Revista Rock Meeting #38

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Editorial

Força N

o sentido semântico da palavra, força significa fortaleza, rigidez, esforço e outros significados. Porém, a questão é onde buscar força quando não a tem? Pode parecer um diário, um confessionário, um... sei lá, o que você quiser chamar, mas é difícil levar um tombo e se recuperar facilmente. E como bem já devem saber, em situações assim, você reconhece quem estão ao seu lado e quem está por conveniência,

que só querem saber de sua vitória/felicidade e na dificuldade/tristeza são os primeiros que fogem. “Infelizmente, a vida não é como imaginamos”. Aos que estão lutando pelo seu espaço, tenha força para continuar. Os caminhos podem ser tortuosos, mas a recompensa vem com o trabalho, o esforço, a força. Esta é uma mensagem que vai além da concepção musical, é uma realidade da vida. Para tanto, nós desejamos força.


Table of Contents 04 - Coluna - Doomal 08 - News - World Metal 13 - Entrevista - The Gaslight Anthem 26 - Show - Dead Fish 31 - Capa - The Black Pacific 41 - Entrevista - Panzer 49 - Entrevista - Monster Coyote 53 - Entrevista - Born From Pain 63 - Coluna - Review 66 - Show - Deslucro 69 - Coluna - Rock Game 71 - O que estou ouvindo?


Direção Geral

Pei Fon

Revisão

Rafael Paolilo

Capa

Alcides Burn

Ilustração

Thiago Santos

Diagramação Pei Fon Lucas Marques Conteúdo

Breno Airan Daniel Lima Isabela Pedrosa João Marcelo Cruz Jonas Sutareli Lucas Marques Colaboradores Mário Lucas Rodrigo Bueno

CONTATO Email: contato@rockmeeting.net Facebook: Revista Rock Meeting Twitter: @rockmeeting Veja os nossos outros links: www.meadiciona.com/rockmeeting


Por Rodrigo Bueno (Funeral Wedding)

Tríplice aliança do Doom - Anathema Após termos mencionado o Paradise Lost na edição anterior, continuamos nessa edição com a sequência da “Tríplice Aliança do Doom Metal”, desta vez com o Anathema. Assim como os garotos de Liverpool “abalaram” o mundo com seu ritmo dançante nos anos 60, anos mais tarde, na mesma Liverpool, surge 5 garotos depressivos e começam a esboçar, em sua sala de ensaio, os primeiros acordes do que viria a ser conhecido como Anathema. Inicialmente como Pagan Angel, os 3 irmãos Cavanagh e seus 2 amigos, Darren White e John Douglas, começaram com sua sonoridade voltada ao death metal, mas com alguns elementos que remetiam ao doom metal. Em 1991, um dos irmãos Cavanagh deixa a banda para a entrada de Duncan Petter-

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son, e assim com essa nova formação, gravam o EP “The Crestfallen (‘92) ”. Este EP atrai atenção da mídia e em seguida eles gravam seu debut “Serenades (‘93)”. Este álbum, além das ótimas canções, possui algumas sonorizações “diferentes”, vide a música “J’ai fait une Promesse”. Uma faixa acústica, com vocais femininos, dando um contraste muito grande com o restante do material. Para mim, essa é um dos pontos altos do disco. Já para alguns amigos, essa música é dispensável. Esse álbum ainda tem seu primeiro “hit”, Sleepless, que anos mais tarde, seria coverizada pelo Cradle of Filth, deixando tão boa quanto a original.


O ano de 1995 começa, e logo temos uma grata surpresa. O lançamento do EP “Pentecost III”, que para mim, talvez o melhor trabalho lançado pelo grupo em sua fase antiga, não desmerecendo os trabalhos anteriores. Nesse EP a banda soa mais coesa, com um senso melódico mais apurado e composições bem estruturadas. Mas nem tudo são flores no caminho desses ingleses, e neste mesmo ano o então vocalista Darren White deixa o grupo, e posteriormente, montaria o “The Blood Divine” com os membros recém saídos do “Cradle of Filth” (The Principle Made Flesh era) e mais adiante ainda a Serotonal. E nesse momento de mudanças, quem assume os vocais é guitar Vincent Cavanagh. No decorrer do ano de ’95 é lançado “The Si-

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lent Enigma”, e o momento é de expectativa para saber como soaria os “novos” vocais dessa banda. A primeira “ouvida” é um tanto estranho, pois são um mezzo gutural, e para todos que estavam acostumados com a sonoridade antiga, pegar um cd novo com os vocais nessa linha é quase impossível não torcer o nariz. Um ano se passa e lançam “Eternity”. Para muitos, é o melhor disco. Ou pelo menos, o mais inspirado feito por essa nova fase da banda. Lembro que já nessa época algumas revistas estavam descendo o malho neles e no Katatonia, pela mudança de andamentos e estilo dizendo que não dariam mais dois anos para ambas as bandas aposentarem. Mas o melhor ainda estava por vir. Nessa altura o baterista John Douglas, havia deixado a banda e em seu lugar, estava Shaun Taylor-Steel que posteriormente entraria no My Dying Bride. Com essa nova formação, gravaram o álbum “Alternative 4”. Um álbum cheio de sentimento e melancolia. Lembro que nessa época a “mídia especializada” já havia desistido da banda, alegando que estavam tocan-


do um popzinho chato. Lembro, que no início dos anos 2000, cheguei a escutar algumas músicas e havia achado maçante e sem sal. Um ano após o lançamento, com o baterista John Douglas novamente ocupando o posto, e com o baixista Dace Pybus, no lugar de Duncan, eles lançaram “Judgement”. Este álbum consegue ser tão bom quanto o seu antecessor e contém uma das melhores faixas já compostas por eles. One Last Goodbye é uma música tão forte emocionalmente, e que para mim toca de uma maneira ímpar, pois fez parte da minha trilha sonora pessoal num momento muito difícil. Assim como sua composição também deu-se num momento infeliz na vida dos irmãos Cavanagh, pois sua mãe acabara de morrer de câncer. Já nos idos de 2005/2006, fui vasculhar a internet atrás de algo diferente para ouvir, eis que olho numa lista de download do falecido mIRC e lá estava os álbuns “Judgement” e “Alternative 4”. Logo, resolvi dar uma nova chance a eles, e digo que foi a melhor coisa que fiz na vida. Após ter me viciado nesses dois álbuns, que antes havia torcido o nariz, resolvi revisitar minhas antigas revistas, até achar a edição que continha a resenha desse álbum. Após lê-la 10 anos depois, vi que esse álbum estava a anos de distância de

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sua época. É incrível ver o poder dessa faixa em questão, pois em um vídeo que assisti no You Tube, numa apresentação ao vivo, onde a platéia canta um trecho da música e o vocalista Vincent cai no choro. É impossível não se emocionar com essa cena. Se todos fazem questão de escolher uma música para tocar em seu funeral, com certeza essa estaria no playlist para tocar no meu. Já no início dos anos 2000, a banda foi migrando para uma levada mais Depressive Rock. Hoje em dia, algo como Atmospheric Rock, dando uma ênfase muito grande para suas viagens. Quem sabe daqui há uns 10 anos eu acabe escutando, compreendendo o que tinham em mente e acabe por confirmar que eles estão sempre à frente de seu tempo.



Ofensa O vocalista do Aerosmith, Steven Tyler, declarou em entrevista que se ofende ouvindo Kiss. “É diferente. Um lick do Kiss e um lick de Joe Perry – dois mundos diferentes. E eu, por vezes, dependendo do momento do dia, me ofendo. Eu ouço aquilo e penso, ‘beleza, mas eles realmente querem dizer isso mesmo?’ E, ‘Sobre o que é isso? ’ É por isso que eu acho que o Aerosmith é tão duradouro. A gente se leva a sério.” Já Paul Stanley, frontman dos mascarados, respondeu à altura: “Talvez o Steven esteja se sentindo meio cheio de si porque ele tem um álbum saindo [o “Music Form Another Dimension]. Quando o álbum deles sair, vamos comparar com o nosso [o “Monster”] e deixar a música falar por si”.

Stones na ativa

Time de peso

Os Rolling Stones completaram 50 anos de carreira em julho último. Para tanto, vão fazer quatro shows para comemorar a data com um público seleto e sortudo, nos dias 25 e 29 de novembro, no O2 Arena, em Londres, e nos dias 13 e 15 de dezembro, no Prudential Center, em Nova Jersey. Ainda em novembro, a banda lança a coletânea “Grrr!”, com duas músicas inéditas: “Doom And Gloom” e “One More Shot”. O quarteto sessentão estaria ensaiando mais de 70 músicas.

O vocalista turco Oganalp Canatan lança no início de 2013 o debut de seu novo projeto, o Maegi. O álbum “Skies Fall” contará com as participações especiais de figuras como Tim Ripper Owens (Dio Disciples, Yngwie Malmsteen, Judas Priest, Iced Earth), Hansi Kürsch (Blind Guardian), Chris Boltendahl (Grave Digger) e Zak Stevens (Circle II Circle, Savatage), além do guitarrista Jerry Outlaw (Jon Oliva’s Pain). O tracklist conta com 12 faixas.

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Pequeno Danko Jones

Expectativa

Enquanto muitos buscam evolução, Danko Jones vê a situação com ressalvas, como deixou claro ao Toronto Sun. “Não quero crescer. Quando as bandas crescem, ficam ruins. Minhas bandas favoritas nunca evoluíram: AC/DC, Motörhead, Ramones, Slayer permaneceram fiéis à suas histórias. Angus Young costuma dizer que não lança um novo disco, mas outro disco.

De acordo com o fansite The Highway Star, Roger Glover teria revelado que o Deep Purple já possui 14 faixas prontas para o próximo álbum de estúdio. Destas, 11 ou 12 entrarão na edição convencional. A previsão de lançamento é para fevereiro do ano que vem.

14x The Who Chegará às lojas em 19 de novembro o box “The Studio Albums”, contendo todos os 11 discos de estúdio lançados pelo The Who em sua carreira. Os títulos virão em novas edições em 14 vinis de 180 gramas – “Tommy”, “Quadrophenia” e “Endless Wire” são duplos. Todos os álbuns foram remasterizados nos estúdios Close to the Edge e Metropolis por Jon Astley e Miles Showell, que trabalham com a banda há décadas. Além disso, as artes originais das capas foram reproduzidas e, pra fechar com chave de ouro, os pôsteres que acompanhavam as edições originais de “The Who Sell Out” e “Face Dances” foram incluídos no pacote.

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Atrações do RnR 2013 Metallica, Iron Maiden, Bruce Springsteen e Sepultura. As atrações foram confirmados em entrevista coletiva que foi realizada em meados de outubro, no Cristo Redentor, no Rio de Janeiro. A edição do Rock In Rio de 2013 no Brasil é a primeira com a parceria de Eike Batista e ocorre nos dias 13, 14, 15, 19, 20 e 21 de setembro. Os ingressos custarão R$260 reais (não haverá taxa de conveniência). Inicialmente, serão disponibilizados para venda 80 mil rockcards – que permitem a posterior troca pelos ingressos. Os demais ingressos serão vendidos em abril. Roberto Medina informou que o evento terá 15.000 ingressos a menos por dia que a última edição.

Metallica forever?

Vinho, imaginaerum?

Enquanto alguns colegas de geração já planejam pendurar chuteiras, o guitarrista Kirk Hammet espera que o Metallica tenha, no mínimo, mais duas décadas pela frente. “A palavra aposentadoria não se encaixa em meus pensamentos. Sem contar que, quando se atinge determinado status, as pessoas simplesmente não deixam que você pense na possibilidade. Sempre haverá alguém para lembrar quem você é e o que fez”, declarou o músico ao Loudwire.

