1ª edição da Revista ecoLÓGICA

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Ano 1 - Edição nº 1 - Dezembro 2008


Suicídio coletivo ou mudança? “Estamos diante de uma verdadeira emergência planetária. A crise climática não é um assunto político. É um desafio moral e espiritual para toda a humanidade.” Al Gore, ex-vicepresidente dos Estados Unidos, um dos vencedores do Prêmio Nobel da Paz de 2007

* Vilmar é escritor e jornalista ambiental, é fundador da REBIA – Rede Brasileira de Informação Ambiental e editor da Revista do Meio Ambiente e do www.portaldomeioambiente. org.br Em 1999, ganhou o Prêmio Global 500 da ONU para o Meio

Ambiente e em 2003 o Prêmio Verde das Américas

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nde alguns vêem problemas outros vêem solução. Enquanto uns compram lenço para chorar os prejuízos anunciados com as mudanças climáticas, outros se preparam para vender lenços e também tecnologias e conhecimentos para uma sociedade de baixo ou nenhum carbono. A mudança entre um estilo de vida que não se importa com o meio ambiente ou com a miséria e outro que se importa tem se tornado cada vez mais visível por qualquer indicador que se adote. Para se ter uma idéia da mudança, por volta da década de 70 a poluição era percebida como positiva, um sinônimo de progresso. Na década seguinte, o negócio passou a ser reduzir a poluição e mais ou menos uma década depois a busca pela poluição zero. Poluição passou a ser sinônimo de desperdício, prejuízo financeiro com multas e embargos, etc. Na entrada do século 21, a mudança evoluiu para a busca de tecnologias limpas e conhecimentos capazes de reparar os danos e ainda ganhar dinheiro com isso. O desafio agora é aumentar a velocidade dessa mudança por que, segundo os cientistas, corremos o risco de, a partir de 2050, passarmos do ponto de retorno, quando começará o colapso do Planeta. Exagero ou não, a prudência requer precaução de nossa parte, por que não dá para adotar a suicida atitude de esperar para ver. Entretanto, mudar não é fácil! E uma das características da mudança que a tornam mais desafiadoras é que ela

Vilmar Demaman

não é a mesma para todo mundo. Enquanto para uns mudar vai significar consumir menos, rever hábitos desperdiçadores, modificar sistemas concentradores de renda e produtores de miséria, para outros, milhões de excluídos, que vivem na pobreza e nem sempre têm o que comer no dia seguinte, mudar vai significar consumir mais. Para essas pessoas é até crueldade falar sobre a importância e necessidade de preservação da biodiversidade, da mata atlântica, das baleias, do mico-leão-dourado, sem também oferecer possibilidades e alternativas econômicas sustentáveis para que saiam da situação de miséria em que se encontram. Então, se no século passado a ênfase da mudança estava mais em seus aspectos ambientais, hoje, a ênfase é na sustentabilidade, uma idéia que associa o ambiental ao social e ao econômico e que vai além do presente, projetando nossas preocupações para o campo da ética e futuro, por que cada vez fica mais claro que não recebermos o planeta de herança de nossos pais, mas o estamos tomando de empréstimo de nossos filhos e netos, como bem disse Henry Brown. Um aspecto da mudança que nos dá esperança é que ela não se dá por acaso muito menos é obra ou depende de algum ‘salvador da pátria’, mas resulta do esforço coletivo e continuado de uma verdadeira ‘confraria de amigos do planeta’ que cresce a cada dia e que, de forma incansável e muitas vezes ao preço de perder a própria vida, como o Chico Mendes, não se deixou – e não se deixa - abater diante da enormidade ou urgência da tarefa, por que em vez de tentar encontrar desculpas para não fazer nada, encontrou um jeito de continuar lutando por este mundo melhor, que é possível, mas que começa aqui, agora, em nós.


SUMÁRI 8

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[ARTIGO] Construção Verde

[ENERGIA LIMPA]

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Fontes renováveis podem gerar 50% da eletricidade mundial Berlim (Alemanha) e São Paulo (SP) — Segundo estudo lançado pelo Greenpeace, investimentos em fontes limpas podem resultar em indústria com faturamento de US$ 360 bi/ano.

[ P R Ê M I O A M B I E N TA L ] CREA-GO: Iniciativas ambientais são premiadas

[MEIO AMBIENTE] Reduções no efeito estufa Documento entregue ao Ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, considera o Plano Nacional de Mudanças Climáticas do governo insuficiente para atender a urgência de redução de emissões de gases que causam o aquecimento global.

