Revista Aime 9

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Quer ser tatuado pelo Led’s?

ANO II r Nº 9 r 2009

saiba como na página 105

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Caetano O’Maihlan

É ele quem dá as cartas.

“Não me sinto PECADOR” Internacional Análise do mercado editorial gay em

Londres

ISSN 1982-9558

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CAETANO O’MAIHLAN

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R$ 13,90 C 7.00 $ 22,00

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EDITORIAL ANO II r Nº 9 r 2009

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o mês de junho, a AIMÉ aproveitou para lançar uma edição comemorativa do Mês do Orgulho Gay. Dentre as reportagens relacionadas, teve destaque a matéria “Que Parada é essa?”. Nela, falamos sobre a importância do evento que se tornou a maior parada LGBT do mundo e, ainda, mostramos como foram as preparações (o chamado bastidor). Mesmo com retornos positivos, os meses subsequentes à edição não foram somente de festa. Os casos de agressão – e até mesmo morte – que marcaram a parada inquietaram a redação da AIMÉ. E foi então que decidimos tratar de um assunto que, mesmo em tempos modernos, parece não se transformar: o preconceito. Nesta edição, a repórter Lívia Velasco, na matéria “A pior forma de manifestação: o preconceito”, mostra como concepções equivocadas podem levar a situações extremas. Também expõe a maneira como a homossexualidade é encarada em outro país. Será o preconceito maior no Brasil? Fernanda Faria, na reportagem “O sonho de ser pai”, trata de outro tema delicado: a vontade de muitos homossexuais de ter filhos. Essa decisão, que deveria ser pessoal ou resolvida entre quatro paredes, não foge aos julgamentos preestabelecidos. A sociedade ainda não está preparada para o conceito de diversidade familiar. Na Seção Comportamento, revelamos de que forma a discriminação afeta o atendimento ao homossexual. Segundo pesquisa realizada durante uma das paradas de São Paulo, 50% dos jovens gays afirmaram evitar unidades de saúde, o que dificulta o diagnóstico precoce de doenças. Não por acaso, a experiente jornalista Isabel Vasconcellos inaugura sua coluna na AIMÉ com o seguinte tema: “O preconceito dissimulado”. Nas próximas edições, Isabel focará outros tantos assuntos que fogem da abordagem da mídia. Com essas e outras reportagens, a AIMÉ privilegia o espaço para debates com a esperança de que estes resultem em transformações. Assim, quem sabe chegue um momento em que ninguém mais se lembre do que um dia foi o preconceito. Boa leitura!

Ana Maria Sodré

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mente humana anda as voltas com o medo, violência, insônia, depressão e cada vez mais com baixa estima. As químicas artificiais não alcançam os resultados esperados, e uma grande parte da sociedade trabalha com dor. Mais e mais pessoas estão doentes, isto é, as forças vitais em desarmonia provocam alteração da química natural da pessoa. As células aceleram ou diminuem sua produção energética, sendo necessário ingerir a química artificial, intoxicando a corrente sanguínea, advindo novas patologias. Na Clinica Luz e Paz, é possível recuperar esse manancial energético, necessário para a saúde manifestar-se, que apenas está latente dentro de você. Venha conhecer como obter harmonia, paz, amor e dignidade. Sentirás através do tratamento, o equilíbrio físico, mental, emocional e espiritual. Obterás a combinação especial entre a consciência cientifica e mística, fora do âmbito religioso. A Clinica Luz e Paz faz um trabalho conjunto com o IRELP – Instituto de Recuperação Energética Luz e Paz, que tem como objetivo, “O despertar da consciência por meio da Técnica Terapêutica Reiki, equilibrando a energia do ser humano e ao seu redor, gerando alegria, amor, luz e paz interior”. Esse trabalho tem a função de angariar fundos para a construção do Instituto e lar para crianças abandonadas, onde serão educadas e tratadas por mestres formados nessa instituição, capacitado-os para serem humanos solidários, com equilíbrio emocional, mental, espiritual e físico. Formando um futuro construtivo com mentes elevada, unidas com o Universo.

Terapia em grupo

Terapia Individual

CURSOS: REIKI I “O Despertar”

Através da Clinica Lua e Paz realizamos tratamentos individuais com uso das técnicas a seguir: Reiki Alinhamento de Chakras Reflexologia AMMA / Shiatsu Massagem Interativa Massagem de Recuperação da medicina chinesa (Tui Na e Tui Na ortopédico) Meditação conduzida Conscientização energética

“Uma experiência de auto-libertação”

REIKI II “Transformação” “É um processo que permite a participação do Universo na vida do indivíduo”. REIKI III “Realização” “Realização significa ser integral (Holístico – Todo)”. MESTRADO EM REIKI “Consciência de Luz” “Ninguém cura outra pessoa, apenas a ajuda curar a si mesma, infundindo-lhe uma carga energética”. Infantil “REIKI I para as crianças de 10 a 13 anos”. Todos os cursos são terapêuticos, eliminam o estresse, ­ depressão e ativa os órgãos, sistema nervoso e une o ser com a Energia Universal.

EMPRESAS “Energia, mente e prosperidade” “Integração da equipe empresarial para um maior rendimento, união, compromisso e ação saudável”.

Obtenção de cura e melhora nos seguintes casos: Síndrome do pânico Estado de coma Depressão / Câncer Debilitados fisicamente Cardiopatias Estabilização do sistema imunológico (H.I.V.) Recuperação de maus hábitos e vícios Equilíbrio Emocional Clareza de Pensamentos Saúde Física / Força Espiritual

Rua Luís Antonio Rodrigues, 150 - 06503-112 Itaim Mirim - Santana do Parnaíba - SP Tel: 11 4154-7002 - Cel: 11 8196-3449

www.irelp.com.br contato@irelp.com.br

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colaboradores

Lopso o s p Lo o s p o L EDITORA

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Fernanda Sodré

11 5096-2456 | 11 7734-4848 aime@revistaaime.com.br fernanda@lopso.com.br www.revistaaime.com.br http://revistaaimeoficial.blogspot.com

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Márcio Delgado Internacional Fernanda Faria Especial Natalia Barenha Literatura e Cinema Joaquim Andrade Around Adriano Zanni Sexo Léo Shehtman Decor Lívia Velasco Extra

Lopso Lopso o s p o L

Felipe Teram Teatro Isabel Vasconcellos Opinião Davi Dantas Ensaio de Capa Marco Túlio Neves Arte

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E X P E D I E N T E

Issn: 1982-9558 Aimé é uma publicação bimestral da Editora Lopso Comunicação Ltda. Rua Vieira de Morais, 420 8º andar Campo Belo São Paulo (SP) CEP 04617-000 Tel. (11) 5096-2456. Diretora Geral e Editorial: Ana Maria Sodré Diretora Superintendente: Fernanda Sodré Projeto Gráfico / Designers: Alexandre Almeida / Hudson Calasans Jornalista Responsável: Nina

Rahe DRT 509-MS (marina@lopso.com.br) Reportagem: Mariana Tineo / Raphaella B. Rodrigues Revisão: Isabel Gonzaga Diretora Corporativa de Publicidade: Cristiana Domingos Executivos de Contas: Davi Marques (davi@revistaaime.com.br) / Daniel Duracenko (daniel@revistaaime.com.br) Circulação e Assinatura: assinaturas@revistaaime.com.br - Tel. (11) 5096EDITORA 2456 Distribuição em Bancas: Fernando Chinaglia Números atrasados: A Editora Lopso atenderá aos pedidos, havendo disponibilidade em estoque, ao preço da edição atual, por intermédio de jornaleiros. As matérias assinadas não refletem a opinião da Revista Aimé. De acordo com a Resolução RDC Nº 102, de 30 de novembro de 2000, a Revista Aimé não se responsabiliza pelo formato ou conteúdo dos anúncios publicados. É proibida a reprodução parcial ou total da Aimé sem a devida autorização da Editora Lopso.

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índice 10 variedades

Inspiradas na experiência que tiveram na França, as psicólogas e parceiras de longa data na cozinha Elis Feldman e Maria Lyra conceberam o Ateliê no Escuro Gastronomia.

14 música

Segundo a revista especializada em música NME, “os La Roux são a grande sensação da música britânica do momento”.

16 teatro

A Dama do Cabaré, retrata a boemia, os excessos e a malandragem do Rio de Janeiro dos anos 30.

18 cinema

Três anos depois do sucesso mundial e controverso do personagem Borat, Sacha Cohen vive um repórter austríaco homossexual no filme Bruno.

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20 literatura

42 entrevista

22 opinião

48 arte

24 decor

52 sexo

Caio Fernando Abreu teve uma existência atribulada pela constante necessidade de experiências novas e pelos sentimentos sempre à flor da pele.

Foi quando o ser humano inventou a monogamia para a mulher que todos os problemas sexuais da humanidade começaram.

Diferente da decoração de casas e apartamentos, no Barco Chacal tudo foi pensado em termos de praticidade e buscou-se aproveitar o espaço.

30 capa

O modelo e ator Caetano O’Maihlan acredita que já está mais do que na hora de quebrar a barreira do preconceito.

No banheiro feminino do restaurante, Albert troca as calças jeans, a camiseta e os tênis pelas extravagantes roupas e aos poucos Dindry aparece.

A avenida 23 de maio é um dos cenários escolhidos pelo artista Eduardo Kobra para o projeto Muro das Memórias.

Um gay bem resolvido, uma esposa desinformada e, no vértice principal da figura, um marido, pai de família, ávido por experiências sexuais com pessoas do mesmo sexo.

58 boys

Algumas páginas cheias de homens lindos e olhares sedutores.

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66 luxo

Depois de atrair a atenção da crítica especializada e virar “queridinho” entre os habitués da Micasa, o arquiteto e designer Guilherme Torres comemora: a icônica mesa JET feita com exclusividade para a loja de Houssein Jarouche é só sucesso!

70 especial

Como realizar a vontade de ter filhos e ainda enfrentar o preconceito tão evidente nos tempos modernos.

74 sos

Maurício* era um incompreendido. Tinha alguns não tão poucos hábitos que o isolavam até mesmo do mais simples convívio social.

76 moda

Nada de pretinho básico. Agora a vez é do branco.

84 comportamento

98 led’s

86 extra

102 around

Segundo pesquisa feita durante a 12º Parada do Orgulho Gay, 82% dos LGBTT avaliam os serviços de saúde como inadequados e só buscam assistência médica em casos de urgência.

“Nunca [sofri] nenhum tipo de agressão física. Mas já fui chamado de viadinho, pederasta e escória da sociedade.”

90 internacional

Variedade de revistas para o público gay na Inglaterra atende a todos os gostos, até os de quem não tem dinheiro.

92 ensaio indiano

Aproveitando a moda Índia, preparamos este ensaio lindo. Are Baba!

As tatuagens conquistaram a pele de modelos, patricinhas, modernosos, adolescentes e, como já era de se esperar, viraram figurinhas fáceis entre o público gay – sempre atento a todas as tendências.

Nova York: como aproveitar o verão na “capital do mundo”.

106 ensaio lúdico Ai, que ar bucólico!

114 perdido e achado

Garoto de praia! Para se divertir, não poderia ser diferente, o garoto joga futebol e adora surfar!

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[variedades]

140Gay

Jantar à luz de velas, não! A moda é comer no escuro! Inspiradas na experiência que tiveram na França, as psicólogas e parceiras de longa data na cozinha Elis Feldman e Maria Lyra conceberam o Ateliê no Escuro Gastronomia, para oferecer uma vivência sensorial diferente a partir de um novo contato com o alimento. Na entrada do salão os participantes são vendados e acompanhados para o jantar por um guia. Depois do jantar – com duas entradas, um prato principal e uma sobremesa

– são borrifadas essências florais e outros estímulos sensoriais ao som de música ao vivo e as vendas são retiradas. Além do cardápio que apresenta sabores e texturas variadas, o ambiente também é pensado para explorar o paladar, audição, tato e olfato. O Jantar no Escuro acontece em São Paulo, toda penúltima terça-feira do mês, no restaurante Capim Santo. As inscrições são feitas pelo e-mail atelie@noescurogastronomia.com.br.

Campanha pelo casamento gay O estilista americano Marc Jacobs lança camisetas com estampas em prol do casamento homossexual. Com a frase “I pay my taxes. I want my rights” – em português, “Eu pago meus impostos. Eu quero meus direitos” –, o estilista faz campanha para a legalização da união entre pessoas do mesmo sexo. As camisetas estão à venda nas lojas da linha Marc by Marc Jacobs e custam US$ 24 (cerca de R$ 45,00). 10

Acompanhando a onda do Twitter, a rede de relacionamento Club Be Yourself criou o 140 Gay, um microblog para a comunidade GLBTT que permite a inserção de, no máximo, 140 caracteres. Para ter acesso às publicações, basta se registrar e começar a escrever e receber as novidades de seus amigos e de outros portais cadastrados. Quem quiser conhecer, o endereço é http://140gay.com

Madonna fora do

YouTube

Madonna fora do YouTube As gravadoras Universal Music, Sony Music Entertainment e EMI Music já renovaram o contrato com o YouTube para liberar o acesso a clipes de seus artistas, mas a Warner ainda discute os termos para a renovação. A primeira gravadora a comparti­ lhar os videoclipes de seu hall de artistas, como Madonna e Green Day, até agora não chegou a um acordo sobre os termos financeiros com o site de vídeos. Enquanto isso, nada de clipes oficiais da estrela Madonna no YouTube.

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O ator Sérgio Abreu aparece nu sob as lentes do fotógrafo Mauri Granado

Videogame para o mundo gay Para quem gosta de videogame, a Rockstar Games, produtora do GTA IV (Grand Theft Auto), lança a versão gay do jogo. Em The Ballad of Gay Tony o jogador será Luis Lopez, braço direito de um dos empresários mais poderosos do “mundo gay” de Liberty City que já apareceu em outra versão do vi­deogame, mas como um personagem secundário. A versão gay será lançada para o XBOX 360.

Consumo de fibras em versão stick Com a correria da vida moderna, comer bem e de forma saudável ficou cada vez mais difícil. Pensando em solucionar tal problema, a Novartis lançou o Benefiber Stick Sachet. O consumo regular de fibras, associado a uma dieta equilibrada e a hábitos de vida saudáveis, é fundamental para a garantia da saúde do intestino e do bem-estar. Na versão stick, será possível manter os hábitos alimentares e garantir o consumo diário de fibras em quantidades suficientes para o organismo, misturando Benefiber a sucos ou outros alimentos. Mais informações no site www. benefiber.com.br

Para divulgar sua carreira de vocalista da Banda Projeto SA, que fez um show intimista de estreia no Teatro Galharufa, na Praça Roosevelt, em São Paulo, o ator Sérgio Abreu aparece nu em ensaio fotográfico. Para o novo show, Sérgio compôs duas canções: Cadê e Você. Na televisão, Sérgio também se prepara para um novo desafio. Depois de viver o galã romântico Lucas na novela Revelação, do SBT, Sérgio agora se prepara para entrar na segunda fase de Vende-se um Véu de Noiva, na mesma emissora. No folhetim de Janete Clair, adaptado por Íris Abravanel, o ator vai interpretar Leonardo, um empresário bemsucedido e mau caráter.

Conselho Federal de Psicologia aplica censura em psicóloga que diz “curar” gays O Conselho Federal de Psicologia decidiu aplicar uma censura pública como punição à psicóloga Rozângela Alves Justino, que oferecia terapia para que gays e lésbicas deixassem de ser homossexuais. De acordo com a decisão, ela infringiu o Código de Ética da Psicologia e uma resolução do conselho, de 1999, segundo a qual a “homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão”. Segundo o Conselho Federal de Psicologia, Rozângela demonstrou tratar a homossexualidade como uma doença ao oferecer terapia para que gays passassem a ser heterossexuais.