A banda finlandesa Nightwish não para de lançar objetos de desejo. Entre camisas, cds, lp, livros e outros mimos, agora é a vez de uma linha de vinho batizado com o nome do último álbum deles, Imaginaerum. A banda soltou um vídeo promocional do tal vinho, que diz: “Imaginaerum, é o vinho mais pesado do mundo!”. Será? Veja o vídeo promocional AQUI

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Novo do Avantasia

Destruction por aqui?

Em comunicado oficial, Tobias Sammet anunciou que deve entrar em estúdio com o produtor Sacha Paeth para dar início aos trabalhos em um novo disco do Avantasia. “O novo material soa renovado sem perder a vibração dos anteriores. Os nossos últimos discos foram os mais bem sucedidos, mas não quero criar muitas expectativas”, conta. A previsão de lançamento é para o segundo trimestre de 2013.

Ao contrário do que determinado promotor de festival picareta escreveu recentemente, o Destruction não ficará muito tempo sem passar pela América do Sul. Na verdade, a banda pretende vir duas vezes para o continente em 2013. Em comunicado oficial, o trio germânico revelou novas datas, após o cancelamento das anteriores. Serão dois momentos: em janeiro/fevereiro e no final de 2013, conta a banda. Recife, 02 de fevereiro.

Viril e cristão Depois de dizer que Ke$ha é o Robert Plant do mundo pop e de fazer cover da atual rainha do estilo, a excêntrica Lady Gaga, o vocalista e compositor Alice Cooper pontuou ao periódico britânico Independent que falta atitude aos jovens roqueiros da atualidade. “Os garotos hoje tocam guitarra com o cérebro e não com a virilha. Eu vivi a era do Keith Moon, do John Lennon, do clube onde todos nós bebíamos, o Hollywood Vampires. Eu estava morrendo aos 27 anos”, conta o músico. Ele ainda traça na entrevista sua nova empreitada, sóbrio e longe dos desígnios do inferno, e diz que “cada palavra escrita na Bíblia é verdadeira” e que acredita piamente no Velho Testamento. 11



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O sonho americ Texto e fotos: Mauricio Melo (Correspondente – Espanha)

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o lado de fora da sala Apolo em Barcelona, um dia bem normal, um dia que se não fosse o papel formato A4 colado na porta informando o horário das apresentações, poderia passar totalmente despercebido. Um mesmo evento, numa cidade como Londres, a coisa poderia ser bem distinta já que a banda The Gaslight Anthem foi responsável por lotar a Brixton Academy, entre outras, recentemente. O calor europeu apresenta seu cartão de visita. Uma pequena porta da Sala Apolo está aberta sem vigilância, o que credencia a qualquer ser humano o poder de entrar. Após dois lances de escada, já é possível ver a banda, espalhada em diferentes pontos da sala concedendo entrevistas para diferentes veículos. Fomos bem recebidos pelos representantes da Side One Dummy na Europa, como de praxe, e ainda que quiséssemos ser discretos, para não atrapalhar Brian e Alex junto a atual entrevista para uma revista espanhola, o simpático vocalista desvia levemente o olhar e nos cumprimenta como se fossemos amigos de longa data. Entre este momento e o início de nossa entrevista, uma rápida pausa para fotos, estilo promocional e para fugir do ruído da passagem de som, fomos obrigados a deixar a comodidade do ar condicionado para ir ao terraço da Apolo e curtir o calor do verão Europeu. Ainda que tivéssemos sombra e água fresca, literalmente, Brian e Alex já davam sinais de cansaço após o show da noite ante15

rior, em que foram a banda de abertura para o Foo Fighters num lotado ginásio em Madrid. Apesar de não perderem nunca a tão marcante simpatia e humildade, o desafio era de fazer com que a entrevista não soasse repetitiva, ainda que, por obrigatoriedade e por se tratar de uma banda à ser “apresentada” a uma grande parte do público brasileiro, algumas perguntas seriam óbvias mas nada que incomodasse ninguém nos 13 minutos que tivemos direito. Por falar em apresentar a banda, um rápido highlight sobre eles. Até o ano de 2008 era uma desconhecida banda de New Brunswick (Nova Jersey), um pequeno bairro próximo onde cresceu Bruce Springsteen. Neste ano lançaram seu segundo disco, 59 Sounds e a vida de Brian (voz), Alex Rosamilia (guitarra), Alex Levine (baixo) e Benny (bateria) mudou por completo. Elogios da imprensa mundial, uma benção em pessoa e palco de Springsteen (que chegou a classificar o disco como melhor da década), apresentações no David Letterman e participações nos melhores festivais do mundo são alguns dos poucos exemplos que podemos dar do quarteto. Engana-se quem acha que com tudo isso os rapazes enlouqueceram ou se deixaram levar pela fama, muito pelo contrário, continuam levando sua vida com normalidade, apesar de desfrutar de mais comodidades. Recentemente mudaram de gravadora e de produtor para a gravação de “Handwritten” em 2012. Compuseram o álbum num sótão de um ami-


cano go, sem essa de ir a uma ilha deserta. Um pouco desta receita de sucesso, vocês podem descobrir agora. Com vocês, The Gaslight Anthem para a Rock Meeting. -O The Gaslight Anthem está em turnê agora mesmo apresentando o novo album após uma cansativa turnê, que foi a do American Slang. Por outro lado, vocês tem o The Horrible Crowes. Este projeto poderá sair em turnê após uma pausa com o TGA ou ficará apenas na função de projeto? Brian - Pensamos sobre isto. Não temos certeza, porque temos que começar o novo disco do The Gaslight Anthem. Não temos certeza de quanto este projeto pode sair em turnê, veremos. O que sabemos é que não podemos deixar de lado o TGA. Teremos que estar focados nesta banda, enquanto isto ficaremos na vontade, tentaremos sim, quem sabe? Seguindo com o Horrible Crowes. Acreditam que algumas músicas poderiam encaixar ou influenciar na composição do algum disco do TGA? Brian - Às vezes acho que sim. Mas não realmente (olhando para Alex), talvez não? Talvez “Behind the Hurricane”? 16


Alex – Sim Brian – Ainda não sei, é um pouco lento para pertencer ao The Gaslight Anthem. No Glastonbury do ano passado, podemos conferir uma grande diversidade no público da banda. Haviam jovens de 18 anos e pessoas bem maiores com 40 ou até 50 anos cantando todas as letras. Podemos considerar que o TGA por ter um público mais variado, tem um público mais sólido? Ou seja, não é um grupo que desperta a atenção so17

mente dos jovens, as letras atingem diferentes faixas etárias? Brian – Estes são nossos shows, todas as idades. Alex – Acredito que esta variação, esta mistura, é um ponto forte. Brian – É uma “construção” sólida. Pelo fato de não sermos tão jovens muita gente se identifica. É como se estivéssemos falando ao mesmo nível Alex – Notamos isso desde o princípio. Na tour do 59 Sound, tocávamos para pessoas que se pareciam conosco. Mas de uma hora


Danny Clinch

Sabemos que a “Side One Dummy” não coloca pressão, mas após 59 Sound, internamente, houve alguma pressão para o fato de conseguir superar este disco? Brian – Sim, sempre existe pressão para o próximo disco. Dentro da banda quero dizer... Alex – Não diria entre nós, mas acho que coloco pressão em mim mesmo e Brian faz o mesmo e os outros membros também. Esta é a idéia. Se você quer fazer a próxima coisa melhor que a última é assim que tem que ser. Após 59 Sounds foi a primeira vez que as pessoas esperavam algo de nós porque até então éramos um grupo.

para outra, notamos gente mais jovem e muitos outros maiores. Era incrível ver tudo isto, pais e filhos, pessoas de outros grupos, etc. Brian – O curioso é que não sabemos como chegamos a esta mistura, a este público. O melhor de crescer aos poucos é que evita que pensem que somos estrelas do rock. Sei que nossa carreira é relativamente curta mas nada foi da noite para o dia. Não somos um grupo punk, mas talvez tenhamos esta ética. É um relacionamento que temos com nosso público, uma identificação. 18

Agora, estando em uma multinacional, a palavra pressão passa a existir com Handwriten? Alex - Não, nenhuma. Inevitável pergunta: como lidar com as situações da internet? Sabemos que recentemente vocês tiveram um problema com um DJ de radio por utilizar uma das músicas do The Horrible Crowes sem permissão... Brian – Querem tocar algo na rádio, tudo bem, pode tocar o que quiserem. Podem tocar suas músicas favoritas mesmo que estas não sejam músicas de trabalho ou algo parecido, sem problemas. Mas não coloque na internet! Porque a rapaziada vai baixar, porque isso vai “matar” todo o processo. Odeio a internet quando se trata de música (e Alex começa a rir). Se quiser lançar singles, como muitos fazem, tudo bem, mas não é assim porque nós lançamos álbuns e gostamos de todo o processo dos álbuns. Não quero que as pessoas pensem que tenho a mentalidade “Ooooh! É meu negócio, eu escrevi!” mas no


fundo é nosso disco. Temos o direito de decidir quando as pessoas irão escutar todo o disco ou uma única música. É o único direito que temos como banda, e fazemos álbuns, somos umas das últimas bandas que ainda se dedica a fazer um conceito de álbum. Porém, existe o outro lado da moeda. 99% do público que o The Gaslight Anthem possui no Brasil, provém da internet, já que o iTunes não é oficialmente aberto no mercado e os discos chegam através de exportação... Brian – O download em si não é um problema. Claro que gosto que as pessoas comprem o disco em sua forma física, todos gostam. Porém, se o lançamento do disco é num 1º de Janeiro e as pessoas baixam a partir do dia 2, sem problemas, de verdade. O problema é quando baixam antes, me sinto roubado, é como abrir um presente de aniversário uma semana antes da data. No caso do Brasil, com os custos altos para os discos e a falta de iTunes, que façam downloads, não nos importamos com isto, apenas façam isto após o dia de lançamento e por favor que baixem todo o disco e não duas ou três canções. Por falar em iTunes, MP3 e outros formatos. Qual a sensação de ter um público que praticamente os conheceu através do MP3? É algo um pouco frio, não? Brian - Adoramos os formatos antigos e as músicas do disco novo tem um pouco desta nostalgia. Discos de vinil, revoluções por minuto. Eu mesmo compro muitos discos na internet e atualmente é minha maior fonte de música e só compro discos de verdade quando realmente valem à pena. Mas a verdade é que me entristece um pouco saber o quanto se perde quando só se escuta através dos fones de ouvido no MP3. Como foi trabalhar com Brendan O Brian? Brian – Impressionante! Com certeza, o melhor produtor que já trabalhamos e a gravadora não se meteu no processo de gravação. Não é obcecado por detalhes técnicos e tenta fazer com que todos se sintam cômodos. Apesar 19


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de que passar de um gravadora independente, para uma multinacional, como foi nosso caso, restrições e exigências nunca tivemos. Não que ele tenha facilitado tudo mas, as coisas fluíram de uma maneira muito natural. E as letras deste disco? Brian - Sim, foram escritas à mão, como diz o título do disco. Escrevi num caderninho de bolso que está sempre comigo. Isso te deixa mais próximo de tudo. Dá mais sentimento as musicas, já que escrever numa máquina é algo mais frio. A idéia de “Great Expectations” vem de um livro de Dickens. Para o novo disco, alguma nova inspiração do tipo? Brian – Para o novo disco teremos bastante de filmes do David Lynch e romances, romances escuros. Também voltei a morar em Nova Jersey e tem bastante coisa sobre a “magia” local. Existe algo pessoal por trás do vídeo 59 Sound? Brian – É sobre um homem olhando para o passado, para sua vida e tendo lembranças através das fotos e finaliza quando este homem no final é o garoto do início do vídeo. O garoto que segura a foto do homem no inicio, é o homem que segura a foto do menino no final. É sobre um homem envelhecendo, nada pessoal com ninguém da banda. Em seu blog, Cassetes on the Mailbox, você menciona que vem de uma familia religiosa.

