Roteiro 276

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EDIÇÃO ESPECIAL

Ano XVII • nº 276 Abril de 2018

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Duplo

desafio

Aos 58 anos, Brasília tem a obrigação de preservar duas importantes conquistas: os títulos de patrimônio cultural da humanidade e cidade criativa em design.


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Roberto Castro


Moradores e governantes de Brasília têm pela frente o desafio de preservar duas conquistas importantes – uma delas recente – que ajudaram a projetar a capital brasileira na cena internacional: os títulos de patrimônio cultural da humanidade e de cidade criativa em design, ambos atribuídos pela Unesco. É disso que trata a matéria de capa desta edição especial comemorativa do 58º aniversário da cidade (página 8). No mais, achamos por bem presentear nossos leitores com uma seleção dos melhores eventos relacionados à passagem da data. Começando pela festa propriamente dita, modesta, como recomendam estes tempos bicudos, mas que promete muita música e muita alegria para adultos e crianças. E o melhor: tudo de graça (página 12). A partir daí apresentamos, em sequência, uma série de projetos culturais que celebram, debatem ou, de alguma maneira, ajudam a entender a cidade. Como a maquete interativa em 4D instalada no Espaço Lucio Costa, na Praça dos Três Poderes, que, a partir do dia 27, fornecerá aos visitantes informações detalhadas sobre a história da capital (página 18). Habilidades profissionais menos conhecidas do mestre Oscar Niemeyer estão presentes na exposição a ele dedicada no Espaço Cultural Marcantonio Vilaça. Pinturas, desenhos, croquis, projetos gráficos, joias, móveis e até revistas das quais foi editor revelam um Niemeyer de múltiplos talentos (página 20). O fotógrafo Nick Elmoor e a socióloga e pesquisadora Patrícia El-moor descobriram afinidades estéticas, conceituais e filosóficas entre edificações de Brasília e de cidades da Andaluzia. Setenta e seis imagens captadas por Nick lá e cá compõem a exposição Fragmentos de utopia, até 10 de junho no Museu Nacional dos Correios (página 22). Outra exposição, que resgata a memória da capital, ocupa até o dia 29 a praça central do ParkShopping. Uma espécie de viagem ao túnel do tempo, baseada na série de livros Histórias de Brasília, do publicitário João Carlos Amador (página 24). É de memória também que trata o livro A trilha do Jaguar – Na alvorada de Brasília, em que a argentina brasiliense de coração Mercedes Urquiza relata a experiência de ter abandonado uma vida confortável em Buenos Aires para abraçar, em outro país, o sonho coletivo de construir uma cidade que iria surpreender o mundo (página 30). O céu, o cerrado, a arquitetura, o desenho de Lucio Costa são personagens da fábula brasileira descrita com muita inspiração pela cronista Conceição Freitas na última página desta edição. Boa leitura e até maio. Adriano Lopes de Oliveira ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora Roteiro Ltda. | Endereço SHIN QI 14, Conjunto 2, Casa 7, Lago Norte – Brasília-DF – CEP 71.530-020 Endereço eletrônico revistaroteirobrasilia@gmail.com | Tel: 3203.3025 | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira | Editora Maria Teresa Fernandes Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Capa Carlos Roberto Ferreira, com foto de Rodrigo Ribeiro | Colaboradores Alessandra Braz, Akemi Nitahara, Alexandre Marino, Alexandre Franco, Ana Vilela, Cláudio Ferreira, Conceição Freitas, Elaina Daher, Heitor Menezes, Laís di Giorno, Lúcia Leão, Luiz Recena, Mariza de Macedo-Soares, Pedro Brandt, Ronaldo Morado, Sérgio Moriconi, Silvestre Gorgulho, Súsan Faria, Teresa Mello, Vicente Sá, Victor Cruzeiro, Vilany Kehrle | Fotografia Rodrigo Ribeiro, Gadelha Neto | Para anunciar 98275.0990 | Impressão Editora Gráfica Ipiranga Tiragem: 20.000 exemplares.

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BRASÍLIA58ANOS

O desenho do Plano Piloto foi o principal vetor da candidatura de Brasília ao selo de cidade criativa em design

Agora é fazer o dever de casa POR BIANCA MOURA

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capital de todos os brasileiros nasceu de um sonho e de muita ousadia dos homens que a construíram. Com planejamento arrojado e arquitetura singular, Brasília completa 58 anos ostentando dois títulos concedidos pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). A cidade tombada como patrimônio cultural da humanidade passou a fazer parte também, no final do ano passado, da Rede de Cidades Criativas da Unesco, na categoria design. A inserção da capital brasileira na Lista de Patrimônio Mundial, sendo o primeiro bem cultural do Século 20 reconhecido pela Unesco, ocorreu em 7 de dezembro de 1987. Três décadas depois, em 31 de outubro de 2017, veio o reco-

nhecimento como cidade criativa em design. A primeira conquista se tornou essencial para a preservação do Plano Piloto, conforme o desenho idealizado por Lucio Costa. E quais benefícios traz para nossa cidade o selo criativo do design? “Além de novas oportunidades de mercado, o reconhecimento possibilita o acesso a um intercâmbio de projetos com outras cidades do mundo, que utilizam a criatividade como fator estratégico para o desenvolvimento sustentável. Vai agregar mais valor a toda a produção cultural e de design da capital, além de mudar a dinâmica do posicionamento de Brasília, tanto no âmbito do turismo como da economia criativa”, avalia o secretário de Esporte, Turismo e Lazer do Distrito Federal, Jaime Recena. A pasta é a responsável pela candidatura da cidade junto à Unesco.

O percurso construído para Brasília alcançar o recente selo começou em 2016, um ano após a Unesco ter descartado sua inscrição como cidade criativa da música. A ideia de investir na categoria do design conquistou o apoio de profissionais atuantes da área, empreendedores, lideranças do setor turístico e cultural, e ganhou força quando foi incluída na relação de metas do Plano de Turismo Criativo, iniciativa do Governo do Distrito Federal que prevê um modelo mais dinâmico de fazer turismo, fugindo dos atrativos convencionais. Assim como no caso do título de patrimônio cultural da humanidade, o dossiê da candidatura de Brasília ao selo de cidade criativa, registrado oficialmente em junho de 2017, foi baseado no desenho do Plano Piloto, já que o design faz parte das características históricas da ca-