Em 2007, uma ONG de defesa dos direitos de homossexuais, sediada em Nova Iguaçu, entrou com uma re­ presentação no Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro pedindo a cassação do registro profissional da psicóloga. O conselho decidiu por uma censura pública. A psicóloga recorreu ao Conselho Federal de Psicologia, que manteve a punição. Rozângela Justino afirma que considera a homossexualidade um distúrbio, provocado principalmente por abusos e traumas sofridos durante a infância. Ela atua como psicóloga há 28 anos e diz ter “aliviado o sofrimento” de vários homossexuais. AIMÉ

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Show confirmado

Seleção de elenco para seriado gay O seriado gay Arouche by Night está selecionando elenco para a produção da primeira temporada, que conterá 11 episódios de 40 minutos cada. O seriado contará a história de Robson, um adolescente gay de família humilde que resolve sair de casa para morar com um amigo de infância, o qual acaba se transformando em uma espécie de guru e irmão mais velho do rapaz. Na nova vida, Robson conhece e se apaixona por Mauro, quarentão e soropositivo. Outros personagens também se envolvem em conflitos afetivos – como um casal gay que se vê frente a frente com a realidade da traição e da infidelidade conjugal, e um professor de educação física he­ terossexual e prestes a se casar que tem seu noivado rompido quando a noiva descobre que ele teria tido uma experiência sexual com o irmão dela. A proposta de Arouche by Night é mostrar o universo gay e seus personagens como realmente são, sem crucificar o homossexual e também sem transformá-lo em pobre coitado ou em dono da verdade. Mais informações no site www. arouchebynight.com.br

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A cantora inglesa Lily Allen confirmou dois shows no Brasil para o mês de setembro. Parte da turnê de lançamento do álbum It’s Not Me, It’s You, as apresentações serão nos dias 16, no Via Funchal, em São Paulo, e 17, na HSBC Arena, no Rio de Janeiro. A cantora está na fase europeia dessa turnê. Lily Allen esteve no País durante o Festival Planeta Terra, em 2007. No Brasil, a jovem artista teve seus ál-

buns lançados pela EMI, e já alcançou o topo das paradas radiofônicas com a música de trabalho The Fear, incluída na trilha da novela Caras e Bocas, da TV Globo.

Mario Queiroz lança sua coleção de underwear O estilista Mario Queiroz, em parceria com a empresa TKTS Underwear, lançou na edição de verão da São Paulo Fashion Week (SPFW) a coleção “Just for Mario Queiroz”. Ela se diferencia em formas, materiais, combinações de cores e estampas, e apresenta desde cuecas caneladas, passando por modelos confeccionados com malhas tecnológicas, até as feitas de 100% algodão. As estampas e as cores seguem a coleção “Verão 2009/10 Mario Queiroz”: os riscas de giz interrompidas e as miniorquídeas aparecem também no underwear. Além das tradicionais peças em preto e branco, destacam-se as combinações inusitadas de cores, como amarelo, vermelho e azul.

Campanha Não Homofobia será divulgada na TV A campanha Não Homofobia, idealizada pelo Grupo Arco-Íris de Conscientização LGBT, do Rio de Janeiro, ganhou um filme publicitário que será veiculado em emissoras como Sony, MTV, TV Cultura, AXN e Animax. O vídeo, assinado pela agência de propaganda Giacometti, de São Paulo, e cedido ao Grupo Arco-Íris, tem 30 segundos.A campanha Não Homofobia tem como objetivo colher assinaturas virtuais para a aprovação do Projeto de Lei Complementar (PLC) nº 122/06, que criminaliza a homofobia no País. Até o momento, o abaixo-assinado já contou com a participação de 55.034 pessoas.

O filme da campanha pode ser encontrado no site www.youtube.com

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[musica]

Por Fernanda Faria

A potência de The Gossip O trio está de volta com seu quarto álbum: Music for Men. E o sarcasmo começa pela capa e o amadurecimento do trio. E está cheio de provocações também. A começar pela capa, estampada com a bela foto de Hanna Billie. Quem olhar rapidamente para a foto irá pensar que Billie é um homem. O grupo apostou na parceria com o produtor Rick Rubin, que já trabalhou com artistas como Red Hot Chili Peppers e Green Day e mostrou aos integrantes a direção exata de suas habilidades. Heavy Cross, o primeiro single do álbum,

é com certeza o hit do momento. A música exalta a voz estridente e marcante de Ditto, além de ser a preferida para quem quer se jogar na pista. 8th Wonder mostra que, apesar de o disco ser mais dançante, o rock também marca presença. Vertical Rhytm tem tudo para ser o segundo single, já que tem a combinação perfeita: guitar­ ras e sintetizadores. O resultado: uma explosão de sons que estarão embalando muitos garotos e garo­ tas por esse mundo afora. Para conhecer o trabalho dos divertidos e irônicos integrantes do The Gossip é só acessar: www.thegossipmusic.com ou www.myspace.com/gossipband

Talentosa, polêmica e eleita a pessoa mais fantástica do rock pela conceituada revista de música britânica NME. É claro que só podía­ mos estar falando de Beth Ditto, vocalista da banda The Gossip. Se mesmo assim você não se lembra dela, com certeza deve ter dançado muito ao som de Standing the Way of Control, que tocou até os ouvidos cansarem da voz potente de Ditto. A afiada vocalista reúne todas as qualidades capazes de fazer a dife­ rença no cenário musical: é lésbica, ativista dos direitos humanos e não tem vergonha de ser gordinha. Apesar de não se enquadrar nos padrões ditados pela indústria da moda, a vocalista acabou reco­ nhecida como ícone fashion e vanguardista da atualidade, e suas músicas embalam as melhores festas hypes e modernetes de todo o mundo. Ainda integram o Gossip, o guitarrista Brace Paine e a bate­ rista Hanna Billie. O álbum Music for Men mostra com clareza a coesão

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La Roux – La Roux

(Polydor, 2009) Segundo a revista especializada em música NME, “os La Roux são a grande sensação da musica britânica do momento”. O duo inglês é composto pela cantora e compositora Elly Jackson e o coescritor e coprodutor Ben Lang­ maid. Os dois fazem um autêntico eletro rock, deixando evidente a influência dos anos 80 e de artistas que marcaram essa época, como De­ peche Mode, Tears for Fears, David Bowie, além das bandas do cenário eletrônico atual como Daft Punk, Justice, Hot Chip, entre ou­tros. O que eles têm em comum? Todos usam e abusam de sintetizadores e a dupla britânica adora isso. É praticamente impossível não cantarolar “I’m going in for the kill, I’m doing it for a thrill... uuuuuh!”, refrão da bonitinha In for the Kill, single que já conquistou o segundo lugar nas paradas ingle­ sas. Sem dúvida, La Roux é a revelação do rock eletrônico este ano. Para conhecer, ouvir e gostar, basta acessar www.laroux.co.uk

Matt & Kim – Grand

(Fader, 2009) Matt toca teclado e Kim, bateria, e os dois também cantam. O duo veio do Brooklin e chega para mostrar como é possível fazer boa música com poucos e essenciais instrumentos, e, é claro, com muita criatividade. Apesar de Grand, segundo álbum da dupla, ter sido lançado no começo de 2009, eles ficaram conhecidos por aqui recentemente, devido ao sucesso de Yea Yeah, música do álbum de estreia, lançado em 2006. Dois singles já foram lançados, Daylight e Lessons Learned, que rendeu um clipe polêmico, no qual Matt e Kim seguem pelas ruas da Times Square, em Nova York, fazendo um striptease durante um dia bem frio (http://www.youtube. com/watch?v=bJkymylTNU4). Os dois estiveram há pouco tempo no Brasil, durante um festival de música indie e alguns espectadores garantiram que eles fazem uma apresentação enérgica, com direito a muitos pulos e até alguns moshs. Para saber mais sobre Matt & Kim acesse: www.myspace.com/mattandkim AIMÉ

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[teatro]

Por Felipe Teram

Tirania da existência

O que se passa na cabeça e no coração daqueles que governam? Esse é um questionamento bastante corriqueiro – ainda mais quando assistimos a escândalos (ou crises) protagonizados por caprichos pessoais de nossos políticos. Atrás do poder asseado pelo protocolo, há toda a imperfeição emocional do ser humano que o exerce. Incomodar-se com isso não é apenas sinal de que o assunto é pertinente ao tempo presente, mas sim de que a questão é tão velha quanto as próprias instituições de poder. A montagem da peça Liz, da companhia paulistana Satyros, percorre essa discussão balizando-se em um texto do autor cubano Reinaldo Montero sobre a rainha inglesa Elisabete I e suas aflições pessoais à frente do poder, em pleno século 16. A direção da peça é assinada por um dos fundadores da companhia, Rodolfo García Vázquez. O vigor com que fez valer suas vontades pessoais, junto com a sagacidade sustentadora de um reinado que sofreu diversas tentativas de golpe fizeram de Elisabete I uma persona intrigante, ótima para ser retratada nas artes. No filme do diretor Shekhar Kapur, Elizabeth (1998), os dispositivos de coerção política, acompanhados por um entrelace amoroso mal resolvido, dão a tônica da história da rainha. Por outra via, Liz prende atenção ao mostrar o lado mais íntimo da perso­ nalidade de Elisabete, que suportou o peso de ser ao mesmo tempo uma mortal e a representação física do poder de uma nação. Se no cinema as questões sociopolíticas têm tamanho condizente com a importância do reinado elisabetano para a história do Reino Unido, já no texto de Montero as tensões da arte de governar ganham sabor de angústia ao aproximar o espectador do mundo interior da rainha. Contar uma história do século 16 no teatro não é fácil: as formalidades da corte, o jeito despótico de se governar, a vida sombria nos castelos, tudo parece oposto ao modo como vivemos hoje. Para a imersão nesse universo, alguns arranjos cênicos são necessários a fim de aproximar o 16

espectador. Isso pode ser percebido no figurino dos atores e na confecção do cenário, ambos compostos de retalhos coloridos – parecidos com a estética da brasileira festa junina. Trata-se de um jeito moderno de desconstruir o clima soturno dos castelos, das vestimentas hiperelaboradas e de toda pompa over que envolvia a vida da corte inglesa naquela época – através de um outro, e mais colorido, tipo de excesso estético. A composição da trilha sonora parece seguir a mesma lógica do cenário: a música popular contemporânea ocupa o lugar da música de época. Roberto Carlos, Velvet Underground, Beatles e até Amy Winehouse são apenas algumas das referências utilizadas para dar emoção à vida palaciana de Liz. O grupo Satyros já tem 20 anos de fundação, e não hesita em arriscar alto no sincretismo de referências: seja na concepção de seu espaço, na trilha sonora, ou mesmo no cruzamento de temáticas. Com todo esse aparato, não é surpresa a peça conseguir um uníssono entre o tempo histórico da trama e as preocupações da realidade do público. A fragilidade, no entanto, reside na pressa com que os atores emitem suas falas: isso pode fazer o espectador estranhar o cortante texto de Montero, na medida em que a história de Elisabete corre o risco de se passar por mais confusa do que complexa. Não é grave problema: é possível que seja disso que a peça inteira trate. Serviço: Liz Quando: sexta-feira e sábado, 21h Onde: Espaço dos Satyros Um, Pça. Roosevelt, 214, São Paulo Quanto: R$ 30,00; R$ 15,00 (estudantes, classe artística e terceira idade); R$ 5,00 (oficineiros dos Satyros e moradores da Praça Roosevelt) Duração: 80 min Classificação: 14 anos Temporada: 12 de junho a 29 de agosto

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O tropeço que deu samba O crítico, produtor, colunista e figu­ rão da música brasileira Nelson Motta publicou certa vez num jornal um texto que continha o seguinte título: “O samba não morreu, ele está no poder.” Ponderado e incisivo, esse comentário parece dar conta das mudanças que fizeram do “ritmo de bamba” o principal estandarte da música brasileira erguido pelas elites intelectuais, e pelo mercado fonográfico. A mudança de rumo que fez o samba deixar o morro para tomar a identidade de uma nação inteira demorou a se consolidar e pode-se até dizer que há pouco terminou o ciclo de fato. Um período bastante seminal dessa transição é retratado na peça A Dama do Cabaré, com texto e direção de Marcus Vinicius de Arruda Camargo. O Rio de Janeiro dos anos 30 é um lugar sugestivo para se debruçar na dinâmica desse ritmo. O contexto da montagem por si só já é bastante propício para ser amarrado a uma trama que retrata a boemia, os excessos e a malandragem da época. Os bons momentos da peça são exatamente os que nos contam como era a vida e a rotina da então capital do Brasil. A montagem envolve ficção e realidade ao mostrar a vida de seus personagens convivendo com figuras como Noel Rosa, Francisco Alves, Mario Lago e até

Carmen Miranda. No entanto, a peça padece de dificuldades para, a partir do universo de ascensão do samba, desenvolver uma trama surpreendente para o espectador. Em meio ao cotidiano dionisíaco dos cabarés (e de suas longas noites), a peça parece insistir em um tipo de narrativa inóspita para esse universo, principalmente quando tenta atribuir ao samba um tom comportado, familiar, quase monogâmico. Trata-se de um tropeço considerável: antes de ser combustível de um amor típico de relacionamentos sérios, o samba carregava um sentimento anárquico das paixões de carnaval. Endossando a preponderância de tipos novelísticos, a psicologia dos personagens parece não se encaixar à forma livre do samba. Há um vilão rico e interesseiro que se resigna diante de um “grande amor”, uma frequentadora assídua de cabarés que por sua promiscuidade acaba ficando sozinha, e até um compositor que quer transformar o ritmo em traço da identidade nacional quando na verdade, àquela época, essa suposição de tão irreverente mal podia ser levada em conta. A performance dos atores segue a mesma tendência televisiva pela qual a narrativa se sustenta. Nitidamente infuenciados por técnicas pouco flui-

das de impostação de falas, mostram debilidade em aproveitar o potencial afetivo, próximo que o teatro oferece para envolver o espectador. Na sala experimental do Teatro Augusta os atores esperam no próprio palco pelo início do espetáculo com a mesma disposição que o público. Nesse momento eles não atuam - o que seria uma boa estratégia de ambientação do espaço - e tão-só conversam entre si informalmente, com certa discrição e de voz baixa. Mesmo com as tenuidades, a montagem ainda continua válida pela função de retratar um assunto importante. Faz-nos lembrar os primeiros caminhos que o samba teve de percorrer para chegar onde hoje está estabelecido. Se, de um tropeço, a mulata é capaz de ensaiar um reme­ lexo novo, de suas limitações, A Dama do Cabaré consegue deixar o assunto do qual trata didático e direto. Serviço: A Dama do Cabaré Quando: sexta-feira às 21h, sábado às 21h30 e domingo às 19h Onde: Teatro Augusta, Rua Augusta, 943, São Paulo Quanto: R$ 30,00; R$ 15,00 (estudantes) Duração: 65 min Classificação: 14 anos Temporada: 19 de junho a 20 de setembro

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[cinema]

Por Natalia Barrenha *colaborou Isaac Pipano

Deliciosa jornada? Três anos depois do sucesso mundial e controverso de Borat – O segundo melhor repórter do glorioso país Cazaquistão viaja à América, o comediante inglês Sacha Baron Cohen volta aos cinemas com o já polêmico filme Brüno, que teve estreia mundial em 10 de julho e chegou às telas brasileiras no dia 31 do mesmo mês. Com um subtítulo nada convencional – Delicious journeys through America for the purpose of making heterosexual males visibly uncomfortable in the presence of a gay foreigner in a mesh t-shirt, algo como Deliciosas jornadas através da América pelo propósito de fazer homens heterossexuais visivelmente desconfortáveis na presença de um estrangeiro gay numa camiseta de malha –, Baron Cohen, assim como

