Revista Rock Meeting Nº 37

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Editorial

H

TR3S

á quem diga que pode fazer tudo e qualquer coisa. É admirável que vontades surjam para criar, compartilhar e, principalmente, continuar. Vamos conjugar estes verbos? Se tens vontade de criar algo, não hesite, pense e ponha em prática. Mas antes, faça uma relação do que isso pode trazer de bom para você e para o próximo, se isso vai te fazer “feliz”, realizado. Após criar o seu objeto, compartilhe para ter um feedback da sua ideia. E continue! É tudo lindo e maravilhoso por algo em prática, o problema surge quando se é preciso dar continuidade ao que gerou. Cada um de nós tem alguma lembrança de algo que poderia dar certo, mas que, no

meio do caminho, não foi além do imaginável. Até agora, são tr3s anos que a Rock Meeting está a frente deste trabalho, não sabemos como e quando vai acabar ou continuar. Durante estes tr3s anos, vivenciamos tantas coisas, fizemos amizades presenciais e virtuais, a cada dia temos conquistado o nosso espaço nesta rede que é tão disputada. Gastamos boa parte de nossos tempos na busca de algo interessante para os nossos leitores, gastamos o tempo editando, escrevendo, fotografando, contactando as pessoas, publicando... endo, indo, ando... muitos gerundismos. Queremos agradecer pela confiança, pelo respeito, pelos comentários, pelos risos, pelos ensinamentos. Crescemos e pretendemos crescer ainda mais. Obrigado!


Rock Meeting Direção Geral

Pei Fon

Revisão

Yzza Albuquerque

Capa

Alcides Burn

Ilustração

Thiago Santos

Diagramação Pei Fon Yzza Albuquerque Conteúdo

Breno Airan Daniel Lima Isabela Pedrosa João Marcelo Cruz Jonas Sutareli Lucas Marques Colaboradores Rafael Paolilo Rodrigo Bueno CONTATO Email: contato@rockmeeting.net Facebook: Revista Rock Meeting Twitter: @rockmeeting Veja os nossos outros links: www.meadiciona.com/rockmeeting


Table of Contents 04 - Coluna - Doomal 07 - News - World Metal 11 - Spoiler - Rock of Age 14 - Show - Bullet Bane 17 - Capa - Dead Fish 31 - Show - Ratos de Por達o 35 - Rock Meeting 3 anos 37 - Show - Viper 45 - Coluna - Review 47 - O que estou ouvindo? 53 - Coluna - Rock Game


Por Rodrigo Bueno (Funeral Wedding)

Tríplice aliança do Doom - Paradise Lost Na história do metal, há poucas bandas vindas de um mesmo lugar que foram tão bem sucedidas e influentes para uma cena como as bandas Anathema, My Dying Bride e Paradise Lost, também conhecida por “Tríplice Aliança do Doom Metal”. Neste, e nos próximos textos a seguir, vamos tentar dar uma visão geral do que acompanhamos na época com informações que conseguimos através de trocas de cartas com outros apreciadores dessa sonoridade. Dentre eles, amigos e revistas especializadas. Surgida na cidade de Halifax, em 1988, a Paradise Lost tinham um approach voltado ao Death Metal, estilo em ascensão na época, mas eles possuíam um algo de diferente em sua sonoridade. Após 4 demos lançadas, em 2 anos, desde sua criação (1988) até o lançamento

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de seu début álbum “Lost Paradise” (1990), o Paradise Lost foi fortalecendo seu nome, e lentamente diminuindo a velocidade, até gravarem seu álbum de estreia. Mas com seu segundo álbum, “Gothic” (1991), que a coisa realmente mudou para esses britânicos. Não que esse álbum tivesse uma sonoridade mais acessível, pelo contrário, continuava “podre”, mas algumas incursões de teclado e algumas poucas vozes femininas. Para muitos esse álbum foi um divisor de águas para a cena, sendo citado até hoje por sua influência. Neste álbum era apresentado ao mundo o seu primeiro “hit” e até hoje um


item obrigatório nos shows. Apesar de “Eternal” ser uma das faixas mais conhecidas deles, esse álbum apresenta as não menos importantes “Gothic”, “Falling Forever”, “Silent”, “Dead Emotion”, entre outras. No Brasil, esse disco foi lançado via Cogumelo Records, numa primeira leva de

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discos de vinil que foram licenciados via Peaceville. Nessa leva continha Dark Throne e Autopsy como os primeiros lançamentos. Após o bem sucedido “Gothic”, o Paradise Lost nos brinda com o novo lançamento Shades of God (1992). Esse álbum traz uma sonoridade mais enxuta e uma gravação polida, mas, mantendo-se fiel ao estilo de seus primeiros álbuns. Riffs melancólicos, andamentos lentos e vocais guturais são a tônica desse cd e contém seu segundo hit, As I Die. Músicas como “Pity the Sadness”, “Your Hand in Mine”, “Mortals Watch the Day” são algumas das faixas desse cd. Em 1993, temos uma mudança abrupta, e para muitos fãs radicais, a banda se vendeu. Mas como lançamento do álbum “Icon”, temos uma banda alçando vôos nunca antes realizado por alguma banda do nicho Death/ Doom. Trazendo vocais limpos e uma sonoridade em direção ao gothic doom metal, esse álbum se tornou um dos álbuns clássicos da banda e assim como “Gothic”. Um dos melhores lançados por eles até hoje. Muitas bandas de hoje, certamente foram influenciados pelos riffs da dobradinha que abre o disco “Embers Fire”, “Remem-


brance”. Assim como “Eternal” e “As I Die”, outra faixa que é obrigatória até hoje nos shows é a faixa “True Belief”. Talvez por tê-la escutado tantas vezes em minha vida, hoje para mim, ela é dispensável. Mas não posso negar que é uma boa música. Uma notícia que pegou a todos de surpresa foi a debandada do baterista original Matthew “Tudds” Archer. Após o sucesso comercial de “Icon”, todos perguntavam se o Paradise Lost seria capaz de lançar um álbum tão bom. O ano de 1995 começa e temos uma grande surpresa. “Draconian Times” não só era tão bom quanto o anterior, como para muitos é o melhor álbum lançado até hoje por eles. Um álbum recheado de riffs, melodias, tristeza e música de qualidade. Não há uma parte do álbum em que você se canse de ouvir, desde a intro/Enchantment até sua última faixa Jaded, inúmeras sensações são sentidas que vão da tristeza à euforia e a tristeza novamente. Para a sorte de nós brasileiros, esse lançamento coincidiu com a primeira apresentação deles por nossas terras. Além de ter a presença garantida no falecido festival Philips Monsters of Rock, a Roadrunner Brasil lançou esse álbum com mais 3 bônus tracks, que foram retirados do single “The Last

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Time”. Nesse single/bônus contém as faixas “Walk Away”, “Laid to Waste” e “Master of Misrule”. Uma versão para “Walk Away” do The Sisters of Mercy, foi primeiro cover “assumidamente” tocado pela banda, pois segundo foi relatado na época, o guitarrista Gregor Mackintosh não curte tocar versões “cover” de ninguém, mas essa ele aceitou e digamos que ficou bem feito. Após essas tantas mudanças desde sua formação até os seguintes anos, o Paradise Lost ainda estaria por enfrentar uma mudança ainda maior, onde veria muitos fãs antigos torcerem o nariz e também abandonarem a banda. Mas essa história e os seguintes anos ficarão para um outro dia.


Anette fora A vocalista Anette Olzon saiu do Nightwish em plena turnê mundial de promoção do mais recente álbum, o “Imaginaerum”. No Facebook oficial da banda, podia-se ler: “Outro capítulo da história do Nightwish termina hoje. Nightwish e Anette Olzon decidiram se separar, em entendimento mútuo, para o bem de todas as partes envolvidas. Nos últimos tempos, tornou-se cada vez mais óbvio que a direção e as necessidades da banda e da vocalista estavam em conflito, e isso levou a uma divisão da qual a banda não pode se recuperar. Nightwish não tem intenção de cancelar qualquer um dos próximos shows, e, como resultado, decidimos trazer uma vocalista substituta, a partir de 01 de outubro de 2012. O nome dela é Floor Jansen, da Holanda (ex-After Forever, ReVamp), e ela, graciosamente, entrou em cena para nos ajudar a completar a turnê”.

Injetando mais Adele

Axl ao vivo após 10 anos

O ex-guitarrista do Guns N’ Roses, Slash, revelou todo seu amor pela diva Adele. “Ela é ótima. Ela é uma injeção no braço para essa indústria. Ela escreve sua própria música, e não é fabricada sob nenhum aspecto. E ela conseguiu vender muitos discos, o que faz dela um grande exemplo para os artistas mais jovens. Assim como Amy Winehouse, ela é orgânica e autêntica. É ótimo ter isso acontecendo nesse momento, quando todos os outros são tão sintéticos.”

A última vez que Axl Rose deu uma entrevista ao vivo para a televisão foi depois do fiasco monumental do VMA de 2002. Desde então, sua única aparição televisiva foi no “That Metal Show”, ano passado [gravado e editado]. A maioria de suas entrevistas foi impressa, e mesmo assim, conduzidas via e-mail. Então, é de se surpreender que Axl vá aparecer no programa televisivo Jimmy Kimmel Live nesse mês. Lembremos que Kimmel é um comediante, e bem mais ácido que os co-entrevistadores de Eddie Trunk. A conversa está prevista para ir ao ar no dia 24 de outubro.

