Design Magazine #1

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EDITORIAL Aqui está o número 1 da revista online portuguesa DESIGN MAGAZINE, a edição de Setembro/Outubro de 2011. É com optimismo e bastante determinação que pretendemos tornar esta revista num meio de comunicação direccionado para toda uma comunidade que partilha a língua portuguesa, divulgando temas relacionados com o design, arquitectura e outras expressões artísticas e culturais. Queremos dar uma visão variada sobre estes temas, privilegiando a nossa percepção do Mundo e criando sempre uma ligação com os leitores por uma via que, desejamos, muito para lá das tendências ou das modas. É também um dos nossos objectivos evitarmos a queda, sem propósito, em antevisões do futuro ou divagarmos numa linguagem fria e distante. Registamos a chegada de novos colaboradores, o artista plástico Rodrigo Costa, o arquitecto José Luís de Saldanha e o fotógrafo Rui Gonçalves Moreno. Queremos destacar neste número 1, a entrevista a Ludovica + Roberto Palomba, a dupla de arquitectos e designers italianos, que nestes últimos anos tem evidenciado uma qualidade e uma paixão notáveis pelo trabalho que faz. Rodrigo Vairinhos, um designer português que foi encontrar na Alemanha o meio propício para expressar a sua criatividade. Um elegante e inovador serviço de chá, dá-nos a conhecer o bom design de João Saldanha. A rubrica Food Design é uma participação exclusiva do chefe José Avillez, a quem agradecemos a sua estimada colaboração. Na arquitectura damos relevo ao trabalho do atelier MSB – Arquitectura e Planeamento, destacando dois projectos, uma construção de raiz e uma reforma, ambos na Madeira. Por fim, queríamos criar uma boa base de relacionamento com todos os designers e arquitectos que exercem por esse mundo fora, de forma a divulgarmos bons produtos, boas construções e fascinantes expressões artísticas e culturais. Há muito ainda por desvendar! Queremos deixar a porta aberta e provar que uma revista é tudo menos um monstro de sete cabeças no que aos critérios editoriais diz respeito. Tiago Krusse

Esta revista não está redigida nos termos do novo Acordo Ortográfico.



design MAGAZINE

CRIADA EM 2011 PUBLICAÇÃO BIMESTRAL ELEMENTOS À SOLTA – DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS MULTIMEDIA, LDA RUA ADRIANO CORREIA OLIVEIRA 153, 1B 3880-316 OVAR – PORTUGAL NIPC 508 654 858 geral@elementosasolta.pt EDITORIAL EDITOR E DIRECTOR EDITORIAL TIAGO KRUSSE tiago_krusse@netcabo.pt COLABORADORES JOSÉ LUÍS DE SALDANHA RODRIGO COSTA RUI GONÇALVES MORENO PRODUÇÃO GRÁFICA E PRODUÇÃO DIGITAL JOEL COSTA joel@elementosasolta.pt CÁTIA CUNHA catia@elementosasolta.pt CONTACTO EDITORIAL E COMERCIAL DESIGN MAGAZINE JARDIM DOS MALMEQUERES 4, 2 ESQUERDO 1675-139 PONTINHA - PORTUGAL




LOVE IS NOT A LOSING GAME TEXTO: RODRIGO COSTA ... Guardo a tua voz como inebriante recordação, como algo que levaria, eremita, se, hoje ou amanhã —qualquer amanhã—, decidisse ignorar o caos das sociedades governadas por decrépitos e perversos; se decidisse, eu próprio, refugiar-me num baú onde apenas coubessem eu e os meus pensamentos; desacreditado da viabilidade de tudo isto. Ficaria, quieto e cogitando, ouvindo-te. De canção em canção —entre canções, nas pausas—, proporia algumas alterações, alguns ajustamentos às ideias; porque, o modo como as pronuncias... não tem emenda. Começaria pelo título mais significativo. No fundo, o prenúncio da tua desistência; essa espécie de sinal de partida. E começaria por te dizer, Amy, que, no amor, só perde quem não ama, porque, pura e simplesmente, não se eleva nem mergulha nas profundezas, não se transcende; são seus, sem benefício nem dano, todos os espaços do vão da escada. Mas de que amor eu falo?... —pena que não pudesses ter-me perguntado! Podemos começar pelo amor entre pessoas e o não-correspondido, o que mais nos pode ensinar sobre a importância do amor-próprio —repara na coincidência do ponto comum, o hífen, que assinala a justaposição na formação das palavras; antes, separadas, e que, agora, se relacionam, não havendo, portanto, coincidências, mas a tal vigência do princípio de causalidade. No papel de Deus, eu mesmo O teria corrigido e te teria dito, ama-te, sobre todas as coisas; constrói a tua fortaleza e escreve e canta e serve-te das perdas para construíres as tuas vitórias. E, à medida que fores crescendo, perceberás que o que menos falta é onde perder; e acabarás por ter a consciência de que, sem derrotas, ninguém vence... Ver-te-ás, então, como o maior desafio; porque, de sofrimento em sofrimento, terás descoberto que só podes amar e querer a lonjura dos teus limites; esse ponto longínquo, ainda ininteligível; lá, dos confins, de onde se ergue a monumentalidade da tua voz —por alguma razão, amar está no infinito.. Se eu pudesse, se as minhas mãos me obedecessem; se a luz, que, algumas vezes, me ilumina, me iluminasse, reuniria as tuas cinzas, quais partículas de barro seco que humedeceria, juntando-as e recuperando a massa com que te resgataria. Moldar-te-ia, animar-te-ia e levar-te-ia ao início; dir-te-ia que os dons são as ferramentas com que se constrói o equilíbrio; e, penso, poderia mostrar-te sinais do futuro... Será que me declaro?... Em parte. Sem estar apaixonado, não te teria escrito. Sem ter sido tocado pela perda da tua voz; sem que, também ela, viesse lembrar-me os meus limites —o meu longínquo, o meu amor-próprio—, não correria à procura das palavras certas, não entraria, sequioso e aflito, na imensidão; não revisitaria as abóbadas que moldaram o teu canto, sob as quais se elevaram as tuas inconfundíveis harmonias. Sim, o profundo apaixona-me; amo esse longe de onde os teus sons vieram, esse tecto pintado de orações e de delírios... www.rodrigo-costa.net


“Hidden”, design de Tomek Rygalik para a Iker.

PRODUÇÃO POLACA TEXTO: TIAGO KRUSSE FOTOGRAFIA: YOUNG CREATIVE POLAND “Maple”, design de Gernot Oberfell e Jan Wertel (Platform) para a Iker.


É pela acção de curadoria de Miska Miller-Lovegrove e de Anna Pietrzyk-Simone que as indústrias criativas polacas têm vindo, desde 2009, a expor as suas potencialidades nos diferentes campos do design. Estas acções de marketing têm sido produzidas com o apoio financeiro da União Europeia e do governo polaco. A estratégia da Young Creative Poland foi posta em prática no início em 2009, com uma exposição no Reino Unido, pelo arranque da London Design Week e que se estendeu durante um ano, de maneira a captar o interesse do mercado britânico. Nestes últimos dois anos os organizadores escolheram Milão como o palco privilegiado para confirmar o potencial da Polónia, quer ao nível dos seus designers como das suas marcas.

“Mishell”, design de Piotr Kuchcinski para a Noti.

“Origono”, design de Piotr Kuchcinski para a Noti.


“Comma”, design de Renata Kalarus para a Noti.

O projecto polaco deu a este ano um ênfase exclusivo às boas parcerias existentes entre designers e marcas. Mais do que criar uma porta de esperança ou uma mera acção de marketing para as suas indústrias criativas, a presença polaca no Salão Internacional do Móvel de Milão traduziu uma força industrial e uma real capacidade de inovação de produtos. A imagem de uma Polónia com processos antiquados de trabalho fabril e incapaz de, ao nível empresarial, se afirmar em mercados mais competitivos, desfaz-se quando olhamos para estes produtos e neles percebemos força estética e consistência do design. Uma nota final para referir a importância que terão os novos valores do design polaco podendo acrescentar valor à economia do seu país, como também um papel fundamental na contribuição de um mais controlado recurso e uso das matérias-primas. Estes novos designers e estas empresas desempenharão um papel importante num crescimento sustentável e realista. Deverão ter em mente profundas preocupações com o meio ambiente, pois que a Polónia enfrenta uma série de problemas graves ao nível da poluição atmosférica, com repercussões graves na fauna e flora.

“Kamm”, design de Oskar Zieta.


“Plopp”, design de Oskar Zieta

“Termo”, design de Tomek Rygalik para a Noti.


LUDOVICA + ROBERTO PALOMBA ENTREVISTA: TIAGO KRUSSE FOTOGRAFIA: MAX ZAMBELLI



Onde e quando se encontraram? Encontrámo-nos na universidade em Roma, no período de estudantes. Frequentávamos os dois a universidade de arquitectura. Começou como uma amizade, uma parceria ou uma intenção de trabalharem em conjunto? Foi uma amizade que se tornou num relacionamento e que cresceu desde então numa experiência profissional partilhada. Eram colegas de universidade? Sim, eramos. Qual é a vossa formação? Estudámos ambos arquitectura e design porque é de facto uma maneira de percebermos a sociedade em que vivêmos. Mas porquê arquitectura e design? Para compreendermos os sonhos das pessoas. Como é que descrevem aquela atmosfera universitária? Anos cheios de vida, de coisas para fazer, para aprender, para ver e para descobrir. A curiosidade sempre nos guiou desde o primeiro momento. Foram tempos estimulantes e de aprendizagem? Sem dúvida! Recordamos como anos em que estudávamos muito mas que ao mesmo tempo queríamos fazer alguma coisa nossa, fazer design. Para rirmos juntos. Tempos para viver.

