Cadeia do Forte de Peniche 1966

Page 1

1

PRESOS POLÍTICOS NA CADEIA DO FORTE DE PENICHE (1966)

É o título da informação que faz parte do meu arquivo de papéis da clandestinidade e que hoje, 5 de Novembro de 2012, 46 anos depois de ter sido escrita, digitalizei para colocar online, para que não se perca a memória do que foi o terror da ditadura a que os portugueses estiveram submetidos durante quase meio século e que hoje alguns, sem surpresa, apresentam como uma ditadura suave e paternalista. Esta é uma informação dos tempos da clandestinidade escrita por um ou uma militante clandestina, distribuída aos quadros clandestinos e provavelmente com destino também à Comissão de Socorro aos Presos Políticos. A informação não tem data mas da sua leitura depreende-se que foi escrita nos primeiros dias de 1967. Está em papel muito fino e transparente, “papel de seda”, usual tal como o “papel bíblia” na clandestinidade para melhor esconder ou destruir, ou mesmo comer se não houvesse alternativa melhor, em situações de perigo policial. A apresentação não está muito boa. Pior do que era habitual. Escrita à pressa ou por alguém menos habituado à máquina de escrever? A informação, sintética mas valiosa, abarca 90 presos. Uma análise dos dados aqui registados é muito esclarecedora da natureza política e social da ditadura. Atente-se na origem social dos presos, nas penas a que foram condenados, na idade e até na região de origem de cada um a testemunhar os focos de resistência e luta contra este fascismo português sui generis. Salvo melhor leitura não se regista a presença de nenhum banqueiro… Quase todas as penas estão acompanhadas de “medidas de segurança” que prolongavam indefinidamente a sentença de forma discricionária. Por exemplo, uma condenação de 5 anos de prisão e medidas de segurança, deixava o preso “confortado” com o horror de não saber quando seria libertado se seria ao fim de 5, de 10 ou mais anos. Antes da sentença a que foram condenados pelos “tribunais plenários”, onde a justiça não era sequer simulada, estes presos sofreram longos períodos de tortura que lhes abalava, por vezes definitivamente, a saúde e por vezes os levava à beira da loucura ou a desejar a “libertação” pela morte. Não houve muitos assassinatos mas vidas destruídas foram muitos milhares. O medo impregnava tudo e estava aí suspenso, de dia e de noite, hoje e amanhã, a vida toda dos que lutassem pelo pão, pelo trabalho ou pela liberdade, a vida toda dos que sendo vítimas, disso tomaram consciência e não se resignaram. ____________________


2


3


4


5


6


7


8


9


10


11


12


13


14


15


16


17


18


19


20


21


22


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.