Perturbações

Como seria a vida se, em vez de Deus, fosse o Diabo o criador do homem à sua imagem e semelhança? Partindo de tal prerrogativa, e de profunda depressão que o levou a uma temporada no inferno, 18

em Borat, traz mais uma ficção que se passa por documentário, e na qual permanece uma linha tênue entre o ridículo e o engraçado. O filme mostra Sacha como o austríaco gay, fashionista e repórter de moda que resolve levar seu programa de tevê para os Estados Unidos. Ironizando o mundo fashion, o ator excêntrico expõe a intolerância dos entrevistados, e passa longe do humor politicamente correto. A divulgação do filme já vem ocorrendo desde o ano passado, com ações inusitadas que vão desde a invasão de um desfile em Milão por Brüno; uma

performance no MTV Movie Awards na qual o personagem entrou flutuando sobre a plateia vestido de anjo e “aterrissou” as nádegas no rosto do rapper Eminem; a presença de Brüno na capa da chiquérrima revista britânica GQ; e a publicação de um ensaio insólito com ele e a modelo brasileira Alessandra Ambrósio na edição de julho da revista Marie Claire do Reino Unido – sem contar os processos judiciais que já começam a surgir. Enquanto isso, os ativistas gays estão divididos quanto ao filme: alguns acreditam nos efeitos positivos da obra contra a intolerância, e há os que enxergam que o novo personagem de Baron Cohen pode reforçar a homofobia. Vindo da mesma mente de onde saiu o inconveniente (e sem graça) Borat, é de se esperar que o resultado de Brüno não seja dos mais interessantes. Brüno (Brüno). Direção: Larry Charles. EUA. 2009. Comédia. Duração: não divulgada.

de vista da recepção de público e crítica, como Os Idiotas, Dançando no Escuro e o bem aclamado Dogville. Estruturado em um prólogo, três capítulos – “Dor”, “Luto” e “Desespero” –, e epílogo, o filme aborda o relacionamento de um psicanalista, interpretado por Willem Dafoe, e uma escritora, encarnada por Charlotte Gainsbourg, vencedora da Palma de Melhor Atriz por este mesmo filme. Após a morte do filho num acidente doméstico, enquanto os pais transavam o diretor dinamarquês Lars von Trier concebeu Anticristo, que estreou em Cannes em maio deste ano, sob vaias, rejeição e intolerância. Porém, “barulho” não é propriamente algo com que Lars não esteja acostumado após a realização de obras sempre “escandalosas” do ponto

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A aventura está lá

cima em

Como dizia Walt Disney, “para cada risada, deve haver uma lágrima”. Em Up – Altas Aventuras, nova animação da Pixar que abriu o Festival de Cannes deste ano, a lição é seguida à risca. Com uma sequência inicial fabulosa que sintetiza a história do vendedor de balões Carl Fredricksen – que desde criança sonhava em explorar o mundo, e acabou se tornando um velho rabugento e solitário após a morte da esposa –, a animação desenvolve-se entre boas doses de aventura e humor. Tudo começa quando Carl resolve realizar seu sonho de partir para a América do Sul – porém, de uma maneira muito inusitada: prendendo milhares de balões à sua casa, que sai flutuando pela cidade. O velhinho ranzinza ainda conta com um parceiro improvável que embarca por engano na casa voadora: o pequeno escoteiro insistentemente falante Russell, de apenas oito anos – 70 primaveras a menos que o velho protagonista.

Os personagens ainda se deparam com um vilão inesperado e encontram outros parceiros nessa inventiva narração. As preocupações com verossimilhança são nulas no desenrolar da história, e qualquer conexão com fatos reais – como o do padre brasileiro que se amarrou a balões e desapareceu, no Sul do Brasil, no ano passado – é mera coincidência. O filme desarmou a crítica em Cannes com sua leveza, e deu um show de bilheteria nos Estados Unidos, superando todos os temores de que a produção não possuísse apelo junto ao público. Up é permeado de risadas – e de algumas lágrimas –, tem qualidade técnica impecável (o cuidado com os detalhes é surpreendente), e momentos que lidam de maneira mais complexa com a vida e suas frustrações, assumindo (mais uma vez) a animação como um gênero cinematográfico independente de faixa etária.

– com direito a cenas de sexo explícito e penetração –, o marido, tentando auxiliar a mulher na recuperação do trauma, decide levá-la a uma estada numa cabana na floresta, um dos locais que mais a amedrontavam na vida. Porém, a permanência no local insere o casal numa espiral de insanidade, numa descida aos recônditos de suas próprias fraquezas. O que seria uma espécie de terapia transforma-se em uma experiência sufocante de busca por uma vida a

cada dia asséptica, em que os limites das faculdades mentais são abalados por uma série de acontecimentos estranhos, como se de fato a presença do mal, de modo metafísico, permeasse aquele lugar. Aparentemente definido como um filme de terror, o mote não promete muitas possibilidades. A crueza e a superexposição do corpo e do sexo, inclusive com cenas de automutilação, exageram o compromisso psicanalítico com o qual Lars procura reger seu filme. Algumas

Up – Altas Aventuras (Up). Direção: Pete Docter e Bob Peterson. EUA. 2009. Animação. Duração: 96 minutos. aulas com o cineasta sueco Ingmar Bergman – que possui influência notável da psicologia em seus filmes – e algumas sessões terapêuticas talvez tivessem feito de Anticristo uma obra mais bem resolvida. Mas se o cinema também é um exercício de exposição de vísceras, Lars von Trier deu um passo. Anticristo (Antichrist). Direção: Lars von Trier. Alemanha/Dinamarca. 2009. Terror/Drama. Duração: 104 minutos.

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[literatura]

Por Natalia Barrenha

Prelúdio à Psicologia Afirmativa Em sua nova obra, Terapia Afirmativa, o psicólogo Klecius Borges mergulha em um tema bem conhecido por ele, explorado em seus textos e praticado na sua atividade clínica: a Psicologia Afirmativa. Ela já permeava seu primeiro livro, DeSiguais (Editora Fábrica de Leitura, R$ 27), reunião de artigos da coluna “Papo Cabeça” que assina na revista G Magazine, nos quais explora o amor e o universo homossexual. Os fundamentos da Psicologia Afirmativa consistem em um conjunto de pressupostos teóricos sobre a homossexualidade e em uma atitude clínica especificamente voltada para o incremento de uma identidade homossexual positiva. Vertente desenvolvida principalmente nos Estados Unidos e Reino Unido, a visão afirmativa

tem como base a identidade homossexual como uma expressão natural, espontânea e positiva da sexualidade humana, e a homofobia como a principal responsável por muitos dos conflitos vivenciados pelos homossexuais. Trabalhando há diversos anos com bi e homossexuais, Klecius propõe uma introdução sobre a psicologia e terapia afirmativas. Com um texto simples e didático, o autor pretende oferecer um repertório conceitual básico para uma reflexão abrangente sobre a identidade homossexual, desenvolvendo um breve histórico da questão da homossexualidade na Psicologia e citando vários casos e exemplos, os quais aproximam o leitor do assunto – que é exposto de maneira clara e objetiva, interessando tanto a leigos quanto a especialistas.

logia e à a introdução à psico Um : iva at rm Afi pia Tera sexuais a gays, lésbicas e bis psicoterapia dirigida es Autor: Klecius Borg ginas Edições GLS / 104 pá Preço: R$ 28,90 www.edgls.com.br

Trilha colorida

nto homossexual Na Trilha do Arco-Íris: Do movime ao LGBT ina Facchini Autores: Júlio Assis Simões e Reg o / 194 páginas Editora Fundação Perseu Abram Preço: R$ 38,00 www.efpa.com.br 20

O tom político, mais do que nunca, foi o maior destaque da Parada Gay de São Paulo deste ano. Por essa e por muitas outras, o novo livro dos antropólogos Júlio Assis Simões e Regina Facchini evidencia-se entre os lançamentos do mês: Na Trilha do Arco-Íris: Do movimento homossexual ao LGBT. Tomando a sexualidade como um terreno político por excelência, Simões (professor do Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo e pesquisador-colaborador do Núcleo de Estudos de Gênero – Pagu – da Universidade Estadual de Campinas) e Facchini (pesquisadoracolaboradora do Núcleo de Estudos de Gênero – Pagu – da Unicamp e autora do livro Sopa de Letrinhas? Movimento homossexual e produção de identidades coletivas nos anos 90­– Garamond, R$ 39) narram a trajetória percorrida pelo movimento político em torno da homossexualidade no

Brasil até seus desdobramentos presentes, traçando também um panorama das raízes dos movimentos norte-americano e europeu. Referência obrigatória para o entendimento do processo de politização das identidades sexuais e de gênero ocorrido nas últimas décadas, o livro faz um apanhado de pesquisas já existentes e organiza dados dispersos sobre o assunto – cujo estudo, apesar de crescente, ainda é incipiente no Brasil. A obra ainda traz luz para uma melhor compreensão da história contemporânea brasileira em todas as esferas da sociedade, abrangendo as mudanças ideológicas, sociais e políticas ocorridas a partir dos anos 1970 no País, com destaque para a importância dos movimentos homossexuais na construção de um programa de combate ao preconceito e de garantia dos direitos civis básicos.

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Para Sempre Teu, Caio F. – Cartas, conversas, memórias de Caio Fernando Abreu Autora: Paula Dip Editora Record 504 páginas Preço: R$ 58,00 www.record.com.br

à

Onde andará Caio F.?

muitas anos 70 e 80, resgatando o Abreu O escritor Caio Fernand época. outras figuras sublimes da musa sua mo co im ass ), 96 s escri(1948-19 Um dos mais importante itas vidas e Clarice Lispector, era mu 80 1990 tores das décadas de 19 aral Am ide ela Ad ria Ma só. em uma existência no Brasil, Caio teve uma figura de o descreveu como uma te necessiatribulada pela constan les o Tel s de un Fag ia Líg i. Modiglian vas e pelos dade de experiências no paixão”. chamava de “o escritor da r da pele. sentimentos sempre à flo oso arm ch um e rec pa ele , Por vezes currículo Com muitos prêmios no tal a vida personagem de Godard to ainda em vida sem- e reconhecimen – e tev e qu sa en int e excitante cemente – a qual se acabou preco e canetas, pre às voltas com papéis os, devido à quando ele tinha 47 an seu em rita esc a era nte tão insiste da aids –, contaminação pelo vírus Andará cotidiano. de Morangos Mofados e On a F., io Ca , Teu pre Sem ra Em Pa ques da Dulce Veiga? são os desta a Paula Dip jornalista e artista plástic sua obra. e trocou ar reúne cartas e bilhetes qu Quase impossível não am mais de 20 pá4 50 com o polêmico Caio em s Caio durante e depois da ta­ de ta con e cia ên viv con anos de amando ginas de Paula. Caio viveu dois. Em lhes da amizade entre os Afinal, para através de seus escritos. trasua a tur cos e qu a tiv rra uma na faz outra ele, “o bicho homem não uma delijetória à de Caio, Paula faz amor. coisa a não ser pensar no eado ch Re r. rito esc do fia gra ciosa bio ção, a luta Até as relações de produ passou de depoimentos de quem jogo pelo de classes, a ecologia, o da ain to tex o , tor au do a pela vid amor”. poder: tudo, questão de írito dos fotografa com primor o esp AIMÉ

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[opinião]

O Preconceito Dissimulado

Por Isabel Vasconcellos*

“Porque eu não quero, porque eu não devo explicar absolutamente nada.” (Caetano Veloso, 1967)

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trair errado amor sexo

monogamia explicar

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educação

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sentimento opção liberação educação llibertar

certo errado

medo

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repressão

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direito desvio

sexo

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cultura

heterossexualidade bissexualidade

naturalidade multiplicidade

é pra divertir os machos. Certo é homem fazer amor com mulher e mulher fazer amor com homem. Todo o resto é errado, é imoral, é ilegal. Assim, com completa e to­ tal hipocrisia, nasceu a repressão e nasceram os grandes problemas da sexualidade.

preconceito

gays

homofobia antissocial trair homossexualidade existência

moralistas

amor

a sua absoluta liberdade sexual. Mas, dessa triste invenção, decor­ reram outras infelicidades, como a noção de certo e errado em matéria de amor e sexo. Certo é o homem trair. Certo é existirem dois tipos de mulher, uma que é pra casar e ter filhos e outra que

ilegal sexualidade reconquistar

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oi quando o ser humano inventou a monogamia para a mulher que todos os problemas sexuais da humanidade começaram. Digo inventou a monogamia “para a mulher” porque ele nunca, em tempo algum, deixou de exercer

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É, porque antes, entre povos primitivos e civilizações da Anti­ guidade, sexo era apenas sexo. Ninguém pensava em restrições sexuais. Valia tudo. Não existia sequer a noção de homo e he­ terossexualidade. No entanto, no mundo em que vivemos agora, depois de instalada a tal da moral sexual (que Reich chamava de “re­ pressiva”, com toda a propriedade), estamos tendo um trabalhão para voltar a ser como eram nossos remotos antepassados: sexual­ mente felizes. As mulheres lutam pra reconquistar o prazer que lhes foi negado por milênios, os homos­ sexuais lutam contra aqueles a quem – por alguma obscura razão – incomodam. Mas já incomo­ daram mais do que hoje. Em 1870 a Psiquiatria tratava a homossexualidade como um desvio comportamental de raízes psicológicas, e mesmo mais tarde Freud, que admitia a bissexu­ alidade latente, queria encontrar as razões que tornavam alguém homossexual. Hoje, procura-se na Genética. Onde estará o gene da homossexualidade? Pois essa procura é também preconceito. Querer encontrar uma “causa” para a homossexualidade é como querer encontrar uma “causa” para a existência das árvores ou dos pássaros. Você já imaginou algum

dos mundos. Mas a ausência de amor não determina a ausência da prática sexual. Todo mundo tem direito de ser feliz, esteja ou não vivendo um amor. No entanto, ainda estamos longe de encarar com naturalidade a existência da multiplicidade sexual, a nossa própria bissexuali­ dade latente, o nosso simples direi­ to ao prazer. E a única maneira, no momento, de conter a homofobia e suas desastrosas consequências é a via legal. Estamos, no Brasil, precisando urgentemente de outra Marta Suplicy no Congresso Na­ cional, que possa reviver um velho projeto de lei que está na Câmara Federal e que torna a homofobia tão passível de cadeia quanto o preconceito racial. Mas só a educação (e este é um caminho lento) pode tornar a homo­ fobia tão antissocial quanto o cigarro e só a educação sexual pode nos libertar da incrível bagagem cultural repressiva que todos nós, homos ou héteros, trazemos e carregamos há muitos séculos. Se fôssemos todos realmente felizes na cama, não nos importaríamos a mínima com a sexualidade dos vizinhos. * Escritora e apresentadora de TV. Na Band, tem uma coluna sobre sexo no programa A Noite É uma Criança. Recentemente publicou seu sétimo livro, O Fantasma da Paulista.

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pesquisador procurando a “causa” da heterossexualidade? Foi apenas em 1973 que a Asso­ ciação Internacional de Psiquiatria deixou de considerar a homos­ sexualidade como doença e só em 1990 a Organização Mundial da Saúde a retirou da lista de doen­ ças. Aí, então, além de se tornar politicamente incorreto o termo “homossexualismo”, quem queria estar na moda não podia conde­ nar a “opção sexual” dos outros. Opção? A homossexualidade não é uma escolha. Aqueles que se julga­ vam muito avançadinhos falando em opção sexual estavam apenas dando voz a mais um preconceito. Haja preconceito! Um deles, comum ainda entre as mulheres de hoje, apesar de sua decantada “liberação”, é o do “só faço sexo com amor”. A hipo­ crisia social que condena o prazer sexual, ou só o admite calçado pelo sentimento, é a mesma que vê o sexo homossexual como apenas uma procura de prazer. No entanto, casais de homos­sexuais que têm uma longa vida em co­ mum desmentem a ideia de que, para os gays e lésbicas, só existe sexo sem amor. O prazer sexual independe do amor, gostem ou não gostem os moralistas. Quando se consegue unir as duas coisas, amor e sexo, estamos no melhor

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mar Em um projeto de arquitetura e design, é preciso antes de tudo conhecer o cliente e entender seu estilo e necessidade. A função de um bom arquiteto é orientar e não definir e, por esse motivo, as ideias são sempre discutidas, agregando a experiência do profissional ao desejo do cliente.