De quem receberam a paixão para seguirem as vossas vidas profissionais como arquitectos e designers? Viajar foi sempre a nossa primeira fonte de inspiração e a paixão do nosso trabalho. Conhecer pessoas, visitar lugares longínquos, deixarmo-nos “contaminar” e por fim sermos surpreendidos. Sem dúvidas que é a melhor forma de não perder o desejo de trabalhar e de fazer design. Por que razão decidiram abrir a Palomba Serafini Associati? Começámos por trabalhar juntos e descobrimos que as nossas ideias se tornavam mais fortes e mais completas como uma dupla. Como as duas faces da mesma moeda, as nossas duas visões uniram-se na perfeição e com naturalidade. O vosso trabalho apresenta sempre uma grande quantidade de referências culturais mas também uma excelência em trabalhar os materiais e um perfeito entendimento da inovação que advém da exploração de novas técnicas de produção e evoluções tecnológicas. Como é que conseguem isso? É apenas trabalho da vossa pesquisa e do desenvolvimento de ideias? O nosso trabalho é o resultado da nossa experiência, podemos dizer que vem directamente dessa experiência. É o resultado de influências culturais, de pesquisa tecnológica – em que continuadamente nos asseguramos -, das inovações – que são essenciais em design e arquitectura –. Nós trabalhamos misturando todas estas coisas porque é a melhor maneira de alcançarmos o melhor resultado.


Lab 03, design de Ludovica + Roberto Palomba para a Zucchetti.KOS. Premiado na 22ª edição do Compasso d’Oro.


A pesquisa em materiais é uma das chaves do vosso sucesso? Claro! Trabalhar com materiais diferentes, procurar novas soluções e esticando sempre os limites um pouco mais a frente. Esta é a forma correcta e a única maneira para nós trabalhamos. O sucesso vem como consequência, é o resultado de um trabalho feito com paixão, cuidado e elevado profissionalismo. Trabalhando para diferente tipos de empresas dá-vos a oportunidade de alargar a visão em distintos segmentos de produto. Como classificam esta infindável variedade de produtos que temos nos nossos dias? Como podem ver, no nosso dia-a-dia há mais e mais difusão, quer na arquitectura como no design. É a demonstração de uma sociedade que dia após dia é mais informal e progressiva. Noutras palavras, a sociedade em si está à procura de coisas novas. Ao invés de descrever e de qualificar o que já existe, nós acreditamos que é sermos melhores, e certamente mais estimulante, pensarmos no que virá... e trabalhar para isso. O vosso trabalho tem sido reconhecido por todo o mundo nestas últimas duas décadas. É realmente importante adquirir este reconhecimento ou aquilo que tomam como importante é o facto do vosso trabalho se encontrar sempre aos mais altos níveis de execução? Somos inspirados pela paixão pelo trabalho que fazemos. Sermos designers e arquitectos significa termos a possibilidade de melhorarmos a vida de outras pessoas através dos produtos que criamos. Por isso estamos saitisfeitos por recebermos prémios e é cla-

ro que eles são importantes. Eles são, antes de tudo o mais, o fruto do nosso trabalho como designers. O que de facto representa para vocês este reconhecimento na XXII edição do Compasso d’Oro pelo vosso trabalho no Lab 03 para a KOS e pela colecção Faraway para a Zucchetti.KOS? Uma grande emoção. Felicidade. O Compasso d’Oro é o prémio de design mais an-


Faraway Collection, conceito e design de Ludovica + Roberto Palomba para a Zucchetti.Kos. Menção honrosa na edição do Compasso d’Oro.

tigo do mundo. Estamos muito satisfeitos! Na vossa opinião quais são as linhas orientadoras para futuros projectos de design e de arquitectura? Arquitectos e designers, graças às inovações tecnológicas ao nosso dispôr, estão já (e estarão no futuro) livres para expressar o seu próprio estilo de uma maneira mais fácil, independentemente das linhas orientadoras ou das tendências. Contudo, acreditamos

que o que é fundamental são as proporções e o bom gosto, que permanecerão. Haverá espaço e oportunidades para todos? Acima de tudo, acreditamos que haverá sempre espaço para aqueles que têm o desejo e a habilidade de contar histórias através de grandes emoções, com simplicidade, sem gritar.


T4ONE JOÃO SALDANHA CRIOU ESTE SERVIÇO DE CHÁ. UM PRODUTO BEM PENSADO, DE LINHAS ELEGANTES E ARRUMADO. TEXTO: TIAGO KRUSSE FOTOGRAFIA: JOÃO SALDANHA João Saldanha, tem 37 anos, é licenciado em Design de Equipamento pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa e recentemente frequentou o curso de Design Gráfico e New Media na Restart. O Tea4one é um serviço de chá em porcelana, produto esse todo ele concebido e desenhado por João Saldanha. O serviço de chá é composto por chávena, bule, açucareiro e pires. Na memória descritiva do produto, sobre o conceito, o designer diz-nos que este serviço resulta de uma abordagem pessoal à porcelana utilitária e adequada ao espírito da nossa época. O Tea4one foi pensado para ser utilizado por uma ou duas pessoas e teve em atenção o facto de poder corresponder às expectativas estéticas do mundo de hoje, ao conforto do uso, à funcionalidade exigida e à sua original capacidade de arrumação. O designer João Saldanha salienta que procedeu a um acompanhamento de perto nas diferentes etapas ligadas ao produto na sua globalidade. Desde a fase incial do desenho



das peças à construção de protótipos em cerâmica, ao design gráfico no seu todo – logótipo, comunicação e embalagem –, e ao acompanhamento do processo produtivo na empresa Andias & Bernardes, de Aveiro, o designer certificou-se que a transposição da sua ideia era toda ela bem sucedida. Desde o último trimestre de 2010 que o Tea4one tem merecido a atenção do mercado e dos meios de comunicação. Em Outubro de 2010, João Saldanha viu o seu serviço ser seleccionado num concurso de designers promovido pela empresa Tema Home, ligada ao evento Noites Claras / Príncipe Real Live, em Lisboa. Nos meios de comunicação o Tea4one tem mereci-

do destaque não só pela sua abordagem estética e funcional, mas também por ser um produto todo ele 100% nacional. Uma nota final para referir que a porcelana e o consumo do chá são de facto assuntos que dizem respeito ao imaginário do mundo português. A porcelana que os marinheiros portugueses foram descobrir em terras longínquas como a China ou o Japão. É curioso salientar que os historiadores referem que o chá é mencionado em livros chineses do século IV. Da China, o uso do chá, partiu para o Japão no século XIII e coube aos sacerdotes da seita budista Sen a idealização da cerimónia japonesa de beber o chá, designada cha-no-yu. Só muito mais tarde, séculos XVII


e XVIII, é que o hábito de beber o chá é introduzido na Europa. E neste particular, foi D. Catarina de Bragança, rainha de Inglaterra, casada com Carlos II, a personalidade que divulgou em primeira-mão este cerimonial, levando à corte inglesa a tradição de beber chá. Apesar da vida difícil que corte inglesa lhe deu, a verdade é que D. Catarina de Bragança deixou por lá um novo hábito. Nos nossos dias o chá volta uma vez mais a ganhar novos consumidores e este serviço Tea4one do designer João Saldanha surge como uma inovadora abordagem e consistente em todos os seus aspectos. Gostámos! www.joaosaldanhadesign.wordpress.com


FOOD DESIGN

POR JOSÉ AVILLEZ FOTOGRAFIA: VICTOR MACHADO Preparação Coloque cada tranche de robalo dentro de um saco de vácuo e reserve até à hora de servir. Para os bivalves

MERGULHO NO MAR

Coloque um tacho ao lume com água e sal (15 gr por litro de água). Deixe levantar fervura e coza separadamente os bivalves. Conte 30 segundos para os mexilhões, 13 segundos para o berbigão e 50 segundos para o lingueirão fechado a vácuo. Este último poderá ser cozido em água sem sal. Arrefeça o saco do lingueirão em água e gelo e reserve no frio. Com a ajuda de uma faca pequena, retire os restantes bivalves das conchas e reserve no frio.

Ingredientes para 4 pessoas 4 tranches de robalo com 170 g, cada

Para a água do mar

Para os bibalves 12 unidades de mexilhão 12 unidades de lingueirão 20 unidades de berbigão Sal marinho Água mineral

Coloque a água num tacho largo e levante fervura. Junte o mexilhão e conte 30 segundos. Retire do lume, passe num superbag e aproveite todo o caldo. Utilize os mexilhões utilize numa outra preparação. Arrefeça de imediato.

Para a água do mar 400 g de mexilhão bem limpo 100 g de água

Para as algas e plantas marinhas

Para as algas e plantas marinhas 60 g de dilceia carnosa salgada 60 g de alface de mar 40 g de salicórnia 40 g de codium

Demolhe a alga dilceia carnosa numa taça com água fria até retirar o excesso de sal. Reserve. Numa panela, ferva água, acrescente a alface de mar e deixe cozer durante 30 segundos a 1 minuto. Retire e arrefeça na em água de mar bem fria. Sirva a salicórnia e o codium ao natural.


Para finalizar Coloque o robalo, ainda dentro do saco de vácuo, num banho-maria aquecido a 54ºC, durante 20 minutos. Aqueça os bivalves e as algas a vapor de água do mar e aqueça o caldo do mexilhão a 80ºC. Retire o robalo do saco de vácuo e coloque-o no tacho onde tem o caldo de mexilhão a 80ºC. Deixe ficar apenas 5 segundos. Retire e coloque no prato. Passe o caldo por um passador de rede e acrescente sumo de limão. Sirva o robalo com as algas e os bivalves.


