Caderno 4 - O Estandarte

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Caderno de O Estondorte Publicação especial em comemoração ao Cenlenário da IPI do Bra iI Janeiro/2003

ASSESSORIA DE IMPRENSA E COMUNICAÇÃO

Rev. Gerson Correia de Lacerda (relator) Rev. Josué Xavier Rev. Eduardo Galasso Faria Presb. Nilson Zanela Alberto Klein Diretor e Ed itor: Rev. Gerson Correia de Lace rda Revisão: Rev. Gerson Correia de Lacerda Jornalista responsável: Or. Uassyr Ferreira Reg. MT 6220 - SJPESP 6538 1 Matr. Sind. nº 12763 Redação: Rua Amaral Gurgel, 452 - Sobreloja CEP 0122 1-000 - São Paulo-SP Fone/fax : (0 11 )32 58-1422 I 3258-7967 E-mail: estandarte@ ipib.org Expediente: 2ª a 6~ , das 9 às 18 hs.

Editora Pendão Real Sheila de Amorim Souza (Arte e Editoração Eletrônica) João Júnior Marques (Atendimento e Cadastro) Exemplar avulso: R$ 3,00 Depósito no Bradesco Agência 095-7 CIC 151.212-9 Tiragem: 6.000 exemplares. Impressão: Gráfica Potyguara( 11) 6969-4077

Artigos assinados não representam necessariamente

a opinião da IPI do Brasil, nem da própria direção do jomal. Matérias enviadas sem solicitação da Redação só serão publicadas a critério da diretoria. Os originais não são devolvidos.

Capa:

I" COl/.gresso de Proje/os Sociais da IPI do Brasil


o Estandarte no Centenário da Igreja Poro nos libertarmos do infôncio perpétuo

Rev. Gerson Correia de Lacerda

Ao iniciarmos o an o de 2003, qua ndo a IPI do Brasil es tá co memorando o centen ário de su a organização, colocamos à disposição do público o 2° Caderno do Centen ário. Como t em acontecido com os outros Cadernos publica dos a partir de 2001, es te t a mbém é gratuito para todos os assina ntes do órgão oficial de nossa igr eja . P ara as pessoas que n ão são assinantes, a Editora Pendão Real o vende ao preço de R$ 3,00 . Atualmente, O Esta ndarte conta com 4.886 assinantes. É um' númer o expressivo, mas que pode ser dobrado ou a té triplicado se h ou ver, de fa to, no coração dos m embros da IP I do Brasil muito a mor pela igreja que for m a m. Nosso desejo, ao entregarmos es te 2° Caderno do Centen ário , é qu e ele possa contribuir par a o conhecimento do passado denominacional e para o fortalecimento do compr omi so com o Corpo do Senhor J es us re presenta do pela IPI do Brasil. O r eformador Filipe Melan chton ensinava que a memória n os liberta da infâ n cia perp étua . "Se n ão conhecemos no ssa história, som os com o cria n ças que são facilmente m anipula das .. .". A IPI do Brasil, no ano do centen ário, n ão pode e n ão deve ser "como cr iança, agita da de um la do par a outr o e leva da ao r edor por todo vento de doutrina". Ao contrário, t emos, como igr eja, de "crescer em tudo a t é alcançar mos a altura espiritual de Cristo" (Ef 4 .14-15). Ora mos para qu e es te Caderno seja um instrumento n as mãos de Deus para que t al objetivo seja alca nçado.

o Rev.

Gerson é o editor de O Estandarte e dos Cadernos do Centenário


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Indic6

Apresentação

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A IPI do Brasil e o pentccostalismo n a década de 70

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A IPI do Brasil, o avivamento e o pentecos talismo

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A IPI do Br~sil e o movim ento ecumênico

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A IPI do Brasil e a ação social e política

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A IPI do Brasil nos anos de chumbo

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Erramos - No 1

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Caderno c/o Centen ál'ló, publicado em julho de

2002, à página 29, fizemos constar equivoca da mente entre os pas tores provisionados, os Revs. AdieI Tito de Figu eiredo e Jonan Cruz que, a o contrário, fora m pas tores qu e concluíram regularmente o curso de bacharel e m teologia no Se minário de São Paulo.

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Apresentação Rev. Eduardo Galasso Faria

Com este 2' Caderno do CentenárÍo de O Estandarte damos prosseguimento às publicações que visam à comemoração do centenário da IPI do Brasil. No r Caderno do Centenário focalizamos os acontecimentos na vida da igreja nas décadas de 40 e 50. Agora, estamos com os olhos voltados para o período s ubseqüente, desde a década de 1960 até o fim do período militar, quando o Brasil voltou à democracia. Com A IPI do Bl"'asll e o Pentecostajjsmo na Década de 70, a ProCa. Maria Delma de Carvalho estuda o caso da introdução do pentecostalismo na 1 a IPI de Assis,SP. Também o Rev. Mathias Quintela de Souza se dedica à análise do avivamento e do pentecostalismo. Em A IPI do Brasil, o Avivamento e o Pentecostajjsmo, ele busca as raízes históricas e teológicas desse movimento, para então se dedicar ao ocorrido nas fileiras da IPI na décaela de 60, com a renovação espiritual. O Rev. Antonio Gouvêa Mendonça faz um ampanhado sobre o movimento ecumênico em todo o mundo e tam bém sobre o modo como esse movimento tem sido recebido na IPI do Brasil. J á o Rev. Márcio Pereirà de Sou za, em A IPI do Bras1l e a Ação Social e Política, faz um levantamento dos sinais e das realizações da igreja no que se refere à ação social e política nos seus cem anos. Finalizando, o Rev. Leonildo Silveira Campos aborda os caminhos . da igreja em um período difícil da recente história do Brasil, com implicações para o testemunho cristão em A IPI do Brasil nosAnos de Chul1r bo(1964-8S} Estamos perseguindo o objetivo de fazer um levanta mento his tórico em torno do s acontecimentos na vida da IPI do Brasil. E isso se torna importante para que os mai novos que, naturalmente, se acham distanciados do passado, possam compreender os se us passos como um a (odernos de O Estal/dalte

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19re)a q ue, aos poucos, ve m ass umindo posturas própria s que a dis tinguem dentro do mundo presbiteriano e evangélico e m nosso país . Tais características t êm a ver co m a su a his tória que requer análise, principalmente se estamos preoc up a dos com o futuro qu e nos espera no início de um segundo séc ulo de exis tôncia. Fazer ligações, por mais tônue' que seja m, com a no 'sa históri a e s us person agens é um a outra forma de no s envolvermos com aq uilo qu e r ece bemo s e que tem s ua parte n a quilo qu e somos hoj e. Ta mb ém é uma form a de vivenciar mos o amor pela igr eja da qual so mos par te e para a qual atualm ente da mos a nossa contribuição . Por outro la do e s ubj acente a este tra balho, está a ex pecta tiva de se poder fa zer um a análise dos dados, tend o corage m de criticá-los, sem conotação n egativa, mas dentl'o do que mais positivo te mos em uma h erança que busca cumprir o lema de um a igreja que se considera reformada e que anseia por e ·tar 'e mpre se reformando, para ser fiel ao se u Senhor. Nem é preciso dizer qu e esse l ugar comum é um enorm e desafio. Para que a revista alca nçasse os leitores na forma em que es tá , inúmeros esforços e grande dedicação fora m necessários . Em primeiro lugar, estão os autores dos diver sos escritos de que m se exigiu muita pesquisa e trabalho . Em seg uida, temos o esforço editorial do Rev. Gerson Correia de Lacerda, preocupado pl'incipalm ente com a forma e o tamanho do texto para que o se u conteúdo n ão fo sse pejudicado e para que o r esultado final - a efetiv::l leitura por parte da igr eja - seja alcançado. Com o seu trabalho, temo s o da Sh eila de Amorim Souza, responsável pela a rte e editoração eletrôn ica, além de outras colaborações, como a do Rev. Éber F erreira Silveira Lima, n a seleção das foto s es tamp a das n a revis t::l. A todos regis tramos o nosso agradecimento, mas so mos e, pecia lmente gratos ao nosso Deu s, Pai, Filho e Es pírito Santo, de quom recebemos o dom da vida seja n ossa, seja da igreja a que servimo s, seja do n osso mu nelo tão contu rba do , mas, como tudo ao nosso redor, objeto do verdadeiro amor de Deu s e m no so Senhor J es us Cristo. A Ele glória para sempre e se mpre!

• o Rev. Eduardo integra a Assessoria de Imprensa e Comunicação da IPI do Brasil e é professor do Seminário Teológico de São Paulo

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Caderllos de OEslal/darle


A IPI do Brasil e o Pentecostalismo na década de 70 Prol', Maria Delma CaNal/lo

O

avanço do pentecostalismo no Brasil, intensificado a pa rtir dos anos 60, re percutiu com toda força em igrejas presbiterianas independentes no interior de São Paulo, como Assis, Bauru e outras cidades do norte do I araná, provocando uma divisão do corpo eclesiástico, mas principalm ente na composição dos membros, trazendo conseqüências imprevisív ' is, O propósito de, S' nrti. ' ; apresentar como o pentecost alismo se inseri u no interior cln I " 11] le Assis, SP, entre os anos 60-70 , Os dad os apresentados 'ão oúgin ári s cI uma pesquisa, base de um tra balho acadêmico, da Univ l's,i dad ' E ta lual I aulis ta, campus de Assis, no progr a ma de pó, -g U1 lu açã , em 1985,

o Presbiteria nismo no

interior do processo

político brasileiro A história cio 1 r HiJiL ' I'i a r i ' 111 0 brasileiro pode ser situa da no contexto histórico m<lior ' 111 q I ' li b 'r lad religiosa tornava-se premente, A criação de um 'H b1c1o l<li 'o '0111 n proclamação da República em 1889, confirmada n:1 'ol1 s LiLuiçi1 ti ' ] 891, e a separação entre Igreja e Est a do servira l11 01110 rlOllL< d' npo i ao crescimento do protes ta ntismo no BrasiL O tem p q u ' S ' I n 1'<t:1 'olls tituição Republicana e a criação da IPI do Brasil (1 90 ) ('o i d ' nJ) ' I1<1 H 11Ii1t rze anos , Em 191 3, dez a nos de pois, ins taIou-s' a rJ>1 d ' !\HH iH. Caderllos de O[s /illldm/o

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A organização da IPI do Brasil e a sua expansão pelo interi or As difer entes fa cções do protest antismo en contrar a m uma fort e r esistência para instalar-se no Brasil. As várias denominações definir a m o seu cr escimento, dependendo de como eram tolerantes às prá ticas católicas ou de como se inserira m no contexto político e social brasileiro. Além do proselitismo religioso, as outras saídas encontra das par a uma atu ação efetiv a fora m: a educação, o jornalis mo e a ben eficê ncia . Houve t a mb ém um inves timento no trab alho mission ário n as cida des do interior do Brasil. A expa n são t erritor ial e popula cion al foi mar cada pelo apego e zelo n as leituras e prá ticas bí blicas e de uma liter atura tra duzida dos Es tados Unidos e Ingla terra . Os conteÍldos dessas er a m m ar cados pelos usos e costumes da queles países e eram seguidos, b asicamente, pelos ch am a dos "protes tantes históricos" (presbiteria no s, batist as, luteran os). As denominações protestantes de a pelo popular e de n: a ior a proxim ação das ca ma das menos favorecidas ' da população centrar a m su as linhas de açã o nos ch a m a dos moviment os pentecosta is . Esses, de certa form a, er a m combatidos pela lider a nça do presbiterianismo t ra dicio n al, levantando inclusive o fato ele que o pentecost alismo era for m a do de "eleitores inconscientes que ob edecia m à orientação política dos seu s líder es" . Os pressupos tos que emb asar a m a a ção de um a lider an ça emer gen te do pres biterianismo brasileiro e a cria ção da IPI do Brasil, em 31 de julho de 1903, es tava m fundam enta dos em textos bíblicos, que, seg undo a lider a nça, buscavam um a a proximação m aior da "pureza" e da "essê ncia" do E va n ge lho . Com i ss o e labo r a ra m um r ol d e ques tionam ento s básicos: o primeiro sobre a ajuda estra n geira e conseqü ente inger ência n a ação da igr eja no país, e o seg undo a respeito da a ção da m açonaria em seu meio. Consider a da, às vezes, como instituiçã o política, outras , como ben emérita e a té como seita r eligiosa, a maçonaria foi consider a da incompatível com a fé cristã pelos organiza dores da IPI do Brasil. A luta pela independência política e econômica de países est ran geiros, a proibição do presbiteriano pertencer à M açonaria e a liberda de educacional pontuaram as r euniões e assembléias que culminar a m , n o 6

Codernos de O Estandarto


31 de julho de 1903, com a fundação da IPI do Brasil. A liderança que se afirmava, com tantos desafios e a responder desde o corpo doutrinário até o atendimento de necessidades materiais e espirituais dos adeptos, foi se condicionando a um isolamento dos problemas globais da sociedade brasileira. A fundação do jornal O Estandarte constituiu o meio de circular notícias, orientações da direção, e tudo o que se passava nas unidades que iam sendo criadas pelo interior de São Paulo e do Brasil.· Com isso, não havia espaço, praticamente, para a análise da realidade brasileira, definindo para si uma postura conciliatória, evitando críticas profundas aos atos políticos gerados pelas inconstâncias das nossas instituições. A exemplo disso, para os problemas ou males da sociedade apresentavam a solução "das boas novas do evan gelho e do seu poder de mudar as vidas" (individualmente). Com base nos princípios da chamada "Plataforma" de Eduardo Carlos Pereira, a IPI do Brasil defendeu: 1) Independência absoluta ou soberania espiritual da Igreja Presbiteriana no BrasiL 2) Desligamento dos missionários dos presbitérios nacionais; 3) Declaração oficial da incompatibilidade da maçonaria com o evangelho de nosso Senhor J esu s Cristo; 4) Conversão das missões nacionais em missões presbiteriais ou autonomia dos presbitérios na evangelização dos seus territórios; 5) Educação sistematizada dos filhos da igreja, pela igreja e para a igreja" .

A IPI de Assis - a " Antioqu ia da Sorocabana" - e seu sign ificado Um dos propósitos do grupo que formou a IPI do Brasil era o de desenvolver o trabalho missionário. Os registros das incursões pelo interior eram divulgados pelo jornal, por depoimentos de pastores-missionários. Mesmo havendo outras tentativas de ocupação e início da exploração da s t erras do Vale do Paranapanema, essas terras permaneciam brutas e inexploradas. No entanto, foi· a cidade de Assis, fundada em 10 / 7/1905, a escolhida para a instalação da sede da primeira IPI, em 1913. Essa unidade religiosa, cujo trabalho evangelizador e educacional marcou a história do presbiterianismo no Brasil, também foi palco do movimento de "Renovação Espiritual". Cadernos de OEstandarte

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As experiências de Paulo sempre fora m inspiradoras de muitos ü'abalhos evangélicos. A r ecém-instalada Igr eja de Assis, à sem elhança de Antioquia da Síria, passou a r eceber pregadores de São Paulo e de outras cidades maiores, enquanto n ão possuía condições de ter seu próprio pastor. O processo de ins talação e posterior crescimento da comunidade presbiteriana independente de Assis esteve cercada de alusões às dificuldades. Chamada de" Antioquia da Sorocabana", a IPI de Assis, singular e extremamente ponderada n as suas posições fr ente à política local e estadual, cresce u ao longo das décadas d 30, 40 e 50 em ritmo seguro, marcado p la presença de um pas tor, líder espiritual de muitas almas e respeitado cidadão assisen .'e, o Rev. Azor Etz Rodrigues. Essa liderança, exercida desde fevereiro de 1930, ocupou vários cargos de r esponsabilidade dentro da Igr eja Nacional. O Rev. Azor m a nteve, com sua fidelidade às doutrinas e objetivos do presbiterianismo independente, a unidade da igrej a local e a manutenção dos bens que fora m adquiridos ao longo de várias décadas . A chamada "Antioquia da Sorocabana" foi a mãe de outras igrejas independentes na s cidades de Cândido Mota, Aldeia, Anhuminhas, Paraguaçu Paulista, Marabá Paulista, Rancharia, Ibirarema, Ourinhos, Londrina, Marin gá, J aguapitã, Ma ndaguari, P aran avaí, essas cinco

Escola Dominical da I" IPI de Assis, ell/ 29/6/ 1958,

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COI/I

II/ais de 700 allll/os

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últimas no Estado do Paraná. O estudo da introdução das idéias e práticas pentecostais no interior da 1" IPI de Assis, a partir da segunda metade do s anos 60, verificou-se pela leitura dos documento s. Foi constatado que a mesma já possuía registros d e envolvimentos de seu s membros com as doutrina s e trabalho s pentecostais desde 1935, es tenTelllplo all./igo da I" IPI de Assis, dendo-se até os ano::; 40. a "AlI.lioquia da Sorocaballa" A postura rígida e inflexível adotada pela direção nacional e local contrária a toda e qualquer participação dos membros da IPI nos trabalhos pentecostais tiveram conseqüências de grande ord m: o afastamento de muitos membros e o desconhecimento de como eram as práticas pentecostais, com a conseqüente criação de um ambiente de antagonismo. Estudos feitos da realidade brasileira, detecta dos em pesquisas feitas em comunidades pentecostais n a cidade de São Paulo, por exemplo, apontaram a existência de um espaço religioso participativo para as pessoas das cama das menos favorecidas da sociedade, principalm ente migrantes nordestinos, que encontraram n elas uma forma de ascensão social. Da mesma forma; embora por mecanismos um pouco diferenciados, foi t ambém o caso da presença e atu ação de membros ou simpatizantes dos cultos pent ecostais no interior, que ofereciam oportu nidades a todos, indistintamente, independente do seu grau de escolaridade ou sa bel' cultural. O número de igrejas aumentava na proporção qu e o trabalho avançava e encontrava um público aberto a um eva n gelismo mais pragmático e rigoroso no que tangia não só à interpretação literal dos textos bíblicos, como dos u sos e costumes, que deveriam fazer o diferencial entre as demais denominações protestantes e o catolicismo. A 1" IPI de Assis, pela atuação da sua liderança, despontou como baluarte e defensora dos dogmas originai::;, não só no cotidiano da igreja, como em eventos promovidos pela denominação, no pla no regional e (odernos de OEstal1darte

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nacional, incluindo o espaço do jorn al O Estandarte. Todos esses esforços deixavam claro a defesa do "status quo" denominacional.

o

Presbitéri o de Assis

A criação do Presbi.tério de Assis foi decorrente da expansão do trabalho evangélico, definida pelo crescimento numérico dos m embros da 1" IPI de Assis e orientada não só para a construção de um novo t emplo, mas tamb ém para a instalação de novas igrejas na ci.dade de Assis e m bairros m ais afastados da sede. Nos a nos 60 havia uma intensa procura de espaços onde a religiosidade pudesse ser colocada para fora co m toda liberda de, um a contradição com relação aos anos de censura c perseguição política que m arcaram a ditadura militar no Brasil.

o

ideó rio doutrinório do movimento de Renovação Espiritual

o

conteúdo dogmático a ser apropriado para dar suporte ao no vo trab alho, chamado de aviva mento espiritual ou renovação espiritual, era baseado na crença do ba tismo do Espírito Santo e a difusão dos dons carismáticos, decorrentes do batismo. Com o movimento renovador s urgiram duas confígurações distintas no interior da comunidade: a primeira, embora de reação moderada e atenta, aceitava as inovações quanto às mudanças nos h ábitos e cos tumes pessoais e novas práticas nos cultos, sempre muito movimentados; e a seg unda, de reação contrária, m as n ão explícita, sempre agu ardando orientações das autoridades centrais, numa espécie de contraponto, mas que também desejava o crescimento da instituição. Rev. José Ferreira Filho, Os fundamentos estavam contidos n os candidato da ala da livros de Atos dos Apóstolos, Rom anos, reI/ ovação à presidêl/ cia do Coríntios e Efésios, os mais lidos e co menSupremo Concílio, elll Brasília, /9 72 10

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tados daquele momento, e que fundam entaram t a mbé m a lista de mudanças nos u sos e costum es, que passavam pelas roup as, proibindo-se o uso de calças compridas para as mulheres, cabelos longos para os hom ens, assim como pelo combate ao consumo de bebidas alcoólicas e ao fumo. Os que aderiram inicialmente ao movim ento já exteriorizavam as mudanças no vestuário e no comprimento dos cabelos. A cada dia o gru po se destacava dos demais. Todas essas mudanças se refletiram na ordem, n a progra mação e direção dos cultos, os dominicais principalmente. Os hinos tradicionais foram sub stituídos gradativamente pelos corinhos ou hinos do avivamento, de apelo e compreensão fá ceis, e por um vocabulário com uso a bunda nte de expressões co mo " mandar", "batiza", "fogo", "poder", entremeados de muitos" glória a Deus", "aleluia", "amém", des tacando- se tamb ém um espaço ' para os testemúnhos de vida, oportunidade em que as pessoas relatavam algum a transformação profunda, a cura de doença ou a solu ção de algum problema. As reuniões específicas de oração pelas p ess oas doent es, com probl e ma s ou "endemoniadas", eram cuidadas especialmente por equipes ou dirigentes com dons Nev. Abel Ali/arai Camargu, líder da rel/uvação, ell/ / 972 espirituais es peciais. Enquanto na s igrej as essas reuniões aconteciam freqü entem ente, o jornal O Estandarte .publicava artigos de pastores e autoridades eclesiásticas sobre o perigo de embustes e de charlatanismo por parte de pessoas n ão muito conhecidas. Para complementar essas práticas que, pouco a pouco; ganhavam mais espaço, adeptos e defensores, uma mudança foi introduzida nos programas do cultos semanais: a substituição dos instrumentos musicais tradicionais (órgão, piano, violino) por instrumentos mais popular es e, conseqüentemente, mais provocativos: guitarras elétricas, t eclados, baterias. O templo, enquanto local de recolhimento e silêncio, foi transformado em espaço de participação, palmas e expressões de lou Cadernos de O Estandarte

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vor. Um a mudança r a dical. Em pouco tempo as IPIs de Assis, Londrina, Maringá, Bauru revelava m-se pioneiras e na dia nteira do movimento de renovação espiritu al, com uma liderança que dava sinais de n ão a dmitir nenhuma forma de controle, censu ra ou impedim ento. O zelo pela doutrina independen te, revela do pela direção geral da instituição, levou- a a u sar mais ainda o jornal para procurar conter os excessos do avivam ento.

o avanço do movimento,

a separação e a organ ização da Igreja Presbiteri ana . Renovada

((P or Cristo prontos a son'eJ! Bem alto erg uei o seu pendão,! Fin11 es sempl'e até mOJ::rel'-/" ou "Obra santa do Espínlo... Estn ca usa é do Senhor!" Os três primeiros ver sos são do Hino Oficial da IPI do Brasil. Os dois últimos fora m extraídos do hino "A vivam ento Espiritunl'~ muito cantado durante o movim ento de renovação espiritual do fina l do s anos 60 e década de 70 . Rev. Palll/im de /II/ drade, Não havia um a contra dição fundam ental /lI/L dos líderes da I~ reja entre eles, a pena s no u so de expressões linPresbiterial/a Rel/ ovada, güísticas . As do primeiro, ma is eruditas, e as apás deixar a IPI do Brasil do segundo, ma is livres e de grande a pelo el/I 1972 emocional. Além dos vários depoimento s e artigos escritos a respeito do avanço e do progr esso do movimento de renovação espiritual, a propaganda das curas e solução dos problemas, todas elas atrela das à crença no batismo do Espírito Santo, compõe o conjunto de da dos que fizeram o crescimento do trabalho. No breve his tórico do movimento publica do no jornal "Aleluia", pelo Rev. Ab el Amaral Camargo, e m outubro de 1983, ele afirmou que : "O t rabalho tornou-se inten so, sem que houvesse tempo para descansar. E 12

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foi assim que no dia 23/1/1970, Deus deu à minha es posa a m esma visão de Isaías 33.30. Entendemos que Deus queria que armássemos uma tenda para trazer as almas aos seus pés, o que se tornou uma realidade a 6 de dezembro daquele ano. Ela foi armada à rua Santa Rosa, J arditn Paulista, e muitas almas foram ganhas para Jesus. 1<oi a primeira tenda no arraial presbiteriano independente" . As visões pessoais pesaram profundamente no coletivo, considerando-se que os que vivenciaram essas experiências possuíam um grau muito alto de credibilidade junto à comunidade. Juntaram- se a elas alguns fatores que incidiram sobre a maioria dos jovens da igreja, alguns ansiosos por novas form as de participação e expressão . Para aqueles que aderiram à experiência foi dada toda atenção. Aos jovens que permaneceram fora dela foram aplicadas sanções e todo o tipo de a dvert ência nos sermões dominicai s . Na Faculdade de Teologia, houve a ocorrência de crises, não só na compreensão doutrinária do movimento, como ideológica. Uma das características cruciais do movimento de renovação espiritual era que o alcance da pregação era para o coletivo e a graça dos dons era uma conquista individual. Isso dava oportunidade à formação de grupos de elite, criando uma distância perigosa dos demais. Na medida em que o tempo do trabalho r enovado acrescentava novos membros, novas contribuições e nova s igrejas à denominação, nos seus líderes crescia a c rteza do cumprimento das metas e dos objetivos do evangelismo cristão. O grande momento para o grupo mostrar a sua força, a relevância do tra balho, as intenções, a franqueza, o respeito à instituição maior foi o Supre mo Concílio ele 1972, quando seria eleita a direção da Igreja Naciona l. Dois grupos disputavam a diretoria e sobre os ombros do escolhido repousaria a responsabilidade dos desdobraRev. Azor 1:.'Lz Rodrigues, lY2Y. mentos do movimento , naquele momento Na década de 70, o Rev. Azo!" instalado em igrejas de, todo o Brasil. acabou por condenar a divisüo O grupo renovado fez-se representar produzida II ela renovação Cadernos de OEstrlfldorte

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na reunião e, estrategicamente, calou-se e fez calar os que queriam expor o andamento do movimento e de como ele estava favorecendo o crescimento da igreja. A vitória do grupo que continuaria defendendo as doutrinas presbiterianas independentes mais tradicionais foi o sinal para que se estabelecessem as regras, as formas de culto, de manifestação e (le condução a serem seguidas pelos pastores em cada um dos seus campos ele trabalho. Os documentos emitidos pelo Supremo Concílio de 1972 rejeitavam pentecostais como membros das igrejas; faziam defesa intransigente do doutrinário presbiteriano independente; advertiam pastores e oficiais adeptos do movimento; e, seg undo o Código Disciplinar, os pastore::; não deveriam permitir que os púlpitos fo ssem ocupados por pregadores que podiam deixar ou criar dúvidas na consciência dos seus seguidores e deveriam examinar rigorosamente os que pedissem transferência para a IPI do Brasil vindos de igrejas pentecostais . Com essas medidas, toda e qualquer mostra de tolerância, aceitação, boa vontade caíram por terra, tornando mais aguda ainda a crise e dificultando a acomodação ou m esmo o ajustamento dos grupos formados no interior da igreja local. Para dar legitimidade e agilidade ao processo de cumprimento da, normas, foi resolvido o seguinte: "a) que fi Mesa Administrativa elaborasse um l"oteú"o de seu tl'abalho e comunicasse em ofIcio aos sín odos, presbitérios e conselhos de todas as Igrejéls Presbiterianas Independentes do Bras11 as pI'ovidências que estavam tomando; b) que a Junta de Missões fi'casse encan'egada de elaborar um documento de oúentação sobre o genuíno trabalho de evangelização e avivamento espinlual para as nossas igrejas; c) que a Comissélo de Educaçiío Cristã colaborasse com . a Comissão de Atividades Légas e promovesse cursos intensivos sobre a matéria em nossas Igrejas e em nossos Semináúos,. antes, de acordo com as suas diI'eções; d) que em tudo se Pl'ocedesse com a maior ca utelé7 e maior amor e que sempre considerasse cada caso separadanJente e n unca em gTLlpO". As orientações do Supremo Concílio demarcaram o território e acabaram por separar o grupo pente costal ou renovado da IPI do Brasil. O Supremo Concílio de 1972 aprofundou posições, inclusive no campo do ecumenismo, e estabeleceu uma nova maneira de pensar a ação da 14

Cadernos de O Estalldarte


igreja em tempos politicamente difíceis, no Brasil e na América Latina. Era o oposto do que s ucedia n a Igreja Católica, que despertou para a ajuda a refugiados e presos políticos, através de uma das suas alas, defendendo propósitos mais populares e de esqu erda, quebrando a ligação que possuía com os poderes políticos constituídos . Muitas das posições firmadas no Supremo Concílio atingiram diretamente a liberdade de pensamento e de interpretação da Bíblia. Os desdobramentos das decisões do Supremo Concílio começaram a ser sentidos a partir dos meses seguintes. Em Assis, o pastor da 1" IPI convocou o Conselho. Foi elaborado um manifesto, com os seguintes pontos: 1- "Nunca pairou em nos~o~ corações ... o desejo de dividir a igreja ou uma denominação"; 2- "O avivamento de Assis .. .foi sem intenção pentecostal"; 3- Estavam de "consciência limpa ... defendiam a unidade da igreja". A maior preocupação foi a de deixar bem claro ao Supremo Concílio que uma divisão era impensável. O manifesto procurou comprovar os benefícios que o movimento de renovação espiritual trouxe à igreja local, não só no crescimento numérico de seu s membros, como nas contribuições e expansão territorial, tudo entendido como sinais de bênçãos. As manifestações dos dons espirituais não se constituíam em problema para o Conselho, pois eles eram um a realidade. Nos momentos oportunos eram dadas as orientações de qúe igreja necessitava. Segundo depoimentos tomados e os registros de atas do Conselho da Igreja, a direção nacional nunca ficou sem informações a respeito do que se passava nas unidades de sua jurisdição, apesar de serem muito claros os ajustamentos às realidades locais e à liberdade que gozavam essas mesmas unidades. No dia 23/5/1972, foi realizada a reunião extraordinária do Presbitério de Assis e apresentado o manifesto de repúdio às medidas do Supremo Concílio. A posição dos pastores já estava definida, inclusive quanto às acusações de desobediência à autoridade maior, firmada em um documento definitivo, elaborado no m ês de abril de 1972, na cidade de Arapongas, PR. O presidente do Presbitério, Rev. Abel Amaral Camargo, apresentou os motivos da convocação da reunião extraordinária dizendo que os conciliares deveriam se posicionar quanto à crise instalada nos seus resCadernos de O Estolldarte

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pectivos arraiais. Ar união durou 28 horas. Nela foram tomadas medidas que contrariavam frontalm ent e o Supremo Concílio, co mo por exemplo: ao inv és d e punição para os pastores simpatizantes do pentecostalismo, foram colocados em disponibilid ade ativa, o que era uma retira da t emporária das funções eclesiásticas. A 3" e 4" Igrejas de Assis e a de Pirapozinho consideraram-se quase 100%, favoráveis ao movimento e julgara m-se livres da jurisdição da Igreja Nacional, perman ecendo nos respectivos templos, incorporandoos ao patrim ônio da co munida de dissidente, fato que provocou revolta naqueles que n ão aderiram ao movimento e à se paração. Os pastores líderes do movim ento, Abel Amaral Camargo, Nilton Tuller, Laércio Dias e Adolfo Neves, bem como os estudantes Natanael Palazin, Alvino de Paula e Francisco José da Silva exp useram em cartas de missórias su as posições pessoais quanto ao m ovimento de renovaçã o es piritual e às decisões do Supremo Concílio. Mais tarde, foram eles os form adores do pr imeiro corpo eclesiás tico da futura denominação, juntando-se a eles a maioria dos oficiais leigos : presbíteros, diáconos e de outras ocupações n as igrejas. De espa nto e perplexidade foi a reação de um a part e da comunida de, mesmo porq ue, n esse primeiro momento, som ente um a minoria apreendeu o alcance imediato e os desdobra mento s de longo prazo do movimento. P assados os momentos iniciais da cisão, a presentou-se a n ecessidade de retomada dos t.rabalhos e de elaboração de um quadro geral de membros da s igrejas, bem como de medidas burocráticas, inclusive com a eliminação de membros do rol e a a doção de condutas muito delicadas, a partir da constatação que houve separação dentro da s famílias, entre pais e filhos, marido e mulher. Nesses momentos iniciais da crise, a palavra de ordem era união, a qual tomou cont a dos artigos, editoriais e pastorais publicado s pelo jornal O Estandarte. A IPI de Assis, como um todo, pareceu desestruturar-se diante do que acontecera. Entre as medid as iniciais, es t ava a do rea proveita m ent o e remanejamento do pessoal que já há algum t empo estava afastado da liderança, devido às divergências com o grupo dissidente. O grande desafio não era só o de reconstruir o quadro administrativo e eclesiás tico, 16

(odemos de OEstandarte


mas também o de desenvolver programas para a conquista de novo s adeptos, somado ao imenso trabalho de reorganizar a vida financ eira das igrejas locais, que mantiveram seus patrimônios originais, ma s qu e chegaram a perder 50 a 60% dos seus membros efetivos e contribuintes. Num esforço conj unto, todas as divergências foram deixadas de lado em nome de um trabalho maior e desafiador. A reafirmação do s dogmas e crenças que su stentaram durante décadas o trabalho presbiteriano independente foi recolocada à comunidade dos m embros, não só para serem lembradas, mas para dar segurança doutrinár ia aos que permaneceram fiéis à denominação. Tudo levava a crer, num primeiro momento, que a difer ença entre os dois grupos era praticamente nenhuma. Porém, segundo relatos, ao evangelizar, ao atender às necessidades e procurar dar respostas espirituais aos problemas materiais de uma comunidade que crescia dia-adia, o movimento de renovação espiritual atendia aos princípios negligenciados pela igreja tradicional, como o "batismo do ~spÍrjto Santo)~ a "posse" dos." dons carismáticos ou espjr.ituajs)~ que passaram a ser pedra fundamental da 'Constituição da Igreja Presbite1"iana Renovada do Brasil~ nos artigos de número 3, 20 e 27, baseados nos textos de Lucas 11.9, Efésios 5.1 t:l, l° Coríntios 14.1. Foi adotada uma pregação voltada para um público mais sensível a apelos emocionais, com linguagem direta, de vocabulário mais popular.

