Em Família | Marista Pio XII

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1º Semestre • 2015 | 15ª edição

Corrente do bem

Em todo tempo, somos convidados a praticar atos de solidariedade e fazer parte dessa corrente do bem. Mas, será que ser solidário é algo que se aprende?

SOLIDARIEDADE

Unidade Propulsão, uma proposta Marista inovadora, acolhe jovens que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas.

DIA A DIA

Já pensou em receber um intercambista em casa? Confira dicas e embarque nessa aventura cultural.



Combinação única de bons valores e excelência.

O Grupo Marista conta com milhares de pessoas que, diariamente, vivenciam e disseminam importantes valores humanos e cristãos com o compromisso de promover e defender os direitos das crianças e dos jovens. Faz parte do jeito Marista a busca constante por excelência. Na área da

educação, da escola à universidade, formamos pessoas e trazemos resultados comprovados. Em atividades nas áreas de saúde e comunicação, levamos sempre a melhor qualidade para públicos de diferentes condições e necessidades. Em todas essas áreas, a ação social está presente

BRASÍLIA Colégio Marista de Brasília - Ensino Fundamental SGAS 609 CONJ A - Bairro Asa Sul - Brasília-DF CEP 70200-690 | (61) 3442-9400

Superior Provincial Ir. Joaquim Sperandio Presidente do Grupo Marista Ir. Delcio Afonso Balestrin Superintendente Executivo do Grupo Marista Paulo Serino Diretor da Rede de Colégios Ir. Vanderlei Siqueira dos Santos Diretor de Marketing E COMUNICAÇÃO Stephan Younes

Rua Imaculada Conceição, 1155, Prado Velho Curitiba-PR | Prédio Administrativo PUCPR 8º andar - CEP: 80215-901 | Tel.: (41)3271-6500

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Colégio Marista de Brasília - Ensino Médio SGAS 615 CONJ C - Bairro Asa Sul - Brasília-DF CEP 70200-750 | (61) 3445-6900 Colégio Maristinha Pio XII - Educação Infantil e 1º Ano do Ensino Fundamental SGAS 609, Módulo C - Bairro Asa Sul - Brasília-DF CEP 70200-690 | (61) 3442-9400 SÃO PAULO Colégio Marista de Ribeirão Preto Rua Bernardino de Campos, 550 - Higienopólis Ribeirão Preto-SP - CEP 14015-130 | (16) 3977-1400 Colégio Marista Arquidiocesano Rua Domingos de Moraes, 2565 - Vila Mariana São Paulo-SP - CEP 04035-000 | (11) 5081-8444 Colégio Marista Nossa Senhora da Glória Rua Justo Azambuja, 267 - Cambuci - São Paulo-SP CEP 01518-000 | (11) 3207-5866 PARANÁ Colégio Marista Paranaense Rua Bispo Dom José, 2674 - Seminário - Curitiba-PR (41) 3016-2552 Colégio Marista Santa Maria Rua Prof. Joaquim de M. Barreto, 98 - São Lourenço Curitiba-PR CEP 82200-210 | (41) 3074-2500

15ª Edição | 1º Semestre 2015 Periodicidade Semestral

com iniciativas alinhadas ao posicionamento institucional, mas também atuamos diretamente, por meio de uma ampla rede de solidariedade. Bons valores e excelência. Nossa missão é proporcionar essa combinação única para a construção de um mundo melhor.

Colégio Marista de Cascavel Rua Paraná, 2680 - Centro - Cascavel-PR CEP 85812-011 | (45) 3036-6000 Colégio Marista de Londrina Rua Maringá, 78 - Jardim dos Bancários - Londrina-PR CEP 86060-000 | (43) 3374-3600 Colégio Marista de Maringá Rua São Marcelino Champagnat, 130 - Centro Maringá-PR - CEP 87010-430 | (44) 3220-4224 Colégio Marista Pio XII Rua Rodrigues Alves, 701 - Jardim Carvalho Ponta Grossa-PR - CEP 84015-440 | (42) 3224-0374 SANTA CATARINA Colégio Marista São Francisco Rua Marechal F. Peixoto, 550L - Chapecó- SC CEP 89801-500 | (49) 3322-3332 Colégio Marista de Criciúma Rua Antonio de Lucca, 334 - Criciúma-SC CEP 88811-503 | (48) 3437-9122 Colégio Marista São Luís Rua Mal. Deodoro da Fonseca, 520 - Centro Jaraguá do Sul-SC - CEP 89251-700 | (47) 3371-0313 Colégio Marista Frei Rogério Rua Frei Rogério, 596 - Joaçaba-SC - CEP 89600-000 (49) 3522-1144 GOIÂNIA Colégio Marista de Goiânia Avenida Oitenta e Cinco, 1440 - Santa Marista Goiânia-GO - CEP 74.160-010 | (62) 4009-5875

Revisão Lumos | Bureau de Traduções

EDIÇÃO Diretoria de Marketing e Comunicação do Grupo Marista Eduardo Correa e Vivian Lemos

Envie comentários, críticas e sugestões sobre a revista para o email conteudo@grupomarista.org.br

REDAÇÃO

PUBLICIDADE R. Amauri Lange Silvério, 270 Pilarzinho Curitiba-PR – CEP: 82120-000 Para anunciar, ligue: (41) 3271-4700 www.grupolumen.com.br

Jornalista responsável: Rulian Maftum / DRT Nº 4646 Supervisão: Maria Fernanda Rocha (Lumen Comunicação) Edição de arte: Julyana Werneck PROJETO GRÁFICO Estúdio Sem Dublê | semduble.com

Capa Fernando Pereira,

estudante do Colégio Marista Santa Maria, de Curitiba (PR), sua mãe Patrícia, Goivana Ohta, do 3º ano, e o monitor de alunos Luciano Silva.

FOTO DE CAPA Gilberto do Rosário © Todos os direitos reservados. Todas as opiniões são de responsabilidade dos respectivos autores.

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índice

capa

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Que fatores influenciam na prática da solidariedade? Afinal, ser solidário é algo que se aprende?

1ª impressão

dia a dia

entrevista

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A história do Instituto Marista nasce de um ato de solidariedade, o qual, até hoje, é um convite a sociedade para agir com compaixão.

Acolher um intercambista em casa é uma experiência enriquecedora. Confira dicas de uma boa convivência e conheça a história da família Javorski, que está recebendo o neo-zeolandês Jacob Pritchard.

essência

solidariedade

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como fazer

compartilhar

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diversão

olhar

curiosidade

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O Irmão Alvanei Finamor relembra os primórdios do Instituto Marista e reforça a importância de se doar ao próximo nos dias atuais.

Veja de que forma a juventude Marista se organiza e defende suas ideias por meio das Comissões da Juventude.

Conhecer mais de perto a cultura indígena é se aproximar da nossa origem. Descubra roteiros em aldeias e reservas que, além de divertidos, são uma verdadeira aula de História.

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Conheça a Unidade Propulsão, uma proposta que contribui para que adolescentes que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas ressignifiquem suas vidas.

Confira dicas de livros, filmes e aplicativos indicados pelos professores dos Colégios Maristas.

O sociólogo Eurico Cursino, da Universidade de Brasília, comenta sobre fatores que podem levar jovens a se envolver em lutas radicais, como as propostas pelo Estado Islâmico.

César Ribeiro, coordenador de Pastoral do Colégio Marista de Maringá (PR), traz uma reflexão sobre os fatores que influenciam as práticas de solidariedade e os novos posicionamentos Maristas sobre o tema.

índice

seu colégio

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Confira as matérias elaboradas exclusivamente para o seu Colégio.

Pesquisa internacional traça panorama de solidariedade no mundo. Confira o ranking de países mais solidários.


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1ª impressão

or uma compreensão mais ampla da solidariedade apostólico é bicentenário nas suas realizações por muitos países do mundo. No Brasil, ele começou em 1897, em Minas Gerais. Em 2017, o Instituto Marista completa 200 anos. O Ir. Emile Turú, Superior Geral, comenta, na carta Montagne, a importância dessa missão: hoje, há tantos jovens que vivem sem a força, sem a luz e sem o conhecimento aprofundado de Jesus Cristo – conhecimento que leva ao consolo e à amizade de Jesus – que importa comprometermo-nos como apóstolos, catequistas e educadores. Diante de uma sociedade de pouca fé, sem o correto sentido da existência, não se pode ficar indiferente. São os novos e numerosos Montagnes de hoje, cuja realidade nos provoca e nos convida a sermos generosos. Montagne tem, hoje, milhares de rostos diferentes e vive em realidades que reclamam generosa compreensão e pronta ajuda. O Irmão Turú alarga o entendimento do desafio, na perspectiva a que o Papa Francisco se refere quando nos convida a sair de nós mesmos para as periferias existenciais, entrando em contato com a vida concreta dos muitos outros empobrecidos e expostos a tantos perigos. A solidariedade volta-se à promoção e à defesa dos direitos de crianças, adolescentes e jovens e à para a nova evangelização e inclusão social. A solidariedade pode e deve ser aprendida e desenvolvida; o seu itinerário abrange processos e práticas que visam à caridade em obras e ações de verdadeiro melhoramento da pessoa e do grupo desajustado e empobrecido. Visa-se, pois, a melhores níveis de interação e ao oportuno

comprometimento apostólico, dentro das suas circunstâncias e realidades. Ser solidário implica grande compaixão, mas, acima de tudo, o reconhecimento do outro como pessoa necessitada. Champagnat não foi visitar o jovem Montagne para julgá-lo. Foi ao encontro de alguém que tinha a sua identidade e a sua história. Por isso, os dois saíram modificados. Champagnat ensinou-lhe, na urgência do momento, as coisas de Deus e, do seu lado, entendeu que não há mais tempo para perder. O convite é feito a mim e a você, atual leitor desta edição da revista Em Família. Devemos cultivar um coração solidário na nossa vida pessoal, familiar, social e eclesial. Que significa, então, para cada um de nós, o contexto em que a solidariedade é citada como a grande virtude do nosso tempo? Por certo significa colocar-nos na posição de partida, como interpela o Papa Francisco. Cumpre entender bem o sentido da expressão periferias existenciais. Todos somos chamados a uma conversão pastoral e missionária, porque as coisas não podem ficar como estão (EG 25). A que tipo de conversão me sinto convidado? A resposta constitui o atendimento da nossa consciência e do nosso coração solidário e comprometido.

Ir. Vanderlei Siqueira dos Santos diretor-executivo da Rede Marista de Colégios

© Foto: João Borges

Em 1816, o Pe. Champagnat foi chamado para atender a um jovem carpinteiro de 17 anos, gravemente enfermo, em uma aldeia próxima a Le Bessat, no sul da França. Após ouvi-lo em confissão e prepará-lo para a morte, o padre regressou a La Valla, pensativo. O encontro com o jovem Montagne marcou profundamente a vida de Marcelino Champagnat; nesse acontecimento, percebeu o chamado interior da graça de Deus. Ele iria fundar um instituto dedicado à educação cristã de crianças, adolescentes e jovens, em especial das vilas e dos povoados pobres. Ele levaria a bom termo tal empreendimento. O entendimento de que essa missão era obra de Deus foi basilar para a sua perseverança no projeto da fundação de uma congregação de religiosos dedicados à educação cristã e ao ensino básico da França de então. Nenhuma dificuldade bloquearia o seu projeto. Esta edição da revista Em Família estuda, em particular, a solidariedade. Esse termo evoca as mais diferentes emoções, interpretações e questionamentos. O encontro de Champagnat com Montagne nos revela que a Instituição Marista nasceu de uma experiência de solidariedade em relação de óbvia e grave necessidade. Apresenta-nos alguns referenciais, como a atenção que cumpre dar à realidade e à situação dolorosa do outro, isto é, o nosso próximo. A convicção profunda desperta não apenas a compaixão e a indignação; mas o essencial é a ação para minorar o sofrimento e o estado de abandono dos empobrecidos, sem a luz do bom ensino e, especialmente, sem a luz espiritual da instrução religiosa e cristã. Esse curso e discurso

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dia a dia

© Foto: Fabio Melo

Um intercambista

em minha

casa

Acolher o intercambista como um filho e deixar claras as regras da casa são fundamentais para uma experiência bem sucedida. Ser uma família hospedeira é culturalmente enriquecedor Por Michele Bravos

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Já pensou em adotar um filho estrangeiro? Calma, a gente explica. É comum e bastante incentivado por agências de intercâmbio que os adolescentes intercambistas se hospedem em casas de família para que a imersão na cultura do país para onde estão indo seja mais intensa e significativa. Abrir as portas de casa para um intercambista é como adotar um filho – mesmo que temporariamente. Para Celso Javorski, acolher o jovem Jacob Pritchard, 17 anos, da Nova Zelândia e que está estudando no Colégio Marista de Ribeirão Preto (SP), está sendo uma experiência enriquecedora. “É a primeira vez que estamos recebendo um intercambista e a troca cultural é muito rica. Temos dois filhos e um deles está fora do país, em intercâmbio também. Então, o Jacob, literalmente, está sendo tratado como um filho”. Para Guilherme Reischl, diretor comercial da Egali Intercâmbio, a consideração mais importante de um programa de intercâmbio em casa de família é que a família hospedeira acolha o estrangeiro como um membro da família. “O intercambista tem que usufruir da mesma estrutura de um filho. Ele tem que se sentir integrado, acolhido. As atividades diárias têm que ser realizadas com o intercambista. No começo,


isso pode significar sair da rotina – e a família precisa estar ciente disso –, mas, aos poucos, todos se adaptam”. Jacob afirma que um ponto positivo dessa experiência tem sido passar tempo com sua família brasileira. “Eles são pessoas muito legais, que fazem eu me sentir bem-vindo na casa deles”. Uma boa adaptação depende bastante de regras claras. Reischl lembra que toda casa tem normas que, naturalmente, são cumpridas pelos membros da família. O intercambista precisa ser inserido nesse contexto também. “Ele precisa saber o que pode fazer na cozinha, o que deve fazer com as roupas sujas – se ele irá lavá-las ou se alguém fará isso para ele –, se existe um horário para o banho, se o secador é de uso comum...”. O diretor comercial complementa que isso tudo deve ficar claro já no primeiro dia. “Assim que o intercambista chegar, dê as boas-vindas, faça ele se sentir em casa. Em seguida, de forma gentil, apresente as regras do lar”. Javorski conta que Jacob respeita inclusive as normas de comportamento – por exemplo, com relação a sair para festas e dar satisfação quanto a para onde está indo e com quem. “Tínhamos muita expectativa com relação a essa convivência. É também nossa responsabilidade zelar pela segurança dele”.