RODRIGO VAIRINHOS CRIADOR DA NEO DESIGN, A VIVER E A TRABALHAR EM COLÓNIA, NA ALEMANHA.

ENTREVISTA: TIAGO KRUSSE FOTOGRAFIA: RODRIGO VAIRINHOS / NEO DESIGN


A que idade percebeu que queria tirar um curso de design? Decidi tirar um curso de design um pouco antes de me inscrever na universidade. A decisão de enveredar pelo design não foi uma coisa que ponderei muito cedo, foi algo que fui interiorizando. Desde cedo que me sentia bem no campo criativo das artes e nos trabalhos manuais, mas para alguém muito jovem, o conceito de design era uma coisa muito complexa e indefinida. Mais tarde, foi-se solidificando durante a universidade, a partir dos meus 19 anos. De qualquer forma, a minha decisão não podia ter sido mais acertada. Estive a pender para o curso de arquitectura. Que boas memórias guarda dos tempos de universidade? Guardo muito boas memórias da universidade, principalmente da sensação permanente de estar a aprender coisas novas e excitantes... da ingenuidade, da descoberta, dos novos projectos, do convívio com os meus colegas e amigos, da vida “descontraída” sem compromissos, de momentos divertidos e de muitas outras coisas. Foi uma etapa da minha vida que desfrutei bem. Que críticas faz hoje ao ensino que teve? Posso dizer hoje que o ensino que tive foi muito bom, deu-me as ferramentas essenciais para o meu desenvolvimento como profissional. Não tenho críticas negativas a fazer. Estudei numa universidade privada mas tive um ritmo de trabalho muito in-

tenso e exigente. Não foi fácil, ao contrário do que se possa pensar de uma instituição privada. As turmas de design eram relativamente pequenas e isso permitia-nos sempre o acompanhamento por professores, que nos conheciam bem. A relação e a troca de ideias entre alunos e professores eram constantes e muito positivas. Para além do mais, durante os 5 anos de curso, aprendi muitas coisas e tive a oportunidade de explorar as diferentes áreas dentro do design. Qual é o momento em que percebe que pretende ir para fora do País? Desde muito cedo que tinha a ideia fixa de ir para o estrangeiro, de conhecer o mundo e aprender outras culturas. Penso que essa vontade já tinha nascido comigo, pois apesar de gostar do meu país, sempre me senti atraído pelo estrangeiro. De qualquer forma, a ida definitiva para fora só foi possível com o finalizar dos meus estudos e de me ter apercebido do enriquecimento intelectual e profissional que essa decisão me poderia trazer. A ida para a Alemanha foi programada? A ida para a Alemanha não foi de todo programada, simplesmente aconteceu! Nunca me passou pela cabeça que pudesse ir lá parar. Era um país muito distante, com uma cultura que desconhecia e com uma língua que não dominava. Mas a decisão foi relativamente rápida, mais ou menos 6 meses antes. Esse é um exemplo das surpresas que a vida nos pode trazer, e que eu recebi


de braços abertos. As experiências profissionais vividas foram relevantes para si? Sem dúvida que foram importantes para o meu trabalho. Todos os dias aprendo algo de novo e as vivências, boas ou más, são sempre importantes. Mas aqui na Alemanha, apercebo-me que estou no centro dos acontecimentos e que as coisas ganham outra dimensão. A produção de sanitários foi algo que alguma vez pensasse abordar em termos criativos? A criação de sanitários surgiu inicialmente ao acaso. Tinha sido um tema que abordei enquanto estudante, mas nunca tinha pensado em trabalhar numa equipa de criativos de um produtor de louças para a casa de banho. O trabalho desenvolvido para a Keramag foi bastante interessante. Como primeira experiência profissional, aprendi muito estando inserido numa grande empresa, tanto em termos criativos, como em termos de funcionamento de um atelier de design Comparando a realidade alemã com a portuguesa, em termos de produção de sanitários, quais são as diferenças que encontrou? Eu penso que hoje em dia não existem grandes diferenças de funcionamento entre empresas europeias. Certas normas internacionais têm que ser cumpridas. Eu nunca me inteirei a 100% de como as em-

presas produtoras de sanitários funcionam em Portugal, mas penso que todas operam de forma semelhante, o mercado global assim o exige. Talvez exista na Alemanha um orçamento maior para a pesquisa e investimento nos departamentos criativos, percebendo-se que eles trazem grandes receitas às empresas. A abertura do seu próprio atelier foi um sonho concretizado ou o início da concretização de vários sonhos? Foi sem dúvida o início da concretização de vários sonhos. Este foi um ponto de partida de uma aventura que não quero que tenha fim. Os meus sonhos vão-se concretizando com o lançamento de novos produtos e de novas ideias. Foi simples arrancar com o negócio? Arrancar com o negócio foi simples. Aqui na Alemanha, a criação de uma empresa é muito fácil. Também tive a supervisão de pessoas experientes no campo empresarial, que me aconselharam. Por isso o investimento material inicial não foi muito grande e preferi apostar apenas na criatividade. Como conciliou o trabalho de colaboração como uma empresa e o seu próprio atelier? Conciliar duas actividades ao mesmo tempo foi bastante fácil. Estas eram actividades compatíveis. Eram quase a mesma coisa, pois na empresa que trabalhava também desenvolvia mobiliário e acessórios. Nos meus tempos livres dedicava-me inteiramente ao


Acid Lips

meu trabalho pessoal. Posso dizer que esta fase foi bastante produtiva, deu-me bastante prazer conciliar os dois trabalhos e aproveitar todo o sumo da minha criatividade. Quais as razões que o levaram a definir o seu atelier com o nome Neo Design? NEO é uma palavra grega que significa novo. Achei que seria um nome que iria resumir de forma objectiva todos os trabalhos saídos do atelier ou seja, produtos inovadores. NEO é também um nome curto, é um nome que fica.

Longo


Que dificuldades encontrou logo de início? Foram as dificuldades normais de qualquer nova empresa que se lança no mercado. Tive que aprender a literalmente tudo. Foi mais ou menos aprendendo fazendo. Foi preciso lutar e ser muito persistente até ter encontrado espaço para mim no mercado. Demorou cerca de 3 anos até me posicionar no mercado e durante esse tempo existiram alguns altos e baixos. Existem também pessoas que tentam tirar partido de jovens designers. Apesar de já ter passado algumas más experiências, tive a oportunidade de aprender muitas coisas e de ganhar uma barreira protectora. Que estratégias utilizou para mostrar o seu trabalho? Tentei participar nos grandes eventos internacionais de design, onde pensei que o meu trabalho iria ser apreciado por um público variado, interessado e sensível aos meus produtos. Apostei sobretudo no mercado europeu, Colónia, Milão, Londres, Berlim, Copenhaga e em exposições diferentes por países europeus. Importante para o meu trabalho foi também o interesse por parte da imprensa, que possibilitou a difusão dos meus produtos um pouco por todo o mundo Quantas pessoas trabalham consigo? Comigo trabalham 3 pessoas, que gerem as finanças, que me aconselham e que opinam acerca do meu trabalho. As decisões e o design dos produtos passam apenas por mim.

Frame Chair

É mais fácil começar uma actividade destas na Alemanha? A diferente que existe entre Portugal e a Alemanha é que os alemães têm um país com uma cultura industrial muito grande. A importância do papel do designer é desde há dezenas de anos reconhecida. Aqui é muito fácil trabalhar com os industriais e as empresas estão constantemente abertas a investir em coisas novas e a colaborar com designers. Existem também muitos eventos de design, sente-se que a produção é bastante fomentada. A localização geográfica possibilita também a deslocação de desig-


ners e de gente interessada na disciplina. Por tudo isto penso que na Alemanha as condições para vencer no campo do design são bastante favoráveis, o mercado também é muito maior, em relação ao mercado português, e isso cria mais oportunidades de negócio. Em que gamas de produtos apostou? Apostei numa gama de produtos bastante variada. A minha finalidade foi mostrar todo o meu potencial com produtos variados com que as pessoas se pudessem identificar. Inicialmente apostei em mobiliário, em cadeiras, sofás, puffs, passando pela iluminação e acessórios. As coisas básicas que as pessoas precisam em casa.

com os compradores, ouvimos as suas críticas e tiramos partido de todas as reacções. O contacto é fundamental. Damos a cara pelos nossos produtos e transmitirmos aquilo que pretendemos alcançar com as nossas coisas é muito positivo. E o mais importante é que nas feiras se criam as condições favoráveis ao negócio, onde se fazem as vendas e se ganham novos clientes e contactos para mais projectos. Quando destacam a qualidade do seu trabalho comunica isso ao mercado? De que formas? A melhor forma de comunicar ao mercado a qualidade do meu trabalho é inspirar regularmente o público com novos produtos

Deixa ideias na gaveta para mais à frente apostar nelas? Sim, sem dúvida. Acontece muitas vezes. Por vezes é bom deixar durante um tempo as ideias a fermentar na gaveta. Iniciar um conceito, depois deixá-lo, e passado um tempo agarrar nele novamente. Isso faz com que tenha tempo para ponderar e ter a certeza absoluta se hei-de avançar ou não com o projecto. Ou também de reciclá-lo, ou seja, de uma antiga ideia surgir algo novo e inesperado que na altura não estava à espera. Qual é a importância de expor em feiras? Sinceramente penso que expor em feiras é fundamental. Expomos os nossos produtos, temos o contacto directo com o público, e Camping


e mostrá-los em projectos de interior, mostrando as características práticas e as possibilidades que cada produto oferece. Mas para comunicar todo o meu trabalho faço uso de todas as plataformas disponíveis na Internet, e imprensa, através dos meus sítios, do Facebook, do Twitter etc, o que me permite estar mais próximo do mercado que pretendo alcançar.

arriscar numa gama de produtos? Apostar numa gama de produtos pode ser um investimento arriscado e por vezes um fracasso. Na maioria das vezes tento lançar uma gama por etapas, pois nunca sei ao certo se os produtos irão ter sucesso. Depois de os testar junto do público, penso então no próximo passo. Eu sou sempre muito cuidadoso neste aspecto.