SeturDF Rodrigo Ribeiro

pital federal. “O design está presente desde a criação de Brasília, seja nos traços de Oscar Niemeyer, na arte de Athos Bulcão ou no trabalho de tantos outros artistas que utilizam a nossa capital como fonte primordial de inspiração”, completa Recena. Com a conquista da honraria, o desafio seguinte será cumprir o planejamento entregue e aceito pela Unesco, em que estabelece as ações a serem adotadas nos próximos quatro anos, prazo determinado pela entidade para avaliar o trabalho desenvolvido pela cidade e formalizar novos desafios. O documento se divide em quatro segmentos específicos: qualificação profissional, desenvolvimento da cadeia produtiva, apoio à comercialização de produtos e posicionamento de um destino mais criativo. “No caso da cidade-patrimônio, há a obrigação de manter o patrimônio preservado. Por isso a cidade é tombada. Nessa outra situação, das cidades criativas, Brasília faz parte de uma rede. Quando uma cidade tem problema, precisando de ajuda financeira ou profissional, ela pode recorrer às outras cidades. A história da rede é de se ajudar e se fortalecer. Não é punição ou competição. É uma troca saudável para as cidades desenvolverem a economia criativa em âmbito mundial”, explica a subsecretária de Produtos e Políticas de Turismo, Caetana Franarim. Entre os compromissos previstos para ocorrerem em 2018 estão o desenvolvimento do Observatório de Economia Criativa, que coloca o design como uma das linhas apoiadas; o levantamento de números relacionados ao setor, acompanhado

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Divulgação

BRASÍLIA58ANOS

Cadeiras Athos, dos designers Danilo Vale e Aciole Félix (Coleção Brasília, lançada no 54º aniversário da cidade).

de debate sobre metas, projetos e diretrizes; e o Encontro Anual das Cidades Criativas da Unesco, de 12 a 15 de junho, na Cracóvia (Polônia), com a participação de todas as cidades selecionadas ao longo dos anos. Neste semestre, de 12 a 22 de maio, profissionais selecionados por chamamento público podem levar o design brasiliense para uma das maiores feiras do mundo, chamada de Wanted Design, que funciona dentro da Design Week de Nova York. Em outubro, Brasília vai ser homenageada na Feira de Design de Buenos Aires. Um dos classificados no chamamento público, o designer de mobiliário Aciole Félix teve a felicidade de ver suas peças expostas em feiras internacionais como a Paris Design Week e a Semana de Design de Milão. Tudo resultado de

seu esforço individual. “É muito cedo para avaliar, mas espero que esse título possa trazer, além dessas oportunidades de exposição, investimento na área. Ainda existe uma dificuldade de expandir o mercado de Brasília”, destaca. O Experimente Brasília, projeto que oferece alternativas menos convencionais de apresentar a cidade ao público, acompanhou todo o processo da candidatura ao selo. Patrícia Herzog, uma das idealizadoras do Experimente, acredita que a conquista do título firma o posicionamento da capital brasileira frente às outras cidades mundiais com um valor igual. “Agora, mais que patrimônio cultural da humanidade, Brasília é cidade criativa do design”, comemora. Ela ressalta que, nos últimos anos, a cidade passa por uma expressiva transformação, especificamente no setor produti-

vo, com a revelação de referências no design de produto. “A gente tem excelentes endereços onde o design é presente. A gente tem, para além do design de produto, esses endereços que vêm se posicionamento mesmo como espaço de design. Um momento muito fértil, um momento muito fecundo para Brasília”, diz. Em junho, o Distrito Criativo reúne em Brasília o 3º Encontro de Turismo Criativo e o 1º Seminário Internacional da Economia Criativa, com a presença de cinco cidades mundiais do design – Turim, Detroit, Buenos Aires, Cidade do México e Curitiba. Na ocasião deverá ser assinado, pelos representantes das cidades, um termo de cooperação técnica que promove uma série de projetos em conjunto, com o incentivo à troca de conhecimento entre as cadeias produtivas de todas as cidades participantes.

Rede de Cidades Criativas A capital do Brasil se tornou a segunda cidade brasileira a integrar a rede na categoria design, ao lado de Curitiba, e a terceira de toda a América do Sul. A Rede de Cidades Criativas se divide em sete categorias: gastronomia, música, cinema, arte popular e artesanato, arte midiática, literatura e design. Berlim, Helsinque, Puebla, Montreal e Xangai também fazem parte da relação de cidades criativas do design. O Brasil ainda está representado em outros três campos criativos da Unesco. Belém e Florianópolis se destacam na gastronomia, Salvador na música e Santos no cinema. A Unesco divulga a cada dois anos os destinos escolhidos como criativos. No último anúncio, 64 cidades de 44 países foram chanceladas como cidades criativas, sendo oito no design. Assim como Brasília, Cape Town (África do Sul), Dubai (Emirados Árabes), Istambul (Turquia), Kolding (Dinamarca), Kortrijk (Bélgica), Cidade do México (México) e Wuhan (China) levaram o selo temático. A Rede de Cidades Criativas, idealizada em 2004 pela Unesco, promove a cooperação entre as metrópoles que identificaram a criatividade como fator estratégico para seu desenvolvimento. De acordo com a organização, as 180 cidades de 72 países que atualmente compõem essa rede trabalham em parceria para “colocar a criatividade e as indústrias culturais no centro de seus planos de desenvolvimento em nível local e cooperar ativamente no nível internacional”. 10


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BRASÍLIA58ANOS Filipe Vicente

AGNews

Preta Gil

Xand Avião

Diversão de graça para

adultos e crianças

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rasília celebra 58 anos de existência com uma programação cultural, gastronômica e de lazer que promove o necessário clima de festa. Quem aqui nasceu ou adotou a cidade como sua pode se preparar para curtir a data com opções gratuitas, adequadas para toda a família. No tradicional palco da Esplanada dos Ministérios e em dezenas de outros pontos do Distrito Federal vão se apresentar neste fim de semana atrações, como Hermeto Pascoal, Hamilton de Holanda, Preta Gil, Xand Avião, Mano Brown e Racionais MC, e locais, como G.O.G. e Alexandre X (veja a programação musical a partir da próxima página). Em outros três espaços da área central da cidade serão realizados eventos integrados à programação oficial do aniversário. A Torre de TV recebe uma série de espetáculos do universo saltimbanco. As risadas estão garantidas com os grupos locais Circo Artetude, Pilombetagem e Brin-

cantes do Gama, a companhia gaúcha Pernas Pro Ar, o palhaço Mauro Bruzza e a turma peruana do Inka Clown. Na área externa da Funarte, o República Blues distribui em dois palcos atrações de blues, rock e jazz. Os destaques são o músico americano Omar Coleman, uma das grandes referências do blues moderno, e o mestre Hermeto Pascoal. No Memorial dos Povos Indígenas, o projeto Abril Indígena contabiliza uma

série de atividades, que prosseguirão após o aniversário da cidade, com a exibição de dois filmes por dia: terça-feira (24), Índios no poder e Martírio; quarta-feira (25), Para’i e Ex-pajé; quinta-feira (26), Tapayuna e Piripkura; e sexta-feira (27), Tempo de Kuarup e Índio presente. Seis anos de Picnik

Quem quiser aproveitar o dia ao ar livre pode comparecer à 30ª edição do Divulgação

