DESIGN MAGAZINE 14 - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2013

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EDITORIAL

Tiago Krusse

Aqui há uns anos, numa aula de universidade, aprendi a história de uma ave que adoptava um comportamento curioso. Esta ave, habitante numa costa marítima de um país da América Latina, escolhia para seu poiso uma perigosa arriba. A escolha daquele dramático local estava intimamente ligada à época de nidificação. O ninho era construído estrategicamente a uns poucos de metros da arriba. A ave, como as outras da sua espécie, decidiam que aquele lugar, ou outro em semelhantes enquadramentos, era o melhor para proteger as crias que iriam nascer daí a uns tempos. Curioso que este ninho ao invés de se abrigar num nicho rochoso ou noutro local mais protegido das intempéries ou dos predadores ficava ali naquele meio terreno, entre terra e a queda abrupta para o mar. Durante o período de gestação, a ave estava livre de perigos da parte de predadores. Uma vez nascidas as crias os predadores chegavam por aquelas bandas. A cadeia natural e os seus códigos harmoniosos a funcionarem no equilíbrio da preservação das espécies. As aves predadoras começavam então a proceder aos seus voos de reconhecimento, analisando o que poderiam ser as suas futuras presas. No meio daquele bailado natural constatou-se que as aves que protegiam as suas crias, dos voos picados dos predadores, assumiam uma postura deveras interessante. Essas aves atraiam para si os olhares dos predadores e faziam-no através de uma encenação que consistia no acto de ludibriá-las, dando a impressão de estarem fisicamente debilitadas assumindo-se assim como o alvo preferencial. Lá se viam elas a afastarem-se dos ninhos e a cambalearem junto ao chão sugerindo dificuldades físicas. Os olhares dos predadores ficavam assim focados naquelas encenações alterando de imediato o alvo dos seus voos. A ave cambaleante começava então a dirigir-se para o precipício tendo em seu encalce a predadora. Quando a predadora já estava prestes a saciar o seu instinto eis a queda abrupta da ave cambaleante pela arriba abaixo. A predadora é ludibriada e a sugestiva presa retoma o seu voo no decorrer daquela queda simulada. Os meus sinceros votos de um Feliz Natal e de um Ano Novo bom a todos os leitores!

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SUMÁRIO

Opinião por Rodrigo Costa

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Ensaio por Francisco Vilaça

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A louça de Max Lamb

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Jean-François D’or

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Bozu

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Less Thingz

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Hurlu Design

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Hulda Karlotta

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Micomoler

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Food Design por Nao Tamura

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Fórum em Évora

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Green Zero

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Tex Tonic

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Leituras

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Escutas

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A capa desta edição é uma produção gráfica exclusiva da autoria do artista plástico Rodrigo Costa

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design MAGAZINE

Director Editor Tiago Krusse Produção Gráfica e Digital Joel Costa / Cátia Cunha Colaboradores Bruno Bailly (Lyon) Francisco Vilaça (Estocolmo) Hugo Poge (Reiquejavique) Nathalie Wolfs (Bruxelas) Rodrigo Costa (Porto) Fotografia FG+SG - Fotografia de Arquitectura João Morgado - Fotografia de Arquitectura Rui Gonçalves Moreno Publicidade http://revistadesignmagazine.com/publicidade/ Contacto de redacção DESIGN MAGAZINE Jardim dos Malmequeres, 4, 2.º Esquerdo 1675-139 Pontinha (Odivelas) Portugal tiago_krusse@revistadesignmagazine.com Editora Elementos À Solta - Desenvolvimento de Produtos Multimedia Lda. Rua Adriano Correia Oliveira, 153, 1B 3880-316 Ovar - Portugal NIPC: 503 654 858 www.elementosasolta.pt Media criado e registado em 2011 Registo da Entidade Reguladora da Comunicação: 126124

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http://www.imm-cologne.com

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AGENDA

In The Making A exposição In The Making resulta da pesquisa e do conceito de Edward Barber e Jay Osgerby, decorrendo entre 22 de Janeiro e 4 de Maio de 2014 no Design Museum, em Londres, no Reino Unido. A exposição foca os interesses desta dupla criativa, explorando os elementos estéticos de objectos inacabados e o seu processo de manufactura. A selecção de produtos tem como propósito realçar os conceitos de beleza e a qualidade dos objectos, antes de assumirem a sua forma final. O conceito desta apresentação pretende enaltecer não só os profundos conhecimentos dos designers no decorrer do processo criativo como também sublinhar como ele serve de influência e inspiração. A exposição resulta de um convite da direcção do Design Museum a Edward Barber e Jay Osgerby, contando com o apoio da B&B Italia. Uma nota final para salientar o 25 Aniversário do Design Museum, instituição fundada em 1989 por Sir Terence Conran que lhe soube dar até os dias de hoje uma função abrangente, quer na promoção do design como na divulgação de valores emergentes. No final de 2015 o Design Museum muda-se para o antigo da Instituto da Commmonwealth em Kensington. www.designmuseum.org

Imagem: Alex Morris Visualisation

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AGENDA

Typish deutsch? – uma reflexão sobre atributos e estereótipos germânicos O Makk – Museu de Artes Aplicadas, em Colónia, na Alemanha, apresentará de 14 de Janeiro a 20 de Abril de 2014 a exposição Typish deutsch – uma reflexão sobre atributos e estereótipos germânicos. Esta exposição é inspirada na diversidade cultural da Alemanha, com as suas particularidades e os muitos lugares-comuns a ela associados. Para além desta análise introspectiva, a exposição chama até si a participação do designer e artista Rolf Sachs que reflectirá sobre as suas heranças culturais e analisará termos como industrialização, pureza, atitude terra-a-terra, melancolia e simplicidade. Uma visão interpretativa numa ampla abordagem, ora subtil ora por vezes de uma forma humorada. Uma exposição que reunirá sob a forma de uma colecção de arte peças e instalações que farão a ponte entre arte e design, convidando o visitante a interpretar os atributos e estereótipos germânicos de uma perspectiva diferente do habitual. www.museenkoeln.de

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Fotografias: Byron Slater


http://www.and.org.pt

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AGENDA

Fornasetti – 100 anos de prática louca

A Triennale de Milão, em Milão Itália, comemora o centenário de Piero Fornasetti com uma exposição, sem precedentes, de 13 de Novembro de 2013 a 9 de Fevereiro de 2014, dedicada ao trabalho do artista e com curadoria de Barnaba Fornasetti. A Triennale de Milão decide assim prestar uma homenagem a um artista contestatário e provocador, incidindo no seu trabalho e contextualizando-o num debate crítico, teórico, sobre o ornamento como um elemento estrutural do projecto. Nascido a 10 de Novembro de 1913, Piero Fornasetti foi pintor, designer, artesão, coleccionador, galerista e promotor de eventos. O percurso de Fornasetti foi marcado pela sua personalidade complexa e rica. Projectou e produziu para cima de 10 mil objectos e peças de decoração, num esquema de trabalho pautado pelo rigor, perícia artesanal, profícua fantasia e uma imaginação de cariz surrealista. A exposição estabelece um percurso que atravessa o início de carreira enquanto pintor sob a influência do espírito de Novecento, a sua editora de impressão gráfica para livros, a estreita colaboração com Gio Ponti, entre 1950-60, e todo o difícil período dos anos 70 até final dos 80, época em que os dogmas racionalistas da funcionalidade na arquitectura e no design o atiram para uma posição marginal mas sem nunca quebrarem a sua poética criatividade. A exposição engloba um conjunto de mais de 700 peças, na sua grande parte oriundo do seu arquivo pessoal em Milão. www.triennale.org Fotografias: Cortesia da Triennale de Milão