Esse reconhecimento tem a importância decisiva, a que possa significar o salto profissional? É evidente que o reconhecimento por parte do público é muito importante para o meu trabalho, pois sem reconhecimento penso que não teria forças para continuar a trabalhar nesta indústria. Eu vivo muito das reacções que as pessoas me dão, pois são elas que compram e usam os meus produtos. Para além do mais, o reconhecimento faz bem ao ego e incentiva a minha criatividade. Mas como comecei a carreira faz pouco tempo, não me preocupo muito com grandes saltos profissionais. Já tive muitas propostas de grandes empresas, que queriam trabalhar comigo, mas não me deixei impressionar pelos nomes. Designers mais experientes do que eu aconselharam-me a seguir caminho. Uma vez que já consegui estabelecer-me como designer, continuarei primeiro a desenvolver trabalho para a minha marca. O salto profissional é toda uma questão de trabalho e de persistência.

Em que produtos tem feito mais aposta nos últimos tempos? Ultimamente tenho gostado muito de trabalhar com iluminação. Penso que nos períodos mais próximos será um tema que irei abordar com maior frequência.

Que peso é que tem para si quando decide

É um negócio arriscado ser-se designer por conta própria? Sem dúvida! Todos os negócios por conta própria são arriscados. Posso dizer que tive muita sorte e nem tenho passado muitos dissabores. O que é mesmo preciso é muita disciplina e saber transpor as adversidades normais que podem aparecer num negócio deste tipo. Agir com rapidez e precisão e ser-se firme nas decisões que se tomam. O retorno financeiro tem sido o esperado? Nunca faço expectativas algumas em termos do retorno financeiro que possa vir a ter. Felizmente, a gestão do dinheiro da minha empresa não sou eu que a faço. O importante mesmo é fazer aquilo que me dá mais prazer e de me sentir realizado. De qualquer forma, retorno financeiro é um


Neon

tema subjectivo, mas posso garantir que os saldos nas minhas contas são positivos.

grandes contrastes com os espaços e onde as pessoas gostem de os colocar.

Quais são os valores orientadores do seu trabalho enquanto designer? Enquanto designer tento que os meus produtos sejam genuínos e que transmitam os valores de funcionalidade que defendo. Originalidade não tem que ser complicada nem fazer uso de materiais high-tech. A inovação consiste em pegar em coisas que a princípio nos são familiares e transformá-las em algo novo e inesperado. Eu oriento-me segundo a minha filosofia de simplicidade. Gosto da geometria básica que me possibilita criar objectos que se enquadram em qualquer ambiente de forma neutra, sem provocar

Que razões definem a escolha dos materiais para os seus produtos? Eu escolho os materiais para os meus produtos de forma emocional. Os materiais que escolho para os projectos têm que ser materiais que eu conheça bem, aos quais eu tenha confiança e que sei que as pessoas se sentem à vontade para usá-los. Outro aspecto também importante é a manutenção dos materiais que utilizo, ela tem que ser simples, rápida e económica, pois os meus produtos são destinados à hotelaria, restauração, espaços públicos e comerciais e também aos espaços domésticos. Os meus


materiais preferidos, com os quais eu ultimamente tenho trabalhado, são a cerâmica e a madeira, por exemplo. São materiais que fazem parte do nosso quotidiano desde há séculos e com os quais as pessoas estão mais que familiarizadas. Para além do designer vê o seu papel também como o de um artesão? Sim, vejo o meu papel também como o de um artesão. Apesar de não ser eu a fazer os meus produtos e de encaminhar os meus projectos a empresas competentes, a minha forma de ser designer passa muito por mexer com materiais, de experimentar as formas e de sentir com as próprias mãos. Isso faz naturalmente parte de mim e da minha curiosidade, tal e qual como um artesão. Basta perceber como se comportam os materiais ou é preciso ir além disso? É claro que perceber como os materiais se comportam é bastante importante mas também é preciso ir mais além explorando detalhadamente todas as suas potencialidades. É por isso que a pesquisa e a experimentação são tão importantes no trabalho do designer. De certos materiais pensa-se que já estão explorados mas existe sempre a possibilidade de descobrir algo novo. A pesquisa e o desenvolvimento são apenas bandeiras apregoadas por empresas e designers ou são de facto etapas fundamentais no trabalho?

A pesquisa e o desenvolvimento, apesar de serem hoje em dia amplamente apregoadas por empresas nas suas campanhas publicitárias e media, é realmente uma realidade que as marcas e os designers fazem questão de enunciar como produto do seu trabalho. Antes da criação de qualquer produto existe todo um trabalho de pré-projecto, que se baseia numa extensa pesquisa. É um processo que passa por várias etapas como por exemplo identificar novos nichos de mercado, novas necessidades, novos materiais, novas tecnologias, novas oportunidades, o desconhecido e aquilo que ainda está por explorar. O desenvolvimento é o resultado e o culminar de todos os pontos anteriormente enunciados, que dão o valor e a razão de ser dos novos produtos. Sente muitas vezes que a grande maioria das pessoas não fazem a ideia do que é o design? Depende das gerações a que nos referimos mas acredito que hoje em dia a generalidade das pessoas tem um conceito mais sólido do que é realmente o design. Elas estão também mais informadas e despertadas para este tema, até porque vivemos rodeados por ele, mesmo quando apenas adquirimos um novo telefone. Quem é para si hoje um exemplo e uma referência no campo do design? Eu sou uma pessoa muito atenta ao que se passa ao meu redor e as minhas referências no campo do design são bastante variadas.


É-me difícil enumerá-las mas sou fã de todo o design original, que não seja mainstream, que estimule a minha imaginação e que me inspire. Que novidades podemos esperar da Neo Design? Da Neo Design podem esperar regularmente muitas novidades. Para o final do ano, princípio de 2012, estou a contar lançar uma nova colecção de iluminação e alargar a bem sucedida gama Small Light Collection. Estou também a programar para breve o lançamento de uma marca irmã, a Neoeditions, à qual vou dedicar atenção especial na criação de acessórios e pequenas pecas de design e tabletop. Mais projectos de interior e também colaborações com designers e outras empresas. Muitos projectos!

Small Light Collection

Chemistry


PARA LÁ DA ENVOLTURA DESIGN: MICHAEL ANDERSEN TEXTO: TIAGO KRUSSE O produto chama-se Kork, foi criado pelo designer industrial Michael Andersen e tem uma função que vai para lá do simples efeito de envolver o iPad. Estamos perante uma nova proposta de acessório para o produto da Apple, todo ele produzido com matéria-prima e engenho nacional. O molde que dá origem ao Kork foi pensado ao pormenor, tendo em conta comprimento, largura e espessura do iPad mas revela sobretudo uma preocupação pormenorizada ao garantir um acesso óptimo aos botões de comando e à existência das aberturas cirúrgicas para todas as portas do aparelho. Há no trabalho do designer Michael Andersen a ideia clara de que o seu produto jamais poderia

interferir ou retirar qualidades funcionais ao iPad. A leveza e resistência da matéria-prima utilizada complementam os objetivos de conforto e de protecção. O iPad fica com um toque mais agradável ao tacto e resguarda-se dos inevitáveis riscos a que o alumínio se encontra sujeito. A característica isolante térmica da matéria-prima é também uma mais-valia para o utilizador, que poderá funcionar com o aparelho durante longos períodos de tempo sem nunca sentir nas mãos o desconforto do aquecimento que é normal no iPad. A envoltura também permite que possamos colocar o aparelho noutro tipo de posições, como por exemplo encostado ao rebordo de uma mesa ou so-


bre um suporte ficando com a garantia que ele não deslizará com tanta facilidade. Referências finais para o facto da cortiça ser natural e reciclada, permitindo depois do fim do uso útil do Kork uma nova reciclagem. Este trabalho de Michael Andersen está muito para além do mero objecto decorativo e Kork evidencia de forma intuitiva as suas características sem nunca comprometer o bom desempenho do iPad.


ILUMINAÇÃO

CLOVER

Design de Brodie Neill para a Kundalini. As suas formas orgânicas foram inspiradas num imaginário floral. E intenção de esconder a fonte de luz e fazê-la atravessar essas espécies de pétalas foi a de produzir reflexos e brilhos. Clover foi moldado em poliuretano com um acabamento opaco e um reflector em alumínio. O designer australiano a viver em Londres, Brodie Neill, volta a surpreender no catálogo desta marca.

HANOI

Design de Federico Churba para a Prandina. Uma única folha de PMMA dá forma a um candeeiro de aparência simples. O seu aspecto tridimensional resulta de um complexo processo de dobragem. A estrutura, em metacrílico, foi moldada a quente. Hanoi é um candeeiro de mesa, disponível em dois tamanhos, que produz uma iluminação difusa. O apelo estético é uma combinação entre oriente e ocidente.


ICARO

Design de Brian Rasmussen para a Modo Luce. Uma peça produzida em aço, em quatro tamanhos diferentes e com versões para interior e exterior. O produto foi concebido em modo de suspensão ou de candeeiro de mesa. O Icaro de Brian Rasmussen apresenta uma leveza visual apesar do peso da estrutura, em fios de aço. A parte central do candeeiro pode ser utilizada com uma lâmpada à saliente.