[CONSTRUÇÃO] Casas que mantêm o calor do lado de fora!

[MERCADO DE TRABALHO] Empregos verdes. Será?

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Edição 1 - Ano I Dezembro de 2008 Publicação Mensal da QI - Empresarial Consultoria e Serviços Ltda CNPJ: 02.375.616/0001-72 Fone: (62) 3622-8074 Rua M3A, Q. 27, L. 22 – P. Laranjeiras 74855-560 Goiânia-GO www.revistaecologica.net contato@revistaecologica.net

EXPEDIENTE DIRETOR COMERCIAL Bosco Carvalho EDITORA Izabela Carvalho MTBDRT-GO 1058 DIRETOR DE ARTE Carlos Nascimento DIRETORA INTERNACIONAL Elke Seiwert Carvalho COLABORADORA Antonia de Castro


[ C A R T A

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L E I T O R ]

Palavra do diretor Bosco Carvalho

Nunca fui um ativista ambiental, nem mesmo um eco-chato. Mas quando tinha uns 14 (hoje tenho 56), dizia para meus tios fazendeiros, que se secar os brejos e derrubar as matas ciliares, não era bom. Eles riam de mim. O fio d’água que corria numa parte da fazenda, hoje só existe como lembrança... Felizmente já entenderam que é preciso fazer mais que só destruir menos. Em 84, decepcionado com o Brasil, resolvi sair daqui. Passei pela Suíça, Alemanha, Inglaterra, Índia e USA. Em março de 1985, fixei-me na Alemanha. Lá, vi como introduziram

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o processo de coleta seletiva. E como as empresas se tornaram milionárias reciclando. Hoje, depois de quase 4 anos de volta ao Brasil, edito desta revista. Irei apresentar exemplos de atos ecológicos de sucesso. E até de como geri-los com vantagens para todos. Não só as ligadas ao capital…Escolhi o caminho do exemplo, pois vejo que é possível motivar mais que só com críticas. A crítica dura e inconseqüente, só divide mais o que já está separado. O sucesso de minhas inciativas, divido com o time. Com o Carlos, que cuida do visual da revista. Com

minha irmã Izabela, primeira jornalista goiana, que é também perita ambiental e do apoio no lado internacional, por parte de minha companheira, a Elke. Ela que aos 13 anos já questionava, na Alemanha, a energia atômica, dão-me a força e a coragem de iniciar novos projetos, com uma idade na qual, muitos e muitas já se aposentaram ou estão a caminho...Sim, nós poderemos salvar o planeta do colapso total, se agirmos todos nesta direção e principalmente se superarmos nossos limites pessoais. Bosco Carvalho



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Construção verde U

m grupo formado por quatro pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), em Manaus, desenvolveu um tijolo para a construção civil que utiliza resíduos de espécies frutíferas da maior floresta tropical do mundo como matéria-prima, algo bem diferente dos produtos convencionais feitos de argila. A novidade, que levou oito meses para ser concluída e está em processo de patenteamento, é confeccionada com o ouriço e com a casca da castanha-do-pará (Bertholletia excelsa) e com fragmentos vegetais do tucumã (Astrocaryum aculeatum), palmeira que chega a medir 20 metros de altura. O projeto de desenvolvimento do tijolo ficou com a segunda colocação na categoria “Econômica – Tecnológica” do prêmio Professor Samuel Benchimol 2008, concedido pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior a iniciativas que visam ao desenvolvimento sustentável da Amazônia. De acordo com o idealizador do produto, Jadir Rocha, pesquisador titular da Coordenação de Pesquisa em Produtos Florestais do INPA, os componentes vegetais são triturados e aglutinados com resinas fenólicas, obtidas pela reação de condensação e polimerização entre um fenol e um aldeído (compostos químicos orgânicos), para em seguida passar por um processo de

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prensagem em altas temperaturas. “Além das matérias-primas serem vegetais e, por isso, poderem ser recicladas após o uso em construções, outra novidade é que o tijolo se mostrou excelente isolante térmico. Ele tem um sistema de encaixe tipo macho-fêmea, sem precisar de massa ou cimento, o que