Integrando Integrar não quer dizer fazer as vontades do intercambista. Ele precisa conhecer e se adaptar aos costumes do país em que está. Uma boa forma de integrar o jovem à cultura e à nova família é na hora das refeições. “O momento das refeições é muito importante para a integração. Por isso, pelo menos algumas devem ser feitas com a família reunida”. Javorski afirma que os hábitos alimentares certamente são muito diferentes e isso sempre rende bastante conversa. Outra forma de integrar é convidar o intercambista para passear. “É importante que a família esteja prepara-

da para fazer 'programas de turista', mesmo na sua cidade natal. É preciso lembrar que o intercambista também está interessado em conhecer lugares típicos e diferentes dos que ele está habituado a ver”.

Comunicação Na casa da família Javorski, apenas a filha fala inglês. Então, foi preciso desenvolver formas de comunicação até Jacob estar mais fluente no português. “Às vezes, o Google tradutor nos ajuda. A gente acaba tendo que ser criativo”, diz Javorski. Reischl aponta que é ideal que pelo menos um membro da família compartilhe de um idioma em comum com o intercambista. “Caso contrário, a comunicação fica nula e pode gerar desconfortos, como prejudicar a compreensão das regras da casa. Uma família monoglota poderia ser um problema”. As barreiras de comunicação na casa de Javorski têm sido vencidas com bom humor. “Nós falamos português e inglês em casa. Eu imagino que deve ser um quebra-cabeça para eles entenderem o que eu falo, às vezes, mas nós rimos disso”, diz Jacob. O quesito “comunicação” também deve se estender para a família no exterior, pois isso gera maior confiança para o intercambista. “A família que está recebendo deve fazer contato com a família do outro país, mesmo que não falem a mesma língua. Por meio de uma conversa por chamada de voz e vídeo, as famílias podem se ver, sorrir uns para os outros e dar um ‘tchauzinho’. Isso já faz diferença”, afirma Reischl.

Atenção! Não existe idade limite para os membros de uma família receberem alguém. No entanto, recomenda-se que a pessoa que vai ser acolhida seja adolescente ou jovem. Segundo Guilherme Reischl, diretor comercial da Egali Intercâmbio, depois dos 25 anos, a pessoa já tem uma independência que poderia dificultar a interação. A família hospedeira deve avaliar isso.

dicas Seguindo essas dicas, a família hospedeira terá uma grande experiência de vida recebendo um intercambista. l Tenha certeza de que sua casa tem condições de receber mais um membro. Pode ser que ele tenha que dividir o quarto com os seus filhos, mas é importante que o intercambista tenha um espaço que ele sabe que é dele. l Conheça o intercambista antes de ele chegar à sua casa. Pode ser por e-mail, por chamada de voz e vídeo, etc. l Trate-o como um filho, tanto para as coisas legais, como passear em família, quanto para as regras. l Apresente as regras da casa. Elas precisam estar claras para o intercambista. l Pergunte o que ele gosta de fazer ou o que tem curiosidade em conhecer. Seja solícito, simpático, mas não extrapole, impondo a sua programação. l Tenha disposição para conviver com as diferenças – elas são enriquecedoras – e dialogue sempre!

Na foto: Maria Eduarda, Jacob, Anaisa e Celso Javorski.

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© Foto: Gilberto do Rosário

capa

Atitudes solidárias podem aparecer em diversos contextos. Mas elas são aprendidas ou as pessoas nascem assim? Por Michele Bravos

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Solidariedade se aprende? Falar de solidariedade no Brasil atual é um desafio, diante de tantos fatos de corrupção, de violência gratuita, de discriminação. Mas, para Viviane Silva, assessora da Rede Marista de Solidariedade (RMS), o desafio não é impossível. "Há um provérbio popular que explica bem o ensino da solidariedade: se a palavra convence, o exemplo arrasta. Portanto, é preciso bons pais, bons educadores, bons exemplos inspiradores do que é viver em sociedade". Ela complementa que é importante transmitir a ideia de "eu preciso do outro para viver". Dessa forma, tem-se uma melhor compreensão de senso de justiça e solidariedade. Entendendo a solidariedade como uma virtude, a pedagoga Luciene Tognetta, doutora em Psicologia Escolar pela Universidade de São Paulo (USP) e Universidade de Genebra, acredita que ela precisa ser vivida para ser assimilada. “Eu entendo virtude como uma disposição para fazer o bem, como afirma Comte-Sponville, e o bem não é para se contemplar, é para ser feito. Em momentos de crise, por exemplo, podemos indagar crianças e adolescentes sobre os sentimentos do outro. Só assim eles podem construir instrumentos psicológicos que os tornam capazes de solidarizar”. Na família de Fernando Pereira, 17 anos, aluno da 2ª série do Ensino Médio do Colégio Marista Santa Maria, de Curitiba (PR), as práticas solidárias estão presentes nas pequenas atitudes, como conta sua mãe, Patrícia Pereira. “Uma atitude solidária pode ser dar ouvidos a alguém que está precisando desabafar. Pode ser ajudar alguém a empurrar um carro na rua – coisa que eu já fiz, inclusive. É importante que a família dê esse exemplo e incentivo aos filhos”. Patrícia ainda afirma a importância de as ideias da família estarem alinhadas com as ideias do colégio. “Quando estava buscando uma escola para o Fernando, eu priorizei os valores que a instituição passaria, pois é isso que será lembrado para sempre”. Luciene lembra que a solidariedade é um valor que precisa ser buscado como outros valores morais. "Não nascemos solidários, mas nos tornamos solidários quando conseguimos reconhecer nossas próprias dores, quando temos a experiência de compartilhar as dores dos outros. Pessoas solidárias o são porque desejam ser”, diz. Fernando conta que vive essa constante busca para ser uma pessoa solidária e que tem aprendido a valorizar o que realmente importa. “Desde que comecei a participar da Pastoral da Juventude Marista (PJM), eu me tornei uma pessoa diferente. Sou mais calmo e me preocupo mais com a minha família e meus amigos. Na PJM, não aprendemos só a ser solidários, mas a ser pessoas melhores para o mundo, aprendemos a respeitar mais as diferenças, a dispor do nosso tempo para o outro – como nas missões Maristas – e a ter autonomia”. A pedagoga destaca que a solidariedade se faz presente já na infância. “Do ponto de vista psicológico, a solidariedade é uma das primeiras virtudes que as crianças apresentam e o fazem espontaneamente porque independe de uma construção cognitiva mais evoluída. Depende, na verdade, da sensibilidade com o outro, coisa que criança desenvolve desde bem cedo pela empatia”.

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© Fotos: João Borges

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Curiosidade

Patrícia complementa, expondo que, por vezes, percebe que os adultos não são solidários por medo: “Eles têm medo de ajudar um estranho e ele ser um ladrão, por exemplo. Mas acredito que o medo está relacionado à ausência de fé e as pessoas precisam crer mais, pois penso que, naturalmente, o ser humano é, sim, solidário”.

Ressignificando Por muito tempo, a ideia de assistencialismo, de dependência, esteve associada à solidariedade.

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No livro “O Ensaio sobre a Dádiva”, do sociólogo Marcel Mauss, o autor conta a história do Rei Artur e sua Távola Redonda para concluir seus pensamentos sobre os conceitos de dar, receber e retribuir – presentes ao longo do material: “Sobre a história do Rei Artur e a Távola Redonda. Disse o carpinteiro a Artur: ‘Far-te-ei uma mesa muito bela, onde poderão sentar-se seiscentos e mais, e andar em volta, e de onde ninguém será excluído... Nenhum cavaleiro poderá travar combate, pois ali o de maior destaque estará no mesmo nível que o de menor destaque’. Não mais houve lugar de honra e, por conseguinte, não mais houve querelas. “Os povos podem enriquecer, mas só serão felizes quando souberem sentar-se, tal como cavaleiros, à volta da riqueza comum. É inútil ir procurar longe o bem e a felicidade, pois ele está ali, na paz imposta, no trabalho bem ritmado, comum e solitário alternativamente, na riqueza acumulada e depois redistribuída no respeito mútuo e na generosidade recíproca que a educação ensina”.

Entre os povos ditos primitivos já se faziam presentes atos de dar, receber e retribuir como formas necessárias para uma vida em comunidade, mesmo que, muito atreladas a relações de poder. De acordo com o que explica o sociólogo Marcel Mauss, em seu livro “O Ensaio Sobre a Dádiva”, para que um rei pudesse continuar sendo superior, ele precisava ofertar aos pobres, colocando-os em uma

posição de inferioridade. Mas, recusar não era possível, pois esse ato era o mesmo que dizer que se tinha medo de retribuir. “Ao aceitar uma dádiva, aceita-se um desafio e ele pode ser aceito porque se tem a certeza de retribuir, de provar que não se é desigual”, expõe o autor. Diante disso, existe a necessidade de ressignificar conceitos. Viviane afirma que é preciso um ou-


tro modelo de sociedade, colocando a solidariedade na contramão da visão assistencialista que marcou a história. "Necessitamos de uma sociedade em que o direito seja garantido para todos, sem exceção, onde nenhum tipo de privilégio é aceito, já que fere o princípio comum de justiça. Nesse sentido, o que se discute é uma sociedade onde se aprende, desde criança, a não levar vantagem, nem dar o jeitinho brasileiro, mas que há regras e responsabilidades a serem cumpridas. Essa é uma nova forma de entender solidariedade. Essa posição coloca em relevo a defesa de direitos humanos e a justiça social que precisam ser assumidos por todos".

Relações solidárias hoje Os caminhos da solidariedade são uma trama entre a existência de cada indivíduo e as relações em que se encontram. É preciso se perceber além de si para ser solidário. “Gosto de uma expressão de uma escritora de livros infantis, Adriana Falcão: ‘Solidariedade é quando a gente se empresta pro outro’”, diz Luciene. Fernando relata que uma das experiências mais marcantes que teve na vida foi ter participado da Missão Solidária Marista 2015, em Pouso Redondo (SC), cuja premissa era justamente o contato com o próximo. “Nós ficamos hospedados na casa de pessoas que nem conhecíamos, fazíamos visitas a famílias mais vulneráveis e estávamos o tempo todo em contato com a população durante as atividades. Para mim, isso foi exercer a solidariedade na prática”. Para Patrícia, pensar em solidariedade é pensar em “dispor o seu tempo para o outro”. “Se nos perguntarmos qual o contrário de solidariedade eu diria ‘individualidade’. Acho que, assim, esse conceito fica mais claro”, diz.

As atuais formas de comunicação, sobretudo as que se efetivam em redes, podem incentivar a construção de comunidades e, consequentemente, a prática da solidariedade, pois partem dos princípios de reconhecimento e aceitação do outro como membro da rede, bem como do desenvolvimento de respeito mútuo e de interesse pelo próximo.

dos princípios de reconhecimento e aceitação do outro como membro da rede, bem como do desenvolvimento de respeito mútuo e de interesse pelo próximo”. Viviane complementa: "Podemos entender que a solidariedade está nessas relações com o outro que nos completa, que nos constitui. O contrário disso nos desumaniza, segrega e isola. Por gerar um comportamento coletivo de corresponsabilidade, é um dos principais valores que temos". Para Danielle, a possibilidade de constituição de comunidades nesses espaços virtuais intensifica as práticas solidárias. Ela frisa que o ponto mais importante nesse contexto é o conteúdo gerado pelos membros das redes. “As tecnologias e as redes sociais não promovem solidariedade por si só, mas pelo referencial de valores que os membros dessa comunidade possuem e que se revelam nas suas relações.