MONEY

Design da Tobias Grau. Uma nova reinterpretação do bom e antigo candeeiro utilizando a tecnologia led. O baixo consumo energético e um quase inexistente aquecimento fazem deste peça um verdadeiro hino à sustentabilidade, do meio ambiente e dos recursos existentes. A gama apresenta-se nas versões de mesa, de chão e de tecto. Com uma boa difusão de luz, Money seduz-nos também pela sua elegância.


MR. LIGHT

Design de Javier Mariscal para a Nemo-Cassina. É uma presença bem-humorada para a casa, uma espécie de herói de banda desenhada que nos acena com o seu chapéu metálico. Foi produzido em duas versões, uma de mesa e outra de chão. Por debaixo do chapéu com reminiscências à Man Ray, Mr. Light apresenta o seu globo de luz. A sua forma de um homem cria o espaço para uma simpática companhia.

QUASAR

Design de Tobia Scarpa para a Gregoris. É uma peça geométrica, com o corpo central em alumínio e seis braços. Corpo e braços vêm equipados com 6 ou 12 leds. É um candeeiro que privilegia a racionalidade do consumo. Um controlo remoto permite colocar os braços até uma posição de 45 graus relativa ao corpo central. O corpo apresenta-se na versão a preto ou a cinzento. Existe a possibilidade de requisitar cores adicionais.


TWIN

Design de Hans Karuga para a Serien Lighting. Candeeiro pendular com dois braços articuláveis, que permitem levar a luz a lugares diferentes. Produzido em alumínio cromado e com cabos finos, o candeeiro marca uma presença agradável. A luz, directa ou lateral, é difusa e sai através do abat-jour sem criar qualquer tipo de sombras. A sua estética mecânica acaba por produzir um efeito de harmonia.

WITCH

Design de Marco Piva para a Leucos. Produzido em vidro soprado, o produto fascina-nos pelos seus contornos e por essa luz vermelha no centro. O arquitecto e designer italiano, Marco Piva, deu a Witch diferentes tipos de acabamentos numa gama de versões toda ela marcada por uma forte componente estética. Salientamos também o recurso ao uso de vidro soprado, que recupera uma boa tradição artesanal.


CASA WALWORTH ARQUITECTURA: MSB ARQUITECTURA E PLANEAMENTO TEXTO: TIAGO KRUSSE FOTOGRAFIA: RUI GONÇALVES MORENO









A Casa Walworth tem uma localização fantástica sobre a cidade do Funchal, na Madeira. O projecto da MSB Arquitectura e Planeamento quis tirar o máximo proveito desta localização privilegiada, encaixando a casa num terreno marcado por um declive acentuado e harmonizando-a na sua envolvente natural. Os arquitectos Miguel Malaguerra, Susana Jesus e Bruno Martins conseguiram construir uma casa que causasse o menor impacto visual, quer no sítio como na percepção que temos dela à distância. No lote de terreno, com cerca de 2500 m2, revelam-se esses bons propósitos de uma integração suave, sem sobreposições ao terreno, uma harmonia das formas e dos volumes, e um equilíbrio entre área construída e jardim. Do primeiro ao terceiro piso, a Casa Walworth foi pensada de forma a retirar proveito do terreno, no sentido de resguardar as áreas de maior privacidade e dotar o segundo piso, o espaço social da casa, de uma imensa janela aberta para a baía do Funchal. Os elementos importantes para o projecto foram a topografia, o campo de golfe – a Norte – e a vista para o Funchal – a Sul. Estas foram as referências mais fortes para imaginar a casa, traçar o seu percurso e implantá-la. Ao nível do desenho, a Casa Walworth teve em conta todos os seus aspectos funcionais, que não foram entrave para algum experimentalismo. O grafismo do campo de golfe, existente a nascente, foi porventura o ponto de partida para as formas ortogonais da construção. Baseando-se num conjunto de regras construtivas, os arquitectos conseguiram criar uma inequívoca harmonia de proporções.






O lote apresenta um declive de 17 metros sobre a estrada e esse facto não demoveu os arquitectos de fugirem à tradicional abertura de um buraco com um muro de suporte para enfiar a casa. Para os três arquitectos essa seria uma solução simples e esteticamente fraca, daí terem partido para um desafio de construção mais exigente mas com um resultado mais elegante e ao mesmo tempo seguro. O experimentalismo referido está associado às assimetrias da casa e através delas percebem-se as engenharias adoptadas, que permitiram alcançar uma boa construção. Destaca-se a presença forte do elemento relva, que não só retira o impacto construtivo ao local mas também reforça o contras-

te entre a casa e o jardim. Mas a relva está também presente na cobertura, é como se fosse o seguimento de um novo buraco do campo de golfe a nascente. No interior da Casa Walworth são as madeiras, faia e plátano, e a iluminação que dão um sentido de espectáculo a um ambiente tranquilo e inspirador. Os três pisos, com as corridas fachadas em vidro, permitem tirar total proveito das vistas. Em termos de isolamento térmico e acústico foram feitos um projecto que teve em conta a escolha do vidro para os perfis e os espaços foram devidamente isolados. Manteve-se assim a tranquilidade num local calmo e sossegado por natureza.








REFORMA NA CALHETA ARQUITECTURA: MSB ARQUITECTURA E PLANEAMENTO TEXTO: TIAGO KRUSSE FOTOGRAFIA: MSB ARQUITECTURA E PLANEAMENTO O atelier MSB Arquitectura e Planeamento reformou, na Calheta, na Madeira, uma fábrica de manteiga e uma padaria desactivadas. Os arquitectos Miguel Malaguerra, Susana Jesus e Bruno Martins puderam assim concretizar um projecto que se enquadra nos processos pelos quais têm mais afinida-

des, a construção de moradias. Aqui não se trata de uma construção de raiz pura mas antes uma reforma e uma nova construção em dois edifícios, uma fábrica de manteiga e uma padaria, que se encontravam ao abandono, em avançado estado de degradação e ruína. Falamos de reforma, pois o




atelier criou dois novos programas para os edifícios, modificando os espaços antigos, pensados para a produção e as actividades laborais, em áreas habitacionais. A reorganização dos edifícios levou em conta o que ainda era possível reabilitar, reforçando e reparando estruturas – paredes e tectos – e sempre com uma preocupação de preservar o imaginário histórico das antigas fábrica e padaria. Essa preservação é garantida também pelo local e pelo fidedigno respeito às originais áreas de construção. Em termos de percepção estética é notória a evolução e a inovação a que os edifícios

foram sujeitos. Na antiga fábrica de manteiga, portas, janelas paredes e telhado, recuperam a memória com novas soluções, que melhoram o apelo estético do edifício. O facto da pedra das paredes ser deixada à vista, dá-lhe uma outra elegância. Já a padaria cria um novo contraste, pois trata-se antes de uma nova construção mas limitada às áreas e aos volumes pré-existentes. A padaria evidencia uma bonita aplicação de chapa de madeira que, pela cor e a textura, produz um novo diálogo entre edifícios, novo e reformado, e produz o efeito de atenuar um pouco a percepção de proximidade entre


ambos. O tamanho das suas novas janelas são maiores o que previamente existia, ganhando a nova casa com mais entrada de luz natural. Recompondo um pouco da memória deste lugar na Calheta, ao nível exterior, os arquitectos puderam então reformar por dentro a fábrica da manteiga. Aqui, a substituição do programa interior é marcada pela introdução de uma nova estrutura dentro da outra já recuperada. É interessante percebermos, nos desenhos do novo projecto para a fábrica, que as estruturas se complementam e criam uma espécie de fronteira entre o antigo, recuperado e reabilitado, e o novo



que entra tal como uma jóia que se guarda numa caixa. A fábrica de manteiga dá lugar a um novo programa composto por dois pisos, mantidos à mesma cota. No piso térreo as áreas foram desenhadas para darem lugar a uma cozinha, zona de arrumos e uma sala de estar grande. No primeiro piso encontram-se 3 quartos de dormir, com casa de banho A nova construção no espaço da antiga padaria teve como desígnios preservar a sua implantação, a sua volumetria e as características formais. De padaria transformou-se numa casa pequena, com dois pisos. O piso térreo foi pensado para uma sala pequena



e uma cozinha. No primeiro piso o espaço foi organizado para albergar dois quartos de dormir e uma casa de banho. Uma nota final para referir que este projecto do atelier MSB Arquitectura e Planeamento mereceu uma atenção, interesse e o prémio por parte de entidades nacionais e estrangeiras, que reconheceram a qualidade da obra, quer ao nível do conceito como ao nível da construção.