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iferente da decoração de casas e apartamentos, na qual o trabalho permite maior ousadia e liberdade, no Barco Chacal, o pouco espaço e a preocupação com a funcionalidade restringiram as opções. Dessa maneira, tudo foi pensado em termos de praticidade e buscou-se aproveitar o

espaço, abusando dos materiais tecnológicos – que permitem fácil manuseio e manutenção. A busca de materiais tecnológicos, no entanto, não ficou só na escolha de eletrodomésticos ou eletrônicos. A sala, com estilo contemporâneo, tem sofá branco em seda sintética impermeável para ninguém se preocupar quando

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entrar molhado – um exemplo da tecnologia aplicada em todos os lugares. O carpete em buclê é antialérgico e antifungo e contrasta com a madeira de mogno laqueada. As esculturas e os vasos de murano são da Grifes e Design. A bandeja de prata e cristal é Swarovski e a luminária prata, de Philip Stark. Os tons calmos foram predominantes principalmente para não abusar dos espaços pequenos, que poderiam se tornar cansativos. Nos quartos, a escolha foi por tons sóbrios nas camas 26

com destaque para as almofadas de seda em tons fortes, que possibilitaram o contraste. Nada de estampas florais para não deixar o ambiente pesado. Destaque para a bancada de estudo com pufe em tecido de seda sintética emborrachada, e madeira mogno laqueada com equipamento e luminárias embutidos com foto óptica Zona D. A marcenaria fixa com cantos arredondados para não atrapalhar a circulação tem aproveitamento total de nichos, para que nada fique fora do lugar.

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Na cozinha, tecnologia é a palavra. O cooktop elétrico de quatro bocas tem uma grade de segurança para as panelas não saírem do lugar e um misturador italiano compõe a cuba de Corian. Para um banho agradável, box em acrílico transparente curvo com ducha de teto. Marcenaria especial em laca mogno e com espelhos nos armários acima da pia. A cor fica por conta dos acessórios de resina transparente verde da Vallvê. Por Léo Shetman Arquitetura e Design arqshehtman@terra.com.br Av. General Furtado Nascimento, 740, cj. 34, Alto de Pinheiros, São Paulo Fone: (11) 3022-6822 AIMÉ

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Edição e Stylist: Davi Dantas Foto: Carol Beiriz - www.carolbeiriz.com.br Make-up: Rafael Senna

Antes de realizar um trabalho, o modelo e ator Caetano O’Maihlan tenta integrar-se ao ambiente, misturando-se ao cenário e sentindo até mesmo a textura das paredes. “O lugar e a relação que se estabelece com o fotógrafo fazem surgir novas sensações”, afirma. Para Caetano, realizar um ensaio fotográfico para uma revista gay não foi nenhum problema. Ele acredita que já está mais do que na hora de quebrar a barreira do preconceito e levantar a bandeira da homossexualidade. “Só contribui um heterossexual fazer fotos sensuais para uma revista gay.” Depois de trabalhar por anos como modelo, o dono do corpo esculpido por deuses fez novelas, foi bandido e mocinho, e ainda assim encara cada novo trabalho com um “friozinho” na barriga. “Você se expõe”, justifica. Hoje, no Rio de Janeiro, Caetano se dedica à Companhia de Teatro Íntimo (grupo que tem como proposta estreitar a distância entre palco e plateia) e ao mais novo projeto: um especial de Dia das Crianças com Renato Aragão.

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. Este homem é uma drag. Texto: Nina Rahe / Foto: Paulo Pampolin

Seis da tarde, restaurante L’Open, São Paulo. Chego ao encontro marcado com a drag queen Dindry Buck cerca de 15 minutos atrasada. Apressada, passo direto por ela e um dos funcionários me adverte: “Aquela é Dindry.” Ela tampouco se importa. Naquele momento, de fato, ela ainda não era a famosa drag queen. Quem estava à minha frente não era Dindry, mas sim o tímido e discreto criador da personagem: Albert Roggenbuck.

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o banheiro feminino do restaurante, Albert troca as calças jeans, a camiseta e os tênis pelas extravagantes roupas, e aos poucos Dindry aparece. As formas da drag queen surgem ao mesmo tempo em que se esvaziam as duas enormes sacolas (contendo roupas, peitos, perucas e uma porção de maquiagens). Na transformação, não é só Albert que vai embora, mas junto com ele desaparecem a timidez e o recato. Durante o início de sua carreira, Dindry custou a se acostumar com a dicotomia entre ela e seu criador. No início, espantava-se com a falta de educação das pessoas que, conhecendo-a da noite, viravam a cara durante o dia. Foi somente depois de um tempo que percebeu que as pessoas que conheciam Dindry não conheciam Albert e vice-versa. Talvez por isso, hoje, quando fala de Albert, Dindry se refere a ele sempre na terceira pessoa. O eu às vezes é Albert, outras tantas é Dindry, e assim esses personagens tão diferentes dividem o dia a dia. Em comum, alguns amigos íntimos que conhecem tanto um quanto outro. AIMÉ

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Você disse que existem três tipos: transformista, drag queen e andrógeno. Qual é a diferença entre os três? A transformista se assemelha mais a cover do cinema, aquela que faz a Marilyn, que faz a Cher. Tem a maquiagem mais leve porque precisa se caracterizar como a personagem. A drag não; ela pega tudo que a mulher não utiliza no dia a dia (tem mulher que quer ser meio drag queen) e coloca nela. A drag é como se fosse um palhaço de luxo. Ela é paga pra animar uma festa de uma forma totalmente feminina, mas um pouco exagerada. E os andrógenos são aqueles que não parecem nem homens nem mulheres. Podem estar com maquiagem feminina e roupa masculina ou roupa feminina e maquiagem mais masculinizada.

Primeiro de tudo, queria saber quem irá responder as perguntas, Dindry Buck ou Albert? É a Dindry, é claro. Ela que está em cena agora.

Você mesma já disse que para cada ocasião costuma escolher um personagem. Qual foi o personagem escolhido para a AIMÉ? O meu forte são telegramas animados. Geralmente, o cliente que me contrata passa os dados do aniversariante ou do homenageado da festa e em cima desses dados eu monto o personagem. Então, tanto pode ser uma amante revoltada como uma amiga de infância e, em cima disso, monto a maquiagem, o figurino. Hoje eu estou mais glamorosa, drag mesmo. A coisa do exagero.

Para você, qual é a essência de uma drag queen? Como eu venho do teatro, é algo mais artístico. Eu me monto, tento me assemelhar ao máximo às formas femininas, mas para levar alegria, bom humor, colorido, diversão a qualquer ambiente que eu vá fazer algum tipo de performance. Já fiz aniversário de crianças e até aniversários de senhores de 80 anos. Não diferencio trabalho, quero levar alegria e bom humor aonde quer que eu vá.

Você é ator? Qual é a sua formação? Eu fiz um curso básico do (Teatro Escola) Macunaíma, depois fiz várias oficinas. Eu sou formado em Publicidade e Propaganda, sou também jornalista, já escrevi para vários veículos de comunicação LGBT. A drag surgiu de uma personagem que eu fiz no teatro, na peça Fulaninha e Dona Coisa. Eu fiz a Fulaninha, que era a empregada da Dona Coisa. Foi quando eu descobri que podia viver uma personagem feminina sem interferir no meu dia a dia. Eu não tinha uma visão do que seria uma drag. Depois, quando descobri o mundo encantado da noite, aí que pude ver que eu poderia ganhar dinheiro e sobreviver com o trabalho da drag.

Mas na experiência do teatro você era drag queen? Não, eu era transformista. Eu era mais personagem. Tanto é que tinha uma maquiagem leve, um cabelo liso. Era mais uma empregada doméstica. Eu não sabia o que era uma drag queen. 44

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Quando foi que você descobriu? Foi em 1998, por aí. Comecei a frequentar a noite de São Paulo. A primeira drag que eu vi foi a Dimmy Kieer. Ela é o ícone da noite, conhecida não só no Brasil, mas mundialmente e referência de drag. A Dimmy é coloridona.

Quando você passou a ter vontade? Eu comecei como transformista, mas logo vi que não era a minha praia. A transformista não tem tantas possibilidades como uma drag. Porque a drag, além de fazer show, pode ser recepcionista de uma casa noturna, pode animar uma festa, não necessariamente GLS. Alguns amigos me deram toque, me influenciaram e me incentivaram, e eu fui moldando a minha carreira.

Eu vivo o momento. Se alguém quer ficar comigo, fico e só. Nada de dar satisfação para ninguém. Eu gosto da liberdade.

Como foi a primeira vez que você se montou?

Mas quem faz mais sucesso, a Dindry ou o Albert?

Nossa, é muito estranho porque eu sou uma pessoa do sexo masculino. Um amigo meu me maquiou, mas quando olhei no espelho, não acreditei que era eu que estava ali no espelho. É como se fosse uma outra pessoa olhando para você. O Albert, que é o criador da criatura Dindry, é muito tímido, é introvertido. Ele veio do interior de Minas Gerais, de uma cidadezinha que nem existe no mapa. Se o Albert consegue ser mais sedutor, mais extrovertido, são elementos da Dindry. Quando ela chega, ela se faz notar. Ela consegue seduzir mesmo na brincadeira. Foram elementos que me ajudaram como ser humano.

A Dindry, é lógico! (risos)

Como é? Não podemos classificar que os homens que saem com uma drag ou com uma travesti são gays porque a fantasia deles é estar com uma pessoa montada de mulher, só que tem algo a mais. Se eu estiver desmontada, eles não vão sentir atração por mim. Então eu seduzo mais, tenho mais retorno com a Dindry do que com o Albert.

Existe preconceito? Como drag, eu nunca senti preconceito, felizmente. Agradeço a Deus sempre. É muito raro uma drag sofrer preconceito porque a proposta é levar alegria para as pessoas e as pessoas estão abertas pra receber. Preconceito é somente quando aparece um grupinho de cinco ou seis homens e um quer mostrar que é mais macho que o outro; então têm umas brincadeiras que a gente já tirou de letra e sabe muito bem como sair disso.

E os relacionamentos? Eu sou de todos e não sou de ninguém. Não sou chegado a isso. Tenho a minha mãe, que é o amor da minha vida. Então, eu falo: tenho um caso com a minha mãe e acabou a história. Não sou Édipo, mas não tenho paciência com um relacionamento. Relacionamento você tem que ligar, tem que dar satisfação e isso eu faço com a minha mãe. AIMÉ

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entrar na boate. Mas depois eu pensei bem e acabei deixando ele entrar. E no final ficamos juntos (risos).Foi uma das conquistas mais irreverentes que eu tive.

E alguma vez você conheceu alguém como Dindry e depois quis mais como Albert? Isso é o complicado, porque o gay que fica com gay não gosta da drag. Tem a drag apenas como ícone. Gosta dela fazendo show, mas nunca se relacionaria com uma drag. É algo um tanto quanto impossível numa noite. Já o cara que gosta da drag não vai gostar da pessoa desmontada, porque a fantasia dele é a figura feminina. Você não tem um consenso. Então é por isso também que eu não me relaciono. Quem for namorar o Albert, não vai entender nunca o trabalho da Dindry e quem namorar a Dindry não vai entender como o Albert vive.

Como o Albert vive? Supercaseiro, superdesencanado. E, paralelamente ao trabalho de drag, eu trabalho como designer, faço trabalhos para casas noturnas de São Paulo. Algumas pessoas fora do circuito GLS já me conhecem e me chamam para realizar trabalhos. Então tem esse outro leque de opções de trabalho que o Albert faz.

Quanto ganha uma drag queen? Cada uma tem seu preço, mas, por exemplo, um telegrama animado, que dura em torno de 30, 40 minutos... o meu trabalho sai R$ 400.

Existe rivalidade entre as drag queens?

Relacionamento você tem que ligar, tem que dar satisfação e isso eu faço com a minha mãe.

Já aconteceu algum relacionamento durante o trabalho como drag queen?

Quando eu trabalhava em uma das boates como hostess ali no centro, chegou um rapaz bem molecote, e eu estava com um corpete de zíper, a fila estava gigante, e eu recepcionando. E ele chegou nas minhas costas e abriu o zíper todinho. Fiquei só de saia e sem o corpete. Eu nunca desço do salto, mas foi uma das poucas vezes em que eu desci do salto na minha vida. Briguei, briguei, e avisei ao segurança: ele não vai 46

Na noite, como envolve a vaidade, a coisa do aparecer, sempre vai ter uma que vai criticar o trabalho da outra. É como no mundo da televisão, no mundo da moda, sempre tem um modelo que brilha mais que o outro. É um mundo de vaidade.

Entre as drag queens, qual é o modelo que mais brilha? A Dimmy Kieer, que é a referência de drag. Todo mundo sabe quem é a Dimmy. Ela é uma referência para mim.

A maioria das vezes você usa saia e já disse que não se sente bem tendo que esconder o pênis. Por quê? A maioria das drags faz algo mais sensual, que mostra mais o sex appeal da drag. Ela tem que mostrar então que é um homem, mas consegue ser

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uma mulher. Então tem que colocar o pênis para trás para ficar bem feminina. É uma coisa que eu nunca consegui fazer. Eu fiz uma vez, foi totalmente incômodo, e por causa disso a maioria das minhas roupas tem algo meio bailarina, para não ter esse problema de me incomodar. Se quero ir ao banheiro, eu vou. As drags às vezes passam a noite inteira sem ir ao banheiro porque é um collant muito apertado. Elas não bebem. Eu não, a minha drag é uma diversão!

Enquanto você estava se vestindo, mencionou que um dos motivos é não ter medo de ver um bofe e... Ah, claro, porque somos drags e somos do sexo masculino. Não somos como as mulheres, todas meiguinhas, que não terão nenhuma metamorfose no corpo. Aparece um bofe lindo, maravilhoso, encosta, claro que vai acontecer algo no corpo. Então é uma das vantagens de não ter nada preso lá embaixo.

A Dindry nunca fica triste? Não pode. É um palhaço de luxo. O Albert pode estar triste, mas a Dindry nunca, porque é a personagem. Eu posso estar triste como pessoa, mas a Dindry não pode estampar isso. A Dindry tem que estar irradiando bom humor.

Quando foi que aconteceu de o Albert estar triste? Quando minha mãe ficou doente e eu tive que ir trabalhar. Quando está no trabalho, fervendo, você consegue desligar um pouco, mas quando chega ao camarim, você lembra e bate uma coisa. Parece que a Dindry sai e o Albert fica um pouquinho. Eu posso ficar abatida no carro, mas na festa não.

Então a tristeza só aparece quando está o Albert? Com certeza.

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r Por Marco Túlio

A engarrafada Avenida 23 de Maio não está mais monocolor. Quem passa por ali – mesmo nas horas de maior movimento, que são acompanhadas pelo estresse do trânsito – consegue um pouco de entusiasmo vendo o maior mural feito em grafite em uma via pública da cidade de São Paulo, com cerca de mil metros quadrados. Através da reprodução de imagens do centro da cidade do início do século passado é possível voltar no tempo, resgatar memórias ou simplesmente conhecer a história de outra época. O mural faz parte do projeto Muro das Memórias, criado pelo artista Eduardo Kobra em 2007.

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as para entender um pouco melhor o trabalho de Kobra e o de tantos outros que levam mais cores para o cenário urbano em que vivem – geralmente áreas decadentes de grandes cidades – é preciso voltar a um tempo em que se cantava assim:

considerados cinzentos,feios, empobrecidos, e os reveste com sua arte. Com a revolução contracultural de 1968, ocupou os muros de Paris – os grafiteiros queriam espaço para suas ideias. E o movimento ganhou fama no final dos anos 70, quando virou mania na periferia de Nova York e tornou-se uma verdadeira bandeira dos grupos excluídos, sem visibilidade nas grandes galerias e no mercado de arte. A história de Kobra, sem dúvida, dialoga com a história des‑ crita acima. E quem se depara com o trabalho do artista hoje (já valorizado) jamais relembra o início de sua trajetória, quando, por volta de 1987, dedicava-se à pichação com um grupo de amigos. O ato de pichar um muro está ligado à demarcação de uma área através da caligrafia, enquanto o grafite valoriza o desenho. O que une as duas

Pensem nas crianças mudas telepáticas, Pensem nas meninas cegas inexatas, Pensem nas mulheres rotas alteradas, Pensem nas feridas como rosas cálidas, Mas, oh, não se esqueçam da rosa de Hiroshima.