POR BIANCA MOURA

Picnik


Picnik, que já faz parte do calendário cultural da cidade e celebra em 2018 seis anos de ocupação dos espaços públicos com moda, lazer e gastronomia. Os visitantes poderão se espalhar pelo bosque do estacionamento 4 do Parque da Cidade, que deve receber um público superior a 20 mil pessoas das 13 às 22h. Haverá atividades para pessoas de todas as idades. O mercadinho de moda e design apresentará o trabalho de mais de 50 expositores que ajudam a impulsionar a economia criativa brasiliense. Numa passarela montada no estacionamento será realizado um desfile de looks compostos em sistema coletivo pelos expositores participantes do Picnik. Tudo o que for exibido estará à venda nos estandes das diversas marcas. Completam a programação a praça de alimentação, com chefs renomados, jovens talentos e food trucks da cidade; a área dedicada aos veganos, organizada em parceria com a Frente de Ações pela Libertação Animal; o Espaço Kids, com alternativas infantis para pequenos de diferentes idades; e o Espaço Zen, com aulas de chen tai chi chuan, yoga freestyle e meditação budista. O coletivo A Ponte realizará sessões de técnicas como reike, massoterapia, cartas e números.

Divulgação

Mano Brown

Shows

por toda parte

Carnaval fora de época

Um evento inédito promete transformar o estacionamento da Caixa Cultural em uma combinação dos dois principais berços das escolas de samba no Brasil – a Marquês de Sapucaí (RJ) e o Sambódromo do Anhembi (SP). A 1ª Roda de Samba-Enredo, sábado e domingo, terá a participação de nomes dos carnavais carioca, paulista e candango, como Wantuir (Unidos da Tijuca), Igor Sorriso (Mocidade Alegre), Claudio Vagareza (Aruc), Nêgo (irmão do Neguinho da Beija-Flor) e Grazzi Brasil (VaiVai e Paraíso do Tuiuti). A bateria da Acadêmicos da Asa Norte, acompanhada de passistas, mestre-sala e porta-bandeira, assim como o grupo brasiliense Brasil Capital, vai se encarregar de criar o ambiente apoteótico do carnaval, com todas as suas formas, cores e sons. “O samba-enredo é comum no Rio e em São Paulo. Nós, brasilienses, ficamos órfãos dos desfiles das nossas escolas de samba. Vamos suprir esta lacuna”, promete o músico e produtor Ronaldo Castro da Silva, idealizador do evento.

POR HEITOR MENEZES

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ão bastasse a temporada repleta de shows e opções musicais, a cidade nos brinda em seu aniversário com uma farta e tentadora programação, com um detalhe superior: tudo grátis, basta dar o ar de sua graça e curtir de montão. Haverá shows por toda parte, a maioria ao ar livre (ao que parece a chuva vai deixar). Neste sábado, é preciso bater ponto na área externa da Funarte (pertinho da Torre de TV), onde acontece a sétima edição do Festival República Blues, com nada menos de 23 atrações em dois palcos. Se segura, pois tem Hermeto Pascoal, Armandinho, Hamilton de Holanda, Blues Etílicos e convidados internacionais. Para quem vai atrás da boa música onde ela estiver, que tal dar um pulo, no fim da tarde de sábado, no Recanto das Emas? A região administrativa que olhando de cima parece uma ave bicuda (uma ema) abriga desde março o 1° Ciclo

de Música Instrumental, que chega ao seu final com apresentação do trio Mesa Pra Três, um dos mais entrosados grupos de jazz surgidos no quadrilátero deste Distrito Federal. O sarau de piano-baixobateria começa às 17h, no Espaço Cultural Instituto Batucar (Quadra 307, Conjunto 15). Voltando à zona central de Brasília, no sábado e domingo o samba é o som que domina a área externa da Caixa Cultural, no sisudo Setor Bancário Sul. Nesses dois dias, sempre a partir de 16h, acontece a 1ª Roda de Samba Enredo. No primeiro dia tem os intérpretes Renato dos Anjos (Vila Planalto), Nego (Acadêmicos do Sossego) e Grazzi Brasil (VaiVai e Tuiuti). No encerramento, apoteose com a bateria da Acadêmicos da Asa Norte, passistas, porta-bandeira e mestresala. No dia seguinte, quem abre a roda de samba é Claudio Vagareza (Aruc). Em seguida, os intérpretes Wantuir (Unidos da Tijuca) e Igor Sorriso (Vila Isabel e Mocidade Alegre-SP) animam o baticum.

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Júlio Cecílio

BRASÍLIA58ANOS

Música na árvore

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da Cidade. DJs liderados pela figuraça Claudia Assef esquentam os alto-falantes da jornada, que ocorre no contexto do sexto aniversário da Picnik, misto de shows, feira cultural, gastronomia de rua e tal. Amigos, esse Doctor Explosion faz um som garage/punk/psych beat direto de Gijón, España. Na divulgação (segura o castelhano), a banda afirma: Más de 15 años demoliendo escenarios y salas de conciertos provocando el desparrame colectivo. Valha-me São Miguel Cervantes! E finalmente, a programação oficial patrocinada pelo Governo do Distrito Federal. A Secretaria de Cultura avisa

que o aniversário terá 32 atividades gratuitas, das mais diversas linguagens e expressões artísticas, espalhadas por dez regiões administrativas. Sábado e domingo, a Esplanada dos Ministérios recebe shows que fogem um tanto do óbvio. No primeiro dia, Xand Avião e Preta Gil comandam a noite repleta de forró eletrônico, samba e funk. No dia seguinte, o rap e o hip-hop pedem passagem, com ninguém menos que os mestres G.O.G. e Alexandre X (do saudoso Câmbio Negro), abrindo os trabalhos. No encerramento, Mano Brown (Racionais MCs) e seu Boogie Naipe. Divulgação

A apoteose fica por conta da bateria da Acadêmicos da Asa Norte, passistas, porta-bandeira e mestre-sala. Fiquem ligados no horário vapt-vupt: começa às 16h. Apoteose lá pelas sete da noite. O Parque da Cidade não poderia ficar de fora do aniversário e abriga pelo menos dois bons programas, nos quais a música é a razão de ser. No domingo a curtição é o Música na árvore, projeto que visa promover a interação entre as pessoas, tendo a arte como protagonista e a natureza como cenário, segundo seus promotores. Então, caia para o estacionamento 4, onde haverá shows, feira de troca de livros, food trucks, coleta seletiva de lixo e doação de alimentos. Na parte musical, segura a onda o cantor e compositor Geraldo Carvalho, que terá a companhia de Yara Gambirasio Trio e de Philipe Seabra (Plebe Rude), que promete trazer as bandas que circulam em seu conhecido projeto Rock na ciclovia. Os parques Saburo Onoyama (Taguatinga) e Jequitibás (Sobradinho) também recebem o evento (detalhes e horários em musicanaarvore.com.br/musica). Ainda assim, está achando todo esse rock muito nhenhenhém? Pra você só mesmo o power trio espanhol Doctor Explosión que, em sua primeira turnê pelo Brasil, incluiu Brasília no roteiro e promete descascar o fio elétrico em pleno aniversário da capital, a partir de 13h, também no estacionamento 4 do Parque