Danielle Pamplona Professora da Universidade de Brasília (UnB)

O estabelecimento dessas relações de responsabilidade recíproca está diretamente ligado à comunicação, possibilitando a interação e a colaboração. Traçando um pensamento para o contexto atual, em que o mundo virtual está muito presente, a professora Danielle Pamplona, da Universidade de Brasília (UnB), afirma que “as atuais formas de comunicação, sobretudo as que se efetivam em redes, podem incentivar a construção de comunidades e, consequentemente, a prática da solidariedade, pois partem

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capa

O campo fértil para a solidariedade é regado por valores de amor ao próximo, respeito às diferenças, justiça e ética. Cabe, portanto, aos membros dessas redes incentivar práticas que levem à formação de indivíduos comprometidos com o outro, que priorizem a dimensão humana, a valorização do outro e o fortalecimento dos laços solidários”.

Solidariedade x classes sociais Tendo esse conceito como norte, a solidariedade pode se fazer presente inclusive em ambientes menos favorecidos. "Ainda que o meio seja desfavorável, as dificuldades vividas podem ser superadas. Aliás, é de ambientes vulneráveis que surgem bons exemplos de partilha e solidariedade", diz Luciene. Viviane vivencia isso na prática por meio da RMS, que atua na criação de uma nova mentalidade nos contextos em que está presente. "Não fazemos atos pontuais de generosidade

Não nascemos solidários, mas nos tornamos solidários quando conseguimos reconhecer nossas próprias dores, quando temos a experiência de compartilhar as dores dos outros. Pessoas solidárias o são porque desejam ser. Luciene Tognetta Pedagoga e doutora em Psicologia Escolar pela Universidade de São Paulo (USP) e Universidade de Genebra

nos locais vulneráveis em que estamos, mas temos a solidariedade como valor e comprometimento em defesa da vida em todas suas formas, contribuindo assim para a superação da pobreza e da desigualdade, e pela defesa e promoção dos direitos das crianças e jovens". Conheça o Projeto Propulsão, na editoria Solidariedade desta edição, e saiba como a solidariedade é desenvolvida com

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jovens em situação de vulnerabilidade social.

Por que se faz o bem? Para alguns, ser solidário e fazer o bem são sinônimos. Já, para Viviane, entendendo solidariedade como uma oposição ao individualismo, ela considera que ser solidário é mais que fazer o bem. "A solidariedade supera a busca individual, levando-nos a uma busca

coletiva para encontrarmos soluções para problemas comuns". No fim, praticar a solidariedade e fazer o bem têm como finalidade promover algo de bom, em que todos, tanto quem ajudou, quanto quem foi ajudado, saem ganhando. Luciene afirma que esse jogo de interesse existe – mesmo que no âmbito psicológico – uma vez que “o desejo de ser reconhecido como alguém do bem é o que leva


© Fotos: João Borges

© Foto: Gilberto do Rosário

Fernando Pereira, 17 anos, aluno da 2ª série do Ensino Médio do Colégio Marista Santa Maria, de Curitiba (PR), e sua mãe Patrícia Pereira.

Da comunidade para a comunidade A origem atrelada a espaços populares motivou um grupo de pesquisadores a criar o Observatório de Favelas, “uma organização social de pesquisa, consultoria e ação pública dedicada à produção do conhecimento e de proposições políticas sobre as favelas e fenômenos urbanos”, como a própria organização se define. O Observatório existe desde 2001 e conta com atividades em diversas áreas de atuação: educação, políticas urbanas, comunicação, cultura, direitos humanos. Por meio das ações realizadas, a comunidade é instigada a se conhecer, a se desenvolver pessoalmente e a voltar o seu olhar e atenção para o meio em que estão, assim como para as pessoas ao seu redor. Para mais informações, acesse o site através do link: observatoriodefavelas.org.br

uma pessoa a agir bem. Queremos nos ver como solidários e detestamos nos ver como egoístas”. Fernando conclui que, independente do que move as pessoas a fazerem o bem, ser solidário contagia quem está ao redor e isso gera um efeito de causa e consequência positivo. “Quando você quer ser mais solidário e faz isso, você está servindo de exemplo para as pessoas e, consequentemente, influencia a todos”.

A solidariedade supera a busca individual, levando-nos a uma busca coletiva para encontrarmos soluções para problemas comuns. Viviane Silva Assessora da Rede Marista de Solidariedade (RMS)

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© Fotos: Acervo do Colégio

entrevista

Todos podem ser solidários O despertar da solidariedade é possível e depende de um compilado de fatores externos e pessoais. Apostas do Grupo Marista nessa área visam promover uma consciência crítica sobre o tema Por Michele Bravos

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A expressão da solidariedade se dá de formas distintas em cada meio e para cada pessoa. Para refletir sobre o assunto e apresentar de que forma o Grupo Marista pretende potencializar o despertar dessa prática nos Colégios, César Augusto Ribeiro é o entrevis-

Sem ignorar o fato de que a solidariedade pode ser ensinada e aprendida, na sua opinião, há pessoas que simplesmente nascem solidárias?

É uma questão difícil. Do ponto de vista biológico, há instintos de preservação que podem ser vistos como solidários – como, por exemplo, uma mulher que acolhe e cuida de uma criança em situação de risco de vida. Porém, entendendo a solidariedade como algo mais dinâmico, que ganha níveis e significados distintos ao longo do tempo e na diversidade de culturas, é difícil concluir que alguém já nasça solidário. É preferível afirmar que todos nascem com a possibilidade de desenvolver esse valor.

A solidariedade está na essência Marista. Por que investir no desenvolvimento de um ser humano mais solidário?

A educação Marista se pauta em vários princípios que apontam para a solidariedade como uma das virtudes de nosso tempo: a formação integral, o desenvolvimento da alteridade e da paz, o protagonismo das infâncias e juventudes, a cidadania planetária e outros que emanam da ética cristã.

Entendendo a solidariedade como algo mais dinâmico, que ganha níveis e significados distintos ao longo do tempo e na diversidade de culturas, é difícil concluir que alguém já nasça solidário.

tado desta edição da Em Família. Ribeiro tem uma longa caminhada no Grupo Marista, já tendo colaborado diretamente com a Rede de Solidariedade Marista. Atualmente, ele é coordenador de Pastoral do Colégio Marista de Maringá (PR).

Quais as apostas para este ano nas unidades pastorais dos Colégios?

A missão Marista no mundo é a educação de crianças e jovens, com um grande foco na defesa e na promoção da vida. Já há algum tempo, as Diretrizes da Ação Evangelizadora do Grupo Marista apontam para a solidariedade socioambiental como um elemento inculturador do Evangelho. A Rede Marista de Solidariedade avançou muito e tem um belíssimo trabalho no campo da defesa e da promoção dos direitos das infâncias e juventudes em situação de vulnerabilidade, pois amplia a ação social em rede, participa de espaços de construção e controle social das políticas públicas e motiva o Grupo Marista a avançar na educação para a solidariedade. Em sintonia com essa caminhada, em 2015, a Pastoral da Rede de Colégios assumiu a promoção e a defesa das infâncias e juventudes como um de seus eixos de análise e estruturação. O objetivo desse eixo é consolidar o posicionamento da comunidade educativa frente à defesa e à promoção dos direitos das infâncias e juventudes em sintonia com os direcionamentos da Rede Marista de Solidariedade (boas práticas de gestão, projetos de solidariedade, mobilização e comunicação) para que a vivência da fraternidade e da caridade cristã abra caminhos e estabeleça pontes para uma cidadania solidária. A aposta está em programas, projetos e ações estratégicos e inovadores que colaborem para que os diversos interlocutores – alunos, famílias, educadores, colaboradores, parceiros – desenvolvam a consciência crítica, ampliem seu olhar sobre a solidariedade, atribuam novos sentidos e colaborem para a transformação positiva do mundo.

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entrevista Para algumas pessoas, solidarizar-se com o outro, colaborar para essa transformação positiva é um verdadeiro exercício. Por que, às vezes, pode parecer difícil se doar ao próximo?

Não é fácil controlar os instintos egoístas e a tendência à acomodação. Nesse sentido, é difícil superar paradigmas anacrônicos, estruturas obsoletas e preconceitos em favor do bem comum. Dá trabalho sair de si, estimular a consciência crítica, reconhecer incoerências pessoais, desenvolver a alteridade, buscar coletivamente soluções assertivas com foco no grupo. Porém, a maior parte dos que começaram a desenvolver sua dimensão solidária encontrou um caminho de realização, ampliou o sentido de sua existência e tornou sua vida mais dinâmica.

Dá trabalho sair de si, estimular a consciência crítica, reconhecer incoerências pessoais, desenvolver a alteridade, buscar coletivamente soluções assertivas com foco no grupo.

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Ser solidário e fazer o bem são a mesma coisa?

Há diferentes níveis de solidariedade. De maneira simplificada, poderíamos destacar três. O primeiro é o assistencialismo. Muitas pessoas se comovem com o sofrimento alheio e se dispõem a ajudar, mas não necessariamente colaboram para que as raízes do sofrimento sejam superadas. O segundo é a fraternidade. Há pessoas que se dispõem a superar preconceitos e conviver com quem sofre. Aprendem que a solidariedade é um “caminho de mão dupla”, de interlocução que promove o crescimento de todos os envolvidos. O terceiro é a defesa e a promoção dos direitos e a emancipação dos sujeitos. Quem está nesse nível assume direta e indiretamente o acompanhamento das políticas públicas que incidem na vida de todos e o apoio às iniciativas que buscam superar as causas da vulnerabilidade social e econômica. Pensando assim, podemos afirmar que ser solidário e fazer o bem podem ser sinônimos, mas têm formas e impactos distintos. César Augusto Ribeiro, coordenador de Pastoral do Colégio Marista de Maringá (PR).


índice

Por Thassia Pires e Flávia Britto

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O aluno Heric Bruno Fontana nos conta como é ser um dos destaques da Banda Marcial.

destaque

com a palavra

ser melhor

ed. infantil

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ens. fundamental

ens. médio

você sabia?

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diz aí

caleidoscópio

gente nossa

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O que pensa a Diretoria-Geral.

Veja como a Oficina de Redação contribui no desempenho dos alunos.

Conheça a história do colombiano de 14 anos que está estudando no Colégio.

Projeto permite que as crianças vivenciem na prática os valores Maristas.

Por que as pessoas são diferentes umas das outras? Saiba o que pensam os alunos e o educador.

Ex-aluno relembra os bons momentos de sua época no Colégio.

Novas tecnologias integradas ao projeto pedagógico contribuem para o aprendizado.

Relembre os principais acontecimentos do Colégio.

Conheça algumas ações da Pastoral.


com a palavra

Rumo a 2017

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Colégio Marista Pio XII

Que todos os movimentos do Colégio Pio XII ao longo deste ano sejam de construção coletiva entre pais, alunos, educadores e colaboradores.

Irmão Adilson Janovski Diretor-Geral

© Foto: Angélica Bueno

Caros amigos da revista Em Família, em pouco tempo, mais especificamente no dia 2 de janeiro de 2017, o Instituto Marista completará dois séculos de existência. Nessa caminhada, o mesmo Pe. Champagnat nos convida a um novo começo, o qual, segundo suas próprias palavras, está nas “pequenas coisas e atitudes”. Em um ambiente escolar, é muito importante estarmos atentos as nossas ações em todos os momentos. Afinal, são essas pequenas demonstrações que nos tornarão cidadãos mais éticos e justos. Pedagogicamente, vamos percorrer esse caminho guiados por três ícones Maristas: Montagne, Fourvière e La Valla. Três ícones que nos recordam aspectos essenciais de nossa vida e missão. Três dimensões que provavelmente marcarão a vida Marista em nosso futuro próximo e guiarão nossos passos na entrada deste terceiro século enquanto Maristas presentes em mais de 80 países atualmente. Em seus 200 anos de existência, o Instituto Marista acompanhou o modo como as várias gerações foram passando o bastão, narrando de maneira quase imperceptível as histórias que continham o essencial de sua vida e missão. Desde a humilde casa de La Valla, a primeira do Instituto, os relatos se propagaram por todo o mundo, contados em mil diferentes línguas nos mais variados contextos. É nessa realidade que também o Colégio Marista de Ponta Grossa está inserido, atento ao novo e aos movimentos vindouros. Até hoje, Maristas de todas as gerações deram o melhor de si para manter viva a chama do carisma de Champagnat, dom para a Igreja e para o mundo. Eles nos legaram um patrimônio constituído de valores, de espírito, de formas de vida, de tradição. Entregaram a nós uma história, nossa própria história, o relato das experiências que viveram e marcaram a fogo o coração. Seus relatos e suas vidas ardorosas contagiaram outros que, por sua vez, transmitiram à geração seguinte. Que todos os movimentos do Colégio Pio XII ao longo deste ano sejam de construção coletiva entre pais, alunos, educadores e colaboradores, para um futuro de conquistas e vivência dos valores Maristas, atuais desde sempre.