A bomba de Hiroshima foi o marco simbólico do surgimento do pós-moderno. Ali, a modernidade encerrou seu capítulo na história ao superar o poder criador pela força destruidora, segundo Jair Ferreira dos Santos, no livro O que É o Pós-Moderno. Junto a uma série de manifestações artísticas, que dei-xaram transparecer o sentimento diante de tal comportamento humano – como exemplo, o poema acima, de Vinícius de Moraes – vieram outras consequências: vazio, ausência de valores, hiper-realidade, sedução, saturação. Se antes, no modernismo, as pessoas lidavam com a criação, agora, lidam constantemente com a informação. E é justamente no meio desse bombardeio que o grafite, uma técnica criada ainda no Império Romano, é retomado e adquire outro valor. Com ele, o artista toma “posse” dos espaços públicos, 50

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manifestações é unicamente o suporte: o muro. Foi somente no início da década de 90 que Kobra teve contato com o grafite propriamente dito, aquele intitulado de marginal (realizado sem a autorização dos proprietários do local). Nessa época, empenhado em imprimir sua arte nos muros tão cinza de São Paulo, o artista foi detido duas vezes. Em uma delas, estava em um túnel localizado em frente ao Parque do Ibirapuera e foi surpreendido por uma viatura. Era época de Copa do Mundo e o delegado logo avisou aos três amigos: “Se o Brasil perder, vocês ficarão dois dias em pé sem sair daqui.” Por sorte, a seleção saiu vitoriosa e eles puderam ir embora. Perderam o material, que ficou detido. Essa época de grafite marginal, no entanto, parece hoje perdida na memória. Kobra

tem se dedicado ao muralismo. E nessa perspectiva, surgiu o Muro das Memórias, projeto com objetivo de transformar a paisagem urbana através da arte. É um trabalho que exige maior elaboração e tempo e, para ser produzido, demora no mínimo uma semana. As criações ricas em detalhes, extremamente realistas, de estética perfeita já figuram em 19 pontos da cidade. Entres eles, murais nas Avenidas Sumaré, Paulista, Rebouças, Hélio Pelegrino, Rangel Pestana, Henrique Schaumann e no bairro da Vila Madalena. “Já entreguei 19 murais para a cidade de São Paulo e pretendo presentear a capital com muito mais obras”, diz Kobra com entusiasmo. Segundo ele, o trabalho na Avenida 23 de Maio tem possibilidade de ser expandido para 2 mil metros quadrados, tornando-se o maior mural do mundo. Atualmente, Kobra desenvolve sua produção pessoal, que passa pela pesquisa de materiais reciclados e novas tecnologias, como a pintura em 3D sobre pavimentos (realizada também por nomes internacionais, como Julian Beever e Kurt Wenner), além de reciclar e recriar momentos e formatos da história da arte e das cidades. No mesmo caminho dos grandes grafiteiros que, de artistas marginais, passaram a ser conhecidos e requeridos, Kobra vem recebendo convites por parte de agências de publicidade, órgãos públicos e arquitetos de interiores de São Paulo e outras capitais do Brasil. A ideia é que o Muro das Memórias invada outras cidades. Mas enquanto isso não acontece, os paulistanos – mais que privilegiados – não têm do que reclamar. AIMÉ

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Triângulo escaleno Por Adriano Zanni

Um gay bem resolvido, uma esposa desinformada e, no vértice principal da figura, um marido, pai de família, ávido por experiências sexuais com pessoas do mesmo sexo. O conturbado triângulo amoroso, com três lados completamente distintos, pode proporcionar aventuras, mas também boas doses de frustração e constrangimento

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elacionar-se com homens casados é o target deles. A atração por pais de família, senhores engravatados, figuras supostamente mais masculi­ nizadas, envolve o cotidiano de muitos gays, bem resolvidos até, mas que não dispensam uma inu­sitada aventura. O problema, segundo muitos terapeutas, é quando eles caem em si e se veem envolvidos emocionalmente com alguém que não pretende amarrar nenhuma espécie de nó. Pelo contrário, irá sim deixá-los completamente de mãos atadas. Afinal, nessa

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relação, quem costuma dar as cartas é quase sempre o “pulador de cerca”. “Já saíamos há quase dois anos. Não suportava mais aquele tipo de relação, apesar de todo meu fetiche por homens casados, mais velhos e enrustidos. Queria que ele compartilhasse mais seu tempo comigo. Mas, depois do gozo na cama, vinha sempre a história da esposa, dos filhos, da pressão da sociedade.” O relato de Adolfo*, 29 anos, residente em Bauru, interior de São Paulo, expressa fielmente a dimensão do relacionamento conservado por meses apenas entre quatro paredes. O jornalista viveu uma espécie de romance com outro homem, cerca de 20 anos mais velho, casado, pai de dois filhos e que lançava mão da agenda de compromissos profissionais, sempre lotada, para restringir seu tempo com o amante, que ainda tinha que ser dividido com a família. A história começou em frente à vitrine de uma loja de roupas, no shopping da cidade. Foram dois encontros casuais, troca de olhares, sorrisos e pronto. A curiosidade estava aguçada. “Dias depois, o reencontrei, por acaso, em um chat. Quando lhe perguntei a descrição física, não tive dúvida: era ele. O cara também me reconheceu. Marcamos logo o primeiro encontro, que acabou na cama de um motel. Mas, para mim, o lance representou bem mais do que isso”, garante Adolfo. Depois do debut, quase uma dezena de novos encontros, sempre nos horários em que o jovem senhor, personalidade conhecida na cidade – segundo Adolfo – estava livre. “Quando o conheci no shopping, não tinha certeza de que era casado. Mas, depois que o vi com os filhos, fiquei ainda mais interessado. Era todo engra­vatado, charmoso, me ligava 54

sempre. Tínhamos certa cumplicidade, além da química no sexo.”

Divisor de águas Mas só isso não foi suficiente para segurar a relação. O divisor de águas aconteceu em uma balada, quando Adolfo viu o affaire acompanhado da esposa. “Lembro-me como se fosse hoje. Ela era da idade dele, alta, bonita, simpática. O tempo todo ele ficou me flertando na frente dela. Tinha medo que acontecesse alguma situação constrangedora. Fui ao banheiro, ele veio atrás, me puxou pelo braço e disse que precisava me ver naquela semana”, relata. E, de fato, se viram. Mas Adolfo colocou um ponto final na história, embora conserve até hoje as saídas esporádicas com homens casados. “Eles me atraem muito. Mas não é o tipo de relacionamento que desejo para mim. Afinal, não vai muito além de uma cama. Hoje, consigo ver melhor isso.” Para a terapeuta sexual Maria Lucia Biem, quando um indivíduo opta por viver na condição de amante, é importante que ele tenha estrutura emocional para manter esse relacionamento sem sofrimento, uma vez que não terá a companhia dessa pessoa em momentos especiais de sua vida. “A possibilidade de a relação ser assumida socialmente é pequena, mas em alguns casos pode ocorrer, quando ambos se apaixonam e esse homem casado resolve lidar com seus conflitos sexuais. Mas, na maioria das oportunidades, o amante é tão somente um objeto de desejo sexual, cercado de adornos, discursos prontos e falsas promessas”, diz. Adolfo ainda revela que, por intermédio de conhecidos, ficou sabendo que o compan-

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heiro fazia parte de uma espécie de confraria de homens casados da cidade que se reuniam para comentar seus casos amorosos e, o mais espantoso, promover um intercâmbio de parceiros – ou seja, gays que estariam dispostos a levar aquele tipo de relacionamento adiante, no maior sigilo. “Aquilo me chocou e pensei: preciso me valorizar mais”, comenta.

“Amélia” George*, 36 anos, músico, confessa ter sorte nos seus relacionamentos com homens casados. Para ele, a fórmula pode funcionar adequadamente. “Tive um relacionamento em que o cara já estava praticamente no fim de seu casamento heterossexual, pronto para embarcar de vez numa relação homossexual. Che­guei a ficar com ele durante um ano. Depois, terminamos e ele não voltou para a esposa e está em outro relacionamento homossexual. O truque pra não se ferir é pôr um limite, é realmente não se entregar por inteiro. Não se apaixonar! Você sempre será o outro”, ensina o músico. Maria Lúcia concorda e afirma que, nesse triângulo amoroso, é comum o amante não sentir ciúmes da esposa, uma vez que ela é a traída. No entanto, não admite a hipótese de outro gay na história. “E talvez isso possa explicar por que alguns gays se sentem mais ‘Amélias’ do que nunca”, dispara. Para George, o fato de dividir a cama com alguém supostamente heterossexual é como ganhar um troféu. Mesmo assim, confessa que há coisas que irritam muito em um relacionamento. “Cheguei a brigar com um cara que me cobrava fidelidade, mas não me dava exclusividade. Ele tinha outros na cama certamente.”

A Internet como ferramenta de caça Apesar de descolado e com experiência em aventuras, o músico não hesita em dizer que já se apaixonou à primeira vista por um homem casado que conheceu em site de relacionamento. Hoje em dia, há centenas de perfis com a descrição da tão cobiçada espécie, isto é, que expõem claramente os pré-requisitos para o posto de amante: ter local próprio para encontros, ser discreto, não pegar no pé e não telefonar em horários impróprios. “O Ricardo deixava claro que era apenas uma pulada de cerca. Ele tinha 32 anos e 1,86 m de altura. Descendente de italianos, cabelos pretos. Acertou em cheio na minha preferência. Nos víamos dentro das possibilidades dele, somente durante a semana, duas ou três vezes. Eu não ligava à noite. Aliás, não ligava nunca. Passava o dia esperando um telefonema. Terminou quando a mulher desconfiou de uma conversa no MSN. Ela chegou de surpresa, ele fechou a tela abruptamente e engasgou-se quando ela indagou com quem ele conversava”, relata George. Maria Lucia Biem acredita que, assim como nas relações formais, é preciso haver transparência, cumplicidade e confiança. Relacionamentos velados também carecem de regras mínimas que sejam boas para ambos. “Mesmo que o homem casado decida assumir sua orientação homossexual, em que pé irá ficar a confiança do parceiro gay? Será que ele não vai ter sempre uma indagação consigo próprio sobre a possibilidade de existir uma traição futura? Lealdade e respeito são fundamentais. Sem isso, não há como levar adiante”, esclarece a terapeuta. * Os nomes foram alterados a pedido das fontes AIMÉ

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Aberto

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Breve:

Consulte nossa programação no site:

www.clube269.com.br

R. Bela Cintra 269 tel. 11 3120-4509


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Edição de moda: Fernanda Kazalla Produção: Leandro Lorenço Maquiagem: Robson Almeida Fotografo: Marcio Amaral Modelos : David Pimentel / Fernando Kuhn Conrad / Marlon Chiarini

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Calรงa e Camisa - Danilo Costa (19) 9795.2105


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Luxo e elegância nos momentos mais simples

Por Raphaella B. Rodrigues

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^ Desafio à gravidade! Depois de atrair a atenção da crítica especializada e virar “queridinho” entre os habitués da Micasa, o arquiteto e designer Guilherme Torres comemora: a icônica mesa JET feita com exclusividade para a loja de Houssein Jarouche é só sucesso! A peça é um desafio à gravidade. Com tampo sólido, a mesa é apoiada em uma estrutura delgada, com formas arredondadas e sensuais. De acabamento de lâminas de madeira importadas ou laca. Preço sugerido: R$17.000,00 - Onde encontrar: Micasa - Rua Estados Unidos, 2109, São Paulo-SP.

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Ilustração: Edson Novaes Neves / Cor: Hudson Calasans

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O sonho de ser pai

Por Fernanda Faria

Como realizar a vontade de ter filhos e ainda enfrentar o preconceito tão evidente nos tempos modernos

“T

enho um desejo forte de ser pai.” A frase dita por João*, 23 anos, deixa claro o anseio de muitos gays que têm o sonho de ter um filho. Trocar fraldas, levar ao colégio, fazer a lição de casa. Vontades que são partilhadas tanto por gays quanto por heterossexuais. A família gay é um modelo que atualmente vem ganhando maior notoriedade dentro da sociedade moderna. Cada vez mais o espaço está aberto para novas formas de constituição familiar; as várias opções de produção independente por parte de pessoas solteiras possibilitam que homens e mulheres homossexuais assumam a maternidade e a paternidade conforme seus ideais. Para que o tão sonhado desejo de ter filhos aconteça, gays e lésbicas optam pela adoção, através de meios legais, ou então pela inseminação artificial, método mais

desejado pelos casais gays. “Prefiro a inseminação artificial pois, apesar de a adoção ser um gesto muito bonito e louvável, visualizo em um filho uma parte de mim, geneticamente falando”, confessa João. E muitos gays pensam como ele. Para se sentirem completos precisam saber que uma parte de cada um deles está presente na célula a partir da qual seu filho será gerado.

Medicina a favor A inseminação artificial pode acontecer de duas maneiras: a inseminação de embrião ou de espermatozoides. Na primeira, a ovulação é estimulada por uma medicação, os óvulos são colhidos e fecundados fora do corpo da mulher (fecundação in vitro) com espermatozoides do futuro pai. Logo depois o óvulo fecundado é colocado no útero materno, gerando assim o chamado “bebê de proveta”. O segundo método consiste em retirar os espermatozoides,

que passarão por uma seleção na qual só os melhores serão escolhidos e, posteriormente, injetados no útero da mulher durante o período de ovulação. Muitos gays contratam uma mãe de aluguel para gerar seu bebê por meio da inseminação artificial. Porém, o nascimento de uma criança gerada por esses procedimentos não dá direito aos pais de registrarem seus filhos com o nome de dois pais ou de duas mães. Atualmente uma nova técnica vem sendo desenvolvida por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Através da descoberta de que qualquer célula do nosso corpo tem potencial para retornar a um estado primitivo e versátil, pesquisadores começam a investigar a possibilidade de homens serem capazes de produzir óvulos e mulheres terem a chance de gerar espermatozoides. Ou seja, casais gays poderiam ter AIMÉ

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filhos biológicos. O grande responsável são as chamadas células iPS (sigla inglesa de “células-tronco pluripotentes induzidas”), cujas capacidades aparentemente miraculosas ainda estão em fase de estudos. Elas são funcionalmente idênticas às células-tronco embrionárias, que compõem o organismo de embriões com poucos dias de vida e conseguem dar origem a todos os tecidos do corpo humano, dos músculos do coração aos neurônios do cérebro. Sendo assim, para possibilitar o nascimento de bebês com o DNA de dois pais (ou de duas mães), seria necessário obter amostras de células do casal e reprogramá-las para produzir o tipo de célula sexual do sexo oposto – espermatozoides no caso de mulheres, óvulos no caso de homens. Por causa da ausência do sistema reprodutor feminino, um casal de homossexuais do sexo masculino precisaria de uma mãe de aluguel para gerar seu bebê; já mães lésbicas poderiam decidir qual das duas daria à luz a seu filho biológico.

