A Apometria e a TVI Segundo a Animagogia

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Marques, Adilson M357a

A apometria e a TVI segundo a animagogia – um estudo sobre práticas complementares de saúde e espiritualidade / Adilson Marques. São Carlos: RiMa Editora, 2019 244 p. ISBN 978-65-80035-19-9 1. Apometria. 2. TVI. 3. Animagogia. 4. Espiritualidade. I. Autor. II. Título.

Editora Rua Virgílio Pozzi, 213 – Jd Santa Paula 13564-040 – São Carlos, SP Fone: (16) 98806-4652


SUMÁRIO

Apresentação ........................................................................................... 7 PARTE I Tratamentos Complementares de Saúde e Espiritualidade Capítulo 1 – A Necessidade das Ciências do Espírito ou do Homo Spiritualis ............................................................................ 27 Capítulo 2 – O Ego É um Ótimo Servidor, mas um Péssimo Patrão ..... 34 Capítulo 3 – Animagogia e Espiritismo: Um Estudo Comparativo No Âmbito das Ciências do Espírito .............................................. 48 Capítulo 4 – A Necessidade do Pedido de Auxílio e a Apometria como Técnica Possível para a Animagogia do Ser Humanizado Desencarnado ............................................... 93 Capítulo 5 – A TVI e Suas Técnicas Animagógicas .............................. 103 PARTE II Estudos de Caso Capítulo 6 – A Apometria como Heurística para o Estudo do Suicídio e da Eutanásia ............................................................... 135 Capítulo 7 – Quando Começa e Termina uma Encarnação? ............... 144 Capítulo 8 – Sofrimento ou Felicidade: Qual o Caminho para o Despertar do Homo Spiritualis .................................................... 149 Capítulo 9 – Dialongando com Suicidas e com Vítimas da Eutanásia ................................................................... 158 Capítulo 10 – Descobrindo a Morte do Corpo Físico, a Comunicação Mediúnica e o Valor da Prece .............................. 169 Capítulo 11 – Dialogando com os “Falsos Profetas” ......................... 175 Capítulo 12 – Alguns Desafios e a Busca por Autodomínio: A Função Espelho na Prática ....................................................... 179


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Considerações Finais .......................................................................... 185 Anexo 1 – Você Está Preparado para Morrrer? .................................. 198 Anexo 2 – Artigos Diversos .................................................................. 210 Anexo 3 – O Que É Animagogia? ......................................................... 228


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APRESENTAÇÃO

Este livro sintetiza 20 anos de experiência iniciada em 1999 no campo das práticas complementares de saúde e que resultaram na sistematização da Animagogia, uma proposta de educação espiritualista transreligiosa e universalista, da Terapia Vibracional Integrativa (TVI), praticada e ensinada gratuitamente desde 2003, e uma diferente maneira de atuar com a Apometria, técnica de tratamento psíquico e espiritual criada pelo dr. José Lacerda, no estado do Rio Grande do Sul, em meados da década de 1950. A Animagogia possui uma abordagem metafísica ou uma cosmovisão reencarnacionista, e parte do pressuposto que somos Espíritos eternos vivenciando uma existência humanizada. E, assim, ela se soma ao Espiritismo, ao Hinduísmo, ao Ocultismo, entre outros enfoques que procuram demonstrar que a reencarnação é um fato e que faz parte das Leis numinosas (divinas) ou naturais que regem a vida na Terra. Nesse sentido, ela se afasta das abordagens materialistas que, por convicção, não podem conceber a existência de um princípio não material no ser humano, e também das correntes religiosas ou espiritualistas que não aceitam a lei da reencarnação e a comunicação com os seres desencarnados, utilizando passagens bíblicas para legitimar suas convicções, entre elas, que os Espíritos (mortos) não podem fazer nada de útil (como ajudar encarnados) ou prejudicá-los, recorrendo ao Salmo 145:4. Ou para afirmar que a alma morre junto com o corpo físico buscando argumento em Ezequiel (18:4). Por sua vez, no caso da comunicação com os desencarnados, prática realizada por médiuns espiritistas ou de outras correntes medianímicas, assim como por xamãs, oráculos e também por animagogos, buscam em Isaías (8:19) argumentos para mostrar que se trata do “demônio” se passando pelo “Espírito de um morto”, apesar de, em casos excepcionais, aceitarem que Deus permitiria o contato de um “vivo” com um “morto”, como supostamente aconteceu com Samuel, segundo a Bíblia, quando este conversou


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com o Espírito do rei Saul através de uma pitonisa, fato narrado no livro Samuel 1, capítulo 28. E a primeira tentativa de sistematização da Animagogia aconteceu em 2003, quando encaminhei para a Faculdade de Educação da USP um projeto de pós-doutorado para estudar as práticas sociais de educação espiritual com seres humanizados desencarnados, e praticadas em centros espíritas, de umbanda e/ou universalistas. Tais práticas sociais eu identifiquei, na época, com o nome de Animagogia. Porém, a resposta que recebi foi que o tema não tinha relação nenhuma com educação e que, portanto, a pesquisa não seria aprovada. A partir dessa negativa, resolvi fazer a pesquisa de forma independente. Não com a intenção de comprovar a existência da vida após a morte ou a naturalidade com que se reveste a comunicação com os seres humanizados desencarnados. Mas tentando compreender como ocorre esta prática social espiritualista, comum em centros espíritas, em terreiros de umbanda e em outros espaços espiritualistas, dentro do campo das “narrativas visionárias”, expressão cunhada por E. Kant, e de fundamental importância para a compreensão das imagens e do imaginário do invisível. Até aquele momento, o conceito de Animagogia que eu utilizava era bem restrito. Com esse neologismo, eu queria identificar todos os processos de “educação após a morte”, sem nenhuma preocupação em fazer proselitismo ou doutrinação, pois não se tratava de uma pesquisa teológica ou religiosa ou que visava legitimar uma doutrina. O objetivo era utilizar os recursos da Observação Participante e da Pesquisa-ação para realizar um estudo fenomenológico das práticas educativas que ocorrem em espaços espiritualistas com o objetivo de “esclarecer” ou, como dizem alguns, de “libertar do ego” os seres humanizados desencarnados que se manifestam, em tese, através de médiuns e em busca de auxílio espiritual. E naquele mesmo ano, em 2003, comecei a ensinar e a praticar a Terapia Vibracional Integrativa (TVI) na ONG Círculo de São Francisco, criada, inclusive, para essa finalidade. Esta terapia complementar foi sistematizada entre os anos de 2001 e 2003, semanalmente, através de reuniões mediúnicas que ocorriam no Centro de Estudos e Vivências Cooperativas e para a Paz, que depois se


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transformou na ONG citada acima. A TVI é composta por várias técnicas, como Chi Kung (que na época eu chamava de danças numinosas), meditações guiadas com enfoque espiritualista, chamadas de “meditações integrativas” e diferentes técnicas de imposição de mãos, sem a necessidade de símbolos esotéricos, medalhões no peito ou outros recursos além da força mental, da imaginação, da vontade e do amor. Esse trabalho com a TVI resultou, em 2018, através de uma parceria entre o Ministério da Saúde e o Projeto VEPOPSUS, da UFPB, na publicação de minha pesquisa de pós-doutorado realizada na UFSCar, na qual faço um estudo apresentando a história da ONG e da meditação integrativa como uma prática social educativa. O livro foi denominado: “A prática da meditação integrativa na terceira idade - um estudo de educação popular em saúde e espiritualidade”. No caso particular da Apometria, eu comecei a estudá-la em 2004. A ONG Círculo de São Francisco, por sua vez, inseriu em 2007 essa técnica de tratamento espiritual, criada pelo médico espiritista José Lacerda, em seu trabalho terapêutico. Voltando à Animagogia, foi por volta de 2009 que seu conceito foi ampliado. Ela deixou de ser um nome para identificar os trabalhos de auxilio espiritual para os desencarnados e se transformou em uma concepção teórica, filosófica e metafísica que passou a orientar todos os trabalhos realizados na ONG Círculo de São Francisco, inclusive os de Apometria. De forma resumida, a Animagogia pressupõe que somos Seres multidimensionais. Em outras palavras, Espíritos eternos vivenciando uma nova experiência humanizada. E essa essência espiritual vibra em uma dimensão que foi chamada de Logosfera. Para a Animagogia, o Espírito não é humano, mas se humaniza. E não temos condições de saber detalhes sobre o Espírito, apenas que ele foi criado à imagem e semelhança de Deus e que possui alguns atributos: o amor universal, a felicidade incondicional, a paz interior, a vontade etc. E a humanização do Espírito ocorre em uma dimensão inserida na primeira, chamada de Noosfera. Seria a esfera da alma. Para esse processo acontecer, haveria uma redução na vibração do Espírito e sua consciência passaria a ficar velada ou com elementos inconscientes.


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A alma, nesse contexto, seria humana. E seria na alma que nós encontraríamos os chamados arquétipos, os padrões universais que estão além do tempo e do espaço, ou seja, que são universais. É nela também que residem as estruturas do imaginário, no sentido estudado por Gilbert Durand. A alma, portanto, caracteriza-se, segundo a Animagogia, por ser universal, ou seja, ela não é masculina ou feminina, nem é preta, branca, amarela ou de outra cor. Ela não tem raça ou etnia. Aliás, a alma, apesar de ser humana, não é nem da Terra, uma vez que as encarnações podem acontecer aqui ou em outros planetas. Dependerá sempre das provações escolhidas voluntariamente por ela. Podemos também identificar a alma com a Individualidade que reencarna na fase humanizada do Espírito ou como um “ser incorpóreo”, pois não possui o chamado corpo astral ou perispírito, que abordaremos em seguida. A alma vibra em uma dimensão que a Animagogia identifica, como já salientamos, como Noosfera, que é onde vibrariam as estruturas do imaginário, por serem universais e atemporais. A alma pode ser considerada também como um ator que planeja seus futuros papéis, que se prepara para representar uma personagem. E, por isso, este ser incorpóreo, a cada encarnação, vai criar um novo ego. Uma imagem, para melhor compreender esse processo, é a dos jogos de videogame na qual o jogador precisa criar um avatar. De alguma forma, antes de encarnar, a alma não se confunde com o avatar criado. Porém, a situação muda após a encarnação, onde as vicissitudes vivenciadas pela personagem podem acabar com sua paz interior ou equanimidade, da mesma forma como acreditamos estar em outro ambiente ao usar um óculos de realidade virtual. No caso dos videogames, quando vamos disputar um jogo, sabemos que o avatar nos representa, mas que não somos ele. Porém, com suas habilidades ou suas deficiências previamente criadas, sofremos ou ficamos eufóricos com suas peripécias durante o jogo. E se o mesmo “morre”, ficamos tristes ou revoltados, mas começamos novamente o jogo até dominarmos todas as suas fases e desafios. É exatamente o que acontece entre a alma e sua personagem ao longo das encarnações durante a fase humanizada do Espírito. Mas é importante dizer que, por sermos seres multidi-


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mensionais, o ego é parte da Alma que, por sua vez, é parte do Espírito. Como diz o pensamento hologramático, a parte contém o Todo. E o ego ou a personagem vai vibrar em outra dimensão inserida nas anteriores que a Animagogia vai identificar como Psicosfera. É nela que vibram os pensamentos e as emoções e é nela que “habitam” os seres humanizados desencarnados (os Espíritos segundo o Espiritismo). É na Psicosfera que estão as colônias espirituais e os umbrais relatados nos romances espíritas. E se na dimensão anteriormente estudada os seres são incorpóreos, na Psicosfera os seres já são corpóreos. Não se trata de um corpo físico, mas é aquele que os esotéricos chamam de corpo astral e os espiritistas de perispírito. E é esse corpo que será o molde para o corpo físico existir na dimensão abaixo que é a Biosfera. E o ego, apesar de vibrar na Psicosfera, é mais restrito quando estamos no chamado estado de vigília. O que chamamos de consciência, ou seja, aquilo que nos caracteriza durante o estado de vigília, é um fragmento da consciência total do Espírito puro. E mesmo no que se refere ao ego, é a parte secundária, uma vez que sua parte principal vibra de forma “subconsciente”. A distinção entre a alma e o ego é bem realizada por várias linhas espiritualistas. Elas costumam ser identificadas, respectivamente, como “eu superior” e “eu inferior”, Self e ego, Individualidade e personalidade etc. Porém, na Animagogia, acima delas está o Espírito. Ou sejal, o “eu superior”, a Individualidade ou o Self não se confunde com o Espírito que, como salientamos, não é humano, mas se humaniza. O Espírito, para a Animagogia, estaria mais próximo da concepção de Atma das filosofias hinduístas ou da Mônada, na concepção da Teosofia. O ego representa a mente que vibra na Psicosfera e está presente no ser humanizado desencarnado e também no encarnado. Para a Animagogia, é na Psicosfera que vibram as diversas mentalidades, que derivam das três estruturas do imaginário, mas que já são culturais e não mais universais. Ao fazer a escolha de uma determinada provação, a Individualidade vai se vincular a uma cultura (árabe, judaica, cristã etc.). Os países, com suas características, são os palcos para as provas, como são as quadras para as diferentes atividades esportivas. De acordo com a prova escolhida,


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a Individualidade vai encarnar em um país árabe ou cristão, budista ou hinduísta, da Europa ou da África etc., sempre de acordo com as condições que ele possui para melhor construir a prova escolhida voluntariamente pela Individualidade antes da encarnação. A partir dessas considerações, podemos considerar que o ego não tem consciência de seu “grau de evolução” e não tem condições de escolher novas experiências ou gêneros de existência, uma vez que ele já é o fruto de uma escolha feita pela Individualidade. Isso significa que só estamos em condições de escolher novas provas após nos libertar completamente do ego, o que só acontece após a desencarnação. Porém, esta libertação não acontece automaticamente ou de forma imediata com o desencarne. A personagem continua vivendo na Psicosfera com as mesmas características, crenças e gostos que tinha quando encarnado. A única diferença para nós é que não terá mais o corpo físico. É por isso que a Psicosfera ou mundo astral é uma projeção da vida material, fato que fica evidente nos romances espíritas, entre eles, o popular “Violetas na janela”. Enquanto encarnados, o máximo que podemos fazer é não acreditar nas verdades criadas pelo ego, mas na situação de desencarnado, o processo é mais fácil e é para ele acontecer que existem as práticas de educação após a morte ou, como preferimos chamar, de Animagogia, entendendo que esta engloba todos os diferentes trabalhos de “desobsessão”, “evangelização” ou “esclarecimento” de seres humanizados desencarnados, não importando se estes acontecem em centros espiritistas, em terreiros de umbanda e em centros universalistas. E essa educação após a morte se torna necessária porque, após a encarnação, todo esse processo de “descida” vivido pelo Espírito fica adormecido e este se confunde com o ego. Assim, é necessário um processo de expansão gradual da consciência, trazendo do inconsciente para o consciente as informações necessárias para o seu despertar. Assim, são os seres desencarnados, mas ainda ligados ao ego, à consciência da personagem que vivenciaram na Terra, que são trazidos para participar do trabalho animagógico. Esses seres humanizados desencarnados, iludidos no “plano astral” ou na “quarta dimensão”, podem se tornar obsessores,


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sofrer por apego material ou sentimental, entre outros fatos narrados nas práticas sociais citadas acima. Em seus relatos, obtidos em reuniões mediúnicas, estes seres humanizados e desencarnados afirmam sofrer com a dor, o frio ou o calor; um sofrimento que, segundo as narrativas, parece insuportável. E como isso seria possível? Na visão da Animagogia, apesar de estar desencarnado, este ser humanizado permanece ligado ao ego ou a personagem que viveu na Terra. Mesmo não se encontrando mais encarnado (preso ao corpo físico,) onde ele representou um papel escolhido voluntariamente, ele não recupera sua consciência real de uma hora para outra e nem vai se lembrar de suas vidas passadas. Seu foco são ainda as experiências vivenciadas enquanto encarnado, mesmo quando sabe que está “morto”, ou seja, desencarnado. E como ele tem um corpo que lembra o que tinha na Terra (o corpo astral) e está ligado ao mesmo “conjunto de verdades” (mentalidade), passará um período ou em uma “colônia espiritual” que é um reflexo da cultura que viveu na Terra ou no “umbral”, onde sofre com os apegos, erros morais cometidos, situações em que acredita ter sido vítima etc. Mas ele não queimará eternamente no “fogo do inferno”. Esse estágio serve para se livrar das “energias negativas” acumuladas em seu corpo astral ou perispírito. Ele necessita passar uma temporada em algum lugar na Psicosfera, criado dentro de sua própria mente, como acontece conosco durante um sonho. Este processo é interpretado na Animagogia como sendo uma forma de “expiação” para o Ser humanizado incorpóreo libertarse do ego, uma vez que, para encarnar, o Espírito passou por um processo de humanização e de construção de uma personagem antes de se ligar a um corpo físico. O personagem é o molde necessário para a criação do corpo físico que vibra na dimensão que identificamos como Biosfera. Porém, após o desencarne, a consciência vai se expandindo gradativamente, podendo levar meses, anos ou décadas. As informações que estavam inconscientes durante a encarnação vão gradativamente voltando a fazer parte da consciência deste ser. Como salientamos, na ótica da Animagogia, o Espírito, que não é humano, mas que se humaniza, teria sua consciência real velada


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para viver uma nova existência e, algumas “verdades ilusórias” motivariam sua vida encarnada. Por exemplo, acreditar que é homem ou mulher, brasileiro ou estrangeiro, branco ou preto, árabe ou judeu etc. Estas “verdades” vão formar o ego, uma consciência provisória necessária para mais uma aventura reencarnatória, porém ilusória ou fictícia do ponto de vista do ser incorpóreo ou da Individualidade. Vamos tomar um exemplo de como o ego pode iludir o Espírito e esse deixar de irradiar amor de forma universal. Vamos imaginar um Espírito humanizado no Brasil e que sofreu com a derrota de sua seleção em 2014 para a da Alemanha. Enquanto encarnado e mesmo desencarnado pode sofrer com os 7 X 1. Mas se daqui a alguns séculos a individualidade escolher encarnar na Alemanha e ter acesso através dos meios de comunicação que sua seleção venceu a brasileira por 7 X 1, ele ficará feliz. Ou seja, a mesma situação pode deixar a personagem eufórica ou sofrer, dependendo do ponto de vista que aquela experiência foi vivenciada. O Espírito iludido pode deixar a felicidade, que já é um de seus principais atributos, adormecida ou represada, não “descendo” até a sua vivencia humanizada. Ele, se conseguir manter a equanimidade diante das duas experiências, venceu o ego. Conseguiu vivenciar sua vida humanizada com habilidade espiritual. Mas se for seduzido pelas verdades ilusórias, significa que foi derrotado pelo ego, pela materialidade do mundo. A alegria ou o prazer vivenciado em um caso ou no outro é do ego e não do Espírito. A prova seria vencida com o desapego, com a vivência da felicidade plena em qualquer uma das circunstâncias vivenciadas pelo ego. Para quebrar esse condicionamento mental é importante sempre afirmar que se está homem, branco, judeu, brasileiro, corintiano etc. Tudo isso são características da personagem criada e não da Individualidade, que nem da Terra é. Por não ser Real, enquanto acreditar nelas, o Espírito humanizado deixa de amar ou de ser feliz, deixa de viver sua experiência humanizada a partir dos atributos que lhe são inerentes, ou seja, que já fazem parte de sua essência. Após a encarnação, o Espírito pode vivenciar sua personagem com tanto apego que sofre com as alternâncias, com os altos e baixos da vida. Fica eufórico e desesperado, res-


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pectivamente, com as conquistas e com as perdas que a personagem teve, ou seja, com as vicissitudes da vida humanizada. Porém, mesmo após o seu desencarne, o ser incorpóreo permanece algum tempo preso ao ego. E, em caso de sofrimento ou se estiver sendo um obsessor e sua vítima tiver merecimento para se libertar, são estes que costumam ser levados até os atendimentos espirituais nos quais podem recuperar a consciência enquanto uma Individualidade que escolheu um gênero de provas antes de encarnar e entender que a lei de Causa e Efeito não falha. Despertando do ego, da personagem que criou para mais uma encarnação, o sofrimento termina como em um passe de mágica, uma vez que a Individualidade não tem como adoecer. Ela apenas adquire experiência. Se não foi capaz de passar na prova que escolheu, vai apenas ter que se preparar melhor na próxima vez. Assim, o que a experiência animagógica demonstra é que, ao recuperar sua consciência mais ampla, todo o sofrimento, ódio, desejo de vingança e outros sentimentos desaparecem, como costuma acontecer ao despertamos de um sonho. A Animagogia, nesse processo, e não importa qual a técnica adotada, visa ajudar no processo de mudança de sensibilidade e de resgate da consciência da Individualidade reencarnante, mas que ainda não é a consciência espiritual plena, o que é importante sempre ressaltar. Esta só é possível quando a fase humanizada do Espírito se encerra e ele vai se preparar para a seguinte, a fase angelical. Mas isso é assunto para outro livro. Apesar de partir de uma base metafísica diferente, as orientações presentes nos livros de Allan Kardec, os fragmentos da vida no plano astral relatados no livro “Nosso Lar”, publicado em 1944 e escrito por André Luiz através do médium mineiro Chico Xavier, entre outros, apresentam a vida após a morte como algo ativo, ou seja, o ser humanizado desencarnado trabalhando em alguma colônia espiritual ao invés de ficar eternamente esperando pelo “Juízo Final” ou, como já salientamos, necessitando passar um tempo no chamado “umbral”, depurando as energias acumuladas em seu corpo astral (a túnica a qual Jesus faz referência em várias metáforas bíblicas e que deve estar limpa) antes de serem “resgatados”. Sabemos que é necessário um exercício mental hercúleo para conceber e aceitar estas narrativas visionárias nas quais o ser


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humanizado desencarnado existe sem a necessidade do corpo físico, apesar de manter as mesmas características de sua personalidade terrena. E ainda é mais difícil conceber que a “segunda morte” acontece quando o ser incorpóreo se liberta do ego, ou seja, da personagem que criou para mais uma aventura encarnatória. Para melhor ilustrar, imaginemos que o corpo físico seria a roupa especial que o astronauta necessita para sua aventura/missão fora da Terra. Este, antes de viajar para o espaço, prepara-se muito bem, planejando vários detalhes da missão. No espaço, necessita de uma roupa projetada para as condições ambientais que vai enfrentar. Porém, tal roupa será abandonada assim que voltar para a Terra, onde ela será desnecessária. Mas entre a roupa especial para se locomover no espaço e o corpo físico do astronauta há outra. Esta intermediária é como o ego. A gente se confunde e a aceita-a com mais naturalidade, mas também é necessário se despir dela. Ela só serve para a personagem que será vivenciada durante a encarnação. Para se escolher outras provas, é necessário se libertar completamente dela para vestir a próxima “roupa”. Resumidamente, para a Animagogia, o Espírito na fase humanizada, ou seja, nós, enquanto uma Individualidade vai planejar com seus amigos e mentores o seu “gênero de provas”, e decide com quem se relacionará e quais seres humanizados virão para serem cuidados como seus filhos, por exemplo. A vida da personagem não é planejada nos mínimos detalhes, mas as principais cenas onde as provas acontecerão, sim. Mas alguém precisa preparar todo o cenário. São os contrarregras. Estes são os mentores espirituais. Eles não estão ao nosso lado para nos proteger, mas para fazer acontecer o que está registrado no nosso “livro da vida”. Ou seja, garantir que nossas provas, escolhidas voluntariamente, aconteçam. Ou seja, toda encarnação é bem planejada para a Individualidade adquirir mais experiência e vencer a fase humanizada do Espírito. A encarnação é um “jogo cooperativo” no qual a regra suprema é amar e ser feliz diante de qualquer vicissitude, positiva ou negativa, vencendo a energia de egoísmo que nutre os chamados mundos de “provas e expiações”, onde acontece a fase humanizada. Nesse sentido, o Espírito em si e também a Indivi-


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dualidade (ser incorpóreo) não são egoístas, mas, iludidos pelo processo de humanização e encarnação, podem deixar de emanar amor em todos os seus atos e com isso não “evoluir”. Neste caso, não venceram a prova. Não foram mais fortes que o ego ou a materialidade da vida humanizada. Enquanto não for capaz de vencer o ego, sempre pedirá novas experiências nos mundos de “provas e expiações” para se capacitar para novas experiências além da fase humanizada do Espírito. A vontade é um dos principais atributos do Espírito. É o mesmo processo que ocorre com a pessoa que gosta de videogame. Enquanto não for capaz de passar por todas as fases, sempre que for derrotado, inicia novamente o jogo. Cada fase na vida do Espírito o capacita ou o torna apto para mudar de “nível”, vivenciando uma nova fase “evolutiva”. No nosso caso, após a fase humanizada virá a fase angelical. Mas é importante compreender, no momento, que o processo de encarnação/ reencarnação possui regras e, entre elas, está o adormecimento da “consciência espiritual” e também a lembrança dos “erros” e “acertos” do passado. Também não nos lembramos do “gênero de provas” escolhido para vivenciar na Terra e, sem saber o que vai acontecer durante nossa encarnação, teríamos a oportunidade de viver essa experiência com amor, felicidade e paz interior ou, ao contrário, alternando momentos de euforia e desespero, de acordo com as vicissitudes experimentadas. Quanto mais experiência, adquirida em vidas passadas, mas fácil superar as vicissitudes que aparecem ao longo da existência. Porém, mesmo adormecida, a consciência continuará presente naquilo que chamamos de “inconsciente” e pode sempre se manifestar de forma simbólica, através de intuições ou outras formas não racionais. O Espírito possui a consciência plena. Ao se humanizar, projetando-se através da Alma, essa consciência se reduz, ficando parte dela inconsciente. Apenas as experiências humanizadas ficam conscientes nesta dimensão. Porém, ao criar a personagem, a consciência se reduz ainda mais, aumentando a parte inconsciente. A consciência da personagem é o que chamamos de ego. É a mente. Tudo que não se refere à personagem se tornará inconsciente. E o ego reduz ainda mais a consciência no chamado estado de vigília do ser humanizado encarnado.


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Uma imagem que gosto de usar para representar essa redução da consciência e aumento da área inconsciente é a de uma pizza, com seus tradicionais oito pedaços. A pizza inteira representa a consciência espiritual, do Espírito puro ou Atman. Ao se humanizar, criando a Alma, a consciência se reduz, por exemplo, para quatro pedaços. Esta, ao criar a personagem, reduziria ainda mais, sobrando apenas dois pedaços. Mas, no estado de vigília, passa a existir apenas um. Poderíamos até chamar, do nosso ponto de vista humanizado e encarnado, e durante o estado de vigília, a parte inconsciente do ego de “inconsciente psíquico”, a parte inconsciente da Alma de “inconsciente anímico” e a parte inconsciente que vibra na Logosfera de “inconsciente espiritual”. Ter essa classificação em mente é importante para se compreender as diferenças entre o que identificamos como “captação psíquica” e “captação noética”. Essa diferença é fundamental na Animagogia. Tanto na Apometria, como na TVI ou em outra prática terapêutica, uma pessoa sensitiva pode acessar os pensamentos ou as emoções de um consulente. Nesse caso, com sua sensibilidade, ela acessou informações presentes na Psicosfera. Por isso, estaríamos diante de uma “captação psíquica”. Em outros casos, a pessoa sensitiva consegue acessar uma dimensão mais profunda, presente na Noosfera, trazendo informações sobre vidas passadas de um determinado consulente. Neste caso, identificamos com o nome de “captação noética”. No primeiro caso, são informações presentes na mente e, no segundo, na Alma. E existiria uma captação espiritual ou “logosófica”? Sim, mas neste caso, raramente se consegue imagens, apenas uma agradável sensação de paz interior, de plenitude, de total ausência de polaridades e um sentimento de integração com tudo o que existe. Com frequência, junto com a sensação de plenitude, a mente fica colorida, predominando a luz violeta ou lilás. É importante compreender que para a Animagogia, a consciência no estado de vigília é apenas uma fagulha perto de toda a consciência do Espírito. E é este que possui livre-arbítrio e não a personagem. Assim, não seríamos o fruto de um acaso ou de um destino cego, pois, apesar de existir certa fatalidade nos atos materiais, durante a encarnação e mesmo enquanto desencarnado na Psicosfera, teríamos sempre o livre-arbítrio no âmbito dos


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sentimentos, ou seja, das atitudes (ações interiores). Em outras palavras, a ação material seria o fruto da “Lei de causa e efeito”, também chamada de “carma” pelos orientais, que nada mais é do que o fruto do gênero de provas escolhido antes de encarnar. Mas ainda teríamos o livre-arbítrio para amar ou se revoltar, ser feliz ou infeliz diante das vicissitudes da vida humanizada, inclusive perdoando nossos algozes ou inimigos do passado ou do presente. Esta relativização do livre-arbítrio nos atos nos leva a outra tese: a de que Deus julgaria a intenção e não o fato em si. Essa ideia é constante na Psicosofia (sabedoria espiritual) de Lao-Tsé (Tao Te Ching) e de Krishna (Baghavad Gita) e também, de forma esporádica, no Antigo Testamento e até em O livro dos Espíritos, de Allan Kardec. E os estudos de caso que serão apresentados ao longo do livro evidenciam a famosa afirmação atribuída a Paulo de Tarso, na Bíblia: “Pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará” (Gálatas, 6:7). Para a Animagogia, este semear ocorre no plano do sentimento, na atitude, e não necessariamente nos atos materiais. Como já salientamos acima, estes teriam que ser de acordo com a necessidade e o merecimento de cada Espírito humanizado, respeitando o gênero de provas escolhido. Mas seria a consciência da individualidade, desperta do ego, o próprio algoz, sem que Deus, Jesus ou qualquer outro “ser superior” necessite julgar ou punir. A ideia de existir um Deus castigador e cruel, como aparece em passagens do Antigo Testamento, não foi confirmada nos trabalhos de Animagogia. Ao contrário, os seres desencarnados que se manifestam costumam demonstrar que é a própria consciência do Espírito humanizado que age como “algoz”, reconhecendo o “erro” cometido e solicitando a “reparação”. A Individualidade, ao se libertar do ego, ou seja, passar pela “segunda morte”, terá as condições necessárias de avaliar se teve fracassada sua encarnação ou não, e vai desejar vivenciar uma nova, com as mesmas provas ou outras. Mas a sensação de que sofre eternamente não é da Individualidade, mas do ser humanizado desencarnado ainda preso ao ego, e que é uma espécie de intermediário entre nós (encarnados) e os seres incorpóreos. Estes últimos habitam esferas superiores sem a necessidade de ter o corpo astral. Normalmente, estes seres são vistos pelos


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videntes apenas como luzes coloridas que piscam no ambiente. São azuis, verdes, amarelos etc. Na umbanda, o preto-velho pai Joaquim de Aruanda faz uma distinção entre o ser incorpóreo, esclarecido e consciente de qual é o seu estado evolutivo na fase humanizada do Espírito, e os desencarnados que são aqueles que precisam de auxilio ou estão iludidos pelo ego. Os primeiros ele chama de “Entidades” e, os segundos, de “Eguns”. Portanto, são os seres humanizados desencarnados, ajudados nas reuniões animagógicas, que relatam sentir dor ou sofrer torturas, sobretudo morais. Assim, Deus (ou o nome que queiramos dar para essa força muito sublime e pura) ofereceria àquele que não soube aproveitar sua passagem pela Terra outras oportunidades de aprendizagem e de aprimoramento e não de punição ou castigo. Para a Animagogia o ato de reencarnar seria a expressão da justiça e do amor de Deus para com aqueles que se “perderam no caminho”, ou seja, que se arrependeram de não emanar amor em seus atos materiais e que desejam saldar seus “débitos”, não com Deus, mas com sua própria consciência. Deus não precisaria perdoar por não se ofender. Acreditar que Deus se ofende é um pensamento muito restritivo. E essa distinção entre as dimensões, no caso a Psicosfera e a Noosfera, aparece de forma transversal no livro “Nosso Lar”, já citado anteriormente. Nele, o mais famoso dos livros escritos por Chico Xavier, encontramos a descrição, organização e a gerência de uma “colônia espiritual” localizada acima do território do Estado do Rio de Janeiro, no Brasil. Lá seria uma colônia para onde são encaminhados os seres humanizados desencarnados que atingiram um mediano nível vibracional (ou evolutivo). Portanto, ainda estão presos ao ego, à personalidade vivenciada na Terra, e que ainda precisam despertar a consciência da individualidade. Na colônia existem hospitais, educandários, áreas de lazer etc. Lá eles vão, gradativamente, libertando-se do ego a fim de planejar com seus mentores suas próximas encarnações. E mesmo estando em uma colônia onde vivem os desencarnados que não cometeram “erros graves” que lhes pesam na consciência, ainda não possuem autorização para contemplar e vivenciar as “moradas superiores”. Mesmo habitando uma colônia, estes seres humanizados que ainda se mantêm unidos ao ego, não conseguem enxergar os


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“Espíritos mais libertos ou esclarecidos”, cuja vibração seria mais sutil. Nesse caso, estes precisam se “materializar” para eles. Ou seja, precisam plasmar um corpo astral para se tornarem visíveis para os desencarnados que vivem nas colônias. E é importante compreender que tanto as colônias como os Umbrais vibram na Psicosfera. Nos umbrais, segundo os livros espíritas, estão os seres humanizados desencarnados que não possuem as condições necessárias para ter acesso às colônias. Apesar dessa mudança de grau, ambos estão vibrando na mesma dimensão. Porém, são para estes que são criados e organizados diferentes trabalhos de educação espiritual chamados de “desobsessão”, “evangelização” ou “doutrinação de Espíritos”, conforme o enfoque doutrinário adotado, mas que são formas diferentes de Animagogia (Educação espiritualista). São esses seres humanizados desencarnados que são auxiliados por diferentes grupos espiritualistas, seguidores de diferentes doutrinas reencarnacionistas e que adotam as mais diversas técnicas mediúnicas. E esta ajuda necessita de pessoas que possam servir de intermediários entre o plano invisível e o visível: os médiuns. Estes são uma espécie de Hermes da pós-modernidade, os novos psicopompos. Sem médiuns não se faz Animagogia com seres humanizados desencarnados. A Animagogia, portanto, consiste em um processo educativo para a promoção da metanoia, ou seja, de uma mudança de sensibilidade, para que o ser humanizado, desencarnado ou ainda encarnado, como é o nosso caso, recupere sua consciência como uma individualidade reencarnante. A metanoia é algo que pode acontecer espontaneamente quando a pessoa vivencia experiências singulares como a Experiência de Quase Morte (EQM), tem lembranças de vidas passadas, sai conscientemente do corpo e vê sua “realidade espiritual” etc. Quase todas as pessoas que passam por estas experiências afirmam que mudaram de atitude; passaram a encarar a vida humanizada de outra maneira, muito mais compreensiva e amorosa. Deixaram de se preocupar com muitas coisas e dão mais valor à amizade, à família, ao cuidado com o meio ambiente etc. Mas o que aconteceu? Apenas passaram a vivenciar sua vida humanizada com mais habilidade espiritual, ou seja, permitindo que os atribu-


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tos do Espírito passassem a inundar seu corpo e sua mente. O Espírito nunca deixou de ser feliz, nunca deixou de ser amoroso, nunca deixou de ser pacífico. Mas estes atributos que são vivenciados na Logosfera podem descer para as dimensões inferiores se a personalidade permitir. Poderímos dizer que entre a Psicosfera e a Noosfera existe um “muro de Berlim” ou uma “muralha da China” que precisa ser rompida para que a energia represada nas dimensões superiores possam se fazer presente nas inferiores. A Animagogia, neste contexto, seria uma forma de conduzir o processo metanoico através de uma anima-ação cultural. E ela pode ser realizada tanto com seres humanizados desencarnados ou com encarnados. Com os primeiros, ela pode acontecer de várias maneiras. A mais comum é através do envio de energia, utilizando preces e mentalizações, como acontece com a TVI, ou através de reuniões mediúnicas para orientá-los, uma vez que retornaram ao plano astral (Psicosfera), mas cujas mentes e corações estariam ainda presos ao mundo denso da matéria. Nesse caso, o uso das técnicas apométricas é importante, uma vez que elas permitem realizar regressões de memória para facilitar a lembrança de vidas passadas, entre outras situações que ajudam a “redescobrir” que são Espíritos eternos vivenciando a fase humanizada. A Animagogia pressupõe uma relação horizontal entre o que ajuda e o que é ajudado. Ninguém é tratado como um “ser do mal”, “inferior” ou “primitivo”. Como já foi salientado, para encarnar é necessário se “humanizar”, ou seja, ligar-se a um ego, uma consciência provisória que faz a Individualidade se confundir com a personagem, acreditando que se é homem ou mulher, branco ou preto etc. e não que está por alguns momentos, décadas talvez, vivenciando um gênero, uma determinada raça ou etnia, e assim por diante, definida na escolha do gênero de provas. A Animagogia consiste em despertar dessa ilusão, o que pode ser feito com mais facilidade, em tese, na condição de desencarnado. Presos aos laços da matéria, como é o nosso caso, o processo é possível, mas muito mais difícil, pois continuaríamos presos à dimensão tridimensional da existência. Porém, ter essa compreensão facilita, após o desencarne, o despertar da Alma, que se liberta do ego criado para mais uma aventura encarnatória. Como já salientado, somente na condição de Alma é que conseguimos


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ter condições de compreender onde deixamos de amar e planejar uma nova volta à Terra, escolhendo o mesmo ou outro gênero de provas, expiações e missões. As técnicas da TVI visam romper o “muro” que separa a personagem da Individualidade. Por isso, ela é uma prática terapêutica espiritualista. Ela visa a transcendência e a integração entre o ego e o Self, entre a personagem e a Individualidade, entre o “eu inferior” e o “eu superior”.



PARTE I Tratamentos Complementares de Saúde e Espiritualidade

inteligente é quem conhece os outros; sábio é quem se conhece a si mesmo. Lao Tsé



CAPÍTULO 1 A NECESSIDADE DAS CIÊNCIAS DO ESPÍRITO OU DO HOMO SPIRITUALIS

Os tratamentos complementares de saúde são, essencialmente, tratamentos espirituais que apresentam uma cosmovisão diferente daquela proposta pelo paradigma biomédico, que se pauta no empirismo, e que é dominante na área da saúde. E, assim sendo, é fundamental entender o que se está dizendo quando se fala em espiritualidade. Para tanto, neste primeiro capítulo se faz mister esclarecer o que estou chamando de Ciências do Espírito para se estudar sem finalidades doutrinárias ou proselitismo as possíveis relações entre o mundo material e o suposto espiritual. As Ciências do Espírito, como aqui estamos tratando, não se confunde com o Espiritismo, que além de ser um movimento sócio-religioso é a doutrina filosófica criada por Allan Kardec, no século XIX, e base fundamental para a prática medianímica que ocorre nos chamados centros espiritistas. E as Ciências do Espírito podem contribuir também para desfazer as confusões entre a Animagogia e o Espiritismo. Como a Animagogia é muito nova, tendo seu início em 2003, no Brasil, e também se fundamenta no trabalho mediúnico, há muitas confusões. Até porque elas compartilham muitas interpretações em comum, uma vez que o Espiritismo faz parte das Psicosofias que fundamentam a Animagogia. Mas também há diferenças que devem ser ressaltadas para se evitar mal entendidos. A obra de Kardec deve ser estudada para se compreender como se processam muitos trabalhos de Animagogia, principalmente aqueles realizados com os seres humanizados desencarnados, pois, basicamente, são os seus estudos que fundamentam esta prática espiritualista no meio kardecista e, em alguns casos, também no meio umbandístico e universalista.


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Nestes, em simbiose com outros ensinamentos espirituais ou Psicosofias. Em suma, o Espiritismo é um dos objetos privilegiados das Ciências do Espírito, que não se confunde também com as Ciências das Religiões, mas que estuda todas as supostas manifestações espirituais, mesmo aquelas consideradas hoje em dia como “elementos estranhos ao espiritismo”, como é o caso da Transcomunicação Instrumental, da Apometria e outras técnicas e práticas medianímicas. O Espiritismo se fundamenta, basicamente, nas informações presentes em O Livro dos Espíritos, escrito em 1857, por Allan Kardec, pseudônimo do pedagogo Hippolyte Léon Denizard Rivail (1804- 1869) e tem uma história singular. Em tese, o autor entrevistou o Espírito Verdade, através da mediunidade de vários sensitivos. O livro apresenta cerca de 50 ensinamentos espiritualistas, aprofundados e discutidos ao longo das mais de mil questões que Kardec formulou a este Espírito. Entre os adeptos do Espiritismo, existem duas hipóteses sobre ele: alguns afirmam que seria a manifestação de Jesus Cristo, enquanto outros afirmam que se trata de uma coletividade de “Espíritos superiores” que, sob a ordem de Jesus, respondeu as perguntas formuladas por Kardec. Em relação ao chamado intercâmbio mediúnico, não resta dúvida que, excluindo as fraudes e os diversos tipos de charlatanismo, o médium, após entrar em um estado ampliado de consciência, é capaz de manifestar informações que o próprio desconhece em seu estado de vigília. Temos inúmeros dados coletados ao longo dos últimos 20 anos (1999-2019) que nos dão evidências, apesar de não provar, que o médium manifesta a opinião de consciências alheias, mas não descartamos a hipótese de que o mesmo pode também manifestar informações provenientes de seu próprio inconsciente ou de um suposto “inconsciente coletivo”, argumento utilizado por pesquisadores que não aceitam, nem como hipótese, a possibilidade da comunicação com os “mortos”, mas reconhecem que algumas pessoas conseguem durante o chamado “transe mediúnico” revelar informações sobre a vida particular dos consulentes, desconhecidas do médium em seu estado de vigília. Voltando ao Espiritismo, encontramos na introdução de O Livro dos Espíritos, Kardec esclarecendo que nem todos os espiritua-


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listas, ou seja, aqueles que acreditam na existência dos Espíritos, aceitam que é possível estabelecer comunicações com o mundo invisível. Assim, para designar aqueles que acreditam, Kardec empregou o termo “espírita” ou “espiritista” e definiu o Espiritismo como o estudo das relações entre o mundo material e o espiritual e também do papel ativo dos Espíritos no mundo invisível. Nesse sentido, Kardec reservou à palavra espiritualismo sua acepção própria, ou seja, como antônima de materialismo. Para Kardec, fica evidente que todo aquele que acredita haver em si outra coisa que a matéria, é espiritualista. Porém, espiritistas, seriam apenas os que acreditariam na possibilidade do Espírito se manifestar e se relacionar com o mundo material. Porém, muitos adeptos do Espiritismo afirmam, hoje em dia, que não basta acreditar em Espíritos ou na comunicação com eles para ser espiritista. Assim, aqueles que conversariam com “pretos-velhos”, “índios”, “orientais” etc. não poderiam ser chamados de adeptos do Espiritismo, uma vez que, para eles, tais supostos Espíritos não se pautariam nos ensinamentos sistematizados por Kardec, mas em outras doutrinas, como são as Psicosofias orientalistas ou afrobrasileiras. Dentro dessa perspectiva, e contrariando Kardec, não bastaria acreditar na existência dos Espíritos ou conversar com eles para ser “espiritista”, como ele demonstra em seu livro O que é Espiritismo. Para as Ciências do Espírito, mesmo que elas ainda não sejam realizadas dentro das Universidades, a mediunidade é um objeto de estudo também privilegiado e muito mais: ela também é fonte para coleta de dados. E neste caso, uma das heurísticas principais é o que chamamos de Espiritologia, ou seja, o uso da História Oral para se entrevistar os Espíritos. Entre os anos de 2005 e 2008 entrevistamos o “preto-velho” pai Joaquim de Aruanda e através de seus depoimentos publicamos, em 2009, o livro “História Oral, Imaginário e Transcendentalismo: mitocrítica dos ensinamentos do espírito pai Joaquim de Aruanda”. Pesquisas empíricas também podem ser feitas, foi o caso do estudo sobre a Apometria, realizada na ONG Círculo de São Francisco, entre os anos de 2004 e 2007. Através das entrevistas com as entidades atuantes nesta técnica, coletamos informações sobre


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a importância do uso da energia mental, seja utilizando a visualização de cores ou irradiando pulsos energéticos. Estas são utilizadas para destruir as formas-pensamento negativas e desmanchar trabalhos de “magia negra” ou “macumba”. Fomos informados também que a Apometria (com outro nome) já era praticada no passado remoto por “magos brancos” e que hoje o trabalho no Astral é conduzido pelo mesmo Espírito que viveu a personalidade Maria, a mãe de Jesus, e que é conhecido como a “senhora da regeneração”, uma vez que o objetivo da Apometria seria a limpeza do Umbral, libertando do ego os Espíritos humanizados que se encontram ainda presos a essas ilusões mentais negativas, um processo necessário para que a Terra possa mudar de vibração, tornando-se um “mundo de regeneração”. Por fim, recebemos a informação de que muitos trabalhadores da Apometria assumiram esse compromisso “antes de encarnar” para expiar o envolvimento, no passado, com a prática da “magia negra” etc. Apenas por curiosidade, no livro psicografado “Os miosótis voltam a florir”, escrito por um Espírito que se identifica como Luis Sérgio, é possível encontrar a descrição de alguns trabalhos socorristas realizados pelas “falanges” orientais. Em seu capítulo VIII, por exemplo, o autor descreve um trabalho realizado com luzes e controle da mente, semelhante ao que se pratica durante os atendimentos apométricos, projetando vibrações amorosas para transformar padrões estagnados de energia nos planos físico, astral e mental inferior (essas duas dimensões nas quais vibra o ego a Animagogia identifica como sendo a Psicosfera). Nem todas as casas espiritistas aceitam que um “preto-velho” possa se manifestar e muito menos que possa ser um Espírito “superior”. Normalmente, tais entidades são rotuladas como “inferiores” e proibidas de dar comunicação. Mas, para quem já compreende que a forma é apenas uma postura adotada e que sua “superioridade” deve estar presente no conteúdo moral de seus ensinamentos e não na aparência como se manifesta em um trabalho mediúnico, apresento a resposta de um preto-velho, que utiliza o nome pai Jeremias, à seguinte questão: por que o silêncio dos Espíritos “superiores” em relação à Apometria nos trabalhos kardecistas, conforme questionam vários espiritistas?


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E a resposta foi a seguinte, com a qual concordamos: “Cada trabalho acontece no lugar certo e onde Deus permite que aconteça. Em um local onde há mais dúvidas do que amor, muito apego ao ego, ao orgulho do que vontade de servir, não há condições vibratórias para um trabalho socorrista como o da Apometria. Tudo tem seu tempo certo para acontecer. O trabalhador que estiver preparado para entender a Apometria e que tem compromisso assumido com essa linha de trabalho será levado para o lugar certo, não importa se ele é kardecista, umbandista, universalista, esotérico etc. Deus dá a cada um aquilo que precisa e merece.” Como afirmamos no início deste capítulo, as Ciências do Espírito que estamos propondo não se confunde com o Espiritismo, logo, não pode estigmatizar ou proibir “pretos-velhos”, “caboclios” e de outras entidades de se manifestar em intercâmbios mediúnicos. E muito menos rotulá-los de “inferiores”, “mistificadores” ou “selvagens” que devem ser “doutrinados” ou simplesmente “expulsos” das reuniões mediúnicas. As Ciências do Espírito, no campo da mediunidade, deve se abrir ao estudo de todas as manifestações, utilizem rituais ou não, com “giras” onde se cantam pontos cantados e se usam roupas específicas ou que ocorrem no silêncio, no recolhimento. Ainda em 2008, no campo das Ciências do Espírito, e utilizando como método a mitocrítica durandiana, fiz um estudo comparando o Espiritismo, a Umbanda e o Universalismo procurando compreender um pouco mais as diferenças fundamentais ou arquetípicas entre as três Psiconomias (organização do intercâmbio com as entidades espirituais). Nelas foi possível perceber a presença das estruturas do imaginário estudadas por Gilbert Durand. O Espiritismo tende a se constituir em um campo imagético particular, cujos mitemas são facilmente vinculados ao “regime diurno” como sugerido por Gilbert Durand, com a presença constante de imagens ascensionais e de mitos apolíneos e prometeicos, presente na defesa da chamada “pureza doutrinária”, na busca pela “evolução do Espírito”, na luta contra o “irracionalismo”, na defesa da “fé raciocinada” etc.; enquanto isso, a Umbanda e o Universalismo apresentam imagens típicas do “regime noturno”, com a primeira manifestando elementos do imaginário antifrásico e dionisíaco, como podemos notar em sua aceitação do sincretismo


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e do ecletismo, assim como em sua afirmação positiva do corpo, da feminilidade e da natureza, de forma geral; e, o último, do imaginário dramático ou disseminatório, ligando as duas polaridades anteriores, não no sentido de criar uma síntese, mas de transitar por estes dois polos arquetípicos. No universalismo é possível notar imagens hermesianas, como na valorização do poder da mente para a transformação da realidade material, por exemplo. Com base no que foi exposto até aqui, já é possível salientar as diferenças entre as Ciências do Espírito, uma disciplina com enfoque acadêmico para estudar todos os supostos “fatos espirituais” e o Espiritismo. Esta doutrina filosófico-religiosa é um objeto privilegiado de estudo das Ciências do Espírito. Mas esta disciplina que estamos propondo estuda também outros fenômenos que o movimento espiritista, de modo geral, considera como “elementos estranhos ao espiritismo”: a dimensão espiritual nos tratamentos holísticos, os intercâmbios medianímicos que acontecem na Umbanda, a Apometria, a Transcomunicação Instrumental, a Terapia de Vidas Passadas etc. Em outras palavras, as Ciências do Espírito, conforme aqui conceituamos, estuda imparcialmente estes fenômenos, sejam eles considerados “espíritas” ou não pelo movimento espiritista brasileiro, porém, dentro de um enfoque que podemos chamar de transmoderno ou pós-positivista por abrir-se, sem pré-conceitos, à possibilidade de existir uma realidade espiritual ou transcendente. Assim, compreende o valor de todas as contribuições psicosóficas, mas não as trata como verdades absolutas ou dogmáticas. Ela estuda a possibilidade da vida após a morte (o sobrevivencialismo) e elabora teorias que possam compreender as relações possíveis entre o mundo espiritual e o material, e tem como principais heurísticas a História Oral, a Observação Participante e a Pesquisa-Ação, utilizadas para a coleta de informações em Centros espiritistas, de umbanda, universalistas, apométricos e outros onde o intercâmbio medianímico com as entidades espirituais se faz presente de forma rotineira, através da “incorporação”, da vidência, da psicografia etc. Em outras palavras, as Ciências do Espírito não visa legitimar a doutrina espírita e não ignora os “fatos espíritas” considerados como “elementos estranhos ao Espiritismo”.


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No próximo capítulo faremos um estudo comparativo entre o Espiritismo e a Animagogia com o objetivo de compreender suas implicações nos tratamentos complementares de saúde, a partir de uma perspectiva espiritualista, ou seja, diferente daquela que afirma que tudo aquilo que pode ser rotulado de espiritual, transcendente etc. seria apenas uma criação do cérebro. Essa visão biologizante se encontra, por exemplo, na cosmovisão da prática meditativa chamada de mindfullness, para quem tudo é apenas o fruto da criação do cérebro. Na prática, podemos constatar que não há muita diferença entre a mindfullness e a meditação integrativa, inclusive em seus resultados. Mas a diferença acontece na explicação. Enquanto a meditação integrativa se fundamenta na Animagogia, que afirma que somos Espíritos eternos vivenciando uma experiência humanizada, e que sobrevivemos à morte física, a explicação da prática conhecida como mindfullness é eminentemente biologizante ou materialista. Mas o foco dos capítulos seguintes será, primeiramente, esclarecer o que entendemos por ego e, em seguida, comparar o Espiritismo e a Animagogia, através de um estudo que podemos identificar como sendo no campo das Ciências do Espírito.


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CAPÍTULO 2 O EGO É UM ÓTIMO SERVIDOR, MAS UM PÉSSIMO PATRÃO

Um conceito importante para se trabalhar com a Apometria, TVI ou outra prática complementar dentro de um contexto animagógico é o de ego, um conceito que não aparece de forma patente no discurso kardequiano, mas que é de fundamental importância no pensamento oriental. Dentro do enfoque proposto pela Animagogia, o ego é um conceito chave. É importante compreender que o ego não se confunde com o Espírito, e encarnar, o processo de ligar o Espírito a um novo corpo, não é o mais importante. O que realmente conta para a “encarnação” é a humanização do Espírito eterno e a escolha do gênero de provas. Ou seja, a sua ligação a uma consciência provisória, criada pelo Espírito humanizado enquanto gozava de sua consciência plena. Essa consciência provisória é que identificaremos como sendo o ego e que nos faz esquecer que somos Homo spiritualis, que já traz em sua essência tudo aquilo que almejamos: felicidade, amor, paz interior, equanimidade etc. E é o ego que se alimenta dos frutos doces e azedos da árvore da vida, como nos ensina um famoso aforismo oriental, e essa ilusão pode impedir que a paz interior do Espírito eterno se manifeste diante de qualquer vicissitude experimentada ao longo de mais uma vivência humanizada. A partir dos atendimentos apométricos realizados na ONG Círculo de São Francisco, temos constatado que não basta desencarnar para a Individualidade se libertar do ego. Este tem uma pequena expansão, aumentando o grau de consciência do desencarnado. Mas ele continua preso à personagem que vivenciou, não se lembrando do gênero de provas, de suas antigas encarnações e o que pode ser pior: sofrendo por apegos ou se tornando um obsessor.


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Esse processo também pode ser verificado nos livros psicografados que relatam a vida dos desencarnados que necessitam plasmar um mundo semelhante ao que vivenciaram na Terra, devido aos apegos que estão registrados em sua mente. Aliás, a mente é o ego, com suas duas dimensões: a consciente que usamos no estado de vigília e a subconsciente, que trás os elementos da quarta dimensão, o chamado mundo astral que na Animagogia se identifica como Psicosfera. O Espiritismo possui ensinamentos importantes e é de fundamental importância para consolar o Espírito humanizado que acredita que perdeu um ente querido ou bens materiais, mas não nos ajuda a compreender o processo de humanização, E, na maioria das vezes, confunde o Espírito com o ego, sobrevalorizando a importância das colônias espirituais, uma forma que reproduz o mundo material e não é ainda o verdadeiro plano espiritual. Por confundir o Espírito e o ego, podemos entender porque o Espiritismo acredite na necessidade de evolução do Espírito, não considerando que ele já foi criado imagem e semelhança de Deus e que já tem dentro de si todos os atributos que, em tese, deveria conquistar com a “evolução”. As colônias, umbrais, vale dos suicidas etc. são criações mentais, daí elas vibrarem na dimensão que a Animagogia chama de Psicosfera (a esfera da mente) e não, necessariamente, no plano do Espírito (Logosfera). A Psicosfera corresponde ao mundo astral e ao mental inferior da Teosofia. Essa é a dimensão do ego, onde vibram as emoções e as formações mentais vivenciadas pela personagem, esteja ela encarnada ou não. Ela é importante no processo de “descida” do Espírito humanizado após escolher seus gêneros de provas e criar seu avatar (a personagem que vai representar em mais uma encarnação). Porém, na “subida”, após o desencarne, pode ser um campo de ilusão até que a consciência se expanda e a Individualidade desperte completamente. Os atributos que formam o ego, de forma geral, são: perceber o mundo de forma tridimensional através dos sentidos, as sensações físicas, as emoções, as formações mentais relacionadas à percepção, às sensações e às emoções e, por fim, a memória que nos faz acreditar que somos a mesma pessoa quando acordamos.


