Jornal do Teatro

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Jornal do Teatro

Publicação Bimestral | Junho ‘08 Jornal de distribuição gratuita

:Teatro Nacional Outros Palcos Durante os meses de Verão, o Teatro Nacional abre-se à cidade de Lisboa

National Theatre - Other Places The Theatre opens itself to the city during the summer


:Teatro e música ao ar livre, para ver e ouvir em Julho e Agosto

:02 TNDM II

:Editorial Um Teatro Global Uma das grandes novidades do contexto contemporâneo em que vivemos é o sentido de globalização. O mundo é a morada do homem e as distâncias tentam ser encurtadas. Com a aceleração das técnicas de comunicação passa-se, de facto, a questionar o conceito de tempo, cuja experiência se impõe como algo instantâneo. Estaremos, então, nesta sociedade global, perante a anulação do tempo ou, pelo contrário, face a uma originária forma de temporalidade? Note-se, porém, que a globalização não deve implicar necessariamente uma homogeneização. Disso tentamos dar conta através da iniciativa “Outros Palcos”, numa parceria com o Turismo de Portugal, que pretende mobilizar a população a ir ao teatro, tendo como cenário alguns dos mais representativos monumentos históricos, ou lugares, de Lisboa: Convento do Carmo, Palácio da Independência e Praça D. Pedro IV. Por aqui passarão várias manifestações artísticas que animarão as noites quentes de Verão, habitualmente, desprovidas de propostas culturais. “Vieira – O Céu na Terra”, de Miguel Real e Filomena Oliveira, a ter lugar no magnífico cenário das Ruínas do Carmo, é, talvez, a melhor proposta de aproximação de culturas. Disso tinha consciência o Padre António Vieira, de quem celebramos os quatrocentos anos do seu nascimento, cujo pensamento é atemporal. Grande impulsionador dos direitos do homem, viajante que lançou as primeiras pontes entre Portugal e o Mundo, Vieira mostrou-nos que são o pensamento e os ideais que promovem uma alteração de atitude e de mentalidade. A ele se deve em muito a certeza que cada vez mais se impõe: vivemos num mundo global onde ocorrem profundas mudanças e a dimensão cultural não escapa a essas transformações. “Sonho de uma Noite de Verão”, de William Shakespeare, é outra das propostas a usar como cenário o Palácio da Independência. O clássico do dramaturgo inglês continua a ter a capacidade de reunir várias gerações que se maravilham com as histórias de amor e fantasia. Concertos ao ar livre no Rossio, dança e outras propostas teatrais espalhadas pelos vários espaços do Teatro Nacional são a marca identitária de “Outros Palcos”. A internacionalização do teatro tem sido uma das nossas prioridades. Com “Outros Palcos” pretendemos reconhecer Lisboa como uma plataforma internacional, uma ‘Plataforma’ onde várias culturas se podem encontrar ou de onde várias novas propostas criativas podem partir. O lugar pode ser um território investido de sentido, espaço onde se materializa a cultura. Lisboa tem muitos lugares. Nós apenas lhes tentamos dar visibilidade. O que é distante torna-se-nos familiar e o que é nosso revela-se de outra forma. O Padre António Vieira disse-o há alguns séculos atrás: “Nós somos o que fazemos. O que não se faz não existe. Portanto, só existimos nos dias em que fazemos. Nos dias em que não fazemos apenas duramos”. Esta é a premissa reveladora: o mundo é multicultural e cabe ao teatro ‘fazer’ sempre mais, dar voz a essas linhas de força e encurtar as distâncias que ainda nos separam. Carlos Fragateiro

:Ficha Técnica direcção Carlos Fragateiro assessoria da direcção Pedro Mendonça direcção de arte Joana Esteves coordenação editorial A. Ribeiro dos Santos redacção A. Ribeiro dos Santos, Margarida Gil dos Reis (colab.), Ricardo Paulouro grafismo Margarida Kol de Carvalho fotografia Margarida Dias propriedade TNDM II, E.P.E.

DURANTE OS MESES DE VERÃO, A CAPITAL NÃO VAI PARAR E O TEATRO NACIONAL VAI OCUPAR OUTROS LUGARES DA CIDADE COM PROPOSTAS CAPAZES DE APELAR A DIFERENTES CAMADAS DE PÚBLICO. O PALÁCIO DA INDEPENDÊNCIA E AS RUÍNAS DO CARMO TORNAM-SE, SOB A ÉGIDE DO TURISMO DE PORTUGAL, NOVOS PALCOS PARA O TEATRO TEXTO DE A. RIBEIRO DOS SANTOS

Para responder às necessidades de uma cidade cosmopolita, uma cidade que, além de coração da Lusofonia, é ponto de passagem obrigatória de pessoas de todos os continentes – sobretudo durante o período de férias – o Teatro Nacional vai apresentar, nos meses de Junho, Julho e Agosto, e em parceria com o Instituto do Turismo de Portugal, um programa cultural capaz de atrair públicos nacionais e internacionais, de satisfazer gostos e expectativas diversificados. Sob o título ‘Teatro Nacional – Outros Palcos’, a iniciativa inclui dois espectáculos de teatro e muitos concertos ao ar livre e ocupará espaços alternativos da capital, como sejam o Palácio da Independência ou as Ruínas do Carmo, proporcionando, para além dos espectáculos propriamente ditos, a possibilidade de visitar, com novo enquadramento e olhar renovado, lugares históricos da cidade. A ideia de incluir um cartaz de espectáculos de grande qualidade no roteiro de quem visita a cidade nesta altura do ano era uma necessidade há muito sentida por Luís Patrão, presidente do Instituto de Turismo de Portugal. “O objectivo é que a cidade fique mais atractiva e interessante, que exceda as expectativas de turistas e residentes, surpreendendo-os. Mas isso tem de ser feito com um elevado nível de exigência cultural e artística, por isso nada melhor que recorrer a instituições da maior relevância e prestígio na promoção e apresentação de espectáculos e actividades teatrais. Daí a cooperação com o Teatro Nacional”, explica. Nas Ruínas do Carmo, lugar histórico que protagonizou, durante o 25 de Abril, um momento chave na libertação do País, o público verá “Vieira – O Céu na Terra”, espectáculo com que o TNDM II homenageia o pregador religioso português mais famoso de sempre, no ano em que se assinala o quarto centenário do seu nascimento (1608-1697). Escrita por Miguel Real e Filomena Oliveira (autores recentemente contemplados com o Grande Prémio de Teatro SPA/Teatro Aberto), a peça celebra um homem que se repartiu por muitas actividades – foi missionário, diplomata, político, orador,