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Lollapalooza 2013

A maestria voltando

Um line-up de mais de 60 atrações foi anunciado oficialmente para o Lollapalooza 2013, entre outros, Pearl Jam, The Killers, Queens of Stone Age, A Perfect Circle, Franz Ferdinand, Flaming Lips, Cake, Kaiser Chiefs. O festival ocorre nos dias 29, 30 e 31 de março. Vendas do passaporte para os três dias de festival (R$900 inteira) abrem na próxima meia-noite.

O guitarrista Roland Grapow publicou a seguinte atualização em seu perfil do Facebook. “Agora é oficial, nós vamos tocar ao vivo novamente em 2013, depois de 6 anos. Masterplan no Full Metal Cruise”. O Full Metal Cruise desse ano ainda vai contar com as bandas Kreator, Heaven Shall Burn, Amaranthe, Blaas of Glory, Eric Fish, entre outras.

Foo Fighters aposentado? O frontman do Foo Fighters, Dave Grohl, anunciou no início deste mês de outubro a paralisação oficial da banda. “Nós realmente nunca teríamos feito nada disso sem vocês... Nunca, nem em meus sonhos mais selvagens, eu acharia que o Foo Fighters chegaria tão longe. Porque não é apenas uma banda para mim. É a minha vida. É minha família. É meu mundo. Sim... Eu estava falando sério. Não tenho certeza quando o Foo Fighters vai tocar novamente. Parece estranho dizer isso, mas é uma coisa boa para todos nós sumir por um tempo. É uma das razões porque ainda estamos aqui. Faz sentido? Eu nunca quero NÃO estar nessa banda. Assim, às vezes é bom apenas... deixá-la no fundo da garagem”, colocou ele no Facebook oficial do grupo pós-grunge.

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Dia de celebração O Led Zeppelin anunciou quatro sessões de estreia para seu novo filme/show, “Celebration Day”. O filme, que documenta a reunião da banda em 2007 na O2 Arena de Londres, terá seu debut cinematográfico no Ziegfield Theater em Nova Iorque no dia 9 de outubro antes de eventos similares em Londres, Berlin e Tóquio. Antes da sessão em NY, os membros fundadores Robert Plant, Jimmy Page e John Paul Jones estarão com Jason Bonham, filho do finado baterista da banda, John Bonham, em uma coletiva de imprensa no Museu de Arte de Nova Iorque. Celebration Day então terá uma première no Hammersmith Apollo no dia 12 de ok.utubro, onde Jones, Page e Plant estarão. Os eventos subsequentes ocorrerão em Berlin no dia 15 de Outubro, aos quais Jones comparecerá, e Tóquio no dia 16 de Outubro, que já tem confirmada a presença de Page.

Algo novo por aí

Zakk no Pantera?

O Metallica planeja entrar em estúdio “em breve” para começar a trabalhar em seu próximo álbum, previsto para sair em 2014. O guitarrista da banda, Kirk Hammett, fez a seguinte declaração sobre o status do processo de composição para o próximo CD: “Nesse momento, estamos nos ocupando com esse filme em 3D que filmamos mês passado no Canadá. Então isso está tomando nosso tempo por agora – a prioridade é essa, lidar com isso. mas assim que terminarmos isso, vamos começar a engrenar e preparar uns riffs. Isso tudo vai acontecer em breve”.

Há rumores de que uma reunião do Pantera, trazendo o guitarrista Zakk Wylde, ex-Ozzy Osbourne, irá acontecer. O vocalista Phil Anselmo, agora no Down, disse que falou “com o Zakk sobre o assunto duas semanas atrás e ele mostrou-se plenamente interessado... Mas, verdade seja dita, Vince [o baterista Vinnie Paul] tem um rancor realmente infundado contra mim. E, honestamente, eu sempre tive as portas abertas para ele. Estou disposto a isso”.

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Paradise Lost em Dezembro

Unidos venceremos

A banda inglesa de Doom Metal, Paradise Lost, volta ao Brasil após quatro anos. Em apresentação única, a banda trará a turnê do álbum “Tragic Idol”. O show acontece no Carioca Club, em São Paulo, no dia 8 de dezembro. Os ingresso já estão à venda através do site da produtora Dark Dimensions e na Galeria do Rock (Lojas Profecias e Hellion). Valores: R$ 90 (inteira) e R$ 45 (meia).

A banda de Thrash Metal, Destruction, tinha data e mês marcado para voltar ao Brasil, porém a produtora é a mesma do fiasco do Metal Open Air. Sabendo disso, fãs brasileiros foram no facebook do vocalista Schmier e fizeram suas reclamações. A tour no Brasil foi adiada e só acontecerá em 2013 com outra produtora, como afirmou o frontman. Leia tudo sobre o assunto AQUI

Maiden no Download De 14 a 16 de junho de 2013, uma nova edição do Download Festival virá à tona. E a primeira atração confirmada oficialmente no site do evento não poderia ser mais adequada: o Iron Maiden. A banda britânica tocou em Donington Park há quase um quarto de século com a turnê do “Seventh Son Of A Seventh Son” e poderá executar o trabalho conceitual de novo. “Estamos absolutamente deslumbrados. A ideia de voltar a Donington exatamente 25 anos depois, com um show inspirado no álbum era boa demais para ser desperdiçada. Graças à tecnologia, podemos melhorar a produção original”, conta Bruce Dickinson.

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Spoiler

Rock of Ages: assistível ATENÇÃO CONTÉM SPOILERS! Por Jonas Sutareli (@xSutarelix | jonas@rockmeeting.net) Foto: Divulgação

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irigido por Adam Shankman, Rock of Ages é um filme baseado em um homônimo musical da Broadway, que conta a história e sonhos de estrelas do rock e de jovens que querem se tornar uma. A história do filme gira em torno de Sherrie (Julianne Hough), uma moça do interior que tem o sonho de se tornar cantora profissional. Drew (Diego Boneta), um rapaz que trabalha numa casa de shows e quer ser rock star e Stacee Jaxx (Tom Cruise), um rock star egocêntrico e hedonista. Sherrie chega em Los Angeles a fim de realizar seu sonho. Ao chegar à cidade, tem a imensa sorte de ser assaltada. Então aparece Drew e consegue um emprego para ela casa de shows Bourbon, ícone do cenário rock da cidade. Drew também trabalha na Bourbon. Só que a casa está passando por problemas financeiros. O dono do local é Dennis Dupree (Alec Baldwin), que tem a ideia de tentar salvar a casa fazendo o último show da Arsenal, a banda de 11

Stacee Jaxx, que seguirá carreira solo em seguida. Só que Patricia Whitmore (Catherine Zeta-Jones), a esposa do prefeito da cidade, está disposta a fechar a casa por considerá-la um antro de prostituição e de adoração ao demônio, causando má influência sobre a cidade. Após o show do Arsenal, o empresário da banda fica com todo o lucro do show e deixa o Bourbon ainda no vermelho, além de levar Drew com ele e fazê-lo assinar um contrato para cantar rap. No fim de tudo, Patricia era uma antiga groupie de Stacee Jaxx, que dá um pé na bunda de seu empresário e paga as dívidas do Bourbon, que faz outro show da Arsenal (sim, eles desistiram do fim da banda) e cantam uma música composta por Drew (que agora canta com sua namorada Sherrie na banda deles), que termina o filme junto com Sherrie. O enredo é clichê. Mas a trama até que se torna interessante, pela maneira como as coisas se desenrolam. As personagens são


rasas, passam longe da complexidade, mas a fidelidade e competência na interpretação fazem com que seja tudo agradável. Apesar de eu não ser muito fã de musicais, Rock of Ages cumpre com sua proposta. É um filme na média e está longe de ser um clássico ou algum filme que ganhe o Oscar. Mas vale a pena ser assistido, sobretudo, pela trilha sonora. Direção, fotografia, cenário, produção e atores estão todos de parabéns. Os roteiristas que não se esforçaram muito. Vai ver que eles não quiseram alterar muito o musical original, já que o filme foi baseado num musical famoso que fez muito sucesso na Broadway. O que chama mais atenção no filme inteiro é a trilha sonora, que abre logo com Paradise City do Guns N’ Roses. O filme conta também com músicas das bandas Bon Jovi, Deff Leppard, Twisted Sister, Extreme, Journey e Whitesnake. Pecando pela de extravagância na hora das músicas, Rock of Ages diverte, mas não surpreende. É um bom filme/musical. E só. Confira a lista completa das canções no filme: Guns N’ Roses - Paradise City Foreigner - Waiting For A Girl Like You 12

Extreme - More Than Words Warrant – Heaven Bon Jovi - Wanted Dead Or Alive Foreigner - I Want To Know What Love Is Quarterflash - Harden My Heart Pat Benatar - Shadows Of The Night Whitesnake - Here I Go Again REO Speedwagon - Can’t Fight This Feeling Poison - Every Rose Has Its Thorn Starship - We Built This City Twisted Sister - We’re Not Gonna Take It Journey - Don’t Stop Believin’ Night Ranger - Sister Christian David Lee Roth - Just Like Paradise Poison - Nothin’ But A Good Time Foreigner - Juke Box Hero Joan Jett and the Black Hearts - I Love Rock N’ Roll The Arrows - I Love Rock N’ Roll Twisted Sister – I Wanna Rock Deff Leppard - Pour Some Sugar On Me Journey - Any Way You Want It.