O MERCADO DE PEIXE EM BESIKTAS ARQUITECTURA: GAD & GOKHAM AVCIOGLU TEXTO: TIAGO KRUSSE FOTOGRAFIA: GAD O projecto do mercado de peixe de Besiktas, em Istambul, na Turquia, é uma obra do atelier GAD, liderado pelo arquitecto Gokham Avcioglu. O mercado de peixe de Beskitas traduz a vontade popular e política da câmara de Istambul em revitalizar alguns bairros da cidade. Em Besiktas vive-se uma atmosfera muito próxima de uma vila, tendo esta zona de Istambul merecido atenção relativa a trabalhos de preservação e reabilitação

urbana, acções impulsionadas pelo facto da cidade do Bósforo ter sido nomeada Capital Europeia da Cultura no ano passado. O mercado de peixe de Besiktas foi reconstruído no coração comercial do bairro. O antigo mercado existente estava em péssimas condições, daí a municipalidade local ter decidido por uma nova reconstrução. A venda de peixe fresco em Besiktas representa uma actividade comercial de relevo, assim como






a pesca, daí a importância deste obra para a gentes locais como para os seus visitantes. Os elementos do atelier GAD e o arquitecto Gokham Avcioglu iniciaram o processo de design do mercado elaborando uma série de manipulações da área triangular do local e da sua superfície. Preencher o local com uma área de construção total de 320 m2 foi um bom ponto de partida para o atelier, no sentido que abria uma boa oportunidade para criar uma estrutura dentro do espírito de bairro e ao mesmo tempo simbólica. Para atingir um sentimento de atracção e uma atmosfera acolhedora ao mercado de peixe, Gokham Avcioglu decidiu por uma estrutura perfurada ao longo da sua periferia. Esta

técnica deu aso a uma concavidade, uma espécie de concha porosa. A decisão permitiu uma fluída interacção entre a estrutura e a circulação de pessoas. A construção desta estrutura côncava, em betão e aço, envolve toda a praça e apresenta-se aberta nos seus lados. Este formato concha permitiu libertar o espaço interior do mercado da construção de colunas, optimizando assim a área das bancas e da circulação de pessoas e mercadorias. O interior do mercado foi dividido em 6 zonas, todas elas ligadas sem quaisquer tipo de barreiras para além das bancadas. Estas bancadas em aço inoxidável foram trabalhadas à mão por peritos locais. No que ao sistema de ilumi-





nação diz respeito, é a tradição que dita a conservação de lâmpadas de 150 watt penduradas no tecto, uma forma de iluminar que é comum na grande maioria dos mercados de peixe de Istambul. O novo mercado de peixe de Besiktas revela o pragmatismo da solução proposta pelo atelier GAD e pelo arquitecto Gokham Avcioglu, não esquecendo também a abertura de espírito dos responsáveis pelo pelouro urbano local. Esta peça de arquitectura transformou-se num sinal de orgulho para uma comunidade ciente da necessidade de melhorar as condições do bairro e da sua vizinhança.


Fotografia de Marco Tamaro

PRÉMIO CARLO SCARPA PARA JARDINS TEXTO: TIAGO KRUSSE O vencedor da 22ª edição do Prémio Carlo Scarpa para Jardins 2011 foi Taneka Beri, uma vila na região de Atakora, no Benim. Todos os anos o centro de pesquisa da Fundação Benetton promove, com este prémio internacional, uma campanha para despertar as atenções para um lugar particular, rico em valores naturais, históricos e criativos. O júri do Prémio Scarpa premiou a vila de Taneka Beri tendo em conta o lugar, a forma e a vida. A comunidade Tangba é a responsável pela preservação deste lugar mantendo

as tradições dos conceitos e do que existe. É uma comunidade com um sentido singular de tempo e de espaço, que de uma forma natural soube salvaguardar a memória pela transmissão de conhecimento. As artes e os ofícios desenvolvem-se nessa base de tradições e regista-se uma vizinhança ciente da partilha de uma propriedade comum, em que todos se revelam interessados em preservar as suas casas. A comunidade sente-se perfeitamente integrada no seu ambiente e conceito natural.


Fotografia de Patrizia Boschiero


Fotografia de Marco Aime

Fotografia de Massimo Venturi Ferriolo


A vila de Taneka Beri localiza-se no noroeste de Benin, nos montes de Taneka e a sul da cordilheira de Atakora. É um local histórico em que os povos da região se cruzaram e em que encontramos os mantos de água das bacias do Volta, do Niger e do Quémé, rio que atravessa o país de norte a sul indo desaguar no golfo da Guiné. O lugar faz parte de um grupo de vilas cujas origens datam do século XVIII, uma época em que elas serviam de refúgio aos escravos foragidos do sul. O nome da região oscila entre o histórico Seserhà – casas sobrepostas – e mais recente pela terminologia Taneka Beri – grande taneka –. É uma região dividida em quatro partes designadas Satyekà, Tyaklerò, Galorhà e

Fotografia de Luigi Latini

Fotografia de Marco Aime

Fotografia de Patrizia Boschiero


Fotografia de Marco Tamaro

Fotografia de Patrizia Boschiero


Fotografia de Marco Aime

Pendoulou, cada parte habitada por núcleos familiares numerosos. O antropologista italiano Marco Aime fez uma recente excursão a Taneka Beri levando consigo um grupo de arquitectos paisagistas, que procurou recolher impressões e pistas que pudessem originar uma interpretação daquele lugar. No final da visita ficou claro para todos que aquele lugar tão distante e genuinamente preservado suscita um infindável conjunto de questões ao nosso conceito de cultura e à nossa mentalidade. O propósito do Prémio Carlo Scarpa é o de

aumentar a percepção e a prática no acompanhamento da paisagem. O prémio foi concebido como um instrumento oportuno de chegar a um público mais amplo do que a comunidade de peritos na matéria. Através da observação e da divulgação são interiorizados novos valores intelectuais e manuais, necessários para dar resposta aos requisitos específicos e particulares de cada lugar. O acompanhamento da paisagem pressupõe a identificação de uma paisagem específica e o levantamento das características desse lugar. Para se compreender a verdadeira


Fotografia de Patrizia Boschiero

Fotografia de Luigi Latini

extensão do lugar e dos seus valores, é fundamental uma abordagem criativa mas bastante sensível na aplicação de métodos rotineiros de observação, levantamento de dados e conclusões. O método consiste em pôr de lado os aspectos efémeros e superficiais focando-se na medição do sucesso baseado na tradição natural e na troca de experiências culturais vividas. Procura exemplos de equilíbrio entre conservação e inovação aceitando a constante mudança de gostos e o papel de natureza e da história, que podem divergir de forma radical de um período civilizacional para o outro. Proteger e divulgar o lugar são objectivos fundamentais deste prémio cujo nome presta homenagem a Carlo Scarpa (1906-1978), designer de jardins.


Fotografia de Marco Tamaro

Fotografia de Luigi Latini


JOGO DE ESPELHOS ARQUITECTURA PAISAGISTA: PISO TERREO TEXTO: TIAGO KRUSSE FOTOGRAFIA E GRAVURA: PISO TERREO

As arquitectas paisagistas Marta Malheiro e Francisca Figueira constituem a equipa da Piso Terreo, que criou o projecto “Memórias da Floresta” para a participação na 7ª edição do Festival Internacional de Jardins de Ponte de Lima. Com uma ideia simples, as arquitectas pretenderam dar uma dimensão ao ter-

mo memória e através dele partir para uma reflexão séria, colectiva e individual, sobre a floresta. A ideia é percorrermos um caminho designado e durante esse passeio irmos percebendo as texturas ali presentes, o ciclo da natureza e até mesmo a intervenção do Homem. No final da passadeira somos con-




vidados a sentar num banco defronte para um enorme espelho. Aí começa um jogo de espelhos, um confronto entre o reflexo do jardim e as lembranças que cada um de nós guarda de uma floresta. Mas parece-nos que o termo memória, utilizado no projecto de Marta Malheiro e Francisca Figueira, remete para essa capacidade que o Homem tem de conservar e reproduzir ideias e conhecimentos previamente assimilados. Se já temos definido e identificado os elementos que compõem uma floresta, não será então muito difícil agir de forma a respeitarmos a conservação da mesma. E aquele espelho

no jardim, que nos permite observar e ter diferentes perspectivas do que nos rodeia, de pouco serviria se não nos sentássemos no banco em frente dele e aí tivéssemos a capacidade de desfrutar livremente o que a instalação nos propõe no seu todo. Para concluir, uma referência para o Festival Internacional de Jardins de Ponte de Lima que apresenta uma boa dinâmica como evento, conseguindo atrair profissionais nacionais e estrangeiros sensibilizando o grande público para as temáticas ligadas ao meio ambiente. www.pisoterreo.com



EM ROMA ARQUITECTURA: ALVISI KIRIMOTO + PARTNERS TEXTO: TIAGO KRUSSE FOTOGRAFIA: ANNA GALANTE

A Casa-O é o resultado de um projecto de renovação levado a cabo pela Alvisi Kirimoto + Partners, num apartamento localizado em Roma e com uma área de 150 m2. O espaço encontrado apresentava uma tipologia típica do estilo de construção italiano dos anos 70. Todos os aspectos do antigo apartamento foram revistos e redefinidos para criarem o ambiente ideal para uma família com duas crianças pequenas. A reforma do apartamento esteve nas mãos de uma equi-

pa inteiramente feminina da Alvisi Kirimoto + Partners, composta pelas arquitectas Junko Kirimoto, Arabella Rocca, Chiara Quadraccia e Carolina Ossandon, que explorou o seu instinto feminino e a sua experiência, de forma a interpretar os requisitos e as necessidades de todos os elementos da família. O elemento principal desta reforma de interiores é uma clara divisão entre as áreas de dormir e de convívio. O soalho em carvalho branqueado expande-se por todo o









apartamento harmonizando com as paredes brancas, os tectos suspensos e a maioria do mobiliário, cuja grande parte foi trabalhado à mão – pela equipa de arquitectos –, e conceptualizado para cada lugar específico da casa. O resultado traduz um conceito visual de continuidade e harmonioso para as duas áreas divididas. A área de convívio desenvolve-se em torno de um paralelepípedo estruturado em corten, tornando-se o elemento principal na casa através das nuances do seu impacto vi-

sual pelos dois ambientes que o envolvem. O paralelepípedo tem cinco metros de comprimento por metro e meio de largura. O lado voltado para a sala de estar apresenta um nicho forrado a vidro pintado a branco cortando a extremidade que contorna o enfiamento da parede para a sala de jantar e revelando o que tem dentro. A asa do paralelepípedo que se volta para a sala de jantar incorpora zona de arrumos. O lado voltado para a cozinha volta a revelar o visual branco do paralelepípedo. O quarto e último



Destaque para os puxadores de portas em corten, design da Alvisi Kirimoto + Partners, e para o volume do paralelepĂ­pedo que alberga a casa de banho para os convidados, com parede e chĂŁo revestidos a Corian, da Dupont, assim como o lavabo produzido em Corian.