© Foto: Acervo do Colégio

ser melhor

Luiz Carlos Vaz Rodrigues, agente de Pastoral no Colégio Marista Pio XII.

A grandeza dos

pequenos gestos O trecho é do livro “O menino no espelho”, de Fernando Sabino, que reúne histórias sobre a infância do escritor. O pedacinho citado na epígrafe é de quando o menino encontra um homem que “sabe das coisas”. Um diálogo simples, mas recheado de significado. O que é ser melhor para você? Como ser melhor? Há muitas maneiras de nos tornarmos pessoas melhores, mas, sem dúvida, a mais gratificante delas é ser solidário. Para Luiz Carlos Vaz Rodrigues, agente de Pastoral no Colégio Marista Pio XII, solidariedade é sair de si mesmo e ir ao encontro do outro. “Para sair de si, é necessário um ato de desprendimento de coisas que considero importantes para mim, mas que são para preencher o ego, o orgulho, os vícios. Infelizmente, muitos vivem solitários e nem um pouco solidários. Ser solidário é viver solidamente os valores cristãos, é buscar o bem coletivamente”, reforça. A Pastoral preocupa-se constantemente em desenvolver projetos sociais, como a Missão Solidária Marista, um encontro com os que esperam um testemunho, uma palavra de afeto, um abraço confortante em momentos difíceis da vida. “No entanto, o missionário que leva o abraço é surpreendido por acolhidas profundas, por mensagens

– Você quer conhecer o segredo de ser um menino feliz para o resto de sua vida? – Quero – respondi. O segredo se resumia em três palavras, que ele pronunciou com intensidade, mãos nos meus ombros e olhos nos meus olhos: – Pense nos outros.

de amor que fazem toda a diferença na vida do jovem ou adolescente”, completa Rodrigues. Ele nos conta ainda sobre novos projetos para este ano, como o de voluntariado com as famílias Maristas. “Visitaremos realidades de vulnerabilidade social que necessitam de nossa atenção. No início, faremos as visitas para conhecer a realidade, os trabalhos desenvolvidos pela Instituição, e só depois iremos realmente interferir com nossa solidariedade prática, que é pôr a mão na massa”. Além disso, será desenvolvido um trabalho contínuo na Casa dos Irmãos Cavanis, que atende crianças e adolescentes. Ao menos uma vez por mês, os jovens da Pastoral Juvenil Marista (PJM) vão participar dessa ação. “Nossa missão é brincar com as crianças e adolescentes, rezar com eles e testemunhar valores Maristas e o nosso jeito de ser”. Como disse o escritor russo Liev Tolstói, “A alegria de fazer o bem é a única felicidade verdadeira”. Rodrigues finaliza com a seguinte mensagem: “Aquele que ama serve. E já dizia Jesus: o maior dentre vós é aquele que serve. O serviço é uma vocação para encontrar o outro. Há muitos que trabalham, poucos servem. É preciso buscar o serviço e não ser visto”.

Colégio Marista Pio XII

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Na foto: Hanna Paula Brites, Larissa Rogalla, Daniele Pires Dias, Juliana Rodrigues e professoras da Educação Infantil.

Uma prova de amor Projeto desenvolvido pelas professoras da Educação Infantil permite que as crianças vivenciem na prática os valores Maristas

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Colégio Marista Pio XII

Quando ela se aproxima, a criançada já fica eufórica. Então, finalmente, chega o dia em que meninos e meninas correm pela casa para encontrar os ovos de chocolate deixados pelo coelhinho. Mas é preciso lembrar o real significado da Páscoa, que, além de muito doce, é especial. É um momento de reflexão, renascimento, amor. Neste ano, a Páscoa foi comemorada no início de abril e no Marista Pio XII foram realizadas diversas ações para reforçar ainda mais os valores por trás desse período tão importante. Sendo assim, quatro professoras do Infantil se reuniram para desenvolver atividades com as crianças a fim de fomentar o sentimento de amor entre elas. Daniele Pires Dias, Hanna Paula Brites, Juliana Rodrigues e Larissa Rogalla utilizaram a vivência da partilha e de suas reflexões positivas junto às crianças e às famílias para explorar o sentido e a importância do ato de “compartilhar”. “Desenvolvemos ações para que elas percebessem que os valores fazem parte da metodologia Marista e como alunos Maristas devem dar o exemplo, para a sociedade, de como ser um bom cidadão”, explica a professora Hanna.

© Foto: Acervo do Colégio

ed. infantil


Na atividade inicial da partilha, os alunos vivenciaram um momento de extrema religiosidade, que foi a representação da última ceia. “Enfeitamos as salas de aula e preparamos um ambiente acolhedor, procurando encenar a Santa Ceia. Os seguintes itens estavam presentes na encenação: Bíblia, água, vela, suco de uva, pão, aromatizante de ambientes, arranjo de flores e uma toalha branca. A partilha do pão e do vinho feita por Jesus também nos ajuda a entender a importância de repetirmos esse gesto em nossa vida. Ser solidário, repartir com as pessoas aquilo que podemos e de que elas necessitam”, detalha a professora Daniele. “Nosso projeto teve como objetivo principal fazer com que as crianças observassem que os pequenos gestos e boas ações servem como exemplo para o próximo e nos ajudam a espalhar o bem por onde passamos”, completa Juliana.

Conhecendo outras realidades Com o lema “Eu vim para servir”, a Campanha da Fraternidade busca respostas das crianças sobre o que elas entendem do ato de dividir, partilhar e servir. A Instituição Marista desenvolve um trabalho voltado para esse lema, focando na solidariedade a partir de seus colégios, instituições, hospitais e grupos de apoio a crianças em situação de vulnerabilidade. As professoras levaram seus alunos para conhecer o Centro Social Marista Santa Mônica, que atende crianças carentes da mesma faixa etária dos estudantes. Essas crianças conhecem Maria, a história de Champagnat e vivenciam os mesmos valores presentes em nossa metodologia. Após a visita, professores e alunos se reuniram para conversar a respeito. Vários foram os pontos levantados pelas crianças: “As salas de aula de lá são bonitas, mas têm poucos brinquedos”; “Eles não levam o lanche de casa. Lá todo mundo come

o mesmo lanche. E se não gosto de comer isso? Fico com fome?”; “Eles gostam de brincar de Max Steel?”. Após o levantamento de tais questionamentos e suposições, as crianças, com a ajuda das professoras, tiveram algumas ideias de como partilhar “coisas materiais” das quais sentiram falta quando visitaram a instituição e que não sentem falta em suas casas e em sua escola. Para isso, foi iniciada a campanha com o nome de uma citação do Frei Betto: “A ressurreição de Jesus acontece em nosso coração, em nossa solidariedade, em nossa capacidade de enxergá-lo no próximo”. Entre as ações propostas, estavam a doação de livros e brinquedos novos ou usados; fabricação de brinquedos com sucata; tarde do cachorro-quente e brigadeiro; apresentações de teatro e show de talentos. Toda a Educação Infantil do Marista Pio XII envolveu-se nesse projeto. “Espalhamos cartazes, visitamos todas as turmas, abordamos pais e familiares em horários de entrada e saída, buscando evidenciar para as crianças e todos que as cercam a importância de compartilhar e dividir tudo que temos, desde ‘coisas materiais’ até sentimentos, talentos e gestos de afeto”, conta Larissa.

O retorno à Instituição Após todo esse trabalho de conscientização, os alunos voltaram ao Centro Social Marista Santa Mônica com os materiais arrecadados. “Foi um momento esplendoroso, cheio de sentimento e significado. Foi emocionante ver a felicidade e satisfação das crianças em poder ajudar e proporcionar um dia diferente para as crianças do Centro Social, realizando boas ações e espalhando o bem”, relembra a professora Hanna. Segundo as professoras, projetos como esse são importantes para que as crianças conheçam, compreendam e se importem com as diferen-

ças que existem no mundo. “A nossa maior esperança, enquanto professoras, é que algo, um pequeno sentimento de tudo isso que foi vivido, permaneça no coração das crianças quando elas forem adultas e que isso as prepare para a vida, tornando-as seres humanos que farão a diferença ao expressar os valores Maristas em seu cotidiano. Afinal, pessoas permeadas de valores não têm preço nem classe social que as diferenciem dos outros”, finalizam. Lições como essa devem ser compartilhadas por todos nós.

Nosso projeto teve como objetivo principal fazer com que as crianças observassem que os pequenos gestos e boas ações servem como exemplo para o próximo e nos ajudam a espalhar o bem por onde passamos. Juliana Rodrigues Professora da Educação Infantil

Colégio Marista Pio XII

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ens. fundamental

lousa e giz Muito além de O mundo é conectado e não dá mais para negar essa realidade. É preciso se adaptar a ela. Para aqueles que nasceram na década de 90 em diante, a tecnologia sempre esteve presente e estará cada vez mais. Basta observar como os bebês de hoje lidam com smatphones e tablets. É tanta intimidade que parece que já nascem sabendo o que fazer. Cadernos e quadro-negro, que no século passado eram protagonistas nas salas de aula, hoje dividem espaço com os inúmeros recursos tecnológicos que surgem diariamente.

“Acredito que muitos profissionais como eu se questionam a todo momento sobre questões pertinentes às variabilidades didáticas adotadas na prática educativa. Como ensinar, como motivar o educando? Será que estou possibilitando o entendimento do que estou ensinando? Estas e outras reflexões nos fazem avaliar o nosso planejamento, qualificando-o da melhor maneira possível para que o objetivo seja alcançado”, reforça Gilsiane de Fátima Roth, professora do 4º ano do Ensino Fundamental I do Marista Pio XII.

© Foto: Acervo do Colégio

A educação é o maior meio de transformação de uma nação e, assim como o ser humano, tem de estar em constante evolução

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Colégio Marista Pio XII


Ela é uma das responsáveis pelo projeto Aprendendo com frações, que levou para a sala de aula um jeito diferente de aprender a partir da construção de um epub (livro digital) para leitura no aplicativo iBook. “Ao utilizar o livro digital para ensinar o conceito de frações, uma ferramenta fantástica, atual e inovadora, as aulas ficaram mais atrativas e interativas. A construção do livro digital permitiu inserir todas as etapas de uma aula, sendo que os alunos foram os principais protagonistas”, conta a professora.

to por meio de jogos, construção de mapas conceituais que ampliaram o conceito e significado de palavras. Elaboraram histórias em quadrinhos, entrevistaram alunos, professores e funcionários da Escola e tivemos até um momento de degustação de um bolo no ateliê do Infantil para explorar o significado das quantidades fracionárias dos ingredientes da receita”.

Novas tecnologias

Ao utilizar o livro digital para ensinar o conceito de frações, uma ferramenta fantástica, atual e inovadora, as aulas ficaram mais atrativas e interativas. A construção do livro digital permitiu inserir todas as etapas de uma aula, sendo que os alunos foram os principais protagonistas.

A utilização dos recursos tecnológicos no Colégio Marista Pio XII teve início por meio de um processo de formação para os professores ministrado pela assessoria da Diretoria Educacional da Rede de Colégios (DERC) no segundo semestre de 2013. Os recursos foram diariamente inseridos na prática do professor e na aprendizagem dos alunos. “Ao participar do Projeto Composições da DERC trabalhando com as múltiplas linguagens, juntamente com minha coordenadora, Maria Cristina Starcke, pensamos na possibilidade de construir um livro digital. Gosto de ensinar Matemática, assim escolhemos as frações, conteúdo que amedronta muitos alunos”, explica Gilsiane. E assim nasceu o projeto. É o primeiro epub do Ensino Fundamental do Marista. A Educação Infantil do Colégio Pio XII foi a pioneira em apresentar o uso dessa ferramenta. A professora do Infantil III, Carla Carbonar, elaborou com os seus alunos o epub Mundo da fantasia, que contava histórias infantis. Para a efetivação do projeto “Aprendendo com frações”, foram realizadas várias investigações, pesquisas na biblioteca e na internet, e atividades lúdicas. Gilsiane conta que a participação dos alunos foi espontânea. “Ficaram entusiasmados com os registros de cada atividade realizada, aprimoraram o conhecimen-

Gilsiane de Fátima Roth Professora do Ensino Fundamental I

Aprendizado As tecnologias educacionais propiciam momentos prazerosos na vida dos educandos e o professor precisa ter vontade de inovar sua prática em sala de aula. “Cada aluno que participou da construção desse projeto se sentiu valorizado. Eles foram críticos fazendo questionamentos relevantes às aprendizagens do momento, aconteceram muitas trocas de infor-

mações entre os próprios alunos e conosco enquanto mediadora desse processo. Foi uma experiência incrível”, completa a professora. Ela reforça ainda que o professor precisa compreender que a tecnologia efetivamente ajuda no aprendizado dos alunos e em diferentes situações. É necessário que o aluno entenda a diferença entre o entretenimento e o conhecimento, e tenha consciência respeitando os limites desse uso dentro da Escola. “O professor precisa mediar as situações de aprendizagem para que a informação seja significativa para o aluno, pois sabemos que a busca de conhecimento nesse meio digital pode acabar se perdendo por conter algumas coisas inúteis, sem ter uma informação precisa, clara, direcionada e com objetivo de aprendizagem. O nosso papel é mediar, conduzir e orientar os alunos na busca do conhecimento”, enfatiza. As transformações na área da educação foram muitas nos últimos anos, principalmente no que diz respeito às variabilidades didáticas aplicadas pelos professores no cotidiano escolar. Os jovens estão constantemente conectados e as ferramentas digitais possibilitam tal interatividade. “Infelizmente, muitos jovens não sabem aproveitar a tecnologia como uma aliada da sua aprendizagem, mas apenas como uma distração para o lazer. É necessário que o professor possibilite a ponte da construção e condução do aluno para o conhecimento”. É essencial que a educação assuma esse novo formato. O professor, a lousa e o giz competem hoje com aplicativos e jogos extremamente atrativos. Por isso, a comunicação não é mais unilateral, na qual o educador transmite o conhecimento e o aluno recebe. É uma troca, uma conversa de mão dupla. “A aprendizagem só tem sentido quando significamos nossa prática diária em sala de aula. Como educadores Maristas, somos capazes de mediar situações e inová-las, integrando-as com as tecnologias”, conclui a professora.

