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JORNAL DO TEATRO JANEIRO DE 2008 ^ BIMESTRAL PUBLICAÇÃO GRATUITA

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editorial

sumário editorial

Uma nova temporada ao serviço do público Não será demasiado afirmar que, para além da variedade de criadores e autores que têm passado pelo TNDM II, o incentivo à formação e desenvolvimento de novos públicos continua a ser o nosso principal objectivo. Durante o próximo biénio de 2008/2009, esta continua a ser a nossa missão: lutar contra a indiferença em relação ao teatro e mobilizar públicos face a algumas das grandes questões da actualidade que condicionam o nosso futuro. É, por isso, inevitável que algumas das temáticas da anterior temporada estejam novamente presentes. Abrimos o ano com um conjunto de propostas em torno do universo de Fernando Pessoa, com “Turismo Infinito”, do TNSJ, que muito nos apraz receber num necessário intercâmbio entre os dois Teatros Nacionais. Na linha dos grandes autores de língua portuguesa, “Que Farei com este Livro?”, de José Saramago, com encenação de Joaquim Benite, sobe ao palco da Sala Garrett em Março, depois de se ter apresentado na Companhia de Teatro de Almada. Em paralelo com a reposição de “Memorial do Convento”, José Saramago surpreende-nos sempre pela fluidez com que utiliza temas da nossa História que atravessam séculos e nos chegam tão actuais como este de “Que Farei com este Livro?”. “Óscar e a Senhora Cor-de-Rosa” é a proposta que se segue, de Eric-Emmanuel Schmitt, com uma interpretação surpreendente de Lídia Franco de um texto que tem a capacidade de nos fazer rir, ao mesmo tempo que nos perturba pela forma como fala sobre a vida e a própria condição humana. “A Gorda”, do norte-americano Neil LaBute, que abre a programação do Villaret, põe em palco quatro actores que dão corpo a um drama humano com contornos humorísticos. Um retrato único de uma sociedade contemporânea que, de algum modo, voltamos a encontrar em “Relativamente…”, uma comédia de Alan Ayckbourn, dirigida por um nome de referência do teatro português como João Lagarto. A assinalar o encerramento dos 300 anos de Carlo Goldoni, José Peixoto regressa ao universo do dramaturgo italiano com uma peça surpreendente pela forma como cruza uma história de amor com uma comédia amarga que tem a guerra como protagonista. “A Guerra”, uma co-produção com o Teatro dos Aloés e o Cendrev, comprova como nos clássicos continuamos a encontrar temas tão presentes como outrora que, como bem diz José Peixoto, “precisam de ser podados para continuar a crescer”. O conhecimento é outra das temáticas que nos interessa abordar neste novo biénio, com duas propostas como “Um Conto Americano – The Water Engine”, de David Mamet e “O Libertino”, de Eric-Emmanuel Schmitt. A primeira, encenada por Maria Emília Correia, é uma história repleta de humor e surpresas, onde se critica o rápido desgaste dos recursos naturais do Planeta. Schmitt leva-nos a viajar até ao século XVIII, um tempo a fervilhar de espírito aventureiro, onde o protagonista, o filósofo e libertino Denis Diderot, procura ideias para um artigo para a “Enciclopédia”. O ambiente é outra das áreas que se pretende abordar ao longo deste biénio. Uma temática já trabalhada na passada temporada, em “Conferência de R. Feynman”, “Darwin no Jardim” ou “After Darwin” e que regressa com “Terra 8”, de Paulo Moura, um espectáculo que nos faz reflectir sobre o nosso papel na resolução dos problemas que, pouco a pouco, vão flagelando o mundo. As repercussões do trabalho do Teatro Nacional que se fizeram sentir esta temporada no estrangeiro, lançam-nos para novos encontros e cumplicidades, dentro e fora do país. Brasil, França, Canadá, África são alguns dos destinos previstos no próximo ano. Afinal, é fácil derrubar fronteiras se olharmos para este Teatro como uma Casa da criação, onde os artistas têm voz e o público tem sempre um lugar reservado.

[3] “Que Farei com este Livro?” de José Saramago O Nobel português vai ser homenageado no Teatro Nacional com a apresentação da sua peça “Que Farei com este Livro?”. Trata-se de uma encenação de Joaquim Benite, que assim retoma a obra de José Saramago, depois de ter levado à cena “A Noite” e “Memorial do Convento “. “Que Farei com este Livro?” será alvo de nova encenação, depois de uma primeira versão, em 1980. [4 e 5] Destaques da programação do Teatro Nacional em 2008 Uma breve panorâmica de alguns dos espectáculos que constituem a programação do Teatro Nacional para este ano e que apresentamos em antecipação. [6 e 7] “Turismo Infinito” de Fernando Pessoa António M. Feijó pegou em textos de Fernando Pessoa e em cartas de Ofélia Queirós e concebeu “Turismo Infinito”, um texto que evoca a essência da obra pessoana e que, sob a direcção de Ricardo Pais, nos dá oportunidade de revisitarmos um dos autores mais influentes do século XX. João Reis lidera o elenco deste trabalho, que nos surge num cenário do arquitecto Manuel Aires Mateus. [8 e 9] “A Guerra” de Goldoni José Peixoto encerra, na Sala Garrett do Teatro Nacional, as comemorações do tricentenário de Carlo Goldoni com um texto atípico do grande reformador do teatro italiano do século XVIII. “A Guerra” é uma reflexão actual sobre a forma como os seres humanos arquitectam os seus conflitos, em vez de os tentarem resolver. O cenário é de João Rodrigues. [10 e 11] “A GORDA – FAT PIG” DE NEIL LABUTE Amândio Pinheiro vai reinaugurar o Teatro Villaret, temporariamente encerrado para obras, com a peça “A Gorda – Fat Pig”, do norte-americano Neil LaBute. Um espectáculo que será protagonizado por Ricardo Pereira e por Carla Vasconcelos e que nos fala sobre a obsessão moderna com a imagem. [12] “Noite Árabe” de Roland Schimmelpfennig Um dos mais interessantes autores do teatro alemão actual é revelado pelo Teatro Nacional, numa encenação de Paulo Filipe. “Noite Árabe” oferece-se como uma reflexão pertinente sobre uma questão cada vez mais premente na sociedade actual, sobretudo numa Europa repleta de gente de todas as proveniências: as relações inter-raciais. [13] “Óscar” de Eric-Emmanuel Schmitt Lídia Franco fala sobre aquela que é a sua peça preferida de Eric-Emmanuel Schmitt – e também a mais representada no mundo inteiro. Um texto que nos dá uma grande lição de vida e nos ajuda a encarar, com humor, tudo aquilo que nos espera. Até a morte. Em “Óscar e a Sra. Cor-de-Rosa”, Lídia Franco volta também a ser dirigida pela norte-americana Marcia Haufrecht.

“Que Farei com este Livro?”

© José Frade /CTA “Turismo Infinito”

Carlos Fragateiro

ficha técnica direcção> Carlos Fragateiro Coordenação editorial> A. Ribeiro dos Santos redacção> A. Ribeiro dos Santos, Margarida Gil dos Reis (colab.), Ricardo Paulouro Coordenação de imagem> Joana Esteves grafismo> Nuno Patrício fotografia> Margarida Dias PROPRIEDADE> TNDM II, EPE

© João Tuna / TNSJ


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De 7 a 16 de Março, na Sala Garrett >

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Que Farei com este

Livro?

José Saramago escreveu “Que Farei com este Livro?” há quase trinta anos para a Companhia de Teatro de Almada. Joaquim Benite regressa a este texto, numa nova adaptação, pela actualidade do tema e para prestar uma homenagem ao Nobel português Margarida Gil dos Reis © José Frade / CTA

“Que Farei com este Livro?” foi a segunda peça de teatro escrita por José Saramago, em 1980, logo a seguir a “A Noite”, especialmente destinada à Companhia de Teatro de Almada. O texto foi um estímulo para Joaquim Benite que decidiu regressar a ele, numa nova encenação, num momento simbólico em que a Companhia entra em período de comemorações dos seus 30 anos na cidade. Em cena até 21 de Dezembro no Teatro Municipal de Almada, a peça, co-produzida pelo TNDM II, pela ACTA - A Companhia de Teatro do Algarve e Teatro das Figuras, será apresentada em Março no palco da Sala Garrett. O próprio José Saramago manifestou o desejo de ver reposta “Que Farei com este Livro?” e o encenador não hesitou, quer pela “actualidade da sua temática”, quer pelo facto de se “prestar uma homenagem a José Saramago, um autor que se encontra intimamente ligado à Companhia de Teatro de Almada. Também nos pareceu interessante observar agora a forma como o Autor analisava o mundo literário antes de lhe ser atribuído o Prémio Nobel”. Este jogo entre o antes e o depois, onde o tempo é protagonista, é também determinante para compreender o enredo desta peça. O regresso de Luís de Camões a Portugal e a luta que tem de travar para conseguir publicar o poema épico “Os Lusíadas” é uma alegoria daquele que pode ser visto como um tema predominante nas sociedades contemporâneas. Joaquim Benite reconhece facilmente as diferenças, em termos de encenação, entre esta versão e a primeira: “Este segundo espectáculo é mais depurado, relativamente à primeira encenação que fiz, o que