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cionais”, afirmou. Participaram do trabalho as pesquisadoras Cynthia Pontes, Tereza Bessa e Vânia Lima, do Laboratório de Engenharia da Madeira do Inpa. Rocha conta que o tijolo, que ainda passará por novos estudos antes de chegar ao mercado, poderá ser utilizado em qualquer tipo de edificação até quatro andares. Segundo ele, é possível construir uma casa popular de cerca de 40 metros quadrados, por exemplo, com aproximadamente 5 mil tijolos. “O desenvolvimento do tijolo foi motivado pela necessidade de pesquisas voltadas para o aproveitamento e a valorização da potencialidade da biodiversidade vegetal da Amazônia. É importante diminuir a pressão sobre os estoques de espécies arbóreas economicamente desejáveis, que vêm sendo reduzidas drasticamente na natureza”, ressal-

tou. Uma das justificativas para o desenvolvimento do projeto foi a grande disponibilidade de matéria-prima na região amazônica. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são produzidas anualmente mais de 30 toneladas de castanha-do-brasil no Norte do país. Estima-se que sejam gerados pelo menos duas vezes mais resíduos, que normalmente são jogados no lixo após a colheita do fruto. “Ser agraciado com o prêmio Professor Samuel Benchimol é extremamente gratificante, pois se traduz no reconhecimento dessa proposta para o desenvolvimento sustentável da floresta amazônica”, disse Rocha, ressaltando que a tecnologia do tijolo vai ao encontro dos planos de governo e prioridades de políticas públicas da região por se enquadrar nos objetivos do Plano Amazônia Sustentável (PAS), do Ministério do Meio Ambiente.

facilita e reduz o tempo de construção das paredes e divisórias”, disse Rocha à Agência FAPESP. “Os resultados dos testes em laboratório foram bastante satisfatórios. As matérias-primas utilizadas na sua confecção são de alta durabilidade, conferindo resistência mecânica semelhante à dos tijolos convenDezembro 2008 – REVISTA ECOLÓGICA

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Fontes renováveis podem gerar 50% da eletricidade mundial Berlim (Alemanha) e São Paulo (SP) — Segundo estudo lançado pelo Greenpeace, investimentos em fontes limpas podem resultar em indústria com faturamento de US$ 360 bi/ano.

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etade da eletricidade consumida no mundo poderia ser gerada por fontes renováveis, diz a segunda edição do estudo [R]evolução Energética: Perspectivas para uma Energia Global Sustentável, lançado na Alemanha. Veja no http:// www.greenpeace.org/raw/content/ brasil/documentos/energia/sumarioexecutivo-r-evolu-o.pdf. Atualmente, apenas 13% da demanda mundial de energia primária é suprida pelas renováveis. De acordo com a pesquisa elaborada pelo Centro Aeroespacial da Alemanha, por encomenda do Greenpeace e da Comissão Européia de Energia Renovável (EREC, na sigla em inglês), investimentos agressivos em renováveis poderiam resultar em uma indústria com faturamento de US$ 360 bilhões anuais. Para ler o relatório na íntegra, em inglês, um arquivo pdf com 212 páginas acesse o http://www.greenpeace.org/ raw/content/international/press/reports/energyrevolutionreport.pdf Dentro do cenário traçado, as termelétricas fósseis desapareceriam, o que geraria uma economia de US$ 18 trilhões na compra de combustíveis fósseis - valor mais que suficiente para financiar o aumento das renováveis na matriz energética mundial. A adoção de fontes alternativas de energia é fundamental para combater as mudanças climáticas, que já estão alterando ecossistemas e provocando cerca de 150 mil mortes por ano. Um aquecimento global médio de 2°C ameaçará milhões de pessoas com o aumento de fome, malária, inundações e escassez de água. O principal gás responsável pelo efeito estufa é o dióxido de carbono (CO²), produzido pela queima de combustíveis

Energia de graça e em fartura para a humanidade, gerada pelos ventos

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Usinas nucleares ainda muito usadas na europa, como fonte de energia, mas um perigo real, a longo prazo, para o meio ambiente

fósseis para a geração de eletricidade e transporte. O cenário [R]evolução Energética tem como meta para 2050 a redução de 50% das emissões mundiais de CO², em relação aos níveis de 1990, a fim de manter o aumento da temperatura global abaixo de 2°C. A eficiência energética tem o papel principal na redução destas emissões. O estudo considera a adoção de padrões rígidos de eficiência, essenciais para a redução da demanda energética e também para a redução dos custos energéticos globais. Esta redução pode ser obtida em indústrias, residências e nos setores comercial e público. Empregos – No contexto da atual instabilidade econômica, outro benefício do uso de renováveis é a geração de postos de trabalho, muito maior que nos mecanismos de geração a partir de fontes fósseis. “O mercado global de energia renovável pode crescer a taxas de