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O Espírito que não é humano, mas se humaniza, apenas pulsa AMOR e não é doente, egoísta, orgulhoso etc. O Espírito apenas não tem experiência de vida e sabedoria, por isso, a encarnação serve para ele vencer o ego. Mas tal vitória só acontece após muitas partidas disputadas. Segundo algumas entidades comunicantes, em média, a fase humanizada do Espírito, a que vivenciamos no momento, leva de 7 a 10 mil anos. Nesse intervalo de tempo é possível viver muitas aventuras encarnatórias. Em suma, aquele que não tiver uma compreensão mais profunda do que é o ego e sua relação com o Espírito eterno, não entenderá o trabalho realizado, por exemplo, pela Apometria e não compreenderá como “ódios seculares” podem ser resolvidos em minutos. Em outras palavras, não é o Espírito que tem ódio, mas, enquanto se encontra iludido pelo ego, pode acreditar no ódio gerado por este e passar a perseguir um irmão espiritual, encarnado ou desencarnado, enquanto Deus permitir que isso aconteça, obviamente. Assim, ao invés de materializar o mundo espiritual, a Apometria, praticada no contexto da Animagogia, procura despertar o Espírito das ilusões presentes em sua mente, ou seja, despertá-lo e desligá-lo do ego, recuperando sua real consciência espiritual, no caso, da Individualidade, uma vez que ainda estamos na fase humanizada do Espírito. Não tendo essa compreensão, encontramos em livros ou na internet espiritistas afirmando, por exemplo, que despertar o Espírito através de uma regressão de memória como se faz através da Apometria “colide com a razão”. O problema aqui é saber o que entendem por razão e os limites da racionalidade adotada nesta intepretação. Já presenciamos vários casos de obsessores que se libertaram e perdoaram instantaneamente seu “algoz” após passarem por uma regressão de memória. E por que isso acontece? Porque o Espírito puro, aquele que o Espírito Verdade diz para Kardec que tem o “brilho do rubi”, só pulsa AMOR. O obsessor é um Espírito humanizado ainda preso ao ego, portanto, às formações mentais que não o ajudam a se lembrar de que antes de encarnar, enquanto gozava de sua consciência humanizada plena, ele escolheu um gênero de provas para vivenciar na Terra. Portanto, iludido por essa formação mental, perde seu brilho e fica como uma “sombra”. Mas esta não é sua condição real, ela é


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apenas provisória. Assim, em função do gênero de provas que foi importante para o ego ser criado, gerou-se também um avatar com uma determinada forma física (homem ou mulher), e determinadas percepções, sensações, formações mentais etc. adequadas para o Espírito vivenciar na Terra a provação que escolheu. Porém, como já salientamos, não basta desencarnar para a Individualidade se libertar do ego. Assim, não podemos dizer que seja um erro da Doutrina Espírita, pois ela é perfeita para o objetivo ou missão que possui: consolar os Espíritos humanizados, mostrando que a vida continua após a morte e que é ativa. Mas o fato de desconsiderar a existência do ego impede que muitos espiritistas compreendam como a Apometria ajuda a libertar tantos Espíritos humanizados em tão pouco tempo. Muitas vezes, o palavriado doutrinário das reuniões de desobsessão podem apenas reforçar o ego, pois falam para a razão e não tocam o “coração” do Espírito. Há doutrinadores que recomendam, inclusive, que nunca se fale para o desencarnado que ele está “morto”, pois isso pode fazê-lo sofrer ainda mais, como se nossa condição natural não fosse como Espírito. Ou seja, ao invés de valorizar a vida espiritual, a eternidade, a consciência plena, nas práticas de doutrinação há, com frequência, o reforço do ego, da consciência humanizada da personagem. Assim, um desencarnado pode permanecer muito tempo vinculado à consciência provisória que vivenciou na Terra e ser controlado por ela. Quando isso acontece, sente-se ofendido, acredita que está sendo agredido e fica com raiva, rancor, mágoa etc. O Espírito humanizado ligado ao ego não percebe que está ligado a uma “ilusão”. Ele não se dá conta que todas as percepções, sensações, memória e formações mentais que ainda vivencia foram criadas por esta consciência provisória. Por isso, mesmo desencarnado, continua se comportando como se estivesse encarnado, pois é o mundo que está em sua mente. Enquanto ele não tirar “os óculos de realidade virtual” não despertará para a verdadeira vida. Enquanto permanece iludido, o Espírito humanizado não se lembra de que escolheu um gênero de provas e que vivenciou, exatamente, aquilo que escolheu. Em suma, ele não se lembra de que seu livre-arbítrio foi totalmente respeitado por Deus e pelos Espíritos responsáveis em criar o seu “livro da vida”. Mas, ao


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despertar, tomará consciência que ele recebeu exatamente aquilo que necessitava e merecia, além de ser instrumento, mesmo inconsciente, para as provações de outros Espíritos humanizados. Quando essa consciência desperta, toda a ilusão se desfaz. O ego sempre foi e será um ótimo serviçal. Mas nunca será um bom patrão, seja para os encarnados ou para os desencarnados. E como funciona um atendimento apométrico? Essencialmente, os trabalhadores encarnados doam energia (ectoplasma) e esta será utilizada pela espiritualidade socorrista para entrar no “teatrinho” mental do Espírito ainda iludido, despertando-o. Assim, com essa energia, muitos desencarnados que ainda acreditam que estão presos em buracos, cimentados em paredes, presos a um automóvel, afogando-se no mar etc., são facilmente libertados daquele mundo ilusório, que só existia em sua mente. E o mesmo acontece com aquele que persegue o seu algoz. Em pouco tempo compreende o que se passou e perdoa aquele outro irmão espiritual. Em outras palavras, esta prática não colide com a razão, mas colide com o ego, que é a própria razão humanizada e programada para pensar o mundo ilusório da matéria por parâmetros egóicos: “certo” e “errado”, “bem” e “mal”, “superior” e “inferior” etc. Por isso, enquanto se encontrar preso ao ego, nenhum Espírito humanizado será capaz de compreender (pois lhe falta um sentido) que Deus, a causa primária de todas as coisas, controla todo esse teatrinho que chamamos de “encarnação”. E a Apometria não ignora a “reforma íntima” como alguns espiritistas afirmam. Se entendermos que “reforma íntima” é trabalho interior e não exterior, a única “reforma íntima” possível é consciencial e sentimental. Ou seja, é o processo metanoico de despertar, libertando-se das verdades criadas pelo ego, recuperando a consciência humanizada plena, a da Individualidade que escolhe os gêneros de provas e reencarna. Nesse sentido, a Apometria, no contexto da Animagogia, não ignora a “reforma íntima”, mas promove a única que é possível. Por exemplo, enquanto eu acreditar que sou homem ou mulher, branco ou preto, brasileiro ou argentino, homo ou heterossexual etc., ou seja, nas verdades que minha consciência provisória possui, vou continuar vivenciando exatamente isso quando desencarnar e não serei um Espírito liberto, um bodhicitta, segundo a nomenclatura


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budista. Vou plasmar um “mundo espiritual” que será uma cópia da vida na Terra, ou seja, vou materializar o mundo espiritual. É por isso que a única “reforma íntima” possível é se libertar do ego, do agregado que envolve o Espírito humanizado e impede que seus atributos sejam vivenciados plenamente durante mais uma encarnação. Libertar-se de suas verdades é o caminho para que possamos ressurgir como Espíritos eternos, recuperando nossa consciência humanizada plena. Somente quando nos encontrarmos conscientes de que vivenciamos uma nova prova, uma nova expiação ou uma nova missão na Terra é que poderemos escolher outro gênero de provas. E para o encarnado, ou seja, nós, a metanoia consiste em ressurgir na carne. Em outras palavras, enquanto encarnado, vivenciar a vida humanizada com habilidade espiritual, despertando os atributos do Espírito na vida cotidiana, uma vez que somos Homo spiritualis. Obviamente que fazer essa “reforma íntima” é mais fácil com o desencarnado. Com aqueles que já se libertaram do corpo físico, a Apometria pode ajudar a libertar milhares de desencarnados presos às verdades ilusórias criadas pelo ego há décadas, séculos e até milênios, em muitos casos. E não só a libertação dessa consciência provisória acontece “com um toque de mágica”, como ironizam alguns espiritistas, mas até a desmaterialização completa de cidades no Umbral. Vou relatar um trabalho apométrico que coordenei e que demonstra como isso aconteceu. Durante o atendimento, estávamos diante de um Espírito humanizado iludido com seu poder de controlar uma determinada cidade astral, escravizando milhares de desencarnados, todos também iludidos pelo ego. Manifestando-se através de uma médium de incorporação, o mesmo se orgulhava do poder que possuía e falava, de peito aberto, do controle que tinha sobre os outros. O grupo apométrico se concentrou e enviou energia para desmanchar aquela cidade para mostrar ao mago que seu poder era ilusório. Em poucos segundos (obviamente que tudo aconteceu com a permissão de Deus), uma médium vidente passou a descrever que aquela paisagem se desmanchou e em vez da cidade feia e asfixiante, surgiu uma paisagem campestre agradável e apaziguadora. E todos os que estavam sob o domínio daquele foram resgatados pela espiri-


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tualidade. Ele, diante do que acontecia, entrou em choque. Seu orgulho foi ferido e ele ficou abismado com o nosso poder mental, libertando seus escravos de uma forma tão rápida. Na verdade, o que os libertou foi a energia amorosa enviada pelo grupo e a manipulação dessa energia pelas entidades socorristas e, obviamente, a permissão de Deus. De uma forma ou outra, aqueles escravos já tinham o merecimento para serem libertos. Ou seja, enquanto foi necessário, até o “mago negro” foi instrumento para a expiação deles no mundo astral. Com a energia enviada, aquela construção mental se desfez. E o que estamos descrevendo vem ao encontro do ensinamento presente na questão 274 de O livro dos espíritos que enfatiza que os espíritos “superiores” exercem uma autoridade irresistível sobre os “inferiores”. Ou seja, aquele desencarnado só conseguiu escravizar os outros enquanto houve a permissão divina. Talvez ele não tivesse essa consciência, mas seus sentimentos, pensamentos e ações eram de conhecimento dos Espíritos esclarecidos que conduziam o atendimento. Desiludido, ou seja, liberto da ilusão, o “mago negro” aceitou o auxilio e também foi conduzido pela espiritualidade socorrista. Assim, em menos de meia hora de trabalho apométrico, uma cidade inteira no Umbral foi desfeita através do uso controlado e amoroso do poder mental daquela equipe mediúnica e vários Espíritos humanizados foram libertados da ilusão em que se encontravam. E não foi só. Até o “mago negro” foi convertido para o “Bem”, ou seja, também se libertou das ilusões do ego, pois este também é um Espírito eterno passando por suas provações. E não sabemos por quantos anos, séculos talvez, aqueles desencarnados vivenciaram tal ilusão. Mas o importante foi a limpeza feita no umbral. Eis aí a verdadeira “reforma íntima” em ação, uma verdadeira metanoia sendo processada. Em outras palavras, o Espírito eterno não “cultiva ódio”. Desperto, ele pulsa AMOR, pois foi criado à imagem e semelhança de Deus. Quem cultiva ódio é o ego, já que o Espírito continua puro e perfeito conforme foi criado. Porém, o Espírito pode ficar adormecido e acreditar n essa emoção criada pelo ego e se iludir por muito tempo. Mas, quando desperta dessa ilusão, ou seja, quando redescobre que aquilo que motivou o ódio não passou de um “teatrinho”, de uma realidade ilusória na


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Terra ou no mundo astral, e que tudo o que foi vivenciado só existiu dentro de sua mente, ele recupera sua consciência humanizada plena, lembrando-se dos gêneros de prova que escolheu. É por isso que o Espírito desperto não tem motivo nenhum para sentir ódio, já que apenas pulsa AMOR. Aquele que, por alguma razão, permanece ligado à consciência provisória de sua última encarnação, sofre por causa dos apegos materiais, sentimentais e culturais, as raízes do sofrimento como ensinou Buda. Enquanto se encontra preso ao ego, ele vai continuar acreditando nas verdades que este cria e Deus permitirá que isso aconteça se tal experiência ainda fizer parte das expiações que necessita vivenciar, mesmo estando desencarnado. Mas muitos espiritistas questionam: se é tão simples assim libertar o Espírito da ilusão em que se encontra, porque a Apometria não surgiu antes? Por que não foi objeto de estudo de Kardec? A resposta também é simples: Ela teve que surgir aproximadamente 100 anos após a codificação kardequiana, quando no Ocidente práticas de mentalização e meditação já começavam a se consolidar, visando, assim, unir o poder mental controlado a uma prática mediúnica séria. E este processo não pode ser pensado independentemente do processo de regeneração da Terra e porque, agora, se faz mister a limpeza energética do Umbral e do seu desmanche o mais rapidamente possível. Ou seja, a Apometria não é mais “eficiente” que a doutrinação clássica espiritista, mas possui uma missão diferente: ajudar na limpeza da energia deletéria que criou os chamados umbrais, facilitando o resgate dos Espíritos que continuarão encarnando na Terra em regeneração ou que passarão pelo exílio, reencarnando em outros mundos de provas e expiações e não mais na Terra. Para se trabalhar com a Apometria é necessário que o grupo mediúnico seja formado por pessoas que tenham experiência meditativa, que cultivem a concentração mental, o equilíbrio e o controle dos pensamentos e das emoções. Apesar de ser uma técnica que surgiu no Ocidente, particularmente no Brasil, os grupos apométricos sérios trabalham com Espíritos humanizados já familiarizados com as técnicas meditativas, em encarnações vividas no Oriente. São Espíritos que não se iludem com as criações do ego e conseguem “enxergar” o que se oculta nas formas mate-


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riais, compreendendo que as energias se tornam “positivas” ou “negativas” dependendo da intenção com que são emanadas. Os grupos de Apometria que se servem de médiuns inexperientes ou com graves problemas emocionais, rapidamente se tornam alvos de mistificação e fascinação. Ao invés da Individualidade se libertar do ego, inflam-no ainda mais, e começam a se ver como salvadores do mundo, numa luta heróica contra o mal, representado por todos que pensam de forma diferente. Porém, tirando essas exceções, a Apometria tem um papel importante nos dias de hoje. Ela pode ser um útil instrumento para que uma ação mais enérgica e amorosa seja utilizada para libertar os desencarnados iludidos. E tudo está acontecendo como tem que acontecer. Ou seja, a doutrinação clássica não é “errada” e cumpriu a missão que Deus definiu para ela, assim como os exorcismos praticados por católicos e evangélicos. Podemos dizer, por exemplo, que o exorcismo é a técnica medieval, necessária para “expulsar” os demônios; enquanto a doutrinação é a técnica moderna para consolar Espíritos humanizados iludidos e a Apometria é a técnica pós-moderna para os “libertar” dessa consciência ilusória. E todas são certas, acontecendo na hora e no lugar estabelecido por Deus. Aliás, nada está errado no mundo material. O chamado mundo de provas e expiações é muito mais um mundo de intencionalidade do que de ação. E isso está explicito na doutrina espírita. Somente quem acredita nas verdades do ego não consegue perceber que a justiça divina, através da Lei de causa e efeito, controla todos os acontecimentos e atos materiais vivenciados na Terra. E se existe hoje a Apometria é porque Deus permitiu e ela também é um instrumento de prova para aqueles que servem a Deus através dela e para os que a criticam. Para encerrar este capítulo, vamos apresentar um estudo de caso que demonstra como a Apometria não vai de encontro à Doutrina Espírita, ou seja, aos ensinamentos do Espírito Verdade contidos em O livro dos Espíritos. Como já salientamos, um dos ensinamentos básicos da doutrina espírita afirma que não importa o perigo, ninguém morre antes da hora. Porém, há uma infinidade de livros e artigos ditos “doutrinários” que insistem em dizer que morreram inocentes com a queda do WTC ou que este ou aquela personalidade humana morreu antes da hora prevista etc.


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Todas essas informações vão de encontro com o ensinamento que consta em O livro dos Espíritos. Mas isso é compreensível, pois, como já salientamos, somos Espíritos eternos vivenciando uma experiência humanizada e encarnada, portanto, presos a um ego. Assim, com a nossa consciência espiritual velada, nossa tendência é a de acreditar nas verdades criadas por ele. O ego tenta, de todas as maneiras, nos fazer acreditar que temos condições de agir independentemente da chamada Lei de “causa e efeito” ou de “ação e reação”. É ele que nos faz acreditar que podemos abandonar o gênero de provas que escolhemos antes de mais uma encarnação ou morrer antes da hora. Muitos espiritistas acreditam que Airton Senna morreu antes da hora. Porém, quando compreenderem que o Espírito não é o ego, saberão que não existe um Espírito chamado Airton Senna, mas que esse nome se refere à personalidade provisória que um determinado Espírito vivenciou na Terra. E, se após a desencarnação, o Espírito ainda acreditar que é o Airton Senna, isso significa que ainda está preso ao ego e, portanto, não readquiriu sua consciência humanizada plena. Assim, mesmo que ele se manifeste em um centro espírita e diga que morreu antes da hora, uma informação que contradiz os ensinamentos do Espírito Verdade, ela não deveria ser aceita, pois seria uma informação “não-doutrinária”. E, através da Apometria, já presenciamos vários casos de Espíritos iludidos pelo ego que acreditavam nesta história e muitos foram esclarecidos através de uma simples regressão de memória para o momento em que escolheram seus gêneros de provas. Em questão de minutos, quando tomaram essa consciência, confirmaram que estavam enganados. É importante ressaltar que estamos apresentando essa informação enquanto uma teoria, pois estamos nos baseando nos relatos dos médiuns incorporados ou videntes que atuaram durante as experimentações. O caso a seguir aborda o atendimento de um desencarnado que havia vivenciado o ego de um policial militar assassinado por um bandido. Ao ser evocado, rapidamente se manifestou no trabalho com muita ansiedade, através de uma médium de psicofonia. Ele havia “morrido antes da hora”, segundo seu ponto de vista, e estava desesperado porque seus filhos eram pequenos e ele precisa cuidar deles. Conversamos com ele, tentando acalmá-lo e per-


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guntamos se ele tinha Fé em Deus. Ele respondeu que sim. Em seguida, perguntamos se ele achava que Deus abandonava qualquer um de seus filhos. Mais calmo, ele nos disse que não. Aí dissemos para ele: então você acha que Deus abandonará os Espíritos que encarnaram para viver como seus filhos? Ele ficou pensativo e como nada dizia, aproveitamos o momento para lhe perguntar se aceitava fazer uma regressão de memória para se lembrar do gênero de provas que havia solicitado antes de encarnar. Com a sua concordância, demos um comando para que se lembrasse do momento em que escolheu o gênero de provas para ser vivenciado na Terra e quando aceitou vivenciar o papel de pai daqueles que encarnariam como seus filhos. Alguns segundos se passaram e ele começou a chorar e pediu perdão a Deus pela falta de Fé e falou que os Espíritos que vieram como filhos dele sabiam que precisariam ficar órfãos ainda na infância. Essa experiência fazia parte dos resgates que aceitaram vivenciar na Terra. Ou seja, após esse esclarecimento, aceitou a ajuda e compreendeu que a Lei de causa e efeito não pode ser derrogada pelos nossos atos e nem por um bandido. Portanto, ninguém morre antes da hora, seja por “bala perdida”, seja por assassinato e até mesmo por suicídio. Ele compreendeu que vivenciou o papel de policial e que cada Espírito humanizado recebe o que realmente necessita e merece em cada segundo de sua vivência na Terra, em função do gênero de provas e expiações que o mesmo solicitou. Esse caso demonstra como a Apometria não vai de encontro aos ensinamentos contidos na Doutrina Espírita, como afirmam alguns espiritistas. Por mais difícil que seja esse momento de transição da Terra de “mundo de provas e expiações” para de “regeneração”, com resgates e expiações difíceis de serem compreendidos por nosso ego, a Lei de causa e efeito não foi abalada e continua regendo nosso cotidiano, onde temos o livre arbítrio, após a encarnação, de vivenciar nossas provas com amor incondicional (Bem) ou com egoísmo e orgulho (mal), mas não a de alterar os atos materiais já previstos em nosso “livro da vida”. Com base no que escrevemos acima, podemos concluir este capítulo afirmando que o Espírito não evolui, liberta-se! Ou seja, se o Espírito foi criado imagem e semelhança de Deus, ele nunca


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poderia ter sido criado impuro, ignorante, selvagem etc. Nesse sentido, também não existem Espíritos “superiores” ou “inferiores”, pois todos são iguais. O preto-velho pai Joaquim de Aruanda costuma utilizar uma metáfora. Os Espíritos puros seriam como lâmpadas de cem watts. Porém, humanizados, uns pareceriam brilhar mais que os outros. Essa diferença seria motivada pela sujeira que os envolve, em suma, seu vínculo ao ego. Porém, o leitor pode estar se perguntando: se o Espírito é perfeito e puro por que nos deparamos com tanto orgulho e egoísmo? Para responder a essa questão vamos imaginar, primeiramente, um escultor diante de uma coluna de mármore. Dentro daquela coluna está uma bela estátua de Apolo. E como o escultor vai “libertar” esta imagem? Esculpindo e lapidando a pedra até que a estátua fique pronta. Ou seja, ele não colocou a imagem dentro do mármore, mas foi, gradativamente, tirando o excesso de massa que nos impedia de contemplá-la. É isso o que acontece com o Espírito humanizado que vive nos chamados mundos de “provas e expiações”, os mundos nutridos pelo egoísmo, como é o caso atual da Terra. O Espírito puro e perfeito foi envolvido por um campo energético exterior a ele que chamamos aqui de ego. Ao longo das encarnações, o Espírito eterno e puro vai aprendendo a se libertar desse agregado sempre que usa a única ferramenta capaz de libertá-lo: o AMOR universal ou incondicional. Em outras palavras, ele não precisa evoluir, mas libertar-se do agregado que impede a manifestação de sua Luz divina, já que ele é a imagem e a semelhança de Deus. Viver com habilidade espiritual é deixar os atributos do Espírito presentes em sua vida cotidiana. Por isso, como enfatizamos, para a Animagogia não importa o ato exterior praticado pelo Espírito preso ao ego. Se nesse ato não houver uma intenção amorosa, não se usou a ferramenta necessária para arrancar mais um pedacinho desse agregado que o prende nos mundos de provas e expiações. Em suma, apenas o amor liberta o Espírito, não importando a forma como o mesmo vai se manifestar no mundo fenomênico. Por isso Jesus é considerado o caminho para a libertação do ego, pois vivenciou o amor universal em todos os seus atos, inclusive quando foi necessário expulsar os vendilhões do Templo.


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Nesse sentido, podemos nos perguntar: a Apometria é um tratamento para curar o Espírito? Se o Espírito foi criado puro e perfeito é sinal que não existe Espírito doente ou enfermidades nele. Em suma, o Espírito não necessita nem da Apometria e nem de outras técnicas como as essências florais, o reiki, a meditação etc. Mas só vamos compreender isso quando distinguirmos o Espírito eterno do ego, nossa consciência provisória criada para cada encarnação. Há um aforismo oriental, nas Upanishads, que nos ajuda a compreender essa distinção: Como dois pássaros dourados pousados no mesmo galho, o ego e o Eu, intrinsecamente ligados, coabitam; o primeiro ingere os frutos doces e azedos da árvore da vida; o segundo tudo vê em seu distanciamento. Em outras palavras, podemos dizer que durante a nossa vida humanizada só tomamos conhecimento das verdades criadas pelo ego. Os pensamentos, as emoções, as percepções e sensações que vivenciamos na Terra são criações do ego e não do Eu (o Espírito humanizado). Este apenas assiste a interpretação que o ego está encenando na Terra e pode, em função de seu livre-arbítrio, emanar AMOR ou não para o universo e demais Espíritos humanizados (também presos ao ego e vivenciando outros gêneros de prova). Mas quem está passando pelas vicissitudes negativas ou positivas da vida humanizada, ou seja, está se alimentando dos frutos doces e azedos da árvore da vida é sua consciência provisória que se chama Paulo, José, Maria, Pedro etc. A Apometria, neste contexto, não vai curar o Espírito ou a Individualidade que reencarna durante a fase humanizada, já que neles não há condições de surgir desequilíbrio ou qualquer tipo de desarmonia. O Eu superior ou a Individualidade, que chamamos de ser incorpóreo, vibra na Noosfera, acima da Psicosfera, e seria formado pelas dimensões energéticas ou vibratórias que a Teosofia identifica entre os “corpos superiores”: o búdico e mental superior. Enquanto vivenciamos a fase humanizada do Espírito estamos sempre predispostos a acreditar nas ilusões criadas pelo ego. Quando isso acontece é como se uma represa se formasse impedindo a descida da energia dos planos superiores. Assim, podemos deixar de amar universalmente, perdendo, também, nossa paz


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interior. Por acreditar nas sensações e percepções criadas a partir do mundo ilusório, nossa consciência provisória pode criar apegos ou aversões aos fatos materiais, sentimentais ou culturais da vida humanizada, e nos impedir de amar incondicionalmente. Este processo desarmoniza os corpos “inferiores”: o físico, o duplo etérico, o astral e o mental inferior, utilizando aqui a nomenclatura da Teosofia. Daí a Apometria ser um útil instrumento para ajudar o Espírito desencarnado a se desligar dessa ilusão e a resgatar sua paz interior e felicidade, já presentes em sua essência, além de sua consciência humanizada plena, necessária para que possa escolher outro gênero de provas.


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CAPÍTULO 3 ANIMAGOGIA E ESPIRITISMO: UM ESTUDO COMPARATIVO NO ÂMBITO DAS CIÊNCIAS DO ESPÍRITO

A Animagogia, como já salientado, é hoje considerada uma cosmovisão que apresenta uma interpretação sobre o Homo spiritualis, em outras palavras, que compreende que somos Seres espirituais passando por experiências humanizadas. E neste capítulo vamos abordar alguns ensinamentos básicos da doutrina espírita e compreender como os mesmos são tratados na ótica da Animagogia, pois ainda há pessoas que confundem as duas perspectivas. O enfoque da Animagogia, proposto originalmente em 2003, ainda é muito recente e pode ser classificado no campo do Universalismo espiritualista, que engloba também o Espiritismo, sem negar outras abordagens psicosóficas. Em alguns momentos, os ensinamentos do Espiritismo e da Animagogia são os mesmos ou complementares. E vamos começar este estudo comparativo pela pergunta que abre O livro dos Espíritos: o que é Deus? A resposta transmitida pelo Espírito Verdade parece simples, mas dá margem para muitas interpretações: “é a inteligência suprema e causa primária de todas as coisas”. Encontramos diferentes interpretações para esta resposta em livros espiritistas. Em alguns casos, os interpretes consideram a expressão “inteligência suprema” como onisciência e “causa primária de todas as coisas” como sinônima de onipotência. Alguns interpretam que Deus criou o Universo e suas leis e se retirou do mundo deixando o Espírito “evoluir” através de seu livre-arbítrio. Porém, apesar das discussões calorosas para se compreender Deus, o próprio Espírito Verdade afirma na questão 10 de O Livro dos Espíritos que os encarnados não possuem o sentido necessário para compreender Deus e, na questão 14, que o mais importante


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seria aceitar que Deus existe, mas deixar de lado qualquer sistema; e que o ideal seria nos preocuparmos com as nossas imperfeições, ao invés de querer penetrar no que é impenetrável. Na Animagogia, Deus também é pensado enquanto “inteligência suprema e causa primária de todas as coisas”. E, neste caso, tanto das coisas que nos agradam como também daquelas que nos desagradam. E as coisas que nos desagradam seriam criadas por Deus não para nos punir ou como castigo, mas apenas para que aprendamos a purificar o coração, amando incondicionalmente. O mesmo ensinamento se encontra no Tao Te Ching, no qual Lao Tsé afirma que ser benevolente com os amigos é fácil. O importante é ser benevolente com todos. Ou seja, na Animagogia, ao se compreender que Deus é a “causa primária de todas as coisas”, procura-se parar de julgar ou de culpar outro ser humanizado (seja este encarnado ou desencarnado) pelo que nos acontece. Da mesma forma, o orgulho e a vaidade também devem ser deixados de lado quando se compreende que tudo aquilo que conquistamos na vida (casa, emprego etc.) também foi o fruto da “causa primária”. Da mesma forma, ter essa compreensão seria importante para deixarmos de lamentar ou de nos fazer de vítimas quando algo que não está de acordo com a nossa vontade acontece. A Animagogia enfatiza que ao invés de acusar o governo, a religião rival, os pais, o bandido etc. de não terem feito a coisa “certa”, já que Deus seria a “causa primária de todas as coisas”, enfatiza o valor do perdão, de não se ofender e compreender que a pessoa que nos fez algum “mal”, não deixou de ser um instrumento nas mãos de Deus, mesmo que inconscientemente. Este ensinamento da Animagogia vem ao encontro do que também ensinava Mahatma Gandhi. Este, por exemplo, costumava dizer que Deus estava em todas as coisas, tanto na arma de um bandido, como no bisturi de um médico, mas quem mataria ou salvaria uma vida seria Deus e não o bandido ou o médico. Esses seriam instrumentos da qual Deus se utilizaria para fazer com que cada um apenas receba o que necessita e merece, respeitando o livre-arbítrio exercido na escolha do gênero de provas pelo ser incorpóreo. Nesse sentido, ninguém morreria antes da hora, o que também é ensinado pela Doutrina Espírita na questão 853 de O livro dos


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Espíritos. Mas é comum encontrar espiritistas afirmando o contrário, ou seja, que alguém poderia tirar a vida encarnada de outro ser humanizado antes da hora, interpretando a frase “somente Deus teria permissão para tirar a vida de alguém” não de forma absoluta como faz a Animagogia. Ou seja, para a Animagogia, quando o Espírito Verdade diz para Kardec essa frase, significa que ninguém consegue cometer essa ação se não houver a permissão divina e não que a pessoa que faça isso esteja cometendo um “erro”, pois estaria entrando em contradição com a Lei maior. A Animagogia, assim como as principais correntes hinduístas, compreende que há uma fatalidade nos atos materiais. Como no exemplo acima, a arma de um bandido, em tese, só vai “matar” alguém se estiver na hora daquela pessoa morrer e o médico vai “salvar” aquele paciente que ainda precisa permanecer encarnado, pois sua hora de partir da Terra ainda não teria chegado. E, não importando se um ato é “positivo” ou “negativo”, para que ele aconteça se faz necessário um instrumento. Assim, a justiça divina, segundo tais Psicosofias, aconteceria a cada segundo, onde cada um receberia o que necessita e merece, de acordo com o “gênero de provas” escolhido antes de encarnar ou em função do aprendizado que deseja vivenciar. E com base em outras respostas fornecidas pelo Espírito Verdade a Kardec, a Terra é um mundo de intencionalidade e não de ação. Frequentemente, o Espírito Verdade responde para Kardec que Deus julga a intenção e não os fatos (como acontece na questão 747). Curiosamente, hoje em dia, com o esfacelamento da crença positivista na materialidade do mundo, e com a ciência holonômica aceitando que a realidade material seria uma forma de matrix ou de projeção de um mundo implícito, sendo, essencialmente, um campo de vibrações energéticas, alguns pensadores já começam a aceitar que sobra como Real apenas a intenção, ou seja, a atitude e os sentimentos com os quais esse “mundo ilusório” ou maya, segundo os hinduístas, será vivenciado por nós. Mas vamos aprofundar essa questão adiante ao abordar o livre-arbítrio na ótica da Animagogia. Dentro desta perspectiva, para a Animagogia, o Bem significa a vivência do amor universal, enquanto o “mal” é o agir motivado pelo egoísmo. Essa também é a perspectiva dos ensinamentos de


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Krishna para Arjuna na Baghavad Gita e de Lao Tsé no Tao Te Ching. E esta deveria ser a visão espiritista, uma vez que, o chamado Espírito Verdade afirma que o maior dos males da humanidade é o egoísmo, na questão número 913 de O livro dos Espíritos. Assim, não deveria importar a forma material como o egoísmo se manifesta, mas cortar esse mal pela raiz. Porém, é importante salientar que na Animagogia o Espírito não é egoísta e nem o ser incorpóreo (alma humanizada). O egoísmo está na personagem criada para mais uma aventura encarnatória. O ego seria um agregado ao Espírito e a prova deste consiste em ser mais forte que aquele, não se deixando levar ou se iludir pelas verdades relativas do ego. Obviamente que o Espírito, em sua fase humanizada, enquanto não possui muita experiência de vida, cede com mais facilidade às tentações do ego e não passa na prova escolhida, solicitando novas encarnações. A Animagogia, assim, enfatiza que a intenção é o que importa e não os fatos, centrando suas práticas espiritualistas contra o egoísmo e não em seus “efeitos” (aborto, assassinato, vícios etc.), deixando a causa livre para se manifestar por outros caminhos. Para a Animagogia, uma lei humana pode até proibir o aborto, o uso de armas etc., mas o egoísmo continuará a se manifestar enquanto ele for o sentimento predominante na Terra. Em outras palavras, os atos exteriores não são “bons” ou “maus” em si mesmos, pois são criados pela “lei de causa e efeito”, mas para o ser humanizado encarnado ou desencarnado o que conta sempre é a intenção como eles foram vivenciados. Por exemplo, um prato de comida pode ser dado para quem passa fome tanto com amor ou com egoísmo (desejo de aparecer, de se mostrar caridoso etc.). E como “causa primária de todas as coisas”, Deus (e aqui não importa o que é Deus e como Ele age) já saberia, antecipadamente, quem daria o prato de comida e quem receberia, mas nos deixaria sempre livre para escolher a intencionalidade, o sentimento com o qual vivenciaremos aquele ato: o amor ou o egoísmo. Para a Animagogia o Bem e o “mal” não se encontram no mundo exterior, pois este seria criado por Deus, a “causa primária de todas as coisas”. Na questão número 04 de O Livro dos Espíritos, o Espírito Verdade responde para Kardec que se procurarmos a causa de tudo o que não seja obra do homem encontraremos Deus. E o que o homem pode fazer como co-criador do Universo?


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A resposta, na ótica da Animagogia, é a seguinte: Se Deus é a causa primária de todas as coisas, isso é para não acontecer injustiças. Se coubesse ao ser humanizado encarnado criar os atos materiais, não haveria respeito ao livre-arbítrio exercido antes da encarnação. Assim, ao ser humanizado encarnado cabe emanar a essência energética de toda criação. Em suma, emanar sentimentalmente amor ou não-amor em seus atos. Aquele que emana energia amorosa será o escolhido para ser o instrumento daquele que merece receber amor e aquele que emana energia egoísta será também o escolhido para levar essa energia para quem, por “carma”, merece recebê-la. Assim, estaríamos a cada momento, a cada segundo, recebendo a energia que merecêssemos naquele exato momento para não haver injustiças. Mas teríamos também o livre-arbítrio para plantar aquilo que será colhido merecidamente no futuro. Ou seja, a cada segundo da existência humanizada e encarnada estamos colhendo e plantando simultaneamente. O mundo material é como a ponta de um imenso iceberg ou, como ensina a Animagogia, o palco onde acontece a encenação, sem que possamos ver ou interagir com o que os contrarregras estão fazendo atrás do palco para que o espetáculo aconteça perfeitamente. Em outras palavras, se não podemos mudar o que acontece hoje conosco, poderíamos mudar o que vai acontecer no futuro. Para tanto seria necessário mudar o nosso padrão energético ou sentimental no presente, nos atos que acontecem nesse exato momento. Mudando a energia mantenedora de todos os atos e acontecimentos, que constituem a parte oculta de um iceberg, alterase também a parte visível. Um exemplo para ilustrar esse ensinamento é o seguinte: uma pessoa que “atrai” sempre um tipo de parceiro. Quando isso acontece, significa que um ensinamento está presente. E não importa quem seja o ser humanizado com que vai se relacionar, todos terão aquele mesmo padrão de comportamento. Porém, quando a pessoa muda interiormente, aquele padrão deixa de ser necessário. É como se tivesse passado de fase em um videogame. A partir daquele momento começam outras provas, provavelmente mais difíceis e outras pessoas passam a ser “atraídas” para aquele novo cenário, com outro padrão de comportamento.


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Além dos ensinamentos do Espírito Verdade, que formam a base da doutrina espírita, enfatizando que é a intenção que Deus julgará e não os fatos, pensamento compartilhado pela Animagogia, encontramos um ensinamento similar na Bíblia, em Provérbios 16.9, onde se lê: “o coração do homem traça o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos”. Ou seja, em função do sentimento emanado pelo coração (ser humanizado encarnado), Deus criaria os atos materiais necessários. Assim, a pessoa que emana amor, teria essa energia sentimental canalizada por Deus para quem merecesse recebê-la; e aquele que emana ódio também teria essa energia direcionada por Deus para quem também a merecesse. E para a Animagogia, nesse caso, em nenhum momento Deus estaria castigando, mas apenas fazendo “justiça”, uma vez que, em tese, tudo aquilo que emanamos para o Universo tem que voltar necessariamente para nós. Ou como afirmou Paulo: a “plantação é livre, mas a colheita obrigatória”. Assim, para a Animagogia, cada um só recebe, a cada segundo, aquilo que “necessita e merece”, a partir da energia (sentimento) que emanou de seu coração. Essa seria a interpretação animagógica para os chamados “resgates cármicos”, pois só existiria uma única Vida, a do Espírito, mas esta se processa ao longo de várias fases e, na fase humanizada, através de várias encarnações, cada uma com uma personagem criada voluntariamente visando um aprendizado ou provar, a si mesmo, e a mais ninguém, que seria possível vencer a materialidade do mundo, ou seja, o ego. E, segundo a Animagogia, também uma energia não amorosa emitida em outra existência poderia voltar para o mesmo Espírito na atual. A colheita seria sempre obrigatória, não importando o momento em que ela ocorre. Não existiria, assim, a ideia de acaso em nossas existências na Terra, que ainda seria um “mundo de provas e expiações”. E cada país, com suas características naturais e culturais, é um palco para determinadas provas, semelhante a uma quadra esportiva. Da mesma forma que não se joga basquete em uma quadra de vôlei e vice-versa, necessitando, cada esporte, de uma quadra adequada, o mesmo aconteceria para a provação do ser incorpóreo. De acordo com a provação escolhida, um ou outro país se torna o mais adequado para tal prova.


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Por isso, colocar amor ou não em nossos atos é o papel que caberia a nós na co-criação do “mundo ilusório” ou da Matrix na qual estamos vibrando com nosso corpo físico e nosso ego, lembrando que o corpo físico é uma projeção do ego, da personalidade criada para mais uma encarnação. E todo o resto seria o fruto do trabalho de Deus, que não sabemos o que é e como age, mas que não para um só segundo de criar, apesar de não assinar nenhuma de suas obras, nos dando o livre-arbítrio para pensar que somos um instrumento para a prova do outro ou se somos os responsáveis por aquela ação, independente de qual seja, estimulando em nós o orgulho ou a vitimização. Em suma, compreender que Deus é a causa primária de todas as coisas, seria, para a Animagogia, aceitar que nossos atos sempre serão guiados por Deus para que cada um possa receber sempre, a cada segundo, o que necessita e merece, positiva ou negativamente. E seríamos sempre um dos instrumentos necessários para Deus criar a “prova” ou a “expiação” de outro ser humanizado encarnado. Mas, por existir o livre-arbítrio, teríamos sempre a opção de escolher ser um “instrumento amoroso” ou não, de acordo com a intenção que manifestarmos em nosso coração. Aquele que tem a intenção de ajudar o próximo será levado até aquele que precisa de ajuda. Da mesma forma, aquele que deseja prejudicar o próximo, também será um instrumento para aquele que necessita, por “razões cármicas”, ser prejudicado, naquele momento. Por exemplo, um ladrão sai de casa com a intenção de roubar. Mas a vítima, por alguma razão, precisava passar por aquela experiência, seja para aprender sobre o desapego ou outro aprendizado qualquer. Neste exemplo, a vítima colheu o que plantou e o ladrão, apesar de ter sido um instrumento para o carma negativo de alguém, colherá no futuro os frutos dessa ação, não pelo ato em si, mas pela intenção. Para se libertar dos “carmas negativos” que estão sendo processados e que nos aguardam no futuro, é necessário mudar no presente o sentimento emanado. Para “enxugar o carma” haveria, segundo a Animagogia, apenas dois caminhos: o suor do amor ou as lágrimas da dor. Nesse sentido, não adiantaria nada lamentar o ato que acontece agora, neste exato momento. Seja ele positivo ou negativo, é o que tinha que ser. Não tinha como ser diferente.


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Mas, a partir da energia emanada nesse momento, uma ação material (carma) estaria sendo processada para acontecer no futuro. Em outras palavras, dentro desse ponto de vista, uma enfermidade que atinge hoje o corpo físico devido a um tipo de pensamento ou emoção pode desaparecer amanhã se aquele mesmo pensamento ou emoção se extinguir ou for trocado por outro mais amoroso diante da existência. O preto-velho pai Joaquim de Aruanda, em uma de suas palestras públicas, afirmou que Deus já sabe o que acontecerá conosco nos próximos 5 mil anos. É como se um destino já estivesse sendo traçado por nossas intenções, seja individual ou coletivamente, e vai se refletir em nossas futuras encarnações humanizadas, até que essa fase seja vencida. Para ilustrar o ensinamento acima, vamos exemplificar com um atendimento de Apometria para um senhor que é ortopedista e cujo irmão faleceu com quase todos os ossos do corpo quebrados. Este parecia ter os ossos de vidro de tão frágeis. Na sessão apareceu a seguinte informação: ambos, em uma vida passada, trituravam os ossos de seus inimigos. Não ficou claro se era em guerra ou outra situação. Porém, entre os dois havia uma diferença. Enquanto um já tinha um amadurecimento para “pagar” essa “dívida cármica” com amor, consertando ossos, o outro ainda precisava pagar pela dor, sentindo na pele, ou melhor, nos ossos, o que fez com outras pessoas. É como se a lei mosaica e a lei cristã andassem juntas. Aquele que precisa passar pelo “olho por olho, dente por dente” para aprender uma lição, passará. E aquele que tem condições de fazer o trabalho oposto para pagar seus débitos também. É o caso do ortopedista atendido na Apometria. Em outras palavras, para a Animagogia, por trás de toda ilusão material, não existiria o “certo” ou o “errado”, mas apenas o fluxo da justiça e da sabedoria providencial se manifestando tanto nas menores como nas maiores coisas, numa ação contínua, mesmo quando não conseguimos perceber ou conceber tal Realidade, pois nos faltaria, como afirma também o Espírito Verdade, na questão 10 de O Livro dos Espíritos, um sentido para compreendermos a natureza íntima de Deus e como Ele agiria nos bastidores da vida humanizada encarnada e também desencarnada, na qual as práticas animagógicas também atuam, por exemplo, através das técni-


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cas apométricas, uma de suas principais práticas complementares de saúde. Neste caso, sempre se procura enfatizar que mesmo não tendo como se livrar de uma possível fatalidade, sempre temos o livre arbítrio para passar por ela com amor ou com revolta; com benevolência e perdão ou com o desejo de vingança. A liberdade moral está sempre presente em nossas vidas, afirma tanto a doutrina Espírita como a Animagogia. E aqui reside o verdadeiro sentido do livre-arbítrio. A fatalidade só existe nas provas materiais. Assim, ninguém está fadado a uma existência apenas de infelicidades, uma vez que a felicidade é um atributo do Espírito e este pode escolher ser feliz, mesmo diante de uma vicissitude negativa. Enfim, como afirmam vários pensadores: “experiência não é o que acontece conosco; mas o que fazemos com aquilo que acontece conosco”. É por isso que nos atendimentos de Animagogia com os seres humanizados, encarnados ou desencarnados, sempre se enfatiza que são trazidos para os atendimentos aqueles que merecem o socorro e a equipe que atende só faz aquilo que deve ser feito, ou seja, são também instrumentos. Só é possível resgatar do Umbral, por exemplo, um ser desencarnado que já tenha merecimento. Daí a necessidade de sempre emanar amor e não se contaminar com as ilusões egoístas de achar que está curando ou fazendo algo grandioso, o que abriria brechas para a fascinação e o orgulho. E essa confiança nos “desígnios de Deus” aumenta, segundo a Animagogia, quando se compreende que só há dois elementos gerais no Universo, o assunto do capítulo II de O Livro dos Espíritos, principalmente, a partir da questão 27. Um deles é o princípio material, o chamado “fluido cósmico universal”, hoje em dia chamado também de “energia cósmica universal” ou “energia escalar”, segundo Tesla. O outro elemento, em tese, é formado pelo princípio inteligente do universo, de onde se originariam os Espíritos. E, acima de tudo, Deus, o criador de todas as coisas. Este ensinamento espírita costuma ser interpretado como dualista, pois haveria dois elementos: o que origina a matéria e o que origina os Espíritos. Porém, Deus é o criador de ambos, logo, esse dualismo é relativo, porém, importante. Esse dualismo faz com que o Espiritismo se aproxime do racionalismo cartesiano e se


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afaste das abordagens próprias do empirismo e do idealismo filosófico que voltou à moda nas últimas décadas. Para o empirismo, de forma geral, a matéria é real e a vida surgiu por acaso. Todos nós nasceríamos como uma tabula rasa e através das percepções captadas pelos sentidos, o cérebro seria impressionado. As ideias ou o pensamento seriam frutos de tais percepções impressas no cérebro. O empirismo é uma filosofia eminentemente materialista, daí afirmar que a consciência é um epifenômeno do cérebro e vai desaparecer com a morte. Por outro lado, o idealismo é radicalmente oposto. Vai postular que a matéria é uma projeção da consciência. Assim sendo, tudo o que pensamos se transforma em realidade. Essa filosofia que foi praticamente destroçada pelo positivismo, no século XIX, voltou com força nas últimas décadas junto com uma interpretação equivocada da Física Quântica. No campo espiritualista, o pensamento idealista se manifesta nos livros do suposto Espírito Saint Germain. Este chega a afirmar que é possível, pelo poder da mente, dormir em um corpo de um homem negro africano e acordar no corpo de uma mulher loira e alemã ou que seus adeptos não precisam frequentar academia para ficar “sarados”. Bastaria pensar para ter o corpo que desejam. Os idealistas também afirmam que o ser humano só não voa porque não acredita. Bastaria pensar para sair voando. Ou que o veneno só mata quem acredita. Como salientamos, o Espiritismo se aproxima do racionalismo cartesiano, compreendendo que há uma separação entre o Espírito e a matéria. Durante a encarnação é quase impossível separar o que provém de um e de outro, afirma Descartes, mas seria um fato a sobrevivência do Espírito após a morte física. Através de seu método, Descartes vai concluir que Deus existe, o Espírito existe e a matéria também existe. Dessa forma, ele rompe com o empirismo para quem o Espírito seria uma ilusão dos sentidos e também com o idealismo, para quem a matéria não passaria de uma projeção mental. Para a Animagogia, a matéria existe e tem uma finalidade providencial: ser o palco para as provações do Espírito. Mesmo que ela não tenha substancialidade e nem seja permanente, como afirma o Budismo, e de certa forma a Física Quântica, não basta pensar para separar o hidrogênio do oxigênio em uma molécula


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de água, por exemplo. Mas existe uma relação intima entre o Espírito e a matéria, uma vez que diversas enfermidades podem surgir e desaparecer com a força do pensamento e dos sentimentos. Nessa troca constante entre as forças do Espírito e a matéria, surge o trabalho humano de transformação da natureza e de construção de cidades, por exemplo. Mas tudo isso não acontece de forma casual. Há um planejamento transcendental para a “evolução” de cada Orbe, de acordo com o objetivo de cada um. A Terra, por exemplo, ainda é considerada no meio espiritualista como de “provas e expiações”, que são mundos onde a energia que a nutre é o egoísmo. Daí a prova para o Espírito humanizado que encarna nestes mundos ser vencer o ego, vencer o egoismo predominante. Quem consegue vencer a prova se habilita para viver nos mundos “superiores”. Em resumo, se fosse possível nos desligar momentaneamente dos órgãos de percepção que criam as formas materiais e as sensações, por exemplo, deixaríamos de enxergar todos os objetos que nos rodeiam e os ditos espaços vazios, para “enxergarmos” apenas a energia cósmica ou escalar. Essa já é uma hipótese aceita pela ciência materialista, após a famosa descoberta de Albert Einstein: E=MC² (energia é igual a massa vezes a velocidade da Luz ao quadrado), ou seja, que a matéria não passaria de “energia coagulada”. Como salientamos, hoje em dia, a ciência acadêmica já aceita que a energia é a base de toda matéria que existe, não importando a forma como ela se manifesta. O Espiritismo, porém, vai além dessa hipótese e afirma que imersos nesse campo energético se encontram os Espíritos, tanto os encarnados como os desencarnados. E acima de tudo, Deus. A única diferença neste ponto entre o Espiritismo e a Animagogia é que está vai, dentro de uma perspectiva holonômica, apresentar quatro dimensões. O chamado Espírito não encarna e nem desencarna. Ele permaneceria vibrando em sua dimensão real, chamada didaticamente de Logosfera. Quem encarna é a Alma humanizada ou o Ser incorpóreo. Este vibraria em outra dimensão chamada de Noosfera, que deriva da anterior. Por sua vez, essa alma humanizada ou Individualidade, é que vai criar uma personagem para vivenciar na Terra e encarnar. E tanto o Espírito como a alma não adoecem. No máximo, ficam ador-


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mecidos durante a encarnação, sem que sua energia “desça” ou inunde as dimensões inferiores, a mental (Psicosfera) e a física (Biosfera). Uma metáfora utilizada na Animagogia é uma recorrente no Hinduísmo. Nela encontramos uma carruagem ligada a dois cavalos. Segurando uma rédea, o cavaleiro conduz a carruagem. Esta representa o corpo físico. Ela está ligada ao ego, representada pelos dois cavalos: os pensamentos e as emoções. Se o cavaleiro que representa o Espírito se ausentar, quem conduzirá a carruagem será o ego. As rédeas representariam a alma humana que pode estar mais forte ou fraca, de acordo com a energia que vem do Espírito, o verdadeiro condutor. Em suma, o corpo é alimentado pelo ego (pensamentos e emoções). Mas o ego pode ser dominado pela alma (o ser humanizado), que direciona o caminho a seguir. E a energia que abastece a alma vem do Espírito, algo que é a imagem e a semelhança de Deus, e que não é humana, mas se humaniza. Os atributos do Espírito são o amor universal, a felicidade incondicional, a paz interior, a vontade etc. Esses atributos nunca deixam de existir, apenas podem deixar de se manifestar, como se estivessem represados em algum local, uma espécie de muralha da China ou de muro de Berlim entre o ego e a Alma. Para a Animagogia, a vontade, o pensamento, a imaginação, a felicidade e a capacidade de amar são, como salientado acima, atributos dos Espíritos. Assim, eles só precisam ser despertados para inundar a vida cotidiana do ser humanizado e encarnado. A Animagogia apresenta o conceito de “habilidade espiritual”, que seria a capacidade de vivenciar a vida humanizada do Espírito, seja enquanto desencarnado (na Psicosfera) ou de encarnado (na Biosfera), através dos atributos do Espírito. Viver com habilidade espiritual a vida humanizada é o caminho para vencer o ego. De forma geral, tanto a Psicosfera como a Biosfera que nos rodeia, incluindo as florestas, as construções e o nosso corpo físico não passariam de “miragens” em um cenário uniforme de energia cósmica. E isso se torna evidente, na questão 32, quando Kardec pergunta: “diante disso, os sabores, os odores, as qualidades venenosas ou salutares dos corpos não seriam mais que as modificações de uma só e mesma substância primitiva?” E a resposta do Espírito


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Verdade é: “sim, sem dúvida, e que não existem senão pela disposição de órgãos destinados a percebê-los”. Então podemos compreender que o Espírito Verdade transmitiu para Kardec ensinamentos budistas, com outras palavras, obviamente, e que também estão na estrutura metafísica da Animagogia, lembrando que Buda, há mais de dois mil e quinhentos anos, ensinava aos seus discípulos que o ego é composto por cinco atributos responsáveis pela criação do mundo material ilusório. O ego seria uma espécie de consciência provisória responsável em fazer com que o Espírito encarnado tivesse percepções de algo que, na essência, não existe: os sabores, os odores, as formas materiais, as sensações, etc. O problema disso tudo é que essa Matrix é a causa do nosso sofrimento, pois nossa tendência é a de se apegar àquilo que consideramos agradável, querendo que tal situação permaneça eterna; ou ter aversão a tudo que acreditamos ser desagradável, esquecendo que até as vicissitudes negativas da vida também não são permanentes. E o Espírito Verdade ensina que “tudo está em tudo” (questão 33), concluindo que o “Bem” e o “mal”, o “belo” e o “feio” existem dentro de nós e não fora, onde tudo não passa de ondas e vibrações energéticas. Para a Animagogia, apesar da matéria existir e ter uma finalidade providencial, ou seja regras para o seu funcionamento, ou seja, as lei naturais, ela existe na forma como nosso ego foi programado para decodificar a manifestação da energia cósmica universal. Por exemplo, pai Joaquim de Aruanda, um preto-velho que faz palestras em centros espiritualistas e também na internet, costuma afirmar que existem as decodificações coletivas (caso contrário um enxergaria mesa onde o outro enxergaria cadeira, apesar dessa ilusão ser facilmente estimulada com a hipnose, como já tivemos condições de verificar em experiências com essa técnica) e as decodificações individuais (fruto do gênero de provas que cada um escolheu para passar), o que vai fazer com que uns não tenham medo de sangue e outros desmaiem ao ver o menor sinal desse líquido, por exemplo. E o Espírito Verdade, na questão 22 de O Livro dos Espíritos, afirma que existe matéria em estados que não percebemos. Ou seja, existiria matéria que não produziria nenhuma impressão em nossos sentidos. Enfim, essa seria a razão para não enxergamos a


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vida em outros planetas do sistema solar, por exemplo, e também os “corpos astrais” dos seres humanizados desencarnados que nos rodeiam e interferem em nossa vida, quando há permissão. A chamada quarta dimensão ou mundo astral, que aqui identificamos como Psicosfera, onde vibram os corpos dos desencarnados, engloba a terceira dimensão e praticamente é um mundo só, devido à interação profunda entre elas. Vou narrar um sonho para melhor esclarecer essa relação entre a Biosfera e a Psicosfera. Eu sonhei que entrava em meu quarto e via um baú dentro dele. Era um baú de madeira. Achei estranho aquele objeto dentro do quarto e ele me chamou tanto a atenção que, ao acordar, lembrei-me do sonho. Em uma reunião mediúnica, contei o sonho para o pai Joaquim de Aruanda e ele me disse que tinha um baú dentro do meu quarto. Curioso, perguntei o que ele fazia lá. E a resposta foi a seguinte: nele estão guardadas as energias de sua antiga companheira. Isso me intrigou ainda mais e perguntei se não tinha como tirá-lo de lá. A resposta dele foi afirmativa. Três dias depois, tive outro sonho. Eu estava em minha casa e a campainha tocou. Minha mãe foi atender e gritou que o pai da minha ex-companheira tinha vindo buscar as coisas dela. Nisso, ele entra pela porta, passa por mim e se dirige para o quarto. Depois volta com o baú nos ombros e vai embora. Detalhe: ele já era falecido quando o sonho aconteceu. A Animagogia, fundamentada em um ponto de vista holonômico, ou seja, que o mundo explícito deriva de um mundo implícito, considera ser ingênuo acreditar que a realidade consiste somente naquilo que o nosso “olho” é capaz de enxergar. Nessa perspectiva, o olho apenas recebe luz, pois quem cria as imagens que vemos é o cérebro a partir de determinadas condições. O cérebro é um redutor de realidade, pois deixa de considerar outras informações sonoras, visuais ou olfativas que estão no espaço. Alguns videntes que enxergam o mundo astral ou a chamada “quarta dimensão” descrevem essas realidades que são capazes de nos influenciar, sem que percebamos sua presença. Outros, como no meu caso, dependem dos sonhos e da meditação para interagir com ela. Mas a diferença entre a terceira e a quarta dimensão, ou entre a Biosfera e a Psicosfera, é apenas de grau. A Animagogia não


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considera como Transcendente a Psicosfera. Transcendente seria o mundo a partir da quinta dimensão, da Noosfera. Por não ser uma realidade transcendente, seria possível interagir com mais consciência com os seres desencarnados ao relaxar as ondas cerebrais ou entrando em “estado alfa”. A quarta dimensão engloba a terceira e é por isso que a mediunidade é possível. A mediunidade é sempre entre os espíritos humanizados encarnados e os desencarnados. Para acontecer necessita do perispírito. O ser incorpóreo, a Individualidade que vibra na Noosfera, não tem perispírito. Ele pode se comunicar conosco por intuição, sonho ou outra forma não racional, até porque uma parte nossa vibra também naquela dimensão, justamente a que escolhe os gêneros de prova. Portanto, por mais maravilhoso que seja o cérebro humano, esse pedaço de carne que não passa também de energia cósmica em sua essência, teria sido programado por Deus, a causa primária de todas as coisas, para decodificar algumas ondas visuais, olfativas e sonoras que criam aspectos da realidade e não a Realidade. Em suma, o cérebro seria um redutor de realidade; seria como um transformador que faz com que a energia que sai de uma usina hidrelétrica chegue até nossas casas com apenas 110 volts. Assim, muitas ondas visuais, olfativas, sonoras etc. estão no universo, mas não sensibilizam o cérebro e não se tornam reais para nós. Porém, algumas pessoas, chamadas de sensitivas e também os médiuns, seriam capazes de interagir com algumas dessas vibrações. Estes enxergam e até ouvem o que os desencarnados que nos rodeiam falam. Aqueles que não sabem lidar com essa situação paradoxal são facilmente rotulados de esquizofrênicos. Por isso, presos ao ego, nós acreditamos que a forma como a vida é vivenciada na Terra é a única realidade possível no sistema Solar e no Universo, esquecendo que essa “realidade” foi programada para a experiência humanizada e encarnada que deve ser aqui vivenciada. E como o nosso cérebro só consegue processar determinadas ondas energéticas e não todas as que existem, se nada enxergamos em outros planetas e nem mesmo os seres humanizados desencarnados que nos rodeiam é porque nosso ego não foi programado para criar tais percepções. O Espiritismo afirma que os Espíritos, na questão 23 são impalpáveis. Para nós, encarnados, eles não são nada. E na questão 88


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encontramos a informação de que eles variam de cor, do escuro ao brilho do rubi. A Animagogia concorda com essa colocação, mas afirma que essa cor se refere ao Espírito humanizado, ou seja, a alma, a Individualidade que reencarna. O Espírito mesmo, que não é humano, estaria em uma dimensão acima. Além disso, a Animagogia ensina que existe um único mundo, e este é dividido em diferentes dimensões energéticas de forma holográfica, ou seja, o menor contém o maior ou, como se diz mais popularmente, a parte contém o Todo. Nesse sentido, tudo é espiritual. Não existiria um mundo material de um lado e outro espiritual de outro. Tudo deriva do mundo espiritual. Tudo provém do maior para o menor. Partindo da nossa perspectiva como seres humanizados encarnados, não vemos os seres humanizados desencarnados, mas estes nos rodeiam, enxergam o que fazemos, sabem o que pensamos etc. Eles vibram na quarta dimensão que foi chamada de Psicosfera. Mas estes podem estar ainda iludidos pelo ego e por isso não interagem de forma consciente com os seres incorpóreos, ou seja, com o ator, com a Individualidade reencarnante que vibra na Noosfera, a dimensão acima da quarta e que, conforme vai adquirindo mais experiência e sabedoria, muda de cor, indo do escuro ao brilho do rubi. Ao atingir a última fase desse videogame chamado vida humanizada, vence essa fase e pode se preparar para a fase seguinte do Espírito, que é chamada de Angelical. Na questão 87 de O Livro dos Espíritos, fica evidente que os desencarnados estão por toda a parte e há aqueles que estão ao nosso lado nos observando e atuando sobre nós. Além disso, como encontramos na questão 91, do mesmo livro, a matéria não constituiria obstáculo a eles, que seriam capazes de penetrar em tudo: o ar, a água e mesmo o fogo lhes são igualmente acessíveis, informação também presente, por exemplo, no clássico Bhagavad Gita. Em suma, o mundo material seria o que os orientais chamam de maya. Ou seja, uma espécie de ilusão ou uma miragem criada por Deus para que nossas “provas e expiações” possam acontecer enquanto permanecermos como seres humanizados encarnados, pois, como afirma a questão 85, o “mundo espírita”, ou seja, o mundo dos Espíritos, pré-existe e sobrevive ao mundo material.