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:TNDM II 03

:Internacionalização

profeta, escritor, nacionalista –, que se distinguiu em todas elas, mas que, acima de tudo, soube sempre estar à frente do que seu tempo. (mais informação nas páginas 4 e 5)

O Palácio da Independência, um dos mais importantes marcos para a Restauração da Independência, em 1640, acolherá “Sonho de Uma Noite de Verão”, comédia de William Shakespeare que o argentino Claudio Hochman recriará aproveitando a magnificência do monumento e fazendo aparecer perante os olhos do espectador um mundo onde reinam príncipes e princesas e por onde fadas e duendes se passeiam e fazem encantamentos. A peça que Harold Bloom não hesita em chamar de “primeira obra-prima de William Shakespeare”, texto insuperável de beleza e perfeição formal, terá, ainda, constante acompanhamento musical (Alfredo Moura), para que o serão seja completo. (mais informação na página 7)

Finalmente, a esplanada do Rossio vai reabrir – resultado do protocolo estabelecido entre o TNDM II e o amo.te – e, para além da comida e do convívio, proporcionará, todas as noites, concertos que ocuparão o final do dia com propostas musicais diferenciadas, onde não faltarão uma pitada de pop, um toque de rock, um sabor a jazz ou um cheiro a música erudita. Para usufruir em pleno a Praça do Rossio. (consultar programa na página 14)

“A OFERTA (CULTURAL) TEM DE SABER SAIR À RUA, AO ENCONTRO DO TURISTA, AO ENCONTRO DO CIDADÃO. SÓ ASSIM DEIXARÁ UMA RECORDAÇÃO MAIS MEMORÁVEL, PELA SURPRESA QUE CAUSA, PELA IDEIA QUE DEIXA DE QUE, EM PORTUGAL, A ARTE E O ESPECTÁCULO ESTÃO NA RUA.” Luís Patrão (Presidente do Turismo de Portugal)

Segundo Luís Patrão, é importante que a animação aconteça, também, ao ar livre. “A oferta (cultural) tem de saber sair à rua, ao encontro do turista, ao encontro do cidadão. Só assim deixará uma recordação mais memorável, pela surpresa que causa, pela ideia que deixa de que, em Portugal, a arte e o espectáculo estão na rua.”

Teatro Nacional colabora com École des Maîtres O Teatro Nacional D. Maria II associa-se pela primeira vez à prestigiada École des Maîtres, sedeada em Itália desde 1990 e que proporciona a jovens actores de vários países formação com alguns dos mais importantes encenadores mundiais, recebendo, de 7 a 12 de Setembro, o espectáculo final da presente edição, que terá encenação de Enrique Diaz. Peruano radicado no Brasil, Diaz dirige a sua própria companhia – a Companhia dos Atores – desde 1990 e é neste momento considerado como um dos criadores teatrais mais interes-santes e inovadores do panorama mundial. Conhecido pelas suas encenações coreografadas até ao milímetro e pela experimentação (nos seus espectáculos costuma associar teatro e vídeo), Diaz conseguiu, ao longo dos últimos dez anos, consolidar uma reputação que ultrapassa largamente as fronteiras do Brasil. Sob a sua direcção, os jovens actores seleccionados para frequentar a 18ª edição da École des Maîtres irão trabalhar primeiro em Udine, na Itália, depois em Reims (França), antes de estrearem em Roma, no Teatro Quirino. Finalmente, trarão o espectáculo a Lisboa. Recorde-se que pela École já passaram grandes criadores de teatro como Luca Ronconi, Jacques Lassale, Peter Stein, Dario Fo ou Eimuntas Nekrosius, entre outros. Este ano, para além do Teatro Nacional D. Maria II e do projecto CSS – Teatro Stabile di Inovazione del FVG, de Itália, são seus parceiros, também, o Centre de Recherche et d’Experimentation en Pédagogie Artistique (Bélgica), e La Comédie de Reims – Centre Dramatique National, de França, dirigido por Emmanuel Demarcy-Mota.

Padre António Vieira volta ao Brasil O espectáculo “Vieira – O Céu na Terra”, dirigido por Filomena Oliveira a partir de um texto original da própria e de Miguel Real, partirá em digressão ao Brasil na próxima temporada. Centrado na figura do Padre António Vieira, parte da acção do espectáculo referir-se-á, naturalmente, aos longos períodos de tempo que o padre português passou naquele país. Nascido em Lisboa, em 1608, Vieira foi para o Brasil com o pai quando tinha apenas seis anos, fixando-se na Bahia, e foi aí que entrou para a Companhia de Jesus e se dedicou à evangelização dos nativos. Só com 32 anos regressaria a Portugal, agradando de tal modo ao rei D. João IV que este o encarregou de diversas missões diplomáticas um pouco por toda a Europa. António Vieira voltaria por duas vezes ao Brasil: aos 45 anos, para pregar nas cidades e na selva do Maranhão; e aos 73, velho e cansado, para morrer. Este projecto estabelece mais uma ponte criativa entre Portugal e o Brasil, país com o qual o TNDM II tem cimentado relações interculturais profundas, quer através do concurso de dramaturgia de língua portuguesa (em parceria com a Funarte do Brasil), quer através do intercâmbio de espectáculos dos dois países.