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dois dígitos até 2050, e ultrapassar o tamanho da atual indústria de combustíveis fósseis. Hoje, o mercado de energia renovável movimenta US$ 70 bilhões e dobra de tamanho a cada três anos”, avalia Oliver Schäfer, diretor de Política da EREC. “A indústria de renováveis está pronta para responder à necessidade de fazer da revolução energética uma realidade. O que impede uma reestruturação do setor energético mundial é a falta de vontade política”, completa Schafer. “A proposta do cenário [R]evolução energética pode ser perfeitamente aplicada nacionalmente. O potencial de energias renováveis como eólica, solar e cogeração a biomassa é extremamente alto e a implantação destas energias vai reduzir a construção de mais termelétricas fósseis no futuro”, diz Ricardo Baitelo, coordenador da campanha de energias renováveis do Greenpeace no Brasil. “A intensificação de programas de eficiência energética e a redução dos gastos com combustíveis fósseis serão tão positivos para o meio ambiente quanto para a nossa economia, haja visto o aumento das tarifas de eletricidade por conta da operação excessiva das termelétricas neste ano”, diz Baitelo.

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CREA-GO: Iniciativas ambientais são reconhecidas

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rojetos de soluções ambientais de aplicabilidade recebem o reconhecimento do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado de Goiás (CREA-GO) por meio do Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2008. Ao todo, são 10 premiações e uma menção honrosa. Os vencedores recebem um certificado e uma estatueta em forma de seriema. O CREA-GO recebeu número recorde de projeto inscritos, 93 inscrições e finalizou o julgamento dos indicados à sétima edição do prêmio dia 4 de novembro. Desde a primeira edição do prêmio, em 2001, foram inscritos 453 projetos/programas, dos quais 64 foram premiados e 14 receberam menção honrosa. O Prêmio CREA Goiás homenageia, de forma diferenciada, profissionais, personalidades, entidades de classe, instituições de ensino, municípios, pessoas jurídicas, propriedades rurais e programas que venham ou tenham contribuído por suas posições, ações e projetos, na luta pela preservação, defesa ou conservação do meio ambiente no Estado de Goiás. “Acredito que o principal legado deste prêmio é o aval do CREA-GO a estes trabalhos desenvolvidos por pessoas abnegadas, em compartilhar as soluções dos problemas oriundos do descuido da sociedade na preservação do meio ambiente. É importante ressaltar ainda que os projetos premiados têm uma aplicabilidade expressiva dentro do nosso Estado e servem de modelo para que se consiga consolidar políticas de sustentabilidade ambiental”, acrescenta o presidente

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do CREA-GO, engenheiro Agrônomo Francisco de Almeida. Em 2008, as modalidades abrangidas pelo prêmio foram: Urbanismo (1 prêmio); Educação Ambiental (1 prêmio); Geologia e Minas (1 prêmio); Saneamento (1 prêmio); Produção Limpa (1 prêmio); Produção Agronômica (1 prêmio); Meio Ambiente Rural (1 prêmio); e Imprensa (1 prêmio para meios impressos, 1 prêmio para rádio, e 1 prêmio para televisão). Além disso, também foi concedida uma “Menção Honrosa” a um projeto de destaque inscrito no prêmio. O prêmio será outorgado apenas ao primeiro colocado de cada categoria. A estatueta em forma de seriema de autoria do artesão goiano Hélio Rodrigues de Miranda, elaborada com a utilização de resina acrílica, na cor bronze dourado, com base em granito. Ave típica da região central do Brasil, conhecida popularmente como “siriema”, é o símbolo do Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente. Foi escolhida por representar a resistência e a força da natureza. A seriema consegue sobreviver tanto no cerrado virgem, quanto nas regiões mais desenvolvidas, como a região sudoeste do Estado. O nome científico da seriema é Cariama cristata. Ela se alimenta de gafanhotos, artrópodes, cobras e animais de pequeno porte. Também pode se alimentar de sementes e frutas. A seriema possui uma espécie de crista em cima do bico e é uma das raras aves que tem pestana.


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Reduções no efeito Estufa Documento entregue ao Ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, considera o Plano Nacional de Mudanças Climáticas do governo insuficiente para atender a urgência de redução de emissões de gases que causam o aquecimento global.