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Divulgação

Esta influencia é utilizada para se expressar quando compõe as músicas? Acredita que suas letras podem ajudar a outras pessoas? Brian – Sempre, sempre utilizo. Está sempre dentro de sua cabeça. Nós estudamos numa escola católica (apontando para Alex), cresci protestante mas vejo bastante similaridade com a católica. Está sempre conosco. Cresci cantando hinos religiosos e foi importante para mim, acho que tudo isso teve a ver com nosso Êxito. Falo por mim, mas é o que me mantém concentrado. Penso muito sobre de onde vim e para onde vamos quando tudo se acaba. E isso que procuro e não procuro as festas, badalações ou as drogas e talvez por isso passei de pedreiro da construção e com pouco estudo a estar num grupo de música conhecido. Não sei se todos pensam assim, 23

como disse opino por mim. Alex - Acabamos de chegar da Sagrada Família, é impressionante. Brian - Com relação às letras, não as escrevo pensando em ajudar ou salvar alguém mas se ajuda à alguém, se tem este lado positivo, não podemos nos queixar, fico feliz. Nos dois primeiros discos as letras falavam de experiências de terceiros, em American Slang os temas estavam mais pessoais e o mesmo acontece agora. Porque esta mudança? Brian – Envelhecemos. Daí começa a pensar em outras coisas, tudo muda quando você começa a conhecer pessoas, países, viajar, etc. Quando está em turnê, começa a se deparar com um monte de coisas inéditas em sua vida. Por um lado existe um sacrifício para


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chegar ao ponto que você quer, quando atinge ao êxito, tem que aprender a lidar com questões que existem dentro de você. Quando se chega a uma idade, nos damos conta que alguns sonhos não são tão importantes quanto sua família e pessoas a seu redor. Qual relação vocês tem com o Jersey Shore Soud e todas as bandas que vem de lá como Springsteen, BonJovi, Bouncing Souls, Lifetime, etc? Brian – É perfeito, adoramos! É a nossa coisa. Existe algo dos velhos tempos do qual vocês sentem saudades? Brian e Alex – (risos) Não, muito sofrimento! Alex – Não sinto falta de trabalhar no mer24

cado. Brian – Não sinto falta de sofrimento. Vocês tinham idéia de que existe um bom público brasileiro à espera do The Gaslight Anthem? Alex – Nunca me passou pela cabeça. Alguma chance de nos fazer uma visita? Brian – Definitivamente! Alex – quero ir para a Copa do Mundo. Principalmente para assistir aos jogos do Brasil se possível. Obrigado a ambos... Brian - Obrigado a vocês pela oportunidade. Nós que agradecemos.



HARDCORE É RESISTÊNCIA!

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Por João Marcelo Cruz (@jota_m | jomarcelo_@hotmail.com) Fotos: Pei Fon (@poifang | peifang@rockmeeting.net)

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cá estamos nós em mais um show do Dead Fish. É complicado, para mim, falar deles com imparcialidade quando, na verdade, o que está envolvido é algo muito mais emocional. DF é uma daquelas bandas responsáveis pela minha formação tanto no hardcore, como na vida. Apesar de todo aquele papo recorrente de ‘modinha/mtv/mainstream’ – a banda nunca deixou de representar sua essência. Tanto é que o último disco, “Contra Todos”, foi uma bela resposta para os que insistiam em taxar a banda. Mais uma noite na Praça Rayol. As minhas expectativas para o público foram exatas. Cerca de 900 pessoas fizeram parte da festa. Muita gente, muita gente mesmo. E aqui vou ressaltar o único ponto negativo da noite. A lotação. Acredito que foram vendidos mais ingressos do que o local poderia comportar. A minha primeira sensação, ao entrar na casa, foi de claustrofobia e por mais 27

estruturada que seja a casa, circular pelo local estava muito desagradável. Esse fato me fez passar boa parte da noite na parte dos fundos da casa. Dando início as apresentações da noite, a Varial fez seu papel. Tratou de começar a aquecer a rapaziada. Fazia muito tempo que não assistia a Varial tocando. Não percebi nenhuma mudança no som. Continuam fazendo aquele som melódico com pegadas mais pesadas. Já na formação notei uma mudança na bateria. Saiu o Junior ‘Turbo’ e entrou Ivalter Júnior. Pode-se dizer que a substituição foi à altura, ambos tem a raiz no metal, e acredito que o Ivalter vai continuar mantendo o peso da banda. Na sequência veio a Coffeeshop. Mais um bom show dos caras, dessa vez, a apresentação marcou o lançamento oficial do EP dos meninos. Já escrevi sobre eles recentemente, no show do Bullet Bane. Novamente foi na mesma pegada. A ascensão da banda


é impressionante pra tão pouco tempo de vida. É isso que acontece quando se passa a encarar a banda com comprometimento e dedicação. Já foi possível ver o público cantando boa parte das músicas. Dando continuidade, chegara um dos ápices da noite. A tão esperada volta da Mutação! Fiquei imaginando quantas pessoas estavam ali, que foram mais pela MUT do que pelo DF...Que foram ver um show deles pela primeira vez... É engraçado. Quando a MUT parou, pareceu que ela deixou uma geração de filhos órfãos. Eu não sentia muita falta da MUT por ter vistos muitos shows deles no auge. Acabei enjoando. Também cheguei a ver algumas prévias da volta com outras formações e também não gostei. Mas quando começaram a tocar, em pouco tempo eu estava lá na frente do palco. E foi impressionante que mesmo anos sem escutar o som, eu tinha todas as letras na ponta da língua. Não foi só eu, era possível ver a galera ‘das antigas’ cantando e curtindo como há uns seis anos atrás. Sem pagar pau, foi de arrepiar. A roda comia no centro. O repertório foi composto pelas clássicas do primeiro e único CD, “Por Que?” de 2004. E mais algumas ‘novas’ que já circulavam pela internet como “Bullying” e “Otimismo Aparente II”. A grande novidade na formação não foi nem o novo guitarrista e nem o baixista. Por já serem conhecidos por seus talentos com seus respectivos instrumentos, já esperava um bom resultado. Quem me surpreendeu foi o novo vocalista, Saulo Lessa. Finalmente a Mutação vai poder superar o trauma pós-saída do Allan. É claro que não vou me aprofundar em comparações. A banda segue em nova fase, e como disse Lulu Santos, ‘nada do que foi será de novo 28


do jeito que já foi um dia’. Agora é esperar pelas novas produções da banda. Finalmente era a vez do Dead Fish subir ao palco e voltar a sentir aquele liquidificador de emoções. Mais acima, eu falei que a lotação foi o único ponto negativo da noite né? Minto. A demora para o DF começar a tocar foi outro ponto negativo. Foi quase uma hora de embaço, totalmente recompensado em cerca de uma hora e meia de show. Pra ser mais preciso, em 30 músicas. Grande parte do repertório ficou entre o ‘Contra Todos’ e ‘ Zero e Um’. Mas é claro que clássicos dos discos ‘Sonho Médio’ e ‘Afasia’ não ficaram de fora. Era fácil perceber que a banda estava à vontade. Desde o início da noite deu pra ver os caras circulando e sendo atenciosos e solícitos com os fãs. Logo no começo do show, Rodrigo tratou de avisar com veemência aos seguranças “Pode deixar os meninos subir,

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não tem problema”. Muito lindo isso. Free Pass for Stage Dives. A rapaziada cumpriu seu papel. Até um bodyboard apareceu no meio da massa. O público estava insano! E entre cada bloco de músicas, Rodrigo aproveitava para conversar e interagir com o público. Nas músicas clássicas como “Mulheres Negras”, “Sonho Médio” e tantas outras, o feeling ali na hora era incrível! De emocionar mesmo! O resto do show foi conforme manda o figurino. Uma cacetada atrás da outra. Quando todo aquele caos acabou. Fiquei meio tonto, meio abobado, processando todas as imagens e sentimentos que aquela noite tinha proporcionado. Para um dia 12 de Outubro, foi um puta presente para criançada e também para aqueles, que mesmo mais idosos, ainda se permitem brincar como na adolescência. Isso resume bem esse show. A volta da Mutação + Dead Fish foi um prato cheio pros nostálgico como eu. Aposto que muita gente também teve essa sensação. E como sempre costumo dizer, que tudo isso sirva de combustível, afinal, @s garot@s ainda estão aí, gritando por mudança.


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Por Maurício Melo (Correspondente Internacional – Espanha)

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MaurĂ­cio Melo

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“Não é porque saí da band parar de tocar, é algo que

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ei que é um erro apresentar uma entrevista ou matéria, qualquer que seja, em primeira pessoa, mas dessa vez vou quebrar o protocolo. Soube que um encontro com Jim Lindberg não seria impossível quando a banda confirmou presença no Eastpak Antidote Tour. Fiquei imensamente surpreso em conseguir sem dificuldades tal encontro. Tudo bem que contamos com um apoio mais que absoluto da Side One Dummy para estas missões e como The Black Pacific está jogando no time deles tudo acabou sendo facilitado. A organização do evento, na noite anterior, telefonou para confirmar minha presença e entrevista. Ao desligar o telefone a ansiedade começou, “maldito” telefonema. Cheguei tão cedo que ainda vi o ensaio da banda, logo, fui o primeiro a entrar no backstage e incomodar Lindberg, que estava conectado à internet. Pensei: Putz! Como te persegui e segui... Estive em vários shows do Pennywise e esperava cada lançamento da banda desde que a conheci com “Unknown Road”. Quantas vezes a trilha sonora de “Hermosa Beach California” foi a escolhida para as minhas - e porque não nossas - aventuras? Quem nunca colocou o bonezinho com o bermudão e saiu por aí cantando algum refrão cantado por Jim Lindberg? Algo que se faz quando se é jovem, mas não se arrepende quando atinge uma certa idade, porque nem o tempo apaga tais atos. Este sou eu, 33

após a entrevista e o show. Retornei pra casa com um brilho nos olhos. Foi como voltar no tempo e descobrir que ainda há tempo pra muito. Espero que quem leia esta entrevista, goste dela tanto quanto eu. Gostaria de ter conversado muito mais com o The Black Pacific, mas tive vinte minutos que passaram assombrosamente voando. O que pude perceber é que Jim Lindberg está feliz com sua nova banda e a mesma está feliz com ele. O músico deseja tudo de positivo aos antigos companheiros e que em breve estará chegando a América do Sul. A Rock Meeting pode se orgulhar de ser uma das primeiras revistas no Brasil e na América Latina dedicada ao estilo a publicar uma entrevista com The Black Pacific. E como mesmo disse Jim, Pennywise for life!!!


da que vou vou seguir.”