“As Troianas” chegam em 2009 O espectáculo que dá o arranque à Companhia de Teatro Europeia, grupo de trabalho internacional que reúne actores e criativos de diferentes países europeus e ao qual Portugal se associou através do Teatro Nacional D. Maria II, chegará a Lisboa no ano que vem. “As Troianas”, espectáculo que

Annalisa Bianco e Virginio Liberti encenam a partir do clássico de Eurípides, conta com a participação de três actores portugueses e depois da estreia absoluta no âmbito do Festival Internacional de Teatro de Itália deverá apresentar-se nos vários países coprodutores: Portugal, França, Espanha e Bélgica. A peça, uma tragédia do colectivo, é composta por diversos quadros, em que ao público é dado a conhecer o destino das mulheres tornadas cativas depois da queda de Tróia. Helena, cuja beleza está na origem da guerra entre gregos e troianos, é aqui repudiada, responsabilizada por todo o mal que aconteceu. Eurípides, que Aristóteles considerou “o mais trágico dos poetas”, é conhecido por fazer das mulheres as grandes protagonistas das suas peças, embora nem sempre as pinte com cores muito lisonjeiras e seja por muitos considerado com um autor misógino. Nesta peça, em vez de uma única personagem, faz centrar a acção num grupo de mulheres.

Tanto Amor Desperdiçado

“Tanto Amor” em Nápoles É já nos próximos dias 20, 21 e 22 que se apresenta, no Palácio Maschio Angioino, em Nápoles, no âmbito do 1º Festival Internacional de Teatro daquela cidade, a decorrer até dia 29, o espectáculo de Emmanuel Demarcy-Mota que assinala a primeira co-produção internacional do Teatro Nacional D. Maria II. “Tanto Amor Desperdiçado”, clássico de William Shakespeare que o encenador classifica como uma peça sobre a linguagem, conta a história de um grupo de cavaleiros que faz uma estranha aposta. Prometem uns aos outros dedicarem-se apenas ao estudo, pondo o amor de lado durante três anos. No entanto, um encontro com três belas damas da corte francesa – entre elas a princesa, e mais tarde rainha de França – abalará este projecto pela raiz e fará com que o amor triunfe sobre a vontade. O espectáculo – falado em português e em francês – conta, no elenco, com actores de ambos os países e é protagonizado por Nuno Gil, no papel de rei de Navarra. Refira-se que o Festival de Teatro de Nápoles, cuja primeira edição se realiza este ano, pretende vir a ombrear com outras iniciativas congéneres, nomeadamente o Festival de Teatro de Edimburgo, na Escócia, ou o prestigiado Festival de Avignon.


:Nas Ruínas do Carmo, de 18 de Julho a 16 de Agosto

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NO ANO EM QUE SE COMEMORA O ANIVERSÁRIO DO NASCIMENTO DO PADRE ANTÓNIO VIEIRA, O TEATRO NACIONAL APRESENTA, NO CENÁRIO HISTÓRICO DAS RUÍNAS DO CARMO, UMA PEÇA SOBRE UM DOS MAIORES PROSADORES DE LÍNGUA PORTUGUESA TEXTO DE RICARDO PAULOURO © Maria João Oliveira

O simples desejo de retratar a vida e obra do Padre António Vieira numa peça de teatro foi, talvez, o que moveu Filomena Oliveira e Miguel Real a assinarem esta produção que tem lugar num cenário tão majestoso quanto a obra do padre jesuíta. As Ruínas do Carmo, monumento edificado no século XIV e que começou por ser um convento carmelita, é um palco privilegiado mas digno desta produção e da grandiosidade da obra de Vieira: “Tão majestosa é a sua obra que não sabemos o que dela havemos de pensar. Se um pedaço do céu na terra, se uma obra humana igualada à eternidade”. Desta ligação entre o céu e a terra, ou entre o intemporal e o temporal, vem o título deste espectáculo, que pretende não só retratar a figura de Vieira, mas também o próprio tempo histórico. Se cabe a Filomena Oliveira a encenação, Andrzej Kowalski assina a cenografia. Um trabalho conjunto, de modo a se conseguir alcançar uma tão desejada unidade entre som, imagem, voz e representação, numa produção que partirá em digressão rumo ao Brasil. Desde as suas capacidades retóricas, hermenêuticas, filosóficas, teológicas, diplomáticas ou históricas, é impossível desligar Vieira do tempo em que viveu: “A figura do Padre António Vieira emerge deste ambiente histórico, evidenciando uma fabulosa singularidade”. Homem do barroco, Vieira foi um viajante e na sua vida Filomena Oliveira e Miguel Real encontraram matéria de criação: “Esta é uma peça de teatro, não um recital de declamação. Existem conflitos dramáticos, como em todas as peças, mas, claro, em uma ou outra parte, Vieira subirá ao púlpito e praticará a sua espantosa oratória.” Ainda hoje a metáfora de Vieira do teatro do mundo nos faz reflectir. As relações sociais continuam tão complexas como no seu tempo e nas suas reflexões encontramos, continuamente, o novo e uma fonte inesgotável de conhecimento.

:VIEIRA, O HOMEM E O PENSADOR “Padre António Vieira foi o português mais fracassado de todos os tempos. Nada do que sonhou se cumpriu, todas as suas profecias se frustraram, todos os seus planos políticos se goraram e toda a sua glória foi póstuma”. Assim definem Filomena Oliveira e Miguel Real, em poucas palavras, o destino de um “PADRE ANTÓNIO VIEIRA FOI O PORTUGUÊS MAIS FRACAShomem que se viu, até ao fim dos seus SADO DE TODOS OS TEMPOS. NADA DO QUE SONHOU SE dias, apreciado como orador, apesar de CUMPRIU, TODAS AS SUAS PROFECIAS SE FRUSTRARAM” votada a sua obra e o seu papel na sociedade ao esquecimento. Tendo sido o mais famoso pregador religioso português, homem de muitos ofícios – missionário, diplomata, político, orador, escritor –, a sua imaginação social e as suas práticas religiosas, sociais e políticas são indispensáveis à compreensão do © Maria João Oliveira século XVII. A construção de uma sociedade livre, sem fronteiras, era apregoada através de uma retórica única onde o sermão, os bons exemplos e as boas práticas sociais vigoravam. “Padre António Vieira nunca recuou perante os aleijões do seu tempo e nunca deixou de denunciar os poderosos que se alimentavam do trabalho alheio”, acrescentam Filomena Oliveira e Miguel Real. A denúncia social contra o tratamento dos negros ou a exploração e escravização dos índios no Brasil fizeram dele um visionário, aquele que acreditou também na ressurreição de reis e num Império Mundial sediado em Lisboa. Convicções que o levaram a ter de se confrontar com a Inquisição. Vieira arriscou tudo mas profetizou a utopia, não apenas enquanto quimera, mas como acto realizável.