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ocumento entregue ao Ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, considera o Plano Nacional de Mudanças Climáticas do governo insuficiente para atender a urgência de redução de emissões de gases que causam o aquecimento global. Pede ainda que seja elaborado um novo plano. As principais organizações da sociedade civil ligadas ao tema das mudanças climáticas entregam, ao ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, um “manifesto” exigindo que o país assuma posição firme e imediata em prol da fixação de metas de redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE), que devem ser quantificáveis, reportáveis e verificáveis. A iniciativa deve constar do Plano Nacional de Mudanças Climáticas a ser alinhavado pelo Executivo, da Política Nacional de Mudanças Climáticas (em elaboração no Congresso Nacional) e da posição brasileira nas tratativas para fixação de compromissos internacionais nas próximas Conferências das Partes. A definição de metas segundo os signatários do manifesto proporciona oportunidade para a criação de soluções tecnológicas inovadoras, garantindo a médio e longo prazo a competitividade da economia brasileira. O manifesto também considera que a formulação de um Plano sem um marco legal inovador e criador de instrumentos jurídicos é insuficiente. As ONGs reafirmam a necessidade da aprovação urgente da Lei de Política Nacional de Mudanças Climáticas no Congresso Nacional, antes de se fixar o conteúdo

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definitivo do Plano. A expectativa da sociedade é que a lei represente um avanço significativo do compromisso da sociedade brasileira no combate ao aquecimento global, reafirmando a liderança brasileira no tema nas negociações internacionais e no plano interno do país. Demandam ainda que o governo federal dê mais prazo para que a sociedade possa apresentar suas propostas e participar de modo efetivo da consulta pública ao Plano Nacional de Mudanças Climáticas. Com apenas 30 dias para a manifestação da sociedade, a consulta pública se encerra esta semana. A falta de tempo para uma discussão mais profunda por parte da sociedade desagradou os ambientalistas, que consideram o prazo exíguo dado pelo governo “incompatível com um trabalho sério e conseqüente para a construção de uma matéria de tal magnitude, de alto impacto socioeconômico e ambiental”. No documento, eles repudiam a hipótese de que o Plano governamental, da maneira como foi elaborado,

Poluição em SP, já mata mais que outras doenças ‘modernas’.


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seja levado à próxima Conferência das Partes da Convenção do Clima no mês em Dezembro na Polônia devido à sua “incompletude, falta de consulta pública adequada e ausência de metas de redução das emissões de gases de efeito estufa”. Essas são algumas das críticas das ONGs que assinam o manifesto, entre elas: Instituto Socioambiental (ISA), Conservation International (CI), Fundação O Boticário, Governos Locais pela Sustentabilidade (ICLEI), Greenpeace, Instituto de Pesquisas da Amazônia (IPAM), SOS Mata Atlântica, Instituto Internacional de Educação do Brasil - IEB, Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem - SPVS, The Nature Conservancy (TNC), Instituto Bioatlântica (IBIO). O manifesto foi articulado pelo Observatório do Clima (http://www.oc.org.br). Manifesto por outro Plano Nacional de Mudanças Climáticas as entidades signatárias do presente documento vêm a público afirmar que o país deve assumir posição firme e imediata em prol da fixação de metas de redução de emissões de gases de efeito estufa, que devem ser quantificáveis, reportáveis e verificáveis. Tais iniciativas devem constar da Política e do Plano Nacional de Mudanças Climáticas e dos compromissos internacionais a serem fixados nas próximas Conferências das Partes. A definição de metas proporciona oportunidade de soluções tecnológicas inovadoras, garantindo a médio e longo prazo a competitividade da economia brasileira. O Plano não apresenta “adicionalidade” e representa apenas um bom levantamento das iniciativas em curso. Revela graves deficiências, tais como: ausência de avanços sobre as principais fontes de emissões brasileiras, a mudança do uso do solo e desmatamento; omissão quanto ao papel dos estados e municípios; não estabelecimento de medidas específicas para biomas não-amazônicos; Dezembro 2008 – REVISTA ECOLÓGICA