26" NelIlliüo du Presbitério da Soroca!Ja/lll - LOlldrilla, 1959. 1:;111 lirilll eim 111(1//1}, Nev. José Coelho Ferra z (o I" da esq. pldú:), Reli. Azor I:-'t z Rodri';lIes (o 3"), Rev. Frallcisco Gllede/llCl (o 5")

Cadernos de O Estandarte

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Com isso, a comunida de r en ovada cr esce u a olhos vistos a ponto de definir, com urgên cia, os critérios para a constituição de seu cor po eclesiástico, para o que basta va ser'; "a) vocaciona do por Deus; b) ser orden a do pelo Presbitério; c) a presentar -se com conduta mor al íntegra e t er convicções bíblicas doutrinárias sobre o governo da Igreja e tend o experiência de 2 a nos" . Se houve m edidas de emer gência, elas foram n ecessárias para que o grupo não se dis per sasse e passasse, imediat a mente, à continuação de sua s práticas. A n ova congr egação ch a mou -se inicialmente Igreja Presbiteria n a Independente Renova da do Brasil. No ano seguinte, em 1973, t eve seu s ins trumentos institucion ais r efonnula dos por qu e agregou , a partir de reunião de dirigentes, a Igr eja Cristã Presbiterian a, r a mo cindido do presbiterianismo brasileiro em 1965. Com o n ovo nom e de Igr eja Presbiteria na Renovada do Brasil estabeleceu sua sede n a cidade de Maringá, PR. Assim decidido, as duas 'instituições aglutinar a m s uas forças para melhor trabalhar em r egiões m enos povoadas e que n ão comportassem muita divisão n a área de atuação.

Conclusão Não h á como estab elecer um a conclusão ou um en cerr a mento con clusivo, a partir de um estudo de caso de um assunto da a mplitude e complexida de como o que foi apresenta do nessas páginas . Cabe alertar os leitores qu e os dados a presenta dos passaram por um a primeira int erpretação num a dissertação de Mestrado pela Univer sidade Esta dual P aulista, defendida em 1985. Desse t empo, esses m esmos dados n ão passaram mais por nenhum a r eflexão. A partir de agora tornou-se n ecessária toda uma revisão n os quadr os interpret ativos que embasaram o es tudo, m esmo porque o olha r e os novos da dos que foram leva ntados permitirão mais clareza no enten dimento dos atos, atitudes e toma das de decisão por parte daqueles que t ão brevem ente foram apresentados n esse artigo. As doutrinas defendidas pelo movim ento de "Renov ação Espiritual" não eram incompatíveis com as definidas pelo presbiterianismo independente do Brasil, mas n as páginas do jornal "O Est a ndarte" ac umulava m- se as críticas e os desajustes, levanta dos como press upostos no 18

(cldemos de O Estandarte


ideário do movimento renovado conforme as notícias eram veicula das ou como elas ch egava m às reuniões oficiais da direção da denominação independente. Como o movimento de "Renovação Espiritu al" possuiu características próprias, es pecíficas, ger a das e organizadas por gru pos que estavam ligados diretamente à Igreja Presbiteria n a Independente do Brasil, criaram-se condições para o confronto de duas correntes que, nos seus desdobra mentos, configurou -se, inclusive, uma disputa pela liderança da Igreja Nacional. A adoção da doutrina do 'Espírito Santo' e dos ' dons espirit uais' n ão seria m capazes de resolver o impasse da crise por n enhuma dessas lideranças. Extrapola ndo do interior da comu nidade presbiteriana independen te para o todo , foi possível observar que a expansão das seitas pentecostais significava concorrên cia para a igreja estabelecida e um desafio "de fa to" para a sobrevivência das instituições tradicionais e conservadoras. Essas faziam contraposição àquelas que apregoavam e valor izavam os ideais das classes populares, sem contudo oferecer-lhes condições de luta contra a opressão e a exploração da sociedade envolvente .

• A Maria Delma é professora do Instituto Municipal de Ensino Superior de Assis e da Fundação Educacional do Município de Assis (E-mail: delma@femanet. com.br - Fone: (18) 322-4284)

("demos de OEslandarte

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A IPI do Brasil, o avivamento e o pentecostalismo Rev. Mal/lias Ouin/ela de Souza

O

presente texto tem como objetivo: a) compreender a posição da IPI do Brasil em relação ao avivamento (ou l'eavivamento) espiritual à luz das su as origens ortodoxas; b) analisar a influência tanto do pentecostalismo histórico quanto do caI'Ísmatismo como movimento transconfessional a partir da década de 60 na IPI do Brasil e nas igr ejas históricas; c) refletir sobre as medidas tomadas pelas autoridade~ eclesiásticas e concílios quanto a esta questão e suas implicações para a o dia-a- dia das igrejas locais; el) su gerir uma agenda de trabalho para enfrentar o desafio que o pentecostalismo representa à nossa igreja.

A tradição históri ca do IPI do Brasil Aplica-se à IPI do Brasil a afirmação de Émile Leonard de que o protestantismo implantado no Brasil estava muito distante das su as fontes. Daí a importância de conhecer as origens históricas da igreja a partir elas suas raízes ortodoxas, do desenvolvimento nas etapas posteriOl'es e dos acréscimos que passaram a fazer parte da sua tradição, A Reforma Protestante do Século XVI surgiu na crlse da cristandade medieval, que se baseava na síntese elo poder espiritu al (Igreja) e temporal (Império) , e foi um a das forças que marcaram a transição da Idade Média para a Idade Moderna, Os reformadores exerceram função profética porque deram expressão aos anseios latentes por reforma na igreja reprimidos pela cristandade medieval. Esses líderes, além da for maçã,O t eológica e elo compromisso com o evangelho, foram sen síveis às condições de vida das pessoas e trouxeram um a mensagem que respondia aos a nseios das pessoas. A conq uista de espaço no campo eclesiástico, no entanto, não foi se m luta nem violência . Pelo contrário, as guer20

Cadernos de O Estandarte


iUtM

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Ne v. Téróo Mora es !Yereira !Jreg a (l(J a r livre 1/0 cOl/gresso do juvel/lude e val/gélico rea lizado em. São Paulo 1/ 0 aI/o de 1946

r as r eligiosaf desenca deadas a partir da Reform a ensan gü entar a m a Europa. Por parte dos católicos, a luta foi para m anter a cristanda de medieval e a situação estab elecida ; por parte dos protes ta ntes, para gara ntir a conquista de espaços e vencer a r esist ência dos r adicais, que insistia m n a r ejeição total da cristandade m edieval. Com o compromisso cujus r egio, ejus r eligio (1555), isto é, cada s údi· to devia a dotar a mesma religião do seu r ei, começou um processo de t enta tiva de est abelecimento de micr os· crist andades nos t erritórios ocup ados pelos protestantes . Essa nova or dem foi toma ndo for ma com os grandes documentos que definir a m a doutrina e o governo nos três principais r a mo s do protes tantismo: no anglicanismo, os Trinta e Nove Artigos, em 1563; no luteranismo, a Fórmula da Concórdia, em 1577; e no calvinismo, a Confissão de Fé de Westminster, a dotada em 27/8/1647 pela Assembléia Geral da Escócia. Aqui encontram· se tamb ém as r aízes ortodoxas da IPI do Brasil. Est abelecida a ortodoxia protesta nte, não só os católicos, m as t a m bém os protest antes u sar a m método s r epressivos para a ma nutenção da ordem. Os inconformado s com essa situação organizara m -se em igr ejas livres (batist as, congr egacionais, menonitas , etc.) e fora m per seguido s tanto por católicos quanto por protest a ntes. Cadernos de OEstandarte

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Rev. O/ol/ iel Gon çalves, líder l Ia reg ião do Nor/ e do Paraná, ql/e sl/s/el//o l/ e def endeI/ a del/oll/il/ação I/a divisão de / 972

o puritanismo, embora fi zesse parte da ortodoxia calvinista, assunliu car a cterís tica s próprias como um movimento piedoso e com forte ênfase n a moral evan gélica . Enfr entou dificulda des com a Igreja Oficia l n a Inglaterra e exer ceu acentua da influ ên cia n a form ação do protestantismo da Am érica do Norte n a fase da colonizaçã o. No fin a l do século XVII e começo do XVIII, a ortodoxia h a via se tran sform a do num a esp écie de escolasbcismo protes tante. O resulta do foi o desenvolvimento de um for m alism o r eligi oso e de um r itua lis mo no culto que cau sa r a m insa tis façã o e desejo de muda n ças. O início da Revolu ção Industrial, principalm ente n a Inglaterra, colocou desafios que

exigiram nov as r espos tas . A primeira r eaçã o de choque à or todoxia protesta nte foi o pietis mo , no meio lut erano , com des dobra m ento na Ingla ter ra, com John Wesley, e, no campo calvinista, com uma série de movimentos cujo ponto culminante foi o Grande Despertam ento, n a Nova Inglaterra , com Jonatha n Edwards. "Cansados das especulações teológica s dos escolásticos pr ot estantes, os pietista s a ssinala vam o poder prático e pen etrante do evan gelho na m edida em que afetava os corações e as vonta des dos homen s". Essa ênfase aparece nos inúmeros hino s compos tos naquela época e que se tornaram populares em toda a t ra dição pr otestante pos terior que herdamos através dos missionário s que nos evangelizar a m . Os pietis tas, principalm ente através dos m etodistas na Inglaterra , nos legaram tam bém o interesse pelos movimentos sociais r ela cionados com as dificuldades suscitadas pela Revoluçã o Indu strial. A segunda reação à ortodoxia protesta nte foi o liberalis mo t eológico que surgiu no s éculo XIX e alcançou notá vel síntese t eórica com Schleiermacher (1786-1834) e Ritschl (1 822- 1889). Romp er a m com a compreensão da vida cristã tanto nos moldes da or todoxia pr otest ante qu anto do iluminis mo, baseando a s cr en ças na exp eriên cia viva da fé, e prepararam o caminho para a crítica bíblica e par a uma n ova relação com a ciência. Deram ênfa se ce ntra l à ex pe ri ênci a r eli gi osa, 22

Cadernos de O Estandarte


rela tivizando as formulações dogmáticas . O século XIX foi o período em que a r eação a o liber alismo t eológico r es ultou em movim ento s de a viva m ento es pir itüa l e no Gr ande Despertam ento missionário, quando as potências européias protes tant es, principalmente a Ingla terra , enviaram missionários às sua s colônias e os Est a dos Unidos da América do Norte n ã o só enviara m mission ários, mas começaram t ambém a estender a su a influência política, econômica e cultural nos países da Am érica Latina, conquista ndo espa ços antes ocupados pela Ingla terra, Es panha e Portugal. A mensagem que r ecebemos do s missionários refletia as influências a cr escentadas a os princípios originais do calvinismo pelo puritanismo in glês, pelo pietismo e pelas controvér sias su scitadas pelos aviva m entos que surgiram nos Esta do s Unidos e que produziram o voluntarismo, o perfeccionismo e o denominacionalismo norte-a merica no s . Essas influências marcaram profunda mente a vida piedosa como pode ser facilmente const at a do principalm ente através dos hinos cantados nas celebra ções litúrgicas presbiterianas .

Avivamento e pentecosto lismo

o conceito e a prática do aviv a mento espiritual fazem parte, portanto, da no ssa tradição histórica . Ele é sempre entendido como um r etorno a o primeiro a mor. Exe mplos de avivamento espiritual são en contrados n a história bíblica e n a história da igr eja .

AlIditório da 3" IPI de Seio IJalllo lia década de 50. A 3" igreja foi bastallle atillgida lie/o IllOvitll ellto avivalistCl lia década lIl ell ciollada

(miemos de O Estandarte

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No Brasil, foram feitas diversas campanhas de avivamento n as décadas de 40 e 50 por J. Edwin 01'1', George Ridout, William Dunla p, Donalcl Philips e Carl Han. Walter Augusto Ermel, diretor da F ac ulda de de Teologia de S. Paulo ela IPI do Brasil, r elatou o re~ ult ado da ca mpanha r ealizada em 1951 por Edwin Orr na capital de São Paulo e m artigo publica do no Estandarte: "Da quela sem ana em diante começamos a r ealizar em nossa Faculdade de Teologia reuniões semanais de oração a favor do r eaviva mento. As bênçãos qu e temos recebido n essas reu niões são incontáveis . Sabemos que mais de oitenta igrejas organizaram reuniões semelh antes e muitas estão sendo mantidas e t êm crescido n ~o só em número como tamb ém em poder" . Em 1952, o m es mo avivalista retornou ao Brasil a convite ela Comissão do Centenário da Igreja Presbiteriana , permanecendo por aqui por quase dez m 'es. No mesmo artigo publicado em O Esta nda rte, Wa lter Ermel afirmou que "a nossa Pátria, de Norte a Sul, foi alcançada pelas su as a bençoaelíssimas campanh as, vidas verdadeiramente transfor m adas, nova visão espiritual, decisões radicais perma n entes e r eais são o at estado do vulto dA. obra r ealiza da em nosso meio". Ele reconhece u, ainda, que a eva n ge li zação do Brasil estava re l acionada com o reaviva m ento q ue inspirou essa obra e r eferiu-se à tese de doutora do de Edwin Orr sobre a continuidade do avivamento n a história da igreja . Concluindo seu depoimento, Walter Ermel afirmou qu e "esta mo s em uma época de reavivamen to. Clamemos a Deu s por um grande r ea viv a mento, pela operação poderosa do seu poder nos corações dos cr en tes' dos oficiais das igreja, do s líderes e também no s corações da qu eles que estão longe de Cri, ' to e precisa m de salvação". Na edição especial de O Estandarte em comemor açã o ao cinqüentenário da IPI do Brasil, Alfredo Borges Teixeira, professor da Faculdade de Teologia e um dos fundador es da denominá ção, expressando a esperança de a IPI e a IPB se unire m no futuro , afirmou : "Creio, porém, que Rev. Walt er t'J'/IIe1, virá o dia em que essa união se dará porque n as reitor da Fac/(Idade de Teologia da IPI do duas igrejas h á bons sinais de avivamento esp iBrasil e entllsiasta do ritu al promovido, aliás, pela Igr eja Presbiteria na C/vivalisll/O 24

(lidemos de OEstllndarte


na sua campanha do centenário. Pequenos rio s que correm paralelamente podem, por ocasião de grandes enchentes, formar um só e imenso caudal". Essa noção ele avivamento é bem diferente do movim ento pentecos ta l que s urgiu no início do séc ulo XX. Embora tendo suas raízes nos avivament;os anteriores, tinha características distintas, como a doutrina do batismo com o Espírito Santo como uma experiência s ub seqü ente à conversão, com a evidência de línguas estranhas e a ênfase nos dons espirituais, como experiências extáticas. Os pentecostais entendem que as origens desse m6vimento estão em Atos 2. Mas, a rigor, as experiências pentecostais moderna s tivera m início e m 1901, na Escola Bíblica Betel, em Topeka , Kansas, so b a liderança de Charles Pmham , qu' en sinava doutrina s e práticas que se tornaram universais no movimento . O jovem negro William Seymour converteu-se ao pentecos talismo e foi expulso da s ua igreja. Passou a reunir- se com simpatizantes na RuaAzuza, 312, Los Angeles, iniciando um movimento sob o nome de "A Fé Apostólica" . Desse endereço o movimento espalhou-se para o mundo inteiro. Os pentecos tais crêem que o se u movimento é um s ucessor digno, e talve z a té mes mo s uperior, da Ryforma do Século XVI e do reavivamento evangélico in glês do século XVllI, sendo uma reprodução fiel do movimento apostólico do séc ulo I. A emergência do movim ento pentecostal pode ser vista como um protes to ao racion alismo que contrib uiu para o esvazia m ento do conteúdo espirit ual da m ensagem da igreja ao fazer concessõe' à cosmovisão moderna. O m'o vimento pentecostal chegou ao Brasil, de acordo com Paul Freston, em três ondas consecutivas. A primeira onda, "través de Da niel Berg e Cunnar Vingren, dois discíp ulos de Durham, que vieram pUl'a Belém do Pará, em 1910, e fundaram a Igreja Evangélica Assembléia de Deus. Na m esma época, o italiano Luigi Francescon, natura lizado nOltc americano,iniciou se u trabalho no Paraná e, mais tarde, cntl'e os imigrantes ita lianos no bairro do Brás, em São Paulo. Foi o fundador da Congregação Cristã no Bra sil. As relações dessas igreja s com as igrejas protes ta ntes já implanta das no Brasil foram , durante muito tempo, de coníi:'onto, em virtud e da Codelllos de OEslrJ/ldorle

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acusação de proselitis mo pratica do por essas igr ejas, como ilu s tra a série de artigos publica do.' por Manoel M ach a do , em O Estand arte em 1919 sob o título "A Invasão P entecostista". As igrejas pentecostais foram aos poucos conquistando espaço e obtendo o reconhecimento das igrejas histÓrica,' . Na década de 50, a seg unda onda pentecostal procedente dos E stados Unidos a lcanço u o Brasil através do s missionários I-Iurolcl Williams e Raymond Boatright, qu e dera m origem à Igrej a do Evange lh o Quadrangular. As m en sagen s desses missionários enfatiza ndo a salvação, o batis mo co m o Es pírito Santo, a cura divina e a volta de Jesus ca u sara m fort e imp ac to nas i grej as hi s tóricas . Al gum as igr ejR s pres biterianas inde pendentes, como as do Cambuci, em São Pnu lo, e Curitiba, no I araná, perdera m me mbros, que se fíliar a m à nov a igreja pentecos tal. Muitas igr ejas pentecos tais surgira m desse movimento co m características distinta s das Igrejas Assembléia de De us e Congregação Cristã no ] rasil, consideradas, agora, igrej as pentecos tais tradiciona is . A partir do final da década de 50, teve início a terceira onda conhecida como movim ento de renovação carismá tica, renovação es piritua l ou n eo- pent ecostali smo. Esse movim en to torno u -se tr a n sconfess ion a I, manifes tando -,'e nas igr ejas protes tantes histórica s e na Igreja Católica. Esta última conseg uiu assimilar esse movimento, dando-lhe es paço dentro de orientações defínida s pela Conferên cia Nacional dos Bispos, mas nas igrejas evan gélicas históric as os confronto s for a m inevitáveis e novas denominações s urgiram, como a Igreja Presbiteriana Renova da, a Igr eja Metodista Wesleya n a, etc. Na Igreja Eva ngélica Luter a n a, o aviva mento espiritua l ass umiu características própria s e foi mantido principalm ente a través do Movi mento Encontrão . A IPI do Brasil foi alcançada em cheio pela renovaçã o es piritua l D partir de meados da década de 60, gera ndo crises. Convém considerar o contexto his tór ico no qu al essas crises tivera m lugar.

Do ques tõo doutrinário à crise pentecostol A IPI do Brasil teve um desenvolvimento tão acentuado n as dua s primeiras décadas de su a exis tência que passou a ser conhecida co mo a IgnJjinha dos milagres. No entanto, logo após a morte do Rev. Eduardo Carlos Pereira, em mea dos da déca da de 20, começou um processo de 26

(odernos de OEstandarte


crise que alcançou o se u ponto culmin ante no fin al da década de 30 e início da década de 40 com a chamada Questão Doutrinária. O desfecho dessa crise foi a organização das Igrejas Presbiteriana Conservadora e Cristã de São Paulo e o en [raquecime nto da Faculda de de Teologia, que por pouco não deixo u de funcionar. Essa situação foi o resultado de controvérsias teológicas que envolveram toda a igr eja, mas principalm ente os professores e alunos da Faculdade de Teologia, tendo como tema inicial as p en as etern as, m as evoluindo para discu ssões mais a m pIas que polarizaram lib erais e conservadores. O vazio deixado por líderes que aliavam reflexão teológica à prática foi sendo ocup ado por um a liderança leiga vigorosa que im primiu forte dinamismo nas atividades da igreja, m as que se ressentia de um a fundamentação teológica mais sólida e que, por isso, contrib uiu para que a igreja se tornasse vulnerável às influências extern as . A Guerra Fria atingiu um ponto crítico n a década de 60. As dificulda des acentuaram-se em virtude da polarização política, alimentada pelas duas potências mundiais da época, os Estados Unidos da A mérica e a União Soviética. De um lado, estavam os que buscavam respostas para os ag udos pro blemas sociais que afli giam o Brasil e toda a América Latina; do outro la do , os fundamentalistas que consideravam quase sempre co mo modernistRs e com unistas tod os os cristãos que enfatizavam a responsabilidade social da igr eja O Setor de Responsabilidade Social, da Confe d eração Ev a n gé lic a do Brasil , apoiava institucion al mente os movimentos de estudo s sobre a realidade brasileira com o objetivo de encontrar respostas aos desafios da nova situação. I· oi significativa a Conferência do Nordeste, realizada em julho de 1962,cujo tema foi Cristo e o Processo Revolucion/Írio Brasilei1·0. Antes, outras três reuniões de estudo já tinham sido realizadas com os t ema s: .A R esponsa bllidRde Social da Igr eja, .A Igr ejR e as R ápidas 1}-ansfÓJ"111é1ções Sociais do Brasi} e.A Nev. Izaías Ga,.cia Presença dR Igr eja n a Evolução da M7cionaJJVieira, 11111 dos dade. /II e/llbms da "Co/ll issão dos !Joz.e" A IPI do Brasil participou ativa mente desCadernos de OEstalldarte

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ses estudos, principalmente a través da lieleranc,:a n acional da s u a mo cida de. Algun s mentores dos líderes nacionais da mocidad e era m seminarist as. Os semin ários de algum as igrejas histórica s, elentl'e eles a F ac uld ade de Teologia da IPI elo Brasil, tornaram -se centro de reflexão e de difusão de novas idéias, destacando -se o Semin ário Pres biteriano elo Sul , onde era professor o missionário norte-a mericano Rich ard Shaull, profundamente envolvido n:'l busca de solu ções pm-:'I os problem:'ls I<ev. Anlonio t!{, Godo)' sociais e políticos do Brasil e da América LaSo!Jrinlw, rellllo r do tina . .. COlllissüo dos /) oz(' ", A Confe deraçã o Nac ional da Mocidad e {//lt' (,Ioboro/l li vro .w!Jr{' li dO/llrillo do I~·.\,/) íril o Pr es bit eri :'lna Ind epe nd e nt e do Brasil SOl/lI) (CMPIB), orga ni zada na década de 40, a briu espaço nos seu s congressos e en contros n:'lcionais e r egionais par:'l os temas que era m de batidos nos en co nt ros da Confederação Evangélica do Br:'lsil e nos Seminários Teológ icos. O Co n gresso Regional realiza do e m' Londrina , PR, e m 1962, teve um te ma su ges tivo: O Senha)" dil I..!i)"Ojil ô o Sonho)" do mundo. M:'Is o tl':'Ib alho m ais significativo realizado na época pela mocidRd e I"oi o Co ngr esso Nacional na cidade de Curiti ba, PR, em julho de 1965, qu e de u co nti nuid a de à m es ma linh a de pen SR l11 ento do Congresso de Londrina. O preletor oficial foi Rubem Alves. Uma Comissão Especial foi nomeada pela direção da igreja para aconr panhar o Congresso . As r eflexões de Rub em Alves bRsear a m-se em Isaías 42 e 53 e identificavam n as experiências de Israel no exílio babilônico 111 uitas semelha nças com a situ ação do povo brasileiro. Na concl usão, alertava qu e a igreja n ão tem o direito de se ma nter como es pectadora no mundo que agoniza. A relação da igr eja com o mundo só pode ser descrita em t ermos de presença e participação. No cumprim ento da s ua missão, a igreja entra e m conflito com as força s desum anizantes e não tem o direito de adotar a filosofia da prudência. A conclusão fina l foi ousada, quando ele disse que "o sac udir de Deus na s estr uturas no mundo do Ocidente não deve ser motivo de tristeza nem de desa ponta mento, ma s de ação 28

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de graças. É exat amente quando Deus coloca o fogo no pasto, que depois a sant a sem ente pode levantar". Nos meios aca dê micos teológicos discutia -se, n a década de 60, o processo de secular ização como altamente positivo para a desmistificação da religiosidade alienante, que constituía barreira para a participação dos cristãos no processo revo lucion ár io brasil eiro. As idéias de demitização, de Rudolf Bultmann, e o Manifesto Revelação Como I-Jjstóúa, de teó l ogos europ eu s que reagiam ao que cham avam de tl'anscendentalização da neo-ortodoxia, popularizaram-se co m a publicação de I-Jon est to Cod, de Jo1m Robinson (1963) e The SeculRr Cjty, de Harvey Cox (19 65). Essas discussões alcançaram o ponto culminante com o movim ento A Morte de Deus, que agitou o cenário protestante no Brasil e no mundo. Essas posições não encontraram ressonância no imaginário popular da IPI do Brasil, n em do protestantismo popular daquela época, e os líderes que promoviam essas atividades, na sua maioria leigos, não tinham o carisma profético necessário para mobilizar o povo evangélico num projeto de transformação social e política do País pela mensagem que transmitiam e pelas atividades que promoviam. Ao contrário, o resultado disto foi a reação por parte de clérigos e leigos em duas direções opostas : de um la do , a adesão a um rígido fundamentalismo teológico na linha de legitim ação da ordem política instaurada no Pais pelos militares; do outro lado, a adesão ao aviva m ento e pentecostalismo co m características acentuadamente emocionais . A primeira reação enco ntrou respaldo n as instâncias do poder denominacional. Um grupo de pastores e presbíteros, representativo dessa posição, enviou um documento à Mesa Administrativa do Supremo Concílio, demonstrando preocupação com fatos "públicos e notórios" e solicitando Pl'ovidências urgentes. O conteúdo desse docum ento consistia e m referências e acu sações a pastores e líderes da denominação; a seminarista s considerados modernistas; a um licen ciado que h avia sido preso como su bversivo no movimento estudantil; às teses do Con gr esso Nacional da Mocidade r ealizado em Curitiba que deveriam ser examina das antes de sere m publicadas; denunciava nominalmente três pastores recém-ordenados que, em virtude dos seu s escritos e declarações, não tinham condições para ocupar cargos de liderança na Co nfederação da Mocidade. (odernos de O Estandarte

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Essa denúncia foi acat ada pela Mesa Administrativa que indiciou os três pas tores pelas r azões alegadas e oficiou os presbitério s aos quais es tava m jurisdicionados para qu e tom assem as medidas cabíveis com a máxima urgên cia . (Os três pastor s denunciado s foram Roberto Vicen te Cruz Themudo Lessa, Moisés Ca mpos de Aguiar Neto e Mathias Quintela de Souza . O primeir o foi julga do e conden a do pelo seu Presbitério. Em recurso interposto junto ao Sínodo, o processo foi desfeito por nulida de legal, m as o pas tor ficou se m a mbiente n a IPI do Brasil e buscou r efú gio, durante algum t empo, n a Igreja Episcopal Brasileira. O segundo, pressionado pelo se u pres bitér io, renunciou ao ministério e à jurisdição da igreja e desapareceu do cen á rio eclesiástico presbiteria no indepen dente. O t.er ceiro foi julga do e a bsolvido pelo se u presbitério, mas fico u, durante um a década, dedicando-se exclusivam ente ao pastorado de igr ejas locais .) Dentre outros fa to s acontecidos, merece des ta que a exclusão de pratica mente todos os alunos da Faculda de de Teologia quase dois a no s depois. (D entre os aluno s excluídos, alguns ocuparia m posições de destaque tanto n a IPI do Brasil como no cen ário evan gélico n acional, t ais como Assir P er eira, Dimas Barbosa Lima, Leontino Farias dos Sa nto s, Ger son Correia de Lacerda e Leonildo Silveira Campo s .) De acordo com o Mamfesto da Faculdade de Teologia, a r azão pr incipal para a medida disciplinar foi a r ecusa do s aluno s de particip ar dos exames de final de sem estre at é que fo ssem a tendidos em su as reivindicações, que podem ser assim r es umidas: alterações e r eestruturações de currículo , progr amas e métodos; es ta belecimento de um clima universitário com livre ventilação de idéias sem o policiamento intelectual das autorida des ela Igr eja.