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Uma metáfora que costumo usar é a do “Big Brother”. Nós, os seres humanizados encarnados, estaríamos confinados na “casa”, enquanto os desencarnados acompanham tudo o que fazemos, para o “Bem” ou para o “mal”. Ou seja, nada poderia ser feito do “lado de cá” sem que ninguém ficasse sabendo. Enfim, nada passaria de forma impune pelo olhar crítico ou compreensivo dos desencarnados. Mas estes também estão sendo observados por outros que se encontram em uma dimensão acima, a Noosfera, muitas vezes, sem essa noção. Daí acreditar que podem escravizar ou interferir na vida de outros desencarnados ou de encarnados, sem que houvesse a permissão para isso. Até os desencarnados são instrumentos da ação divina, mesmo não tendo essa consciência. O que só vai acontecer quando a Individualidade desperta. E, o que é mais importante, mesmo em uma encarnação não aproveitável, a individualidade apenas perde tempo. Jamais se degenera. Ela pode estacionar, mas nunca retrogradar, afirma a questão 118. Ou seja, mesmo que não dê nenhum passo em direção à cor do rubi, não tem como voltar à condição de sombra. E Deus, a causa primária de todas as coisas, amaria a todos do mesmo modo, inclusive os “extraviados” (questão 126). Essa também é a Psicosofia de Krishna, presente no clássico Baghavad Gita, e da Animagogia. De certa forma, essa concepção faz com que alguns espiritualistas consigam ser benevolentes e perdoam os “algozes”, uma vez que, pela lei de “causa e efeito”, estes serão as “vítimas” de amanhã, assim como aquele que hoje sofre “exclusão” ou tem seus “direitos” desrespeitados, deve ter sido o “algoz” de alguém no passado. Enfim, quem acredita nesse movimento da “justiça divina”, manifesto na Lei de causa e efeito, tende a integrar e amar também o “inimigo”, processo defendido por Jesus, mas que é muito mais fácil de ser praticado por quem acredita em vidas sucessivas do que para aquele que acredita em uma única existência. Esse ensinamento de amar o inimigo, ou aquele que faz aquilo que consideramos errado deve ser colocado em prática nos atendimentos de Animagogia com os seres humanizados desencarnados, uma vez que são estes que são trazidos para serem socorridos. Não é aquele que amou durante sua encarnação que é trazido, mas aquele que agiu de forma egoísta, que desrespeitou o outro,


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mesmo que tenha sido, devido a esse sentimento, o instrumento para a ação carmática negativa que o outro mereceu vivenciar. Essa aceitação ativa das vicissitudes fica mais fácil de ser vivenciada quando compreendemos que não somos seres humanos tendo experiências espirituais esporádicas, mas que somos Espíritos eternos vivenciando uma experiência humanizada através da encarnação. E por que necessitamos encarnar? Por que não ficamos no mundo dos Espíritos eternamente? A resposta, segundo a Doutrina espírita, está na questão 115 de O Livro dos Espíritos: “para o nosso aperfeiçoamento espiritual”. E se o objetivo é o aperfeiçoamento espiritual, o mundo fenomênico seria o palco desse aperfeiçoamento. Quanto mais o Espírito “evolui”, na ótica espírita, mas feliz e amoroso se torna. Porém, para a Animagogia, só é possível se tornar aquilo que já se é. Ou seja, se seremos amorosos um dia é porque o amor já está em nós, talvez adormecido. Se o único determinismo é sermos felizes, isso significa que a felicidade já é um atributo do Espírito. Apenas está adormecido. Assim, na Animagogia, o Espírito adquire experiência e sabedoria de vida ao longo das encarnações, mas ele já é, essencialmente, feliz, amoroso, pacífico etc. Ele já foi criado com estes atributos e, na fase humanizada, a que nos encontramos, o objetivo é vencer o ego, a consciência provisória que nos afasta destes atributos, estimulando o egoísmo. Quem é mais forte? O Espírito ou o ego? Quando o Espírito perde uma partida para o ego, como acontece em um jogo de videogame, ele quer jogar de novo. E, assim, antes de encarnar, estuda um pouco mais, observa outros que passaram por provações similares e pede uma nova experiência encarnatória. No plano espiritual, sobretudo, na Noosfera, encontram-se as escolas. E a encarnação aqui na terceira dimensão, na Biosfera, serviria para colocar em prática o que foi estudado naquela outra. Em suma, a encarnação seria o momento das provas que são sempre morais e não materiais. Por exemplo, o Espírito humanizado não vai adquirir experiência estudando medicina, aprendendo uma língua estrangeira ou passando a vida pintando quadros ou escrevendo livros. Tudo isso não passaria de coisas materiais necessárias para a criação das provas. Assim, se tudo isso for feito


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com amor e não por vaidade, aí sim o Espírito se desliga um pouco mais do ego. Mais do que uma evolução, trata-se de um processo de “iluminação” ou de despertar. Nos exemplos acima, vai se dedicar à medicina quem se preparou antes de encarnar para essa atividade. Assim como vai se interessar por arte quem se preparou para ter uma personalidade ou um ego artístico. Porém, o Espírito que encarna para viver o papel de médico ou de artista só se aprimoraria espiritualmente de acordo com o grau de amor colocado em suas atividades. Em tese, o amor seria o termômetro que mediria o despertar do Espírito. Podemos fazer referência à parábola dos talentos, presente na Bíblia, para esclarecer essa questão. É como se, a cada encarnação, cada Espírito humanizado viesse com uma quantidade de talentos (capacidade de amar em qualquer vicissitude, já adquirida em vidas anteriores) e teria que aumentar estes talentos na vida atual, vencendo o ego. Quanto mais talentos, mas sua cor se aproxima do rubi. Dentro dessa perspectiva, o médico salvaria quem mereceria ser salvo e não conseguiria salvar aquele que estaria na hora de desencarnar, pois Deus, como a causa primária de todas as coisas, é quem definiria isso. Porém, o Espírito humanizado que vivenciaria o papel de médico teria sempre o livre-arbítrio para exercer sua profissão com amor (servindo a Deus) ou visando apenas dinheiro, vaidade etc. (servindo ao ego). Essa perspectiva animagógica vem ao encontro do que também ensina o Espírito Verdade ao dizer que passamos por provas que Deus nos impõe. Mas, enquanto alguns aceitam essas provas com equanimidade e amor, outros as suportam murmurando, permanecendo, assim, distanciados da perfeição. E, na questão 117 de O Livro dos Espíritos, afirma que apressaríamos o nosso progresso sendo submissos à vontade de Deus. E o que seria, segundo a Animagogia, ser “submisso à vontade de Deus”? Seria amarmos a situação vivida, não importando se a mesma é prazerosa ou não, agradável ou desagradável, alegre ou triste. Ou seja, seria agir com equanimidade diante de todas as vicissitudes. Porém, Deus não cria situações desagradáveis por sadismo, mas por respeitar o “gênero de provas” que nós mesmos


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escolhemos antes de encarnar. Ou seja, a “vontade de Deus” é realizar o nosso livre-arbítrio, fazer acontecer aquilo que pedimos antes de encarnar. Em outras palavras, escolhemos um “gênero de provas” e Deus cria as provas, usando sempre o sentimento emanado por outros Espíritos humanizados para que todos recebam o que necessitam e merecem, a cada momento de sua existência. E esse processo vale para todos os acontecimentos, inclusive nas práticas complementares de saúde. Manter a equanimidade diante das vicissitudes positivas e negativas seria a atitude “perfeita” e que permitiria viver a “felicidade prometida” desde já e não em uma suposta vida futura. A felicidade dever ser vivida hoje, no momento presente, pois é um atributo do Espírito. E para isso basta se libertar das três raízes do sofrimento, que segundo o Buda são: o apego e a aversão aos bens materiais, aos bens sentimentais e aos bens culturais (que incluem as religiões). Em nenhum momento a Animagogia faz apologia do sofrimento. Em nenhum momento afirma ser necessário “sofrer hoje para ser feliz amanhã”. Uma coisa é ter que passar por uma vicissitude negativa por “prova” ou “expiação”; outra seria sofrer por causa disso. A primeira pode ser considerada uma fatalidade, algo programado para acontecer na vida humanizada do Espírito, mas a segunda sempre será do âmbito do livre-arbítrio. Ou seja, após a humanização e a encarnação, o Espírito pode optar em sofrer ou em manter sua paz interior e felicidade mesmo diante de qualquer experiência, por mais dolorosa que ela possa ser. Enfim, as vicissitudes, positivas ou negativas, seriam criadas por Deus a partir do “gênero de provas” escolhido pelo próprio Espírito humanizado antes de encarnar. Mas, mesmo assim, podemos ser felizes não importando o que acontece em nossa vida humanizada, desde que aprendamos a ser “submissos” às vontades de Deus, lembrando que a vontade dele seria realizar nosso livre-arbítrio, exercido antes da encarnação. Para a Animagogia, o mundo de “provas e expiações”, como ainda é o caso da Terra, é um mundo de intencionalidade. Ou seja, somos julgados por nossas intenções ou atitudes (ações interiores) e não pelos atos exteriores praticados, pois estes seriam criados por Deus, como já salientamos. E quem estaria preparado para fazer


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este julgamento seria a nossa própria consciência, não a do ego, mas aquela que escolhe, a que vibra na Noosfera. E como já foi salientando, nesta perspectiva, aquele que pratica o “mal”, ou seja, age motivado por egoísmo, terá que colher, mais cedo ou mais tarde, nesta ou em outra encarnação, o fruto dessa intencionalidade. Neste processo, teria a oportunidade de aprender a ser benevolente ou a não culpar o outro, aquele que foi escolhido para ser o instrumento da “ação carmática” que ele precisará viver ainda nesta existência ou em outra. Esta seria a regra básica para se processar uma “encarnação”. Por isso, a Animagogia considera ser equivocado acreditar que vamos nos aprimorar espiritualmente adquirindo conhecimentos do mundo material, que seria subordinado ao espiritual. Ou seja, fazer uma faculdade, formando-se médico, engenheiro etc. servirá para o nosso “aprimoramento espiritual” se nossa intenção for “servir ao próximo”. Enquanto a intenção for egoística, todo esse esforço que já estaria, em tese, escrito para acontecer, não teria valor algum para o Espírito. Aliás, vivenciei um fato curioso quando escrevi a primeira edição do livro Educação após a morte, em 2003. Após o lançamento do livro, em uma reunião mediúnica na ONG Círculo de São Francisco, perguntei para um Espírito que se identificava como Dr. Felipe se ele tinha gostado do livro. Ele disse que o mesmo ajudaria as pessoas que o lessem, mas para mim ele não teve nenhum valor. Eu, sem entender, perguntei o porquê e ouvi como resposta: “você o escreveu com orgulho”. Ou seja, poderíamos dizer que Deus já sabia que eu seria o instrumento para escrever aquele livro, como deve saber quantas edições o mesmo terá, pois Ele é a “causa primária de todas as coisas”. Porém, eu teria sempre o livre-arbítrio respeitado para escrevê-lo com amor ou com orgulho (egoísmo). Naquela ocasião, como salientou corretamente o Dr. Felipe, eu escolhi a segunda alternativa. Assim, eu deixei de praticar a vivência do “não-saber” e da “não-ação”, duas das virtudes ensinadas por Lao-Tsé no Tao Te Ching. O objetivo delas é trazer simplicidade ao coração e nos capacitar para vivermos toda e qualquer vicissitude com o mais nobre dos sentimentos: o amor. Quando agimos com amor, purificamos o coração; quando agimos com egoísmo, permanecemos estacionados. No exemplo acima, acre-


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ditei nas verdades criadas pelo ego e deixei o orgulho falar mais alto, não percebendo que eu estava sendo apenas um instrumento para escrever aquele livro. Krishna ensina o mesmo para Arjuna na Baghavad Gita. Talvez seja por isso que os verdadeiros mestres espirituais, de todos os tempos, afirmaram que devemos sempre fazer o Bem pelo “Bem”, ou seja, desinteressadamente. Porém, como ainda costumamos fazer o Bem pelo “mal”, ou seja, motivados pelo orgulho, pela vaidade etc., nos preocupamos com os frutos do nosso trabalho e deixamos de nos aprimorar, sendo derrotados pelo ego. Como salientamos acima, na Psicosofia de Krishna, presente no clássico Baghavad Gita, encontramos a seguinte afirmação: aquele que desconhece esse ensinamento, acredita que ele é quem faz os atos materiais e, por isso, sente prazer ou sofre por algo que não foi ele o real artífice. Em suma, quando um ato que já estava escrito para acontecer se realiza, e o vivenciamos interiormente com vaidade, com o desejo de receber uma recompensa, seja na Terra ou no Céu etc., não o aproveitamos para o nosso aprimoramento espiritual. O Espírito, ainda imaturo, foi derrotado pelo ego. Enfim, sendo Deus a causa primária de todas as coisas, só vamos nos aprimorar quando amamos o papel que Deus escolheu para representarmos naquele momento. Enquanto estivermos iludidos pelo ego, ao invés de amar a situação, ou seja, emanarmos amor incondicionalmente, nós alteraremos prazer e desprazer com as coisas que acontecem. Ou vamos nos orgulhar com aquilo que acreditamos ter feito ou vamos nos lamentar e culpar alguém, ou nos fazer de vítimas quando algo que não gostaríamos acontece. É por isso que Krishna ensina que o “senhor da mente” é aquele que pelo poder do Espírito alcançaria perfeito domínio sobre seus atos externos, ficando internamente desapegado deles. Este compreenderia que a fonte dos atos é Deus e realiza os atos que precisa realizar sem apego ou interesse. Porém, aqueles que trabalham por lucro pessoal (motivados pelo ego) procedem “mal”, afirma Krishna, e colherão o fruto dos seus “maus” atos. Para Krishna, quem não tem essa consciência, não purifica seu coração. Assim, iludido por maya, deixa de amar a Deus, a causa primária de todas as coisas, para sentir prazer ou regozijo quando


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acontece algo que lhe agrada, ou sente desprazer com algo que seu ego considera desagradável. Assim, complementando este ensinamento de Krishna, a Animagogia defende que podemos optar em sermos “instrumentos amorosos” ou “instrumentos nervosos” de acordo com a energia que escolhemos emanar. Mas seremos sempre instrumentos para o ato que o outro merece e necessita receber naquele momento. Em outras palavras, se emanamos amor e o outro merece receber amor em função do que plantou no passado, aumenta a probabilidade de sermos os instrumentos escolhidos para que este amor chegue até aquele outro Espírito humanizado. Mas, quando emanamos egoísmo, o mesmo também vai acontecer. Porém, mais cedo ou mais tarde, pela lei do carma, a energia que emanamos para o Universo voltará para nós (amor ou egoísmo), não importa a forma material ou visível com que esta energia vai se manifestar, pois essa forma será sempre a colheita de algo anteriormente plantado. Assim, foi por essa razão que o Espírito que se identifica como Dr. Felipe disse que escrever aquela primeira edição do livro não teve nenhum valor para mim. Teria faltado amor no ato de escrevêlo e sobrado orgulho. Ou seja, existe uma relação oximorônica entre a liberdade e a necessidade, ou seja, entre o livre-arbítrio e a fatalidade. E a sabedoria esta em se entregar e confiar em Deus, com pureza de intenção, sem se apegar aos frutos do trabalho, aceitando que nada acontece sem a permissão divina, seja para o Bem, seja para o “mal”. Muitos questionam se os nossos sentimentos também não estariam escritos, como acontece com os seguidores de Shiva, uma vez que Deus seria o criador de todas as coisas. Nesse caso, a questão anterior seria discutir se o sentimento é também uma coisa. A Animagogia, nesta questão, se aproxima dos ensinamentos de Krishna e não necessariamente do shivaismo. Mas, enfim, se a encarnação serve para nosso aperfeiçoamento espiritual ou iluminação, como ela é executada? Segundo a Doutrina Espírita, é através da “expiação”. E o que o Espírito Verdade entende por expiação? Na questão 132 de O Livro dos Espíritos encontramos que é “passar pelas vicissitudes da existência corporal”. Muitos espiritistas interpretam a palavra


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vicissitude como significando a vivência de fatos ou situações desagradáveis ou sofrer. Assim, costumam interpretar que a expressão “passar por vicissitudes” significa passar por sofrimento. Porém, se atentarmos à definição que os dicionários trazem para a palavra vicissitude, nós compreenderemos que ela significa apenas “alternância”. Ou seja, vicissitude seria a alternância entre os “altos” e “baixos” da vida, entre os momentos “alegres” e “tristes”, entre os momentos de “prazer” e de “desprazer”. As enfermidades também são vicissitudes e saber como passar por elas é importante. Diante dessa definição, expiar não seria sofrer, mas passar pelos “altos” e “baixos” da vida humanizada. E qual seria a melhor maneira de passar pelas vicissitudes, sobretudo as enfermidades? A resposta está em praticamente todos os mestres do Oriente: com equanimidade, ou seja, com igualdade de ânimos. Mas há aqueles que optam em passar pelas vicissitudes sofrendo, e isso seria fruto do livre-arbítrio deste Espírito humanizado, seria uma escolha. É assim que tanto Lao-Tsé, como Krishna e Buda ensinaram seus discípulos. Aquele que consegue vivenciar com equanimidade as vicissitudes da vida está muito mais preparado para ser feliz, uma vez que consideram que a felicidade é um “estado de espírito” que deve ser vivenciado sem condicionamento. Em suma, para ser feliz, basta ser. Esse ensinamento muito comum nas psicosofias orientalistas é fundamental também na Animagogia e revela como devemos vivenciar as enfermidades e os tratamentos complementares ou biomédicos. E como já ensinava Buda, a felicidade não se confunde com a alegria ou com a euforia. Felicidade é o estado de paz interior, uma sensação de plenitude ou de graça vivido interiormente. É justamente o que Buda chamou também de Nirvana e este é para ser vivido agora e não em uma suposta vida após a morte. Nesse sentido, quem consegue passar pelas vicissitudes com equanimidade, não tem motivos para sofrimento quando uma situação for desagradável ou dolorosa, e nem motivos para ficar eufórico quando o fato for agradável e alegre. Em suma, dentro dessa perspectiva, não encarnamos para transformar a Terra em um lugar “melhor” para se viver, uma vez que ela já é perfeita para o objetivo para o qual foi criada: ser o


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palco de “provas e expiações”, pelo menos por enquanto, até que se transforme em “mundo de regeneração”. A encarnação na Terra acontece, segundo a Animagogia, para que possamos vencer o ego e seus atributos: a inveja, o ciúme, a avareza, a vitimização etc., ou seja, os “tormentos” que nos fazem sofrer quando passamos por vicissitudes negativas. E podemos dizer também que o orgulho, a vaidade, a ambição etc. também são “tormentos” egocêntricos que nos fazem esquecer que foi graças a Deus, a causa primária de todas as coisas, que passamos por vicissitudes positivas em nossa existência. Assim, vencer a “imperfeição” é deixar de emanar egoísmo em nossos atos para somente emanar amor. Ou como afirma Lao-Tsé, ser benevolente em todas as situações. Assim, aquele Espírito humanizado que encarna para vencer a inveja, precisa, necessariamente, passar por experiências que estimulem a inveja; e aquele que encarna para vencer o ciúme ou o orgulho, idem. E o mesmo acontece com todas as demais “imperfeições”. Ou seja, ninguém terá condições de vencer a inveja ou o desejo de possuir o que o outro possui se tiver condições de comprar tudo etc. É nesse sentido que a Animagogia ensina que o Espírito humanizado antes de encarnar escolhe um gênero de provas, mas o criador das provas é Deus, a “causa primária de todas as coisas”, usando para isso os sentimentos positivos ou negativos dos demais Espíritos humanizados encarnados ou desencarnados. Esse mesmo ensinamento está presente na questão 87 de O Livro dos Espíritos, no qual o Espírito Verdade afirma que Deus, para o cumprimento de seus desígnios, utiliza os Espíritos como instrumentos. E cada contexto socioeconômico e cultural fornece aquilo que o Espírito precisa para vivenciar sua expiação, prova ou missão. E o importante sempre será o Espírito e não o palco criado para sua encarnação. Por isso não interessaria transformar o “mundo exterior”, mas o “interior”. Podemos até ter a intenção de transformar o “exterior” em algo melhor, o que é positivo, mas este será transformado de acordo com as necessidades de cada Espírito humanizado ou coletividade, de acordo com as suas provações ou expiações. Sobre este assunto, certa vez comentei com o preto-velho Pai Joaquim de Aruanda sobre a preocupação em preservar a Ama-


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zônia e sobre a questão dos direitos humanos e ouvi como resposta que devemos sim ter a intenção de preservar a Amazônia e de tentar colocar em prática os direitos humanos, mas que, independentemente da nossa vontade, quem precisa desencarnar com um tiro vai desencarnar, mesmo que esse ato vá contra a lei dos direitos humanos; e se um animal ou planta tiver que ser extinto para começar outra etapa evolutiva de um Espírito em outro corpo material, é o que vai acontecer. Independentemente de nossa vontade, existe um planejamento para a “evolução” do planeta e nosso livre-arbítrio não é capaz de impedi-lo de acontecer. Felizmente, tal planejamento visa melhorar a qualidade de vida de todos, com mais amor e menos egoísmo, uma vez que herdarão a “Terra regenerada” quem o merecer, apesar de tanto “ranger de dentes” neste período de transição. A Animagogia, assim como outras vertentes espiritualistas, também ensina que os Espíritos que ainda se apegam ao egoísmo serão, em tese, exilados daqui, ou seja, passarão, em breve, a encarnar em outros orbes, supostamente, “inferiores”. Ou seja, suas experiências humanizadas precisarão ser em Orbes diferentes e não mais na Terra, cuja vibração está se transformando. E além de passar por vicissitudes, outro objetivo da encarnação também é discutido na questão 132: “colocar o Espírito em condições de cumprir sua parte na obra da criação”. E como isso acontece? O Espírito Verdade responde: “Tomando um aparelho em harmonia com a matéria essencial desse mundo, cumprindo aí, daquele ponto de vista, as ordens de Deus, de tal sorte que, concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta”. Como apresentamos acima, todos, em tese, são instrumentos de Deus. Em suma, a partir do conjunto de verdades relativas que está gravado em nosso ego, em nossa consciência provisória, vamos apresentar uma forma singular de perceber, sentir e pensar o mundo e, assim, estabelecer nossas relações com outros Espíritos humanizados e encarnados. E, apesar de dirigidos pelos nossos sentimentos e pensamentos, nossos atos terão que ser guiados por Deus, pois somente assim poderíamos cumprir Suas ordens, fazendo aquilo que precisaria ser feito. Como sempre, seríamos instrumentos (conscientes ou não) da prova que o outro


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precisa vivenciar. Ter essa compreensão nos ajuda a entender o ensinamento presente na questão 159 de O Livro dos Espíritos que afirma o seguinte: ao desencarnar o Espírito se sente envergonhado se fez o mal com a intenção (desejo) de cometê-lo. Na questão 244 encontramos outro ensinamento similar: se uma coisa não deve ser feita ou uma palavra não deve ser dita, uma força superior impede tanto os Espíritos (seres humanizados desencarnados) como nós, os encarnados, de fazermos ou falarmos. Se isso é verdade, só teríamos como fazer ou falar o que Deus permite em função do merecimento daqueles que vão sofrer o impacto, positivo ou negativo, das nossas ações, para que a justiça sempre prevaleça. Ou seja, é a vigência plena da Lei de ação e reação. Talvez seja por isso que a reencarnação, segundo o Espírito Verdade, na questão 178 de O Livro dos Espíritos, “é somente para aqueles que falharam em suas missões ou provas”. E como seria possível falhar na missão ou na prova? Segundo a Animagogia não seria por este ou aquele fato, mas pela intenção com a qual vivenciamos nossas vicissitudes. Assim, a falha acontece quando o Espírito deixa de amar o que lhe aconteceu ou quando tirou vantagens (egoísmo) de um ato em que foi um mero instrumento de Deus. Ou seja, a falha acontece no âmbito do sentimento, no mundo interior, na atitude e não nos atos exteriores. A falha estaria em não vivenciar com equanimidade aquilo que Deus criou para acontecer. É por isso que o ser humanizado não seria um autômato. Apesar de não haver o livre-arbítrio no ato, ele sempre estará presente no aspecto moral (mundo interior), pois somos sempre livres para decidir amar ou agir com egoísmo diante de qualquer situação. Kardec parece ter compreendido estes ensinamentos espiritualistas tanto que pergunta ao Espírito Verdade, na questão 196, o seguinte: “os Espíritos não podendo melhorar-se, senão suportando as tribulações da vida corporal, seguir-se-ia que a vida material seria uma espécie de cadinho ou depurador, pelo qual devem passar os seres do mundo espírita para atingirem a perfeição?”. E a resposta é a seguinte: “sim, é bem isso. Eles se melhoram nessas provas, evitando o mal e praticando o bem”. Fica evidente na pergunta de Kardec que as tribulações da vida corporal, outro nome para as vicissitudes, acontecem independentemente da nossa vontade. E o nosso papel seria o de passar por elas evitando


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o “mal” e praticando o “Bem”. Ou seja, evitando o egoísmo (não criticar, não julgar, não condenar o outro, não ver erro na ação do outro) e exercendo plenamente o amor incondicional (amar tudo que lhe acontece e todos que aparecem em seu caminho, não importando o que este faça ou deixe de fazer). Este ensinamento do Espírito Verdade também é semelhante ao que Lao-Tsé chamou de “não-lutar”, uma das virtudes ensinadas por ele no Tao Te Ching. “Não-lutar” é reagir a todas as ações do mundo exterior sempre com atitude amorosa, com benevolência, sendo indulgente e perdoando sempre. Em suma, nunca criticando ou vendo erro na ação alheia. E o “não-lutar” deve ser colocado em prática não apenas nos momentos positivos, mas, sobretudo, naqueles em que nossa tendência é a de se passar por vítima ou como alguém injustiçado. O que não significa que não iremos encaminhar para a justiça quem agride idosos, violenta crianças etc., uma vez que a justiça humana considera tais atos crimes, mas fazer isso com paz no coração, entendendo que o “algoz” não deixa de ser um Espírito humanizado em “provação” e que merece nosso perdão (sabendo que a justiça divina nunca falha) e que, essencialmente, foi o instrumento para a “prova” ou para a “expiação” de sua vítima. Há muita semelhança entre o ensinamento de Lao-Tsé e o que a Doutrina espírita prega na questão 886 de O livro dos Espíritos, quando afirma que o caridoso é aquele que é benevolente para com todos, indulgente para com as imperfeições alheias e que perdoa as ofensas. E na questão 224, encontramos a informação de que os Espíritos podem prolongar o período entre as encarnações para continuar seus estudos, o que só pode ser feito com proveito no estado de Espírito, afirmou o Espírito Verdade. Em outras palavras, somente quando estamos em pleno domínio de nossa consciência espiritual é que podemos escolher o que estudar e planejar nossas encarnações futuras. Em suma, é somente na condição de um Ser incorpóreo já desligado do ego que podemos fazer escolhas conscientes. Em suma, somente os que vibram na Noosfera escolhem. O desencarnado que vibra na quarta dimensão, ainda iludido pelo ego, não tem condições de escolher, assim como nós, encarnados, uma vez que somos o fruto de uma escolha. Assim, aqui na Terra, estaríamos apenas para provar se aprendemos a lição ou não, pois, como vamos aprofundar a seguir, o


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nosso livre-arbítrio teria começado na espiritualidade, durante a escolha do “gênero de provas”. E como afirma o Espírito Verdade na questão 230: “é na existência corporal que colocaremos em prática as novas ideias adquiridas na espiritualidade”. Ou seja, não é aqui que aprenderíamos alguma coisa. As novas ideias são adquiridas no estado de Espírito esclarecido. Aqui seria o palco para exercitar ou colocar em prática o que foi aprendido. Em suma, ninguém viria para a Terra para passear ou para estudar. O estudo já teria sido feito, e aqui estaríamos para provar, não para Deus ou para Jesus, mas para nós mesmos, se conseguiremos amar ou não dentro de determinadas situações impostas pela vida humanizada. Em tese, aquele que estudou no mundo espiritual que o ciúme é um sentimento negativo que nos distancia do amor universal, pode pedir uma encarnação para colocar em prática se consegue se libertar desse sentimento. E ele terá um ego ciumento e vai conviver com pessoas que serão instrumentos dessa provação, “criando” os atos que ele precisa vivenciar para se libertar do ciúme. Em outras palavras, o ciúme não estaria nos atos dos outros, mas na mente do Espírito humanizado em prova. Assim, não é o outro que precisaria mudar, mas aquele que encarnou para vencer a tendência em sentir ciúme, fato que o leva a sofrer. Da mesma forma, para aquele que deseja vencer a vaidade, Deus pode criar um ego de artista. Assim, a prova deste Espírito humanizado não seria vir à Terra para aprender a cantar afinado ou interpretar bem, mas vencer a vaidade que esta profissão costuma estimular. E mesmo que seja verdade a afirmação de certos cientistas de que nosso comportamento já estaria pré-determinado geneticamente, isso apenas demonstraria que a partir da escolha do gênero de provas se definiria uma carga genética para aquela humanização. Ou seja, a genética também seria um instrumento para as provas escolhidas pelo Espírito. Assim, se ele escolhe, em tese, vencer o vicio do álcool, sua carga genética pode estar pré-programada para ser um alcoólatra. A programação genética não seria causa, mas o efeito da escolha que o Espírito humanizado escolheu para provar para ele mesmo que pode ser mais forte que a matéria que o condiciona para o vício. Se ele, durante a encarnação, vencer essa tendência, passará


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na prova que escolheu; se não vencer, vai ter que se preparar melhor antes de tentar novamente esta ou outra prova. Dentro dessa perspectiva, os trabalhos de Animagogia com os seres humanizados desencarnados procuram sempre ajudar no despertar da consciência da Individualidade reencarnante, adormecida durante a encarnação do Espírito humanizado. Com base no que até aqui apresentamos, podemos concluir que tanto no Espiritismo como na Animagogia o livre-arbítrio foi exercido, fundamentalmente, antes da encarnação ao escolhermos um gênero de provas. Após a encarnação, a escolha seria, sobretudo, no âmbito moral. Ou seja, poderíamos escolher entre o Bem (amor) e o “mal” (egoísmo). A questão que melhor traduz esse ensinamento é a de número 258 de O Livro dos Espíritos, na qual o Espírito Verdade responde para Kardec que o livre-arbítrio consiste em escolher um gênero de provas para ser vivenciado na Terra. Podemos compreender a partir desta informação que o livre-arbítrio seria exercido pelo Espírito humanizado incorpóreo (a Individualidade) enquanto goza de sua plena consciência. Após essa escolha tem início a criação da personagem (ego) e a encarnação. Dentro dessa perspectiva, não faz sentido acreditar que Deus ouve o ser humanizado encarnado, ou seja, o ego (a personagem). Este é uma criação, uma espécie de avatar do Espírito humanizado incorpóreo, ou da Individualidade. Esta sim é que possui o livrearbítrio para fazer escolhas. O ego é, necessariamente, motivado pelo egoísmo, o sentimento que nutre os planetas de “provas e expiações”. Assim, ele tende a escolher vivenciar uma situação diferente ou oposta àquela escolhida pela Individualidade. Na questão 266, Kardec pergunta se não seria natural o Espírito escolher provas não penosas e ouve como resposta: “para vós (encarnados), sim; para o Espírito, não. Quando ele está liberto da matéria, cessa a ilusão, e a sua maneira de pensar é diferente”. Ou seja, é exatamente o que ensina a Animagogia. Sendo o ego programado para pensar de forma diferente do Espírito, surgem, inevitavelmente, vários conflitos mentais e emocionais ao longo da encarnação. E tais conflitos podem gerar as enfermidades psicossomáticas. Como já salientamos, o Espírito e a Alma (ser humanizado incorpóreo) não adoecem. As doenças são mentais (Psicosfera) e físicas (Biosfera). Elas começam na mente, quando


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os pensamentos e as emoções estão descontradas e, caso não se equilibrem, geram energias que, ao “descer” para o corpo físico se transformam em doenças como artrite, câncer, úlceras etc. Por exemplo, o Espírito humanizado pode passar por uma enfermidade dolorosa e aproveitar a experiência para adquirir um aprendizado. Porém, o ego pode se revoltar, não aceitando aquela doença que lhe tira a liberdade ou que o faz sofrer. Para que isso não aconteça, a solução é vivenciar a vida humanizada com habilidade espiritual. Essa seria uma forma do Espírito humanizado passar por vicissitudes negativas sem sofrimento, compreendendo a necessidade daquela “expiação” e buscando força interior para superá-la, ao invés de se fazer de vítima, blasfemar contra Deus ou qualquer outra atitude que não ajuda no seu processo animagógico. E como já salientamos, o Espírito Verdade, em O Livro dos Espíritos, também afirma que Deus julga a intenção e não os fatos ou que o “mal” só é prejudicial ao Espírito quando praticado com o desejo de cometê-lo. Este ensinamento só é compreensível quando se considera, como foi discutido anteriormente, que cada um de nós recebe somente aquilo que necessita e merece, a cada segundo de sua existência. Dessa forma, o livre-arbítrio após a encarnação não pode estar na escolha dos atos materiais, mas na forma como os mesmos serão vivenciados. Após a encarnação, o livre-arbítrio estará no sentimento, no mundo interior, nas atitudes morais. A partir destes, os fatos vão ganhando forma ou se materializando no mundo fenomênico. Mas por trás de todos eles haverá sempre uma intenção sentimental, uma energia o moldando, mas que sempre respeitará o livre-arbítrio exercido por todos os Espíritos humanizados antes de mais uma encarnação. Essa questão se torna mais evidente na questão 258, quando o Espírito Verdade afirma: “se um perigo vos ameaça, não fostes vós que criastes, mas Deus; contudo, pela própria vontade, a ele vos expondes porque vedes um meio de adiantar-vos e Deus o permitiu”. No ensinamento acima, temos a informação de que o perigo é criado por Deus e que Ele permite aos Espíritos humanizados participarem dele por livre escolha. E mesmo assim, Deus poderia não permitir, por considerar, por exemplo, que não estamos ainda em condições de suportar.


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Assim, para adquirir experiência de vida e sabedoria, a vontade do Espírito de se expor aos perigos da vida humanizada é respeitada. E para isso acontecer, o mundo em que vivemos nossa encarnação é, ao mesmo tempo, fatalista e livre. Temos a liberdade de escolher um gênero de provas, porém, para que tudo aconteça de forma sincronizada e perfeita, os atos materiais, perigosos ou não, necessitam ser criados por Deus, a inteligência suprema e causa primária de todas as coisas. Assim, não existiria acaso ou contingências e nenhum inocente seria vítima de “balas perdidas”, queda de aviões, erros médicos etc., se estes fatos não estiverem contemplados no gênero de provas que o próprio Espírito humanizado solicitou. E os “perigos” seriam as tentações morais: a vaidade para o artista, o orgulho para o médico, o apego às verdades para o professor etc. Assim, se após a encarnação o Espírito humanizado optar pelo Bem (o amor incondicional) vai ganhar pontos ou talentos; se optar pelo “mal” (o egoísmo), permanecerá estacionado e será derrotado pelo ego. Para melhor entendermos esse processo, ou seja, como os “perigos” da vida humanizada são criações de Deus, em função do gênero de provas escolhido pelo próprio Espírito humanizado, vamos tomar o seguinte exemplo. Um Espírito quer passar pela prova de vencer o vício. Assim, para que a prova dele aconteça, Deus teria que criar um ego sedento por bebidas alcoólicas, drogas, sexo ou qualquer outra coisa que vicie. Em outras palavras, temos que compreender que o Espírito em si não é viciado, mas o seu ego (a consciência provisória) seria programado para a vivência dessa provação. Ao encarnar, este Espírito humanizado passaria pelas condições necessárias para provar a si mesmo e a mais ninguém que pode ser mais forte que o ego, mais forte que a matéria, resistindo à tentação por bebidas, drogas, sexo promíscuo etc. Essa interpretação ajudaria também a entender o porquê de muitos desencarnados permanecerem viciados, como se lê rotineiramente nos romances espíritas. Tratar-se-ia de desencarnados ainda presos ao ego que vivenciaram na Terra. Ou seja, que ainda não recuperaram a real consciência da Individualidade. Ainda estão presos ao personagem que vivenciaram.


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É por isso que o desencarne (o libertar-se da carne) não é suficiente para libertar imediatamente o Espírito humanizado da consciência provisória criada para ser vivenciada na Terra. Além de desencarnar, é necessário se desligar da personagem e, mais adiante, após vencer a fase humana, desumanizar-se para voltar a ser apenas um Espírito e se preparar para a fase angelical. E a escolha do gênero de provas, como está explicito na questão 259, seria sempre de ordem moral, e nunca material. Por exemplo, o Espírito humanizado não teria porque escolher como prova ser um bom cantor, mas ele pode ser um bom ou mau cantor se sua prova consistir em vencer o orgulho, a vaidade etc. Vamos tomar mais um exemplo polêmico. Considerando que o Espírito humanizado não tem sexo e encarna em corpos masculinos ou femininos de acordo com essa escolha, ele pode vir a ter um ego homossexual caso tenha escolhido como gênero de provas vencer o sentimento de ser rejeitado; se, por expiação, precisa ser vítima de preconceito ou mesmo, como missão, lutando no palco da vida humanizada pelos direitos das pessoas LGBT. Em qualquer um destes casos a probabilidade de encarnar com um ego homossexual aumenta, ainda mais se os Espíritos humanizados que ele escolheu para serem os seus pais escolheram como gênero de provas vencer o preconceito. Podemos notar que o teatro está prontinho. Um Espírito humanizado precisando sofrer preconceito por alguma expiação e o outro vencer a tendência a ser preconceituoso. Deus uniria os dois e a prova está criada: nasce naquela família um filho com ego homossexual. Em suma, um se torna o instrumento para a provação do outro, pois Deus respeita sempre o gênero de provas escolhido por cada um antes da encarnação e todos sabem que nascerão em famílias onde terão as melhores condições de vivenciar suas próprias provações. Cada um dos envolvidos terá uma encarnação inteira para aprender a ver o outro como um Espírito eterno passando por provas, expiações ou missões. Quando isso acontecer, a probabilidade dos conflitos serem resolvidos de forma pacífica aumenta; mas, enquanto pensarem como seres humanos, a tendência é vivenciar uma vida de guerra e discórdia. Uma cultura de guerra e não de paz. Mas é importante salientar que a guerra e a discórdia não são “carmas”, mas a formação daquele agrupamento humano sim. Ou


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seja, ninguém nasce para bater, matar ou oprimir o outro, mas para aprender a amar. Porém, pode vir a ser o escolhido para realizar os atos acima se ainda não domina o ego e se o outro, sua vítima, por alguma razão, merecer passar por eles. Em resumo, podemos dizer que somente após o Espírito humanizado se libertar dos liames que o prendem ao ego da encarnação anterior é que poderá planejar sua futura encarnação. Só o ator escolhe e não a personagem que ele vivencia. Assim, com seus mentores e instrutores planeja os grandes acontecimentos de sua existência. E Deus, como causa primária, será o responsável por criar os fatos materiais que irão gerar a prova do Espírito humanizado. Tais fatos materiais serão vivenciados pelo Espírito humanizado para colocar em prática o que aprendeu no mundo espiritual. Em outras palavras, um Espírito humanizado que deseja ser mais paciente ou tolerante será colocado diante de situações que estimulem sua impaciência para que ele, diante daquela situação, exercite a paciência e a tolerância. Nos atendimentos complementares de saúde, sobretudo, com os seres humanizados desencarnados que se fazem de vítimas, sempre se busca mostrar a eles que o outro foi um instrumento para sua provação e que o outro só faz aquilo que necessitamos e merecemos. E, da mesma forma, também somos instrumentos, mesmo que de forma inconsciente, para o carma positivo ou negativo do outro. Através da técnica apométrica, dentro do contexto da Animagogia, a proposta é de ajudá-lo a se lembrar de suas vidas passadas e vivenciar a lei de causa e efeito na prática. Assim, se Deus é a causa primária de todas as coisas e o livrearbítrio foi exercido antes da encarnação, para que tudo possa acontecer de acordo com a “vontade divina”, os Espíritos humanizados desencarnados seriam também contrarregras desse processo, atuando de diferentes formas para que o “teatrinho” aconteça sem improvisos. E, segundo a Animagogia, ninguém, esteja encarnado ou desencarnado, conseguiria interferir na encarnação de outro Espírito humanizado, sem que este mereça. Ou seja, se “estiver escrito” que alguém precise passar por uma determinada vicissitude negativa, alguém precisará ser o instrumento para aquela ação, e alguém será escolhido para realizá-la. Em outras palavras, seríamos sempre instrumentos, conscientes ou não, para


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a provação dos demais Espíritos humanizados, mas não poderíamos interferir na prova do outro e nem interromper uma encarnação se a hora ainda não chegou. Ao dizer que não podemos, precisamos compreender que, mesmo querendo ou tendo a vontade, não conseguiremos realizar uma determinada ação se o outro não merecer passar por ela. E isso valeria tanto para as “boas” ações como para as “más”. Porém, em um caso ou em outro, seriamos os responsáveis por elas, devido à intenção. Assim, mesmo que uma pessoa mereça ter a perna quebrada para vivenciar uma determinada prova, aquele que foi o instrumento poderá colher o fruto dessa ação se teve a intenção de cometer aquele ato e ninguém, por mais boa vontade que venha a ter, teria como evitar aquele fato. Outro exemplo pode ser o seguinte. Se um Espírito humanizado foi escolhido para realizar uma determinada missão que acontecerá quando ele completar sessenta anos de idade, ele não terá seu corpo físico gerado por uma mãe que Deus sabia antecipadamente que faria um aborto e nem poderá “desencarnar antes da hora”. Ele não poderá ser vítima de uma “bala perdida” ou subir em um avião que vai se acidentar quando ele estiver com 40 anos. Quando se diz que Deus é onisciente e sabe com antecedência o que vai ou não ocorrer, não faz sentido achar que outro Espírito humanizado tem o direito de interromper uma encarnação antes da hora. Se fosse possível acontecer falhas nesta programação, Deus não seria justo e não respeitaria o livre-arbítrio dos Espíritos humanizados que, antes de encarnar, escolheram um gênero de provas e sabem como e quando regressarão à pátria espiritual. Na questão 336 de O Livro dos Espíritos, por exemplo, o Espírito Verdade afirma que “uma criança, quando deve nascer para viver, tem sempre uma alma predestinada.” Ou seja, só será abortado o Espírito humanizado que precisa passar por essa experiência, como prova ou expiação. Mas, se os pais tiverem a intenção de interromper uma gravidez, eles serão “culpados” devido à atitude (ação sentimental interior), mas não pelo fato, pois se era para a criança viver, Deus utilizaria como instrumentos para gerar o corpo físico daquele Espírito humanizado outros pais que não fariam um aborto voluntário.


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Nesse sentido, até mesmo aqueles Espíritos humanizados desencarnados que chamamos rotineiramente de “obsessores” seriam instrumentos (na maior parte das vezes inconscientes) para a provação daquele que está sendo a “vítima”, ou seja, o obsediado. Assim, a obsessão, a “magia negra” ou qualquer outra coisa que possa “prejudicar” alguém só acontece se Deus permitir e se a “vítima” merecer. Isso está evidente na questão 274 de O Livro dos Espíritos quando o Espírito Verdade afirma que é irresistível a autoridade dos Espíritos “superiores” sobre os “inferiores”. Ou seja, se a Doutrina Espírita afirma que tal autoridade é irresistível, só podemos concluir que qualquer ato dos Espíritos ditos “inferiores” só acontece com a permissão daqueles que o Espiritismo considera como “superiores”. Ou seja, se um Espírito humanizado desencarnado se torna obsessor e faz “mal” a alguém é porque os Espíritos “superiores” a ele estão permitindo que isso aconteça. Por alguma razão, naquele momento, eles não vão interferir no processo enquanto o Espírito humanizado que estiver sendo a “vítima” precisar dessa provação, dessa expiação ou ter merecimento negativo para ser obsediado. Em suma, ninguém seria inocente ou coitadinho nessa história. E até o Espírito “mau” é utilizado como instrumento, mesmo que isso aconteça inconscientemente, para a provação de outro. E é justamente por isso que não faz sentido brigar por verdades, dizendo que a desobsessão kardecista é melhor que a apometria, o culto evangélico ou a gira de umbanda, ou vice–versa. Se tudo não passa de criação de Deus, todas as práticas espiritualistas foram permitidas por Ele para que os mais diferentes casos fossem atendidos e, no fim das contas, é sempre Deus quem cura ou liberta o espírito humanizado da “obsessão”. O nosso papel como terapeutas espirituais seria o de apenas “fazer com amor” e ter a vontade de ajudar o próximo. Todo o resto seria o trabalho de Deus. Teríamos que ter sempre boa vontade e colocar amor em tudo o que fazemos para que possamos ser os escolhidos como instrumentos para o “carma positivo” dos outros Espíritos humanizados e, assim, iluminar um pouco mais nossa alma eterna. E como o Espírito humanizado se libertaria dessa obsessão? Na questão 467 de O Livro dos Espíritos está a resposta: “mudando os


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pensamentos. Eles (os obsessores) se ligam aos que os solicitam por seus desejos ou os atraem por seus pensamentos”. Em tese, quanto menos egoísmo manifestarmos, menor a influência desses Espíritos humanizados desencarnados sobre nós. Em suma, o Espírito “mau” ou imperfeito também é um instrumento da vontade de Deus. Assim se explicaria porque “nunca o Espírito recebe a missão de fazer o mal” (questão 470 de O Livro dos Espíritos), mas, por ser imperfeito, ele o faz por sua própria vontade (segue aos impulsos do ego) e Deus permite que isso aconteça como prova ou como expiação para a “vítima”. E sobre a morte? Seria possível morrer antes da hora? Acreditar que esse fato seria possível vai de encontro à resposta da questão 853, na qual o Espírito Verdade afirma que “qualquer que seja o perigo, ninguém morre antes da hora” e que “Deus, sabe, antecipadamente, de qual gênero de morte” partiremos daqui. Ou seja, para a doutrina espírita, assim como para a Animagogia, Deus seria Onisciente e saberia se o Espírito humanizado desencarnaria por aborto ou por suicídio, por exemplo. E se atentarmos para os livros psicografados que narram os sofrimentos do Espírito humanizado que desencarna pelo suicídio, nós poderemos notar que o motivo foi sempre egoísta: desgosto amoroso, apego material, orgulho etc. Em suma, não é o ato que faz o Espírito humanizado sofrer, mas o seu egoísmo. Por exemplo, qual seria a diferença entre um homem que caminha perto de uma rodovia e é atropelado por um caminhão em alta velocidade e morre na hora daquele que, voluntariamente, se joga na frente do mesmo caminhão? Apenas a intenção. No primeiro caso, houve um “acidente”, mas Deus já sabia que aquele Espírito humanizado seria atropelado e morto. No segundo, Deus também já sabia que, naquele momento, aquele Espírito humanizado se jogaria na frente do caminhão. Logo, é somente a energia sentimental que diferencia um ato do outro e gera débitos ou não. Focar no ato material e não na intenção é agir como Simão Pedro, cogitando apenas das coisas dos homens, sem entender como se processam as coisas de Deus. E, independente do ato praticado, estaríamos sempre sendo assistidos pelos Espíritos, sejam os “superiores” ou os “inferiores”, cuja autoridade dos primeiros sobre estes seria irresistível. Nesse sentido, na questão


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525 de O Livro dos Espíritos, encontramos o Espírito Verdade afirmando que os Espíritos nos aconselham e até agem diretamente para o cumprimento do que precisa acontecer, mas de uma forma tão sutil que temos a impressão de estarmos agindo motivados pelo nosso próprio “livre-arbítrio”. E na questão 526 temos um exemplo interessante sobre como a Doutrina espírita pensa essa problemática. Kardec pergunta o seguinte: se alguém precisa desencarnar caindo de uma escada, os Espíritos a quebrarão? E a resposta do Espírito Verdade é muito elucidativa: os Espíritos não quebrariam a escada, mas intuiriam a pessoa a subir em uma que esteja carcomida pelo tempo. Dessa forma, ela se romperá com o peso da pessoa, gerando o desencarne. Em outras palavras, na visão do Espírito Verdade, é como se os Espíritos humanizados desencarnados atuassem como “contrarregras” dessa “peça teatral” chamada encarnação. Enfim, é como se estivessem com o “livro da vida” de cada um nas mãos e dirigindo sua ação para que tudo aconteça conforme o que está escrito, sem percalços que estraguem o “espetáculo”. Na questão 527 temos outro exemplo paradigmático de como se processa nossa vida humanizada encarnada. Kardec pergunta se os Espíritos desencarnados poderiam dirigir um raio até a pessoa que precisa desencarnar dessa maneira. E a resposta é similar a anterior: sabendo que o raio cairá em uma árvore, os Espíritos desencarnados podem intuir a pessoa a se proteger embaixo dela. Assim, parecerá um acidente aquele desencarne que já estava programado para acontecer. Em outras palavras os Espíritos desencarnados não teriam poder para dirigir o raio até a pessoa, mudando as leis da natureza, mas poderiam intuir alguém para se proteger embaixo da árvore que será explodida pelo raio se estiver na hora do desencarne daquele Espírito humanizado. Em suma, segundo os ensinamentos do Espírito Verdade, vivemos rodeados por uma multidão de Seres que conhecem nossos pensamentos, mesmo os mais secretos, e os atos que vamos realizar. Aliás, como ele afirma na questão 459, são os Espíritos desencarnados que, frequentemente, dirigem nossas ações, como instrumentos da vontade divina. E na questão 584 de O Livro dos Espíritos esta tese fica evidente, mostrando que é a intenção a parte do Espírito humanizado na co-criação do Universo. Kardec


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pergunta sobre o conquistador, a pessoa cuja vida está em satisfazer a sua ambição. E a resposta do Espírito Verdade é a seguinte: “ele não é, na maioria das vezes, mais do que um instrumento de que Deus se utiliza para o cumprimento de seus desígnios.” Em suma, o conquistador vai conquistar quem precisa ser conquistado, vai exterminar quem precisa ser exterminado e assim por diante. Porém, vai colher o fruto desses atos, não pelo fato em si, mas pela intenção egoísta de conquistar e pela ambição que alimenta. Em outras palavras, está evidente que, tanto para a Doutrina Espírita como para a Animagogia, faremos sempre aquilo que precisa ser feito, mesmo quando agimos motivados pelo egoísmo ou pela ambição. Assim, qualquer que seja a intenção, seríamos o instrumento do qual Deus se servirá para o cumprimento de seus desígnios. Mesmo assim, há várias passagens em O Livro dos Espíritos que parecem defender que temos livre-arbítrio nos atos materiais, contradizendo a explanação acima. Mas, em uma leitura mais acurada, podemos notar que o Espírito Verdade afirma que se houve a intenção, há a responsabilidade sobre o ato. Por isso, colheríamos os frutos dessa ação. É o caso da questão 746 de O Livro dos Espíritos, que analisa o homicídio. O Espírito Verdade afirma que este ato é um crime aos olhos de Deus. Mas como o Espírito Verdade ressalta que a intenção é tudo, o desejo de tirar a vida de outro ser que está por trás do homicídio é o que geraria o “débito” espiritual ou o “crime aos olhos de Deus”. Não haveria débito espiritual, por exemplo, se um policial está em seu serviço limpando sua arma e ela dispara acertando outro policial, levando-o ao desencarne. Neste caso, houve uma fatalidade (algo programado para acontecer), mas não houve intencionalidade. Neste caso, apesar de ter sido um homicídio, o policial que atirou seria apenas o instrumento para o desencarne do outro, na hora certa e não antes da hora, sem que o seu ato fosse visto como um “crime aos olhos de Deus”. E esse ponto de vista da doutrina espírita fica mais evidente na questão 851 e seguintes, todas abordando o tema da fatalidade. E o próprio Kardec conclui que: “a fatalidade, entretanto, não é uma palavra vã. Ela existe na posição que o homem ocupa sobre a Terra e nas funções que ele aí cumpre por consequência do gênero de


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existência que seu Espírito escolheu como prova, expiação ou missão. Ele sofre, fatalmente, todas as vicissitudes dessa existência, e todas as tendências boas ou más que a ela são inerentes. (...) a fatalidade, pois, está nos acontecimentos que se apresentam, visto que são a consequência da escolha da existência feita pelo Espírito. Ela pode não estar no resultado desses acontecimentos, posto que pode depender do homem modificar-lhes o curso pela prudência. Ela não está jamais nos atos da vida moral.” Em outras palavras, podemos mudar o resultado de um acontecimento, ou seja, não ser o escolhido para ser o instrumento para uma vicissitude que alguém necessita passar. Podemos, pela prudência, não agir com motivos egoístas nos acontecimentos pelos quais passaremos e, assim, a probabilidade de ser o instrumento da ação carmática negativa de outro espírito humanizado é reduzida. Como diz acima o Espírito Verdade, a fatalidade não existe nos atos da vida moral, ou seja, das intenções ou dos sentimentos. Aliás, como está presente na questão 267 de O Livro dos Espíritos, o Espírito humanizado até pode fazer escolhas enquanto encarnado, mas tal escolha é realizada nos momentos em que se liberta da matéria. Ou seja, quem tem sempre o livre arbítrio é a Individualidade e não o ego, pois este, como foi abordado, costuma desejar o contrário do que a Individualidade anseia. Talvez seja por isso que o Espírito Verdade afirma, na questão 672, que “a intenção é tudo e o fato nada”. Para encerrar, podemos afirmar que a Animagogia não está relacionada com nenhuma doutrina religiosa, mas pode beber em todas as sabedorias espirituais (Psicosofia), do Ocidente e do Oriente, reconhecendo o caráter universal dos ensinamentos transmitidos pelos principais mestres da humanidade. Assim, a Animagogia não se constitui em uma nova “doutrina”, mas em um processo contínuo e permanente de autoconhecimento e transformação interior. Podemos dizer que sua prática se fundamenta em quatro pilares e estes são de fundamental importância para compreendermos seu objetivo e abrangência: 1 – O desapego aos bens materiais, sentimentais e culturais Na prática animagógica, é de fundamental importância compreender que o mundo material existe, mas não “é”. Em suma, ele


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não tem substancialidade. Ele está em constante transformação e só existe em função dos órgãos de percepção, pois, essencialmente, não passa de infinitos campos energéticos que se transformam dentro do cérebro humano em sons, cores, imagens etc. Em outras palavras, o mundo material é como uma “miragem” capaz de enganar o Espírito humanizado e lhe tirar a paz interior, a felicidade e a capacidade de amar sem esperar nada em troca. Para não cair nesta ilusão, os milenares e ainda atuais ensinamentos de Lao-Tsé formam o seu primeiro pilar. A Animagogia exalta as quatro virtudes ensinadas por Lao-Tsé e presentes nos diferentes poemas que formam o seu Tao Te Ching. Quem consegue colocálas em prática é capaz de vivenciar sua vida humanizada como Espírito, mesmo que ainda preso aos laços da matéria densa: a nãoação; o não-lutar, o não-desejo e o não-saber. Enquanto tais virtudes não forem vivenciadas plenamente por nós, vamos continuar presos às verdades criadas pelo ego e necessitando de consolo quando um parente desencarnar, quando o desemprego bater à porta, quando o filho não passar no vestibular ou se envolver com drogas, quando o carro for roubado ou quando o marido arrumar outra mulher, por exemplo. Todo e qualquer vicissitude, positiva ou negativa, passa a valer apenas para colocar em prática tais virtudes, sem perder, assim, o equilíbrio e a paz interior, ou seja, vivendo com equanimidade os altos e baixos da vida humanizada, os momentos de prazer e desprazer, de alegria e de tristeza com habilidade espiritual, ou seja, como um Homo spiritualis. 2 – A Fé plena Para a prática da Animagogia é impossível vivenciar tais desapegos se não os pensarmos de forma recursiva e complementar aos ensinamentos espirituais (Psicosofia) de Krishna, e que formam o segundo pilar de nosso programa educativo. Podemos resumi-los na Fé plena em Deus e em seus desígnios. Não se trata aqui de fé cega e nem racionalizada. A primeira acredita que Deus fará o que você deseja e não o que precisa; e a segunda é uma fé que precisa da comprovação racional ou científica. A Fé plena é a aceitação ativa de que nada acontece em nossa vida humanizada que não esteja de acordo com o gênero de provas que escolhemos


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antes de encarnar e que todas as experiências, por mais dolorosas que sejam, são importantes para a Individualidade se libertar do ego, para a nossa iluminação espiritual. Em livros de teor universalista como a Baghavad Gita e outros, encontramos nos ensinamentos de Krishna o valor da confiança e da entrega absoluta aos desígnios de Deus. Assim, aquele que se torna um “senhor da mente” não se move mais pelo egoísmo ou pelo orgulho, mas deixa Deus criar e se contenta em ser fiel à luz do momento, compreendendo que ela traz tudo o que necessita e merece. O senhor da mente é aquele Espírito humanizado que se libertou da pretensão ao “direito autoral” em seus atos, pois aprendeu que não age por si mesmo e muito menos para si mesmo. Ele é um instrumento da “justiça divina”. Em outras palavras, liberto do fruto de seu trabalho, o senhor da mente é indiferente às aprovações e também às críticas, por isso, não julga como justas ou injustas as opiniões de outros Espíritos humanizados. Quem vive em comunhão plena com Deus não precisa mais de consolo ou da aprovação de outros seres humanizados, pois se encontra liberto da multiplicidade das aparências. O que ele busca apenas é a purificação de seu coração, através da vivência amorosa de todas as vicissitudes da vida humanizada, tanto as agradáveis como as desagradáveis. Em suma, a Fé plena nos ajuda a viver com equanimidade todas as vicissitudes, sem euforia nas positivas ou desespero nas negativas. 3 – A felicidade incondicional Os dois pilares descritos anteriormente só sustentam esse edifício animagógico se relacionados com o seu terceiro pilar: os ensinamentos de Buda. De forma resumida, sua Psicosofia nos leva a vivenciar a vida humanizada em um estado de plenitude, ou seja, de felicidade incondicional. Em outras palavras, o Espírito humanizado que se liberta dos desejos, das percepções e das sensações criadas pelo ego, não se vincula mais às emoções presentes nas formações mentais do “eu acho”, “eu penso”, “eu faço” etc. Assim, não se prende mais a nada que gera sofrimento, portanto, é capaz de vivenciar sua vida humanizada em estado de graça (nirvana), ou seja, é feliz incondicionalmente, lembrando que felicidade para o Buda não é euforia, mas paz de espírito.


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Enquanto muitas religiões afirmam que é necessário sofrer agora para ser feliz no futuro, a Psicosofia de Buda nos ensina a viver sempre feliz, sem condicionar nossa felicidade aos prazeres e às sensações que são momentâneas. A felicidade, enquanto um estado de espírito, não depende de nada exterior. Ela brota de dentro da própria alma e, assim, acolhemos de bom grado todos os acontecimentos. Não por resignação (no sentido de aceitação passiva), mas com amor, tendo a certeza que qualquer circunstância que o ego julgue como alegre ou triste, prazerosa ou desprazerosa, sempre contém uma essência que pode ser o desapego na prosperidade ou a paciência na adversidade. 4 – o amor universal Por último, o quarto pilar da animagogia é composto pelos ensinamentos espirituais do Cristo. Podemos, de forma resumida, afirmar que eles se constituem na vivência plena do amor incondicional. Assim, o Homo spiritualis é feliz e ama o inimigo, ama aquele que o critica, ama aquele que o despreza, ama aque que quer defender verdades, ama a vítima e o algoz, ama a si mesmo da forma como existe neste mundo fenomênico. Quando vivemos irradiando amor, deixamos também de julgar ou criticar, pois conseguimos compreender que ninguém é capaz de agir diferentemente de sua natureza. Na perspectiva da Animagogia o amor e a felicidade já estão dentro de cada um, são atributos do Espírito, mas podem estar adormecidos. E ninguém consegue despertá-los de uma hora para outra. A experiência ao longo das encarnações ajuda a se libertar do apego cultural, um dos frutos do orgulho e do egoísmo. Estes são, portanto, os quatro pilares da Animagogia: o desapego aos bens materiais, sentimentais e culturais; a Fé plena; a Felicidade incondicional e o Amor universal. São, portanto, pilares não-racionais, uma vez que a razão é um dos atributos do ego, junto com as formas materiais, as percepções, as sensações e a memória. Além desses quatro pilares, outras Psicosofias realimentam e complementam a Animagogia. Podemos citar, entre outras, os ensinamentos espirituais do Espírito Verdade, presentes em O livro dos Espíritos, que estudamos no capítulo anterior, e que nos esclarece sobre a vida ativa após a morte e também sobre a


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escolha dos gêneros de provas, entre outros assuntos espiritualistas de cunho universal. E não poderíamos nos esquecer, também, da Psicosofia de Mahatma Gandhi, sintetizada em sua definição de ahimsa: não praticar a violência material com ninguém (não matar ou ferir voluntariamente); não praticar a violência verbal, falando mal de quem quer que seja; não praticar a violência mental, através do envio de pensamentos negativos para alguém, e nem praticar a violência emocional, o que acontece quando emanamos sentimentos de ódio ou desejando o mal para quem quer que seja. A Animagogia, como educação espiritual, possui caráter universalista e valoriza a sensibilidade e a consciência Crística, tendo como objetivo vivenciar a vida humanizada com habilidade espiritual, ou seja, despertando o Homo spiritualis com todos os seus atributos. Assim, sua prática está associada ao servir sem qualquer julgamento ou gratidão e, por ser trans-religiosa, busca ligar-se apenas aos ensinamentos espirituais dos mestres, não manifestando nenhuma preferência religiosa ou particularização doutrinária. Podemos dizer que verdadeiros animagogos, no sentido aqui proposto, foram, entre outros, Lao-Tsé, Buda, Krishna, Zoroastro, Hermes, Jesus, Francisco de Assis, Mahatma Gandhi e Chico Xavier. É por isso que na Animagogia há a valorização do Amor latente em todos os códigos espirituais, seja a “Bhagavad-Gita”, a “Bíblia”, o “Livro dos Espíritos” ou outro qualquer. E, apesar de diferente, procura vibrar, harmoniosamente, com todos os movimentos de ascensão espiritual cuja meta seja o Amor Universal. Assim, a Animagogia reconhece a dimensão sagrada do mediunismo (kardecista, de umbanda ou outro qualquer), como também das práticas espiritualistas como o Yoga, a Meditação, o Reiki etc., pois valoriza sempre a intenção com a qual um determinado ato exterior é vivenciado e não o ato em si. Portanto, enquanto educação espiritual para auxiliar no desabrochar da Individualidade, o que menos importa é o caminho escolhido para se religar a Deus. Plenamente esclarecido, o Espírito humanizado é capaz de participar amorosamente de uma missa católica, de um grupo de meditação em um Templo Budista, de uma sessão mediúnica em um Centro Espírita ou em um Terreiro


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de Umbanda etc., pois, quando se vive em um nível vibracional de Amor universal, deixa de ter importância o meio ou o grupo em que se encontra naquele momento de sua vida humanizada. Em outras palavras, ao participar de qualquer um dos atos acima, não somos seres humanizados tendo uma experiência espiritual, mas continuamos sendo um Espírito eterno vivenciando uma experiência humanizada, ou seja, uma provação. Em suma, a Animagogia como processo educativo para a promoção da metanoia não entra em conflito com nenhum credo ou fórmula religiosa de qualquer raça ou povo. Nos capítulos seguintes vamos apresentar a Apometria, realizada dentro do contexto animagógico exposto acima, e também a Terapia Vibracional Integrativa (TVI), criada a partir dos pressupostos da Animagogia na ONG Círculo de São Francisco.