Colégio Marista Pio XII

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© Foto: Acervo do Colégio

ens. médio

Redação

Juliana Bilek, professora de Português do Pio XII.

Muito além de uma matéria que cai no vestibular Saber escrever, se expressar, relacionar ideias, criar argumentos e articular soluções são habilidades que sempre nos serão exigidas Um engenheiro vai precisar de muita matemática, mas não é só isso. Um farmacêutico terá de entender muito de química, mas não é só isso. Um médico vai precisar saber muito sobre biologia, mas não é só isso. Para cursar uma boa universidade, é preciso muito mais do que apenas conhecimento específico da matéria que será mais utilizada em sua vida acadêmica. Não é raro ver advogados, médicos, engenheiros formados recorrendo a cursos de português para aprimorar a escrita por uma necessidade real do ambiente de trabalho. Escrever é mais do que um conhecimento propriamente – é uma prova de que você está em sintonia com o mundo em que vive e sabe se expressar diante dele. Os dados revelados no último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) são preocupantes. Chama atenção o grande número de candidatos que tiraram a nota zero na prova de redação: 529.373. O total corresponde a 8,5% dos participantes do exame. Na outra ponta, apenas 250 estudantes obtiveram a nota máxima. Diante desse cenário, a notícia positiva é que nenhum dos alunos do Colégio Marista Pio XII teve sua redação desconsiderada. “Pelo contrário, o que tivemos foram alunos fazendo parte do seleto grupo de quase 36 mil com média acima de 900 pontos, maior que a média brasileira, que foi de 600”, orgulha-se a professora de Português do Pio XII Juliana Bilek. Esse resultado é fruto de um intenso trabalho iniciado em fevereiro de 2012. O projeto Redação do Colégio – também conhecido pelos alunos como Oficina de Redação – começou com a turma da 3ª série do Ensino Médio. Em 2014, pas-

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Colégio Marista Pio XII

sou a permitir também a participação dos estudantes da 2ª série e este ano foi ampliado para todo o Ensino Médio. “A motivação ocorreu a fim de melhorar as produções textuais do Enem. Assim, eram ministradas duas horas/aula semanais, no contraturno escolar. Discutimos a proposta de redação em um primeiro momento e posteriormente sua elaboração propriamente dita. O resultado final foi um aumento de 20 pontos na média geral da redação no referido exame com relação a 2011”, revela Juliana. Com a participação de novos alunos na Oficina a partir do ano passado, o resultado foi melhor ainda. “Vários desses estudantes foram aprovados em universidades federais e em diversos cursos. Além disso, estamos fora das estatísticas desfavoráveis na prova de redação do Enem. Este é o primeiro ano do projeto com a participação de todos os estudantes do Ensino Médio”, comemora a professora de Português. Para ela, esse trabalho exige muito afinco, tanto dos professores quanto dos alunos. “Requer, ainda, motivação. Provavelmente essa seja a palavra principal para definir uma boa produção textual”, assegura Juliana. Cada vez mais a redação mostra a sua importância. Nos cursos de alta demanda, a redação é quase sempre o fator de desempate. Há pessoas que se garantem em todas as matérias, tiram notas altíssimas nos testes e nas questões dissertativas, mas na hora de fazer a redação acabam deslizando. Todo profissional, de qualquer área, deveria ter a capacidade de produzir uma redação de qualidade. Escrever bem tem sido um diferencial e pode alavancar carreiras.


© Foto: Sxc.hu

você sabia?

De Bogotá para

Ponta Grossa soas. Está sendo uma experiência muito bacana”. A beleza natural do Brasil também chamou atenção do aluno. “Minha cidade tem parques bonitos, mas aqui faz parte do nosso dia a dia o contato com a natureza. São muitas árvores, flores, parques. Tudo muito próximo da gente”, completa o aluno, que deseja cursar Gastronomia. Até lá, pode contar conosco enquanto estiver no Brasil. Será sempre muito bem-vindo em terras tupiniquins. © Foto: Acervo do Colégio

A mais de 2.600 metros acima do nível do mar, a cidade colombiana de Bogotá é a terceira capital mais alta do mundo. É uma cidade de 7 milhões de pessoas provenientes de todas as regiões da Colômbia, tão diversa como o país inteiro. Sair de uma cidade grande como essa para uma pequena já seria uma enorme mudança. Imagine então uma mudança de país. Foi o que fez George Andres Ardila Bernal para acompanhar a sua mãe, que veio cursar mestrado no Brasil. Eles chegaram ao país em setembro de 2014 e George logo foi matriculado no Marista Pio XII para continuar seus estudos. “No começo foi difícil, principalmente por causa do idioma e da saudade da família e dos amigos. Foi estranho na primeira semana, mas logo os colegas começaram a conversar mais comigo. Era até engraçado, eles chegavam fazendo muitas perguntas sobre o meu país, minha cultura e meu idioma, eu me divertia com isso. Todos foram muito amáveis comigo", conta o aluno. Foi justamente o carinho dos brasileiros o que mais surpreendeu George. “As pessoas conversam e se abraçam livremente. Elas não têm vergonha da demonstração fraternal”. Em Bogotá, George estudava em uma escola masculina e no Pio XII está em uma turma mista. “Isso também é interessante para mim”, revela o garoto com um sorriso envergonhado, sem deixar de ressaltar a relação de respeito com todos os colegas. Outra diferença que ele notou é que as aulas de Educação Física no seu país eram muito mais pesadas, justamente por ser uma turma só de meninos. George faz questão de participar de atividades extraclasse oferecidas pelo Colégio. “Gosto muito do Marista, dos colegas e dos professores. Já tenho vários amigos e à tarde estou sempre na Escola para jogar futebol”, relata. A vinda de George para o Brasil foi sua primeira visita. “Eu já conhecia um pouco sobre o país, mas é somente vivenciando que se aprende e entende a cultura das pes-

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diz aí

Por que as pessoas são diferentes

?

Ana Paula Ferreira da Silva 2ª série do Ensino Médio

Ana Flávia Kulcheski 2ª série do Ensino Médio

Arthur Henrique D. Galvão 8º ano do Ensino Fundamental

“A riqueza da sociedade está justamente na diferença entre as pessoas. Por isso somos diferentes, para completarmos o que falta uns nos outros, pois é a diversidade que torna o mundo mais interessante.”

“A diferença entre as pessoas não precisa ser vista como um defeito, isso é que dá um valor especial a cada uma delas. Mas, antes de tudo, devemos desconsiderar a visão da aparência, pois essa diferença pode ser explicada pela ciência. Nossas diferenças se expõem devido a nossa formação social, sendo elas boas ou ruins.”

“Deus criou o livre-arbítrio para cada um ser do jeito que quiser. Se todos forem iguais, as coisas não iriam dar certo, pois cada um tem o seu pensamento e jeito de ser.”

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Colégio Marista Pio XII

© Fotos: Acervo do Colégio

umas das outras


Leonardo Henrique s. Dal Col 8º ano do Ensino Fundamental

Danilo Gardinal Leite 2ª série do Ensino Médio

Ana Luiza Leite da Silva 2ª série do Ensino Médio

“Acho que todos nós temos um modo de viver, pensar, fazer de um jeito diferente. Cada um tem a própria opinião e acho que quanto mais diferente o mundo será um lugar melhor.”

“As pessoas são bem diferentes porque se todos fossem iguais o mundo não seria legal, pois cada um tem sua opinião, seu jeito de viver, e a mudança não seria possível, pois as ideias ficariam as mesmas e não seria como é hoje.”

“As pessoas são tão diferentes porque cada um é criado de um modo, tem a sua própria opinião, vê o mundo de um jeito e isso faz de cada um único. O mundo sem as diferenças seria uma monotonia total.”

OPINIÃO DA EDUCADORA A criança é uma criatura divina, que traz em seu coração a pureza e a inocência, que lhe são natas. Segundo a assistente psicopedagógica Cibele Bastos Guaringue, na infância, fase das descobertas, as crianças reconhecem as diferenças entre si, questionam para querer saber o porquê de estas diferenças existirem, mas se convencem facilmente com uma resposta recebida e se solidarizam, se aproximam para querer ajudar, porque o que elas mais querem é brincar, ter companhia para dividir sonhos, fantasias e alegrias, não demonstrando nenhum tipo de repúdio

pelas diferenças. “A interação é o que importa, é se sentir bem acolhido, protegido e pertencente a um grupo, que brinca e se diverte com a vida de criança. Nesse contexto, ensinar as crianças sobre as diferenças é um assunto primordial para que os pequenos cresçam conscientes e jamais faltem com respeito a nenhum ser humano. O exemplo é sempre o primeiro passo, que vale mais do que mil palavras”, conclui a pedagoga.

Cibele Bastos Guaringue Assistente Psicopedagógica

Colégio Marista Pio XII

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caleidoscópio

2015

Alunos do Marista Idiomas, que aprendem inglês da melhor maneira de acordo com a idade.

ACONTECEU

Colaboradores participam da Celebração de Páscoa encenando o ato de Lava Pés. Posteriormente foi servido uma ceia de confraternização. Professores, coordenação e pastoral com outros colégios da Rede Marista, participando de uma videoconferência sobre o Projeto Composições: Espaço de aprendizagens do ensino fundamental.

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Colégio Marista Pio XII


© Fotos: Acervo do Colégio

O Marista Pio XII recebeu a Seleção Paranaense Infanto Juvenil Feminina para treino nas dependências do colégio. O time estava se preparando para o Campeonato Brasileiro de Seleções em Saquarema – RJ, que aconteceu em março deste ano.

Alunos do 1º ano do ensino Médio participam do Projeto Circuito Vida.

Colégio Marista Pio XII

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destaque

© Fotos: Angélica Bueno

Heric Bruno Fontana, um dos destaques da Banda Marcial Marista Pio XII.

Que rufem os tambores... O aluno Heric Bruno Fontana nos conta sua experiência e como é ser um dos destaques da Banda Marcial Marista Pio XII

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Quem não gosta de ouvir uma boa música? Seja para relaxar, esperar o tempo passar durante o trânsito caótico, fazer atividade física ou aliviar o estresse, a música é uma companheira em muitos momentos do nosso dia a dia. Mas você sabia que os benefícios que ela traz vão muito além da distração? A música pode ser uma grande aliada da educação. Diversas pesquisas comprovam que aqueles que tiveram mais envolvimento com a música na infância têm um maior desenvolvimento intelectual, motor, afetivo e cognitivo. Isso significa que a música potencializa a aprendizagem cognitiva em vários campos, como a memória e os raciocínios lógico e abstrato.

Colégio Marista Pio XII

Quando a música abre a mente para a arte e a expressão, abre também para outros tipos de aprendizagem. É vital para manter as crianças envolvidas na escola, pois se mostram mais propensas a continuar a sua educação e têm as ferramentas de que precisam para construir um futuro brilhante. Patrícia Fontana, mãe do aluno Heric Bruno Fontana, de 11 anos, comprova na prática os benefícios da música. Seu filho é um dos destaques da Banda Marcial Marista Pio XII. Pra quem não sabe, uma banda marcial é formada por músicos que tocam instrumentos de metais e percussão e que executam, durante a apresentação, algum tipo de marcha.