Começamos então apresentando a banda: The Black Pacific já existia como ideia antes de sua saída do Pennywise ou foi algo totalmente recente? Jim Lindberg: Começou logo após minha saída. Não queria mais estar na banda, já não era o que foi um dia. Estávamos discutindo uma série de coisas sobre isto. Decidi sair, mas isso não quer dizer que queria parar de fazer música. Praticamente na mesma semana em que decidi sair da banda telefonei para Alan (Vega), que tinha conhecido numa “Vans Warped Tour”, excelente baterista e o projeto iniciou. Foi algo que comecei após o Pennywise, mas quero deixar claro que sempre compus músicas enquanto estive na banda, músicas para mim, para a banda e algumas das mú34

sicas, que agora estão com The Black Pacific, eu já tinha escrito há praticamente dez anos. “Kill Your Idols” é uma delas e “No Purpose”, que fecha o disco, também. Alan tem um estúdio e logo iniciou a trabalhar nas músicas; participei um pouco mais e as coisas funcionaram muito bem. Nesta época estávamos com o baixista Davary Latter, um amigo, mas que já toca com sua banda e não conseguiu conciliar as duas, tendo que sair. Após gravar o disco, ficamos satisfeitos com o resultado e conversamos com a Side One Dummy para lançar e adicionamos dois novos integrantes na banda: Marc Orrel, na guitarra, e Gavin Caswell, no baixo. Assim demos um início definitivo no The Black Pacific. Apesar da boa experiência que vocês têm na estrada, Marc – sendo ex-integrante do Dropkick Murphys, por exemplo – como é estar numa banda com Lindberg e com toda bagagem que ele tem no punk rock melódico? Alan Vega: Excelente. Musicalmente acho que nos encaixamos muito bem. Com tudo que já fizemos por aí, chegar a este ponto e as coisas não falharem… Marc Orrel: É realmente bom trabalhar com Jim pelo fato dele ser um pioneiro no punk-rock californiano; mas não só por isso, particularmente é um cara legal e tudo funciona muito bem. Jim: Estamos todos na mesma banda, tocando a mesma música e até o momento as coisas fluem fácil e confortavelmente. Trabalhamos juntos, é isso! Quando se fala em Pennywise, Bad Religion ou Biohazard o que vem em mente é uma banda. Quando integrantes de


bandas saem dos seus grupos e criam uma nova banda, sempre tem aquela marca “a nova banda do...” como Soulfly, por exemplo, que por mais de década foi a “nova banda do Max Cavallera” até que já passou desta fase. Você tem algum receio de que o The Black Pacific se torne de alguma maneira a nova banda de Jim Lindberg, deixando de lado o nome The Black Pacific? Jim - Definitivamente não. Sei que irá haver comparações, porque minhas composições giram em torno de um estilo, ainda que tenham guitarras punk-rock ou distorcidas. Por ter uma voz marcante sempre haverá comparações. Porém, ao mesmo tempo, sinto que esta é uma banda própria e acredito que aconteça o mesmo que aconteceu com o Soulfly. Entretanto, é impossível ignorar certos fatos. Marc também esteve com o Dropkick Murphys e sempre vão mencionar nossas bandas antigas quando tiverem oportunidade. Com certeza, este disco vai receber muitas comparações, no próximo a poeira baixa um pouco. Existe algo interessante por trás do nome The Black Pacific? Jim - Acredito que sim. Praticamente cresci na praia. Todos sabem que Hermosa Beach e o Pacifico sempre representaram uma grande parte na minha vida. Tinha a vista do oceano diariamente. Representa grandes lembranças de minha infância, mas também um reconhecimento de algo escuro de todas as coisas. O 35


Pacífico é um nome que fala por si e, ao mesmo tempo, é imenso e profundo, de onde podem vir os maiores medos das pessoas, uma mistura de tudo. A banda iniciou as atividades como um trio, o que te colocava como guitarrista. Atualmente, como um quarteto, você abandonou a guitarra ou temos duas guitarras no palco, o que deixa o som mais pesado. Como está sendo esta nova experiência? Jim – Estou habituado a compor com a guitarra. Fiz o disco todo e muita coisa com Shaun Lopez, que foi nosso produtor, mas sempre soube que quando chegasse o momento de sair em turnê, por não ter experiência no palco, achariamos melhor adicionar um segundo guitarrista. Enquanto trio, as gravações foram legais, mas na estrada dividir o microfone com a guitarra durante todo um show seria complicado, então pedi ao Marc para me resgatar. Como foi trabalhar com Shaun Lopez? Jim - Foi fantástico! Ele teve uma banda bastante conhecida, chamada Far. Ela era bem-parecida com a Deftones. Particularmente, gosto muito das guitarras destas duas bandas, são bastante densas. Muitos de seus equipamentos são vintage, customizados e personalizados, o que dá a oportunidade de criar um som diferenciado. Além de trabalhar muito rápido, ele 36

sabia o que queria desde o princípio. Sabia como criar os sons de guitarra para nos ajudar onde queríamos chegar e confesso que a primeira vez que escutei as guitarras super densas disse a ele: “cara isso é demais e acho que o baixo não vai encaixar e etc”, mas ele sabia exatamente o que estava fazendo. E esta é a vantagem de estar com Shaun: ele é bastante respeitado, um grande guitarrista e vi tudo de perto durante as gravações. Muitas vezes tentávamos umas vinte vezes e eu sentia que ele tinha vontade de pegar a guitarra e gravar no primeiro take (risos). Dois lados de uma mesma moeda. Por um lado a banda já começa grande, participando de bons festivais como este (Eastpak Antidote Tour) e outros e por outro “abrindo” para o SUM 41 que há anos atrás serviriam para abrir para vocês. É um pouco estranho tudo isso ou apenas uma outra perspectiva? Alan - Nos traz uma certa energia, porém já não temos o que provar a cada noite. Normalmente achamos legal que as pessoas reconheçam nosso valor anterior, mas por outro lado é bom estar numa “briga” para chamar atenção para algo novo. Jim - Iremos ao palco de qualquer maneira, seja abrindo ou como banda principal. Jim, você é bem conhecido por suas letras políticas e músicas como Society, Fuck Authority, duras críticas ao go-


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verno Bush. Por coincidência, este senhor colocou recentemente à venda sua auto-biografia e vendeu 220 mil cópias no primeiro dia. Você vai ler? Provavelmente sim. Será interessante ver e descobrir quais foram as razões para suas decisões. Algo que lembro é que, quando você tem uma banda como Pennywise, falar sobre Bush ser eleito é dizer que as coisas irão piorar (risos). Acho que atualmente, olhando para trás, historicamente falando, as pessoas terão ideias diferentes. O problema com os americanos que não se envolvem com a política, é que eles não veem o mundo da mesma maneira que nós, apenas olham para o próprio umbigo, para o próprio país e não sabem ou imaginam que isso pode afetar ou o quanto pode afetar pessoas de outros países. Ás vezes são arrogantes ou nos veem assim. Lembro-me há quinze que todos gostavam dos americanos e quando Bush chegou passamos a ser odiados - ou mais odiados. Porém, muitos de nós discordamos de sua política e da de muitos outros. Acho que expressei muitas destas opiniões com o Pennywise e esta banda nova será menos política ou com uma diferente perspectiva de criticar política. Após tantos anos com Epitaph, como é estar numa nova casa, Side One Dummy? Jim - Gavin é um grande amigo da galera de Side One Dummy e pode responder melhor esta pergunta. Gavin Caswell - São dois selos diferentes e, consequentemente, trabalham de formas diferentes. Side One é menor, tem pouca gente e as pessoas que trabalham nela são totalmente apaixonadas pelo que fazem. Jim - Side One dedica-se bastante às bandas assim como a Epitaph. Acredito que por ser menor escolhe as bandas que gostam e não bandas que vendem. Assina com bandas que com certeza nunca serão número um da Bilboard ou algo do tipo, mas fazem um contrato porque gostam da banda, das pessoas que estão nela e não porque apostam que a banda será a nova sensação.


Existe uma grande discussão entre antigos e novos fãs da banda Pennywise sobre ir ou não ao show ou comprar discos. Uns dizem que a banda nunca será a mesma, outros dizem que pode funcionar, etc... Jim - É uma situação difícil pra mim, porque o que aconteceu no Pennywise foi uma discordância de opiniões, numa infinidade de pontos de vista e não apenas em um, tanto em estúdio quanto em turnês. Chegou a um ponto em que minha “voz” já não era ouvida dentro da banda. Era impossível pra mim decidir algo porque nossas ideias já não se encaixavam. Então, me senti à vontade, forte e orgulhoso da maneira de como saí da banda. Nos juntamos e falei das coisas que não funcionavam pra mim e já não fazia sentido. Disse que poderia seguir com a banda se eles concordassem com certas coisas, senão eu mesmo ajudaria a encontrar um novo vocalista. Sei que querem sair em turnê por dez 39

meses e merecem fazer isso, não quero segurar ninguém para depois ficarem zangados comigo. Ajudo a encontrar alguém e sugeri Zoli como vocalista e até adaptá-lo nas bases de voz para o estilo da banda. Não foi uma situação tipo: “dane-se galera, odeio vocês!”. Não foi assim. Disse que se queriam seguir adiante, que o fizessem. Se as pessoas querem ir aos shows e escutar músicas do Pennywise e eu não estarei lá, tudo bem! É muito estranho ter uma pessoa cantando músicas que escrevi sobre experiências, sentimentos e visões particulares sobre alguns temas. É estranho, mas sei que Zoli é um excelente vocalista e que podem seguir tocando já que o escolheram. Já disse várias vezes que toco este tipo de música desde que tinha doze anos de idade com influências de Descendents e Black Flag. Me juntei ao Pennywise com 21 anos. Continuarei tocando música do meu estilo, fiz um bom trabalho enquanto estive com Pennywise, mas não é


porque saí da banda que vou parar de tocar, é algo que vou seguir. De alguma maneira, sempre vem à tona a frase ‘divergência de ideias’ com sua antiga banda. Alguma mais grave? Jim - Após todos estes anos com Pennywise, nunca me recuperei da morte de Jason (antigo baixista). Muitas vezes me senti triste, tentava esquecer e seguir adiante, mas a verdade é que quando estávamos em turnê já não era tão divertido assim. Foi uma terrível tragédia. Para os fãs, escutar “Bro-Hymn” é legal, música marcante e tal, sobre amizade, irmandade igualmente foi pra mim um dia. Porém ir ao palco a cada noite e lembrar de tudo o que aconteceu era muito duro para quem viveu aquele momento. Outra coisa é que agora tenho família, que começou na mesma época. Meu primeiro filho nasceu e não tive tempo para processar tudo. Minha vida se tornou, pelo menos nos dez anos seguintes, uma extrema felicidade por ter uma nova família, esposa, filho e paralelamente rara tristeza com tudo que aconteceu. Tenho muito respeito por eles e por tudo que fizemos e simplesmente já não funcionava. Queria mudar e acho que fiz a coisa certa, me sinto renovado. A pergunta que todo mundo quer ler. The Black Pacific no Brasil? Jim - Sim, definitivamente. Alan – Eventualmente. Alguma mensagem pra galera? Jim - Pennywise for life e The Black Pacific será uma nova banda a somar na cena musical e acredito que as pessoas de mente aberta irão gostar do que estamos fazendo.

