shows nunca antes imagináveis. Grupos novos buscando serem conhecidos, bandas antigas alcançando aquele fã que não tem a chance de ir para São Paulo e pode ver numa cidade próxima ou na em que reside. No primeiro momento, conversamos com Alcides Burn (designer/promoter), que movimenta a sua cidade natal, Recife, e as demais cidades nordestinas. Acompanhe agora como é o todo o processo de agendamento até o dia do show, ou seja, como é o trabalho do promoter.

Uma banda chama atenção pela arte gráfica de seu nome, capa de CD, flyer... antes mesmo de se ouvir o som. Você já criou muitas capas, logos, flyers... Qual foi o seu primeiro trabalho? Já fez algum para bandas de fora do Brasil? E dentro do país? • Meu primeiro trabalho oficial mesmo, que saiu prensado e tudo o mais, foi a capa de “The Last Prayer”, do Decomposed God, banda hoje que está no meu cast de manager. Já fiz muitos trabalhos pra bandas como Torture Squad, Headhunter D.C, Sanctifier, Executer, entre outros nomes nacionais e interna-


cionais – o mais recente foi o último álbum do “Blood Red Throne”, também fiz do Iconoclasm, Zerozonic e muitas outras. Você já realizava shows na cidade do Recife, mas agora deu uma crescida considerável. A quem ou a que você atribui este novo momento? • Eu comecei a fazer eventos em 2010, mas sempre trabalhei com o João da Blackout Discos. Sempre o ajudei na produção de vários eventos. Eu faço shows apenas, porém, às vezes, com alguns parceiros como no caso do Belphegor e Ragnarok e o Dying Fetus, que trabalhei junto com o Marco da Hate Music. Agora em parceria e sociedade com o João, estamos realizando eventos em Salvador. Lá, a gente conta com o Vlad da Black Order e o Victor da Soul Eviceration. Juntos, estamos levando alguns grandes nomes do Metal e a recepção do público está sendo excelente. Salvador tem uma cena que estava meio adormecida e chegou a hora de acordar a fera. Os bangers de lá são insanos! Longa vida aos bangers da Bahia! O ano de 2013 já começou bem no Nordeste: Destruction, Sodom. O que mais está por vir? • Confirmados até agora são: Paura, no dia 11 de maio, Circle II Circle, dia 15 de junho e Legion of The Dammed, dia 20 do mesmo mês. Mas estamos negociando outras coisas. OK, já falamos muito da parte boa. Como se dá todo o processo de agendamento, contato com as bandas? • Então, essa parte de manager é o seguinte: eu só tenho três bandas por enquanto e pretendo ficar só com elas. Talvez, mais adiante, eu trabalhe com outras. Contudo é muita coi45


sa pra tomar conta, fazer artes, produzir shows, agendar datas. Talvez, se eu pegar mais bandas, eu não vou ter tempo pra cuidar das outras coisas que me tomam um bom tempo. Então, por enquanto, só essas três mesmo. Eu ofereço as cidades, divulgo as bandas e espero o contato do produtor; se ele se interessar, mando um contrato e a gente fecha. Basicamente, é isso. As dificuldades são as mesmas para shows nacionais e internacionais. Conta para nós: é difícil realizar os shows no Nordeste? • Em todo show, existem dificuldades – em proporções diferentes, claro, mas é só trabalho mesmo, correria, prazos a serem cumpridos pra não deixar tudo pra última hora. A gente tem que gostar mesmo pra fazer a coisa acontecer. Prezo muito por qualidade! Não alugo som barato; a estrutura tem que estar 100% pra o público poder sair do evento satisfeito. Diante de tanta dificuldade, é possível apontar o problema principal? • A gente tem um obstáculo que se chama “patrocínio”, mas acredito que isso, aos poucos, mude. Por isso que os ingressos são caros; não temos apoio. O público precisa entender esse ponto... Evento é bom, muita dor de cabeça, ver o público chegando, feedback a posteriori... Enfim, dá algum lucro? • Produzir shows é um trabalho como qualquer outro. Você trabalha em uma empresa e, no final, tem seu salário. Produzir um espetáculo é a mesma coisa. Você trabalha, se estressa, mas, no fim das contas, tem que compensar. É muito ruim quando você pas46