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absoluta falta de prazos e alocação de recursos para medidas prioritárias no bioma amazônico, tais como regularização fundiária, implantação das Unidades de Conservação e iniciativas que inibam a impunidade dos desmatadores; inclusão indevida da expansão da energia nuclear; ausência de propostas de melhoria dos programas existentes para energias renováveis e de mecanismos efetivos para ampliação da base tecnológica de geração desse tipo de energia; indefinição de um plano para geração descentralizada de energia elétrica; negligência da importância dos oceanos como maiores sumidouros do planeta; inexistência de previsões sobre transporte sustentável, de modo a melhorar o transporte público nas cidades brasileiras, desestimular o transporte individual e reduzir emissões provenientes do setor; falta de instrumentos econômicos e financeiros suficientes e significativos para viabilização da implementação do Plano; abordagem insuficiente de questões relativas a resíduos sólidos e saneamento; negligência quanto aos impactos na saúde e ausência de medidas preventivas e ações práticas; não inclusão do mapeamento de vulnerabilidades como instrumento para medidas de adaptação; falta de salvaguardas socioambientais para produção de biocombustíveis. Esses fatores, entre outras deficiências, revelam que a formulação de um Plano sem um marco legal inovador e criador de instrumentos jurídicos é insuficiente. Registra-se, portanto, a necessidade da aprovação urgente da Lei de Política Nacional de Mudanças Climáticas no Congresso Nacional, que

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represente um avanço significativo do compromisso da sociedade brasileira no combate ao aquecimento global, reafirmando a liderança brasileira no tema nas negociações internacionais e no plano interno do país. Considera-se o prazo exíguo dado pelo governo para comentários e contribuições ao Plano Nacional de Mudanças Climáticas incompatível com um trabalho sério econseqüente para a construção de uma matéria de tal magnitude, de alto impacto socioeconômico e ambiental. Espera-se que o governo não apresente o referido Plano como definitivo, antes de ampliar a consulta à sociedade brasileira. Repudia-se também a hipótese de apresentação do documento na próxima Conferência das Partes da Convenção

do Clima, dada sua incompletude, falta de consulta pública adequada, e ausência de metas de redução das emissões de gases de efeito estufa. Assinam: Instituto Socioambiental (ISA), Conservation International (CI), Fundação O Boticário, ICLEI Governos Locais pela Sustentabilidade, Greenpeace, Instituto de Pesquisas da Amazônia (IPAM), SOS Mata Atlântica, Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem (SPVS), The Nature Conservancy (TNC), Instituto Bioatlântica - IBIO. O manifesto foi articulado pelo Observatório do Clima (http://www.oc.org.br).


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Casas que mantêm o calor do lado de fora!

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o longo da trajetória humana sobre a Terra, os homens sempre buscam inovações e alternativas que lhes ofereça mais segurança e conforto nas construções. Neste quesito, a preocupação com a qualidade e rapidez, além de evitar o desperdício, tem sido cada vez maior. A HI-TECH, do segmento da construção civil, fundada há doze anos em São Paulo, agora no mercado de Goiânia, oferece uma tecnologia, há décadas utilizado nos Estados Unidos e Europa, capaz de atender às necessidades mais exigentes. O engenheiro e diretor da HITECH, Maurício Valério Silveira, explica que é um processo simples, a partir da utilização de painéis, feitos sob medida, que atendem a qualquer tipo de projeto arquitetônico.

A tecnologia simplifica na hora de construir, explica Maurício. As placas de EPS são revestidas por estruturas de micro concreto armado (em treliças de aço). Isto dispensa o uso de vigas e pilares na obra. Na obra que utiliza a tecnologia, desperdício de materiais é coisa do passado. Segundo o engenheiro, os painéis possuem 1,20 m de largura básica, sendo múltiplo de 5 cm, tanto na largura quanto na altura, o que dá total liberdade de aplicação ao arquiteto. Após serem ‘costurados’, os painéis recebem a aplicação de argamassa de cimento/areia. Antes disto é feita a colocação dos dutos rígidos ou flexíveis de hidráulica e elétrica. O momento de passar a fiação e tubulação é quando a casa já está levantada. As placas chegam ao canteiro de obras seguindo o projeto previamente elaborado. O sistema é vantajoso do início ao fim, já que durante a montagem das placas, não é necessário contratar pedreiro especializado. O engenheiro afirma que quanto menos souber de construção civil, melhor, pois