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ENTREVISTA

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“A volta dos que não foram” Por Pei Fon (@poifang | peifang@rockmeeting.net) Fotos: Ana Carla

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Panzer foi uma daquelas bandas que no ápice declinou. Foram dez longos anos à espera do retorno do quarteto paulista. Porém, os músicos não se mostram enferrujados, dois remanescentes da primeira formação continuam e foram eles que fizeram ressurgir das cinzas e da memória dos fãs quão pesado era o som deles. Em uma conversa super divertida com Edson Graseffi (baterista) e André Pars (guitarra) ele nos conta como foi o período de separação, o que ficaram fazendo e, principalmente, o que podemos esperar deles neste retorno. Sem se alongar mais, acompanhe a entrevista que a Rock Meeting fez com o Edson. - Olá pessoal do Panzer, é um prazer enorme entrevistá-los neste retorno. Sintam-se à vontade, não meçam palavras e, primeiro de tudo, com esta nova formação, apresentem-se para os nossos leitores. Edson Graseffi: Antes de tudo, obrigado pelo espaço cedido pela Rock Meeting e pelo seu interesse pela nossa música. Bem, o Panzer esta de volta com uma nova formação que traz o guitarrista André Pars e eu da primeira formação, temos um novo vocalista, Rafael Moreira e, o novo baixista, Rafael DM. Acredito que essa seja uma das formações mais 43


pesadas que a banda já teve , devido a experiência de todos dentro da musica em todos esses anos. - “The Strongest” foi um álbum bastante aclamado e o que elevou o nome do Panzer. Mesmo com este sucesso, um ano após o seu lançamento, a banda parou as atividades. O que faltou para dar continuidade? Edson: Nós tivemos problemas internos naquela época, o desgaste normal de anos de trabalho que algumas bandas sofrem. Mas eu acredito que a banda parou no momento certo para poder voltar hoje no momento certo também, foi meio que coisa do destino mesmo. - Simples e direto: qual a razão de terem voltado? Saudades? Era um projeto que precisava dar continuidade? Fãs cobravam...? Edson: Realmente existia a cobrança de alguns velhos fãs pela volta da banda, mas era necessário existir a vontade de todos para que a banda voltasse, eu e o André vagarosamente começamos nos aproximar novamente, falando sobre isso. Foi um processo que levou alguns meses, pesamos tudo que vivemos juntos como banda e o com que ainda poderíamos realizar. Depois do primeiro ensaio vimos que tínhamos muito gás para queimar e depois do lançamento do single Rising realmente vimos que estávamos no rumo certo. Nós planejamos a volta da banda com cuidado a acredito que acertamos nisso. Quanto a sentir saudades, acredito que essa volta era um desejo secreto meu e do André e hoje estamos muito felizes com os rumos que a banda vem tomando.

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- O mesmo período que o Panzer passou em atividade, foi o mesmo que passou longe dos palcos. O que fizeram neste hiato? Edson: Eu toquei em outra banda de Metal por muito tempo e participei de vários projetos e bandas cover, nunca fiquei parado, impossível ficar parado. pois a música, para mim, é vital. - Vamos falar sobre o retorno, né? “Rising” é a música de trabalho do “novo” Panzer. Como está sendo a recepção do público? O que vocês têm lido/ouvido por aí sobre este websingle? André Pars: Olha, foi uma grande e prazerosa surpresa a recepção das pessoas quanto ao single. Só recebemos elogios, mensagens de carinho dos fãs e de pessoas que nunca tinham ouvido a banda. Acredito que o single tenha conseguido mostrar essa cara nova do Panzer. Uma banda mais madura, mas ao mesmo tempo pesada e brutal como nunca. - Os contatos permanecem para um bom retorno. O que podemos esperar do Panzer neste novo momento, neste novo fôlego? Edson: Com o passar dos anos, nós fomos amadurecendo como pessoas e como músicos, então é natural que vamos compor olhando para frente, tendo influencias novas, mas não podemos e nem devemos tirar os olhos do que fizemos no passado, que foi o que nos trouxe até aqui e nos garantiu uma ótima base de fãs e respeito dos Metalheads por onde nossa musica chegou. As pessoas podem esperar uma banda tão pesada quanto antes, sempre com a mistura Thrash Metal e Black Sabbath que é nossa marca, mas como já dissemos não vamos decepcionar quem 46

acredita em nossa musica. - Voltar as atividades e ter show marcado é primordial. A banda voltou agora no último dia 19 com o Centurias. Conta para nós como foi este show. E aquele frio na barriga, deu para segurar bem? André: Ah aha!!! Estou respondendo pra você a entrevista poucas horas antes do show rolar. Com certeza vai ser muito legal... Estamos preparados para fazer um bom show e também estaremos do lado de uma das maiores bandas que o cenário nacional já teve. Quer mais? Vai ser insano... Mas o frio na barriga tá rolando sim...mas isso é o legal...quando isso acaba, é melhor parar de tocar... música é emoção... sem ela não tem sentido continuar... - Ainda sobre shows, Maceió já está na lista, num é? Edson: Sim, temos até agora 2 datas no Nordeste marcadas para dezembro, passaremos por Maceió e Recife. Maceió é um caso especial para nós, tocamos aí há 10 anos, fizemos amigos e nunca mais voltamos. Pelo Facebook tenho mantido contato com algumas pessoas e tenho percebido como aquele evento, o Maceió Metal Fest foi um marco na vida de muitos, nos sentimos felizes de ter participado de umas das edições. Vamos voltar dia 02 de dezembro e os Metalheads de Maceió podem esperar um show bruto!! - É interessante saber as influências que as bandas têm. Qual o top 5 das bandas que representa o som do Panzer, destaque uma música e fale um pouco sobre. Edson: Black Sabbath - Sabbath Blood Sab-


bath - Talvez a banda que mais influenciou nossa carreira, somos viciados nessa banda e o Panzer traz uma carga de influencia gigantesca deles. Metallica: Fight Fire With Fire- Muita gente critica o Metallica ,mas somos grandes fãs do trabalho deles e também são uma grande influência em nosso trabalho. André: Da minha parte, o Black Sabbath como não podia deixar de ser. Toda a obra deles tem muito a dizer e me afeta tanto musicalmente como pessoalmente. War Pigs pra mim é uma obra prima. O solo me arrepia até hoje. Uma aula de como fazer uma musica perfeita... O Pantera por ser a banda que, na minha opinião, ocuparia o lugar do Sabbath se não tivesse acabado. Acho que “Floods” tem um solo maravilhoso e “Cemetary Gates” é um clássico... De coisas novas posso citar o Lamb of God, que é atualmente, na minha opinião, a melhor banda de metal, juntamente com o Down, que em seu último trabalho soa mais Sabbath do que nunca. Do LOG pra mim a música “Redneck” e do Down fico com o mega hit “Stone the Crow”. - Para finalizar, existe a possibilidade de um novo álbum, já estão pensando sobre? Sucesso neste novo reinício. André: Sim, no final desse ano devemos soltar um EP com faixas novas e alguma coisa ao vivo. Para o primeiro semestre de 2013, lançaremos o novo álbum. Podem esperar que faremos algo que vai nos orgulhar bastante e vai deixar a galera com o pescoço doendo... Valeu o espaço! A banda agradece de coração e espera quebrar tudo por aí no começo de dezembro! 47



Monster Coyote

Rock Meeting entrevista

Monster Coyote

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Por Pei Fon (@poifang|peifang@rockmeeting.net)

Fotos: Divulgação

Monster Coyote

- Olá Kalyl, satisfação imensa disponibilizar um tempinho para nós. Não meça as palavras. Primeiro de tudo, alguns já os conhecem, mas apresentem-se para os nossos leitores. Somos o Monster Coyote. Banda fofinha que tem três moleques doidões do deserto mossoroense e que, provavelmente, o calor torrou os miolos. - Um ano depois vocês retornam para Maceió, novamente no Festival Maionese. O que vocês esperam neste retorno? Sério que só faz um ano? Pra mim tinha mais tempo. Maceió é uma cidade muito foda, inclusive, foi a nossa primeira tocada fora de casa, então ela tem toda uma aura

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especial pra nós. Por mim eu me mudava pra aí, alguém me adote! - O que pode nos adiantar sobre o que estão preparando para o show do dia 09 de novembro no Festival Maionese? Todo show é uma surpresa quando se toca com Renan “pé-de-chumbo” Matos! Brincadeira (ou não)! Agora é hora de defender o The Howling, novo disco, então tamos dando o sangue pelo disco e o show vai refletir isso! - Esses Coyotes do “deserto de Mossoró” possuem um som mais puxado para o Slugde e Stoner, mas não sai do bom e velho Metal. O ‘deserto’ é o manancial da inspiração


da banda? Ah, o deserto é nossa casa, a palavra sertão vem de desertão, no português antigo. Amamos as bandas deserteiras tradicionais, mas nossa escola maior tá em região pantaneira, tipo bandas da Geórgia, California, Flórida, Columbia Britânica e afins! - O primeiro álbum de vocês, “Stoner to the Boner” de 2011, foi bastante aceito que entrou em coletâneas gringas como o Stonebixxx, compõem o cast do selo sueco Özium Records e do selo alagoano PopFuzz Records. Conta para nós como foi este encontro que resultou nestes bons resultados. Ah! Eu acho que esse lance de sair em blog gringo, coletânea gringa, etc, hoje em dia é mais uma obrigação que algo a ser louvado. Não é tão difícil assim. Os europeus são muito curiosos e tão de olho em tudo que é

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novo nas páginas de música, principalmente. Então é bem natural isso. Já fazer parte da Popfuzz é foda pra caralho, temos um vínculo de amizade tremendo com eles, são irmãos e parceiros pra toda vida. - O que dizer do recém-lançado “The Howling”? Como foi todo o processo de concepção e criação dele? The Howling foi um passo a diante. A gente não sabia tocar esses riffs, essas músicas que hoje sabemos, então no Stoner to the Boner (anterior), a gente só tentava. Nesse a gente acha que tá no caminho! Ele foi concebido em 08 longos meses (04 músicas nos 06 primeiros meses e 06 nos últimos 02, correria). Foi gravado no Estúdio Dosol por Henrique Geladeira do Calistoga e Anderson Foca do Camarones. Foca produziu a gente, fez maquiagem, cabelinho, nos deu cachorro-quente e cuidou de nós durante os 02 dias da gravação! Quem mixou foi o Megafone sob a égide do gigante


Eduardo Pinheiro, um monstro! O disco todo fala sobre contos de lobisomens que eu costumava escutar de minha avó, já que o pai dela (meu bisavô) foi assassinado por dizerem que ele era um, e eu passava muito tempo no sítio com ela quando pequeno, como não tinha energia elétrica, e ela me botava pra dormir contando essas histórias de ninar.o essas histórias de ninar. - Novembro será um mês de destaque para a banda, já que vão estar em tour junto com os suecos do Truckfighters. Como surgiu o contato, muita expectativa para esta tour? O podem falar dos caras do TF? Nós entramos em parceria com o Dosol, que junto com a gente, produziu a turnê dos 52

caras. Conseguimos tocar em todos os locais, estamos felizes pra burro, conseguimos entrar num selo Argentino que tá fazendo uma turnê maior pra gente próximo ano. Imagina aí tocar na Patagônia durante o inverno num festival lá? Coisa mais stoner que isso? Sobre os caras do Truckfighters não posso falar muito, só falei com eles por e-mail e afins, na convivência da estrada é onde pega pra capar! - Para finalizar, quais os próximos passos do MC? Sucesso e nos veremos em breve. Quem toca, toca. Então é tocar, não negar show, não ter frescura pra tocar, tocar, tocar e tocar, até que a morte nos separe!