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CAPÍTULO 4 A NECESSIDADE DO PEDIDO DE AUXÍLIO E A APOMETRIA COMO TÉCNICA POSSÍVEL PARA A ANIMAGOGIA DO SER HUMANIZADO DESENCARNADO

Como salientamos, a Animagogia é um trabalho educativo para libertar o Ser humanizado das ilusões criadas por seu ego. Em suma, promover um processo metanoico ou de mudança de perspectiva, despertando a consciência da Individualidade. Para que esse processo ocorra, conta com uma série de procedimentos práticos. Alguns são considerados “espíritas”, ou seja, são adotados nas casas espiritualistas que dizem seguir a doutrina sistematizada por Allan Kardec. E outras não são consideradas “espíritas”, como é o caso da Apometria, considerada uma técnica “não-doutrinária” por esse movimento sócio-religioso. A Animagogia, como salientamos na primeira parte deste livro, também se fundamenta nos ensinamentos do Espírito Verdade, ou seja, naqueles que formam a base doutrinária do Espiritismo, mas vai além, uma vez que o estudo e as formas de promover a metanoia foram difundidas, principalmente, pela sabedoria oriental, através da Psicosofia de Buda, Krishna, Lao-Tsé e tantos outros que, de uma forma ou outra, também estão presentes naqueles que compõem O livro dos Espíritos, apresentados na primeira parte desta obra e de fundamental importância neste trabalho educativo com seres humanizados desencarnados, seja ele praticado no meio espiritista, na umbanda, no universalismo etc. Após esta necessária introdução, podemos prosseguir com nosso estudo apresentando a importância da prece, seja para atuar com uma prática terapêutica espiritualista ou para ser ajudado. O Espírito que, em tese, participará do programa animagógico, que


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será “esclarecido”, nem sempre o faz por vontade própria. Em muitos casos, estes Espíritos humanizados desencarnados são trazidos até a reunião mediúnica graças às preces realizadas por seus familiares e amigos desejando que encontre “auxílio” e “luz” no plano espiritual. Nesse sentido, o pedido de apoio faz com que o desencarnado seja conduzido para receber nos trabalhos mediúnicos a ajuda que precisa. Durante a sessão mediúnica, muitos recebem ajuda sem a necessidade de se manifestarem através de algum médium. E também há aqueles que são socorridos porque alguém pediu ajuda para um ser humanizado encarnado que sofria obsessão. Porém, até o obsessor é ajudado, mesmo não tendo solicitado o auxilio. E, por fim, também são trazidos aqueles que, por não suportarem mais o sofrimento e a falta de compreensão do que estão vivenciando no mundo astral, também por meio da prece solicitaram auxílio. E quando o próprio desencarnado solicita a ajuda, o socorro é mais fácil. E esse fato evidencia do ensino de Jesus: “bata e a porta se abrirá; peça e obtereis”. E como a religião também é uma criação do ego, não importa a religião do Espírito humanizado. Ao pedir, por intermédio de uma prece sincera, um auxílio, a ajuda chegará. A prece feita com o coração, com sentimento amoroso e gratidão, é a fórmula mais adequada para pedir e obter auxílio espiritual. A própria medicina já tem evidências que pessoas que oram se recuperam com mais facilidade e rapidez de certas enfermidades. E o mesmo acontece com aqueles que não estão mais ligados ao corpo físico, mas continuam presos ao ego. Algumas religiões afirmam que a prece para um Espírito humanizado desencarnado não é necessária, pois o seu destino já foi selado: ou o “céu eterno” ou o “inferno eterno”. Mas estudos feitos por terapeutas de vidas passadas, apômetras e informações transmitidas pela psicografia mediúnica trazem evidências de que a prece sincera pelos desencarnados é um importante “remédio” para que consigam compreender o que está se passando e receber a ajuda que necessitam. O budismo também estimula a oração pelos antepassados, por todos aqueles que já morreram. Podemos dizer que o pensamento e as preces aproximam todos os seres, sejam estes encarnados ou


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humanizados desencarnados. O fluido cósmico que os hindus chamam de prâna e que vêm sendo estudado desde a Antiguidade parece ser o condutor das energias emitidas pelas preces realizadas com sentimento amoroso. E, independentemente da religião, a prece feita com o coração sempre apresentará efeitos positivos. Assim, o católico devoto de São Judas, o evangélico que só acredita no Espírito Santo, o umbandista que pede apoio a um “preto-velho” ou um “caboclo”, o espiritista que pede auxílio a seu guia espiritual e o hindu e budista que oram, respectivamente, por Krishna e por Buda, serão atendidos pela “espiritualidade superior”. E a prece, segundo a Animagogia, pode ser feita em silêncio, em qualquer ambiente. O importante é a intenção e a vibração amorosa que a nutre. É importante salientar que este trabalho de auxílio aos desencarnados é realizado há muito tempo, antes mesmo da mediunidade ser objeto de estudo científico por Allan Kardec. E este esclarecimento também necessitava de encarnados, mas que agiam durante o sono, durante o chamado “desdobramento”, sem que se lembrassem disso ao voltarem ao estado de vigília. Mas também pequenos grupos iniciáticos, quase secretos, também faziam práticas similares para ajudar os supostos seres humanizados desencarnados. O trabalho animagógico que vamos aqui descrever é realizado através de uma equipe de médiuns preparada para esse atendimento espiritual e que seguem alguns procedimentos metodológicos. A primeira tentativa de auxílio consiste, em tese, em trazer esses desencarnados para participar de uma sessão de estudos espirituais. Normalmente, utilizam-se livros espiritualistas, que enfatizam os ensinamentos (Psicosofia) de mestres como Buda, Krishna, Jesus etc., segundo a especificidade de cada grupo. Nos centros espiritistas utiliza-se, principalmente o livro escrito por Kardec denominado O evangelho segundo o espiritismo. Os encarnados, após uma prece pedindo a proteção divina e o amparo dos “Espíritos esclarecidos”, leem e discutem alguns dos ensinamentos espiritualistas desses mestres, como, por exemplo, sobre o perdão, sobre o amor universal, sobre a não existência do mal, sobre o fato de sermos Espíritos eternos vivenciando experiências humanas e não o contrário etc.


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Através da coleta de dados utilizando a observação participante, temos notado que o tema escolhido para estudo sempre apresenta relação com o problema principal vivido pelo grupo de desencarnados trazido para aquele dia de trabalho. Por exemplo, se predomina entre eles os suicidas, a lição abordará direta ou indiretamente esse tipo de problema, suas consequências e como deverá libertar-se da culpa e ter Fé em Deus, pois seus sentimentos humanizados são os responsáveis pelo sofrimento e pela dor moral que sente no mundo astral. Nas reuniões acompanhadas para a realização desta pesquisa constatamos que, frequentemente, os desencarnados ajudados naquele dia vivenciavam problemas similares. Nesse sentido, enquanto em uma reunião predominavam suicidas; em outra, eram seres desencarnados apegados ao dinheiro, e assim por diante. E segundo alguns videntes, estes seres humanizados desencarnados acompanham o estudo enquanto recebem vários tipos de tratamentos invisíveis aos nossos olhos. E constatamos que o número de desencarnados que consegue recuperar a consciência, compreender que o sofrimento pelo qual está passando é fruto de suas próprias escolhas e que precisam retomar o caminho do amor é grande. Normalmente, já estão quase se desligando do ego e recuperando sua consciência, o que os faz aceitar com naturalidade o ensinamento universalista: “A plantação é livre, mas a colheita é obrigatória”. Neste momento, já conseguem abrir seus “corações” e receber o auxílio que necessitam, sendo, dessa forma, levados após a sessão para hospitais ou educandários no plano astral. Muitos retornam em outras sessões, desta vez apenas para acompanhar as lições ou mesmo para trazer outros desencarnados que passam por problemas similares, tornando-se, assim, mais um dos “trabalhadores na seara de Cristo”, ou os “trabalhadores da última hora”, como muitos deles gostam de falar quando se manifestam mediunicamente. Mas há também os que se manifestam no atendimento mediúnico inconformados com a dor e com o sofrimento que sentem, julgando que estão sendo castigados por algum Deus punitivo. Estes desencarnados ainda não compreendem que o egoísmo é o responsável pelo sofrimento que estão vivenciando. Outros manifestam ódio por alguém, desejam se vingar de algum desafeto etc.


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Os animagogos universalistas tentarão convencê-lo que estes por quem nutrem ódio foram instrumentos de Deus para suas provações. Entre os trabalhos animagógicos se encontra a pintura mediúnica, uma forma de terapêutica ocupacional com alguns desencarnados que ainda necessitam de fluidos mais densos, mais materiais, para se recuperar. Normalmente não são revoltados, mas que têm muita dificuldade de se libertar do plano material. Eles são convidados a pintar quadros pelas mãos dos médiuns. Neste tipo de trabalho, não é o valor estético do quadro, mas a possibilidade de apaziguar a necessidade de fluidos densos. Assim, o desencarnado se tornaria mais receptivo ao auxílio que ali lhe está sendo oferecido. O mesmo pode se processar através de mensagens psicografadas ou mesmo através da psicofonia. Normalmente, nestes atendimentos, eles manifestam a dor que viveram após sua morte, a alegria por estar sendo ajudado, ou mesmo sua descrença por tudo ou ódio. Há também os que agradecem por terem sido levados para o trabalho, enquanto outros reclamam por terem sido levados contra a vontade. O importante, porém, é atentarmos para o fato de que este trabalho permite ao desencarnado extravasar seus sentimentos, gerando nele a sensação de alívio e de paz interior necessária para libertar-se do ego. É importante ressaltar que mesmo quando o médium relata sentir algum incomodo durante esse atendimento terapêutico, no encerramento do trabalho ele já se encontra liberto de todos os sintomas ou sensações que lhe foram transmitidas durante o atendimento animagógico. Entre as técnicas animagógicas está a Apometria. Através dela é possível fazer a projeção do passado do desencarnado que recebe a ajuda e, de alguma forma, ajudá-lo a recuperar a consciência da Individualidade, libertando-o do ego. Abordaremos a seguir a Apometria no contexto da Animagogia. Podemos dizer que, juntamente com o kardecismo (a manifestação mediúnica que acontece nos centros espiritistas), com a umbanda e com tantas outras psiconomias criadas pelo ego humano, seja o de encarnados ou de desencarnados, a Apometria se constitui em uma das ferramentas que utiliza a mediunidade com consciência e benevolência. A Apometria é, modernamente, um


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conjunto de técnicas e procedimentos psíquicos aprimorados racionalmente e instrumentalizados operacionalmente pelo Dr. José Lacerda de Azevedo (1919-1997). Ele formou-se em Medicina pela Universidade do Rio Grande do Sul (URGS). A Apometria, segundo o Dr. Lacerda, não é ciência, filosofia ou religião. Tratase, em sua opinião, de um poderoso instrumento psíquico baseado em conhecimentos científicos advindos da matemática, do eletromagnetismo e da física quântica, e utilizado para auxiliar no tratamento de inúmeras patologias, cujo tratamento médico tradicional quase sempre se mostra ineficaz. Por se tratar de um conjunto de técnicas, a Apometria vem sendo praticada e aprimorada em casas espiritistas, umbandistas e universalistas, e por grupos independentes. Porém, segundo a espiritualidade que assiste aos nossos trabalhos, trata-se de uma técnica milenar, sem esse nome, obviamente. A sua forma atual, “codificada” pelo Dr. Lacerda, teria sido estruturada no astral da Terra em meados do século XIX, especialmente para auxiliar no processo de regeneração deste Orbe, processo que, em tese, é dirigido pelo Espírito que viveu a personalidade Maria, a mãe carnal de Jesus, hoje também chamada de “a senhora da regeneração” por muitos desencarnados. Estes seres incorpóreos dizem que falar que Maria é a senhora da regeneração não carrega nenhum sentimento de idolatria ou de santidade, mas apenas de respeito ao importante papel que teria assumido neste momento de evolução do planeta Terra, sendo o responsável direto pela coordenação do processo de regeneração deste Orbe que atualmente habitamos, coordenando o processo de limpeza do “umbral”, e buscando evitar que um número significativo seja “exilado da Terra”, ou seja, evitar que estes continuem sua evolução espiritual em “Orbes inferiores”. Segundo nos foi informado, nas reuniões mediúnicas que participamos, o exílio da Terra teve início na década de 1930. Vários desencarnados já não habitam mais o astral deste planeta e estão no Umbral de outro Orbe esperando para começarem um novo ciclo reencarnatório. O planeta em que continuarão se aprimorando teria características materiais que lembrariam a Terra de algumas dezenas de milhares de anos atrás. Em tese, foi neste contexto de regeneração


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da Terra que a Apometria ressurgiu. Ou seja, como uma possibilidade de pronto-socorro espiritual que facilita o resgate coletivo de centenas de milhares de Espíritos presos ao ego e às ilusões do mundo astral inferior, mesmo libertos do jugo da carne. Esta informação, obtida por vias mediúnicas, não desmerece de forma alguma o importante trabalho realizado pelo Dr. Lacerda e sua equipe. Ela apenas contextualiza o porquê da Apometria ter (re)aparecido na Terra justamente no momento em que parte dos cientistas começa a se abrir para novas perspectivas de compreensão do mundo, concluindo, como as antigas filosofias do Oriente, que o mundo material é uma miragem (maya) criada para as nossas provas (escolhidas voluntariamente por cada um), e que não existe o tempo, pelo menos não da forma como o nosso ego foi programado para vivenciar (determinado em passado, presente e futuro). A Apometria parte do fenômeno anímico conhecido como “desdobramento espiritual”, induzido através da contagem pausada e progressiva de pulsos bioenergéticos, acompanhados por forte intenção mental. Este procedimento, diferentemente da hipnose, foi proposta pelo farmacêutico-bioquímico Luis J. Rodrigues, nascido em Porto Rico e estudioso do psiquismo humano, na segunda metade do século XX. A “projeção astral” obtida dessa maneira não necessita das sugestões do hipnotismo, levando a pessoa, sensitiva ou não, a realizar um desdobramento consciente, sendo possível conduzi-la para qualquer lugar da Terra, como também para o passado e para o futuro. A intenção do Sr. Rodrigues era a de instrumentalizar os médicos e a medicina com técnicas psíquicas, pois o bom médico, em sua opinião, deveria cuidar do corpo e da alma (na ótica da Animagogia seria da mente, uma vez que a Alma não adoece). E como diz o Espírito Verdade (questão 529 de O livro dos Espíritos): “O que Deus quer, deve ser; se há atraso ou obstáculo, é por sua vontade”. Assim, a Apometria surgiu no momento em que precisava surgir, nem antes e nem depois, por mais que o nosso ego pense o contrário. A medicina acadêmica precisaria compreender que existe um complexo físico-biológico-psíquico-anímico-espiritual no ser humanizado e, além disso, a influência das reencarnações na etio-


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logia de muitas enfermidades. Provavelmente, este fato acontecerá no futuro. Enquanto isso, a Apometria continuará sendo enquadrada no campo das chamadas “terapias alternativas” ou complementares. Porém, como acontece com outras “terapias alternativas”, há grupos de atendimentos apométricos que cobram pelas sessões e grupos que procuram servir com amor e por amor, sem nenhum interesse pecuniário. E, a cada dia, aumenta o número de pessoas que buscam tratamento apométrico para problemas como obsessões, depressões e tantas outras enfermidades psicossomáticas, entre elas, a tão temida goécia, mas conhecida como “magia negra”, algo considerado como superstição por setores kardecistas. Na Apometria não se prescreve nenhum medicamento, seja alopático, homeopático ou floral. Seus instrumentos são bioenergéticos, ou seja, utiliza-se apenas a força mental dos participantes para irradiar energia, criar campos de força magnéticos, fazer regressões de memória etc. A Apometria vai além dos limites do animismo e da mediunidade. Entendemos por animismo as práticas recorrentes no Oriente nas quais o discípulo transcende os limites do corpo físico para estabelecer contato consciente com o mundo astral, através da meditação, das viagens astrais etc. O animismo é uma prática espiritual “ativa”, enquanto a mediunidade é uma prática espiritual “passiva”, na qual os participantes aguardam que o plano espiritual revele informações que poderiam ser adquiridas com esforço espiritual próprio. Mas o animismo e a mediunidade são lados de uma mesma moeda, são experiências complementares. É a nossa tendência dicotomizante que nos faz aceitar um lado e criticar o outro. Algumas doutrinas defendem o animismo. É o caso do movimento Rosa Cruz, da Teosofia e tantas outras. Tais doutrinas costumam afirmar que a mediunidade é uma prática espiritual perigosa e que como tal deve ser evitada. O ideal, para essas doutrinas, é o próprio discípulo colher as informações espirituais diretamente no Astral, sem depender dos Espíritos. De outro lado, os espiritistas valorizam a mediunidade e desvalorizam as informações transcendentais adquiridas a partir do animismo, classificando-as sempre como “mistificação”. A Apometria, nesse contexto, é um conjunto de técnicas que ultrapassa


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essa lógica dicotômica e que se caracteriza por ser uma forma de servir-se do ego e não de se escravizar a ele, como já enfatizou Krishna no clássico Baghavad Gita. Assim, o animismo e a mediunidade são valorizados e convivem harmoniosamente na prática apométrica, realizada dentro da perspectiva animagógica. Mas não é nosso objetivo tecer aqui longas considerações teóricas sobre a técnica apométrica. O livro do Dr. Lacerda, Espírito/ matéria: novos horizontes para a medicina, deve ser lido obrigatoriamente por todos os interessados no tema. A Apometria é uma original contribuição que renasceu em solo brasileiro e é ignorada por muitos. A ONG Círculo de São Francisco - Instituto de Animagogia – começou a utilizar em caráter experimental a Apometria, em 2004. Durante três anos não se atendia consulentes externos. O objetivo foi adquirir experiência e confiança antes de começar a atender a população com mais esse serviço animagógico. Apesar da Animagogia ser considerada uma educação espiritualista que visa auxiliar todos aqueles que desejam passar pelo processo metanoico de despertar a Individualidade, libertando-a do ego, em outras palavras, da consciência provisória que impede o Espírito eterno de expressar sua Luz durante a encarnação, ela é mais facilmente praticada com os desencarnados. Com os encarnados, o máximo que podemos fazer é estimulálo a passar por suas provações com amor e sem condicionar sua felicidade a nada exterior, vivenciando a humanização que escolheu sem apegos ou aversões, e com mais habilidade espiritual. Mas, o desligar definitivo do ego só é possível após o desencarne. E neste contexto, a Apometria pode ser utilizada como um terapia complementar, junto ou separada de outras técnicas psicossociais, anímicas e mediúnicas, visando o processo de educação espiritual, ou seja, a Animagogia do espírito humanizado. A Apometria é um instrumento importante, mas ineficaz se não for parte de um programa educativo maior de “reforma íntima” ou animagógico. Ela é um fato, um fenômeno ou uma manifestação espírita, mesmo que essa técnica seja proibida de ser praticada nos centros espiritistas de orientação religiosa. Porém, aqueles que entendem o Espiritismo como uma ciência de observação voltada para o estudo das supostas relações entre o mundo material e o


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espiritual, derivando em uma filosofia de cunho moral, não encontram razão para não utilizar essa técnica medianímica, uma vez que, por ser apenas uma técnica, não contraria os principais ensinamentos dessa doutrina, que são, entre outros: Deus é a inteligência suprema e causa primária de todas as coisas. O espírito escolhe antes de encarnar seu gênero de provas. Os espíritos praticamente dirigem nossos pensamentos e atos. Ninguém morre antes da hora, não importa o perigo que lhe ameace. A caridade consiste em ser benevolente, indulgente e perdoar. Podemos dizer que não há sincretismo algum quando um centro espírita utiliza a Apometria, técnica proposta e aprimorada pelo Dr. Lacerda, um médico espiritista brasileiro, para trabalhos de esclarecimento de seres desencarnados e tratamento espiritual de encarnados. Além disso, se estudarmos atentamente os ensinamentos do Espírito Verdade, notaremos que sua ênfase está, na maioria das respostas que aparecem em O livro dos Espíritos, na intenção com que um ato é vivenciado, ou seja, sua preocupação é sempre com a mudança interior ou espiritual, e não com a prescrição de atos exteriores ou materiais. Por isso, ao falar que uma determinada técnica é espiritista (o passe, por exemplo) e outra não é (Apometria, Transcomunicação Instrumental, Cromoterapia etc.), já se abandonou a “obra de Allan Kardec” que foi toda voltada para a pesquisa da relação entre o mundo material e o espiritual.


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CAPÍTULO 5 A TVI E SUAS TÉCNICAS ANIMAGÓGICAS

A Terapia Vibracional Integrativa (TVI) foi uma das principais contribuições da ONG Círculo de São Francisco. A TVI é uma terapia e ao mesmo tempo uma atividade de anima-ação cultural importante para o desabrochar do Homo spiritualis, ou seja, para auxiliar no despertar dos atributos do Espírito em nossa vida cotidiana, um dos principais objetivos da Animagogia que, como foi salientado ao longo do livro, visa auxiliar no processo metanoico do Espírito humanizado, encarnado ou desencarnado. E como também já foi salientado, para a Animagogia as enfermidades são, basicamente, psicossomáticas, originando-se a partir de pensamentos e sentimentos desarmônicos que vibram na Psicosfera. Caso não sejam transformados, “descerão” para o corpo físico que, por sua vez, vibra na Biosfera. A Terapia Vibracional Integrativa é, ao mesmo tempo, uma prática meditativa, bionergética e transpessoal que possibilita uma diferente forma de viver o mundo de provas e expiações, um mundo desalmado que, além do iminente des-astre, nos transmite a sensação des-agradável de estar num mundo de des-respeito e de solidão. O ego foi programado para vencer na vida, adaptando-se facilmente a essa energia que nutre os chamados mundos de provas e expiações, mas o Espírito humanizado encarna para vencer a vida, irrigando com os atributos do Espírito todos e tudo que o rodeia. Por isso que a TVI não foi pensada para adaptar o participante a esse mundo, mas como parte integrante de um novo meio sociocultural e educacional que valoriza o re-envolvimento do corpo e da alma, da sociedade e da natureza, do animus e da anima, em suma, que valoriza o desabrochar do Homo spiritualis, aquele que sabe reconhecer o valor da energia mental para se ter equilíbrio e utilizá-la em um tratamento bioenergético. A TVI re-envolve aquilo que foi, ao longo dos séculos, separados: o corpo, a mente, a alma e o Espírito. Mas também a


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comunidade e a natureza. Re-valorizar e re-significar a vida humanizada é um de seus objetivos. Nos pressupostos da Animagogia cada pessoa faz vibrar uma onda mental própria (chamaremos esta energia de qualitum) que se torna o agente essencial para as realizações, seja no plano físico (Biosfera) ou no extrafísico (Psicosfera). Por intermédio do pensamento é possível fazer com que uma corrente mental reproduza as suas próprias peculiaridades em outra corrente mental que se lhe sintonize, enquanto perdure a sustentação do fluxo energético. Assim, na ótica da Animagogia, o ser humanizado, encarnado ou não, pode ser comparado, metaforicamente, a um dínamo complexo. Ele é ao mesmo tempo, gerador, indutor, transformador e coletor de energia. Dessa forma, pode assimilar correntes contínuas de força e, simultaneamente, exteriorizá-las. Essa força mental que vamos identificar como qualitum vibra em uma dimensão que vamos chamar de Psicosfera. É nela também que vibra os corpos astrais dos Espíritos humanizados ainda presos ao ego. Estas correntes energéticas que se exteriorizam pela Psicosfera, conservando-se na aura da personagem que representamos na Terra, durante nossa encarnação. Por isso afirmamos que o ego tem duas faces: uma subconsciente e outra consciente, que é aquela que acessamos durante o estado de vigília. Essa é apenas uma fagulha de luz, envolta na sombra que forma o inconsciente. E a Terapia Vibracional Integrativa consiste, basicamente, em nossa capacidade de produzir e irradiar vibrações mentais salutares ou “superiores”, procurando irradiar frequências cujo qualitum esteja imerso nos atributos do Espírito. Por isso, os quatro únicos “símbolos” utilizados na TVI são: a vontade, o pensamento elevado, a imaginação criativa e o amor. A vontade é um dos principais atributos do Espírito. É ele que faz o Espírito querer “evoluir”, ou seja, vivenciar as várias fases possíveis, adquirindo mais experiência de vida e sabedoria. Ao ser derrotado pelo ego, em uma encarnação humanizada, é a vontade que o faz querer se preparar melhor e retornar, por diversas vezes, até vencer. Durante a encarnação do Espírito humanizado quando falta vontade costumamos dizer que a pessoa está desanimada, ou seja, sem alma. E quando a vontade de autorrealização é grande,


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dizemos que a pessoa está imbuída de muito entusiasmo, que significa agir com Deus dentro de si. O pensamento é o principal qualitum. Ele é um dos principais atributos do Espírito. Durante a encarnação, sintonizamos com os pensamentos que vagam pela Psicosfera, como se o nosso cérebro fosse uma grande antena que capta de acordo com o nosso interesse. É por isso que é possível, durante a encarnação, dar um upgrade no ego. Ou seja, torna-lo mais espiritualizado. Quando mudamos o foco de nossa vida humanizada, imediatamente nos sintonizamos com outra faixa de energia mental e isso afetará nossa existência e, consequentemente, nossa relação com as pessoas com quem vamos conviver, trabalhos a serem realizados e até mesmo lugares. As mudanças de relacionamentos, de trabalho ou de cidade ou país nunca acontecem por acaso. Elas são sempre o resultado das mudanças psíquicas ou dos upgrades pelos quais o ego passa. A imaginação vibra na Noosfera. Ela é superior aos pensamentos que vibram na Psicosfera. O que a Animagogia chama de Noosfera, a Teosofia chama de Mental superior e seria essa dimensão chamado “mundo das causas”. Ou seja, é aqui que se cria tudo o que existe nas dimensões abaixo ela, a Psicosfera e a Noosfera. Por exemplo, o corpo dos animais ou novas plantas não surgem por acaso, mas são planejadas na Noosfera por Espírito humanizados desligados do ego. E também o corpo físico que vamos vestir durante a nossa encarnação. Através da imaginação do Espírito humanizado, ele vai projetar o seu corpo astral (perispírito), que vai vibrar na Psicosfera, articulando, ao seu redor, as radiações das sinergias funcionais, ou seja, uma aura de forças mentais com determinadas cargas de emoções e pensamento. Tudo isso vibra na Psicosfera e aproxima, vibratoriamente, os “iguais”, os que vibram na mesma frequência, os chamados “amigos de fé e irmãos camaradas”, segundo pai Joaquim de Aruanda. E como afirmava Jung, não temos como quantificar as energias das emoções e dos pensamentos. Podemos, apenas, sentir a intensidade de uma emoção e compreender a qualidade de um pensamento. E é através do pensamento que estabelecemos uma afinidade vibracional que nos ajuda a compreender a frase “é dando que se recebe”, da oração de Francisco de Assis ou a lição


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de Paulo (6:7), de que “iremos ceifar aquilo que semearmos”. Em suma, cada Espírito humanizado, esteja encarnado ou desencarnado, pelo poder vibratório emanado, imprime um qualitum que estará manifesto em sua personalidade (ego) e será capaz de fortalecer ou enfraquecer o sistema imunológico, facilitando ou não a ação de bactérias, fungos, vírus e outros elementos patogênicos tanto no corpo astral como no corpo físico, no caso dos encarnados. Assim, a TVI, através de suas 12 técnicas, atua de forma integral, atuando no campo físico e mental (que compreende o emocional), buscando desobstruir os “canais” energéticos, permitindo que a energia pura e curativa do Espírito (que vibra na Logosfera) possa chegar ao corpo físico, no caso dos encarnados, sem interrupção da mente e das emoções, sobretudo as “negativas”. Porém, mesmo reconhecendo que o Universo pode ser pensando como um reino de oscilações, e que a matéria é suscetível de converter-se em ondas de energia, inclusive o nosso corpo físico, a matéria existe, como discutimos em um capítulo anterior. Ou seja, ela não é um mero reflexo do pensamento, como o idealismo costuma dizer. Esta filosofia que está presente no movimento que vem sendo intitulado como “misticismo quântico” afirma que basta pensar para mudar a cor da pele, o sexo ou fazer nascer um membro amputado. Em outras palavras, mesmo não tendo substancialidade, um ensinamento milenar budista, e sendo, em sua essência, um tecido vasto de átomos em movimento, arrastando turbilhões de ondas em frequências inumeráveis, cruzando-se em todas as direções, a matéria não é uma mera projeção da nossa mente e possui uma finalidade providencial. Na Psicosfera o idealismo se aplica. Por exemplo, um Espírito humanizado que desencarna sem a perna ou cego pode continuar se vendo no astral com essas deficiências. Mas se ele mudar o foco do pensamento, ele consegue voltar a enxergar e reconstruir sua perna. Até voar o desencarnado é capaz com a força do pensamento. Mas na Biosfera ele precisa trabalhar em conjunto com as leis naturais que regem essa dimensão. Como já salientamos, a Animagogia compreende a matéria como um elemento fundamental para o Espírito, em sua fase humanizada, adquirir sabedoria e experiência de vida ao longo das


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inúmeras encarnações. E mesmo que ainda não tenhamos o conhecimento suficiente para compreender o meio sutil em que os sistemas atômicos oscilam, chamado de “campo” por Einstein (1879-1955), de “Fluido Cósmico” pelos espiritistas e de “energia escalar” por Nikola Tesla (1856-1943), cientista austríaco que se destacou no campo dos estudos sobre os fenômenos eletromagnéticos, a Animagogia não se coloca nem ao lado dos materialistas, para quem a consciência é um epifenômeno da vida orgânica, e nem ao lado dos idealistas (solipsistas), para quem a matéria não existe, sendo apenas uma projeção mental. A Animagogia reconhece a existência da matéria, mas, ao contrário, do cientificismo dominante (seja o mecanicismo ou o energismo), não compartilha da teoria que afirma ser a matéria fruto do acaso ou do “indeterminismo quântico”. Em suma, pautandose pelo bom senso, não se coloca em nenhum dos extremos, nem o materialista e nem o idealista, no qual se destaca a polêmica informação do suposto ser incorpóreo Saint Germain, em um de seus livros canalizados, que é possível alguém “dormir em um corpo de homem negro africano e acordar no corpo de uma mulher loira alemã” usando apenas o poder mental. O pensamento é importante, sem dúvida, e junto com a oração (lembrando que orar não é, necessariamente, repetir palavras ou frases decoradas, mas emanar do coração nossos mais sinceros agradecimentos e pedidos a Deus) podemos manipular o “fluido cósmico”, ainda mais se o processo é vivenciado com o amor universal, sem julgamentos ou condicionalidades. Como acreditava Gandhi, o amor de um é capaz de neutralizar o ódio de milhões. E sobre o valor do amor, escreveu o clarividente C . W . Leadbeater no livro O lado oculto das coisas: “Consta que em alguma parte do deserto, perto de Alexandria, havia um mosteiro cujo abade possuía faculdades de clarividência. Entre os monges, dois jovens gozavam da reputação de pureza e santidade. (...) Observando o primeiro viu que ele se fizera rodear de uma cintilante concha de cristal e quando os demônios da tentação começavam a atormentá-lo, se chocavam contra essa concha e retrocediam (...). Depois olhou para o segundo monge e viu que ele não formava nenhuma concha, mas estava com o coração repleto de amor, irradiando-se incessantemente em todas


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as direções sob a forma de torrentes de amor ao próximo que, quando os demônios tentadores investiam com intenções pérfidas, eram transformados por aquela efusão de força. (...) O abade declarou que o segundo monge estava mais próximo do reino dos céus que o primeiro. É possível que muitos de nós não tenhamos alcançado o nível do segundo monge; mas, pelo menos, a história exprime um ideal mais elevado que o simples desejo de autoproteção”. Pelo exposto acima, podemos dizer que o “Orar e vigiar” é uma forma de lidarmos com as forças espirituais (vamos chamar aqui de divinum) e conseguir nos defender criando campos energéticos de proteção, como o primeiro monge, mas buscando como ideal, o exemplo do segundo, no qual não há necessidade de se defender. O qualitum (energia mental que vibra na Psicosfera) pode ser construtivo ou destrutivo, proporcionando alcançar resultados tangíveis como a somatização de doenças, de um lado, ou a facilitação da cura, de outro, inclusive de desencarnados. Podemos dizer que nosso “padrão vibratório” aumenta conforme a nossa capacidade de converter nossa vontade de prazer em prazer em servir. E o cérebro se comportaria como um poderoso “processador” capaz de receber diferentes correntes vibratórias e as transformar em imagens, vozes, cores, palavras, entre outros sinais adequados às faixas de sintonia natural da Terra, o ambiente em que vivemos atualmente a nossa existência. Porém, na ótica da Animagogia, não seria o cérebro o responsável pelo pensamento. Pensar é uma habilidade espiritual, ou seja, um atributo da consciência do Ser. O pensamento é o modo de o Espírito modelar o qualitum à sua vontade, dando-lhe formas, propósitos e objetivos. Mas ele não é passível de quantificação, apesar de ser possível qualificá-lo, como já salientamos. É por essa razão que podemos afirmar que todos nós somos agentes de indução e que o nosso pensamento, ao ser exteriorizado na forma de ondas, voltará para nós enriquecido com os daqueles (encarnados ou não) que estão sintonizados com as mesmas criações mentais, ou seja, que estão na “mesma frequência”. Nossa vida humanizada (encarnada ou não) é fruto das afinidades vibracionais . Assim, torna-se fundamental o autopoliciamento de nossa vida mental, sem paranoias, obviamente. Esse “vigiar” é


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importante se pretendemos nos sintonizar com as esferas mais sublimes como a Noosfera (onde vibra o Espírito humanizado incorpóreo) e, também, com a Logosfera (a dimensão espiritual onde vibra o Espírito, imagem e semelhança de Deus), onde nossa consciência está liberta de toda e qualquer interferência humanizada. Esse pressuposto da Animagogia vem ao encontro do ensinamento de André Luiz presente no livro Mecanismos da mediunidade: “Estamos ligados em Espírito com todos os encarnados ou desencarnados que pensam como pensamos, tão mais estreitamente quão mais estreita a distância entre nós e eles, isto é, quanto mais intimamente estejamos comungando a atmosfera mental uns dos outros, independentemente de fatores espaciais. Uma conversação, essa ou aquela leitura, a contemplação de um quadro, a ideia voltada para certo assunto, um espetáculo artístico, uma visita efetuada ou recebida, um conselho ou uma opinião representam agentes de indução, que variam segundo a natureza que lhes é característica, com resultados tanto mais amplos quanto maior se nos faça a fixação mental ao redor deles.” Sabemos que a perspectiva biomédica moderna ainda se preocupa muito mais com a doença (o processo de o Espírito drenar seu psiquismo doentio através do corpo físico) do que com o doente em si. Essa drenagem receberá infinitas nomenclaturas: lepra, tuberculose, câncer, AIDS etc. Isso talvez ocorra pelo fato de a causa da moléstia ser, quase sempre, dinâmica e oculta aos olhos físicos. O Espírito humanizado encarnado, em desarmonia, despeja na carne os fluidos deletérios e só será pensado como doente quando o processo de materialização física se tornar evidente, alterando os tecidos, deformando órgãos, perturbando os sistemas vitais. Como já foi salientado, para a Animagogia é por intermédio da mente que se pode modificar a ética dos sentimentos, agindo sobre nosso temperamento e, também, sobre a organização celular do organismo físico. E nesse processo, o Espírito humanizado


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se serve do cérebro para produzir ondas de forças que circulam por todo o corpo físico e graduam-se conforme o campo energético. Ramatís, no clássico livro Fisiologia da Alma, faz a seguinte correlação entre os pensamentos/sentimentos e seu efeito no corpo físico: “... O medo ataca a região umbilical, na altura do nervo vagossimpático, e pode alterar o funcionamento do intestino delgado; a alegria afrouxa o fígado e o desopila da bílis; enquanto o sentimento de piedade reflui instantaneamente para a região do coração. A oração coletiva e sincera, da família, ante a mesa de refeições é bastante para acalmar muitos espasmos duodenais e contrações opressivas da vesícula hepática, assim como predispõe a criatura para a harmonia química dos sucos gástricos. O corpo físico é o prolongamento vivo do psiquismo; é a sua forma condensada na matéria, por cujo motivo sofre com os mais graves prejuízos os diversos estados mórbidos da mente. A inveja, por exemplo, comprime o fígado, e o extravasamento da bílis chega a causar surtos de icterícia, confirmando o velho refrão de que a ‘criatura quando fica amarela é de inveja’. O medo produz suores frios e a adrenalina defensiva pode fazer eriçar os cabelos, enquanto a timidez faz afluir o sangue às faces, causando o rubor. Diante do inimigo perigoso, o homem é tomado de terrível palidez mortal; a cólera congestiona de sangue o rosto, mas paralisa o afluxo de bílis e enfraquece o colérico; a repugnância esvazia o conteúdo da vesícula hepática que, penetrando na circulação, produz náuseas e as tonturas.” Após essa pequena digressão, podemos afirmar que a pessoa que pretenda utilizar a TVI como atividade psicossocial e educativa não deve descuidar de sua Animagogia, ou seja, de seu processo de despertar espiritual buscando integrar o ego (persona) ao Self (alma). Quem cultiva pensamentos elevados e evita todos os excessos de natureza física ou psíquica aumenta sua vibração, permitindo alcançar melhores resultados com a prática, tanto com os encarnados como também com os desencarnados. Por seu lado, o participante que busca o auxílio da TVI, seja com as meditações,


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com os tratamentos bioenergéticos ou com as práticas de Chi Kung, necessita estar receptivo para recolher em sua constituição fisiopsicossomática os glóbulos de vitalidade disponibilizados com as práticas e, também, potencializar sua força de vontade e melhorar a qualidade vibratória de seus pensamentos (qualitum), sem descuidar de sua metanoia ou processo de individuação para que possa despertar cada vez mais sua sensibilidade espiritual e permitir que sua energia (divinum) se manifeste em sua vida humanizada, pois todos nós somos Homo spiritualis. Enfim, as enfermidades resultam da desarmonia do indivíduo diante das leis numinosas que atuam sobre o plano físico (Biosfera), emocional e mental (Psicosfera). Sobre esse assunto encontramos ainda no livro Fisiologia da Alma uma frase tão significativa que merece reprodução: “O volume de cólera, inveja, luxúria, cobiça, ciúme, ódio ou hipocrisia que porventura o Espírito tenha imprudentemente acumulado no presente ou nas existências físicas anteriores forma um patrimônio ‘morbo-psíquico’, uma carga insidiosa e tóxica que, em obediência à lei da harmonia espiritual, deve ser expurgada da delicada intimidade do perispírito. O mecanismo ajustador da vida atua drasticamente sobre o Espírito faltoso; ao mesmo tempo que o fardo dos seus fluidos nocivos e doentios vai-se difundindo depois pelo seu corpo físico.” Podemos inferir que a vida humanizada do Espírito não tem nada de fatalidade. Existe uma relação dinâmica entre as forças cósmicas e as da vontade individual de forma que, podemos não ter o “merecimento” hoje para uma cura, mas, amanhã, dependendo de nossas atitudes, mudando os pensamentos e sentimentos com os quais reagimos diante das vicissitudes da vida, nós poderemos vir a ter. Mas, ao contrário do “misticismo quântico” que acredita que tudo é uma projeção da mente e que podemos ter tudo aquilo que nosso ego desejar, a Animagogia reconhece o valor positivo da dor para o nosso amadurecimento espiritual, questão também analisada sabiamente por Ramatís, no mesmo livro:


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“Embora a dor e o sofrimento sejam desagradáveis, a sua função é a de transformar a vestimenta perispiritual oriunda das energias telúricas do mundo animal na contextura delicada da túnica Angélica. A encarnação do Espírito nos mundos planetários é providência abençoada, que desenvolve a sua consciência e proporciona-lhe a oportunidade de alcançar a ventura pelo mérito do esforço pessoal. A sua demora no contato com a matéria provém do desejo sempre insatisfeito e do apelo demasiado à grande ilusão da vida física, como se esta fora a verdadeira vida. Os entretenimentos ilusórios da matéria e as paixões perigosas, quando muito cultuados, enfraquecem a vontade e a hipnotizam de retorno à linhagem animal que constitui a base do perispírito. Mas é de lei divina que todas as almas terminem saturando-se pela mediocridade dos sentidos físicos e modifiquem seus planos e destinos, para buscarem em definitivo as compensações elevadas dos mundos espirituais.” Assim, a única fatalidade que parece existir é a de que, mais cedo ou mais tarde, todos vão se libertar da necessidade de reencarnar, vencendo a fase humanizada do Espírito. E esse processo acontece com o desapego material, sentimental e cultural, e com os atributos do Espírito se manifestando em nossa vida humanizada. Esta mudança consciencial ou metanoica também ajuda a pessoa a se tornar mais eletiva a um tratamento bioenergético e espiritualista, como é o caso da Terapia Vibracional Integrativa. Em outras palavras, uma doença física decorrente da purificação do perispírito, comprometido em encarnações anteriores, poderá ser curada ou aliviada se, na atual encarnação, o enfermo se esforçar para melhorar seu padrão vibratório, mudando os sentimentos e os pensamentos, pois assumir a responsabilidade pela própria cura é um importante caminho para a aquisição de “méritos”. A mente é capaz de afetar todas as partes do ser humano, atuando sobre o sistema nervoso, linfático, endócrino, circulatório etc., podendo alterar a composição e o funcionamento dos órgãos físicos. Isso não quer dizer que pelo pensamento é possível mudar a cor da pele ou dos olhos, ou mesmo de sexo, como se a matéria


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fosse apenas uma projeção mental. A TVI apenas induz o participante a se retificar psiquicamente, buscando uma purificação do Ser de dentro para fora. Na vivência, os glóbulos de vitalidade atraídos do sol e outras vibrações superiores interpenetram o perispírito do participante, processando desde a esfera mental até as extremidades do corpo físico e, como catalisadores, aceleram reações no organismo combalido. O mesmo vale para o desencarnado, mesmo que este não tenha mais o corpo físico, apenas o corpo astral. A prática, neste sentido, intensifica e eleva a energia vital sempre que o participante desperta sua natureza receptiva, predispondo seu campo psíquico (mental e emocional) para a absorção da energia dinamizadora. E no caso de se tratar de uma “enfermidade cármica”, ou seja, de uma doença adquirida, em tese, em uma vida passada e que a encarnação atual seria o tratamento balsâmico? Neste caso, mesmo que a cura plena não aconteça, a pessoa pode aprender como estabelecer uma relação mais harmoniosa com a enfermidade. Novamente encontramos em Ramatís uma elucidativa análise espiritual desse problema: “... Mesmo a criatura mais deserdada na vida física ainda pode servir-se de sua vontade e atuar na origem ou na essência de sua vida imortal, usando de força mental positiva para desatar as algemas da infelicidade, ou sobrepujar em Espírito os próprios efeitos cármicos do seu passado delituoso. Então é a própria lei cármica que passa a ser dirigida pelo Espírito em prova e que inteligentemente procura ajustar-se ao curso exato e evolutivo da vida espiritual, integrando-se ao ritmo natural de seu progresso; ele abstém-se de resistir ao impulso sábio que lhe vem do mundo oculto do Espírito e harmonizase paciente e confiante aos objetivos do Criador. (...) As criaturas confiantes no sentido educativo da vida humana não só extraem as mais vigorosas energias da própria dor, como ainda superam o seu sofrimento acerbo e produzem obras e trabalhos notáveis”. Assim, o paciente eletivo, que apresenta predisposição para o tratamento vibracional, é aquele que dinamiza em si uma dispo-


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sição animadora para as energias curativas. O excesso de condições psíquicas negativas dificultará essa incorporação energética. Por isso se diz que a Fé, a Vontade e o Merecimento são necessários para um melhor sucesso terapêutico. E como foi possível constatar nas citações acima, cabe ao próprio Espírito humanizado adquirir merecimento para se tornar eletivo a um tratamento bioenergético. A crença nas forças magnéticas e a convicção na sobrevivência da alma são fatores que ajudam a avivar e a clarear o campo da aura, permitindo que a energia melhor circule durante as práticas. Livre das energias inferiores ou do bombardeio de petardos tóxicos da mente desordenada, o paciente terá mais sensibilidade espiritual e se sintonizará com mais facilidade com as energias balsâmicas. Assim, quanto mais consciente e convicto da sobrevivência espiritual, mais receptivo estará à ação terapêutica vibracional. O filósofo alemão Schopenhauer, estudioso do budismo, escreveu: “Hoje em dia (século XIX), quem não acredita no magnetismo não é cético, é um ignorante”. O que poderia ser dito, então, neste limiar de século XXI? Felizmente, o número de pessoas cujas condições mentais e emotivas são ideais para um tratamento terapêutico vibracional aumenta a cada dia. Mesmo assim, muitos enfermos estão viciados em procurar uma doença, sem saber que é seu psiquismo perturbado, nesta ou em outra encarnação, que gerou seu problema mórbido. Para estes, infelizmente, resta apenas submeter-se à medicação tóxica e à peregrinação por consultórios médicos, nos quais todo o seu organismo é minuciosamente esquadrinhado sem que um resultado satisfatório apareça, pois, na maioria dos casos se está buscando apenas uma diagnose externa. A Terapia Vibracional Integrativa ajuda a aliviar a carga mórbida do psiquismo, tanto do encarnado como do desencarnado, mas não tem forças para violar o “livre-arbítrio” de ninguém, nem para modificar o “caráter espiritual” de ninguém. Uma criatura descontrolada irá, com o tempo, comprometer novamente seu psiquismo caso volte a perpetrar os mesmos desatinos espirituais. A TVI não tem como impor os princípios morais superiores. No meio espiritista conta-se, com frequência, a história de uma pessoa que, no planejamento de seu resgate cármico, antes de


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encarnar, foi informada que poderia vir a perder um braço em um acidente. Porém, após encarnar, conseguiu graças a sua benevolência enxugar parte dessa toxidade astral com o amor; assim, ao sofrer o inevitável acidente, perdeu apenas um dedo e não o braço. Enfim, podemos considerar que só há dois caminhos para nos livrar de um “carma”: o amor ou a dor. Porém, sempre recebemos apenas o que necessitamos e merecemos. No exemplo acima, este Espírito humanizado adquiriu merecimento positivo durante a atual encarnação e quando o acidente programado para acontecer em sua encarnação ocorreu, a colheita se tornou menos dolorosa. Em outras palavras, podemos entender que havia uma toxidade em seu corpo astral para ser drenada durante a encarnação. E ele tinha um tempo para drená-la através do amor. Por ter aproveitado este tempo, a dor foi menor. Se não tivesse aproveitado, precisaria drenar essa toxidade perdendo todo o braço no inexorável acidente programado para acontecer em sua encarnação. De uma forma ou outra, o “resgate” aconteceria. Mas temos sempre a liberdade de optar em enxugar o carma com o amor ou com a dor. Seja no meio espiritista, ocultista ou esotérico, afirma-se que muitas vezes enfrentamos moléstias que nós mesmos solicitamos antes de nossa reencarnação, com o objetivo de purificarmos nosso corpo astral ou perispírito. Neste caso, a dor adquire caráter educativo para o Espírito humanizado, auxiliando-o para que não mais cometa os mesmos “erros”. Porém, mais do que uma punição, trata-se de uma bênção divina para o Espírito humanizado que busca superar a fase humanizada em sua caminhada pela eternidade. E a frustração ou o sofrimento quando se vivencia uma vicissitude negativa pode ser atenuado ou nem existir, quando aceitamos que a vida não é feita apenas por momentos positivos ou agradáveis. Como salientado neste livro, em uma das perguntas que Kardec faz ao Espírito Verdade em O livro dos Espíritos, ele questiona se alguém está fadado a viver uma encarnação infeliz. E a resposta que ouve é que está confundindo o que está programado para acontecer e o livre-arbítrio moral de cada um de nós. Viver feliz ou infeliz é fruto do livre-arbítrio, é um estado de Espírito. É por isso que o Budismo ensina aos seus discípulos a serem felizes incondicionalmente, ou seja, não permitindo que as coisas que


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acontecem no mundo exterior lhe tirem a paz interior. Aquele que se condiciona a ser feliz somente quando acontece aquilo que considera agradável, corre sim o risco de ter uma vida inteira de infelicidade. Cabe ao Espírito humanizado ser feliz, independentemente das coisas que lhe acontecem durante a encarnação. A TVI, portanto, é um método psicossocial e espiritual que visa ajudar a acender a centelha do divino na vida cotidiana, cultivando nos participantes o despertar do Homo spiritualis, ou seja, de vivenciar com habilidade espiritual nossa vida humanizada. Sua meta é permitir a integração da alma (Self, em sentido junguiano) ao ego (a consciência humanizada da personagem criada para mais uma encarnação). Na TVI vamos proporcionar condições mais otimistas e estimulantes para o autoconhecimento e para a cura. Porém, se não houver a contrapartida do enfermo, nenhum êxito encontrará nesse tipo de tratamento. A TVI procura proporcionar ao participante reconhecer o absoluto por trás do contingente, a eternidade por trás do tempo, o qualitum por trás do quantum, transmutando padrões estagnados de energia em seu corpo físico e também no perispírito, ao mesmo tempo em que expande a consciência, favorecendo o processo metanoico e, consequentemente, uma maior abertura ao Outro, à natureza, tornando-se uma pessoa mais cooperativa e solidária. É por isso que a TVI, com as suas técnicas, é, simultaneamente, um trabalho espiritual e psicossocial. É comum encontrar participantes narrando a visualização de cores, sentindo muito calor nas mãos ou uma corrente de vibração agradável dirigindo-se para os pés ou se espalhando por todo o corpo físico. Outros começam a bocejar, a lacrimejar ou a salivar o que, segundo médicos taoístas, seriam sintomas típicos de transmutação de energia estagnada . Por meio do contato mediúnico com alguns mentores espirituais soubemos que os movimentos do Chi Kung auxiliam na limpeza energética do perispírito, o que ajuda também os desencarnados. Assim, a sensação de plenitude e a troca energética são um fato, mesmo que ainda não tenhamos tecnologias para medir ou quantificar essa energia. Em todas as práticas (meditação, Chi Kung e tratamento bioenergético) é frequente o participante visualizar imagens nítidas e intensas durante a realização. Isso significa que


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conseguiu transcender o ego e acessou aquela dimensão que Henry Corbin chamou de imaginal e que denominamos, na Animagogia, como Noosfera. Estas visões numinosas não são simples fantasias de nossa mente consciente, tanto que, se tentamos dominar mentalmente essas imagens, elas simplesmente desaparecem. O olho físico e a mente racionalizadora não são capazes de retê-las. Com as meditações, a imposição das mãos ou o Chi Kung busca-se atingir as dimensões mais sublimes e os estados ampliados de consciência, despertando os atributos do Espírito, adormecidos durante o processo de humanização e encarnação. Vamos abordar agora as técnicas que formam a TVI, conforme sua sistematização entre os anos de 2001 e 2003, através de reuniões mediúnicas que aconteceram no antigo Centro de Estudos e Vivências Cooperativas e para a Paz Encantos da Lua, embrião da ONG Círculo de São Francisco. Por motivos pessoais, o médium que foi o responsável por este intercâmbio mediúnico não autoriza a divulgação de seu nome. Mas, entre as entidades comunicantes, as que foram mais presentes se identificaram com os seguintes nomes: Dr. Felipe, Pena Branca, Folha Verde, Tupã, Flor de Lótus, pai Tomé, Zézinho, entre outras. A TVI é formada por práticas meditativas, por tratamentos bioenergéticos através de imposição das mãos e práticas de Chi Kung, ou seja, de movimentos corporais harmônicos que permitem a criação de um estado de hipoatividade psíquica no participante. Em 2001, sem saber ainda que era Chi Kung o que estávamos aprendendo com a espiritualidade, eu chamei esses movimentos de “danças numinosas”. Este é o nome que aparece em meus primeiros livros, escritos em 2003 e 2004. Todas as práticas acima induzem a uma lenta e progressiva dessensibilização dos estímulos exteriores, ou seja, de desligamento do ego, conduzindo o participante a um estado sereno e pacífico, em alguns casos similares aos estados extáticos conhecidos como zazen e samadhi, relatados pelas filosofias orientais. Além de proporcionarem uma sensação de plenitude, as práticas de Chi Kung, as induções animagógicas das meditações e a imposição das mãos eliminam no participante quase todas as estruturas cognitivas que formam o ego durante o estado de vigília e que, para nós ocidentais, são as “normais”.


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As categorias distintivas que compõem nosso mundo fenomênico também tendem a ser abolidas (objeto, sujeito, tempo, espaço), favorecendo uma ampliação da consciência e possibilitando transcender as energias que formam o ego, alcançando outras vibrações mais sutis, que identificamos como sendo as da alma (Self) e do Espírito (Logos). Nas práticas de Chi Kung, a potência simbólica da linguagem corporal, potencializada no rito corporal, permite a comunicação/interação do corpo/mente com a alma. Os movimentos harmônicos e ritmados, somados com a respiração e a intenção, possibilitam amplificar a recepção do fluxo energético proveniente da Noosfera e, às vezes, de esferas ainda mais superiores. A prática da TVI, em nosso ambiente cibernético-informacional contemporâneo, favorece o desabrochar do Homo spiritualis, tornando-nos conscientes de sermos um Espírito eterno vivenciando uma experiência humanizada e encarnada. E por ser uma técnica de tratamento numinosa e neg-ativa (no sentido da não ação, o wu wen taoísta) é capaz de nos levar a atingir um estado hipermetabólico oposto ao estado de vigília ou, em outras palavras, um estado ampliado de consciência. Nas primeiras experiências, a pessoa pode vivenciar apenas uma sensação agradável de descontração e tranquilidade. Porém, com a prática, é possível chegar ao êxtase (a capacidade de colocar o organismo e todo o Ser a serviço de uma comunhão metacognitiva, despertando o Self e permitindo a contemplação do numinoso em todo seu esplendor). E por ser uma técnica que estimula o participante a se entregar às atividades metacognitivas, é possível acessar imagens arquetípicas curativas que se escondem no âmago do Ser, no Self. Nesse sentido, não se trata de um estado alterado de consciência, mas de um estado ampliado de consciência. Do ponto de vista terapêutico, a TVI auxilia todos aqueles que buscam tratamento para as contradições da existência por intermédio da unidade do Espírito. O mundo moderno, caracterizado pela esquizofrenia, pode se beneficiar com essa técnica. Professores e outros profissionais que lidam com o público e sofrem um tipo agudo de estresse classificado pelos profissionais da saúde como Burnout também se sentem aliviados após cada sessão. Mas é importante ressaltar sempre que o principal objetivo da técnica é auxiliar no desa-


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brochar do Homo spiritualis para que possamos viver nossa vida humanizada com habilidade espiritual. Como salientamos, a TVI é composta por Meditações Integrativas, por técnicas bioenergéticas de imposição das mãos e por práticas de Chi Kung. As Meditações Integrativas são meditações guiadas que utilizam técnicas de relaxamento e também o uso de visualizações de cores, de imagens curativas etc., com induções animagógicas, ou seja, espiritualistas. Desde 2003 vem sendo realizada, com resultados empíricos positivos, em diferentes grupos sociais: portadores de necessidades especiais, soropositivos, pessoas que se tratam com quimioterapia, professores, idosos, jovens que estão superando a crise de abstinência causada pelo vício das drogas, policiais e profissionais da saúde estressados, educadores vitimados pela síndrome de burnout, entre outros. E o mais importante, tanto o ensinamento da técnica como sua aplicação é sempre realizada de forma voluntária e gratuita. Neste capítulo vamos apresentar as técnicas ensinadas nos cursos e que podem ser reproduzidas facilmente, bastando ter vontade, pensamento elevado, imaginação criativa e muito amor para doar. As informações abaixo se baseiam nos depoimentos dos próprios participantes, coletados desde 2003, sem a preocupação em fazer um estudo científico e estatístico para se quantificar estes dados . Acreditamos que o aspecto qualitativo e o bem-estar do participante sejam mais importantes que qualquer busca por dados objetivos. O que não significa que um pesquisador interessado não possa vir a fazer tal pesquisa. A partir da experiência realizada ao longo destes anos, alguns benefícios empíricos notados com a prática são os seguintes: 1. Facilita o (re)envolvimento humano, sobretudo consigo mesmo e com os outros . A pessoa passa a dar mais atenção às questões espirituais e, através dos relaxamentos, das induções animagógicas e das imagens hipnagógicas terapêuticas, cria-se uma ambiência bioenergética que permite tratar diferentes enfermidades físicas, emocionais e mentais, além de propiciar um conforto espiritual. 2. Pode ser facilmente reproduzida por profissionais da área da saúde, da educação e de outros setores, como animadores culturais e líderes comunitários, sem dificuldades,


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ainda mais após a edição do CD Meditações Integrativas, em 2014, que apresenta seis modelos de meditações guiadas. 3. Sua prática diminui a incidência de estresse, ansiedade, síndrome de burnout etc., prevenindo o surgimento de enfermidades físicas, mentais e emocionais, além da possibilidade de despertar a emergência espiritual em várias pessoas (sobre este tema, leia nosso texto emergência espiritual e metanoia, que pode ser acessado gratuitamente na internet). 4. Amplia o controle da mente, por parte do participante e, consequentemente, sua capacidade de resolver problemas com criatividade, otimismo e alegria. 5. Amplia o controle emocional e aumenta o poder da intuição, a criatividade e capacidade para enfrentar as crises e as vicissitudes existenciais. E como são realizadas as meditações integrativas? 1. Todas as meditações começam com um relaxamento induzido. A pessoa pode fazer deitada em um colchonete ou sentada. Não é aconselhado fazer a prática em pé. O participante é convidado para fazer uma longa respiração e imaginar uma luz azul clara e brilhante se formando no topo da sua cabeça. Gradativamente, ela é convidada para imaginar a luz se espalhando e envolvendo todo o seu corpo, da cabeça aos pés. Em seguida, o participante é estimulado a relaxar todo o seu corpo, imaginando, primeiramente, a luz nos pés. Comandos para que sinta os pés ficando relaxados, sem tensões e sem dores são dados, lentamente e com a voz pausada e calma. Em seguida, o mesmo comando é dado para as pernas, coluna, musculatura das costas, ombros, pescoço, braços e cabeça. Comandos para relaxar o cérebro e as ondas mentais também devem ser dados. A cor azul é extremamente relaxante e anestésica. O único risco é a pessoa dormir e não acompanhar o resto da indução. Porém, temos notado que o inconsciente acompanha a indução e o tratamento é realizado mesmo com a pessoa dormindo. O relaxamento é acompanhado, em seguida, de uma meditação guiada, realizada com induções animagógicas. As possibilidades são infinitas. Vamos descrever aqui


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algumas que estão no CD Meditações Integrativas, lançado em 2014. 2. Limpeza do ambiente doméstico e de trabalho com a mentalização das cores - Duração: entre 5 a 10 minutos. Não há uma ordem ou sequência ideal para se fazer a indução. Tudo depende da necessidade do grupo participante. No CD meditações integrativas, a faixa 2 do CD 1 (relaxamento curativo), há um modelo de como a indução animagógica pode ser feita. De forma geral, após o relaxamento, a pessoa será induzida a imaginar energias coloridas, incluindo a cor lilás, sempre em tonalidades claras e brilhantes, saindo das mãos de Jesus, Maria (ou de outros seres de Luz que o grupo venera e respeita). Em seguida, a pessoa será induzida a se dirigir mentalmente até a residência ou ao ambiente de trabalho, sempre na companhia desse ser de Luz e fazer as limpezas energéticas necessárias. Mentalmente, cada participante deverá passear por todos os cômodos de sua casa, permitindo que este ser de Luz limpe toda a energia negativa presente no ambiente. Alguns lugares, como embaixo de escadas, quartos onde dormem pessoas que consomem drogas e até mesmo banheiros costumam ser descritos como locais onde encontram dificuldades para entrar. É preciso insistir. Uma variação da técnica, que costuma ser muito interessante, é o grupo, quando reúne pessoas conhecidas, ir à casa de apenas um dos participantes. A vibração é muito mais intensa e ganha em qualidade. É sempre importante na indução pedir a esse ser de Luz que recolha eventuais desencarnados sofredores ou obsessores que lá se encontrem, conduzindo-os para hospitais ou colônias adequadas ao grau de compreensão e merecimento que possuem. 3. Tratamento de mágoas, luto e ressentimentos – Duração: de 15 a 20 minutos Esta proposta de indução animagógica também se encontra no CD meditações integrativas. Trata-se da faixa 4, do CD 1 . Essa meditação trabalha com a vibração da cor rosa. Após envolver todo o seu corpo, cada célula e, sobretudo, seu chakra cardíaco, ela usará mentalmente essa vibração para


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limpar toda energia negativa acumulada nela devido, sobretudo, aos sentimentos de mágoa. A indução consiste em mentalizar entre as mãos pessoas que fizeram ou falaram algo que a ofendeu e, do fundo do coração, deverá perdoar a(s) pessoa(s). Deverá fazer o mesmo com aqueles que ela acredita que ofendeu e, em seguida, deve se perdoar, aceitando-se como é. 4. Varredura do passado – Duração: de 20 a 40 minutos Esta técnica pode ser realizada de várias maneiras. Um exemplo se encontra na faixa 1, do CD 2 do projeto Meditações Integrativas. Uma que tem sido bem recebida pelos participantes é induzi-lo a voltar ano a ano em sua existência, mentalmente, e sempre que se lembrar de uma experiência desagradável, imaginar toda a energia mental e sentimental associada a ela na forma de um objeto que será jogado no lixo. A pessoa pode imaginar um saco de lixo preto e ir colocando todos esses “objetos”. No fim do processo, deverá fechar o saco de lixo e o entregar nas mãos de Deus, livrandose daquele fardo. Em seguida, recebe de Deus uma chuva de luz dourada para reenergizar todo o seu ser, potencializando as energias físicas, mentais e emocionais. Muitas pessoas sentem muita troca energética e se espantam. Enfim, como diz a Bíblia, “Aí de quem cai nas mãos do Deus vivo”. A pessoa acostumada apenas com o cumprimento das obrigações formais de sua igreja ou dedicada apenas à vida profana, costuma se assustar quando passa por um momento de liberação e transformação de energias estagnadas, despertando para novas dimensões de experiência e consciência. Com essa técnica é possível acessar vidas passadas. E também fazer regressões coletivas, levando o grupo a acessar uma encarnação onde todos estiveram presentes. 5. Meditação dos 4 elementos – Duração: entre 15 a 20 minutos A técnica consiste em utilizar a visualização dos quatro elementos - terra (montanha), água (cachoeira ou chuva), ar (vento) e fogo (chama de uma vela), para a realização de um exercício bioenergético que atua, respectivamente, no corpo físico, sobre as emoções, na mente e, no fim, buscar despertar os atributos do Espírito.