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http://www.trabalharcomarquitectos.pt

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AGENDA

Bravos na Feira de Valência

O lema “See You in Valência 2014” é o convite proposto pela Feira de Valência para os dias 11 e 14 de Fevereiro, num evento que integra os salões Cevisama, Habitat e Fimma-Maderalia. A organização do evento mostra o seu orgulho ao revelar que vai receber durante esses dias a exposição Bravos, uma mostra com trabalhos de 21 designers/editores espanhóis curada por Juli Capella, e que escolheu a cidade de Valência para palco da sua estreia nacional. Os nomes seleccionados são: Patricia Urquiola, Ramon Ubeda, Hector Serrano, Lagranja, Jaime Hayon, Culdesac, Martin Azua, Ultimo Grito, Curro Claret, Nacho Carbonell, Antoni Arola, Emiliana Design, Luis Eslava, Guillem Ferran, Joan Gaspar, Marti Guixe, Ernest Perera, Diego Ramos, Diez+Diez, Mario Ruiz e Stone Designs. Os trabalhos destes 21 designers/editores espanhóis foram considerados pela de inovação dirigida ao segmento casa. O conjunto têm em comum o facto de terem nascido antes de 1960, criando assim uma perspectiva geracional na abordagem à profissão e à evolução das práticas em consonância com a maior sensibilidade ecológica bem como uma abordagem pragmática à indústria sem esquecer o simbolismo dos valores do design. A exposição Bravos é um evento promovido pela | 16 |

Agência Espanhola para o Desenvolvimento e Cooperação Internacionais e tem sido exibido com êxito pelos continentes americano, asiático e europeu. O facto da primeira paragem em Espanha ser em Valência tem um significado para as capacidades de iniciativa de um grupo de arquitectos, designers e decoradores da cidade. www.feriavalencia.com


http://www.elementosasolta.pt

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OPINIÃO

Rodrigo Costa

… Encosta-te a mim …

Ilustração de Rodrigo Costa Nota: na construção deste texto, tal como é explicitamente dito, usei algumas palavras e pequenas retiradas da letra da canção “ Encosta-te a Mim”, de Jorge Palma

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… Foi do que me lembrei, quando começaram a aparecer as primeiras reacções – dos visados, claro! – ás notícias provindas do desespero, segundo as quais, estariam em risco as subvenções vitalícias dos políticos. Eu, que acho o Jorge Palma um gajo castiço e genial, à sua maneira; que arranca, de lá, donde hibernam, em estado de ebulição, composições que parecem inestéticas; mas que são eufonia e cadência agrestes que batem certo… eu, dizia, fui ler e reler a letra da canção, de cujo título faço uso para este texto. Estive indeciso, por, apesar de tudo, me parecer eufemístico. Recordo o ar dengoso com que a coisa é dita, e acho-a a-propósito; o meu cérebro, no entanto, segreda-ma, como se usasse a boca das putas em alvoroço; tradu-la e dá-lhe carácter mais drástico e mais dramático, por haver gozo e queixume: “ roça-te em mim; fode-me, para eu ter a certeza de que estás comigo…”. À dureza e ao cinismo dos cortes sem hesitações nem delongas, junta-se a voz do poeta que celebra a poesia com um “poema” demagógico, inspirado na hipotética medida demagógico-governativa. Porém, não está só. Estão, com ele, de uma ponta à outra – havendo excepções, admito –, representantes de todo o espectro político. Há os mais comedidos, os que, na hora de votar, alimentam a esperança de que a maioria vença. Opor-se-ão, com certeza, alto e bom som, se a ideia for adiante e integrada no corpo de medidas excepcionais, para a discussão pública das quais o Governo possa, democraticamente, escusar-se. Dizem eles – os que já se manifestaram e que eu ouvi e/ou li –, que a ameaça não é mais do que argumento para abrandar a ira dos do costume. No fundo, o valor conjunto das subvenções pouco pesa no Orçamento do Estado. Mas, sem que mais seja necessário, há o estado do mesmo Estado; as condições a que o País chegou; os resultados por que ainda são pagos, até que desapareçam, muitos dos cabouqueiros da miséria – à guisa dos administradores que recebem prémios de gestão, em empresas que não dão senão prejuízo. É claro que, quando os políticos Irlandeses se impuseram cortes nos vencimentos e, talvez, porque não

sei, noutras regalias, eles sabiam do pouco significado prático da medida. O que sabiam – como qualquer líder que se preze – era ser necessário moralizar as exigências a ser feitas a todo o povo irlandês. Eles sabiam que, a nível psicológico, pelo menos, se igualariam nas circunstâncias; poupariam dinheiro – quer queiramos, quer não – e teriam o suporte moral para legislar de acordo com as circunstâncias – o general que ordena de cima da burra, por norma, é menos ouvido do que o que ordena com os pés no chão. O que acontece é que, em Portugal, a crise é crise eterna de gestores – públicos e privados – que não abranda, por falta da largueza de horizontes que compreende a teoria dos vasos comunicantes e a importância da saúde ou de todas as saúdes do colectivo. O que há, em Portugal, maioritariamente, é garimpeiros; gente que não consegue ver para além do umbigo, por mais viagens que faça e mais dinheiro que tenha. Ouvimos e lemos Ângelo de Sousa e Manuel Alegre, e, rapidamente, sentimos a facilidade com que as margens se juntam; a facilidade com que as pontes se constroem, suportadas por pegões que apenas parecem divergir; mas que as seguram, porque o destino é o mesmo: vida boa… “… Encosta-te a mim… Faz força! Não deixes que nos espoliem e nos envergonhem!… Afinal, sem o nosso contributo, a democracia não existiria nem seria o que é… Encosta-te a mim. Nós que discordamos, tantas vezes, temos que concordar, uma vez mais. Encosta-te a mim. Nós já vivemos mais de cem mil anos. Encosta-te a mim. Sei que não sei, muitas vezes, entender o teu olhar… mas encosta-te a mim. Encosta-te, apenas; não digas nada de que possas arrepender-te … Isso! Encosta-te a mim… É preciso dizer que o nosso ódio é um caso de amor inacabado… Encosta-te a mim … Encosta-te a mim; tira-me as palavras da boca, para que não nos ouçam … E se vires que não saem, mete a língua; mas encosta-te a mim… E se eu estremecer, é o meu gozo; o êxtase da sintonia … Isso! Encosta-te a mim… www.rodrigo-costa.net | 19 |


ENSAIO

Francisco Vilaรงa

Fotografia de Rui Gonรงalves Moreno

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“Há muitas maneiras de ver as coisas. A melhor de todas é não ter a certeza de estar a vê-las.” Miguel Esteves Cardoso

Folhas caídas Aguardo ansioso o dia de Outono, a manhã temperada pelo orvalho que humedece as folhas lá fora, se esconde entre concupiscências não reveláveis, num manto ordenado pelo calor que ficou para trás, e as pinta vermelho garrido com o sangue de quem ama intensamente. Sabe-se inveja de quem fica nos ramos. Olham-nas para baixo com um desdém próprio, feito de nada ou coisa alguma. Em breve revelará a sua presença incógnita, no engano que envergonha, por achar que essa imensa família troça-lhe a solidão. O que não sabe ainda é que a necessidade desafia o discernimento, nem tão pouco que finalmente será livre em igualdade desigual. Não é ao acaso que aquele abraço é capa fraterna, unida por corações que batem num mesmo ritmo a velocidades diferentes, e se erguem num corrupio quando o vento lhes sopra filosofias pelo corpo além, com a força desgarrada dos grandes de espirito, perante um mundo aparentemente descrente em quem o rodeia. Nessa dança suave e plena de liberdade, eleva-se o poeta, verdadeiro legislador da Humanidade, soltando palavras de ordem sem destino definido, e arrebata-nos a alma com a leveza ímpar de uma folha caída, porque para crescer maior, primeiro há que cair.