Patrícia conta que em 2010 propôs aos seus filhos que fizessem uma atividade extra e, dentre as ofertadas pelo Colégio, ela os levou para que conhecessem a banda e eventualmente entrassem na escolinha. “O Henry [irmão mais velho] escolheu aprender trompete. Como o Heric só tinha 6 anos na época e a dentição ainda estava em formação, e por isso não poderia seguir o irmão, ele foi conhecer a percussão e de lá nunca mais saiu”, revela a mãe orgulhosa. Ela conta ainda que a percussão é uma ótima escolha do filho porque não limita o aprendizado devido ao vasto número de instrumentos. “Ele é muito curioso e gosta de desafios. A banda constantemente inova seu repertório, tornando uma atividade atrativa e prazerosa”. A música tem o poder de acalmar e disciplinar uma criança, portanto facilita a aprendizagem, seja ela formal, seja no âmbito familiar. “Para se tornar um músico, é preciso responsabilidade, concentração e determinação. Sem dúvida, essas habilidades se estendem para outras áreas do conhecimento. Eles aprendem a se comprometer com o que estão fazendo, a trabalhar em grupo e que têm um papel importante e único”, completa Patrícia.

A rotina Assim como praticar um esporte, tocar na Banda Marcial exige ensaios individuais e coletivos. Heric tem como compromisso oficial ensaios de aproximadamente duas horas em três dias da semana, sendo mais intensos em épocas de apresentações e campeonatos. Na percussão, são muitos os instrumentos e Heric já executou alguns deles, como prato A2 (o maior e o mais pesado), triângulo, xilofone, pandeiro meia-lua, reco-reco, maraca e shaker, por exemplo. Segundo ele, fazer parte da banda é muito gratificante. “Todo o aprendizado recebido volta em forma de

contribuição nas apresentações dos concertos e nas conquistas dos títulos. Essa é a recompensa pela minha dedicação. Não me sinto uma criança na banda, mas sim um músico, que é respeitado como tal”, revela o pequeno grande artista.

Uma história na qual a música sempre terá um papel de destaque e nós, do Marista, temos o maior orgulho de fazer parte disso.

Momentos especiais “É difícil escolher um momento único, sempre fico muito emocionada e orgulhosa em dobro, em todas as apresentações, pois a banda executa peças complexas, de grandes compositores”, responde Patrícia quando pedimos que nos contasse sobre alguns momentos marcantes. Mesmo assim, ela nos revelou alguns. Com 8 anos, Heric foi a Brasília e desfilou junto com a banda no dia 7 de setembro. “Ele atravessou a Esplanada dos Ministérios tocando prato, foi muito determinado e admirado por todos”, lembra a mãe. Heric e Patrícia recordam também do último concerto de pais, em que ele tocou prato A2 na ópera “O guarani”, criada por Carlos Gomes e baseada no livro homônimo de José de Alencar. “Confesso que foi um dos momentos mais marcantes, pois na percussão eles ficam sempre escondidinhos atrás dos metais e nessa música em especial ele se destacou”, conta a mãe.

Planos para o futuro Heric tem apenas 11 anos e muita estrada pela frente. Independentemente de qual caminho optar, a música estará sempre presente em suas escolhas. “Penso em ser engenheiro eletrônico ou astronauta. Não sei ainda, só sei que a música será um complemento das minhas realizações profissionais. Desde que esteja tocando, eu me sinto feliz”, diz o aluno. “Mesmo que os meus filhos não escolham a música como profissão, tudo que estão aprendendo só tem a acrescentar à história que estão escrevendo sobre si mesmos”, completa a mãe.

Banda Marcial Marista Pio XII Fundada em 1981, a Banda do Colégio Marista Pio XII é apontada pela crítica como uma das mais importantes no segmento banda marcial. São mais de 80 prêmios, como o hexacampeonato nacional de bandas e 25 títulos de campeã estadual. Em 1995, foi a representante brasileira no Festival Internacional de Bandas, realizado no Chile. “Atualmente, são 90 alunos de 8 a 20 anos, entre aprendizes, músicos formados em nossa escola de aprendizes da banda, corpo coreográfico, baliza e corpo de bandeiras. O aprendizado da música proporciona ao indivíduo o desenvolvimento do raciocínio, da coordenação motora e da lógica, tornando mais fácil a apreensão de todas as outras matérias”, revela Antonio Carlos Schmidt, ex-aluno Marista e coordenador da banda desde a sua fundação.

Colégio Marista Pio XII

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gente nossa

Lembranças de um tempo bom

© Foto: Acervo do Colégio

Ex-aluno do Marista Pio XII relembra sua época de Escola

Por mais que o tempo passe e as gerações mudem, o período de escola é sempre marcante. Quem não gostaria de fazer uma visitinha ao passado só para relembrar alguns momentos de uma das épocas mais importantes de nossas vidas? Como infelizmente não existe uma máquina do tempo para nos ajudar nessa “viagem”, a gente utiliza nossa memória para contar para os outros os bons tempos de escola. Hoje, a história que vamos compartilhar com vocês é a do engenheiro civil Murilo Lemen Souto, de 45 anos, ex-aluno do Marista Pio XII. Foram nove anos no Colégio. Souto iniciou em 1978 no 2º ano primário e só saiu para ir direto para a universidade, em 1988. “Desde aquela época até hoje, existe uma relação familiar comigo e com as minhas filhas. Acompanhei pessoalmente todas as etapas de crescimento e modernização do Colégio e me orgulho muito em ver tal evolução na estrutura diferenciada, na didática, nos equipamentos e instalações”, conta o engenheiro. Suas duas filhas, Maria Eduarda, 13 anos, e Ana Paula, 9, hoje são

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Colégio Marista Pio XII

alunas Maristas. “O Pio XII faz parte de nossa família. Além das minhas filhas, minha esposa, minha irmã e irmão, minhas sobrinhas também já frequentaram o Colégio. Em todo esse tempo, vejo uma preocupação grande do Marista em estar um passo à frente de tudo que possa influenciar e agregar valor e conhecimento ao processo de ensino e à formação dos alunos”, afirma. O tempo passa e, dependendo do rumo que cada um segue, algumas coisas que aprendemos na escola ficam para trás, como fórmulas de Física e elementos da tabela periódica, mas outras marcam a vida da gente para sempre. Os amigos que fizemos e os valores que adquirimos, o tempo não apaga. Souto conta que as melhores lembranças que têm como aluno Marista são o coleguismo e a formação. “Até hoje, encontro muitas pessoas com quem fiz amizade, tanto ex-professores como colegas de sala de aula”. Nesses 40 anos de convívio diário com o Marista, muita coisa mudou. “O volume de informação e a interação em tempo real se tornaram um

grande desafio para podermos educar nossos filhos, porém o Marista mostra para os pais a forma correta de interagir com os filhos nesta realidade, proporcionando assim condições de, como pai, poder acompanhar, orientar e participar diariamente com minhas filhas desse processo”, relata. Perguntamos a ele qual frase escolheria para definir o Marista. Ele respondeu rapidamente: “Tradição, compromisso, educação e formação voltados para o futuro”. E o futuro é logo ali!

O Pio XII faz parte de nossa família. Além das minhas filhas, minha esposa, minha irmã e irmão, minhas sobrinhas também já frequentaram o Colégio.


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NA OLIMAR TEM UMA COISA QUE TODOS VÃO COMEMORAR: A AMIZADE.

A Olimar é um evento que celebra o espírito esportivo e a amizade entre os alunos dos Colégios Maristas. Venha participar. De 4 a 8 de setembro, no Colégio Marista de Londrina. VINÍCIUS SAMPAIO | ISABELA GOMES Atletas de futsal da 3ª e 2ª Série Acesse fb.com/olimpiadamarista e saiba mais.

Colégios Maristas. Preparação para todas as provas da vida.


© Foto: João Borges

essência

Ir. Alvanei Finamor Diretor Interino da Diretoria Executiva de Ação Social (DEAS)

O Instituto Marista nasceu de uma experiência de solidariedade na prática e prática da solidariedade! Quem conhece a história bem sabe. Marcelino Champagnat, ao visitar o jovem Montagne – doente, analfabeto e completamente alheio sobre quem era Deus –, teve ali o impulso que faltava para iniciar um movimento de transformação da sociedade da sua época: a fundação do Instituto Marista, com a missão de educar e evangelizar crianças e jovens, inicialmente no interior da França e, hoje, em mais de 80 países pelo mundo. “A solidariedade é o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana”, disse Franz Kafka, escritor tcheco de língua alemã – um dos principais nomes da literatura. Para o Instituto Marista, a educação, a evangelização, a solidariedade e o voluntariado são valores evangélicos e instâncias que ajudam as pessoas na sensibilização para com as necessidades e mazelas do outro, diante de situações que precisam ser assumidas nos âmbitos pessoal, fraternal, coletivo e social por todos nós, enquanto cidadãos e membros da Igreja. "Criamos oportunidades para projetos de convivência, de solidariedade e de voluntariado entre crianças, jovens e adultos de diferentes classes sociais, culturais e estilos de vida. Assim, desenvolvemos sua abertura de espírito e os iniciamos no hábito de partilhar tempo, talentos e habilidades no serviço do próximo", como citado no documento Missão Educativa Marista.

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Solidariedade na prática e prática da solidariedade Na esteira de São Marcelino Champagnat, a vida Marista tem me oportunizado trilhar caminhos de solidariedade na prática e prática da solidariedade. No fundo, a gente acaba fazendo a experiência de se tornar um ser humano cada vez melhor ao interagir com tanta diversidade e beleza, mas também ao lidar com um universo de contradições sociais e adversidades mil por esse mundo de Deus. Isso me faz lembrar de José Saramago, escritor e gajo poeta, que afirmou: "Mesmo que a rota da minha vida me conduza a uma estrela, nem por isso fui dispensado de percorrer os caminhos do mundo” e de tantas pessoas que Deus tem colocado na estrada da minha vida. E, de fato, as experiências profundamente humanas são "realidades que exigem de nós a capacidade de ir além das aparências para atingir a essência e adquirir posturas sempre novas: ver o invisível, escutar o silêncio, adivinhar a angústia e sondar o mistério", como afirmou, sábia e profeticamente, Dom Helder Câmara. “Não são os pobres que devem compartilhar a nossa esperança; nós é que devemos compartilhar a deles. Eu aprendi muito com aqueles que são chamados pobres, mas que são ricos do espírito do Senhor”, disse o saudoso pastor. Ele avançou ao dizer que "quando os problemas se tornam absurdos, os desafios se tornam apaixonantes", e recomendou: "Se as pessoas são pesadas demais para serem levadas nos ombros, leve-as no coração".

Solidariedade na prática e prática da solidariedade requer estar atento, sentir a injustiça do ser humano e reagir, trabalhando, partilhando e criando soluções para que se viva em paz e com dignidade. Dessa forma, ela se torna o eixo que orienta toda a vida, as opções e ações de cada um. O meio mais adequado para se percorrer o caminho até Deus é o amor e as formas mais coerentes de amor no plano social são o exercício e o aprendizado da solidariedade. De fato, não existe outra via para a solidariedade humana senão a procura e o respeito pela dignidade de cada pessoa. “Eu não acredito em caridade. Eu acredito em solidariedade. Caridade é tão vertical: vai de cima para baixo. Solidariedade é horizontal: respeita a outra pessoa e aprende com o outro. A maioria de nós tem muito o que aprender com as outras pessoas”, asseverou Eduardo Galeano, escritor uruguaio.

CHAMPAGNAT

ensina a Montagne

as coisas de Deus

E MONTAGNE lhe ensina que não

HÁ MAIS TEMPO A PERDER.


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Nada mais atual do que um novo jeito de aprender inglês: o jeito Marista.

A Rede Marista de Colégios, buscando proporcionar um ensino diferenciado de Língua Inglesa, implantou neste ano o Marista Idiomas, que utiliza a metodologia do Red Balloon, totalmente alinhada à proposta pedagógica e aos Valores Maristas. Com 45 anos de tradição, o Red Balloon é pioneiro no ensino exclusivo de crianças e jovens, respeitando as características de cada faixa etária e atendendo alunos a partir dos 3 anos.

Santa Maria: 41 3074 2543 :: Pio XII: 42 3224 0374 :: Champagnat: 16 3238 4800 Maringá: 44 3220 4224 :: Londrina: 43 3374 3600

Colégios Maristas. Preparação para todas as provas da vida.


