Revista Punctum 01

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CORES NA FOTOGRAFIA

EDIÇÃO

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EDIÇÃO 01 CORES NA FOTOGRAFIA E-MAIL CONTATOREVISTAPUNCTUM@GMAIL.COM

EQUIPE JONAS NOGUEIRA EDITOR / DESIGNER

LETÍCIA ARAÚJO EDITORA

COLABORADORES EDMAR SILVA/RODRIGO ZEFERINO/ NILMAR LAGE/

ARTE DA CAPA EDMAR SILVA

FOTO LETÍCIA AR AÚJO


CONTEÚDO

Editorial Primeira Edição

pág. 05

O universo das cores

pág. 06

Artista convidado Rodrigo Zeferino

pág. 08

A obra de Steve McCurry

pág. 18

O que me guia Nilmar Lage

pág. 36

Agradecimento

pág. 42


EDITORIAL Caro leitor, A Punctum é uma revista eletrônica com periodicidade semestral, produto do trabalho de conclusão do curso de Comunicação Social - Publicidade e Propaganda do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais (Unileste MG). Esta edição, 1/2021, traz conteúdos sobre o tema das cores, e também, a visão de profissionais, que são referência em fotografia na região Leste do estado de Minas Gerais. Fotógrafos esses, de campos de atuação diferentes sobre como eles utilizam as cores em seus trabalhos. Bem como, um conteúdo sobre a obra de Steve McCurry, fotógrafo mundialmente conhecido pelo uso excepcional das cores. Tem alguma sugestão de tema para a próxima edição da Punctum? Envie para o nosso email contatorevista punctum@gmail.com. Boa leitura!

F O T O E D M A R S I LVA


O universo das cores Foto de Jeremy Bishop on Unsplash

O mundo é repleto de cores, estamos em contato com elas do momento em que abrimos os olhos de manhã até quando vamos nos deitar, nós também tomamos decisões baseadas em cores logo cedo ao escolher qual roupa vestir, ou o que comer no café. Há também profissionais como fotógrafos, designers, decoradores, entre outros que diariamente necessitam fazer escolhas sobre cores em seus trabalhos, e essas escolhas afetam diretamente na forma como as outras pessoas irão compreender e assimilar suas obras. E para esses profissionais quanto maior for o conhecimento sobre o tema melhor irão aditivar esse elemento com eficácia em seus trabalhos. As cores apresentam entre si características e peculiaridades que as diferenciam tanto fisicamente quanto psicologicamente. Para a psicologia as cores são repletas de significados e despertam sensações em quem as vê, e o contexto em que elas estão inseridas irá influenciar em sua percepção. Por este motivo surge a necessidade profissional, em especial nos publicitários, artistas e comunicadores, em se aprofundar e entender melhor o significado das cores para que assim possam ter um maior controle sobre como o público irá assimilar suas peças, fotografias, quadros, logotipos, revistas e etc. De certa forma as cores são uma linguagem, e assim como um idioma, quando o dominamos, podemos nos expressar melhor com os falantes daquela língua.

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Assim como explica Silveira em seu livro Introdução a cor: “A cor não é material, não é tangível, é uma sensação físico-química e sua interpretação pelos seres humanos é derivada de três fatores: a luz, pois só com sua presença pode haver a percepção da cor, o contato físico, através do olho humano e de sua decodificação pelo cérebro, e os fatores culturais que influenciam na sua significação para cada pessoa e/ou sociedade. Os três aspectos devem ser pensados juntos, isto é, um está inevitavelmente ligado ao outro.”

Primeira fotografia, de Joseph Nicéphore Niepce 1816

A fotografia nasceu em preto e branco, os primeiros modelos de máquina fotográfica demoravam até 8 horas para registrar uma imagem. Já hoje em dia com o avanço da tecnologia as fotografias estão bem diferentes, as câmeras digitais são extremamente populares e estão presentes na maioria dos celulares, com poucos cliques fotografias coloridas com alta qualidades são tiradas e no mesmo instante já podem ser postadas em redes sociais e serem acessadas pelo mundo. E você, como registra as cores nas suas fotografias? Espero que as matérias dessa edição te ajude no seu pensamento crítico sobre o tema, e que te auxilie em seus insights criativos. Boa leitura.

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.Punctum entrevista

edmar silva A Punctum entrevistou Edmar, fotógrafo publicitário formado no Centro Universitário Unileste MG. Experiente em fotografar diversas situações Edmar compartilhou um pouco de sua experiência com a gente, confira.