“Não há maior comédia que a minha vida; e quando quero ou chorar ou rir, admirar-me ou dar graças a Deus ou zombar do mundo, não tenho mais que olhar para mim.” António Vieira, 1658


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:PINTAR COM LUZ AS RUÍNAS DO CARMO

© Maria João Oliveira

Andrzej Kowalski quis tirar o maior partido do facto de a peça se realizar nas Ruínas do Carmo. “Em termos estéticos é uma construção de climas, de ambientes e, claro, a utilização das ruínas do Carmo como cenário total. Neste espectáculo o espectador pode contar com uma recriação através do vídeo dos vários ambientes onde viveu o Padre António Vieira - o Brasil, a Bahia, a Corte”. Adaptar o cenário desta peça às Ruínas do Carmo foi uma experiência enriquecedora: “vamos pintar com luz (vai ser muito importante o trabalho do Orlando Worm, no desenho de luz) o Convento do Carmo e através da utilização de um tule, onde serão projectadas imagens que envolvem todo o espaço, criar uma terceira dimensão através da luz e da sombra”.

:OS MUITOS PALCOS DE LISBOA © Maria João Oliveira

Foi o primeiro pensador português a atribuir uma designação a vários factores, mais ou menos proféticos, que surgiram como consequência da célebre batalha de Ourique. O Quinto Império, assim lhe chamou Vieira, onde o sebastianismo convive lado a lado com os mesmos ideais judaicos presentes nas Trovas de Bandarra. Passear hoje pela cidade de Lisboa é também uma forma de reconhecer os sinais desse Quinto Império, disseminado pela cidade. Começar no Rossio, passando nos Restauradores, espreitar os subterrâneos de Lisboa. Observar os pórticos de igrejas como a Igreja da Conceição ou a fachada neogótica da Estação do Rossio. Olhos nos olhos com a estátua em pedra do Desejado, mão sobre a espada, segue-se até ao Convento do Carmo onde se descobrem lápides perdidas. Aqui reside a beleza das Ruínas do Carmo, já utilizadas como palco, em 2006, na apresentação do espectáculo “Metamorphoses”, de Ovídeo, por ocasião da Mostra Internacional de Teatro. Mandado construir em 1389 pelo Condestável D. Nuno Álvares Pereira, onde ingressaram, pouco tempo depois, frades carmelitas de Moura, no dia 1 de Novembro de 1755 grande parte do convento ruiu com o terramoto. Hoje, alvo de obras de beneficiação e restauro, as Ruínas do Carmo, com cabeceira sobranceira ao Rossio e de frente para o Castelo de São Jorge, formam um dos monumentos mais bonitos da capital.

: FICHA ARTÍSTICA de Miguel Real e Filomena Oliveira encenação Filomena Oliveira espaço cénico e imagem Andrzej Kowalski desenho de luz Orlando Worm figurinos Esmeralda Bisnoca música e orgânica sonora David Martins com António Banha, Bruno Schiappa, Carmen Santos Cláudia Faria, Félix Fontoura, João Brás, João Lagarto, José Henrique Neto, Júlio Martin, Marques D’Arede, Maurício Vitorio e Flávio Tomé, João Mais, Paula Coelho, Paulo Campos dos Reis produção TNDM II

Synopsis The historical mediaeval convent (Carmo Convent), located in the heart of the city, is the stage for a play that tells the story of the Portuguese Jesuit priest and writer António Vieira, who, in the XVIIth Century, astounded all by his eloquence and is defense of freedom.

Ruínas do Carmo 18 Jul 16 Ago 3ª a Sáb 22h00


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:Ensaio sobre o Padre António Vieira

© Maria João Oliveira

OS AUTORES DA PEÇA QUE O TEATRO NACIONAL VAI APRESENTAR NAS RUÍNAS DO CARMO, EM JULHO, ESCREVEM SOBRE O DESAFIO DE RECORDAR, EM TEATRO, UMA DAS FIGURAS HISTÓRICAS MAIS IMPORTANTES DO SÉCULO XVII TEXTO DE FILOMENA OLIVEIRA E MIGUEL REAL

A peça “Vieira – O Céu na Terra”, a ser representada este Verão nas ruínas do Convento do Carmo, privilegiou, na sua construção cénica, os ambientes brasileiros e lisboetas do século XVII. Neste sentido, participarão na peça uma personagem negra, representante dos escravos dos engenhos do Recôncavo bahiano, em cujas capelas Pe. António Vieira invectivou os poderosos senhores do açúcar, exigindo um tratamento humano para os escravos, e uma personagem índia, representante das tribos tupi, habitantes nativos do Maranhão e Grão-Pará, salvos da escravização e extinção devido ao empenho missionário de Pe. António Vieira e outros jesuítas. É, porém, a atmosfera revolucionária da Restauração em Lisboa, que, ausente-presente, se faz sentir em “Vieira – O Céu na Terra”. Lisboa, hoje desenhada verticalmente ao Tejo, seguia então paralela ao rio, as ruas acompanhavam os declives naturais (as colinas, os vales). Mais do que outro símbolo urbano, eram as