Maurício Melo

Por Maurício Melo (Correspondente internacional – Espanha) Fotos: Divulgação

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om mais de uma década na estrada, o Born From Pain foi uma das primeiras bandas europeias a representar o Metalcore. E como sinônimo de trabalho, vem ganhando espaço e respeito. Durante a década passada acumulou cinco lançamentos, algumas mudanças de formação, mas nada que afetasse o desempenho musical da banda. Mesmo quando o vocalista original deixou o grupo, os integrantes encontraram força suficiente para seguir adiante. Com o lançamento de Survival, a banda confirmou esta força e superação. Recentemente tivemos duas oportunidades de encontrar alguns integrantes. A primeira antes de um show e a segunda quando acompanhavam o Madball, em sua mais recente visita ao velho continente. Nós conversamos sobre o disco novo “The New Future”. O guitarrista Karl Fieldhouse nos recebeu na van da banda e respondeu pacientemente todas as perguntas e curiosidades que tínhamos naquele momento. No segundo momento, o vocalista Rob nos contou detalhes do novo disco. Abrindo assim, uma nova década. Os melhores momentos destes encontros vocês conferem agora. O último disco da década passada, responsável por fechar e bem um período de dedicação, foi Survival em 2008 e como já esperávamos, veio forte. Como foi a turnê deste disco? Karl - Boa. Como sempre, a estrutura e rotina da banda vêm sendo lançar um disco, viajar por dois anos, lançar outro e voltar para a estrada. Somos uma banda bastante ocupada. Para o Survival tudo vem funcionando bem. Foi muito bem recebido, como você mesmo comentou, fizemos a Persistence Tour na Europa com bandas de alto nível do hardcore como Heaven Shall Burn, Sick of it All e Terror. Após tocar praticamente todas 54

as noites sem descansar nesta turnê, fomos para a América do Norte. Em julho fomos para a Ásia, incluindo shows no Japão, China, e pela primeira vez: Tailândia, Nova Zelândia e Filipinas. Foram três semanas na Ásia. Já estivemos no Japão anteriormente e também em outros países mencionados. Tocamos em alguns festivais por lá. Considerando que o Born From Pain lançou um disco por ano, com exceção do Survival, que demorou dois anos com relação ao anterior, War, e agora um pouco mais, com quatro anos de espera. O que podemos esperar do The New Future? Rob - Primeiro de tudo, gostaria de dizer que estamos satisfeitos de como as coisas aconteceram. Trabalhamos duro e por muito tempo tentando desenvolver ou tentando soar da maneira mais original possível. Trabalhamos nos mínimos detalhes e estamos satisfeitos com o resultado. O processo de gravação foi bastante rápido a partir do momento que entramos no estúdio. Contamos com Igor Wounters (nosso antigo baterista) tanto para gravar as partes de bateria quanto para trabalhar como produtor, engenheiro e mixar o disco. O resultado foi o que já descrevi acima, satisfatório. Após quatro discos com Tue Madsen optamos por uma mudança na tentativa de renovar o som. Acho que encontramos o que queríamos. Não que estivéssemos insatisfeitos com Madsen, mas que definitivamente, necessitávamos algo novo. Com relação aos quatro anos de espera, foi por que estávamos preparando um disco novo. Mas não era o que queríamos, já existiam muitas músicas gravadas e compostas, mas decidimos jogar tudo fora e começar do zero. Com certeza isso ocupou mais tempo do que imaginávamos.


Acho que não vamos demorar tanto para um próximo. Gravadora? Rob - Colocamos o disco na internet para as pessoas baixarem gratuitamente. Para as pessoas que ainda se satisfazem comprando um disco original, tanto cd quanto vinil, temos a GSR Music (mesmo selo que lançamos nossos dois primeiros discos) e atualmente já está disponível em todos os formatos. E o título, se é que contém um, e o motivo do mesmo? Lembrando que os títulos anteriores era War, Survival, In Love with the End… Rob - Desta vez tentamos dar mais positividade no título. Desde que realmente acreditamos que, como pessoas, podemos chegar a um futuro melhor se escolhermos o caminho correto. O significado disso é que existem um 55

monte de alternativas para ser mais saudável, mais livre e satisfeito na vida do que já tivemos até agora. Existe um grupo minúsculo no poder deixando faminta uma grande maioria e tentando nos manter distante de uma vida melhor, que na verdade, deveríamos ter. Nos oprimindo com miséria, leis e guerras. Acreditamos que quanto mais o tempo passa, mais pessoas vão enxergando a verdade. O que significa que as pessoas já não são os seguidores destes poderosos. Acreditamos que isso é o motivo de ter melhores vidas no futuro e daí o título The New Future. Alguma mudança na formação para este disco? Rob - Sim, tivemos algumas baixas na formação. Agora temos um bom baixista, Pete (ex-Black Friday 29) e um novo baterista. Além do retorno de Serve, que tocou na banda quando lançamos Reclaiming The Crown.


Estamos reforçados. Quando passaram por Barcelona anteriormente, Rob (vocal) teve um problema nos olhos. O que realmente aconteceu? Karl - Ele utiliza óculos e na maioria das vezes está com lentes de contatos. De vez em quando não acorda bem. Em uma manhã dessas, se deu conta que tinha um pouco de sangue nos olhos. Não se sentia bem, foi ao médico que lhe comentou que uma demora de 24 horas a mais poderia ter custado a visão de um dos olhos. Teve de ser operado de emergência. Isso, porém, foi uns sete meses antes da turnê com o Terror e exatamente quando estávamos nesta turnê o outro olho teve o mesmo problema, o que fez ele perder parte das apresentações porque teve que passar por todo processo de cirurgia outra vez. Ao final, acho que teve muita sorte por ter 56

tido duas vezes o mesmo problema e conseguir solucionar. Só temos a agradecer ao David (baixista do Terror) por toda a ajuda. Ele foi nosso vocalista em quase todos os shows. E um grande amigo que temos. Ficamos um pouco sem graça com a situação, mas acredito que as pessoas entenderam nossa situação e o esforço para seguir tocando. Acho que seria pior se tivéssemos que abandonar a turnê, mas conseguimos dar uma solução. O que existe por trás do título Survival? Karl - É mais direcionado a como sobreviver no mundo atual. Existem muitas coisas acontecendo e temos que ser sobreviventes para resistir a tudo isto. Em 2008, quando foi lançado o disco, ou mesmo agora em 2012, as pessoas são levadas a acreditar em algo. Sabemos que são tempos difíceis, mas Survival foi mais para alertar e para dizer chega a tanta mentira. Então levamos aos extremos para


dar um sentimento mais apocalíptico à situação. Qualquer pessoa pode perder seu emprego ou sua casa atualmente. Há uns anos atrás, se alguém não estava satisfeito com seu emprego, saía e procurava outro. Atualmente pessoas pensam muitas vezes antes de tomar certas atitudes. Pessoas não conseguem pagar suas contas e outras tantas não sabem pequenas coisas como ter que comprar comida. Somente agora, diante de uma crise mais forte, as pessoas estão descobrindo o lado escuro das coisas. Aos poucos vão descobrindo porque ainda existem muitas pessoas que não sabem ou vivem à margem disto. A vida já não é tão fácil quanto há alguns anos atrás. Muitas empresas e corporações parecem querer dificultar as coisas. Por isso escolhemos o título Survival, porque necessitamos ter este instinto para seguir adiante. Pode nos explicar algo sobre a música New Hate? Algumas pessoas relacionam esta canção como um novo hino nazista ou com referências sobre o tema, como explicar esta confusão? Karl - A música New Hate, definitivamente, não tem nada a ver com neonazistas ou algo do tipo. Obviamente, somos totalmente contra este tipo de atitudes. Acho incrível que no ano de 2012 ainda existam pessoas que olham e julgam outras pela cor da pele ou do país onde nasceram e tenham algum tipo de preconceito, igualmente posso dizer sobre a homofobia. Simplesmente não entendo como atualmente pessoas conseguem pensar desta maneira. The New Hate é uma música sobre como os políticos controlam as pessoas através da mídia. Se você assistir canais como Fox News, CNN ou qualquer que seja, as notícias se repetem a cada sete ou dez minutos, prin57


cipalmente quando estas notícias são negativas, criando um círculo negativo e amedrontando as pessoas, controlando através do medo. Tivemos evidências recentes na Holanda durante as eleições. Eu sou britânico, mas vivo neste país há anos, porém não posso votar, mas presenciei coisas. Existia um candidato de extrema direita que utilizava a questão do medo para manipular as opiniões sobre o voto. É o tipo de pessoa que apoia a não chegada de imigrantes de países como Marrocos, Turquia e países que não são europeus. Ele espalhou medo a seus eleitores dizendo que o que fazem estes imigrantes são coisas ruins. Os ricos das cidades pequenas que nunca se relacionaram com imigrantes ou que têm pouca experiência sobre estes temas étnicos, por não terem imigrantes em cidades pequenas, simplesmente acreditaram que o que falava este político era certo. Porém se você for a Rotterdam ou Amsterdam, por exemplo, que tem todos os tipos de pessoas vivendo por lá, todos votaram nos partidos de esquerda. O que fez este político de direita foi uma tentativa de criar algum tipo de racismo ou algo parecido ao invés de promover a entrada de novas culturas no país. O cara espalhou medo massivo através do medo: “Se vocês não me escutarem, estarão em sua cidadezinha provocando a desordem...”. Chegou a ser patético, mas algumas pessoas votaram nele porque não sabiam o que fazer. Então naturalmente acreditaram no medo e é disso que falamos em New Hate. É totalmente sobre o controle do medo exercido pela mídia e governos, “se você não fizer isso, coisas ruins irão acontecer”. Algo que os americanos fizeram com o terrorismo após as torres gêmeas. Colocaram 58


toda cultura mulçumana como farinha do mesmo saco e as pessoas com medo aceitaram sem discutir, é ridículo. Nem se aproxima na tentativa de educar as pessoas em talvez pensar sobre no que vem sendo dito e não acreditar em todas as coisas que disseram na tentativa de controlar ou espalhar o medo e nada a ver com racismo ou nazismo. Após uma resposta assim podemos dizer que conspirações fazem parte das crenças do Born From Pain? Karl - Bem, em opinião particular, poderia dizer que acredito em alguma coisa. Os atentados terroristas de 11 de setembro, por exemplo. Assisti muitos documentários sobre o caso e vi muita coisa pela internet também e acredito que muita coisa que foi dita não é verdade. Ou então, o governo fez tudo o possível quando na verdade poderia ter feito mais. Quando você descobre todos os detalhes sobre planos de voo, estruturas que suportam demolições e que as mesmas pudessem ter “desmontado” de outra maneira, com o choque dos aviões, etc... Todas estas pequenas coisas que me fazem duvidar um pouco. Não digo que tudo é verdade, mas sem os ataques de 11 de setembro a guerra não existiria no Iraque e tampouco no Afeganistão e isso já leva anos. Tudo o que querem é uma guerra sustentável, por quê? Porque podem controlar uma maior quantidade de pessoas, podem fazer mais dinheiro com todo o militarismo nas ruas e todo dinheiro que rende tudo isso. As empresas que estão por trás disso tudo fazem dinheiro porque oferecem infraestrutura para todos os países envolvidos, etc. Então, tudo isso faz mais sentido para mim do que fazer com que as pessoas acreditem que outros tentaram destruir um país matando e destruin59


do dois edifícios nos Estados Unidos, é óbvio que eles não iriam ruir com isto. Pessoas deveriam olhar o mundo a seu redor e tirar suas conclusões. Não acredite no que eles dizem e igualmente no que digo, faça você sua avaliação. Seguimos então maltratando os governos e empresas. Podemos dizer que para muitos a crise financeira veio bem à calhar, já que estão justificando a mesma para cortar e diminuir gastos, demitir, reduzir? Karl - Claro, utilizam isso bem facilmente. Se as pessoas estão quebradas financeiramente é muito fácil de manipula-las. Se a situação financeira ajuda o povo se sente forte para fazer o que bem entende. Se você não tem recursos financeiros, vive eternamente com uma nuvem negra na cabeça e passa a pensar duas vezes antes de perder o pouco que tem. Até chegar ao ponto em que todos estão quase perdendo o que tem e se unem com um único objetivo. É estranho, mas é assim que acontece. Governos e empresas têm sempre algo sinistro por trás e poucas têm boas intenções. Os governos não existem para ajudar pessoas, são como os bancos, te dão algo em troca, mas a intenção é sempre ganhar mais do que oferecem. As eleições americanas, por exemplo, alguma coincidência que existisse uma mulher com ótimas chances de ganhar e um candidato negro em melhor posição? Após Bush e todo desastre que um burro como ele pode proporcionar, pessoas tentaram manipular, teremos um presidente negro ou uma mulher para presidente, ambos, casos inéditos. Daí ninguém pensa em nada mais. Estão todos focados nessa discussão por meses, alienados, manipulados. As em60