[Punctum] Conte um pouco sobre você e sua carreira como fotógrafo. Sou de uma família de fotógrafos, daqueles tradicionais, com lojas de fotografia que faziam de tudo um pouco, desde fotografias para documentos a fotografia social (casamentos, aniversários, fotos de família) onde também comecei a minha carreira como fotógrafo. O meu contato com a fotografia se deu ainda na adolescência quando comecei a trabalhar em uma das lojas de fotografia da família. Aprendi do zero pela fotografia analógica, comecei com a base de todo o processo compreendendo e descobrindo como se dá cada etapa dentro da construção da imagem. A paixão pela fotografia foi quase que imediata e isso me levou a buscar mais conhecimento e me aprofundar nos estudos e pesquisas tanto em literatura como em cursos e grupos de discussão. Mais tarde me dediquei ao fotojornalismo, trabalhei como freela para jornais, revistas e assessorias de comunicação de empresas e prefeituras da região. Nos últimos anos venho trabalhando exclusivamente como fotografia industrial, institucional e corporativa na produção de imagens para campanhas institucionais e banco de imagens de empresas e instituições. Também tenho me dedicado na construção de um projeto autoral que será desenvolvido muito em breve.

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“As cores podem induzir quem contempla uma imagem à percepção desejada.” [Punctum] Queremos saber como as cores influenciam no seu processo criativo/na sua produção fotográfica. Desde sempre, buscamos a cor para nos expressar, isso é de fácil percepção basta voltarmos nossos olhos para o início da história que vemos isso claramente, por exemplo, nas pinturas corporais de guerreiros, vestes cerimoniais, vestes dos nobres. As cores podem induzir quem contempla uma imagem à percepção desejada. A arte, principalmente o período impressionista, sempre me apaixonou e a proposta dos pintores impressionistas de pintar o que se via e de misturar cores quentes e frias para criar harmonia nas telas, é algo fantástico que busco implementar em minhas fotos.

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Nessa imagem que fiz a intenção era passar a sensação de calor tão comum da região do Vale do Aço. A imagem feita da janela do meu quarto em uma noite quente de verão, mostra como centro de irradiação do calor uma usina siderúrgica, no caso a Aperam. Edmar Silva, fotógrafo

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[Punctum] E quando o projeto pede pela ausência de cor, como você trabalha o preto e branco? Gosto do alto contraste, traz intensidade e força para a imagem. Adoro trabalhar o preto e branco quando fotografo pessoas. Além de me possibilitar maior concentração no que realmente importa no momento fotografado (expressões, situações) A abstração das cores leva as pessoas a uma interação maior com a fotografia. Como nada no mundo é sem cor, quando uma pessoa olha a fotografia ela restitui a cor à imagem mas conforme a sua percepção e emoção despertados pela imagem. Essa sequência de imagens sobre garotas de programa é um bom exemplo disso.

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[Punctum] Como você explora a correlação entre cores e sentimentos no seu trabalho? Cores frias e cores quentes são abordadas nesse processo? Como sabemos, as cores tem toda uma maneira de influir na mensagem transmitida, na publicidade isso é muito aplicado. E na fotografia também. As cores são universalmente ligadas a sentimentos e tem uma ótica geral para o mundo. Referem-se à claridade de uma cor, que dá a sensação de espaço, volume e contorno aos objetos. Dentro do processo de criação da minha fotografia dependendo da mensagem vou trabalhar saturação ou intensidade onde pode-se transmitir a sensação de movimento. Ou contraste onde dependendo da maneira como é manipulado pode transmitir uma sensação de intensidade ou tranquilidade. [Punctum] Como você costuma trabalhar a cor na sua pós-produção? Seja por software ou na revelação dos filmes. Minhas edições são mínimas, minha fotografia é pensada e construída antes do “clic’ e isso me permite executar pensando em tudo, luz, composição espacial, se vai ser cor ou preto e branco então o processo de edição é bem simplificado, normalmente trabalho mais saturação e contraste.