A cri se pentecos to l A outra r eação às propostas de en gaja mento da igr eja no processo de tra nsform ação históric a verificou- se n a direção de experiên cias de n atureza e mocional. As controvérsias t eológicas entre lib erais e conservadores e os posiciona mentos políticos causar am cansaço e fadiga em muitos pastores e leigos. Muitos pastores tinham sido discípulos de Walter Ermel n a Faculdade de Teologia e identificava m-se mais com a tradi ção histórica dos aviva mentos . Estavam em melhor sintonia com os a nseios dos membros da igreja, que permaneciam alheios às questões 30

Cadernos de O Estondarle


que agitavam e preocupavam uma elite pen sante da igreja . Por is.'o a terceira onda do movimento pentecostal, a Renovação Carismática, que trans pôs toda s as fronteira s denominacionais, encontrou caloro 'a acolhida por parte de pa stores e leigos da IPI do Brasil, mas criou também ten sões e teve multiformes desdobram entos . O movimento de renovaçã o espiritual da década de 60 teve algum as características bem diferentes da quelas t es temunhadas e esperadas por Walter Ermel e Alfredo Borges Teixeira no s pronunciam ento s que fizeram por ocasião da.' celebrações do cinqüentenário da igreja . Dúvidas surgiram principalm ente em relaçã o ao exer cício dos dons es piritua is . O assunto mereceu a consideração do Supremo Concílio em s ua reunião de janeiro de 1969, qu e tomou a seguinte decisiío: "J - O Supremo Concilio sente a n ecessidfl de w gente de um despel'tamento da Igr ej a, para uma vida espiritual mais profunda e poderosa n o testem unho do Evangelh o. 11 - Não se conforma com LIma posição de indifel'8Jlça espiritual, e não admite fanatismos que geram desordens, mas procura orientar esse movimento, no sentido de que todos os Cl 'entes se encontrem aos p ós de Cristo. 111 - Nesse pl'Opósito, o S upremo Concilio lúpoteca i.l'restnla solidari edade aos pastores que, com seriedé7de e sensatez, vêm Pl'omovendo um autêntico avivamento em nossas igr ejas, no espírito de fjdelJdade às Escrituras e sob fi oá entação do Espírito Santo, sem os exager os e fa natismos desn ecess::íl'ios, tendo em vistfl o en sino de Paul o: "M as i Rça t u do d ecen tem e11 te e com ordem" (J Co 14.40/ IV - Embol'r7 admitindo a existênci;7 de dons esp eciais, que o Espírito concede r7 quem Ele q uer e como quel·(J Co 12.1-11),julgr7 o Supr emo Concilio dev,7 ser dada toda ên fase fiO fj'uto do E sp írito, de acordo com G::ílatas 5.22-23, e n ão I?evs . .José Coe l"o Ferraz e S e/li Fermz. O pril/l eiro fi tais do]] s'~ em presid el//e do SlIprel/lo COl/cílio el/l 1972. O De acordo com a deseg lll/do era pasto r ellléri/o da 3" IPI de São Pw,{o (odemos de OEstol/darte

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clsao do Supremo Concílio, toda ênfase deveria ser dada ao íi:'uto do Espírito (caráter) e não aos dons (carisma). Ao referir-se a esses dons como esp eciais, o Supremo n ão os reconhecia co mo parte da vida ordin ária da igreja no que se refere à liturgia e à missão, mas, por sere m ext áticos, ocupariam um a situ ação ele ma r ginalida de. Seria possível a integraç ão desses carism as na vida da igreja ou seria inevitáve l o surgimento de um a nov a comunidade onde seriam rotinizado s? O Esta ndart e, a partir de 1969, retrata a controvér sia que aco nteceu sobre o assunto e como foi tra tado pelos concílios. Por exem plo, foi publicada um a. notícia sobre o Encontro de Avivamento, r ealizado em Campo Mourão, PR, pelas Igrejas Presbiteriana e Presbiteriana Independente da região, de 3 a 6 de abril de 1969, após, portanto, a l'e união do Supremo Con cílio. Sessenta e três igrejas se fizeram representar de diferentes cidades de São Pa ulo, Santa Catarina e Paraná . Cerca de 750 pessoas participara m e, no culto de encerra mento, houve cerca de 2. 000 pessoas. O autor da notícia informa que "muitos foram ba tizados com o Espírito e outros deixar a m os seu s pecados aos pés da cr uz. Muito choro, muita alegria, muitas orações. Houve barulho sim, graças a De us, porque a igreja não está morta, mas viva e, qu ando o povo de Deus se alegra, h á barulho no Espírito Santo, o barulho da glorificação e lou vor a Deu s . Mas houve ordem e decência" . Esta notícia demonstra a aceitação de doutrinas e práticas litúrgicas carismá ticas . A dificuldade estaria sempre em alcançar consenso qua nto a os limites dessa or dem e decência, refe1'idas no docum ento do Supremo Concílio e reafirm a das em outras decisões concilia r es e pronuncia mentos pessoais . Na mes ma edição, Azor Etz Rodrigues t este munhou o que acontecia em Assis m Notícias de OU1'O e Fogo. Na edição seguinte, Palmiro Francisco de Andrade defendeu a tese de que o crente deve buscar o fruto e os dons do Espírito e que eles são inseparáveis. Querer a pen as uma parte é limitar a obra do Espírito e conclui: "esqu eçamos o passado, libertemo -no s do m undo e seu s a trativos e r evistamo-nos_do poder do alto sem limitação e bitola mento". A t en são entre os qu e defendiam a ordem e os que defendia m a liberdade do Espírito tornou-se pat ente . Nes,'a mesma edição, o pastor da 1" IPI de Assis defendeu o avivamento da acu sação de qu e explorava os sentimentos das pessoas. Um dos editoriais do Esta ndarte, depois de citar a decisão do Supre32

Cadernos de O Estandarte


mo Concílio, fez "um veemente apelo aos nossos pastores e conselhos locais, para que estejam at entos a essa ponderada resolução do Supremo Concílio e evitem atitudes e publicações que firam a tomada de posiçã o da IPI sobre o assunto. Haja ordem e cuidado nos movimentos es pirituais e de avivamento que devem ser estimula dos, t endo m erecido a irrestrita solidarie dade do Supremo Concílio, ma s sem exagero s e fanatis mos que só criam problemas e dificuldades des virtuando a su a alta e ins pira dora finalidade" . Essas exortações não s urtiram os efeitos deseja dos . Dificuldades com o avivamento surgiram em diversas r egiões do país . O Sínodo Ocidental, em reunião r ealiza da em janeiro de 1971, decidiu solicitar "uma reuniã o extraordinária ao Supremo Concílio para o es tudo e a 'olução do problema su scitado pelo movimento pentecostal no seio da igr eja" . Essa reunião não chegou a acontecer, ma s a Mesa Administrativa publicou o relatório ele uma comissão nomeada para tratar do assunto. Adolfo Machado Corrêa, veterano pastor, escre veu 4 cartas fraternais aos presbiterianos independentes, analisando o movim ento em seu s vários aspectos e conclamando todos à unidade. Os avivados mobilizara m- se politicamente e, mesmo n ão t endo conseguido eleger o presidente do Supremo Concílio na r eunião realizada em março de 1972 em Brasília, conseguira m mais de um t erço dos votos ao candidato do grupo. Na m es ma reunião, o Supremo Concílio condenou todas as prá ticas qu e considerou pentecostais, como unção com óleo, ósculo santo, cumprimentos na PélZ do Sonho); uso de lÍngw7s estJ'anhas, atividades de CLlJ'as divinas, etc. e deu pleno s poderes à Mesa Administrativa para funcionar como Assembléia Geral, no sentido de advertir, disciplinar e tomar todas as medidas n ecessárias à m a nutenção da ordem e fidelida de à IPI do Brasil em to dos os seu s arraiais, recomendando que "em tudo se proceda com a maior cautela, m aior amor e que sempre se considere cada caso separa da mente e nunca em gr upo". O Rev. Azor Etz Rodrigues, numa série de 5 artigos publicados n o órgão oficial, historiou a evoluçã o e o desfecho da questão do aviva m en to es piritual. Ele participou da reunião do Supre mo em Brasília e afirmou que estava preparado para a defesa desse movimento em se us aspectos bíblicos, essenciais e positivos. Rende u-se, no entanto, à pressão dos seus comp anheiros de avivamento para que n ão se mani[estas Cadernos de OEstal/darle

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se, t endo em vista a sua idade avançada e a . u a co ndição de mini .. tro jubilado, E s tava certo de que eles, joven s e br ilha ntes oradore " o fizessem , M as o parecer da Co missão de Papéis e Consultas so bre o assunto foi a prova do sem disc ussão, sem n enhum voto contrário, se m nenhuma manifes tação [!], Fiel aos princípios e aos votos feitos na ordenação ao ministério da Palavra, s ubm eteu-se à decisão do Supremo qu e foi tomada, no seu entendim ento, por una nimidade. O grupo , que se manteve em silêncio na r e união do S upre mo, manifestou-se depois e m reuniões de concílios e em reuniões informais contra a decisão tomud<1 (1], O resulta do foi a cisão da igreja, co m a organização da I greja Presbiteriana Independent e Renovada (IPIR) , que, mais tar de, uniu -se com o grupo que h avia saído da Igreja Presbiteriana do Brasil pelo m esmo motivo, dando origem a Igreja Presbiterlana Renovada. 11.. situ ação de m ar gin alid a de dos caris mático' qu e ficou la tente na decisão do Supremo Condlio e m janeiro de 1969, quando os dons do Espírito foram considerados dons esp eciais, tornou- se pa tente n a r e união de Brasília em 1972, m as sem luta, sem discussão, sem defesa por parte da queles que , por a mor à igr eja, deveriam lutar para que as ex periências caris m áticas pudesse m ser reconhecidas no que tinham de bíblicas e legítimas para o enr iquecimento da igrej a, como esperava m todo s aq ueles qu e se identificava m co m o Rev. Azor Etz Rodrigues no propósito de defender o a viva m ento es pi r itual em se us aspectos bfb/jcos, essen cia js e posjtivos.

Do radicalizaçõo

00 d iálogo A situação acomodou -se a pós o desfecho da crise do pentecos talis mo n a reunião do Supremo Concílio em Brasília . Coincidindo co m o PI'Ocesso de abertura dem ocrá tica no país, foi eleita nova diretol'ia da IP r do Brasil no início da década de 80, que ass umiu um a posição pastor a l, evita ndo o confronto , co mo acontece u n as décadas de 60 e 70, c buscando a r econciliação entre as diver sas correntes da igreja. Em s ua primeira Palavl'fI publicada em O Estandarte, o p1'esidente, Rev. Abiv al Pires da Silveira, afirmou: "Mais que presidente, m ais que moderador, possa o Supremo Pastor conceder-me a sabedoria do alto, sob a autorid ade do Es pírito Santo, para conduzir pastoralmente o grande rebanho que Ele m e te m confia do". Esse cuidado pastor al incluía o compromisso com a identida de cri s(odelllos de OEstol/dorte


tã-reformada da igreja . O movimento pentecostal ass umiu nova s formas e, nessa nova fase, tem sido chamado de pentecostalismo autônomo e tem sido ca mpo de pesquisa para estudiosos de ciências sociais. Neste novo contexto, o presidente do Supremo Concílio se pronunciou so bre as pectos n egativos desse movimento: "As afirmações feitas por Stanley Jones de que o pentecostalismo tem causado um grande mal ao pentecostes parecem fortes de mais, m as elas procedem e são um a oportuna advertência à igreja no momento em que a doutrina do Espírito Santo e se u lugar na vida da igreja está no centro de nossas preocupações". i\ situação eco nômic a, social e política do Brasil mudou com a transnacionalização do capitalismo e a hegemonia norte-americana após a queda do muro de Berlin. O desenvolvimento capitalista não exige mais a presença física dos se us agentes, porque os se us interesses são administrados acima da política, da economia e da cultura particular dos países periféricos. Isto se reflete nas igrejas dos países da periferia que SÇ! tornam receptoras de pessoal, capital, programas e modelos, marcados pela eficiência da corporação, que pretendem ajudar no desenvolvimento através das igrejas desses países. O velho liberalismo retornou com força redobrada na form:1 do neoliberalismo . O mercado torna-se o ídolo que não poupa sacrillcios humanos em nom e do progresso e reforça a s ua presença no campo religioso. Neste a mbiente, ma nifesto u-se um a versão pentecostal identificada com o espírito da época e atraente: a teologia da prosperidade. Neste clim a, a rígida hierarquia religiosa perdeu prestígio e s urgiu um vácuo que pessoas e grupos ocupam, organizando comunidades co mo espaços a lternativos para celebração e atuação. Com o pentecostalismo autônomo surgiram também redes de igrejas como verdadeiros sistemas de franquia, integrados no processo de glob alização, como atestam qualificativos usados como universal e internacional. A lógica de mercado passou a dominar o campo religioso . A IPI do Brasil, como a maioria das igrejas históricas, passou a perder quantidade considerável de membros para essas com unidades, ao mesmo tempo que passou também a consumir os seus produtos, principalmente as músicas que passaram a ser u sadas nas celebrações . Diante deste quadro, a IPI do Bl'asil ou se acomoda à lógica do mercado e entra firme na competição com os concorrentes, ou resiste, afirmando os valores da sua tradição. Uma solução intermediária sena Codelllas de OEstalldarte

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C*&1

1:;dijTciu sede do Selllillúrio Teulóg icu da IPI du flrasil, à Rlla Visconde de Qllm Prelo elll São POli/O.

dialogar com os movimento s r eligiosos crist ãos no sentido de enriquecim ento mútuo, man tendo- se autêntica qu anto à su a identida de cris tã e r eform a da, ma s buscando ser r elevante n a sit uação atua l através ele r enovação m ental e est r utura l (Romanos 12.2). O caminho escolhido pela IPI do Brasil foi o do diálogo, busca ndo a unidade es piritual n a diversida de de forma s de vivência da fé e do cum pr imento da su a missão no mundo. Par a isto, r euniu-se o Supremo Concílio no m ês de fever eiro de 1993 . Nessa reuniã o, for a m produ zido s dois documentos: A Doutrina do EspÍri to Santo e seu lugar n a vida da Igrej a e O Fortalecim ento Ins tit uciolJé?l da Igreja . Esses docum ento s fora m produzidos depois de diver sas sessões de estudos, que r evela r a m as diferentes t endências n a igreja . O que de novo aconteceu n es ta r eunião do Supremo Concílio foi o r econhecimento da contemporaneida de dos dons do Espírito Santo, conform e a decisão toma da : "Cremos que, à lu z das Sa ntas Escrituras, todos os dons e ministérios deles conseqüentes são t a mb ém para os n ossos dias e que es ta su a rica contempora n eidade visa à edificação do Corpo de Cristo, conforme, especialmente, o en sino p au lino exar a do em Coríntios, Rom ano s e Efésios, e q].le, no exercício desses dons e minist érios, tudo se faç a r ealmente com ordem e decência)~ Quanto à r elaçã o entre o fr uto do Espír ito e os dons do Es pír ito, a decisão foi: "Recomendamo s qu e seja da da pr iorida de à bu sca do fruto do Espírito Santo, conforme en sino expresso em Gálat as 5.22-23, visto que, pela manifestaçã o do fr uto do Espír ito , nós nos a possamos do ver36

Cadernos de O Estandarte


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dadeiro conteúdo da espiritualida de genuinamen te cristã" . O exa me dos documentos dessa reunião revela atitudes novas em relação às reuniões e decisões anteriores: disposição para o diálogo; decisões baseadas num consenso a pós reflexões bíblicas-teoló gicas sobre os temas propostos; produção de material para reflexão da igreja; e providências previstas para associar t oria e prática na vida da igr eja . Uma comissão nomeada nesta reunião produziu um livro com reflexões sobre a pessoa e a obra do Espírito Santo e diretrizes pastorais para que as decisões tom adas sejam cumpridas de tal m aneira a contribuir para a unidade e o desenvolvimento da igreja. Na eleição da diretoria em fevereiro de 1995, os receios de radicalização se desfizeram quando houve renúncia das duas chapas, em virtude do empate em dois escr utínios secretos, e o Supremo Concílio, com liberdade para votar individualmente, escolheu uma diretoria compo sta de pessoas que compunham as duas chapas. A sinalização foi muito clara no sentido de qu e a igreja deveria pross guir na busca da unidade através do diálogo e a sup eração de conflito s através da ação pastoral.

o

paradigma pastoral do igreja

À luz da identidade da IPI do Brasil, da su a tradição ortodoxa e das experiências da sua caminhada histórica, os critérios para discernir a pre 'ença e a ação do Espírito Santo devem ser éticos, espirituais, bíblicos e teológicos. As dificuld ades em relação aos dons espirituais (carismas) acontecem quando fen ôm enos extáticos como glossolalia, quedas, exorcismos, profecias, etc . são considerados como manifestações privilegiadas do Espírito Santo, conferindo aos seu s portadores status espiútual, em vez de reconhecer todos os don s espiNevs. Messias AI/ode/o !?oso /v/o/ilio.\· Quil//ela rituais, sem destaques de Sou za, /" vice presidel//e e /i /"es idel//e do para alguns deles, apenas SU/irel/IO COl/cí/io, de /995 o / 998. como ferramentas coloca(!

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das por Deu s n as m ãos dos seu s servos para a edificação do Co rp o de Cristo. 1\ prova de es piritualida de n ão é o exerdcio de don s es pir it ua is, mas, sim , a ma nifes tação do fr uto do Espírito n a vida do cristão e da comunida de. J es us de Nazar é é o para digma da pas toral que é exer cid a pela Pl'esen ça e a açã o do Es pírito Santo. Ele tinha a plenitude do Es pírito San to. Por isso, no seu ministério terreno como t es tem unha do no s evan gelho s, man ifest aram -se todos os don s do Espírito Santo. Cons u m:=1d a :=1 s ua missão, t endo sido obediente a té à morte de cru z, foi exalta do ú direita do 1. ai e derr a mou o Espírito Santo que uniu , n a terra , os cr e ntes entre si e uniu todos co m o seu ca beça no cé u, form undo, ussim , o que Pu ulo ch um u de o Corpo de Cristo. A partir do P en tecos tes, to dos os que crêem são inser idos no Corp o e bebem do mes mo Espírito . Atr Hvés desse Cor po, J"e,'us continua presente e agi ndo na ter1'u. Em ne nhu111 membro do Cor po, isola dumente, manifes ta m-se todos os don s, 111 US ca du membro, de acord o co m o en sino bíbli co, exer ce um ou mais don s. Co nseqi.ientemente, todos os dons n ecessários para a edificução do Cor po e panl o exerdcio do ministér io no l11undo manifes ta m-se n a igr eja como co munid a de do Es pír it o. Os do ns es pirituais (car is 11 18S) , n es ta per spec tiva, deixu l11 de ser considCl'a dos co mo ma nifestações esp ecifli s, extr 80rdin fÍú fls e sobr enntu.mis do Espír ito Sa nto. Eles ,'ão o pr incí pio de organização du es tr uturu eclesial que, e m sua essência, é caris má ti ca e n ão bur ocrá tica . Qua n to à hier arqu ia eclesift 'tica qu e di vide clérigos e leigos, vu le le mbr ar a t ese defendid a por Leonardo Boff de q ue "a distinção entre E cclosj fl docen s e E cclesi n discons só é teologicamente válida qua ndo previul11 ente se ti ver ass umid o e u ltra passa do a reflexão sócio-an a lí tica acerca da divisão religiosa do tru balho" . Ou seja, os ministros docentes, à lu z de Efésios 4. 11 -12, tê m a fu nção de facilitur o ministério de todos os crentes. A estrutura eclesial em que todos os don s e ministérios são ig ua lmente impor ta ntes possibilita o exer dcio integr a l do princípio reform ado do sacerdócio u niver sal dos crentes . A teologia oficia l das igrejas prot es tante ' his tóricas, inclusive da II I do Brasil, tem desc uida do o aspecto da obra do Es pír ito Santo relacionad a com os don s . Em vú 't ude desse descuido, o sacerdócio universal dos cr en tes te m sido um princípio ma is post u la do do que pra tica do. 38

(orleI/lOs de

OEstal/darte


A obra produzida pela Comissão dos Doze, nomeada pelo Supremo Concílio em s ua reunião de 1993, so b o título "A Doutrina do Es pírito Santo" traz contribuições para entender a pessoa e a obra do Espírito Santo na vida d a i greja , mas n ão sa tisfaz i necessidade de um a profunda mento teológico.

Entre vós nõo é assim Concluindo, convém considerar a a dvertência feita por J es us aos seu s discípulos. Tia go e João, insen síveis para entender a n atureza da missão de J esu s e empolgados com a idéia da implantação iminente do reino messiânico, pediram ao Mes tre posições honro as e elevados no se u Reino. Os outros dez, ao se indign arem contra Tia go e João, deixaram clara a dis puta pelo poder no colégio a postólico . A advertê ncia de J esu s aos seu s discí pulos é oportuna para todos os que professa m a fé cristã : "Sabeis que os que são considerados governa dores do s povos têmno s sob seu domínio, e so bre eles os se us maiorais exerce m autoridad e. M as entre vós n ão é assim ; pelo contrário, quem quiser tornar-se gra n d e entre vós, esse será o que vo sirva ; e quem quiser ser o primeiro entre vós será servo de todos . Pois o pró prio Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos" . Essa advertência lembra-nos sempre que J esu s é o paradigma do exercício da autoridade qu e manifesta o Reino de Deus e promove o ser humano. Ele é o sacerdote que se fez sacrifício; o rei que se fez servo; o profeta que se fez palavra. Ele reina pelo poder da palavra e o se u trono é a cruz. O caminho da igreja é o mes mo caminho do seu Senhor e Mestre . Ela se esvazia para ench er-se da plenitude de Deus; renuncia ao qu e tem para viver e distr ibuir as riquezas do céu ; sacrifica-se na obediência at é à morte de cruz para viver e refletir a glória de Deu s . Em Cristo, a igreja exerce funç ão profética, sacerdotal e real. Para isto, n ão pode amoldar-se ao mundo nem acomodar-se à lógica de mercado que predomina hoje no campo religio o, mes mo entre os evan gélicos, ma s deve cumprir com fidelidade a sua missão nas situações de conflito em que vive para que seja autêntica e relevante ao me smo t empo C01110 58l dA t en'a e luz do mundo.

• o Rev, Mathias integra a equipe pastoral da l ' IPI de Londrina, PR Codernos de OEstol/dorte

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A IPI do Brasil eo movi mento ecumên ico Rev. Dr. Antonio Gouvêa Mendonça

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Ol1rad Rai ser, atual Secretário Geral do Con selho Mundial ele Igrejas (CMI), em seu relatório apre sen tado à Assembléia de Han1l'e, Zimbábue, África, em 1998, l'elembra os obj etivos do movim ento ec um ê nico . O Co n sel h o Mundial de I gr ej a .' [oi Cundado e m 1\.msterdam, Holanda, e m 19<18. Konrad Raiser recorda o conceito de 's paço ecum êni co como sendo um a comunidad e de ré e mor al baseada no senhori o absoluto de Jes us Cristo. Este conceito ampliado permite n os entend er o CMI como uma Craternidade de igrejas . Lo go no início do r el atór i o, Konrad Rai ser r emete- nos ao pronunci ame nto do primeiro Secretário Geral do CMI, W. i\.. Vi sser 't Hooft, reformado holandês, na 1\.sse mbléia fundadora de 1\.ms terdam: "Somos um con selho de igrejfls, n /io o conselho de umfl igrejA n /io dividi dn. lVOSSOnome jndica nossa fraque zn e nossn veJ'gonhn pernnte D eus pOJ'que, é1ÍJj]fll, luí só umA l:[jreja de Cris to sobr e A terl'A ... Nosso Conselho r epresentA un];} solução de em er gência - um estágio n o cnminho um COlpO vivendo em tempo de completo isolam ento entre é1S igrejé1s e Nev. /Ihi vol Fires do Silveim (IJn'sidel/t e rio SI/prelllo CO /lcílio do um tempo - n é1 tel'rn ou no céu I PI do /Jmsil ) e NelI. Jailll e Wright quando será visivelm ente verdAdei (/íd('J' presbiterial/o e deFel/ sor IÍrdl/ o ro que há um só l'cbé7nho e um só dos direito.\' IIII/I/(//!os) 40

(odelllOS de OEslol/r!(Jfle


pflstOr'~

No relatório de Raiser, percebemos a evolução his tórica do ideal ec um ênico. Visser 't Hooft sonhava co m a unificação do cristianism o, enquanto Raiser já fala em "espaço ecum ênico" de en tendimen to e co nvivência en tr e as igrejas . Se o sonho de Am sterdam expresso na s palavras do primeiro secretário geral, a utopia do macro-ec umenismo, n ã o se rea lizou, tampou co o ielea l elo micr o-ecumenismo, ou r an-protestan ti.s mo, veio à l uz. O "espaço ec um ênico" palrprotesta nte foi se extin g uindo e o qu e resta perde u a expressão ou está agônico. Sobrevive o consolo do diálogo inter-religioso que do grande sonho ecumênico conserva pouca COlsa . A história do Conselho Mundial de Igr ejas mostra -nos duas grandes verte ntes ou tendên cias : a primeira, promover um a convergência da s igrejas cristãs em torno da aceita ção comum dos pontos fundamentai s do cristianismo qu e são a cau sa mais evidente das divisões, como o batismo, a e ucaristia e o ministério; a seg unda , mobilizar as igrejas crist ãs no sentido do compromi.sso co m as gra ndes ques tões oriundas das trans for mações sociais, econômicas e políticas. /\. primeira dessas vertentes constituiu- se num extenso debate teológico no âmbito da Co missão de F é e Constituição, compo ta por teólogos dos quatro gr andes blocos do cristianismo mundial (o catolicismo romano , o a n glica nismo, as igr ejas orientais e o protestantis mo) . Há grandes diferença s de concepção e ritual a res peito do batismo, eu carü:;tia e ministério, diferenças a centuadas na Reforma e que per sistem mesmo en tre alguma s igreja. ' dela procedentes . O chamado Documento de Lima (Batismo, Hu cal'istin () Minjst-ério - BEM; 1982), res ultado de trabalho sos est udos que com eçaram bem antes da fundaç ão elo CM] (Lausanne, 1 ~~7), apesar de ser um dos mais importantes documentos do movim ento ec um ênico, n ão representa ainda um con sen so entre as igrejas. Embora t enha gerado a lg un s acordos, esse documento não mudou praticam ente em nada o relacionamento entre as igrejas quanto ao sentido e o rito dos sacramentos do batismo e eu caristia, assim como n ã o con seguiu superar as velhas divergências quanto à autorida de do ministério. Se as discussões teológicas básicas fica ra m no âmbito exclu sivo e fech ado do s teólogos e nã o chegarft m às igreja s e, portanto, n ão lJl'oduziram n elas n enh um abalo, a seg unda gr ande tendência do CMI de (ode/IIOS de

OEstandarte

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mobilizar as igrejas no sentido do comprometimento com as ques tões sociais e políticas, causo u gr ande a lvoroço, particularm ente partindo de jovens pas tores, es tudantes de t eologia e líderes de movim entos de juventude . Com o apoio do CMI, foram surgindo organismo s ecumênicos que, em ger al, ass umiram os progr a mas por ele es tab elecidos. Mas no seio de suas lideranças fora m surgindo dissidências entre conservadores de direita política e agentes mobilizadores de esquerda que pregavam reformas socia is de base com a colaboração das igr ejas . Os desencontros entr.e essas lider a nças passaram a agitar internam ente as igr ejas, principalmente por causa da desconfiança que as organizações de juventude atraíam por causa de su a simpatia pelos movimento s de reforma social. O m ais impor tante desses organismos na América Latina foi ISAL (Igr eja e Sociedade na América Latina), constituído em 1955, após a Conferência do CMI em Evanston , EUA, em 1954. Líder es pioneiros de ISAL for a m os pres biteriano s brasileiros Benjamim Moraes, seu prim eiro presidente, e Waldo César, secre tário . ISAL foi gestada no interior do s movimentos de joven s intelectuais s ul-americanos como ULAJE (União Latino-Americana de Joven s Eva ngélicos) e MEC (Movimento Es tudantil Cristão) . Esses movimentos desenvolveram um pensamento crítico para a sociedade e as igr ejas latino-americanas a partir da crítica ao capitalismo e à t eoria desenvolvimentis ta . Nos anos 60, esse pensamento ganhou estrutura a pa rtir das contribuições intelectuais de sociólogos como Fern ando H enrique Cardoso e Enzo F alleto, assim como de um teólogo, que foi mission ário presbiteriano norte-americano e professor no Seminário Presbiteria no do Sul, em Campinas, Richard Sha ulJ. Richard Shaull (1919 -2002) , atuante n a Assembléia de Evan ston , (Estados Unidos, 1954), no en sino t eológico no Brasil e nos vários movim ento s evan gélicos estuda ntis n a Am érica Latina , desenvolv eu su a Teologia da Revolução tida como predecessora da Teologia da Libertação. ISAL, que tinha por objetivo r epen sar o papel da igreja e redirecionar s ua ação pas toral, t eve em Shaull seu grande pensador e articula dor. . Tiveram papel importante na elaboração desse proj eto t eológico, além de Shaull, Julio de Santa Ana, Rubem Alves, Hu go Assma nn e Jo sé Migu ez-Bonino. A partir da Cons ulta de Nafía, P eru , 1975, ISAL decidiu corrigir su a rota de ação at é então orienta da para as elites e dirigir 42