permite uma maior autonomia do texto. Abandonei os aspectos históricos e centrei-me no paradigma da relação que o artista tem com a sociedade, remetendo para segundo plano o aspecto da biografia de Camões”. Para Joaquim Benite, “a actualidade da história reside num factor que é justamente a falta de reconhecimento, por parte das elites dominantes, da importância da Arte no desenvolvimento das sociedades e das nações”. Paulo Matos é Luís de Camões, um papel que, na primeira versão, foi interpretado por Canto e Castro. Num elenco de 15 actores, onde se destacam outros nomes como Alberto Quaresma (Cardeal D. Henrique), Carlos Santos (Damião de Góis), Catarina Ascensão e Nuno Góis (Condes da Vidigueira), José Martins (Padre Bartolomeu Ferreira), Luís Vicente (Diogo do Couto), Maria Frade (Ana de Sá), Maria José Paschoal (D. Francisca de Aragão), Teresa Gafeira (D. Catarina de Áustria), o poder é o elo mais forte, ameaçando a criatividade e a cultura. Uma forma de “censura” que expressa bem a relação entre os artistas e o poder, onde sobressai um Luís de Camões com um livro na mão, qual bandeira no meio de uma sociedade caracterizada pela sua mediocridade intelectual. Os diálogos entre as personagens têm, porém, a qualidade de nos transportarem com facilidade até aos dias de hoje. O desprezo pela cultura, o exercício excessivo do poder, a inveja e a intriga que contaminam os valores da sociedade, em suma, formas de censura intelectual que, mesmo já não tão visíveis, deixaram marcas: “A censura já não existe, no sentido em

que a palavra era por nós usada. A violência exercida pela censura deixou de ser tão visível e hoje em dia ela tem formas mais subtis: manifesta-se pelo afastamento e a oclusão, praticados por aqueles que detêm os mecanismos do poder social”. Saliente-se também que Joaquim Benite foi o primeiro encenador português a levar à cena as primeiras peças de José Saramago. “A Noite” foi encenada em 1979, com cenário de António Alfredo e direcção musical de Carlos Paredes e, no ano seguinte, seria a vez de “Que Farei com este Livro?”. Destaque ainda para a primeira adaptação profissional para teatro de “Memorial do Convento”, em 1999, estreada na sala principal do Teatro da Trindade, depois da versão operática dirigida por Jerôme Savary, em 1991, para o Teatro S. Carlos, o Scala de Milão e o Teatro Régio de Turim. A familiaridade de Joaquim Benite com o texto de Saramago confere a “Que Farei com este Livro?” uma fluidez de discurso e uma naturalidade que nos mostram como o tema desta história atravessou séculos para hoje ser ainda reconhecido por nós pela sua actualidade.

“Memorial do Convento” continua em cena no Palácio Nacional de Mafra

“Era uma vez um rei que fez promessa de levantar um convento em Mafra”. Há 25 anos, José Saramago escreveu o célebre romance “Memorial do Convento”, decorrendo a acção no século XVIII, mais precisamente durante o reinado de D. João V. Miguel Real e Filomena Oliveira adaptaram esta história sobre a quixotesca construção do Convento de Mafra, mas também sobre a história de amor de Blimunda e Baltasar. Com encenação de Filomena Oliveira, “Memorial do Convento” tem sido reconhecido pelo público, levando novamente à reposição do espectáculo, no primeiro sábado de cada mês, às 16h00, e de 4ª a 6ª, às 11h00 e às 15h00, para escolas, sob marcação. Até dia 28 de Junho com sessões para o público em geral.

de José Saramago encenação Joaquim Benite cenografia Manuel Graça Dias e Egas José Vieira figurinos Sónia Benite desenho de luz José Carlos Nascimento com Alberto Quaresma, André Gomes, Bruno Martins, Carlos Santos, Catarina Ascensão, José Martins, Luís Ramos, Luís Vicente, Maria Frade, Maria José Paschoal, Miguel Martins, Nuno Góis, Paulo Matos, Pedro Walter e Teresa Gafeira co-produção COMPANHIA DE TEATRO DE ALMADA / TNDM II / A Companhia de Teatro do Algarve / Teatro das Figuras 7 a 16 MAR 08 3ª a Sáb. 21h30 Dom. 16h00

© Pedro Soares


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“A Guerra” de Carlo Goldoni

Os clássicos e a dramaturgia contemporânea portuguesa e internacional são as grandes apostas teatrais da programação do Teatro Nacional para 2008. A atenção centra-se também nos autores lusófonos e em temáticas tão actuais como o ambiente, que continua a requerer a nossa atenção

A assinalar o encerramento das comemorações dos 300 anos de Carlo Goldoni, José Peixoto leva à cena, a partir de 14 de Fevereiro, numa co-produção do TNDM II com o Teatro dos Aloés e o Cendrev, um texto que, para o encenador, “deve ter influenciado Brecht quando escreveu ‘Mãe Coragem’”. Depois de ter assinado “Criadas para Todo o Serviço”, José Peixoto regressa ao universo de Goldoni, que tão bem conhece. “A Guerra”, considerada por muitos uma das melhores peças escritas por Goldoni, é um marco na obra do dramaturgo pela temática, tendo como antecedentes as peças “L’ Amante Militare” (1744) e “L’ Impostore” (1754). A Guerra é aqui a protagonista de uma peça que pretende desvendar os bastidores dos conflitos bélicos, palco de interesses e injustiças. Representada pela primeira vez ao público do Teatro San Luca, no Carnaval de 1760, esta é uma comédia do século XVIII que tem o poder de nos fazer reflectir sobre os nossos dias. Um exército invade uma região. As forças atacadas recolhem a uma fortaleza. Durante o ataque, a filha do general comandante das forças sitiadas é feita prisioneira. A sua situação social determina que esteja retida nas instalações do Comissário abastecedor dos exércitos atacantes. Nesse mesmo local reúnem-se os jovens oficiais para beber e jogar. Entre Florida, a jovem refém, e o tenente Faustino nasce uma paixão. Florida vive a inquietação do desfecho da guerra, ou vence o pai defensor da fortaleza ou o exército do seu apaixonado. História de amor, esta é também uma comédia amarga onde o patriotismo, a honra, a coragem e a nobreza dos comportamentos tentam vencer a violência, o desrespeito pelas pessoas, o oportunismo e o enriquecimento que os conflitos armados permitem aos menos escrupulosos.

“Um Conto Americano - The WATER ENGINE” de David Mamet Maria Emília Correia encena “Um Conto Americano - The Water Engine”, uma das primeiras peças de teatro escritas pelo dramaturgo, argumentista e realizador norte-americano David Mamet. Mamet, que é conhecido do grande público por ter assinado, no cinema, o argumento do filme “O Carteiro Toca Sempre Duas Vezes”, a partir do romance de James M. Cain, e pouco depois o do filme “O Veredicto”, protagonizado por Paul Newman e dirigido por Sidney Lumet, tem uma longínqua ligação ao teatro, tendo escrito, logo nos tempos de faculdade, a trilogia “The Duck Variations”, “Sexual Perversity in Chicago” e “American Buffalo”, todas levadas à cena em 1976. “Sexual Perversity in Chicago” foi, de resto, o texto que deu a conhecer Mamet entre nós, sob o título “Perversões”. “Um Conto Americano” está repleto de humor e surpresas. A história gira em torno de um jovem inventor que concebe um motor que funciona apenas com água e julga assim ter encontrado o caminho para a fama e fortuna. Nos seus sonhos, imagina-se a viver numa grande casa no campo, feliz na companhia da sua irmã. Mas as suas expectativas vão ser goradas pela poderosa máquina das grandes empresas que cobiçam a patente de um invento tão rentável. A actualidade do tema, que critica o rápido desgaste dos recursos naturais do Planeta e o da urgência em apostarmos nas energias renováveis, cruza-se com o estilo inconfundível de Mamet. Diálogos cortantes numa linguagem em tom coloquial que questiona os interesses económicos da sociedade que tantas vezes travam o avanço da ciência em benefício de alguns.

“O Libertino” de Eric-Emmanuel Schmitt Depois do sucesso, na passada temporada, que foi “Pequenos Crimes Conjugais”, José Fonseca e Costa assina uma nova encenação de uma peça do mesmo Eric-Emmanuel Schmitt. Desta vez, a acção passa-se num século XVIII brilhante de ideias e a fervilhar de espírito aventureiro. Denis Diderot, a personagem central deste texto, filósofo e libertino assumido, está a passar uma temporada na casa do Barão d’Holbach. Numa bela tarde de Verão, posa – praticamente nu – para Madame Therbouche, no pavilhão de caça do Barão. Enquanto discorrem sobre temas da mais profunda filosofia, Diderot procura ideias para um artigo para a “Enciclopédia” e tenta seduzir a sua companheira, no que é constantemente interrompido. Editado em 1997, este é o texto que Eric-Emmanuel Schmitt considera ser a sua peça mais divertida. A ligeireza aparente do discurso esconde palavras que se esgrimem em discursos intrincados e que, por momentos, nos fazem recordar “As Ligações Perigosas”, de Choderlos de Laclos. Para além das montagens teatrais, este texto conhece também uma versão em cinema, com Fanny Ardant e Vincent Perez nos principais papéis. O fascínio por Diderot é aqui por demais evidente, figura histórica cuja impetuosidade de pensamento mudou para sempre a História e a Literatura.