lado desta estrutura dá para o hall e integra a casa de banho para as visitas. A presença do corten é também ela visível por todo o apartamento, nos puxadores de porta quadrados, design da Alvisi Kirimoto + Partners. A área de convívio é dominada pela espaçosa sala de estar, na qual foram produzidos nichos e prateleiras nas paredes assim como estantes de livros suspensas. As linhas sóbrias e a leveza destes elementos reforçam ainda mais a luminosidade presente. A sala

de estar faz ligação directa para a sala de jantar, equipada por uma grande mesa e rodeada por três bancos corridos em suspensão. Esta ala, têm uma atmosfera ligeiramente nipónica e apresenta um grande aparador, também ele suspenso à mesma altura dos bancos corridos. Portas de correr com painéis de vidro opaco abrem o caminho para a cozinha, concebida como um volume branco mesmo ao lado do paralelepípedo em corten. A cozinha tem uma disposição na forma l e integra um con-



junto de armários altos. A área de dormir dispõe de um quarto principal e de dois quartos para as crianças, aos quais se juntam uma divisão para vestiário com arrumo para sapatos e lavandaria. O espaço é marcado por uma sequência de portas brancas, em madeira branca lacada. A casa de banho para as crianças é marcada por um contraste entre tons, chocolate e branco. Destaca-se a presença de uma estrutura produzida em Corian, da Dupont, que produz um desenho vertical que se expande do tecto pelas paredes tornando-se numa

prateleira, lavabo e banheira. Um espelho de grandes dimensões cobre uma das paredes chegando a entrar na área da banheira. A escolha dos sanitários e outros acessórios apresentam uma semelhante fluidez de formas. A casa de banho do quarto principal está-lhe directamente ligada. As paredes foram cobertas por kerlite branca em contraste com o mármore preto africano que desenha o chuveiro e o lavabo.



APARTAMENTO PALMA ARQUITECTURA: PEDRA SILVA ARQUITECTOS TEXTO: TIAGO KRUSSE FOTOGRAFIA: JOテグ MORGADO





A reforma do apartamento Palma é um projecto de 2011 do atelier Pedra Silva Arquitectos. O apartamento, localizado em Lisboa, tem uma área de 160 m2 e apresentava uma tipologia típica dos anos 80. Tal como os edifícios pombalinos, o apartamento apresentava uma divisão muito rígida nas suas diferentes áreas de habitação. À entrada, na planta original, o hall era o princípio para uma sequência de divisões separadas, com fronteiras muito bem delimitadas entre o que eram áreas sociais, privadas e de serviços. Cada espaço ia funcionando no seu conceito estipulado, autónomo, separado de uma lógica de convivência e designando que as tarefas diárias estivessem como que



fragmentadas pela casa. A nova proposta de reforma no programa do Apartamento Palma revela uma fluidez do espaço, que o afasta na totalidade da pesada formalidade existente. O objectivo foi tornar todo o espaço numa imensa área de convívio e salvaguardando a privacidade de cada área quando assim desejada. É um novo programa, que funciona a partir de uma grande e central área social tornando o espaço habitacional adequado aos hábitos de um espírito de viver a casa que é assumidamente mais aberto, livre. A casa foi reestruturada de uma ponta à outra, da cozinha até a um recanto de estar criou-se uma área que congrega as zonas de serviço, social e a entrada do apartamento.






É uma nova dimensão de espaço, que através das suas paredes deslizantes permite ajustar a composição da casa, nas suas áreas sociais e privadas, de acordo com o desejo de quem nela habita. Centraliza-se o coração da casa e permite-se que se abram ou se fechem enfiamentos entre cada uma das áreas que constituem este centro. Em contraponto, a área dos quartos foi mantida num espírito comum de privacidade resguardando-a das restantes divisões. O trabalho do atelier Pedra Silva Arquitectos foi ao encontro de um ritmo de vida doméstico pautado por uma exigência de liberdade de movimentos e de uma flexibilidade espacial consoante diferentes intensidades quotidianas.


Em 1945, os industriais Marcel Bich e Edouard Buffard fundaram a sociedade PPA (porte-plumes, portes-mines & accessoires), com o objectivo de fabricar canetas de tinta permanente e componentes para lapiseira na cidade de Clichy, França, iniciando com isso uma das mais notáveis e lucrativas das empresas mundiais do pós-guerra. 65 anos depois, a maioria das acções do grupo empresarial estão ainda nas mãos dos seus familiares: os Bich têm 40% da empresa; os Buffard têm 4,5% (valores arredondados). Marcel Bich nascera em Turim em 1914, embora a família fosse oriunda de Aosta – um dos mais curiosos mosaicos da realidade regional que Garibaldi unificou no século XIX, e que hoje conhecemos como Itália. Na região do Vale de Aosta, predominava historicamente um dialecto local de raiz franco-provençal (o “patois” Valdôitan) que ainda hoje é falado. O bisavô do criador da PPA, Emmanuel Bich, ocupara mesmo o cargo de «síndico» (um cargo administrativo) de Aosta – motivo pelo qual o Duque da Sardenha lhe concedera o título de «barão», pelo qual o seu bisneto industrial será por vezes tratado. De Aosta, historicamen-

te, dava-se emigração para França, e em especial para a região de Paris. 5 anos depois da criação da empresa PPA, Bich e Buffard lançam no mercado o artigo que irá imortalizar a sua empresa: a esferográfica «Cristal». Em 1953, a PPA assume o nome BIC, marca entretanto registada por perda da letra H do apelido do «barão» Bich - um excelente nome comercial, pronunciável em qualquer língua do Mundo.


A BIC CRISTAL TEXTO: JOSÉ LUÍS DE SALDANHA «The rib-edged cylinder of brittle transparent plastic, the curved pen top (always the same colour as the ink) with the clip that adorns shirt pockets and clipboards, the little curved stopper on the end of the pen that inevitably succumbs to the ravages of bit and chewing: these traits are recognizable worldwide». (1)


A intuição para o negócio, e a persistência na investigação científica, fazem-se acompanhar de um gosto vincado na divulgação da marca: quantos não recordam os anúncios televisivos de recorte impecável de um abstraccionismo mecânicos e seco?!: - Bic laranja da escrita fina, - Bic cristal da escrita normal, - Bic, Bic, Bic, - Bic, Bic, Bic. A empresa de Marcel Bich investira durante anos na investigação em tintas que se adequassem às cargas das esferográficas que desejavam comercializar: havia que encontrar a viscosidade adequada, de forma que a tinta «escorresse» da carga para a ponta metálica sem borrar o papel. Manda a verdade histórica que se esclareça que a invenção da esferográfica não é da BIC. Trata-se de uma criação do judeu húngaro Laszló Biró. Nascido em Budapeste em 1899, de profissão jornalista, apresentou a caneta esferográfica que desenvolvera com o irmão Georg após vários anos de aturadas investigações, na feira industrial dessa cidade, em 1931. Em ’38, patenteou o invento em Paris, para onde emigrara em fuga às leis anti-judaicas da Hungria. Em 1943, mudou-se para Buenos Aires (onde viria a morrer em 1985) juntamente com o irmão, tendo patenteado a invenção da caneta de ponta metálica em esfera nessa cidade no dia 10 de Junho desse ano. Na Argentina produz esferográficas sob o nome comercial «Birome», que prenunciam o futuro arquetípico das criações de Bich e Buffard no plano internacional: «bi-

rome» é a marca comercial da caneta que Biró lança no mercado argentino, e esse é o nome que nesse país é dado à esferográfica (qualquer que seja o fabricante). No vizinho Brasil, curiosamente, a universalização de expressões comerciais é ainda mais lata: xerox passa a designar, no «país irmão», qualquer cópia de um artigo. Não é invulgar que alguém faça um xerox de uma chave de porta… A PPA de Bich e Buffard toma conhecimento da invenção de Biró, e adquire a patente em 1950. Sobra ao argentino naturalizado a glória no país das Pampas, e sem dúvida uma fortuna confortável – ainda que muito aquém das somas astronómicas com que Bich e Buffard se verão envolvidos. Em todo o caso, o dia 29 de Setembro é consagrado a Biró na Argentina: o seu dia de anos é escolhido como o «dia do inventor». Para além do sentido de oportunidade, a Bic tem também outros méritos: desenvolve o processo industrial de produção que permite baixar os custos consideravelmente. Assim, quatro anos depois da entrada em produção da Bic-Cristal, a marca internacionaliza-se, com entrada no mercado italiano. 1956 vê-a entrar no Brasil. Em 1958, a Bic adquire a célebre «Waterman» americana, num prelúdio de aquisições sucessivas que ao longo dos anos acrescentam produtos e marcas ao portefólio do grupo empresarial, e de que avultam, a título exemplificativo, os lápis «Conté» (em 1979); as canetas (igualmente americanas) «Sheaffer», em 1997; ou a marca alemã de tinta correctora «Tip-Ex» no mesmo ano (em ’92 já haviam comprado a americana «Wite-Out»).