Edmar Silva, fotógrafo

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Cofira mais do trabalho de Edmar Silva instagram.com/edmarsilvamarketing

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Rodrigo Zeferino a influência das cores em meu trabalho A forma como exploro as cores no meu trabalho artístico está intimamente relacionada com os caminhos que eu optei por trilhar, de forma mais ou menos intuitiva, desde os primórdios de minha pesquisa dentro da linguagem da fotografia de longa exposição. Explorar a luz noturna, algo que venho fazendo de forma cíclica há quase 20 anos, foi pra mim, no começo, uma tentativa de descobrir um universo que jaz oculto nas sombras. De forma geral, como observa o pesquisador da fotografia Ronaldo Entler, “uma paisagem é feita daquilo que a natureza oferece, mas também do percurso que nos leva até ela”. Pois o meu percurso se deu por uma estrada pedregosa, como diria Drummond, um trajeto sinuoso, e sobretudo escuro. E foi justamente esse não-ver, como um buraco negro que suga tudo a sua volta, que me atraiu para a fotografia noturna. Pois, se o olho humano tem lá suas limitações acerca de sua capacidade de absorver luz, a potência do mecanismo fotográfico, neste sentido, é infinita. Assim como para uma coruja, cuja aptidão para enxergar em condições de luminosidade escassa é mais avançada que na maioria dos outros animais, a técnica da longa exposição fotográfica permite que quantidades mínimas de luz vão se acumulando na superfície sensível da câmera (o sensor digital ou o filme) e revelem um ambiente que antes se embrenhava em pura treva.

“uma tentativa de descobrir um universo que jaz oculto nas sombras” .PUNCTUM

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O acúmulo desses débeis raios luminosos, contudo, provocam uma certa saturação das cores que, antes opacas devido a baixa claridade do ambiente, emergem vivas e transformadas. Como perceber a olho nu, por exemplo, que a cor da luz emitida pelas lâmpadas fluorescentes pode carregar tons de verde intenso? Na fotografia (foto acima) essa coloração salta às vistas devido ao acúmulo de luminosidade que é possível alcançar ao manter o obturador aberto por vários segundos, minutos, horas.

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“uma tentativa de descobrir um uni

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iverso que jaz oculto nas sombras”

Além das cores ocultas na parca luminescência da noite, há também o efeito da mistura de diferentes fontes luminosas: o âmbar de uma lâmpada de vapor de mercúrio num poste distante funde-se ao azulado da luz refletida da lua, gerando um arroxeado exótico nas camadas mais baixas de nuvens. Rodrigo Zeferino, fotógrafo

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A presença de duas ou mais cores isoladas em diferentes zonas da imagens também foi um recurso que utilizei repetidas vezes (foto acima). Rodrigo Zeferino, fotógrafo

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“aprendi a enxergar melhor no escuro e passei a prever os resultados com alguma precisão” O ímpeto de explorar esse desconhecido foi o que guiou minhas primeiras incursões na fotografia autoral e me tornou mais íntimo da cor. A princípio, a imagem final era sempre uma surpresa – tendo em vista que à época eu ainda trabalhava com a fotografia de base química, ou seja, a foto não se dava a ver instantaneamente. Mas com o tempo aprendi a enxergar melhor no escuro e passei a prever os resultados com alguma precisão. Mais tarde, fui identificando outras referências na arte com as quais minha produção dialogava e que inconscientemente eu já aplicava em meu trabalho. Entre essas matrizes inspiradoras estão obras do movimento impressionista. As noites de Van Gogh certamente estão presentes nesse imaginário, bem como as algumas das abstrações de Kandinsky. O realismo de Edward Hopper traz as noites urbanas, as luzes artificiais, a atmosfera de solidão. Quase todo o meu trabalho é permeado pelas sensações típicas desse “lugar”. Especificamente no universo da fotografia brasileira, a Belém de cores altamente saturadas de Luiz Braga, ou a São Paulo sombria de Cássio Vasconcelos, foram também fortes referências em meu início de carreira. Enfim, ao combinar esses recursos e influências, implico em minha produção uma tentativa de desestabilizar os paradigmas da fotografia, que ao longo de sua história e de sua relação conflituosa com o campo da arte muitas vezes foi acusada de emular uma olhar passivo e mecânico, respeitoso demais, sobre a natureza. Assim, procuro representar uma paisagem descontruída, cuja imagem final traga uma estética de contornos irreais como que saída de um conto de literatura fantástica. Cofira mais do trabalho de Rodrigo Zeferino www.artsteps.com/view/60c6a262b6e24b2b1324afc4 instagram.com/rodzefer

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A obra de

Steve McCurry Você provavelmente conhece a profundidade do olhar da “Menina afegã” (1984), pois essa é uma fotografia de Steve McCurry fotógrafo americano, reconhecido mundialmente pelo seu trabalho em fotojornalismo de guerra. Steve McCurry tem uma forma peculiar de usar cores vibrantes em seu trabalho de forma harmônica, aliado a uma boa escolha de composição, luz e textura, Steve McCurry cria imagens incríveis e inesquecíveis.