Doctor Explosion


Marcos Victor

Iran Lima

Geraldo Toledo

Pequenos (grandes!) espetáculos Companhias brasileiras e internacionais participam de evento que reúne criações cênicas realizadas dentro de caixas POR PEDRO BRANDT

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teatro lambe-lambe é uma possibilidade teatral na qual a encenação é realizada dentro de uma caixa, na qual são colocados cenários e bonecos em miniatura. De um lado da caixa fica o espectador e do outro o intérprete que dá vida à história. Pioneiras nessa modalidade, a baiana Denise di Santos e a cearense Ismine Lima executavam suas peças na caixa escura de uma antiga máquina fotográfica, conhecida popularmente como lambe-lambe, e vem daí o nome que batiza essa variação do teatro de bonecos. A partir das primeiras experiências, no finalzinho da década de 1980, o teatro lambe-lambe inspirou tantos outros criadores, no Brasil e no exterior, a fazerem suas próprias micropeças. Algumas delas fazem parte da programação do Encontro de Teatro Lambe-lambe, que ocupa o CCBB entre 24 e 29 de abril. Integrante do grupo brasiliense Caixeiras Cia. de Bonecas e idealizadora do projeto, Amara Hurtado conta que, quando leva seu lambe-lambe para a rua, a maioria das pessoas acredita que ela está por ali para tirar retratos. “Esse tipo de teatro ainda é uma novidade, muita gente não conhece. Quando me veem com a caixa, as pessoas acenam com a mão, como que dizendo ‘não quero fazer foto’. Mas logo são tomadas pela curiosidade e se aproximam para ver o que acontece dentro da caixa”. Esses pequenos grandes espetáculos, explica Amara, não têm grande duração. Giram em torno de dois a cinco minutos.

E durante o encontro o público poderá conhecer diversos deles. São criações de companhias de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Bahia, Goiás, Pará, São Paulo, Minas Gerais, Distrito Federal e ainda Argentina e Chile. Nos dias 28 e 29, sábado e domingo, o hall da galeria 3 do CCBB será ocupado por 22 espetáculos, das 15 às 17h e das 17h45 às 19h. “São espetáculos indicados para toda a família. E mesmo os mais simples, na temática e na linguagem, contam com um grande esmero na produção dos personagens, cenários e iluminação”, comenta Amara. “Justamente por ser tudo em miniatura, este é um trabalho artesanal muito cuidadoso, muito minucioso”, ela reforça. Dentro das caixas – que podem ser de diferentes formatos e tamanhos – o espectador poderá assistir a dramas e comédias inspirados em temas como folclore, natureza, o sonhar, a infância e o passar do tempo. Criadora do teatro lambe-lambe, Denise di Santos participa do encontro com o espetáculo A dança do parto. Entre 24 e 27 de abril os interessados poderão acompanhar uma oficina de teatro lambe-lambe ministrada por Rosana López e Leonardo Javier Olivieri. Inscrições pelo e-mail oficinalambelambe@ gmail.com. No dia 26, Cássia Xavier e Gustavo de Lima apresentam uma palestra sobre a história da fotografia lambelambe. A programação conta também com apresentações musicais: dia 28, às 17h, repente com Chico de Assis e João Santana e, às 19h, show de Dona Gracinha da Sanfona. No dia 29, às 17h, é a vez do grupo Mambembrincantes e, às 19h, show com a banda Ventoinha de Canudo.

Programação Lembranças – Cia. Cênica Espiral (SC); O encontro – Cia. Teatral Fantoccini (SP); Universo Semente – Cia. Yohanna Marie (BA); Ataque de nervos – As Caixeiras Cia. de Bonecas (DF); Espíritu submarino – Escuela Teatro de Muñecos de Santiago (Chile); Circo em miniatura, el circo más pequeño del mundo – Umami Teatro (Argentina); O faquir – Pequeninus Grupo de Arte (SC); Festa no mar – Cia. Gente Falante (RS); Volte! – Cia. Gente Falante (RS); Na voz de Josefina – Cia. Mamacadela (DF); Ensaio geral – Firulas Mínimas (DF); Gárgula e a libélula – Seres Mínimos (DF); Priscila, a perereca – As Caixeiras Cia. de Bonecas (DF); A mensagem – As Caixeiras Cia. de Bonecas (DF); Isto não é uma caixa – Grupo Girino (MG); Um presente pra todo dia – Sissy Favery (DF); Pastrana – Cia. de Teatro Nu Escuro (GO); Sopro – Coletivo de Animadores de Caixas (PA); A dança do parto – Teatro Lambe-lambe da Bahia (BA); Por un puñado de tuercas – Teatro Corre Que Te Pillo (Chile); Sonho de leitura – Cia. Hermes Perdigão (MG); Milongas – El Alma En El Hilo (Argentina). Encontro de teatro lambe-lambe

De 24 a 29/4, no CCBB (SCES Trecho 2). Atividades gratuitas. Classificação indicativa: livre. Informações: www.bb.com.br/cultura e facebook.com/ccbb.brasilia.

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Gabriela Bila

BRASÍLIA58ANOS

Uma cidade que

fala com o visitante

POR VICENTE SÁ

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jovem desce as escadas e vê, no chão, a imagem tridimensional da sua cidade sobre uma maquete. Numa tela colorida, ao lado, ele digita o nome de um escultor – Ceschiatti, por exemplo – e a tela responde quem é e quantas obras dele estão expostas na cidade. Na maquete em 4D, os locais das obras são assinalados e o jovem percebe que, na praça ao lado, a poucos metros dele, uma das obras do artista – A justiça – poderá ser apreciada assim que ele sair dali. Ficção? Sim, mas somente até o dia 27 de abril. Aí passará a ser realidade, com o início do projeto Escala Brasília, Maquete 4D, que vai ocupar o Espaço Lucio Costa, na Praça dos Três Poderes, e

utilizar a maquete do Plano Piloto que lá está exposta desde 1988. O projeto, concebido e realizado pela Entrequadra Novas Mídias, lança um olhar para as possibilidades de se acolher o visitante com conteúdos que tratam, também, da memória afetiva e de saberes que perpassam a história, a arquitetura e a arte da capital da República. Assim, o jovem lá do começo deste texto pode também perguntar à tela sobre a Vila Amaury, que hoje dorme sob as águas do Lago Paranoá, e saber toda sua história, número de habitantes, até mesmo a localização dos

restos das casas abandonadas à época da criação do lago artificial. A ação enaltece o turismo cívico de Brasília, com o uso aplicado da tecnologia, como mediadora entre o público e


processo e criar algumas soluções inovadoras em Brasília, no contexto de uma cidade relevante na contemporaneidade”, destaca a arquiteta Gabriela Bilá, diretora de arte do projeto. “Para mantermos a integridade de Brasília como uma cidade-monumento, é importante desenvolver ações estimulantes que levem à população conhecimentos essenciais sobre nossa cidade”, acrescenta Felipe Brito, idealizador do Escala Brasília. Ambos acreditam que, a partir dessa

ação, novas maneiras de expor nos monumentos históricos do Distrito Federal poderão ser elaboradas e o visitante poderá interagir e mergulhar na fantástica história da capital do Brasil. Escala Brasília, Maquete 4D

