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Lentes esclerais no tratamento do ceratocone

As lentes de contato esclerais estão há algum tempo no mercado e vieram para reduzir significativamente a necessidade de procedimentos cirúrgicos para o tratamento do ceratocone, dentre eles o transplante de córnea.

O ceratocone é uma doença relativamente comum da córnea, descrita pela primeira vez em 1854, com uma incidência na população global com taxa de variabilidade em torno de 50 a 230 casos a cada 100.000 habitantes. Geralmente acomete nos dois olhos e cerca de 84% dos pacientes estão entre 20 e 40 anos de idade. Nada mais é, que uma protrusão da região central e inferior da córnea que, normalmente tem uma superfície esférica, assumindo um formato cônico. Essa deformidade no formato da córnea faz com que haja uma desorganização dos raios luminosos que entram no olho, os quais acabam formando múltiplos pontos focais que distorcem a imagem formada dentro dele. As queixas mais comuns são a redução da acuidade visual com óculos, visão flutuante, visão dupla, imagens fantasmas, visão borrada e distorcida. Durante o exame oftalmológico de rotina o médico oftalmologista consegue detectar sinais de suspeição da doença, porém o diagnóstico definitivo é confirmado pelo exame de ceratoscopia computadorizada (topografia de córnea) e, em alguns casos duvidosos ou incipientes, é necessária a tomografia de córnea (Pentacan® ou Galilei®) para melhor elucidação.

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O tratamento do ceratocone depende muito do estágio em que se encontra a doença. Nos casos mais avançados, nos quais ocorre baixa significativa da visão, é indicada, antes de qualquer procedimento cirúrgico, a adaptação de lentes de contato rígidas (duras). Elas proporcionam, na grande maioria das vezes, uma melhora visual importante, pois criam uma nova superfície (mais regular) para entrada dos raios luminosos no sistema óptico visual. Atualmente temos disponíveis no mercado lentes de contato rígidas corneanas, esclereais e semi- esclerais. As lentes de contato corneanas são aquelas apoiadas inteiramente na córnea (região transparente mais anterior do olho sob a íris) e seu diâmetro é menor que 12,5 mm. Já as lentes esclerais ou semi-esclerais se apoiam inteiramente ou parcialmente na esclera (região branca dos olhos ao redor da córnea). O maior desafio das lentes de contato rígidas corneanas é a dificuldade de uma boa adaptação em casos mais avançados (córneas mais protusas). Muitas vezes, os desenhos das lentes não se encaixam perfeitamente no ápice da deformidade, causando desconforto ou intolerância ao usá-las, deslocamento frequente da sua posição correta e podem até ocasionar lesões (ceratite e úlceras) devido ao atrito delas com a córnea durante a movimentação das pálpebras. Até o surgimento e aprimoramento das lentes de contato esclerais na década de 90, a indicação do anel intraestromal (Kerarings ®, Anel de Ferrara ® ou Intacs ®) e do transplante de córnea eram as únicas e melhores alternativas nestes casos de insucesso na adaptação das lentes rígidas corneanas. As lentes de contato rígidas esclerais, por não tocarem na córnea e não se movimentarem com o piscar são extremamente confortáveis e propiciam boa acuidade visual devido ao seu grande diâmetro (zona óptica). Desde o surgimento, o seu material tem sido aprimorado para compostos rígidos com alta permeabilidade ao oxigênio. Normalmente no início, é indicado iniciar o uso por 2 horas ao dia e aumentar progressivamente 1 a 2 horas até o uso durante todo o dia. É importante que o paciente tenha ciência que o limite de tempo de uso é individualizado para cada caso. Deve- se retirar as lentes para dormir e manter o acompanhamento oftalmológico a cada 3-6 meses. A troca das lentes por novas é indicada a cada 1-2 anos, dependendo dos cuidados de limpeza e manutenção.

Com certeza, o surgimento das lentes esclerais para a reabilitação visual nos pacientes com ceratocone propiciou mudanças significativas, na qualidade de vida desses jovens pacientes e possibilitou que nós, oftalmologistas, restringíssemos a indicação de transplante de córnea para casos mais específicos e selecionados.

DRA. MARCELA DE FÁTIMA KOEHLER CRIVARI

CRM 24377 | RQE 17.319 | Oftalmologia

CURRÍCULO

• Residência Médica em Oftalmologia pelo Hospital de Olhos do Paraná em Curitiba-PR; • Pós-graduação em Catarata e Cirurgia Refrativa pelo Hospital de Olhos do Paraná em Curitiba-PR; • Membro da BRASCRS (Sociedade Brasileira de Catarata e Refrativa).