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Através da energia dos quatro elementos acessada através da visualização e das induções animagógicas, o participante costuma sentir resultados benéficos em si e na interação com o grupo. Esta meditação não deixa de ser um exercício xamânico sem o uso de elementos psicoativos. Apenas o poder da imaginação criativa é usado para se atingir estados ampliados de consciência e a transmutação energética capaz de realizar inúmeras curas psicossomáticas. Essa técnica costuma ser utilizada nas vivências e cursos onde abordo o poder curativo das imagens hipnagógicas. O trabalho começa com a pessoa se imaginando em uma paisagem serena subindo uma montanha. Ela procura sentir a relva e o aroma do lugar. E, no topo da montanha, ela deve ser induzida a sentir a energia da Terra entrando pelas plantas dos pés e envolvendo todo o seu ser, renovando suas energias e o fortalecendo fisicamente. Em seguida, mentalizará um banho de cachoeira ou uma chuva suave caindo sobre a sua cabeça. E a água que desce do céu pura e cristalina entra por todos os seus poros e envolve todas as células de seu corpo físico e astral, purificando-as de toda energia emocional negativa. Toda vibração negativa é transmutada por essa água benfazeja. A terceira etapa consiste em sentir o ar agradável de uma brisa, soprando sobre o corpo. Esse ar desmancha todas as formas-pensamento negativas, miasmas e sujeiras mentais acumuladas no cotidiano. Por fim, a pessoa mentalizará dentro de si, na altura do coração uma chama simbolizando o seu Espírito puro e perfeito. Esta chama se expande infinitamente irradiando luz para todos os lados, permitindo uma agradável sensação de paz e felicidade indelével, e um amor indizível por toda a criação divina . Um exemplo de como conduzir essa meditação se encontra no CD 1, na sua faixa três, do projeto Meditações Integrativas. Este CD apresenta outras induções, valorizando o poder intuitivo do praticante e até para quem deseja fazer, com segurança, vibrações para o planeta.


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A seguir, vou apresentar duas outras técnicas que também são ensinadas no curso de TVI. 1. O poder da prece – Esta técnica serve para o participante comprovar o valor energético de uma prece e é propedêutica para os exercícios de Chi Kung. A ideia é que o participante aprenda, de forma prática, a sentir o poder transformador da prece, observando os glóbulos de vitalidade irradiados pelo sol e o magnetismo criado quando se faz uma prece sincera. Esta técnica pode ser feita em qualquer lugar, inclusive no escuro, mas, para os iniciantes, é mais fácil a visualização quando realizada ao ar livre, em um dia com mais umidade. Em primeiro lugar, a pessoa deverá olhar para o céu, nunca diretamente para o sol. Depois de alguns segundos, ela começará a ver pequenos glóbulos prateados no ar. É importante que ela consiga distinguir esses glóbulos de outros, mais escuros que são próprios da retina. Isso é fácil, pois os de cor acinzentada se locomovem com o movimento do olho. Os prateados se parecem com pequenos átomos vibrando. Enfim, quando a pessoa conseguir ver os glóbulos de vitalidade, com os olhos ainda abertos, deverá fazer uma prece mentalmente e observar o resultado. Como salientei, com o tempo, até no escuro é possível ver os fluidos. A pessoa que consegue ver no escuro pode fazer outra experiência. Imaginar estes glóbulos saindo da mão direita e atingindo a esquerda ou outra parte do corpo. Alguns conseguem vêlos saindo pelos dedos do pé, e brincar como se fossem holofotes, bastando virar o pé para ver a luz mudando de lugar. Normalmente, à noite, os glóbulos assumem uma cor verde fosforescente. Depois que a pessoa ver os glóbulos pela primeira vez, será mais fácil fazer outras observações. Locais de peregrinação e de oração costumam estar saturados positivamente com tais glóbulos. Os glóbulos de vitalidade são absorvidos também pelos alimentos, pela água, pela respiração e pelo movimento corporal.


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2. Criando “florais” com o poder da mente. Esta técnica é muito simples de ser realizada. Quase todos já tomaram água fluidificada, água benta ou qualquer outro nome que se queria dar. Algumas pessoas acreditam que apenas médiuns, padres, monges ou pastores são capazes de energizar a água. Porém, qualquer pessoa que consiga se concentrar por alguns minutos e faça a experiência com Vontade e Amor é capaz de energizar a água. A técnica acima consiste em criar a essência floral que a pessoa sente necessidade de tomar. E pode ser utilizada para criar qualquer tipo de floral, não importando o sistema. A mente é muito mais poderosa que uma flor. Obviamente, que a planta possui sua vitalidade e essa energia pode ser usada para fazer remédios. Porém, a mente é capaz de intensificar ou qualificar essa energia. Vou dar um exemplo. Certa vez ministrando um curso de plantas medicinais, comentei que a hortelã era uma planta com principio ativo estimulante e para evitar o uso à noite porque a pessoa poderia ter insônia. Uma das participantes do curso pediu a palavra e disse que só dormia tomando uma xícara de chá de hortelã e que dormia muito bem. Na semana seguinte, porém, ela disse que, após eu falar que o chá de hortelã era estimulante, ela não conseguiu mais dormir. Eu tive que explicar que o poder da mente era muito mais forte que o princípio ativo presente no chá de hortelã. Por isso, enquanto ela acreditou que dormiria tomando o chá, ela dormiu. A partir do momento que este esquema mental foi substituído por outro, ela passou a ter insônia. É por isso que há pessoas que dormem quando tomam café e outras que não, apesar do café também ser estimulante. Voltando à técnica, ela consiste em encher um copo com água e, durante aproximadamente 10 minutos, envolvê-lo com as mãos e imaginar a água se transformando no remédio floral que a pessoa precisa. Para tanto, é preciso conhecer as essências do floral de Bach ou de outro sistema para escolher a essência desejada. Identificando a essência que necessita, basta imaginar a energia da planta sendo colocada na água. O mesmo pode ser feito para se obter um


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remédio homeopático ou um calmante, por exemplo, irradiando cor azul para a água. Se o trabalho for feito em grupo, o resultado pode ser ainda mais intenso. Essa técnica ficou conhecida na TVI como Fitosofia. Apesar de parecer misticismo, é possível explicar racionalmente a técnica. Todo mundo já deve ter reparado que há pessoas que secam pimenteira, arruda ou avenca. É só a pessoa passar “carregada” perto destas plantas e em menos de 20 minutos estão sequinhas. De forma inconsciente, a pessoa absorve a energia vital da planta. A pessoa melhora ou se sente com mais saúde e vitalidade, mas a planta seca. Essa troca energética é um processo natural, feito na maioria das vezes de forma totalmente inconsciente. Porém, com nossa força mental é possível absorver de forma consciente a energia das plantas e em uma quantidade que não a esgotará. Da mesma forma que temos um corpo astral, as plantas também tem um similar. E é deste corpo que vamos absorver a energia. E o processo pode ser utilizado para se fazer “remédios” florais ou fitoterápicos. Se a pessoa leu em alguma publicação especializada que determinada flor serve para controlar a ansiedade, basta ela impor as mãos em seu copo de água e através de suas orações e mentalizações pedir que a vibração daquela flor energize a água. Depois é só tomar. E se ela quer aliviar a tosse, mas não tem nenhuma planta para essa finalidade no seu quintal, basta durante o processo, canalizar a energia do hortelã, do poejo, do guaco ou de outra planta que ajude nesse sentido. Mas, em algum lugar, possivelmente, uma planta vai secar. Alguns anos atrás, eu não gostava de podar o meu quintal se eu não tinha para quem dar mudas. Eu não me sentia bem cortando plantas e as jogando fora, mesmo sabendo que virariam adubo. Foi com o dr. Felipe que aprendi que poderia oferecer a energia das plantas para serem utilizadas em hospitais ou outros locais. Assim, quando faço uma faxina na horta, toda a energia contida na composteira eu ofereço para os trabalhadores espirituais. Peço que levem até os hospitais e outros locais onde aquelas energias possam ser úteis.


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3. Chi Kung – Entre as práticas da TVI, destaca-se o Chi Kung. Foi ela que deu início a todo esse trabalho. Este exercício que vamos descrever chamávamos, em 2001, de mandalareiki. Ele é realizado através de movimentos corporais e visualizações de cores. O objetivo é que o participante faça uma limpeza e uma energização de todo o seu corpo, sentindo o fluxo da energia percorrendo seu organismo. Três cores são básicas: a lilás, no inicio do processo, a dourada para energizar e, por fim, a azul, encerrando o trabalho. Outras podem ser utilizadas antes do encerramento da técnica, como a amarela para amenizar o estresse mental e aumentar a capacidade de concentração; a verde para harmonizar e equilibrar os chakras e o corpo físico; a rosa para purificar as emoções e sentimentos e, por fim, a laranja para ajudar na recuperação de quem passa por momentos de convalescença. Os movimentos corporais foram chamados de “danças numinosas” e foram aprendidos também com entidades espirituais. Posteriormente, aprendemos que o nome seria Chi Kung, uma palavra chinesa que poderia até ser traduzida por “passe”, uma vez que toda forma de manipulação bioenergética seria um Chi Kung. O mais praticado na TVI é feito em grupo, com as pessoas formando um círculo. Cada participante vai concentrar o prâna em suas mãos e vai modular através da mentalização de cores. O processo tem quatro etapas: a limpeza, o tratamento, a energização e o fechamento do trabalho. A duração pode ser de até 20 minutos, conforme o grupo. A atividade pode ser feita em pé, mas também com as pessoas sentadas, no caso de idosos ou cadeirantes. 4. Imposição de mãos – Por sua vez, o trabalho bioenergético através da imposição das mãos também vai trabalhar com a visualização de cores. Não se faz sintonizações esotéricas como no caso do Reiki e nem se usam símbolos. Todo o processo de canalização é realizado utilizando apenas a força mental do praticante. O trabalho consiste em realizar primeiramente um diagnóstico que pode ser feito na coluna, com a pessoa em pé (tra-


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tamento 1) ou com a pessoa deitada na maca (tratamento 2) Após o diagnóstico, o atendimento é realizado através da imposição das mãos, com a intenção de desbloquear os fluxos de energia estagnados (quentes) ou levar energia aos pontos desvitalizados (frios). O importante, durante o processo, é a vontade, o pensamento elevado, a imaginação criativa e o amor universal. São esses os “símbolos” da TVI. Também é possível o atendimento à distância ou um atendimento grupal. Experiências utilizando uma câmera termográfica demonstraram que é real o aquecimento das mãos dos praticantes, além de mudanças significativas no corpo dos consulentes antes e depois da sessão. Em média, uma sessão de TVI dura aproximadamente 20 minutos. Abaixo, apresento algumas questões que foram formuladas às entidades comunicantes que nos orientaram na sistematização da TVI, entre os anos de 2001 e 2003. Pergunta 1 - Qual a melhor forma de se preparar para uma sessão bioenergética com a TVI? Resposta - O ideal é sempre procurar ter um dia tranquilo, evitando conflitos e intrigas. Fazer uma refeição leve, tomar bastante água e evitar o consumo de álcool e cigarro. Além disso, chegar alguns minutos antes do horário previsto para o atendimento e se preparar fazendo um exercício básico de respiração e relaxamento ou a prática de Chi Kung. Se houver uma área verde no local onde será aplicada a técnica, o exercício pode ser realizado lá. Respirar ar puro de forma correta e com o pensamento elevado aumenta a absorção de glóbulos de vitalidade e a qualidade do atendimento. Pergunta 2 - Existe algum problema em aplicar a TVI em hospitais, asilos, penitenciárias e locais similares a estes? Resposta - O ideal é que estes locais tenham uma sala específica para o trabalho. E mesmo assim, antes de iniciar, será necessário fazer uma limpeza energética do lugar. Com a frequência de aplicações em um único local, facilita a organização da sala, não só no plano material, mas em todos os demais, transformando a sala em


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um “centro cirúrgico”. A ambiência (ambiente astral ou Psicosfera) destes locais costuma ser carregados com vibrações de ódio, raiva, desejo de vingança e muito sofrimento. O ideal é isolar a sala onde o trabalho será realizado de toda essa energia. E além da energia emocional e mental dos encarnados, existe a dos desencarnados que lá estão sem saber que já desencarnaram ou que estão obsediando algum desafeto. A situação é muito complexa e por isso todo cuidado é necessário. Mas, com boa vontade e organização, é possível e até necessário um trabalho como o da TVI nestes locais. Outra possibilidade é fazer um trabalho a distância, mas o ideal é que a pessoa que vai receber esteja receptiva ao atendimento. Pergunta 3 - Pode se aplicar a TVI junto com outras terapias complementares? Resposta - Sim, não há nenhum problema. É possível usar os Florais de Bach ou de outro sistema, assim como a aromaterapia, a acupuntura e tantas outras técnicas. Mas é importante sempre salientar que todos esses recursos são exteriores. Sem a mudança interior que vocês chamam de Animagogia, nenhuma cura real se processa. Pergunta 4 - Como podemos compreender o papel das enfermidades para o Espírito humanizado? E por que algumas pessoas são eletivas para o tratamento vibracional e outras não? Resposta - Como afirmam todas as doutrinas espiritualistas, mesmo que através de palavras distintas, o Espírito humanizado encarna para aprender a transformar os desejos do ego (a consciência humanizada provisória) em amor universal, ou seja, superar o individualismo transformando-o em universalismo. E isso se processa através das vicissitudes (tanto as positivas como as negativas) nas quais somos colocados em prova: a todo instante somos testados se vamos viver em harmonia com os ditames do Self (nossa alma), com equanimidade e felicidade incondicional ou se vamos ceder às tentações do ego, perdendo nossa paz interior, manifestando orgulho, vaidade, inveja ou outros sentimentos similares. As enfermidades físicas, emocionais e mentais são sinais que o ego está hipertrofiado. É necessário saber ler os sinais das enfermidades e compreender quais são as atitudes que devem ser


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abandonadas e exercitar o perdão, a benevolência e o amor universal. As enfermidades não são castigos, mas oportunidades para a transformação real, que é interior, integrando, como vocês dizem, o ego e o Self, despertando, assim, os atributos do Espírito eterno. Quanto à segunda parte da pergunta, qual o papel dos Florais, da TVI, da Homeopatia e outras técnicas vibracionais? Elas não curam, mas são vivificantes. A vibração vai ajudar no processo de recuperação do enfermo, retirando energias negativas presentes em seu campo psíquico e físico. Porém, tudo isso é apenas uma trégua para que o próprio enfermo mude o padrão de seus pensamentos e sentimentos. Se isso não acontecer, em pouco tempo estará da mesma forma. É importante salientar que nenhum tratamento, inclusive os vibracionais, está acima da lei do carma e do merecimento. Todos são importantes, mas se o paciente não estiver comprometido com sua própria cura, nada acontecerá. Do exterior sempre recebemos apenas um auxilio para retomar o caminho da luz, mas a mudança interior é um processo que cada um tem que percorrer por conta própria. É por isso que se diz que cada um possui sua Cruz, adequada em peso e tamanho para a trilha que necessita percorrer. Apresentamos, a seguir, algumas sugestões para se pensar em induções animagógicas para a prática da Meditação Integrativa, lembrando que por indução animagógica entendemos as sugestões que são realizadas durante a focalização. Elas devem ter sempre um cunho espiritualista, preferencialmente, transreligioso e universal. Durante as práticas, não importa quais serão realizadas, o focalizador utiliza as induções para ajudar no fortalecimento ou mudança de um padrão de atitudes. Alguns temas que podem ser utilizados durante as induções animagógicas realizadas com o grupo são os seguintes: 1. Estimular a persistência, a coragem e a responsabilidade pelo seu próprio bem estar, valorizando sempre o bem-estar físico, emocional, mental e espiritual. 2. Valorizar a felicidade incondicional e a necessidade de uma educação espiritual (animagogia) renovando as esperanças, o fortalecimento da fé, a solidificação do amor, a incessante


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busca do perdão, o cultivo de sentimentos positivos e o aperfeiçoamento do ser. Reforçar a diferença entre Vida e Existência, levando o participante a tomar consciência que a Vida transcende a matéria e os cinco sentidos. Ajudar a compreender que o único responsável pelo sofrimento e pelas angústias existenciais é o próprio Espírito humanizado, que tece o seu destino a partir dos sentimentos e pensamentos que nutre no dia-adia e das escolhas que fez antes de encarnar, escolhendo seu gênero de provas. Reforçar que ninguém ofende ninguém. Somos nós que permitimos nos sentir ofendidos pelas ações alheias. Estimular o participante a conhecer e aprender a lidar com suas próprias energias e a dos ambientes que frequenta cotidianamente, desbloqueando energias estagnadas e restabelecendo um fluxo energético saudável e harmonioso. Levar o participante a pensar sempre de forma integral e holonômica, compreendendo a integração entre os aspectos físicos, psicológicos, energéticos, emocionais e espirituais em seu ser, sendo que, essencialmente, ele é um Espírito vivenciando uma experiência humanizada e não um ser humano que, eventualmente, vivencia experiências espirituais. Estimular o (re)envolvimento do participante com o seu corpo, com sua alma, com sua comunidade e com a natureza.

Todas essas induções visam ajudar o participante a lidar melhor com as vicissitudes da existência humanizada, integrando o ego e o Self e o ajudando a viver com habilidade espiritual sua vida humanizada, pois, essencialmente, é um Homo spiritualis. Na segunda parte do livro, apresentaremos alguns estudos de caso de atendimentos animagógicos com desencarnados. Para melhor compreender a TVI com encarnados, sugiro a leitura do livro “A prática da meditação integrativa na terceira idade: um estudo sobre educação popular em saúde e espiritualidade”, publicado pelo Ministério da Saúde em parceria com o projeto vepopsus, da UFPB, em 2018. O livro pode ser acessado gratuitamente pela internet.



PARTE II Estudos de Caso As noções mais simples são também as mais difíceis de compreender. O que há de mais simples que a luz do Espírito? Ela está em nós assim como em tudo, vivemos por sua causa e nada seríamos sem ela, que nos envolve e penetra por todas as partes; contundo, permanecemos cegos a ela. Lao Tsé



CAPÍTULO 6 A APOMETRIA COMO HEURÍSTICA PARA O ESTUDO DO SUICÍDIO E DA EUTANÁSIA

Neste capítulo, vamos abordar o estudo de dois temas polêmicos que sempre suscitam calorosas reflexões nos meios religiosos, inclusive no movimento espiritista, apesar da doutrina espírita esclarecer que “ninguém morre antes da hora, não importa o perigo”. É comum encontrar livros ou artigos espiritistas dizendo que as únicas exceções são os suicídios e as eutanásias. Através da técnica apométrica, resolvemos fazer uma pesquisa, evocando e tratando Espíritos que, supostamente, desencarnaram vítimas do suicídio ou da eutanásia. E, analisando o motivo de seus sofrimentos no mundo astral, encontramos fortes indícios para afirmar que o sofrimento que narram é fruto do egoísmo com o qual vivenciaram suas vidas humanizadas e também pela intenção de cometer o ato, no caso de suicidas. Porém, tudo leva a crer que o desencarne aconteceu na hora prevista, confirmando o ensinamento da doutrina espírita que diz que Deus sabe o gênero de morte de cada um e o Espírito, frequentemente, também. A problematização que levantamos foi a seguinte: como podemos ter livre-arbítrio nos atos se uma determinada ação está prevista para acontecer? Além disso, será que escolhemos, de fato, um gênero de provas antes de encarnar, como ensina o Espírito Verdade para Kardec, na questão 258? Para tentar resolver o problema, usamos a Apometria, técnica psíquica criada pelo médico espiritista José Lacerda em meados do século passado, através do recurso de levar o ser humanizado desencarnado e incorporado em um médium ao passado para que o mesmo pudesse se lembrar do “gênero de provas” que supostamente escolheu e, no caso de suicidas ou vítimas da eutanásia, dizer se o desencarne aconteceu antes do tempo previsto para aquela encarnação.


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Para esta pesquisa realizamos a observação em aproximadamente 70 atendimentos a desencarnados que, em tese, desligaram-se do corpo físico em função do suicídio ou por eutanásia. Todos foram informados que segundo O Livro dos Espíritos (questão 258) o livre-arbítrio foi exercido antes da encarnação durante a escolha do gênero de provas e, após a encarnação, o livre-arbítrio é moral. E que (questão 851) se há fatalidade, ela se encontra nas provas físicas e nunca na esfera moral, tanto que Kardec ao questionar o Espírito Verdade se alguém estava fadado à infelicidade, recebe como resposta que ele está confundindo os acontecimentos materiais da vida com os atos da vida moral, ou seja, se alguém é infeliz por passar por vicissitudes negativas, isso é fruto do seu livre-arbítrio, já que está livre para passar pelas mesmas situações materiais com paz interior e felicidade ou sofrendo, sendo infeliz. Em outras palavras, o nosso objetivo foi mostrar para aqueles supostos desencarnados que ali se manifestavam que ser ou não feliz é escolha de cada um; que a felicidade se encontra na esfera do livrearbítrio. Assim, qualquer um de nós pode ter uma vida humanizada cheia de vicissitudes negativas, caso isto contemple o gênero de provas solicitado, e mesmo assim optar em ser feliz, aprendendo com tais tribulações ao invés de apenas se indignar e passar o tempo sofrendo, acreditando que está fadado à infelicidade. E para os suicidas? Para estes também passamos o ensinamento (questão 944) que afirma o seguinte: o suicídio voluntário é um crime diante de Deus. E, nem todos os suicídios são voluntários. Ou seja, apenas quando há a intenção de cometer o ato, o mesmo se torna um “crime”. Porém, nem sempre a pessoa comete o suicídio voluntariamente. E no atendimento daqueles que supostamente desencarnaram vítimas de eutanásia, encontramos três situações bem delimitadas: os que se mostraram mais espiritualizados e se desligaram com facilidade da vida terrena, e dois que necessitavam de ajuda mais enfática: os que ficavam vagando pela Terra, sem compreender o que estava acontecendo e os que se transformavam em obsessores de quem praticou ou solicitou que a eutanásia ativa ou passiva fosse praticada. Neste último grupo estava o maior número dos que acreditavam ter desencarnado “antes da hora”, o que motivou o desejo


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de vingança contra aquele que, supostamente, seria o algoz e o responsável pelo “sofrimento” que diziam sofrer. Quando estes desencarnados já manifestavam uma serenidade que possibilitava o estabelecimento de um diálogo mais fraterno, passamos a utilizar uma das leis da chamada técnica apométrica, conforme ilustrada pelo dr. Lacerda em seus livros: a que consiste em levar o desencarnado incorporado no médium ao passado para que possa se lembrar de fatos vividos por ele na “erraticidade” ou em vidas passadas. Primeiramente, perguntávamos se ele conseguia se lembrar de quando escolheu um gênero de provas. Para os que não conseguiam, dávamos um comando para que o mesmo pudesse acessar a lembrança de quando fez esta suposta escolha. Poucos foram os desencarnados auxiliados que se lembravam de uma suposta escolha de um gênero de provas sem o uso da técnica apométrica, Porém, com o seu uso, os casos de rememorização chegaram a cerca de 90 %. E, um dado surpreendente, muitos diziam ter encarnado para vencer a tentação do suicídio. Ou seja, vencer essa tendência era o gênero de provas escolhido, voluntariamente, antes de encarnar. É óbvio que não temos como saber se o que o desencarnado está falando é verdade ou não, e se não é um “animismo” (criação mental do próprio médium), mas esta resposta, em Tese, demonstra um lado do problema negligenciado por muitos livros ou artigos espiritistas sobre o suicídio. Até hoje não li um único livro espiritista que afirme que vencer a tentação do suicídio seja um gênero de provas. Porém, se aceitarmos, pelo menos como hipótese, que haja essa possibilidade, nossa visão sobre a questão do suicídio muda significativamente, inclusive a nossa forma de pensar a vida humanizada. A demonização do suicídio no meio espiritista deixa de fazer sentido e o fato passa a ter o mesmo peso que qualquer outro gênero de provas: vencer a tentação dos vícios, da vaidade, da tendência ao roubo etc. Enfim, o espírito humanizado pode ou não passar na prova que escolheu e somente aí se encontra o problema. Problema que, aliás, cabe somente a ele superar. E essa hipótese fica mais plausível com as pesquisas genéticas que afirmam que a tendência ao alcoolismo ou ao suicídio podem estar programadas no DNA. Ou seja, ao escolher um gênero de provas, o seu ego (incluindo a programação do DNA) será preparado para que o Espírito humanizado


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possa passar de forma adequada pela provação que escolheu. Como vencer a tentação ao suicídio se não tem vontade de cometer? Como vencer a tentação ao alcoolismo se ele não tem vontade de beber? Em suma, podemos levantar a hipótese que, apesar de programado para ter o desejo de beber ou de se matar, esta tentação também não deixa de ser fruto do livre-arbítrio do Espírito humanizado que, como escreveu Kardec, foi exercido na “erraticidade”, antes da encarnação. Em outras palavras, podemos compreender que nenhum Espírito puro ou a Individualidade (Espírito humanizado) é suicida ou viciado, mas a personagem que vai representar pode ser construída para que sua prova aconteça na Terra. Vou ilustrar essa reflexão com um atendimento a um Espírito desencarnado que estimulava uma pessoa do sexo masculino a beber. O socorro foi solicitado pela mãe do jovem alcoólatra. Ao iniciar o atendimento, uma falange de Espíritos desencarnados foi localizada junto ao rapaz pelas médiuns videntes. Todos foram atendidos e o líder, após recuperar a consciência espiritual, relatou o seguinte: em uma vida passada abandonou um filho por esse ser alcoólatra. Ele considerava o filho como um fracassado. Após morrer, arrependido, solicitou passar também por essa prova: a do alcoolismo. Ele narrou ao grupo que sucumbiu novamente, ou seja, a materialidade da encarnação foi mais forte que ele, o Espírito humanizado. E quando morreu ficou preso ainda naquela personagem provisória e se tornou obsessor de outros alcoólatras encarnados, até ser despertado dessa ilusão naquele atendimento apométrico. Com base neste caso, podemos dizer que não basta desencarnar para a Individualidade se libertar do ego criado para uma determinada encarnação. Porém, o que esse e outros casos parecem elucidar, é que o vício está no ego programado para uma provação e não na Individualidade. Este apenas não é tão forte como imaginava, pois acreditou que poderia vencer a prova do vício e sucumbiu. Mas, quando recupera a consciência, se dá conta de que não precisa mais da bebida na “erraticidade”. Com a consciência desperta, consegue se aperceber que ficar bebendo com os encarnados era ainda fruto do gênero de provas que havia escolhido e do qual ainda não havia se desvencilhado.


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E, possivelmente, Deus permite que fique influenciando encarnados, ou seja, sendo um instrumento inconsciente que Ele se utiliza para criar as provas que cada um deve passar. E como se faz para o Espírito humanizado se lembrar do gênero de provas, através da Apometria? A técnica adotada é muito simples e consiste em dar a sugestão para que o desencarnado incorporado no médium se lembre da reunião em que escolheu o gênero de provas, seguida de pulsos energéticos, normalmente sete, para que ele possa se lembrar daquele momento. Por ser apenas uma técnica, este procedimento pode ser reproduzido facilmente por qualquer agrupamento mediúnico e, dentro de uma perspectiva científica, comparar as respostas fornecidas por diferentes desencarnados. Os que participaram desta experiência, não importando se foram suicidas ou vítimas de eutanásia, mas que acreditavam ter morrido antes da hora, após a recuperação da consciência da Individualidade ou se lembrar da escolha do gênero de provas que fizeram, nenhum manteve a antiga opinião. Ao contrário, com a nova consciência, passaram a perdoar aqueles que consideravam, antes da experiência, como algozes. Um dado importante, que ajuda a compreender a diferença entre a consciência da Individualidade e o ego, é que, ao se libertar do sofrimento que o afligia após o desencarne, é que os outros deixam de ser filhos, pais, amigos ou inimigos. Todos se tornam apenas irmãos espirituais em provação. Muda a maneira de encarar os fatos. No caso de um pai que desencarna e os seus filhos ficam órfãos, o apego paternal é substituído por um amor realmente fraterno. Aqueles que antes ele entendia como filhos órfãos, passam a ser pensados como irmãos espirituais em provação. Por isso, quando acontece a recuperação da consciência da Individualidade, tudo se transforma e o sofrimento termina rapidamente, como acontece quando acordamos de um pesadelo. É nesse momento que, de fato, há a ruptura com o ego e não, necessariamente, após o desencarne. É importante salientar que consideramos de forma teórica esse fato, até porque não temos como saber se o desencarnado falou a verdade e que não se tratava de animismo do médium. Porém, colocando entre aspas estas possibilidades, podemos afirmar que há evidências de que a nossa existência humanizada está rela-


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cionada com as dos outros Espíritos humanizados que fazem parte do nosso círculo familiar ou não. Assim, ao mesmo tempo que passamos por nossas provações, somos também os instrumentos necessários para as provas dos outros, de tal forma que nossos atos necessitam ser direcionados para que essa ordem cósmica prevaleça, restringindo o nosso livre-arbítrio para a esfera moral, ou seja, da escolha dos sentimentos com os quais vivenciaremos os atos praticados, uma vez que eles estão interligados com os dos demais espíritos humanizados, não podendo ser diferentes daqueles que o outro necessita receber, naquele exato momento, em função da lei de “causa e efeito”. Assim, no caso da eutanásia, por exemplo, alguém precisa ser o instrumento que vai “provocar” o desencarne de alguém, mas não será “antes da hora”, e sim no momento permitido por Deus. O que vai contar na contabilidade divina deste Espírito humanizado é a intenção com que o ato foi praticado. Despertar a Individualidade é similar a acordar de um sonho e perceber que tudo não passou de uma grande ilusão. E o importante é tomar consciência que o sofrimento ou a felicidade depende da nossa consciência e não dos atos materiais praticados. Enquanto o Espírito humanizado, encarnado ou desencarnado, se ver como vítima de alguém, pode sofrer ou até mesmo se tornar um obsessor, mas ao recuperar a consciência e se aperceber que aconteceu apenas o que estava de acordo com o gênero da prova que escolheu, o outro passa a ser visto apenas como o instrumento necessário para as suas provações, mesmo que este último não tenha a consciência desse fato, ou seja, sendo apenas um instrumento inconsciente da vontade divina. Com a consciência da Individualidade desperta, o outro deixa de ser um inimigo e se torna um irmão espiritual, mesmo aquele escolhido para ser o instrumento de uma vicissitude negativa. Contra essa possível fatalidade nos atos materiais, muitos espiritistas dizem que em O Livro dos Espíritos também está escrito que se uma telha cai em nossas cabeças não significa que este ato estava previsto antes da encarnação do Espírito. Isso é verdade, mas neste livro também encontramos a afirmação de que se alguém não merece receber um tiro, será intuído para se desviar. Logo, podemos concluir que mesmo não sendo um ato escrito


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antes da encarnação do Espírito, se ele não merecer que uma telha lhe caia na cabeça, receberá na hora certa uma intuição para se desviar da mesma. Enfim, se a telha lhe acertou a cabeça é porque aquele ato era importante, trazia algum ensinamento embutido. Com esta pesquisa, conduzida através de reuniões mediúnicas apométricas, foi possível compreender que a prática da Apometria, dentro da perspectiva da Animagogia, não contraria os ensinamentos da doutrina espírita. Ao contrário, trazem elementos que, se não comprovam, pelo menos vão ao encontro deles, como os que dizem que não morremos antes da hora, não importando o perigo e que o livre-arbítrio está na intenção e não, necessariamente, nos atos, pois estes, com frequência, são dirigidos pelos próprios Espíritos. A partir dos casos estudados, temos a convicção que o importante é procurar não ser o instrumento para uma vicissitude negativa que alguém necessite passar, perseverando no Bem, mas alguém o será e colherá os frutos desse ato, sobretudo quando agir intencionalmente. Devemos lembrar que, no capítulo sobre o mal, em O Livro dos Espíritos, encontramos que ele é necessário, mas que acarreta consequências espirituais em quem o realiza, sobretudo quando há a intenção de praticá-lo. Enfim, estamos diante do mesmo ensinamento de Jesus quando afirma que o escândalo é necessário, mas ai daquele por quem o escândalo acontece. Em outras palavras, parece existir uma relação oximorônica (paradoxal) entre a liberdade e a necessidade ou entre o livre-arbítrio e a fatalidade. Ou seja, apesar de termos a liberdade de escolher roubar ou não (uma atitude egoísta), nosso ato será guiado para que a vítima seja alguém que precisava, naquele momento, passar por tal provação. E, obviamente, o responsável pelo ato acumulará débitos em sua economia espiritual, uma vez que teve a intenção de cometer aquele ato. O mesmo vale para qualquer ação egoísta, entre elas o suicídio, já que todos os motivos para quem comete o ato, intencionalmente, são egoístas (perda material, sentimental, orgulho ferido etc.). Podemos encerrar este capítulo apresentando um esquema conceitual sobre esta problemática: O Espírito humanizado, quando se encontra com sua consciência plena, escolhe um gênero de provas. A partir dessa escolha será criado um ego (uma consciência


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provisória para ser vivenciada na Terra ou um avatar) e toda uma programação genética para a prova acontecer. O espírito humanizado não é homem ou mulher, branco ou preto, rico ou pobre, mas, essa diversidade acontecerá em função da escolha da prova realizada no plano espiritual, na dimensão que chamamos de Noosfera. No caso daquele que opta por vencer a tentação do suicídio, ele poderá vir a ter durante a sua existência várias tentações programadas, em diferentes momentos de sua existência, mas que não vão se concretizar. Neste caso, mesmo que tente o suicídio, não alcançará êxito. Porém, quando chegar a prova derradeira, se suportar a tentação que se abate sobre ele, conseguirá alcançar o objetivo almejado pelo Espírito humanizado, vindo a desencarnar de outra forma. Porém, se a materialidade da vida encarnada for mais forte e não a suportar, desencarnará vítima do suicídio e será, obviamente, responsabilizado pelo ato, sofrendo nos mundos de purgação (umbral) o tempo necessário para purificar seu perispírito da toxidade acumulada na Terra e estar em condições de voltar para a dimensão espiritual originária, onde analisará seu desempenho naquela prova e poderá programar sua próxima encarnação, tentando novamente esta ou outra prova. Porém, o ato cometido, vai gerar naqueles que foram seus familiares ou amigos também uma prova, que pode ser a do desapego sentimental. E isso vale para todos os tipos de prova. Obviamente que ninguém encarna, por exemplo, com a missão de tirar a vida encarnada de outro Espírito humanizado, mas enquanto houver os que precisem desencarnar com um tiro, será necessário que alguém seja o instrumento para esta ação acontecer. E, se o escolhido agir com intenção, assumirá a responsabilidade pelo ato e colherá toda a consequência do mesmo. Porém, pode ser que o ato aconteça em um acidente, sem que haja a intenção. Nesse caso, ou no anterior, a “vítima” desencarnou na hora certa, pois só Deus tem, em Tese, o direito de tirar a vida, afirma O Livro dos Espíritos. Assim, quem atira com intenção gera um débito e aquele que se torna um instrumento involuntário, não se compromete com a Lei de causa e efeito, pois não teve a intenção de cometer o crime. E essa hipótese se torna mais evidente quando estudamos os atendimentos espirituais às vítimas da eutanásia. No grupo mediú-


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nico que acompanhamos ficou patente que o responsável pela prática da eutanásia foi também um instrumento e sua prova sempre foi moral e não material: com qual intenção ele praticou a eutanásia ativa ou passiva, uma vez que ela aconteceu na hora certa, e alguém precisava ser o responsável por essa ação? Em O livro dos Espíritos, o Espírito Verdade afirma que eles frequentemente agem sobre nossos pensamentos e nossas ações (questão 459), logo, também devem agir sobre aquele que pratica a eutanásia. Enfim, são vários os indícios que nos levam a afirmar que o Espírito humanizado que desencarna através da eutanásia também “morre na hora certa” e, quando o desencarnado narra, em algum trabalho mediúnico, que sofre após a morte, não foi por causa do ato praticado, mas, na maioria das vezes, em função da sua não preparação para o retorno ao mundo astral ou por seu egoísmo, por ter uma existência marcada, predominantemente, pelo materialismo, ou quando sua religiosidade não passava de mera formalidade exterior. Em outras palavras, não foi a eutanásia o motivo do sofrimento, mas o apego ao ego e suas verdades. A nossa experiência com o socorro de supostos suicidas ou vítimas da eutanásia nos leva a pensar na existência de uma relação paradoxal entre o livrearbítrio e a fatalidade, demonstrando que a Lei de causa e efeito não possui falhas. Além disso, parece comprovar os ensinamentos do Espírito Verdade para Kardec quando afirma que após a encarnação o livre-arbítrio é moral e não material. Há evidências nos relatos obtidos que após a encarnação temos a liberdade de manifestar amor ou egoísmo, mas os atos materiais são coordenados por uma força superior, chamada de carma ou de Lei de causa e efeito, para não haver injustiças. Ou seja, para que cada um possa colher o que necessita e merece, em cada momento de sua vida humanizada. E isso vale para as vicissitudes positivas e para as negativas.


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CAPÍTULO 7 QUANDO COMEÇA E TERMINA UMA ENCARNAÇÃO?

Neste capítulo vamos apresentar alguns atendimentos, compreendendo-os a partir do ponto de vista da animagogia. Começaremos, neste capítulo, abordando alguns atendimentos insólitos, realizados através das técnicas apométricas, nos quais o socorro aos desencarnados foi realizado antes mesmo de os fatos materiais acontecerem. Ou seja, em Tese, os médiuns foram projetados para o futuro para auxiliar no resgate daqueles que desencarnariam em tragédias pré-programadas, mas que ainda não tinham acontecido na Biosfera. NAUFRÁGIO NO EGITO No dia 31 de janeiro de 2006, em uma reunião de Apometria, uma das médiuns desdobradas se depara com um naufrágio. Ela descreve muitas pessoas desesperadas tentando se salvar. A médium percebe que são desencarnados iludidos, ou seja, que acreditam que ainda estão se afogando. O grupo, então, mentaliza vários botes que são plasmados no local onde aqueles se encontram. A médium continua descrevendo a cena, afirmando que os vê subindo nos botes. Quando isso acontece, todos ficam mais calmos, ela afirma. Mais energia é enviada pelo grupo e os botes com os desencarnados são envolvidos em uma forte luz branca e levados para uma espécie de hospital, segundo ela. Após o término do trabalho, um dos mentores incorpora em uma das médiuns e esclarece o grupo informando que a tragédia ainda não havia acontecido, mas que a imprensa, em breve, noticiaria o fato. Não se passou nem uma semana e um acidente no Egito foi divulgado pela imprensa. Mais de mil pessoas morreram naquele naufrágio. E, na primeira reunião apométrica após a tragédia, um preto-velho confirmou que a energia que o grupo enviou naquele


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atendimento foi utilizada no resgate daqueles que, pelas suas provações, precisavam desencarnar naquele evento. Não fomos informados sobre o número de desencarnados que foram resgatados. Pode ser que, até o momento, muitos permaneçam iludidos, acreditando que ainda lutam para não se afogar, sem saber que, supostamente, já desencarnaram. ACIDENTE EM SUPERMERCADO NA RÚSSIA Algumas sessões apométricas após o acidente no Egito, a espiritualidade nos trouxe outro caso parecido. Uma das médiuns viu que algo caía do céu. Segundo ela, pareciam pedras. Logo em seguida, ela descreve uma cena com várias pessoas soterradas. Algo como um galpão havia desabado com o peso das “pedras” que caíam do céu. Através do envio de energia, abrimos um espaço e as “pessoas” começaram a sair do galpão. Mais energia foi enviada e a médium descreveu que elas foram recolhidas por uma equipe de Espíritos e conduzidas para uma colônia. Após a reunião, fomos novamente informados pelos mentores espirituais que coordenavam o trabalho que, aquele acidente, também não havia ainda acontecido, mas que, em breve, seríamos informados pelos meios de comunicação. Naquela mesma semana a TV mostrou um supermercado na Rússia cujo teto havia desabado devido ao gelo que se acumulava sobre ele, matando várias pessoas. Como no caso anterior, a energia para o resgate de alguns desencarnados foi, em Tese, enviada antes de o fato acontecer na Terra. FOGO EM UM OLEODUTO NA NIGÉRIA Em outra ocasião, com a abertura dos trabalhos apométricos, uma das médiuns começou a descrever algo como uma grande fábrica pegando fogo. Fomos orientados pelos mentores para, semanalmente, enviar energia para essa tragédia, mesmo sem saber onde e quando ela aconteceria. Com o passar das semanas, as médiuns sentiam que o acidente se aproximava, pois a vibração ficava mais intensa, segundo elas, e a sensação que uma delas sentia era de muita dor e sofrimento. Uma das médiuns tinha a impressão que o acidente seria em uma usina atômica. Os mentores, por sua vez, não nos passava nenhuma informação.


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Algumas pessoas ficavam levantando hipóteses ansiosamente, querendo saber se aconteceria um acidente ou um atentado. Mas não adiantava se preocupar. Não sabíamos o local ou a data do evento. A única orientação dos mentores era para enviar frequentemente muita energia amorosa para o fato. Passados alguns meses, ocorreu um acidente em um oleoduto na Nigéria e aquela vibração densa que as médiuns sentiam foi aliviada totalmente. Em outra reunião, os mentores confirmaram também que a energia enviada teria sido canalizada para os resgates dos desencarnados neste acidente. Estes três resgates de desencarnados nos fizeram questionar o porquê dos mentores trazê-los para o nosso grupo apométrico. A resposta que nos foi apresentada é lógica, apesar de não poder ser comprovada. Segundo um dos mentores que se comunicava durante as sessões, aquele grupo de médiuns tinha uma forte ligação com aquelas regiões da Terra e aos fatos cármicos coletivos ali vivenciados. Se isso for verdade, então o que chamamos de mundo exterior parece, de fato, ser uma criação divina da qual não temos nenhum controle. Em outras palavras, parece existir um fatalismo no mundo, uma pré-determinação do que acontecerá. O presente, o passado e o futuro são como ilusões criadas pelo ego, pela nossa incapacidade de enxergar a integração de todos os elementos da vida. E, nesse sentido, se existe algum livre-arbítrio após a encarnação, ele parece residir no mundo interior, ou seja, na forma como vamos vivenciar sentimentalmente as vicissitudes da vida material ou encarnada. E como já salientamos, nos capítulos anteriores, não basta o Espírito humanizado desencarnar para se libertar do ego, da consciência provisória que criou antes de mais uma encarnação. Dessa forma, em Tese, muitos permaneceriam no mundo espiritual acreditando que são homens ou mulheres, que ainda são pais ou filhos, sentindo os desejos próprios da personagem vivida etc. Assim, para que possamos desde já nos libertar das armadilhas e artimanhas do ego é necessário transcender a dicotomia espírito humanizado encarnado X espírito humanizado desencarnado. A realidade espiritual é muito mais complexa do que essa dicotomia criada pelo ego, pois, apesar do Espírito humanizado estudar no mundo espiritual e conhecer as coisas do Universo, sem a criação


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da personagem e da encarnação não há como provar que realmente ele aprendeu a lição. Como no nosso ensino escolar, não basta o aluno apenas estudar o ano todo, ele precisa passar nas provas. São estas que atestam se ele aprendeu ou não a lição. No caso do Espírito humanizado, podemos dizer que é através da encarnação que ele provará se aprendeu a lição estudada no mundo espiritual, antes de se ligar a um novo ego. Assim, do ponto de vista animagógico, não encarnamos para aprender a tocar violão, dirigir carro, estudar essa ou aquela disciplina escolar, mas para colocar em prática o que foi estudado na condição de Espírito humanizado. Em outras palavras, não é na Terra que ele aprenderá medicina, mas se ser médico faz parte da prova que ele escolheu antes de encarnar, ele será levado a se tornar médico e não outro Espírito humanizado, cuja prova é em outro campo de atividade humana. Ou seja, a encarnação é o momento de provar, para o próprio Espírito humanizado, se aprendeu ou não a lição estudada anteriormente. Se ele será médico, advogado ou outra coisa qualquer, isso foi definido antes, em função das provas escolhidas. E o que caracteriza essencialmente uma encarnação? É a necessária mudança de consciência; é a colocação de um véu sobre a consciência da Individualidade, a verdadeira consciência do Espírito humanizado, para que a Realidade fique velada. Assim, velando o mundo Real, onde vive e faz seu aprendizado, onde planeja suas próximas encarnações, só lhe resta viver a experiência humanizada a partir do ego, uma consciência provisória, mas carregada com um conjunto de verdades necessárias para realizar suas provas, missões ou expiações: acreditar que se é homem ou mulher, preto ou branco, africano ou europeu etc. Não importa qual seja o palco da nova encarnação, todos os Espíritos humanizados precisam se desligar da consciência da Individualidade, após acabar um ciclo de estudos, para se ligar a um novo ego e encarnar. Em outras palavras, a encarnação é um processo muito mais complexo do que apenas se ligar a um corpo físico. E quando compreendemos que encarnar é se ligar, basicamente, a uma nova consciência que servirá de instrumento para as provas do Espírito humanizado, podemos também compreender que a encarnação não termina quando este é desligado do corpo físico.


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A encarnação só termina, de fato, quando o Espírito humanizado se desliga do ego, ou seja, daquela consciência artificial criada para suas provações. E tal ilusão pode durar dias, meses, anos, séculos ou milênios. Podemos dizer que apenas Deus sabe o momento exato de o Espírito humanizado ser despertado dessa ilusão. E, através da Apometria, praticada no contexto da animagogia, temos consciência de que apenas os desencarnados que possuem este “merecimento” é que serão auxiliados, ou seja, poderão ser despertados da ilusão em que vivem no mundo astral. A Apometria não tem como interferir na Lei de causa e efeito. Nesse sentido, a espiritualidade socorrista pode, em Tese, ser informada de um resgate coletivo e saber quais os Espíritos humanizados que podem ser socorridos, ou seja, que podem ser libertos da ilusão da matéria ou do ego. E, provavelmente, Deus permite que utilizem a energia liberada pelos encarnados que atuam em grupos apométricos ou em outras práticas complementares de saúde para realizar essa tarefa, mesmo quando o fato ainda não se concretizou no mundo material, estando sendo ainda gestado na dimensão astral. Provavelmente, este processo sempre aconteceu. Quando grupos de orações se reúnem ou praticantes de qualquer técnica de vibração canalizam energia para alguma tragédia, estão ajudando em resgates similares. A única vantagem da Apometria, nesse sentido, se é que isso pode ser chamado de vantagem, é a possibilidade de descrever o que acontece na Psicosfera, uma dimensão invisível que nos rodeia, apesar de não termos como comprovar, também, se o que o médium descreve é real ou apenas fruto de uma fértil imaginação.


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CAPÍTULO 8 SOFRIMENTO OU FELICIDADE: QUAL O CAMINHO PARA O DESPERTAR DO HOMO SPIRITUALIS

Em um belo ensinamento sobre o sofrimento Buda diz mais ou menos assim: Uma jovem mulher, após a morte do filho, implorava pelas ruas por um remédio milagroso capaz de restituir a vida deste. Os demais moradores do povoado a ironizavam, dizendo que era louca. Até que, um dia, um sábio lhe recomendou: “Procure o homem que mora no topo daquela montanha, ele saberá fazer esse milagre”. A jovem subiu feliz a montanha e pediu ao homem que restituísse a vida de seu filho. E ele respondeu: “Traga-me um grão de mostarda de uma casa onde nunca ninguém morreu”. Ela voltou alegremente para o povoado e, de casa em casa, procurou uma onde ninguém conhecesse a morte. Não encontrando, ela voltou ao topo da montanha e disse: “Minha dor havia me cegado. Pensava que somente eu sofria nas mãos da morte. Porém, eu voltei para que me ensines a verdade!”. E o homem lhe falou: “Em todo o mundo humano existe uma única Lei: todas as coisas são transitórias”. A vida humanizada do Espírito encarnado é feita de vicissitudes, portanto, a única felicidade real é a felicidade incondicional, ou seja, não condicionada a nada e sem apegos. O apego aos bens transitórios leva, necessariamente, ao sofrimento, pois, estes, um dia, deixarão de existir. Pai Joaquim de Aruanda, um preto-velho, certa vez, disse o seguinte em uma reunião mediúnica: “não confie sua felicidade a ninguém; nem a Deus. Porque ele não vai fazer acontecer o que você quer, mas aquilo que você precisa vivenciar”. E voltando aos ensinamentos de Buda, encontramos também a seguinte afirmação: “Todas as posses materiais têm de chegar a um fim – nada é permanente, e aquele que se agarra a objetos do


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mundo tem inevitavelmente que sofrer, quando esses alvos de sua atenção são removidos”. Podemos atentar que Buda não legitimava o sofrimento como caminho para a “evolução espiritual”. Ao contrário, ensinou como podemos não sofrer se praticarmos o desapego às posses materiais. Na mesma linha de raciocínio, Krishna ensina Arjuna a viver com equanimidade, ou seja, com igualdade de ânimo qualquer fato material. O agir com equanimidade seria o caminho para superar o ciclo prazer/sofrimento. Assim, se optarmos em viver nossa encarnação presos às vicissitudes da vida, nós sentiremos prazer quando o fato material for agradável ao nosso ego e sofreremos quando ele for considerado desagradável pelo ego. E, segundo várias tradições orientais, o caminho mais curto para se livrar do samsara (roda das encarnações) é o amor universal e a felicidade incondicional. Nesse caminho não há sofrimento porque não há apego às coisas materiais e aos desejos ilusórios programados pelo ego. O agir com equanimidade diante dos fatos nos permite estar imune ao sofrimento, mesmo que eventualmente sintamos alguma dor. Essa seria a prática do “correto agir”, segundo os ensinamentos de Lao Tsé e Krishna, pois faríamos aquilo que precisamos, pois somos naturalmente impelidos a agir, mas sem se envolver com os frutos do trabalho. Em suma, trata-se do agir desinteressado, sem tirar vantagem das situações favoráveis e nem sofrer quando elas são desfavoráveis, dentro do nosso estreito ponto de vista humanizado e encarnado. Essa breve introdução sobre o sofrimento se fez necessária, para afirmarmos que a Apometria, como qualquer outra prática de tratamento complementar espiritualista, não interfere no livrearbítrio. Assim, aquele que opta por “evoluir” pelo sofrimento será respeitado. Não temos como nos livrar dos fatos materiais, criados em função do gênero de provas escolhido pelo Espírito humanizado antes de encarnar, mas temos o livre-arbítrio no domínio moral, ou seja, resignando-se ou se revoltando, por exemplo, diante de uma determinada prova. É o que vamos analisar nos três seguintes casos. No primeiro, apresentaremos o caso de uma consulente que procurou a Apometria por indicação de amigos. Ela não conseguia


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andar sozinha, apesar de inúmeros médicos não diagnosticarem nenhum problema físico que a impedisse de realizar movimentos. Durante o período em que fomos procurados, fizemos três sessões de Apometria, com intervalos de quinze dias, sem que nenhum resultado concreto fosse obtido. Na primeira sessão, assim que sua frequência foi aberta, um desencarnado sem pernas manifestouse em uma das médiuns de incorporação. Inconformado, disse-nos que havia sido empregado dela e que ela era culpada pelo estado em que se encontrava. Após ficar vagando e a encontrar novamente encarnada, resolveu se vingar a impedindo de andar. Esse caso de obsessão simples foi tratado com o esclarecimento do desencarnado que, em seguida, foi levado para uma “colônia espiritual”. A mulher teve suas pernas energizadas para retirar toda e qualquer vibração deixada por ele. Imaginamos que o problema se resolveria em poucos dias, com a retirada daquele desencarnado, mas, segundo sua família, ela ainda não conseguia andar sem apoios. Quinze dias se passaram e, na segunda sessão, constatouse que não havia nenhum problema de ordem espiritual. A consulente foi energizada e, uma médium de incorporação acabou “dando passagem” a um dos mentores do trabalho. Este, conversando com a consulente, disse que ela precisava mudar sua forma de pensar. Segundo ele, aquela mulher não queria ser curada, pois tinha receio, inconscientemente, de que seu marido e filhos não lhe dessem mais atenção. Apesar de não ter nenhum problema nas pernas, seu desejo de ser o foco da atenção da família fazia com que ela, mentalmente, enviasse fluidos negativos que paralisavam a perna. Assim, ela se tornava dependente dos outros para andar e realizar outras atividades. Tratava-se de uma enfermidade psicossomática que seria curada quando ela vencesse sua necessidade de atenção familiar. Em seu corpo astral, uma médium vidente percebeu cordas que foram desmanchadas com o envio de energia. Supostamente, a própria consulente teria as plasmado em suas pernas. O mentor do trabalho ainda esclareceu a família, informando que ela não estava fingindo. De fato, ela não conseguia andar, mas era por se sentir desamparada. Assim, orientou a família da consulente para que a amasse incondicionalmente, sem brincar com sua situação.


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A cura para a sua enfermidade psicossomática aconteceria assim que ela parasse de enviar vibrações negativas para a própria perna, uma vez que não havia nenhum problema fisiológico. Assim, bastaria ela mudar seus pensamentos e sentimentos em relação à família, deixando de se fazer de vítima para que seu problema fosse resolvido. Porém, mesmo não tendo nenhum problema físico e nem espiritual, a perna dela continuava sem movimento. Em nossa terceira sessão, fomos explorar suas vidas passadas. Talvez o motivo para o medo de perder a atenção da família se explicasse trazendo para o consciente algum trauma de outra existência. A regressão, na Apometria, consiste em ligar um sensitivo à energia do consulente e dar um comando mental para que acesse informações de outras vidas. Quem faz essa captação que chamamos de Noética é a sensitiva e não, necessariamente, a consulente. Assim que o comando foi dado, a sensitiva começou a descrever a seguinte cena: ela via um soldado durante uma guerra. Esse soldado tinha muito medo de pisar no chão, pois tinha nojo de pisar nos companheiros já mortos. O grupo apométrico enviou energia para “despolarizar” essa memória presa no inconsciente daquela mulher. Em seguida, uma nova regressão para uma vida anterior a esta como soldado e a sensitiva se depara com uma matrona, uma mulher extremamente poderosa, cuidando com mãos de ferro de uma propriedade rural. Essa mulher impunha-se pelo medo. Em tese, seria a consulente em uma de suas vidas passadas. Segundo a sensitiva, naquela encarnação a consulente não tinha as pernas e administrava tudo de cima de sua cadeira de rodas. Também tentamos “despolarizar” essa memória para ver se ela melhorava. E antes de fechar a sessão, novamente um dos mentores do trabalho se manifestou em outra médium e conversou com a consulente dizendo que ela precisava vencer suas pulsões autoritárias e precisava ter fé. Ela precisava se desligar daquelas antigas encarnações em que tinha poder e controlava as pessoas. Disse que, enquanto ela insistisse em manter total domínio sobre a família, mandando e desmandando na vida dos filhos, criticando suas amizades e relacionamentos, ela não conseguiria se curar.


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Depois desse atendimento não tivemos mais contato com a consulente ou com pessoas de sua família. Infelizmente, este caso demonstra claramente que o livre-arbítrio moral (sentimentos e pensamentos) pode dificultar qualquer ajuda exterior. Enquanto a pessoa que solicita ajuda não fizer também uma mudança interior, seu processo metanoico, a ajuda apométrica é difícil. No caso acima, o desencarnado que apareceu na primeira sessão foi ajudado. Podemos concluir que ele tinha “merecimento”, mas a consulente ainda precisava fazer por merecer a sua cura. O segundo caso que vamos narrar é similar. Fomos procurados por uma mulher cujo ex-marido havia a abandonado fazia 18 anos. Ela narrou que ele a deixou e que precisou cuidar, sozinha, de dois filhos pequenos. Apesar do tempo percorrido, ela não conseguia o perdoar. Além disso, continuava a tratar os filhos como crianças, apesar de já serem adultos. Ela interferia de forma autoritária na vida dos filhos. Antes de iniciar a sessão de Apometria, a consulente disse que era injustiçada. Ela se considerava um “espírito de Luz” que fazia muita caridade, mas que era incompreendida. Ela reclamou da mãe, dos filhos e, sobretudo, do ex-marido e da atual mulher deste que, para ela, é a culpada por todo o seu sofrimento. Ao iniciar a sessão de Apometria com essa consulente, conseguimos tirar dois desencarnados que a acompanhavam, atraídos por sua vibração doentia. E a consulente teve a oportunidade de conversar com duas entidades que davam suporte ao trabalho: um Exu e um Caboclo. O Exu tentou orientá-la, dizendo que o problema era com ela. Aliás, afirmou que os problemas que o filho tinha eram causados pela energia deletéria que ela lhe enviava. A mulher ficou revoltada e bateu boca com o Exu, não aceitando nenhuma das orientações. Em seguida, o Exu foi embora e veio o caboclo. Este incorporou em uma médium e tentou conduzir uma regressão de memória com ela. Ele dizia que assim ela poderia entender o que aconteceu no passado e resolver o seu problema. Porém, segundo o Caboclo, ela estava bloqueando a regressão, não querendo ver a verdade, mas que eu havia captado o que tinha acontecido na vida passada dela e pediu para eu contar o que eu tinha intuído. Eu fiquei meio sem jeito, mas contei tudo o que veio em minha mente. Contei que em uma vida passada o seu atual marido era


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casado com a mulher com quem hoje ele convivia. Com esta, tiveram dois filhos. Porém, a consulente o seduziu, naquela outra existência, e o fez se afastar da esposa. Além disso, ela não aceitou cuidar dos filhos do casal, alegando que jamais cuidaria dos filhos de outra mulher. Assim, ela teria abandonado as duas crianças que, atualmente, são seus filhos biológicos. Continuei a história que veio em minha mente, e confirmada pelo Caboclo. Este tentou explicar a ela que na encarnação atual a justiça havia se restabelecido. Ou seja, quando o marido a abandonou, nada mais estava acontecendo do que a Lei de causa e efeito em ação. Para que ela parasse de sofrer bastava, segundo o Caboclo, perdoar o ex-marido e também a mulher com quem ele se uniu no presente. Disse também que o fato que ela vivenciou nada mais era do que uma oportunidade de aprender cuidar, com amor, dos Espíritos humanizados que havia abandonado no passado, por causa de seu individualismo. Mas ela não aceitou a informação. Continuou alegando que era um “espírito de Luz” e que nunca faria uma coisa dessas, nem em vidas passadas. Infelizmente, este caso demonstrou mais uma vez que a Apometria não é capaz de passar por cima do livre-arbítrio de ninguém. A Animagogia (educação espiritual) presente nesse atendimento reforça a tese de que após escolher o gênero de provas, cria-se, na vida de cada Espírito humanizado, uma série de provações. E, após a encarnação, o livre-arbítrio está no mundo interior. Não poderia ter sido diferente a vida dessa consulente. Ela teria que casar com a pessoa certa, precisaria ter dois filhos e, no momento preciso, ser abandonada pelo marido que passaria a viver com outra pessoa, a mulher que ele abandonou no passado. Em relação à consulente, ela tinha que cuidar daqueles que também abandonou no passado. Como ela dizia que não cuidaria de crianças que não fossem geradas por ela, dessa vez estava tendo a oportunidade de criar os filhos que gerou, mas sozinha. O caso é mais um que evidencia que a reencarnação é um fato e que a Lei de causa e efeito regula nossa vida humanizada durante a encarnação. Para essa mulher parar de sofrer bastaria ela aceitar o que aconteceu e ainda agradecer a Deus a oportunidade de aprender a amar aqueles que ela abandonou no passado e também


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os Espíritos humanizados que representaram o papel de marido e de amante. Mas ela preferiu continuar sofrendo. O terceiro caso que vou narrar, e deixei por último de propósito, mostra como a mudança de pensamento e a aceitação do “carma” pode amenizá-lo, diminuindo o sofrimento. Ou seja, o processo metanoico felizmente aconteceu. Neste atendimento foi possível compreender a força do perdão e constatar a Lei de causa e efeito funcionando, não para punir, mas para dar uma nova oportunidade de aprendizado ao Espírito humanizado em prova. Fomos procurados por uma mãe, não especificamente para um tratamento apométrico, mas para fazer algumas sessões de TVI em sua filha de aproximadamente dois anos de idade. A menina possuía deficiências físicas e mentais, sem que a medicina acadêmica conseguisse diagnosticar a enfermidade da criança. Além da TVI, a criança fazia Fisioterapia e Acupuntura em uma clínica da cidade. Na primeira sessão de TVI, a criança ficou feliz. Ria à toa e olhava para o espaço, brincando com alguém que não conseguíamos ver. Depois de algumas sessões, conversei com a mãe sobre o nosso trabalho de Apometria. Disse-lhe que, talvez, pudéssemos descobrir algumas coisas sobre a enfermidade de sua filha. Ela aceitou e no dia do atendimento, a mãe compareceu ao trabalho apométrico e, após a sessão ser aberta, uma das médiuns videntes começou a descrever um cemitério e uma pessoa chorando desesperadamente sobre um túmulo. A médium notou que se tratava do corpo astral da menina. Outra médium, com grande potencial sensitivo, percebeu as dores que a criança sentia e disse que tais dores originavam-se de remorsos morais. Enviando mais energia para a criança, a médium vidente transmitiu ao grupo a seguinte informação: em sua encarnação anterior, o Espírito humanizado que hoje é a filha com problemas mentais e físicos havia sido a mãe de várias crianças. Em um momento de grande revolta e descontrole emocional, matou todos os filhos. Sua atual mãe estava entre as crianças assassinadas. Este Espírito humanizado perdoou o ato e aceitou reencarnar para ser a mãe daquele outro, invertendo, agora, os papéis. Porém, o Espírito humanizado que veio a encarnar como a filha (a mãe dela


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na encarnação anterior) ainda manifestava, segundo a médium, dúvidas de ter sido realmente perdoado. Assim, ainda se lamentava pelo que aconteceu e sofria muito. Conseguimos, com um comando mental, retirar o corpo astral que se encontrava no cemitério e ela conseguiu se manifestar através de um dos médiuns de incorporação. Assim que se manifestou, começou a chorar desenfreadamente. Tentamos conversar, estimulando a Fé em Deus e informando que sua mãe atual a perdoou de verdade e que a amava muito. Aparentemente, ela aceitou nossas palavras de esclarecimento e consolo, ficando mais calma. Em seguida, ainda incorporado no médium, recebeu energia do grupo. Em seguida, com um comando mental, solicitamos que seu corpo astral fosse reacoplado novamente ao seu corpo físico. A mãe foi orientada, por um mentor do trabalho, a amar muito a filha e sempre dizer-lhe que a perdoou por tudo o que aconteceu no passado e que não guarda nenhuma mágoa ou rancor. Dois dias depois do atendimento, a mãe nos informou que o corpo da criança começou a apresentar um desenvolvimento mais intenso, chamando a atenção do médico e da fisioterapeuta que cuidava dela. Com este último caso, temos uma aparente contradição. Enfatizamos ao longo deste livro que o importante é a intenção que está por trás dos atos e não eles em si. Pela descrição acima, parece que foi o assassinato dos filhos que gerou o sofrimento no Espírito humanizado que reencarnou com graves problemas de saúde. Porém, na essência de todos os atos há uma intenção. E O Livro dos Espíritos esclarece que o maior mal da humanidade é o egoísmo. É ele que precisa ser erradicado. E não importa como ele se manifesta. No caso acima, o que motivou o assassinato foi o egoísmo daquele Espírito humanizado. Se não houvesse a intenção, pode ser que os filhos também morressem naquele momento, já que ninguém morre antes da hora, segundo a doutrina espírita. Mas poderia ser por outra causa, sem que houvesse a intenção de cometer um assassinato ou mesmo por acidente. E o que desencarna está diante de uma nova prova: perdoar ou não o seu “algoz”. O que não perdoa costuma se tornar um obsessor, passando a perseguir aquele que considera como o culpado pelo


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seu sofrimento ou por ter “morrido antes da hora”. É por isso que a doutrina espírita diz que “fora da caridade não há salvação”. E caridoso é aquele que sempre é benevolente, indulgente e perdoa aqueles que ferem seu ego, não importa o que aconteça. Em outras palavras, o ser caridoso não sofre e passa pelas vicissitudes, positivas ou negativas, com a Paz de Deus no coração. Foi o que aconteceu com aquele Espirito humanizado que perdoou e ainda reencarnou como mãe do outro, aceitando cuidar do seu antigo “algoz”.