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A LOUÇA DE MAX LAMB Texto: Tiago Krusse Fotografia: Andrew F Wood

No início deste ano e numa reportagem que efectuámos à feira imm em Colónia, na Alemanha, conhecemos a britânica Emely Johnson. E foram as formas orgânicas da louça de Max Lamb que nos levaram até Emely Johnson e ao nosso interesse sobre a marca 1882. A simpatia da britânica foi imediata e tendo reparado no interesse que aquela louça nos havia despertado, apresentou-se como sendo a quinta geração de uma família que desde sempre se manteve ligada às artes da olaria. Falou-nos do lançamento da 1882 Ltd em 2011 e sobretudo relatou-nos a paixão com que se entregou à tarefa de dar continuidade a um trabalho familiar e a uma cultura de produção ainda mantida por Christopher Johnson, seu pai, e por um grupo de oleiros residentes em Stoke On Trent. O lançamento da marca foi obra de Emely e seu pai, surgindo assim a intenção de preservar e de dar continuidade à arte da olaria e | 22 |

à utilização de materiais dessa produção. O intuito é de preservar conhecimentos e técnicas, protegendo a memória mas também projectando-a no presente. Uma das produções que projectam a 1882 Ltd é a colecção de louça chinesa criada por Max Lamb. O designer britânico, nascido em Cornwall, licenciou-se em 2006 no Royal College of Art, em Londres, e desde então tem vindo a demonstrar por esse mundo fora o seu espírito criativo. Este seu percurso tem-se caracterizado por uma produção de peças elegantemente trabalhadas, recorrendo a processos tradicionais e materiais caídos em desuso. A abordagem de Max Lamb ao design é no sentido de criar produtos que estimulem um diálogo entre produtor, objecto material e utilizador. Agarra-se na maioria dos casos a uma simplicidade visual dos produtos e por essa via tira uma maior eficácia na forma como eles comunicam o óbvio. A colecção de mesa “Cro-


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ckery” é produzida em porcelana chinesa retirada de moldes esculpidos por Max Lamb. O designer arranja assim uma fórmula que pretende reflectir uma das suas máximas, na qual defende o uso honesto dos materiais e a transparência no processo produtivo conferindo-lhes assim uma voz própria ao invés de impor uma estética. Emely Jonhson falou-nos também de tudo o que envolveu o processo produtivo da colecção e algumas curiosidades de interesse. Ficamos a par do que faz a qualidade da porcelana chinesa ser tão forte e de uma translucidez notável é o facto de conter na sua composição 52% de ossos de animais calcinados. Foi também curioso percebermos como o barro chinês desta produção é proveniente de Cornwall e de outras matérias-primas serem originárias de Devon ou Dorset. A colecção foi toda ela esquematizada em moldes de gesso esculpidos à mão e que depois foram vidrados por dentro com o propósito de funcionarem correctamente no processo de enchimento. A textura da superfície exterior do molde original ficará impressa na pele exterior de cada nova peça. A criação tridimensional do molde e a sua produ| 24 |

ção ficaram nas mãos de Max Lamb, que deu uso aos seus conhecimentos de manejo de ferramentas de pedreiro. E assim trabalhou o gesso, partindo-o e moldando-o para produzir jarros, taças ou canecas. Depois da parte escultórica, o designer colocou em prática os seus conhecimentos para evitar todo o tipo de imperfeições que pudessem resultar do enchimento dos moldes, concluindo o processo de produção com a execução de etapas precisas na cozedura. Não só os métodos foram respeitados como também foram cumpridas em absoluto rigor as nuances de temperatura nas fases de cozedura. E por fim surgem estas peças incríveis, marcantes pelo efeito do contraste entre a superfície bruta exterior e a delicadeza encontrada na pele interior de cada peça. www.1882ltd.com


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EM FOCO

Jean-François D’or

Fotografia de T. Van Haute

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Texto: Nathalie Wolfs / Design In Belgium

O belga Jean-François D’or formou-se em design industrial, em 1989, na La Cambre, a escola superior de artes visuais em Bruxelas, instituição com 85 anos de existência fundada em Maio de 1927 por Henry van de Velde e que desde então se tem afirmado como uma das referências máximas do ensino no país. Após a licenciatura, Jean-François D’or começou a construir uma carreira profissional marcada pela capacidade de resposta a um variado conjunto de solicitações de trabalhos. Após a conclusão de um projecto em Nova Iorque, nos Estados Unidos da América, o designer junta-se à equipa da marca belga Light onde trabalha numa equipa composta por profissionais tão exigentes quanto Maarten Van Severen e Hans De Pelsmacker. A forma como Jean-François D’or aborda os seus trabalhos tem em conta as exigências das empresas para quem projecta e as necessidades dos utilizadores. Não entrando em contradição com a sua postura, o designer revela um temperamento que evidencia um desejo de atingir um mercado, os seus produtos são pensados para marcar e enriquecer as atmosferas para que foram pensados. Os materiais com que costuma trabalhar são diversos, explorando em cada um as suas naturais potencialidades e criando as harmonias estéticas sem nunca cair na ostentação. É um criativo com propósitos simples,

que procura realçar a lógica de cada produto tornando o seu design evidente e mantendo uma poesia discreta. Para si o design é uma questão de harmonia, um olhar e uma ferramenta em prol da qualidade mais a identidade do produto. Vê a profissão como um factor central no surgimento de tecnologias inovadoras e ao mesmo tempo um elemento crucial na relação de trocas culturais e económicas. Tem uma percepção do design industrial que procura fornecer soluções de cariz estrutural, organizacional, funcional, expressiva e económica com o intuito de estabelecer as qualidades multifacetadas dos objectos. Desde 2003 que Jean-François D’or vive e trabalha em Bruxelas, cidade onde abriu a sua empresa o Loudordesign Studio, que funciona como uma agência de design industrial tendo-se especializado na dualidade e complementaridade da criatividade mais o pragmatismo das suas soluções. Depois de ter ganho em 2009 o Henry van de Velde Label pelo seu “disk lamp” e em 2012 o Prémio Reciprocity pelo espelho “Elisabeth”, Jean-François D’or foi nomeado Designer Belga do Ano 2013.