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Menina Afegã A icônica fotografia foi tirada em 1984, o registro da garota Sharbat Gula de 12 anos foi feito em um reportagem sobre a ocupação soviética no Afeganistão feita pela “National Geographic”. Em entrevista ao site NPR, McCurry contou detalhes sobre o dia da fotografia. “Havia, em alguns casos, dezenas de milhares de afegãos pressionados juntos nessas condições esquálidas e realmente terríveis”, diz McCurry. "Sem encanamento, sem eletricidade e eles teriam que carregar água, havia doenças - era apenas uma existência terrível." Em uma dessa ocupações perto de Peshawar, Paquistão, McCurry ouviu o som inesperado de risos infantis vindos de dentro de uma grande tenda. Ao se aproximar percebeu que era uma sala de aula improvisada para uma escola só para meninas. “Notei uma garotinha com olhos incríveis e imediatamente soube que essa era realmente a única foto que eu queria tirar”, diz ele. Em 2002, Steve McCurry reencontrou Sharbat, a garota se tornara uma mulher de 30 anos, e alegava não ter ideia sobre o impacto que a sua imagem havia causado no mundo ocidental. Steve McCurry usa muito de cores complementares em suas composições, nessa fotografia por exemplo podemos ver o forte contraste entre o vermelho e o verde. Os olhos da menina são da mesma cor do fundo e da roupa verde que se revela por debaixo do tecido vermelho alaranjado, que combina com a cor da sua pele, causando uma harmonia e contraste marcante.

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HOLI MAN, STEVE MCCURRY 1996

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W O M A N I N C A N A R Y B U R Q A S T E V E M C C U R R Y, 2 0 0 2

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KUCHI SHEPHERD WITH A HENNA- DYED BE ARD, STEVE MCCURRY 1995

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K ASHMIR FLOWER SELLER, 1996

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B O AT C O V E R E D I N S N O W I N S A N K E I - E N G A R D E N

Outro recurso de cor que McCurry utiliza amplamente na composição de suas fotografias é a utilização de uma cor em destaque dentro de um cenário neutro. Essa técnica guia o olho do observador ao objeto em destaque, segundo a psicodinâmica essa técnica das cores prende a sua atenção e aumenta a pregnancia da imagem na sua memória.

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A obra de

Para conhecer mais sobre a obra de Steve McCurry acesse o site do artista em: www.stevemccurry.com Sigo-o também nas redes sociais, e fique ligado nas fotos que ele posta em: instagram.com/stevemccurryofficial

A G E I S H A I N A S U B WAY S TAT I O N I N K YO T O, J A PA N

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Nilmar Lage

O que me guia

Ocupação Bubas / Foz do Iguaçu (2018)

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Sou Nilmar Lage, fotógrafo documentarista e jornalista independente. Apesar de gostar e praticar a fotografia como registros familiares, nunca havia me imaginado ser um profissional da imagem. A partir de 2003, no curso de Comunicação Social e Jornalismo, comecei a explorar o laboratório de fotografia para revelação e ampliação da Unileste. A partir dessa vivência, muito me interessou os contrastes mais marcantes conseguidos com os filtros e filmes lentos para uso diurno. Mas confesso que, apesar de trabalhar com uma fotografia que dialoga com os conceitos da fotografia humanista, nunca me entusiasmei pela fotografia P&B. Prefiro construir minhas interpretações do mundo usando uma linguagem que reforce minha subjetividade e as cores levam para esse lugar. Nunca pretendi ser objetivo, neutro, nas imagens que produzo. Considero que entre 2003 e 2012 eu sempre soube o que eu gostaria de fotografar, mas não havia percebido uma maneira que me deixasse confortável para fazer de uma forma que eu considerasse honesta com meus temas. Mais do que me guiar pelas cores, os assuntos me norteavam (norteiam e nortearão). A vulnerabilidade, a desigualdade, o descaso e a possibilidade de produzir registros que denunciem essas situações, mas que mostrem a humanidade daqueles que a vivem, ou daqueles que dessa realidade padecem, é o que mais me move.