Enfrentando o preconceito Já em casos em que a adoção é escolhida, o casal necessita cumprir uma série de trâmites legais e burocráticos para concretizar o procedimento. Mesmo assim, no Brasil esse ainda é o meio mais procurado por gays que querem ter filhos. Os critérios para a avaliação de um casal homossexual que deseja adotar uma crian72

ça são os mesmos utilizados para os casais heterossexuais, pelo menos teoricamente. São realizadas entrevistas, conversas com familiares, é averiguada a estabilidade financeira etc. No entanto, algumas entrevistas são muito subjetivas e as formas de o assistente social explorar os critérios em questão podem ser diferentes: quando se comparam casais heterossexuais e homossexuais, chama atenção o maior interesse em conhecer a vida sexual de casais de gays e de lésbicas, o que não chega a ser tão relevante quando o investigado é heterossexual. Diferente da maioria, há muitos gays que não sentem vontade de ser pais, seja através da adoção, seja da inseminação artificial. É o caso de Roberto*, de 20 anos. Ele conta que já trabalhou com crianças e considera esse projeto uma empreitada enorme: “Acho que posso colaborar com o mundo de outra maneira e também não tenho medo de solidão na velhice. Muitos gays têm essa paranoia.” Mas será que só a ausência de medo de envelhecer sozinho pode ser uma justificativa para não querer deixar herdeiros? O preconceito e a discriminação também são fatores que influenciam o desejo de não ter filhos. Na opinião de Klecius Bor­ ges, psicólogo que trabalha com a Terapia Afirmativa para Gays e Lésbicas há nove anos no Estado de São Paulo, o preconceito ainda lidera as discussões sobre o assunto. A sociedade está aprendendo a lidar com o fato de que casais

gays podem criar seus filhos da mesma forma que um casal hétero: “As dificuldades de aceitação da homoparentalidade têm como base argumentos de ordem biológica, religiosa e psicológica. Esses argumentos são: não é natural, é pecado e é disfuncional, já que a criança necessita de um pai e de uma mãe. Embora esses argumentos sejam facilmente questionáveis, a força cultural por trás deles é ainda muito grande.” Em consequência desse fato, casais gays temem a rejeição dos filhos. Especia­ listas orientam que essa nova estrutura familiar seja tratada o quanto antes, isto é, que a criança seja preparada e possa se acostumar com o conceito de diversidade familiar. Klecius ressalta que “é preciso que a criança aprenda desde cedo a aceitar e a respeitar as diferenças. Com o tempo, ela poderá compreender melhor, mas a formação da atitude não preconceituosa deve se dar o mais cedo possível”. João sabe que enfrentará obstáculos para alcançar o sonho de ter um filho biológico, contudo está disposto a superar todas as barreiras em busca de seu maior objetivo: ser pai. Além disso, muitos gays, aqui representados por João, desejam um futuro diferente para seus descendentes: “Desejo muito que as pessoas deixem de olhar para os outros se achando melhores ou superiores, não há certo ou errado quando tratamos de relações humanas.” * Os nomes foram alterados a pedido das fontes.

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Diário deMaurício Por Nina Rahe

O dia a dia de um ambientalista incompreendido

Maurício* era um incompreendido. Tinha alguns não tão poucos hábitos que o isolavam até mesmo do mais simples convívio social. Era paciência tanta que precisava ao ver familiares, amigos e conhecidos, que julgava mais confortável a sua solidão. Momento em que não precisava aceitar calado aos desperdícios ou evitar olhares de espanto aos mais corriqueiros afazeres. 74

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cordava todos os dias às cinco da manhã. Queria estar desperto ao despontar da mais pequena claridade para aproveitar ao máximo o Sol, este que preferia chamar de a mais bonita fonte de energia renovável. Há tanto tempo eram iguais seus dias que não se lembrava quando foi a última vez que precisou recorrer a alguma lâmpada. Ou melhor, lembrava vagamente. Estava hospedando um de seus pequenos sobrinhos e, ao ouvir berros e mais berros durante a madrugada, espantou-se a ponto de agir sem pensar: acendeu as luzes antes mesmo de recorrer às velas dispostas na cabeceira. E nessa atitude impensada – ou insensata, como preferiu nomear – engoliu tamanho ódio ao descobrir que tantos gritos eram simples pesadelo. Maurício vivia em um tempo cronometrado, no qual cada segundo representava contenção de gastos de tudo o que se pode nomear como fonte não renovável. Todo dia, ainda no escuro, aproveitava para realizar o toalete. A ducha era ligada por uma fração de segundo, tempo mais que suficiente para molhar o corpo. Então Maurício se ensaboava lentamente, convicto de que naquela pequena medida de economia, naquele pequeno gesto, estava salvando seu planeta. Embora tal conta já soubesse decor, não havia dia em que não recalculava os gastos: uma ducha gasta em média 160 litros de água durante um banho de 10 minutos; fechando o chuveiro para se ensaboar ou lavar os cabelos, a economia será de 30 mil litros de água em um ano. A essa conta, Maurício acrescentava o fato de realizar o mesmo procedimento há 20 anos e então sorria satisfeito ao lembrar dos 600 mil litros de água economizados. Mais satisfeito ficava quando aproveitava para urinar durante o banho. Era extremo o prazer ao imaginar a economia dos 12 litros de água gastos a cada descarga. Mesmo assim, ainda se lamentava com as outras duas vezes que utilizava o banheiro no trabalho (impossível realizar o mesmo procedimento). Embora não gostasse de admitir, não foram poucas as vezes que, vendo que o banheiro estava ocupado antes de sua entrada, pensou em alertar: “Não dê descarga! Espere que eu dou por nós dois.” Jamais seria compreendido. O ritual de higiene, no entanto, só terminava quando, após utilizar o cotonete, colocava em lixos separados o algodão e a haste. Antes de sair para o trabalho, Maurício ainda recolhia qualquer vestígio de materiais recicláveis. Não eram muitos, pois – inconformado com a quantidade de embalagens do tipo caixinha-dentro-de-um-saquinhodentro-da-sacola-dentro-do-sacolão – há tempos havia reduzido seu cardápio a produtos não industrializados, alimentando-se basicamente de frutas e verduras. Mesmo

assim, era possível encontrar no lixo de recicláveis dúzias de hastes de cotonetes (sem o algodão, é claro), algumas folhas de papel devidamente utilizadas (em sua frente e verso) e umas poucas embalagens. Na empresa de jornalismo onde trabalhava, indignavase com a quantidade espantosa de papéis que se acumulavam na impressora. Discreto, Maurício separava cada uma daquelas folhas para utilizar seu verso. Fazia a conta: além da derrubada de árvores, 50 mil folhas de papel por mês (cem pacotes de 500 folhas), representam, indiretamente, 128.000 litros de água mensais (utilizados na fabricação). E logo pensava: se metade do papel utilizado passasse a ser usado dos dois lados, o consumo cairia 25%. Mas Maurício era um só e não conseguiria em vida usar o verso de todos aqueles papéis. Logo as pilhas se acumulavam, ocupavam espaço desnecessário e então Gentil – o encarregado de sumir com tamanho “lixo” – aparecia. A Maurício, restava observar com pesar o sumiço sabe-se lá para onde daquelas folhas mal aproveitadas. Acostumado a viver na metrópole, Maurício fez do som das ruas e do arrancar dos carros a sua música. Gostava de elogiar zumbidos, justificando como eram bons esses sons assimétricos e desrítmicos da rua: incomparáveis a qualquer outra melodia. Há tanto havia incorporado esse discurso que nem se lembrava quando, certa vez, cansado dos olhares tortos ao discorrer sobre economia e uso racional de energia (não admitia aparelhos de som ligados junto com televisores e tantos quantos aparelhos eletrônicos fossem possíveis para atrapalhar o silêncio – tendo consequências apenas para o meio ambiente), inventou tal excentricidade: “gostar do som das ruas!” Agora, toda vez que chegava em um desses ambientes de tamanha poluição sonora – e ambiental – dizia: “Por obséquio, podemos ouvir o som dos automóveis?” Longe de se considerar galã de cinema, Maurício esperava com não pouca esperança o seu happy end. Um dia, no entanto, cansado de tanta batalha, não conteve o choro (afinal, super-heróis também têm sentimentos) ao mais uma vez encontrar embalagens atiradas ao chão, donas de casa lavando a calçada com a água do planeta, além da enorme fila de carros engarrafados (cada um deles com apenas uma pessoa dentro). Nesse dia, encontrou refúgio, porto seguro, fortaleza: em prantos, correu até a árvore mais próxima. Ali, chorou, rezou e, no último lamento, disse sábias palavras: “Mãe-geradora-de-vida (era assim que chamava a sua árvore), perdoai-os. Eles não sabem o que fazem.” * Personagem de ficção **As informações foram obtidas por intermédio do Instituto Akatu. AIMÉ

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Blazer - A Minha Vó Tinha / Cartola Fernando Moreira

Modelo: Daniel Grah Edição de Moda: Fernanda Kazalla Produção de Moda: Leandro Lourenço Maquiador: Robson Almeida Fotografia: Marcio Amaral

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Blazer - A Minha Vó Tinha / Regata - João Pimenta / Calça - João Pimenta / Tênis - Superga / Rosas - Fernando Moreira


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Calça capri - João Pimenta / Adereço de braço - Fernando Moreira / Suspensório - Aminha Vó Tinha


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Colete - Tony JR / Adereรงo Fernando Moreira


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Shorts - Tony JR / Camisa - TNG / Maquaquinho - João Pimenta / Cinto - Mario Queiroz / Flores - Fernando Moreira


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Túnica - João Pimenta / Flor - Fernando Moreira


Macacão - Danilo Costa / Flores - Fernando Moreira

ONDE ENCONTRAR A Minha Vó Tinha: 11. 3865-1759 Fernando Moreira: 11. 2594-1735 João Pimenta: 11.3034-2415 Superga: www.superga.com.br Tony Jr.: 11. 2574-1337 TNG: www.tng.com.br Mario Queiroz: 11. 3062-3982 Danilo Costa: 19. 9795-2105 Marcelo Ferraz: 11. 7605-1801

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Blazer - JoĂŁo Pimenta / Bermuda - Marcelo Ferraz / Tenis - Superga / Cartola - Fernando Moreira


[comportamento]

Atendimento personalizado Por Raphaella B. Rodrigues

Discriminação faz com que os LGBTTs evitem unidades de saúde

“N

inguém mandou ser gay, é por isso que está com dor.” Foi o que ouviu Ricardo*, 26 anos, de um proctologista durante a consulta. Hoje, passando a mão na franja comprida que insiste em cair no rosto, Ricardo conta que logo que entrou na sala do consultório foi muito bem atendido. “O médico foi simpático e o início da consulta foi bom.” Foi somente depois que Ricardo revelou que era homossexual que o atendimento mudou e até mesmo a expressão do especialista se transformou. “A feição do rosto dele fechou. Ele se tornou seco, me mandou tirar a calça e me arrumar para fazer o exame.” De acordo com o Departamento de DST e Aids do Ministério da Saúde, a orientação sobre o atendimento está especificada no terceiro princípio da Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde, publicada em 2006, que “assegura ao cidadão o atendimento acolhedor e livre de discriminação, visando à igualdade de tratamento e a uma relação mais pessoal e saudável”. Segundo o Dr. Joaquim de Almeida Claro, chefe de atendimento do Ambulatório do Homem, no Hospital Brigadeiro, em São Paulo, não existe nenhuma orientação em relação ao tratamento dispensado ao homossexual no hospital. “Do mesmo jeito que não perguntamos qual é a religião do paciente, não perguntamos sobre a sua opção sexual. Não existe nenhuma política especial de atendimento”, afirma. Embora a orientação sexual ou mesmo a religião não devessem ser fatores de discriminação, na prática, é constante a manifestação preconceituosa de alguns médicos. O Dr. Claro acredita que, se a pessoa for preconceituosa, isso se manifestará em qualquer profissão que ela seguir. “Se antes de se formar médico já existia uma visão preconceituosa, não tem como não ser um médico cheio de preconceitos. Vai de acordo com a pessoa”, explica ele, e logo antecipa: “Aqui eu

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nunca soube de nenhuma atitude assim.” Uma pesquisa realizada pela Secretaria de Saúde de São Paulo durante a 12ª Parada do Orgulho Gay mostrou que 59% dos jovens gays evitam procurar unidades de saúde por medo de sofrer preconceito. Do total de 576 entrevistados, 527 se declararam LGBTT. Segundo a pesquisa, 82% avaliam os serviços de saúde como inadequados e a maioria afirma buscar assistência médica somente em casos de urgência. Mesmo com uma amostragem pequena, a pesquisa aponta a existência de discriminação na área de saúde, o que pode impedir o diagnóstico precoce de doenças e até mesmo trazer complicações pela falta de atendimento e de tratamento adequado. No Centro de Referência de Tratamento de Aids, onde está localizado o Ambulatório de Saúde Integral para Travestis e Transexuais – inaugurado em junho de 2009, na R. Sta. Cruz, 81, em São Paulo –, os profissionais perceberam a necessidade de um atendimento especializado. “O objetivo é oferecer saúde integral para esse público que sofre com a falta de habilidade dos profissionais de saúde”, afirma a Dra. Maria Filomena Cernicchiaro, diretora do ambulatório. O ambulatório atende desde pessoas com gripe, até pessoas com necessidade de uma atenção mais especializada, como acompanhamento do tratamento hormonal ou mesmo aquelas que estão na espera pela cirurgia de readequação sexual (feita somente no Hospital das Clínicas). Segundo a diretora, a escolha dos especialistas passa por uma avaliação do perfil do profissional para que não sejam contratados os que não possuem afinidade com a população do centro. A equipe de profissionais para o atendimento nas áreas de Urologia, Proctologia, Ginecologia, Psiquiatria, Endocrinologia, Dermatologia e também Assistência Social, não está

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completa. “Por causa desse processo de análise do perfil, ainda buscamos médicos para algumas áreas”, afirma a Dra. Filomena. Por falta de um atendimento especializado, Alessandra Saraiva, designer, transexual e coordenadora da Secretaria de Travestis e Transexuais da Associação da Parada do Orgulho LGBT, não tem boas recordações das consultas médicas. Ela acredita ser necessário um ambulatório para dar apoio e condições de tratamento para quem quer mudar de sexo. Ela, que hoje só espera a resolução do juiz para ser considerada legalmente mulher, explica que sempre se sentiu como uma mulher e foi somente através do apoio de sua terapeuta que conseguiu se assumir como tal. Para sua transição física, Alessandra precisava de um acompanhamento endocrinológico e não conseguiu obtê-lo em Manaus. Com um tom irônico, ela conta que a primeira médica endocrinologista que procurou a encaminhou para o tratamento no Rio de Janeiro. “Morava em Manaus e para chegar até o Rio de Janeiro não era só atravessar a ponte ou pegar um ônibus.” Segundo Alessandra, essa foi a mais simpática, já que outra médica disse que não tinha experiência no assunto e a dispensou. Como resultado dessas experiências, Alessandra passou a ter medo de endocrinologista. “Costumava brincar dizendo que tinha pavor de endocrinologista, porque toda vez saía chorando. Você não tem nenhum tipo de apoio.” Ricardo também não tem boas lembranças da discriminação sofrida ao procurar o proctologista. Desconcertado, ele não retornou nem mesmo para mostrar os exames. “Já é constrangedor para um homem fazer um exame proctológico, imagine depois de ouvir que a culpa das minhas dores era a minha escolha sexual?” Como ele, Alessandra passou a evitar ao máximo as unidades de saúde. Logo depois da cirurgia para mudar de sexo, sofreu com uma complicação renal por causa da cicatrização e só procurou um médico nove meses depois. “Tinha tanto medo de o médico me tratar mal, que meu problema se agravou e precisei fazer duas cirurgias. Passei milhões de situações constrangedoras, de urinar em supermercado, em fila de banco, com incontinência urinária, porque não queria ir ao médico.” Para os transexuais, além do atendimento inadequado, outro problema é decorrente do nome social do paciente. A Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde garante o direito do cidadão de ser registrado com o nome que deseja ser chamado. Portanto, além da identificação pelo nome e sobrenome, deve existir em todo documento de identificação das instituições de saúde um campo para se anotar o nome pelo qual o paciente prefere ser chamado, independentemente do registro civil, não se podendo tratá-lo por número, nome da doença, códigos, de modo genérico, desrespeitoso ou preconceituoso.