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“Blossom” para La Rochère. Fotografia de Stéphane Donicol

“Book” para a Jongform. Fotografia de Peter Verplancke e Stéphanie Derouaux

“Bonbonne” para a Ligne Roset. Fotografia da Ligne Roset

“Oscar” para a Ligne Roset. Fotografia da Ligne Roset


“Elizabeth” para a Reflect. Fotografia de Peter Verplancke

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EM FOCO

Bozu

Davide Bonanni nasceu em Udine, Itália, em 1984. Estudou design industrial e completou a sua licenciatura na Universidade de Arquitectura de Veneza. Com o curso concluído iniciou a actividade a trabalhar para algumas editoras italianas de design. Em 2012 alguns dos seus trabalhos para essas editoras foram expostos no Salão Internacional do Móvel de Milão. Foi neste mesmo ano que Davide Bonanni e Alice Zuliani decidiriam unir esforços e criar a editora italiana de design Bozu. A Bozu apresentou-se pela primeira vez ao público este ano, no decorrer da feira Macef, em Milão. Encontrámos Davide Bonanni e Alice Zuliani no seu expositor na feira. Deparámo-nos com os dois algo esgotados pelo trabalho preparativo desta sua primeira exposição pública. O expositor pequeno mas bem trabalhado em termos de comunicação, num quadrado branco onde os primeiros produtos da Bozu sobressaíam mais todos os elementos de suporte. E ali estavam os seus produtos Bottone e Bottone Alto, Gemstone e a Industry Collection, este último criado por Michael Breschi, da Gentle Giants. A nossa atenção foi captada pelo relógio de plástico Gemstone, um produto que fechado funciona em cima de uma secretária, como uma pedra de diamante, e que aberto se pendura numa parede sugerindo o desenho de uma estrela. O relógio serviu | 30 |

de ponto de partida para uma pequena conversa com o designer, que nos falou desta aventura empresarial. A Bozu assenta em criatividade e gestão italianas com processo de produção feito na China. Esta produção é controlada por Davide que em deslocações constantes ao território chinês procede à supervisão de todo o circuito do produto. Vai para o terreno e desde a selecção dos materiais, escolha de mão-de-obra e processos de produção procura esquematizar de melhor forma possível cada projecto. Deixou-nos o retrato de uma China capaz de oferecer uma mão-de-obra apurada que apesar de toda a falta de condições básicas para se produzir revela rigor e tradição. A exigência, para lá da escolha e compra dos materiais, reside no acompanhamento do produto em todas as suas etapas de produção. Reporta-nos que são momentos de muita exigência mas também de seriedade na forma de interagir com todos os envolvidos na história de cada produto. Percebem-se bem os valores e por pequena que ainda seja a colecção, os produtos da Bozu espelham simplicidade, elegância e rigor. Texto: Tiago Krusse Fotografia: Cortesia da Bozu

http://www.bozu.it


Gemstone

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Bottone

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Bottone Alto

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EM FOCO

Less Thingz

A Less Thingz é uma editora de Viena, na Áustria, dirigida por Magdalena Thur e Michael Augsten. Magdalena licenciou-se na New Design University de Sankt Pölten, na Áustria, e trabalha como designer independente em Viena. A designer refere no seu currículo o seu constante desígnio de harmonizar emoção e pensamento. A sua actividade profissional é marcada por fornecimento de serviços nos campos da ilustração, editorial, produto e informação gráfica. Para além da capacidade de antever necessidades, de procurar criar redes de trabalho e de olhar para o futuro, Magdalena mantém pesquisa e estudos nas áreas do ambiente e da gestão dos recursos naturais. O percurso de Michael Augsten é marcado pela formação na Universidade de Artes Aplicadas de Viena e pelo Ravensbourne College, em Londres, Reino Unido. Michael é designer e ilustrador oriundo da região sul de Tirol mas trabalha desde 2001 a partir do seu estúdio em Viena. Ele a sua equipa foram responsáveis pelo desenvolvimento de diferentes trabalhos, desde a criação de comunicação visual de iniciativas, projectos ou de empresas. Este ano, Michael e Dominik Krebs criaram a aplicação brandfex, que permite a designers terem soluções de impressão personalizada ou formatada para oferecer aos seus clientes. Magdalena e Michael aventuraram-se com a editora no início de 2013 e a sua primeira criação foi a agenda Dayz e o livro de apontamentos Notez. A ideia de criarem a agenda e o livro de bolso foi motivada pelo objectivo de trabalharem um produto em papel. Um material natural que pudesse ser trabalhado com um design funcional e limpo mas que evidenciasse inovação. A inovação do Dayz é que esta agenda de bolso permite visualizar dias e meses todos ao mesmo tempo sem necessitar de repetir um folhear de páginas. Esta funcionalidade é obtida através de uma estruturação inspirada no fole de um acordeão. O seu tamanho e a forma como está estruturado permitem ajustá-lo comodamente em qualquer bolso ou colocá-lo de forma elegante em cima de uma mesa ou pendurado. O livro Notez tem quase 2 metros de comprimento, utilizando o mesmo sistema de fole, e revela-se ideal para guardar esquissos ou ideias. As suas folhas apresentam uma grelha de pontos. Os produtos da Less Thingz destacam-se também pelas preocupações ambientais. As capas têm uma espessura de 2 milímetros compostas por duas camadas de cartão. O cartão é proveniente do Reino Unido e | 34 |


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a sua coloração é 100% livre de dioxinas. A superfície mate e a rigidez apresentada dão ao material uma característica particular. O recheio de Dayz e Notez é composto de papel ausente de dióxido de carbono, uma matéria-prima oriunda da Suécia. Nas gramagens de papel, de 240 grama, a composição tem 30% de fibras recicladas. A energia despendida na produção do papel foi fornecida por turbinas de vento. É um papel ausente de ácidos e como tal indicado para arquivar sem revelar rápido desgaste. As características do papel processado e a sustentabilidade energética tida na prensagem permitem que os produtos recebem o rótulo Ecolabel estipulado pela legislação austríaca. As tiras de borracha, em cor natural ou vermelha, são provenientes de plantas e árvores tropicais. A borracha natural é baseada em matérias-primas reutilizáveis e por conseguinte amigas do ambiente. A borracha colorida tem uma composição que evidencia uma boa | 36 |

estabilidade termoplástica, tem uma coloração não tóxica sendo resistentes à água bem como um grande número de produtos químicos. Para Magdalena Thur e Michael Augsten todas estas considerações postas em prática pela sua editora vão ao encontro do que é definido por Bom Design, elemento essencial para o contributo da sustentabilidade do ambiente. Querem que os produtos da Less Thingz sejam duráveis, com um papel a longo prazo amigo da sustentabilidade, e que sejam apreciados pelos seus utilizadores. Texto: Tiago Krusse Fotografia: Cortesia da Less Thingz

www.lessthingz.com


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EM FOCO

Hurlu Design

Texto: Bruno Bailly / Design !ndex Fotografia: Cortesia da Hurlu Design

A Hurlu Design é uma nova editora fundada por Laura Iriart e Arthur Trichelieu. Ambos com formação e experiências profissionais distintas, têm trabalhado nos campos da criação artística bem como nos campos mais técnicos dos processos industriais. Percebem que a conjuntura económica e as circunstâncias de degradação do meio ambiente funcionam como uma mola de motivação para produzir de forma diferente, reflectindo mais sobre os assuntos e tornando assim primordial o papel do designer. Para eles os produtos não podem apenas ser idealizados para um resultado final de harmonia estética, a capacidade criativa deve ter a capacidade de transpor para a realidade ideias que estejam em consonância com os hábitos de vida dos utilizadores. Devem também ter como missão a transmissão de uma mensagem com impacto social e ambiental. A editora move-se numa lógica em que o ponto central do produto tem de jogar com uma complementaridade entre estética e funcionalidade. Laura e Arthur concebem produtos numa lógica de inovação e de acessibilidade ao maior número de pessoas. Os | 38 |