Do lado oriental, amontoavam-se frente ao Chafariz-d’El-Rei, à embocadura de Alfama. Daqui eram também as naus abastecidas de água, em barricas, não raro carregadas por antigos escravos mouros. O povo miúdo da Mouraria abastecia-se no Poço do Borratém, à entrada da Rua da Madalena, para onde, à noite, caminhavam os pés dos senhoritos finos, contemplando os tornozelos trigueiros das muy guapas espanholitas do teatro no Pátio do Borratém. Nestor, escravo acompanhante de Pe. António Vieira, extasia-se com o movimento de Lisboa como capital do Império, mas sente falta das mulatas da sua Bahia. Pelo meio da manhã, negras calhandreiras atravessavam Lisboa com as calhandras (ânforas ou potes) à cabeça recolhendo os dejectos dos lisboetas, dirigiam-se em magotes esforçados para a zona da Boavista (perto do actual Cais do Sodré), nos limites ocidentais da cidade, a despejar os seus potes no Tejo. De Alcântara a Monte Santo, o vento inchava umas nuvens de poeira amarelácea, que a brisa húmida do Tejo encorpava sobre a cidade, eram as pedreiras de Alcântara que abasteciam as obras de Lisboa, nelas trabalhavam escravos comprados nos mercados de Marrocos, antigos presos condenados às galés, embarcadiços caídos em desgraça. Nos velhos buracos da colina de Alcântara, que a escavagem e a explosão tinham aberto e explorado, agora sem uso, acolhiam-se escravos velhos ou defeituosos atirados para a rua pelos seus antigos amos, ali igrejas e conventos que marcavam os lugares de Lisboa – e Pe. viviam em cavernas ou grutas, dando origem, mais tarde, ao António Vieira proferirá partes de sermões declamados nas famoso mocambo ou quilombo de Alcântara, coutada de Igrejas das Chagas, de Conceição Velha e de S. Roque, igreja dos negros fujões do século XVIII. jesuítas. Dificilmente se daria um passo de uma rua para outra Atravessando o Rossio, três molequinhos negros gingam os que não se deparasse com uma igreja, uma capela ou, na linha caniços das pernas, cabriolando à frente de dois pretos de músdo horizonte, uma ermida. No lado oriental, a capela de Nossa culos de bronze que suportam à cabeça uma padiola com o Senhora da Penha velava pelos lisboetas; do ocidental, São corpo morto de um preto amortalhado num velho pano de Mamede, o santo abençoador dos rebanhos que pastavam às baeta ou numa serapilheira esgarçada; atrás, uma, duas ou três portas da cidade. Pela cidade, dezenas de igrejas, que nenhum mulheres pretas, enroladas em túnicas de pano-da-costa, pranteiam em altos gritos a perda do Bastião, do ‘Ñgola ou LISBOA OFERECE-SE A PE. ANTÓNIO VIEIRA COMO LUGAR do Manicongo, seguidos de quatro DA EXISTÊNCIA FUTURA DO QUINTO IMPÉRIO. MAS É PARA escravos jovens, um premindo um O BRASIL, PARA O SERTÃO, ENTRE NEGROS CONVERTIDOS E djambé de peito, outro bufando um ÍNDIOS A CONVERTER, QUE O SEU CORAÇÃO PULSA cornetim de lata, o terceiro evocando os vodus de África e o último socando furiosamente uma “caixa” (um tambor). Era um funeral negro, não havia padre, raramente santa-unção. bairro se sentia bairro sem que tivesse o seu santinho protector, Por vezes, um frade apiedava-se daqueles corpos vocacionados o seu pároco particular, que baptizava os meninos, casava os para o inferno, aprontava-se ao cimo da escadaria de uma igrejovens, consolava os adultos e amortalhava os velhos no caixão. ja, tapava o nariz ao cheiro malsão exalado do tronco dos preAs casas dificilmente ultrapassavam os quatro andares, todas tos, e abençoava o cortejo, que se dirigia para o Poço dos elas com quintais, algumas com curtos jardins, cravadas umas Negros, recolha obrigatória dos corpos mortos dos pretos. Ao nas outras compondo um labirinto de ruas e ruelas estreitinhas sábado, a Câmara despejava cinco baldões de cal a ferver sobre por que dificilmente passava uma carroça larga ou uma carruagem. os corpos em apodrecimento. Burros e escravos eram os grandes carregadores da cidade. Cénica, Lisboa oferece-se a Pe. António Vieira como lugar da Escravas carregadoras de água para as casas das suas senhoras existência futura do Quinto Império. Mas é para o Brasil, para o alinhavam-se junto ao chafariz do Terreiro do Paço, encimado sertão, entre negros convertidos e índios a converter, que o seu pela estátua de Apolo, o Belo, ou junto ao chafariz do Rossio, coração pulsa. muito gaiteiro com a sua estatueta de Neptuno, Rei dos Mares.


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:No Palácio da Independência, de 5 de Julho a 16 de Agosto

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CONSIDERADO POR MUITOS A OBRA-PRIMA DE WILLIAM SHAKESPEARE, “SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO” REGRESSA, DESTA VEZ APRESENTADO AO AR LIVRE, NO PALÁCIO DA INDEPENDÊNCIA, BEM NO CORAÇÃO DA CIDADE TEXTO DE RICARDO PAULOURO

Muito se tem escrito sobre “Sonho de uma Noite de Verão”. A tentativa de descoberta das influências shakespearianas, remetendo a temática às lendas gregas, até à perícia e originalidade da escrita levou vários críticos, como Harold Bloom, a afirmar sem qualquer hesitação: "Nada escrito por Shakespeare antes de ‘Sonho de uma Noite de Verão’ se equipara a essa peça e, até certo ponto, nada escrito por ele depois irá superá-la. Trata-se, sem dúvida, da sua primeira obra-prima, perfeita, uma das suas que apresentam força e originalidade admiráveis." Esta que é talvez a mais fascinante comédia do bardo inglês regressa, sob a encenação do argentino Claudio Hochman, para ser apresentada ao ar livre, no Palácio da Independência. Um dos mais representativos exemplos de arquitectura seiscentista da área urbana de Lisboa, em pleno centro histórico da cidade e encostado à muralha fernandina, serve de palco a esta peça que desperta no espectador o desejo de sonhar de olhos abertos. Como diz Claudio Hochman, “o espaço onde a peça terá lugar é um pátio muito bonito e a montagem será ao ar livre, aproveitando os recursos que o próprio espaço nos oferece. A lua será testemunha.” Claudio Hochman, shakespeariano assumido, retoma esta peça repleta de fadas, elfos, príncipes e sonhos. Depois da sua apresentação na Sala Garrett do Teatro Nacional, serão alteradas algumas componentes do espectáculo, nomeadamente os figurinos: “Gosto de realizar estes jogos, voltar a pôr em cena uma peça modificando alguns dos factores. Desta vez, vamos alterar o guarda-roupa em proveito de uma estética mais actual, bem como alguns aspectos da cenografia.” A nova versão de “Sonho de uma Noite de Verão’“ é um espectáculo transversal que funciona para todas as idades. Ou não falasse este