sa dois meses trabalhando num evento e, no término, você leva um prejuízo, não é? Mas show é loteria. Você pode ganhar ou perder e você tem que estar preparado pra isso. As bandas devem ter exigências bem peculiares. Já aconteceu de alguma pedir algo que você achou, digamos, estranho ou desnecessário? • Eles sempre pedem as coisas com exageros: 80 cervejas, um rum importado que não existe por aqui, essas coisas. Mas tudo num show é negociado desde o rider ao catering. Eles mandam o que querem e a gente, uma contraproposta e aí vai. O Belphegor, por exemplo, pediu dois litros de sangue de boi fresco e duas cabeças de porco e eu e o Marco conseguimos (risos). Doidera total, porém, no palco, visualmente ficou lindo. Se vocês virem as fotos, assistir a um show do Belphegor é realmente uma experiência muito louca; um verdadeiro show de Black Metal! Como produtor, há alguma banda que você tem esperança ou desejo de levá-los para o Nordeste? • Estava falando isso com o João no mês passado. Há algumas que curto muito: Amom Amarth, Napalm Death, Carcass e Marduk. Bom, têm muitas. Se um dia chegarem nas nossas mãos com condições boas de preço, nós faremos. Para finalizar, existe a possibilidade de realizar algum festival? Muito obrigado, sucesso e continue nesta investida. • Festival, no momento, não... um passo de cada vez – vamos ver o que dá. Ah, eu que agradeço, pessoal! Força com a Rock Meeting, que sempre deu apoio pra mim e pra várias bandas.


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Com uma nova safra de bandas de Rock no país, o estilo se reinventa e mostra que está mais vivo do que os próprios falsos profetas Por Breno Airan (@brenoairan | breno@rockmeeting.net) Fotos: Divulgação

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o cimo, na crista de toda onda, há de se convir que a perfeição ganha, senão nome, pelo menos significado. Mas o período que vive o Rock nacional tem, sim, uma alcunha – talvez até ousada: “New Wave of Brazilian Heavy Metal” (algo como “Nova Onda do Heavy Metal Brasileiro), clara referência ao movimento-mor do estilo. A New Wave of British Heavy Metal (NWOBHM) não se restringiu, no entanto, apenas à Inglaterra. Expandindo seu ideal Europa afora, bandas brasileiras como o Stress, Salário Mínimo e Robertinho do Recife tentaram levar esse legado à frente. Ao que parece somente agora, em pleno 3º milênio, o país se vê diante de um novo movimento. Não “novo” no sentido de “inovação”, mas o de manter aceso o vergastar das chamas ao final de espetáculos ao vivo. Muito bem-vindos grupos a exemplo do Violator, Voodoopriest, Pandora, Nervosa, Madame Saatan, Carro Bomba, Jack Devil, Fúria Louca, Shadowside, Andralls, Farscape, Raiser, Madjoker e Project46 vestem as camisas pretas do amanhã e desmentem as profecias enfadonhas que o Rock N’ Roll logo ruiria, com os dias contados. OK. É bem verdade que não há como comparar uma movimentação como aquela 49

Iron Maiden (acima) e Def Leppard (abaixo) dois dos vários representantes da NWOBH.