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Flávia Motta

É

impressionante como muitas vezes acontecem o choque de eventos em Maceió. Tem meses em que se passam um, dois finais de semana sem acontecer nada interessante na cidade. Mas neste fim de semana foi às avessas. Para o desespero de qualquer promotor de evento, houve no Posto 7 o Rock Cordel, festival gratuito que reuniu diversas bandas de rock autoral. A pergunta que fica é a seguinte: “Será que Maceió tem público suficiente para eventos simultâneos?”O ideal seria que sim. Mas não é a primeira vez que isso acontece e nem vai ser a última. Seria muito pertinente que as pessoas ligadas às movimentações culturais compartilhassem um calendário, para que não ocorressem esses ‘choques’ com frequência. É nítido que isso não é bom para ninguém. Nem para o público que fica na berlinda da escolha, nem para os produtores, principalmente os menores. Ainda sim, com a cara e a coragem o pessoal da Cutelo Produções se manteve firme e o show foi realizado. Com atraso um pouquinho maior do que o de costume, mas nada que causasse revolta. Até porque boa parte do público também chegou mais tarde justamente por causa do rock de graça lá no Posto 7. E eu fui um deles, com isso, acabei perdendo o show de abertura da Banda Em Conflito. Soube que mandaram um cover Street Bulldogs, ponto positivasso! Logo em 15

seguida foi à vez dos rapazes da Reverter que também, infelizmente, acabei perdendo. Mas já conheço bem essa banda. Os meninos têm talento e potencial. Precisam aparecer mais para o público, aproveitar os meios disponíveis para divulgação e fazer uso dos aparatos tecnológicos, porque, como dizem por aí: se você não está na internet, você não existe, né? Fica a dica. Tive a impressão que talvez pelo atraso, as bandas fizeram um set reduzido. Todas tocaram repertórios com duração entre 30 a 40 minutos. A terceira banda da noite foi a Coffeeshop. Nesse momento, quando entrei, acredito que havia na casa cerca de 120 pessoas. A Coffeeshop é a banda de Hardcore que mais vem se destacando em Maceió. Praticamente toda semana é possível ver o nome da banda em flyers de todo tipo de festa e evento. Isso se deve a dois motivos: Primeiro, bons músicos, experientes, conhecidos e com uma boa rede de amizades; o segundo motivo é a flexibilidade do som da banda, que transita do Hardcore ao Pop Punk, o que atrai uma grande gama de afeiçoados que da galerinha teenager, à galera que curte um som mais melódico. As influências das bandas Noção de Nada e Zander são evidentes. O show foi muito bom. Redondinho, ensaiadíssimo e com direito a um cover tributo in memorian à Tony Sly, do No Use For a Name e Alkali-


ne Trio. Precisa comentar mais? Agora em outubro os caras fazem uma mini tour (Maceió-Aracajú-Arapiraca) com Dead Fish! Merecem. Após a Coffeeshop já era bem tarde, mais de duas horas da manhã. E era a vez da banda de hardcore mais técnica da cidade tocar, a Not My Problem. Outra vez, mais uma banda com músicos de mão cheia. Mas infelizmente, por um imprevisto de ordem médica, o baterista mais veloz de toda Maceió ficou impossibilitado de tocar. Mas pra não frustrar o público, os caras fizeram um arranjando com o baterista prodígio Felipe Cauby, da Coffeshop; o garoto fez o possível, e os caras ainda tocaram umas quatro músicas. Valeu muito pela força de vontade! Pronto. Chegou a hora dos mininu. O Bullet Bane pra quem não sabe, é tipo, a revelação do hardcore nacional. Depois de um momento de estagnação e outras tendências ‘teenagers’, o BB, juntamente com uma leva aí que inclui os cariocas da Plastic Fire, Chuva Negra, etc., trouxeram de volta um certo vigor à cena melódica do hardcore nacional. Assim como a Not my Problem, os caras seguem a linha de som de bandas como Strung Out, Pennywise e Belvedere. Vocais melódicos em inglês, guitarras trabalhadas e com muita velocidade. Sinceramente, não tenho escutado esse tipo de som nos últimos tempos. Conheci o BB 16

como a banda que abriu o show do NOFX, mas nunca cheguei realmente a parar pra escutar um disco inteiro. Vi mais vídeos e os clipes. Bom, de volta ao show... Não vou comentar sobre o setlist porque eu realmente não conheço muita coisa. Mas o show em si, foi tudo o que eu esperava. Energia, vigor e técnica. Esse foi o segundo show da tour dos caras. E isso é massa porque pega os caras na instiga (sem a canseira de fim de tour). E apesar dos probleminhas com o equipamento de som contratado, de forma alguma isso atrapalhou a instiga do público nem da banda. E cá entre nós, foda-se a perfeição. Hardcore é feeling! Foi bonito ver todo mundo curtindo, dançando, cantando, pogando... É isso que importa, e daí que o ‘retorno’ não tá legal? E daí que fulano não tá escutando bem seu equipamento?! Isso aqui é hardcore meu amigo!! E o calor só fazia as coisas pegarem mais fogo. Victor, o vocalista tratou logo de descer do palco e instigar no chão com a galera. Essa é a essência do bagulho, saca? Sem barreiras entre público e banda. Todos juntos em ebulição! Ao final do show, os comentários foram unânimes. “QUE SHOW MEU IRMÃO” “SHOW DA PORRA VÉI” “PQP, DO CARALHO MERMÃO!” Pronto, quatro horas da manhã, todo mundo suado, exorcizado e feliz. E assim foi mais um dia de hardcore.


CAPA

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Dead


Fish

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20 anos Por João Marcelo Cruz | Yzza Albuquerque (@rockmeeting | contato@rockmeeting.net) Fotos: Divulgação

20 anos de banda, meu amigo. É uma vida, subterrânea e paralela. O que acontece nessa vida de banda independente, de fato, não é pra qualquer um! Tem que ser guerreiro guerrido e exige respeito! E o Dead Fish esta aí com todo gás lançando seu dvd comemorativo pelos 20 anos de estrada. E no próximo dia 12, eles retornam à Alagoas com este show que promete ser memorável. Desta vez, contando com a novidade que é a passagem por Arapiraca. Não à toa, esta é possivelmente a sétima passagem da banda por Maceió. Não me recordo de nenhuma outra banda de hardcore que tenha vindo tantas vezes a nossa capital. Então, para ir aumentando as expectativas, confira abaixo a entrevista que nós da Rock Meeting fizemos com os capixabas, Rodrigo e Alyand.

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Olá, Alyand e Rodrigo! É uma enorme satisfação poder contar com um tempinho de vocês para esta entrevista. Sintam-se à vontade e não meçam palavras. - Levando em consideração o começo despretensioso da banda e os vinte anos de estrada, como é saber que o Dead Fish é hoje um dos principais alicerces do Hardcore nacional? Alyand - Para mim é bem legal e gratificante poder saber que nós, de alguma forma, fazemos e fizemos a diferença. Isso é o resultado de um trabalho sério e de amor a uma causa. Eu tenho a minha banda por amor e isso é demais! Rodrigo - Fizemos nossa parte da história toda. Fomos sem vergonha o bastante para gostar do que fazíamos e fomos atrás disso. Em nenhum momento acho que o objetivo foi este, mas, já que você esta dizendo, me sinto feliz em ter aberto alguns caminhos e criado algum espaço pra este tipo de música. - Vocês são referência e influência para praticamente todos os grupos de Hardcore do Brasil que surgiram depois do Dead Fish. No começo de tudo, quais foram as bandas que exerceram esse papel para vocês? Vocês ouvem som novo, ou preferem ficar só com a Velha Escola? Alyand - A minha principal formação musical e influencia é o Misftis. Depois, Bad Religion, Metallica, Slayer, Faith no More, Nofx, Colera, Ratos de Porão, entre outros... Coisas novas eu escuto , Confronto , Zander , Ratos... Rodrigo - Eu ouço algumas coisas. Não vou muito mais atrás não como fazia no passado. Eu gosto bastante de muita coisa que ouço por ai, em todos os lugares que vamos tem 20


alguém produzindo algo legal. Resta saber se esta molecada sabe dar valor a isso. No meu tempo tudo era mais tosco, mas a gente dava mais valor. Hoje tudo tem uma qualidade técnica sempre boa, mas não sei se as pessoas envolvidas conseguem dar valor a isso. As minhas primeiras referências foram o Public Enemy, Misfits, Bad brains, Bad Religion, 7 seconds, Cólera, Ratos, Inocentes, Replicantes, Fugazi e The Clash. Acredito que estas tenham sido as bandas que fizeram a gente começar uma banda, à grosso modo. - Quais músicas vocês não tocam mais de jeito nenhum? Tipo, já enjoaram... E por qual motivo vocês deixaram de tocar “Anarquia Corporation”? Alyand - Cara eu não tenho problema algum com a minha obra . O Rodrigo que sempre reclama de tocar umas musicas. Mas para mim, toco todas. Mesmo as que são datadas , pois são minha obra e me orgulho muito do que fiz! Rodrigo - Não acho que A. Corp. represente mais o meu pensamento. Foi uma música feita com muita raiva depois do incidente do “Junta tribo” em 96. As pessoas podem me contestar falando que alguns sons que ainda tocamos são datados e tudo mais, mas esta música em especial vai de encontro com o que penso hoje. Os sons como “Paz Verde” ficaram datados porque o país mudou mas não a minha ideia sobre a música. Não existe outra música que não toquemos. Eu não gosto de várias. “Noite” é 21

uma delas. Por mim não tocava essa música nunca mais. Mas, a banda sempre quer tocar e eu tenho que aceitar né? - Sobre a possibilidade de algo parecido com o “Projeto Peixe Morto”: nunca pensaram em fazer aquela “doidice” de novo? Um projeto “Dead Fish Pesadão”? Alyand – (risos) Não. Já até pensei em voltar com o projeto , mas como o Rodrigo não se animou muito, eu prefiro deixar para lá! Fazer com o DF algo parecido, não. Pois acho o DF mais pesado e bem mais coeso do que o PPM. Rodrigo - Nunca mais nos ocorreu cara...


do DF que já passou da hora de sair e depois vamos ver as possibilidade de lançamentos de Splits ou coletâneas . Rodrigo - Eu gostaria de lançar em vinil. Já tentei negociar com uma fábrica fora do Brasil, mas existem outras coisas a serem feitas, como pedir autorização para todas as bandas que participaram, dividir o material entre as bandas e ainda ter custos. Não é tão fácil quanto as pessoas imaginam. Eu sei que boa parte dos caras das bandas envolvidas ia adorar ver isso lançado em vinil, mas só adorar não basta. Teríamos que pensar na divisão do material também. Eu gostaria de lançar algo com outras bandas sim. Não neste formato, talvez com músicas inéditas de cada banda. Vamos ver aonde chegamos com a ideia...