texto do amor, na sua forma mais divertida, misturando personagens da mitologia grega com duendes, nobres e plebeus. Apesar de ser uma das peças mais levadas à cena, a necessidade humana da fantasia, do amor e do desejo não se desvanece. “Sonho” é, por isso, uma peça imperdível, segundo Hochman, pela forma como “introduz o

jogo do teatro dentro do teatro, fala de mundos reais e mágicos. Também nós vivemos num mundo cheio de rituais e burocracias, de formalismos e estruturas pouco flexíveis. ‘Sonho’ é um escape, uma peça que abre as portas à imaginação, que dá lugar ao delírio. Aliás, está repleta de humor. E esse é um alimento muito saudável.”

: FICHA ARTÍSTICA a partir de William Shakespeare versão e encenação Claudio Hochman musica original e tradução de letras Alfredo Moura letras originais Claudio Hochman direcção musical Daniel Schvetz cenografia Ana Paula Rocha figurinos Rafaela Mapril desenho de luz José Carlos Nascimento coreografia Claudio Hochman e Catarina Câmara com Bruno Huca, Catarina Guerreiro, Diogo Mesquita, Fernanda Paulo, Joana de Carvalho, João Miguel Mota, Marta Queirós, Rita Cruz, Samuel Alves, Pedro Pernas músicos Eduardo Jordão, Eduardo Lála, Gonçalo Santos, Jorge Silva, José Luís Carvalho produção TNDM II

Synopsis Shakespeare’s beloved comedy, “A Midsummer Night’s Dream”, is presented outdoors, in the Independence Palace, located close to Rossio. Shakespeare’s fantastical play with three stories of love, magic and perception is an audience favorite.

Palácio da Independência 5 Jul 16 Ago 3ª a Sáb 22h00


:Cenografias cruzadas

:08 TNDM II

© Nuno Couceiro

Há um momento na vida de um artista em que o reconhecimento chega, inequivocamente. Este parece ser o seu. Tem consciência deste facto? Há, de facto, um reconhecimento. Mas no dia a dia não penso nisso. Estou sempre absorvido com novos projectos.

nadores, coreógrafos, actores e bailarinos, desenhos de luz e figurinos, proporciona, pela diferença na abordagem dos distintos intervenientes, uma maior consciência do domínio próprio da arquitectura, levando a reinterpretar e questionar os seus limites. (…)

Sente-se mais cenógrafo do que arquitecto, ou viceversa? Isto embora uma das características do seu trabalho seja o facto de se continuar a notar, nas suas cenografias, a mão do arquitecto... Sinto-me sempre arquitecto. Tal como Lina Bo Bardi, mais do que cenógrafo, sinto-me um “arquitecto de cena”. Sim, é facilmente reconhecível, nos meus trabalhos de cenografia, a dominância do gesto arquitectónico. Existe nestes trabalhos uma relação com a arquitectura e com os seus temas fundamentais (peso, massa, forma, volume, espaço) onde a noção de habitar é essencial para a construção do objecto cénico, através do qual se explora a reutilização de materiais conotados com a arquitectura. (…) No entanto, se é no campo da arquitectura que nos encontramos – como linguagem conceptual de referência – os cenários podem afirmar-se pela sua negação. Apesar de serem arquitecturas, quando transpostas para o palco, o teatro atribui-lhes outros significados, podendo representar coisas distintas. (…) Libertos de constrangimentos funcionais, pomo-nos no papel de contadores de histórias, coleccionando imagens e acontecimentos que se adequam ao grau de dramatismo da cena. Isto é, cristaliza-se uma determinada imagem, que normalmente advém do mundo da arquitectura, que se adequa à dramaticidade da cena. (…)

Tem trabalhado com muitos encenadores. João Lourenço, Ricardo Pais, Rogério de Carvalho, Carlos Pimenta. Fez, também, várias cenografias para dança, nomeadamente para Olga Roriz. Há algum que goste de destacar? Algum criador com quem tenha sentido maior cumplicidade artística? No teatro e na dança, as grandes duplas de criativos, como Cristina Reis/Luís Miguel Cintra, Richard Peduzzi/Patrice Chéreau, Gae Aulenti/Luca Ronconi, ou Peter Pabst/Pina Bausch, são feitas no pressuposto da existência de um quadro de referências comuns. No meu caso, tenho efectivamente trabalhado com muitos encenadores e coreógrafos, não existindo, necessariamente, uma cumplicidade estética. Nos trabalhos com Ricardo Pais e Olga Roriz, o que os torna interessantes é exactamente a oposição entre a austeridade do meu quadro de referências e a linguagem exuberante que caracteriza os seus trabalhos. (…) Já com António Pires, e mesmo com Carlos Pimenta, os meus objectos cénicos, austeros e abstractos, vão de encontro à linguagem teatral por eles preconizada. No entanto, julgo que há um ponto comum em todos estes criativos, na medida em que entendem a concepção cenográfica como algo distante da representação de uma ficção a partir de um plano bidimensional, para se centrar na natureza tridimensional (arquitectónica) do espaço ou dos objectos cénicos e na sua estreita relação com os intérpretes. (...) A cenografia, tal como a arquitectura, deve reflectir as relações entre o espaço e o corpo.