De 27/4 a 6/5 no Espaço Lucio Costa (Praça dos Três Poderes), com entrada franca. Abertura dia 27, das 29 às 2h da madrugada, com shows de Barata + Samuel Mota, Beeb Dee (Hot Creations), Gerson Deveras e Rami (Forró Red Ligth). Visitação a partir do dia 28, das 9 às 18h. Mais informações: 3325.6244.

Gabriela Bilá

sua relação com o espaço que o circunda, em uma viagem virtual pelo tempo. Ou várias viagens, pois, afinal, o visitante poderá fazer sua visita com olhares diversos: na arquitetura, por exemplo, poderá buscar por monumentos, por obras de arquitetos como Lucio Costa, Milton Ramos ou Niemeyer, ou por arquitetura cotidiana (superquadras, mobiliário urbano, azulejos). A visita poderá ter, também, o viés histórico, indo pela inauguração, Cidade Livre, Vila Amaury, a primeira missa ou, ainda, por setores ou pela natureza, buscando parques e o paisagismo de Burle Marx. Os criadores do projeto acreditam que Brasília – decretada patrimônio histórico e cultural da humanidade em 1987, pela Unesco, por “representar uma obra-prima do gênio criativo humano” e “ser um exemplo de um tipo de edifício ou conjunto arquitetônico, tecnológico ou de paisagem, que ilustre significativos estágios da história humana” – precisa ser resguardada contra alterações que possam comprometer sua concepção original. A conscientização de sua riqueza é um passo importante neste processo. “Brasília é uma cidade que nasceu olhando para o futuro e onde foram empregados todos os recursos técnicos e ideias mais avançados que existiam à época, inclusive criando, aqui, algumas experiências que serviram de modelo para o resto do mundo. Com este projeto, pretendemos dar continuidade a esse

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Um Niemeyer pouco conhecido POR PEDRO BRANDT

Ricardo Fasanello

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s vésperas do aniversário de 58 anos de Brasília, a cidade ganhou uma exposição dedicada a um de seus criadores. Inaugurada no último dia 18, Oscar Niemeyer – Territórios da criação segue até 9 de junho no Espaço Cultural Marcantonio Vilaça, do Tribunal de Contas da União, com um conjunto de manuscritos, pinturas, desenhos e croquis feitos pelo arquiteto, projetos gráficos, joias e móveis desenvolvidos por ele, exemplares das revistas Módulo e Nosso Caminho, das quais foi editor, e ainda diversas obras realizadas por artistas que trabalharam com Niemeyer. Completa a exposição uma série de retratos do homenageado feitos por fotógrafos renomados. Territórios da criação estreou em novembro de 2017 no Rio de Janeiro e esteve aberta para visitação até fevereiro passado. A exposição instalada em Brasília é basicamente a mesma do Rio, conta Marcus Lontra, que assina a curadoria com Max Perlingeiro. “Duas esculturas, de acervo particular, não conseguimos trazer. Entretanto, temos duas obras novas do Joaquim Tenreiro”, detalha. O que o visitante poderá encontrar exposto no Espaço Cultural Marcantonio Vilaça, explica o curador, forma uma síntese criativa de Oscar Niemeyer, de maneira a ultrapassar sua atuação na área da arquitetura. “É um ABC do Niemeyer: arquiteto, brasileiro, cidadão”, define Lontra. A escolha das obras de arte da exposição se deu tendo em mente artistas que colaboraram frequentemente com Niemeyer. São pinturas, esculturas e estudos de Cândido Portinari, Roberto Burle Marx, Bruno Giorgi, Alfredo Ces-


Nani Goes Jaime Acioli

chiatti, Athos Bulcão, Tomie Ohtake, Franz Weissmann e Carlos Scliar, além do já mencionado Joaquim Tenreiro. A curadoria teve o cuidado de trazer peças de Athos Bulcão que não haviam aparecido na recente exposição dedicada ao artista que ocupou o CCBB. “Busquei a planta do Sambódromo, projeto do Oscar no qual ele trabalhou mais uma vez com o Athos. É mais uma exclusividade da exposição em Brasília, não estava exposta no Rio”, aponta Lontra. Entre as pinturas, o curador destaca duas telas de autoria do próprio Niemeyer, que retratam palácios da capital federal em ruínas. Por pertencerem a uma coleção particular, as obras raramente são vistas em exposições abertas ao público. A inspiração para essas pinturas, lembra Lontra, veio de uma conversa de Oscar com o então ministro da cultura da França, André Malraux, que considerava as colunas de Brasília as mais importantes desde a antiguidade e imaginou como elas estariam no futuro, como num achado arqueológico. “Ele fez essas pinturas nos anos 1960, quando estava radicado na Europa, na época da ditadura militar. Elas carregam um forte simbolismo”, diz o curador. Na seção de fotografias estão presentes retratos de Oscar Niemeyer tirados por Antônio Guerreiro, Bob Wolfenson, Orlando Brito, Edu Simões, Evandro Teixeira, Juan Esteves, Luiz Garrido, Marcio Scavone, Nana Moraes, Nani Góis, 0Ricardo Fasanello, Rogerio Reis, Vilma Slomp, Walter Carvalho e Walter Firmo. No espaço dedicado às revistas Módulo e Nosso Caminho estão anotações, estudos e desenhos, além de exemplares de ambas as publicações. “Ele era um editor-chefe muito participativo”, lembra Marcus Lontra, que foi editor da Módulo por oito anos. “Ele gostava de pensar na diagramação, distribuição de espaço de cores, tipologia, enfim, fazia a revista mesmo”, reforça. Depois de Brasília, a intenção dos produtores de Territórios da criação é levar a exposição para outras cidades. Ainda sem datas definidas, Belo Horizonte e São Paulo seriam as próximas. Oscar Niemeyer – Territórios da criação Até 9/6, de 3ª a sábado, das 9 às 19h, no Espaço Cultural Marcantonio Vilaça, do Tribunal de Contas da União (SCES, Trecho 3), com entrada franca. Agendamentos para o programa educativo pelo telefone 3316.5221.