Comunidade Quilombola do Baú / Serro (2014)

Morro do Gogo / Mariana (2016) 37

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Rua de Baixo – Araçuai (2012)

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“Trabalho com realidades duras, distintas da minha, mas com muito respeito e empatia pelas pessoas que me recebem em suas casas” Nilmar Lage, fotógrafo Respeitar essas pessoas e o contexto na qual estão inseridas, é base para a minha fotografia. A partir de 2012, consegui amadurecer conceitos que trabalhei em minha monografia de conclusão de curso em 2007, ao tratar de aspectos éticos e legais para a produção de documentários e a partir do trabalho “Rua de Baixo”, realizado em Araçuai, comecei a desenvolver um modus operandi, que tem me acompanhado nos últimos anos. Trabalho com realidades duras, distintas da minha, mas com muito respeito e empatia pelas pessoas que me recebem em suas casas, o que me permitem estar brevemente em seu cotidiano. Então, um convívio básico, por menor que seja, já é a primeira ferramenta que uso para fotografar. Também não escondo meus objetivos: estou ali para fotografar. sempre com a câmera na mão, a cumplicidade e a confiança são construídas nesse processo de convivência. Porém, o clique só vem após o consentimento da pessoa. Digo tudo isso, porque, uma vez dentro da casa dessas pessoas, posso perceber a imagem que quero produzir a partir da observação de como é sua rotina nesse espaço e identificar o ponto onde quero produzir a minha imagem, pode às vezes requerer uma direção de minha parte. Um comando simples, seguido de uma breve explicação da imagem que pretendo gerar, pergunto se a pessoa não se importaria de se colocar em determinada posição (tudo isso a partir de uma observação de uma rotina que já é a dela, é a interpretação de uma realidade existente), e faço a foto. Como trabalho com fotografia panorâmica, na horizontal, procuro mostrar a identidade daquela pessoa a partir também do contexto que ela vive. E como geralmente não tenho intenção de trazer luz apenas para um personagem, mas falar de uma realidade vivida por pessoas daquela região, geralmente opto por mecanismos que irão minimizar, ou ocultar a feição facial da pessoa. Provoco situações que deixam o equipamento confuso, me indicando o tempo todo que a leitura do meu fotômetro exige mudanças na minha regulagem para uma fotometria ideal. A subexposição que provoco, ou o enquadramento que escolho, esconde a pessoa, mas o contexto revela, de certa forma a identidade.

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“de maneira intuitiva consigo chegar no local, identificar os potenciais enquadramentos e aproveitar as cores que possam colaborar com minha interpretação daquela realidade” Nilmar Lage, fotógrafo

As cores, objeto primeiro dessa pesquisa, aparecem de uma forma mais ou menos padrão em função do contexto que me guia: paredes caiadas com pigmentos de cores geralmente no azul, verde ou um vermelho claro; utensílios de plásticos coloridos; lonas e ambientes geralmente pequenos com frestas de luz, são situações que mais ou menos espero encontrar e que acabam sendo incorporados a posteriori. Não são as cores que me guiam, são os temas. Acredito que a partir da experiência que tenho adquirido ao longo desses anos, de maneira intuitiva consigo chegar no local, identificar os potenciais enquadramentos e aproveitar as cores que possam colaborar com minha interpretação daquela realidade, ou a minha ficcionalização documental daquela realidade. Mesmo em ambientes externos, procuro explorar esses elementos que destaquei. Geralmente utilizo um filtro ND (Densidade Neutra), que me ajuda a equalizar a altas e baixas luzes, além de fechar de um a dois pontos no meu diafragma. Não sou adepto às pós-produções, minhas imagens são praticamente o RAW, mas não condeno que as faça.

Cofira mais do trabalho de Nilmar Lage https://www.nilmarlage.com.br/ instagram.com/nilmarlage

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Acampamento Esperança / Açucena (2018)

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AGR ADECIMENTO Destinamos esse espaço da revista especialmente para agradecer a todos os colaboradores, convidados, artistas e professores que nos ajudaram a transformar a primeira edição da Punctum em algo real. Aproveitando também para agradecer a você leitor. Somos imensamente gratos pela colaboração de todos vocês. Muito obrigado.


“(...) em um nível artístico, cor é uma das partes mais importantes de uma imagem, impactando emoções e interesses, ao contrário de quase qualquer outro elemento da fotografia.” EDUARDO VIERO, FOTÓGRAFO DO BLOG EDUARDO E MÔNICA

FOTO LETÍCIA AR AÚJO



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