Recentemente, foi contemplado com mais um prémio internacional importante, o Gold Medal for Best Stage Design, em Praga. Mas no seu percurso abundam as distinções – quer as nacionais quer as internacionais. Que importância atribui a estes prémios? Os prémios são como desafios, como um estímulo para continuar a trabalhar empenhadamente. Como diz Helena Almeida, a chave do sucesso é a persistência. "É da exaustão, da dor interior, que surgem as soluções.” Lutar com convicção e sem tréguas por aquilo que gosto de fazer. Tenho a necessidade de trabalhar em arquitectura para existir, fundindo-se naturalmente o acto de fazer arquitectura e o de viver. A minha vida é o relacionamento com as pessoas com quem trabalho. Acredito que é uma forma de viver particularmente estimulante e preciso dela. Como aconteceu a aproximação ao teatro? Quando e em que circunstâncias fez a sua primeira cenografia e o que o fez continuar? O meu interesse pelo teatro surgiu por mero acaso e deve-se substancialmente a Ricardo Pais, que conheci quando era professor de Projecto em Viseu, na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto. Tudo começou em 1991 com o seu convite para conceber a cenografia da peça “Grupo de Vanguarda”, de Vicente Sanches, sua encenação para o TEUC. Nessa altura a minha actividade como arquitecto era ainda escassa, e embora pressentindo a distinção entre as actividades de arquitectura e cenografia, encarei esse trabalho com o mesmo empenho e rigor técnico que dedico aos projectos de arquitectura. O que me fez continuar, foi perceber que a relação com os ence-

De todos os seus trabalhos, consegue escolher um que prefira de entre todos? Gostaria de destacar “Propriedade Privada” (1996) de Olga Roriz e “D. João” (2006) de Molière, encenação de Ricardo Pais, trabalhos onde se expressam, de forma clara, os confrontos e as relações entre a arquitectura, a dança e o teatro. (…) Os dois cenários constituem-se como paradigmas do tema da multifuncionalidade, frequentemente explorado nos meus trabalhos de cenografia, traduzido em objectos, ou sistemas de objectos, flexíveis e transformáveis, tornando presente a ideia de transitoriedade, associada às mudanças e à especificidade de cada cena. Nesse sentido, estes dispositivos cénicos são entendidos como uma espécie de corpo vivo em constante mutação. (…)

pelos autores, encenadores e coreógrafos durante o processo de criação, como também, posteriormente, às questões levantadas pelos espectadores.

É um criador que se realiza totalmente depois do trabalho concluído ou é daqueles artistas que está sempre insatisfeito? Diria que depende de cada trabalho. Por exemplo, no caso de “Propriedade Privada”, achámos que o cenário ainda não tinha esgotado todas as suas possibilidades e por isso, com o mesmo dispositivo, Olga Roriz coreografou “Propriedade Pública” (1998). A este propósito, Olga refere “que poderia agarrar-se àquela cenografia e fazer o resto da sua carreira com ela, construindo sempre trabalhos diferentes... porque ela é infindável” e acaba por ganhar vida própria. Tenho uma postura crítica perante os meus trabalhos. Tento responder não só às questões colocadas

É capaz de descrever sumariamente o processo de criação de um cenário? A metodologia varia consoante o espectáculo, mas normalmente, quando existe um texto, parto da sua leitura e de uma primeira conversa com o encenador ou coreógrafo. Geralmente leio o texto uma só vez. Prefiro não o ler em detalhe antes de ter uma ideia conceptual para o espaço cénico. Frequentemente concebo as cenas não em função de uma trama literária, mas sim de uma estrutura arquitectónica. Entendo que a cenografia não é mera tradução literal da dramaturgia, privilegiando conteúdos paralelos como as insinuações de tensões e sentidos “narrativos” a partir de estruturas cénicas predominantemente abstractas. (…)

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A PROPÓSITO DA EXPOSIÇÃO “ARQUITECTURAS EM PALCO”, PREMIADA NA QUADRIENAL DE PRAGA E QUE O TEATRO NACIONAL VAI RECEBER ATÉ FINAIS DE JULHO, JOÃO MENDES RIBEIRO FALA DE ARQUITECTURA E CENOGRAFIA ENTREVISTA DE A. RIBEIRO DOS SANTOS

NUNO GABRIEL DE MELLO, CENÓGRAFO DE “UM CONTO AMERICANO”, QUE AINDA SE PODE VER NA SALA GARRETT ATÉ 13 DE JULHO, FALA DO SEU TRABALHO E DO IMPACTO DA SUA GIGANTESCA MÁQUINA DE CENA ENTREVISTA DE A. RIBEIRO DOS SANTOS

© Nuno Couceiro

Tinha consciência, quanto o convidaram para fazer esta cenografia, de que o cenário se tornaria um protagonista, senão mesmo o protagonista de “Um Conto Americano”? Não foi esse o meu objectivo, mas sei que o cenário se torna muito presente no espectáculo, a ponto de ameaçar diluir o peso da interpretação dos actores. Inicialmente, tinha até concebido um cenário mais simples… Este tinha custos mais elevados e era arriscado, a nível da encenação. Mas quando expus os dois projectos à Maria Emília Correia, ela preferiu este. Depois de abrires o baú, já não te contentas com uma jóia. Mas o outro talvez fosse melhor para o espectáculo como um todo. Certamente que não se iria sobrepor ao resto. Em que moldes foi formalizado o convite para fazer esta cenografia? Quem conhecia o seu trabalho ao ponto de lhe entregar uma tarefa desta envergadura? O Carlos Fragateiro. Fiz, em 1997, um cenário para um espectáculo do Teatro da Trindade que correu particularmente bem. Concebi uma gigantesca máquina de escrever que os actores ocupariam, criando letras. Tudo aquilo tinha de ser coreografado ao milímetro. Infelizmente, nem todos os actores concordaram em trabalhar em cima da estrutura e a máquina acabou por funcionar apenas como pano de fundo da acção. Era bonito, mas não correu como gostaria.