Gostaria de ter um projeto de novo com os caras da banda, mas, com todo mundo mais velho e com menos tempo acho difícil que isso aconteça de novo. - Vocês pensam em lançar algum split novamente, agora que o “Faces do Terceiro Mundo” está completando 10 anos? Pensam em algum tipo de tributo ao “Faces...”, ou lançar um novo split com a mesma proposta? Alyand – Não. Nesse formato não faremos nada. Mas existe a possibilidade de lançar com o Zander e também com o Shaila ( Argentina ) um Split. Estou trabalhando primeiro no novo 22

- Em quais cidades as rodas de pogo são mais insanas? Onde o público é mais frenético e onde é mais frio, falando de Brasil, Europa e, especificamente, Nordeste? Alyand - É bem difícil dizer exatamente, pois são diferentes e tem suas peculiaridades. Eu acho que em recife é bem frenético , Maceió é bem caloroso e mais organizado (acho que posso classificar assim). Os piores mesmo são RJ, BH que são sem noção ! Mais frios eu não saberia dizer, talvez educados ou mais cuidadosos, foi a nossa primeira vez, em São Luís do Maranhão, foi muito foda. Não tivemos nenhum problema com o público e eu gostei muito. Espero poder voltar! Rodrigo - Cada cidade tem uma especifici-


dade. Algumas são ultra nervosas e agitadas, outras são menos agitadas mas mais atenciosas, musicais, querem cantar junto. Não me lembro de, no Brasil, um lugar ter uma pegada mais fria não, aonde vamos é quente e cheio de energia. Recife sempre é insano, no limite. Às vezes dá até medo, mas dá pra ver que os garotos conseguem se entender bem naquela bagunça. Fortaleza não é tão veloz, mas é musical pra cassete. Nego quer cantar os sons, bater palma. Inclusive inventaram um tempo diferente de palmas do resto do Brasil em Iceberg. Salvador foi destruidor duas semanas atrás, foi legal porque os garotos souberam entender o “jogo” público/banda que rola no Hardcore. Fato que não rola sempre nos nossos shows, e a apresentação foi de gala, maravilhosa. São Luis foi uma grata surpresa. Nunca tínhamos ido pra lá em vinte e um anos e foi sensacional. Todo mundo muito afim de que a coisa rolasse bonito e foi o que aconteceu. Inesquecível. Quanto ao sul/sudeste/centro oeste não me lembro de nenhum lugar que seja mais frio também... O público em Curitiba é tão insano quanto no Recife. Em Porto Alegre temos uma rapaziada também muito atenciosa e que faz o show acontecer diferente, do jeito deles, como é no ES por exemplo. Enfim, o palco sempre é especial na Brazaland. Europa, Argentina, Chile já tem outra pegada outras historietas... Cada lugar tem uma característica legal. Me lembro muito de um show em La Plata num lugar muito pequeno pra pouca gente que foi demais! Nego depois veio nos “saludar” e perguntar de tudo. De política à minha dieta alimentar. No Chile um show em Valparaíso durante os protestos dos “pinguinos” foi especialmente bom. Na Alemanha tocamos pra públicos muito pe23

quenos e variados mas não me lembro de nenhum ter sido “mais reservado”. Me lembro de um show numa cidade chamada Bamberg que tinham umas 40 pessoas no local. Quando a gente começou a tocar a alemãozada começou a tirar os casacos e a porrada lambeu, tinha até um no meio do mosh com uma camisa escrito “carioca” hahahahahaha e outro que teve a manha de quebrar o nariz numa pilastra e continuar amarradão. - Como andam os planos da 3 Mundos Produções? Como ela tem atuado hoje em dia? É de fato uma continuação da


3º Mundo Prod. Fonográficas? Existe algum plano de relançamentos, ou algo para tributar daquela época? Alyand - Cara eu tive problemas de saúde tentando mudar o mundo depois de velho com uma produtora. Eu realmente não sei se vou poder continuar com ela, que é uma produtora de shows, diferente da 3 Mundo Prod. Fonográficas, que era um selo. Mas eu pretendo fazer eventos ou mesmo um festival uma vez por ano em cada capital. Depois vou ver se rola de agenciar bandas que é a ideia principal da produtora. Rodrigo - Isso ai é com o Aly. Eu por mim 24

esquecia esta história hahahahahaha. - A maioria das bandas almeja um dia chegar ao “mainstream”, ganhar dinheiro e fazer sucesso. Vocês estiveram lá, foram bem recebidos, mas no final abandonaram tudo isso e retornaram ao underground. Por que fizeram essa escolha? Alyand - Na minha opinião, quando assinamos com a Deck , entramos lá no mainstream, mas nunca deixamos o Underground, e isso sempre foi nossa vontade, pois sabemos de onde viemos e o que somos como banda.


Ainda fazemos coisas, shows e festivais com bandas maiores a diferença é que não perdemos o nosso foco, pois se isso tivesse acontecido, eu não estaria aqui dando esta entrevista e sim outras justificando o fim do DF ha 8 anos atrás. Nunca perca o seu foco como banda. Dinheiro e status passam e acabam, mas sua honestidade, você leva para sempre e seu público vai se lembrar disso. Rodrigo - Não foi uma escolha. Tudo tem um tempo neste meio, tivemos o nosso e foi isso. Fizemos como achávamos que era bom pra gente e depois do nosso tempo voltamos pra onde nunca saímos de verdade. Sempre tivemos um perfil de banda mediana pra pequena. Eu até gostaria de ter sido um pouco maior, mas o meio acho que não estava interessado. Sempre é uma questão mercadológica, pouca gente domina isso ai e eles não querem perder o controle com um bando de 25

cara falando de política e outras coisas que talvez fugissem ao assunto que eles queriam vender. O problema neste parte também era nosso. Nós estávamos aceitando uma forma de jogo que não dominávamos por completo como tinha sido nos primeiros treze anos. Erros foram cometidos de ambas as partes tanto da nossa quanto da deles. Num país que uma minoria domina os meios de comunicação o jogo é sempre complicado pra quem quer fazer do próprio jeito como a gente fez na medida do possível ali dentro. Eu particularmente não reclamo. Acho que fomos lá botamos a cara fizemos do jeito que tinha que ser e foi isso. - Como tem sido o gerenciamento da banda pós-Deckdisk? Vocês mesmo cuidam de tudo? Booking, produção, divulgação, agenciamento, contratos etc.


Alyand - Temos uma parceria ainda com a Deck por trabalho feito. O nosso DVD saiu pela Deck , que faz um trabalho de divulgação pequeno, mas faz. Temos o Nosso escritório, a V12, onde o Denis (showsdeadfish@gmail.com e falar com o Sr. Denis Porto) agência a banda. Lá temos assessoria de imprensa etc... Mas nunca deixamos diretamente com eles , assim como foi na Deck e outros escritórios, sempre estamos envolvidos e opinamos diretamente desde onde tocar ,como e com que tocar. Sempre cuidamos da banda indiretamente. Sempre! Rodrigo - Temos um empresário e parceiro que se chama Denis Porto. Se não fosse ele, talvez nem tivéssemos gravado o DVD de 20 anos no Circo. O resto a gente consegue administrar bem. Internamente temos uma equipe que trabalha pra caralho em prol da banda e todos os integrantes se empenham em ajudar em algo. Eu fico com a parte do 26

merchan, internet (temos uma equipe ai que sabe muito mais do que eu e ajuda pra cassete) e com a caixinha da banda que fazemos pra bancar imprevistos, investimentos e pagamentos que temos que fazer mensalmente. - Qual o conselho que vocês dão às bandas que insistem em ser bandas covers, especificamente do Dead Fish? Até onde vai o limite entre tributo/homenagem e “gozar com o pau dos outros”? Aqui em Maceió isso tem sido um problema. Show de banda cover lota, enquanto de banda autoral fica bem mais vazio... Vocês também veem isso Brasil afora? Alyand - A influencia é normal. Fazer cover quando se esta novo tudo bem, mas a partir de uma momento, eles precisam definir o que eles querem fazer da banda. Na real não existe uma regra para isso e sim a vontade pró-


pria de compor coisas para a sua banda ou a de se divertir fazendo cover de outras banda! Eu prefiro fazer músicas minhas, escrever a minha história e deixar a dos outros de lado. Mas isso é muito particular, tem que saber o que eles querem para a vida deles. Isso acontece em todo o Brasil. Rodrigo - Não vejo muito por ai não, acho que além daí, só no Rio e algumas cidades do sul eu vi isso... Não sei se me sinto homenageado com um garoto fazendo cover da minha banda. Preciso pensar mais sobre vai depender muito de qual seja a intenção. Eu acho que preferia que ele formasse uma banda pra tocar um som deles mesmos, acho que faz mais a diferença pra todo mundo mesmo que num começo não seja super estrondoso. Mas tem também o cara que gosta tanto da banda que quer meio que ouvir o som dela né? Eu comecei assim. Adorava imitar