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seus esforços para a educaçã o das bases populares, qua ndo ganhou popularidade a palavra "conscientização". O método escolhido foi o do gran de educa dor brasileiro P a ulo Freire. A repressão que as igrejas sofri a m por parte dos governo s militares motivou essa muda nça de l·o ta . O principal órgão de difu são do pen sa mento de ISAL foi a r evista Cris tianismo.Y Soáedad, fundada em 1962, em Montevidéu, Uruguai . A r eestrutura ção de ISAL deu origem à ASEL (Ação Social Ecumênica Latino-Americana) , cujo órgã o de difusão continuou sendo Cá s tianjsm o'y Soáedad. O movim ento perdeu força por causa da re pressã o polític a, da falta de a poio por parte da s organizações r eligiosas, da dis per são da ma ioria de seus intelec tu ais e lo go pratica mente se extinguiu. Em s uma , imaginar um ma cro-ecumenismo como pen savam t alvez alguns cientistas da r eligião, como Nathan Séiderblom (1 866- 193 1), ar cebispo luterano s ueco, e seu discípulo Frederico H eiler (1 892- 1967), seria, e foi , dem asiada mente utópico. Cremo s qu e os ide alis t as do ecumenismo nunca for am a lém de um a utopia muito menor, quer dizer, a livr e fra t ernida de de t odo o cristianismo. A utopia do pa n-cristianismo r ealizou- se em parte, como toda utopia r azoável, por qu e o r elatório de Konra d Raiser à Assembléia de H arar e a pontava a presença de r epresenta ntes de m ais de 330 igr ejas -mem bros do CMI. Pouco t a lvez, m as significativo, porque o número de m e mbros do CMI soma -se exclusiva mente no univer so do cristia nismo n ão católico roma no , univer so car acterístico por seu s antagonismos e divisões . Por isso, identificamos hoj e o ecumenismo como um pa n -protest a ntismo, conceito já por si equivocado porque muitas das igr eja s nele incluídas, como as pertencentes à Comunhão Anglican a e as Or todoxas, n ã o se inclue m entre as protes ta ntes . Entreta nto, com todas as r es tr ições é dificulda des que limita r a m a a bran gên cia institucional do movimento ecum ênico, o ec umenism o foi um dos ma is importa ntes, t alvez m esmo o m ais importa nte, dos even tos mundiais do cristia nis mo. Se, de um la do , os antagonismo s acirrar a m -se' de outro, as a proximações e diá logos entre tra dições a té então distantes umas das outras fora m facilita dos. Em síntese, n ã o seria fora de propósito a firm a r que o espf.áto ec umênico foi muito m ais abran gente do qu e su a. ins tituáol1f/lizações. Nes te pont o, ca be a per gun ta : todo esse a mplo movim ento n ão teve r eflexos n o Brasil ? Estava o nosso protest antismo a dormecido ou indi(ndernos de O Estandarte

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feI'ente ao que aco ntecia ') Não estava, e va mos resumir em poucas linhas os clarões do espírito ec umênico no restrito , mas decidido, protestantismo brasileiro no período entre o Congresso da Obra Cristã na América Latina, em 1916, conhecido simplesmente por Co ngresso do Panamá, e o cola pso da Confederação Evangélica do Brasil e se us efeitos nos anos 60, Os eventos desse período serão melhor entendidos e forem divididos em três pa rtes segundo as tendências do es píri to ec um ênico: do Congresso do Panamá até a funda ção da Confederação Evangélica (1 934), da qui a té o se u colapso (1 962) e s uas con seqüências (anos 60) . O Congresso do Pan a má foi um a 'con seqüência da Conferência de Edimburgo, Escócia, realizada seis a nos a ntes (1910). A Conferência de Edimb ur go, ao restringir a tarefa missionária às áreas n ão-cristãs do mundo, pôs em ques tão as missões já estabelecidas e m países católicos como os da Am érica Latina. Mas a r eação de Pan a má contr a essa política [oi a mbígua. So b a influência do pan-americanismo da Doutl'ina Monro e, que n ão desejava co nflitos co m os governos latino-americanos,' quase todos a liados da Igreja Católica, o Con gresso aca bou recon hece ndo a presen ça católica como ex pl'essão do cristianis mo e restringiu a ação missionária às ár eas n ão alcançadas por ela, partic ularmente as indíge nas . Panamá, com se u espírito tolerante e mesmo ec um ênico em r elação à Igreja Católica, provocou a primeira gra nde divisão ideológica entre os protestantes bra sileiros . De um lado, ficaram os que aceitara m as decisões do Congr esso e s uas propostas de cooperação entre a,' igl'ej8.S, principalme nte n a eva ngelização e educaçã o teológica e, de outro, aquel es que recuf;ar a m d uram en te q ua lqu el' l'e co nhecim ento -€la ob r a evangelística católica na Amél'ica Latina, Representante principal do primeiro grupo no Brasil foi o notável presbiteriano Eras mo Braga (1 877- 1932) que, encarrega do de res umir o es píri to do Co ngres, o para a Am érica Latina, escr eve u o livro PnnAmeú c8njsmo - Aspecto Religioso, publicado no mesmo ano do Congresso , Espírito a berto e tolera nte, Erasmo Braga trouxe para oBra 'il o es pírito pa n -protestante se m sectarismo, tornado concreto n a Co mi ssão de Cooperação da América Latina que proporcionou a fundação elo Seminário Unido, no Rio de J a n eiro, extinto em 1933, e da Confederação Evangélica, fundada no ano seg uinte e qu e so breviveu até os prj44

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meiros anos da década de 60. A Confederação Evan gélica, a pós ter prestado grande serviço ao protestantismo no Brasil, agonizou e mone u no esq uecimento. Em s uma, o objetivo de união da s igrej.as em torno de um preparo t eológico de melhor q ualidade ao lado do esforço co m um n8 evangelização e representação social dos evangélicos ruíram por terra antes me s mo que se us resultados fo ssem consolidados . No segundo grupo, es tavam Eduardo Carlos Pereira, pastor da 1" IPI de São Paulo, cüja moção contrária à tendência do primeiro sequer entrara na agenda do Congresso, e Álvaro R eis, pas tor ela I greja Presbiteriana do Rio de Janeiro. Os dissidente s do Congresso, voltando pela rota ma rítima do Pacífico, vieram realizando conferências defendendo seu s pontos ele vista em capit ais de di.versos países até o Rio de J a n eiro. O principal trabalho retra tando a tese do s contrários às decisões do Congresso foi o de Edual"Clo Carlos Pereira, O Problel17i-7 R ejjgjoso da América LatúJa, publica do e m 1920, livro que cau sou a maior polêmica entre o protestantismo e o catolicismo no Brasil. Nessa polêmica, o Nev. Milu// ()lloce//ski, secretá rio catolicismo foi representado pelo pa gemi, Ilor //lI/i/os aI/OS, da f l lia//c{/ dre jes uíta Leonel Franca (1893-1948) , MI///dial de I,~ rejas Nejin'lll{III{/s que iniciou o debate com A Jgj"e.J~I, n (i\M IN ). A lei rio IJmsil {; III{'I//hm da R efon]]n e n Civljjzaçiío (192 3), a ta - AMIN e d e IlIlIiws ol//ras i//.\'/ i/lliCiíes d e co rá/er {'CI/III{;//ico cando o trabalho de Eduardo Carlos Pereira, já então fale cido. A polêmic8 prolon go u-se por um bom tempo, entrando n ela Otoniel Mota, En1esto Luiz de Oliveira e Remígio Cerq ueira Leite, todos pres biter ia nos independentes . O maior portador dos ideais de união do protes tantismo foi o pastol' pres biteriano independente Ep a minondas Melo do Amarnl (1 893- 1 962), que os expressou de m aneira enfá tica em M /lgno ProblcJJ1l1, publicado em 1934, ano da fundação da Confederação Evangélica . Amaral foi gran de colaborador de Eras mo Braga e primeü'o secretário geral da Coofe(ode/IIOS de

OEstolldo/te

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der ação. Heconhecendo a r emota possibilida de de r eunir os três grandes r a mos cristã os - o roma no , o ortodoxo e o protes ta nte - , Am aral defende a t ese, m ais tarde re tomada em sua obra póstuma O Protestan tism o e a R eforma (1963), de que ao meno s a uniã o das igr ejas protest a ntes seria possível. O idealiza dor da Confeder ação Evangélica do Brasil, Erasmo Braga, falecido em 1932, não viu s ua fundaç ã o em 1934. O propósito da CEB, seg undo se u idealiza dor, er a "estimular e expressar a unidade do prot estantismo, coorden ar s uas forças em açã o conjunta e manter r elações com a Igr eja de Cristo em todo o mundo" . De certo modo, a CEB desem penhou seu pa pel r epresentando as igr ejas perante o Governo Brasileiro em vários mom ento s durante a Segunda Guerra Mundial, publicou por muitos a nos lições para a Escola Dominica l u sadas praticam ente por todas as igr ejas, preparou o I-linário Evangélico e um Manual de Liturgia. Aliás, à se melhan ça da Heform a, Amar al desejava um a igreja unida , com grande flexibilidade na forma de governo, n a liturgia e na doutrina : "nas coisa s essenciais, unida de; n as secundárias, liberd a de; em todas, carida de" (Magn o Problem a, p. 13). Não impor ta ndo a s posições t eológicas de Ep a minondas M elo do Am aral, se m dúvida um dos pr incipais pen sadores do protestantis mo brasileiro, é necessário que a igr eja lhe faça justiça. É imperativo que o faça, e logo. O cola pso da Confederação Evan gélica do Brasil pode t er com eçado com a criaçã o, em 1955, do Departam ento de Igr eja e Socieda de. E ste departamento pr opunha-se a promover o compromisso da igr eja com os problemas sociais e políticos e mer gentes n o Brasil. Com participação significativa de leigos, foi r ealizada, em São P aulo, u ma primeira re u niã o par a t ra tar da "participaçã o dos evan gélicos n a política, do des8fio do comunis mo à igrej a, do pr oletaria do indus trial e dos trab alha do res rurais" . U m a seg unda re uniã o foi realiza da em 1956 a fim de t rabalhar o tema "A Igr eja e as Há pidas Tran sform ações Sociais no Brasil" . A t er ceira, e m 1960, tra tou do tem a "Pr esen ça da Igreja n a Evolução da Nacionalida de" . Todas estas cons ultas foram ideali za das e r ealizadas sob o clima de inten so fervor pela r eorganiza ção do país em tor no Gla retoma da da n acionalida de e da de mocr acia . A ação tumult ua da do Departa mento, co mb a tida por algum as das igrejas arrola das na CEB sob a alegação de que se trat a va de um movi46

((Idernos de O EsfollrllJlfe


m ento de esquerda política, n ão o impediu de realizar a Conferência do Nordeste, em 1962. Esta Conferência, cujo tem a orientador foi "Cristo e o Processo Hevolucionário Brasileiro", tinha por obj etivo es tudar a "conjuntura política, econ ômica e social do Brasil" e s uas r elações com o compromisso social das igrejas . Foi o "canto do cisn e" do movim ento de unificação das igr ejas em torno de seu compromisso social no Brasil. Na IPI do Brasil esse ca nto final fez-se ouvir rio Congresso da Mocida de realiza do em Curitiba, em 1965. Os preletores desse Congresso fora m Hubem Alves e Armando Gonçalves, a mbos prejudicado s p ela pressão exercida pela igreja, inclusive co m a presença de observadores oficiais nomeados pela Mesa Administrativa , hoj e Comissão Executiva, par a acompanhar os traba lhos . A partir de Curitiba, o entusiástico mo vimento de mocidade inicia do pela CEHAL (Comissão de Educação Heligiosa e Atividades Leigas), em princípios dos anos 40, praticam ente desapar eceu com a perda de en gaja mento e obj etividade. Embora desarticula do , o movim ento de "conscientização" política desenvolvido n as igr ejas brasileiras, principalmente por joven s líderes e estuda ntes de teologia, prosseguiu a té 1968, qua ndo pra ticamente se extinguiu pela repressão política e eclesiás tica . O balanço desse período mostra a perda, por parte das igr ejas, de cabeças promissoras, tanto de líder es leigos como de futu ros pastores . F azendo a correlação entre essa periodização e o que ocorria no mundo ec umênico, n ã o é difícil perceber a articulação que ela t e m com dois momentos da história do ec umenismo: primeiro, o desejo intenso de um a união entre as igrejas cristãs e, segundo, de um a particip ação das igrejas n a con stru ção de um mundo justo e fraterno.

ConFlitos e antagon ismos no movimento ecumêni CO

o período histórico que a ntecedeu a fundação do Conselho Mundial de Igrejas, assim como o que o suc edeu, foi marcado por inten sos debat es entre o con servadoris mo e o liberalismo. A pola rização entre o tradicionalismo t eológico e as novas maneiras de pen sar produziu a gra nd e co ntrov érsia do séc ulo representada p el a lut a entre o funda mentalismo e o ch a ma do "modernismo". Se fundamentalismo é um con ceito mais ou m enos conhecido, o m esmo não acontece com "modernis mo". O que é mesmo modernismo? 'l'r'a(lidemos de O Estandarte

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ta-se de um con ceito carregado de pré-conceito. Ele só pode ser definido por oposição ao conservadorismo e ao fundamentalismo. Assim, o modernismo seria tudo o que representasse novidade perante a tradição teológica, como a Alta Crítica - entenda-se como aplicação da crítica literária ao estudo da Bíblia - , a questão elo Jesus Histórico, o Evangelho Social e o ecumenismo. Diante desse quadro, o clima entre os presbiterianos brasileiros no período da propaganda ecumênica, se não era fundamentalista, era, ao menos, ortodoxo . Episódio que exemplifica o clima ortodoxo do presbiterianismo brasileiro foi a Questão Doutrinária, que abalou a IPI do Brasil entre 1938 e 1942. Essa crise se deu por cau sa da visão ortodoxa, de um lado, e da visão liberal, de outro, com respeito aos Símbolos ele Westminster. O clima conservador do protestantismo brasileiro, particularmente o presbiteriano, foi propício e, ao mesmo tempo, indefeso, diante da formidável controvérsia que se instalou no seu interior Mirialll MOnleiro PlIcóo/ála ti por causa do movimento ecum ênico. A Asselllbléia Geral da Ig reja dependência do pensamento teológico exPresbiteriana dos Estados terno, principalmente da ala conservado- Unidos (PC USA), tradll zida li elo Nev. lJelljcl/llin Glltierrez ra das igrejas norte-a merican as, n ão lhe permitia criar um a reflexão teológica a utônoma e, assim , ser capaz de construir uma crítica independente perante a revolução de idéias que o envolveu. Foi por isso que um organismo fraco em adesões explícitas ou formais, como o Conselho Internacional de Igrejas Cristãs, praticamente sufocou, no presbiterianismo brasileiro' o for te Conselho Mundial de Igrejas. Se o movimento ecumênico, institucionalizado no CMI, n ão con seguiu vencer a multiplicidade e a desunião das igrejas protes tantes, a reafirmação tácita da Igreja Católica Romana, em documentos do Concílio Vaticano II (1962-1965), de sua exclusividade como verdadeira igrej a de Cristo frustrou de vez a utopia da união. Sobre o ec umenismo, o Concílio aprovou dois documentos: a Constituição Dogmática Lumen 48

Cadefllos de OEstandarte


GentiUJJJ (Luz dos Povos) e o Decreto Unitatis R edin tegratio (Reintegração da Unidade). Nesses docum entos conciliares, o ecumenismo é considerado um caminho de volta das igrejas cristãs ao seio da Ig reja Roma n a . Mais tarde, em 25 de maio de 1995, o Papa João Paulo IJ , n:1 Carta Enc.íclica Ut UnuJJJ Sint (P ara Que Sejam Um), reafirma a tese da "centralida de do bispo de Roma". Pode- se dizer agora que, com a Declaração Domlnus Iesu da COlr gregação I ara a Doutrin a da Fé, do Vaticano, da tada de 6 de agos to de 2000, estará por muito tempo sepultada a utopia da aproximação das igrejas na s ua direção .

ReFlexos do ecumen ismo no Brasi l Os clarões mais fortes do ecumenismo nas igrejas brasileiras aco nte ceram num clima de ventos mornos prenuncia dores de tempestades . E os clarõe s e as t e mp es tad es vieram do Norte. A sere nid::ld e cio tradicionalismo teológico já fora perturbada pela chegada ~os arraiais presbiterianos de teólogos considerados n ã o ortodoxos como Karl Barth, Emil Brunner, Dietrich Bonhoeffer, Harvey Cox, Rudolf Bultmann e Oscar Cullmanl1. Eram as "novidades" teológicas oriunda s cio "mocl erniS1TIO" .

Ao mesmo tempo, as notícias da aproximação do CMI por parte das igreja s do mundo socialista , diga-se, como de fato era dito, do mundo comunista, e da presença de observadores católicos na Assembléia de Evanston, a cenderam o medo do ateísmo e o r eceio da reaproximação do catolicismo. A im portâ ncia do protestantismo brasileiro para o mundo ecu mênico ficou evidenciada pelas visitas que nos fizeram, logo e m seguicl::l à fün dação do CMI, o pastor reformado francês Marc Boegner, se u prim eiro presidente, e o holandês tamb ém reformado DI'. W. A. Visser 't I-100ft, se u primeiro secretário geral. As iI'ênicas defesas do ecumenismo, pr Ílr cipalmente por parte do primeiro, não foram capazes de apagar o fo go da controvérsia levanta da entre as igr ejas brasileiras pelô fundador do Conselho Internacion al de Igrejas Cristãs, o presbiteriano norte -::lm er icano Carl McIntire. Pregando um fund a mentalismo r::lcl ical, McIntire assustou as igrejas, sendo que a maioria fechou -lhe as portas, embora algumas igrejas presbiteriana s do Norte elo país e a Igreja Pres biteriana Conservadora, (odemos de OEstl/I/dl/rte

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oriunda da divisão da IPI do Brasil em 1942, tenham se mostrado sensívei . à s ua men sagem e acabaram por formar a Confederação de Igrejas Funda men ta listas do Brasil. O órgão de comunicação da Confederação era O Presbiteriano Bfblico, que tinha como principal dirigente o norte-america no Willia m R. Le Roy. O qu e aco nt ece u foi que, apesar da n ã o a d esão exp lícita ao fund a menta lismo, as principais igrejas presbiteria na s brasileiras passara m a viver à su a sombra .

o cl ima sócio-político e relig ioso do Brasil no período do debate ecumênico

o gr ande e principal efeito da Segunda Guerra foi o s urgimento da sup er-potência militar e ideológica, que foi a União Soviética. Paradoxalm ente, dois dos aliados na Guerra, União Soviética e Estados Unido ~, dividindo o mundo em duas partes antagônicas, capitalismo e socialismo, protagoniza ram uma guerra ideológica, a Guerra Fria. A influência da ideologia capitalista a tingiu em cheio a América Latina, de maneira nega tiva, isto é, através da propaganda contra o horror ao co munis mo, descrito então como o próprio ma l em si. O clima do a nti-co munismo dominou todo o período da march a do ideal ecum ênico . Pressupostos do paradigma capita lista, descrições patéticas elo comunismo e o ideal de união das igrejas cris tãs no mundo caminharam lado a lado no período histórico em ques tão. É n esse mundo que se inscr eve a his tória das igr ejas brasileiras no universo el as idéias ecumênicas. O golp e militar de março de 1964 colocou as igrejas no dilema cnlcial ele ou a poiar o "o s tatus quo" com todas as injustiças ou ass umir a posição de compromisso co m os movimentos em favor de s ua transformação. Em s um a , ou as igr ejas a poiavam o "status quo" ou se inseria m no movimento intelectu a l, estudantil e popular que recla mava "reformas de base". O dilema das igrejas confundiu-se incidentalm ente com as propost as da Asse mbléia do Conselho Mundial de Igrejas, em Nova Délhi, Índia, em 1961 , que se definira pelo co mpromisso das igrejas co m as mudanças sociais . As propostas de Nova Délhi ganhara m corpo co m a Conferência Mundial de Genebra, em 1966 . O tema dessa Coní'erência foi

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"Os cristãos c a revolução técnica e social de nosso tempo". A Conferência de Genebra provocou impacto muito grande. Logo, as idéias de "reforma s de ba 'e" sen sibilizaram as lideranças joven s das igl"ej::t s e pro vocar am reações das lideranças instit ucionais so b pretexto de que as novas idéias co mprometiam as igrejas co m a ideolo gia comunista . Neste ponto, começaram, principalmente após o golp e de 64, os conflitos entre as lideranças da s uniõe s de mocidade, inclusive seminaristas, em torno da identificação entre ec umenis mo e com unismo. Essa estranha identificação se tornou mais forte por ca usa ela adesão ao CMI, em Nova Délhi, elas igrejas do Leste Europeu socialista, particularmente a Oltotoxa Russa. Entre 1962, marcado pela ConL'erência do Nordeste, e 1968, assinalado pela cl'ise nos seminários, inclusive no da IPI elo Brasil, houve exp urgos de jovens leigos e seminaristas. Mas, se o compr:omisso das igrejas do CMI com o ideal de construir um mundo justo e pacífico próvocou grande turbilhão no prote tantismo brasileiro, o velho Pl'oblema do protestantismo em s uas relações com o catolicismo romano fez entrar em er up ção um vulcão m a is ou menos adormecido . O progresso do protestantismo no período que s ucedeu o Congresso do Panamá até o colapso da Confederação Evangélica

/)0 e.\'(f. III a di/:.' Nev.\'. Ce/:l'U// M eyer (Ig reja Pre.\'b. U//ida do 11m.\'il)

e I/Ielllbm.\' da dirc('lIo da IPI do 11m.\'il (Rev.\' . Ezeq //ia.\' dos Sal/los, AlJival lJires da Sil veira e I?lIbel/s Cil/lra DaIlJiüo). O Rev. RlliJell.\'j(1i lII ellllJl'O do COlllilê t\eclllivu e () Nev. AiJival Ioi vice IJI 'I!s ide//l e da Alia//ca !l111I//dial das Ig rejas Ne./o f'lllOda.\· (AMI/?)

:(l(lelllos de OEstal/darto

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fizera com que a hegemonia católica fo sse menos sentida. O jogo de empurra entre católicos e protes ta ntes fora, nessa quadra, mais político do que histór ico-teológico e, na maior parte da s vezes, a balança pendera para o lado protes tante por causa da influência do americanismo, agora uma força mundial durante e após a Guerra . Por outro lado, o unionismo pan-protestante, assim como o espírito de tolerância para com o catolicismo parece ter prevalecido nesse intermédio. De fa to, a nova visão do protes tantis mo para o mundo contribuiu para a s ua expansão. E sforço s foram feito s para unir as igreja s em torno de alguns projetos como a edu cação teológica e religio sa (Seminário Unido e Escolas Dominicais), a ssim como a abertura da s igrejas locais para os bairros em que estavam situadas, através de rec ursos como bibliotecas, jogos e brincadeiras de salão, teatros e outras manifestações artísticas, assim como práticas esportivas como o basquete, recém chegado ao país . Essa visão da igr eja para o ni.undo refletia o a specto prático do Evan gelho Social e parecia indicar umá feiçã o difer ente para o protestantis mo brasileiro. Sua t endência afiguràva-se como um a fr a n q uia para a sociedade ao oferecer-lhe o que tinha de novo e melhor, não somente um a religião, mas tamb ém cultura e lazer sadio. Falamos em crescimento das igrejas n esse período. Mas o crescimento não se deu só pel a abCltu ra para o mundo. Mais um a vez, na atividade humana, entra a força da dialética . A ala que se considero u perdedora no Congresso do Panamá, is to é, a quela que continuou entendendo que a Igreja Católic;:) se desviara do cris tianismo e, por isso, era fundamental seg uir atingindo os católicos, passou a desenvolver inten sa atividade evangclística que muito contribuiu para o cr escimento das igrejas. Foi a é poca áurea das grandes camp anh as de evangelização promovida s por igr ejas locais com o concurso de grandes pregadores de avivamento , i I r clusive alguns estrangeiros. À semelhança do Grande Des pertamento do século XIX, esqueceram- se a s fronteiras denominacionais e as igrejas cooperavam um as com as outras nas chamadas "séries de conferências" que, em geral, iam de quarta-feira a domingo . Parece, contudo, que a crítica às bases teológicas do Evangelho SocjaI reperc utiu em s uas expressões práticas e foi des viando as igr ejas da "abertura para. o mundo" que haviam iniciado. A progressiva influência ela mora l evan gélica exclusivis ta colaborou para isso, partindo da velha tese ele que os sa 1vos não se devem mis turar com o mundo a fim de não 52

Cadernos de OEstal/darte


se contaminarem. As igrejas retomaram sua função centrípeta e voltaram de novo as costas para o mundo à sua volta . O denominacionalismo Pl'ogressivo arrefeceu também o esforço evangelístico em comum das "séries de conferências". Se a ala liberal do Congresso do Panamá representou uma abertura para a união do protes tantismo e certo grau de tolerância ao catolicismo, a a la conservadora contribuiu para trazer à tona e acirrar mesmo as velhas resistências. As tendências liberais do protestantismo brasileiro parecem ter sido eliminadas definitivamente com a ruína da Confederação Evangélica, passando a predominar, daí por diante, os traços do conservadorismo "evangelical" . No período do debate sobre o ecumenismo, o temor da aproximação do CMl em relação à Igl'eja Católica foi um dos mais candentes. Para mu.i tos protestantes eminentes, a posição qu e a Igreja Católica assumiu perante o ecumenismo objetivava esfriar o fervor proselitista dos evangélicos. Em resumo, esse era o clima sócio-político e religioso no Brasil em que os agudos debates sobre o ecumenismo se desenvolveram.Mas, antes de concluir-se esta parte, re ssalte-se um detalhe curioso: tanto a ala liberal como a con servadora do Congresso do Panamá eram l'epresentadas, cada uma delas, por um um pres biteriano e um presbiteriano independente, e isso treze anos apenas após a sep1.il'açi'io de 1903. i\. ala liberal por Frasmo Braga, pres biteriano, e Epaminond as Melo do Amaral, presbiteriano independente; a ala conservadora por Alvaro Reis, presbiteriano, e Eduardo Carlos Pereira, presbiteriano independente.

A teolog ia do ecumenismo O estudo do clima da s idéias teológicas do século XIX ao mesmo tempo que nos ajuda a compreender melhor o ecumenismo no se u todo, auxilia-nos no entendimento dos seus reflexos no Brasil e o nível dos debates teológicos que antecederam e sucederam decisões importantes. Em primeiro lugar, surpreende a todos o volume e a riqueza da teo logia protestante no século XX em co mparação com a produção teqlógica dos séc ulos anteriores. O séc ulo XX é o século de Brunner, Gogarten, Cullmann, Bultmann, Moltmann , Bonhocffer e Karl Barth. É necessário in serir neste conjunto Adolf von Harnack (1851-1930) e Ernst Troeltsch (1865-1923) que influíram nas bases do liberalismo t eológico CodeJnos de OEstandarte

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presente no século XX. Foi com s te liberalismo que a n eo-ortodoxia barthiana dialogou em r eação. Até aqui fala mo s de teólogos protestan tes. Mas h á forte contra partida t eológica ca tólica com Ives Congar, Hans Küng, M.D . Chenu, J. Daniélou, Ha ns Hurs Balthasar, E. Schillebeckx e outr os. Nenhum deles foi infenso ao deba t e ec um ênico. Fa to curioso também foi o irenismo e r es peito mútuo que mantiver a m essas grandes cabeças t eológicas do século XX. Temos de pr ocurar no emaranhado das correntes teológicas do séc ulo XX os can ais principais pelos qu ais correu o pen o'a m ento catalisador do movimento. Em primeiro lugar, n ão h á como pass ar de lar go p lo pesado influxo da t eologia liberal pr otes t a nte r e pr ese nt a d a po r §~ (V~ Harnack e Troeltsch. '"PRE5BIIERIl1IR t Yp Segundo o histor iador da t eologia Ro sin o Gibellini (1 998), a t eologia do século XX t eve seu lníclO com o curso qu e H ar n ack de u n a Unive r s id a d e de Berlim, e ntr e 189 9 e 1900, so bre "A essên cia do cris tianis m o". É saNevs. AlJi va l (~ Ilssir visitalll Ig reja fJresIJil erialla lia Bol ív ia bido que as gr andes espec ul ações fil osóficas, cientificas e t eológicas levantaram as per guntas: "O que é o cristianismo? É um a religião? É simplesmente um sistem a ético? O que é igr eja? É ela n ecessária?" No seu curso, publicado em 1900 com o m es mo título, H arnack defende a tese que a essência do cristia nismo só pode ser ca pta da n a história . O que ele qu eria dizer é qu e, de fa to, n ão pode mos saber o que é o cri s tia nismo em si m es mo porque só é possível vê-lo nos se us mom entos vividos n a histól'Ía huma n a, n as expressões socia is e culturais da hu m a nida de. Harnack já tr a balha va com o pon to de partida da E sco la da His tória das Religiões, conhecida pela defesa do r ela tivism o hi s tóri co entre as r eligiões. 54

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Por s ua vez, 1'roeltsch, num en saio publicado em 1903, perguntava: "o que é a essê ncia do cristianismo ?" Para Troeltsch, que não nega que a essê ncia do cristianismo só se percebe na história , o cristianismo, como toda religião, emerge nos evento s humanos tanto na cultura do espírito como algo concreto e caracterizado como elemento normativo. O cristianismo, como toda religião, pOItanto,.pão é um fenômeno que se esgo ta em si m as, com seu caráter normativo, influi e condiciona as ações humanas . Desse modo, a diferença entre Harnack e Troeltsch está em que este avança o pensamento daqu ele na direção da concretude his tórica do cristianismo. Agora, há um ponto fundamenta l no pensamento liberal. O método de buscar a normatividade através da história não implica a noção de absolutidade do cristianismo, isto é, apesar de se reconhecer a fundam ental influência do cristianismo na construção espiritual e material do Ocidente, ele não se encontra só e excl usivo n essa função. Há outros elementos a serem considerados, mesmo outras religiões que, em ou-, tros lugares, desempenharam o mes mo pa pel. Troeltsch avança a ponto de superar o conceito de "a bsolutidade" em favor do conceito de "maior validade" , Partindo daí, as norma s cristãs, embora não únicas e ab solutas, aparecem com caráter de maior validade, isto é, de maior efetividade na ol'ientação dos ato s humanos e, por conseg uinte, da história , do que outl'OS fatore s, sejam não-cristã os OLl produtos de outras religiões, O que distin gue o cl'istianismo no mundo é a s ua normatividade mais válida, O método his tórico -crítico dos liberais, que pretendia desag uar numa teologia científica e, ao m es mo tempo, num cristianismo prático e din âmico, des pertou a reação do teólogo rcforn;ado Ka1'1 Barth, que acusou a teolo gia científica protestante de se ter esquecido do fundamento da. própria teologia, que é "a palavra da revelação de Deu s" , Ao exce 'so antropológico da teologia liberal, Karl Barth opõe fort e ênfase no Deus abscôndito, absolutamente outro, como força que move o mundo. Alinhando conceitos opostos, como Deus e ser humano, eternidade e te m po, 1'evelnção e história, Barth inau gura a teologia dialética, invertendo o vetor da teologia libera l que propunha caminhos de ida do ser humano para De us como o da experiência religiosa, da his tória ou da metafísica , Não h á caminho elo ser humano para Deus, mas só de De us para o ser humano porque a história humana é uma história do (ndelllos de OEstondarte

