Escola Secundária Dr Mário Sacramento - 60 anos

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Escola Industrial e Comercial de Aveiro Escola Secundária Nº1 de Aveiro Escola Secundária Dr. Mário Sacramento

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Aniversário (1956-2016)



Ficha técnica Edição Agrupamento de Escolas Dr Mário Sacramento Aveiro Textos Prof Mário Lavrador > Diretor Prof José Marta > Conselho Geral Engº Ribau Esteves > Câmara Municipal de Aveiro Fernando Marques > Presidente da Junta de Freguesia Alice Marciel > Associação de Pais/EE da ESMS Mariana Tavares e Francisco Mendes > Percursos Recentes Profª Isabel Órfão > Testemunho profissional Gaspar Albino > Antigos Alunos da EICA Coordenação Prof.ª Sílvia Vermelho Prof Acácio Rodrigues Prof M. Oliveira de Sousa Fotografias Prof. Acácio Rodrigues Arquivo do AEMS Contracapa > Assinatura e leitmotiv de Mário Sacramento Dep. Legal 409663/16 Design Prof. Acácio Rodrigues Impressão Officina Digital


Introdução................................................................................................................................... 5 Breve resenha histórica | Mário Lavrador......................................................................................... 7 De cara lavada | José Marta............................................................................................................ 13 Uma escola importante na vida da gente e da terra | José Ribau Esteves........................................... 17 Especial carinho pela Escola Dr. Mário Sacramento | Fernando Tavares Marques....................................... 19 Associação de Pais | Alice Marciel................................................................................................... 23 Percursos Recentes | Alunos: Mariana Tavares e Francisco Mendes....................................................... 29 Testemunho de Ex-Presidente do Conselho Diretivo | Isabel Órfão....................................................... 31 Antigos Alunos | Gaspar Albino....................................................................................................... 35

Da EICA a Escola Secundária Dr. Mário Sacramento

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INTRODUÇÃO

Até 2012, a Escola Secundária Dr. Mário Sacramento e, nos últimos anos, o Agrupamento de Escolas, têm celebrado o dia do Patrono, no dia 24 de maio. Além de uma cerimónia solene, em ambiente festivo, o dia é preenchido com um conjunto de atividades lúdicas e culturais que envolvem muitos elementos da comunidade escolar. Este ano, além das cerimónias do dia do Patrono, comemoramos o 60.º aniversário da inauguração da Escola Industrial e Comercial de Aveiro, que funcionou nestas instalações desde maio de 1956.

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outra estiveram, ou estão, ligados à escola, para apresentarem os seus depoimentos, tendo em conta três linhas de reflexão: “A sua vivência na Escola, enquanto elemento da comunidade escolar”, ou “A importância da Escola, até ao presente, no progresso da cidade e da região”, ou “A importância da Escola no contexto educativo atual”. Colhidos os testemunhos, aqui estamos a apresentar a tão esperada brochura, aproveitando desde já para agradecer a todos os que contribuíram para a edição deste documento. A todos, muito obrigado.

Temos este ano também mais uma razão para festejar, pois terminam as obras de requalificação, realizadas pela Parque Escolar, EPE, enquadradas na fase 3 do Programa de Modernização do Parque Escolar Destinado ao Ensino Secundário, que decorreram nos últimos cinco anos. Perante este cenário, com a comemoração das três efemérides, aproveitamos a circunstância para publicar uma brochura com a intenção de fazer perpetuar e deixar para a história um conjunto de textos escritos sobre os acontecimentos referidos. Assim, solicitámos a diversas entidades e personalidades que de uma forma ou de

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BREVE RESENHA HISTÓRICA Diretor do Agrupamento de Escolas Dr. Mário Sacramento

Sem pretensões em fazer qualquer tratado histórico, mas unicamente com a intenção em sublinhar diversos momentos da vida desta escola, fui procurar alguns registos sobre o assunto. Encontrei diversos documentos que se encontram arquivados nesta escola, entre eles o Regulamento Interno de 2005, que no preâmbulo é feita uma breve resenha. Ficamos a saber que a 28 de outubro de 1893 foi criada a Escola de Desenho Industrial de Aveiro, respondendo às necessidades e aos desejos expressos dos industriais de cerâmica da altura. Cinco anos decorridos, em 1898, tornouse uma Escola Industrial. A partir de 1914, incorporou também o ensino comercial, passando a designar-se como Escola Industrial e Comercial, assim se tendo mantido nas décadas seguintes, até às grandes mudanças do sistema de ensino que se operaram com o 25 de abril de 1974. Inicialmente destinada à formação de operários de cerâmica, evoluiu com os tempos, abriu-se a outras áreas – costura, talha, carpintaria, serralharia, eletricidade... mas, sobretudo, desenvolveu a sua vertente comercial. As atividades escolares tiveram o seu início numa antiga casa do Côjo, mas pasDa EICA a Escola Secundária Dr. Mário Sacramento

sados anos, a Escola passou a ter as suas instalações na Casa dos Moinhos — antiga Capitania. Passou também pelo edifício da Misericórdia e pelas instalações da atual Escola Secundária Homem Cristo. Finalmente, as obras de construção da EICA arrancaram no dia 11 de julho de 1953 e foram concluídas em 11 de janeiro de 1956. Em 24 de maio desse ano, foram inauguradas as novas instalações da Es7


cola Industrial e Comercial de Aveiro, na atual avenida 25 de abril. A sessão solene, realizada no salão nobre da Câmara Municipal de Aveiro, contou com a presença, entre outros elementos, do Ministro das Corporações, Dr. Veiga de Macedo, do Governador Civil, Dr. Francisco Vale de Guimarães, O Presidente da Câmara, Dr. Álvaro Sampaio e o Diretor da Escola, Dr. Amadeu Cachim. Depois desta cerimónia foi realizado um cortejo que saiu do edifício da CMA e se dirigiu aos edifícios da nova Escola, com a presença de muita população aveirense. As festividades terminaram com uma sessão, no ginásio da Escola, onde foi assinado o auto de entrega da EICA, assinado pelos representantes do governo e pelo Diretor da Escola. Enquanto Escola Industrial e Comercial, terá atingido a sua fase de maior expansão nas décadas de 50 e 60. A Escola foi o espaço de formação de muitos daqueles que trabalharam e trabalham no mundo empresarial, especialmente na indústria e no comércio de Aveiro, ficando conhecida na região pelos cursos eminentemente técnico-comerciais. Após o 25 de Abril de 1974, a Escola tornou-se secundária e em 1978 passou a designar-se Escola Secundária N.º 1 de Aveiro, atingindo então cerca de 2200 alunos, em regime diurno e em regime noturno. Número muito elevado, face à disponibilidade de salas da escola. Para tentar ultrapassar este problema, foram instalados nas imediações diversos pavilhões em madeira que, com o decorrer do tempo e com o seu uso, deixaram de ter condições para a prática letiva. Esta situação de sobrelotação foi sendo resolvida com a construção de novas escolas na periferia da cidade, nos anos seguintes. Por despacho superior, exarado em 27 de Março de 2002, depois de um processo interno de eleição do patrono, promovi-

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estável e constituído por professores com muita experiência e com uma grande capacidade de inovação pedagógica. A este nível e apenas como um exemplo, tive oportunidade de conhecer um projeto único que não encontrei em mais nenhuma escola, que se designava CAAD – Centro de Aprendizagem Auto Dirigida, constituindo um espaço multi-funcional, que os alunos por sua iniciativa poderiam frequentar, e ter acesso a diversos recursos. Verifiquei também com agrado que a escola cultivava a diversidade na oferta formativa, continuando a dar ênfase à vertente técnica na formação dos jovens, fazendo jus à génese da escola. Como vinha de escolas em que as relações entre professores e alunos eram de alguma proximidade, notei com alguma estranheza, nos alunos desta escola, maior distância com os professores. Percebi que o trabalho a desenvolver com os alunos exigia maior cunho formal. Quanto às condições das instalações era notório, de uma forma geral, que os edifícios estavam degradados e alguns espaços estavam a necessitar de obras urgentes, provavelmente em resultado da utilização excessiva provocada pela sobrelotação que a escola viveu durante as décadas de 70 e 80. Havia necessidade de intervir sob pena de escola entrar em estado de degradação total. Em 1999, Carlos Corga convidou-me a mim e ao colega António Martins, a integrar a equipa diretiva que estava a constituir, para concorrer ao então Conselho Executivo. Na altura percebi que o colega Carlos tinha uma ideia para a escola que ia ao encontro das suas necessidades e, para isso, pretendia reunir um conjunto de elementos dinâmicos para operar a mudança. Achei que seria uma oportunidade de colaborar nesse sentido e aceitei participar. Ao longo dos anos os elementos que aqui trabalhavam, docentes e não docen-

do pela Assembleia de Escola, e após a concordância da Câmara Municipal, foi atribuído à escola o nome de “Dr. Mário Sacramento”, homenageando assim, uma das figuras públicas mais representativas do século XX português. Mário Sacramento, médico e ensaísta, é um símbolo do humanismo que estará sempre associado aos ideais da democracia, da tolerância e do respeito pelos outros. Em resultado da política de agregação de escolas, no dia 1 de abril de 2013, é constituído o Agrupamento de Escolas Dr. Mário Sacramento, integrando esta Escola Secundária e o Agrupamento de Escolas de Aradas. O Agrupamento assim constituído, com sede na Escola Secundária, é composto por sete estabelecimentos dos diferentes níveis de ensino, desde o pré-escolar ao secundário. No presente ano letivo, 2015/2016, frequentam o agrupamento cerca de 1773 crianças e alunos; 96 crianças no pré-escolar; 305 alunos no 1.º ciclo; 134 alunos no 2.º ciclo; 223 alunos no 3.º ciclo na EB de Aradas; 336 alunos no 3.º ciclo na ESMS; 679 alunos no ensino secundário.