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Bad Brains e o Misfits. Os primeiros ensaios foram muito pra a gente ouvir o que curtia. Então não sei se tenho uma opinião formada sobre o assunto. O que eu sei é que o que mais me instiga é ver uma banda no seu local com a sua gente fazendo coisas que lhes digam respeito. Acho isso mais interessante. - E aquela velha política de pagar pra tocar, vender ingresso, comprar cota, escolher posição pra tocar... Sabemos que vocês são contra essa prática, mas ainda é muito comum esbarrarem nesse tipo de coisa? Alyand - Não recebemos mais convites com este formato, o que é lindo! Isso é sujo, desonesto, se é para cobrar da banda, então divida com ela também todo o lucro! Rodrigo - Acontece sim. E este procedimento virou meio uma praga na América do sul. Eu ouvi falar disso em todos os países em que estive... Uma bela merda!


Mas eu gostaria que pudesse escolher um desses procedimentos que disse ai acima. Gostaria de escolher minha posição sempre pra tocar. Sempre a primeira banda, bem cedo. Seria maravilhoso. Hahaha. - Depois de tantos anos de banda, as furadas e pilantragens ainda são recorrentes? Alyand - OPA!! Sempre, acabei de tocar no RJ e adivinha o que aconteceu? Fiquei horas esperando para tocar, subi no palco quase as 5 da manhã e não recebi tudo! Não muda nunca. É sempre uma merda de contratante que quer ser esperto e ganhar dinheiro fácil! Rodrigo - Em escala infinitamente menores, mas acontece sim. - E sobre bandas amigas, parcerias, de trabalho honesto: quais vocês consideram “firmeza” e recomendam?

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Alyand - Tem vários amigos e bandas de longa data, G. FUzz, Confronto, Ratos, MUkeka, Zander, Shaila, Bad Religion, entre outros. Rodrigo - Eu gosto do Luan em Curitiba, gosto muito do Leandro Carbonato do Inferno e do Alemão do hangar 110 em São Paulo, do Cris da Solid no RS, gosto da Bianca Martim em BSB, do Maurílio e da Empire no CE, do Sandro da Abunái em Belém, do Rolinha no Circo Voador no Rio e mais alguns outros que não me ocorrem agora mas que no decorrer dos anos foram se tornando parceiros da banda. - Recentemente, uma galera aqui foi pega de surpresa com o fim do Nitrominds. Eu (João Marcelo), particularmente, considerava-a uma das bandas mais fodas do HC brasileiro. Pareceu-me meio estranho a forma como acabaram. Como imagino que vocês


Maurício Santana

tinham alguma relação com o grupo, pelos anos de estrada, queria saber a opinião de vocês sobre este fato. Alyand - É sempre triste quando isso acontece. Sou amigo dos meninos e fiquei triste! Mas não posso opinar. Eu tenho uma banda e sei o quanto é desgastante, os problemas, diferenças, viagens, não é fácil. Mas mesmo assim, torço para ele descansem um pouco e retornem com a corda toda! Rodrigo - Eu não posso opinar cara. Eu gostava da banda, sou amigo dos caras, mas estas decisões sempre são muito pesadas e tensas ao mesmo tempo. Estar numa banda não é algo que seja fácil, ainda mais numa banda que tem que fazer tudo e ainda por cima viver uma vida paralela de trabalho e contas pra pagar. Não os julgo por nada, acho que fizeram um ótimo trabalho em quase 20 anos. Não os julgo porque sei o quanto é difícil manter uma banda inteira e com tesão pra cair na estrada, tocar e tentar viver desta porra. Só posso agradecer muito a eles pelo que fizeram. - O público maceioense está muito ansioso para recebê-los mais uma vez. Gostariam de deixar um recado pra galera? Obrigado pela entrevista! Até o show. Alyand – Galera! Estamos ansiosos para a chegada do show. Espero que todos sedivirtam muito e que o show seja histórico. Por isso conto com a presença de todos! Um abraço e muito obrigado pelo espaço! Rodrigo - Obrigado mais uma vez pela oportunidade de irmos ai tocar pra vocês. Apareçam! Vai ser bom pra cacete.

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30 ANOS Texto Jo達o Marcelo Cruz e Daniel Lima | Fotos: Pei Fon (@rockmeeting | contato@rockmeeting.net)

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D

epois de mais de dez anos sem tocar em Maceió, finalmente os ratos voltaram à cidade onde não falta gabirú. A expectativa era imensa. Essa foi a terceira vez que o grupo tocou aqui. A primeira foi em 1996 e a segunda foi em 2002. Nessa época eu ainda era muito novo pra ir a shows de rock “pesado”. Então, só fiquei sabendo mesmo das histórias. E foram várias. O de 2002 foi o tal show no Marquês de’Latraveia. Disseram que a roda nesse show foi uma das maiores que já rolou no finado Marquês, onde não havia espaço pra ficar fora da roda. Tô falando tudo isso só pra dar uma ideia do tanto de expectativa que eu tinha pra esse show. E mesmo já tendo visto outros dois shows do Ratos em cidades e palcos diferentes (um grande e outro pequeno) eu queria ver como iria ser aqui em Maceió. Se o público iria ser insano e coisa e tal. 32

Falando em público, o mesmo não foi o que eu imaginava. Foram cerca de umas 400 pessoas. E nitidamente, eram mais bangers do que punks. Eu (João) esperava o dobro de público. E na perspectiva de produtor, é nessas horas que eu me pergunto se vale a pena produzir certos shows em Maceió. No entanto, o valor do ingresso influenciou diretamente nessa proporção. Apesar de eu ter achado um valor justo para a catarse oferecida. Era perto de meia-noite quando o André (Nitrominds/Música Diablo) passou avisando que o show iria começar em pouco tempo. Hora de entrar e ir se acomodando na frente do palco. Chegara o momento. Começou a rolar os primeiros acordes de “Contando os Mortos”, e na sequencia “Morte ao Rei”. Ambas do álbum Anarkophobia de 1990. O repertório deles tem sido basicamente o mesmo du-


rante esses shows dos 30 anos. Muito parecido com o do Abril Pro Rock deste ano. Acho que foi até maior do que o do APR. O repertório dos caras não poderia ter sido melhor. O set passeou por todas as fases do grupo, mas foi mais baseado na época do Brasil/Anarkophobia. Mas claro, não poderia faltar os crássicos. O show seguia com músicas bastante conhecidas do público como “Aids, Pop, Repressão”, “Crianças sem Futuro”, “Suposicollor” e “Amazônia Nunca Mais” foram algumas que fizeram o público se esgoelar. “Testemunhas do Apocalipse” representou o último disco “Homem inimigo do Homem” de 2006. Quem conhece o álbum ‘RDP Ao Vivo’ de 1992 sabe que as duas músicas que iniciam são “Morrer” e “Mad Society”, naquele momento, parecia que haviam apertado play no disco e a insanidade tomou conta do Orákulo. 33

Era bonito ver geral pogando e se divertindo na paz. O show transcorreu inteiramente sem nenhuma confusão. Era possível ver o brilho nos olhos de alguns mais concentrados no show. Outras boas surpresas foram os covers. Tocaram o “O Dotadão Deve Morrer” do Cascavelletes; Extreme Noise Terror e Ramones!! Na volta para o BIS, tocaram “Agressão/Repressão”, “Beber Até Morrer”, “Pobreza” e encerraram o show com “Obrigado A Obedecer”. Vale ressaltar aqui, que o equipamento de som tava no grau. Não houve em nenhum momento qualquer interrupção por problemas no som. E convenhamos que é um saco quando um show é interrompido por esse tipo de problema. Estava tudo afinadinho. É isso que acontece quando se une um bom


equipamento à um técnico de som competente, à roadies experientes e uma banda caceteira orquestrando tudo! A banda Morcegos, que tinha ficado de abrir o show, acabou ficando com o inconveniente papel de fecha-lo. Enquanto a maioria das pessoas ia saindo, os morcegos começavam a tocar seu set recheado de grind e metal extremo. Foi uma pena ver o pessoal saindo enquanto a Morcegos começava a descer a lenha no som. Fiquei com a sensação de que a banda, que tem quase a mesma idade do Ratos, merecia ter feito o show de abertura.

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Mas, sem problema, os caras fizeram um puta show e seguraram a peteca fazendo a galera bater cabeça até o fim do último acorde. Acho que a Morcegos é a banda mais punk dentro do Metal alagoano. Rápido e direto! No fim, ainda meio tonto você se dá conta que a diversão acabou e está de volta ao mundo real. E sem puxa-saquismo nenhum, fica aqui o agradecimento e o parabéns pelo evento ao Luis da Mausoléu Rock Store. Não houve o que reclamar. Tudo nos trinques. Que venham os próximos!