assim não traz os vícios do sistema tradicional. A mão de obra é reduzida: um mestre de obras para garantir prumo, alinhamento e esquadro e pedreiros para desempenar paredes. Maurício salienta que as paredes do sistema são aliadas na economia de energia. “Elas mantêm a temperatura do ambiente. Isto dispensa o uso de refrigeração. “Isto é possível graças à alta performance térmica do EPS, reforçado com aço e argamassa, o que dá ao projeto uma possibilidade de manutenção do clima interno, economizando energia elétrica. O engenheiro garante ainda que não existe nenhuma restrição na construção da casa com o uso de EPS, conhecido comercialmente com Isopor. As paredes e o chão podem receber todo o tipo de acabamento. Já as vigas e pilares de concreto são dispensáveis nesse tipo de construção, a não ser em locais onde os vãos de janelas, principalmente salas com vista para o exterior, com vãos grandes e cargas elevadas. “Os painéis da HI-TECH são totalmente integráveis com as mais diversas estruturas ou formas estruturais, sejam elas metálicas, em concreto ou de madeira.” Outro ponto a favor é que a parede

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A casa ilustrada abaixo foi montada em 24hs

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detém rigidez suficiente para sustentar-se. É auto-portante até 7 m de altura, para uma carga de até 30 T/ml. Este sistema norte-americano de argamassa armada cria uma continuidade entre as paredes estruturais, internas ou externas. A tecnologia também pode ser empregada como piso de ambientes ou laje de cobertura, o que cria um bloco monolítico de painéis estruturais. A tecnologia foi desenvolvida a partir de uma tecnologia norte-americana, que teve como principal preocupação, evitar mortes em caso de terremotos, furacões ou tornados nos EUA. Economia – Um ponto interessante desta tecnologia é o fato de ser uma construção limpa, rápida, de mão-de-obra reduzida e ser econômica, se for levada em consideração a ausência da parte estrutural, que em média custa de 20 a 30% do valor da obra. Maurício explica que, o custo final da obra é variável, uma vez que cada construção tem o seu acabamento previamente definido. Também, em cada região há valores e condições específicas de logística e mão-de- obra variado. Além de que o preço por m² de área construída é indefinido. A título de comparação o engenheiro diz que um construtor cobra em média, R$ 1.300 pelo m² de uma construção tradicional. Já, se a mesma for pelo sistema de argamassa armada, o valor cobrado pelo empreiteiro é em média R$ 1.000 o m². O preço da parede de alvenaria convencional pronta, incluindo o material e a mão-de-obra, sai entre R$ 45 e R$ 60 o m². Já a feita com isopor custa em torno de R$ 100 o m². De acordo com o engenheiro a utilização dos painéis HI-TECH podem gerar uma economia de 40% na etapa estrutural. Maurício salienta que quanto menor a casa, e se for térrea, menor será a economia unitária. Outro fator de redução de custo é a quantidade, ou seja, quem fizer 300 casas populares, por exemplo, utilizando a mesma logística pode conseguir um ganho maior. O engenheiro afirma que em construções individuais, acima de 100 m² AC, a economia é evidente, pela eliminação da fundação, madeiramento, mão de obra especializada de carpinteiro e armador. Segundo ele, a redução do tempo de execução da obra, do número de pessoal e a alta produtividade são os grandes aliados dos painéis. Resistência – O engenheiro garante que as casas com painéis HI-TECH são seguras e têm estrutura igual ou


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até superior as tradicionais. “Imagine uma mesa com 4 pernas e a tampa da mesa. Se uma perna quebra, você perde a mesa e o estrago do que está em cima dela é enorme. Agora, numa caixa de papelão, você pode recortar, colocar de cabeça pra baixo, portas, janelas e até um dos cantos. Ela não cai. Pode até amassar e deformar, mas não cai.” Segundo Maurício, os painéis HITECH resistem a mais de 40 T/ml (toneladas por metro linear). “É uma resistência que permite uma edificação de mais de 5 andares, podendo chegar a mais andares aumentando a resistência da argamassa a ser utilizada”, afirma. Há ainda resistência a novidades quando o assunto é a casa própria. E, embora seja uma construção Telefone: (62) 3282-8172 Empresarial (62) 8143-9358 www.qiempresarial.com

Onde encontrar:

QI

diferenciada e mais barata do que a convencional, a maioria das pessoas que optou por este tipo de construção pertence às classes A e B. A empresa assina construções nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná. Em geral, quem opta pelo sistema está de olho na limpeza da obra que, em média, tem redução de 15%. Outro item fundamental é a rapidez. Este pode fazer a duração da obra cair pela metade, já que o material é leve e de fácil manuseio. O sistema HI-TECH é financiável pela CAIXA Econômica Federal. Possui patente no INPI e todos os testes de compressão, resistência ao fogo e ao choque de corpo mole e duro, acústica, estanqueidade, segurança estrutural, avaliação de durabilidade, avaliação de pós-ocupação, foram realizados no Instituto de Pesquisas Tecnológicas da Universidade de São Paulo (IPT da USP) e pelo Laboratório de Materiais de Construção Civil (LMCC) da Universidade de Santa Maria no Rio Grande do Sul.