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pecado e da morte. O ser humano está sempre em crise, sob o juízo de Deu s e, por isso, es tá debaixo do "não" de Deu s. Mas o "não" de De us é superado pelo "sim" e m J es us Cris to . Por callsa da alternância entre o "não" e o "sim" de Deus, a t eologia de Barth foi chamada dialética. A teologia di.alética está exposta na célebre obra de Karl Barth Epístola aos Romanos, publicada em 1922. Porém, a obra considerada como a suma teológica do século XX, inclusive por teólogos católicos, foi a Dogmática da Ig1"eJ~7, em vários volum es, escrita por Barth entre 1932 e 1967. Na Dogmática da Igreja, Barth evolui da Teologia Dialética para a 'Teologia da P alavra de Deus numa volta à tradição da Reforma . Por isso, a teologia de Barth veio a ser chamada de n eo-ortodoxia . Em sum a, o que é mesmo a Palavra de Deus em Ba rth ? P ara ele a Palavl'a de Deu s se ex pressa na Palavra "prega da" pela igreja, na P alavra "e cri ta" do test emunho bíblico e na Palavra da "revelação" de Deus em J es us Cristo . Como se vê, a revelação de Deus "progride" num retrocesso histórico da igreja para Jesus Cristo e n ão mais recai na ação do ser hum ano na história, mas n a ação de Deu s que, n egando o que o ser humano faz , ao m esmo tempo justifica-o com o "sim" em Jesus Cústo. Portanto, em Barth temos a revalorização da igreja, conseqüentem ente da Eclesiologia, e da obra de Cristo, ou da Cristologia. Cabe aqui a pergunta do porquê da r ecusa generalizada de Barth por parte das alas conservadoras do presbiterianismo brasileiro enquanto esse teólogo reformado representa um retorno aos fundamento s da Re forma'? . Para responder, podemos suscitar um a hipótese. A teologia de Barth, ao definir a iniciativa de Deus n a reconstr ução de um mundo destroçado pela guerra, servia para a Europa como tamb ém para RS periferia s, como a América Latina, que sentiram seus efeito s e os grava mes das trans formações sociais e tecnológicas . Todavia, n ão er a conveniente para os Estw do s Unido s que, saindo fortal ecido da gu erra, tinha em mãos o poder econômiNev.. AII/ollio COllvêa M elldo.'/ (:a, c/ire/oI' do Selllillário Teo lógico co- político para dar as diretrizes para os de Süo /Jalllo lia década de 70 países dependentes . Não era conveniente 56

Codernos do Oestandarte


um a teologia transform adora, como a de Richard Shaull, que seg uia a m esma trilha. Por isso, os can ais de infor mações e as organizações paraeclesiás ticas fundam entalistas desem penharam o papel bloqueador das novas tendências teológicas. O De us revelado de modo perfeito em Cristo e agindo no mundo continuou sendo o Cristo docético ausente e que retornará no fim da história . Agora, o que r epresenta m a Teologia Dialética, a Teologia da Palavra de Deus e as tradições liberais n a formação da teologia do ecum enismo? Co mece mos pelo Conselho Mundial de Igrejas. Todas as igrejas arrol:=tdas no GNlI confessara m e confessam o "Senhor Jes us Cristo como Deus e Salvador" , confissão básica e fundante . Estas palavras expressa m a convicção de que o Senhor da Igreja é Deu s-e ntre- nós, que continua a re unir seus filho s para constr uir s ua própria igr eja . O CMI assu miu desde seu início o postulado cristológico do retorno à Palavra de Deu s viva e presente n a neo-ortodoxia de Barth. Por outro la do, a visão preliminar do movimento ecumênico, exposta magistralmente no livro do presbiteriano John A. Mackay (1889-1983) A Ordem de D eus e fi Desordem do h om em , refletia bem a Teologia Dialética por opor "a ordem de Deus" à "desordem dos hom ens" . Não h á, porém, como não reconhecer n a evolução his tórica do ecumenismo encarn ado no eMI, traços muito fortes da antropologia liberal, especificamente n a Assembléia de Nova Délhi (1961) e na Conferên cia de Genebl'a (1966). Dia nte das grandes muda nças sócio-políticas e t ec nológicas daquele período hi stórico, o CMI insistia no com promisso das igrejas n a luta por um mundo justo . Richard Shaull (191 9-2002), teólogo presbiteriano norte-a mericano, acentua a "n at ureza dinâ mica de De us e o fato de qu e su a a tividade na hi s tó ria es tá pro sseg uindo r um o a um a l vo" assi m co m o "se u envolvi mento n as crises poHticas e no s com plexos problemas sociais e culturais". Shaull, embora cha me as pessoas ao en gaja m ento nos atos de Deus para a reconstrução de um a sociedade m ais justa, parte, co mo bom r eforma do , da so ber a nia a bsoluta de De us como "criador e govern a dor de todas as esfer a. da natureza e da sociedade" . Neste ponto, convergem a visão da Teologia Dialética, que concla ma o esforço human o para dizer ao menos um "sim" imperfeito ao "sim" perfeito de Deus, e a Teologia da Palavra de Deu s no desa fio ao compromisso da igreja no ((Idernos de OEstal/darte

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processo de co mb a te à injustiça e o correspondente r econhecimento do senhorio absolu to de J es us Cri sto co mo Senhor de toda a igr eja. Sh a ull entendia qu e, em qu alq uer lugar em qu e as pessoas, em n ome do que quer qu e Cosse, estivesse m lu tando pela jus tiça, ali os cristãos deveria m estar ta mb é m porque Deus age seg undo se us pla nos. O movimento ec um ênico e o CMI pr opõem uma síntese do pen sam ento t eológico predominante no séc ulo XX ao con serv ar a antropolo gia da t eologia liber al aju sta da à cris tologia da teologia barthiana, a qu ela s ubor dina da a es ta como pensavam os a deptos da n eo-Ol'todox ia . O postula do ecum ên ico do Senhorio Absoluto de Cri s to , revelação perfeita de De us, a presen tava-se ao movimento ec um ênico co mo suficien te pFll'a atraÍl' to dos os cl'istãos aos se us ideais, incl usive os católicos romanos. Mas o Co ncílio Vaticano 11 (1963- 1965) n ão deixou de desilu dir o mundo ec um ênico ao aprovar alguns documentos qu e co mprometiam todas as s uas ex pec ta tivas . Teólogos impor tantes do mundo católico esforçara m -se, a pós o Concílio, por ela bor ar teologias propr ia mente ec umênica s . Entre ta nto, todo esse empenho Coi, se n ão teoricamente, ao men os pratica mente, i mplodido pela Declaração ]Jonúnus l esu (Senhor J es us) . Concl ui-se que, sob o ponto de vista ec um ênico-inst it ucional, a aproximação da IgTeja Cató li ca Ro mana elo ec umenis mo, com ma is este a balo, está definitiva mente co mpro metida, ao men os pOl' muito temp o a in da . r~esta, en t retan to, a possibilid a de se mp re contínu a ela vivê n cia ec umê nica entre pessoas e grup os n ão s uj eitos à hierarquia r omana .

A IPI do Brasi l frente ao ecumen ismo O ec um en ismo foi o m aior movim ento histórico no seio do cris tian ismo após a Reforma Religiosa do Séc ulo XVI. Oc upa pratica mente as páginas da história de todo o séc ulo XX. Contudo, a não con sec ução com ple ta de se us obj etivo s, as mu danças históricas h avidas n as últim as décadas do séc ulo e a volta do elenominacionalis mo arrefecera m bas ta nte o ecumenismo, tan to es pir it ual co mo institucion al. Res ta hoje, ao espírito ec um ênico, o consolo elo diálogo inter -r eligioso . Os mecanismos inibidores do ecum enismo fora m de n a tu reza intern a e externa . Interna mente, a IPI do Br asil sempre lutou com su a própria história, co m se u conservadoris mo e su a concepção intimista da experiência religiosa . A história da IPI do Br asil é m arcada por dois 58

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dolorosos cis mas . O primeiro, é o da s ua própria origem, e m 1903, e o seg undo é a ruptura que sofr eu, co m grandes perdas, no desfecho da Questão Doutrinária, e m 1942 . Em 1903, as partes contrárias não fo ram capazes de s up erar os antagonismos e interesses divergentes; em 1942, visível inabilidade de síntese t eológica por parte de alguns levou a q ue ·tão ao infeliz desfecho. A IPI do Brasil tinha ra zões de sobra para ser conservadora. O seu co n ser va doris mo constitui- se em elem ento de a uto -identificação em ambiente culturalm ente a dverso . É de se supor também qu e o Movimento Evangélico já es tende se s ua influência aos m eios protestantes brasileiros. O Movim ento Evan gélico, do origem europ éia, e certos aspectos da Teologia de Princeton cons tituíra m-se em bons pontos de partida para o movim ento funda mentalis ta qu o passou a formar a base do pen sam ento e das a titu des do protestantismo brasileiro, particularmente do pres biteria nis mo por cau sa do se u lastro fort em ente confessional Qua ndo a Teologia de Princeton defrontou -se com o funda m entalis mo , certos aspectos de s ua a bord age m bíblica, co mo as teses da ins piração plen ária e da infalibilida de, viera m a colabor ar co m aq uele m ovim en40.

Nev. Celso /lI/achado, (o I" elll pé, da esq. lildil:) elll Vallel/w; Ch ile, ol/dejói lIIissiol/ário da IP/ do IJras il I/af/ll ele Iwís por qllase 10 aI/ os

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Em 1857, quando Charles Hodge (17971878), um do s mais importan tes teólogos de Princeton, desenvolvia s ua tese sobre a inspiração, prep ar avam- se os primeiros missionár ios presbiterianos que viria m para o Brasil. O pe so d a influ ê n cia I<ev. /lssir fJereim (' I<ev. D, : DI/ll call S/iOl V, IÍltillllJ princl!tonia n a qu e relII odemdo r da If;reja Presb it erialla da b'cócia cebera m , prin cip a l m e n te Ashbcl G . Simonton que chego u ao Brasil em 1859, mostra- se nos progr a m as de en sino teológico do s prim eiros a nos do presbiterianismo brasileiro . É, portanto, válida a hipótese de que o con serva dorismo presbiteria no brasileiro deve bas tante à influência dessa escola . Aqui, as condições fizeram co m qu e dois traços par ticulares da Teologia de Princeton en contrasse m s ulcos favoráveis de a propriação : o a pego ao texto in errante da Bíblia e s ua interpretaçno pré-es ta belecida e o pré-milenarismo de es pera . Acolhidos sem crítica e sem reflexão diante da n ova realidade, esses doi s traços transform aram- se e m in str umentos im obilizadores quanto à inserção na cultura e na participa ção política e social. Mais adia nte, o ensino teológico foi tom a do por ma nuais porta dores da teologia m etafísica que, por s ua natureza, mal chegava aos púlpitos de maneira compreensível. Ora, t a nto o messianismo de es pera, típico da fé cristã desinteressada pelas coisas práticas do mundo, como a teo logia metafí sica, cujos conceitos abstratos e imutáveis pairam no alto e por sobre o cotidia no , form ara m no Brasil um a cultura cristã pro tes ta n te indifer ente e avessa às coisas no vas c ameaçadoras à fé num reino de Deu s a vir com o fim da história. E, por fim, a experiên cia r eligiosa intimista, por tanto individual, presente de m aneira insistente em todo o processo de eva n gelização e doutrinação religiosa, constituiu- se e m obstáculo para uma visão social da fé cristã. Daí, a compreensível recusa do as pec to prá tico do cristianismo defendido como uma das preocu60

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pações do movimento ecumênico. Os mec anismos inibidores de natureza externa es tão relacionados com os anteriores. O movim ento ecumênico trazia consigo elementos liber ais do cristianismo prá tico . Os canais conservadores, principalmente de algum as igrejas e instituições para-eclesiásticas norte-americanas, de maneira particular o fundamentalismo extrem ado de Carl McIntire encarn ado no Conselho Internacional de Igrejas Cristãs, desencadearam obstinada campanha contr a o "modernismo" que, segundo eles, fora incorporado pelo CMI. Ponto a lto dessa ca mp anha foi a investida contra a aproximação do CMI em direção à Igreja Católica r epresentada pela presença de seu s observadores n a Assembléia de Evanston. Ainda, a participação da Igreja Ortodoxa Hussa serviu de motivo para McIntire acusar o CMI de aproximar-se do comunismo. De m aneira talvez proposital, passou-se a confundir ecum enismo com comunis mo. Assim, a o m-e smo tempo qu e r eacendeu o velho conflito com a Igreja Católica, o ambiente sócio-político do pós-gu erra, com reflexos no Brasil em que se lutava por profundas mudanças, produziu verda deira fobia anti-comunista. Esse ce nário novo e complicado condicionou o debate e a posição da IPI do Bras i l e m re l ação ao ecumenismo. Na r ealid ade, o deba te, que deveria ser a mplo e profundo, com an álises ac uradas do s prós e contras, assim como a conseqüente e consciente tomada de posição, não esteve em nenhum momento à altura daquiCHINESE C/lRI5TIAN T U -WAY CHURCH lo que a situação exigia . A falta de apresto teológico consist ente a lia do à privação de infor m ações a respeito do que se passava no mundo não permitira m ju lgamentos ju stos e tolerantes . Na realidade, com diminutas exceções, as a titudes fora m condicionadas pela intermediaçã o de inform ações filtradas por canais comprometidos com de- Rev. RobalO Vi cenle Cru z Th ellllldo terminada direção dos acontecimentos . Lessa (/lO cel/lro), elll ig reja chil/esa de Cil/ gallllra A leitura de O Estandarte indica que (odemos de OEstandarte

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o debate obre o ec um enismo limitou-se, de fato, a dois contendores, um deles professor de Dogmática no Seminário e o outro diretor do Instituto Bíblico João Calvüi.o, Arapongas, PR. A fraqueza teológica a que nos referimos não é imputada aos contendores, os Revs. Cyro Machado e Antônio de Godoy Sobrinho, que se revelaram firmes em suas convicções e argumentos, m as ao alcance diminuto do debate que n ão foi além de dois teólogos num universo amplo de professores de teolo gia e pastores. Falta de conhecimento, desinteresse, receio de um novo conflito interno? É possível que essas causas se somaram para levar o Supremo Concílio da IPIB a assumir as posições que assumiu entre 1963 e 1967 . No Supremo Concílio (SC) de 1963, entro u em pauta a questão da filiação ao CMI. Foi nom eada uma comissão composta pelos Revs. Azor Etz Rodrigues, Antônio de Godoy Sobrinho, Evaldo Alves, Seth 11 erraz e Gérson Moraes com a tarefa de dar parecer. Decidiu-se pela não filiação. No Supremo de 1965, decidiu -se continu ar "eqüidista nte" dos "movimentos ecum ênicos que se verificam no mundo cristão hodierno". Não obstante, foi nom eada uma Comissão I ermanente de Relações InterEclesiásticas co m posta pelos Revs . Azor Etz Rodrigues, Antônio de Godoy Sobrinho, Laudelino de Abreu Alvarenga, Tércio Moraes I ereira e Paulo Ci ntra Damião, com o encargo de promover estudo s continu ados sobre o movim ento eC Ll rnênico. Parece que o SC de 1967 definiu de um a vez por todas a posição da IPI do Brasil quanto ao movimento ec um ênico e o CMI. Sustentando a decisão de se manter eqüidistante entre o Conselho Mundial de Igr ejas e o Conselho Internacional de Igrejas Cristãs, o SC exigiu o cumprimento dessa resolução, proibindo a participação de se us ministros em atos de culto e cerimônias religiosas co m a presença de sacerdotes católicos . O SC declarou, também, que, não sendo a IPI do Brasil filiada ao CMI, não podia aceitar su a tendência político-social. A posição da IPI do Brasil em relação ao CMI n ão significava s ua a usência nas instituições marcadas exclu sivamente pelo ecumenis mo pan-protestante .Aliás, estas instituições, como a Comissão de Cooperação da América Latina e su a expressão no Brasil, a Comissão Brasileira de Cooperação, a UNELAM (União Evangélica Latino-Americana) e seu su cessor, o CLAI (Conselho Latino-Americano de Igrejas), sem pre contaram com a presença da IPI do Brasil. A posição da IPI do Brasil no movimento ecumênico foi se mpre defi62

rnrlp.lIloç rir.

n F,/nnrlnr/A


nida pela resistência a qualquer aproximação do catolicismo romano. Assim, não ingressou no CONIC (Conselho Nacional de Igr ejas Cristãs do Brasil), funda do em 1982, com a par ticipação das Igrejas Católica Romana, Cristã Reform a da do Brasil, Episcopal Anglicana, Evangélica de Confissão Luterana e Metodist a . Todas esta s igr ejas, m eno s a Católica Roma n a, es tão, desde o início, ligadas ao movim ento ec um ênico . O CONIC assumiu co mo base constitucional o princípio de "associação fr at erna de igrejas que confessam o Senhor J esus Cristo como Deu s e Salvador, seg undo as Escrituras ... r es peita das as difer entes concepções eclesiológica s", t endo como objetivo "rnanifestar a mplamente a u nida de da Igreja de Cristo" . Em resu mo, o CONIC ajustou-se à base e aos objetivo s do CM!.

Considerações Fina is

o movim ento ec umênico n a atualida de caiu praticamente no esquecimento e su as instituições es tão a dormecidas. Todavia, a o menos entre as igrejas tradicionais, incluindo-se a Católica Rom an a, o movim ento

Nepreselltolltes do IP I do lJmsil e da II;reja l)resbitNi(l/1I1 do IJl'fIsil da CO/llissZio Paritá ria de Diálogo elltre as dllos dell o/llill o(.'ries: Nevs. IlbivC/L Pires da Sil veira, PU/tio de Melo Cilltm DO/lliZio, Cllillwrlllill o IIl1ho, Mathia.\· Qllilltela de SOllza, Wilsoll SOllza Lopes e /?oberlO lJra.l'ileim (nrlm,,", rio

n F,tllllrlllrtp

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ec umênico contribuiu para criar um clima de diálogo e respeito mútuo. As igrejas novas, surgidas no cenário religioso dos últimos trinta anos, reintroduziram o velho clima de hostilidade e concorrência. Apesar disso, frustradas as intenções de união, fala-se hoje em diálogo interreligioso, incluindo-se n ele as religiões n ão cristãs, particularmente as grandes religiões mundiais . Agora, a per gunta final: em razão d e s ua po s ição d e eqüidistância em relação ao Con selho Mundia~ de Igrejas e ao Conselho Internacional de Igr ejas Cristãs, qu ais foram as conseqüências para a IPI do Brasil? A res posta a est a pergunta poderia ser da da de man eira óbvia: nenhuma; a igr eja continuou como dantes . Apesar disso, podemos su gerir a lgumas coisas que, ligadas à reação ao ecumenismo, mo dificara m a trajetória da igr eja Rev. Leontino Farias dos Sal/to.i·, presidel/te da após o período ag udo do debate Asselllbléia Cera l da IPI do Brosil, recebe 1/1/1 e da decisão. Uma delas é que eXell/lila r da Bíblia das III c/O.\' do Rev. C lli/ll emlil/O Cllnha, !iresidellle do SlIpreln o a igreja tornou -se mais con serCOl/ cílio da Ig reja Presbiteriana do Urosil vadora do que era, isolou-se em si m esma e abandonou s ua inserção nas questões sociais . O conservadorismo e a busca do intimismo da experiência religiosa, que sobreveio após o Congresso da Mocidade de }965, abrira m caminho para a pentecostalização, que dese mbocou em outra cisão nos anos 70, com a perda de pastores e líderes leigos. Estamos vendo hoj e que o processo de pentecostalização continua forte em vários setores da igreja . A causa básica desse cenário t a lv ez seja o r eceio de desenvolver com clareza e independência estudos teoló gicos importantes, situação agravada pelo desinteresse por essas questões exata m ente pela atitude intimista, de um la do, e pela s up erficialida de pentecostal, de outro. Há se nsível tendência para a indisciplina resultante de certo con gregacion alismo desvirtuado, tanto no que se 64

(odelllos de OES/Il/lr!arfe


refere às igrejas locais como aos presbitérios . Uma "espiritu alidade" decorrente da negação de um cristianismo prá tico, uma das vertentes do ecumenismo, faz tábula rasa, paradoxalmente , do próprio conservadorismo, isto é, da disciplina racional da Confissão de F é e da tradição presbiteriana. Tudo isso somado conduz à perda da identidade. Paralelamente a essas conseqüências negativas, o movimento ecu mênico, embora de modo indireto, não deixou de beneficiar a IPI do Brasil. Os estu dos teológicos, por exemplo, foram favorecidos com a aj u da às bibliotecas dos seminários com a possibilidade de aquisição de livros e a tradução de muitas obras importantes promovidas pela ASTE (Associação de Seminários Teológicos Evangélicos) com recursos do Fundo de Educação Teológica. Alguns pastores recebera m bolsas de estudo no exterior com recursos dessa mesma fonte. Certa experiência internacional originada de participações em eventos no exterior não deixou de influir no desenvolvimento de alguns setores da igreja, embora a ligação entre esses eventos e a igreja, a ser feita pelos seu s r epresentantes, nem sempre tenha sido visível. Não se pode dizer que a IPI do Brasil seja absolutamente fechada. Lembremo-nos do benefício r ecebido pela sua participação, desde o início, do Conselho Ecumênico de Pós-Graduação em Ciências da Religião, liderado pelo Instituto Metodista de Ensino Superior, hoje Universidade Metodista de São Paulo, o primeiro curso de pós-graduação protestante a ser credenciado pelo Governo . Esse Curso vem contribuindo bastante na formação de professores para seminários e na formaç ão de lideranças intelectuais. Neste balanço su mário de lucros e perdas, transparecem alguns ganhos indiretos para a IPI do Brasil, que talvez não cheguem a compensar o que perdeu, não necessariamente porque não se filiou ao CMI, mas por ter-se mantido à margem da história do cristianismo do século XX. Os lucros, na maior parte, foram t emporários, porém as perdas notam- se até hoje.

• o Rev. Mendonça é professor da Universidade Mackenzie

(odemos de OEstlllldllrte

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A IPI do Brosi l e o ocõo sociol e político ~

Rev. Márcio Pereira de Souza

N

ão pretendemos encarcerar n estas linhas os cem anos de ação social e política da IPI do Bra sil. O qu e t encionamos 6 perseguir os "sinais" que apontam para ação social e política da igreja.

Prime iros sinais O prim eiro sinal está na obra "J-{ jstóúa da Jgl'e./~7 Presbiteúana do do Rev. Júlio Andrade Ferreira, ao narrar o início do ministério do Rev. Eduardo Carlos Pereira e sua esposa, em Campanha, MG: "Seis finos paSSal 'am em Campanha, tendo l;l'aJ~iea do, por fjjn, pela paciência, sen/ío a amiza de, ao menos o respeito da cidade. D.LuizÚJh fl dava lições de pian o e seu esposo muitas vezes delendifl no Júri. Mfl s todo o seu tempo el'fI flplicfl do em acudir os p obres e doentes com um velh o Chervoniz, a ponto de recolh el'em em uma das dependências da casfl um pobre mOi/ético, o Natfll1aer O fu turo lideI' presbiteria no independente nutria profundo carinho pelos empobrecidos. De Eduardo Carlos Pereira registra mos mais um compromisso social e político. Ele publicou, em 1886, o livre to (~1 R eligião Crist/í e S uas R elações com a E scra vidfío'~ onde defendeu abertamente a abolição da escra va tura . Portanto, muito antes da organização da IPI do Brasil, já se manifestavam alguns sinais da vocação de uma igr eja séria e comprometida com seu t empo. Brasjj'~

Os sinais se intensiFicam Na seg unda década de sua históri.a, a IPI do Brasil teve um avanço extraordin ário no campo da ação social, capitanea do por um pas tor 66

((]dp'flloç dr.

nFltrJllrlnrtr.


i nteriorano, de m entalida de areja da, que a dquiriu uma proprieda de em ampinas, SP, para orga nizar nela o primeiro orfanato da igreja, abrigando inicialmente cerca de 20 crianças, no ano de 1922. Sua preocupaçã o não se res umia ao amparo a crianças e velhos, mas também aos deficientes mentais . Fruto desta preocupação surgiu, em 1930, a Associação Evangélica Beneficente (AEB), instituição à frente qual permaneceu durante muitos anos. O pastor era o Rev. Othoniel Mota, na scido em 1878, em Porto Feliz, P. Enquanto viveu, preocupou-se em servir e, após sua morte, em 1951, ou nome passou a ser justamente associado com toda e qualquer obra s cial no arraial evangélico. O DI'. Lauro Monteiro da Cruz, continuador de su a obra, na sceu , em J.904, e cresceLl na cidade de Santos, litoral paulista. Veio para a capital a fim de estudar, onde cursou, com brilhantismo, a Faculdade de Medicina. De intensa vida acadêmica, destacou-se em tudo que participou. l- oi professor da Escola Paulista de Medicina, organizada no ano de 1934. Atuou não somente na área médica, mas foi vereador na cidade do São Paulo e deputado federal por cinco legislaturas, período em que .'o dedicou à assistência social, educação e cultura, acompanhando e orientando diversos projetos filantrópicos. Faleceu em 1989. Destaca-se ainda a figura de Carlos Ren é Egg, curitibano, nascido 'm 1912. Líder incontestável, teve lu 'ar de s tacado na galeria do s grandes a licerçadores do movimento independente. Em 1940, assumiu a secretaria executiva da Mocidade Presbiteriana Independente do Brasil e, em 1943, sua liderança stendeu- se so bre varonis, senho ras, mocidade e juvenis, com a criação da Comissão de Educação Reli giosa e Atividad es Leigas (CERAL), da IPI do Brasil. Assumiu a direção do Orfanato Bethel, em Sorocaba, SP, em 1947. Esta mis Presb. Ca rlos I?ené Egg, fa zendo são foi desempenhada por cerca de flal eslra sobre dia cOIlia 11 0 0 11 0 de / 976 12 anos. Atuou ainda junto aos ín(odernos de OEstal/darte

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dios na Missão Caiu á, de 1951 a 1972, quando conheceu mais de perto a realidade das comunidades indígenas. Na vida política, foi suplente de deputado por São Paulo entre 1959 e 1962, e deputado estadual de 1963-1967. Deixando a Assembléia Legislativa, presidiu o Serviço Social de São Paulo, que, mais tarde e com melhor estru tura, veio a se chamar Secretaria da Promoção Social. Carlos René Egg ficou à frente deste órgão até 1971. Retornou a Curitiba em 1971 e, em 1979, transferiu-se para Sorocaba, onde dedicou-se exclu siva mente ao Lar Betel. Faleceu em 1982, ainda envolvido com o Lar Betel e a Missão Caiuá. O ministério diaconal exist e nas igrejas presbiterianas brasileiras desde 1866, porém, estava restrito às pessoas do sexo masculino. Fato relevante foi a ordenação da primeira diaconisa presbiteriana independente, Albina Pires de Camargo, ocorrida na la IPI de São Paulo no ano de 1934, época de grande efervescência do movimento leigo na IPI do Brasil. A repercussão deste ato ainda está por ser estudada em nosso meio, todavia não se pode ignorar a importância desse conjunto de ações para a vida da igreja e da vida da nação. No âmbito nacional, o Governo Provisório da República Brasileira decretara eleições gerais para maio de 1933, concedendo também o direito de voto às mulheres, em consonância com o movimento de laicização da administração pública, pregada sobretudo pela Liga Pró Estado Leigo, que teve grande penetração no meio evan gélico . Alguns questionamentos da. época eram os seguintes : "Dar o direito de voto à mulhei; é fazê-la metersena poHtica. Estará a nossa educação social h abilitada a uma tal evolução?'; "POi" ocasião das eleições, se o mari do quiser votar num candidato, e a mulher noutro, a filha Il1lemos de /J elll el-Lar da Ig reja, de FOI/te C/o pTefeúr um e o pai estiver pavilhüo principal da. institllição em So/"Oca!Ja, S /~ comprometÍdo com outro, o década de 70 genro vOt81' em filiano e a 68

(Ciciemos cle O Estandarte


sog.r'a fizer questão de siaano, o que acontece1'á?'~ Em artigo publicado em O Estandarte de 1932, o DI', Nicolau Soares do Couto Esher, autor dos questionamentos acima, vice-presidente da Liga Pró Est ado Leigo, num artigo intitulado " O papel da mulher n a política", emitiu o seu parecer: "No nosso modo de vei; n ão só convém como é n ecessánó; e a té, direm os, é obrigatónó, No momento atual, em que o clericalismo pl'OCUl"a domina) ' o paiz, ameaçando a PátTia com a religião oficial, toda mulhei' crente, e m esmo toda e qualquer que tem o espfrito liberal de ve alistar-se, Se1'ão n1l1hares de votos a m ais, a fRvOl ' dos ca11dida tos liberais, nllJhares de votos, em luta p ela libei-dade de consciência, N esses casos não h a veni discórdia 110S lares, Mulheres e maridos, pais e filhas sogl'as e genros, todos votarão sem disaepancia nos candidatos que se apresentarem como defen sores da liberdade de culto e de consciência, Elas terão obúgação de fazer propaganda, aliciando eleitoi'es liberais para con centra rem seus votos em tais candidatos, evanoélicos, si 11Ouvel; em pl"1J11eiro logai; e si não houvei; em candidatos ilberais que se compromeUam formalm ente c publicam ente a defen derem a liberda de de p ensam ento, É a salvação da Pátria, em p eú go, Os padres já estão agindo, Eles tem o Pres/;o D/: Carlos fo'el'llw/{Ie,\' confessionaúo p ara domúJarem a mulh ei : Frall co, secrelârio lIaciollal de Nós não temos, li'abalhamos ás d al'as, Não Diacollia da IP I do /3rasil, li a década de 80 temos o confessionanó, m as temos o espiúto consciente da mulher evangejica e jiberal, instruida e ene.r'gica, para defendel; com seus votos, os n ossos ide/IJ/:'~ de liberdade de cr enças, que são os verdadeúos ideais l'epublicanos'~ Esse t exto mostra como alguns objetivos estavam sendo alcançados com a liberação do voto feminino . Deste contexto para questões mais particulares , como a participação da mulher na liderança da igreja, é fácil s upor que tais anseios também eram agasalhados no seio de nossa igr eja. Não se tratava ainda de uma emancipação, mas de um a concessão; quantita tiva mente a mulher inter essava às ideologias dominantes . em todas as esferas da sociedade. Cadernos de OEstolldorte