Temporada 2008

Destaques

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“A GORDA - FAT PIG” de NEIL LABUTE Carla Vasconcelos e Ricardo Pereira são os protagonistas de “A Gorda”, peça de Neil LaBute que vai abrir, em Março, o renovado Teatro Villaret, fechado para obras de remodelação e melhoramento. Ao lado de Maria João Falcão e Carlos António, os actores darão corpo a um drama humano com contornos humorísticos. Em palco, contar-se-á a história de uma mulher inteligente e sensível que se confronta com a brutalidade do preconceito: ninguém a aceita por ser obesa. Quando Helena, a “porca gorda”, conhece e se apaixona por um rapaz muito bonito (interpretado por Ricardo Pereira), a relação entre os dois é muito mal recebida pelo grupo de amigos de Tomás e esse é o início de uma série de peripécias que se podem resumir a isto: será o jovem capaz de enfrentar os preconceitos dos seus amigos? Ou não? LaBute, o ‘enfant terrible’ do novo teatro norte-americano, volta a dar que falar com um texto onde se revê a si próprio como alvo da troça dos outros. O autor, que toda a vida se confrontou com o excesso de peso, submeteu-se a um regime draconiano para perder quase trinta quilos e tornar-se, aos seus próprios olhos, uma pessoa mais atraente. O esforço, porém, foi-lhe quase fatal: o escritor perdeu a vontade de escrever. Quando recuperou – o peso e a criatividade – construiu, de uma assentada, a peça “A Gorda” com que retrata uma sociedade obcecada com as questões da imagem e que vive mais em função da aparência do que da essência.

“RELATIVAMENTE...” de Alan Ayckbourn Numa temporada onde João Lagarto regressa ao palco com a reposição de “Começar a Acabar”, de Samuel Beckett, o público vai poder assistir a uma das comédias de Alan Ayckbourn, que mais êxito tem tido, encenada pelo próprio João Lagarto. Escrita em 1967, Ayckbourn, um talento na dramaturgia cuja carreira começou precocemente, assina uma história refrescante com uma temática actual. Quando Greg conhece Ginny, mal quer acreditar na sua sorte. Ela é tudo o que ele sempre sonhou. É, acima de tudo, uma mulher experiente e ele, que está a iniciar a sua vida sexual, não podia ficar mais encantado. O par faz planos para o casamento e tudo parece ir muito bem. No entanto, aos poucos, Greg vai-se apercebendo de que, no apartamento da namorada, aparecem estranhos e inexplicáveis objectos... Como um par de ‘boxers’ de um número muito superior ao que ele usa! Estará Ginny a ter um ‘affair’? Esta é uma das cerca de 70 peças que Ayckbourn escreveu e que têm sido levadas à cena com grande sucesso, revelando a qualidade da sua escrita e o seu contributo para o desenvolvimento do teatro britânico e europeu.

“FUNGÁGÁ - GERAÇÃO MP3” A PARTIR DE JOSÉ BARATA MOURA As crianças da família de artistas ambulantes, do inesquecível espectáculo “Fungagá”, cresceram. Da sua alegria e música contagiante, misturada com acrobacias circenses, surge agora uma nova fase nas suas vidas. Joana Maria Joana continua a ter a música pelo caminho mas deseja emancipar-se e encontrar o seu próprio destino. Com um forte desejo de independência, Joana Maria Joana cruzase com várias pessoas e faz novas amizades. Daqui nasce uma banda que lança novas versões das célebres músicas de José Barata Moura, agora numa versão rock, pop e alternativa. Construído a partir de um lote de canções inesquecíveis, que marcaram uma geração e ficaram, desde então, na memória de todos nós, “Fungagá” continua a ser um espectáculo para toda a família que tem a rara capacidade de agradar a grandes e pequenos. Reedição de um dos maiores sucessos de público do Teatro da Trindade, o espectáculo recorre a novas versões de temas míticos de José Barata Moura. Sob a direcção cénica de Claudio Hochman eis um trabalho que oscila sempre entre o concerto coreografado e a encenação teatral.

“Terra 8” de Paulo Moura Num tempo em que a ecologia e o ambiente são as questões do momento, “Terra 8”, com encenação de Amândio Pinheiro, é um espectáculo sobre a Terra onde todos temos de habitar. A música, a cargo de Nuno Rebelo, em conjunto com o vídeo, fazem deste espectáculo uma aventura multimédia que oscila entre o musical, a tragédia ou o simples teatro de denúncia. Quatro intérpretes dão voz a uma peça com atmosferas muito particulares, ao longo das quais se falará de temas como a Água, o Trabalho, a Mobilidade, a Demografia/Migração, as Línguas, a Energia, a Saúde ou a Guerra. O vídeo, composto predominantemente por fotogramas, imagens de arquivo ou simplesmente texturas, apela a uma memória iconográfica colectiva e, para além da mensagem didáctica, faz-nos reflectir sobre o nosso papel na resolução dos problemas que, pouco a pouco, vão flagelando o mundo.

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De 11 a 26 de Janeiro, na Sala Garrett

Turismo I Chamou à sua obra o “drama em gente”. Neste teatro, que é também o da vida, são muitas as personagens e, no fim, é uma só. Ricardo Pais regressa ao labirinto que é a obra de Fernando Pessoa Margarida Gil dos Reis

© João Tuna / TNSJ

Depois da estreia no Teatro Nacional S. João, “Turismo Infinito”, com encenação de Ricardo Pais, é apresentado no palco da Sala Garrett do Teatro Nacional. Em torno do espectáculo desenvolveu-se um cuidadoso e aprofundado trabalho de reflexão de António M. Feijó que, em conjunto com Ricardo Pais, actual director do TNSJ, no Porto, manteve a tensão e o conflito dramático que tão bem caracteriza a obra de Fernando Pessoa. Emília Silvestre, Luís Araújo, João Reis, José Eduardo Silva e Pedro Almendra integram o elenco desta peça escrita a partir de textos de Fernando Pessoa e três cartas de Ofélia Queirós. Em “Turismo Infinito”, viaja-se

sem destino previsto. Uma viagem que é aqui caracterizada à semelhança da expressão utilizada por Bernardo Soares no “Livro do Desassossego” – deambula-se desafiando os próprios limites do tempo que deixa de ser um tempo real para ser um tempo interior e, por isso mesmo, infinito. Esta é, acima de tudo, uma experiência estética pela possibilidade que se tem de ouvir as palavras de Fernando Pessoa e pela forma como as palavras (e personagens) interagem. Algo que, segundo Ricardo Pais em entrevista a Pedro Sobrado, “ajudará a criar ou a manter o gosto por Fernando Pessoa e pela sua ‘multidão de vozes’”.

O guarda-livros e “semi-heterónimo” Bernardo Soares, imerso no tédio da vida, o exuberante engenheiro naval Álvaro de Campos, Fernando Pessoa “ele mesmo”, que nos é dado também na sua dimensão autobiográfica através da correspondência com Ofélia Queirós e o mestre Alberto Caeiro, “poeta bucólico de espécie complicada”, todos fazem parte deste puzzle. Ricardo Reis, António Mora, o Barão de Teive e outros heterónimos menores da constelação ficam de fora mas, como salienta Ricardo Pais, “cada personagem é uma dor. É a dor escrita que se fala aqui, do vivido por dentro da escrita”. Segundo António M. Feijó, a existência de

“vários textos, inéditos durante muito tempo, nos quais Pessoa põe os heterónimos a falar entre si”, pareceu ser um bom ponto de partida para a criação do espectáculo.

Na rota de Pessoa Esta não é a primeira vez que Ricardo Pais faz uma incursão na aventura poética que é a obra de Fernando Pessoa. “Fausto. Fernando. Fragmentos” (1988) foi um mítico espectáculo apresentado no Teatro Nacional que jogou essencialmente com o mito de Fausto. A partir de uma versão de António S. Ribeiro do texto de Pessoa, vinte anos e duas expe-

riências diferentes separam este espectáculo de “Turismo Infinito”. Uma encomenda de Emmanuel Demarcy Mota, no sentido de repor a peça de 1988, evoluiu para este projecto que, no entender do seu encenador, é um espectáculo que “resulta minimal, suspenso e insinuante. Eu já não tenho aquela ambição, no sentido pecaminoso do termo, que cumpri então”.

Um espaço para ser habitado O cenário está a cargo de Manuel Aires Mateus e é simbólico pela utilização que faz de uma caixa negra – inspirado na caixa negra do palco à italiana – inserida


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Infinito

Mariano Deidda canta Pessoa Muitos consideram-no o embaixador de Fernando Pessoa. Mariano Deidda regressa a Portugal, ao palco da Sala Garrett, entre 31 de Janeiro e 2 de Fevereiro. O cantor e compositor italiano, uma das figuras mais importantes do panorama musical em Itália, descobriu a musicalidade nos versos de Pessoa e, desde logo, adoptou Portugal como a sua segunda pátria. Alguns se lembrarão da rodagem em Portugal do seu teledisco, em 1998, mas foi com “Deidda interpreta Pessoa”, na Expo’ 98, que Mariano Deidda ficou conhecido um pouco por todo o mundo. Em Novembro de 2003, Deidda publica o segundo trabalho dedicado a Fernando Pessoa, que é apresentado pelo país numa série de concertos. Em “Nel mio spazio interiore”, destacaram-se, na parte musical, nomes como Enrico Rava ou Gianni Coscia, criando uma atmosfera característica onde o jazz se cruza com a música de câmara. Em 2005, Deidda concluiu a trilogia “Deidda interpreta Pessoa” com “L’ incapacità di pensare”, tendo como convidado especial o grande Miroslav Vitous, contrabaixista dos lendários Weather Report. Deidda volta aqui a comprovar como os versos de Pessoa musicados e cantados se tornam um verdadeiro culto para os amantes da música de autor, e não só.