Acordo internacional O Brazilian-European Center for Sustainability (BECS) e a Revista ECOLÓGICA, através da QI-Empresarial Consultoria e Serviços Ltda., firmaram um acordo de cooperação e apoio mútuos. A Dra. Heike Bradl, co-fundadora do BECS firmou no início desta semana, um acordo com nossa revista, representada pelo Diretor Operacional, publicitário José Bosco dalla Pietà Carvalho Seiwert, que possibilita a troca de informações científicas e de transferência de tecnologia, pesquisa e apoio logístico para assuntos voltados à sustentabilidade, redução, reutilização e reciclagem de resíduos e temas correlatos. Heike já esteve várias vezes no Brasil, principalmente em Goiânia. Aprendeu com extrema facilidade e rapidez nosso idioma e estará entre nós por uns meses, a partir de fevereiro próximo. Ela é doutora em mecânica de solos, geóloga especializada em meio ambiente. Dirigiu inúmeros projetos de saneamento ambiental na Bilfinger Berger Bau AG Mannheim. Leciona atualmente no Campus Birkenfeld de Meio Ambiente (Universidade de Trier). Dezembro 2008 – REVISTA ECOLÓGICA

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Empregos verdes. Será? Peter Poschen, principal conselheiro para o desenvolvimento sustentável da Organização Internacional do Trabalho (OIT) disse há alguns dias atrás, que apesar da Alemanha ter dito que os países da União Européia deveriam diminuir as ações de redução de CO² diante da crise mundial. Poschen no entanto diz que a crise é, de fato, uma oportunidade para que as políticas ambientais se desenvolvam, com a criação de “empregos verdes” (aqueles exercidos em atividades ambientalmente sustentáveis). A crise de 1929 exigiu ações do governo para resolver os problemas econômicos que resultaram em obras para alavancar o desenvolvimento dos USA e outros países logo em seguida a ela. Poschen diz que o que governo fizer em função da crise resultará em uma chance de “repensar a infra-estrutura no século 21”. “É mais uma questão de cálculos que de consciência ambiental. Inconsciência energética só dá prejuízo”, disse ele. Quando um país investe em economia na construção civil, por exemplo, aposta numa tecnologia que irá dar lucro em poucos meses, pois um prédio que consome menos energia é mais barato de se manter. Poschen estimula os países a investir em áreas que gerem “empregos verdes” – ocupações voltadas a frear o aquecimento da Terra: como reciclar e produzir biomassa. Uma atitude assim gera

18 REVISTA ECOLÓGICA – Dezembro 2008

empregos, distribui melhor a renda e gera demanda. “Dinheiro injetado na mão do consumidor só cobre créditos anteriores. Não garante a geração de novas demandas. E o risco de concentração cresce”, explica Poschen. Afirma que os USA já possuem projetos para gerar empregos verdes. US$ 100 bilhões de investimentos irão gerar 2 mihões de novas ocupações. “O Brasil já tem cerca de 1 milhão de “empregos verdes”, divididos entre a reciclagem e a produção de biocombustíveis”, acrescenta Poschen. Mas diz também, que o país precisa investir na criação de “empregos verdes”, para economizar energia. O relatório “Empregos Verdes: Trabalho decente em um mundo

sustentável e com baixas emissões de carbono”, gerido pela OIT foi elaborado por Poschen e sua equipe. A situação no Brasil é mista: lidera em áreas como biocombustíveis e reciclagem, apesar da falta de políticas claras que gerem empregos nas construções que reduzem o consumo de energia, ou na preservação da Amazônia. Estas áreas trazem, com segurança, lucro”, diz Poschen. Ele vai além: “o Brasil poderia economizar energia suficiente para alimentar uma cidade quase do tamanho de Goiânia se a reciclagem do alumínio aumentasse. Hidrelétricas geram empregos só durante a construção e lavouras de cana-de-açúcar mecanizam cada vez mais o corte”, finaliza.




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