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BRASÍLIA58ANOS

Uma ponte

entre dois mundos

POR LÚCIA LEÃO

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e um lado, detalhe da decoração de uma parede do Castillo de Luna, uma edificação do Século 14 na cidade andaluza de Rota. Na parede frontal da galeria do Museu Nacional dos Correios, detalhes de azulejos da Igrejinha, do painel externo do Teatro Nacional e de outras edificações de Bra-

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sília. A identidade, quase semelhança, é estarrecedora, como mostram as fotos acima. Apesar de pintura, a decoração do castelo se parece com azulejos, com formas geométricas repetidas, compostas de retas e curvas tão marcantes da obra de Athos Bulcão. Um e outros são Fragmentos de utopias, nome da exposição de fotografias de Nick Elmoor que busca, nos detalhes de

suas construções, as identificações estéticas, conceituais e filosóficas que aproximam Brasília das cidades da Andaluzia, marcos de duas civilizações tão distantes no tempo e no espaço. “Nós tentamos estabelecer, através das imagens dessa exposição, uma ponte entre dois mundos carregados de significados e trazer à tona discussões importantes sobre suas reais contribuições culturais, artísticas e histó-


ricas”, define a socióloga e pesquisadora Patrícia El-moor, curadora da mostra. São 76 imagens captadas em Brasília e cidades da Andaluzia, região do sul da Espanha ocupada durante quase oito séculos por povos árabes e onde se estabeleceu a civilização al-Andalus. “Foi uma civilização reconhecida, em seus tempos áureos, pelo intercâmbio cultural e religioso sem precedentes, que irradiou uma personalidade própria tanto para o Ocidente quanto para o Oriente”, explica Patrícia. “Há séculos essa região carrega fragmentos de uma era utópica, exemplo de um esplendor onde diversas religiões, povos e culturas teriam convivido de forma próspera e inspiradora, mesmo com as contradições intrínsecas a esse período”. A harmonia e a convivência respeitosa e próspera de diferentes culturas também estão na base do conceito utópico sobre o qual está assentada Brasília. Observando

os detalhes captados por suas lentes nos edifícios e monumentos da capital brasileira e da Andaluzia, especialmente nas cidades de Sevilha e Granada, Nick Elmoor percebeu também outras surpreendentes semelhanças. “Vendo as imagens dessas duas utopias, constatamos, eu e a Patrícia, profundas identificações estéticas entre elas. Como nas formas curvas, nos espaços amplos e até em soluções arquitetônicas para iluminação e circulação de ar, como o uso de cobogós”. Pois é, os cobogós! Os tijolinhos furados que permitem a entrada de luz cortando o excesso de claridade, tão característicos de Brasília, são descendentes diretos dos muxarabis, paredes vazadas largamente utilizadas na arquitetura árabe e presentes na maior parte das edificações quase milenares da Andaluzia. Além das fotos de Nick Elmoor, a exposição oferece uma espécie de “bônus”,

com duas paredes reservadas para imagens de Brasília captadas na década de 1960 por Max Simon, então chefe do departamento fotográfico da Associated Press para a América do Sul. O acervo foi recentemente encontrado pela filha do fotógrafo, Elisa Simon, nos guardados mantidos pelo pai na casa onde morou os últimos anos de sua vida, em Sevilha. “A Elisa conta que, quando viveu na América do Sul, Max Simon visitou várias vezes Brasília, apaixonado pela cidade de arquitetura rompedora e transgressora, erguida no meio da natureza brasileira, o que lhe pareceu uma verdadeira utopia, pois questionava como tudo aquilo seria possível. Em seus últimos anos de vida, apaixonou-se por Sevilha, capital da Andaluzia, onde descobriu os encantos da região e sua história. Para ele, a Mesquita de Córdoba era simplesmente fascinante” relata Patrícia. E conclui: “Encontrar esse acervo no momento em que estávamos desenvolvendo o projeto da exposição foi uma coincidência maravilhosa. Como que fechou o nosso conceito da Fragmentos de utopia”. A exposição pode ser vista até 10 de junho, a partir de quando será realizado um leilão virtual de todas as obras para financiar desdobramentos do projeto. Fragmentos de utopia

Até 10/6 no Museu Nacional dos Correios (SCS, Quadra 4, Bloco A, 3º andar). De 3ª a 6ª feira, das 10 às 19h; sábado, domingos e feriados, das 14 às 18h.

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BRASÍLIA58ANOS Fotos: Arquivo Público do DF

Do túnel do tempo F

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oram muitos os fatos marcantes da capital federal ao longo de seus 58 anos de existência, mas alguns deles estão representados na exposição interativa Histórias de Brasília, que ocupa a Praça Central do ParkShopping até 29 de abril, como a inauguração da SQS 308, em 1962, e a abertura da Torre de TV, em 1967. Em cada uma das estações dessa viagem ao túnel do tempo está um totem com o QR Code que permite aos visitantes acessarem em seus smartphones imagens complementares aos fatos históricos relembrados. A exposição é baseada na série de livros Histórias de Brasília, de João Carlos Amador, um publicitário que em 2014 começou a colecionar informações e fotos antigas da cidade no Facebook, grande parte provenientes do acervo do Arquivo Público do DF. Na abertura da exposição, dia 18, ele lançou o terceiro livro da série, contendo um registro de casos policiais que repercutiram na imprensa candanga, como o desaparecimento da menina Ana Lídia, no início da década de 1970, e a morte do jornalista Mário

Eugênio. “O objetivo agora não é chocar, mas oferecer às gerações mais jovens um conjunto de informações que não podem cair no esquecimento”, ressalta o autor, que, assim como nos outros volumes, teve que realizar “um árduo trabalho de pesquisa para trazer à tona lembranças de Brasília que são preciosas e precisam ser compartilhadas”, completa. Na estação Monumentos da Cidade estão apresentados painéis com obras arquitetônicas importantes de Brasília e um conjunto de informações e curiosidades sobre elas. A Catedral e a Torre de TV são algumas das edificações dessa parte, que é composta por painéis de 2,00 x 1,50m. Já em Carros Antigos, os fissurados em relíquias automobilísticas poderão ver de perto dois modelos pioneiros que fizeram parte da frota nos primeiros anos da capital federal, acompanhados de fotos tiradas na época. Em outra estação desse caminho de volta ao tempo estão os três finalistas do Concurso Nacional do Plano Piloto da Nova Capital, que reuniu nada menos que 26 projetos para erguer a cidade pro-

fetizada por Dom Bosco em 1883 e inaugurada por Juscelino Kubitschek em 1960, onde apenas sete deles chegaram à fase final. Para a turma de seis a 14 anos há uma oficina de shaker card, técnica de criação de cartões personalizados tendo ao fundo um dos maiores símbolos da cidade, o ipê, e à frente uma janela transparente onde são colocados elementos diversos que se movimentam, como glitter, lantejoulas, miçangas etc. Tudo isso em uma ambientação que transforma a praça central do shopping em um verdadeiro bosque de ipês. “A ideia é fazer com que as experiências compartilhadas nesse evento fiquem por muito tempo na lembrança das pessoas que escolheram comemorar o aniversário de Brasília conosco”, destaca a gerente de marketing do shopping, Natália Vaz. Histórias de Brasília

Até 29/4, na praça central do ParkShopping, com entrada franca. De 2ª a sábado, das 10 às 22h, e domingos e feriados, das 12 às 20h. As oficinas, com duração de 30 minutos, acontecem às sextas e sábados, das 11 às 21h30, e domingos, das 14 às 20h.