A política do Sistema Único de Saúde (SUS) orienta que os hospitais públicos aceitem o nome social. No ambulatório, a Dra. Filomena diz que cumpre essa política durante o atendimento e coloca os dois nomes na ficha: o social e o civil. No entanto, com o começo das operações no ambulatório, descobriu-se que para a equipe do laboratório é necessário fichar com o nome civil. “Existem muitas Paolas, Sabrinas, Priscilas, precisamos de um nome completo no registro para que não ocorra troca de exames”, afirma a médica. Alessandra relata que diversas vezes passou por constrangimentos por causa do nome. “Já fiz barraco no hospital, mesmo morrendo de dor, para ser atendida”, reclama. Como a transexual ainda não teve o nome alterado, consta nos documentos e no plano de saúde o nome masculino. “A partir do momento em que a pessoa não muda aquela vogal e mantém o nome do registro, todo o resto é insuportável, você só tem problemas e constrangimentos”, reitera. Com medo de sofrer mais discriminação, Ricardo arranjou uma espécie de solução preventiva: só procura médicos indicados por amigos e conhecidos. “Não vou arriscar ser discriminado de novo.” A Dra. Maria Filomena espera que o ambulatório seja apenas o início de uma sensibilização maior e que o trabalho realizado por ele envolva outros municípios. “Quem sabe daqui a algum tempo não precise ter um centro específico para atender essa população. Eles têm o direito de ser atendidos em um hospital ou pronto-socorro como toda a população”, acredita a médica. * O nome foi alterado a pedido da fonte

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A pior manifestação: o

preconceito Por Lívia Velasco

“Deus fez o homem e a mulher [com sexos diferentes] para que cumpram seu papel e tenham filhos.” (Frase popular, anônima, que tem a concordância de 11 em cada 12 brasileiros)

“N

unca [sofri] nenhum tipo de agressão física. Mas já fui chamado de ‘viadinho, pederasta e escória da sociedade’ por um cara desconhecido que me viu beijando um namorado em frente de casa. O cara parou o carro só pra vomitar as ofensas e foi embora. Também já soube que pessoas que me tratavam normalmente costumavam se referir a mim como ‘o viadinho da turma’.” Esse exemplo de agressão moral foi relatado por Luis Augusto Suassuna e Bega, estudante de 23 anos, que mora em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Do outro lado do Atlântico, em Barcelona, na Espanha, o pós-graduando em Gestão Cultural, Leonardo Lopes, de 25, que mora na cidade há dois anos conta uma outra realidade: “Aqui o preconceito é muito menor, mas bem, bem, bem menor do que no Brasil. Ser gay é normal. Vira e mexe você anda nas ruas e encontra casais de mãos dadas e trocando carinhos. No Brasil os homofóbicos são mais ignorantes.” Leonardo e Luis Augusto estão em continentes diferentes. De um lado, a capital sul-matogrossense, conhecida por suas ruas largas e arborizadas, escala de turistas do mundo inteiro com destino a Bonito e Bodoquena; do outro, bem longe, a cosmopolita Barcelona, terra do pintor Joan Miró, que deslizou seus pincéis com influências do Fauvismo e do Cubismo.

Os dois jovens não se conhecem, estão em contextos bastante distintos, mas concordam com uma afirmação, e certamente a dividem com a maioria dos homossexuais: a homofobia existe no Brasil e ela se manifesta de diferentes maneiras. Para enxergá-la basta ter um olhar mais crítico e menos permissivo. Manifestações tidas como piadas, apelidos pejorativos e até mesmo assassinatos são muito mais frequentes do que se pode imaginar. De acordo com uma pesquisa do Grupo Gay da Bahia – mais antiga associação de defesa dos direitos humanos dos homossexuais no Brasil –, publicada no relatório “Assassinatos de Homossexuais no Brasil (2005)”, São Paulo e Pernambuco são os Estados mais violentos. No relatório, empresários, cabeleireiros, padres, pais de santo e funcionários públicos estão entre as principais vítimas e, no topo, estão os afro-descendentes. Outra constatação surpreendente é que menos de 10% dos criminosos são levados a julgamento. Ainda segundo a pesquisa, o Brasil se destaca com índices homofóbicos no cenário mundial. Numa lista de 25 nações sobre as quais há informações disponíveis – incluindo Irã, Arábia Saudita, Somália, Argentina, Peru e Colômbia, além dos principais países europeus – o Brasil ocupa o vergonhoso primeiro lugar, com mais de cem crimes homofóbicos por ano, seguido AIMÉ

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Existência de preconceito contra LGBT no Brasil 92

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Existe preconceito

Um pouco

Muito

Não sabe se muito ou pouco

Não existe preconceito

Não sabe se existe

do México, com 35 mortes anuais, e dos Estados Unidos, com 25. Outro relatório divulgado no começo deste ano, com o título “Diversidade Sexual e Homofobia no Brasil. Intolerância e respeito às diferenças sexuais”, produzido pela Fundação Perseu Abramo e coordenado pelo sociólogo Gustavo Venturi, aponta que 92% dos entrevistados reconheceram que há preconceito contra os LGBT, sendo que 45% revelaram que o preconceito ocorre de forma velada. Na segunda fase da pesquisa, restrita ao público homossexual, 59% dos entrevistados disseram ter sofrido discriminação por serem gays ou lésbicas. 88

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transexuais

Grupo vulnerável Diante dessa enxurrada de números alarmantes, uma pergunta fica no ar: por que, com essa enorme quantidade de casos, há ainda poucas denúncias? Para Margarete Barreto, delegada titular da Delegacia de Crimes Raciais e de Delitos de Intolerância (DECRADI), “o medo da exposição entre familiares e amigos pode inibir a denúncia. Receber uma intimação no serviço ou em casa pode trazer mais transtornos, dependendo do caso, o que desestimula a prática da denúncia”. Embora atos de homofobia não sejam considerados criminosos, muitos dos casos podem

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Grau de aversão ou intolerância a grupos de pessoas (estimulada e única, em %) 17

Gente que não acredita em Deus Gente muito religiosa

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ser enquadrados como crimes de intolerância. A delegada explica que “se uma pessoa queima a casa da outra, agride, constrange por meio de palavras por causa da homossexualidade, o crime é de intolerância”. E acrescenta: “Nem todas as ocorrências relacionadas aos homossexuais estão ligadas ao preconceito, mas esse grupo se tornou vulnerável pela não denúncia por medo da exposição.” Leonardo nunca passou por situações em que julgou necessário recorrer ao amparo policial. Para ele, “a denúncia é somente quando a situação chega a um ponto nocivo. Se for um constrangimento fraco, eu acho que o gay tem que sair dessa por cima, ou ignorando ou devolvendo de maneira que a pessoa se coloque no seu devido lugar. A denúncia existe para amparar, mas pra acabar como preconceito, não é a única maneira eficiente.” Infelizmente, existem casos em que não há chances de denúncia por parte da vítima. A vio-

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Repulsa / ódio Antipatia Indiferença Satisfação / alegria Outras

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Usuários de drogas

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lência chega ao extremo e a pessoa paga com a vida pelo preconceito sofrido. Foi o caso de Marcelo Barros, chef de cozinha, espancado logo após a Parada Gay em São Paulo. Margarete está à frente das investigações e, para manter o sigilo do caso e não atrapalhar o andamento das investigações, não quis tecer comentários. Marcelo Barros tinha 35 anos e era gay assumido. O crime de homofobia poderia ser punido, se o Projeto de Lei Complementar (PLC) nº 122/06, que criminaliza ataques por orientação sexual, fosse aprovado no Senado.

Serviços: Para mais informações acesse: www.naohomofobia.com.br Gráficos retirados da pesquisa produzida pela Fundação Perseu Abramo sobre “Diversidade Sexual e Homofobia no Brasil. Intolerância e respeito às diferenças sexuais”. Imagens retiradas do link: http://www.informes.org.br/documentos/FPA_Pesquisa.pdf AIMÉ

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[Internacional]

Leitura do tamanho do bolso Por Márcio Rodrigo Delgado

Variedade de revistas para o público gay na Inglaterra atende a todos os gostos, até os de quem não tem dinheiro.

C

om uma população gay estimada em quase 3 milhões de pessoas com mais de 16 anos de idade, não é de se estranhar que a Inglaterra tenha desenvolvido um mercado editorial dirigido ao público homossexual. Praticamente, há uma revista para cada gosto, dos mais exigentes aos que preferem ler o que encontram de graça pela frente. E a cada semestre novas publicações invadem as ruas do Soho, o bairro GLS de Londres, com capas coloridas, modelos de tirar o fôlego e conteúdo de qualidade muitas vezes duvidosa. Em comum, todas têm pelo menos uma coisa: visam atingir o coração (e o bolso) de uma fatia de consumidores que no ano passado gastou mais de 2 bilhões de libras comprando livros, revistas e CDs, 10 bilhões em roupas, e ainda outros 5 bilhões em produtos de beleza e decoração. Valores que, somados e convertidos para o real, passam de 50 bilhões em artigos supérfluos. O fenômeno não é algo recente. Desde 1974, por exemplo, o grupo Millivres Prowler explora o mercado gay e hoje publi-

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ca algumas das principais revistas que circulam na Inglaterra, entre elas a internacional GT (leia-se: Gay Times), DIVA e o jornal quinzenal Pink Paper – que, vítima do atual cenário econômico, acaba de sair de circulação e, depois de 20 anos no mercado, torna-se on-line.

De graça Cerca de 50% das revistas GLS chegam às mãos do leitor completamente grátis. É a conhecida fórmula de fazer com que o anunciante pague a conta. Entre as publicações que não custam um centavo estão as revistas semanais Boyz e QX, que circulam desde a década de 90. Para cobrir custos de impressão e distribuição, ambas contam com propagandas de clubes, bares, imobiliárias, sites de relacionamento, empresas que oferecem sexo através do telefone e garotos de programa. Já entre as revistas que cobram pelo conteúdo estão a GT, a mais cara entre as revistas pagas com preço de £ 3,75 (R$ 12,00), e as moderninhas reFresh e Attitude, que custam £ 3,25 (R$ 10).

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O que chega às mãos do leitor: Boyz Magazine Após lançar novo design em 2007 para amenizar a enorme quantidade de conteúdo pornográfico, a publicação começou a focar mais em notícias, incluindo assuntos de saúde e beleza. O novo enfoque chamou a atenção não apenas da comunidade gay. No ano passado, a Boyz acabou servindo de fonte para um programa da BBC após publicar reportagem sobre três jovens atores ingleses que foram infectados com o vírus HIV durante filmagens de um filme pornô.

Attitude Distribuída em vários países, a revista, que surgiu em 1994, faturou prêmios e aposta em moda, estilo e “attitude” para atrair o leitor disposto a pagar para comprá-la nas bancas. A banda McFly, os cantores Will Young e Sam Sparro, e até o vitaminado jogador de futebol sueco Freddie Ljungberg (garotopropaganda da Calvin Klein), já deram o ar da graça na capa da publicação.

AXM Se a revista Capricho fosse gay e escrita em inglês, ela se chamaria AXM. Voltada para o público jovem gay e bissexual, durante quase dez anos a AXM mesclou cor e informação, frequentemente com atores de seriados adolescentes e cantores populares na capa. Porém, em dezembro do ano passado, a publicação deixou as bancas e passou a ter conteúdo exclusivamente on-line.

Gay Times (GT) Dirigida para um público mais adulto, e também distribuída para diversos países ao redor do mundo, a GT explora os aspectos políticos que interessam ao cidadão gay no século 21, abordando direitos e deveres, discutindo políticas e leis que diretamente afetam o leitor GLS. Apesar do conteúdo sério – são constantes as tentativas de conciliar assuntos delicados com editoriais trazendo modelos com bem pouca roupa, e a revista nunca abriu mão do faturamento gerado por suas diversas páginas com anúncios de casas de massagem e garotos de programa.

QX Semanal e gratuita, tem como ponto forte o extenso guia de eventos de Londres e cobertura da noite gay da capital inglesa. A pouca atenção a matérias mais elaboradas é visível já a partir da capa, geralmente trazendo um milimetricamente perfeito modelo visto pelas lentes de um renomado fotógrafo, mas sem manchetes e raríssimas menções de reportagens. De fato, folhear a revista é como visitar uma versão impressa do MySpace ou Facebook, com fotos em todos os lugares possíveis, títulos coloridos e quase nenhum conteúdo.

Bent Distribuída em mais de 400 bares no Reino Unido, é editada na cidade de Leeds e tem como destaque a cobertura de eventos, colunas de fofocas, lançamentos de filmes e paradas de sucesso. Para reforçar o faturamento, a cada dois meses é lançada uma versão catálogo da revista, vendendo os produtos de beleza, roupas, sapatos e acessórios fotografados para os editoriais da mesma. A compra é feita pelo correio, bem ao estilo antigo: uma espécie de Avon gay.

Diva Voltada para lésbicas e simpatizantes, a publicação mensal foi criada em 1994 e seu principal atrativo são entrevistas com ídolos gays e cobertura sobre mercado de trabalho. A banda Tatu e a cantora Pink já foram capa, mas seguindo a premissa ‘delicadeza-é-coisa-de-mulherzinha’, Diva tem uma diagramação enfadonha que lembra o boletim de um sindicato de trabalhadores rurais, com blocos imensos que parecem ter sido copiados da internet sem a ajuda do Photoshop.

reFresh Bimensal e em tamanho maior do que o das concorrentes, reFresh aposta em fotos elaboradas, design e decoração, uma trinca que é receita garantida para atrair gays, curiosos e deslumbrados de plantão – que não conseguiriam dormir sem descobrir o que a atriz Y estava usando no programa X . Com linguagem modernosa, a publicação não esconde a proposta de parecer um catálogo de artes para emergentes: no subtítulo do seu website, o slogan divulga o veículo como: ‘a revista internacional de estilo perfeita para a sua mesinha de centro’. AIMÉ

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[na onda]

s y Bo Colares e pulseira - Balai / Anéis - Rajasthan.

Concepção e produção: Luiz Eduardo Petrone / Fotografia: Sérgio Rousselet / Beleza: Erben Cau Modelos: Vicente Ros, Carlos Lourenço e Daniel Machado / Agradecimentos: Solar do Gração pela locação e móveis

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Túnica e anel do pé - Rithual / Colares e anéis - Rajasthan / Almofadas e pano - Balai.


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Calça saruel preta e azul-marinho - Chifon / Turbantes - Rithual / Colares, pulseiras e anéis - Rajasthan.


Calรงa pijama e pashmina - Rithual.

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Túnica caftan e calça pijama - Rithual / Pulseiras - Composit .


Calça saruel - Sandpiper/ Anéis - Rajasthan / Cordão - Rithual.