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A entrada de idéias liga das ao Evangelho Social na seara independente su scito u muitas controvér sias e ânimos exaltados, ressuscitando uma velha polêmica a respeito da existência ou n ão de compatibilidade e ntre o social e o espiritual. Com referência ao movimento leigo, h á que se destacar a atuação da juventude n a primeira década de su a organização. Nos primeiros anos da Confederação da Mocidade, cond uzida com brilhantismo por Eduardo Pereira de Magalhães, seu prim eiro secre tário exec utivo, O Estandarte publicou em todas as su as edições a página "A Mocidade e a Igreja", n as quais soava o tom da caminhada da juventude. Na edição de 1/6/34, por exemplo, o subtítulo é "a mocidade crist ã e o nosso cen ário político" e ali afirm a-se: "o nosso m ovim ento pretende seI' integral, e oriental' a m ocidade em todas as direções. Assim sendo, um dos pontos a tocar é o espírito n acion alista, o sentimento p at1"1'ótico, quer na esfera doutúnária, quer n a admiJ]istj'a tiva'~ O t exto a presenta como "acontecimentos significativos" a participação da juventude católica no Movimento Integralista Brasileiro (movimento de inspiração fascista, fundado em 1932 por Plínio Salgado, unindo católicos e con servadores contra o liberalis mo e o capitalismo internacional), e lança a pergunta : "qual será a r esposta da no, sa mocidAde A esse repto, a esse tremendo desafj'o?'~ O artigo prosseg ue indicando a missão para a juventude evangélica: "Somos contra a fOl'l11açiío de um partido e vangélico por poderosas e importantes razões, m as de modo alg um som os favoráveis ao retrai m ento polftico de muitos evangélicos. N ão queremos que a mocidade crente [o1'111e um partido semelhante ao Movim ento !ntegralista. Achamos que seria desvantajoso em todos os sentidos para n ós'~ O articulista define então a linha de ação da mocidade: "r- !nter essarse vivamente p elos flcon tecimen tos polfticos e sociais, acompanhando -os e conver sando sobre eles. 2°- E s tudar os fátos, fl]Jé7lisflndo-os e ve1'1fj'cando s ua sigJ1lfi'cação p ara nós evangélicos. 3°- Preparar com todo o cuidado e estudo, um programa saturado do en sino de Cristo, um idefll s ublim e e definido, jW'fll' fl bsolutfl fj'delidade fl êle, propagá -lo e, se f 01' preciso, 11101'1 Br por ele. 4°- P1 '01110 ver cara vanas, congressos comícios e f"ázel' la1ga pl"opaganda destes ideais e pl"ogTamas. 5°- Dar seu voto bem pensado e interessar a todos na administração e politica de nossa Pátria. 6°- Prestar atenção p ara que na doutnJJé7 e n a prá tica a nossa atividade n ão saia das normas lan ça das por Cristo.'~ 70

Cadernos de O Estandarte


No corpo deste artigo a parece a informação de que a diretoria da Mocida de estava trabalhando pela criação de uma "secção esp ecial de ação socia!' . Na edição de 1/11/1938, o Rev. Severino Alves de Lima escreveu um artigo intitulado "O Brasil para Cristo", fr ase esta qu e seria depois adotada como lema do umpismo n acional. Deste texto, d staca mos: "Se J esus Cl"isto l·einasse nos COl·ações dos bnls1l eiros, outra seria a condição mol·al e espirituAl desta gloriosa Pátria digna de m elh or sorte, pelA s ua gr Andeza territorial,· p ela [ertlljdade Admi1"fíve! de se u solo," p ela riqueza de seu s ub -solo," p el fl vastidiío esm eraldina de se us CAmpos e da s s uas matas,· pela .i.naudita bel ezfl do seu céu," p ela r econhecida hospitalidade da SUfl gente e peh? jm:!;·ualável i.nteligêncifl Rev. Adiei Ti/{) de de seus filhos! (.J Uma Pátn"a assim seria m e- Fig/l eiredo, ! !C/SI(}J; líder e escrilO/ ; /1/11 dos lhor e m ais prósp era,· seáfl verdadeiramente livre e feli z como as nAções que siío alicerça das !-(/"lI/ldes illsf!i/"lldu res do lIIovilll ell lO diocoll ol lia em Cá sto e n os seus evangelh os '~ IPI do IJrasil

Sina is instituciona lizados A IPI do Brasil, passado s os "anos de chumbo", voltou a se preocup ar m ais formalmente com a qu es tão social. Naquela época, silenciosa men te, muitos irm ãos e irmãs dedicavam -se ao serviço aos pobres, esmerava m-se no "servir as mesas", preocup ava m-se com os necessitados, promovia m coleta e distribuição de alimentos, entre outras ativid ades afins. Nas comunid a des locais, as Mesas Diaconais dese mpenhava m suas fun ções de carátel· assis tencial, limita do e, muitas vezes, proselitista . Foi, então, que des pontou o tra balho do Rev. AdieI Tito de Figueiredo, pastor da 1" IPI de São Luís do Maranhão. No seu livro "Diaconia ou Prom oção flum an d', ele conta o seg uinte: "No inicio dos anos 70, um presbfter o da 1"' IPI de São Luiz do Mara.nhão, Israel Nun es, chamou a flten ção do Conselho para o [ato de que a obra social esta va sendo realiza da erradamente, pois n ão era [eita por quem de direito, segundo fl Biblia . .li Mesa Diaconal, pOl· direito divino e COl1stitucion;7l, cflber];;? realizar tOdfl a obr a socir.il dfl jgre.l~7. Fiquei impressi01wdo com o flssun(mlelllOs de OEstandarte

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to e com ecei a estudá-lo, sobretudo do ponto de vis ta bíblico, A M esa Dia con al resolveu assumir todas as obrigações do SEAS (Serviço Evan gélico de Assistência Social, sociedade criada em 1952, em São LuizMA) O assunto foi m e empolgando, Fi~ uma cm'la Cll'culm ' à maioáa dos pastores e presidentes de m esas diaconais da IPI do Brasil. Visitei dezenas de igu].ias, fhifwdo a respeito do assunto, discutindo, ouvindo p ergunta s e r espondendo, M eu ideal, naquele tempo, e1'a o de que fo ssem cria das f e d el'a ções presbiteriais de diáconos e dia conisas e um a confedel'ação nacional abrangente, O primeú'o pl'esbitério a instituir tal federação foi o do Norte, em 1974, ao qual eu estava fjJiado, Outros o flcompanhal'am, tais como: o de Assis, o do Nordeste, o de Osasco, o de Santa Catarina e o do VRle do Paraná, Tudo isso m e animou fi flpl'esentar ao Supl'emo Concilio, r e unido em Osasco, Sp, de 15 a 18 de fever e11'o de 1978, é1 seguinte proposta : 'Con siderflndo fJO/ 'UfO prin cipal de Be/hel-Lar da Igreja, rJue: o l'egim e presbiteriano é feelll So/'Oca!J({, SP del'a tivo pOl' natw'eZ;1 e excelência; está se formando en tre os diácon os de nossa igre.ia um flnova m entalidade, .lá se iniciando ent1'e eles o costume de r ealizal' en contros, os quais t êm sido verdndeiros mini -colig:ressos; h ;i umn Cl'escente con scientização a l'espeito do trabalho assistencial dos diácon os; as m esas dia conais, l'eLl11idas em fedel'açõeS, poderiam l'ealizm; a fa vor da igr e.ia, trabalho de maior enverga dura; poi' m eio de uma confederaçi'ío nacional de m esas diaconms, a igre.ia pode.ria marcal'pl'esen ça e atuw ção n as calamidades públicas; as mesas diacon81s reunidas em confedel'ação poderiam ser ma1s bem orientadas a respeito do seu tl'abalho; um dos presbitérios, o Presbitério do Node, .lá criou pma federação de m esas dia conais em s ua árefl; p1'opomos: fi) que o Supremo Concílio crie fi Confederfl ção Nacional 72

(udcrllos de OEstondorte


de M esas Djaconais; b) que o S upTem o Concílio nomeie uma comissão para estr utuTar e elaborar esta tutos da tal Conlederação,' c) que a M esa Adminis trativa do Supl'em o Concílio fí'qu e com a atn'b uição de implan tal' a rel en'da Confederação. Propon entes:A diel Tito de Fig ueiredo, Laudelino deAhreuAlvarenga, j1ranGÍsco José Cruz de Mora es, L eolltill o Farias dos S antos, Rui A nacleto, José X a vier de Freitas, Jon an Cruz e Joaquim Ferreira Bu eno '~ O Rev. AdieI Tito de Figueiredo foi quem deu os passos iniciais para o r econhecimento e oficialização do movimento diaconal pela IPI do Brasil. É claro que ele n ão cumpriu sozinho t al t ar efa . Muitos irmãos e i rmãs poderia m ser list ados como parceiros dest a empreita da . A sonha da Confeder ação demorou mais alguns a nos par a vir à luz. 8m 1981, no S upl'emo Concílio r eunido n a IPI de Casa Verde, em São P aulo, foi organizada a Comissão de Diaconia, compost a pelo Rev. AdieI, .'cu r elator, e dem ais membros: Rev. Elizeu Rodrigues Cremm , Rev. Glicério Elias de Lelli , Diac. Daltro Izídio dos Sa ntos e Pro±" Dra. Ma rília Teixeira da Cr uz. Est a comissão r euniu-se pela primeira vez em 7 de fevereiro de 1981. A Igr eja N acional acabara de fazer uma reform a em su a constituição, e o artigo 89, qu e trat ava especificamente da função elos diáconos, foi an alisado pela Comissão de Diaconia . Eis o t exto: "Os diáconos são os

fJa rli ci/)Wlles do ]" COllgresso Naciolla l de Diácoll os e Diacollisas, realizado li a I" IPI de Osasco, Sp, ell/.jl/./I/O d e 1985

:(I(lernos de OEstal/darte

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oficiais cn cfll'l-egados de ativjc/ades tempol'ais da Igreja, competindolh es, esp ecialm ente: 1. O exel'cicio dfl beneúcência; 2. A visitaçiio fiOS n ecessitados; 3. A manuten çÃo dfll 'cver ên cia e ol'dem na Cflsn de Deus c s uas dependências.".

Os Congressos de Dioconio As decisões desta Comissão for a m no sehtido de oficializar um congresso, l'ealizado n a 1" IPI de São Paulo, de 15 a 18 de no vembro de 1979, l'econhecendo-o co mo o I Congresso Nacional de Mesas Diaconais, e dar os passos para a realização de um seg undo co ngresso co m a participação de todas as Mesas Diaconais ela IPI do Brasil. Com isso, a histó ria dos Con gresso' de Diaconia é a seguinte: a) I Con gr esso Nacional de Mesas Diaconais: ele 15 a 18/11/1979, em São Paulo, SP, so b o tema: "Trocando idéias e ex periências" Foi o con gresso oficializado pela Comissão de Diaconia , em 198 1. A 1" II I de São Paulo, e m se u pioneirismo diaconal, realizou es te encontro de caráter interno. Ali esteve presente parcela muito significativa do pessoal envolvido na ação socia l da igreja, inclusive no trabalho diacon al da 1" II I de São Paulo atr avés da Fundação Francisca Franco (o nome de I' r a ncisca Teixeira Fra nco n ão pode deixar el e constar nos anais da diaconia nacional, bem co mo de seu filho, Carlos Fernandes Franco) e da Fundação Mary Harriet Speers (que tem intenso trabalho de financiamento à educação, inclusive a edu cação t eológica). b) II Congresso Naciona l de Mesas Diacona is: de 30/10 8. 2/11./ 19 82, e m São Jo sé do Rio Preto, SP, so b o tema:"Experiências diaconais de outras denominações evangélicas". A intenção deste congresso foi ouvir a experiência ele outras igrejas evangélicas . O p as tor N ichol as Will e m van Eycke, d a Igreja Evangélica Missionária Pente costal e diretor do Centro Assistencial em Sabinópolis, MC, apresentou as experiências concretas do dia-a-dia do atendimen to a cria nças, ébrios e mães solteiras . Esteve acomp anha do de sua esposa, missionária Irene Van Eyck. Cisela Beulke, diaconisa da Igreja Evangéliça de Confissão Luterana no Brasil, a presentou um histórico ela diaconia nesta igreja,bem co mo os projetos lá existentes. Ta mbém falou uma representante da Aliança Bíblica Universitária, 74

Cadernos de O Estandarte


M rlene Suursoo, sobre s uas experiências com crianças de rua em São P:lulo, capital. Em 2/10/1983, a Comissão de Diaconia aprovo u o Ante Projeto do 'ódigo de Ação Social da IPI do Brasil, a ser submetido à aprovação p lo Supremo Concilio. Deste código, destacamos o artigo segundo : " A ':t;'reja 1""econhece estar jnselida em um mundo so[redOl ' de vjolênáas, i,(justiças, corrupções, fome, aban donos e enfen11idades, no qual ela lnmbém é vfÚJJ1é1, mas para com o qU/,il tem 1""esponsabljidade socÚ1l de t 'stemunho e sé7cnfiáo Ú11a1""6ria)' . Motivos de saúde levaram o Rev. AdieI a se afast ar da Comissão de I iaconia. Na relatoria assumiu o Presb. Carlos Fernandes Franco, ind icado pelo S upremo Concílio realizado em Londrina, 1984 . c) lU Congresso Nacional de Diáconos e Diaconisas : de 18 a 21/7/ I 85, em Osasco, SP, so b o tema: "Constr uindo juntos" (r ealizado paralela m ente ao Congresso de Presbíteros). A ênfase do congresso foi a necessida de de uma diaconia "global", ou s 'ja, que envolvesse a igreja toda . Daí a necessidade de se discu tir em 'onjunto co m ou tro s seg mentos . O Rev. Valdomiro Pires de Oliveira coordenou este evento, recheado cl oficinas e orientações práticas, como a de "Técnicas Práticas para a 81a boração de Projeto s Sociais", a presentada pelo Rev. Carlos Queiroz, la Igr eja de Cris to no Brasil e Visão Mundial. O Congresso conto u também com a presença do ilustre pas tor

4" CO/l g resso de lJia co/lia da IPI do IJrasil,.elll

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cidade de Lençóis Palllis/a, SI'

ClldolllOS de OEstandarto

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presbiteriano Rev. João Dias de Araújo, ministrando sobre as b a 'es bíblicas e t eológicas da ação social. d) IV Con gress o Naciona l de Diaconia: de 9 a 12/11/1 987, e m Lençóis Paulis ta , SP. A Comissão de Diaconia da IPI do Brasil recebeu nova denominação . Passou a cham ar-se Secretaria de Nacional de Ação Social e Diaconia. Não houve um tema específico, mas a idéia de que "o serviço é par a todo s" foi a tônica deste congresso . O IV Congresso também marcou o envolvimento form a l de nossa igrej a com a cam panh a Criança Esperança . A essa altura, já h avia uma grande con scientização da igreja com relação à u rgência de uma ação social mqis comprometida . Sob a liderança do Rev. Valdomiro P ires de Oliveira a igreja avançou muito n esta área. Um dos slogans utilizados, "Em cada igreja um projeto social", foi um a das marcas des te novo mom ento. Muitas igrejas lançaram-se a esse desafio. Porém, n o seu conjunto, a obra estava prejudicada. Havia um grande equívoco . Não bastava às igrejas organizarem seus próprios projetos sociais sem a ntes passarem por um processo de amadurecimento de todas as questõ es inerentes a ele, tais como: au to-su stentação, a dequ ação de clientela, espaços físicos compatíveis com a nova atividade, etc. A agenda oficial da igreja esta mp ava vitoriosamente um a r elação de mais de 300 proj eto s sociais em todo o arraial presbiteriano independente. Contudo , o fato era que igrejas deficitárias, que m a l mantinham san eadas s u as finança s, embrenhavam-s e numa ave ntur a de sastrosa . U m a cri se adm i nistrativa acompanh ou 1é.·lI col/l ro de diácol/ os e d iacol/isas 1/0 acal/II)[{I/I el/I O da es t e mom ento , decorI " I PI de LOl/dril/ a, elll 1996 76

COdCl IlOS de OEstandarte


rente do despreparo de Mesas Diaconais e Conselhos para a co-gestão de tais projetos. Em muitos casos, a questão da ação social de uma igreja local passou a ser tratada em três instâncias diferentes : associações beneficentes, Mesa Diaconal e Conselho da igreja. O leva ntamento ainda está por ser feito, mas deixamos a pergunta: quantos projetos sobreviveram? e) V Congresso Nacional de Diaconia: de 9 a 12/7/1992, em São Paulo, SP, so b o t e ma: "Igreja apaixonada a serviço da vida". Com um cuidado es pecial na parte litúrgica, este congresso popularizou a canção "Barnabé", composição de Guilherme Kerr Neto e Jorge Hehder, como o hino da diaconia presbiteriana independente. Solidariedade e ecolo gia t a mb ém foram temas tratados, bem como as sempre oportunas "técnicas" de como organizar um proj eto social. f) VI Congresso Nacional de Diaconia: de 5 a 7/4/1996, em Londrina, PH, sob o tema: "Por uma igreja cidadã" A partir de 1995, inau gurou-se uma nova experiência na gestão da ação social da igreja . O Hev. Luiz Alberto de Mendonça Sabanay foi indicado pelo Supremo Concílio como secretário de diaconia . O novo secretário demonstrou muita h abilidade no trato com os departamentos internos da igreja, e, apoiando-se numa base de sustentação democrática, em pouco tempo a Secr etaria de Diaconia passou a ocupar papel importante dentro da estr utura da IPI do Bra sil. Este momento foi marcado pela participação intensa do s diáconos e diaconisas na condu ção do processo de construção de um a política diaconal para a IPI do Brasil. Outro detalhe que é de suprema importância é o avanço alcançado no tocante à composição da sua dir etoria. Embora a Secretaria de Diaconia continuasse a ser indicada pela Comissão Executiva da IPI do Brasil, esta diretoria entendeu que necessitava indicar uma Comissão Executiva Nacional, que tivesse por obj etivo "definir as ações e diretrizes da Secretaria Nacional de Diaconia no biênio 97/98. A Executiva Nacional foi composta por Adiloar Franco Zemuner (Londrina, PH), Sônia Leme da Hocha (Bauru, SP) , João F erreira Cunha (Salv ador, BA) , Dora Corre a Machado (Dourados, MT) e Francisca Cezarina da Silva (Fortaleza, CE), todos diáconos e diaconisas que participavam daquele congresso, indicados e co m ampla representação em Codernos de O Estandarte

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suas regiões . O mesmo grupo convidou uma equipe de assessoria, composta pelos Rev. Eliabe Gouveia de Deus, José Antônio Gonçalves, Márcio Pereira de So uza, Nenrod Douglas de Oliveü'a Santos, Rom eu Olmar Klich e pela missionária Virgínia Clare Gartrell, da Igreja Presbiteriana dos Esta do s Unidos, que h á muito contribuía com o Lar Betel. A forma que essa diretoria encontrou para desemp enhar se u papel foi através de um Programa de Formação Diaconal, utiliza ndo -se p ara isso de oficinas regionalizadas, encontro s e cursos específico s . Do Congresso r ealizado em Londrina saiu um documento que, entre outras ações, confirmou a nova estrutura proposta p ara o funcion a mento do movimento diaconal no âmbito da igr eja nacional, bem como indicou as diretr izes desta ação. Tais diretrizes são: a) garantir orientação básica para uma ação diaconal séria e en gajada; b) pleitear o direito de voz e voto para diáconos e diaconisas em todo s os concílios da igr eja; c) obter autonomia na execução de se us projetos; d) orientar as Mesas a se organizar, criando ONG's; e) promover form ação diaconal e treina mento contínuo; g) realizar divulgação eficiente do s diver sos proj eto s; h) propor a exclusão do ar t. 7<1 da Cons tit uição da IPI do Brasil (tra t a sobre a instrução para a contribuição liber a l e graciosa); i) organizar encontros regionais; j) produzir um m anual de diaconia. Na seção fin al foi a prova da uma moção pedindo a ordenação de mulheres ao presbitera to docente e regente, no s seguintes termos: "Nós, diáconos e diaconisas pl'esentes ao VI Congl"esso Nacional de Diaconia, le vamos fiO conhecimento do Supremo Concílio da IPI do Bnlsil, motivados pela n ecessidade de ig ualdade entre hom en s e mulheres dé1 nOSS;1 igreja, e p ara que eSSé1 igualdade é1conteça de fato e de dÚ"eito, que se faz n ecessário qu e é1S hllllh eres sejé1l1J ordené1dé1s é10 presbitenito e pé1StOl'é1do ". Ta mbém os pas tores presentes apresentaram um doc um ento, reconhecendo a importância de t a l solicitação e apoia ndo es te pedido . Em maio de 1997, a Secretaria de Diaconia passou a funcionar em su a nova sede nas dependências do Lar Betel em Sorocaba, SP, a mpliando assim o seu raio de atuação. Ao fin al de 1997, o relatório de atividades da Diaconia apontava particip ação no s seguintes evento s: Conferências Nacional e Estadual (Sp) 78

(odernos de OEstandarte


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dos Direitos da Criança e do Adolescente; Conferência Estadual <Sp) de Educação; Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana Unida; Comissão Externa da Câmara Federal pela defesa dos brasileiros no Paraguai e Controle do Tráfico de Crianças para Prostituição; Comissão Nacional da Pastoral da Terra; Criação da disciplina de Diaconia no Seminário Presbiteriano de Salvador; Encontro Intereclesial das CEB's; AssembléiaAnual e Conselho Fiscal da Comissão Ecumênica de Serviços/CESE; e Encontro Nacional da Juventude, do Conselho Latino Americano de Igrejas-Região Brasil. Em algumas regiões, as Mesas Diaconais conseguiram se organizar em pequenos fóruns regionais de diaconia, ampliando a idéia de secretarias presbiteriais de diaconia, realizando diversas ações conjuntas. Rev. Nenrod Douglas de Oliveira Santo assumiu a assessoria executiva da Diaconia, passando também a residir em Sorocaba em fevereiro de 1998. Nesse mesmo ano, a Secretaria de Diaconia assumiu um projeto social em Palmas, TO, ficando o Rev. José Antônio Gonçalves como responsável por este trabalho com um ambulatório médico e um posto avançado de missões. Foi pubiicado ainda n esse ano, em parceria com a Editora e Livraria Pendão Real, o livro Diaconia ou Pl'01110ção Humana, do Rev. AdieI Tito de Figueiredo, contendo testemunhos diaconais, a história deste movimento e outros textos afins. Como órgão responsável pela vocação, formação e capacitação teológica do diaconato, a Secretaria de Diaconia promoveu muitas campa. nhas no âmbito nacional, sendo que devem ser destacadas: a 2" Se111ana Diaconal, em julho de 1998, com a publicação de um a Cal·tIlh a de Orientação, ela borada pelo Rev.Márcio Pereira de Souza, e a 1"Jornada Nacional de Conscientização e Solidaúedade aos portadores do virus do HIV (Aids), realizada em dezembro de 1998, quando o Rev. Marcos Nunes da Silva preparou uma Cadilha de 01"l'entação, utilíssima para toda a reflexão da igreja em torno desta problemática . Ainda em 1998, iniciaram-se as primeiras tratativas no sentido de adequar as ações do Lar Betel e da Secretaria de Diaconia. Do livro de atas da diretoria executiva da Secretaria de Diaconia, destacamos o texto a seg uir.: ((Esteve presente o Presb. Azor do Prado Fen:'8.ira, presidente de Betel-Lar da Igreja, o qual expôs as necessidades e desafios da

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(odernos de O Estandarte

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instituição, colocando que o pensameJ)to da Diretoria é que Betel possa vú" fi ser o braço da Ação Social da IgTeja Nacional. Portanto, solicitou o apoio e assessoria da SND para uma proposta de formal' um grupo de tJ'abalho, a fim de estudar e encaminhar alternativas a questão do Betel, aiando estrutura jUlidica para a formação de uma Cent.ral Nacional de Projetos Sociais. Após discussão, conclui-se que a SND é um apêndice da instituição (IPIB), o que só poderá acontecer com a formação de um braço Institucional para desen volvimento da Ação Social. Se o Supremo Concilio entender que a SND é o braço gestor da Ação Social, estamos nos colocan do fi disposiçiío e em condições de gestar no campo social e político uma pl'Opostfl sobre o assunto"(Ata n° 3- 14,15/3/98) . g) VII Congresso Nacional de Diaconia: de 24 a 27/11/1998, em Salvador, BA, sob o tema: "Resgatando uma Espiritualidade Inte-

7" Congresso de Diaconia, Salvadol; liA , 1998

gral". Surgiu aí a disc ussão sobre a espiritu alidade, baseada num trinômio: solidariedade, justiça, cidadania .. O avanço nas discussões sobre participação política e cidadania ensejou, em muitas frentes, uma certa des confiança sobre o papel do diácono. Foi preciso um trabalho intenso de conscientização para que o grupo pudesse entender que não há dicotomia entre o serviço "espiritual" e o serviço diaconal. Retirados do Cade1''lJo MotivadO]; material para u so dos congressis80

rnrl~rnn, riA n F,fnnrlnrfp


tas, encontramos os objetivos específicos do mesmo: "1. Aprofundar o conceito bíblico e teológico do diaconato na perspectiva reform ada associado com a realidade socÍal do nosso país,' 2, Estudar os temas: Solidariedade' Justiça e Cidadania, resgatando uma espiritualidade integ1"al; 3, Refletú" sobre a missão e espiritualidade da ignya como testemunho integ1"al da fé; 4, Identificar as demandas sociais plioritárias para uma ação efetiva e conjugada do diaconato através dos projetos sociais,' 5, Buscar elementos para Lima ação efetiva da ig1"e;a na realidade para minimizar as causas. da exclusão social como testemunho da glória de Deus e a dig:nidado lwmflna,' 6, Avaliar, deliberar e propor sobre o futuro da vocação diaconal como ação institucionalizada na IPI do Brasil, }} Nos dias 29 de abril a 2 d maio de 1999, em São Paulo, SP, foi realizado um seminário de planejamento para o quadriênio 1999-2002, Nesse encontro, os 28 participantes [oram desafiados a preparar um texto que resumisse os objetivos la diaconia, a saber< "mamfestar a glória de Deus em atos de amor fi EJ' o fiO pi'óximo, através da adoI'ação, do serviço, da vida com unit;íril1 o dfl proclamação das boas novas do Reino, em obediência a Cris to, nl1 unçÃo do Espírito e na unidade visível da ig1"e.1a'~ E ainda: "Promovor o testemunhal' uma esperança viva por meio de relações justas ent:r' os sel'es humanos e a aúção de Deus, a partir das penfen'as de nOSSl1S cidades, do nosso país e do mundo'~ Outro tema que surgiu nessas discussões foi o trinômio "solidan'edade, justiça e cÍdfldanjfl '~ O gr upo entendeu então que "todas estas pTopostas devem seT executadas, sem perder de vista o conceito de uma espiritualidade inte-

p 'a r h) VIII Congresso Nacional de Diaconia: de 14 a17/11/2001, em Sumaré, SP, sob o tema "Revendo a Espiritualidade e Ação Diaconal da Igreja", Foi o maior congresso, contando com a inscrição de mais de 300 diáconos e diaconisas de todo o Brasil. Sob a direção do Rev, Eliabe Gouveia de Deus, secretário de diaconia, o congresso teve co mo preletores e motivadores os Revs, Carlos Queiros, Marcos Inhauser, Valdinei Aparecido Ferreira e Leontino Farias dos Santos, além do ProL DI', José Adriano Filho. Uma ênfase muito grande foi dada à necessidade de um a liturgia dinâmica e contextualizada, sendo que, em todos os momentos devocionais, havia uma proposta litúrgica, r"nemn< ne

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Pa rlicij!wlle.l' do 8" COlI gre.l'.I'o de Diaco/lia, rea lizado ell/ SlIIlI a r é, S/~ /l O WIO d e 200 j

um t ema específico e gestos apropria dos. O Rev. Ism ael Gomes Júnior foi en carregado de selecionar as canções, en comendando -se a ele o cuida do em m esclar ca nções qu e re presentasse m todos os estilos mu sica is presentes n a vida da igr ja hoj e. Primou -se pela qualid a de teológica dos t extos e pela utiliza ção de cada can ção em seu mom ento a pr opria do. Os t exto s das palestras, as canções, as liturgias e devocionais foram impressas num Ca del:110 Motiva dor par a u so dos congr essistas . O congr esso procurou discutir o t ema da espir itualida de sob a ótica diaconal. Viu -se que a igreja, que vem sofrendo grande influ ência do movimento gosp el, precisa r ever seu s conceitos sobre o sentido da verda deira espir itua lida de, que deve ir além de ges to s repetitivos, co mo levantar as m ã os, dizer fr ases de efeitos no mom ento do louvor, etc. I< oi dito m ais de uma vez que "as m ãos que se er guem para louv ar devem ser as mesm as que se a baixa m para levantar aquele que es tá caíd o". A presen ça m assiva de diáconos e diaconisas foi muito importante. A ple n ár i a d es t e co n g r ess o e lege u a s u a di re tori a, i s to é, os diácono s(isas) qu e passaria m a compor a diretoria já existente . Fora m indicados(as): M aria Inês Barbo a (Londrina,PR) , Dora Ma ch a do Corr eia Ne to (Dour a dos, MS) , M a ria do Socorr o Silva (Ma n a u s, AM) , Samuel Oliveira Cerqu eira (S ão P aulo , SP) e Sa muel Teixeira Lima (Forta leza, CE) . 82 '

(mle/llos de OEstandartr.