conceitos são simples, poéticos e funcionais. A linha de produção é planeada nos aspectos numéricos e materiais, seguindo um esquema simples de desenho, moldagem e prototipagem. Apresentamos três produtos com a sua assinatura: Coffin, Pow e Weaview. O Coffin é um produto amigo do ambiente, uma urna para animais de estimação. É produzido em papel marche no mesmo processo de em que são feitas as tradicionais embalagens de ovos. O relógio Pow liberta setas e horas sugerindo um olhar diferente para o passar do tempo. Os óculos Weaview vão beber inspiração ao conceito faça-você-mesmo. A armação apresenta uma série de pequenas entrâncias, formando uma grelha, permitindo a passagem de uma agulha. Um processo construtivo muito semelhante à costura, impulsionando os utilizadores a explorar a sua criatividade e imaginação.

www.hurludesign.com


Pow

Coffin

Weaview

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EM FOCO

Hulda Karlotta

Fotografia: Cortesia da Fingerprint Clothing

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A islandesa Hulda Karlotta completou em 2003 o curso em design de moda na Academia das Artes da Islândia, em Reiquejavique. Após a licenciatura Hulda partiu para Nova Iorque, nos Estados Unidos da América, onde fez um estágio para o designer As Four. A moda e o espírito de vida da cidade norte-americana produziram um fascínio que não esqueceu. Deslocou-se para Paris, em França, onde estagiou para o designer Martin Sitbone. As duas experiências profissionais foram importantes para aferir conceitos e tomar uma decisão para o seu rumo. A passagem por Nova Iorque revelou-se mais marcante, talvez por ter vivido um contacto mais próximo com um universo de moda específico e por sentir mais afinidades com essa atmosfera criativa. Sentiu-se arrebatada e esse período de aprendizagem ainda se mantém como fonte de inspiração para as suas criações. Em 2008 Hulda muda-se para Portugal e arranca com a marca Fingerprint Clothing. A sua primeira colecção foi inspirada no jogo Mikado bem com a luz natural encontrada na terra portuguesa. Essas produções transmitiam uma vasta gama de cores e um espírito alegre. A designer seleciona a grande maioria dos tecidos para as suas colecções em Portugal. Eles são os pontos de partida para a suas inspirações. Gosta de reparar nas suas características para se aperceber como cada um se comporta e assim definir as linhas de vestuário. A escolha dos tecidos portugueses é baseada na boa qualidade que encontra bem como grande parte da produção é feita em Portugal. Por vezes também gosta de ser ela a produzir mas isso é numa quantidade mais limitada de peças. Algumas dessas criações são peças únicas e para os seus clientes isso é visto como um elemento especial, de diferenciação. Fazendo analogia à sua marca, Hulda Karlotta refere que assim cada peça acaba por ter a uma impressão digital única. Mostra-se satisfeita e orgulhosa por ter uma marca para senhora, com diferentes tipos de estilos e assente numa produção europeia, Islândia e Portugal, toda ela feita à mão.


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EM FOCO

Micomoler

O estúdio de design Micomoler está sedeado em Madrid e tem na sua equipa Boris Miranzo, Consuelo Duarte, Mónica Thurne e Mariana Lerma. A sua missão é a de criar produtos elegantes tendo em mente uma linha conceptual voltada para a tradição e os saberes artesanais. O estúdio faz parte da Wow Design Collective, uma empresa de Toronto, no Canadá, que trabalha com pequenas, médias e grandes editoras, com o propósito de criar marcas e introduzi-las nos mercados. Com um percurso ainda pequeno, a equipa madrilena deu ao Micomoler alguma visibilidade ao receberem em 2012, pelo seu produto El Botijo, o segundo prémio no SaloneSatellite, da Feira Internacional do Móvel de Milão, em Itália. www.micomoler.com Fotografia: Cortesia da Micomoler

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Banquete

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Cotito

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Duler

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El Botijo

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Florencio

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Kali

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Thumi

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FOOD DESIGN

Nao Tamura

A designer japonesa Nao Tamura criou o produto Seasons para a editora de design italiana Covo. Nao Tamura é uma designer que tem vindo a merecer a atenção da indústria e o seu trabalho tem merecido distinções de júris nas mais conceituadas competições mundiais. Deparámo-nos com este seu produto para a Covo aquando da nossa visita à última edição da Macef, em Milão, no passado mês de Setembro. No expositor da Covo pudemos comprovar não só as qualidades estéticas de Seasons como obtivemos informações relativas ao carácter inovador do produto. O aspecto inovador está no silicone utilizado que tem uma performance muito interessante. A composição estrutural deste material permite-lhe uma grande adaptabilidade a vários tipos de ambientes e com uma total segurança. Estamos perante um silicone tecnologicamente evoluído e capaz funcionar sobre a acção de um fogão tradicional, micro-ondas, frigorífico ou máquina-de-lavar-loiça e sem nunca perder as suas qualidades estruturais. Esta segurança é essencial para o produto no seu uso ligado à alimentação. No sítio de Nao Tamura a designer deixa expresso o seu desejo de desafiar alguns tipos de convenções propagados pelo status quo industrial. A utilização deste silicone nos hábitos diários ligados à alimen| 50 |

tação vai um pouco nessa linha. Mas mais do que desafiar a indústria parece-nos também importante que os utilizadores de produtos possam aceder a informação que lhes permita decidir sobre os seus hábitos de consumo. A proposta de Seasons passa também por um novo modo de serviço de mesa utilizando um silicone avançado e uma abordagem estética sedutora. Esta folha de silicone acaba por casar o imaginário da natureza com as características tecnológicas. É um produto também com uma boa flexibilidade e que consegue ir para além da sua função de parto de serviço pois que enrolado pode tornar-se numa peça escultória. Por fim salientamos o lado cultural que inspirou o desenho desta folha, as tradições japonesas que a designer referencia da sua adolescência. Nao Tamura lembra-se de ver folhas de cerejeira a servirem de embrulho para doces ou outra folhas a servirem de decoração à mesa das refeições. O verde bambu é também parte da sua memória de infância. Texto: Tiago Krusse Fotografia: Cortesia da Covo


www.covo.it www.naotamura.com | 51 |


FÓRUM EM ÉVORA Arquitectura: Fernando Sequeira Mendes e Francisco Barata Texto: Tiago Krusse Fotografia: Jerómino Heitor Coelho