© Ilustração: Rabisko

solidariedade

Ressignificando a liberdade Proposta inovadora Marista contribui para que adolescentes que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas criem novos repertórios para suas vidas e construam seus espaços na sociedade Por Michele Bravos

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Ela buscava liberdade quando passou a consumir drogas frequentemente. A procura não foi bem sucedida e Carolina Machado, então com 16 anos, precisou de ajuda para sair do uso abusivo. “Eu morava com meu pai e não tínhamos uma boa relação. Eu queria fugir, ter liberdade e experimentar algo novo”, relata Carolina durante uma conversa na varanda do espaço onde está localizado o Centro Social Marista Propulsão, um projeto inovador no Brasil dedicado à inserção social de adolescentes em tratamento devido ao consumo abusivo de álcool e outras drogas. É nesse local que histórias como a de Carolina são ressignificadas pelos próprios jovens, com o auxílio de uma equipe multidisciplinar – que conta, atualmente, com um coordenador pedagógico, três educadores sociais, um assistente social e um psicólogo. Em comum acordo, jovens e profissionais desenvolvem atividades que promovem a criação de novos repertórios aos atendidos. De acordo com Altieres Frei, diretor do Centro Social, para que isso seja possível, o Propulsão se dedica de forma singular aos adolescentes. “Estamos pensando em qualidade, por isso, temos apenas 24 vagas. Quando o adolescente adere ao atendimento, sugerimos que ele proponha uma atividade para que possamos ajudá-lo a desenvolver. Nós perguntamos a ele: ‘O que você quer fazer?’”. Tanta liberdade foi vista até com estranheza por Carolina, em um primeiro momento. “Isso era muito diferente dos lugares que eu conhecia. O modo como sou tratada é acolhedor”. Apontando para algumas redes instaladas no gramado, ela continua: “Está vendo ali, aqueles adolescentes conversando com um educador? É assim sempre. Comigo também era assim. Às vezes, eu chegava e só queria ficar ali, conversando, batendo um papo cabeça”.


© Fotos: Gilberto do Rosário

As paredes grafitadas, a cozinha bem espaçosa e convidativa, o barulhinho baixo de um filme passando na sala mostram que são muitas as atividades que acontecem no Propulsão. O coordenador pedagógico Rudinei Nicola explica que todas elas possuem um propósito. “Após uma sessão de cinema, por exemplo, os adolescentes conversam e discutem sobre a temática vista na tela. Nas atividades na cozinha, trabalhamos os vínculos. Uma vez por semana, nós almoçamos juntos e são eles mesmos que cozinham. Em geral, uma receita da família de algum deles. Chamamos isso de ‘ocupação afetiva da cozinha’”. Além das atividades internas, os adolescentes também são convidados a ocupar outros territórios, como museus, cinemas, ruas e ciclovias. “Quando vamos a algum lugar, vamos de bicicleta ou de transporte público. Isso também proporciona uma inserção na cidade”, diz o coordenador.

Ocupando os espaços O diretor do Propulsão ressalta que pensar em inserção social é buscar a redução de danos. O termo, utilizado pela Política Nacional de Atenção Integral ao Usuário de Álcool e Outras Drogas, do Ministério da Saúde, designa um método em que o sujeito vá gradativamente se distanciando das drogas – tanto do uso, quanto dos rótulos que esse envolvimento lhe conferiu. “É por isso que, quando percebemos que é propício, incentivamos o adolescente a participar de atividades externas, como aulas de teatro”. Isso contribui para que ele deixe de ser visto como 'o ex-usuário de cocaína' e passe a ser percebido como 'o jovem que faz teatro'”. Dentre as muitas definições de Carolina, hoje ela também é re-

conhecida como jovem aprendiz. “Conforme foram fazendo tanta coisa por mim, eu fui tendo vontade de ser diferente e fazer algo. Hoje, eu também quero ajudar os outros”. Cabe ao Propulsão fornecer subsídios para que o jovem busque essas possibilidades. “Propomos que o adolescente procure o que o município ou outras instituições oferecem para ele de forma acessível em termos de profissionalização, atividades culturais e esportivas. Lembramos que ele é cidadão tanto quanto qualquer outro, por isso, pode – e deve – usufruir de propostas públicas. Em caso de atividades específicas, intervimos, buscando parcerias privadas, mas isso são exceções”, explica Frei. Conforme as percepções de mundo vão se transformando, os adolescentes vão aprendendo a ressignificar, de fato, a si próprios e tudo ao seu redor. “Minha definição de liberdade mudou. Antes, eu achava que liberdade era sair da realidade, fazer alguma coisa errada. Hoje, eu sei que liberdade é poder expressar as minhas ideias. Essa liberdade que eu achei é muito melhor do que a que eu estava buscando”, conclui Carolina.

© Estêncil: Carolina Machado

Atividades diferenciadas

As três etapas do Propulsão O atendimento no Propulsão se dá em três níveis. Saiba quais são eles: T1 – Este é o momento da adesão, em que o adolescente precisa criar vínculos com o projeto, para que o atendimento seja efetivo. T2 – Nesta fase, o jovem tem condições de desenvolver atividades dentro e fora do Centro Social, fazendo cursos com o acompanhamento da equipe, por exemplo. T3 – Esta etapa se refere ao momento em que o jovem está apto para a inserção de fato, assumindo um trabalho, por exemplo. Ainda assim, segue com o acompanhamento do projeto.

O que define o uso abusivo?

Isso era muito diferente dos lugares que eu conhecia. O modo como sou tratada é acolhedor. Carolina Machado

Segundo informações da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, o uso abusivo ou nocivo define o consumo de álcool e outras drogas que colocam a pessoa em uma situação vulnerável. De acordo com Altieres Frei, diretor do Centro Social Marista Propulsão, o termo “uso abusivo ou nocivo” não está necessariamente vinculado à dependência química, mas aos riscos a que a pessoa está exposta. Por exemplo, um adolescente que compra fiado alguma droga, está em risco – está, portanto, fazendo uso abusivo ou nocivo.

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© Foto: Renata Salles

como fazer

Eles são a voz da juventude Marista Integrantes das Comissões de Juventude levam à frente ideias dos jovens Maristas, mostrando o protagonismo juvenil Por Michele Bravos

Diante de um conflito entre alunos e gestão escolar, por exemplo, os integrantes da Comissão da Juventude têm o papel de mediar a situação e defender aquilo que os alunos estão apontando como importante. Lançando um olhar ampliado sobre esse contexto, entende-se que as Comissões de Juventude permitem que os alunos desenvolvam uma responsabilidade sobre direitos e deveres do cidadão. Para Francine dos Santos, 22 anos, participante da Comissão Provincial de Juventude, integrar essa equipe é defender não somente a própria opinião, mas a de toda juventude Marista. “Temos que ter uma visão estratégica, lembrando

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sempre que estamos representando todas as juventudes presentes nos espaços Maristas”. Segundo o setor de Solidariedade do Grupo Marista, as Comissões de Juventude – presentes, atualmente, em 40 espaços Maristas que trabalham com jovens – “têm como principal desejo contribuir com a ação evangelizadora Marista nas dimensões eclesiais, sociais, políticas, culturais e institucionais”, representando os diferentes grupos juvenis Maristas (alunos dos Colégios, das unidades sociais e dos ensinos universitário e técnico). A coordenadora de Pastoral do Colégio Marista de Brasília (DF) Flaviane Leite destaca que o aluno, ao

participar da Comissão, tem envolvimento, inclusive, com questões relacionadas a políticas públicas. “O aluno precisa dialogar e argumentar em defesa dos demais alunos, por exemplo. Ele também vivencia a luta pelo protagonismo juvenil”. Francine considera que, de certa forma, o que os jovens desenvolvem no universo Marista reflete na sociedade. “Sinto-me útil quando vejo que a minha opinião é importante e que pode mudar o rumo de uma conversa. Acredito que, dentro da sociedade em que vivemos, esses espaços são muito importantes, pois nos incentivam a ser pessoas melhores e a pensar mais no todo”. Futuramente, esse engajamento


© Foto: Acervo Comissão da Juventude

atividades; consultiva, à medida que a unidade ou níveis superiores vão até esses jovens para consultá-los; colaborativa, pois, também, ajudam nos eventos Maristas como equipes de organização; e representativa, uma vez que representam todos os jovens Maristas”. Entenda como essas Comissões se organizam e atuam.

Encontrando tempo

continuará gerando impactos positivos, por exemplo, na vida profissional do aluno, uma vez que na rotina da Comissão, o jovem desenvolve a liderança, o trabalho em equipe, a solidariedade e a capacidade de servir em favor do outro. “Esse trabalho bem realizado hoje o preparará para o mercado de trabalho, com uma visão mais humanizada da sociedade diante de seus desafios”, afirma Flaviane.

Formas de trabalho As Comissões da Juventude estão firmadas em quatro atribuições que guiam suas atividades. Bruno Socher e Ana Dias, do setor de Solidariedade do Grupo Marista, explicam cada uma: “Propositiva, pois as comissões levam os anseios dos jovens que representam às instâncias de que participam, além de proporem

Mesmo com uma rotina atribulada, Francine faz questão de participar da Comissão. “Tenho que admitir que nem sempre é fácil. Curso Agronomia em tempo integral, faço estágio, entre outras atividades. Mas acredito que a vontade de ser Marista como Champagnat é o que me move a cada dia”. Nesse cenário de agenda lotada, Flaviane aponta para a importância de pais e professores apoiarem o envolvimento dos filhos e alunos nesse trabalho. “É preciso existir uma parceria diante da caminhada realizada, proporcionando ao aluno a segurança de que ele está desenvolvendo um trabalho sério”.

Temos que ter uma visão estratégica, lembrando sempre que estamos representando todas as juventudes presentes nos espaços Maristas. Francine dos Santos 22 anos, participante da Comissão Provincial de Juventude

Organização das Comissões de Juventude As Comissões de Juventude se organizam em dois níveis de atuação: provincial e local.

Comissão Provincial Formada por jovens Maristas eleitos em assembleia, com a participação de representantes das Comissões Locais. Sua vigência é de dois anos. Responsabilidades - Estabelecer diálogos com as Comissões Locais, pastoralistas, Irmãos e outras lideranças juvenis, realizando uma escuta atenta. - Elaborar, junto ao Setor de Pastoral, reflexões, andamento de projetos, metodologias e linguagens que o Grupo Marista empreende no trabalho com as juventudes de todas as unidades. - Participar de diálogos externos ao Grupo Marista, representando os jovens da Instituição.

Comissão Local Formada por jovens Maristas que sejam atuantes no âmbito local, ou seja, nos Colégios, nas unidades sociais e nos ensinos universitário e técnico. Sua vigência também é de dois anos. Responsabilidades - Garantir que as atribuições estabelecidas em nível provincial sejam efetivas nas unidades em que atuam. - Agir de forma democrática, sempre em diálogo com os jovens, os pastoralistas e os gestores locais.

Para mais informações sobre como integrar esses grupos, faça uma visita ao seu Núcleo de Pastoral.

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compartilhar

“Virunga” Indicado ao Oscar 2015 na categoria de Melhor Documentário, “Virunga” conta a história de pessoas que lutam pela vida de gorilas quase em extinção e pela preservação do Parque Nacional de Virunga, na República Democrática do Congo. Os ativistas retratados são o diretor do parque, um guardaflorestal, um cuidador dos gorilas e uma jornalista francesa. A união dos esforços individuais em prol de uma causa comum reforça a ideia de que o bem se constrói em rede. O filme está disponível no serviço on-line Netflix. Redação Em Família Marista

IOS: goo.gl/MWhRdj ANDROID: goo.gl/h6Ggfo

Internet para ajudar O aplicativo Chance, disponível na Apple Store e na Play Store, tem como objetivo incentivar a prática da solidariedade. O usuário, ao se conectar, divulga seu pedido de ajuda. Aquele que pode auxiliá-lo responde. Em seguida, eles combinam como isso será feito. Algumas ajudas que podem ser solicitadas são: revisão de conteúdo de uma matéria, passeio com cachorro, indicação de uma vaga de emprego, entre outras. Felipe da Rocha, Coordenador de Pastoral do Colégio Marista Santa Maria (PR).

A solidariedade de Papa Francisco Neste livro, um diálogo entre o Papa Francisco, o rabino Abraham Skorka e o membro da Igreja Presbiteriana Marcelo Figueroa conduz a uma reflexão sobre a prática da solidariedade no dia a dia, transpondo a religião. O livro deixa claro que é preciso ter cuidado com falsas ideologias que podem levar para o lado oposto ao da solidariedade. Colégio Pio XII, de Ponta Grossa (PR)

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Como estrelas na Terra Essa produção indiana, dirigida por Aamir Khan, retrata a vida de Ishaan Awasthi, uma criança de nove anos que tem dislexia. O filme mostra como o desconhecimento dessa dificuldade, por parte da família e da escola, pode trazer grandes sofrimentos à criança. A vida do garoto é transformada quando ele encontra um professor que passou pelo mesmo problema em sua infância. É possível assistir no YouTube. Flávio Sandi, diretor executivo da Rede de Colégios

O FAZEDOR DE VELHOS

© Imagens: Divulgação

de Rodrigo Lacerda Na trajetória para o amadurecimento, Pedro irá encontrar pessoas que o farão perceber o sentido de sua existência. O professor Nabuco é peçachave para auxiliar o jovem na tarefa de se colocar no mundo. Colégio Marista Glória, de São Paulo (SP)

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diversão

Dia de índio

Vivenciar a cultura indígena pode ser um momento divertido em família e também de aprendizado e valorização da história do Brasil

© Fotos: Divulgação | Pataxó Turismo

Por Michele Bravos

Já houve um tempo em que os povos indígenas eram os únicos por este gigante território brasileiro. Hoje, eles são menos de 1% da população total do país, cerca de 820 mil indivíduos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mesmo com a miscigenação étnica, todo brasileiro tem, em alguma instância, um vínculo com os nativos desta terra. Para que a cultura indígena seja difundida, espaços de preservação ambiental e reservas indígenas, que ainda são morada para os índios, recebem visitantes. A ideia é manter viva a história do Brasil.