No que se refere às esferográficas, que de momento são aquilo que nos interessa, há que referir que o brilhante logótipo surge logo no ano de lançamento da «Cristal» . O «designer» Raymond Savignac, contratado pela empresa em 1952, irá criar a figura do rapazinho de escola «estilizado» de cabeça de ponta metálica incluído numa campanha publicitária de 1961, que no ano seguinte será somado ao logo da Bic – aliança com a qual a empresa se acha pronta para a conquista do mundo. Em 1961 dá-se a alteração da ponta esférica de 1 milímetro da «Cristal» em aço, para o uso do tungsténio. Em 1970, já vendem 6 milhões de unidades/dia no Mundo inteiro. Em 1991 – ano do 40º aniversário da caneta - a Bic havia já vendido 60.000 milhões de canetas de «Cristal»!!! Esta peça notável de «design» acha-se também consagrada no mundo das Artes desde 2005: ano em que tanto o MOMA de Nova Iorque como o Museu Nacional de Arte Moderna/Centro Georges Pompidou apresentam no seu acervo expositivo a singela canetinha transparente da Bic, que o fabricante anuncia em plena realidade «comunitária»: 3 km de escrita por 1,50€! Falta assinalar que a «Cristal» evidentemente figura na enciclopédia «Phaidon Design Classics» - compilação em 3 volumes de 2006 (ela mesma, um clássico) onde se elencam as 999 obras mais notáveis do Design mundial. A esferográfica da Bic leva o número 380 (que se organizam por ordem cronológica, e não por critério qualitativo). Porém, aquilo que verdadeiramente notabiliza a produção da marca francesa é a

natureza arquetípica1 da caneta Bic. A omnipresença da esferográfica no nosso quotidiano eleva-a, por banalização e abundância, a peça quase invisível aos olhos: tal como o Volkswagen Carocha, o Morris Mini, o ar que respiramos, o «God Save The King» (que há mais de meio século se conjuga no feminino) ou a supermodelo Claudia Schiffer, torna-se virtualmente impossível encontrar quem goste, ou desgoste, da caneta Bic. Ela não é bonita nem feia: ela simplesmente É. Por outro lado, deve realçar-se o forte simbolismo que, no período do pós-guerra, reveste a caneta: é a primeira do tipo descartável. Contrariamente à tradição no mundo das canetas, a sua vida termina inexoravelmente no caixote do lixo. Uma caneta Bic é igual a outra, e o seu preço irrisório ajuda a sublinhar o sentido arquetípico. Perdê-la não custa, porque rapidamente a recuperamos na loja da esquina. Afinal, a definição que nos é dada pela Porto Editora é incompleta, porque omite o facto de que «as coisas concretas são cópias» - mas sem dizer que elas o são de modo imperfeito, já que a sua matriz se acha fora do mundo real. No caso da Cristal isso não sucede porque «a Bic» como objecto «não existe»: o que identificamos é o arquétipo. A presença cristalina também não deixa de lhe conferir um ar de varinha-de-condão… Em 1972, a Societé Bic passa a ser cotada na Bolsa de Paris, para no ano seguinte conseguir o impensável: repete a proeza no domínio dos arquétipos e lança o isqueiro descartável. «O Isqueiro Bic»!!! O assunto mereceu um estudo pelo menos


tão aturado quanto aquele que conduziu à produção maciça de esferográficas. A ênfase, desta feita, incidiu na segurança do objecto. O que não surpreende: um isqueiro é uma pequena bomba de combustível. A via escolhida pela «Societé Bic» foi lúcida. Comprou um fabricante de isqueiros francês (a «Flaminaire»), cuja equipa de Design tomou a responsabilidade de desenvolver o objecto. O desenho do isqueiro Bic segue os preceitos parcimoniosos da sua irmã escrevinhadora: preço irrisório, materiais residuais, apresentação minimalista. O resultado, como anteriormente, resulta numa peça cuja perda só custa quando por perto não temos outra fonte de lume. Quem pode arrogar-se a clarividência de sentenciar quanto à beleza do objecto?!... «O» Bic leva o número 766 na relação da Phaidon. Curiosamente, o isqueiro Bic segue as pisadas da «Cristal» noutro aspecto: também aqui, não foi o clã Bich ou seus associados a inventar o conceito do isqueiro descartável. Essa façanha coube a Jean Inglessi, em 1948. Um homem, também, de talentos: é nada menos que o inventor da bilha de gás doméstica – em 1934. Mais: em 1962, a também francesa «Cricket» já havia iniciado a produção e comercialização de isqueiros descartáveis – mas não conseguiu com qualquer dos seus artigos (o «Cricket Maxi Lighter» é o nº 792 da Phaidon) igualar a história de sucesso «do» Bic. No ano imediato ao seu lançamento, a Bic já vendia 290.000 isqueiros por dia. O historial da empresa francesa acha-se portanto repleto de façanhas. 1975 vê a che-

gada da lâmina-de-barbear da Bic, que não chega aos parâmetros da enciclopédia da Phaidon (sendo verdade que a única lâmina que figura nessa relação é a Gillette Trac-2, que só tem a «cabeça» descartável: (2). Além da linha de pequenos barcos de recreio (com ou sem vela) que a Bic também produz, em 2008 é a vez dos telemóveis de marca Bic, desenvolvidos em parceria com a Orange e a Alcatel – mas contrariamente aos dados iniciais, o telefone não é verdadeiramente descartável, pois pode ser recarregado. Nem todos os desenvolvimentos da Bic foram porém igualmente bem-sucedidos: fizeram por exemplo uma incursão muito mal sucedida no mundo dos perfumes em 1988, ao qual nunca regressarão… Notas Sara Manuelli para Phaidon Design Classics. Volume 2. 2006. 2 Arquétipo – s.m. 1. Modelo, protótipo, paradigma; 2. FILOSOFIA (Platão) tipo ideal e supremo de que as coisas concretas são cópias […] Dicionário da Lingua Portuguesa. Porto Editora, 2004. Archetypum, ī – n. arquétipo, original, modelo. Archetypus, a, um – adj. original, primitivo. Dicionário Latim-Português/Português-Latim. Porto Editora, 2000. 3 Phaidon Design Classics. Volume 3. 2006. Artigo 741.



RITA PEREIRA, designer Com que idade começou a trabalhar? Aos 23 anos, quando acabei o curso. Qual é a diferença entre um bom e um mau design? O bom design numa peça, seja de produto ou gráfica, reúne uma série de características que fazem com que a peça seja fácil de usar por parte do utilizador, fácil de gostar, e comunique de forma eficaz. Ser sustentável também é muito importante. Mau design é o oposto, mas esta resposta poderia ser muito mais longa, porque é um tema discutível e difícil de resumir. Que inovações em design nacional destaca desta primeira década do século XXI? Gosto muito das peças do designer Rui Alves, que foram distinguidas no Festival Internacional de Design de Berlim 2010, e também dos projectos em cortiça que têm surgido, a Corque Design tem bons exemplos. Tenho que mencionar o Colectivo Drama, que está agora a começar - é importante divulgar os projectos nacionais que têm coragem de sair da casca, principalmente com as dificuldades económicas que o país atravessa. Qual é o defeito da comunicação em Portugal? Pode haver em Portugal problemas de comunicação, mas cada vez mais há plataformas livres e disponíveis para quem melhor as souber aproveitar.

Sente-se tratada de forma diferente por ser uma designer? Não. Temos que saber conquistar o nosso espaço e respeitar o espaço dos outros, e tudo corre bem. Com que projectos gráficos editoriais, nacionais ou estrangeiros, mais se identifica? O Jornal i, que tem vindo a ganhar consecutivos prémios e distinções a nível nacional e internacional (e que tem uma equipa magnífica com quem tive o privilégio de trabalhar), e a revista Edit, que é um projecto nacional cheio de sangue na guelra e com quem estou actualmente a colaborar. Quando participamos nos projectos identificamo-nos mais com eles porque fazemos parte deles. Também adoro a revista Egoísta, a Zoot... há tantas! Quais são os seus ícones de design? Não tenho. Neste momento a informação chega-nos de forma tão contínua que é fácil encontrar surpresas também em designers anónimos. As massas percebem de facto para que serve o design? Penso que sim, mesmo que não seja uma percepção directa - se uma coisa não estiver bem concebida, as pessoas desistem de a utilizar, e sem se aperceberem trocam ideias em relação ao design dos objectos que utilizam no dia a dia.


http://cargocollective.com/ritapereira

Ilustração de Rita Pereira

Quantas vezes pensou que tinha capacidade para fazer um trabalho melhor do que alguns que foram feitos por putativas celebridades da sua área? Tenho mais tendência para reparar nas coisas muito bem feitas e pensar: “Uau, quem me dera ter feito aquilo.” Como é que gosta que o seu trabalho impressione? É uma sensação muito boa ter um trabalho reconhecido por terceiros, às vezes o mais difícil é impressionarmo-nos a nós próprios. O que não abdica para iniciar um trabalho? De concentração e uma ideia boa. Dão-lhe o tempo que necessita para produzir? Às vezes mais, outras menos, temos que nos adaptar, mas regra geral tenho tempo. Sente que o que faz é efémero? Sim. Cada vez mais. O consumo é rápido e as coisas esgotam-se. Estão sempre a aparecer novidades, mas às vezes o que é muito bom volta. Não estou a falar do meu trabalho, mas de grande ideias. Os locais de trabalho são bons? Já trabalhei em vários sítios diferentes, uns melhores, outros menos bons, nenhum sem condições. Alguma vez sentiu que é subaproveitada?

Sim. Principalmente no início da carreira profissional, quando saí da faculdade. Faz parte, porque é difícil encontrar trabalhos, mas temos que ser pro-activos e dar a volta por cima. Se pudesse fazer regressar alguns valores perdidos, quais é que seriam? Estas perguntas são difíceis. Acho que os valores não estão todos perdidos, felizmente, mas se houver alguém que deixa o valor da amizade para trás, que se lembre de a resgatar. É importante ter amigos. Que julgamento faz da DESIGN MAGAZINE? Acho muito positivo que haja projectos nacionais deste tipo, fazem falta referências em português, principalmente para promover os nossos designers, arquitectos e artistas. Há ainda muito trabalho por fazer, muitos designers escondidos por divulgar, e estas bases online são óptimas rampas de lançamento e são muito boas para trocar ideias novas. Desejo boa sorte e agradeço muito a oportunidade de participar.



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