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Naquela que continua a ser a cidade-museu do Alto Alentejo, Évora é favorecida de mais uma requalificação do património por intermédio de um projecto levado a cabo pela Fundação Eugénio de Almeida. A obra de reabilitação e reforma de património edificado da fundação foi liderada pelos arquitectos Fernando Sequeira Mendes e Francisco Barata. O trabalho foi feito em mais de 3 mil m2, incidindo no Palácio da Inquisição e das Casas Pintadas mais salas polivalentes e um auditório. A reabilitação e reforma dos edifícios intervencionados foram pensados para servir um novo polo cultural, numa área total com 1,200 m2 para exposição. São dois pisos com um novo programa que consiste num conjunto de salas de exposições temporárias, sala Rostrum para eventos específicos, centro interpretativo, auditório, salas multiusos, espaços para reuniões, conferências, lazer e uma loja. A intervenção estendeu-se também às áreas exteriores, nomeadamente o Páteo de Honra, Jardim Norte e Jardim das Casa Pintadas. Referência para o pátio no qual estão identificadas e restauradas pinturas murais quinhentistas. Numa altura em que a Fundação Eugénio de Almeida se encontra a celebrar o seu cinquentenário, a instituição vem reavivar a memória do trabalho e da

missão pensada em 1963 por Vasco Maria Eugénio de Almeida, seu fundador. O desígnio traçado foi o de promover a evolução social, cultural, educativa e lúdica da região de Évora. A reabilitação e reforma dos edifícios vêm criar 17 novos espaços preparados para a realização de diversos eventos de âmbito cultural. Para além de reforçarem os meios da missão da instituição para com a sua comunidade, colocam a cidade de Évora dentro de uma rede de intercâmbios culturais, dentro e fora do país, contrariando a ideia errada de um certo isolamento ou de um estigma de periferia.

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GREEN ZERO Arquitectura: Daniele Menichini Texto: Tiago Krusse Fotografia: Cortesia do Studio Menichini

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O arquitecto Daniele Menichini concebeu o projecto Naturalmente Chic para uma unidade hoteleira de Treviso, em Itália. É uma moradia modular, com cerca de 63 m2, construída em 2013 nos terrenos do Hotel Ai Cadelach. O arquitecto foi responsável pelo projecto de arquitectura, design de interiores, design de iluminação tendo a construção ficado a cargo da empresa Tirolhaus Italia. Daniele Menichini nasceu em 1968 em Engelberg, na Suíça. Em 1995 licenciou-se em arquitectura pela Universidade de Florença, em Itália. Um ano depois de completar a licenciatura Daniele abria a sua empresa, um estúdio de arquitectura vocacionado para desenvolvimento de projecto, interiorismo, design, comunicação visual e direcção de arte para empresas ligadas ao segmento casa e indústria do mobiliário. Desde então tem vindo a pesquisar no campo teórico o estudo de práticas nos campos da arquitectura e do design com o intuito conferir aos seus projectos uma abordagem mais completa. Este acumular de conhecimento permite-lhe complementar o trabalho que efectua em todas as áreas de actividade do estúdio. Desde o seu arranque profissional Daniele tem dado ênfase a aspectos tão diversificados como a utilização de materiais, uso da cor, criação de ambientes e emoções, percepção abrangente do espaço e uma preocupação constante no que diz respeito ao desenvolvimento de propostas sustentáveis. O conceito deste projecto vem na linha da pesquisa e prática de Daniele Menichini. Este tipo de construção começa a ganhar maior atenção por parte dos agentes ligados à indústria do turismo. A filosofia que lhe está associada não é nova e tem vindo a ser explorada em diversos países. O seu programa permite desenvolver uma construção modular, à qual se acrescenta a vantagem de ela poder instalar-se

em diversos tipos de ambientes. É uma prática de arquitectura que deixa em todo o seu processo um registo mais ecológico no que diz respeito ao impacto na natureza e incorpora preocupações relativas à utilização de recursos naturais. Uma nova forma de servir a indústria hoteleira e de lhe permitir transmitir aos seus hóspedes as vantagens de viver de uma forma sustentável sem que para isso se tenha de abdicar do conforto e das emoções. É uma sugestão para a mudança e evolução de comportamentos fazendo uma comunicação incisiva sobre as mais-valias que advêm da optimização na exploração de energias naturais. O objectivo do projecto é promover uma nova modalidade de exploração hoteleira que permite uma mais próxima interacção com o ambiente e a paisagem, aumentando o leque de oferta neste campo através de construções modulares com diferentes tipologias. O módulo Green Zero é um sistema arquitectónico pré-fabricado que se nota pelo elemento que delimita o seu perímetro. O projecto foi estruturado sobre uma superfície plana que depois foi dobrada em forma de um C – “costurada” num dos lados – que permite ao módulo desenvolver-se dentro da sua concha. Estruturado todo ele em madeira, o módulo dispõe de uma moldura que nas suas secções verticais e horizontais integra espaço de passagem para todo o tipo de instalações e uma caixa-de-ar, criada para fornecer um bom isolamento térmico. Na superfície do telhado foi instalado um sistema de painéis fotovoltaicos que gere a electricidade necessária para abastecer o módulo. A membrana composta de zinco e titânio aplicada a este tipo de painéis demonstra grande maleabilidade permitindo assim integrar na perfeição as superfícies curvas da estrutura. São criados assim todos os elementos técnicos fundamentais para a ventilação, gestão ou reapro| 69 |


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veitamento de água das chuvas. O pré-fabricado tem de estar implementado no solo, com fundações feitas de pedra natural num sistema composto de uma série de pedras posicionadas numa espécie de jaula de metal, pela qual se obtém a resistência mecânica desejada. As fachadas foram realizadas com o recurso a um sistema modular de painéis de madeira, que permite esconder os pontos de aparafusamento. São painéis de superfícies polidas aplicadas com uma cera natural, podendo ser alvo de manutenção regular ou então deixar a madeira envelhecer, oxidando, se for a preferência. Pavimentos e revestimentos internos e externos são compostos de cerâmicas vidradas, tendo na superfície exterior a aplicação de um antiderrapante. Uma série distinta de produtos cujos processos de fabrico estão dentro das normas ambientais e dentro de uma lógica do menor desperdício de energias. O design de iluminação concebido por Daniele baseia-se num sistema de sensores que dão uma boa visibilidade para o exterior e entrada do módulo. A estrutura edificada tem a tardoz um sistema de tanques e de equipamentos que efectuam a captação, reutilização e gestão das águas das chuvas.

O projecto Green Zero apresenta uma boa dinâmica e um conjunto de sistemas integrados que vão ao encontro das necessidades particulares de cada cliente mas mantendo intacto todo programa com os seus princípios funcionais. O arquitecto, na memória descritiva do projecto, salienta que “ao contrário do que é tido como crença popular, o design verde não é uma questão de moda”. Para Daniele Menichini reforça que se trata de uma escolha baseada em pesquisas fidedignas sobre assuntos relativos a estruturas, instalações e materiais, planeamento dos espaços e o design dos objectos entre eles. Uma pesquisa que seleciona materiais certificados e um conjunto de princípios éticos que servem como bases inspiradoras aquando do delinear de cada projecto, envolvendo cada equipa num desenvolvimento assente numa consciência de causar o mínimo de impacto possível sobre o ambiente.

http://ec2.it/danielemenichini

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TEX TONIC Arquitectura: Paul McAneary Architects Texto: Tiago Krusse Fotografia: Cortesia da Paul McAneary Architects