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CAPÍTULO 9 DIALONGANDO COM SUICIDAS E COM VÍTIMAS DA EUTANÁSIA

Vamos abordar novamente a questão do suicídio e da eutanásia. Desta vez, apresentando uma descrição mais detalhada de vários casos atendidos na ONG Círculo de São Francisco. E, com base no que apresentamos até agora, a perspectiva da Animagogia é de que o nosso livre-arbítrio foi exercido no plano espiritual, quando escolhemos o gênero de provas para vivenciar na Terra. Assim, não haveria, em tese, um Deus julgador e punitivo que coloca algumas almas de seu lado “direito” e outras do lado “esquerdo”, ou que mostre preferência por este ou por aquele ser. A experiência com a Animagogia com seres humanizados desencarnados demonstrou que é a própria consciência do Espírito humanizado, na maioria dos casos, que decide o momento em que deseja encarnar, adquirindo “novos talentos” através do amor universal e escolhendo um novo gênero de provas. E o caminho mais curto para sair da roda da reencarnação (o samsara dos budistas ou a salvação dos cristãos) parece ser o da prática da caridade ou do altruísmo. E, entre os seres humanizados desencarnados, costumam necessitar do auxílio caritativo da Animagogia aqueles que, em sua última passagem pela Terra, cometeram suicídio. Segundo alguns livros espíritas, o suicida entra em um estado de sofrimento muito grande, que parece eterno. Se, por exemplo, sua morte foi provocada após ter se jogado na frente de um trem, o desencarnado passaria a se ver na linha do trem, vendo e ouvindo a composição se aproximar. Em seguida, por alguns instantes, sentiria a mesma intensidade de dor experimentada quando o trem arrebentou seus ossos e órgãos. Tal sensação se repetiria de forma constante, sem que o desencarnado soubesse como se livrar deste padrão mental, vivendo um sofrimento que lhe parece eterno.


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A prece por ele seria uma forma de energia balsâmica que ajuda o desencarnado que passou pela experiência do suicídio a sentir uma paz momentânea e um alívio de seu sofrimento. Em pouco tempo, porém, se o próprio desencarnado não mudar seu padrão consciencial, o mesmo som e imagens recomeçam, assim como a dor insuportável do corpo se despedaçando, narram os próprios desencarnados nas experiências mediúnicas. Um dos clássicos da literatura espírita sobre suicídio é o livro Memória de um suicida, escrito por um Espírito que diz ter vivido a personalidade Camilo Castelo Branco, o famoso escritor português. Para a maioria dos espiritistas que escrevem sobre o assunto, qualquer suicídio seria uma forma de transgressão à Lei de Deus, o que contradiz a resposta do Espírito Verdade, na questão número 853 de O livro dos Espíritos. Nesta questão encontramos que Deus sabe antecipadamente a hora e o gênero de morte de cada um, ou seja, Deus, em nenhum momento, pode ser “pego de surpresa” com o suicídio de um de seus filhos. O Espírito humanizado, antes de encarnar, pode não saber que irá cometer esse ato, mas Deus já sabia com antecedência, como o pai que sabe se o filho tem condições ou não de realizar uma determinada tarefa material, afirma também pai Joaquim de Aruanda. E se atentarmos à resposta do Espírito Verdade na questão 944, sobre o suicídio, que afirma não ter o homem o direito de dispor de sua própria vida, pois apenas Deus tem esse direito, e que o suicídio voluntário é uma transgressão dessa lei, podemos interpretar de uma forma diferente daquela adotada por alguns espiritistas que acreditam que o suicida morreu antes da hora, contradizendo também o ensinamento da questão 853 que afirma o seguinte: não importa o perigo, ninguém morre antes da hora. E os trabalhos de Apometria com alguns desencarnados parecem evidenciar esse ensinamento, ou seja, que apenas Deus tem esse direito, significando que o suicídio só se concretiza quando Deus assim também o permitir. Em outras palavras, mesmo que o Espírito humanizado tente por diversas vezes o suicídio, seu plano só se concretizará quando Deus o permitir. E, como já abordamos em outro capítulo, a Terra é um mundo de provas e expiações, e uma delas é vencer a tentação do suicídio.


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Assim, quando encarnados, é como se vivêssemos em um mundo imaginário ou uma Matrix onde o que importa é a intenção. Tudo aquilo que acreditamos ser Real não passaria de um filme que está sendo exibido em nosso cérebro. As únicas coisas REAIS seriam os Espíritos e seus sentimentos. Nós, enquanto Espíritos humanizados, e não importa se estamos encarnados ou não, seriamos os responsáveis pela manipulação da energia cósmica universal através do pensamento e dos sentimentos. E esta energia vai se manifestar nas formas materiais, e vai sempre estar presente na essência das pontes, viadutos, carros, venenos etc. E acima de tudo isso está Deus com sua Onipotência, Onisciência e Onipresença. Assim, vencer a tentação do suicídio seria uma das provas que o Espírito humanizado escolhe antes de encarnar e, a partir de sua encarnação, esta personagem com tendências suicidas torna-se também um instrumento para as provações de seus familiares, amigos e todos que se relacionarem com ele. Por isso, é importante atentar para a expressão “suicídio voluntário” na questão 944. Como ensina o Espírito Verdade, nem sempre isso acontece. O louco, por exemplo, não sabe o que faz, ele afirma em O livro dos Espíritos, relativizando o fato. Na prática apométrica, realizada a partir do enfoque da Animagógica, foi possível constatar que não é o ato de se suicidar que transgride a Lei de Deus, uma vez que Ele, em tese, já sabia que era dessa forma que aquele Espírito humanizado desencarnaria, mas a vontade (intenção) de cometer o suicídio, motivado, na maioria das vezes, por orgulho, por egoísmo, por falta de Fé etc. é que gera o sofrimento. Em suma, o sofrimento descrito pelo desencarnado é fruto da intenção com a qual vivenciou o ato e não o ato em si, pois o ato é material e a matéria nada mais é que energia cósmica universal. Se ao invés de cometer suicídio com um tiro na cabeça, o Espírito humanizado fosse atingido por uma bala perdida ou fosse morto em um assalto, também com um tiro na cabeça, o que aconteceria? Apenas a intenção mudaria o quadro, pois, materialmente falando, a situação seria a mesma: uma bala perfurando uma cabeça e levando a pessoa à morte. Até hoje, com 20 anos de experiência, não constatamos nenhum suicídio que não tinha sido voluntário. E os motivos são


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sempre o egoísmo, não importando a racionalização que o ego utilize para legitimar o ato. Assim, por permanecer preso ao ego, mesmo após o desencarne, ele sofre as consequências do egoísmo que, segundo o Espírito Verdade, é o maior dos males da humanidade (questão número 913 de O livro dos Espíritos). É por pensar de forma semelhante ao Espírito Verdade que a Animagogia praticada em valoriza a importância do amor universal e não luta contra atos motivados pelo egoísmo, já que é preciso abordar com profundidade a questão dos sofrimentos humanos e não os sintomas secundários do egoísmo. No contato com os desencarnados que cometeram suicídio, constatamos que o sofrimento descrito por ele aumenta conforme o grau de egoísmo que motivou o ato. O suicídio em si nada mais seria do que uma forma de desligar a personagem do corpo físico, porém, a intenção (que é uma atitude espiritual) gera o sofrimento atroz narrado pelos desencarnados através dos médiuns que os “incorporam”. Nas práticas apométricas que foram observadas para esta pesquisa, constatamos que alguns desencarnados conseguem encontrar uma forma de aliviar, momentaneamente, essa dor: por intermédio da obsessão. Apresentarei um caso em que essa forma de alívio da dor foi o meio que o desencarnado encontrou, lembrando sempre que Deus permite a obsessão como prova para o obsedado, conforme responde o Espírito Verdade na questão 466 de O livro dos Espíritos. E parece que o ensinamento do Espírito Verdade presente na questão número 551 que afirma não ser permitido por Deus que um homem “mau”, com a ajuda de um Espírito “mau” faça mal ao seu próximo, parece ser verdade. Se a obsessão acontece, é por merecimento, por estarem ambos os envolvidos (obsessor e vítima) na mesma vibração energética, na mesma sintonia. Após esse esclarecimento teórico, podemos continuar apresentando o caso. Segundo o depoimento do próprio desencarnado, incorporado em um médium, ele praticou o suicídio quando ainda vivenciava o ego de um adolescente na Terra. Afirmou ter procurado ajuda para o seu problema (que não foi relatado por ele) e nunca encontrou alguém que pudesse orientá-lo. Após muito sofrimento descobriu como aliviá-lo. E sua vítima passou a ser uma antiga amiga, ainda encarnada. De acordo com o desencarnado, ele se aproximava da


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amiga porque ela assim o permitia, devido a sua falta de Fé. Se não fosse ela sua vítima, seria outra pessoa, afirmou, comprovando que a Lei de afinidade une o “algoz” e a “vítima”. Encontrando afinidade vibratória, ao se aproximar de sua amiga, enviava para ela seus eflúvios deletérios. Ele parecia consciente de que não era mais um encarnado, mas não sabia como superar seu sofrimento de outra maneira. Enfim, o que ele buscava era parar de sofrer, mesmo sendo de uma forma egoísta, já que o seu alivio se transformava em sofrimento para a amiga. Obviamente que estamos narrando a partir da observação da fala e gestos do médium incorporado. O animagogo, durante a reunião mediúnica, tentou convencê-lo de que ele precisava, naquele momento, tomar consciência de que não estava sofrendo à toa. Era a sua própria consciência que o punia e pediu a ele para fazer uma prece reconhecendo seu erro e solicitando auxílio para repará-lo no futuro. Ele não acreditou nas palavras do animagogo, respondendo que sempre rezava. Disse a ele que suas orações de nada adiantavam. Sua única forma de alívio era aquela que ele praticava. Acreditava, porém, que, caso sua amiga também cometesse suicídio, ele se sentiria melhor. E esse era o seu plano. A situação estava se tornando dramática quando lhe foi dito que toda prece deve ser realizada com o coração limpo e não precisa ser feita com frases decoradas. Uma prece sincera lhe abriria muitas portas. Como ele relutava em fazer a prece, o grupo se ofereceu para fazê-la, pedindo ajuda para que ele pudesse ser preparado para uma nova encarnação. Ele, com um sorriso maroto, disse que não acreditava em reencarnação e perguntou se o animagogo acreditava em Deus. Depois da resposta afirmativa, ele pediu uma explicação. Ele queria saber como era possível alguém acreditar em Deus. Ao ouvir que pela razão não se chega a Deus e que só nos era possível sentir Sua presença com o coração puro e que todo o seu sofrimento após o desencarne aconteceu por sua falta de Fé, ele ficou pensativo. Novamente o animagogo orientou-o para que fizesse uma prece. Ele nada respondeu. Para quebrar o silêncio, o coordenador do atendimento perguntou se o grupo ali reunido poderia fazer uma prece para ele. Após ele fazer com a cabeça um sinal afir-


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mativo, o grupo fez a prece e, pouco tempo depois, o médium voltou do transe, e o desencarnado foi levado para tratamento em um hospital do mundo astral, segundo relato de outros médiuns. Em suma, ele havia cooperado consigo mesmo. Ao se abrir espiritualmente para a ajuda, permitiu que o socorro chegasse até ele. É importante assinalar que o fato de um obsessor ter sido esclarecido não significa que a pessoa que era sua “vítima” esteja livre. Se ela não fizer sua mudança consciencial e sentimental, ou seja, seu processo metanoico, desapegando-se dos bens materiais, sentimentais ou culturais e passar a ter uma Fé plena, outros desencarnados similares àquele poderão encontrar nela o alvo para aliviar suas dores e sofrimentos, já que se encontram no mesmo nível vibratório. Na Animagogia, a pessoa obsedada não é tratada como uma pobre vítima. Assim, não bastaria afastar o obsessor, é preciso esclarecer a vítima que ela precisa fazer sua mudança interior, aumentando o seu padrão vibratório. Passaremos, agora, para outro atendimento com suicidas. Dessa vez o trabalho foi realizado com um desencarnado que viveu um ego feminino e cujo suicídio foi motivado pelos maus tratos recebidos na infância. Possivelmente, o suicídio aconteceu no início da adolescência e foi um caso muito dramático de se acompanhar. Não tivemos informações sobre o que o mesmo vivenciou na infância, porém, ficou patente o aprendizado do Espírito humanizado de que o suicídio voluntário não foi o melhor caminho para encontrar a paz ou extinguir seus sofrimentos. Naquela sessão ficou claro que, ao acabar voluntariamente com sua própria vida física, o sofrimento que já manifestava enquanto encarnado se tornou muito mais agudo e traumático após a morte. Com a possibilidade de se manifestar por intermédio do corpo do médium, o desencarnado começou a chorar desesperadamente. O caso era tão grave que, para ser atendido, um dos mentores do trabalho incorporou em outro médium e passou a conduzir o trabalho de esclarecimento. O desencarnado gritava e afirmava sentir muito frio. Pediu que alguém segurasse suas mãos. Após receber vibrações através da TVI e conforto emocional, ficou mais tranquilo e parou de chorar. Tomando consciência de sua nova realidade e recobrando a consciência do que havia se passado, fez


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um apelo emocionado para que os pais procurassem amar seus filhos e não os maltratassem para que ninguém precisasse passar por uma experiência como a dela. Felizmente, ao final do trabalho de esclarecimento, ela compreendeu que eles (seus pais) foram os instrumentos de sua provação e que o egoísmo foi o responsável por seu sofrimento. Antes de partir, o animagogo solicitou que fizesse uma prece. Ela atendeu o pedido e rezou um “Pai Nosso” com muito ardor, enfatizando sempre a necessidade de proteger as crianças. Esse desencarnado que sofria os efeitos do suicídio voluntário foi levado para um tratamento mais específico no mundo astral e não tivemos mais informações sobre o seu estado. Abordaremos, agora, o caso de um suicida que não quis ajuda e que ainda afirmou que se vingaria por termos perturbado sua “paz”. Não ficamos sabendo se ele havia se tornado obsessor de alguém. Como ele estava tomado pelo ódio, não foi possível ajudálo naquela noite. Assim que aconteceu a comunicação através do médium, o desencarnado passou a maldizer os que o trouxeram para aquela reunião. Ele se manifestou livremente, uma forma de aliviar um pouco de sua ira e receber alguns eflúvios benfazejos. Ele afirmou que não precisava de ajuda e nem de esclarecimento. Dizia saber o que tinha acontecido com ele e que estava bem assim. Seu único desejo naquele momento era de que o libertassem para que pudesse ir embora. Disse, em tom ameaçador, que se ele não fosse solto imediatamente voltaria para se vingar de todos: “Vocês sabem o que é vingança, não é? Se vocês não me libertarem agora, vou me vingar de cada um de vocês!”. Os participantes, percebendo que estavam diante de um desencarnado que ainda não se encontrava em condição de ser auxiliado, fizeram uma prece pedindo a Deus e à espiritualidade superior que amenizassem o ódio que ele ainda manifestava e que o mesmo pudesse voltar em outra ocasião. Infelizmente, naquele momento, ele ainda não havia aprendido o valor do perdão. Esses três exemplos nos dão uma ideia da dificuldade que é tentar criar um sistema genérico para o esclarecimento e atendimento espiritual. Cada Espírito é uma totalidade e reage singularmente. É assim durante a encarnação e, provavelmente, continua sendo assim no plano astral até que o Espírito humanizado


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se liberte do ego que construiu para vivenciar suas provações na Terra. Mas é importante lembrar sempre que mais importante que o ato praticado é a intenção com que o mesmo foi vivenciado. Quanto mais preso ao egoísmo, mais sofrimento vivencia aquele que comete suicídio. Abordaremos agora o efeito da eutanásia em espíritos humanizados que vivenciam o ego materialista. Como já salientamos em capítulos anteriores, o ensinamento do Espírito Verdade presente em O livro dos Espíritos é claro: não importa o problema, ninguém morre antes da hora (853). Além disso, na questão sobre homicídio (746), encontramos que este ato corta uma vida de expiação ou de missão, mas não foi dito que este corte acontece antes da hora prevista. Se tal informação aparecesse, estaríamos diante de uma contradição nos ensinamentos do Espírito Verdade. Sabemos, porém, que não é essa a posição dominante no meio espiritista brasileiro. Nesse meio, é comum encontrar doutrinadores ensinando que, por imprudência, e também através da eutanásia ou do suicídio, “alguém morre antes da hora”. No trabalho animagógico que agora vamos relatar não se confirmou essa visão espiritista que contradiz o Espírito Verdade. A eutanásia, como forma de cortar uma vida de missão ou de expiação, aconteceu na hora que o desencarne deveria acontecer. Podemos dizer que a eutanásia interromperá uma existência sim, porém, na hora prevista por Deus. Se há algum problema espiritual para quem pratica o ato estaria na intenção como o mesmo foi vivenciado. Ou seja, o ato foi praticado com sentimento amoroso ou egoísta? O ato pode ser feito para aliviar a dor e o sofrimento de alguém ou para se libertar de uma pessoa que se tornou um incômodo para a família ou que está dando muita despesa para o hospital. Em suma, como já vimos em outras respostas do Espírito Verdade, aqui também Deus julga a intenção e não os fatos, para que haja coerência. Em relação àqueles que desencarnam pela eutanásia, se há algum sofrimento, não foi por causa do ato em si, mas de sua condição espiritual no momento do desligamento, ou seja, do grau de vinculação ao ego vivenciado na Terra. Vamos relatar agora alguns atendimentos de educação espiritual (Animagogia) com alguns desencarnados que, suposta-


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mente, passaram pela vicissitude de seres desligados do corpo físico por meio da eutanásia. Como salientamos, não parece ter sido este o problema que retardou a readaptação do desencarnado, mas o fato de se interessarem apenas por questões materiais, dando pouca ou nenhuma atenção para a dimensão espiritual. Neste trabalho com as “vítimas” da eutanásia, a primeira parte do trabalho consistiu em discutir o tema para, na etapa seguinte, por meio da psicofonia, conversar e tentar orientar alguns desencarnados incorporados nos médiuns. E, como constatamos, o que faz esses desencarnados vagarem de forma desorientada pela Terra não foi a eutanásia, mas o fato de terem vivenciado egos materialistas, o que não significa que são Espíritos “inferiores” ou “maus”. O fato de se dedicarem, em tese, apenas às questões materiais fez com que se esquecessem da existência da vida espiritual, perdendo a consciência ao entrarem em coma. Ao serem desligados do corpo físico ficaram inconscientes, anestesiados e sem saber quem eram e o que estava acontecendo, algo similar ao que ocorre, normalmente, com viciados em drogas alucinógenas. A situação vivenciada por tais desencarnados seria uma forma de expiar o excesso de materialismo durante sua última encarnação e esse tempo vai variar de acordo com o grau de apego ao ego e a toxidade que precisariam drenar de seu corpo astral. De dezenas de desencarnados assistidos com o mesmo problema, apenas um conseguiu se lembrar de seu nome na Terra, nas reuniões presenciadas por mim. Porém, mesmo assim, o fato aconteceu com muitas dúvidas. Ele não lembrava se o seu nome era Roberto ou Alberto, na Terra. Este foi um dos raros desencarnados que vivenciou a eutanásia e conseguiu conversar de forma um pouco mais articulada com o grupo animagógico. Durante o atendimento, primeiramente quis saber onde estava. Ele recebeu a informação de que estava em uma casa espiritual que orientava os desencarnados que lá chegavam. Segundo suas palavras, ele conseguia ouvir o que ali se dizia, mas não conseguia enxergar ninguém. O animagogo pediu a ele que fizesse um esforço mental, não se preocupando em enxergar com os “olhos físicos”, mas com a alma enquanto o grupo enviaria energia. Ele ficou concentrado por alguns instantes e começou a chorar. Tomou consciência de que não estava mais encarnado e


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começou a sentir saudades da filha. Ele falou, chorando, que havia deixado na Terra uma filha muito bonita, chamada Carmem. Pediunos que a ajudássemos também com preces. Emocionante, porém, foi quando ele nos disse que estava percebendo que Deus existia mesmo e começava a se lembrar de outras existências, de outras encarnações. Apesar das descrições realizadas pelos sensitivos, sabemos que nos atendimentos de Apometria o trabalho realizado pela espiritualidade é muito diversificado. Para nós, os encarnados, o trabalho se resume em passar algumas informações para o desencarnado e, sobretudo, emitir energia através das mãos para auxiliar no socorro. É comum nesses atendimentos a produção de uma espécie de tela em sua mente onde o desencarnado que está sendo ajudado revê passagens de suas outras encarnações. Possivelmente, era o que estava acontecendo com esse desencarnado, uma vez que, depois de alguns minutos, ele exclamou emocionado: “Então existe mesmo a reencarnação!”. Aparentemente, aquela experiência estava sendo muito intensa para ele. Depois que já se encontrava menos ansioso e suas emoções pareciam estar sob controle, ele contou que havia estudado muito e que, enquanto esteve encarnado, abrira muitos corpos e que nunca havia encontrado o “espírito” de que muitos falavam. Sua fala, através do médium, demonstra que ele tinha interesse em encontrar evidências materiais da existência espiritual, mas, ao mesmo tempo, não encontrando o “espírito” nos corpos abertos, mais materialista se tornava. Também levantamos a hipótese de que ele havia sido algum médico ou, quem sabe, algum acadêmico da área da saúde, trabalhando, possivelmente, com o ensino de Anatomia ou alguma disciplina semelhante. Como não era o momento para conversar sobre curiosidades da vida física, continuou-se o diálogo sobre o mundo espiritual. Percebendo o desejo sincero daquele grupo em auxiliá-lo, pois esta não era nem a primeira nem a última vez que passaria por esse processo de readaptação consciencial, ele ouviu atentamente as palavras do animagogo. Este lhe dizia que o Espírito, apesar de invisível para os olhos do encarnado, existe. E o mais importante: ele precede a existência do corpo físico. Ou seja, a nossa condição natural seria como Espíritos.


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Foi constatado que o desencarnado ficou satisfeito com o auxílio e muito aberto às colocações do animagogo. Ele dizia sentir os bons fluidos que estava recebendo durante aquela experiência e solicitou uma oração, por ele e por sua filha Carmem. Algumas questões relacionadas a esse caso são importantes e merecem aprofundamento. Uma delas é em relação ao espaço físico. Dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço, se estiverem na mesma dimensão. Assim, o que acontece do “outro lado” o nosso cérebro não se encontra programado para decodificar. Mesmo um médium vidente não terá condições de enxergar tudo o que acontece no plano astral, mas somente o que tiver permissão para acessar. É com base em relatos da equipe espiritual socorrista que recebemos a informação de que nem todos os desencarnados atendidos são levados imediatamente para alguma colônia espiritual. Muitos continuam em outros “ambientes” da casa, recebendo ainda “tratamentos médicos”. A energia que os encarnados liberam é importante para a recuperação de desencarnados que ainda se encontram presos às verdades criadas pelo ego, daí o fato de alguns afirmarem que não enxergam ou que não ouvem. Em tese, eles se esqueceram de que, no plano astral, os órgãos físicos não são mais necessários. É tudo uma questão de readaptação. É possível concluir que as aflições que atingem os seres desencarnados vitimados pela eutanásia são produções mentais e não uma hipotética “desencarnação antes do tempo”. Aquele que cultivou excessivamente uma visão materialista em sua última encarnação, com o desencarne vivenciará durante algum tempo o fruto da “cegueira” e da “surdez” espiritual que cultivou na Terra, sofrendo por não saber o que está acontecendo com ele. Muitos que desencarnam por eutanásia permanecem dormindo por um período variado para cada caso. E se pessoas encarnadas orarem, a recuperação será muito mais rápida. A energia emitida pelas preces parece excelente e indispensável remédio para todos, encarnados ou não. Porém, se acreditarmos que apenas Deus tem o direito de definir a hora que o desencarne acontecerá, não existe eutanásia e nem o processo oposto, a distanásia. Aquele que “antecipa” ou “prolonga” uma existência seria apenas um instrumento da justiça divina, já que a hora programada para o desencarne ainda não havia chegado ou passado.


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CAPÍTULO 10 DESCOBRINDO A MORTE DO CORPO FÍSICO, A COMUNICAÇÃO MEDIÚNICA E O VALOR DA PRECE

Vamos apresentar alguns trabalhos de esclarecimento espiritual em que o desencarnado ainda não estava, em tese, consciente de que estava “morto” ou em que ele descobre pela primeira vez a comunicação mediúnica e o valor da prece feita com Fé e amor. Constatamos que o espanto ou a alegria manifestada pelo desencarnado sempre causa algum tipo de surpresa também à equipe de encarnados presente no trabalho animagógico, uma vez que parece ser uma tendência natural achar que depois do desencarne a consciência seria plena, mesmo sabendo que o desligamento da Individualidade pode demorar séculos e até milênios. Fatos assim são comumente observados em filmes como “o sexto sentido” ou “os outros”. Segundo a literatura espírita esse fato é muito mais comum do que possamos imaginar. É por isso que parece ser racional a ideia de que devemos nos libertar da ilusão criada pelo ego o mais rapidamente possível, deixando de acreditar em suas verdades, pois, se daqui a cinco segundos formos desligados do corpo físico, manteremos nossos apegos, desejos e pensamentos individualistas, e ficaremos imantados ao mundo ilusório da matéria, ao invés da possível condução para as “moradas espirituais superiores” que transcendem as formas materiais, as percepções, as sensações etc. A consciência da morte física envolve certa polêmica. Alguns espiritistas acreditam que o “doutrinador” nunca deve dizer ao Espírito humanizado trazido para o atendimento que ele está desencarnado. Isso faria com que ficasse ainda mais desesperado. No enfoque da Animagogia, o esclarecimento é visto como o melhor caminho para o Espírito humanizado resgatar sua cons-


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ciência espiritual. É claro que tudo depende de como o esclarecimento é realizado nesse momento dialógico entre um encarnado e o desencarnado iludido pelo ego. Mas omitir essa informação seria valorizar a ilusão material ao invés da metanoia. A situação parece similar a do médico que discute com a família se um paciente deve ou não saber que está com câncer e em estado terminal. Há casos em que o paciente irá piorar se souber, entrando em profunda depressão e, praticamente, entregando-se ao “destino”. Mas há aquelas pessoas que preferem saber a verdade e encontram forças para superar mais um desafio na vida. No caso do desencarnado que ainda não sabe que “morreu” o problema parece ser o mesmo. Mas se a nossa condição Real é como Espíritos e não como seres humanizados encarnados ou desencarnados, parece óbvio que não se deve omitir a informação acima. Segundo os mentores que conduzem o trabalho animagógico, em nenhum momento afirmaram que os desencarnados tiveram sua situação agravada pelo fato de ouvirem o animagogo dizer que se encontravam no plano astral, sem o corpo físico. Para a melhor compreensão do leitor, vamos aqui discutir alguns exemplos em que essa situação ocorreu. Começaremos pelo caso de um desencarnado que estava totalmente confuso. Ele não parecia sofrer, mas estava completamente perdido e sem entender o que se passava com ele. O grupo foi orientado, posteriormente, que se tratava de um desencarnado benevolente. Isso impediu que ele virasse alvo de obsessores. Estes últimos não conseguiam vê-lo graças à diferença vibracional. O problema dele seria a falta de interesse por questões espirituais em sua última passagem pela Terra. Mas teria sido graças às preces de familiares e de amigos que foi possível levá-lo para aquele trabalho animagógico, com a permissão de Deus, obviamente. Assim que se manifestou através do médium, quis saber onde estava. Após o animagogo explicar o que acontecia naquele local, ele quis saber como havia chegado até ali. Ao ser esclarecido que alguém o amava muito e fizera preces pedindo para ele ser auxiliado, o que permitiu às entidades espirituais o levarem para conversar com aquele grupo, constatamos que o desencarnado


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não havia percebido ainda sua nova condição, mas já dava sinais de que estava chegando à conclusão de que havia “morrido”. O animagogo, para evitar falar que ele estava “morto”, iniciou um diálogo falando que a morte não existia e concluiu dizendo que ele havia desencarnado. Ingenuamente, ele perguntou: “O que é isto?”. Essa pergunta desconcertou por um instante o grupo. Mas, depois do “choque”, o animagogo procurou humildemente esclarecê-lo de que não se encontrava mais preso a um corpo físico. Ao tomar consciência, talvez pela primeira vez, que estava “morto”, quis saber como seria viver como desencarnado. Ao ser lembrado que essa não era a primeira vez que passava pela experiência do desencarne, o animagogo pediu a ele para ficar tranquilo e fazer uma prece pedindo auxílio a Deus. Dessa forma, ele seria conduzido para um local adequado, no mundo astral, para continuar se readaptando, com muito amor e paz, à verdadeira vida. Ele disse que não sabia rezar e pediu ao grupo para fazer uma oração por ele. Atendendo ao seu pedido, a prece foi realizada e ele falou que via duas entidades e que não estava sentindo medo. Dentro de alguns segundos o médium voltou do transe em que se encontrava. Partindo do pressuposto que não se trata de um caso de alucinação coletiva, podemos dizer que esse caso demonstra um sensível e positivo trabalho de esclarecimento em que o Espírito soube que estava “morto” sem que isso gerasse problemas mais graves para ele. O mesmo pôde ser socorrido tranquilamente pela espiritualidade. Discutiremos agora outro caso de descoberta da “morte”. Aqui, curiosamente, além de tal descoberta, houve ainda outra também singular: a de como funciona a comunicação mediúnica entre os seres humanizados desencarnados e os encarnados. Quando o processo psicofônico teve início, ficou evidente que o desencarnado comunicante não havia se conscientizado do fato que mais assusta a humanidade: a morte. Ele, porém, não demonstrava raiva nem manifestava qualquer tipo de sofrimento. Apenas parecia desorientado. Como no caso anterior, o desencarnado cumprimentou todo o grupo e queria saber onde estava. Sua indagação foi respondida e o grupo se colocou à disposição para tirar outras possíveis dúvidas. Ele nos agradeceu por mostrar


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interesse em auxiliá-lo e fez mais algumas perguntas. Depois de muito dialogar, o animagogo pediu a ele que olhasse para o corpo que estava “utilizando” para se comunicar com o grupo. Ele olhou atentamente para o corpo do médium e com um ar de ingenuidade respondeu: “Não... não é o meu corpo!”. Nesse momento, o animagogo tentou pacientemente transmitir a informação de que ele era um desencarnado que não mais habitava o mundo material. Ele não deu sinais de que a informação estivesse lhe causando algum mal-estar e chegou a dizer a seguinte frase: “Então eu morri!”. Mas sua atenção parece ter se voltado para o processo comunicativo entre os dois mundos (que na verdade é um só). O animagogo procurou, então, esclarecer-lhe que era possível conversar com os encarnados por intermédio de técnicas mediúnicas. Ou seja, que ele estava se comunicando através de um médium e que tal técnica era conhecida como psicofonia. Como hipótese, acredito que o desencarnado já tivesse ouvido falar em comunicação com os “mortos”. Mesmo os ateus e os que acreditam que apenas o corpo físico existe já ouviram falar no assunto. Possivelmente, ele não devia levar o tema a sério enquanto encarnado e, naquele momento, parecia deslumbrado com sua condição de “morto” que conversava com os “vivos” por meio de um médium. Não tivemos nenhum comunicado por parte das entidades responsáveis pelo caso para saber se tal hipótese se confirmava. O importante, porém, é que a informação de que era um “morto” não o prejudicou ainda mais, como defendem alguns espiritistas. Para encerrar o diálogo, o animagogo pediu a ele que fizesse uma prece de agradecimento. Ele preferiu que o grupo fizesse. Ele segurou as mãos do animagogo e uma prece foi feita para que ele fosse conduzido para um local no mundo astral a fim de continuar sua recuperação e, quem sabe, um dia retornasse na condição de novo trabalhador, ajudando no resgate de outros necessitados no plano astral. No decorrer da prece ele foi conduzido e o médium retornou do transe. Vamos apresentar agora mais um caso importante e que serve de alerta para os encarnados: o de um desencarnado que havia sido cristão e que não sabia que a prece também deve ser feita


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pelos “mortos”. Não soubemos qual era a religião dele enquanto se encontrava encarnado, mas foi possível deduzir que era um cristão, de alguma agremiação evangélica. Ele estava assustado e com medo. Dizia que se encontrava em um lugar sem luz. Ao mesmo tempo, tínhamos a impressão de que ele estava consciente de não mais habitar o mundo material. Durante sua fala, exclamou: “Aqui não é o paraíso que imaginei!”. Sua expressão manifestou o desconhecimento da necessidade de se libertar do ego para a Individualidade vivenciar seu “paraíso” interior. O animagogo conversou um pouco sobre reencarnação e sobre a escalada gradual do Espírito humanizado para vencer o ego e chegar ao “paraíso”, que não é externo, mas interno. Ele parecia compreender essa reflexão. Possivelmente, durante a conversa, ele se lembrou de outras encarnações ou de algum fato que fazia com que as colocações do animagogo fizessem sentido. Ele demonstrou muito interesse e confiança nas explicações que foram transmitidas, mas queria saber por que havia sido “punido” por Deus, já que ele havia sido uma pessoa boa. Após ouvir que Deus não punia ninguém e que para sair do “local” onde ele dizia estar, seria necessário, em primeiro lugar, perdoar a si mesmo, ele ficou pensativo e quis saber como poderia fazer isso. A resposta foi que ele fizesse uma prece pedindo ajuda a Jesus e se perdoando pelos erros cometidos. Ele, com espanto, exclamou: “É mesmo! Por que eu não pensei em fazer uma prece antes?”. Ele foi convidado para fazer a prece e aceitou. Todo o grupo deu as mãos e ele fez uma singela oração que emocionou a todos. Alguns segundos após o término da prece, o médium voltou ao seu estado de vigília. Este último caso apresenta uma questão instigante, já discutida na primeira parte desse livro. Ao despertar no plano espiritual, nem sempre o Espírito encontrará o mundo que imaginava antes da morte. Talvez por orgulho, esse desencarnado tinha forte convicção de que, ao morrer, encontraria o “paraíso”. Outra hipótese possível para esse caso é a da crença, comum entre alguns segmentos religiosos cristãos, de que Deus ou Jesus pune ou perdoa nossos atos. Bastaria se confessar a um padre ou participar


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de algum ritual para ter os “pecados” perdoados. Algumas correntes cristãs acreditam que não temos mais “pecados”, pois Jesus teria nos salvado por intermédio da cruz. Porém, apenas uma consciência tranquila e em paz é capaz de levar alguém para a Luz, que não está fora, mas dentro de cada um. E a prece, seja na Terra ou no plano astral, é o melhor caminho para solicitarmos auxílio aos “anjos” socorristas. Já dizia Jesus: “Bata e a porta se abrirá!”.


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CAPÍTULO 11 DIALOGANDO COM OS “FALSOS PROFETAS”

Em um dia de atendimento, os mentores do trabalho avisaram, através dos médiuns, que seriam auxiliados vários “falsos profetas”. Perguntei o que definiria um e a resposta dele foi esta: “o Espírito humanizado que não pratica o que ensina, independente de religião”. A resposta deste mentor é interessante. De forma geral, cada adepto de uma religião considera a sua “verdadeira” e as demais como sendo as “falsas”. Assim, os doutrinadores da agremiação religiosa rival costumam ser classificados como “falsos profetas”. Porém, segundo a resposta, cada religião possui os seus “falsos-profetas”. E pai Joaquim de Aruanda vai além e diz que, no plano espiritual, não há a necessidade de religião. Essa seria uma necessidade típica dos mundos de “provas e expiações”. Nesse sentido, afirma que as religiões também são campos de provação. E sempre que idolatramos uma religião, nos esquecemos de amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, já que deixamos de emanar amor universal para amar apenas os que pensam e agem da mesma forma ou seguem a mesma religião, ele afirma. Como salientamos, segundo os mentores daquela noite, os “falsos profetas” estão em todas as religiões, e são aqueles que passam a difundir que sua religião é a verdadeira, a superior, e que as demais são falsas e devem ser combatidas. E nesta categoria de “falsos profetas” estão também os desencarnados que, presos ao ego, utilizaram seu poder de liderança religiosa ou espiritual para se beneficiar materialmente. Nessa categoria, há ex-pastores evangélicos que encontraram na religião uma forma de fazer fortuna, ex-líderes de seitas, grupos esotéricos ou “Nova Era” que comercializavam o intercâmbio com a espiritualidade e até médiuns kardecistas ou de umbanda que não


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usaram a mediunidade que receberam da Providência Divina para a prática da caridade ou que se fingem médiuns para autopromoção. Durante os atendimentos, foi possível constatar que os “falsos profetas” costumam apresentar rápido raciocínio e domínio dos ensinamentos sagrados. Ou seja, na maioria das vezes, o grupo está diante de desencarnados cultos e que gostam de conversar. O problema dos “falsos profetas” costuma ser o orgulho, o charlatanismo e a crença de que ainda se encontram encarnados e ludibriando as pessoas. Vamos narrar, primeiramente, o caso de um desencarnado muito irônico. A impressão era de que ele havia se aproveitado muito bem de sua profissão de “falso profeta”. Assim que a médium entrou em transe, ele começou a nos oferecer seus serviços de orientação espiritual. Foi fácil notar que ele ainda não havia se apercebido de que não estava mais entre os encarnados. Quando recebeu a notícia, quis saber onde estava e começou a ficar mais interessado no diálogo que ali acontecia. Parou de falar um pouco e tornou-se mais receptivo. De repente, exclamou: “Então existe mesmo essa história de alma!”. Ao mesmo tempo em que parecia contente com a revelação, começou a contar que havia magoado muitas pessoas. Ele demonstrava sinais de arrependimento. Mesmo sem saber o que ele havia feito, o animagogo falou para ele buscar se abrir, a partir de agora, para os ensinamentos espirituais e que se tornasse mais um trabalhador no plano espiritual. O diálogo pareceu ter surtido algum proveito para ele. Aparentemente, estava feliz e pediu uma prece antes da médium voltar do transe. Outro desencarnado que vivenciou o ego de “falso profeta” na Terra, atendido pelo grupo em questão, foi ilustrativo. Sem perceber que estava se manifestando por meios mediúnicos, assim que viu o animagogo falou: “Boa noite irmão, deseja algum conselho?”. Ele foi informado que o grupo estava contente com sua presença e que gostaria muito de ouvir seus conselhos. Porém, também gostaria que ele ouvisse os conselhos que seriam passados para ele, caso não se importasse. Surpreso, talvez por ser ele a


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pessoa que vendia conselhos espirituais, quis saber o que o animagogo teria para lhe dizer. Após ser informado que estava vivendo no mundo astral, que era um ser desencarnado e que seu corpo físico não mais existia, ele disse: “Mas eu não estou no Céu! Onde está o Céu para onde eu deveria ir?”. Ficou patente, naquele momento, que ele vagava desorientado pela Terra, acreditando que ainda estava encarnado e vendendo seus conselhos espirituais. Ao ser informado que não existia um espaço circunscrito chamado de “céu” ou de “inferno”, mas que o reino de Deus estava dentro de cada um e que, para se libertar da Terra, ele precisaria mudar suas atitudes (sentimentos e pensamentos), ele se interessou e perguntou como fazer isso. Ele foi orientado a fazer uma prece do fundo da alma, pedindo ajuda e o esclarecimento espiritual. Meio arrependido, ele não quis fazer a prece e pediu para que o grupo a fizesse para ele. Outro “falso profeta” que foi atendido pelo grupo não tinha interesse em dar conselhos. Sua preocupação era com o fato de “não estar no Céu”. Ao contrário do anterior, tinha consciência de que não se encontrava mais no mundo dos encarnados. Ao perguntar onde estava, ficou intrigado com a nossa resposta e disse: “Aqui não se parece com nenhuma das igrejas que conheço. Isto não parece uma Casa de Cristo”. Ele foi esclarecido da sua participação em um trabalho mediúnico e que sua comunicação conosco, os encarnados, se dava através de um médium de incorporação. Ele disse-nos que já havia escutado falar no assunto, mas que não acreditava nisso. Porém, sem alternativa, aceitou o fato, e pediu uma prece antes de ser resgatado. Também registramos o atendimento de um típico charlatão que vivera da exploração espiritual na Terra. Ele se mostrava tranquilo e muito irônico. Possivelmente seria um desencarnado que os adeptos da Doutrina Espírita classificariam como “zombeteiro”. Ao contrário dos demais que questionavam seriamente ou com desconfiança onde estavam, este parecia estar bem tranquilo quando fez a pergunta. E quando soube que havia desencarnado, respondeu com uma mistura de ironia e curiosidade: “Iiiiiih! Então eu já era!”.


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Sua forma descontraída de conversar com o grupo ajudou a criar um clima bem amistoso, apesar da seriedade do trabalho. Ele foi informado que o corpo físico que usou em sua última encarnação “já era” mesmo. Porém, sendo um Espírito eterno, ele permanecia vivo. Ele parecia tranquilo com sua nova situação, lamentando apenas um pouco de dor em seu corpo astral. Ele foi orientado a tentar amenizar a dor com a força do pensamento e pedir em uma prece sincera, a Deus e a Jesus, a ajuda necessária para se livrar das dores, já que elas eram reflexos da personagem da qual estava se libertando, e retomar sua consciência humana plena. Com expressão de curiosidade perguntou ao animagogo se a prece realmente funcionava. Ao ouvir que sim, tanto no mundo material como no espiritual, ele pediu que uma fosse feita por ele. Os casos apresentados acima resumem a condição dos desencarnados que viveram o ego de “falsos profetas” na Terra. E não importa a religião que abraçaram, conforme a maioria relata, por algum período ficaram na “escuridão”, sofreram dores e sentiramse atordoados mentalmente por não encontrarem o Céu que “venderam” na Terra. Aparentemente, não seriam Espíritos “maus”, apenas não fizeram com amor a missão que receberam. Usaram para fins egoísticos o poder que Deus confiou a eles.


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CAPÍTULO 12 ALGUNS DESAFIOS E A BUSCA POR AUTODOMÍNIO: A FUNÇÃO ESPELHO NA PRÁTICA

Apesar de toda e qualquer preparação teórica, é somente na hora do contato com os desencarnados necessitados de auxílio que aprendemos a ter autodomínio sobre a situação e a superar diversas barreiras, principalmente mentais. A Animagogia é, sobretudo, uma prática educativa e não apenas uma teoria. E é justamente no trabalho cotidiano com os seres humanizados desencarnados que a Animagogia se torna plena. Sem falar que os casos mais complexos, onde o ódio parece ser fim, que inúmeras lições morais podem ser aprendidas. Escrevo isso porque, compreendendo o problema de cada desencarnado, aprendemos que, de fato, o único caminho para a Individualidade se libertar do ego está no ensinamento cristão: “amar o outro como a si mesmo”. A Animagogia com os seres humanizados desencarnados é um dos trabalhos de doação voluntária mais difícil e, a cada novo encontro, notamos como ainda não estamos totalmente preparados para realizá-la. Os problemas são singulares e cada atendimento exige criatividade e autodomínio para não ofender nem agredir o desencarnado comunicante, e também para não se envolver emocionalmente com cada um e nem transformar em meras curiosidades suas experiências traumáticas, respeitando a experiência e o valor de cada desencarnado, sem julgá-lo ou puni-lo. Além disso, o trabalho com os desencarnados deve ser sempre compreensivo. Mesmo que “erraram” ao deixar de amar, cada um nunca deixa de ser um instrumento inconsciente da justiça divina. Ou seja, seus atos foram aqueles que o outro, naquele momento, necessitava receber.


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Em um dos primeiros trabalhos de esclarecimento que coordenei, foi trazido um desencarnado que parecia muito irritado. Queria saber por que aquele grupo tinha perturbado sua paz e por que estavam com aquela “conversa mole” para cima dele. Em determinado momento, olhou bem para mim e perguntou: “Por que você está com medo de mim?”. Eu respondi que não era medo, mas a ansiedade normal que cerca o primeiro encontro com um desconhecido, ainda mais com um ser que já deixou o mundo material. Mas que, apesar de tudo, estava ali para ajudá-lo no que estivesse ao meu alcance e competência. Aquele desencarnado, embora se lamentasse por não conseguir fazer nada direito, felizmente, se abriu e extravasou seu ódio, podendo, assim, ser socorrido para esferas mais elevadas. Em outro atendimento, o trabalho estava sendo realizado com um desencarnado que se manifestava através de uma forma feminina. Parecendo perdido e com medo enquanto conversava comigo, outro desencarnado se manifestou em outro médium, e começou a dizer que era irmão dela e pedia-lhe para acompanhá-lo. Seu tom de voz era estranho e sem afeto. Era nítida a falsidade em sua intenção. Eu continuei o atendimento e questionei o primeiro se conhecia aquele que se identificava como seu irmão. Além de responder negativamente, informou que sentia muito medo dele. Mas o outro desencarnado continuava insistindo para que ela fosse embora com ele. De repente, um terceiro médium incorporou um dos mentores do trabalho que, com uma postura séria, enérgica e vigorosa, criticou o que tentava enganar a jovem desencarnada. Não sabemos o que aconteceu, mas aquele começou a chorar e afirmou estar arrependido, dizendo que não enganaria mais ninguém. Dessa vez ele pareceu sincero e foi retirado pela espiritualidade que conduzia o trabalho e eu, na figura de animagogo, continuei o diálogo com a entidade feminina. Após este atendimento, o mentor do trabalho se manifestou e orientou os médiuns a não dar passagem a mais de um desencarnado por vez, exceto em casos excepcionais, para que algo semelhante não voltasse a ocorrer. A intenção daquele desencarnado não era boa, mas, aparentemente, também acabou sendo


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esclarecido e auxiliado. É a velha máxima: nada acontece sem a permissão divina! E, em outra ocasião, um ser humanizado desencarnado e infeliz, mas, sem dúvida, esclarecido, manifestou-se. Para cada colocação que eu fazia, ele tinha sempre uma resposta na ponta de sua língua e ele sempre dizia que o eu tinha os mesmos problemas que ele. Por exemplo, se eu falasse sobre a importância de se livrar do ódio, ele dizia que eu também tinha muito ódio em meu coração. Se eu falasse algo sobre felicidade, ele respondia que eu também não era feliz. Aquele desencarnado parecia não compreender como alguém que vivia os mesmos problemas poderia lhe ajudar. Mas parece que algo mexeu com ele quando eu lhe disse que independentemente de estarmos encarnados ou não, estamos todos juntos nesse processo de aprendizagem, trabalhando e buscando nosso próprio aprimoramento espiritual, aprendendo a amar universalmente. Falei, também, que ele não estava apenas sendo ajudado, mas também nos ajudando a entender e aceitar que devemos ser felizes incondicionalmente, libertando-se do rancor e do ódio, perdoando a todos etc. Essa minha colocação o deixou sensibilizado. Mas calmo, pediu ao grupo que fizesse uma prece por ele. Em outra reunião, um desencarnado manifestou-se pedindo ajuda. Ele se dizia amarrado e que não conseguia se livrar das cordas. Nesse momento, o médium que apenas recebia os mentores que conduziam o trabalho (seja para auxílio no esclarecimento dos desencarnados ou para trazer alguma informação para a equipe de médiuns) incorporou um desencarnado com corpo astral de mulher, possivelmente, que tinha sido a mãe biológica do rapaz. Ela agradeceu o grupo por estar ajudando-o e disse que esperava ansiosamente por esse momento. Ela mesma, então, começou a esclarecer o desencarnado. Disse-lhe que ele não estava amarrado e que deveria desfazer aquela imagem para se libertar. Falou que, pela forma como desencarnou (não ficamos sabendo detalhes do que aconteceu), ele mantivera aquela impressão e sofrimento em sua mente pelo tempo que Deus considerou necessário e como forma de expiação. Mas que já era hora dele perceber que não tinha mais o corpo físico.


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Quando o que recebia o atendimento parecia estar rompendo com o pensamento doentio que o prendia àquela situação, a que ajudava pediu para fazer uma prece e foi embora junto com o rapaz. Ambos os médiuns voltaram à consciência quase simultaneamente. Outro atendimento também emocionante aconteceu quando um desencarnado se manifestou através do médium identificando-se como André e dizendo que sentia muito frio nas mãos. Quando eu as segurei, ele disse emocionado que conhecia aquelas mãos, que conhecia quem estava segurando-as e que já tinha estado naquela casa. Porém, disse ao grupo que no encontro anterior não tinha conseguido compreender o que haviam falado para ele, mas que recebeu o auxilio que necessitava. Somente nessa segunda oportunidade é que tomou consciência de estar desencarnado e ter retomado a consciência de ser um Espírito eterno. Começava a se lembrar de outras encarnações. Mais tranquilo, agradeceu pela ajuda e solicitou uma prece, afastando-se do médium. Em outra ocasião, o grupo foi alertado pelos mentores que o trabalho seria difícil. Naquela noite estaríamos diante de desencarnados que sofriam no mundo astral há séculos. Tratava-se de seres humanizados que desencarnaram em guerras e que, por causa do ódio que traziam em seus corações, não conseguiam ser socorridos pelas entidades espirituais. Somente o tempo era capaz de dissipar tanto ódio, permitindo a ajuda a esses desencarnados presos fortemente ao ego. A energia do grupo e a conversa comigo seriam importantes para ajudá-los, uma vez que nenhum deles era capaz de ver ou ouvir os socorristas. Não foi difícil notar que a maioria dos desencarnados que se manifestaram naquela noite demonstrava muito orgulho. Poucos assumiam a necessidade de ajuda e se portavam de forma arrogante diante de nossa tentativa de diálogo. Um deles, porém, assim que se manifestou, disse que precisava de ajuda e que faria tudo o que fosse recomendado para cessar seu sofrimento. Falei para ele, em primeiro lugar, para se perdoar. Somente assim conseguiria ter a consciência tranquila e se preparar para uma nova encarnação retificadora. Ele queria saber se Deus o havia perdoado e eu disse a ele que Deus não precisa perdoar ninguém, pois Ele


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apenas ama e nunca se ofende. Naquele momento era ele mesmo quem precisava se perdoar. Pedi que olhasse ao redor e ver os socorristas que estavam ao seu lado querendo ajudá-lo, levando-o para um lugar tranquilo onde receberia o tratamento que necessitava. Ele, então, disse chorando que não merecia tanta ajuda e, angustiado, confessou que havia cometido muita “maldade”. Usando os ensinamentos espíritas e universalistas da Animagogia, tentei acalmá-lo dizendo que apesar de não ter colocado amor em seus atos, no fundo ele foi um instrumento inconsciente da justiça divina, já que nada acontece sem a permissão de Deus. Por alguma razão, os que foram vítimas da maldade dele precisavam passar por aquelas situações, mas que isso não tirava dele a responsabilidade. E o fato de ter a consciência de ter errado, de ter feito maldade era importante e que agora precisava se perdoar para conseguir prosseguir em seu processo metanoico. Ele agradeceu a ajuda e foi levado após uma prece. Outra reunião foi com desencarnados que, no meio espiritista, são classificados como zombeteiros. Um deles, assim que se manifestou, começou a ironizar o corpo do médium que lhe dava passagem. Mexeu as pernas e os braços e disse, com ironia: “Esse corpo está meio enferrujado”. Em seguida, cruzou as pernas, apoiou a mão sob o queixo e disse que não prejudicava ninguém, por isso não sabia por que havia sido levado até ali. Contou que gostava de se aproximar das pessoas e de se divertir com elas, mas não prejudicava ninguém. Eu perguntei se ele não gostaria de melhorar seu padrão vibratório, reencarnando e procurando ajudar as pessoas. Ele respondeu que se sentia feliz naquela situação e desejou ao grupo sucesso no trabalho pedindo apenas que fizéssemos uma prece antes de ele se retirar. Encerrando aquela noite de trabalho manifestou-se um Espírito bem singular. Ele parecia muito seguro de si. Disse que não precisava de ajuda. Falou ainda que nada tinha para dizer naquela reunião e que nada tinha contra o trabalho que ali se realizava. Ao ser perguntado sobre o que gostava de fazer no plano espiritual, ele respondeu que só tinha interesse por sexo. Contou de sua felicidade porque o Carnaval estava se aproximando e que se “esbaldaria”.


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Ao ser questionado se não gostaria de tentar sentir prazer ajudando quem precisa, fazer uma prece e sentir toda a vibração amorosa que ela irradia; ou sentir o prazer de brincar com uma criança, em cultivar um jardim etc., ele respondeu que só queria saber de sexo mesmo. Perguntei se ele acreditava em reencarnação e ele nos respondeu: “Tenho de acreditar, né!”. Quando o grupo se ofereceu para lhe fazer uma prece, ele a rejeitou e foi embora, fazendo com que o médium voltasse ao seu estado de vigília.


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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como apresentado ao longo deste livro, a primeira definição de Animagogia que fizemos tinha um sentido mais restrito, identificando todo e qualquer processo de educação espiritualista com desencarnados que acontece em centros espiritistas, de umbanda ou universalista. Porém, desde 2009, ela passou a ter um sentido mais amplo, identificando uma teoria ou uma cosmovisão sobre o Homo spiritualis. E essa teoria quando instrumentaliza um trabalho de educação espiritualista com um desencarnado tem como objetivo auxilia-lo a recuperar sua consciência humanizada plena, ou seja, como uma Individualidade liberta do ego que criou para mais uma encarnação. No sentido restrito, os chamados trabalhos de exorcismo não podem ser chamados de Animagogia, uma vez que o objetivo destes seria apenas o de “expulsar os demônios”. E, no sentido mais amplo, o Espiritismo, doutrina codificada por Allan Kardec, está presente na Animagogia, pois esta Psicosofia (sabedoria espiritual) é uma das bases de sustentação do seu arcabouço teórico, mas, ao mesmo tempo, a Animagogia pode ser realizada através de técnicas que não são aceitas pelos kardecistas, como é o caso, por exemplo, da Apometria. Em suma, a Animagogia utiliza, sem dúvida, os ensinamentos presentes em O livro dos Espíritos, pois eles são importantes para se compreender a vida ativa após a morte e a relação que existe entre o mundo espiritual e o material, conforme foi possível perceber nas descrições dos casos apresentados neste livro. Obviamente que não temos como provar empiricamente tais ensinamentos e nem como provar que a mediunidade é realmente o intercâmbio com um “morto” ou uma forma de “patologia mental”. O que podemos garantir, com certa segurança, é que os médiuns que acompanhamos ao longo de 20 anos não estavam representando ou fingindo um contato com os desencarnados.


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E como poderíamos provar empiricamente que antes de encarnar escolhemos um gênero de provas ou que só vamos morrer na hora prevista? Todos os casos apresentados ao longo do livro ocorreram em reuniões cujo objetivo era auxiliar no despertar de seres humanizados desencarnados, ou seja, que já haviam desencarnado, mas que estavam ainda vinculados à energia mais densa que forma o ego. Obviamente que esta interpretação só faz sentido para os universalistas que aceitam a prática do ecletismo criativo, ou seja, que enxergam uma complementaridade entre diferentes Psicosofias. Aliás, o próprio Espírito Verdade, na questão 628, faz uma recomendação neste sentido, ao dizer que não se deve negligenciar o estudo de nenhum sistema filosófico ou religião. E é justamente o que acontece na ONG Círculo de São Francisco e outras casas Universalistas que praticam a Animagogia com os seres humanizados desencarnados. Estas casas procuram também compreender a essência dos ensinamentos de Buda, de Krishna e de tantos outros mestres espiritualistas para melhor ajudar encarnados e desencarnados. E como afirma na questão 628 o Espírito Verdade: “não há para o estudioso, nenhum sistema filosófico antigo, nenhuma tradição, nenhuma religião a negligenciar, porque tudo contém os germes de grandes verdades que, ainda que pareçam contraditórias uma com as outras, esparsas que estão no meio de acessórios sem fundamentos, são muito fáceis de coordenar, graças à chave que nos dá o espiritismo para uma multidão de coisas que puderam, até aqui, vos parecer sem razão, e da qual, hoje, a realidade vos é demonstrada de maneira irrecusável. Não negligencieis, portanto, de haurir objetos de estudos nesses materiais; eles são muito ricos e podem contribuir poderosamente para a vossa instrução”. A Animagogia, assim, não desconsidera essa orientação do Espírito Verdade e integra em sua prática a Psicosofia de Lao-Tsé, de Krishna, de Buda, de Jesus e de tantos outros mestres que, inspirados por Deus, intuíram verdades confirmadas posteriormente pelas revelações dos Espíritos, através do Espiritismo. E como já foi salientado, a Animagogia é um processo educativo voltado, exclusivamente, para a transformação interior, ou seja, ajudar na metanoia de encarnados ou desencarnados.


