Revista Foco 186

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A fofoca, o disse-me-disse, o vulgo tricô, pode fazer bem! Quando a informação que se leva ao outro é algo saudável, curioso e positivo, não há mal nenhum em promover a difusão da informação. Por exemplo, na minha profissão, como promoter de eventos, é indispensável o “burburinho”anterior a qualquer festa. Isso faz com que o evento fique mais desejado, aguce nos convidados a vontade de ir e participar. Alguns dias antes, começo a falar para pessoas próximas quem fará o buffet e que bebidas serão servidas, ou se vem alguma celebridade ou convidado de outra cidade, e essas informações rapidamente correm à lista de convidados e, certamente, auxiliam no êxito da festa. As coisas boas que acontecem nas reuniões também são alvo de muitos comentários que rendem telefonemas e papo por dias seguidos. Já os incidentes e as coisas indesejadas, quando acontecem, faço questão de esquecer e não comentar nada – abafar, como se diz. A fofoca está aprovada, mas quando é do bem!”. tiago correia (promoter de eventos)

“Tem as engraçadas, as inventadas, as verdadeiras (não se sabe como começou) e as maliciosas e venenosas. Eu mesma fui vítima de uma fofoca: sobre um suposto romance com um cantor de música pop. Tudo inventado! É impressionante como rapidamente a notícia corre! De repente, me vi perseguida por paparazzi. Durante uma semana, me esperavam na entrada do meu prédio e tiravam fotos minhas na rua, o que só fui saber quando as vi publicadas. Até no parque fui seguida quando andava com meu cachorro. Quando questionei o fotógrafo, ele pediu-me desculpas e disse-me que sabia que tudo não passava de invenção, porque, inclusive, conhecia o cantor, mas que eu compreendesse que aquele era o seu ganha pão, e que tinha um filho para criar. Na época fiquei chateadíssima, pois havia ficado viúva há pouquíssimo tempo. Acaba virando um desrespeito com a pessoa, mas, ao mesmo tempo, eu compreendi o que aquele fotógrafo me colocou. Fazia parte do seu trabalho e fazia parte de todo um processo que já vinha de longe na imprensa brasileira, que era a invasão de privacidade. E tudo isso acontecia por causa dela, a nossa velha fofoca. As histórias que eu ouvia eram cada vez mais fantasiosas. As pessoas garantem com firmeza que viram cenas e encontros que eram pura imaginação. De uma fofoca o fato vai tomando uma dimensão assombrosa. Não gosto dessa imprensa que inventa sem medir consequências, onde tem a fofoca no meio. Pode ser muito prejudicial para uma das partes. O mais incrível é que sobre uma fofoca todo mundo fica sabendo, mas o desmentido nunca toma a mesma proporção. Eu prefiro ficar sempre longe das fofocas”. ana botafogo (bailarina).

fofoca

Foto de Anderson CorCino

“Os famosos não podem reclamar de fofocas. Procuraram exposição e bem sabem que o mexerico vem dos tempos das inofensivas vizinhas dependuradas nas janelas das cidades do interior, até onde minha memória consegue alcançar. Umas falando das outras, e dos outros. A vida seria uma monotonia sem fofoca fazendo parte dela. Uma pesquisa do psicólogo norte-americano Frank Andrew mostrou que ao saber da vida dos outros, o homem consegue munição para defender seus interesses. Conhecendo o comportamento de rivais e amigos, tem mais subsídios para enriquecer sua vida e sair-se melhor na competição. A fofoca funciona também como um mecanismo de controle social. É por medo de cair na boca do povo que as pessoas acabam obedecendo às regras. Senão, seria um deus-nosacuda. Os reality-shows, acho, nada mais são do que uma forma de tentar legitimar, através do voyeurismo, uma vertente da fofoca. É a vontade universal de saber o que se passa na casa do vizinho, sem que o vizinho saiba que está sob espionagem. Porém, a fofoca no Brasil é muitas vezes irresponsável. Todos sabemos que nem 100 desmentidos apagam uma mácula por uma notícia inverídica. Hoje em dia inventam, mentem, aumentam, implodem reputações sem piedade para vender uns poucos exemplares a mais. O principal é checar, e é o que faço. Entre o fato e o boato se aninha a fofoca”. amaurY Jr. (apresentador)

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