© Alessandro Lercara © João Tuna / TNSJ

na caixa que é o próprio palco. Em entrevista a João Mendes Ribeiro, Manuel Aires Mateus afirma que “a natureza do texto foi decisiva”. Os limites (ou a sua ausência) do próprio texto, fragmentos sequenciados, motivaram a utilização do negro como cor privilegiada porque “a ideia é a de que esse infinito, esse negro de cujo contorno se perde a noção, possa ser rasgado pelos textos de Pessoa ou pelos actores enquanto veículos do texto”. Ecrã negro, por ele vão passando figuras, imagens criadas pelas personagens: o espaço é habitado e habitável. O trabalho de luz oferece-nos corpos mais ou menos fragmentados e coloca-nos a dúvida permanente de

estarmos frente a um espaço exterior ou interior.

Um “abalo sísmico” chamado Pessoa Talvez possamos falar de um tempo antes e depois de Pessoa. Fernando António Nogueira Pessoa deixou um estímulo às gerações vindouras mas também uma sombra dominadora. Esse “abalo sísmico”, como o caracterizou Herberto Helder, faz com que uns se proclamem seus discípulos, enquanto outros se tentam distanciar do “Pai”. Nele, todos encontram esse antegosto da condição (in)finita do homem. Almada elegeu-o como “voz de Portugal”

mas o seu eco na literatura é múltiplo. Eugénio de Andrade rendeuse enquanto jovem estudante ao “sedutor Álvaro de Campos”, José Gomes Ferreira narrou nas suas memórias os “encontros e desencontros” com Pessoa, Mário Cesariny entregou-se aos exercícios de linguagem de Campos, Natália Correia estreia-se sob “o grande cais donde partimos em NaviosNações! O grande Cais Anterior, eterno e divino...”. No teatro, “Turismo Infinito” soma-se à extensa lista de adaptações de textos de Pessoa (só da peça “O Marinheiro” se conhecem 13 versões, desde 1957), confirmando como a sua obra se presta às mais diversas manifestações culturais.

de António M. Feijó a partir de textos de Fernando Pessoa e três cartas de Ofélia Queirós encenação Ricardo Pais com a colaboração de Nuno M Cardoso dispositivo cénico Manuel Aires Mateus figurinos Bernardo Monteiro desenho de luz Nuno Meira sonoplastia Francisco Leal voz e elocução João Henriques com João Reis, Emília Silvestre, Pedro Almendra, José Eduardo Silva, Luís Araújo produção TNSJ 11 a 26 JAN 08 3ª a Sáb. 21h30 Dom. 16h00


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Na Sala Garrett, a partir de 14 de Fevereiro >

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A Guerra d

Há 300 anos, Carlo Goldoni mostrou a guerra como aquilo que ela é: um conflito de interesses de que alguns podem beneficiar, e muito. Agora, o encenador José Peixoto vai mostrar como o texto “velhinho” está, afinal, mais jovem do que nunca A. Ribeiro dos Santos A primeira reacção é de espanto: este não é um texto habitual de Carlo Goldoni. Quando se começa a ler “A Guerra”, nem sequer é possível identificar o seu autor e nunca imaginaríamos que se trata de um dramaturgo do século XVIII, tal é a sua actualidade. Mas é mesmo Goldoni, autor cujas celebrações do tricentenário encerram este ano e que José Peixoto retoma, depois de ter apresentado, no ano passado, “As Criadas”. Desta feita, o espectáculo – que volta a ser co-produzido pelo Tea-tro Nacional, Teatro dos Aloés e Cendrev – Centro Dramático de Évora – estreará na Sala Garrett, antes de cumprir carreira pelo país, dando-nos a oportunidade de conviver com um texto onde o encenador, que já trabalhou sobre oito peças diferentes de Goldoni, diz reconhecer “muitas influências brechtianas”. A forma como a guerra é apresentada – como uma actividade lucrativa que alguns aproveitam para enriquecer – evoca, claramente, “Mãe Coragem”, de Bertolt Brecht. “Não vou encenar Goldoni com a cartilha brechtiana na

mão”, avisa José Peixoto, “mas também não vou evitar os paralelismos. Tal como Brecht, também Goldoni estava empenhado num combate de natureza política: ele desejava a ascensão da burguesia. E esse combate fê-lo observar muito de perto os comportamentos das pessoas e a realidade que o rodeava. É isso que, hoje, é fascinante na obra de Goldoni, pois os comportamentos humanos não mudaram quase nada em trezentos anos.” Na peça, que José Peixoto alterou o menos possível – substituindo a tirada final, que lhe pareceu algo moralista, por um coro, e retirando alguns apartes (que transformou em diálogo ou substituiu por movimento ou gestos) – conta-se uma história de amor em cenário de guerra. Num ambiente povoado por oficiais, soldados beberrões e vendedoras ambulantes, surge uma paixão avassaladora entre Faustino e Florida, que se encontram de lados opostos da barricada e temem pelo futuro do seu amor. A vitória de um significa a derrota do outro. No entanto, a mão do autor vai dar uma ajudinha e,

para contentamento do público, fazer com que tudo acabe em bem.

Podar os Clássicos É relativamente consensual que muitas das convenções do teatro goldoniano são datadas, motivo pelo qual José Peixoto não hesitou em “limar algumas arestas” de “A Guerra”. Nomeadamente na caracterização das personagens e na divisão, clara, que na peça se faz entre os “bons” e os “maus”. “Neste trabalho, procurei acabar com essa leitura demasiado simplista das coisas e busquei outras perspectivas, porque a moral de Goldoni já não me serve. Temos de compreender que, no tempo em que o autor escreveu, a aristocracia não era criticável, e a obra de Goldoni tem de ser vista na sua dimensão histórica. Pessoalmente, não me parece ser um atentado à sua escrita suprimir aquilo que está morto nos seus textos. Os clássicos são árvores frondosas que têm muitos frutos mas que, uma vez por outra, precisam de ser podados para continuar a crescer”, afirma o encenador.

de Carlo Goldoni tradução José Colaço Barreiros encenação e dramaturgia José Peixoto cenografia e figurinos João Rodrigues desenho de luz Carlos Gonçalves música original Rui Rebelo movimento Kot-Kotecki com Álvaro Corte Real, Carla Carreiro Mendes, Elsa Valentim, Guilherme de Noronha, Jorge Baião, Jorge Silva, José Russo, Juana Pereira da Silva, Luis Barros, Maria Marrafa, Mário Barradas, Patrícia André, Ricardo Alves, Rui Nuno, Simon Frankel, Tiago Mateus e Victor Zambujo co-produção TNDM II / Teatro dos Aloés / Cendrev 14 Fev a 02 Mar 08 3ª a Sáb. 21h30 Dom. 16h00 O encenador, José Peixoto


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de Goldoni

no Teatro Nacional Assim, as motivações das personagens foram procuradas profundamente: longe de fazerem “bonecos”, os actores da equipa de José Peixoto – onde se incluem elementos do elenco fixo dos Aloés, actores do Cendrev e independentes – procuraram as razões que estão por trás do comportamento das suas personagens e descobriram-lhe o lado menos óbvio, mais complexo, mais rico. Em cena, vão aparecer pessoas de carne e osso e não personagens-tipo. O que, de resto, vai no sentido da reforma operada por Goldoni no teatro italiano, no século XVIII: tendo chegado à cena numa altura em que a “commedia dell’arte” era hegemónica e enchia os palcos com o teatro de máscaras e figuras de caracterização linear, Goldoni fez questão de aprofundar ambos: temas e personagens. “Desde os anos 40, mas claramente a partir da década de 50 do século XVIII, que Goldoni sabia o que ia fazer no teatro italiano”, explica José Peixoto. “Mas também sabia que precisava de tempo para o fazer. Precisava de preparar os actores e o público para as mudanças.” Por isso, acei-

tando de início as convenções da “commedia dell’arte”, Goldoni foi introduzindo as reformas a pouco e pouco. Se, de início, aceitou o uso de máscaras, com o tempo, foi-as abandonando, até as deixar cair completamente. Nos seus textos finais – precisamente aqueles que agradam mais a José Peixoto – já não existem, porque as personagens se querem realmente humanas. Mas também não encontraremos José Peixoto ao lado daqueles que, não apreciando o teatro de Goldoni, ainda assim o levam à cena, cortando e alterando dramaticamente o texto, deixando irreconhecível um teatro que fez história. “Quem não gosta dos clássicos, não os deve fazer”, afirma o encenador. “É a minha posição. Isso de se cortar aquilo que não se entende só revela ignorância da parte de quem o faz. Para mim, o fascínio dos clássicos reside precisamente no facto de não serem do nosso tempo e de nos mostrarem as coisas com distanciação. E, no Goldoni, aquilo que me interessa é a forma como ele nos mostra os comportamentos humanos nas mais diversas situações”, conclui.

Cenário minimal e figurinos mistos

“A Guerra” vai ter, no palco da Sala Garrett do Teatro Nacional, um cenário minimalista assinado pelo artista plástico João Rodrigues. O espaço estará praticamente vazio, o chão coberto de terra, decorado, aqui e ali, por marcos de sinalização militar que evocam, ao mesmo tempo, as lápides dos soldados mortos. E é esse espaço aberto, desolador, que as personagens virão encher com os seus corpos, em movimentos coreografados, de forma a que cada cena se apresente aos olhos do espectador como um quadro que vale a pena contemplar. Da mesma forma, José Peixoto anuncia que os figurinos serão mistos – uma mistura de figurino de época com roupas actuais, dependendo do tipo de personagem que estejamos a falar. “As personagens mais típicas, mais agarradas às patentes ou conotadas com determinada camada social, vestirão traje de época. As outras, as do povo, estarão vestidas como se vestem as pessoas nos dias de hoje. Com uma mistura de influências.” O que é, também, uma forma de comunicar mais proximamente com as plateias actuais. “Tenho consciência de que o teatro que faço é para o aqui e o agora.”