Breve depoimento Em setembro de 1996 dei entrada nesta Escola como professor do quadro, para lecionar no então grupo 11.º A – Geografia, era a colega Isabel Órfão Presidente do Conselho Diretivo. No meu percurso profissional, até essa data tinha passado por diversas escolas. Entre outras funções, adquiri também experiência de gestão escolar, pois tinha cumprido um mandato como elemento de uma equipa diretiva. Ao chegar, vi que estava perante uma escola diferente das que tinha frequentado até então. Uma escola que gozava da sua localização central na “mancha urbana” de Aveiro, com um corpo docente Da EICA a Escola Secundária Dr. Mário Sacramento

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tes , acreditaram no projeto e todos se envolveram nas iniciativas que foram sendo propostas. Os resultados começaram a aparecer e a comunidade, nomeadamente os encarregados de educação, passaram a procurar esta Escola, em maior número, para colocar os seus educandos. Das iniciativas que contribuíram para o sucesso, realço duas, a aposta na melhoria do sistema ensino-aprendizagem no 3.º ciclo e a melhoria dos espaços escolares. Quanto ao 3.º ciclo destaco, entre outros aspetos, a proposta colocada aos professores mais motivados e com perfil para trabalhar com alunos destas idades, a diversificação de atividades de enriquecimento curricular e a aposta na aproximação da escola com os encarregados de educação. Sabíamos que se obtivéssemos melhores resultados escolares neste nível de ensino, esta situação viria a ter reflexos positivos no ensino secundário. Assim foi. Quanto à melhoria dos espaços, passo a transcrever: “O espaço escolar tem sido alvo de intervenções pontuais, da iniciativa quer das sucessivas direções da escola, quer da Direção Regional, o que tem melhorado o estado de conservação do edifício escolar. Ao longo dos últimos anos, dado o empenho dos responsáveis pela direção da escola e a recetividade que as suas propostas têm merecido junto dos responsáveis do Ministério da Educação, a Escola tem sido dotada com novos recursos, desde mobiliário a equipamentos específicos, passando pela aquisição de outros materiais de apoio às atividades nela desenvolvidas. No entanto, há problemas que persistem, quer a nível de instalações, quer a nível de equipamentos, a que é necessário dar resposta.” in R.I. – 2005. Ao nível da melhoria dos espaços quero salientar a intervenção em três setores como mais valias operadas na Escola:

• Em primeiro lugar destaco a construção da Biblioteca Escolar, no âmbito do projeto nacional da Rede de Bibliotecas Escolares (RBE). A biblioteca deixou de ser um espaço fechado e passou a constituir um espaço multi-funcional, com diversas valências, não só de leitura e acesso à informação, mas também de apoio ao desenvolvimento curricular das diversas disciplinas e atividades de complemento curricular, contribuindo assim para a melhoria dos resultados escolares que se registaram na Escola. Anteriormente, a Biblioteca localizava-se numa sala contígua à sala de convívio dos professores, muito pequena, com as estantes de livros e três mesas no centro. Os alunos não a utilizavam. • Em segundo lugar destaco a melhoria ao nível da segurança e da organização da Escola com a substituição do gradeamento externo, pois permitiu um maior controle das entradas e saídas. O gradeamento anterior estava degradado e em determinados setores permitia que diversos elementos da escola, ou mesmo elementos externos, o transpusessem, pondo em causa a segurança de quem aqui trabalhava e estudava. • Em terceiro lugar destaco a realização de obras pontuais, mas essenciais, para melhorar o estado de conservação dos edifícios, nomeadamente no bar dos alunos, nas oficinas, nos sanitários de alunos e professores, na cozinha, nos balneários e em diversas salas de aula.

As obras de requalificação Apesar das melhorias que se foram operando, alguns problemas subsistiam, e por isso, em 2008, era então António Martins Presidente do Conselho Executivo, foi apresentada pela Parque Escolar, EPE, a possibilidade de remodelação da Escola, a integrar a Fase 3 do Programa de Moder-


nização das Escolas. Esta possibilidade foi aceite com agrado, atendendo à perspetiva de virmos a ter uma escola renovada e modernizada. Nos anos seguintes, desenvolveram-se as ações que conduziram à elaboração do projeto, da iniciativa da Arquiteta Inês Lobo, de Lisboa. Em 2009, tomei posse como Diretor da Escola e passei a acompanhar, nestas novas funções, o desenrolar do referido projeto. Em maio de 2011, deu-se início à 1ª fase das obras de requalificação com a recuperação das oficinas e a construção de um novo edifício. No rés do chão deste edifício passariam a funcionar os serviços administrativos, a direção e a sala de professores e no piso superior, os laboratórios. Esta fase terminou em agosto de 2012. Ao contrário do que estava previsto, aquando do lançamento das obras, o início da 2ª fase foi protelado durante dois anos. Diversas razões contribuíram para esta demora, nomeadamente as de ordem financeira. Em Agosto de 2014, reiniciaram-se as obras, com a requalificação do edifício principal, a requalificação do edifício do ginásio, a construção da biblioteca e a construção de um novo bloco vocacionado para a Educação Física, localizado nas traseiras das oficinas. Durante os cinco anos que decorreram as obras, a Escola funcionou maioritariamente em instalações provisórias, com as aulas a ser ministradas em monoblocos e, no caso da Educação Física, em pavilhões alugados. Foram anos de muitas dificuldades, muitas vezes com as aulas a decorrer ao mesmo tempo das demolições, das fundações e de outros trabalhos com grande impacto no ambiente escolar. Na 2ª fase, o espaço útil da escola esteve reduzido a um terço, sem sala de convívio de alunos e também quase não havendo recreio. O refeitório e o bar, que servia alunos, fun-

cionários e docentes, funcionou num monobloco. Só com a compreensão e espírito de sacrifício de todos, alunos, professores, pessoal não docente e encarregados de educação, foi possível manter a qualidade do serviço educativo prestado pela Escola. Mesmo nestas condições a comunidade transmitiu-nos gestos de confiança e de reconhecimento, pois os nossos alunos continuaram a obter bons resultados escolares. Mesmo a trabalhar em condições difíceis continuámos a ser procurados por mais alunos do que aqueles que poderíamos receber nas turmas. Em maio de 2016, 60 anos depois, temos de novo uma Escola nova. Uma escola perspetivada para as próximas décadas, moderna e acolhedora, onde Alunos, Professores e Funcionários têm acesso a um conjunto de espaços e recursos inovadores e diversificados, que vão permitir um melhor ambiente de trabalho para a prática letiva e o enriquecimento das aprendizagens. Há 60 anos o papel da escola era muito diferente do atual, resultante das realidades políticas e sociais que se viviam na época, desde logo as taxas de analfabetismo da população portuguesa, que atingiam valores acima de 50%. Atualmente o sistema de ensino enquadra-se num contexto social diferente e aquilo que a sociedade pede às escolas também o é. Nos últimos anos a taxa de analfabetismo situa-se perto dos 5%. No entanto, como há 60 anos, esperamos que esta Escola continue a ter um papel preponderante, por muitos anos, na educação e na qualificação dos jovens do concelho e da região. Mário Lavrador Aveiro, maio de 2016.

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DE CARA LAVADA Presidente do Conselho Geral

Sou Escola Secundária Dr. Mário Sacramento desde 26 de Março de 2002, porque tenho raízes na Escola de Desenho Industrial, na Escola Industrial Fernando Caldeira, na Escola Industrial e Comercial de Aveiro e na Escola Secundária N.º 1 de Aveiro. A ESMS é a Escola onde estudam quase todos os nossos filhos em idade para isso, os filhos dos nossos amigos e é ainda o estabelecimento educacional que recomendamos a todos quantos nos solicitam

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ajuda, aquando de decidirem onde poderão com confiança entregar os seus filhos ou educandos, a fim destes serem encaminhados para a vida, ou seja, poderem sair mais e melhor preparados para um futuro que hoje se apresenta complicado e imprevisível. Esta é a importância que a Escola tem junto de nós e junto de grande parte das famílias que vivem ou trabalham na região da sua influência. Esta é a nossa realidade.

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gico em relação ao administrativo. A base social deste estabelecimento deveria refletir o nosso país, mas não sendo possível, seremos igualmente defensores da ideia de uma verdadeira integração e de um modelo que respeite as dinâmicas locais, não anexando nenhum estabelecimento educativo agrupado, para não incorrer no risco se tornar uma reconstrução espúria. O respeito pelas dinâmicas locais, pelas decisões democráticas e pelas opções no plural, são certamente fatores implícitos no novo projeto Educativo do Agrupamento. Até agora, os discentes foram sempre chamados por alunos. Mal comparando, este é o entendimento que não se verifica num hospital, onde qualquer gestor saberá racionalizar com eficácia. Mesmo assim, os doentes não são chamados por clientes, mas de utentes. O encontro do passado com o presente, foi facilitador para que esta organização atingisse grande notoriedade e influência ao nível local e regional, não se tratando só de estatística e rankings, mas da preferência dos alunos, esta ideia seria facilmente confirmada pelo nosso filho ou pelas nossas sobrinhas. Porém, recomendo a consulta do relatório da avaliação interna. Essa preferência é assumida pela sensação de segurança, pelo salutar convívio, pela satisfação e pelo orgulho de anunciarem onde estudam. É claro que connosco é realmente preciso estudar, só ser aluno não é “cool” neste ambiente onde o passado se encontra com o presente e promete preparar para o futuro, ou seja, para a vida. Como acabámos de anunciar, a Escola são as decisões e não tanto o edificado, são a demografia, são o que criam de cultura e são também a esperança das famílias. Este presente precisa ser realmente reconhecido no esforço de todos, mas certamente também no dos Professores.