Onde encontrar: Balai - (www.balai.com.br) Chifon - (www.chifon.com.br) Composit - (www.compositmoda.com.br) Rajasthan (21) 2267-7469 Rithual (21) 2620-8367 Sandpiper (www.sandpiper.com.br) Solar do Gração, tel. (21) 2616-1924) AIMÉ

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a d i c e h n o c e r o nã drigues

Por Raphaella B. Ro

Foi-se o tempo em que a tatuagem era símbolo de transgressão. De tão comum, virou quase acessório, tão usual como brincos ou colares. As tatuagens conquistaram a pele de modelos, patricinhas, modernosos, adolescentes e, como já era de se esperar, viraram figurinhas fáceis entre o público gay – sempre atento a todas as tendências

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preconceito, no entanto, não é página virada. Embora a mudança do conceito depreciativo tenha começado há algum tempo, não é difícil encontrar nos dias de hoje empregadores com restrições aos desenhos tatuados no corpo. E é justamente contra essa imagem negativa que Sérgio Maciel tem lutado há tantos anos. Mais conhecido como Led’s – apelido que ganhou depois de criar o estúdio de tatuagem Led’s Tatoo –, o tatuador explica a batalha que

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enfrentou desde o início de sua carreira. “Trabalhamos muito para mudar aquela imagem tétrica que um estúdio de tatuagem tinha. Mostravam a tatuagem como uma coisa underground e, hoje, a preferência é por mostrar um estúdio limpo, bonito e organizado”, afirma. E para driblar o preconceito em relação à tatuagem, ele acreditou que o melhor jeito seria informar a sociedade. “Desde o começo procurei fazer um tipo de assessoria de divulgação e toda matéria que aparecia eu estava lá dando a cara

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para bater, enfrentando as críticas e preconceitos, mas esclarecendo a sociedade sobre a arte da tatuagem.” No caso dele, o amor pela tatuagem foi arrebatador. O menino que gostava de desenhar e havia estudado arte descobriu na tatuagem um mundo novo: o encanto foi porque viu a possibilidade de trazer o que se fazia na tela ou no papel para a pele. A tatuagem tem o mesmo princípio da arte no papel, mas com um pincel que, na verdade, é uma agulha descartável presa a uma máquina eletromagnética. Com 3 mil batidas por minuto, a tinta é aplicada na terceira camada da pele e fica eternizada. O que muitos já consideraram como simples rebeldia é, na verdade, uma das artes mais antigas. Figuras rupestres mostravam desenhos de formas humanas com pinturas em seus corpos. Sinônimo de força, poder, fertilidade, vaidade, estratégia de guerra ou parte de um ritual religioso, a tatu-

agem foi encontrada em múmias egípcias, foi relatada por Heródoto quando se referiu a um grupo do norte europeu na Antiguidade e por Darwin, em 1871, ao falar dos aborígines. Com as explorações no oceano Pacífico e o contato do Ocidente com povos da Nova Zelândia e Polinésia, que usavam a tatuagem em seus rituais religiosos, não demorou muito para que a arte de desenhar no corpo se tornasse febre na Inglaterra – cultuada, principalmente, por marinheiros. E foi esse o principal motivo que fez com que a tatuagem fosse associada à criminalidade e à marginalidade. Mas a influência dos marinheiros não foi apenas negativa, já que foi nesse meio que surgiu o nome para a arte de desenhar no corpo. James Cook, capitão de um navio, escreveu, em seu diário, “tattow” para se referir à arte. Para ele, esse era o som que se ouvia quando as agulhas – na época, ossos finos – eram batidas com martelos contra a

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pele. No Brasil, a tatuagem também fez sucesso entre marinheiros quando foi trazida, no final da década de 1950, pelo dinamarquês Knud Harald Lucky Gregersen. Mais conhecido por Lucky Tatoo, ele se instalou no porto de Santos e foi considerado, por anos, o único tatuador profissional no País e em toda a América do Sul. A mudança do conceito depreciativo da arte começou na década de 1970 com os surfistas californianos e seus desenhos de dragões e serpentes e, na mesma época, com pessoas que tatuavam reproduções de imagens de artistas famosos como Marlin Monroe, James Dean e Jimmy Hendrix. No Japão, a tatuagem foi símbolo de uma das mais famosas máfias, a dos Yakusas, fato que dificultou a aceitação da arte pela população. Hoje, jovens japoneses ade­ riram à tatuagem. Led’s teve seu esforço de melhorar a imagem da tatuagem artística reconhecido por seguir à risca todos os procedimentos de biossegurança: seu estúdio tem um padrão de qualidade reconhecido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), o que lhe rendeu um convite para falar a tatuadores do Paraná. “Procurei ficar bem ciente dessa parte de assepsia e biossegurança. Na época em que comecei, existia só a estufa e hoje é preciso ter um aparelho de ultrassom que faz a quebra de 100

partículas internas e a limpeza dos instrumentais”, conta Led’s. Outra observação feita pelo tatuador é que as agulhas devem ser descartáveis e abertas somente no momento da utilização, as tintas colocadas em recipientes individuais e os fios encapados para que não ocorra infecção cruzada. Essas mudanças ajudam a quebrar o preconceito contra a tatuagem e colaboram para o reconhecimento. Mas, apesar das vitórias, os profissionais da área ressentem-se do fato de a profissão ainda não ser reconhecida pelo Ministério do Trabalho. Essa é a luta do Sindicato dos Tatuadores. Na pele de pessoas de diversas tribos urbanas, o tatuador acredita realizar sonhos. “A tatuagem é uma joia à prova de roubo, eternizada na pele”, diz. E como falamos de sonho, a escolha do que tatuar é do cliente, mas a equipe de Led’s sempre aconselha e, algumas vezes, faz um desenho exclusivo. Na Itália, a preocupação com as motivações da tatuagem foi ainda mais longe: um grupo do Departamento de Psicologia da Universidade de Milão estuda o incons­ ciente dos tatuados e classifica os desenhos e seus significados. Entre os famosos internacionais, Angelina Jolie tatuou no braço uma homenagem a seus filhos: a latitude e longitude do lugare em que

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cada um nasceu. O jogador de futebol David Beckham, casado com a ex-Spice Victoria, encontrou na tatuagem uma forma de homena­ gear sua família. Entre as celebridades brasileiras, a atriz Débora Secco foi notícia quando tatuou no peito do pé uma frase de amor para Falcão, cantor do Rappa e seu namorado na época. Ta­tuagem essa que fez a atriz recorrer ao laser para apagá-la. A top das tops, Gisele Bündchen, tem uma pequena estrelinha no punho esquerdo feita quando foi morar em Nova York e viu que o céu não era estrelado como o de Horizontina (RS), sua cidade natal. Led’s já deixou um pouquinho de sua arte na pele de mais de 20 mil pessoas e, entre elas, também muitos famosos. “Foi gente do meio político, da música, da televisão. Inclusive participei da sétima edição do Big Brother Brasil tatuando, ao vivo, por mais de oito horas, o Cowboy. Fiz tatuagem na Daniele Winits, Zélia Duncan, Nando Reis, no piloto Tony Kanaan, foram muitos.” Para conferir mais sobre tatuagem e as novidades desse mundo, nos dias 16, 17 e 18 de outubro acontecerá a 13ª edição da Convenção Internacional de Tatuagem com tatuadores do Brasil e de mais 24 países. “É uma forma de divulgar a tatuagem e de trocar experiências com tatuadores de todo o mundo”, afirma Led’s.

Alguns tipos de tatuagem Tradicional:

são aqueles desenhos tradicionais, como uma âncora ou uma gaivota, aliás, os marinheiros foram os grandes divulgadores da tatuagem pelo mundo.

Sumi:

técnica oriental que utiliza bambu em vez de agulha. Geralmente os desenhos são ricos em detalhes.

(tatuagem de marinheiro)

Realista:

desenhos de retratos de pessoas, pássaros e perso­ nalidades.

Alto Relevo:

muito difundida entre os índios. A pele é dissecada, formando desenhos com uma infinidade de cores. Método praticado principalmente por aborígines de origem africana.

Celta:

desenhos de origem celta com figuras entrelaçadas. Pode ser preta ou colorida.

Tribal:

desenhos em preto ou coloridos com motivos tribais. Podem ser desenhos de tribos norte-americanas, haidas, maias, incas, astecas, com formas geomé­ tricas ou abstratos.

Oriental:

trabalhos grandes, geralmente de corpo inteiro, como um painel. Os desenhos são com motivos orientais, como samurais, gueixas e dragões.

Psocidélica: Religiosa:

trabalho supercolorido com desenhos totalmente senseless. trabalho com personagens bíblicos, como um santo, uma cruz etc. AIMÉ

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NOVA YORK Texto e fotos: Joaquim Andrade

Sou testemunha ocular do que escrevo. Nos últimos meses falei apenas sobre Nova York, pois é onde moro no momento e assim será por alguns meses. Logo volto a rodar o mundo, contando o que há de mais “in” na cena gay. Por enquanto, aproveite a cidade que carinhosamente chamo de “A capital do mundo”.

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credite, o verão este ano não tem sido como os outros! Quente como sempre, mas bem menos que o esperado. A cidade fica mais surreal que nunca, com homens de terno e sandálias ou médicos indo trabalhar de Havaianas. A Times Square tem cadeirinhas e vias fechadas até dezembro. O Museum of Modern Art (MOMA) é de graça todas as sextas-feiras, das 16h às 20h. A imigração tem sido “generosa” com os turistas. O transporte (metrô/ônibus) subiu para US$ 2,25. As famosíssimas promoções clearance sale tiveram descontos de 80% e ainda assim as vendas foram fracas. Valores de aluguéis de apartamentos em ambos east e west upper side de Manhattan caíram drasticamente.

Coroa aberta! A famosa Estátua da Liberdade teve a visitação ao topo reaberta. Porém, já há espera de um ano para conseguir ingressos. Baratíssimos (3 dólares), podem ser comprados no site www. estatuecruises.com. As visitas são monitoradas e é aceito um máximo de três grupos de dez pessoas a cada hora. Sugestão: deixe a poeira baixar! Vá depois, ano que vem!

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G Lounge! Para dançar sem ser “jogação” pesada, vá ao Club G. Um chiquérrimo bar, com iluminação rosa, ar-condicionado potentíssimo e sempre os lançamentos da minimal house music. Tem um ar de moderníssimo, mas existe desde 1977. Já foi considerado o orgulho do Chelsea. O bar fica bem no meio do local e tem go-go boys dançando em cima. Dica: ignore-os e divirta-se! Ponto negativo: somente cash, nada de cartões de crédito!

Não adianta dar o truque na idade – só acima de 21 anos. Carteira de motorista do Brasil é suficiente! Deixe o passaporte no cofre! Diariamente das 16h às 4h. Mas o boom pega mesmo após as 22h e acaba lá pelas 2h. O G Lounge fica na: 225 W Nineteenth St., entre a Sétima e Oitava Avenida. Fone: (212) 929-1085 Site: http://glounge.com

Barnes & Noble A maior livraria do mundo! Pelo menos é assim que se autodenomina. Barnes & Noble, na 5th Ave. com a Rua 18, é considerada a maior livraria do mundo em número de volumes. O que há de novo aí: nada, mas o interessante é que, por estar localizada muito próximo à Universidade de Nova York, à escola de cinema New York Film Academy (NYFA) e a outras universidades, o fluxo é intenso e sempre muito bom! É uma das poucas livrarias que vendem livros usados. Vale a pena conferir os livros e os “leitores” que passam horas lá dentro! A “grande” Barnes & Noble fica na: 105 Fifth Ave. com Eighteenth St. Fone: (212) 807-0099 Site: http://mainstore.bncollege.com AIMÉ

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Hiro Bal room Já dei a dica em outra edição, mas agora, com o verão “bombando” na ilha, ainda é amelhor opção aos domingos. A DJ Honey Dijon, com seu estilo wanna be Naomi Campbell, toca o melhor da deep soul house. Para se ter ideia, ela remixou I Miss You, dos Rolling Stones, com Party in the Gettho, de Crystal Waters. Quem gosta de house music sabe do que estou falando. O lugar é enorme, amplo e bem ventilado. Detalhe: a mesma bebida que pedi no bar de cima custou 2 dólares a mais que no de baixo. Vai entender! Todo domingo, das 22h às 4h. Às 3h59, luzes acessas, som desligado e o carão para sair sendo “levado” pelos seguranças. O Hiro fica no: 88 Nineth Ave. Fone: (212) 727-0212 Site: www.hiroballroom.com

Cubby Cubby Hole Hole Diz a lenda que toda amiga “sapata” tem uma bonita amiga “biba”. Para quem quiser tirar a prova, sugiro o Cubby Hole. Com uma atmosfera de bar para frequentar após o trabalho, há bandeirinhas penduradas no teto e uma jukebox que realmente funciona. Não gaste a noite toda lá, sugiro um rápido warm up e depois somewhere! O Cubby Hole fica na: 281 W Twelfth St. Fone: (212) 243-9041 Site: http://www.cubbyholebar.com

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Revista AIMÉ marcará você para sempre.

A Revista AIMÉ lança mais uma promoção que dará a você uma supertatuagem em um dos maiores estúdios de tatuadores do Brasil, o Led’s Tattoo. Utilizando até 15 palavras, responda à pergunta:

“Por que a Revista AIMÉ deve me dar uma Tatuagem do Led’s Tattoo?” Entra no site www.revistaaime.com.br, envia-nos seus dados juntamente com a frase através do fale conosco! O autor da melhor frase ganhará uma tatuagem do Led’s Tattoo no valor de até R$ 500,00

Regulamento: 1. Esta é uma promoção para todos os leitores da revista Aimé. / 2. Esta promoção não tem qualquer modalidade de sorteio ou pagamento vinculada à aquisição ou ao uso de qualquer bem, direito ou serviço, aberto a todos, exceto aos funcionários da revista Aimé. / 3. Para participar, o interessado deve enviar seus dados (nome completo, idade, endereço, telefone, e-mail e cpf) através do fale conosco do site www.revistaaime.com.br juntamente com uma frase utilizando até 15 (quinze) palavras em resposta à pergunta: Por que a revista Aimé deve dar a você uma tatuagem feita pelo Led´s Tatoo? / 4. A tatuagem será no valor de até R$ 500,00 (quinhentos reais). / 5. A frase deverá ser apresentada obrigatoriamente em língua portuguesa. / 6. Período da Promoção do dia 01/09/09 até 01/10/09. Serão aceitas frases até o dia 01/10/09. / 7. Cada concorrente poderá participar com apenas 1 (uma) frase, devendo conter todos os seus dados preenchidos por completo. / 8. Será escolhida a melhor frase, avaliada pelo seguinte critério: criatividade, originalidade e adequação ao tema. / 9. Uma comissão julgadora, integrada por profissionais capacitados e indicados pela revista Aimé, se encarregará de escolher a frase vencedora da promoção, sendo sua decisão soberana e irrecorrível. / 10. A frase será divulgada no dia 05/10/09 através do site www.revistaaime.com.br. / 11. O autor da frase ganhadora receberá como premio uma tatuagem feita no Led´s Tatto, no valor de até R$ R$ 500,00 (quinhentos reais). O premio não inclui qualquer outra despesa que o ganhador venha a ter. / 12. Em nenhuma hipótese o ganhador poderá receber o valor do premio em dinheiro ou trocar o premio. / 13. O vencedor deverá agendar sua tatuagem até o dia 30/10/2009 no estúdio do Led’s Tattoo e Piercing pelo telefone 11 5561-2351 ou diretamente no local - Av. Ibirapuera, 3478 - Moema - São Paulo - SP. / 14. O vencedor da promoção declara, desde já, ser de sua autoria a frase encaminhada à promoção e que a mesma não constitui plágio de espécie alguma, ao mesmo tempo em que cede a revista, sem qualquer ônus para esta, em caráter definido, todos os direitos autorais sobre a referida, para qualquer tipo de utilização, publicação ou reprodução na divulgação do resultado. / 15. O vencedor da promoção autoriza divulgar seu nome como ganhador da promoção no site e na revista. Realização:

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[ensaio lúdico]

Moleton - Colcci (www.colcci.com.br)

Modelo: Marcos Viniscius Edição de moda: Fernanda Kazalla Produção: Raquel Lionel e Leandro Lourenço Maquiagem: Renner Souza Fotografo: Paulo Henrique

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Tatoo Da Tribo - Tattoo por Alessandro Dell’arno (11. 3061-9490)


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Camisa - Dudalina (11.3885.0773) / Calรงa - Jeanseria (11. 3459-1255)


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Calça Jeans - John John Denim (www.johnjohnjeans.com.br) / Tatoo Da Tribo - Tattoo por Alessandro Dell’arno


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Chapéu - E-Holic (www.e-holic.com.br) / Bata - Aramis (www.aramis.com.br) / Calça Jeans - Vide Bula (www.videbula.com.br)


[perdido e achado]

22 belos anos de praia! N

ascido e criado nas areias de São Vicente , litoral de São Paulo, Gustavo Grande, 22 anos, trabalha na área de logística em uma empresa, mas seu sonho mesmo é fazer sucesso na carreira de modelo! Nascido em 15 de agosto, como um bom leonino que adora chamar a atenção, o moreno não tem com o que se preocupar: sua beleza não passa despercebida em lugar algum, nem mesmo fazendo compras com os amigos em um “mercadinho” da capital. Foi passeando por lá que Gustavo foi descoberto pelo olheiro da agência Mega e mais do que depressa foi convidado a integrar seu casting. Para se divertir, não poderia ser diferente, o garoto da praia joga futebol e adora surfar!

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