3 anos, algumas horas e muita música Texto: Daniel Lima e Lila Pedrosa | Fotos: Pei Fon (@rockmeeting | contato@rockmeeting.net)

S

etembro foi um mês bastante agitado para os amantes do Rock em Alagoas, com eventos acontecendo em todo o Estado, principalmente em Maceió. Um deles foi o show em comemoração aos 3 anos da revista Rock Meeting que aconteceu no dia 23 de setembro, no tradicional Kfofo, localizado no bairro histórico do Jaraguá. O evento contou com a participação das bandas Necronomicon e Absurdos (ambas da capital alagoana), Warcursed (PB) e a atração principal diretamente de São Paulo, a banda Andralls. E foi em grande estilo que a primeira banda subiu ao palco para iniciar a festança do Rock. O repertório da Necromicon variou entre os dois álbuns da banda que são bastante conhecidos do público alagoano. “Holy Planet Yamoth”, “The Black Priests of Chaos” e “Hypnotic Overdrive Machine” foram algumas das faixas executadas pela banda que 35

possui uma sonoridade única e, que ao ouvir, é fácil de dizer que é a Necronomicon. Música sem frescura e com bastante qualidade que não precisa de comparações. O público se manteve em bom número e todos que estavam presentes estavam dispostos a se divertir. Eles encerraram a apresentação com a faixa título do segundo álbum chamado “The Queen Of Death”. A banda está de parabéns pela apresentação e o público pode esperar que em breve a Necromicon voltará aos palcos para agitar o underground. A Necronomicon subiu no palco com Lillian Cabral na guitarra, Pedro Ivo no baixo e Thiago Alef na bateria. Na sequência veio a pancadaria da banda de Thrash Metal, Absurdos, estes que estão na estrada há muito tempo e, entre idas e vindas, os caras não perderam o rumo. Iniciaram com uma música própria chamada


“Escuridão”, seguiu com mais duas próprias chamadas “Anjos da Noite” e “A Maldição de um Reino” depois o cover de “Catimba” do Korzus. Este show teve uma particularidade que foi o fato da banda tocar sem baixista e a formação ficou por conta do Pedro Eduardo (Vocal e Guitarra), Arlyson Heinz (Guitarra) e Hudson Feitosa (bateria). Mesmo com o desfalque, a banda não se deixou abater e mostrou que a porrada era a mesma. A maioria das músicas tocadas é de autoria dos componentes da banda e assim seguiu até tocarem dois covers do Obituary. “Threatening Skies” e “By the Light”. Em sequencia, mais duas próprias e um cover do Sepultura, “Troops of Doom”, e um do Brujeria, “Brujerizmo”. Eis uma banda capaz de superar qualquer problema e fazer um excelente show! Depois de destruir o “Metal Force Trauma”, em maio desse ano, a Rock Meeting convidou também a banda paraibana de Death/Thrash Metal, Warcursed. A banda,formada por Jean Sauvé (vocal e baixo), Richard Senko e Eduardo Sontag (Guitarras) e Marsell Senko (Bateria) possui um som poderosíssimo! Eles tocaram apenas músicas autorais - do álbum Escape From Nightmare -, sendo “DeadLine”, “Sandstorm”, “Gates of War” foram algumas das músicas que levaram a galera à loucura – com direito a batidas de cabeça muito loucas. Warcursed arrasou mais uma vez. Para finalizar a noite, a banda de fasthrasher Andralls subiu pela primeira vez em palcos alagoanos. Todos sem fôlego, os headbangers se prepararam para armar o último circle pit que rendeu do início ao fim do show. Eles passearam pela discografia da banda e incluíram as músicas de seu novo álbum, “Breakneck”. Satisfação enorme! Dever cumprido! Este é o sentimento do momento. Prontos para outro! 36


Viper: celebran Texto: Breno Airan | Fotos: Pei Fon

@rockmeeting | contato@rockmeeting.net

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ndo a amizade 38


É

inegável que muitos dos cerca de 500 espectadores que estavam presentes no Órakulo Chopperia no dia 28 de setembro último, no bairro de Jaraguá, em Maceió, estavam ali para ver – e ouvir – de perto uma das maiores vozes do Heavy Metal mundial: a do pequeno Andre Matos. Não por menos, afinal, ele é bem mais conhecido em seus trabalhos no Angra e no Shaman, do que onde começou sua carreira. Neste caso, no Viper. Mas o que se sobressaiu foi o bom humor de toda a banda e mais outras duas palavras: Pit Passarell. O baixista deu o tom de todo o espetáculo, o primeiro na capital de Alagoas com aquela formação, encabeçada por Matos, seguida de Pit, Felipe Machado nas guitarras, Hugo Mariutti também nas guitarras – no lugar de Yves Passarell – e Guilherme Martin nas baquetas. Para tanto, a trupe trazia uma turnê e tanto, após 22 anos da saída de Andre Matos, que à época havia optado por concluir seu curso de Música a excursionar com o grupo pelo mundo. Os 25 anos desde o debut deles, o petardo “Soldiers of Sunrise”, de 1987, foram bem festejados na casa de show com o álbum em questão tocado na íntegra, além de o sucessor “Theatre of Fate”, de 1989, que sem dúvida é um marco do estilo em terras tupiniquins. Ademais, o quinteto, muito bem entrosado, colocou ainda para a ‘degustação’ do público algumas músicas do álbum “Evolution”, de 1992, que tinha o Pit nos vocais. Toda vez que colocava a boca no microfone, o baixista e membro fundador do Viper, arrancava sorrisos tanto da plateia como do palco. Os companheiros de estrada abriam os 32 dentes, e em um clima sempre amistoso, 39


avançavam as canções com um dulçor nostálgico. Andre Matos, um frontman como poucos, incitava os presentes a interagirem, contando histórias de como era difícil escutar e, sobretudo, “ser” Heavy Metal em tempos tão sabáticos da história do nosso país, a ditadura militar. “Imaginem vocês, naquela época, o quanto era difícil se vestir de preto e sair por aí dizendo o que achávamos. A gente, então, resolveu montar uma banda e não um time de futebol... Vocês sabem dos nossos predicados no quesito bola”, pontua ele, brincando. Com os olhos atentos e ouvidos aguçados, os maceioenses – e espectadores de outros destinos – aplaudiam o empenho da banda no começo da carreira, que, com efeito, não tocava para grandes públicos, mas tinha no som a energia de mil homens. Em disparada. “Querem saber? Foda-se show com mais de 100 mil pessoas! A gente gosta é disso aqui; é de se sentir à vontade...”, coloca Matos. A essa altura, eles já haviam executado “Knights of Destruction”, “Nightmares”, “The Whipper”, “Signs of The Night” e a instrumental “Killera (Princess of Hell)”, todas elas com grande influência da New Wave of British Heavy Metal. Mais uma vez interagindo com a plateia, o vocalista salientou, apontando para o grisalho e bem-apessoado Felipe Machado: “Vocês conhecem o George Clooney... Nós temos o nosso próprio George Clooney”. Imediatamente Pit Passarell pegou um microfone onde fazia os backing vocals e soltou: “Vocês conhecem o Brad Pitt, né? Eu sou o ‘bad’ Pit” e sua gargalhada se juntou à da plateia. 40


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O baixista ainda tentou falar alguma coisa – por vezes, atrapalhando o que Matos dialogava – até que o cantor disse: “Nós somos irmãos... Eu o mando calar a boca, mas logo depois estamos rindo. Nós nos amamos”. Na sequência, “Soldiers of Sunrise”, “Law of The Sword” e “H.R.”. Nesta última, abriu-se uma ‘roda punk’. Falando em estilos, o frontman colocou em xeque a vertente do Viper. “Essa música é uma sigla para ‘Heavy Rock’. Na época em que o Pit a escreveu, a gente não tinha noção de como isso ia se chamar, de fato, o estilo. Mas ficaram depois nos rotulando de ‘Power Metal Progressivo Sinfônico do Caralho’. [Nesse ínterim, o público vibrou bastante com a colocação.] Nós fazemos Rock. Só que mais pesado. Nós só evoluímos o estilo”, comentou ele, antes de a banda terminar o seu primeiro ato. Vídeo De um álbum para o outro, há muita diferença, majoritariamente na voz mais madura de Matos e na técnica em evolução de todos os outros músicos. Elementos orquestrais pairam diante das guitarras distorcidas, dando um preenchimento ideal às letras agora bem mais profundas. “At Least A Chance” só começou depois de um break no show. Um vídeo dos bastidores da nova turnê e com imagens do início da carreira do Viper foi mostrado. Houve uma falha técnica, mas tudo acabou sendo resolvido rapidamente. Os trechos faziam parte do DVD “20 Years Living For The Night”. Logo depois, “To Live Again”, o hit “A Cry From The Edge” – com Andre Matos nos teclados – e o clássico “Living For The Night”. Nesta última, todas as vozes da casa de show tornaram-se um uníssono. 42


O refrão, um dos mais famosos e bem encaixados da história do Metal nacional, cativou a todos. Braços pra cima. Além de saudarem o belo som proporcionado pelo Viper, os braços no ar também apontavam para Pit Passarell, acometido pelo mal do álcool em excesso. O baixista quase não acompanhava as rápidas linhas rítmicas que tinha que fazer e chegou um momento que parou de tocar e virou as costas para o público e, singelamente, ficou brincando com o baterista Guilherme Martin. Em certo ponto, Andre Matos “recolheu” o instrumento dele e assumiu o baixo,

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ainda assim com um sorriso no rosto – afinal, apesar dos pesares, o quinteto se ama. Ademais, o show contou com “Illusions of Time”, “Theatre of Fate”, “Moonlight” e “Prelude To Oblivion”, fechando a seção de íntegras. “The Spreading Soul” e a insuperável “Rebel Manic” extasiaram a galera, do álbum “Evolution”, com um Pit Passarell empolgado nos backing vocals. Para finalizar e com a promessa de mais vindas para Maceió, o Viper fez um ótimo cover de “We Will Rock You”, do Queen, numa levada mais elétrica e vibrante. Como todo o show. Como todo o clima da banda, uma verdadeira celebração da amizade.