Hoje, na vida desta organização, encontraram-se o passado o presente e o futuro. E reuniram-se para celebrar o dia 24 de maio, como dia do Patrono da Escola Dr. Mário Sacramento e também Patrono da nova realidade onde a inseriram – O Agrupamento de Escolas Dr. Mário Sacramento. Este Agrupamento foi formado pela reunião do Agrupamento de Escolas de Ardas e pela Escola Secundária Dr. Mário Sacramento. É por todos sabido que o Agrupamento de Aradas transportava grande influência na modernização tecnológica e pedagógica da Escola Pública e ainda, conceitos, vivências de solidariedade, fomento do hábito desportivo e exigências várias. Este património foi reunido e provavelmente influenciou esta nova realidade ainda por avaliar – Agrupamento de Escolas Dr. Mário Sacramento. Assim, julgamos ser defensável dentro das possibilidades que, esta nova realidade, sendo influenciada, aponte para uma organização adocrática por oposição à burocracia, por isso, acreditamos que a gestão das escolas deverá ser sempre conduzida por um Professor, pela simples razão de se dever privilegiar o ato pedagó14

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qualquer cidadão, nascido e sobrevivido neste espaço cultural e civilizacional que é o europeu. Porém, o significado que esta organização, no nosso entendimento deverá ainda acrescentar à educação é o de educação permanente, desenvolvida num processo sequencial da infância à terceira idade, onde seja premiado o esforço individual e o prazer e a dignidade de ensinar e de aprender. Nas atuais condições de trabalho e de oferta educativa, podemos garantir que melhor saberemos lidar com as exigências da pós-modernidade, que são exigências tecnológicas, mas também de valorização da dimensão do conceito de cultura. Não acreditamos só no talento herdado pelos atores, nem no aprendido só para resultados pontuais, vindos de aprendizagens cujo objetivo é o imediato e que nele se consome, mas sim nos talentos resgatados pelo trabalho e realizados com solidariedade e urbanidade, tendo em conta o bem individual, mas sem nunca esquecer o bem comum e o desenvolvimento sustentado. Este não é um modelo de Escola Pública, este é o modelo da nossa Escola Pública, agora ainda mais digna, por

Para o bem dos alunos, é tempo de se oferecer ao corpo docente, o indispensável poder para que possam ajudar a educar, a aprender e também a ensinar com menos esforço e maior satisfação. É igualmente importante reconhecer o quotidiano de esforço e competência, aos técnicos Administrativos e aos Operacionais, aos representantes dos pais e encarregados de educação e aos representantes dos atuais e antigos alunos, assim como às forças vivas e às autarquias que na maioria das vezes estiveram prontos para verdadeiramente contribuírem e ajudarem. Talvez também nesta Escola ainda se verifique a prática de uma socialização hegemónica, mas se assim for, será conveniente cumprir o estipulado no atual Projeto Educativo. Este tem no seu ideal, não contribuir para as grandes desigualdades sociais e tudo fazer para minorar ainda mais a ora já reduzida violência quotidiana, ensinar no sentido de fomentar oportunidades sociais e o desenvolvimento global estruturado e harmónico de cada um. Pretende-se então, o respeito pela capacidade individual de decidir, num contexto que seja de solidariedade e de tolerância que é obrigação de qualquer organização ou de Da EICA a Escola Secundária Dr. Mário Sacramento

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precisamos de tempo e de uma avaliação isenta. Assim, só noutra oportunidade nos referiremos a esta agregação que, poderá ser aceite ou não, pela sua comunidade. Veremos! Resta ainda relembrar que uma organização tão relevante como esta, a nosso ver, só estará em funcionamento pleno, quando oferecer uma segunda oportunidade àqueles que dela precisem. Se for possível, esta organização deveria tudo fazer para enaltecer a formação dos interessados e promover a valorização académica, organizando ações voltadas para a educação e formação de adultos, pois valorizaria sem dúvida a oferta e o Projeto Educativo do Agrupamento, ao fomentar a igualdade de oportunidades, com a oferta de outra possibilidade de continuação de estudos. Aplicaria a ideia de educação permanente, ou seja, educação e formação ao longo de toda a vida.

acrescento do novo edifício já preparado para as aprendizagens com base na investigação, na prática desportiva e no ensino de artes e ofícios como é tradição desta organização que, foi sempre, geradora de felicidade e de confiança para todos os que nela estudaram ou trabalharam. Quanto ao regresso a Escola Comercial e/ou Industrial, já não é possível. O desenvolvimento tecnológico dá origem a processos responsáveis pela obsolescência da técnica num prazo muito curto, obrigando à substituição dos meios tecnológicos. Estamos então a lançar a ideia de se expor as máquinas: tornos, fresas…para que não seja preciso amontoá-las. Afinal elas representam a aprendizagem de muitos industriais e comerciantes de sucesso, ainda no ativo. No entanto, acreditamos que o futuro não passa pela primazia da técnica, mas sim, pelas decisões que tenham em conta o futuro e as pessoas. No que diz respeito à sua atual configuração que é o de Agrupamento de Escolas,

José Marta

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UMA ESCOLA IMPORTANTE NA VIDA DA GENTE E DA TERRA Presidente da Câmara Municipal de Aveiro

A Escola Secundária Dr. Mário Sacramento comemora 60 anos de existência numa fase muito importante da sua vida. Quero saudar vivamente a nossa Escola, os seus Dirigentes, Professores, Pessoal Auxiliar, Estudantes, Pais e Amigos, por todas as partilhas de vida e de energia que fizeram desta Escola uma referência na Educação do Município e da Região de Aveiro. Nascida como Escola Comercial e Industrial de Aveiro, foi nessa dimensão uma Escola de referência para a Cidade, o

Da EICA a Escola Secundária Dr. Mário Sacramento

Município e a Região de Aveiro, escola de ofícios que sempre teve na formação geral e cívica, uma componente bem agregada à componente técnica que tão boas referências deixou, com muitos contributos para as nossas Empresas e a nossa Comunidade. Neste tempo de comemoração, o olhar para o bom passado deve ser uma aula da qual podemos e devemos tirar boas lições para cada dia do presente que vamos vivendo, numa lógica de prosseguirmos as apostas de futuro e as conquistas que queremos fazer para continuarmos um

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crescer na partilha de conhecimento e na capacitação de Gente Nova, para que nela se forme melhor para a Vida, como etapa muito importante e da qual todos podemos e devemos tirar o melhor proveito, rentabilizando tantos investimentos de tanta Gente feitos para que a Escola aconteça, para que tenhamos Gente mais realizada e feliz. Que este tempo de festa com prenda, seja inspirador e motivador para todos, na certeza que a Câmara Municipal de Aveiro continuará a ser cada vez mais ativa e relevante na gestão do nosso Município de Aveiro e na sua política prioritária que é a Educação, com a participação de todos os membros da Comunidade Educativa, num processo inclusivo em que cada um tem uma responsabilidade não delegável e muito relevante, para conseguirmos a cada dia, mais e melhor para a nossa Escola Secundária Dr. Mário Sacramento e para o nosso Município de Aveiro. Contem connosco. Bem Hajam.

processo de crescimento para mais e melhor Escola e Comunidade Educativa na nossa Mário Sacramento. Neste tempo de comemoração dos 60 anos de vida, recebemos uma Escola renovada e ampliada no seu edifício, a coisa física tão importante, embora não suficiente de per si, para a qualidade do que fazemos nela. Depois de um tempo longo demais, das decisões contraditórias de fazer e parar, de projetar e alterar, de colocar e cortar, depois de tribulações de anos demais para que a obra fosse realizada, eis a obra pronta e ao nosso dispor, importante sem dúvida mas apenas mais um instrumento para fazermos mais e melhor. Queremos a nossa Escola Mário Sacramento com um espírito renovado, com uma aposta reforçada na sua qualidade, com uma Comunidade Educativa mais ativa e realizadora, numa ligação intensa entre a Escola e a sua Comunidade. Passada a longa obra, partilho agora os agradecimento pela sua realização, aos Governos de Portugal, que a permitiram, a todos os que de alguma forma por ela lutaram e nela trabalharam: muito obrigado. Agora, trabalhar nela é continuar a

José Ribau Esteves

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ESPECIAL CARINHO PELA ESCOLA DR. MÁRIO SACRAMENTO Presidente da União das Freguesias de Glória e Vera Cruz

significado da ética e da moral, quer no âmbito do processo de aprendizagem e de relacionamento entre os jovens no seio escolar, quer como meio de preparação para o futuro, com reflexos evidentes nas opções pessoais e profissionais de cada um dos jovens e adultos. Neste processo evolutivo e de transmissão de valores, entendo que o papel da família assume-se como o primeiro passo de construção da personalidade de cada um dos indivíduos, como meio de ensinamento e de preparação para a vida em sociedade. Com efeito, a sociedade dos nossos dias carateriza-se por um incontornável número de problemas que, direta ou indiretamente, condicionam a evolução da personalidade dos nossos filhos. O seu crescimento depende das perspetivas que têm quanto ao futuro, da capacidade de cada um em interiorizar, enfrentar ou adaptar-se à realidade social que os rodeia. Por esta razão, entendo ser fundamental que muitas das matérias ou assuntos debatidos nas escolas possam servir como meio de alerta e de preparação para a vida.