Poro onde cominho o dioconio? Em 1999, teve início a gestão administrativa do grupo liderado pelo Rev. Leontino Farias dos Santos. P ar a a r elatoria da Secret aria Nacional de Ação Social e Diaconia foi indica do o Rev. Már cio P er eira de Souza, acompa nhado dos seguintes membr os: Diaconisas Dora Correa Machado (Doura dos, MT) , Francisca Cezarina da Silva (Fortaleza, CE) , Maria Inês Barbosa Mar ques (Londrina, PR) , Neide Pereira Barros (São P aulo, SP) e Sônia Leme da Ro cha (Bauru, SP) e Revs. Eli abe Gouveia de Deu s (Salva dor, BA), Gessé Moraes de Ar aújo (Sor ocaba, SP) , e José Antônio Gonçalves (Palmas, TO) . O Rev. Nenrod Do u 1:1 Oliveira Santos continuou n a função de secretário executivo. Alegando dificuldades p s ais, o relator indicado não assumiu, permanecendo entretanto na di r toria, e foi sub stituído pelo Rev. Eliabe Gouveia de Deu s . Cumpriu a es ta diretoria coJocm ' m funciona mento o pla neja mento estratégico para os a nos de J a 2002, surgido do Congresso de Lonch'ina em 1996. O docum ento " Sem jJ]fírÍo d . } 'Ji1J1ci'vJ1 cnto 1999-2002' lista as prinipais ações : a) Form ação' a i aci tação de Agentes Diaconais; b) Mobilização e articulação om as i T jas; c) Divulgação e Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania; d) olidarieda de e Poimênica (instruções e procedim entos pa r a a prática da solidarieda de e visitação aos necessitados) . Boa parte destas tarefa foi cumprida, o que projetou a Secr etaria Nacional de Ação Social e Diacon ia no enário denomil1acional e intereclesiástico. I'ruto deste reconhecimentos' o subsídio financeiro e t écnico recebido pela Secretaria par a diversos de seus projetos.Entre os parceiros podemos cit ar: Coordenadoria Ecumênica de Serviços (CESE), Diaconia do Nordeste, Visão Mundial, Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos (PCUSA) e Missão e Diaconato Mundial de Igr ejas Reform adas da Holanda . Além dos cursos e oficinas de forma ção, algumas campanhas for a m r ealiza das com um alca nce muito gr a nde, como é o caso do Progr a ma Emer gencial do Comba t e a Fome no Nordeste, da s Ca mp anhas de Solidariedade e Comba te a Aids, e as Semanas Diaconais. Como r esultado desta nova fase institucional, devemos apontar a Cadernos de OEstandarte

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criação da Associação Betel, como produto das reflexões diaconais em torno da melhoria dos serviços da IPI do Brasil. Foi num encontro realizado entre 10 e 11/11/1999, em São Paulo, que a coordenação da Secretaria Nacional de Diaconia começou a discu tir su a relação com Betel. A essa altu ra, claro est ava para todos que o papel da Secretaria de Diaconia seria o de inspirar, treinar, fomentar a vocação diaconal da igr eja, sendo que Betel seria o braço institucion al des ta vocação . Em encontro posterior com a diretor ia de Betel ficou estabelecido que seria encaminhado um docum ento à Secretaria Executiva da IPI do Brasil, propondo: a) ma nter a Secretaria de Diaconia e Associação Bete!; b) desmembrar o docum ento apresentado como proposta, faz endo distinção da missão de cada organismo;c) manual de oper aciona lização da Associação Betel apresentado pelo Rev. José Antônio Gonçalves; d) a provação do desm embra mento da s Casas Lares de Bete!; e) o recebimento por doação de t erreno em Cesário La n ge, SP, com 25.000 m2, destinado à con strução de um Centro de Reabilitação Humana. Atualmente, pode-se dizer que exis te um conflito de papéis entre a Associação Betel e a Secretaria de Diaconia, qu e precisa ser soluciona do. Além disso, devemo s insistir num des perta m ento mais precoce de vocações diaconais . É urgente que se formem diáconos e diaconisas entre os mais jovens, e que essa juventude venha a se juntar com a nossa quase centenária experiência diaconal. Há ainda um último sonho e bandeira de luta. O sonho não está muito longe de se realizar: o de qu e o movimento diaconal seja conduzido essen cialmente por diáconos e diaconisas. A bandeira é algo por ser ainda decidido: a Assembléia de Betel deve ser o Congresso Nacional de Diaconia, pois são os diáconos e as diaconisas que m ais entendem de projetos sociais, e n ão a Assembléia Geral da Igreja, como hoje está estabelecido. São do Rev. Adiel Tito de Fig ueiredo as palavras finais .' "Minha vida tem acalentado sonhos. Sonhos que n ão são miragen s, que n ão se vão com o vento nem p assam com as nuven s. Sonhos que se efetivam e se transformam eml'eajjdade '~

• o Rev. Márcio é professor do Seminário Teológico de São Paulo da IPI do Brasil, pastor da IPI de Casa Verde, em São Paulo,

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Sp, e membro da Secretaria Nacional de Ação Social e Oiaconia da IPI do Brasil

(miemos de OEstandarte


A IPI do Brasil nos "anos de

chumbo" (l964- 1985) Rev, Df. Leonildo Silveira Campos

A

descrição' inL ' I'PI' 'Lação do discurso e do comportamento ins tituciona l d:1 I PI lo Brasil entre os anos 60 e 80 é o objetivo deste t exto, Consider:11 OH co mo "ditadura militar" ou "anos de chumbo" aquele perío do qu s ini 'iou no final de março de 1964, quando os militares assumiram o (;o l1L ro l ' d Estado brasileiro, t erminando somente 21 anos mais tn I'd (" um 1')85 , No decorrer dess' 'S LlI<!O, Lorna -s fácil perce ber que muitos eventos no interior das igreja s 'V il 11 1-\" 1i '11 ' 'n ontram o seu paralelo na história política e cultural do País , POI' x ' mplo , o primeiro mandato do R ev. Abi vaI foi um período cI ":11> I'LUI" " na IPI, coincidindo com a mobilização ocorrida n a sociedad' 'ivi l, qu ' pressionou os militares a darem fim ao regime autoritário. J :í I Ol' Rua vez, as administrações anteriores, do Rev, Daily Resend ' Jo' l'nnça (1965-1971) e do Rev. José Coelho F erraz (1 972-1982), podem S ' t' 'ncaradas como períodos de "fechamento" da igreja dentro das ft'ont 'iras ideológicas, em que houve a implantação de um a adminis tração centralizada e da presença de autoritarismo nas relações entre concílios, igrejas locais, pastores e leigos, emb ora no decorrer do m a ndato deles n ão se possa afirmar que t enha h avido uma espécie de "ditadura eclesiás tica". A principal fonte para a recons tituição da interação social e da ação da s pessoas que governaram a IPI do Brasil n aqu eles tempos foi a coleção de O Estandarte, e mbora tenhamo-nos baseado, tamb ém, em nossas próprias m emórias, as quais procura mos confrontar com as de outras pessoas. Os "anos de chumbo" (1964- 1985) se caracteriza ram pela t entativa de reorganização política, econômica e jurídica do Brasil, seguindo à risca os critérios definidos pela cha m a da Doutrina de Segurança NaciOJJfll. Foi dentro desses marcos ideológicos que ocorreram processos eco(adelllOS de OEstalldarte

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nômicos como: a abertura da economia para as grandes empresas multinacionais, o aumento de investimentos financeiros vindos do exterior à título de empréstimo e a modernização do parque industrial brasileiro. Tudo isso provocou, não há dúvidas, o crescimento do Brasil, mas acabou atolando a sua economia numa dívida externa, que saltou dos 2,5 bilhões de dólares, em 1964, para mais de 120 bilhões, no final do período militar. Na área jurídica criaram-se muitas novas leis que se baseavam no press uposto de que o Estado seria a fonte dos direitos humanos, inclusive do direito de tirar a vida ou de banir do território brasileiro aqueles cidadãos que "atentassem à segura nça" do Estado. Essa doutrina da Segurança Naáonal inspirou dir etamente atos institucionais, que deram origem a arbitrariedades como: cassações de mandatos, fechamento de casas legislativas, afastamento de juízes e prisões sem controle do judicia l. O Ato Institucional n05 foi um deles, um típico ato ditatorial. O ideal de "democracia representativa" foi duramente golpeado naquela período. A implantação dessa ideologia da segurança nacional contou com o apoio das instituições religiosa , que eram consideradas parceiras do Estado na m anutenção da segurança e da ordem pública. Como doutrina e estrat égia, ela foi elaborada por setores h ege mônicos dos Estados Unidos, transmitidas a uma geração de militares latino -americanos, que tomaram o poder em se us respectivos pa íses, se mpre agitando a bandeira do comb ate ao comunismo e à corrupção. Essa ideolo gia era repassada aos empresários, líderes civis e religiosos, por meio de cursos dados na Associação de Diplomados da Escola Superior de Gu erra (ADESG), dos quais vários pastores da IPI e de outras denominações participaram ativamente.

1. A IPI do Brasil e os tensões no período a nterior aos "anos de chumbo " O período que antecedeu os "anos de chumbo" foi marcado por manifestações nacionalistas, as quais recebiam estímulos ou tolerância de um modelo de Estado populista e clientelista, implementado no Brasil e na América Latina desde os anos 30. Contudo, em 1964, esse tipo de Estado vivia a su a crise final, em parte por causa da ofensiva eco nômica desencadeada pelas multinacionais, pela demanda norte-americana 86

(ademos de O Estandarte


por segurança no continente, assim como também pelas relações de clientelismo e de corrupção que se engendravam em seu processo de dominação. O golpe militar de 1964 foi antecedido por uma intensa luta ideológica, que sacudiu as instituições seculares e religiosas brasileiras, entre 1960 e 1964. Essa polarização atingiu tanto as camadas médias como o proletariado urbano e rural cio País, afetando em particular as camadas mais jovens, que ansiavam pOt' mudanças concretas na sociedade brasileira. Essa tensão, tamb ' In f'ot't nn H igr 'jas evangélicas, instituiu conflitos internos e formas de moi>i I iy,llçilO, I vando os fiéis das várias denominações r eligiosas a um a tOll1l1dn d d 'iHiio, quase sempre contra o comunismo e só esporadicam nLo I f'IIVOt' dil8 hamadas "reformas de base". Nesse p eríodo , o cll l,oli 'iH lno bt'D Si] iro , tradicionalm e nte IIllticomunist a, tam b( nl MO IllObili y,ou, pl"' paran do caminho para a IIlLerversão milita r, 1':vonLOH li \ maSH<1 O orreram entre os católicos, no ri nal de 1963 ' i 11 ício d< I !)(jt1 , ' ntr les as famosas "marchas da família 'om Deus p In lil> 'I'dado" ou a "cru zada do rosário pela liberdade", maniC 8Lnçõ 'H I ' m assas estimuladas por governadores de direita como Ademar de Barros, em São Paulo, Magalhães Pinto, em Minas Gerais, e Carlos Lacerda, na Guanabara. Enquanto isso, os evangélicos realizaram um "dia nacional de oração e jejum", convocado sob a liderança do pastor Enéas Tognini, um batista pentecostal, para o dia 15/11/63. O

I~'(hjfr.:io da Facilidade de Teologia da I PI do /J ra.l'il, loca lizado /lO .Id. /Jo/l/lig /io/i, S/~

/Ia década de 60.

((Jdelllos de OEstandarte

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objetivo explícito desse jejum era "pedir a proteção de Deus", evitandose assim a "instauração de um regime comunista no Brasil". A essa altura, muitos templos evangélicos, inclusive da IPI do Brasil, já desempenhavam um importante papel na distribuição de alimentos doado s pela Aliança para o Progl"esso no Brasil, uma campanha norte-americana destinada a desarmar a insatisfação popular nos países pobres com a fome, miséria e política externa norte-america na. Essas tensões ideológicas se avolumara m a pós a realização da Conferência do Nordeste, realizada em julho de 1962, sobre o t ema" Cristo e o Processo Revolucionário BraslJeird'. Dela participaram alguns intelectuais não-evangélicos como: Celso Furtado, Gilberto Freire, Paulo S.inger, Juarez R.B. Lopes, que falaram ao lado de outros conhecidos nomes do mundo evangélico, a maioria deles famo sos por suas posturas "liberais" como os Revs. João Dias de Araújo, Joaquim Beato, Almir dos Santos, Edmundo Sherril e outros. Mas havia também, naquela Conferência, conservadores, como por exemplo, o presbiteriano independente Rev. Sebastião Gomes Moreira, cujo t ema da palestra "Cristo - a única solução para os problemas do Brasil", gerou intensos debates, dada a presp,nça de participantes que faziam um a leitura da realidade brasileira calcada e m modelos ideológü ')s filo-marxist as. Para est es últimos, a mensagem do ilustre pastor da IPI do Brasil seria mais um exemplo de como a religião teria se tornado o "ópio do povo". Essa Conferência no Recife, na realidade, foi a IV Reunião de Estudos convocada pelo "Setqr de Responsabilidade Social da Igreja", da Confederação Evan gélica do Brasil. Como parte desse processo de "conscientização" n a IPI do Brasil circulava entre pastores e seminaristas, graças à importação e distribuição de livros, a partir de alunos do Seminário de São Paulo, textos do padre Lebret; do "teólogo da r evolução", Richard ShaulL de pensadores do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), t ais como Egbert de Vries e Paul Albrech, assim como textos d e t eólo gos considerados pel os fundamentalistas como "pouco-ortodoxos", t ais como Barth, Brunner, Tillich, Bultmann, Dodd e outros. Nesse período, a histór ia das lutas e t endências ideológicas, teológicas e administra tivas n a IPI seguiam de perto o que ocorria na IPB. No interior das duas denomin ações presbiteria nas no Brasil, as tensões entre capitalismo e co munismo se davam através do embate t eológico 88

(odernos de O Estondarte


entre "fundamentalistas" e "liberais", "modernistas" e "conservadores", embora muitos deles não soubessem distinguir bem entre uma coisa e outra . Aos chamados "liberais", os "protestantes da r et a doutr ina", no dizer de Rubem Alves, atribuía m, além da "inclinação para o comunismo", a tendência teológica "modernist a" e "ecumênica". Contudo, naqu I s anos anteriores a 1964, já começavam a ser percebidos fenôm no s qu e seriam considerados grand es problema s denominacionais no I rasi I. até o final do século XX: a quest ão da p erda de a utoridade dos '0 // 'í/ios; a erosão da identidade denominacional. a diminuição da leflld"(/,, (/1I.'i p 'ssoas à tradição histórica de suas respectivas igrejas; o Cl"CSC1.t Il (' // Ü) () 1/ h gemonia dos grupos p entecostais, r esultando tudo isso numa ro 'o lllpoHiçi'í.o do campo r eligioso desfavor ável para o protestantismo traclicio llill , eI 'nLro do qual a IPI sempre se inseriu. Algumas das muel:\ I1 ~:I\H l.oo l6gicas começaram com a presença do missionário norte-nm ' l'it:il ll O I{i chard Sh aull. No Brasil e no Seminário Presbiteriano de Ca mpill/1 H, (/ OHeI ' o início dos anos 50 até o começo dos anos 60, depois no M:\d\l' nzi \ no apoio a organizações crist ãs estudantis, irradiava uma ( nOI ' 11l inf"lu ' o ia sobre jovens pastores e lídere s de juventude, t a nLo na I PI~ '01110 também na IPI. Porém, no lado conservador surgiam nOvt\H fo)"mas d mobilizar a juventude, que ganharam corpo em ã Pnll lo ' 0 11 ti ins talação da organizaçã o norte-americana de origem ba Li f:l Ln, mt1 f:l "int rdenominacional" em suas inetas de ação, Palflvra di! Vidn , que montou m Atibaia, por volta de 1955, um centro naciona l dedi ado ao acolhim nto de jovens em seu acampamento. Os missionários dessa entidade para-eclesiástica r ealizavam cruzadas de evangelização, com muita música e pregações, em igrejas de todo o País. Posteriormente, seguindo o exemplo da Palavra da Vida, alguns outros movimentos n ativos t a mbém se organizaram com propósitos sem elhant~ s, tais como os Jovens da Verdade, Joven s em O"isto, e outros mais. A porta de entrada nas igrejas locais er a uma nova form a de cantar - os corinhos - e uma maneira mais informal de expressar a r eligiosidade e de se comportar no espaço litúrgico. No entanto, por detrás desse aparente liberalismo havia uma reafirmação de uma men sagem fortemente fundamentalista e conservadora qua nto, aos hábitos, costumes e doutrinas. Nos encontros de juventude, e em outros congressos daquel. s nnOH de tensão, circulavam muitos pregadores e literatura, que fa ziam r rI · I

rnrlr.rnol rir.

nFllrlflrlllrle

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rência ao combate ao comunismo e ao romanismo como formas necessárias de evangelização. Com relação ao comunismo, o fervor e preocupação se aguçaram após a revolução comunista em Cuba Ganeiro de 1959). Parte dessa literatura, oriunda dos EUA, referia-se à prática "desumana" dos comunistas chineses, que teriam realizado atos de "lavagem cerebral" na Guerra da Coréia, e aos paredões de fuzilamento do regime castrista, em. Cub a. A mobilização dos evangélicos brasileiros contra o comunismo foi um a meta muito importante na agenda de entidades norte -american as nesse período . Porém, o anticomunismo dos protestantes brasileiros, já muito forte desde que apareceram em cena no Brasil nos anos 30 os movimentos políticos e sindicais desencadeados pelo Partido Comunista do Brasil (fundado em 1922) ou pelos anarco-sindicalistas, veio à tona com muito vigor e energia nos anos 60, inclusive na Conferência do Nordeste, com panfletos e folhetos anticomunistas, que foram encaminhados para serem distribuídos aos congressistas. Mesmo assim, uma liderança jovem da IPI do Brasil, integrada por Xel Santana Graça, Roberto Vicente Themudo Lessa, Moisés Campos de Aguiar Neto, Ferdinando Caldeira, Josué Pacheco de Lima e outros, insistia, por meio da Confederação da Mocidade Presbiteriana Independente (Umpismo), em desvincular o comunismo da necessária preo'cupação social, política e ec umênica. Entre eles estavam crentes idealistas e conservadores, como Hélio Teixeira Calado, que participou e divulgou, em 1962-1963, os resultados da Conferência do Nordeste no interior de São Paulo, fazendo pales tras e mostrando inclusive o material que circulou naquele evento. Ta mb ém circulavam alguns documentos publicados pela Confederação do Umpismo naquele período (Docu mentos de Batuca tu, 1964, por exemplo) , os quais insistiam na ação profética, social e política da igreja para os novos tempos que se julgavam "revolucionários". Nesse contexto começaram os preparativos para o Congresso Nacional do Umpismo, marcado para julho de 1964, mas que acabou sendo adiado para o a no seguinte por causa do golpe militar. A liderança da IPI desconfiava de alguns dos oradores convidados, entre outros, de um jovem ministro da IPB, ainda quase desconhecido, Rubem Alves. Apesar dos receios e oposições, esse Congresso acabou sendo realizado em 1965, na cidade de Curitiba, PR, para onde a Mesa Administrativa do Supremo Concílio da IPI enviou três de seus líderes para acompanhar, 90

((Jdernos de OEstandorte


como observadores, todo o desenrolar daquele evento. Nos anos seguintes, por influência do movimento estudantil, que no mundo todo se agitava contra o autoritarismo e t a mbém contra a Guerra do Vietn ã, no Brasil, os joven s evangélicos, que eram universitários, tamb ém protestavam, e muitos deles, es pecialmente seminarista s de São Paulo, participava m de passeatas estudantis. Todavia, a represália dos conservadores veio rapidamente e grande parte dessa geração foi sendo alijada de seus postos no interior das denominações. Muitos desses jovens ou abandonaram as igrejas ou entraram para movimentos que, no fin al dos anos 60 e início dos 70, se tornariam conhecid.9s como "movimentos revolucionários subversivos" . Na Confederação Evangéhca do Brasil, a partir de 1964, o grupo cons ervador, impulsionado pela nova lider ança na IPB, exRevs. Leonildo Silveira Call/pos e Leol/lil/o purgou, a mando dos militares, a Farias dos Sal/lo.I·, "r(~/essores do Seminário liderança jovem, cujo pa pel desde São Palllo desde C/ década de 70. de a Confer ência do Nordeste tinha sido decisiva. Nessa época foram demitidos, entre outros, Jovelino P ereira Ramos e Waldo César. Cabe ressaltar que o registro histórico do que aconteceu na IPB e n a Confederação Evangélica do Brasil (CEB) , naquele período, é importante para se entender o que ocorreu n a IPI, dada a filiação da IPI à CEB e à sua ligação histórica com a IPB . A import â ncia' de tais ligações se deve ao fato de que elas se der a m no mes mo t empo, isto é, a r epressão desenca deada na IPB e os ensaios repressivos estimulados por Daily Resende França, um ex-candidato ao ministério da IPB que passou para a IPI, acabando por assumir a presiclên ia elo Supremo Concílio, em 1965. Arepressão na IPB m ereceu um relato h iRLórico de João Dias Araújo (Inquisição sem Fogueiras) e um t s d< livn docência na área de ciências humanas, ele Rubem j\lv ::; (Pr /,'(,'1/11 /1/ i"'; lIl rJ e Repressão), na Universidade de Campinas, a ssim '() 11 10 di VOt' HII H (nrl o. rnn~

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dissertacões de mestrado no Curso de Pós-Graduação em Ciências da Religião, da Universidade Metodista de São Paulo.

2 . A IPI do Brosil e os primeiros "onos de chumbo" ( 196 LI- o 1969) Como os evan gélicos receberam o golpe militar de 1964? De um a m an eira geral, as denominações evangélicas em su as bases se comportaram como o restante da classe média brasileira, que se sentia a medronta da com o risco de uma "rcpública sindicalista" ou de um "regime vermelho". 'le mia-se que o avanço da classe trabalhadora na direção de um possível controle do Estado significasse a chegada do comunismo e o fim da liberda de de pregação do evan gelho . Por isso, as elites eclesiásticas se manifestaram rapidamente a favor do golpe militar, envia ndo t elegr a mas de congratulações aos militares, e, para se adequarem aos novos t empos, desenc adeara m processos internos de caça às bruxas ou simplesmente passaram a escrever em seu s jornais m ais sobre assuntos de carát er pastoral e espiritual do que sobre temas ligados ao contexto social e político. A r eação dos membros das várias denominações protestantes brasileiras pode ser dividida entre "aturdido s", "indifercntes", "prudentes" e "entusiastas" do golpe milita r. Nas denominações mais alinhadas com o Conselho Mundial de Igreja (metodist as, luteranos e episcopais) houve inicialmente um desconforto, dada a abertura que internamente se dava n essas denominações aos temas políticos. Posteriormente, algum as alas dessas igrejas se curvaram ao regime militar. A IPI registrou a seguinte r eação, esboçada n a edição de 15/4/64 de O Estandarte, sob o título "O país t em um novo presidente": ((O país foi atingido pOT um movimento revolucionário de g]'andes propOTções e que tem implicações muito pl'ofundas () o antigo pTesidente da R ep ública n ão esta va conduzindo-se com a ustendade, mas ameaçava le var o p aís a rumos p erigosos () os gl'L/pos democráticos dá oposição, contando com o apoio das F01"çasArm adas, p1"ovocaram mudan ças radicais () posteriormente o Alto Comando R evolucionáTio, assumindo a . lidel'an ça definitiva da situação, deu a conhecer o Ato Ins titucional [AI1] .. sen do cei . to que s ua vigência seTá.ius tifica da até que se eliminem as ca usas que 1770tivaTam a re volução, isto é,o com unismo e a corrupção. Temos jústos motivos paTa aplaudir a ação TevolucionáTia, acrescentan92

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do que veio em muito boa hora () Confiemos em sua ação administrativa e em seus propósitos moralizadores. Sobretudo oremos: Deus guarde o Pl·esidente. Deus salve a pátria." No mesmo número de O Estandarte, em sua dinâ mica coluna Doutl'inas, verdades, opiniões e cW10sidades, o Rev. Sérgio Paulo Freddi inseriu uma nota que seguia as linhas editoriais do jornal: "Caiu o Jango", principalmente "por causa de sua omissão", pois segundo o articulista: "os com unistas aboleta vam -se no poder e prepaI'a vam -se p élra, a través de um golpe, dominaI' o país. Governa agoI'a o Marechal Humberto Castelo BI'anco, e a nossa posição de Evangélicos, que respeitamos as autoâdades constituídas, não pode sel; com J:'eférência aos perdedores a de ódio e da vindita () O comunismo é inimigo do Evangelho, por certo. Mas os cn.stãos amam os inimigos e pregam a CJ:1StO." Porém, poucos dias após o golpe militar de 1964, começaram os reajustes internos em todos os níveis no protestantismo brasileiro, a começar com a Confederação Evangélica do Brasil, cuja diretoria demitiu colaboradores. Nas denominações presbiterianas houve a ascensão de novas lideranças autoritárias. Na IPB, assumiu o Rev. Boanerges Ribeiro e, na IPI, o Rev. Daily Rezende França (1965-1966), demonstrando que es tava em andamento uma certa acomodação dos presbiterianos brasileiros ao novo momento político autoritário no País. Após esse endurecimento ocorrell, especialmente com a juventude, um certo desânimo e redução na esperança de que as igrejas oferecessem canais para uma ação política mais transformadora da sociedade brasileira. Essa atitude se expressou no abandono ou na exclusão das igrejas de jovens membros e pastores que contestavam os limites e autoridades denominacionais.Acaça às bruxas "modernistas", "ecumênicas" ou "subversivas" afetaria diretamente a juventude presbiteriana brasileira . Por exemplo, a Mesa Administrativa, instância então encarregada de administrar a IPI no interregno das reuniões do Supremo Concílio, recebeu, em sua reunião de 29 e 30 de setembro de 1966, um ''Memorial'' subscrito por 14 pastores e 28 presbíteros contendo denúncias contra um grupo de pastores jovens, exigindo que medidas repressivas fossem tomadas contra eles, imediatamente. Os dizeres do documento apresentado em alguns trechos aqui selecionados falam por si mesmos sobre o clima "revolucionário" que havia cO~1tagiado a IPI naquele momento: "Nós abaúw assinado, Pastores e Presbíteros, tendo em vista a Paz, a Cadernos de OEstandarte

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P ureza e a Santidade da IPIB;preocupados e impression ados com alg uns latos que n os t êm ch ega do ao conh ecim en to, vim os, através deste MEMORIAL, p erante essa Egrégia M esa A dministrativa, solicital" ( ) m edidas c Pl'ovidências urgen tes se.iam tom adas, evitando assim con seqüên cias m ais desastrosas p ara a n ossa Igre.ia, e conseqüen tem en te para o e vangelism o n acion al ( ) 1) Há um grupo de m inistros .lo vens que, adotando uma ori entação teológica contrál 'ia aos p1"ln CÍpios do n osso P resbiterianism o (,) vem tentan do, p or di versos m odos e m ei os al'r egimcntarse numa n"ente unida paTa mudar os r umos da IPIB. .Al g uns Pastores, através do Púlpito, em CONGR ESSOS e m esm o p elo n osso óI'{f'ão on dal () vêm expendendo idéias abs ur das a l"esp ei to de PECADO, da OBRA EXPIATÓRIA DE CRIS TO, da INSPl RAÇÃODABÍBLIA, etc, () 2)A a utoridade do S uprem o ConCÍlio vem sendo dúmnuída através de pronunciamentos em .ior11ais e boletIns de igre.ias locais, Algumas de s uas l'esoluções desr esp eitadas e uma delas, a que se rel ere ao E cumenism o e a cessão dos n ossos púlpitos a p adres, cavilosam en te intelpreta da, 3) Há presbitérios, que n o uso de s ua auton omia (?), vem licenciando e Old en ando candidatos sem estar em con victos dos prinCÍpi os dout1"lnáá os que são basilares ( ) 4) Pastor da IPI de CU1"lliba: Ser m ões ecumênicos, entrega de dinh eiro da Igl"e.ia p ara a m anuten ção do Centro Ecumênico de Cwitiba e púlpito a p adres, sermões políticos, ser m ões sobre tem as sexuais (an exo boletim coni resumo do serm ão sobre 'r elações pré-matrim oniais~, 5) Licen cia do Gabúel Pi tta, candidato não apro vado 'devido a dili'culdades de doutn l]a, relativa à m açonaria ( ) 6) O .i01'11al 'Palavra~ órgão da UMPI de Vila Iara, publicà artigos p erigosos e comprom etedor es ( ) 7) Hi elem entos que estão em postos di.retivos do trabalho de m ocidade, comprometidos doutrinária e ideologicam (mte que de vem ser a!ástados, p ara que a nossa .iuventude possa seguir r umos Ce1"tos e r ealizar um trabalho útil n a Igre.ia.. , '~ A M esaAdminis tra tiva nomeou uma Comissão para estudar a qu est ã o, que regis trou: "A Comissão r econhece a gravidade do assun to, pois

os la tos ap ontados apresentam um grande m al p ara Igr e.ia e deve a M esa tomar pronta e decisiva atitude sobre o assunto () que cabe aos denunciantes a apresentação das provas do al ega do, no prazo de 30 dias'. Os denuncia ntes, no enta nto, n a reuniã o de 10 de nove mbro de 1966, a presenta r a m um novo documento a legando que n ão cab eria a eles produzir em provas e informa va m esperar m edidas sever as por part e 94

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== da Mesa. Foi então que a Mesa Administrativa deliberou que se solicitasse aos presbitérios a abertura de processos eclesiásticos contra os pastores Roberto Vicente Cruz Themudo Lessa, Moisés Campos de Aguiar Neto e Mathias Quintela de Souza, e que providências fo ssem tomadas em nível de presbitérios com referência a outros casos de pastores, igrejas e lideranças jovens, que desobedecessem o estabelecido quanto ao ecumenismo, ou seja, a participação em cerimônias proibidas pelo Supremo Concílio. O processo contra os pastores resultou em n ada quanto ao Rev. Mathias, na su spensão do Rev. Roberto Lessa (cujo processo foi anulado pelo Sínodo e o Presbitério simplesmente n ão voltou a considerar o Rev. Lessa como seu integrante, sendo o mesmo arrolado post eriormente pelo Presbitério de São Paulo) e na cassação "branca" (forçada e disfarçada de "renúncia ao ministério") do Rev. Moisés. Quanto à Confederação do Umpismo, iniciou-se um processo de dispersão que sequ er o sucesso do Congresso de Brasília (1968) viria det er, desmobilização essa que nunca mais foi revertida. Mesmo assim, o alinhamento ideológico da IPI ao regime militar se daria com maior intensidade e de um a forma mais explícita somente após 1968, já no governo Médici, quando alguns pastores e leigos da IPI assumiam com desenvoltura o discurso do governo da revolução . Teve um papel deci$ivo nessa adesão o Rev. Daily Resende França, cuja mor-

Rev. Jailll e Wri fi lll, da lfi reja Presb. Unida do IJrasil. Traba lh oll 11 0 fJ/ 'I!jetli "lJrasiL Nunca Mais", com. a a rquidiocese de São Paulo da lfi r ~ja Cltóli(.'o, / /1) levantam ento de wli. dossiê sobre a tortura e a perseg lliçc'io d 'sell volvida,\' lido reg illl e lIIilitor

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te em um trágico acidente automobilístico, rendeu um editorial na obrigatória cadeia radiofônica "A HOl'a do Brasil" nestes termos: "Sábado, faleceu o Rev. DalJy Resende França, pastol' em São Paulo, Com ele a glon'os/J revolução de março de 1964 perdeu um de seus gl'andes s ustentáculos e amigo .. ,'~ Ficava então pública e notória a proximidade do presidente do Supremo Concílio da IPI do Brasil com o regime militar, É claro que tal alinhamento, acreditamos nós, não pode t er nascido de um a má-fé desses pastores e leigos, Para eles, muitos funcionários públicos. a participação em um regime de exceção era um mal menor, diante da oportunidade que tinham de "testemunhar os seus princípios de fé" e de colaborar com a "grandeza do País", Um exemplo desse tipo de conduta, burocraticamente correta, pode ser visto na trajetória de vida do Rev, Sérgio Paulo Freddi (falecido em1972), pastor e jornalista, pessoa simpática, e, segundo as su as ovelhas e familiares, "um amoroso chefe de família e pastor", que foi o responsável, nos últimos anos de sua vida, pela agência paulista da Assessoria Especial da Presidência da República (AEPR), um órgão encarregado da propaganda do regime militar em cada Estado da federação, O Rev, Freddi, como milhares de outros pastores brasileiros daquele momento, era uma pessoa pouco preocupada com questões políticas e militares que poderiam brotar de seu trabalho, Na visão deles, condicionada por um mundo burocrático, cada um deveria cooperar pelo bem estar da nação, naquele momento incorporado pelos que detinham o poder militar, Mas bem próximo daqueles pastores e fiéis evan gélicos, nos porões da repressão e nas ruas, se davam os embates entre as "forças da lei" e a "subversão", uma "guerra suja", na qual não faltGlram assassinatos, tortura, assalto a bancos, desaparecimento de presos, que resultou em centenas de mortos e feridos, A cooptação de quadros dirigentes nos meios conservadores, que fossem leais ao novo regime político, encontrou nos evangélicos muitas pessoas dispostas a aceitar tais cargos, Afinal de contas, era uma oportunidade para exercer uma luta mais concreta contra a subversão comunista, a corrupção e a h egemonia católica na política brasileira, Foi assim que emergiram a figura de governadores de Estados com tradição evan gélica: os Gueiros, no nordeste; J eremias Fontes, no Rio de J an eiro; ou até mesmo Ernesto Geisel, presidente, de origem luterana, Certamente, duas bandeiras dos militares que sempre fizeram muito sucesso no país também tremularam nesses meios religiosos: o 96