© Paulo Nuno Silva

Teatro das Beiras traz Goldoni à Politécnica Goldoni nunca escondeu o seu fascínio pelo teatro de Molière que, juntamente com a “commedia dell’arte”, sempre foi uma das principais referências do seu teatro. Como forma de homenagear esse grande autor das letras francesas, decidiu reescrever-lhe a vida, sobretudo o amor infeliz que partilhou com Armande Béjart. É sabido que em 1662, Molière, então com 40 anos, casou com a filha da sua sócia Madeleine Béjart, a jovem Armande, de apenas 20 anos. A beleza da rapariga, que o dramaturgo transformou em vedeta do seu teatro, não o deixava, porém, tranquilo, e foi o seu próprio ciúme que lhe inspirou uma das suas peças mais famosas – “O Tartufo”, que conta justamente a história de um homem velho que pretende casar-se com uma jovem que nunca poderá corresponder aos seus avanços amorosos. A forma como o velho é ridicularizado nos seus desejos serôdios, dá-nos uma ideia de como Molière se via a si próprio. Gil Salgueiro Nave, que apresentou este espectáculo na Covilhã, com o Teatro das Beiras, traz agora “Molière” a Lisboa, onde fará uma curtíssima carreira na Politécnica (dias 15, 16 e 17 de Fevereiro). O encenador promete uma viagem ao século XVIII, mas com bilhete de volta ao século XXI, pois o que lhe interessa em Goldoni não é tanto a questão histórica e a reconstituição de um teatro como se fazia há três séculos, mas a forma como os escritos de Goldoni continuam actuais hoje e falam directamente ao coração dos espectadores. Em cena, o actor Fernando Landeira fará de Molière, Sónia Botelho será a Béjart (Madeleine) e Sara Silva a jovem Armande (que na peça é chamada de Isabella). Valério, actor e amigo de Molière (e que, na verdade corresponde à figura do actor Baron) e Leandro, cidadão e também ele amigo do dramaturgo (e que corresponde a La Chapelle), serão interpretados, respectivamente, pelos actores Paulo Miranda e Rafael Freire. O elenco fica completo com os nomes de António Saraiva (senhor Pirlone), Luís Manhita (conde Lasca) e Teresa Baguinho (a criada Foresta).


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A estrear em Março no renovado Villaret >

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A Gorda

Fat Pig

Os protagonistas Carla Vasconcelos

É Helena, a personagem central desta história que tem, a um tempo, a capacidade de divertir e comover. Apesar do seu peso excessivo, Helena consegue conviver bem com o seu corpo mas, como mulher inteligente que também é, sabe que, como dizia Sartre, “o inferno são os outros”. E dos outros vem, na maior parte das vezes e como ela tão bem sabe, a rejeição. Helena enfrenta com muito sentido de humor as dificuldades que se lhe deparam no dia a dia. O pior é quando se apaixona a sério e conhece, finalmente, os amigos do seu namorado. À medida que a relação entre os dois se aprofunda, a jovem mulher vai percebendo melhor quem tem à frente e questiona-se sobre se vai, ou não, tentar salvar uma relação que talvez não seja baseada na verdade. © João Bessone

Ricardo Pereira

Tomás. É um jovem profissional competente na sua área com uma carreira em ascensão. No entanto, aquilo que nele é mais notório é a sua beleza. Tomás é perseguido pelas mulheres, embora, no fundo, seja tímido e procure algo de mais profundo, que ainda não encontrou em nenhuma das suas relações. Tomás tem, também, um problema: é inseguro e depende muito da opinião que os outros formam dele. Quando conhece Helena, entra numa nova dimensão – a da verdade. A princípio, tudo corre bem e Tomás parece ter encontrado, finalmente, a felicidade que procurava. No entanto, rapidamente percebe que não está a ser totalmente honesto – nem consigo nem com os outros. E quando se trata de escolher entre a mulher que ama e os seus amigos... hesita. © Ramon Melo

Carlos António

É Castro, colega e melhor amigo de Tomás. É o palhaço do seu grupo de amigos, um gozão nato que encontra motivo de galhofa em tudo. Em Tomás, Castro vê aquilo que gostaria de ser: um bonitão capaz de engatar qualquer miúda. Tem uma paixão secreta por Joana, ex-namorada do melhor amigo, mas, como é escravo do aspecto, critica-a assim que lhe parece que ela ganhou uma grama de peso. O seu humor consegue ser cruel e Castro vai pregar várias partidas a Tomás, sempre com um grande sorriso nos lábios. Por fim, Castro obrigará Tomás a conhecer-se melhor e a confrontar-se com aquilo que realmente é. E por muito que custe, a verdade é sempre melhor do que a mentira. É que, mais tarde ou mais cedo, tudo vem ao de cima. © Direitos Reservados

Maria João Falcão

Joana é colega de Tomás e manteve com este uma relação amorosa. Para ela, de resto, a ligação nunca terminou e é com grande surpresa que ela descobre que Tomás tem uma nova namorada. Mais surpreendida fica, ainda, quando descobre que essa nova namorada é gorda. Francamente gorda. Joana não é mulher de ficar calada. Profundamente magoada na sua autoestima, aproveita cada oportunidade que tem para achincalhar publicamente Tomás e participa mesmo de algumas partidas que lhe faz Castro. E assim se aproxima deste, para com ele iniciar uma nova relação. Depois, prepara-se para a sua vingança: começa a fazer ginástica, para ser ainda mais magra, e convida Tomás e Helena para um pic-nic na praia. Nada como ver as coisas claras, perante a luz do sol. © Mário Príncipe

Carla Vasconcelos e Ricardo Pereira

Foi a actriz Carla Vasconcelos quem “descobriu”, numa das suas viagens a Nova Iorque, a peça com que Neil LaBute volta a chocar as mentalidades norteamericanas: “A Gorda” conta a história de amor entre um jovem celebrado pela sua beleza e uma rapariga com peso a mais. Muito peso a mais. O texto força o público a confrontar-se com os seus próprios preconceitos e coloca uma questão pertinente: na nossa relação com os outros, somos capazes de ultrapassar os estigmas que a sociedade lança sobre as pessoas ditas “diferentes”? Para o encenador Amândio Pinheiro – e programador da Politécnica – este é um desafio diferente na sua carreira, construída sobretudo à base de clássicos. “Acho que nunca teria chegado ao LaBute sozinho”, admite Amândio Pinheiro. “Tenho interesses vocacionados para outro tipo de texto: gosto dos clássicos. Não é que não escute ou veja a dramaturgia contemporânea, mas tenho uma certa

‘paranóia cronológica’. Ainda não passei do Renascimento (risos). Gosto de ir à fonte. A História repete-se e a reflexão também. Mesmo sem falar de plágio, a verdade é que o homem tem tendência a pensar sempre da mesma maneira, sobre as mesmas coisas. Eu prefiro a matriz à cópia.” Este espectáculo oferece-se, assim, como uma experiência nova no percurso deste criador. Até nas questões formais: a escrita de LaBute é conhecida pela violência na relação entre as personagens e pela linguagem fortemente coloquial – frequentemente o calão empregue nas ruas. Amândio Pinheiro, que traduziu o texto, diz que procurou evitar esse nível de língua. “Os palavrões, a vulgaridade das conversas entre rapazes e raparigas... Quando se fala de amor, na peça, é com uma vulgaridade que evoca o universo do erotismo ou mesmo da pornografia”, recorda. “Para mim, foi complicado lidar com este tipo de linguagem,


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Amândio Pinheiro estreia mais uma peça do ‘maldito’ Neil LaBute. Um texto que questiona os mais profundos e recalcados preconceitos que habitam em cada um de nós

A. Ribeiro dos Santos

A nova vida do Villaret

“A Gorda” tem estreia marcada para Março, no mítico Villaret, espaço edificado e inaugurado por Raul Solnado, em 1965, e que, desde então, tem desempenhado um papel importante na vida da cidade. O Villaret, que deu abrigo a companhias com um percurso ímpar – aí trabalharam, para além de Raul Solnado, gente como Eunice Muñoz ou Rogério Paulo – serviu também de abrigo a programas históricos da RTP. Ali, foi gravado, nomeadamente, o “Zip-Zip”. Depois de obras profundas, que encurtaram, por razões de segurança, a plateia, e que melhoraram as condições de acolhimento do público, o Villaret reabre em Março prometendo uma programação específica: será o lugar de apresentação de grandes textos da dramaturgia contemporânea, sejam eles estrangeiros ou nacionais. O Teatro Nacional apresenta um texto que tem dado que falar nos Estados Unidos – “A Gorda”, de Neil LaBute, é mais uma peça em que somos confrontados com a crueldade que marca as relações entre as pessoas no mundo em que vivemos.

e para o espectador também o será. Em teatro, a simples palavra ‘merda’ provoca um desconforto inaudito. E essa é a grande magia do teatro: é como se as pessoas se sentissem responsáveis pela linguagem usada em cena.” Outra preocupação da sua tradução foi contornar o que fosse mais “americanizado” na peça. A começar pelos nomes. “Decidi não usar uma linguagem de rua de que os americanos usam e abusam e tentei neutralizar o texto, tanto quanto possível. Tentei transpor para português este universo tão tipicamente americano que é o do Neil LaBute. Tentei tornar o texto mais plano, mais transversal, mais europeu, se quisermos. Mudei inclusivamente os nomes das personagens, para não provocar um choque no espectador.” Sobre a violência inerente aos textos de LaBute – e “A Gorda” não lhe escapa – o encenador garante que não estranhou. “Não vejo mais violência nesta peça do que no ‘Édipo’ – que mata o pai e

dorme com a mãe –, ou no ‘Tieste’, que come os próprios filhos. A tragédia grega está imbuída desta crueldade. A crueldade é inerente à natureza humana. Neste caso, falamos de preconceito e de exclusão, de desvio dos padrões estéticos aceites por todos nós.”