Frequentava o Curso Geral de Comércio na atual Escola Homem Christo, quando se iniciaram os trabalhos de construção da Escola Industrial e Comercial de Aveiro, que viria a ser inaugurada em 1956. À data da sua inauguração, como aluno, fui um dos que tiveram a oportunidade e o privilégio de poder inaugurar a então Escola Industrial e Comercial de Aveiro, Escola Secundária N.º 1 de Aveiro a partir de 1974 e atualmente designada por Escola Secundária Dr. Mário Sacramento. Não posso, por essa razão, deixar de nutrir um especial carinho pela Escola Dr. Mário Sacramento que, para mim, será sempre a Escola Industrial e Comercial de Aveiro. Nela foram-me transmitidos novos valores e conhecimentos que se refletiram e condicionaram positivamente a minha conduta enquanto cidadão e como autarca. Esses valores que, e ainda hoje, procuro que se reflitam na minha forma de estar, de viver e de conviver, quer em família, quer em sociedade, sabendo que a sociedade de hoje em nada se compara com a sociedade dos meus tempos de aluno. A escola, para além da dimensão académica, assume papel fundamental na sociedade como meio de transmissão de valores de cidadania, ensinando e valorizando o Da EICA a Escola Secundária Dr. Mário Sacramento

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O problema das drogas, da violência, da pobreza, do xenofobismo, entre muitos outros, obrigam-me, quer como cidadão, quer enquanto autarca, a lidar diariamente com vários exemplos que se passam na sociedade aveirense, mais concretamente na União das Freguesias da Glória e da Vera Cruz. O papel da Junta de Freguesia na sociedade contemporânea assume importância acrescida fundamentando-se e caracterizando-se pela pro atividade, pela intervenção social, de preferência em parceria com as instituições que estão vocacionadas para lidar com as diferentes realidades sociais. A dimensão da problemática obriga ao trabalho de equipa, de parceria.

A meu ver, é neste ponto que a escola assume vital importância no processo de “reconstrução e de “reabilitação” de uma sociedade globalizada, em que os jovens constituem parte integrante, umas vezes como exemplos dos vários problemas que a “ferem”, outras como elementos fundamentais no processo de mudança de paradigma, participando na procura de soluções para esses problemas, para as realidades menos desejáveis. As Juntas de Freguesia nem sempre dispõem dos meios mais adequados para ajudar a suprimir as dificuldades que podem ocorrer no âmbito escolar e a União das Freguesias da Glória e da Vera Cruz,


em parte e infelizmente, não foge a essa realidade. Contudo, considerando as suas competências e capacidades, a Junta de Freguesia pode assumir-se como elemento fundamental na construção de uma escola e de uma sociedade melhor, alertando para os problemas, identificando as várias realidades, privilegiando o diálogo, a articulação de conhecimentos e de influências, encontrando consensos, fazendo “pontes” entre as várias instituições. De um modo geral, as autarquias podem participar e cooperar nesta mudança, na construção de uma sociedade melhor e mais justa para todos.


Em conclusão, a articulação de esforços e de capacidades intrínsecas às escolas e autarquias, nunca esquecendo a rede de instituições que assumem papel vital na procura de resolução para os vários problemas que assolam a sociedade em geral, revela-se da maior importância, quer relativamente ao processo de aprendizagem no seio escolar, quer quanto à confrontação social a que esses jovens estão sujeitos fora da realidade escolar. O papel assumido pelas partes, escola, autarquias e demais instituições, embora individualizado, revela-se fundamental quando os objetivos individuais se transformam em objetivos globais. Como Presidente da União das Juntas de Freguesia da Glória e Vera Cruz, mas também como cidadão, continuarei a assumir esta vertente de parceria institucional como fundamental num processo evolutivo, de construção de uma sociedade promissora, de criação de expetativas e oportunidades para os jovens de hoje, para os estudantes que se preparam para um futuro melhor. Neste momento de festa, o Agrupamento de Escolas celebra o dia do Patrono e o 60.º aniversário da inauguração da Escola Comercial e Industrial de Aveiro. Finalmente, constatamos a efetiva e há muito desejada remodelação da Escola Dr. Mário Sacramento, dotando-a dos melho-

res meios e recursos disponíveis, para que cumpra a sua função de ensinar e formar os seus alunos, tanto na componente académica, como na componente de formação social. Pela segunda vez, tenho a oportunidade de assistir a uma nova etapa da antiga Escola Comercial e Industrial de Aveiro, uma nova página marcada pelo progresso, pela remodelação e renovação não só da estrutura, mas do espírito que lhe está subjacente, o ensino por excelência. Como Presidente da União das Juntas de Freguesia da Gloria e Vera Cruz, desejo a maior das felicidades à direção da Escola, na pessoa do senhor Diretor Dr. Mário Costa Pimentel Lavrador, bem como ao corpo docente e demais funcionários que, ao longo dos anos, tudo têm feito para honrar e dignificar a Escola Dr. Mário Sacramento. A União das Freguesias de Glória e Vera Cruz estarão, como sempre, ao dispor da Direção do Agrupamento de Escolas Dr. Mário Sacramento, numa relação profícua de parceria institucional, visando a partilha de responsabilidades, na busca de soluções para os problemas que afetam a comunidade escolar. Fernando Tavares Marques

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ASSOCIAÇÃO DE PAIS E ENCARREGADOS DE EDUCAÇÃO Presidente da Associação de Pais

das escolas; autarquias locais e serviços da administração central e regional, com intervenção na área da educação; nem sempre acontece. Os vários atores deste processo são pessoas com vivências e ideologias que podem ser diferentes, mas o sucesso educativo dos alunos tem que ser sempre o objetivo comum a todos. O movimento associativo de pais é anterior a 1974. Este movimento permitiu que as famílias ganhassem uma maior

A educação é um tema intemporal e intrínseco à nossa condição humana, como se constata na citação anterior. Relativamente à educação escolar, temos tido várias políticas e vários modelos educativos, mas ainda estamos a caminhar para um modelo próximo do ideal. A convergência dos interesses dos diversos elementos da comunidade educativa: alunos; pais e encarregados de educação; professores, funcionários não docentes Da EICA a Escola Secundária Dr. Mário Sacramento

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consciência da sua importância e poder na escola passando a intervir mais ativamente na vida escolar, e começando a conseguir, deste modo, um cada vez maior sucesso educativo dos seus filhos e educandos. A 30 de outubro de 1984, foi elaborado o termo de abertura do livro de atas da Associação de Pais e Encarregados de Educação dos Alunos da Escola Secundária N.º 1 de Aveiro (APESAUM), percussora da atual associação, Associação de Pais e Encarregados de Educação da Escola Dr. Mário Sacramento (APEEEMS). A missão da nossa Associação é contribuir para a melhoria da educação de todos os estudantes da Escola, ao nível do aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver com os outros, e aprender a ser. Na qualidade de Pais e Encarregados de Educação da Escola Dr. Mário Sacramento, estamos comprometidos com o sucesso educativo dos nossos filhos e educandos. Os nossos principais objetivos são: – Promover e fidelizar o envolvimento dos Pais e Encarregados de Educação na missão de educadores e membros dos órgãos de gestão da escola; – Defender os interesses morais, culturais e físicos dos educandos; – Intervir no estudo e resolução dos problemas respeitantes à educação ao nível do agrupamento de escolas; – Lutar pela dignificação do ensino em todas as suas vertentes; – Fomentar atividades de caráter pedagógico, formativo, cultural, científico, social e desportivo; – Intervir, como parceiro social, junto de autarquias, autoridades e outras instituições; – Fomentar a colaboração efetiva entre todos os intervenientes no processo educativo; – Exercer atividades que se relacionem com a defesa e apoio da instituição familiar;


Os filhos de hoje gostam do luxo São mal comportados Desprezam a autoridade Não têm respeito pelos mais velhos Passam o tempo a falar em vez de trabalhar Não se levantam quando um adulto chega Contradizem os pais Apresentam-se em sociedade com enfeites estranhos Apressam-se a ir para a mesa e comem os acepipes Cruzam as pernas e tiranizam os seus professores Sócrates (470-399 A.C.)


sidade, a falta de descanso, a carga horária excessiva, a desigualdade de género, a pobreza, são problemas atuais específicos que preocupam os Pais e Encarregados de Educação, e para os quais a associação tem especial atenção, pretendendo contribuir de forma ativa na sua prevenção. Como parceiros nesta importante tarefa, contamos, entre outras, com a apreciada colaboração das seguintes entidades: Escola Segura, Câmara Municipal de Aveiro, Delegação de Saúde, Comissão Nacional de Proteção de Crianças em risco, a quem aproveitamos para, empenhadamente, agradecer. A ação da nossa Associação materializase, entre outras, em medidas específicas que passamos a citar: – Reuniões periódicas com a Direção da escola, Conselho geral, Conselho Pedagógico e Representantes dos Pais; – Apresentação à Direção da Escola dos problemas e sugestões levantados pelos Pais e Encarregados de educação (regulamento interno da Escola, boas práticas dos representantes de pais, etc);

– Promover, divulgar e defender a implementação e o respeito pela Carta Europeia dos direitos e responsabilidades dos pais e encarregados de educação; – Criar condições para a celebração de parcerias de âmbito cultural, científico e profissional. A concretização da missão e dos objetivos, tem sido alcançada porque temos tido Pais e Encarregados de Educação disponíveis, voluntários, empenhados, persistentes, dinâmicos e motivados a trabalhar em equipa, ao serviço da educação escolar, e porque a Escola Dr. Mário Sacramento sempre valorizou o trabalho em parceria com a APEEEMS disponibilizando todos os recursos necessários para que em conjunto se encontrem as melhores condições de aprendizagem e desenvolvimento dos seus Alunos. O insucesso escolar, o abandono precoce da escola, a falta de envolvimento dos Pais e Encarregados de Educação na vida da escola, o bullying e ciberbullying, a violência no namoro, a droga, o álcool, a obe26