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O apartamento Tex Tonic é o resultado de uma reforma operada pela Paul McAneary Architects numa área de 466 m2 localizada por cima de uma estação de correios em Victoria, em Londres, no Reino Unido. A obra foi concluída em Novembro de 2011 e desde então tem sido distinguida com prémios de design e arquitectura, tendo este ano sido incluída na lista final dos prémios RIBA Londres. As intenções dos clientes que adjudicaram esta obra, através de uma competição, eram de criar dois apartamentos no piso superior sobre a estação de correios e a casa leiloeira de Victoria, em Londres. Os clientes especificaram no seu desejo o objectivo de terem um amplo volume com um programa fluido e aberto, em que as funções do design de interiores fossem evidentes em todas os requisitos de conforto. A equipa da Paul McAnery teve em consideração a existência da estação de correios no piso inferior e serviu-se do esquema em que o sistema de entregas postais estava feito para se inspirar nos propósitos de habitabilidade de cada área. E assim foram criadas grandes caixas compostas por materiais naturais apropriados para cada desígnio das áreas privadas e sociais. Os quartos apresentam um pé-direito duplo e um carácter distinto entre si, com a suite principal a beneficiar de casa de banho e roupeiro independente. A memória descritiva que nos foi fornecida salienta que o programa das áreas privadas foi desenhado num espaço mais modesto de tamanho. As áreas sociais é que se pretendiam mais espaçosas por forma a cumprirem o desejo de um espaço de vivência mais amplo e versátil quer para receber pessoas ou para simplesmente relaxar. A arquitectónica do apartamento é simples e dinâmica ao mesmo tempo. A combinação de vários tipos de madeira deu-lhe uma maior ênfase na percepção das diferentes texturas e nas qualidades visuais intrínsecas de cada um deles. A quantidade de luz natural que entre pela casa fazem sobressair toda a atmosfera, do pavimento ao revestimento do tecto. A forma intencional como foram aplicadas as dife-

rentes secções em carvalho permitiram que o design de iluminação desse a todo esse espaço uma ainda maior impressão da beleza natural da madeira. E as madeiras foram alvo de diferentes processos de manipulação, para delas serem retiradas melhores performances de resistência e durabilidade como também de harmonia cromática. Outros apontamentos de construção de interiores trouxeram um espírito mais dramático ao ambiente. O mezanino que nos parece flutuar apresenta uma estrutura com a espessura mínima possível, um resultado obtido por intermédio pela solução de engenharia que o suspendeu ao tecto. E neste piso o espaço da garrafeira é sem dúvida de muita elegância e com uma grande capacidade de armazenamento. As escadas em carvalho maciço permitem uma ligação entre pisos, fazendo um enfiamento para o mezanino estruturado em madeira e vidro, permitindo assim passar a luz natural e tornar visível a relação entre as divisões da cozinha, áreas de refeições e de estar. No capítulo do design de iluminação, a opção foi interligar diferentes tipos de soluções permitindo assim um leque de escolha mais apropriado para cada ocasião de dia ou de noite. A iluminação está toda ela colocada em nichos, proporcionando uma luz indirecta de belo efeito visual. Por fim uma referência à integração de soluções tecnológicas, na sua grande maioria escondidas por forma a anular todos os tipos de ruídos visuais de um espaço que se quer calmo e o mais contemplativo possível. Tem integrado um sistema de telecomunicações complexo tendo em consideração todos os mais recentes tipos de aparelhos electrónicos e acústicos. Um sistema central de comandos possibilita controlar todos os sistemas incorporados no apartamento através de um tablet: iluminação, som, aquecimento, alarme, estores, internet e televisão. www.paulmcaneary.com

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LEITURAS

Marcámos presença na apresentação oficial da edição de 2013 do Design Index, pela Associação para o Design Industrial (ADI), decorrida na Triennale de Milão, em Itália, no passado dia 1 de Outubro. O convite que nos foi feito por Luisa Bocchietto, presidente da ADI, permitiu-nos assistir à cerimónia de apresentação bem como à exposição concebida pelo estúdio N!03, uma mostra de 138 produtos seleccionados deste novo volume. A cerimónia de apresentação foi marcada pela presença dos responsáveis da ADI, da Triennalle de Milão e administradores da Fundação ADI e Colecção Compasso D’Oro. Foi interessante assistirmos às tentativas de aproximação encetadas pelos mais altos responsáveis pelo sector do design italiano, com o objectivo de criar maiores complementaridades entre instituições que lutam pela promoção do made in Itália pelo Mundo. Foi-nos também informado a criação do novo quartel-general da ADI, um espaço em Milão que vai abrir as suas portas ao público em 2015, por altura da Exposição Mundial, vai servir base para a exposição histórica da colecção Compasso D’Oro. O Design Index 2013 foi compilado com a curadoria a cargo de Maria Cristina Tommasini que a par dos elementos do observatório permanente do design da ADI, com mais de 100 peritos localizados por todas as regiões do país, seleccionaram o que julgam ser os melhores exemplos de design italiano do corrente ano. Com este terceiro volume ficam encontrados os 418 produtos que serão submetidos à apreciação de um júri internacional que decidirá quais deles serão distinguidos com o Compasso D’Oro. Neste volume notámos uma maior presença das inovações nos capítulos tecnológicos aplicados em produtos ou serviços e menos o lado do engenho e da criatividade ligados à forma. A edição conta ainda com testemunhos escritos por parte de Luísa Bocchietto, Arturo Dell’Acqua Belavitis, Antonio Calabrò, Valerio Castronovo e Frida Doveil. Uma série de textos que foca temas como a importância do papel social do design, a necessidade de promover cooperações entre os operadores culturais, as características das entidades corporativas da indústria cultural, as raízes industriais italianas ou os novos hábitos de consumo.

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ADI Design Index 2013 ADI – Corraini Edizioni


Com 33 anos de actividade, o gabinete de Arquitectura Aripa é motivo de uma monografia com a chancela da Uzina Books. Uma publicação de 2012 que nos deixa perceber o percurso deste gabinete fundado por Ilídio Pelicano, em 1979, propondo-nos uma visita pela obra feita. Como o título define, Arquitectura de Saúde, são destacadas obras deste universo construtivo dando especial ênfase aos seguintes projectos: Instituto de Cardiologia Preventiva de Almada, IPO Radioterapia Externa no Porto, Associação de Apoio aos Profissionais do Hospital Santa Maria em Loures, Hospital de Proximidade de Lamego, Hospital Sousa Martins na Guarda e Hospital de Angra de Heroísmo. Seis obras do nosso século e distribuídas por vivências urbanas e paisagens distintas. Juntam-se ainda mais cinco diferentes projectos, acompanhados de memórias descritivas, plantas, cortes e alçados. Um conjunto de obras por acabar. Esta edição inclui ainda uma entrevista a Ilídio e Sara Pelicano num total de cinco questões pelas quais nos é dado a conhecer o percurso do gabinete, a constante evolução na abordagem aos trabalhos, os diferentes compromissos em cada obra e as linhas orientadoras na transposição dos projectos e uma antevisão sobre o que poderá ser o futuro do Aripa. E as respostas revelam-nos um discurso limpo, prático e directo, o que permite uma interpretação mais ampla e objetiva de um pensamento e de uma forma de estar. São para nós respostas reveladoras de uma preocupação legítima em passar uma mensagem clara. E depois somos brindados com as nunca demais insistências em temas como as funções práticas, morais e funcionais que devem caracterizar a arquitectura. Outro ponto que nos chamou a atenção na entrevista foi o depoimento de quem trabalha numa área tão específica como a da saúde, relacionando-se com um conjunto de elementos complexos, humanos e técnicos, que reporta como os avanços tecnológicos produzidos nos campos da ciência vieram trazer um sazonal acréscimo de novas informações e de novas realidades para este tipo de construções. Percebemos que o grau de exigências aos arquitectos se eleva de forma muito rápida.