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Madjoker Por Breno Airan

Há uma nova leva – e muito, mas muito bem-vinda – de bandas brasileiras que resolveram investir em seu idioma nativo. Madame Saatan, Carro Bomba e Baranga são algumas das conhecidas. Não que haja algo de errado em querer investir em um refrão encaixado com um inglês bem treinado, mas o grupo de Rock não acaba atingindo um grupo específico de pessoas. O intuito de toda banda é adquirir o maior número de fãs possíveis. É o que almeja o quarteto paulista da MadJoker. O que Gus MJoker (vocalista), Fernando Coan (guitarras), Cadu Ramalho (baixista) e Lucas Pit (baterista) conseguem é mais que isso. Numa primeira audição em seu debut, o primoroso “O Mal Necessário”, lançado pela Thurbo Music em abril deste ano e produzido por Thiago Bianchi, o que o ouvinte percebe é que o propósito foi soar com eles próprios suas influências e divergências musicais, mas ainda assim, muito mais Rock N’ Roll que muita banda por aí. O som deles é um curinga numa canastra limpa. A carta que a MadJoker usou é 45

indecifrável. Jungindo Hard Rock e o melhor do Pós-Grunge. “Colateral”, “A Soma de Todo o Mal” e “O Homem Duplo” são uma tríade e tanto. Não tira a atenção de que a ouve por nada. “O Dia Fora do Tempo”, uma perfeita sequência, com ótimas linhas de baixo e vocal. Talvez a melhor do álbum. As letras do quarteto, que se conheceu há 3 anos, estão calcadas basicamente no cotidiano e nas eventuais dúvidas de cada um de nós. As relações embaraçadas conosco e com quem nos rodeia – talvez por isso a bela capa, assinada por Bruno Portela, traz um demônio (do latim, a voz que vem de dentro) sendo combatido pela heroína louca da banda. “Primeira Escolha” tem uma rifferama e uma presença vocal incrível. Já as baquetas se sobressaem em “O Tolo que Pensava que Era Rei”. Ao final, uma linda passagem acústica de “O Homem Duplo”. Aqui, tudo se cria. Não é à toa que eles, para aguçar a inventividade, usam “cigarros Malboro, whiskey Jack Daniel’s, PS3 e Brazzers”. Autênticos, nascidos pra detonar – o mal que a gente precisava.


Falling in Disgrace

Uncivilized Por Pei Fon

Poderia resumir o Uncivilized como um contador de histórias. “Destination” é o primeiro cd da banda e parece um conto a cada música. Sob forte influência das crenças mundanas, o quinteto pernambucano traz o seu Epic/Death Metal Old School com muita variação sonora: riffs interessantes, blastbeats, vocal agressivo (que me fez lembrar o vocal do My Silent Awake). A temática sonora lembra bastante as bandas que seguem a linha Folk/Viking metal, só que bem melódico e te faz viver um período bem longínquo: o de guerras medievais. Não poderia deixar o encarte de fora.As imagens de fundo ilustram bem o que eles querem transmitir no álbum, é uma viagem aos antigos povos como os Incas e aos Nórdicos. Remetem-se as batalhas, sem esquecer-se da existência humana. Uncivilized é formado por Sandro Augusto (vocal), Nilson Castelo (guitarra), Joabson Silva (guitarra), Alexsandro Borges (baixo) e Erik Cavalcante (bateria). O grupo surgiu em 2005, com idas e vindas, firmouse dois anos depois. “Destination” foi iniciado em 2010 e ganhou forma este ano, sendo seu primeiro full-lenght, antes dele havia lançado o demo “...and first we heard the wolf”, em 2007. 46

Por Daniel Lima

Os pernambucanos do Falling In Disgrace lançaram este ano o álbum chamado At the Gate Of The Death, uma mistura entre o Thrash e o Death Metal. A banda é formada por Nilson Marques (vocal e baixo), Marcio Paraíso (guitarra) e Hugo Veikon (bateria). Pancadaria do começo ao fim sem precisar de muita firula. O pedal da bateria, em certos momentos, parece uma metralhadora destruindo o alvo inimigo. As letras são simples e diretas, sem precisar fazer apelação para velhos clichês. Algo que é técnico, mas que os músicos notam bastante, é em relação à gravação/produção dos álbuns. Existem pequenos erros que poderiam ser retirados na edição, mas que continuaram na finalização. Há momentos em que a guitarra inicia antes da bateria ou vice e versa, porém, é algo que não tira os méritos do “At the gate of the death” e o torna mais underground, mostrando a batalha que é para gravar e o esforço para manter-se vivo sem apoio, corriqueiro e constante quando se fala em Metal. O álbum vem com seis faixas inéditas, duas faixas do EP lançado anteriormente que se chama Never Die Alone e um cover. Parabéns a banda!


As I Lay Dying Pei Fon (@poifang | peifang@rockmeeting.net) “Enquanto eu agonizava” atrás de uma banda que pudesse escrever para esta coluna, eis que eu achei. Posso estar sendo exagerada em destacar um álbum que saiu um dia desses. Pensei bastante, porém resolvi meter a cara e discorrer algumas linhas sobre o ditocujo. O álbum em questão é o “Awakened” da banda estadunidense As I Lay Dying. O cd é o recente trabalho do quinteto californiano que ouso escrever alguma coisa. Mas bora lá... As I Lay Dying foi a primeira banda do segmento do Metal que escutei, lá pelos meus 17~18 anos e é uma das poucas que escuto até hoje. Ainda lembro como hoje que as primeiras músicas foram “Forever” e “94 Hours” do álbum “Frail Words Collapse”, 2003. Meu cd preferido deles é o “Shadows are security” de 2005. Mas não são estes cds que irei destacar. Calcados no Metalcore, um estilo bem 47

discutido por não ser considerado uma ramificação do metal, o As I Lay Dying é a principal referência das bandas que hoje seguem esta linha, e ainda teimo em dizer, que é a única que escuto e que presta do estilo. Este novo álbum usa bastante o vocal melódico do baixista, Josh Gilbert, e Tim Lambesis (vocal) é cada vez mais incrível na sua atuação. Riffs mais pesados, sequências matadoras que são quebradas com a calmaria melódica que se tornou a marca do AILD, sem ser muito “fresco”. Só acho que tem muitas passagens “melosas” que os seus antecessores. No entanto, as canções estão mais impactantes, falam dos problemas da vida e me deixou encantada. Do “Awakened” destaco: “Cauterize”, “The Greater Foundation”, “Wasted World”, “Whispering Silence”, “Overcome” e “My Only Home”. Você pode ver o vídeo de “The Greater Foundation”. Aviso: é viciante!


Freak Kitchen

Breno Airan (@brenoairan | breno@rockmeeting.net) Há músicos que cansam de fazer a mesma coisa. Digo, de ficar naquela mesma perspectiva. A vontade de criar algo novo é maior e os projetos paralelos vêm sempre à tona. Acontece nas melhores bandas. Com o guitarrista Mattias “IA” Eklundh, o enredo se repetiu. Ele tocava na banda de Thrash Metal, Frozen Eyes, mas resolveu dar início a experimentações. O resultado final disso, após ter passado por outros grupos, foi o Freak Kitchen – que, em tradução livre, quer dizer “cozinha maluca”. E a “cozinha”, como é chamada a parelha baixo-bateria, realmente é digna de vários replays. Não para se entender, contudo, a fim de se apreciar de novo. E de novo. Mattias é o Frank Zappa dos nossos tempos. Sua pegada tem muita influência dele e, por vezes, do Kiss. As letras têm um humor que lhe é bastante peculiar, negro. 48

No álbum “Spanking Hour”, de 1996, o ponto alto da carreira, o trio formado por ele e, à época, o baixista Christian Grönlund e o baterista Joakim Sjöberg, criou um escalão progressivo de deixar qualquer fã do Rush confuso. Com efeito, o som dos suecos do Freak Kitchen misturam o Heavy Metal, o Hard Rock e o R.I.O. (Rock In Opposition), um movimento marcado pela figura abstrata dentro dos limiares dos acordes. Como destaques, além do desempenho da cozinha do grupo e, sobretudo, da versatilidade ímpar de Mattias, podem-se frisar as canções “Walls of Stupidity”, “Haw, Haw, Haw”, “Jerk”, “Taste My Fist”, “Inner Revolution” e a que dá nome ao CD, “Spanking Hour”. Um soco na cara, nos ouvidos de quem não estiver preparado. Você está, leitor? Espero que sim.