britânica NWOBHM com o Iron Maiden, Judas Priest, Saxon, Angel Witch, Motörhead, Tank, Quiet Riot, Wolf, Venom, Sledgehammer, Grim Reaper e até o Def Leppard. Havia todo um sentido em contraponto ao crescente Punk Rock, o resgate da herança deixada pelos Rolling Stones, Led Zeppelin, Deep Purple e um Black Sabbath já sem seu vocalista excêntrico Ozzy Osbourne. Como dar conta dessa lacuna? A NWOBHM o fez com maestria, criando novos dinossauros – ainda longe da extinção, diga-se de passagem. No Brasil, após a ótima safra de bandas melódicas das últimas décadas, o cenário precisava de uma sacudida mais forte, mais intensa, mais característica. Na virada do ano de 2010, a banda underground White Thunder, de São José do Rio Preto, interior de São Paulo, lançava seu relevante álbum “New Wave of Brazilian Heavy Metal”. A pegada era a mesma dos grupos já consagrados lá fora, nos anos 1980. Contudo, o navio tupiniquim continua a singrar por outros mares, outras ondas tempestuosas. Um misto de influências, sem tentar imitar ninguém. Essa é a cara do NWOBHM daqui. Agora é torcer para que o contínuo andar (ou remar) não pare no meio do caminho, não bata em nenhum iceberg, o que, com sinceridade, parece um tanto difícil. Esses novos músicos lobrigam, olham bem ao longe mesmo e veem a esperança em forma de um sempre presente público acolhedor e batedor de cabeças. O show deve continuar, não é? 50



Glenn Hughes Breno Airan (@brenoairan | breno@rockmeeting.net) Eu sou suspeito pra falar de Funk Music. Eu sou negro – ou pelo menos me acho um pouco. Na verdade, todo brasileiro tem um fio de negritude na veia, o que não quer dizer que precisamente a música negra será aprazível pra todos. Que seja! Glenn Hughes, a voz do rock, vem mostrar pra todo mundo que “Play that funky music white boy”, como dizia o pessoal do Wild Cherry. Este play, o maravilhoso “F.U.N.K.”, de 2008, é pra quem tem a cabeça boa. Nada de fanatismos, por favor. Funk Rock de primeiríssima qualidade. O já sessentão Glenn mostra que é um virtuose tanto na voz quanto no seu instrumento de quatro cordas. Ouvir seus agudos nesse álbum é quase como ver algo pictórico sendo criado à tinta óleo. E sem cheirar mal. Destaques, evidentemente, não faltam. A primeira, “Crave”, é um carro-chefe daqueles. A segunda faixa, que dá nome ao CD, mostra o que ele já tinha mostrado desde “Soul Mover” (2005): o swing aqui detona. Não há outra palavra pra definir. A música “First undergroud Nuclear Kitchen” (F.U.N.K.) é o que eu já disse anteriormente, ora. Ela detona. No entanto, o que não admito ouvir/ler é 51

o que certos blogueiros “entendidos de música” falam sobre o álbum. Aqui vai: “Pois é. O Chad Smith [baterista do Red Hot Chili Peppers] toca no CD e tal. É um álbum bom de ouvir, vale a pena, mas não surpreende”. Certo. É uma opinião. Mas não é válida. Claro que não. Leitor, compre, ouça, desvirgine o álbum, mas não se confie no comentário de outrem. É você quem vai decidir se algo é bom ou não. Nem eu tenho esse poder de lhe influenciar. Eu, jornalista ingênuo que sou, estou apenas mediando a informação e passando pra você o pouco que sei. O CD é simplesmente poderoso. Pra mim... Pra terminar a sessão ‘destaques’, posso acrescentar “Love Communion”, o qual sem dúvida é a melhor música que escutei nos últimos tempos; “We Shall Be Free”, que tem um groove bem cadenciado; “Never Say Never”, com uma pegada mais heavy, mas, claro, mostrando esse lado suingado do mestre; e “We Go to War” é quase um lusco-fusco musical, de tão boa que é. O Funk e o Rock da “Oil and water” chegam a se misturar no nosso ouvido. E a “Too Late to Save the World” é uma boa pedida pra qualquer hora do dia. No geral, sem muita divagação, o álbum é show. É digno de nota; digno de postagem; digno de recomendação na Rock Meeting. Ponto (sem ser continuativo).