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E seu estudo pode ser realizado a partir do referencial das Ciências do Espírito que, ao estudar a relação entre o mundo material e o espiritual, reconhece a contribuição de todas as Psicosofias (sabedorias espirituais) ensinadas ao longo do tempo, nas mais diferentes tradições socioculturais. Sistematizando, podemos dizer que a partir da experiência animagógica com os seres humanizados desencarnados, alguns ensinamentos que formam o Espiritismo, se tornam fundamentais neste processo: Deus é a causa primária de todas as coisas (questão 01). A inteligência é atributo do Espírito (questão 24). A matéria resulta de uma única e mesma substância primitiva (questão 32). Todos os globos que circulam no espaço são habitados (questão 55). O livre-arbítrio foi exercido antes da encarnação (questão 258). Os Espíritos superiores exercem uma autoridade irresistível sobre os inferiores (questão 274). Frequentemente são os Espíritos que dirigem nossos pensamentos e ações (questão 459) e também os acontecimentos da vida (questão 525). Um homem mau, com o auxílio de um mau espírito não pode fazer o mal ao seu próximo (questão 551). A verdadeira adoração é a do coração (questão 653). Deus julga a intenção e não os fatos (questão 747). A fatalidade só existe em função do gênero de provas escolhido pelo Espírito antes da encarnação (questão 851). Ninguém morre antes da hora, não importa o perigo (questão 853). Caridade consiste em ser benevolente, indulgente e perdoar (questão 886). É do egoísmo que deriva todo o mal (questão 913). E é importante salientar também a diferença que demonstramos existir entre o campo de atuação das Ciências do Espírito, a disciplina que estamos propondo para estudar todas as formas possíveis de manifestação do Espírito e o Espiritismo. Nesse sentido, podemos dizer que: Romance espírita significa um tipo de literatura produzida por Espíritos (desencarnados, seres humanizados desencarnados) e que podem estar de acordo ou não com os ensinamentos da Doutrina Espírita, porém, sempre serão objetos de estudo das Ciências do Espírito. Operações


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espíritas, como as praticadas por Dr. Fritz, através da mediunidade de José Arigó, entre outros, são “fatos espíritas” (mediunidade), mas podem e devem ser estudados pelo Cientista do Espírito. As Ciências do Espírito não são produzidas dentro dos chamados “centros espíritas”, uma vez que neles não são permitidos alguns “fatos espíritas” como a Apometria e as giras de Umbanda. Por isso, o que identificamos como Ciências do Espírito é uma área do conhecimento que estuda, obviamente, todas as manifestações mediúnicas que ocorrem em um centro espírita, mas também as que ocorrem nos chamados terreiros de Umbanda e em outros locais, pois seu objeto de estudo é a relação entre o mundo material e o espiritual e a vida ativa após a morte. Enfim, o Espiritismo é uma filosofia espiritualista que foi sistematizada por Allan Kardec através das respostas que obteve das entrevistas com o Espírito Verdade. Esse método de estudo foi chamado por nós de Espiritologia, que é o uso da História oral com os supostos Espíritos. Mas o importante é ressaltar que nem todos os ensinamentos que formam essa doutrina filosófica podem ser comprovados empiricamente, mas formam uma teoria racional sobre o mundo espírita ou dos Espíritos. Em todos os atendimentos aqui apresentados, apesar de nem todas as práticas animagógicas serem aceitas pelo movimento espiritista brasileiro, como é o caso da Apometria, ela demonstra o valor de todos os ensinamentos que aparecem em O livro dos Espíritos. Em suma, a Animagogia valoriza todas as faces do espiritualismo, mostrando que a consciência do ser humanizado pode se libertar do ego através da união de todas essas forças complementares. E como foi possível demonstrar, o trabalho de orientação e esclarecimento espiritual, chamado por nós de Animagogia, consiste em propiciar inúmeras situações educativas e fraternas para que o ser humanizado desencarnado, carente de informação e amor, possa se conscientizar de sua nova realidade e prosseguir em sua caminhada de despertar espiritual, preparando-se para novas encarnações. Para a realização do trabalho animagógico com os seres humanizados desencarnados é necessária uma equipe de médiuns, no mínimo três: um que “incorpora” Espíritos ou psicografa, outro que


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fará vibração positiva por intermédio de preces, mantendo seu pensamento elevado, e, por fim, o animagogo, aquele que conversará com o Espírito que ali se encontra, algumas vezes contra sua própria vontade, como já salientamos, usando, quando possível, recursos como regressão de memória e outras técnicas próprias da Apometria. E essa prática seria necessária porque nem sempre a “espiritualidade superior” consegue se fazer visível e audível para esse ser desencarnado. Em razão da baixa frequência vibracional na qual se encontra, apenas com a participação de encarnados é que esse trabalho pode ser realizado. Os adeptos da Doutrina Espírita chamam esse trabalho de Doutrinação. Mas esta expressão manifesta uma forte carga pejorativa, uma vez que aparece associada à imposição de ideologias autoritárias, como o Fascismo, o Nazismo e o Stalinismo. E a Animagogia, por ser um processo educativo que visa ajudar o Espírito humanizado a libertar-se do ego, seu objetivo não é, em nenhuma hipótese, “doutrinar”. Poderíamos pensar essa questão do ponto de vista arquetípico. O trabalho educativo aqui realizado se manifesta como um dos atributos de Urano que, segundo a mitologia grega, seria um deus heróico, mas que não luta. Ao contrário de seu neto Zeus, que enfrenta e destrói os inimigos, Urano busca “laçá-los” e trazê-los para seu lado. Essa diferença arquetípica pode ser encontrada quando se procura compreender as diferenças entre esclarecer um Espírito e “exorcizar o demônio” ou “passar por uma sessão de descarrego”, em uma igreja evangélica. Não estamos dizendo que essas práticas estejam erradas. Porém, dentro do ponto de vista animagógico, o ser humanizado desencarnado que está assediando espiritualmente alguém não é tratado como sendo o “próprio Mal” ou o “satanás”. E nem como alguém que sempre foi e será um ser das “trevas”. Na Animagogia, compreende-se que ele é também um Espírito passando por sua fase humanizada e que precisa de esclarecimento. Na verdade, reconquistar sua consciência que se encontra adormecida para vivenciar mais um ego na Terra. E quando se fala em esclarecer esse Espírito ainda humanizado, entende-se que, naquele momento, por alguma razão específica, ele encontra-se envolvido pelo ódio e, por esse motivo, age com


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o desejo de vingança. Porém, sua essência não é má. Ele também foi criado como imagem e semelhança de Deus. Lembremos que nas filosofias orientais o ego não pertence ao Espírito. O ego é um agregado que o Espírito necessita para encarnar. Podemos afirmar, portanto, que tal Espírito humanizado se encontra desorientado e que precisa de esclarecimento, ou seja, passar por um processo de educação espiritual (Animagogia). Este trabalho educativo de orientar um desencarnado, mesmo aquele carregado de ódio e desejo de vingança, deve sempre partir da noção de que nos encontramos diante de um ser que “errou” (deixou de amar) e está colhendo o que plantou. Porém, mesmo assim, não é um inimigo, e sim um “irmão espiritual” necessitado de ajuda. Em um trabalho de orientação e esclarecimento não se utilizam as técnicas dramatizadas de “exorcismo” ou de afastamento de “encostos”, pois não se trata aqui de lutar contra um “ser do mal”, mas reconhecemos que se estes trabalhos medievais ainda acontecem, é porque Deus ainda permite. Logo, ainda possuem alguma importância. Nem sempre, porém, as palavras afetuais do animagogo serão suficientes para apaziguar a dor ou o ódio do desencarnado, sendo necessário o uso de uma técnica que consiga ir mais fundo no inconsciente, como é o caso da Apometria. Os mais atormentados, os mais rudes, nem sempre conseguem ser auxiliados enquanto não dispersam um pouco da mágoa e ódio. Para tanto, são usadas as técnicas da TVI. A junção das duas técnicas costuma ajudar no processo de despertar do Espírito humanizado e o consequente perdão aos seus “algozes”. E até no Evangelho segundo o espiritismo, livro de Allan Kardec, podemos encontrar explicações para a ação da Apometria. Por exemplo, a maior parte das críticas e condenações que os kardecistas fazem a essa técnica pode ser facilmente respondidas pela leitura do capítulo que trata da prece. E a Apometria, segundo alguns supostos Espíritos, trabalha para Deus, sob a coordenação de Maria, a fim de ajudar no esclarecimento dos Espíritos e não para fazer proselitismo religioso. E nada acontece por acaso. Tudo está harmoniosamente acontecendo como deveria acontecer. Vale para a Apometria o mesmo argumento que Kardec usava para os


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céticos ou para os católicos que criticavam o espiritismo, no século XIX: “A natureza não dá saltos”. Por isso, cada coisa só acontece no momento certo. Ontem, o kardecismo era a “vítima” das outras religiões; hoje, é o principal “algoz” da Apometria. Mas devemos julgar ou condenar alguém? Se é tão difícil para um kardecista aceitar que um bote pode ser plasmado no Astral pela espiritualidade, através da energia liberada pelo grupo apométrico, a fim de resgatar um suposto Espírito iludido para algum hospital ou centro de recuperação, é melhor deixar de ser espiritista. Para demonstrar como tal resgate é possível, usaremos a informação presente em o Evangelho segundo o espiritismo, no capítulo sobre o poder da prece, que começa com uma citação de Marcos: “Seja o que for que peçais na prece, crede que o obtereis, e vos será concedido” (11; 24). Se o capítulo começa com uma afirmação tão enfática do poder da prece, porque não acreditar que é possível plasmar um bote para socorrer um suposto Espírito que acredita estar se afogando? Se a crítica viesse de um católico ou de um evangélico que não acredita na vida após a morte, daria até para entender. Mas, quando um kardecista acostumado a ler livros que apresentam a complexidade da vida espiritual e o trabalho da espiritualidade, com o apoio do ectoplasma dos médiuns, para resgatar alguns irmãos desencarnados diz que isso não é possível e que é apenas fantasia ou “animismo”, podemos constatar que tal crítico ignora o poder da ação mental na Psicosfera ou plano astral, pois, quando um Espírito tem merecimento para ser resgatado do sofrimento mental que vivencia, o que a equipe apométrica faz, em suma, é apenas uma prece e se a espiritualidade socorrida consegue atuar naquela cena mental, segundo as descrições dos médiuns videntes ou desdobrados naquele momento, é porque houve a permissão divina para acontecer. O Evangelho segundo o espiritismo, no mesmo capítulo, afirma que a prece é uma invocação. Ao fazê-la, o homem entra em comunicação, pelo pensamento, com o ser ao qual se dirige; pode ser para pedir, para agradecer ou para glorificar. Ou seja, o caso


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acima não contradiz nada do que o Espiritismo ensina. E o mesmo capítulo se desenrola afirmando que “podemos pedir pelos vivos ou pelos mortos”. Ou seja, se o grupo pediu com fé para que um bote fosse enviado para um suposto Espírito que acreditava estar se afogando, não percebendo que estava desencarnado, e tal pedido foi concedido por Deus, não dá para entender o que tanto incomoda os kardecistas. E no item 10, desse mesmo capítulo, encontramos uma passagem ainda mais esclarecedora: “(para compreender a ação da prece) é preciso imaginar todos os seres encarnados e desencarnados mergulhados no fluido universal que ocupa todo o espaço, tal qual nos achamos envolvidos pela atmosfera aqui na Terra. Esse fluido recebe um impulso da nossa vontade e ele é o veículo do pensamento como o ar é o veículo do som”. Essa explicação sintetiza o poder da mente e da prece (um pedido feito com fé e amor) e esclarece que as formas do mundo material ou do astral são ilusórias. A única realidade é que estamos mergulhados no fluido universal, um campo energético informe que pode ser modelado de infinitas formas pelo poder da mente. E na mesma passagem lemos: “As vibrações do fluido universal se estendem ao infinito. Portanto, quando o pensamento é dirigido a um ser qualquer na Terra ou no espaço, uma corrente de fluidos se estabelece entre um e outro, transmitindo o pensamento entre eles como o ar transmite o som”. E como fica os pulsos energéticos enviados com o estalar de dedos? A explicação para esse recurso também está no Evangelho segundo o espiritismo: “A intensidade dessa corrente de fluidos será forte ou fraca de acordo com a força do pensamento e da vontade de quem ora”. A contagem de pulsos serve apenas para agregar intensidade e força de vontade à corrente fluídica. Utilizase tal contagem como um recurso. Uma casa kardecista cujos dirigentes se sentem incomodados com essa técnica pode abolila sem problema. Ele apenas facilita, e muito, a concentração da equipe e aumenta a intensidade da energia enviada para plasmar algum objeto ou destruir outros (cordas que enforcam, facas ou outros objetos que se encontram plasmados no corpo astral do Espírito humanizado). Na ONG Círculo de São Francisco, até porque muitos médiuns vieram de formação católica, usamos muito o poder de preces


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como “O pai nosso” e a “Ave Maria”, mentalizando cores ou formas como cachoeiras, flores etc. Em suma, a Apometria não entra em contradição com os ensinamentos do Espírito Verdade. Porém, a Apometria é tão dinâmica que pode ser adaptada para ser praticada em qualquer cenário espiritualista. Um grupo de Apometria não-kardecista pode, para agregar fluidos e aumentar sua intensidade, pedir auxilio aos “elementais”, evocar a “chama violeta” ou utilizar um “ponto cantado de Ogum” etc. Enfim, tudo dependerá do grupo que estiver utilizando a técnica, pois ela não está relacionada com nenhuma doutrina religiosa. Da mesma forma que cada casa kardecista desenvolve sua forma de “dar passe”, cada grupo espiritualista que utiliza a Apometria encontrará a melhor maneira de trabalhar com ela. A Apometria vai se adaptando a cada grupo, pois ela é apenas uma técnica de desdobramento induzido dos médiuns com o objetivo de auxiliar nos atendimentos espirituais de encarnados e desencarnados. E por que dissemos que os ensinamentos espirituais de Krishna são importantes também na Animagogia? Porque nos ensina que nada que aconteceu, acontece ou acontecerá em nossa vida humanizada é “real”. É uma “ilusão” que nosso ego está programado para perceber, sentir e racionalizar. Essencialmente, a Terra é como um dos milhões de “programas de computador” que geram provas para os Espíritos humanizados (o Eu superior). A água, a terra, o fogo, a carne, toda e qualquer matéria deriva de um único elemento: o fluido cósmico universal. E nada disso afeta o Espírito. O que é afetada é a consciência do Espírito humanizado, iludido pelo ego, o programa que o faz acreditar que é homem, mulher, branco, preto, pai, filho, médico, professor, advogado, rico, pobre, brasileiro, japonês etc. e que sofre quando seu ego é ferido. A nossa casa, o nosso corpo, o nosso dinheiro, o nosso carro etc. deriva da mesma energia universal e só existe em função do nosso ego, programado para acreditar que tudo isso existe, criando sensações, percepções e racionalizações. E quem ainda se apega a essa ilusão sofrerá muito quando o “jogo virtual” chamado “Juízo Final” entrar em seus capítulos mais dramáticos, nos quais as catástrofes naturais ou provocadas pelo ser humanizado encarnado (atuando como instrumento inconsciente da justiça divina) aumentarem em intensidade e quantidade.


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Como o Espírito humanizado encarnado foi programado para buscar a felicidade condicionada a esses valores ilusórios, ou seja, quando “conquista” os objetos materiais ou pessoas que deseja, sente prazer e acha que é feliz; tende a sofrer quando os perde, sente-se abandonado por Deus. O ego, porém, é um mau patrão, alerta Krishna, mas é um ótimo servidor. Ou seja, temos de aprender a nos servir do ego para nos libertar, não nos submetendo a seus desejos e vontades. Mas o ego é cheio de artimanhas. Quando acreditamos que nos libertamos dele, é aí que mais nos encontramos presos e amarrados a ele. Por exemplo, quando ele nos diz: apenas o Espiritismo salva, e acreditamos nisso por estarmos espíritas, não nos libertamos da ilusão por ele criada; quando ele nos diz: apenas a meditação e o yoga nos conectam com Deus, e acreditamos nele, se gostamos de meditação e de yoga, não nos libertamos de seu jugo; quando ele nos diz: apenas a ciência conhece a verdade, e acreditamos em suas palavras, estamos completamente subordinados às suas verdades. Em todos esses casos, criamos o “certo” e o “errado” e passamos a julgar e a condenar as opiniões diferentes das nossas. Ou seja, continuamos presos, e bem algemados, aos desejos e às verdades criadas pelo ego. Em outras palavras, podemos dizer que estamos prestes a nos libertar do ego quando conseguimos amar a Deus acima de todas as coisas e somos benevolentes, indulgentes e perdoamos a todos, principalmente os inimigos (aqueles que fazem ou falam o que não gostamos). Agindo como descrito acima, não conseguiremos matar o ego, o que é impossível, mas ficará mais fácil não se iludir quando ele tentar insuflar nosso orgulho ou nos deixar sentindo culpa ou com remorso de alguma coisa feita ou falada. E como ensina a Baghavad Gita: “Ninguém pode existir um só momento sem agir; a própria natureza o compele a agir, mesmo sem querer; pensar também é agir, no mundo mental. (...) Mas aquele que, pelo poder do espírito, alcançou perfeito domínio sobre seus sentidos e realiza todos os atos externos, ficando internamente desapegado deles – esse homem possui sabedoria. (...)”.


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“Sejam as tuas atividades atos de adoração!(...) A fonte dos atos é Brahman (Deus), o Uno que enche o Universo, e está presente em todos os atos.” A Animagogia, nesse contexto, é um caminho (criado pelo ego, obviamente) para auxiliar na tomada de consciência espiritual do ser humanizado encarnado ou desencarnado que participa desse épico contemporâneo cheio de “tragédias” e “sofrimentos”. Ela o ajuda a se esclarecer, a se tornar um bodhicitta, ou seja, um Espírito sem ilusões. Este, sabendo que estar pobre ou rico, homem ou mulher, católico ou espírita etc. são ilusões criadas pelo ego, interpretará o seu papel sem se preocupar com os frutos do mesmo, e viverá de forma “apática” (sem sofrimento) suas provações, procurando, apenas, ser benevolente e indulgente e pronto para perdoar a tudo e a todos, vivendo para servir ao próximo e para amar a Deus acima de todas as coisas. Em outras palavras, vivendo com Deus, para Deus e em Deus, desinteressadamente. E como já foi salientado, a Animagogia não possui vínculos com nenhuma religião, mas se fundamenta nos ensinamentos universalistas de Buda, de Krishna, de Jesus, do Espírito de Verdade e de tantos outros mestres, sem se constituir em uma nova seita. E uma de suas mais importantes ferramentas é a Apometria. Uma ferramenta sublime de auxílio espiritual, no qual a mediunidade é exercida com consciência e com benevolência. Mas também é instrumento de prova para o Espírito humanizado que a utiliza, pois pode entender que ela é obra de Deus e é Sua vontade que sempre predominará, ou agirá motivado pela ego-complacência, sentindo-se orgulhoso e cheio de vaidade quando resgata um Espírito humanizado de sua ilusão. A Apometria é, modernamente, um conjunto de técnicas e procedimentos psíquicos desenvolvidos, fundamentados cientificamente e instrumentalizados operacionalmente pela personalidade vivida por um Espírito humanizado que recebeu o nome de Dr. José Lacerda de Azevedo (1919-1997) em sua roupagem terrestre. Tal personagem exerceu em sua última encarnação/ humanização a profissão de médico, formando-se em Medicina pela Universidade do Rio Grande do Sul (URGS). E a Apometria, segundo o Dr. Lacerda, não é uma ciência, muito menos uma


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filosofia ou uma religião. Trata-se apenas de um poderoso instrumento psíquico capaz, quando Deus assim o desejar, de auxiliar no tratamento de inúmeras patologias, cujo tratamento médico tradicional quase sempre se mostra ineficaz. Por se tratar de um conjunto de técnicas, a Apometria vem sendo praticada e aprimorada em casas espiritistas, umbandistas, esotéricas, e por grupos independentes. Aqui apresentamos uma visão animagógica de atendimento espiritual utilizando-se da Apometria como recurso terapêutico. A Apometria parte do fenômeno anímico conhecido como “desdobramento espiritual”, induzido através da contagem pausada e progressiva de pulsos energéticos, acompanhados por forte intenção mental. Este procedimento, diferentemente da hipnose, foi (re)descoberto pelo farmacêutico-bioquímico Luis J. Rodrigues, nascido em Porto Rico e estudioso do psiquismo humano, na segunda metade do século XX. A “projeção astral” obtida dessa maneira não necessita das sugestões e sugestionabilidade do hipnotismo, levando a pessoa, sensitiva ou não, a realizar um desdobramento consciente, sendo possível conduzila para qualquer lugar da Terra, como também para o passado e para o futuro. A intenção do Sr. Rodrigues era a de instrumentalizar os médicos e a medicina com técnicas psíquicas, pois o bom médico, em sua opinião, deveria cuidar do corpo e da alma. Porém, ainda hoje, sua contribuição, como também a do Dr. Lacerda, não encontra eco no meio acadêmico, para o qual a vida ainda se resume ao corpo físico e se extingue com a falência e decomposição deste. Mas isso não é motivo para lamentação. Apenas não chegou o momento. A natureza (inclusive a humana) não dá saltos. E como disse o Espírito Verdade para Kardec na questão 529 de O Livro dos espíritos: “O que Deus quer, deve ser; se há atraso ou obstáculo, é por sua vontade”. Para aceitar a Apometria, a medicina acadêmica precisaria compreender que existe um complexo físico-biológicopsíquico-espiritual no ser humanizado e, além disso, a influência das reencarnações na etiologia de muitas enfermidades. Temos certeza de que esse fato acontecerá, inexoravelmente, em futuro breve. Enquanto isso, a Apometria continuará sendo enquadrada no campo das chamadas “terapias alternativas”.


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Na Apometria não se prescreve nenhum medicamento, seja alopático, homeopático ou floral. Na ONG Círculo de São Francisco ela é utilizada junto com os recursos bioenergéticos da TVI, focando apenas na força mental da equipe mediúnica para irradiar energia, criar campos de força magnéticos, fazer regressões de memória etc. A Apometria, como dissemos, é um conjunto de técnicas e apesar de também estar presa ao ego, pode ser uma forma de servir-se dele e não para se escravizar a ele. Assim, o poder da mente e a mediunidade convivem harmoniosamente na prática apométrica.


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ANEXOS

ANEXO 1 VOCÊ ESTÁ PREPARADO PARA MORRRER? Durante todo o livro fizemos menção aos ensinamentos da entidade espiritual que se manifesta com o nome Pai Joaquim de Aruanda. Este, desde 1999, faz palestras públicas através do médium Firmino José Leite. Apesar de muito criticado por vários espiritistas, seus ensinamentos não diferem daqueles transmitidos pelo Espírito Verdade para Kardec. E suas várias palestras podem ser acessadas na internet, na forma de arquivos de áudio ou de textos (transcrições das palestras). Para quem deseja compreender um pouco de sua Psicosofia, resolvemos colocar como anexo neste livro o texto “Você está preparado para morrer?”, que foi uma de suas palestras públicas e transcrita pelo próprio médium. VOCÊ ESTÁ PREPARADO PARA MORRER? Hoje vamos partir de uma parábola ensinada pelo Cristo: As dez moças (Mateus capítulo 25). 25-1 Jesus disse: — Naquele dia o Reino do Céu será como dez moças que pegaram as suas lamparinas e saíram para se encontrar com o noivo. 25-2 Cinco eram sem juízo, e cinco ajuizadas. 25-3 As moças sem juízo pegaram as suas lamparinas, mas não arranjaram óleo de reserva. 25-4 As outras levaram vasilhas com óleo para as suas lamparinas. 25-5 O noivo estava demorando e, então, a cochilar, pegaram no sono. 25-6 — À meia-noite se ouviu este grito: “O noivo está chegando! Venham se encontrar com ele!” 25-7 — Então as dez moças acordaram e acenderam as suas lamparinas. 25-8 - Aí as moças sem juízo disseram às outras: “Dêem um pouco de óleo para nós, pois as nossas lamparinas estão se apagando.” 25-9 — “De jeito nenhum”, responderam as moças ajuizadas. “O óleo que nós temos não dá


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para vocês e para nós. Se querem óleo, vão comprar!” 25-10 — Então as moças sem juízo saíram para comprar óleo, e, enquanto estavam fora, o noivo chegou. As cinco moças que estavam com as lamparinas prontas entraram com ele para a festa do casamento, e a porta foi trancada. 25-11 — Mais tarde as outras chegaram e começaram a gritar: “Senhor, senhor, nos deixe entrar!” 25-12 — O noivo respondeu: “Eu não sei quem são vocês!”. 25-13 — E Jesus terminou, dizendo: — Portanto, fiquem vigiando porque vocês não sabem qual será o dia nem a hora. Grande parábola! Vamos entender primeiro os elementos dela para depois falarmos sobre o assunto de hoje. Na Bíblia, Cristo é codificado como o noivo da humanidade dos Espíritos que habitam o planeta Terra. Assim, cada ser humano é uma noiva do Cristo, é uma noiva que está se preparando para o casamento com o Cristo. Esse é o primeiro aspecto dessa historinha. E as noivas ficam na escuridão esperando o noivo, não os noivos! Ele é o Cristo, o amor, e para essa vigília é preciso ter Luz. Algumas têm a Luz e outras não. Estas não conseguem se unir ao noivo, não conseguem entrar no recinto do casamento, ou seja, no reino espiritual. Ou seja, os Espíritos que estão vivendo no orbe terrestre um dia casarão com o Cristo; alcançarão a elevação espiritual. Mas, enquanto esperam por esse momento, os Espíritos precisam se manter preparados para o encontro, porque não sabem qual será o dia e a hora que irão casar com o Cristo, ou seja, o dia e à hora em que voltarão para o mundo espiritual. Em outras palavras: o dia e a hora em que vocês vão morrer! Esse é o tema da palestra de hoje e a pergunta que eu quero fazer para vocês é a seguinte: você está preparado para morrer? Será que você está pronto para abandonar a encarnação, para abandonar a roda da encarnação e ir viver no mundo espiritual? Essa é a minha pergunta e o tema da conversa de hoje, que será realizada a partir da parábola das dez moças esperando o casamento. Será que você esta pronto para morrer? Será que dá para sair da carne nesse exato momento e ter Luz suficiente para ingressar no recinto do casamento? Pergunta de um participante – Sócrates dizia que a Filosofia era uma preparação para a morte. Seria algo semelhante ao conhecimento espiritual? A Filosofia como um instrumento de transformação da consciência?


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Resposta – Sim. A transformação da consciência é a preparação para a morte. Nós vamos falar sobre isso com muita calma, pois estar preparado para a morte é saber: você tem a consciência necessária para desligar-se da Terra. Por quê? Só para começar o assunto, morrer nada mais é do que isso: desligar-se da Terra, das coisas mundanas. Morrer não é nada diferente disso. Quem morre apenas se desliga das coisas mundanas. É isso que eu quero falar hoje. Então a transformação da consciência através da Filosofia, da Espiritologia, do Espiritismo, da Psicologia, do Cristianismo é o caminho para preparar-se para a morte. Pergunta de um participante – E o que a gente faz depois da morte? Resposta – Depende. Se você gosta de conviver com a sua família, vai ser isso que você vai fazer depois que morrer. Você vai ficar preso aqui junto aos seus familiares. Se você gosta do monte do Tibet, você vai morrer e vai ficar preso lá. Preste atenção! A morte não é algo físico, mas é uma transformação de consciência. Será que você esta vivendo para morrer, porque esse é o ponto fundamental. Você vai morrer um dia e a encarnação, a sua existência, é um preparatório para a morte. Não há mais nada a se fazer na vida a não ser se preparar para voltar ao reino do céu, para voltar ao mundo espiritual. É isso que precisa ficar bem claro, porque tudo que você faz durante a vida carnal não é real, não existe. Tudo vale por um determinado tempo e só vale para você. Então a vida humana é relativa, não é absoluta. E alguma coisa para ser Real tem que ser absoluta. Por isso nada do que você faz durante a vida interessa. Ou seja, se você estuda, se você casa, se você tem filho, se você planta uma árvore... Nada disso interessa. Agora, vai interessar se ao vivenciar essas coisas você está, ao mesmo tempo, se preparando para morrer. Ou seja, você vive hoje com a consciência de que vai morrer? Você vive hoje com a consciência de que a família que você tanto presa vai acabar na morte? Você vive hoje com a consciência de que o prazer que você busca tão enfaticamente não terá nenhum valor depois da morte? Você vive hoje com a consciência que vai morrer quando torce pelo seu time de futebol e que ele vai continuar existindo e não você? A cada momento da sua vida, você vive com a consciência de que ele


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pode ser o último? Você vive com a consciência de estar preparado a esse retorno a pátria espiritual ou você só vai se lembrar disso no momento da morte? Ou será que você só vai se lembrar que tem que voltar a viver como espírito depois do desencarne? Essas são as primeiras perguntas que eu faço porque, como eu disse, nós estamos lendo a Bíblia para trazer o ensinamento do Cristo para a nossa vida. E trazer o ensinamento do Cristo é dizer: você é uma das cinco noivas que tem o querosene de reserva para esperar o noivo ou você é uma das cinco noivas que vai esperar a hora do noivo chegar para saber que esta sem luz? Pergunta de um participante – E se eu não for preso a nada, o que vou fazer depois da morte? Resposta – Se você não for preso a nada material, depois da morte você vai viver o espiritual. Agora se você for preso ao material, você vai morrer e vai continuar aqui, sem corpo, mas preso às coisas materiais. Um casamento ou uma faculdade, por exemplo, podem durar anos. Já o tempo de uma viagem, horas, e o de um jogo de futebol, minutos. Enfim, todos os acontecimentos da vida têm uma extensão de tempo, menos um: a morte. A morte não dura meses, anos, minutos, horas. A morte acontece em uma micro-fração de tempo. No momento você está vivo e no outro você está morto. Essa é outra consciência que você precisa ter! Você não pode e não deve contar com a perspectiva de entrar num processo de morte porque não existe tal processo. A morte acontece subitamente. Você pode achar que vai sentir a morte chegando e que poderá correr para se preparar, mas isso é ilusão! Mesmo os doentes que estão em fase terminal ainda acham que vão viver dias, semanas ou meses e a morte não tem essa característica. Ela é igual ao machado que desce de uma vez só. Então, não dá para esperar, não dá para deixar para se preparar para a morte em outro momento. Durante o casamento você pode até relaxar porque se hoje você fizer uma besteira terá tempo para se recompor. Durante a escola você pode relaxar porque se fizer uma besteira você terá tempo para mudar o que fez. Agora, na morte, não há volta. Não há como refazer a não ser em outra existência. Na morte, não há como dizer: “eu fiz errado, da licença, eu vou começar tudo de novo”.


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Viver é se preparar para morrer e a morte vai acontecer de súbito. Por isso é preciso que você esteja atento e vigilante como Cristo ensina: atento e vigilante. Mas você vive, completamente, ao contrário. A cada dia, a cada hora, a cada minuto você programa mais coisas para fazer na Terra como se fosse eterno, imortal. Age como se o momento da morte pertencesse a todos, menos a você. Não se pode viver a vida desse jeito. Quem vive a vida desse jeito não consegue libertar-se da Terra, não consegue casar com o Cristo, não consegue sair do ciclo das encarnações. É preciso que a cada minuto, a cada problema você diga: e se esse for meu último minuto, estarei pronto para morrer agora? Estarei pronto para abandonar isso agora? Pergunta de um participante – Sabemos de alguma forma quando iremos morrer? Temos essa consciência? Resposta – Racionalmente, não. O Espírito sabe quando, pois isso lhe é revelado antes da encarnação. Esta informação foi respondida pelo Espírito Verdade em O livro dos Espíritos, mas, racionalmente, não sabe. Então vamos começar a conversar sobre essa preparação para estar pronto para, a qualquer momento, libertar-se do mundo material. Pergunta de um participante – Em um centro espírita, minha mãe recebeu uma mensagem dizendo que meu avô já estava esperando por ela e foi uma semana antes dela morrer. Resposta – O Espírito pode ter uma noção, mas não sabe o dia ou a hora. O Cristo diz assim: “o dia e a hora vai chegar, isso é certo; mas só Deus sabe quando será o dia e a hora”. Por isso, nós podemos ter uma noção e receber uma ordem de Deus para falar, mas não sabemos o dia e hora precisa. Pergunta de um participante – Alguém consegue saber que desencarnou logo após a morte? Resposta – Perceba! Você fala em saber que desencarnou e isso é um processo racional. E todo processo racional é ego. Então, o ego pode criar para você a informação que você desencarnou, mas isso vai acontecer quando você merecer. Somente quando você, por merecimento, tiver a condição de receber essa informação, Deus vai permitir que você tenha essa informação. Porém, 99,9 por cento dos que desencarnam não sabem de imediato. Eu costumo sempre dizer que o próprio Arjuna, que era o seguidor


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fiel de Krishna, teve que passar pelo Umbral, pelo menos por um minuto. Agora eu vou começar a conversa de hoje. Como é que eu me liberto da Terra? Quando é que eu vou estar apto a me libertar da Terra? Quando eu passar a viver o presente! Ou seja, passe a viver o que você tem hoje e não o futuro. O futuro não existe e quem projeta ou cria futuros está preso à Terra, está gerando tempo para estar na Terra ou, pelo menos, uma previsão de tempo para estar. Se você está pensando no que vai fazer amanhã, você não está pronto para morrer. Porque você não sabe se vai estar vivo amanhã. E se você desencarnar essa noite? Se isso acontecer, você vai querer viver o amanhã que você projetou e não vai conseguir se desligar do mundo material, do mundo que você projetou para ter amanhã. A vida foi feita não para viver amanhãs, e é por isso que a vida é completamente instável. Hoje você sai à rua e não sabe se volta para casa. E mesmo tendo a consciência dessa instabilidade, você projeta futuros como se fosse normal sair de casa e voltar. Mas você não sabe se voltará. É essa consciência que é a preparação para a morte. Eu estou saindo de casa; vou voltar? Não sei. Não sei se vou voltar, não sei o que vai acontecer na rua, não sei o que poderá se suceder. Quando eu voltar, eu verei se voltei. Se preparar para a morte é isso: viver o que você esta vivendo neste momento sem se preocupar com mais nada, sem projetar mais nada. Mas você vive sempre preparando o dia de amanhã, mesmo dizendo: o dia de amanhã pertence a Deus. Quem vive projetando-se para o futuro não está preparado para morrer. Enquanto você disser: hoje de noite, amanhã de manhã, na semana que vem, no mês que vem, no ano que vem eu vou fazer isso e aquilo..., saiba que você deixou de se preparar para a morte e, quando ela vier, você vai estar comprando óleo para a sua lamparina e não vai casar com o Cristo, não vai entrar no recinto do casamento. Pergunta de um participante – Para se desligar da matéria, devemos fazer uma evolução na consciência... É possível morrer e só depois fazer essa evolução na consciência, nos desprendendo da matéria? Resposta – Não é pode, vai. Se você não se desprender na carne, você vai se desprender depois dela, porque ninguém pode assumir uma nova encarnação enquanto estiver preso a uma anterior. Ou


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seja, enquanto você achar que é o João, você vai estar preso a essa encarnação e para você vir como Maria, Josefina ou qualquer outro nome, você terá que se libertar do João. Porém, se você se liberta durante a ligação com uma matéria carnal, isso conta pontos para a sua elevação espiritual. Depois que você sai da carne, tal libertação não conta mais pontos para a evolução. O Espírito Verdade diz: “a evolução só se dá no mundo material, fora dele existem os intervalos entre encarnações para o espírito se preparar para uma nova encarnação”. Por isso, o libertar-se do João após a morte será parte do preparatório para uma nova encarnação e não uma elevação espiritual. Então vamos continuar. Outra coisa que te prende a matéria carnal são os desejos carnais. E não estou falando em sexo não. Estou falando em desejar estar vivo, em desejar ganhar um presente, em desejar ganhar na loteria, em desejar saúde para você, em desejar que a sua mulher ou o seu marido trate você bem. Qualquer desejo baseado em elementos materiais te prende ao mundo material. Você fica na dependência daquilo acontecer para ser feliz. Quem se prepara para a morte não cria raízes na Terra, não se fixa na Terra, por isso ele não deseja nada da Terra. Ele não deseja nem um prato de comida, nem uma casa para morar, nem um carinho de quem quer que seja. Ele é autossuficiente, tendo Deus no seu coração. Esse é outro aspecto do preparatório para a morte. Quem está com a sua lamparina acessa, com o seu querosene em ordem no momento em que o noivo chega, não tem desejo algum. Se tivesse, a única coisa que ele desejaria é que o noivo chegasse antes. E sabe por quê? Porque a noiva que quer que o noivo chegue logo, valoriza o casamento, valoriza positivamente o casamento, ou seja, a morte. A morte, para quem está preparado para ela, é um momento de felicidade, é um momento de ternura, é um momento de realização. Mas o ego induz o Espírito a acreditar que deve permanecer vivo e que viver é bom e morrer é ruim. É por isso que você cria desejo em cima de desejo e, pior que isso, nenhum desejo realizado te satisfaz. Repare bem nisso! Você deseja uma coisa e, no momento que consegue o que deseja, pode ter alguns momentos de satisfação, mas logo vem o ego e cria um novo desejo. Para quê? Para te manter preso, para te manter enraizado


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na Terra e distraído com a chegada do noivo. Por isso, quem quer casar com o Cristo vive atento e esperando, ansiosamente, a chegada do noivo. Não estou falando em se matar. Estou falando em viver para morrer, em transformar a morte no coroamento de uma ação espiritual chamada encarnação. O seu ego não deixa você se lembrar que é um Espírito encarnado. Ele diz que você é um ser humano. Ele diz que você é um elemento da Terra. Mas você é um Espírito. E para que a sua lamparina esteja acessa e você não tenha que voltar para buscar mais querosene é preciso não viver o futuro, não programar futuro, não esperar futuro e também não acreditar em desejos, sonhos, planejamentos, esperança... Você diz que sonhar não custa nada, mas custa muito caro. Custa perder a hora do casamento. É isso que custa sonhar, programar, viver a ilusão. Você não está errado se continuar vivendo assim, mas se quer casar com o Cristo precisa reformar-se. Essa reforma é a elevação espiritual, é a reforma da consciência, não sendo mais um ser humano e sim um Espírito na carne. O Espírito na carne é aquele que tem a consciência de que é um Espírito eterno. E esta consciência leva à morte do ser humano. Esse é o significado do último segredo de Fátima: O fim da raça humana. O fim da existência de Espíritos que se acreditem como humanos. Assim será a transformação da Terra, deixando de ser um planeta de provas e expiações para se tornar de regeneração. Mas tem outra coisa que te liberta da Terra. É não ter paixões, não ser apaixonado positiva ou negativamente por nada desse mundo. Não achar nada certo e nem errado, bom ou mal. Não ter prazer ou desprazer com alguma coisa. Porque só tem prazer com alguma coisa quem é apaixonado por algo... Não desejar ter fama ou ter medo da infâmia, pois aquele que se acha famoso é porque é apaixonado por alguma coisa... Não querer elogios e nem ter medo da crítica, porque quem quer ter elogios está preso à Terra, espera conhecimento, espera que o outro o reconheça, nem que seja como ser humano, nem que seja como amigo. Quem nutre paixões terrestres capazes de gerar o bem e o mal, o prazer e a dor, a fama ou a infâmia, o elogio ou a critica... Está fincado na Terra e não tem como sair disso, pois toda a sua vida depende dessas paixões. Quem passa o dia inteiro julgando o certo e o errado, que aquilo deveria ser feito de outra forma, que aquilo


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não poderia estar acontecendo, ou mesmo dizendo gostei disso, não gostei daquilo... Vai se enraizando, se enraizando, se enraizando... São dessas paixões que surge o desejo: “eu gosto daquilo”, “eu quero que aquilo aconteça” e olha você preso à condicionalidade, à dualidade que só existe no planeta Terra. Quem se prepara para morrer luta contra essas paixões, não se deixa levar pelas paixões que o ego cria. Não acha nada bonito ou feio, não acha nada certo ou errado. Se preparar para morrer é abrir mão das paixões humanas, é abrir mão daquilo que você gosta, daquilo que você quer e abrir mão também de não gostar de nada ou de não querer alguma coisa. É soltar todas as amarras que te prende ao mundo carnal. Quem não se solta, quem só acha bonito o que esta fazendo, vive preso ao desejo, vive amarrado à Terra. É por isso que usei essa parábola. Ela é perfeita! Será que você está preparado para morrer? Será que você não tem nada para fazer amanhã para poder morrer hoje em paz? Será que você não tem nenhum desejo pendente que te impeça de morrer hoje em paz? Será que você não tem alguma paixão que te impeça de morrer hoje em paz? Se você tiver o que fazer amanhã, se estiver esperando alguma coisa para amanhã ou se tiver algo que você não é capaz de abrir mão, sinto muito: você não está preparado para o casamento e não vai conseguir entrar no ambiente do casamento. Pergunta de um participante – Ok! Desligo-me de tudo, nada sei, nada desejo, nada possuo... Eu consigo viver assim, mas como ficam os compromissos assumidos com a família? E os filhos? Resposta – Que compromisso você assumiu com a sua família e filhos? De representar determinado papel para que o ego dos filhos e da família crie determinadas provas para eles? Esses atos vão acontecer. Deus não vai deixar de dar a cada um o que necessita e merece. Agora, internamente, você tem que estar desligado de tudo. Eu não falei em se desligar externamente. Eu falei em você se desligar de desejos, de paixões, de planejamentos, e não de atos. Eu falei de você não desejar um carro novo, mas não falei em não ter um carro novo. Eu não falei em você não ter uma casa nova, mas eu falei em você não ser apaixonado pela casa que tem. Porque você se preocupa com o que vai comer amanhã? Se é Deus que dá comida aos bichos, será que não vai dar a você? Cristo não


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falou que você não deve comer, disse que você não deve se preocupar e essa preocupação é uma paixão. Você é apaixonado pela ideia de que tem que dar o alimento para os seus. Se você acredita nisso, não está pronto para morrer. Sabe o que vai acontecer, se você morrer agora? Vai dizer assim: “e agora, meu Deus, minha mulher e meus filhos, como vão ficar?” Ou seja, você vai voltar para trás e vai perder o noivo. Comentário de um participante – Eu acho que as variações do mundo são boas porque provém de Deus. Não importa se somos tristes ou alegres, mas saber que tudo é passageiro e curtir cada momento sempre esperar o próximo ou comparar ao anterior. Resposta – Então o bom não é a variação do mundo. O bom é o estado de espírito com o qual você vive a variação do mundo. É isso que eu chamo de Bem: tudo aquilo que provêm de Deus. E o Bem não é bom e nem mal, é apenas Bem. É essa a diferença! Agora, se você achar a tristeza boa você será masoquista. A tristeza não é boa é Bem porque o bom é aquilo que você gosta e o Bem é aquilo que não importa se você gosta ou se você não gosta, mas como vem de Deus é fruto do amor do Pai por mim. Por isso, além do planejamento do futuro, dos desejos, das paixões... Você precisa se desligar das posses. São elas que criam as paixões e os desejos. Deixe o mundo enterrar os mortos e venha comigo. Você já cumpre a Lei, então abandone todas as suas posses e me siga! Não foram essas as palavras do Cristo? Só que, quando se fala em possuir, vocês pensam logo em objetos, em posse material, em posse das coisas. Você precisa se libertar delas, é claro. Você precisa se libertar do seu carro, da sua casa, do seu emprego se quiser morrer em paz. Caso contrário, vai morrer preocupado com o que seu filho vai fazer com a herança que você deixar; vai morrer preocupado com o que seu filho ou a sua mulher vai fazer com a casa que você deixar... Mas você precisa libertar-se de outras posses também. Além da posse material, você precisa se libertar da posse sentimental: o meu filho, a minha mulher, o meu amigo, o meu inimigo... O “meu” é uma posse, o “meu” quando dirigido a outro ser humano é uma posse sentimental. Se você não se libertar desse “meu filho”, não está pronto para morrer, para se encontrar com o Cristo. Se você estiver preocupado com o filho, vai ficar aqui querendo tomar conta do filho; se você não se liberta da sua esposa, você


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vai morrer e vai querer ficar aqui tomando conta dela e se você não se libertar do seu inimigo, vai morrer e virar obsessor, pois estará preso a matéria carnal para se vingar. Para se estar preparado para a morte, é necessário que você se liberte dos sentimentos que te levam a possuir o próximo. E a terceira posse que você precisa se libertar é a moral: o “eu sei”. “Eu sei” o que vai acontecer depois da morte; “eu sei” como é o mundo espiritual... Quem diz isso não está preparado para morrer porque o seu ego não te deixa saber o que acontece deste lado da vida. O seu ego não tem elementos para isso. Por isso, preparar-se para a morte não é buscar cultura; é libertar-se das culturas. Aprender a morrer não é adquirir novas verdades que sejam mais ou menos espiritualizadas, mas é alcançar o “eu não sei nada”. Porque só quando você não souber de nada, poderá aprender algo. O Cristo disse: “louvado seja Deus que mostra ao simples, aquele que não sabe nada o que esconde dos sábios”. Não que Deus queira esconder alguma coisa de alguém, mas porque Ele não pode chegar a um sábio e ensinar porque o sábio “sabe”. Depois de me ouvir falar que você não deve programar futuro, que não deve prender-se a desejos, que não deve apaixonar-se por nada nesse mundo, que não deve possuir as coisas desse mundo, seja materiais, pessoas ou culturas, será que você está preparado para morrer? Mas até agora eu falei de elementos do mundo. Você tem que doar o que você quer, você tem que doar o que você é apaixonado, você tem que doar o que você possui. Mas agora eu vou falar que você tem que doar você. Ou seja, libertar-se de você. A última coisa que você precisa fazer para se preparar para morrer é deixar de ser quem você é. Você tem que deixar de ser o José, a Maria, o Pedro... Enquanto você for José, Maria, Pedro... Estará preso na Terra porque o José, a Maria e o Pedro são da Terra e não Espíritos. Quem não se liberta do ego não se prepara para voltar a ser só um Espírito. E sabe o que acontece quando você se liberta do ego? Acaba o egoísmo, o querer para si... Todos os que se identificam com uma personalidade são egoístas. É dele que surge a paixão, o desejo, o esperar o amanhã... Então, você tem que vir descendo, libertando-se do planejamento, do futuro, do desejo, das paixões, das posses, mas tudo isso você só conseguirá quando se libertar do José, da Maria,


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do Pedro... É por isso que eu deixei esta parte para o final, porque esse final é o início. E sabe por quê? Porque o José, a Maria e o Pedro vão morrer. O José que você é hoje, essa personalidade transitória, vai morrer e quem se apega ao José prolonga a existência do José e um dia vai ficar sem saber o que fazer. Por que o José morreu! O José acabou e agora meu Deus? O José morreu, como é que eu faço? Como é que eu vivo se o José está morto? Cadê a minha masculinidade, a minha feminilidade, cadê ao meu corpo bonito ou feio? Esse é o ponto fundamental da vida. Quem não se prepara para morrer não viveu, quem não se prepara para morrer perdeu a encarnação. Portanto, seja vigilante com o seu ego. Não o deixe planejar futuros, criar desejos, paixões, posses e uma personalidade. Você não sabe a hora do casamento. Não deixe para se preocupar com isso no momento da morte porque ela dá tempo para você se preocupar com ela. Para morrer, basta estar vivo. Morrer sem ser para se casar com o Cristo não vale de nada. Simplesmente será mais uma encarnação e você terá que viver outras até chegar o dia em que essa noiva prometida terá que se casar com o Cristo. Então, para que ficar adiando o casamento? Quem adia o casamento com o Cristo esta simplesmente jogando o tempo fora, perdendo oportunidades de criar uma grande família, de viver uma relação que satisfaz por si só. Se você quer um conselho: passe a acordar de manhã e se veja se está preparado para morrer. E se você trabalha na apometria, na umbanda, no centro espírita, na igreja católica, na igreja evangélica ou no raio que o parta, e não ajudar o próximo a se preparar para morrer, você não fez nada. Essa é a única ajuda que você pode dar a alguém que está vivo, no sentido de estar ligado ao ego, preso à matéria. Você precisa o ensinar a morrer, estando ele vivo (encarnado) ou morto (desencarnado). É isso que este preto-velho faz e é isso que o pastor, o padre e você devem fazer: ensinar a morrer, ensinar a estar preparadíssimo para o casamento com o Cristo. Que a graça de Deus esteja com todos.


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ANEXO 2 – ARTIGOS DIVERSOS

Vamos reproduzir alguns dos artigos publicados em revistas, jornais ou sites na internet sobre Apometria. São artigos escritos que divulgam o trabalho realizado na ONG Círculo de São Francisco, na cidade de São Carlos. Artigo 1 – ONG realiza atendimentos de Apometria gratuitamente em São Carlos Na segunda metade do século XX ampliou-se o vínculo entre ciência e espiritualidade. Alguns cientistas já consideram, após os avanços das pesquisas quânticas, a possibilidade de existir um universo transcendente e até um Criador para o Universo. No Brasil, um estudioso do assunto foi o médico gaúcho Dr. José Lacerda de Azevedo (1919-1997). Formado em medicina, pela Universidade do Rio Grande do Sul, este pesquisador criou a técnica por ele denominada “apometria”. Aprofundando os estudos sobre hipnose e técnicas de tratamentos espirituais, criou a Apometria, uma técnica revolucionária para o tratamento de diferentes distúrbios emocionais ou enfermidades que a medicina acadêmica não é capaz de encontrar a causa. A técnica consiste em realizar o desacoplamento dos corpos sutis do paciente (corpo físico, duplo etéreo, corpo astral, mental etc.), sem que o mesmo entre em transe, como na hipnose. Com o desacoplamento, alguns sensitivos conseguem observar e diagnosticar problemas nesses corpos sutis e realizar o tratamento, através, sobretudo, do envio de bionergia ou, quando a causa da enfermidade está no passado, utilizando técnicas de regressão de memória. Em alguns casos, faz-se necessária a comunicação com seres desencarnados, como nos tratamentos realizados nos centros espíritas. Em suma, a Apometria consegue sintetizar em um único trabalho diferentes técnicas de auxilio e tratamento espiritual. Citaremos três casos para exemplificar: 1. sexo masculino, casado, 4 filhos. Sofria havia várias semanas de angústia e depressão sem causa conhecida. Com o desa-


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coplamento dos corpos sutis, foi possível notar pelos médiuns uma faixa de energia de cor vermelha envolvendo seu corpo astral. Tratava-se da energia de ódio e rancor emitida por um antigo desafeto do consulente. Uma sensitiva do grupo apométrico sintonizou-se com este ser desencarnado que se manifestou dizendo ter sido irmão do consulente em outra encarnação e não o perdoava por este o ter roubado. Ele queria que o ex-irmão pedisse perdão. Após o perdão sincero do consulente e o envio de energia através da imposição das mãos para o desmanche daquele laço vermelho, o consulente não voltou a manifestar traços de angústia e depressão. 2. sexo feminino, casada, 2 filhos. Sente que é uma pessoa “desorganizada”. Isso a incomoda muito e gera conflitos familiares. Com o desacoplamento dos corpos sutis, nada foi verificado de anormal. Fez-se, então, uma regressão de memória para sua vida anterior. A própria consulente se viu como uma freira, na Alemanha, na época da I Guerra Mundial. Percebeu que era muito metódica, autoritária e punitiva. Intuiu que sua falta de organização na vida atual era um reflexo negativo da vivência anterior. Ela tinha medo de ser como antes. Com o “trauma” resolvido, sentiu-se mais tranquila e preparada para trilhar o “caminho do meio”, evitando os extremos comportamentais. 3. sexo masculino, casado, 2 filhos. Reclamava de muita dor de cabeça. Vários médicos diziam que era enxaqueca e que não tinha cura. Com o desacoplamento dos corpos sutis, uma sensitiva notou uma faca atravessada em seu corpo astral. A faca havia sido colocada por um antigo desafeto. Com o envio de energia, a faca (que não era de matéria física, mas de matéria astral) foi desmaterializada e a dor de cabeça curada. O Dr. Lacerda, criador da técnica, em seu livro “Espírito/ matéria: novos horizontes para a medicina”, esclarece-nos o funcionamento da Apometria utilizando as referências da física contemporânea e os conhecimentos milenares sobre os corpos sutis presentes nas filosofias orientais. Através de inúmeros cálculos matemáticos procurou comprovar como a nossa capacidade mental é poderosa fonte de cura para diversas enfermidades, do corpo e


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da alma, além de esclarecer a possibilidade de solucionar traumas do passado e até como evitar problemas no futuro. Artigo 2 – Apometria é como o budismo A Apometria, técnica de desobsessão e auxilio espiritual criado pelo Dr. Lacerda se assemelha à filosofia budista, ou seja, ela pode ser adaptada para todo e qualquer ambiente sociocultural. Essa flexibilidade própria do pensamento pós-moderno é o que a torna uma das técnicas de valorização do Espírito mais paradoxal e eficiente. Paradoxal porque através dela é possível realizar resgates coletivos de uma forma muito simples, criando cenários mentais através da energia (ectoplasma) liberada pelos participantes, favorecendo o socorro de irmãos desencarnados presos a determinadas formas pensamentos, criadas após o desencarne. A Apometria é apenas uma técnica e, se usada em uma casa espiritualista de orientação kardecista, será adaptada a essa doutrina. Por outro lado, se for usada em uma casa umbandista poderá utilizar os recursos dos pontos cantados, entre outros. E assim sucessivamente em outros espaços espiritualistas. Em suma, não importa a situação; a boa-vontade e o desejo de servir ao próximo com amor e respeito é que vai fazer a técnica se tornar cada vez mais eficiente. Alguns espiritualistas não gostam de enviar energia estalando os dedos. Mas o próprio Lacerda disse que isso não é imprescindível. A contagem de pulsos facilita a concentração da equipe que está doando energia, porém, os agrupamentos espiritualistas onde a equipe de trabalho possui grande capacidade de concentração mental, outras técnicas podem ser utilizadas. O importante é a irradiação amorosa de energia para auxiliar tanto nossos irmãos encarnados como desencarnados. Artigo 3 – TVI e Apometria: uma parceria de sucesso Atendemos, certa vez, uma paciente com fortes dores na garganta. Achamos que seria alguma infecção e que somente a TVI poderia não ser suficiente. Pedi a ela que procurasse um médico também. Porém, após a sessão de TVI, com a presença de uma médium vidente na ONG, levantamos a hipótese de abrir a frequência da paciente através da Apometria. Assim que demos inicio


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ao trabalho, a médium captou uma encarnação da paciente em Roma, na Antiguidade. Naquela encarnação, por motivos que não ficaram claros, ela desencarnou enforcada. A médium não conseguiu captar se foi suicídio ou se o marido teria sido o mandante do ato. Em seguida, a médium captou outra encarnação da consulente, dessa vez, em uma aldeia indígena. A pessoa que havia sido o marido da paciente em Roma, agora, na encarnação com índia, seria o seu pai. E este a forçou a viver um casamento arranjado, sem amor. Possivelmente, pela Lei de ação e reação, esse casamento teria relação com o enforcamento e a encarnação em Roma. E isso parece ter ficado evidente quando a médium perguntou a consulente se ela tinha um irmão na atual encarnação. Com a resposta afirmativa, a médium lhe disse que o seu irmão atual teria sido o marido e o pai, nas respectivas encarnações descritas acima. Com essa revelação e outros detalhes narrados pela médium vidente foi possível perceber que uma contrariedade que a consulente teve com o irmão foi o suficiente para que houvesse uma ressonância vibratória com a encarnação em Roma, quando desencarnou por enforcamento. Tal ressonância gerou a dor de garganta e o endurecimento do pescoço. Trazendo o fato à consciência da consulente e com a energia da TVI, a garganta e o pescoço voltaram ao normal no dia seguinte. Artigo 4 – O moderno e o pós-moderno na mediunidade: das mesas girantes às palestras online com seres incorpóreos As manifestações mediúnicas estão registradas em todos os lugares e épocas da história humana. O uso da comunicação mediúnica para fins escusos e materialistas foi alvo de censura, quando Moisés decidiu “proibir” a comunicação com os mortos. Porém, nos tempos modernos, temos relatos de filósofos famosos como Goethe ou de cientistas como Hahnemann, criador da Homeopatia, que também se comunicavam com os espíritos através da “psicofonia” e da “psicografia”, nomes que Allan Kardec criou no século XIX para classificar, respectivamente, o que o senso comum chama de “incorporação” e o ato de receber mensagens por escrito de seres incorpóreos. Não podemos esquecer também da sensacional vidência e paranormalidade de Swedenborg, cientista do século XVIII, cujo famoso livro Arcana celestia foi alvo de grosseira crítica


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do filósofo Emmanuel Kant, em 1766, no livro “sonhos de um vidente explicados por sonhos da metafísica”, no qual reconheceu a existência do mundo dos Espíritos, mas classificou o contato entre o mundo espiritual e o material como patológico. Apesar de todos estes acontecimentos, a mediunidade, nome também criado por Allan Kardec, passou a ser alvo de pesquisas mais rigorosas no século XIX, com o surgimento das famosas “mesas girantes”. Esse entretenimento pequeno burguês, comum nos salões europeus do século XIX, foi alvo de sérias investigações do pedagogo Hippolyte Leon D. Rivail, mais conhecido por seu pseudônimo Allan Kardec, levando-o a conclusão de que tais atos eram realizados por consciências incorpóreas, afastando todas as possibilidades de charlatanismo. A partir dos estudos das mesas girantes e outras manifestações mediúnicas, esse pesquisador francês escreveu três obras significativas: O Livro dos Espíritos, no qual 1018 perguntas foram formuladas aos supostos Espíritos, abordando diferentes assuntos de interesse da humanidade; O Livro dos Médiuns, um verdadeiro tratado científico sobre a mediunidade, e O Evangelho segundo o Espiritismo, no qual o novo testamento é interpretada pelos supostos Espíritos. Em nenhuma de suas obras, porém, Allan Kardec define o espiritismo como religião, mas como uma ciência positiva cujo objetivo era estudar as manifestações dos Espíritos e as relações entre o mundo espiritual e o material. No Brasil, o nome espiritismo foi utilizado para identificar um movimento religioso e seus adeptos costumam afirmar que o “espiritismo não é mais uma religião, mas a religião”, conforme palavras dos ex-presidentes da Federação Espírita Brasileira, o senhor Guillon Ribeiro e o senhor Francisco Thiesen. Mas o século XX não trouxe somente mudanças paradigmáticas no âmbito da epistemologia, renovando a ciência, a filosofia ou o campo da tecnologia aplicada e das artes; o campo das manifestações mediúnicas também se ampliou e se renovou consideravelmente. São os sinais da pós-modernidade. Em linhas gerais, podemos dizer que a modernidade se caracteriza por ser o projeto do Iluminismo. Trata-se, portanto, de um movimento eurocêntrico e cientificista. Apesar de sua tendência ao ateísmo, culminando


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no positivismo e no evolucionismo do século XIX, a ambição iluminista de dominar e racionalizar o mundo está presente inclusive na obra de Kardec, que não ficou imune a tais pensamentos eurocêntricos. Mas o projeto iluminista começou a desmoronar com os avanços da termodinâmica e da mecânica quântica, cujos reflexos logo se manifestaram na arquitetura e na arte do século XX, mais universalistas e menos eurocêntricas. E como afirmou certa vez o músico baiano Caetano Veloso: “o Brasil foi o último país a entrar na modernidade, mas foi o primeiro a entrar na pós-modernidade”. E um dos marcos dessa pós-modernidade brasileira foi a origem mediúnica da Umbanda, na primeira década do século XX, quando, dentro da Federação Espírita de Niterói, o médium Zélio Fernandino de Moraes “incorporou” um espírito que se identificava como “caboclo Sete encruzilhadas”. O suposto espírito anunciava a criação de um credo religioso medianímico no qual as entidades manifestantes usavam as formas simbólicas de índios (simbolizando a força de caráter), de pretosvelhos (simbolizando a sabedoria) e de crianças (simbolizando a felicidade incondicional). Assim, entrava em cena novos personagens espirituais além dos famosos médicos, filósofos, literatos e padres; entidades mais conhecidas nas manifestações mediúnicas dos centros espiritistas e também nos livros de Allan Kardec. A umbanda revelada pelos espíritos através do médium Zélio de Moraes ficou conhecida como “espiritismo de umbanda”, talvez para não ser confundida com a prática umbandista que já existia no Brasil e que consistia na realização de trabalhos de magia negra, utilizando o sacrifício de animais etc. O “espiritismo de umbanda” foi revelado com o objetivo de ser uma religião cristã, voltada para a prática da caridade. No I Congresso de espiritismo de Umbanda, realizado no Brasil, em 1941, deliberou-se que: 1. o espiritismo de umbanda é uma das maiores correntes do pensamento humano existente na terra há mais de cem séculos, cuja raiz provém das antigas religiões e filosofias da Índia, fonte de inspiração de todas as demais doutrinas filosóficas do Ocidente. 2. umbanda é palavra sânscrita, cuja significação em nosso idioma pode ser dada por qualquer dos seguintes conceitos: Princípio Divino, Luz Irradiante, Fonte permanente de Vida, Evolução Constante. A receptividade às filosofias milenares do Oriente é


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outra característica da pós-modernidade, e, no campo mediúnico, isso se manifestou através do contato com os espíritos “orientais”. Tanto no meio kardecista, mas, principalmente, no umbandístico, as chamadas “correntes orientais” foram se firmando e se tornando cada vez mais conhecidas. No âmbito da literatura psicografada, destacou-se um suposto espírito hindu-chinês que se identifica como Ramatís. Este suposto espírito afirma, em diversos livros, ter sido, em uma de suas encarnações, Pitágoras, o filósofo de Samos. No Brasil, o primeiro médium a escrever sob a inspiração desse suposto espírito foi Hercílio Maes, falecido em 1993. Atualmente, vários médiuns dizem psicografar mensagens e livros desse espírito. Mas a presença da espiritualidade oriental nas manifestações mediúnicas pós-modernas se fez mais evidente na origem e crescimento de uma técnica de tratamento espiritual denominada Apometria. O nome foi criado pelo médico brasileiro Dr. José Lacerda de Azevedo (1919-1997), mas a técnica parece ser também multimilenar, conhecida por grupos iniciáticos e esotéricos. O mérito de Lacerda parece estar em sua capacidade de reunir de forma eclética e criativa as contribuições do espiritismo de Allan Kardec com as contribuições mentalistas das filosofias orientais e também da Teosofia. Essa modalidade de tratamento espiritual que consiste em induzir os médiuns e pacientes ao desdobramento de seus corpos sutis, diagnosticando e tratando diversas enfermidades através da concentração mental e do envio de energia, com o auxilio de supostos espíritos que se manifestam mediunicamente, vem ao encontro das mais hodiernas hipóteses levantadas pela Física quântica. É o retorno ao ponto de partida de Allan Kardec, aproximando a ciência da espiritualidade, sem vínculos religiosos ou proselitismo. Porém, como falar em pós-modernidade sem falar em comunicação instantânea, em internet? E aqui também a mediunidade se manifesta. Há vários anos um suposto espírito que se denomina como Pai Joaquim de Aruanda, um preto-velho, realiza palestras online pela internet, através do sistema PalTalk. As palestras costumam ser acompanhadas por pessoas residentes em várias partes da Terra, e abordam diferentes temas espiritualistas: dos estudos clássicos da Índia ao Livro dos Espíritos, passando pelos


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ensinamentos de Buda, de Jesus etc. Até o momento, o médium Firmino José Leite, que incorpora o suposto Espírito, tem um acervo com mais de 500 horas de gravações. Algumas das palestras estão disponíveis na internet, no site: http://www.meeu.com.br. Outras gravações foram transcritas e disponibilizadas em várias listas de discussão e sites. Em março de 2006 foi publicado pela ONG Círculo de São Francisco, localizada na cidade de São Carlos, um livreto intitulado “a oração de São Francisco interpretada por Pai Joaquim de Aruanda”, com a transcrição integral de uma de suas palestras. Em suma, a pós-modernidade já se constrói não só como um plano de novas ideias filosóficas, científicas e culturais, mas como um cenário onde, a cada dia, se torna mais factual a crença na imortalidade da alma, na reencarnação e na comunicação natural com os seres incorpóreos. Artigo 5 – TVI + apometria Este artigo pretende relatar o uso da TVI em atendimentos apométricos. Com o decorrer dos atendimentos realizados na ONG Círculo de São Francisco, na cidade de São Carlos/SP, fomos intuídos para além do envio de energia através da contagem de pulso ou de preces, visualizar também cores. Sabemos que a Apometria não faz milagre e nem altera o livrearbítrio, e que, os consulentes, encarnados ou não, são socorridos pela espiritualidade quando possuem merecimento para isso. Tendo isso em mente, e a humildade de reconhecer que a participação da equipe apométrica está, basicamente, na doação de bioenergia, temos notado que o uso da cromoterapia nos atendimentos facilita o socorro. A seguir apresentamos a correlação entre a cor mentalizada o tipo de problema enfrentado no atendimento: a. Espíritos revoltados ou com muito ódio: envio de cor rosa para o coração (chacra cardíaco). Em alguns casos, enviamos energia através de uma “Ave Maria!”. b. Adormecer espíritos ou criar um “manto” de proteção no paciente após a consulta: envio de cor azul, envolvendo todo o seu organismo. c. Pacientes fracos ou em convalescença: envio de energia na cor laranja para revigorar o organismo. A energia pode ser direcionada para todo o seu corpo ou para os chakras umbilical e plexo solar.