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– Participação em ações de formação organizadas pela Confederação Nacional das Associações de Pais (CONFAP) e outras associações congéneres; – Monitorização da qualidade do serviço da cantina; – Ações de sensibilização sobre nutrição; – Auscultação, partilha de experiências e sinergias com outras associações do agrupamento; – Organização de seminários para os Pais e Encarregados de Educação com especialistas de renome em educação; – Ações de sensibilização ambiental enquadradas no projeto Eco Escolas e com parceria da Comissão de Coordenação Desenvolvimento Regional do Centro; – Bolsa de Pais, onde estes são convidados a ir à Escola falar da sua profissão na primeira pessoa; – Clube de leitura para Pais e Encarregados de Educação. Porque juntos fazemos o caminho, esforçamo-nos por envolver todos os Pais e Encarregados de Educação na vida ativa da Escola e comunidade educativa, querendo que todos se sintam identificados com a Associação da Escola. No ano letivo de 2015/2016 a APEEEMS elegeu, como foco principal, o exercício de conciliação

de dois processos: o maior envolvimento dos pais na vida da Escola e na comunidade educativa, e o reforço da aceitação, por parte da Escola do apoio e participação dos Pais e Encarregados de Educação. Educar é uma tarefa exigente mas também empolgante e compensadora. Estamos sempre disponíveis para receber as famílias com as suas preocupações e sugestões de melhoria através de apeeems@gmail.com. Queremos deixar aqui uma palavra de apreço e reconhecimento a todos os anteriores corpos gerentes anteriores da APEEEMS, e em especial à Dra. Ana Paula Magalhães e à Dra. Margarida Pinheiro e respetivas equipas, que se mostraram incansáveis na promoção e desenvolvimento da nossa Associação. Bem hajam! Na qualidade de presidente da Associação de Pais e Encarregados de Educação da Escola Dr. Mário Sacramento quero agradecer, em nome de todos os Pais e Encarregados de Educação, que representamos, esta oportunidade de testemunhar a nossa vivência nesta Escola. Queremos concluir dizendo que estamos muito orgulhosos da Escola que os nossos filhos frequentam. Alice Marciel


“Primeiro estranha-se, depois entranhase.”. E é verdade. Lembro-me da primeira vez que entrei na Escola Secundária Dr. Mário Sacramento: nervosa e perdida com as enumeras salas e corredores. Custou, mas o cérebro começou a trabalhar e a memorizar cada canto e esquina que ainda hoje me lembro! Lembro-me do estrado (do professor?),por baixo do quadro (ainda a giz), que achei estranho, mas logo percebi o bom que era poder falar ali em cima. Do antigo ginásio, por cima do refeitório, que, ao início, não fazia qualquer sentido para mim e mais tarde apercebime do quão maravilhoso era sair das aulas de educação física e correr para a fila da cantina para ser a primeira! ... Mais tarde chegaram os contentores (com o eufemismo de Monobloco) e a alegria e felicidade esbateram-se. O refeitório, outrora um local onde a animação geral,

com refeições deliciosas, com um espaço decente, foi “trocado” por um contentor ao qual se juntou o bar, comida não muito agradável e passou a ser um sítio onde reinava o silêncio e o descontentamento. As aulas passaram a ser dadas em “caixotes com janelas” onde, pelo menos, o ar condicionado era bom. E assim se passaram


PERCURSOS RECENTES Alunos

cinco anos. Meia década na qual tivemos de entender que, se queremos uma escola nova, com condições e espaços fantásticos, temos de ser pacientes e compreensivos. E finalmente essa escola chegou! Chegou e o resultado foi muito melhor do que o que alguma vez podíamos sonhar. Todas as condições das quais tivemos de abdicar na “fase dos contentores” chegaram agora e em força. Infelizmente apenas beneficiarei deste novo estabelecimento um curto espaço de tempo. Mas daqui levo comigo muitas recordações, vivências e ensinamentos. Por vezes é preciso Dar para Receber, e eu dei muito de mim a esta escola, tanto em participações em atividades escolares como o zelo que lhe prestei. Mas o que a Secundária Dr. Mário Sacramento me deu foi muito mais do que eu alguma vez podia pedir e foi algo que eu jamais encontrarei noutro lugar. Obrigada! Mariana Tavares, 12º ano

Da EICA a Escola Secundária Dr. Mário Sacramento

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Pertenço a uma geração que cresceu com a garantia de que a escola era um dado adquirido. Tal bem, por vezes, cria nos jovens a sensação de que aprender é uma banalidade. Na Mário Sacramento, cedo me apercebi de que a escola são as pessoas, que a ciência que aprendemos nas salas de aula tem de estar de braço dado com a componente humana.

Por essa razão, é com alegria que noto que o ambiente agitado das obras destes cinco anos em nada alterou a memória destes 60 anos de História. A conclusão é simples: mais do que paredes, a escola é feita de seres humanos, que honrando o passado, aprendem no presente para construir um futuro melhor. Francisco Mendes, 12º ano


TESTEMUNHO

Design David Torres

Ex-Presidente do Conselho Diretivo

Este texto resulta de uma viagem pelas emoções e de um esforçado exercício à memória, que me permitiram recortar alguns exemplos da minha experiência de quase quatro décadas, como professora nesta escola. Trata-se pois de uma visão assumidamente pessoal e intransmissível, num registo descontraído e com um só propósito - o de ser fiel às minhas lembranças. Como tal, relevo qualquer omissão ou imprecisão que possa vir a cometer, neste relato despretensioso, ao sabor do pensamento e das sensações que fluem, à medida que evoco o tempo dedicado à profissão docente e a esta escola. Depois de passar pelo ferro-velho e atravessada a ponte de pau subo a ladeira da Fábrica Aleluia, desviando-me das árvores cujas raízes ondulam o passeio. Digiro-me à escola onde fui colocada - Escola Industrial e Comercial de Aveiro. Estranhamente, não conheço o local; enquanto aluna do liceu feminino de Aveiro, nunca me aventurara para aquelas bandas. Nas viagens semanais ao liceu masculino para ter as aulas práticas de Ciências, nunca fora mais longe e o que vislumbrava ao fundo da rua, para o lado da «escola técnica», era uma zona de campos Da EICA a Escola Secundária Dr. Mário Sacramento

que não me despertara interesse. A primeira lembrança que tenho da escola é a imagem de um pequeno gabinete onde fui recebida pela colega Margrit, presidente do Conselho Diretivo . Na parede, a par com quadros e cartazes alusivos à Revolução de abril, estava colocado um espelho esplêndido, com moldura em madeira talhada. Havia outras peças em madeira e também em cerâmica, ilustrando o legado precioso deixado por gerações anteriores de mestres e alunos, que tanto contribuíram para o desenvolvimento regional dessas artes. Mais tarde, quando tive oportunidade de ir ao sótão do edifício, deixei-me deslumbrar pela quantidade de objetos em cerâmicos «abandonados» numa pequena arrecadação, onde se acumulavam pacotes de painéis de azulejos amarrados com cordel, pratos decorativos, quadros, estátuas e moldes, que era urgente preservar. Ao longo do tempo, algum desse espólio foi desaparecendo; no entanto, na sua maioria, foi recuperado e exposto à comunidade. Enquanto professora, percebi que a escola tinha uma história e que, na comunidade local, era reconhecido o seu papel na formação dos jovens, nomeadamente na preparação para a vida ativa. Na época, após a democratização do 31


No final dos anos setenta, relativamente às instalações, para além do bloco central e do bloco oficinal, havia quatro «desmontáveis», barracões instalados bem em cima da estrada, num canto das traseiras da escola. O bairro do liceu ainda não se tinha estendido para defronte da escola e o viaduto sobre a linha férrea não existia; a travessia fazia-se numa passagem de nível com guarda, hoje desativada. Face ao excedente do número de alunos, já que o bloco central fora concebido para uma população de cerca de seiscentos alunos, as instalações escolares ocupavam parte desses terrenos baldios junto à linha férrea, onde foram colocadas duas filas de pavilhões pré-fabricados utilizados como salas de aula, à exceção de um deles, que funcionava como sala de professores improvisada. Era, sem dúvida, pitoresco: por vezes, um ou outro cavalo atravessava o recinto, acompanhado pelo dono, em trânsito para os terrenos agrícolas vizinhos. Num desses primeiros anos, lembro-me de estar a dar aulas nesses pavilhões durante toda a manhã de sábado! Sim, só em meados dos anos noventa é que a direção da escola, a que pertenci, decidiu arriscar e elaborou os horários libertando o sábado de aulas; foi uma decisão sem retorno, que em muito beneficiou toda a comunidade escolar. No início, a única tecnologia disponível nas escolas era o papel e o lápis, pelo que os horários eram feitos manualmente, exigindo uma dedicação exclusiva da equipa responsável, constituída por três ou quatro

ensino que o 25 de abril proporcionara, a escola oferecia cursos gerais e cursos complementares, quer em regime diurno, quer em regime noturno. Acabara a distinção entre o ensino técnico e o ensino liceal. Os cursos tinham sempre uma componente vocacional obrigatória; por exemplo, curso complementar de Eletrotecnia, de Construção Civil, de Mecanotecnia, de Contabilidade e Administração e de Secretariado. A frequência em regime noturno era enorme! Muitos trabalhadores, sacrificando as horas de lazer, frequentavam a escola para melhorar as habilitações o que, normalmente, era um fator de promoção profissional e de reconhecimento social. Com as transformações sociais que se seguiram ao 25 de abril, também na escola se vivia a liberdade de confrontar ideias e participar nas tomadas de decisão. Recordo o ambiente efervescente em que decorreram alguns plenários de professores, onde a clivagem era notória, por força dos ideais políticos. Nunca como nessa época vi os professores intervirem, afirmando as suas convicções pessoais sobre a educação e, em particular, sobre o rumo da escola. Mais tarde, institucionalizou-se a participação dos alunos e do pessoal não docente que passaram a ter representação nos órgãos de gestão. Recordo também o trabalho realizado por diversas Direções de Associação de Estudantes que, em tempos, souberam dinamizar a vida académica, promovendo atividades extracurriculares, nomeadamente de âmbito desportivo. 32