Peça autobiográfica Este texto de LaBute é fortemente autobiográfico. O dramaturgo – também conhecido como argumentista e realizador de cinema – sempre teve peso a mais. No prefácio à peça, explica que um dia, sem avisar a família e sem consultar um médico, decidiu que ia emagrecer. Reduziu drasticamente os hidratos de carbono, começou a fazer exercício e... conseguiu. Perdeu quase 30 quilos. A consequência foi que o seu ego atingiu o zénite e a sua inspiração se reduziu a quase nada. À medida que perdia peso, LaBute confessa que ia ficando mais obcecado com o seu aspecto e menos dado à

criatividade. A sua dieta acabou, porém, como acaba a maior parte das dietas: com a recuperação do peso quase todo. Mas LaBute voltou a escrever. E escreveu, de uma assentada, “A Gorda”, uma peça que nos devolve, com toda a crueldade, uma ideia bem clara daquilo que a obsessão com a imagem pode fazer às relações entre as pessoas. Amândio Pinheiro diz que há mérito em ter-se escrito uma peça sobre um assunto como este. Pelo simples enfrentar de um tabu inconfessável. “Nós, as pessoas ditas normais e sem deformações evidentes, não conhecemos, não convivemos, não temos relações com pessoas que são ‘diferentes’. E não estou a falar do amputado ou do indivíduo que tem dois narizes e seis dedos. Estou a falar, simplesmente, de uma pessoa que tem mais peso. Não deixamos que estas pessoas se encaixem nas nossas vidas. Até ao nível da amizade há preconceito.”

de Neil Labute encenação Amândio Pinheiro cenografia Ana Paula Rocha figurinos Helena Carmona com Carla Vasconcelos, Carlos António, Maria João Falcão e Ricardo Pereira produção TNDM II 27 Mar a 1 Jun 08 3ª a Sáb. 21h30 Dom. 16h00


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De 28 Fevereiro a 27 Abril, na Politécnica >

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A Noite Árabe

As histórias das Mil e Uma Noites têm sido evocadas como a matriz desta peça. Esta é uma “Noite Árabe” onde a imaginação se cruza com o absurdo e o sonho se confunde com o real. Paulo Filipe dirige cinco personagens que contam as suas histórias, sonhos e pesadelos Ricardo Paulouro Tudo pode acontecer num prédio, na noite mais quente desde o começo do ano, quando, subitamente, a água deixa de correr do sétimo piso para cima. Cinco personagens, interpretadas por Dinarte Branco, João Grosso, Sara Carinhas, Teresa Sobral e Victor Gonçalves cruzam-se, com as suas várias histórias, num espectáculo que muitos acreditam recriar a

atmosfera das histórias das Mil e Uma Noites, com os seus elementos realistas e surrealistas. A peça é da autoria do dramaturgo alemão Roland Schimmelpfennig, já considerado uma das vozes mais inovadoras do teatro alemão contemporâneo. Particularmente atento às problemáticas do nosso tempo, como a dificuldade do relacionamento inter-racial, Schimmelpfen-

nig explora aqui as reacções que os seres humanos podem ter face a determinadas situações da vida quotidiana. O desejo, o cepticismo, o desamor, mas também os limites entre o sonho e a realidade fazem parte desta história traduzida e encenada por Paulo Filipe. Para o encenador, este é “um espectáculo que foge às convenções. Estimulante para os criadores e também para o público.” Paulo Filipe descobriu Schimmelpfennig através da mão do dramaturgo espanhol José Sanchis Sinisterra “justamente por no teatro ousar fugir à ditadura do discurso directo. N’ ‘A Noite Árabe’, a maior parte do tempo as personagens falam no discurso indirecto: descrevem as acções, sensações e pensamentos, deles próprios ou das outras personagens – e só de vez em quando falam umas com as outras”. Esta é, por isso, a grande novidade da obra de Schimmelpfennig que cria novas estratégias discursivas: “Não é complicado: a peça tem até uma estrutura e uma linguagem com muito ‘suspense’. Simplesmente, não estamos habituados a este tipo de liberdade na organização das falas das personagens. Dá-nos grande gozo este desafio inovador e pensamos que ao espectador também vai dar. Por que não há-de a arte do teatro renovar-se com a mesma liberdade que o romance ou o cinema? E o público tem fome de novas experiências: quer que comuniquem com ele de formas inesperadas”. Num mundo muito particular, onde as relações contemporâneas se podem cruzar com algumas alusões aos contos tradicionais arábi-

cos, as personagens parecem fazer parte de uma fábula de memória e solidão. Todas elas são progressivamente transportadas do plano do real para um registo onírico: “A peça começa por parecer muito realista – um prédio suburbano, com muitos emigrantes – mas aos poucos vai descolando para um registo onírico, até já não sabermos, como no poema do Jorge Luís Borges, se o onírico é o sonho do real ou se o real é que é o sonho do onírico. Ou o pesadelo. O gosto tão antigo em oscilar entre realidade e ficção ganha especial relevância nesta nossa época em que tanto se fala de zonas escondidas por baixo das aparências: vejam-se inúmeros filmes e séries de culto, como os ‘Ficheiros Secretos’, ou atente-se no gosto com que nos computadores jogamos às ‘Second Lives’. A actualidade deste espectáculo, para além da questão formal do discurso (e relacionando-se com ela) é atrever-se, com ousadia e mesmo com naturalidade, a pôr em palco estas passagens entre o que aparece e o que se esconde.” Este jogo permanente entre as evidências do mundo e o que permanece escondido foi encarado por Paulo Filipe como um desafio, desde logo pela pluralidade de espaços. Um desafio conseguido graças ao trabalho de equipa com a cenógrafa Vera Castro: “O desafio de pôr em cena este texto começa pelo espaço, ou espaços: há um andar de um prédio mas também os corredores, as escadas, o elevador, a rua, mesmo o deserto, um ferry-boat no meio do Bósforo… Optámos pelo espaço polivalente da Politécnica, em vez da sala Amélia Rey Colaço inicialmente prevista,

porque permite individualizar vários espaços e criar mais mistério. Os espaços não precisam de ser pormenorizados, porque as personagens os descrevem nas falas: são os espaços internos que cada uma está a viver, são ambientes que dão força ao texto e permitem a vertigem que ele insistentemente cria”. A perícia exigida por esta peça é correspondida por um elenco “constituído por actores experientes e sobretudo capazes de construir para cada personagem um universo pessoal, como a peça pede. É um conjunto de originais, capazes de inovarem em conjunto. E com excelentes recursos tanto de voz como de corpo. A Amélia Bentes apoiará o movimento e o Nuno Rebelo será o responsável pela banda sonora”. O trabalho sobre as personagens, as suas sensações, pensamentos, emoções e movimentos em palco, será a estratégia de encenação privilegiada por Paulo Filipe, talvez porque, afirma, “não acredito num teatro só da palavra. O Artaud propunha que no teatro se conferisse às palavras ‘a importância que têm nos sonhos’. Nos sonhos, as pessoas não estão impedidas de falar: pode até marcar-nos especialmente algo que foi dito, mas relacionando-se com um ambiente, com imagens, com sensações”. A palavra, essa, ficará de reserva, pronta a ser invocada a qualquer momento: “Se nalguns momentos a palavra bastar, pois bastará. Mas se com o movimento ou a imagem ou o som criarmos melhores soluções, vamos a eles, e é para isso que trabalharemos intensamente durante dois meses”.

O encenador, Paulo Filipe © José Pedro Sousa

Sinopse

de Roland Schimmelpfennig encenação e tradução Paulo Filipe cenografia e figurinos Vera Castro música original Nuno Rebelo desenho de luz José Carlos Nascimento movimento Amélia Bentes com Dinarte Branco, João Grosso, Sara Carinhas, Teresa Sobral e Victor Gonçalves produção TNDM II 28 FEV a 27 ABR 08 4ª a Sáb. 21h30 Dom. 16h00

Subúrbios de uma grande cidade portuguesa, bairro com muitos imigrantes. Verão: o sistema de água de um conjunto de prédios está avariado. A água chega até ao sétimo andar e depois desaparece. No sétimo vive Francisca, uma jovem mulher que não se lembra de nada. Não se lembra de como era a sua vida antes de ter co-alugado este apartamento com a sua amiga Fátima. Não se lembra de alguma vez ter sido raptada em Istambul ou de ter sido uma princesa árabe. Como todos os serões, volta do trabalho, vai-se esquecendo do que fez no laboratório onde é empregada, toma um banho e adormece no sofá. O vizinho do prédio em frente vê-a no duche e não resiste a procurá-la. Fátima, por seu lado, espera sempre que ela adormeça para chamar o seu amante Kalil. Também o Sr. Joaquim, o porteiro, que desde o início está a procurar a fuga de água, vai ter com Francisca...