Aripa Arquitectos – Arquitectura de Saúde Uzina Books

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ESCUTAS

O duo Bet.e e Stef tem merecido há cerca de uma década as atenções do universo musical pop. A dupla canadiana é conhecida pela sua mestria em harmonizar as dinâmicas da pop com o jazz e o bossa-nova com os estilos latinos. Esta edição da Compost Records intitulada It’s All Right reúne dois cd’s, o primeiro com todos os êxitos do colectivo e o segundo com uma lista de bem conhecidos produtores como Richard Dorfmeister, Louie Veja, Nicola Conte, Nickodemos, King Britt, Rainer Trueby, Andy Caldwell e outros. Mais de duas horas de boa música em que se destaca uma ampla abordagem por estilos e tempos. São quinze temas por cada um dos cd’s, numa edição limitada que expressa as excelências vocais e instrumentais, num leque de canções repleto de balanço e sabores. Nas remisturas, ficam-nos outras boas impressões.

Bet.e & Stef It’s All Right Compost Records

O simpático Jack Johnson tem essa virtude de se manter fiel às suas afinidades musicais. E neste novo ciclo dentro do contínuo ciclo da sua vida, contam-se novas histórias e episódios que têm marcado a sua passagem pelo mundo. Tudo no domínio dos sonhos mundanos e de levar de cada período os sinais mais marcantes. E se as vivências quotidianas são importantes para deixar uma impressão mais realista às suas canções, elas também influenciam a cadência dos versos em contraponto à simplicidade da composição musical. As purezas retiradas dos instrumentos, as harmonias vocais e o registo com um toque caseiro reforçam o espírito do músico. O que julgamos mais rico deste disco é o alinhamento de histórias cantadas ao bom estilo da antiga tradição do folk e dos blues.

Jack Johnson From Here To Now To You Universal Republic Records

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O pianista/compositor Aaron Diehl traz-nos neste The Bespoke Man’s Narrative 10 temas cheios de pinta avançando por um sem-fim de complexidades rítmicas e harmónicas. E os seus companheiros deste novo disco são David Wong, no baixo, Rodney Green, na bateria e Warren Wolf no vibrafone. E nesta narrativa há todo um percurso que alterna pelas batidas mais vincadas e as danças de tempo mais onduladas. O que sentimos é uma boa dose de cumplicidades entre os músicos porém, sem nunca se sobreporem aos esquemas de cada tema. E os diálogos que se estabelecem são de um dramatismo conseguido e notámos isso com uma maior clareza no tema Blue Nude. Curioso como a doçura de cada instrumento se revela a cada improvisação, com cada recorte a revelar-se fundamental para a atmosfera. A interacção deste grupo é formidável!

Aaron Diehl The Bespoke Man’s Narrative Mack Avenue Records Distribuição: Distrijazz

Reencontro de Gilberto Gil e Vusi Mahlasela para um registo que casa as raízes latinas e sul-africanas. E se há coisas bonitas é escutarmos bons versos em diálogos com as melodias frescas, cheias de sons que surgem para nos abrir a novas paisagens e ficções de imaginários sempre ligadas à criatividade do Homem. Uma rica reunião de músicos que nos devolve outras visões sonoras do mundo, afastada das caixas pré-concebidas da indústria da música. E há esse manifesto político de que a música tem de ser produzida para as gentes, tem de lhes tocar no seu ser. As vozes, as letras com toda essa raça vibrante e colorida, que se amassa numa riqueza de composições. E os ritmos que nos são trazidos chamam-nos para esse território humano, de comportamentos e destinos contraditórios. Dez temas bonitos repletos de boas miscelâneas culturais.

Gilberto Gil – Vusi Mahlasela The South African Meeting of Viramundo Dreampixies Distribuição: Distrijazz

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Robinn tem no seu percurso enquanto baterista uma vasta experiência de trabalho com artistas tão distintos entre si como Air, Beth Hirsch, Sophie Barker, LTJ Bukem ou PJ Harvey. Estes envolvimentos artísticos terão(?) contribuído para uma visão mais abrangente do seu trabalho. A introdução deste Multiphonia apresenta-nos desde logo o seu propósito de procurar por texturas e diferentes profundidas sonoras. Admitindo a sua ignorância relativa a acordes ou de leitura de pautas, Robinn, talvez por essa circunstância, avança pelas composições abstratas quer nos instrumentais como nos temas cantados. E na palavra cantada junta-se-lhe Nathaniel Pearn, mais conhecido por Natural Self. O compositor cantor “obrigou” Robinn a estruturar os 14 temas aqui propostos. O todo tem um bom espírito e a força de nos despertar emoções.

Robinn Multiphonia Compost Records

É na forma como se apropriam das estruturas de temas de outras bandas e como as transformam numa visão particular, num discurso próprio, que os suecos Hellsongs nos captam a atenção. Se há sete anos atrás, com outra vocalista, pegavam em Motorhead, Van Halen ou Metálica, neste These Evil Times agarram em imaginários dos Rammstein, tema Engel, ou dos Black Sabath, tema Iron Man, revelando que na simplicidade das harmonias se conseguem ir para outros caminhos de intensidades. São versões pessoais que pretendem atirar o ouvinte para outra dimensão de composição musical. Há de facto muita ousadia no acto de desfazer a memória cristalizada que temos de certas canções e melodias. Não o fazem com soberba ou apropriação indevida, parece-nos que o intuito é surpreenderem-nos os ouvidos.

Hellsongs These Are Evil Times… Tapete Records

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A edição de autor de David Santos, neste Almost Visible Orchestra, de Noiserv, deixa-nos 10 novos temas que deambulam num ritmo próprio de músicas delicadas e letras sensíveis. Há para nós uma atmosfera que combina sonhos dormidos e factos reais da vida, sendo nessa intersecção que o Mundo de David Santos se expande libertando vivências, interrogações, estados de alma e de afirmações. Estamos perante uma sequência de momentos em que músicas e letras fazem uma viagem ao interior do autor. A orquestração dos sons fazem-nos um imenso sentido e nelas percebemos a capacidade de explorar novos esquemas melódicos. Fica-nos a ideia de como a cumplicidade entre o minimalismo de composição e o lado assertivo, quase cru, das ideias expressas nas letras, jogam na expressividade artística. Afectuoso e rico.

Noiserv Almost Visible Orchestra David Santos

As teclas de Ulrich Schauss e a guitarra de Mark Peters estabelcem um diálogo ao longo dos 10 temas deste Tomorrow Is Another Day. A transposição deste encontro revela-nos uma série de temas de certa forma presos a um aglomerado de impressões que acabam por ficar retidas numa cadência algo repetitiva de andamentos. Em alguns casos parece-nos uma viagem revivalista aos primeiros passos dados pela música electrónica. Parece-nos que à dupla faltou-lhe a capacidade de harmonizar as intenções e conseguir dar um vinco, uma identidade, a cada tema. A pouco mais do meio do terceiro tema é como que apagada a memória dos temas antecedentes. Poderá ser injustiça da nossa parte e o todo necessite de uma maior atenção e entrega de quem o ouve. Não nos despertou as necessárias cumplicidades.

Ulrich Schauss & Mark Peters Tomorrow Is Another Day Bureau B

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http://revistadesignmagazine.com

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