Janis Joplin Daniel Lima (@daniellimarm | daniel@rockmeeting.net)

Há artistas da música que fazem apenas um sucesso e caem no esquecimento popular, outros seguem uma carreira gloriosa e abandonam no meio do percurso e poucos são imortais como a saudosa Janis Joplin que morreu aos 27 anos em outubro de 1970. Seu corpo foi cremado e as cinzas espalhadas no mar. O álbum Pearl foi o último álbum gravado por ela e lançado seis meses após a sua partida para outro plano. Por muitos críticos, este é considerado o melhor álbum dela e eu compartilho dessa opinião. Pearl é um clássico e apesar de ser um álbum espetacular, é muito difícil de falar dele. Ele possui muitas peculiaridades e sensações diferentes ao se ouvir, um certo sofrimento e dor na voz da Janis que expressa sentimentos distintos em uma mistura que só ela sabia fazer. “Mover Over” é a primeira faixa e bastante animada, ao contrario de outras duas músicas que se destacam pelas suas angústias expostas na voz, característica dela e do estilo que as músicas pedem. 52

“Cry Baby” e “A Woman Left Lonely” são duas daquelas faixas que faz a pessoa “viajar na maionese”. A oitava faixa é uma das mais conhecidas e clássicas deste álbum, “Mercedes Benz” é diferente por não ter instrumental. É apenas a Janis Joplin cantando e batendo palmas, no final ela ainda ri o que traz um clima descontraído momentaneamente. Estas são algumas das músicas que se destacam para mim no álbum Pearl da Janis Joplin. Igual Jim Morrison, Kurt Cobain, Jimi Hendrix e outros astros da música, Janis Joplin foi mais uma vítima do que ficou conhecida como “Síndrome do 27”. Celebridades que fizeram história e faleceram aos 27 anos. Se é coincidência ou não eu não sei, mas sei que estes artistas deixaram suas marcas e Janis Joplin deixou uma discografia gloriosa. Poucos conseguiram tal fato de deixar obras-primas para a posterioridade. Pearl é um álbum que eu recomendo.


Jeff Scott Soto Weslei Varjão (@weslei_varjao | weslei.varjao@gmail.com)

Jeff Scott Soto é sem sobra de dúvidas um dos trabalhadores mais incansáveis que existem na história do rock. Esse monstro já esteve do lado de lendas como Yngwie Malmsteen, Marcel Jacob, Axel Rudi Pell e Neal Schon, só para citar alguns. E quando menos se espera, lá vem ele de novo com alguma nova banda ou trabalho solo para nos impressionar novamente com seu vocal potente e cativante. E um dos ótimos registros de sua brilhante carreira foi o ótimo “Damage Control” , lançado ano passado. Para a gravação deste, reuniu algumas feras, entre estes estando Robin Zander (Cheap Trick), Joel Hoekstra (Night Ranger) e Dave Meniketti (Y&T), que contribuem de maneira incrível para um disco que apresenta um senso melódico fora do comum. Temos canções que logo no primeiro

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momento ficarão marcadas na cabeça do ouvinte. “Look Inside Your Heart” tem um riff certeiro e melódico, além do refrão grudento e marcante. Porém os grandes acertos ocorrem quando ele entra no caminho que mais conhece, que é o melodic rock com grande apelo pop. “How To Love Again” nos mostra o quanto Soto tem um feeling apurado e afiado quando o assunto é criar melodias memoráveis. Ainda indico “Tears That I Cry” e a pesada “Krazy World”, porém o registro todo é de excelente qualidade, como é de se esperar de um trabalho que leve a assinatura de Soto. E que venha o novo disco de seu projeto W.E.T, para que assim possamos ser assombrados com o seu talento novamente.