O promissor dramaturgo alemão

Roland Schimmelpfennig nunca foi representado em Portugal: nascido em 1967, trabalhou vários anos com o actual director do Schaubühne Thomas Ostermeier e escreveu já 15 peças. Ganhou, em 1997, o Else-Lasker-Schüler-Preis, em 1998, o prémio Schiller-Gedächtnispreis e, em 2002, o Nestroy-Theaterpreis. A mais famosa das suas peças é “A Noite Árabe”, já traduzida em árabe, catalão, dinamarquês, espanhol, francês, holandês, inglês, italiano, polaco, russo e romeno. É tempo de a levar aos palcos portugueses.


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“Óscar e a Sra Cor-de-Rosa” estreia dia 17 na Sala Estúdio >

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O segredo da felicidade Lídia Franco prepara-se para protagonizar, no palco da Sala Estúdio, a peça mais representada de Eric-Emmanuel Schmitt, sob a direcção da norte-americana Marcia Haufrecht. Ao Jornal do Teatro, contou também como tem sido a sua experiência como voluntária do IPO – que a ajudou a construir a sua personagem A. Ribeiro dos Santos Disse, por várias vezes, que não gosta de monólogos. No entanto, ei-la de volta a um monólogo… É verdade que eu nunca tive grande apetência por monólogos. Simplesmente, deixei-me encantar por este texto. Conheço razoavelmente a obra do Eric-Emmanuel Schmitt e, de uma maneira geral, aprecio as suas peças. Procurei, de entre todas, uma que eu pudesse fazer e descobri esta. Descobri que é, dos seus textos, o que mais êxito tem alcançado, que já foi feito praticamente no mundo inteiro e que há inclusivamente planos para o levar ao cinema. “Óscar e a Senhora Cor-de-Rosa” tem recebido inúmeros prémios, nomeadamente na Polónia, recebeu o ‘Masque d’Or’ em 2006, na Rússia, o prémio ‘Seul en Scène’, em 2005, na Bélgica…

descobrir o grande mistério da vida, o segredo da felicidade. Viver cada momento na sua plenitude. É essa a metáfora criada por Eric-Emmanuel Schmitt. Na peça, a vovó Rosa diz ao Óscar que cada

dia que viver equivale a dez anos. Faz esse jogo com ele. A partir daí, aquela criança passa a viver intensamente o entusiasmo e a descoberta da vida. A maior parte de nós morre velho e a queixar-se

de não ter vivido. Não vale a pena perder tempo com lamentações. Há que aproveitar bem o instante. Temos de nos maravilhar com o mundo, com as pessoas, com as trocas que fazemos, com aquilo que damos e que recebemos. Acredito nisso profundamente.

Sei que a criação deste papel a levou a fazer voluntariado junto de crianças em situação semelhante à do Óscar. Era essencial para compor a personagem? Eu já tinha feito voluntariado antes. Desta vez, contactei a Associação Acreditar, que é uma instituição fora de série que dá um apoio extraordinário às famílias dos meninos que estão a fazer ambulatório no IPO ou que estão internados. Tenho lá estado, sim, sempre que me é possível.

É um trabalho doloroso? E, no entanto, aqui conta-se a história de uma criança que está a morrer de leucemia.

Eu julgava que sim, antes de começar. Agora, de cada vez que saio de lá sinto-me renovada. Atenção que eu não sou voluntária. Estou apenas a observar. Uma voluntária tem de fazer um curso, tem de ter formação. Eu ainda não tenho. Mas quando saio de ao pé das crianças sinto-me mais feliz, mais lúcida. Saio de lá cheia. Há uma alegria tremenda, uma plenitude que nos vem de dar. Carinho, atenção. Consigo apreciar muito mais a vida.

O texto é um hino à vida. É assim que o vejo. Este monólogo tem de ser interpretado com alegria, com humor, tem de transmitir uma enorme vontade de viver. Aliás, é assim que tem sido feito em todo o mundo e daí o seu sucesso. Houve uma actriz que decidiu imprimir à peça um tom melancólico e impor-lhe uma grande carga dramática e o espectáculo falhou. Não é para ser feito assim.

Não se ligou a nenhuma criança em particular, como aconteceu com a voluntária de que fala a peça?

Como é que se transforma a história de uma criança com uma doença terminal num hino à vida?

Não tenho lá estado tempo suficiente para que isso aconteça e

O apelo do texto é que nos faz

devo acrescentar que essa não é a situação ideal: parte do treino das voluntárias consiste em aprender a não se ligar de forma especial a nenhuma das crianças. É um dos segredos da actividade. Acredito que a senhora cor-de-rosa de que fala a peça – e é “cor-de-rosa” porque essa é a cor das batas que as voluntárias usam em França – está em início de actividade e ainda não tem muita experiência. Ela liga-se ao Óscar de forma demasiado intensa e isso não é suposto acontecer.

Nos últimos anos, tem trabalhado repetidamente sob a direcção da Marcia Haufrecht. Este será o vosso terceiro espectáculo juntas. Ajuda, o facto de trabalhar repetidamente com o mesmo encenador? Se o encenador for bom, sim. Para mim, é a situação ideal.

Como classificaria a sua relação de trabalho com a encenadora norte-americana? Gosto imenso de trabalhar com a Marcia, talvez, também, porque ela dá uma atenção especial à direcção do actor, mais do que a outros pormenores do processo teatral. Confesso que é esse tipo de teatro que me interessa. O teatro de actor. Como actriz, sinto que tenho feito alguns progressos nos últimos anos e isso deve-se muito ao facto de ter podido trabalhar com a Marcia continuadamente.

(*ver entrevista completa no site do TNDM II)

Lídia Franco

A peça mais representada de Eric-Emmanuel Schmitt

“Óscar e a Sra. Cor-de-Rosa” conta a história de uma amizade que se cria entre Óscar, um doente terminal, e uma senhora que faz voluntariado no hospital onde ele se encontra internado. Depois de uma fase de desconfiança inicial, a Vovó Rosa consegue conquistar a criança e estabelece com ela uma relação enriquecedora para ambos. Graças à Vovó Rosa, Óscar vai receber a melhor lição que se pode dar a alguém: vai aprender a viver. Depois de “Pequenos Crimes Conjugais”, que o Teatro Nacional apresentou na temporada passada, o público é, desta feita, convidado a apreciar aquele que é o texto de Eric-Emmanuel Schmitt mais representado no mundo inteiro. Schmitt, que a considera a sua peça mais autobiográfica, classifica-a como um “hino à vida”. Sobre “Óscar”, escreveu: “Por mais curta que seja, uma existência deve ser cheia, saborosa, ocupada por sentimentos fortes e essenciais, trespassada de humor, de interrogações e de risos. É, também, um hino à imaginação, essa capacidade de enriquecer o quotidiano, essa força que nos salva.”

de ERIC-EMMANUEL SCHMITT tradução IVONE DE MOURA e LÍDIA FRANCO encenação MARCIA HAUFRECHT cenografia e figurinos ANA VAZ desenho de luz JOSÉ CARLOS NASCIMENTO com LÍDIA FRANCO produção TNDM II 17 Jan a 30 Mar 08 3ª a Sáb. 21h45 Dom. 16h15


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Novas edições na Livraria do TNDM II 2

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“Boneca” representa o Teatro Nacional no Brasil O espectáculo com que Nuno Cardoso reviu o clássico “Casa de Boneca”, de Henrik Ibsen, e que fez carreira em Lisboa no palco da Sala Estúdio do Teatro Nacional, vai participar no 1º Festival Ibero-Americano de Teatro do Memorial da América Latina, no próximo dia 9 de Março. O evento faz parte do programa de intercâmbio cultural que envolve vários países: Brasil, Portugal, Espanha, Uruguai, Argentina, México, Venezuela, Cuba e Bolívia. “Boneca” – que resulta de uma co-produção do Teatro Nacional com a Cassiopeia, o Centro Cultural Vila Flor e o Theatro Circo – oferecese como uma revisão da conhecida peça em que Ibsen nos mostra a história dramática da emancipação de uma mulher. Nora Helmer pediu emprestada, em segredo, uma larga soma de dinheiro para que o marido pudesse recuperar de uma doença grave. Nunca lhe falou do empréstimo que secretamente foi pagando com o que poupara. Quando é nomeado director do Banco Comercial, a primeira medida do seu marido, Torvald, é despedir um homem cuja reputação tinha sido desgraçada por forjar a assinatura de um documento. Este homem, Nils Krogstad, é a pessoa a quem Nora pediu o dinheiro emprestado. Nora também forjou a assinatura do seu pai para conseguir obter o dinheiro. Para defender o emprego, Krogstad ameaça revelar o crime de Nora e assim, destruir a vida do casal. Nora tenta influenciar o marido, mas para ele Nora é uma criança que não compreende decisões de negócios. Desesperada, Nora prepara-se para a descoberta da verdade.