Carne Certificada Hereford

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408 sul


BRASÍLIA58ANOS

Brasília

política e poética

POR VICENTE SÁ

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o completar 58 anos, Brasília ganha um projeto que reúne agentes culturais consagrados e jovens para discutir a cidade que estamos criando e como continuar a criá-la valorizando a diversidade que é sua característica. Desde março, o projeto Brasília: Memória & Invenção está levantando essas e muitas outras questões sobre a capital da República nos aspectos culturais, de religiosidade e de pertencimento. Idealizado e dirigido por Mateus Dounis Guimarães, o projeto busca “um resgate da história da cidade e de personagens fundamentais para a gênese cultural de Brasília, e converge com a produção de novos registros sobre agentes e movimentos contemporâneos”, explica. Assim, ressalta a memória e o espírito in-

ventivo como patrimônios indispensáveis para a compreensão da identidade multifacetada da capital. O processo de pesquisa partiu de um “conselho inspirador” formado por figuras icônicas da capital: a historiadora Ana Queiroz, o artista plástico e compositor Bené Fonteles, a poeta e atriz Marina Mara e o cineasta Vladimir Carvalho. Para completar a pesquisa, foram realizados seis encontros em territórios culturais relevantes para a cidade: a Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, a Casa Frida, o Mercado Sul, Seu Estrelo – Vila Cultural, a Fundação Cinememória e o Memorial dos Povos Indígenas. Em cada encontro, agentes culturais representantes de três gerações distintas dialogaram sobre temas como memória coletiva, processos de criação artística, formação cultural das novas gerações e

desafios e perspectivas atuais, tendo a capital onde os Brasis se cruzam como pano de fundo. Uma das novidades do projeto é que os encontros foram filmados e estão sendo apresentados a partir deste mês ao público em rodas de diálogos na Ceilândia, São Sebastião, Taguatinga e Plano Piloto, provocando novas discussões e participações. “Dizem que o Plano Piloto é o centro, mas o centro também está na periferia. Então a gente tem que aprender e se reinventar. Eu acho que esse é um grande viés do nosso projeto. E, a partir daí, novos reinventores de cultura virão. Ele tem uma consistência para oferecer ao pesquisador e à criança que vai aprender sobre esses espaços de identidade”, diz Ana Queiroz, uma das conselheiras . “De fato, o projeto superou todas as nossas expectativas”, acrescenta Mateus


Vladimir Carvalho

Ana Queiroz

Bené Fonteles Fotos: Joanna Ramos_BSBM&I

Dounis Guimarães. “As pessoas têm uma necessidade muito forte de se encontrarem e conseguimos viabilizar isso de uma maneira muito interessante. Agora queremos alcançar as escolas, de modo que esse material sirva como instrumento para a formação cultural e cidadã das novas gerações, não só da cidade, mas de todo o país, já que, enquanto capital, Brasília transpõe essas fronteiras”. O artista plástico Bené Fonteles completa: “Nessa Brasília, a juventude na verdade não sabe quem é. Não sabe quem foram as pessoas que fizeram a cabeça da cidade. Então, é extremamente útil esse projeto que reverencia essas pessoas e mostra a verdadeira dimensão, que essa cidade não é meramente política, que ela é muito poética. Ela está entre esse poder da política e da poética. A ‘poliética’ e a ‘poelítica’. Como compreender isso? Como tornar isso público? Como valorizar isso? Eu vejo que a importância do projeto está aí.” A próxima roda de diálogo com apresentação dos filmes será neste sábado, 21, às 17 horas, no Mercado Sul de Taguatinga. A última será no dia 20 de maio, às 20h30, no Centro Cultural Banco do Brasil, com entrada franca (assim como foram todas as anteriores). O projeto Brasília: Memória & Invenção tem o apoio do Fundo de Apoio à Cultura do DF. Mais informações no site brasilia.memoriaeinvencao.com.

Marina Mara

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BRASÍLIA58ANOS

Com colegas de turma no

lege

Michael Ham Memorial Col

A saga de uma

O valente jipe da Trebol que trouxe o casal de Bueno

s Aires até Brasília.

candanga portenha

POR VILANY KEHRLE

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unidos do desejo de mudança e liberdade, e com um forte sentimento de amor pelo Brasil, em 1957 Mercedes Urquiza, 17 anos, e seu marido Hugo Maschwitz, 20 anos, entraram num jipe em Buenos Aires e depois de 48 dias, enfrentando estradas e situações precárias, chegaram ao planalto goiano onde estava sendo construída a nova capital brasileira. Essa viagem rumo ao desconhecido mudou para sempre a vida dos dois jovens portenhos, pois desde aquele momento o Brasil passou a ser sua nova pátria. Em solenidade no Salão Negro do Ministério da Justiça, no último dia 11, Mercedes Urquiza lançou seu primeiro livro de memórias, A trilha do jaguar – Na alvorada de Brasília, onde conta com detalhes a experiência de ter abandonado uma vida confortável na Argentina para abraçar, em outro país, o sonho coletivo de construir uma cidade que iria surpre-

ender o mundo como símbolo urbanístico de modernidade. Numa bonita edição de capa dura, ilustrada com fotos da coleção particular de Mercedes – imagens históricas e de sua vida privada – e dividida em 30 capítulos, A trilha do jaguar (referência ao animal que habitava o cerrado antes de ser desbravado e também ao signo da autora no horóscopo chinês) começou a ser escrito timidamente em 2015, mas tomou forma mesmo em 2017, quando foi entregue à Editora Senac para publicação. A obra, que celebra os milhares de candangos anônimos que construíram Brasília, fala de forma sensível de uma outra construção mais subjetiva: a de forjar uma vida com as próprias mãos, em meio a tantas dificuldades e limitações. É impossível não se sensibilizar com o relato, em primeira pessoa, da saga do jovem casal argentino de origem aristocrática em sua chegada á Cidade Livre (atual Núcleo Bandeirante), movendo-se nas ruas de terra vermelha quase intran-

sitáveis, hospedado nos caóticos hotéis ou num barraco sem água quente, luz e telefone. “Engolir um pouco de poeira foi o combustível para o resultado final” e “Confesso que faria tudo de novo, sem titubear!”, são algumas das frases ditas pela autora, ao longo do livro. Dona de um incrível espírito empreendedor, “à medida que Brasília crescia os sonhos de Mercedes se concretizavam”, como afirma o senador Adelmir Santana, na apresentação do livro. Ela foi corretora da Novacap e, em 1962, fundou a primeira agência de viagens da cidade. Cooperava em todas as frentes para as quais era chamada, num momento em que, como ela afirma, o mais importante era construir relacionamentos, conquistar confiança e ser solidário. A autora brinda o leitor com passagens curiosas e pitorescas, como a criação da Associação dos Frequentadores do Aeroporto, o caso da privada cor-derosa do Palácio da Alvorada, o exótico restaurante Chez Willie e a história de