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anticomunismo e a luta contra a corrupção. Entretanto, o fortalecimento do pensamento conservador e o alinha mento ideológico de autoridades da IPI do Brasil ao regime militar provocaram o aprofundamento de alguns conflitos, que já se esboçavam desde o início dos anos 60. Esses conflitos podem ser assim mapeados: distanciamento dos "liberais-ecumênicos" de seu s adversários "conservadores-fundamentalistas"; conflito de gerações entre "jovens" e "velhos"; instalação de um clima de delações, estigmatização e acu sações entre irmãos . O clima propiciado pelo golpe militar de 1964 favoreceu o crescimento do fundamentalismo teológico na IPI do Brasil. Naquela época, houve várias interferências de representantes estrangeiros na vida doméstica da IPI, sem se contar a força que tradicionais conservadores sempre tiveram no interior da denominação. Porém, por trás de muitos desses conflitos internos da IPI, pairava a influência dos presbiterianos conservadores norte-americanos, entr e e les do gra nd e líd er fundamentalista DI'. Carl McIntire (1906-2002), que, desde o fim dos anos 40, fustigava as lideranças continentais do protestantismo histórico, ac usando-as de fraqueza diante do comunismo, de corrupção doutrinária e de filo-romanismo . No Brasil, tais idéias era m divul gadas por jornais como "O Fundamentalista"ou "O Preshitel""iano Bíhlicd', que, no final dos anos 60 e metade dos anos 70, eram distribuídos gratuitamente nos templos da IPI. Nesses jornais, dava-se d esta que a escrito s d e pastores presbiterianos independentes, que nem sempre encontravam .acolhidas em O Estandal""te. Embora, como afirmaria o Rev. Sebastião Gomes Moreira, em um culto comemorativo ao aniversário da Igreja, no Teatro Cultura Artística, em São Paulo, no início dos a nos 80, a "IPI nunca foi uma Igreja fil1Jdamentalista e sim uma Igreja conservadm'a". Porém, a análise dessa questão esbarra em vários problemas. O primeiro deles é a dificuldade em se dizer claramente quem podia ser classificado em um ou em outro grupo . Houve casos, por exemplo, de pastores rotulados como "liberais", como o Rev. DI'. Seth Ferraz, que inclusive assinou o "manifesto liberal" dos anos 30 e, nos a nos 60, até o final de su a vida, se tornou um expoente do pensamento fundam entalista. De uma maneira geral, naquele contexto , "liberais" eram os rotulados por causa da crença em pontos de fé diferentes dos tradicionais, os quais diziam se manter leais à teologia formulada em Princeton (Hodge e (odemos de OEstandarte

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Strong), apregoando a fidelidade aos princípios doutrinários da Confissão de Fé d' Westminster. Por sua vez, os "liberais" eram vistos como simpáticos às teologias "novas" que chegavam da Europa, tais como as reflexões de Barth, Brunner, Bultmann e outros. Tais teólogo~ eram rotulados, injustamente, como "perigosamente ecumênicos" e "excessivamente simpáticos" com a Igreja de Roma. Além do mais, os "liberais" es tavam, no imaginário fundamentalista, "de m ãos dadas" com o comu nismo ateu . Portanto, ser lib eral era "abandonar" a dedicação à evangelização e à expansão da Igreja. Ganhou notoriedade na IPI, defendendo esse ponto de vista, Rubens Tomás de Aquino, que posteriorm ente passou para a Igreja Presbiteriana do Brasil. Seus artigos, confessadamente fundamentalistas, eram publicados em O Estandade ou no Presbitel-Jano Bíblico, nos quais a IPI era retratada como um canr po de batalha em que os "liberais" e "ecumênicos" levavam vantagem. As lutas desse período foram vivenciadas por muitos como sendo um conflito de gerações ou de idéias. Na própria IPI houve, no decorrer dos anos 60 e 70, um "desmanche" da Confederação Nacional da Mocidade, seguido por um processo centrifugador, por meio do qual a igreja passou a jogar fora aquela liderança intelectualmente melhor preparada, no interior das classes médias urb anas. Isso era feito de um a forma inquisitorial ou por meio de um desestímulo ao trabalho de reforma da cultura e da estrutura organizacional da denominação . O conflito entre "jovens" e "velhos" se manifestou antes da realização do VIn Congresso Nacional do Umpismo (196 5). No ano de 1963, sob o impacto da Conferência do Nordeste, a juventude da IPI nomeou co:nissões de preparo para o Congresso Nacional, que deveriam tomar como eixos principais: o estudo, a ação e a alfabetização. Diversos encontros regionais de líderes da mocidade trabalharam nos meses seguintes sobre t emas sociais que envolviam a preocupação com o camponês e a reforma agrária e a situação social dos operários de fábricas. Em vários desses encontros, o que é digno de nota, houve até a presença de sacerdotes católicos. O Brasil vivia os primeiros a nos após o Concílio Vaticiano n. Entretanto os "anos Daily" (1965-1971), que coincidem com o período aqui analisado, geraram uma certa modernidade na IPI. A própria vitória de sua candidatu ra, n a reunião do Supremo de julho de 1965, .·e deveu ao lançamento de um "plano trienal", que foi exaustivamente 98

(odemos de O Estal/darte


detalhado e comentado em O Estandarte daquele ano. Fazia parte desse plano, entre outras providências, a centralização da tesouraria da igreja e o lançamento de lições de escola dominical. Fundou-se na esteira dessas preocupações a Livraria Pendão Real. A IPI participou ativamente de eventos inter-denominacinoais no Brasil e no exterior, tais como AIPRAL, Celadec, Conselho Mundial de Igrejas, etc. Houve tentativas da IPI de ocupar espaços na mídia, o que infelizmente não foi adiante por falta de recursos, dado o alto preço cobrado pelas emissoras de rádio e de televisão. Mesmo assim, "Os vé7ronis em maTcha", um programa da Federação Sino daI dos Varonis (São Paulo) foi levado ao ar em diferentes emissoras de rádio. O mesmo aconteceu com "A voz do Lstandartê', um programa que tinha o próprio Rev. Daily como pregador, que em 1966 inseriu em seu relatório pastoral ter pregado 80 vezes em programas de rádio. A 1" IPI de São Paulo, tentou levar ao ar, mas sem continuidade, o seu próprio programa televisivo. Nessa mesma época, o Rev. Rubens Lopes, da Igreja Batista de Vila Mariana, iniciava a transmissão de seu programa" Um pouco de sol', na TV Gazeta . Nesses anos, foi tomando corpo o trabalho leigo dos homens e mulheres, que, por meio de congressos nacionais, passou a substituir o ativismo até então creditado aos jovens. Data de 1967 a organização da Confederação Nacional de Senhoras. O primeiro congresso das senhoras ocorreu entre 10 e 17 de agosto de 1967. Surge na esteira desse trabalho a revista AlvOl"'ada, ainda hoje editada. Na proclamação dos resu ltados do Primeiro Congresso, as senhoras também dedicaram um bom espaço à recusa do ecumenismo e do comunismo, ambos vistos como "um perigo à IPI e à Pátria". Porém, após o Congresso de 1972, surgiu o primeiro documento oriundo da Confederação Nacional de Senhoras pedindo a ordenação de mulheres ao presbiterato, cujo fator desencadeante deve ter sido a visita de uma presbítera norte-americana como delegada enviada para participar do Congresso de Senhoras. Em 1967, Carlos René Egg, que desde os anos 40 vinha liderando o trabalho leigo na IPI, após encerrar o seu mandato de deputado, foi nomeado para o cargo de Diretor do Serviço Social do Estado. Poucos anos depois, sai do palco político o deputado federal por cerca de 20 anos, Dr. Lauro Monteiro da Cru:6, encerrando um período inicial de participação de leigos da IPI na política partidária. Cadernos de OEstandarte

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3. A IPI nos anos M édici e Geisel (1 969 a 1979). Antes de nos referirmos ao comporta mento da IPI no decorrer desse período em que estiver a m à frente do governo dois gener ais, seria bom verificarmos o comportamento de outros r a mos crist ãos dia nte desse mesmo r egIme. Os eva ngélicos conservadores e funda mentalist as, em 1967, depois de um Congr esso em Recife, conclamavam os pastores no Brasil a denunciarem quaisquer de seu s membros, que porventura estivessem envolvidos com o que se convencionava ch a mar de "subver são" . Na Igr eja Metodist a, um pastor as sinava seus artigos com opiniões políticas de direita u sando o seu título eclesiástico junto com a pat ente milit ar: "r e ver endo, m aj or... fulano de tal". Um outro pastor denunciou joven s líder es de sua igr eja local ao DOPS e um deles morreu em conseqüência de tor turas. Muitas denominações evangélicas, entre elas congr egações locais da Asse mbléia de Deu s, eram abertas par a campa nhas de políticos da Aren a (partido do governo militar), sob a alegação de que os cristãos d veria m votar em candidatos oficiais para ma nter o desenvolvimento político e econômico do país . O mesmo se pode dizer do alinha men t o ideológico dos batist as brasileir os e de boa part e dos luteran os. Foi uma exceção, no meio protest a nte, a colabor açã o do Rev. J aime Wright, da I gr eja Pres biteriana Unida (IPU) , ao proj eto Brasi]" Nun ca M ais, que r esultou numa a utêntica enciclopédia de denúncias ao r egime militar, totalizando 6.891 páginas. Certamente pesou em su a decisão o desa p a r ecim ento d e seu irm ã o, P a ulo Wri ght, um a nti go presbít ero da IPB de Floria nópolis, que foi deputa do est a dual cassado a pedido do r egime militar e expulso da igr eja. Anos depois, Paulo caiu n as mãos da r epressão em São Paulo e desap areceu , constando o seu nome do rol dos desapar ecidos cujos cadáveres ja mais foram encontrados . A oposição cristã ao r egime militar ficou por conta da Igreja Cat ólica, que, por motivos corpora tivo s, organizacionais e, só depois, pastor ais e t eológicos, principalmente após a Conferência de Medellin, passou a se opor ao s militar es, com mais evidên cia no Brasil e no Chile. 3.1 Os CRISTÃOS E A OPOSIÇAo AO REGIME MILITAR DE 1969 A 1979. Os "anos de chumbo" for am mar cados, em termos de oposição ao 100

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regime militar no campo religioso, mais pela atuação da Igreja Católica Apostólica Romana do que pelas denominações protestantes. Essa postura contrária ao regime se expressou, sornente entre 1968 e 1978, em cerca de 50 documentos enviados a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Porém, em maio de 1964 a posição da Igreja Católica face ao regime militar não era essa, pois, a declaração oficial da CNBB daquela data registrou o seguinte: "Ao rendermos gTaças a Deus, que atendeu as orações de milhões de brasileiros e nos livrou do peágo comunista, agTadecemos aos lmJitares que, com gTave ásco de vidas, se levantaram em nome dos supremos interesses da Nação, e gratos somos a quantos concorreram para libertarem-na do abismo eminente." Nesse mesmo documento, a CNBB r essaltava que os bispos estavam dispostos a auxiliar o Estado em toda s as atividades possíveis para ajudar na construção do bem comum e que aquele momento era sobretudo de "reconstrução da Pátria". Bastou, contudo, pouco menos de quatro anos para que a Igreja Católica se tornasse opositora ao regime militar. Em 1968, depois de perseguições a líderes leigos, seminaristas e padres, a Igreja Católica passou a assumir, cada vez mais, uma postura de oposição ao regime. Em julho de 1968, um documento analisava a doutrina de segurança nacional exposta pelo regime militar. Em 1973, um grupo de bispos do nordeste elaborou o documento "Eu ouvi os clamores de meu povd', D. Paulu I,,·vari.\·/u Am.\', deixando bem claro que "é, pois, também c(/ldeal arcebispo de São Paulo, da Igreja .Católica nosso direito e nosso dever trataI; como pasRomana. Cooidenou o dos.\'iê tores, de problemas h umanos:por conseguin"Brasil Nunca Mais". te, de questões econômicas, pOlÍticas esociais, na medida em que n eles o homem está em jogo e Deus está comprometidd'. Em 1976, veio à luz o d,o cumento "Comunicação pastoral ao povo de Deus', no qual foram analisadas e condenadas as perseguições, prisões, tortura e morte de sacerdotes e leigos católicos em diversas regiões do Brasil e, em 1977, "Exigências cástãs de uma ordem política". Em 1981, já no período da abertura e após a lei de anistia e eliminação do AI-5, surgiu o documento "RefleCadernos de OEstandarte

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xões cústãs sobl'e a conjuntw'a política" que condenava o modelo político e econômico assumido pelo Estado militar no Brasil. No campo protestante, somente os luteranos da Igreja Evangélica de Coruíssão Luterana (IECLB) assumiram um papel, embora tímido, de oposição a certos aspectos do regime militar, Porém, mesmo naquela denominação, houve em vários momentos apoio ideológico ao governo militar, 3,2 A IPI E O GOVERNO Mf:Dlcr Os anos Médici se iniciaram após o afastamento do marechal Costa e Silva e o impedimento, declarado pelos militares, do seu vice Pedro Aleixo, Nessa época, os resultados do "golpe dentro do golpe" (Al-5, em 1968) começavam a oferecer ao regime militar os primeiros frutos, Acentuou-se nesse período a contestação armada ao regime militar com o surgimento do terrorismo urbano nas cidades brasileiras e com a guerra de guerrilhas no Tocantins , Porém, ao lado da repressão, esse foi um período, pelo menos nos seus primeiros anos, de um grande apoio popular ao regime, Era o tempo do slogan "Brasil: ame-o ou deú(e-d' e a entrada de uma enorme quantidade de dólares no País, o que provocou o inadequadamente chamado "milagre brasileiro", Entretanto, esses foram os anos em que a violência da repressão esmagou a violência ela contestação, A propaganda do regime tornava a adesão popular facilmente explicitada diante de um presidente (que não era aos olhos do povo um ditador) de olhos claros, muito simpático, e que gostava de futebol. A IPI refletiu também esse clima de "Brasil grande", que desf'~utava de "paz" sob o controle do "grande paizão" , Foi nesse período que surgiu uma maior aproximação entre a IPI e os militares brasileiros, e isso pode ser visto em alguns extratos de O Estandarte daquele período, os qu ais reproduzimos a seguir: fiO Coro e o Presidente Médici. A IPI Central de Brasília canta para o Presidente, Em seUl'epouso nos dias que marcaram os festejos do fj'mde-ano, o Presidente Médici recebeu, no Palácio da Alvorada a visita do Coro da Igreja Presbiten.'ana Independente Central de Brasília ( ) o pastord;z Igreja fez a enü'ega ao p1'i:3sj'deJ1tede um long-play () e pl'Oferiu uma ora ção in te1'cessória, em fa VOi" da pátl-'ia, do Presid en te Médici e toda a sua equipe de governo" (O Estandade, 3111171), Essa mesma visita, em u m ou tro número de O Estandarte, foi assim retratada pelo próprio Rev, Sebastião Gomes Moreira, sob o título: "No102

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tícias novas e velhas: com s ua Excel ência o Presidente M edici': "O ence1'1'am ento da campanha [do coral} f'oi no Palácio doAlvo1"ada, cantando para o Presidente () num clima de profunda r e verência e sob os aplausos do Presidente e s ua exma, Senhora, Findos os cânticos o pastor fez oração, agI'a decendo o Natal de J esus, a oportunidade que nos deu de chegarmos à presença do s upTemo m agistrado de nOSSé1 Pá tria' o clima de libeJ"dade religiosa em que vivemos, a paz e a ordem r einante no País c o go verno que temos, e s uplicando p ela segw"ançfl p essoal de S.b'x:cia, e as bên çãos de Deus sobTe todo seu Governo ( ) tudo isso nos en cantou, e nos deu a dim ensão do espírito altam ente democrático do gran de Presidente que está dirigindo os destinos da nossa querida Pátria", A morte violenta do Rev, Daily, em 1971 , em um acidente automobilístico, encontrou no vice-presidente, Rev, Rub en s Cintra Damião, um excelente condutor provisório até que o Supremo Concílio se reunisse em Brasília, alguns meses depois e escolhesse o novo presidente, o pas tor da IPI de Campinas, Rev, José Coelho I' erra z, que era um homem amante de sua igreja, mas profundamente conservador no que se refere a política , Antes dessa eleição, no fin al do ano de 1971, o Rev, Seth Ferraz, n a primeira página do jornal, escreveu um a "mensagem ao Supremo Concílio" n a qual começa lamentando a falta de firm eza das r euniões do Supremo Concílio n a conden ação ao ecumenismo e que este levava à subversão, Par a comprovar essa afirmação r epetiu um a história, t a mbém conta da por um outro F erra z, o seu sobrinho, Jo sé Coelho: "M.inist1'os nossos em reunião n a Capital de um dos p aíses sul-americanos, ouvi.ram de repTesentantes estrangeiros, reunidos em UlJ1 a sala contíg ua, declaração estarrecedora de que, a m elhor maneira de intro duzir a s ubversão n a Amén'ca Laúna, seria p ela introdução da mesm a nos seus seminários teológicos, de vendo o movimento seI' iniciado em São Domingos, e é7 seguú; Buenos Aires e S ão Pé7ulo, onde movimento grevista de estudantes de veria eclodir em junho de 1968. O plé7no diabólico foi executado à riscé7, pois n é7 data pTe vista entTé71'é7m em greve os estudé7n tes da Fé7culdé7de de Teologia dé7 Igrejé7 irmã e, logo a seguú; o m esmo aconteceu com os estudantes de nosso Seminário, Foré7m excluídos cerca de dez estudantes nossos que tiveré7Jl1 s uas caTrei1'as cortadas, Foi Tesolvido o problema? Infelizmente não, pois é7 té hoje a IgTeja Cadernos de OEstandarte

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no Brasil continua a recebei' doutn]1R çiio p enúciosa atl"flVés dé7s véírias comissões do CMI () Não culpamos os nossos estudantes, m as a nós mesmos, flUtondr7des eclesiásticas atuantes nos Conselhos, n os Presbitérios e Sinodos e S upremo Concilio () por n ão termos zelado como el'r7 do n osso devei; p or aqueles que 10ram con/j"ados aos nossos cuidados () O atual mo vúnen to p entecostal con s titui séria ameé7ça à unidé7de de nossa denon]]]Jt7ção () São p entecostBis? Organizem -se e nós os r esp eité7r emos. l'annúwndo, queremos dÚYf7l" bem claro que, tanto libernis modcl"Jústé1S que p edem sé1bedorié1 e culturé7, como os P entecosté1is que p edem n]jjé7gres, wnbos são vítúné7s de grupos estrangeiros, é7gentes do ecum enismo J]Jé71XiStrl, que hipocrité7m ente, é7J1un c1nndo o eVé7l1gelho social, de p é7Z e lwrmonlr7 entr e todos os homen s [m as} é7 Igrejn é de CJisto. Ele vcncei·á. No enta nto, já desde h á muito o Rev. Seth Ferraz insistia na ligação entre ecumenismo, modernismo teoló gico e subver são comunista. Em um artigo anterior de O l.!J'sté1ndaJ"te (31/7/7/67), esse venerando ministr o fez um a r elação direta, de um a form a cla ra, a título de denúncia, de qu e h avia influência espúria na IPI por parte do Conselho Mundia l de Igreja . No Supremo Concílio, realizado algum tempo depois, elegeu- se presidente exatamente o seu sobrinho, o Rev. José Coelho Ferraz, que iniciou um processo de "expurgo" n a IPI, colocando for a da IPI os pentecostais ou "avivados", r einiciando tamb ém a repressão no Semin ário, conhecida como a "crise do Seminário de São I aulo de 1972". Contudo, a eleição do Rev. Ferraz se de u dentro de um contexto em que se s us pirava por um líder forte para colocar "ordem na casa". Havia um anseio por disciplina e ordem, e os "avivados" eram considerados os responsáveis pel a "desordem interna". Naquele mesmo ano, em 1972, os "r enovado s" ou "avivados" ab::m donaram a IPI, completando o ciclo de um a série de conflitos . Em 1973, a pedido da Mesa Administrativa, o Rev. Azor, que teve um importante pa pel em Assis na manuten ção da quela ~ra nde igr eja no seio da IPI, escreve u para O Esté7ndé7J"te uma série de artigos sobre a crise do avivamento, enquanto o Rev. F erraz propunha um a grande camp a nha de evangeli zação que pudesse r e unificar a IPI. No decorrer da administração do Rev. F erraz, entretanto, houve dua s crises no Seminário de Silo Paulo, em 1972 e 1978. No fina l de seu mandato, um a outra crise se desenhava no horizonte, decorrente de JJ

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uma carta aberta do Presbitério do Ipiranga, na qual se escreveu que: havia insuficiência de ensino, "falta de definição e firmeza", ilustrando com frases do discurso do formando da turma de 1979, que teria se esqu ecido de Cristo e fugido da orientação doutrinária da igreja. O petardo maior foi reservado ao paraninfo da turma, o Rev. Antonio Gouvêa Mendonça, que pronunciou as seguintes palavras, que foram consideradas exageradas e perigosas pelos signatários do documento: "Lutem para que as coisas mudem. Lutem pelo apeJiéiçoamento do Seminálio () pela sua abertura ecumênica, pelo rompimento do sistema () lutem contra o m edo da teologiA e do saber () contra o dogmatismo e o obscurantismo ()" A sociedade brasileira, contudo, respirava os novos ares resultantes da política de distenção "lenta, segura e gradual", proposta por Geisel. Como conseqüência desses novos tempos, em 1979, surgia a Lei da Anistia, foi restau rado o pluripartidarismo, retirada a censura dos meios de comunicação de massa e revogado a AI-5.

4. A IPI do Brasil nos anos Figueiredo

(198001985)

o período administrativo em que o Rev. Ferraz esteve à frente da IPI foi de tentativa de manutenção de uma ordem abalada, em 1972, com o surgim ento da Igreja Presbiteriana Independente Renovada, mas de um esforço conservador para reequilibrar a IPI. Isso, porém, foi feito à custa de uma centralização adm inistrativa de inspiração a utoritária . Contudo, no final da década havia muito descontentamento, especialmente em relação à questão do Seminário, à falta de uma política de expansão missionária da igreja, à situ ação do jorna l oficial, que estava fechado para debates, à fraca atuação diaconal da IPI, assim como a inexistência de um projeto de educação cristã. O fechamento do jornal oficial a debate de questões que implicassem em qualquer mudança político-administrativa (para não dizer teológica), gerava a necessidade de se publicar fora do âmbito da Igreja notícias q ue questionavam o modelo a dministrativo e teológico do grupo que es t ava na s u a direção. Por exemplo , o Rev. Roberto Vicente Cruz Themudo Lessa publicava no jOl"nal FolhA da Tarde artigos sobre a falta de liberdade no meio presbiteriano brasileiro, na coluna "O som do Evarr gelho", republicada por mais de uma centena de jornais no interior do (mlelllos de OEsfalldarfe

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País. A saída dessa situação foi a organização, por parte de um grupo de pas tores e presbíteros, de um a ação coorden a da para mudar a direção da igreja. Um grupo de estudos, formado por voluntários, se en carregou em vários encontros de pen sar e propor es tratégias para a igreja nos anos 80 e 90. Num dos últimos desses enco ntros, em Londrina, o Grupo Voluntário de Estudos (GVE) houve a apresentação de te mas divulgados como "Documentos de Londr ina" . Na apresentação do volum e de es tudos, a coordenação escreveu: "Com o o nosso nom e de baúsm o tra duz muito bem, con sútu!m o-nos numa espécJe de grupo de trnbnlho voluntÁnó com o objeúvo p1"1ncJpnl de estudr7J; analisar e r efleúr sobre osproblenws atunis do mundo e dn Igrei? da penpecúv/l da lé cristií. E, mais especlHcam en te, levfw tm' i-1 p ertinência para a vida da IPI do Brasil (.) se a parúr dnqui con seguir mos p elo m en os começai' n criar unw nOVf7 con sciêncJf7 de ministério e missÃo dentro de nossa Igre.l~?, nos daremos por sf7tisfáitos O primeiro docum ento, con s tante de um volume publicado e m 0[[set , se intitula va "o decálogo df7 integraçÃo" e n ele podemos ler< "O Grupo Voluntáúo de refJexÃo e estudos, r eunido em Londrinn, tendo leito um dem01'ado l'etrospeclo dos idos anos de vitórin de nossa am adn IPI do Brasil (.) pode obser vm' que as m esmns com o con seqiiente progresso de Igr eja NncJonal se deveu à grande unidade existente 11a Igr eja de enUío (.) Dess;J lOnJ1r11'econh ece que i-1 fRl ta de continuidade nos trabalhos inicJndos pelos grandes h om ens (.) se deu exaü /Jn ente peln fhlta de objeúvo e de unidade in existente () bitn ve1'dadeiro e prolundo conhecJmento da históú a da IPI, o que tem pl "O voca do desam ol' e desintaesse (.) h á laltfl de ama durecim ento e h Á intolerânCÚ7 em r elação à pluralidade de idéins (.) fRIta orientação teológica (.) se tem perdido a visão do todo n o trato dos interesses ndministraúvos da Igre.l~?, r es ultando da! a dicotomia e tricotomia igJ"fJ)ús do norte, s ul e centro, (.) faltan do inteJJigr'1çÃo e11t1'e os concílios (.) que se descent1 'alize a obl'a de edu caçiío teológica da IgJ"ej a (.) que se ative um progJ"flmfl de educação CrlsUí ( ) transformar o órgâo oHcial num m eio de com ll1úcação r ápido e que atenda aos interesses d fl denomin açÃo (J " OS demais textos faziam referência à questão da unid ade da igreja, às relações entre o mundo contemporâneo e a missão, ao papel da edu-

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cação cristã n a igr eja e do minist ério docente. A coorden ação geral do grupo , que a tingiu quase 50 pastores e presbíteros, est eve a car go do s Revs. Doracy N a talino de Souza, Ezequias Alves Eva n gelist a, Leonildo Silveira Ca mpos, Leontino F arias dos Sa nto s, Waldomiro Pires de Oliveira e do então presbítero José Ar íston da Silva . . A ação do Grupo Voluntário r esultou n a eleição par a presidente do Supremo Concílio, em 28/2/81, do pastor da l a IPI de São P aulo , Rev. Abival Pires da Silveira, e de umà cha pa comprometida com os pr oj etos discutidos pelo Grupo. Os anos post eriores do m andato do Rev. Abival for a m de uma sen sível modificação n a fisionomia da IPI, surgindo daí alguns proj eto s como o de educação crist ã , com as r~vis t as de escola dominical, e a descentralização da educação t eológica, com a organização dos seminários de Londrina e For taleza. O P r oj eto de Educação Crist ã, com a nossa particip ação, plan ejou e. publicou, em 1982, primeir o a r evist a de estudos para adultos e a dolescen tes, Sem ente e Colméia. No qua drimestre seguinte surgiram as revistas; par a cria n ças S em en túlha, Pé únho Peúánlw Jr. e par a joven s, O Luzeiro. No final daquele ma ndato, essas r evist as atingiram um a tiragem superior aos 50 mil exemplar es . Com a ab ertura do O Es tandarte pa ra discussões r esultou num a enorm e qu a ntida de de artigos sobre a orden a ção de mulh eres a o presbiter ato e pastora do. No campo da mú sica proliferava m esforços para dar um novo cântico, que fo sse mais brasileiro. Em 31/7/81 O Estandarte r egistrava notícias sobre o CAFÉ, um festival que gerou um dinâ mico grupo musical, ao qual esteve ligado o Rev. Valdomiro Pires de Oliveira. Na 1" IPI de São P aulo, tomava cor po o Proj eto Canteiro, que visava oferecer a IPI uIi1 hinár io própr io, no final de um proj eto que deveria se complet ar no ano 2003. O ano de 1982 foi um momento de muitos en contros. Os mission ários realizara m o seu pX'imeiro encontro nacional. O en contro n acional de pas tores daquele a no foi um su cesso. A IPI participou da fund ação do Conselho Latino Americano de Igrejas. Intern am ente r ealizou-se a cam panha n acional de evan gelização "Cristo é Vida"; es tabeleceram -se os t ermos da cooper ação entre a IPI e a Igreja Presbiteriana dos Est a dos Unidos, superando- se o dist an cia mento que vinha desde 1903. A IPI voltou a participar ativa mente da Alian ça de Igr ejas Reform adas da América Latina (AIPRAL) e da Aliança Mundial de Igr ejas Presbiteria n as

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e Reformadas (AMIR), da qual o Rev. Abival se tornou membro do comitê e, depois, vice-presidente. Porém, nem tudo foi unanimidade naquele período. Houve contestação das diretrizes por parte de pastores e presbíteros adeptos da administração anterior. Uma manifestação de descontentamentos se deu em uma reunião no Acampamento de Roseira, que chegou a editar o seu manifesto e distribuí-lo em todo o arraial presbiteriano independente. Em uma lingua gem bastante dura e até desrespeitosa em relação àquela administração, às revistas de escola dominical e à educação teológica, aqueles membros da IPI puderam tranqüilamente, sem ameaças quaisquer, como acontecia no período anterior, demonstrar o seu amor e entusiasmo por uma igreja, que não é somente de alguns, mas de todos os que a integram e lutam pelo sell crescimento. Politicamente um destaque tem que ser dado à declaração encaminhada pela assembléia geral da IPI (Londrina, 1984), ao Presidente da República, pedindo "eleições diret as já" para a presidente. Com isso, a IPI voltava a se despertar para uma participação política .mais crítica em relação aos donos do poder. Como resultado dessa postura, depois desse período, alguns pa tores e presbíteros iriam se candidatar a cargos eletivos . Assim foi eleito o Rev. José Carlos Vaz de Lima, deput ado estadual em São Paulo por várias legislaturas e, sem sucesso disputaram: Roberto Lessa (vereador em São Paulo), Assir~ Pereira (deputado federal e vereador em São Paulo), Valdomiro Pires de Oliveira (deputado estadual) e Abival Pires da Silveira. Essa etapa, porém, poderia ser objeto de um outro artigo, pois este se encerra em 1985, quando os civis assumem o poder, no lugar dos militares, e o Brasil entrava em uma nova fase política . Outro seria também o papel da n I nesse contexto .

• o Rev. Leonildo é professor do Seminário Teológico de São Paulo da IPI do Brasil e da Universidade Metodista de São Paulo.

Observação: Um lexlo acadêmico, de auloria do Rev. Leonildo, com maiores delallles sobre o comporlamenlo da IPI nesse periodo foi publicado na revisla Esludos de Religião, ano XVI, n. 23, do Curso de pós·G raduação em Ciências da Religião, da Universidade Melodisla de São Paulo, 2' Semeslre de 2002.

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