Darwin e Feynman na Politécnia A Politécnica oferece ao público a possibilidade de ficar a conhecer melhor dois dos maiores vultos científicos dos séculos XIX e XX: o físico Richard Feynman (1918-1988) e o biólogo Charles Darwin (1809-1882), retratados, respectivamente, nos espectáculos “O que Sabemos – Conferência de Richard Feynman”, de Amândio Pinheiro (a partir de “QED”, de Peter Parnell), e “After Darwin”, de Carlos António (a partir da peça homónima de Timberlake Wertenbaker). O primeiro espectáculo, que dura cerca de uma hora, dá-nos a conhecer o lado humano do cientista que ajudou a construir a bomba atómica e que tinha uma habilidade fora do comum para abrir cofres considerados invioláveis. Feynman morreu vítima de cancro quando tentava, por todos os meios, perceber como é que as células cancerígenas funcionam. Interpretam Júlio Martin e Maria João Falcão, sob a direcção de Amândio Pinheiro. “After Darwin” põe em cena uma encenadora búlgara (interpretada por Rita Calçada Bastos) e dois actores (Manuel Coelho e André Levy), que ensaiam os bastidores da viagem do “Beagle”, iniciada pelo naturalista quando tinha apenas 22 anos. Foi esta viagem à volta do mundo – que era suposto durar dois anos mas se prolongou por quase cinco – que permitiu a Darwin reunir os materiais necessários para chegar à sua revolucionária teoria da evolução das espécies.

O comboio da leitura Este mês, Amândio Pinheiro traz para Lisboa uma iniciativa que está a encantar os portuenses: sessões de leitura no comboio. A ideia é permitir às pessoas que viajam diariamente nos transportes públicos ouvirem textos das mais diversas proveniências, desde notícias de jornal a poemas, de passagens de romances a textos fornecidos pelos próprios “viajantes”. Amândio Pinheiro, promotor da ideia, diz que as reacções das pessoas não podiam ter sido melhores e espera, na capital, ter tão boa recepção como aquela que tem tido no Porto.

Considerado durante muito tempo pela crítica como o “enfant terrible” do teatro inglês contemporâneo, Howard Barker definiu o seu trabalho como o “Teatro da Catástrofe”. As suas peças são conhecidas pela ousada exploração do poder ou da sexualidade através de uma linguagem rica que enfatiza os extremos da experiência humana. A Livraria do Teatro oferece uma variedade de publicações sobre o homem que escreve porque acredita que o teatro é uma necessidade da sociedade. LIVROS

Howard Barker et le théâtre de la Catastrophe

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(coord.) Élisabeth Angel-Perez Éditions Théâtrales, 2006

O cruzamento dos olhares da teoria e da análise é aqui a metodologia utilizada nesta edição coordenada por Élisabeth Angel-Perez, com o apoio das Universidades de Paris IV, Sorbonne e Paris X - Nanterre. O leitor é convidado a fazer uma viagem ao universo de uma dramaturgia única que interroga o próprio sentido da existência humana. Os vários ensaios e a bibliografia final do dramaturgo revelam não só a dimensão teórica da obra de Barker, mas também a sua dimensão estética - um espaço teatral ritmado, onde a beleza e o terror convivem, assim como o excesso e a imaginação. Considerado um revolucionário pela forma como propõe novos modos de ver e entender o próprio teatro, Barker é ainda o autor do radical “Teatro da Catástrofe”, referido ao longo dos ensaios assinados por nomes como Élisabeth Angel-

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Perez, Charles Lamb, Christian Biet, entre outros. A entrevista final com Howard Barker, bem como uma mesa redonda com encenadores da sua obra (Anne Bisang, Guillaume Dujardin, Jerzy Klesyk, Johanna Schneider et Jean-Paul Wenzel), comprova esta dimensão, bem como o regresso a uma das questões centrais do seu universo criativo: não será a representação do horror a esteticização do inumano?

Oeuvres Choisies

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Howard Barker Éditions Theatrales / Maison Antoine Vitez 2001 - 2007

Inserida na colecção «Scènes étrangères», fruto de uma colaboração entre as Éditions Théâtrales e a Maison Antoine Vitez, chegam-nos as obras escolhidas de Howard Barker, traduzidas do inglês. Com vários volumes desta edição consagrados a Barker, a Livraria do Teatro disponibiliza uma colecção ao longo da qual se podem encontrar títulos de peças como “Tableau d’une exécution”, “Les Possibilités”, “La Griffe”, “L’ Amour d’un brave type”, “Gertrude”, “Le Cas BlancheNeige”, “Objets”, “Animaux en paradis”, entre outros. Destaque para o último volume publicado (vol.6) que contém as peças “Judith [Le Corps séparé]” e “Vania”, ambas traduzidas do inglês por Jean-Michel Déprats e Sarah Hirschmuller e Sinéad Rushe, respectivamente. Para além da publicação das obras escolhidas para teatro desde 2001, Barker viu ainda publicados, recentemente, pela mesma editora, alguns dos seus ensaios como “Arguments pour un théâtre”, “Les Solitaires intempestifs”.

REVISTA

Alternatives théâtrales - Howard Barker

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Nº57, Maio 1998 A revista “Alternatives théâtrales” dedica este número a Barker, escritor “insatisfeito, sempre em guerra e por esta razão controversa: os poderes públicos toleram-no, os críticos não o adoram”. A tentativa de traçar um desenho não só do dramaturgo, mas também do poeta é bem conseguida nesta edição, fazendo referência às encenações de duas peças de Barker que subiram, na época, ao palco do Kunsten Festival des Arts. Ao longo de cerca de 100 páginas, são diversos os textos que se podem encontrar, desde uma completa bibliografia de Barker, até ensaios de Mieke Sens ou Jérôme Hankins que reflecte sobre o “Teatro da Catástrofe”, a polémica relação do dramaturgo com a crítica, entrevistas (incluindo uma exaustiva entrevista ao próprio) ou o texto integral “N’exagérez pas”, um monólogo dramático especialmente escrito por Barker para o actor Ian McDiarmid. Numa segunda parte da publicação, e como já vem sendo hábito em termos da linha editorial seguida, o olhar de alguns académicos cruza-se com a experiência de encenadores da obra de Barker. Este número contém ainda um caderno crítico e um texto inédito de Jean-Marie Piemme.

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TN > Sala Garrett ÓSCAR E A SENHORA COR-DE-ROSA

TN > Sala Estúdio CONCERTOS ANTENA 2

TN > Átrio O QUE SABEMOS — CONFERÊNCIA DE R. FEYNMAN

Politécnica > Laboratorio Chimico AFTER DARWIN

Politécnica > Sala 2 DARWIN NO JARDIM

Politécnica > Jardim Botânico MEMORIAL DO CONVENTO

Palácio Nacional de Mafra

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MARIANO DEIDDA CANTA PESSOA

T N > Sala Garrett A GUERRA

TN > Sala Garrett ÓSCAR E A SENHORA COR-DE-ROSA

TN > Sala Estúdio CONCERTOS ANTENA 2

TN > Átrio O QUE SABEMOS — CONFERÊNCIA DE R. FEYNMAN

Politécnica > Laboratorio Chimico AFTER DARWIN

Politécnica > Sala 2 DARWIN NO JARDIM

Politécnica > Jardim Botânico MOLIÈRE

Politécnica > Sala 1 MEMORIAL DO CONVENTO

Palácio Nacional de Mafra DOM

TURISMO INFINITO 3ª a SÁB. 21H30 DOM.16H00

MARIANO DEIDDA CANTA PESSOA 5ª a SÁB. 21H30

ÓSCAR E A SENHORA COR-DE-ROSA 3ª a SÁB. 21H45 DOM.16H15

CONCERTOS ANTENA 2 19H00

O QUE SABEMOS CONFERÊNCIA DE R. FEYNMAN 6ª e SÁB. 21H00 DOM.16H00 | 3ª a 6ªfeira*

AFTER DARWIN

LOCAL

PREÇÁRIO

TN > Sala Garrett TN > Sala Estúdio Politécnica Politécnica > Jardim Botânico Palácio Nacional Mafra

16,00 € (Plateia) 10,00 € (1º Balcão) 7,50 € (2º Balcão) 12,00 € 10,00 € 6,00 € *** 8,00 € ***

** Consultar descontos do respectivo teatro. *** Preço único.

O preçário poderá sofrer alterações devido à especificidade do espectáculo. Por favor, consulte a bilheteira do Teatro Nacional D. Maria II. Os descontos só são aplicados a produções do TNDM II e em bilhetes adquiridos na bilheteira do Teatro Nacional D. Maria II.

4ª a SÁB 21H30 DOM 16H00

DARWIN NO JARDIM DOM 15H30 | 2ª a DOM *

MOLIÈRE

CONDIÇÕES ESPECIAIS PARA GRUPOS Preço para Escolas: 6,00 €

6ª a DOM 21H30

Valor aplicado para reservas de escolas, para qualquer produção do TNDM II, mediante marcação prévia.

MEMORIAL DO CONVENTO

Descontos para Grupos entre 25% e 40%

1º SÁB / mês 16H00 | 4ª a 6ª 11H00 e 15H00*

A GUERRA 3ª a SÁB. 21H30 DOM.16H00 *Para escolas, sob marcação.

Desconto aplicado para reservas de grupos, para qualquer produção do TNDM II, mediante marcação prévia pelo telefone 213 250 828.

DESCONTOS TNDM II 50% 3ª feira (Dia do Espectador) 30% 4ª feira 30% Jovens até 25 anos; + 65 anos 20% 5ª feira 6,00 € Bilhete do dia, de 3ª a Dom 14h às15h

(número de bilhetes limitado)

Para mais informações sobre os descontos existentes, por favor dirija-se à bilheteira ou consulte no site do TNDM II.

Livraria do Teatro

especializada em Teatro e Artes do Espectáculo 3ª a Dom 14H às 18H e em dias de espectáculo até às 22H

Tel. 21 325 08 37 livraria@teatro-dmaria.pt



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