Passeio na Praça dos Trê s

uração, em 1960 no baile da inaug Mercedes e Hugo

Poderes em obras

A jovem Mercesdes, sorridente, em foto depois autografada por JK

um diplomata americano que montou um consulado dentro de uma kombi. E lembra, de forma poética, quando assistiu as primeiras chuvas na terra vermelha, participou de serestas à luz de velas no ermo do cerrado e viu desabrochar os primeiros ipês amarelos na W3. Nos últimos anos, além de cuidar de suas memórias, Mercedes Urquiza tem se dedicado a divulgar o trabalho do premiado fotógrafo sueco Ake Borglund, a quem serviu de intérprete, em 1957, quando ele visitou a cidade em constru-

ção. Antes de partir, Borglund a presenteou com 40 fotografias que, muitos anos depois, foram cedidas para algumas exposições sobre a cidade. A recepção foi tão grande que, a partir de 2007, depois de muitas idas a Estocolmo e longas correspondências manuscritas, ela conseguiu que ele cedesse a coleção com 495 imagens inéditas que havia produzido sobre a capital, fotos que têm sido mostradas mundo afora, em exposições idealizadas pela pioneira. Depois de todos esses anos, ao con-

templar a cidade criada em meio a tantos embates, e saber que foi parte importante da sua história inicial, ela confessa: “Posso afirmar que aquilo que ficou para trás e o que vem pela frente é motivo de orgulho para mim, e faz parte de uma trajetória de vida gratificante, graças à permissão de Deus para continuar a trilhar caminhos que nunca se esgotam”. A trilha do jaguar – Na alvorada de Brasília Livro de memórias de Mercedes Urquiza. Editora Senac, 248 páginas, R$ 98 (à venda em www.df.senac.br/editora).

Com o sertanista Orlando Villas Boas, uma índia da tribo Carajá e sua filha

Travessia de barco com

o cachorro Fleck

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CRÔNICADACONCEIÇÃO

Crônica da

Conceição

CONCEIÇÃO FREITAS

conceicaofreitas50@gmail.com

O que Brasília ensina ao Brasil

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ais que uma cidade, Brasília é uma inspiração, uma conquista, uma loucura, um ajuntamento de Brasis, um desejo de se constituir uma Nação. Brasília é a tradução concreta da vontade de brasileiros que queriam juntar as partes desde sempre separadas de um território de diferenças. O que menos importa é o Plano Piloto, suas virtudes e seus fracassos. Brasília vale muito mais pelo que representa, pela força simbólica de sua existência. O modo como o Brasil olha para Brasília reflete o modo como o país olha para si mesmo: com desdém, com incômodo, com a mesma má vontade com que o Sul e o Sudeste olham para os demais Brasis. Brasília era o epicentro de um projeto de país. Daqui para todos os Brasis que nos contornam. Brasília era um grande partido feito de homens incríveis que se juntaram num só tempo e lugar. Brasília era a afirmação de um Brasil até então desatado. Fosse agora, Brasília não seria construída. Juscelino, Sayão, Israel, Lucio, Oscar, Athos, Burle Marx, Darcy, Anísio estariam sob suspeita. Nenhum deles, ao que se sabe, se empanturrou de

dinheiro público ou de empreiteiras. Israel brigava com Oscar; Lucio e Oscar não se entendiam muito bem; Oscar não gostava de Burle Marx e outras tantas intrigas não impediram que a cidade surgisse, que a universidade fosse construída, que os jardins integrassem a arquitetura e que a cidade flutuasse no azul do dia e nas cintilações da noite. Juscelino foi acusado de ter recebido um apartamento, de uma empreiteira, foi cassado pela ditadura e se tornou o inimigo número 1 dos generais; Oscar e Darcy foram perseguidos pelos governos militares; Anísio Teixeira teve morte até hoje não esclarecida. Gastou-se uma dinheirama para construir Brasília. As empreiteiras viraram monstros, depois de Brasília. Mas o Brasil estava encantado por si mesmo. Era feliz, o Brasil. Era um país, o Brasil. Jornalistas do mundo inteiro – e não se trata apenas de uma generalização retórica – vieram ver o que acontecia no Planalto Central do Brasil. Enquanto os jornais brasileiros acompanhavam com desinteresse a construção de Brasília. Houve dias em que mais de 5 mil nordestinos aportaram em Brasília. Eram os brasileiros querendo acolhida,

comida e trabalho em seu próprio país. Os brasileiros que participaram da construção de Brasília, mesmo os que comeram o pão que o diabo amassou, mesmo eles, guardaram para o resto da vida a doce certeza de que viveram uma epifania coletiva. Houve muito mais mortos e feridos do que registra a história. “Pagamos um preço”, me disse uma vez Lelé. Brasília é por certo um delírio faraônico – mas de que outro modo os homens construíram civilizações? A expressão mais telúrica da existência humana são as grandes obras da arquitetura e do urbanismo. Para se sustentar sobre as pernas, o homem precisa acreditar que é grande e para crê-lo precisa construir grandiosidades. Talvez não seja a escolha mais sensata, mas tem sido assim desde que o sapiens passou a dominar as demais espécies. O céu, o cerrado, a arquitetura, o desenho de Lucio são personagens de uma fábula brasileira. Nenhuma outra moveu tantos Brasis, tanta terra, tantas máquinas, tanta força bruta, tanta capacidade de resistência, tanta inventividade, tanta solidariedade, tanta alegria, tanta cachaça. Brasília não é uma cidade, é uma ideia.



BRASÍLIA COMPLETA 58 ANOS E CADA VEZ MAIS ENTUSIASMADA PELO EMPREENDEDORISMO E SIMPLIFICAÇÃO. Acreditar e capacitar os pequenos negócios é o primeiro passo para que venham muitos anos de conquistas e celebrações. Nossa cidade lidera o ranking entre as que apresentam os processos mais rápidos e simples para favorecer o empreendedorismo. Esse é um dos presentes que entregamos aos empreendedores da capital, em parceria com o Governo de Brasília. O Sebrae no DF tem orgulho de contribuir para que a nossa cidade continue evoluindo.

Parabéns, Brasília!

Uma homenagem do Sebrae no DF aos 58 anos da cidade que vivencia a inovação e o empreendedorismo.


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