presas estão sempre posicionadas atrás destas coisas e estão aí para fazer dinheiro. Não importa como. E com toda essa crise na Europa, ajuda na hora de escrever, não? Rob - Normalmente é fácil escrever sobre coisas reais. A realidade é minha maior inspiração e sempre será. Nos tempos atuais em que os banqueiros estão arruinando países, um atrás de outro com seus esquemas financeiros, a minha resposta é sim. E como já disse, existe uma miséria enorme no mundo. O disco novo é mais político e crítico do que nunca. Sentimos responsabilidade por cantar estes temas. Existem mais coisas escondidas. Mais cedo ou mais tarde a verdade aparece e trabalharemos nas mudanças. Sempre estaremos felizes em dar nossa pequena contribuição. Então o presidente americano é apenas mais uma máscara de político? Karl - Não tenho dúvidas! Não sou o único que pensa assim. Não conheço em detalhes seus projetos, mas aposto que tem muita coisa que prometeu e já ficou para trás. É claro que sempre existem exceções, prometeu a retirada dos americanos do Afeganistão, já nem lembramos quanto tempo faz que ele se candidatou para presidente, mas esta foi uma de suas promessas e tenho certeza que as tropas continuarão por lá por um bom tempo. Obama está lá para pacificar as pessoas, mas depois de um tempo, se dá conta de que ele não está fazendo corretamente. Diz que vai fazer porque alguém o controla como um fantoche, e tudo continua igual. Recentemente o mundo assistiu a mais um capítulo de Gaza e outro da Síria, 61

quando, por exemplo, um navio de ajuda humanitária turco foi atacado por Israel sem motivos convincentes e que resultou na mortes de algumas pessoas. Independente de citar ou culpar um ou outro. Até quando estaremos dispostos a ver isso? Karl - Sabe, existe muita coisa bonita e pessoas impressionantes tentando melhorar o mundo, sacrificando suas próprias vidas para ajudar outros. No entanto, coisas assim seguem acontecendo. Quero ter saúde suficiente para ver como tudo isto vai terminar. Porque vai chegar a um ponto em que tudo vai virar cinzas. Do jeito que as pessoas ou países lutam uns com os outros ou detonam o planeta. Olha agora o que vem acontecendo no Golfo do México, não dá nem para calcular o desastre ecológico que se vem derramando por lá com tubos cuspindo óleo vinte e quatro horas por dia. É muito louco porque nós te-


mos uma vida especial, nos adaptamos, buscamos soluções, proteções, enfim. Os animais e a natureza não. Saindo das questões políticas, voltando para a banda, tem previsão de DVD? Karl - Não sabemos ainda. Tenho que admitir que somos um pouco preguiçosos para organizar filmagens e coisas do tipo. Se fossemos um pouco mais construtivos com as filmagens e mais constantes com alguém trabalhando conosco, poderia funcionar, mas nunca fazemos. É terrível (risos). Alguma possibilidade da banda retornar ao Brasil e quais as lembranças que vocês têm do nosso país? Sim! Tivemos quatro shows no Brasil. São Paulo, Belo Horizonte e nunca lembro de outras duas cidades que também foram muito bons... 62

Curitiba e Porto Alegre? Sim! Poxa, que vergonha (risos). Gostei tanto de lá, mas sempre esqueço os nomes. Foi excelente, quatro shows em sete ou oito dias e nos sentimos em casa definitivamente. Esperamos retornar ao Brasil porque, além do bom ambiente, os shows foram brutais. A garotada estava enlouquecida e... enlouquecida. (risos) Adorei o país, os restaurantes self-services de São Paulo de todos os tipos de comida, que loucura (muitos risos). Fomos num rodízio de pizza com karaokê. Mas tinha até pizza de banana, nunca tinha visto algo assim e quando você se distraía o garçom colocava outro pedaço no seu prato (risos). Realmente foi muito bom e esperamos voltar. Muito obrigado Karl e Rob. Obrigado a vocês, realmente foi muito legal ter este bate-papo.


Iodo

Por João Marcelo

Ouvi falar dessa banda pela primeira vez por uma indicação do Fernando Sanches em algum blog. Acho que não tem maneira melhor pra se conhecer uma banda de hardcore, se não vindo de um dos caras que mais entendem do bagulho. Não à toa, Sanches foi responsável pela gravação e, naturalmente, pela qualidade sonora do disco. Recentemente eu escrevi aqui para revista dizendo que o Bullet Bane, Chuva Negra e Plastic Fire, eram bandas que estavam renovando e fazendo de forma sincera o hardcore melódico. Então, podem incluir o IODO nessa lista. Pelo que pesquisei a banda é formada por velhos conhecidos do hardcore paulista. Acho que a experiência dos caras contou bastante na maturidade do som. O som IODO me fez voltar lá pelos idos de 2005 quando o hardcore

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melódico de bandas como Dead Fish, Aditive e Street Bulldogs. Bombava do Oiapoque ao Chuí. Em suma, depois de terem misturado e confundido tudo com o emo e sua banalização estética, esse disco me fez voltar a ter alguma fé no hardcore melódico nacional. Quero dizer, o som dos caras recupera o vigor do que algum tempo atrás era só chorumelas e dor de cotovelo. Tecnicamente falando, digamos que os caras não fazem nada de muito novo. Guitarras bem trabalhadas, bateria e riffs rápidos. O que não é ruim, essa fórmula nunca foi tão bem vinda. Então fica recomendadíssimo para os que assim como eu tinha enjoado do hc melódico, dá uma conferida no som e tenta entender o que acabei de descrever.


Rattle Por Jonas Sutareli

Madre Cassino

A banda Rattle, de Salvador, faz um thrash metal com uma roupagem muito brutal, seguido de um gutural muito sujo e pesado, bem linear. Ouvimos o álbum ‘Pain is Inevitable’, que foi feito em parceria com a banda sueca ‘Hell’s Thrash Horsemen’. Apesar do som não ser muito original, é autêntico. Dá pra sentir as influências ao ouvir, mas é um som único, com a identidade da banda. Pancadaria no sentido mais bruto da palavra. Guitarras, bateria, gutural, tudo chama atenção desde a primeira nota. Uma boa banda de thrash para se ouvir principalmente pra quem gosta de guturais fortes e do thrash metal renovado dos anos 90.

Por Breno Airan

A Madre Cassino tem algo que muita banda não possui hoje em dia: bom humor. Dá pra notar nas sacadas das letras e nas me64

lodias de um Hard Rock mais do que cativante. O quarteto não quer parecer legal ou engraçado. Simplesmente o é. Não à toa, eles têm web-episódios com histórias em quadrinhas bem articuladas – todos eles assinados pelo ilustrador Heber Gomes – mostrando o dia a dia de uma banda no cenário independente. Nenhuma novidade, claro, mas de notável bom gosto. O entrosamento, no entanto, não se dá apenas nos risos e na convivência entre J. Micali (vocais), H. Robles (guitarra), Jhe Bouvie (baixo) e Manaia Jr. (bateria). A música, com o vetusto toque da amizade, sempre prevalece. E é o que acontece no EP “Offroad”. Um registro digno de nota. Saído do forno em março, último com cinco canções, sob supervisão do produtor musical Zeca Leme: a ótima “Bye Susy” – que, inclusive, foi escolhida como single e já havia saído em outro EP, mas este não oficial –, a irresistível “Redemption” – impossível não cantá-la junto –, a canção que dá nome ao trabalho do grupo, “Offroad”, a rifferama de “Hi Don” e a tarantinesca “Creepy Motorcycle”, com direito a clipe, mais uma vez com os traços específicos de Heber Gomes. Segundo a banda, formada em 2009, o nome escolhido “Madre Cassino” representa o antagonismo: O “madre” pontua a máscara e o “cassino”, as verdadeiras intenções. Mas qual o intuito, as reais intenções de todo grupo de Rock? Ser referência, ter reconhecimento, estar bem consigo mesmo. E não apenas virar mais um review. Nota 10. Mesmo.



Deslucro em Maceió Por Artur Oliveira (Especial para a Rock Meeting) Foto: Vanessa Almeida (V&V Almeida Fotografia)

S

exta-feira, 05 de outubro de 2012; e uma pequena multidão aglomerada em frente ao Orákulo no bairro do Jaraguá. Algum desavisado que passasse no local logicamente concluiria “É show de banda, talvez até banda de fora!” (pela quantidade de gente); e o observador um pouco mais perspicaz até concluiria: “É show de banda pop adolescente, olha a idade dessas meninas!”. Das observações do amigo desavisado, a única incorreta é a de que seria show de banda de fora, pois se tratava de um evento 100% alagoano. A banda Deslucro, que voltava aos palcos depois de algum tempo longe de seu público, preparou um evento que não deixou nada a desejar aos eventos com bandas de fora que tem acontecido ultimamente na cidade. 66

Um pouco depois das 22h, quando entrei no local, a banda Belt estava se apresentando. Um bom número de pessoas já ocupava a casa, e muita gente ainda estava na fila do lado de fora (para se ter uma noção). O som dos caras é bacana e consegue trazer algumas linhas de blues e outros estilos para a sua pegada alternativa. É uma banda interessante. Mais uma tentando alcançar um lugar ao sol nessa leva de bandas pós-los-hermanos/pósmoptop, mas é uma banda que demonstra maturidade e uma identidade própria. Em seguida subiu ao palco o pessoal da banda Eek, que fez um show, na minha opinião, sensacional! Um vocal marcante, letras com a dosagem certa de lirismo e um instrumental de cima. O som dos caras me fez lembrar um pouco a banda Gram (infelizmente já


extinta) e também Ludov, o que para mim já soma muitos pontos para banda. Mas a banda consegue ir além das comparações e das rotulagens. Eles realmente conseguem fazer algo relevante e autêntico. Depois deles, se aproximava o momento principal da noite. O show da banda principal: Deslucro. A pequena multidão já começava a se posicionar em frente ao palco enquanto os instrumentistas se ajustavam. No meio de tudo isso, já se podia escutar gritinhos histéricos para o vocalista Sandro Regueira; sim, histéricos!! Acreditem, era quase

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de assustar! Mas também não era para menos a empolgação das fãs (e dos fãs também). A banda preparou um show e tanto. Som e luz de palco de primeira, com direito a backing vocals para abrilhantar a apresentação, estrutura finíssima. Sandro, já posicionado com sua guitarra e pronto para iniciar o show, agradeceu a presença dos fãs presentes, e quando cantarolou as primeiras notas, a energia que tomou o lugar e a sintonia com o público foi algo impressionante.