Sebastian Bach Igor Miranda (igormiranda93@gmail.com)

Apesar dos lançamentos de “Bring ‘Em Bach Aliv”e e “Bach 2: Basics”, o vocalista Sebastian Bach não havia lançado um disco de inéditas em carreira solo desde “Subhuman Race”, com o Skid Row, em 1995. Quando foi anunciado que o canadense colocaria um álbum na praça em 2007, a expectativa foi grande. Esperava-se não apenas um grande trabalho, mas também a curiosidade em como Bach ia soar em uma banda de apoio tão Heavy Metal. Com exceção do guitarrista Johnny Chromatic, todos já eram conhecidos na cena metálica: o companheiro de seis cordas “Metal” Mike Chlasciak, cujo nome já diz tudo, tocava no Halford, juntamente de Bobby Jarzombek; enquanto Steve DiGiorgio teve passagens pelo Iced Earth, Testament e Death, entre outros. “Angel Down” não atendeu às expectativas nem mesmo do fã mais esperançoso. Fez melhor: superou, de longe, o que qualquer um esperava. Creio que era impossível esperar um trabalho tão bom como este. Os resquícios farofeiros dos tempos de “I RememberYou” foram deixados de 54

lado em definitivo (já estavam sendo deixadas desde “Slave To The Grind”), bem como as influências Punk do principal compositor do Skid Row, o baixista Rachel Bolan. Trata-se de um digníssimo álbum de Heavy Metal, com riffs grandiosos, guitarras robustas, cozinha sólida e muitos berros agudos. Obviamente, Sebastian Bach merece os maiores créditos. Além de cantar muito, o loirão compôs quase todas as canções. Mas deve-se destacar o trabalho da banda de apoio. A cozinha visceral e principalmente as inserções de “Metal” Mike Chlasciak com riffs e solos dignos do estilo trouxeram peso e fizeram a diferença. Ainda há a ótima produção de Roy Z, um metalhead de primeira. O potencial de Sebastian Bach foi comprovado em “Angel Down”; um grande vocalista e bom compositor, que mostrou ter competência para liderar uma banda – de muita qualidade também, diga-se de passagem. Desde que ouvi pela primeira vez, não saiu mais de minha playlist. Esqueça qualquer tipo de farofada: Bach is f*cking metal!!!


Savage Circus Pei Fon (@poifang | peifang@rockmeeting.net)

Após exaltar tanto o querido Andre Matos (que minha amiga não leve a mal o meu elogio), continuei na onda do Heavy Metal. Nossa! Quanto tempo não escuto este estilo!? Meus primórdios. Enfim, venho aqui falar de uma banda que num determinado período passei a adorar/odiar/gostar. Deu para entender alguma coisa? Continue lendo e entenderá o porquê. A banda em questão é Savage Circus. Bateu uma saudade de ouvi-los. Estava selecionando algumas músicas para criar uma playlist e ouvir no celular. Lembrei-me dos alemães. O álbum é “Dreamland Manor” de 2005, seu primeiro full-lenght. O álbum tem uma forte influência emocional para mim. Esteve nos meus bons e maus momentos, num dos períodos mais difíceis que passei. É muito possível você relacionar uma banda ou cd a alguém. Num breve espaço de tempo, passei a adorar e a odiar o Savage Circus por conta da relação afetiva. Era inevitável ouvir e não remeter a outrem. Ainda bem que este período declinou e pude 55

voltar a escutar sem o problema outrora. Gosto muitíssimo de “Dreamland Manor”. Álbum sensacional. Para quem gosta do bom Power Metal com pitadas de Speed, algumas vezes, vai ficar impressionado. Numa primeira ouvida, por um descuido, pode achar que é Blind Guardian. O vocalista Jen Carlsson tem um timbre muito parecido, para não dizer igual, ao de Hansi Kürsch (Blind Guardian). No início, pode até parecer imitação, mas, cara, é muito igual. Confesso que gostei mais de ouvir Carlsson que Kürsch. Ouso dizer, ainda, que prefiro Savage a Blind. Gosto é gosto! Eu realmente gosto muito do disco e fica até difícil dizer quais músicas é minha preferida. Fico realmente muito envolvida com “Dreamland Manor”, algo muito difícil de acontecer. Mas vamos lá, destaco: “Eyes Evil”, “Between the devil and the sea”, “Tomorrowland”, “It – The Gathering”, “When hell awakes” (a que mais gosto), “Ghost Story” e “Born again by the night”. Caramba, foram quase todas as músicas do cd. Hahahaha.



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