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Em Santa Catarina, por exemplo, a Reserva Volta Velha, um espaço de preservação ambiental, proporciona aos interessados visita a uma oca, oficina de arco e flecha, caminhada pela Mata Atlântica, canoagem e o mais interessante: uma vivência com o índio Yawaritsawa Trumai Waurá, o Yawa. Seu povo é do Alto Xingu, mas, atualmente, ele é diretor cultural da Reserva Volta Velha. “Todo diálogo com um verdadeiro nativo é de extrema importância para que se corrijam alguns erros cometidos durante a colonização, em que a história é contada de um lado só”, diz Yawa.

Para aqueles que estão dispostos a imergir a fundo na cultura, é possível percorrer cinco das 29 aldeias do povo Pataxó, localizadas no sul da Bahia, na Costa do Descobrimento. O roteiro é organizado pela Pataxó Turismo. Em qualquer uma delas a conversa com um representante indígena é um ponto alto do passeio, pois apresenta ao público a verdadeira cultura indígena. Na Reserva Volta Velha, Yawa gosta de contar sobre as histórias do seu povo e o dia a dia no Alto Xingu, ensinar as danças tradicionais e algumas palavras na sua língua. “Conhecer e entender o outro lado faz com que as pessoas pen-


sem e reflitam antes julgar um índio e sua cultura. Existem muitos conflitos entre homem branco e índio, por um não conhecer a realidade e o costume do outro. Acredito que, nas escolas, não se discuta ou estude a verdadeira raiz e quem de fato construiu a primeira história dessa terra, antes da descoberta pelos portugueses”, afirma Yawa.

Ponto alto É em semanas de lua cheia ou lua nova que as expedições para as aldeias Pataxós partem. A saída é de Porto Seguro, em direção ao sul. Dormir em redes, dentro de uma oca, faz parte da aventura – assim como comer bem. Durante os dias de percurso pelas aldeias, os visitantes degustam as comidas típicas da culinária Pataxó, como peixe na folha de patioba (uma espécie de palmeira) com farinha de puba (derivada da mandioca). Já na Reserva Volta Velha, Yawa afirma, convicto, que um dos momentos mais emblemáticos para os visitantes é quando todos estão na oca e ele se veste com enfeites indígenas, pinta-se com urucum e começa a falar na língua de seu povo. Apesar de toda a experiência que se oferece para os visitantes e da importância que isso tem, Yawa garante que ele também aprende com a vivência. “Aprendemos com nossos avós que os não índios vinham apenas para destruir e matar. Poucos para ajudar. Com esses encontros culturais, isso também muda”.

Agenda Tanto a visita à Reserva Volta Velha quanto o circuito pelas aldeais Pataxós precisam ser agendados com antecedência. Na Reserva Volta Velha, a vivência de um dia acontece de segunda a sexta, entre março e outubro, para grupos de 20 pessoas. Está tudo detalhado aqui: www.reservavoltavelha.com. br, na aba “Ecoturismo”. A rota das aldeias deve ser programada com 30 dias de antecedência e acontece o ano todo, em grupos pequenos. Mais informações no site: www.pataxoturismo.com.br.

Para saber mais sobre a cultura dos nativos do nosso país, acesse Povos Indígenas no Brasil: migre.me/pckLc

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olhar

Crise de sentido em um mar de

© Fotos: Shutterstock | Acervo do Colégio

{des}informação

O crescente envolvimento de jovens ocidentais em movimentos radicais gera questionamentos sobre qual o propósito de vida da atual juventude 44

Em março deste ano, o governo brasileiro detectou intervenções do Estado Islâmico (EI) para aliciar jovens brasileiros à causa, por exemplo. Também, neste semestre, presenciou-se expressões de radicalismos por parte de jovens cristãos diante de fatos considerados por eles uma afronta às Escrituras Sagradas. Para refletir sobre o que leva um jovem a acreditar que vale a pena se envolver em um movimento radical, que, por vezes, propaga morte e destruição, o doutor em Sociologia Eurico Gonzalez propõe uma discussão sobre o sentido da vida nos dias de hoje.


Nosso tema é complexo, ou seja, tem muitas causas simultâneas, de modo que podemos nos concentrar apenas em algumas delas. Sugiro que reflitamos sobre duas coisas: o império da inteligência eletrônica e a crise de sentido pela qual passa hoje o Ocidente, em geral, e o Brasil, em particular. O que chamo de “império da inteligência eletrônica” significa o fato de que as ideias que hoje estão à disposição na sociedade não possuem critérios institucionalizados de filtragem, mas deveriam ter. Quando Lutero traduziu a Bíblia, no século XVI, ocorreu algo semelhante: de uma hora para outra, um acervo completamente novo de pensamentos se distribuiu horizontalmente pela sociedade, podendo suas verdades ser interpretadas por cada um livremente, gerando, no curto prazo, crise de ordem e, no longo, ideias novas que originaram a modernidade. Vivemos, hoje, uma situação semelhante. Há enorme afluência de adventícios à sociedade e a internet faz com que cada um tenha o direito de dizer como acha que o mundo deve ser. Acrescente a isso o poder de sedução da publicidade, que produz e inculca ideias afirmativas sobre o mundo, nas quais, secretamente, a sociedade não acredita, pois sabe que sua finalidade é a de apenas seduzir a mente para que adquira esse ou aquele bem. Assim, temos uma situação cultural em que as ideias antigas são desacreditadas e novas não surgem com autoridade, muito menos por consenso. Além disso, como uma miríade de vozes – umas roucas, outras possantes –, cada um tenta resolver sozinho (inclusive por solidão de sentido) os difíceis problemas da vida. Não devemos ficar apreensivos demais. O número dos que seguem procurando uma vida normal ainda é amplamente majoritário, mas as exceções de que tratamos aqui apontam para direções potencial-

mente perigosas que, se não forem contrabalanceadas com inteligência e amor, podem aumentar. A sociologia sabe que a consciência do sujeito é produzida pela sociedade – e sabe, então, que quando a sociedade se desorganiza, a consciência individual se ressente paralelamente, em uma relação causal forte. Como especificidade de nossa época, porém, há a crise de sentido que mencionei anteriormente. Os principais referenciais coletivos de sentido estão dessacralizados em nossa sociedade: religião, ideais morais e políticos, ideais estéticos ligados à beleza e o próprio e prosaico valor da vida. Nada mais deixa de poder se submeter ao cálculo dos prazeres e das vantagens, está livre o caminho para que os humanos adorem as coisas materiais. Mas quem dera a vida fosse assim fácil de resolver... O cálculo dos prazeres e das vantagens ignora o problema do sentido interior da vida de cada um – mas este não deixa de existir. Impedida publicamente de se manifestar, a demanda por sentido da vida segue pulsando, vindo a se manifestar de formas bizarras e, frequentemente, destrutivas. Na medida em que a sociedade tomou por saber o que era, na verdade, sua ignorância e omissão quanto ao problema do sentido, foram se desenvolvendo

Facilmente vê-se na destruição alguma espécie de prenúncio do novo e do bom [...], quando não se espera mais nada do mundo real, quando não se sabe gostar da vida real, presente.

respostas cegas, raivosas (pudera!), ilhadas e não compartilhadas ao problema do sentido interior. Assim, chegamos a algum lugar: se somarmos o império da inteligência eletrônica à crise de sentido, perceberemos que as respostas às mais difíceis questões, que dizem respeito a todos os seres humanos, estão sendo dadas de modo confuso e fraco, incapaz de fazer face à imensidão dos problemas da interioridade. Quando se tem condições excelentes, já é muito difícil atinar uma resposta às grandes questões; quando se fazem tais perguntas à internet, obtém-se como resposta algo que não é uma resposta, mas uma incrível zoeira. Alguns jovens estão se deixando seduzir pela violência porque ela gera certo simulacro de sentido. Facilmente vê-se na destruição alguma espécie de prenúncio do novo e do bom (como as ideias sacrificiais sugerem), quando não se espera mais nada do mundo real, quando não se sabe gostar da vida real, presente. Essa é uma síntese do que penso sobre as condições interiores da vida da juventude hodierna. Para um exame completo do assunto, que não pode ser feito aqui, deveríamos observar também as “condições exteriores” da adesão de jovens ao terrorismo internacional – facilidades de trânsito de pessoas e de informações, etc. Eurico Gonzalez Cursino é doutor em Sociologia pela Universidade de Brasília e consultor legislativo do Senado Federal, onde responde pela área de Direitos Humanos e Cidadania. Cursino também tem realizado estudos em sociologia da religião e em sociologia política e do direito, bem como na intersecção desses temas.

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© Foto: Sxc.hu

Voluntários da pátria Tempo dedicado ao voluntariado no Brasil cresceu no último ano e isso nos coloca entre os top 10 países nessa prática. Em todo o mundo, ser voluntário e ajudar um estranho figuram como ações mais recorrentes Por Michele Bravos

Ainda que fatores políticos, econômicos e sociais estejam abalando o país, o Brasil mostra que atitudes solidárias são necessárias – principalmente nesses momentos. Segundo a ONG Charities Aid Foundation, o Brasil figura entre os top 10 países no quesito “doação de tempo”, considerando o número de voluntários. Junto com o Brasil, Rússia, Índia e China tiveram um aumento na quantidade de tempo dedicada a ações voluntárias. Apesar de essa ser uma boa notícia, a ONG aponta que também é esperada desses países – considerados economias prósperas – uma maior contribuição financeira, ainda que tenha ocorrido uma diminuição de doações em dinheiro no mundo todo. Esses aspectos apontados acima – tempo dedicado ao voluntariado e doações financeiras – são dois dos fatores avaliados pela Charities Aid Foundation para identificar o índice de solidariedade dos países, o qual vem sendo medido desde 2008. Outro fator analisado é o ato de ajudar um estranho, o qual se faz muito presente em países abalados por desastres naturais ou conflitos civis. A exemplo, o Iraque. O país tem sofrido com violências brutais e isso desperta nas pessoas a necessidade de ajudar o ou-

tro. Isso fez com que o país saísse da 90ª posição nesse quesito no relatório da ONG de 2013 para a segunda no último relatório.

Invertendo a ajuda O crescimento do índice de solidariedade da Ásia vem aumentando e isso faz com que a ONG afirme que o mundo deve repensar o modelo de solidariedade conhecido, o qual consiste “em uma transação que flui do Ocidente para o Oriente e do Norte para o Sul”. O relatório Future World Giving, da mesma ONG, afirma que há mais milionários no sul da Ásia (18 mil) do que no norte da América (17 mil) ou na Europa Ocidental (14 mil). A ONG aponta que é necessário que os novos-super-ricos sejam encorajados a serem solidários e, no caso deles, ajudem financeiramente – inclusive outros países. Paralelamente, apesar do potencial dessa parcela da população mundial, o grande pedido da Charities Aid Foundation para que a filantropia cresça no mundo e mais pessoas possam ser ajudadas – e aí a ONG coloca como meta a erradicação da extrema pobreza (pessoas que vivem com menos de US$ 1,25 por dia, segundo o Banco Mundial) – é para que a classe média seja convocada a ajudar.

Os relatórios podem ser lidos na íntegra nos seguintes links: l www.cafonline.org/pdf/CAF_WGI2014_Report_1555AWEBFinal.pdf l www.cafonline.org/pdf/Future_World_Giving_Report_250212.pdf. Ambos disponíveis em inglês.

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O número de pessoas consideradas de classe média deve crescer 165% até 2030, de acordo com dados da OECD (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Considerando que a maior concentração está nos países em desenvolvimento. Estima-se que se a classe média doar 0,4% de sua renda, eles podem contribuir com US$ 224 bilhões por ano. Segundo Jeffrey Sachs, autor do livro “O fim da pobreza”, US$ 175 bilhões anuais seriam suficientes para acabar com a pobreza extrema. A ONG alerta para que os governos de economias emergentes criem e apliquem desde já medidas que incentivem a filantropia, assim como a cultura da doação, apresentando novas formas de exercer esse ato na sociedade. Os meios de comunicação são apontados como fundamentais nesse processo que envolve mudança de pensamento.

Igualdade entre gêneros Homens e mulheres exercem a solidariedade de forma igual, não havendo diferenças significativas mundialmente. Apenas quando se observa a realidade de cada país isso se faz mais perceptível. Por exemplo, no Canadá, 75% das mulheres doaram dinheiro para caridade, contra 53% dos homens. Já no Afeganistão, 42% dos homens afirmam ter essa prática, enquanto apenas 24% das mulheres dizem o mesmo. Nesse exemplo de análise por país, fica claro o quanto as diferenças culturais influenciam nos resultados.



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