As mesmas fãs que gritavam pelo nome do vocalista, não estavam ali só para ver um “rostinho bonito”, mas cantaram todas as músicas do começo ao fim. Algumas letras da Deslucro aparentam uma simplicidade, talvez, proposital, que trazem um tom confessional, mas sem cair para o lado do depressivo exagerado. Segue a linha do alternativo-pop que, como já citado, ficou órfão com o fim de muitas bandas como Los Hermanos, Gram, entre outras que deram as formas para as bandas que seguem este estilo. Após um pouco mais de uma hora de

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apresentação, a Deslucro encerrou com um cover estigadíssimo de “Quem não tem colírio usa óculos escuro” do lendário Raul Seixas, em meio a pedidos de “bis”, e mais alguns gritos histéricos das fãs. A banda sem dúvidas conseguiu fazer um show que vai ficar marcado na memória de muitos que ali estavam. Entre uma banda e outra, os Dj’s Luk Lisboa e Gabriel Passos, ficaram responsáveis por manter a instiga da galera. Além disso, as bandas Identidade Falsa e Wake Up trataram de encerrar a noite.


Por Jonas Sutareli (@xSutarelix | jonas@rockmeeting.net)

Continuando com nossa saga de tentar procurar os jogos de videogame que se inspiram ou absorvem o rock n’ roll, vamos um pouco mais pra frente da década de 1990. Já falamos aqui de como tudo começou, dos primeiros jogos de rock, dos jogos mais famosos do começo e do primeiro jogo que eu me lembro de ter jogado que tinha uma inspiração no rock. Nessa época, algumas séries de TV já usavam rock nas suas aberturas. E algumas delas, também viraram jogos de videogame, como é o caso de Mighty Morphin Power Rangers, que tinha como sua abertura um power metal poderoso, com o perdão do trocadilho infeliz. Mas, além disso, acho que essa série que virou jogo para Super Nintendo não tem mais nenhuma ligação com Rock N’ Roll. Lembro-me que antes disso, para Master System, tinha um jogo do WWE que tinha um ar meio sombrio e as trilhas também eram bem rock n’ roll, na época 8bit, quando os sons ainda eram à base de MID. Ainda na década de 1990, mais precisamente em 1998, tivemos Metal Gear Solid. Aclamada saga de Hideo Kojima que tinha se iniciado em 1987 com ‘Metal Gear’ e deu origem a vários outros games da série, em Metal Gear Solid tinha rock incorporado 69


na sua riquíssima soundtrack. Neste mesmo ano era lançado Guilty Gear, o jogo de luta com mais referências ao rock já lançado. Trilha sonora, nomes de golpes, nomes e aparências de personagens. Neste jogo existem inspirações em Guns N’ Roses, Iron Maiden, Slayer, Led Zeppelin e Queen. Vê-se que os criadores tinha um gosto bem variado dentro do Rock N’ Roll. Passaram por bandas mais clássicas das vertentes mais famosas do rock. O personagem Axl Low, tem esse nome por conta de Axl Rose e também se parece muito com o seu xará da vida real. A lutadora Milia Rage, tem um ataque especial chamado ‘Iron Maiden’. Preciso mesmo dizer mais alguma coisa? Ah! Tem também um lutador

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chamado ‘Slayer’. Potenkin, que foi preso em uma ilha chamada ‘Zeppe’. ‘Soul Badguy’ (cujo nome real da personagem é ‘Fredderick’ – adivinha por quê?) foi dublado pelo criador do jogo, Daisuke Ishiwatari, que é um ‘fãzaço’ de Queen. No manual do jogo, ‘Soul Badguy’ é descrito como um ‘inveterado fã de Queen’, que tem esse apelido como referência ao apelido de Fred Mercury (Mr. Bad guy). Nesta edição é só isso. Na próxima voltaremos um pouco no tempo pra falar de Castlevania, e depois, avançar novamente e entrar nos anos 2000 para falar dos jogos contemporâneos que levam o rock n’ roll consigo.


John Butler Trio Pei Fon (@poifang | peifang@rockmeeting.net) No auge da minha estranha calmaria, deparo-me com algumas indicações, dentre elas: Mellow Mood, Joe Purdy, Diswhalla, Ellie Goulding e The Gaslight Anthem. Porém, a banda que destaco nesta edição é calcada no Indie Rock, com pitadas sinfônicas e acústicas. John Butler Trio é um trio (é nada?) australiano composto por John Butler (é nada? [2]), Nicky Bomba e Byron Luiters. Suas referências vêm dos músicos, pensadores e artistas plásticos. Nomes como os saudosos Bob Marley e Jimmy Hendrix, Noam Chomsky (linguista americano – quem é da área de comunicação já ouviu falar deste carinha), Martin Luther King, Salvador Dali, Black Sabbath e outros. John é envolvido com as causas sociais. O álbum em questão é o “Sunrise over sea” (2003). Você só começa a escutar determinada banda/estilo quando conhece uma música e já simpatiza. Escutei “Ocean” 71

do álbum “John Butler”, 1998. Calmaria pura em meio a um turbilhão de coisas. Porém, foi “What you want” que fez me apaixonar completamente. Do referido CD, destaco: “Treat Ya Mama”, “Peaches & Cream”, “What You Want”, “Damned to Hell”, “There’ll Come a Time” (me fez lembrar a parceria de Danny Cavanagh [Anathema] e Anneke Van Gierbergen) e a incrível “Mist”, uma faixa completamente instrumental e cativante. Para quem não é acostumado com calmaria, nem escute. Mas você, que busca algo tranquilo, para te fazer pensar ou, simplesmente, relaxar, dê uma chance para John Butler Trio. Eu não sei de onde veio tanta vontade de estar quieta, ou sei, porém tem me acalmado e me feito pensar muito mais do que já pensava. Espero continuar assim, existe vida fora do Metal, minha gente! E eu bem sei disso.


Easy Star Allstars

Breno Airan (@brenoairan | breno@rockmeeting.net) Sempre contestei o reggae. Creio que ele seja o psicodelismo negro latente que cai bem em certos momentos. Pois bem, este é um deles. Dou carona dessa vez ao som de Easy Stars Allstars, uma banda dedicada a fazer covers com uma levada peculiar. O play em questão é o “Dub Side of The Moon”, de 2003, claramente referente ao clássico “The Dark Side of The Moon”, de 1973, do Pink Floyd. Sim, claro que dessa forma se perdem o estilo dó-ré-mi da bateria de Nick Mason, a pegada única do baixo de Roger Waters, a precisão cirúrgica da guitarra de David Gilmour e o teclado marcante de Richard Wright. Contudo, o interessante é que mesmo assim, mesmo a perspectiva sendo diferente, o resultado foi primoroso. Não foi à toa que eles conseguiram vender mais de 85 mil cópias, em plena ascensão do legado do mp3. Bem como a banda original, por assim 72

dizer, o Easy Stars também faz referência ao filme “O Mágico de Oz”, ensinando, inclusive no encarte, como sincronizar o álbum à película. A banda, que está na ativa desde 1997, também fez covers de álbuns do Radiohead e dos Beatles. Destaques, afinal, não faltam: “On the Run”, “Time”, “The Great Gig in the Sky” e “Money” são uma bela sequência, por exemplo. Outra canção que impressiona é “Brain Damage” - o quão bem eles transpõem o psicodélico para o dub. Detalhe: as quatro últimas são faixas bônus. Espero que os leitores Jah gostem de cara deste trabalho dos integrantes Ras I Ray (baixo e vocais), Ive 09 (bateria), Kirsty Rock (vocais), Jenny Hill (saxofone e flauta), Buford O’Sullivan (trombone), Elenna Canlas (teclado e vocais), Shelton Garner Jr. (guitarra e vocais) e Menny Moore (vocais). Uma viagem só!


Helloween Daniel Lima (@daniellimarm | daniel@rockmeeting.net)

A Alemanha já mostrou para o mundo várias bandas de diversas vertentes. Uma das que se destacou foi o Helloween, que surgiu em 1978 como “Gentry”. Depois, teve outros nomes até que finalmente chegou a “Helloween”. Eles possuem 16 álbuns, e o próximo, será lançado em 2013. Entre os discos ao vivos, está o High Live, lançado em 1996. Mas foi em 2002, em uma fita VHS, que ouvi pela primeira vez este álbum, e desde então, não consegui parar de escutar. A formação da banda, nesse álbum ao vivo, é Andi Deris (Vocal), Roland Grapow e Michael Weikath (Gitarra), Markus Grosskopf (baixo) e Uli Kusch (bateria). Esse é um álbum duplo, repleto de clássicos, que também pode ser adquirido em DVD ou em Box (CD Duplo + DVD). No primeiro disco, os grandes destaques estão por conta da faixa inicial “We Burn”, “Sole Survivor”, “Why?”, “Eagle, Fly Free” (está

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que Andi Deris e Michael Weikath regravaram no disco Ritualive da banda brasileira Shaman em 2003) e “Future World”. O segundo disco também começa com uma música que qualquer fã de Helloween conhece, “Before The War” dá as boas vindas para a continuação do High Live. Outras faixas que se destacam, além desta, é “Power”, “Perfect Gentleman” e “In The Middle Of A Heartbeat”. Esta última foi gravada numa versão acústica com Andi Deris apenas cantando e tocando violão, trazendo o público para um momento mais intimo com a banda. Este é um excelente álbum e um ótimo resumo dos oitos discos gravados pela banda até 1996. Eles são bastante importantes e foram influencia para bandas consagradas como Angra, Hammerfall e outras que estão no seguimento do Power Metal e Metal Melódico. Este é mais um álbum que eu recomendo.


Nonpoint Jonas Sutareli (@xSutarelix | jonas@rockmeeting.net) Eles são uma banda do famigerado, controverso e nem sempre tão bem aceito ‘New Metal’. Mas, eu curto bastante. Já devo ter falado de outra banda do gênero por aqui e gosto bastante das bandas desse meio. Cresci ouvindo muita coisa disso e o som me agrada. Sei que os fãs mais ferrenhos de metal desaprovam este gênero, mas eu acho que música vai muito mais além do que apenas ‘aprovação’ e ‘desaprovação’. Música é se sentir bem. Ouvir algo que te traga boas lembranças, bons sentimentos, alegria, felicidade, algo que você ouça e pense: “é isso ai, estou me divertindo, isso me agrada!”. Sou um fã incondicional de Megadeth, Metallica, Anthrax, Pantera, Led Zeppelin e outras coisas que fizeram a diferença de verdade no rock n’ roll, mas não me limito. Meu universo musical é bem expandido. Principalmente dentro do Rock. Sem mais delongas, Nonpoint é uma banda da Flórida, fundada em 1997, que conta com Elias Soriano (vocal), Robb Rivera (bateria), Rasheed Thomas (guitarra), Dave Lizzio (guitarra) e Adam Woloszyn (baixo), na formação atual. Eles têm algo que eu percebo ser quase que um tipo de regra 74

para bandas estadunidenses de new metal: ter alguém de descendência latina. É incrível como em quase todas as bandas de new metal, que já escutei, existem latinos. É um complô? (risos). Surgindo em 97, na Flórida, a banda rapidamente tomou notoriedade local tornando-se um dos maiores nomes da região. O primeiro álbum foi ‘Separate Yourself’, seguido de ‘Struggle’ em 1999 e, já em 2000, ‘Statement’. Depois disso, Nonpoint chegou a fazer turnês com grandes nomes do New Metal da época, como Linkin Park, Staind e Seven Dust. Depois desse ‘trampo’ em shows e turnês, veio ‘Development’ em 2002, que para mim, é o melhor disco da banda. Tem uma música chamada ‘Your Signs’, que é uma maravilha. Eles lançaram ainda mais quatro discos: ‘Recoil’ (2004), ‘To the pain’ (2005), ‘Vengeance’ (2007) e ‘Miracle’ (2010). Que confesso não ter tido muito contato com esses quatro últimos. Me liguei mais nos primórdios da banda. Mas, já dei uma sacada no ‘Miracle’ e continua com a cara do Nonpoint. Pra conferir o som dos caras é só acessar o Myspace.



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