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professores. Recordo uma vez em que, como já era habitual, o trabalho se prolongou pela noite dentro e o funcionário de serviço fechou a escola, esquecendo-se da presença da equipa de horários, de que eu fazia parte. Chegada a hora de sair, saltamos o portão da frente! Para além desta, vêm-me à memória outras situações que hoje seriam bastante improváveis. Que tal uma «semana da escola», sem aulas? Mas com outras atividades de índole cultural e recreativa! Pois aconteceu, segundo um plano previamente delineado que culminou com uma sessão de música ao vivo, no ginásio. Conseguem imaginar as motorizadas e

as bicicletas estacionadas dentro do recinto escolar? Pois é, eu própria entrava pelas traseiras com a minha «acelera», percorria os claustros e estacionava junto à porta de entrada do piso inferior. E turmas com mais de cinquenta alunos? Passo a explicar. Na década de oitenta, deu-se uma mudança significativa nos currículos. A nível do ensino secundário, foi criado o 12.º ano via de ensino, em que os alunos frequentavam apenas três disciplinas, com uma carga horária semanal de cinco horas, por disciplina. Na área de Ciências, os alunos tinham matemática, física e, em alternativa, geometria descritiva ou química; de forma análoga, o curso na área de Economia, contemplava


integração desses alunos, combatendo o «estigma» que alguns teimavam em colar à escola. Como estava longe o 25 de abril… Começou então a esboçar-se uma estratégia de diferenciação que passou pela melhoria das instalações, pela visibilidade dada às atividades desenvolvidas pela escola junto da comunidade local, pela criação de parcerias com entidades empresariais e pela procura de bons resultados escolares, aliados à qualidade do ensino. E novos públicos escolares foram surgindo. Poderia partilhar algumas outras vivências: umas, mais recuadas no tempo e de âmbito mais restrito, como a reprodução dos enunciados dos testes numa «máquina a álcool», depois de elaborados num papel «químico» e a utilização de «transparências» como material didático; outras, mais recentes e mais abrangentes, como a criação do Centro de Aprendizagem Auto-Dirigida (CAAD) e a realização de sessões com a participação de personalidades convidadas dos mais diversos setores da sociedade e que muito tem contribuído para a formação integral dos nossos alunos. No entanto, a escolha de Mário Sacramento para patrono da escola é, sem dúvida, o momento que destaco, pela importância histórica de que se revestiu. A escola tinha agora uma identidade! Ao fim de tantos anos de atividade profissional nesta escola … sinto-me em casa! Fizeram-se obras, mudou-se a decoração, mas o desafio é sempre o mesmo - educar, ensinando. Não gosto de fazer balanços; aprecio o presente e sigo em frente, acompanhada pelas memórias dos bons momentos que partilhei e partilho com alguns colegas e funcionários. Quanto aos alunos… esses, guardo-os no coração! Gosto muito da minha escola!

como disciplinas a matemática, a história, a geografia e o inglês. Inicialmente, como o 12.º ano não abriu em todas as escolas, acolhemos alunos de outras regiões próximas de Aveiro; recordo, em particular, os alunos de Estarreja que faziam parte da primeira turma que lecionei; os alunos estavam sentados em cadeiras com braço, para que pudessem escrever. Como os cursos se destinavam a preparar os alunos para prosseguir estudos superiores, os programas eram exigentes, abordando tópicos novos ou que não faziam parte da formação inicial dos professores. Na época, foi o trabalho colaborativo exemplar desenvolvido nos grupos de docência, que permitiu dar resposta a este novo contexto educativo. Sob o ponto de vista pessoal, foram anos de docência muito gratificantes, no contacto com alunos excecionalmente promissores para a aprendizagem da matemática e das ciências. Paralelamente, foram criados Cursos Técnico-Profissionais, com um nível de exigência idêntico, já que os cursos, para além das disciplinas de caráter técnico-profissional, mantinham a estrutura e os programas da via de ensino, nas componentes geral e específica. Estes cursos eram muito prestigiados, em termos de qualificação e garantia de empregabilidade, ao mesmo tempo que asseguravam uma efetiva preparação para o prosseguimento de estudos. Mas não são só os currículos que sofrem mudanças; também a sociedade e a comunidade educativa. A partir dos anos oitenta, a requalificação urbana conduziu à eliminação de zonas de habitação degradada, concentrando a população deslocada dessas «ilhas» num bairro social, na proximidade da escola. Consequentemente, a escola passou a receber alunos oriundos de famílias moradoras nessa zona habitacional que, pela sua génese, eram mais vulneráveis em termos sociais e económicos. Então como hoje, a escola soube criar ambientes propícios à

Isabel Órfão

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ANTIGOS ALUNOS Associação dos Antigos Alunos da EICA

EICA – 1

paredes meias com a Fonte dos Amores e sob a “vigilância” da Polícia de Viação e Trânsito que Deus haja. Não sei onde a minha mãe foi buscar forças e ânimo para levar a sua avante. Mas ela queria que os filhos não ficassem só pela escola primária. Lembro, como se fora hoje, a decisão inabalável da minha mãe de tudo fazer para me matricular na EICA. Contra ventos e marés, vencendo inimagináveis dificuldades materiais e humanas. Mas matricular o filho mais velho na EICA era, para ela, um ponto de honra que tinha de ganhar. E foi lá, na EICA, que me vi matriculado, com isenção de propinas, a aproveitar as vantagens iniciáticas do segundo ano de uma reforma do ensino técnico-profissional que, compreendo hoje, fora pensado para preparar os jovens que tinham a dita de não se ficar somente pelo ensino primário, frequentando cursos que visavam preparar-nos para entrar na vida activa, isto é, para começar a trabalhar logo após os cinco anos de formação que essa reforma contemplava. Por volta dos quinze anos estaríamos aptos para entrar no mundo trabalho. Essa recente reforma do ensino técnico-profissional assentava num esquema

EICA é o acrónimo pelo qual todos nós, seus alunos, designávamos a Escola Industrial e Comercial de Aveiro, estabelecimento de ensino que eu tive o privilégio de frequentar logo após ter feito o ensino primário de quatro anos. Estamos mesmo nos finais da década de 1940. Foram vários os locais por onde passou a EICA, nas décadas de 30-40: na Rua Direita, junto ao largo da Câmara, em edifícios anexos à lgreja da Misericórdia e no edifício do antigo Liceu, até ao seu estabelecimento definitivo, já no princípio da segunda metade da década de 1950, no local actual. Esta fase da vida da minha família foi muito complicada. Coincidindo com o meu exame de admissão à EICA, a minha mãe regressara a Aveiro com os meus irmãos mais novos, abandonando Lisboa logo que se recebeu notícia de que o meu pai Manuel sofrera um acidente grave à entrada do porto de Nova lorque e se encontrava internado no Manhattan State Hospital em situação muito difícil. Tão difícil que perdurou até ao último dos seus dias. A minha avó Joaninha acolheu-nos a todos sob o seu tecto, já na rua de Ílhavo, Da EICA a Escola Secundária Dr. Mário Sacramento

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bastante simples mas, cumulativamente, muito ambicioso. Os dois primeiros anos, designados como Ciclo Preparatório, eram comuns a todos os alunos. Era-nos dada uma formação alargada, assente nas seguintes matérias: Português, Matemática, Desenho, Trabalhos Manuais, Educação Moral e Cívica e Educação Física, esta sem conteúdo bem definido pois lhe chamavam Mocidade Portuguesa. Sob esta designação, eram desenvolvidas actividades de diversa índole: ginástica, desportos (futebol, voleibol e basquetebol, campismo, e de acordo com as apetências dos jovens, a frequência do que, pomposamente, chamávamos “Sala do Artista”. Dizia-se ser obrigatório o uso da farda da Mocidade. Eu, em abono da verdade, nunca tive farda, pois a minha mãe não tinha dinheiro para a comprar. Em acampamentos, usei fardas que me eram emprestadas para o efeito. Mas, quem frequentava a “Sala do Artista”, como eu, não usava nenhuma farda. Lembro, com imensa saudade, o nosso “mestre” dos desenhos e das aguarelas, o saudoso Manuel Bandarra, irmão mais velho dos meus grandes amigos e colegas de AVEIROARTE, Jeremias e Helder Bandarra. Com ele todos nós aprendemos muito. O objectivo do Ciclo Preparatório era, como já disse, aparentemente muito simples, mas, simultaneamente, muito ambicioso. Com ele se procurava fazer o despiste das competências natas dos alunos, o que permitiria a um julgado de professores, avaliando as classificações obtidas pelos alunos nesse Ciclo Preparatório, aconselhar a matrícula posterior num dos cursos profissionalizantes: Geral do Comércio, Electricista, Serralheiro-Mecânico, Carpinteiro-Marceneiro, Pintura Cerâmica. Esclareça-se que estes cursos eram criados em cada escola consoante as necessidades das indústrias locais; e os seus mestres eram recrutados entre o melhor que cada 36