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d. Enviar espíritos para atendimentos nos hospitais do astral: envolvê-los em uma bola de energia branca e dar o comando para que sejam conduzidos para tratamento. e. Limpeza de ambientes ou de energias enfermiças, fruto da indução espiritual, pseudo-obsessão ou obsessão: envio de energia na cor lilás. f. Energização de ambientes ou do paciente após a consulta: envio de energia na cor dourada. Todo o trabalho é realizado através da mentalização de cores claras e brilhantes. Artigo 6 – O movimento espiritual pós-Kardec O espiritismo, rigorosamente, é formado pelos ensinamentos sistematizados por Allan Kardec. Outras informações surgidas após Kardec, podem ser complementares, concorrenciais ou antagônicas aos ensinamentos acima. Para os espiritistas mais ortodoxos tudo o que aconteceu após Kardec não tem valor, nem mesmo o trabalho realizado por Chico Xavier. Para outros, a obra deste médium brasileiro seria complementar ao trabalho de Kardec. Porém, os dois grupos acima compartilham o mesmo pensamento, que a obra de outros médiuns não seria espiritismo, como por exemplo, os livros psicografados do suposto Espírito Ramatis e tantos outros. Nesse sentido, faz-se mister a criação de uma ciência capaz de estudar todos os conhecimentos espiritualistas transmitidos pelos supostos Espíritos. E esta forma de estudar a mediunidade contemporânea nós estamos chamando de Ciências do Espírito, desde 2003. As Ciências do Espírito estudam os ensinamentos dos Espíritos, que podem ser tanto os sistematizados por Kardec como por outros pesquisadores e/ou médiuns. O “espiritólogo”, como cientista, não toma partido, não briga por verdades; ele apenas estuda. Assim, procura correlacionar os temas e abordagens que são complementares ou que são antagônicos entre os ensinamentos transmitidos pelos espíritos, mas sem tomar posição dogmática ou doutrinária. Esse papel cabe aos religiosos e não aos cientistas. O “espiritólogo”, nesse caso, deve ser alguém capaz de transcender os limites do Espiritismo, no sentido kardecista, obviamente. Assim, necessita ter a mente aberta para estudar sem pré-conceitos o inefável mundo dos espíritos, estudando, inclusive, o que


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estes têm a dizer sobre a Apometria, sobre o Reiki, sobre a Baghavad Gita, sobre a Psicologia Transpessoal, sobre os Chakras, sobre os Orixás, sobre a Magia Negra, sobre a Transcomunicação Instrumental etc. Ou seja, uma série de ensinamentos não sistematizados por Allan Kardec e que muitos espiritistas chamam de “elementos estranhos ao espiritismo”. Assim, apesar destes temas não interessarem ao movimento espírita, podem interessar a humanidade do século XXI e por isso precisam ser estudados. Em suma, o “espiritólogo” não precisa ser, necessariamente, espiritista; aliás, não ser pode até ser uma vantagem. Porém, o espiritista que deseja ser um “espiritólogo” deve estar preparado para separar a ciência do proselitismo, do doutrinismo. Por exemplo, recentemente, em um programa “espírita”, em uma rádio de São Carlos, atacou-se de forma velada a Umbanda pelo fato de alguns umbandistas acreditarem que os Orixás são espíritos criados puros e que não encarnam, quando, há anos, supostos espíritos como Ramatís, Vovó Maria Conga e Pai Joaquim de Aruanda afirmam, em livros e palestras que orixás não são espíritos, mas identificação de padrões de energia. Para eles, Orixás são nomes para definir ondas eletromagnéticas com determinadas velocidades e amplitudes. Ficou evidente, para o ouvinte atento do programa, o interesse em rebaixar a Umbanda, mostrá-la como “inferior” ao Espiritismo, ao invés de apresentar um estudo aprofundado sobre o tema. Mas isso aconteceu porque se tratava de um programa “espírita”, preocupado, obviamente, com proselitismo e doutrinação. O mesmo deve acontecer com os programas de rádio e de TV das igrejas evangélicas ou católicas. Critica-se, veladamente, a igreja rival para atrair mais adeptos e se colocar como a única e verdadeira religião. E é justamente o que as Ciências do Espírito não devem fazer. O objetivo dela é o de estudar, com espírito isento de pré-conceitos, os ensinamentos dos supostos espíritos e se libertar de toda e qualquer forma de doutrinação religiosa. De seus estudos e codificações podem até surgir novas filosofias, novos “ismos”, mas, nesse caso, já saiu de seu campo de atuação que é pesquisar e sistematizar os ensinamentos dos supostos espíritos, de forma imparcial e neutra, como fizemos, no livro “História oral, Imaginário e Transcendentalismo: mitocrítica dos ensinamentos do


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espírito pai Joaquim de Aruanda”. Da mesma forma, a Apometria, a Transcomunicação Instrumental e qualquer outro tema espiritualista, mesmo que não sejam do interesse do espiritista, devem ser estudados sem pré-conceitos pelas Ciências do Espírito, uma ciência aberta para o estudo de todas as possíveis manifestações dos espíritos e seus ensinamentos. Para esta ciência não existe tema “não-doutrinário”. Artigo 7 – A Apometria segundo Pai Joaquim de Aruanda Em recente palestra na cidade de Rio das Pedras, interior do estado de São Paulo, em um evento chamado “espiritologia: a ciência do espírito”, Pai Joaquim de Aruanda, o personagem de um suposto espírito que utiliza a postura Preto-velho em trabalhos mediúnicos, através de Firmino José Leite, manifestou sua opinião sobre a Apometria, técnica sistematizada pelo médico espírita Dr. José Lacerda de Azevedo (1919-1997). Apresentarei, nesse artigo, um resumo do que o espírito falou naquela manhã de domingo. Primeiramente, o espírito não entendia o porquê de tanta celeuma para justificar que a Apometria não é espiritismo. Porém, e aqui é o meu ponto de vista, não conheço nenhum apômetra preocupado com essa questão. Normalmente, o que se lê e ouve por aí, são “espiritistas” afirmando que a Apometria não é uma “técnica espírita”, e que a mesma não deve ser praticada em “centros espíritas”. Os apômetras ou quem estuda e usa essa técnica de desobsessão, não costumam se preocupar se a Apometria será realizada em uma casa espiritista, umbandista, esotérica ou onde quer que seja. Parece que a paranóia em não aceitar a Apometria como “espírita” ou não, parte daqueles que se autodenominam “espiritistas”. Como técnica anímico-mediúnica, a Apometria não se vincula com nenhuma doutrina religiosa. Porém, talvez o espírito Pai Joaquim de Aruanda entenda a palavra “espírita” como aparece nos livros de Allan Kardec, e não no sentido que os “kardecistas” criaram, uma vez que, ao falar em “fatos espíritas” ou em “mundo espírita”, Kardec se referia sempre às manifestações dos supostos espíritos. Nesse sentido, a Apometria é um “fato espírita”, no sentido kardequiano, já que espíritos “superiores” ou “inferiores” se manifestam durante o trabalho, seja para auxiliar, seja para ser auxiliado. Outro ponto ressaltado


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pelo espírito em sua palestra foi sobre a idolatria que algumas pessoas manifestam em relação à Apometria. Segundo Pai Joaquim de Aruanda sempre quem cura é Deus e a Apometria é apenas mais um dos instrumentos que Ele utiliza para libertar aqueles espíritos, encarnados ou não, que já possuem merecimento para isso. Logo, quem traz os pacientes é Deus e quem cura é Deus. E os apômetras? Estes, além de instrumentos, estão passando por uma prova: vão acreditar no ego que lhes diz que são os apômetras quem curam, quem colocam pernas nos espíritos, plasmam botes no astral para salvar aqueles que acreditam que estão se afogando, desmancham “magia negra” etc., ou vão aceitar que nada acontece sem que Deus permita e que a Apometria é mais um dos instrumentos criados para provação do espírito humanizado, mais uma ilusão para se vencer o ego? Assim, como é a vontade de Deus que vai prevalecer, na opinião de pai Joaquim de Aruanda, seria ilusão acreditar que a Apometria interfere no carma de alguém ou que se não existisse a Apometria aquele espírito não seria curado ou resgatado. Assim, na visão dele, ninguém será “prejudicado” pela Apometria, se passar pela experiência de se sentir “prejudicado” já não estava escrita para aquele espírito; e ninguém será “libertado do Umbral” pela Apometria se isso também já não estivesse escrito. O importante, na Apometria, como em tudo na vida, é trabalhar com amor, ele afirmou. Só o amor importa, já que todo o resto faz parte da ilusão criada por Deus, uma vez que o espírito não precisa de perna, não está amarrado, não está no umbral, no hospital etc. Para pai Joaquim de Aruanda tudo isso também não passa de ilusão criada pelo ego, ou seja, não quer dizer que não exista, mas que é uma “realidade ilusória” que o espírito, encarnado ou não, precisa também aprender a se libertar. Enquanto o espírito acreditar que sofre por não ter pernas e que precisa de pernas para ser feliz, não se libertará do ego e dali a algumas semanas, se não mudar sua consciência, perderá novamente as pernas e precisará ir novamente a uma casa que faça Apometria para que os apômetras criem novamente um par de pernas para o espírito, afirma pai Joaquim de Aruanda. Esse foi o ponto central da palestra. Sem a Espiritologia, ou seja, a orientação para que o Espírito consiga se libertar do ego, a Apometria se torna um paliativo, importante,


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obviamente, mas apenas um paliativo, em sua visão. Se o Espírito acha que não tem pernas, que tem uma corda no pescoço, que seu corpo está cheio de balas etc. é tudo ilusão criada em sua mente porque ele desencarnou humanizado, ou seja, preso excessivamente às verdades que seu ego criou. Por isso, satisfazer o ego do desencarnado não irá libertá-lo, acredita ele. Pai Joaquim de Aruanda ressalta que isso não é uma crítica à Apometria, pois vai acontecer o que Deus quer que aconteça. Assim, se uma perna foi criada no Espírito, foi porque isso já estava escrito para acontecer, mas junto com essa mudança exterior é necessária a mudança interior, tanto do encarnado como do desencarnado que são atendidos na Apometria. Sobre animismo e mistificações, motivos de críticas de muitos kardecistas à Apometria, ele afirma que isso também seria uma prova para o vidente. As imagens, materiais ou espirituais, são criadas pelo ego. Por isso, o mesmo Espírito guardião de uma casa, por exemplo, poderá ser visto por um vidente como um samurai, por outro como um soldado romano e por outro como um índio. É o ego que vê a imagem. Para pai Joaquim de Aruanda, a imagem não está no Espírito, mas na mente de quem vê. E cada vidente vê o que tem que ver, em função do gênero de provas que está passando. Ou seja, para ele, a Apometria não deve ser idolatrada e nem nos preocuparmos se estamos fazendo do jeito “certo” ou “errado”. O importante é fazer com amor, pois vai acontecer em cada sessão o que tiver que acontecer. É apenas isso que Deus espera de nós, ele afirma. A Apometria não é melhor ou pior que outras técnicas, apenas mais um instrumento de prova para quem vive nos mundos chamados de “provas e expiações”, como ainda é a Terra. Artigo 8 – A síndrome da perna inquieta e a apometria Fomos procurados por uma senhora residente na cidade de São Carlos que possuía uma patologia bem curiosa: a “síndrome da perna inquieta”, segundo a nomenclatura médica. Tal patologia causa dores, formigamentos e outros sintomas na perna da pessoa, o que a impede de viajar e participar de outras atividades sociais. No momento que esta senhora expôs o seu problema, estava incorporado em uma das médiuns um preto-velho que se identifica como pai Jeremias. Assim que ela disse o nome da doença,


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ele deu uma gostosa risada e disse que ela sairia curada da “síndrome da perna inquieta”. Na hora do atendimento apométrico, uma médium vidente viu que, agarrado na perna da consulente havia um suposto Espírito sem as pernas. Com um comando, ele se manifestou em uma médium de incorporação e, revoltado, contou uma história insólita. Disse que, em outra encarnação, aquela senhora passou propositadamente com uma carroça em cima de suas pernas, amputando-as. Em seguida, ele teria morrido por hemorragia e ficado vagando até saber que ela tinha também morrido e reencarnado. Assim, ele a procurou e quando a encontrou, ficou agarrado nas pernas dela, iniciando o problema. Para apaziguar o ódio desse irmão espiritual, foi feito com ele uma regressão de memória. O mesmo lembrou-se que, numa vida anterior, a pessoa que atualmente era vítima da “síndrome da perna inquieta” era sua escrava e, por ela não aceitar submeter-se aos seus caprichos, ele a matou. Como consequência da Lei de causa e efeito, na encarnação seguinte, ele passou pela vicissitude negativa de ter suas pernas amputadas pela carroça. Atualmente, a senhora teve oportunidade de encarnar e ele continuou no plano espiritual, porém, como ela agiu com intenções egoístas ao passar por cima de suas pernas com a carroça, adquiriu o “merecimento” de ter esse suposto Espírito agarrado em suas pernas durante esses anos todos, causando-lhe a famosa “síndrome da perna inquieta”, segundo a nomenclatura dos médicos da Terra. Após ser esclarecido, reconstruímos através de pulsos energéticos as pernas desse suposto Espírito e ele aceitou ser levado pela espiritualidade para uma colônia espiritual onde será preparado para uma nova encarnação. Em seguida fizemos a limpeza das energias deletérias acumuladas na perna dessa senhora através do envio de pulsos energéticos. Artigo 9 – Tratamento alternativo une ciência e espiritualidade Vida após a morte, reencarnação e comunicação com mortos deixou de ser assunto para rodas de espíritas, umbandistas, budistas e de outros religiosos. Com as pesquisas acadêmicas de cientistas como Stanislav Grof, um dos nomes respeitados do que se convencionou chamar de psicologia transpessoal, ou mesmo


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do físico Amit Goswami e do psiquiatra Briam Weiss, com suas pesquisas sobre regressão e progressão de memória, a espiritualidade deixa de ser apenas um assunto religioso e a ponte ligando-a com a ciência começa a ser construída. No Brasil, um dos pioneiros a trilhar esse caminho foi o médico gaúcho José Lacerda de Azevedo, criador de uma técnica denominada Apometria, que consiste em desdobrar (veja no quadro ao lado o significado dessa expressão) o paciente e analisá-lo em sua dimensão espiritual. Para a Apometria, assim como para a maioria das filosofias orientais, o ser humano é formado por diferentes corpos e não só pelo físico. Acredita-se na existência de sete veículos de manifestação humana, no qual o corpo físico é apenas um deles, o responsável pela relação com o mundo exterior. Reunindo técnicas de manipulação bionergética e regressão de memória, vários problemas “incuráveis” pela medicina ganham uma nova esperança de cura. Na cidade de São Carlos, a técnica é uma das ferramentas de trabalho da ONG Círculo de São Francisco, onde pacientes que possuem doenças de difícil diagnóstico ou que a medicina considera como incurável, são tratados. A ONG não promete a cura para quem a procura, porque milagres não existem, mas muitos pacientes conseguiram obter a cura de doenças que, se não fosse essa compreensão científica, poderia ser pensada como um milagre, ou seja, uma alteração no rumo natural dos fenômenos. O interessado necessita agendar um horário para entrevista e triagem. Em alguns casos, além da apometria, o paciente é encaminhado para fazer um tratamento com Reiki ou outra terapia complementar, todas gratuitas. Artigo 10 – ONG de São Carlos é referência internacional no atendimento com apometria Pessoas residentes nos EUA, em Portugal, no Paraguai e até no Japão já utilizaram os serviços da ONG são-carlense Círculo de São Francisco. Utilizando a técnica criada pelo médico brasileiro José Lacerda de Azevedo, denominada Apometria, a ONG vem auxiliando no tratamento de enfermidades como fibromialgia, ansiedade, depressão e até de algumas doenças com nomes exóticos como a “síndrome da perna inquieta”.


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A apometria é uma técnica que reúne os mais avançados conhecimentos científicos, advindos da física quântica, e práticas conhecidas milenarmente pelas culturas orientais como a manipulação bioenergética através da mente. Em suma, é uma técnica que reúne ciência e espiritualidade, sem a necessidade de mistificações ou o envolvimento de religiões. “Muitas enfermidades só são possíveis de diagnosticar suas causas quando aceitamos a reencarnação como um fato natural”, explica Adilson Marques, responsável pela aplicação da técnica na ONG, seguindo os passos de ilustres acadêmicos de renome mundial, como Fritjof Capra e Amit Goswami. “Porém, a Apometria não faz milagres e nem todas as doenças podem ser curadas com essa técnica”, afirma Adilson Marques. A apometria necessita de pelo menos três sensitivos, sendo dois videntes. “Essa é nossa maior dificuldade para ampliar nossos atendimentos, encontrar pessoas para compor nossa equipe de trabalho”, afirma o responsável pela técnica na ONG Círculo de São Francisco. Através do fenômeno conhecido como desdobramento espiritual, os sensitivos são induzidos a enxergar o paciente em sua dimensão espiritual, analisando seus corpos sutis (duplo etérico, corpo astral e mental) onde costumam residir boa parte das energias estagnadas que irão afetar o funcionamento do corpo físico e gerar inúmeras enfermidades, como também analisar suas vidas passadas, através da regressão de memória. A partir da constatação dos bloqueios energéticos, esses são eliminados através da emissão de bionergia através da concentração mental e da visualização de cores. “O tratamento apométrico deve ser encarado como complementar e não utiliza nenhum tipo de medicamento, seja alopático ou homeopático. Todo o tratamento é realizado através da bioenergia do grupo de atendimento”, afirma Adilson Marques. A ONG Círculo de São Francisco começou atuando na cidade oferecendo, gratuitamente, cursos e atendimentos de TVI, Florais, Fitoterapia, entre outras terapias alternativas. Atualmente, a Apometria tornou-se o carro-chefe da ONG, que tem capacidade para atender, em média, 20 pessoas semanalmente, vindas de várias partes do país e até do exterior. Todo o tratamento é gratuito. A ONG também ministra cursos para interessados em montar grupos de atendimentos apométricos, na cidade ou na região.


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Artigo 11 – A Apometria e a busca por pessoas desaparecidas Certo dia nós recebemos um pedido diferente por parte de uma consulente. Ela nos disse que seu genro saiu de casa para levar as filhas para a escola e não voltou. Esse fato estava completando dez anos. Afirmamos a ela que nunca tínhamos feito um atendimento similar. Seria a nossa primeira experiência e não sabíamos se teríamos condições de auxiliá-la, já que o trabalho é, basicamente, feito pela espiritualidade. No dia combinado abrimos a freqüência da pessoa desaparecida e, na hora, uma das médiuns localizou o corpo dentro de um poço, em uma região de canavial. Não foi possível identificar a cidade, mas foi possível resgatar o suposto Espírito que ainda se encontrava junto ao corpo decomposto. Com bastante energia mental ele conseguiu sair do buraco e se manifestou em uma das médiuns. Soubemos que ele, segundo a médium, havia sido assaltado após ter levado as filhas para a escola. Ele foi torturado, morto e teve o corpo jogado naquele poço. O suposto Espírito agradeceu pelo resgate e foi levado para uma colônia para continuar sua recuperação. Para a família foi um consolo. Através de um dos mentores espirituais do trabalho, a família foi aconselhada a orar muito por ele e, por ser católica, encomendar uma missa para sua alma. Isso tudo ajudaria bastante em sua recuperação espiritual. Após esse atendimento, fomos procurados por outras famílias com problemas similares e o resultado, felizmente, foi diferente do descrito acima. Em um deles, o rapaz que estava desaparecido foi visto por uma médium vidente no litoral norte de São Paulo. A mesma não soube precisar o local, mas disse que ele parecia bem. Segundo a médium, o rapaz fugiu de casa por não suportar a pressão familiar. Em outro caso, a pessoa em questão foi vista pela mesma médium em uma feira no Recife. Ele teria virado artesão e ganhava a vida em uma feira de artesanato em Recife. Ao contrário do rapaz do caso anterior, este sentia falta da família, disse a médium, mas tinha vergonha de entrar em contato, com medo da reação que seus familiares poderiam ter. Fizemos orações por ele, buscando intuí-lo a ter coragem de entrar novamente em contato com a família. A espiritualidade, nos três casos apresentados acima, não forneceu detalhes mais pre-


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cisos para que os mesmos fossem localizados, seja o local onde o corpo do primeiro se encontrava em decomposição, ou os endereços residenciais dos rapazes que fugiram de casa. Possivelmente não tiveram essa permissão. Provavelmente, trata-se de provas que os familiares precisam suportar. Ir além dessas informações seria interferir no livre-arbítrio e nas provas de cada um. Porém, conversando com participantes de outras casas apométricas, soubemos de casos onde a espiritualidade passou o endereço do local onde a pessoa se encontrava, facilitando o contato da família com a pessoa desaparecida. Nestes casos, como cada um só passa por provações que estão de acordo com o gênero de provas que escolheu antes de encarnar, não temos como saber o que vai ou não acontecer, já que cada um recebe de Deus aquilo que necessita e merece. E assim acontece também com os desaparecidos. Quando alguém desaparece, não foi por acaso. Faz parte das provações dele ou de seus familiares. Alguma lição espiritual se esconde por trás desse ato material. Mas se a família pede informação sobre um desaparecido, não custa tentar localizá-lo através da Apometria. Se houver permissão, alguma informação será transmitida.


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ANEXO 3 – O QUE É ANIMAGOGIA?

Esse anexo apresenta 15 questões que foram formuladas para a realização de um mini-curso na cidade de Belo Horizonte, em 2014. O material se transformou em um livreto editado pela ONG Círculo de São Francisco, com uma tiragem de 1000 exemplares que foram distribuídos gratuitamente. A Animagogia é o programa de educação espiritual criado pela ONG Círculo de São Francisco, na cidade de São Carlos, para ajudar a despertar os atributos do Espírito na vida cotidiana. Ela foi sistematizada em 2003, a partir do estudo das principais psicosofias (sabedorias espirituais) e é transreligiosa, ou seja, apesar de respeitá-las, é independente de religiões. É importante enfatizar que, por ter uma fundamentação espiritualista, ela não é uma prática educativa materialista (que parte do pressuposto que apenas a matéria existe e que a consciência nada mais é que o resultado de reações bioquímicas que ocorrem no cérebro) e nem idealista (que parte do pressuposto que apenas a consciência existe e que a matéria não passa de uma projeção mental). Como a maior parte das escolas espiritualistas, a Animagogia também é dualista, ou seja, parte do pressuposto que existe o espírito e existe a matéria. E, esta última, possui uma finalidade divina ou providencial: servir de campo para as provações do Espírito humanizado, escolhidas voluntariamente antes da encarnação. O Espírito é o princípio inteligente do universo e a matéria tem origem na energia cósmica universal. O Espírito, portanto, não é energia, mas é quem manipula a energia, em alguns casos com sua força mental e emocional (energia psíquica), em outros com sua força imaginativa e anímica (energia noética), mas, também, através da ação física, transformando a natureza através do trabalho. A Animagogia, em resumo, tem como meta despertar o Homo spiritualis na vida cotidiana. E esse processo não vê a ciência como adversária e não vê a religião como superstição. Assim, a Animagogia, com seu objetivo de despertar o Homo spiritualis, procura propor atividades que ajudem a viver com habilidade espiritual a


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vida humanizada. Seu campo de atuação é amplo, pois é voltado para oferecer uma nova forma de se (re)envolver com a natureza, com a sociedade, com o corpo físico e, sobretudo, com a alma. A mudança interior (metanoia ou sensibilidade espiritual) é uma consequência direta do fato de se vivenciar o cotidiano através dos atributos do Espírito. A Animagogia considera como constituindo os atributos do Espírito, ou seja, da nossa essência, os seguintes: 1. a vontade (sobretudo, de se autorrealizar); 2. o pensamento (sendo o mais profundo a consciência de ser um Espírito eterno vivenciando uma experiência humanizada); 3. a imaginação simbólica/criatividade; 4. a capacidade de amar (sendo o amor universal o nível mais profundo); 5. a felicidade incondicional; 6. a fé plena (na verdade a fé é humana, pois o Espírito tem certeza da existência de Deus, não precisando, assim, da fé); 7. a paciência; 8. a equanimidade; 9. a paz interior; 10. a humildade; 11. o livre-arbítrio (o Espírito, gozando de sua consciência plena, escolhe seu gênero de existência) e, finalmente, 12. o agir de forma desinteressada (sem esperar nada em troca). Para melhor esclarecer o tema exposto acima, apresentamos 15 questões que frequentemente as pessoas fazem para tentar compreender a Animagogia e diferenciá-la de outras propostas espiritualistas ou religiosas. 1 – O que é a Animagogia? Resposta: É um programa de educação espiritual, de cunho universalista e transreligioso, criado em 2003 na ONG Círculo de São Francisco, na cidade de São Carlos. A Animagogia parte do pressuposto que somos Espíritos eternos vivenciando uma experiência humanizada e que a matéria existe de forma relativa, não sendo apenas uma projeção da mente, como afirma o pensamento


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solipsista que sustenta o idealismo contemporâneo. Para a Animagogia, a matéria existe para o Espírito humanizado provar para ele mesmo, e a mais ninguém, que pode ser mais forte que ela, vivenciado sua vida humanizada com habilidade espiritual, ou seja, colocando em prática os atributos do Espírito apresentados na introdução. Isso não significa que o Espírito humanizado planeja sua encarnação nos mínimos detalhes. Mas ela apresenta vicissitudes que estão de acordo com o gênero de existência escolhido antes da encarnação (nascer em um corpo masculino ou feminino, em um país e não em outro, em uma determinada classe social etc.). 2 – E qual é o objetivo da Animagogia? Resposta: Compreendendo que o Espírito em si foi criado puro e perfeito, à imagem e semelhança de Deus, porém, sem experiência de vida e sem sabedoria, ao longo das encarnações o Espírito “evolui” e, ao mesmo tempo, “desperta” seu potencial interior (os talentos já adquiridos ao longo das existências). O objetivo da Animagogia é ajudar nesse processo complementar de “evolução” e “despertar”. O despertar dos atributos do Espírito é um processo que se faz integrando o ego (consciência humanizada da personalidade ou “eu inferior”) com o Self (consciência humanizada universal ou “eu superior”), permitindo que a sensibilidade crística (onde se “localizam” os atributos do Espírito) “tempere” nossa existência humanizada em todas as dimensões (Biosfera, Psicosfera e Noosfera). É importante salientar que para a Animagogia não há “Espírito inferior” ou “Espírito superior”, apenas Espírito humanizado mais preso ou liberto do ego. Por isso, todos possuem em sua essência os atributos do Espírito e são capazes de viver sua vida humanizada com habilidade espiritual, assim que os despertam. No Self estão armazenadas as experiências adquiridas em vidas passadas e mesmo que estas informações não estejam no ego, uma consciência provisória criada para cada nova encarnação, o Self sempre se manifesta na forma de intuição, em sonhos, ou em outras manifestações noéticas. E, mesmo assim, o Espírito sempre é capaz de “evoluir” a cada encarnação, adquirindo mais sabedoria e novas experiências de vida. O ego é uma projeção do Self, pois não há duas ou mais consciências atuando no ser humanizado. O ego é uma parte da cons-


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ciência que vibra em outra dimensão e com outra frequência, adequada para se viver no estado de vigília. Da mesma forma que a energia elétrica produzida por uma usina precisa passar por transformadores que vão abaixar sua tensão para 110/220 V e entrar em nossas casas, o Self precisa reduzir sua frequência para vivenciarmos nossa humanização encarnada, pelo menos, na Terra. Porém, como já salientamos, é necessária a integração do Self e do ego para que se possa despertar os atributos do Espírito, ou seja, nossa sensibilidade crística. Sem essa integração, é praticamente impossível que a vida humanizada seja vivenciada com habilidade espiritual, o principal objetivo da Animagogia. 3 – Se o espírito foi criado puro e perfeito por que precisa encarnar/ reencarnar? Resposta: Apesar de ter sido criado puro e perfeito, ou seja, feliz, amoroso, pacífico, humilde, equânime etc. o Espírito no momento em que foi criado carece de experiência e de sabedoria, o que se adquire ao longo das encarnações e não somente como ser humanizado. Esta é apenas uma entre as várias fases que o Espírito já passou e ainda vai passar. Por isso, na Animagogia, costumamos dizer que o Espírito não é humano, mas está humanizado. Estamos, atualmente, na fase humanizada do Espírito e nos habilitando para iniciar uma nova: a fase angelical. Assim, estar humanizado é uma fase importante desse aprendizado. E a fase humanizada se caracteriza pelo desabrochar da racionalidade e da intuição, tendo pleno domínio das emoções e das formações mentais. O Espírito, assim, pode estar “evoluindo”, mas também despertando, pois já tem um cabedal de informações, conhecimento e sabedoria acumulado ao longo do tempo. Um preto-velho que se identifica como pai Joaquim de Aruanda costuma usar uma metáfora muito interessante em suas palestras públicas através do médium Firmino José Leite. Ele afirma que o Espírito é como uma lâmpada de 100 W. Deus não teria criado o Espírito “sem luz” e o colocaria para “evoluir” até atingir 100 W. Concordando com essa metáfora, a Animagogia considera que o ego funciona como uma “sujeira” que impede o Espírito de brilhar. Por exemplo, se observarmos três Espíritos diferentes, poderemos nos iludir e acreditar que um deles brilha


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mais que os outros, passando-nos a falsa impressão de que ele tem mais “luz” que os demais. Porém, essa compreensão é falsa, pois todos apresentam o mesmo quantum de luz, desde sua criação. A diferença no brilho ocorre porque alguns estão exageradamente condicionados às verdades criadas pelo ego, o que faz com que sua luminosidade fique opaca, não brilhe de forma plena. O ego age como uma cortina que impede a luz do Sol de iluminar um determinado ambiente. Por outro lado, aquele que despertou medianamente seus atributos espirituais tem seu brilho mais intenso, mas a sua Luz tem a mesma potência que a do Espírito anterior. Podemos dizer, metaforicamente, que a “lâmpada” daquele que tem pouco brilho se encontra totalmente suja, engordurada, cheia de poeira etc. Por isso, quanto mais o Self se integra ao ego, mais a luz interior se manifesta na vida exterior. E o objetivo da encarnação é justamente aprender a deixar a Luz brilhar em um ambiente (mundo de provas e expiações) cuja essência é o egoísmo e seus derivados (vaidade, orgulho, desejo de poder, busca por fama, competição etc.) e também adquirir mais experiência e sabedoria, ou seja, acumulando mais “talentos” que terão uma grande importância na encarnação posterior. É por isso que muitas escolas espiritualistas, incluindo a Animagogia, acredita que a encarnação na Terra seja uma escola. Ser mais forte que o egoísmo no plano espiritual é muito fácil, por isso que a prova e a aquisição de experiência e de sabedoria acontecem, na fase humanizada, com a encarnação nos chamados “mundos de provas e expiações”. E, quanto mais experiência e sabedoria são adquiridas, mais fácil será vivenciar com habilidade espiritual a vida humanizada do Espírito. Isso permite que muitos seres humanizados e encarnados na Terra consigam vivenciar com amor universal, felicidade incondicional e paz interior toda e qualquer vicissitude, e se tornam exemplos para todos nós. Estes seres já possuem uma “bagagem” construída ao longo de muitas encarnações e, assim, conseguem se sobressair espiritualmente mesmo diante de grandes desafios. A experiência e a sabedoria se manifestam na vida cotidiana e podemos compreender como elas agem, pois, semelhante à experiência de um expert em um jogo de cartas, elas ajudam a “tirar leite de pedra”, como diz a sabedoria popular. Com frequência não


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vemos uma “mão boa” na mão de um jogador inexperiente não representar nenhuma vantagem? E o contrário? Quantas vezes um jogador experiente, mesmo com uma “mão fraca”, é capaz de vencer uma partida que daríamos como perdida devido à distribuição casual das cartas? Assim, simbolicamente, podemos dizer que ao iniciar suas encarnações nos mundos de provas e expiações, na fase humanizada, a sensibilidade espiritual (crística) e o Self (consciência humanizada universal) estão adormecidos e o “patrão” é o ego. Mas, ao longo das encarnações, sempre com mais experiência e sabedoria, o Espírito com mais facilidade desperta sua sensibilidade crística e é capaz de utilizar o Self e o ego de uma forma positiva, impedindo que as vicissitudes da vida humanizada, seja ela encarnada ou desencarnada, tirem sua paz interior e sua felicidade. E, além disso, se torna um exemplo para ajudar na “evolução” e no despertar espiritual de outros seres humanizados. Dentro dessa perspectiva, a Animagogia não se fundamenta no pensamento idealista que afirma ser a matéria uma ilusão criada pela mente. A matéria é relativa, mas existe, dificultando a ação do espírito humanizado e encarnado. Assim, ao invés de dizer que o cérebro cria a realidade através da observação, a Animagogia parte do pressuposto que o cérebro é um redutor da Realidade, uma vez que, a terceira (Biosfera) e a quarta dimensão (Psicosfera) são articuladas e materiais, apesar da nossa impossibilidade (a não ser em circunstâncias especiais) de interagir com a matéria e com os seres desencarnados presentes naquela dimensão. Em outras palavras, existem outras ondas sonoras, olfativas, auditivas, etc. no Universo, mas que não se transformam em realidade para nós. Um objeto da Psicosfera (mundo astral) pode estar colocado sobre uma mesa que vibra na Biosfera. Ele influencia energeticamente pessoas e objetos, mas não conseguimos tocá-lo. Em muitos casos é possível “desmaterializá-lo” com a força do pensamento, como acontece nos trabalhos de Apometria. 4 – E como ocorre a encarnação? Resposta: A Animagogia compreende que para encarnar o Espírito que em seu processo evolutivo se encontra na fase humanizada passa pelos seguintes processos:


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a. Processo de humanização - acontece na dimensão que chamaremos de Noosfera (termo usado pelo psicólogo Willian James, não necessariamente, com esse mesmo sentido). Nesta dimensão “residem” os valores universais humanizados, valores que devem nortear a existência de todos, tanto do bandido e do policial, do terrorista e do humorista ateu, do religioso e do cientista, do homem e da mulher etc. Podemos dizer também que é o campo do “insconsciente coletivo”, conforme conceituação de C G Jung. Essa dimensão é onde vibra o Self (a consciência humanizada universal) e que costuma ser acessada pela intuição ou até mesmo por sonhos. Não se trata de uma esfera racional, mas intuitiva. Por não trabalhar com a linguagem verbal, o acesso se dá através de imagens simbólicas, oníricas e arquetípicas. b. Processo de personalização do ser humanizado - acontece em uma dimensão “abaixo”, com outra vibração, que chamaremos de Psicosfera. Aqui se encontram os valores relacionados à raça, etnia, gênero etc. que particulariza cada agrupamento humano. É o campo das emoções, racionalizações mentais, desejos etc. Como salientamos, o Espírito puro não é nem um ser humanizado, quanto mais islâmico, europeu, católico, espírita etc. Ele está humanizado para adquirir experiência e sabedoria nessa atual fase de sua existência eterna. E se o Espírito não é um ser humanizado, só podemos considerar que ele está brasileiro, europeu, africano, judeu, muçulmano, espírita, homem, mulher, homossexual, heterossexual, branco, preto, amarelo etc. Tudo isso faz parte apenas de sua personalização (lembrando que a palavra persona significa máscara). c. Processo de encarnação do ser humanizado - acontece na dimensão onde nos encontramos e que chamaremos de Biosfera. Ela possui as vibrações mais densas que formam o chamado mundo material. Somos, portanto, Espíritos eternos vivenciando um processo de humanização e estamos, momentaneamente, agindo na Biosfera como seres humanizados encarnados. A partir do exposto acima, podemos dizer que o Espírito (o princípio inteligente do universo)


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representa a subjetividade pura. Por outro lado, o ser humanizado encarnado, no outro polo desta linha, vive um processo de subjetividade condicionada. E só é possível se universalizar nos chamados “mundos de provas e expiações” como ainda é a Terra. É aqui que passamos pela “prova” de conseguir ou não despertar os atributos do Espírito (amor, felicidade, paz interior, equanimidade etc.). Como já salientamos, para acontecer esse despertar, é necessário também um processo de integração do Self, nosso “eu superior” que “habita” a dimensão noética (Noosfera), e o ego, a consciência humanizada que é uma projeção invertida do Self e que “habita” as dimensões psicológica e biológica. Nesta última se encontra o lado consciente do ego e, na psicológica, o subconsciente e o inconsciente, da psicanálise. O inconsciente é sempre pessoal e sociocultural (não podendo ser confundido com o inconsciente coletivo que é de fundo universal e que vibra na Noosfera). Na Psicosfera também se encontram os seres humanizados desencarnados. A diferença entre eles e nós reside em estar ou não ligado a um corpo físico. Uma analogia para entender essa relação pode ser o programa de TV Big Brother. É como se nós, os seres humanizados encarnados, estivéssemos confinados na “casa” e os seres humanizados desencarnados estivessem do lado de fora observando, mas podendo nos influenciar com pensamentos e sentimentos. Em alguns casos, estes podem se manifestar mais ostensivamente através de pessoas que são chamadas de médiuns, oráculos, pitonisas etc. Após essa reflexão sobre as dimensões, podemos fazer uma comparação com a teosofia. Assim, podemos dizer que na Biosfera vibram o corpo físico e o etérico; na Psicosfera o corpo astral e o mental inferior; na Noosfera o corpo causal e o corpo búdico; e, finalmente, no plano espiritual, o Atma. 5 – Então não basta desencarnar para voltar a ser um espírito puro? Resposta: Exatamente! Quanto mais o Espírito integrar o ego ao Self durante a encarnação, mais fácil será uma desumanização na dimensão seguinte, após a morte física. Porém, quanto mais forte


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o vínculo do Espírito humanizado ao ego, ele poderá se tornar um ser humanizado iludido do “lado de lá” e, assim, tornar-se um “obsessor”, ficar em estado de sofrimento ou preso aos vícios (álcool, cigarro, sexo e outros que tinha sobre a Terra) etc. Porém, na Animagogia, não chamamos esses seres de “espíritos”, mas de seres humanizados desencarnados. A palavra Espírito é usada apenas para se referir a nossa essência que, como já salientamos, é feliz, amorosa, pacífica, equânime etc. A vida na Psicosfera é apenas um prolongamento da vida na Biosfera. Por exemplo, imagine um Espírito que se humaniza e encarna em um país árabe ou em uma tribo indígena. Ao desencarnar, ele vai continuar se vendo como árabe ou indígena e vai habitar uma “colônia espiritual” onde encontrará outros seres humanizados do mesmo grupo étnico ou religioso. O mesmo acontecerá conosco. Se estamos católicos, espíritas, budistas, ateus etc. vamos “acordar” em colônias afins. Trata-se de um processo de adaptação. Só depois de algum tempo, e de acordo com a experiência e a sabedoria adquirida, vamos começar a nos lembrar das existências pregressas e vamos nos “universalizando”, ou seja, retomando a consciência de ser um Espírito eterno, sem religião, nacionalidade, sexo, etnia, raça etc. O Self que era o nosso “inconsciente coletivo” durante a encarnação, transforma-se na nossa real consciência, agora acrescida com as novas experiências transformadas em sabedoria em nossa última encarnação. Assim, ao despertar para nossa condição universal, somos atraídos vibratoriamente para a Noosfera, onde poderemos planejar a próxima encarnação, escolhendo outro gênero de existência. Em outras palavras, é na Noosfera que “habita” o nosso “corpo causal” (ou “mental superior”). Este é o único veículo consciencial que permanece entre uma encarnação e outra e que preferimos chamar de Self. Mas ele também não é eterno. Ao vencer o mundo de provas e expiações, encerrando a fase humanizada, até o Self terá que ser, finalmente, abandonado. É quando podemos retornar ao mundo espiritual propriamente dito. Porém, ao contrário de quando fomos criados, ao se vencer a prova, o Espírito passa a ter também experiência e sabedoria. Ou seja, é nesse momento que ele se encontra pronto para começar uma nova “etapa evolutiva”: não mais como ser humanizado, mas como ser angelical.


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Todos os Espíritos foram criados e vibram na Logosfera (plano espiritual) e “descemos” para começar a jornada evolutiva. Em um primeiro estágio, ao desencarnarmos, atingimos os níveis mais baixos da Psicosfera e voltamos para a Biosfera, em um novo corpo físico. Neste estágio, não estamos em condições de escolher nossos gêneros de existência. A maior parte dos seres humanizados hoje encarnados na Terra esta no “terceiro estágio”. Já são Espíritos humanizados capazes de escolher seus gêneros de existência e, alguns, já estão quase encerrando o “quarto estágio”. Estes, em breve, vão deixar a fase humanizada e iniciar uma nova: desta vez, como seres angelicais. 6 – E a Animagogia pode ser praticada com os seres humanizados desencarnados? Resposta: Sim! Aliás, a Animagogia nasceu em 2003 para ajudar no processo de despertar espiritual desses seres humanizados. Somente, a partir de 2005, que ela passou também a ser utilizada com os seres humanizados encarnados, através da Terapia Vibracional Integrativa (TVI), prática terapêutica que se fundamenta exclusivamente nos princípios animagógicos aqui apresentados. E o principal recurso para fazer a Animagogia com os seres humanizados desencarnados é a Apometria, técnica espiritualista criada por José Lacerda, um médico espírita brasileiro, em meados do século XX. No trabalho animagógico com estes seres que permanecem iludidos habitando a Psicosfera ou mesmo vagando pela Biosfera, enfatizamos sempre que são Espíritos puros e procuramos despertar a consciência do “eu superior” (Self) para que se lembrem do momento em que fizeram suas escolhas e planejaram seu gênero de existência. Libertar-se da persona que viveram na Terra é o objetivo da Animagogia com estes seres e, entre os recursos disponíveis, acreditamos que a Apometria é o que melhor atinge esse objetivo. 7 – E quais são os recursos ou técnicas utilizadas para se praticar a Animagogia com os seres humanizados encarnados? Resposta: Como a Animagogia não é uma doutrina, não existem para ela técnicas que podem ser chamadas de “doutrinárias” e “não-doutrinárias”, técnicas que podem e que não podem ser


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utilizadas. Em tese, qualquer técnica pode ser usada em um trabalho animagógico desde que seu foco passe a ser o despertar do Espírito humanizado e não reforçar o ego. Por exemplo, a constelação familiar, de Bert Hellinger, pode reforçar o ego (a consciência humanizada pessoal) ou integrá-lo ao Self (a consciência humanizada universal). Se o segundo caso acontecer, pode ser utilizada em um trabalho animagógico. O mesmo pode ser dito de um trabalho mediúnico. Se este trabalho ajudar no processo de despertar espiritual, de forma que a pessoa consiga viver sua vida humanizada com habilidade espiritual, é uma técnica animagógica. Se ela reforçar ainda mais o ego, não será. O mesmo pode ser dito para qualquer técnica. Em suma, não é a técnica em si que conta, mas o seu enfoque. Uma aula de hatha-yoga, por exemplo, pode reforçar ainda mais o ego, deixando a pessoa ainda mais vaidosa e egoísta, ao invés de despertar sua essência espiritual, que a tornaria mais humilde, mais fraterna etc. Em suma é a intenção que conta para identificar se um trabalho é animagógico ou não. 8 – E o que é o Homo spiritualis? Resposta: Mircea Eliade, um dos principais historiadores da religião, identificou duas formas de ser e agir no palco da vida humanizada: o Homo religiosus e o Homo profanus. Na Animagogia, o ser humanizado que está neste processo de integração do ego com o Self, buscando vivenciar sua vida humanizada com habilidade espiritual, não se confunde nem com um e nem com outro. Assim, esse ser humanizado passou a ser identificado como sendo o Homo spiritualis. Em suma, o Homo spiritualis consegue transcender os limites dogmáticos das religiões e também o ceticismo da ciência contemporânea, vivenciando e experimentando a realidade espiritual sem fanatismo, proselitismo, fuga da realidade etc. Podemos dizer que o Homo spiritualis é uma diferente forma de ser e agir no palco da vida humanizada, integrando espiritualidade e ciência. O ser humanizado que consegue despertar, de forma significativa, os atributos do Espírito em sua vida cotidiana, ou seja, que vivencia sua existência com habilidade espiritual despertou sua essência, o Homo spiritualis. Até algumas décadas atrás, quem atingia essa condição ainda na Terra se habilitava para continuar


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suas encarnações em mundos chamados de superiores. Porém, em tese, com a Terra mudando de estágio, passando a ser um “mundo de regeneração” e não mais de “provas e expiações”, são aqueles que atingiram esse estado que continuarão a reencarnar na Terra. 9 – E como podemos entender o ego e o Self, segundo a Animagogia? Resposta: Na Animagogia a expressão ego é utilizada para identificar a consciência humanizada da personagem que vivenciamos na Biosfera. O ego é necessário para estabelecermos uma relação com o mundo exterior ou material. Por isso, na Animagogia, não é possível “matar” o ego ou libertar-se dele enquanto encarnado. Além disso, é importante salientar que, na Animagogia, o mundo material não é uma simples projeção da mente, como afirma o solipsismo, pensamento filosófico predominante no movimento que vem sendo chamado de “misticismo quântico” por legitimar esse posicionamento através de uma interpretação idealista da Física quântica. Voltando ao ego, podemos dizer que ele possui cinco atributos: a relação corporal estabelecida com as formas materiais, a percepção sensorial, as emoções geradas mentalmente a partir destas percepções, as formações mentais criadas a partir das percepções e das emoções e, por fim, a memória, que nos impede de vivenciar nossa experiência humanizada apenas no presente, nos vinculando fortemente ao passado ou nos fazendo idealizar um futuro. O ego em si não é positivo e nem negativo. O que importa é o que fazemos com ele. Se lembrarmos dos ensinamentos de Krishna, presentes na Baghavad Gita, encontramos que o ego é um mau patrão, mas um ótimo servidor. É por isso que, na Animagogia, não consideramos ser necessário (e nem possível) matar o ego, como algumas escolas espiritualistas propõem. Mas ele não é também o mal que deve ser vencido ou exorcizado. Como ele é voltado para o exterior e os mundos de provas e expiações são nutridos pelo egoísmo, o problema é deixar o ego sendo o nosso patrão. Na Animagogia, ele deve ser integrado ao “eu superior”, o Self, que se encontra adormecido e deve ser despertado durante a encarnação. O Self não é ainda o Espírito ou a nossa “consciência espiritual”. Na Animagogia consideramos o Self como a consciência humanizada universal, ou, na linguagem da teosofia, o “mental


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superior” que se manifesta através do “corpo causal”. O Self registra nossas experiências passadas e é através dele que somos capazes de intuir e compreender a Unidade na diversidade e que somos Espíritos eternos vivenciando uma experiência humanizada. Ele se comunica com o ego (mente consciente ou “normal”) através, sobretudo, da intuição e também dos sonhos. Sua comunicação é, frequentemente, simbólica e não verbal. Propostas que buscam despertar o Self sem integrá-lo ao ego podem causar inúmeras psicoses, como acontece com aqueles que buscam nas drogas uma forma de “fugir da realidade”. De outro lado, o ego hipertrofiado leva, fatalmente, ao egoísmo e todas as suas derivações (orgulho, desejo por poder, fama etc.). A integração do Self e do ego é um processo metanoico (de mudança de sensibilidade) necessário para despertar os atributos do Espírito, iluminando os diferentes níveis conscienciais, cada um em sua esfera de atuação. A integração do ego e do Self permite transformar o desejo em vontade, na Biosfera; o conhecimento em sabedoria, na Psicosfera, e despertar a imaginação criativa, na Noosfera. Quando essas “chaves” são ligadas, nossa sensibilidade crística ou espiritual se manifesta em todas essas dimensões existenciais. 10 - E quais são os pilares teóricos da Animagogia? Resposta: Como salientamos, a Animagogia é uma prática educativa e não uma doutrina. Mas ela tem seus pressupostos e estes estão presentes em ensinamentos espiritualistas que chamamos de Psicosofias. Seus pressupostos estão presentes na Psicosofia de Lao Tsé, de Buda, de Krishna e de Jesus. E complementam tais pilares básicos, a Psicosofia presente no Evangelho de Tomé, em O livro dos espíritos e também na doutrina da não-violência de Mahatma Gandhi. E podemos dizer também que há muita semelhança, no campo teórico, com a filosofia univérsica criada por Huberto Hohden. E a Animagogia está sempre em construção. Por exemplo, foi somente em 2009 que a Animagogia passou a considerar a reencarnação como um fato, após várias experiências que evidenciaram a existência dela. A metodologia adotada pela Animagogia é experimental, podendo se processar através do contato mediúnico, da projeção astral ou da clarividência. E os


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ensinamentos podem ser aprofundados ou modificados em encontros regionais ou realizados nacionalmente. 11 – No aspecto acadêmico, onde entraria a Animagogia? Resposta: Consideramos a Animagogia no campo dos estudos pósjunguianos. Ela se distingue, por exemplo, da Psicologia Arquetípica de James Hillman, importante para se compreender a dinâmica da Noosfera, assim como da Antropologia do Imaginário, de Gilbert Durand e da Psicologia Transpessoal de S. Grof. Mas, apesar desta distinção, compreende que faz parte da mesma constelação de pesquisas e práticas que podem, de forma geral, serem classificadas como pós-cartesianas. A Animagogia pode ser pensada também como um método de pesquisa no âmbito das Ciências do Espírito. 12 – E qual a relação da Animagogia com a Física quântica? Resposta: A Física quântica estuda a essência da matéria, a organização das partículas e subpartículas atômicas. O conhecimento advindo desta área do saber acadêmico vem sendo utilizado em escala crescente na criação de novas tecnologias. Mas, ao contrário do pensamento solipsista que renasceu nas últimas décadas buscando legitimar-se através de afirmações polêmicas, por exemplo, que a Física quântica comprovou que a mente cria a matéria e a transforma, a Animagogia reconhece o valor da Física quântica para se estudar a matéria e não o Espírito ou a consciência. E, lembrando Jung que afirmava que a energia sentimental e mental não são quantificadas, a Animagogia propõe identificá-las como sendo o qualitum, distinguindo-as do quantum, uma forma de medir as energias descontínuas irradiadas por corpos materiais. Para o pensamento solipsista, a consciência cria a matéria colapsando as ondas e as transformando em partículas. Mas, além dessa perspectiva, temos a concepção de físicos como Capra e outros que confundem o mundo espiritual com o “vazio quântico”. Nessa perspectiva, o Tao, Brahman, a “realidade última” seria essa dimensão concebida pela mente humana. Mas, para a Animagogia, o mundo espiritual está além do “vazio quântico”, sem se confundir com ele. No próprio Tao Te Ching vamos encontrar o ensinamento de que o Tao está além de toda e qualquer concepção humana.


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13 – E como a Animagogia foi importante para o surgimento da TVI? Resposta: A Terapia Vibracional Integrativa (TVI) é um tratamento bioenergético criado na ONG Círculo de São Francisco, que utiliza meditação, chi kung e imposição das mãos. Ela foi criada para ser utilizada em trabalhos animagógicos. Ao contrário de técnicas similares que se fundamentam em símbolos místicos, em rituais etc., a TVI busca integrar as energias das mais diferentes dimensões para ser utilizadas em tratamentos físicos, mentais e emocionais, buscando ajudar no processo de despertar espiritual. Para ser praticada, exige a vontade, o pensamento elevado, a imaginação criativa e o amor, que formam o qualitum fundamental para o processo terapêutico ocorrer. Podemos dizer que a vontade é uma força típica da Biosfera; o pensamento elevado, da Psicosfera; a imaginação criativa da Noosfera e, o amor universal, canalizado de nossa essência espiritual. Mas é importante salientar que a TVI não pensa a matéria como uma projeção mental e não promete curar todos os problemas físicos, mentais, emocionais e espirituais da humanidade, como outras técnicas prometem. Seu foco, por ser uma prática animagógica, é o despertar dos atributos do Espírito e não a cura física momentânea. Assim, a TVI pode ser pensada como uma terapia complementar aos tratamentos médicos tradicionais ou acadêmicos e que pode ser praticada por pessoas das mais diferentes crenças religiosas. E dentro da perspectiva de difusão da técnica, desde 2003, ela é ensinada de graça em todo o território nacional, já capacitando mais de 5000 pessoas. 14 – E por que a Animagogia é uma proposta espiritualista? Resposta: Existem infinitas teorias que relacionam a consciência e a matéria. Porém, elas vão se encaixar em apenas 4 escolas que podemos identificar como materialista, energista, idealista e espiritualista. As escolas materialistas, que predominam no ambiente acadêmico, partem do pressuposto que a consciência é um epifenômeno da matéria, no caso, do cérebro. Assim, com a decomposição do cérebro, a consciência desaparece. Dentro desse enfoque materialista, Freud, por exemplo, postula que o inconsciente é um epifenômeno da consciência. Por pensar de forma diferente, houve a ruptura deste com Jung, o criador da Psicologia


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Analítica e que propôs a teoria sobre o inconsciente coletivo. Nas abordagens energistas, a consciência e a matéria se originam no “vazio quântico” e voltam para lá, ciclicamente. Não há, necessariamente, uma individualidade que reencarna. Em suma, não deixa de ser uma visão materialista, porém, não mais mecanicista ou empírica, e sim, racionalista. Por sua vez, as abordagens idealistas vão partir do pressuposto que a matéria não existe, sendo, apenas, uma projeção mental. Entre elas, destaca-se o solipsismo que afirma a existência apenas do Eu, sendo que, todo o resto, inclusive os demais seres humanos, uma mera projeção da mente. Dentro da corrente idealista temos também os ensinamentos do suposto mestre Ascenso Saint Germain, através da canalizadora norte-americana Elizabeth Clare Prophet, afirmando que, pelo poder da mente, é possível “dormir no corpo de um homem negro africano e acordar no corpo de uma mulher loira alemã”. Ao contrário das três correntes acima, as abordagens espiritualistas que fundamentam várias religiões no Ocidente e no Oriente, partem do pressuposto que a matéria existe, mas é relativa e condicionada ao Espírito. No caso da Animagogia, a matéria é fundamental para as provações escolhidas voluntariamente pelo próprio Espírito para provar, a ele mesmo, que é capaz de ser mais forte que a matéria. Em outras palavras, mais forte que o ego (cujos atributos descrevemos acima). Assim, cada país, com sua cultura e organização política, econômica e social é como uma “quadra esportiva”, com suas marcações adequadas para o jogo que ali se realizará. Dessa forma, ao escolher o gênero de existência e suas respectivas provações, o Espírito humanizado vai encarnar em um determinado país ou agrupamento étnico de acordo com tais escolhas, pois ali encontrará o cenário mais adequado para vivenciar suas escolhas realizadas antes da encarnação. 15 – Por fim, qual a relação da Animagogia com a Antropolítica do (re)envolvimento humano? Resposta: Em 2003, foram lançadas as primeiras sementes do que seria a Antropolítica do (re)envolvimento humano. Em tese, um movimento educativo e cultural voltado para se recriar a relação do ser humanizado com o seu mundo circundante através de 4


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eixos: o (re)envolvimento com a natureza, o (re)envolvimento com a comunidade, o (re)envolvimento com o corpo físico e, por fim, o (re)envolvimento com a alma ou nossa dimensão espiritual. Alguns temas passaram a pautar esse movimento, como a defesa do vegetarianismo, de valorização das culturas tradicionais ou não-modernas, a diversidade religiosa, o parto humanizado etc. Dos 4 eixos, o que a ONG Círculo de São Francisco se “especializou” foi no (re)envolvimento com a alma. É neste contexto que nasceu a Animagogia que completou, em maio de 2019, 16 anos de prática. Mas é importante ressaltar sempre que a Animagogia não é uma doutrina religiosa, mas uma prática educativa espiritualista e transreligiosa, bebendo em várias fontes, mas com um único objetivo: integrar o Self e o ego, despertando os atributos espirituais universais (felicidade incondicional, amor universal, paz interior, equanimidade, humildade etc.) de forma que a vida humanizada seja vivenciada com habilidade espiritual.


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