opinião
O despertar de um luminotécnico Formação acadêmica e sensibilidade projetual Por Betina Tschiedel Martau O ensino de iluminação nos cursos de gra-
a emoção”, afirma Brandston (2010, p.29),
duação apresenta uma série de desafios, entre
indicando a necessidade de utilizar outros
eles a fragmentação do processo de projeto
instrumentos para entender como as pessoas
e a demasiada ênfase em aspectos técnicos
reagem aos espaços. Ao colocar o indivíduo como centro do
e quantitativos, com atividades muitas vezes
projeto, o aluno busca focar na forma com que
focadas em simulações em softwares.
as pessoas irão reagir ao ambiente luminoso. Partindo-se do pressuposto de que a ilumina-
na prática, hoje já é possível encontrar cursos
ção está cada vez mais focada nos aspectos
ou disciplinas específicas sobre iluminação em
emocionais dos usuários e menos em aspec-
qualquer nível de formação, desde cursos de
tos meramente funcionais (quantidade de luz
curta duração (extensões) até especializações
nas tarefas), a busca por novas formas de
(pós-graduação). As possibilidades de busca de conhecimento mais formal se ampliaram em número, mas não necessariamente em qualidade.
Divulgação
Diferentemente da formação dos luminotécnicos da minha geração, que aprendiam
ensinar a projetar a criação de atmosferas com luz demanda um novo olhar metodológico.
Utilizo uma metodologia para ensinar a pensar a iluminação
Apesar de a área de iluminação hoje ocupar um espaço con-
partindo de conceitos como o design centrado no usuário, cria-
sagrado como parte importante da Arquitetura, muitas disciplinas
ção de atmosferas e representações de narrativas através de
ainda abordam o seu projeto com etapas metodologicamente
storyboard em papel preto, o que tem gerado experiências didá-
muito semelhantes aos projetos elétricos, utilizando ferramentas
ticas enriquecedoras. Para projetar atmosferas com luz é preciso
de cálculo e modelos de visualização disponíveis.
organizar as percepções desejadas. Uma forma de ensinar aos
DIALux e Relux são os softwares mais comuns atualmente
alunos esse processo é a partir da lógica de criação de narrativas
utilizados no meio acadêmico, tanto por sua facilidade de
de projeto. As narrativas visam descrever as experiências que
utilização quanto pelo fato de serem gratuitos. Apesar de ex-
se quer oferecer aos usuários em termos de percepção da luz.
tremamente realistas, os softwares são, muitas vezes, dema-
É preciso alterar o currículo das disciplinas de conforto
siadamente demorados para uma etapa inicial exploratória de
que abordam tema de iluminação para que os conteúdos
ideias e conceitos. Essas ferramentas são de grande valia no
possam refletir esta nova forma de ensinar a iluminar. Usando
processo ensino-aprendizagem, mas oferecem pouco espaço
de criatividade e comprometendo os alunos em seu processo
para o raciocínio crítico e o desenvolvimento da capacidade
de aprendizagem, esta estratégia é sugerida como forma de
propositiva do aluno, sendo, portanto, mais apropriadas para
alcançar resultados mais efetivos no ensino de iluminação para
as etapas finais do projeto luminotécnico.
os cursos de graduação.
A prática docente torna evidente a necessidade de valorizar aspectos como o atendimento das necessidades do usuário e a capacidade e sensibilidade do aluno para propor estratégias de iluminação capazes de gerar uma experiência emocional. “Eu nunca vi luxímetro que tivesse olhos, ou que pudesse medir 72
L U M E ARQUITETURA
Betina Tschiedel Martau Mestre em arquitetura, doutora em engenharia civil e professora e pesquisadora do Propar (Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura) da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).