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guês, que me ensinou, logo que eu tinha 10 anitos, a declinar o “rosa/rosae” e a amar a minha língua pátria, que ela afirmava ter a sua origem no Latim; o Dr. Álvaro, o “indio” como Ihe chamávamos; o Dr. Damas que era dono de uma Dona Rosa, régua grossa que ele usava e abusava em injustos castigos corporais por conta das contas da Matemática; o professor Porfírio Abreu, santo homem que muito nos ensinou a amar o desenho, a conjugação das cores ... o professor Júlio Sobreiro que não Ihe ficava atrás no mesmo múnus. 0 Padre António de Oliveira misturava os seus ensinamentos de religião e moral com a descrição do argumento do seu próximo filme. Com o seu enorme sentido estético ia procurando encontrar na malta da turma os próximos actores da sua próxima produção, que seria filmada na “selva” onde hoje está o “Forum”. Era na “cantina”, a receber as senhas dos colegas, que eu ganhava o direito ao meu almoço. A Dona Adélia olhava por todos nós como se fossemos seus filhos. Era ela, a esposa do contínuo senhor Brito, quem tratava do aprovisionamento de tudo o que era necessário para a manufactura das nossas refeições. Não posso omitir uma estória que se passou comigo. Terminado o Ciclo Preparatório, quando a minha mãe se preparava para me matricular no Curso Geral do Comércio, foi chamada para falar com o Director de Escola, o Dr. Amadeu Eurípedes Cachim. E foi-lhe dito que eu deveria ser matriculado no curso de Pintura Cerâmica, atendendo a aptidão natural que eu tinha revelado na cadeira de Desenho, durante a frequência do Ciclo Preparatório. Aí a minha mãe foi peremptória. Que não! Eu tinha obtido também iguais classificações a Português e a Matemática. Numa situação de igualdade, e no seu entender, cabia a ela a decisão final. E foi assim que eu fui parar ao Curso Geral do Comércio. A mi-

unidade fabril da zona possuía. Para o Curso Geral do Comércio, no caso da EICA, vieram professores do Porto, muitos com experiência profissional dentro da sua especialidade. Não posso esquecer o Curso de Formação Feminina, onde as nossas colegas tinham muitas das suas aulas connosco, rapazes. Ao contrário do que se verificava no ensino liceal, na nossa EICA não havia descriminação de género. 0 meu Ciclo Preparatório decorreu, todo ele, numa habitação de dois andares, na Rua Direita como toda a gente Ihe chamava e ainda chama, oficialmente, Rua dos Combatentes da Grande Guerra, e que tinha, no rés-do-chão, ainda que pareça estranho, uma ourivesaria: a “Ourivesaria Ayres”. A entrada para a Escola era por uma viela, nas traseiras, viela essa que também dava acesso aos armazéns gerais da Câmara, que ficavam já na cerca do Museu de Santa Joana. A casa que, tempos idos, foi uma vivenda, dispunha de um amplo terreiro que servia para tudo: para brincarmos, para fazermos ginástica sob as ordens do senhor sargento Redondo. Num dos lados do terreiro, havia uma série de pequenas casas térreas, que terão servido de arrumos da vivenda transformada em escola. Num desses arrumos ficava a cantina; noutro, a “sala de trabalhos manuais”. O senhor Brito, o senhor João de Sousa, e o senhor Jorge, um dos filhos do Mestre Martins entalhador, eram os contínuos, muito garbosos na sua farda de tecido azul escuro com botões de cobre reluzente. Tratavam-nos como se fossem nossos pais. A cozinha da vivenda-escola, no primeiro andar, também servia de sala de aulas. E o que terá sido a sala de jantar do prédio era a nossa sala de desenho, com umas mesas à guisa de estiradores. Foi assim que eu conheci os melhores professores da minha vida de estudante: a Dra. Cecília Sacramento, minha professora de PortuDa EICA a Escola Secundária Dr. Mário Sacramento

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sora Dra. Cecília Sacramento, que adorávamos, fazia de todos nós verdadeiros amantes da Língua Pátria. Era sob a orientação destes professores que fazíamos jornais de parede em cada uma das línguas por eles ensinadas. Os arranjos gráficos eram apelativos e os conteúdos versavam as várias matérias que nos eram ensinadas: Noções Gerais de Comércio, Técnica de Vendas, Noções de Direito Comercial, Geografia, etc., etc.. Lembro o Dr. Araújo, o professor de Contabilidade que fez de mim um profissional ágil no mundo da actividade própria dum escritório. Jamais poderei esquecer o nosso professor de dactilografia, o senhor Armando Madail. As máquinas de escrever mais pareciam peças de museu, mas as teclas HCESAR permitiam-nos transformar o teclado em autêntico piano. Até havia quem escrevesse com os olhos vendados. Mas este professor também geria o serviço de assistência aos alunos mais carenciados. Eram sapatos de couro amarelo, eram calças, camisolas, camisas e meias de Iã que ele ia distribuindo consoante as necessidades que ele parecia adivinhar. Eram os livros que não sei de onde vinham, de edições de anos anteriores, mas que ele facultava aos que nada tinham. Tudo isso era feito dentro de um espirito de camaradagem que só visto e sentido. Houve outros professores, como a Drª Nereida, professora de Francês, a Dr.ª Ondina Leite, que sendo de românicas nos dava Geografia, o Dr. David Cristo que nos ensinava Direito Comercial e outros cujos nomes imperdoavelmente esqueci. Tínhamos também uma cadeira muito curiosa: Mercadorias. Era um misto da Química e da Física dada no 2.º Ciclo dos Liceus; só que o seu objectivo era facultarnos a aprendizagem dos rudimentos essenciais da Química e da Física para compreen-

nha mãe disse, frontalmente, ao Director, que queria que eu usasse colarinho branco, quando eu fosse maior.

EICA – 2 Com a transição para o Curso Geral de Comércio, dissemos adeus à casa da Rua Direita. Agora, a nossa Escola era mesmo ao lado da lgreja da Misericórdia, num conjunto edificado muito envelhecido. Mas foi lá que começaram a funcionar os cursos profissionalizantes. Ainda hoje me pergunto como foi possível convivermos todos, os do Comércio, da Formação Feminina e dos vários cursos da lndústria nesse mesmo espaço. Mas lá nos arrumaram. E não foi por causa da vetustez das instalações que nós deixámos de ter excelentes professores a propiciar-nos aulas aliciantes que nos foram enriquecendo na nossa formação. Lembro o Dr. Rocha e Cunha que só falou alguma coisa em Português na primeira aula. Exactamente para nos dizer que, desde aquele dia na aula de Inglês, só se falaria na língua inglesa. Sei que cheguei ao fim do primeiro ano lectivo com 1216 vocábulos. lsso permitia-me já desenvencilhar-me para resolver em Inglês a minha vida diária. 0 mesmo aconteceu com o nosso professor de Francês, o “meia-leca”, alcunha que resultava da sua pequena estatura. Era o Dr. Marino, que se licenciara em Românicas como estudante “voluntário”, tendo sido carpinteiro de profissão. Quer um quer outro transmitiram a todos nós um gosto enorme pelas línguas que ensinavam, sendo inexcedíveis no cuidado posto no aperfeiçoamento das respectivas pronúncias. Ao fim de três anos de aprendizagem todos nós, seus alunos, éramos fluentes quer no Inglês, quer no Francês. E, deixai-me repetir, a minha querida profesDa EICA a Escola Secundária Dr. Mário Sacramento

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dermos os processos de fabrico da pasta de papel, do cimento, da pasta cerâmica, do vidro e de outros produtos. Não tínhamos livro adoptado; era urna cadeira que visava um ensino eminentemente pratico que nos facilitava a abordagem de produtos que poderíamos vir a encontrar na vida prática. Quem dava a cadeira era o célebre Dr. Damas, ágil na transmissão de saberes e no uso de castigos corporais. Fui seu sebenteiro. Tomava os apontamentos nas aulas e no fim de semana, dactilografava a matéria que ia sendo dada, mercê da utilização da máquina de escrever que me era facultada pelo Senhor Vieira, dono duma drogaria que ficava na rua Direita. Na exiguidade do edifício da Misericórdia, os espaços para a Modelação, onde pontificava o escultor Mário Truta e para a Pintura Cerâmica, onde mandava o professor Hernâni Moreira da Silva, eram “invadidos” pelos alunos do Comércio que também eram “tolerados” na assistência às aulas que não eram dos seus currículos, mas de que eles gostavam. Os serralheiros e os carpinteiros marceneiros ocupavam espaços onde hoje ficam as casas mortuárias A “pobreza” do espaço sem dúvida que favorecia urna convivência excepcional, transformando a comunidade escolar numa autêntica família. A frequência do nosso 5.º Ano já não foi na Misericórdia. Para gáudio nosso e dos nossos Professores, fomos ocupar as instalações do velho Liceu de José Estêvão, do lado de lá do largo da Câmara. E que, entretanto, o edifício novo do Liceu Nacional de Aveiro ficou apto a receber os seus alunos que para lá foram logo no início do ano escolar. Para nós, os da Escola Técnica como os do Liceu nos chamavam, ter recreio coberto, ter cantina, ter casas de banho para as raparigas e para os rapazes, ter campo 40