Ultraje a Rigor Daniel Lima (@daniellimarm | daniel@rockmeeting.net)

Muitas bandas lançando álbum, umas estão em estúdio, outras fazem o popular “feijão com arroz”, algumas se beneficiam dos velhos hits e assim segue a rotina musical de cada banda. Ao mesmo tempo em que tudo isso acontece, o ouvinte tem o costume de continuar escutando a velharia. E para “O Que Estou Ouvindo” deste mês é uma mescla de novo com o velho que resultou em algo único e histórico. O álbum “O Embate do Século” do Ultraje a Rigor e Raimundos é, na minha opinião, um dos melhores álbuns lançado neste ano. Citei anteriormente que era algo “novo com o velho” pelo fato de que as duas bandas fizeram algo novo quando regravaram músicas antigas com uma nova roupagem. A galera que veio de São Paulo da banda Ultraje A Rigor regravou sete músicas do Raimundos e os brasilienses retribuíram com sete músicas do Ultraje. Um detalhe que chamou bastante a atenção é que algumas não mudaram muito, mas em outras, a mudança é notória. A sequência inicia com o Ultraje a Rigor tocando “Puteiro em João Pessoa”, “O 49

Pão da Minha Prima”, “Eu Querover o Oco”, “I Saw You Saying (That You Say That You Saw)”, “Me Lambe”, “Papeau Nuky Doe” e “Selim”. Vale ressaltar algumas faixas como Eu quero Ver o Oco que ficou mais pesada que a original e I Saw You Saying que já tem vídeo. O Raimundos chuta o pau da barraca e toca o terror na continuação com “Rebelde Sem Causa”, “Nós Vamos Invadir Sua Praia”, “Ciúmes”, “Mim Quer Tocar”, “Inútil”, “Eu Gosto de Mulher” e “Nada a Declarar”. Rebelde Sem Causa também já tem vídeo e vocês podem conferir no Youtube. Ciúmes foi umas das melhores desse álbum. Ficou um Hardcore sem frescura. Este é um belo presente para pedir no Natal, certo que faltam alguns meses, mas vale a pena antecipar o pedido. É viciante e se você gosta das duas bandas é que o caso fica mais grave por não parar de ouvir. Chegando ao ponto de alguém pedir para você mudar o CD, pois já se tornou bastante insuportável para que ouve por pura e espontânea pressão. Este álbum eu recomendo.


De Falla João Marcelo Cruz (@jota_m | jomarcelo_@hotmail.com)

O Defalla é uma daquelas bandas que eu me pergunto: por que eu demorei tanto pra escutar esse som? Já tinha ouvido falar bastante da banda, mas somente este ano, após descobrir que o guitarrista da banda era/é meu colega de sala no trabalho, foi que eu realmente fui conhece-la. O DeFall é uma banda gaúcha surgida por volta de 1984 e que passou por várias fases. Mas foi no início dos anos 90 que a banda ganhou o Brasil. Pra quem não sabe os caras foram os percussores do chamado Funk Metal ou Rapcore no país. Lá fora, os maiores expoentes dessa mistura eram os Beastie Boys e os Red Hot Chilli Peppers. Mas não dá pra dizer que essas bandas influenciaram diretamente, porque elas surgiram praticamente na mesma época. Por outro lado, dá pra afirmar tranquilamente que o DeFalla foi o responsável por influenciar e abrir o caminho para vários grandes nomes do rock nacional. Entre eles estão as bandas Planet Hemp, Funk Fuckers, B.Negão, Comunidade Nin-Jitsu, Pavilhão 9, Ultramen, Nação Zumbi e até os Raimundos. O que todas essas bandas têm em comum? É a mistura do rock com rap, entre outros ritmos. Os caras provavelmente foram os primeiros misturar o rock com o Miami Bass, que foi um gênero muito popular dentro do hip-hop. 50

O ritmo era marcado por batidas do chamado de eletro-funk, e na maioria das vezes, com letras de caráter sexual (putaria). Mais tarde o gênero veio dar origem ao funk carioca. Quem aí não lembra do hit “Vai Popuzada, vai descendo até o chão, requebrando na batida do Miami pancadão’’. Em 1992, foi lançado o disco ‘Kingzobullshit Backinfullefect’ pelo respeitado selo Cogumelo Records. E nesse disco aí tem de tudo! Os caras exploraram de todas as formas as misturas de ritmos tanto dentro como fora do rock. É um disco que você encontra rap, raggae, metal, hard rock, heavy, hardcore, samba, funk e muita loucura. Muitas pessoas não têm ideia do quão essa banda foi importante e responsável por um legado histórico no rock nacional. Talvez pelas tantas mudanças na formação e pela forma de como o som foi mudando ao longo do tempo, algumas pessoas esqueceram o DeFalla. Mas isso não muda o que esses caras fizeram. Quebraram muitas barreiras e preconceitos para que se hoje em dia as pessoas pudessem se apropriar do rock misturando aos mais diversos estilos! Enfim, foi mais uma banda a frente do seu tempo. Ano passado o DeFalla ensaiou um retorno com alguns shows pelo Brasil, e neste ano, se reuniram novamente na Virada Cultural de São Paulo. Será que vai vir coisa nova por aí?


Varial Jonas Sutareli (@xSutarelix | jonas@rockmeeting.net)

Varial é uma banda de hardcore melódico formado em Maceió, em meados de 2002, que tem como formação atual Leo (vocal), Derick (guitarra) Carlinhos (baixo) e Júnior (bateria). Eles têm dois discos lançados: Refúgio e Equilíbrio. Recentemente lançaram um single ‘Sempre foi assim’ e gravarão seu show de 10 anos no próximo dia 12/10. A banda manda muito na proposta do som deles. Os vocais são bastante marcantes, com o timbre do Leo não deixando você esquecer que Varial é Varial sempre que ouvi-la. Comecei a curtir o som dos caras em 2006 quando lançaram seu primeiro disco. Mas ainda não tinha parado pra conhecer bem. Só fiz isso em 2008, quando tive a oportunidade de ir a um show dos caras e ver a energia entre a banda e o público. É muito massa! A partir daí, comecei a conhecer Varial mais a fundo. Recomendo até pra quem não é muito chegado no hardcore. E se você é de Maceió, vale a pena! É uma das (várias) excelentes bandas locais, que deveríamos dar mais apoio e valor. Pra curtir o som dos caras é só acessar o myspace deles: banda Varial

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Chamin

é Tecno ló

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Por Jonas Sutareli (@xSutarelix | jonas@rockmeeting.net)

Videogames atualmente são responsáveis por movimentar cerca de U$64 bilhões ao ano no mercado mundial. Tornaram-se muito mais do que uma mera opção de diversão. E como muitos ainda pensam, jogar videogame não é algo apenas para crianças. Ou há alguém pensando que um jogo onde se mostram campos de batalha, violência, sangue, mutilações, assassinatos e afins, é algo para criança? Existem vários jogos, em vários segmentos, estilos e classificações etárias. Existem muitos jogos voltados para o público infantil e também centenas deles voltados para o público maduro. Nem muitos dos jogos mais antigos, dos consoles mais primitivos eram jogos infantis. Mas não é sobre isso que eu quero lhes falar. O assunto aqui é Rock N’ Roll! Vou me dar ao luxo de falar em primeira pessoa, agora. Sou um fã incondicional e um viciado irremediável no que diz respeito a rock n’ roll e videogames. Por isso eu não poderia deixar de unir minhas duas paixões e aliar a uma terceira: a revista Rock Mee53

ting. Assim nasceu a ideia do que vocês estão lendo agora. Paixão, amor, rock n’ roll e diversão! Vamos ao que importa! Assim como eu, vários de vocês leitores da Rock Meeting devem ser fãs de videogames. Estou aqui para lhes mostra que videogames e rock vão além da nossa paixão. O rock está presente em diversos jogos, ao longo de toda a história. Como trilha sonora, como parte integrante do jogo, como influência para personagens, cenários, e uma ‘pá’ de coisas. Muita coisa mesmo. Tanto que nem


vou falar sobre tudo aqui nesta edição. Teremos mais encontros sobre este mesmo assunto, meus caros amigos gamers. O primeiro jogo, com influência de Rock que eu me lembro de ter jogado em minha vida, foi Rock & Roll Racing, para Super Nintendo. Pessoas acima dos 20 anos que jogavam Super Nintendo com certeza conhece esta obra. O jogo era ambientado em diversos planetas, com corredores malucos se matando, atirando uns nos outros. Era literalmente uma corrida rock n’ roll! E a trilha sonora era o que? Adivinha? ROCK! Deep Purple, Black Sabbath e Steppenwolf eram os grandes destaques da soundtrack deste divertidíssimo jogo de corrida. Mas este não foi o primeiro game a flertar com o rock. Pelas minhas pesquisas, o primeiro jogo que tinhas rock no

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meio foi Mega Man, lançado em 1987, que tinha como nome original ‘Rock Man’ (que continuou sendo chamado assim no Japão). Um “robozinho” que tem uma parceira chamada Roll e um cachorrinho chamado Rush. Coincidência? Joguei muito Mega man na minha infância e nunca desconfiei disso até realizar as pesquisas para poder escrever aqui. Estou impressionado! Descobri também que Slash e Axl foram influências diretas para criar os personagens principais do jogo ‘Final Fight’, de 1989, popularmente conhecido pelas crianças da época como “briga de rua” (risos). Mas isso tudo não para por aí. Esse foi só o começo da história do rock dentro dos videogames. Mas, vou deixar vocês na vontade e volto com mais Rock & Games na próxima edição.



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