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do Rossio. A minha secretária é a ultima do lado esquerdo. Tens lá uma rima de correio para ordenar. Algumas respostas são só de agradecimento. Responde conforme julgares melhor. Segunda-feira verei o que foste capaz de fazer.” Os meus professores vieram-me felicitar. Eu já estava empregado, já tinha trabalho. Mal cheguei a casa, dei a notícia à minha mãe e entreguei-lhe o sobrescrito: lá dentro estava um nota novinha de 500$00. Chorámos de alegria. No dia seguinte, ainda não eram 9 horas da manhã, lá estava eu a abrir a porta do meu escritório. Era uma vida nova que se me abria, mercê da minha querida EICA. Eu até levava vestida uma camisa branca e uma gravata a preceito. 0 pulôver azul escuro jogava bem com as únicas calças que eu tinha: cinzentas.

para volei e basquete, ter um amplo ginásio com palco e tudo, era um luxo. As salas de aula eram amplas. Tínhamos urna secretaria, uma biblioteca, os professores tinham a sua sala e o Director Cachim tinha o seu gabinete. Esta reforma do ensino técnico continha em si mesma uma visão diferente dos métodos pedagógicos até aí seguidos: todos os alunos eram sempre submetidos a provas orais. As provas escritas não dispensavam ninguém das provas orais. A maior parte dos professores não nos tratava por tu. E, por regra, éramos chamados pelo nome de família. Era a preparação para uma vida de responsabilidade. Eram os próprios professores que nos aconselhavam a prosseguir nos estudos, indicando as formas mais expeditas para atingirmos o ensino superior nas áreas para que tínhamos revelado mais apetências. Chegados ao fim do curso, tivemos urna festa de encerramento com pompa e circunstância. A mim coube-me falar em nome de todos os colegas, lá do alto do palco do ginásio. Como estava nervoso! Como me pesava essa responsabilidade. A boca ficou-me seca, mas consegui dominar-me e chegar ao fim do texto que laboriosamente escrevera. No palco estava um senhor que eu não conhecia. Foi-me sussurrado que era o senhor João Ferreira de Macedo, Presidente do Grémio do Comércio de Aveiro, e que tinha um prémio pecuniário para o melhor aluno da Escola. Chamoume no fim do Director ter proferido as suas palavras de circunstância. E, do alto do seu charuto, sem mais rodeios, entregandome o sobrescrito que iria dar um jeitão a minha mãe, perguntou-me: “Queres vir trabalhar comigo?” Era uma sexta-feira, no fim da tarde. “Que sim senhor”, respondi eu em murmúrio. “Então toma lá estas chaves. São do escritório. É o número 53 do Largo Da EICA a Escola Secundária Dr. Mário Sacramento

EICA 3 – Já lá vão 60 anos… Com o diploma do Curso Geral do Comércio debaixo do braço; com trabalho assegurado na empresa de pesca onde me viria a fazer homem, a grande verdade é que, mercê do ânimo que me foi sendo incutido pelos meus professores da EICA, logo fui pensando em continuar os estudos. Ponderando todas as alternativas, decidi que deveria fazer os três ciclos do ensino liceal de forma a matricular-me como voluntário na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. O ideal seria eu poder-me matricular na Universidade ao mesmo tempo que os jovens da minha geração. O Dr. António da Rocha e Cunha, como já referi, foi dos que mais me entusiasmou a seguir este rumo. Mas havia um óbice legal: como estudante trabalhador só podia apresentar-me a exames do 1.º e 2.º Ciclos do Liceu, depois dos meus 18 anos. E mais: só poderia fazer o 7.º ano, decorridos que 41


uma carreira de empregados de escritório nas empresas ou nos bancos. As alunas da Formação Feminina podiam concorrer ao Magistério Primário e muitas o fizeram; outras, conseguiam alcançar lugares de professoras de Lavores. Quando se olha calmamente para o passado, a certeza com que se fica é que as Escolas lndustriais e Comerciais preparavam muito bem os seus alunos para a vida prática, garantindo a formação de profissionais muito competentes. A prova disso mesmo é que muitos de nós se afirmaram como comerciantes e industriais que deram origem a empresas de gabarito, nos mais variados ramos de actividade. Voltando ao meu devir pessoal, logo que cheguei aos dezoito anos de idade apresentei-me aos exames do primeiro e segundo ciclos do Liceu, só com a preparação que levava da EICA. Dispensei das orais. Manifestei junto do reitor de então, o Dr. Orlando de Oliveira, o desejo de fazer o sétimo ano logo no ano imediato. Foi ele próprio quem fez por mim o requerimento ao Ministro da Educação de então. O deferimento veio já no segundo período. Precisei de explicações de Latim. Quem mas deu, por não mais de três meses, foi o ex-reitor Dr. José Pereira Tavares. Para as restantes cadeiras preparei-me eu sozinho. E na época de exames lá me apresentei eu, no Liceu de Aveiro. Passei a tudo e, logo na primeira época, inscrevi-me na Filantrópica dos estudantes- trabalhadores, matriculando-me no primeiro ano de Direito. A primeira coisa que fiz foi comprar, numa ourivesaria da Baixa Coimbrã, o emblema da Faculdade em prata que orgulhosamente coloquei na lapela do meu casaco. Antes de embarcar no comboio de regresso a Aveiro, fui tomar uma bica no café que ficava em frente à Estação. Estava lá um engraxador. Olhei para os meus sapatos e eles precisavam de ser limpos.

fossem dois anos sobre os exames dos dois primeiros ciclos. E eu ainda não tinha dezasseis anos. Havia que esperar. Fui dando explicações; fui repartindo a minha actividade profissional pela empresa de pesca e pela Fábrica da Lixa, como ajudante de guarda-livros. Ainda quando frequentava o quinto ano da EICA, os professores de lnglês e de Francês foram-nos dizendo que era intenção da Escola abrir cursos práticos dessas línguas e também de Alemão, com frequência nocturna, de modo a não prejudicar os nossos horários de trabalho. E foi assim que eu me vi parte da turma que começou a frequentar, pela primeira vez, esses cursos já ministrados nos edifícios novos da Escola Industrial e Comercial de Aveiro, na então designada Avenida Salazar, hoje Avenida 25 de Abril, um quarteirão para sul do Liceu Nacional de Aveiro, também ele a funcionar em instalações que haviam sido inauguradas dois anos antes. Quando olho para trás, revendo-me nos meus dezasseis frescos anos, parece que sinto a renascida alegria de ir estrear uma casa nova. Já lá vão sessenta anos. E parece que foi ontem… Os tempos eram outros. Nós, os da EICA, sentíamos no pelo a sobranceria com que éramos olhados pelos alunos do Liceu. Estes seguiriam os seus estudos com os meios materiais que os faziam pensar que nos eram superiores. Mesmo os que não ultrapassavam o quinto ano do Liceu, sabiam que tinham facilitado o acesso à função pública que, por esses tempos, conferia urna dignidade que hoje se esbateu. Nós não. Os da lndústria iam para as fábricas da região ou, se queriam e podiam continuar a estudar, faziam exames de admissão aos lnstitutos Industriais. Os do Comércio podiam concorrer também à função pública, aos lnstitutos Comerciais, mas, o mais normal, era enveredarem por 42

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É que ela preparava-me as sebentas para eu estudar, sublinhando tudo o que considerava importante. E assim, por conta das minhas constantes ausências do País, no desempenho de funções que me foram sendo atribuídas no sector das Pescas, foi ela fazendo, por mim, o Curso de Direito e fez-se a advogada que eu, um dia quis ser. Eu só cheguei ao quarto ano. Certo dia, após o “25 de Abril”, o ensino técnico-profissional, tal como era exercido nos tempos em que frequentei a minha EICA, foi extinto. E, em sua substituição,

Pedi-lhe que o fizesse. E ele disse-me: “É para já, senhor doutor!”. Acabava de ser promovido a um grau que nunca atingi por força do meu trabalho no sector das pescas industriais. De ajudante de guarda-livros passei a guarda-livros; depois, a procurador da gerência; a seguir, sóciogerente. E nessa qualidade fui eleito pelos pares da Indústria para tudo o que havia na organização das pescas. Quem se licenciou em Direito foi a minha saudosa Claudette, a mulher que Deus me deu, a mãe dos meus dois filhos. Da EICA a Escola Secundária Dr. Mário Sacramento

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lutou pela liberdade e pela igualdade. Um homem que eu conheci bem de perto; foi meu médico e foi o marido da minha querida professora de Português, a Dra. Cecília Sacramento. Devo muito aos dois. A Escola que tem o nome de Mário Sacramento tem estado a ser profundamente remodelada. Tenho lá três netos a estudar. E só dizem bem da Escola e dos seus Professores. Mas será que todos os seus colegas menos favorecidos materialmente encontram no ensino que lhes é ministrado a resposta para as suas carências efectivas? Sinceramente não sei. Só sei que tenho saudades da minha ElCA que me deu as ferramentas de trabalho que me permitiram ser o que sou.

surgiram as escolas secundárias com novas organizações de esquemas de ensino. Tudo em nome da democratização. Sinto que a intenção foi generosa. Mas tenho que reconhecer que a Sociedade que formamos continua a evidenciar enormes diferenças entre os seus componentes. Tratar igualmente o que é desigual não me parece saudável. E as alternativas que são oferecidas como meios correctores dessas desigualdades não me parecem conter, em si mesmas, remédio. Em resumo: a generosidade bem intencionada não chega. Será que a democratização do ensino até agora perseguida chegará para dar resposta às enormes diferenças sociais que permanecem? A minha casa fica mesmo nas traseiras da ora Escola Secundária de Mário Sacramento. Este foi um homem bom que

Gaspar Albino

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