:10 TNDM II

© Nuno Couceiro

O cenário de “Um Conto Americano” não é, portanto, acidental. Como criador, tem apetência por máquinas cénicas? É o que sei e quero fazer. Aí reconhece a influência de algum criador? O João Brites, do Bando, é conhecido pelo mesmo… Reconheço-me um discípulo do João Brites, que foi meu professor no Conservatório e que, no primeiro ano do curso, me convidou para ir trabalhar com ele. Fiz, com o Bando, “A Balada da Garuma”, dois meses depois de ter entrado na escola. Foi importante para si ter estudado em Barcelona. O que se diz sobre o alargamento de horizontes que as escolas fora do país proporcionam não é um mito? As escolas servem, fundamentalmente, para encontrar pessoas com objectivos comuns, que partilham ideias e princípios estéticos, que perseguem as mesmas utopias. Ninguém ensina nada a ninguém: ou se está disponível para aprender, ou não. Em Barcelona, tive oportunidade de evoluir muito a nível técnico. Coisa que não tinha acontecido no Conservatório, cujo ensino, há dez anos, tinha muitas lacunas, sobretudo a nível prático. Dizem-me que está melhor.

Acompanha os ensaios e dispõe-se a fazer ajustes no cenário ou apresenta a obra feita e deixa o encenador e os actores fazerem o resto? Sim, acompanho os ensaios de modo a ir aperfeiçoando o cenário até à estreia. Na construção dos cenários, salienta-se o seu carácter experimental, que se traça numa aprendizagem consolidada em sucessivos ensaios e no contacto directo com os intérpretes. Isto porque as minhas propostas cenográficas evocam temas tradicionais da arquitectura (volume, escala, estabilidade, densidade), mas também remetem para a relação com os intérpretes, convocando o corpo e afectando o modo como este experiencia os objectos cénicos: uma espécie de inteligibilidade do objecto cénico que exige a presença do corpo. (…) A possibilidade de corrigir e modificar detalhes do dispositivo cénico, num processo experimental, é uma vantagem que o teatro e a dança oferecem.

A exposição que vai apresentar no Teatro Nacional D. Maria II - onde, de resto, já trabalhou - como a apresentaria? “Arquitecturas em Palco” é o tema proposto para a exposição. Com este tema pretende-se evidenciar o espírito contemporâneo de hibridação, experimentalismo e contaminação entre as várias disciplinas artísticas, nomeadamente a cenografia e a arquitectura. (…) A cenografia é abordada enquanto experimentação de processos e linguagens comuns à arquitectura, nomeadamente, no que toca à modelação dos espaços a partir de temas como a escala, os aspectos compositivos e construtivos ou o recurso a dispositivos geométricos e modulares. Esta exposição constitui uma oportunidade de materializar um projecto fundado, precisamente, nessa relação interdisciplinar, que espero que venha a constituir matéria de reflexão e aprofundamento sobre os limites e a demarcação de territórios artísticos (nos quais ainda se inclui a arquitectura) ou, pelo contrário, sobre a pluralidade e a confluência de propósitos e universos conceptuais de referência. (ver entrevista completa no site do TNDM II)

Onde se inspirou para criar este cenário? Na América dos anos 30. Nada mais. Tentei que a imagem correspondesse àquela estética do ferro e das linhas cruzadas. Tudo muito simples e o mais depurado possível. Não aprecio o barroco e não gosto de decorar espaços. Só aceito trabalhar com pessoas que me deixam experimentar e já perdi muitas oportunidades de trabalho por causa disso. Por exemplo: para fazer uma cozinha não é preciso pôr uma bancada e um lava-louças. Gosto mais de sugerir as coisas, de situar o público em determinado ambiente, do que de explicar tudo. Foi um cenário muito difícil de construir, materialmente? Tem conhecimentos de engenharia suficientes para montar uma maquinaria destas? Tenho alguma prática em fazer mecanismos complicados e alguma destreza em imaginar soluções para as máquinas. Mas neste caso, em que era preciso usar pesos e contrabalanços, contei com a ajuda dos serralheiros do Leonel & Bicho, que construíram o cenário. São muito competentes. A segurança dos actores foi, desde o início, uma preocupação neste projecto? Visto de fora, parece extremamente perigoso habitar aquele espaço. Mas não é. Não oferece grandes perigos porque tudo foi pensado para que assim fosse. Claro que é preciso ter algum cuidado, mas isso é válido para qualquer espectáculo e em qualquer cenário. As críticas ao espectáculo, todas se referem ao cenário, sempre em termos elogiosos. Isso é importante para si? Idealmente, um bom cenário é aquele que não se dá por ele. Não sei se algum criador alguma vez tem a certeza daquilo que está a fazer – mesmo os mais experientes. Duvido que tenha. Mas no cômputo geral, o que é preciso, antes de mais, é que um cenário sirva a história.


:Em Junho e Julho

A relação entre as personagens é tensa, do princípio ao fim da história. Carla Vasconcelos (Helena) e Ricardo Pereira (Tomás) são o par romântico. Mas o romance em Neil LaBute encontra entraves nos próprios preconceitos da sociedade. Enquanto Helena é uma jovem gorda que come com prazer, Tomás, elegante e bonito, submete-se às dietas e ao ginásio. Apesar da atracção mútua, surgem dois opositores a uma história com final feliz: Castro (Carlos António), o amigo mais próximo, e Joana (Maria João Falcão), contabilista e ex-namorada de Tomás. Dois arquétipos, aliás, ambos com a mesma idade e com o mesmo grau de malícia, representativos de uma sociedade ostracista em relação a quem foge aos padrões de beleza. Encenada por Amândio Pinheiro, esta peça vê a sua carreira prolongada graças à adesão do público que nela encontra um fiel retrato da sociedade contemporânea onde, do princípio ao fim, se aguarda pela resposta à questão: precisará o amor de autorização da sociedade para se ver concretizado? Note-se que o controverso dramaturgo e realizador norte-americano, Neil LaBute, se inspirou na sua própria história de vida quando perdeu, repentinamente, 27 quilos e pensou ter encontrado a harmonia e equilíbrio que tanto desejava. O próprio afirmou, recentemente, ao blog “Theatrevoice”: “Vou onde o vento me levar: quando tenho uma história com a qual estou contente, escrevo-a e espero que seja uma noite em cheio”. Na verdade, é esse carácter humano e real, demasiado real, que faz desta peça uma história sobre as fraquezas da própria sociedade.

Synopsis Two plays to watch for fun. “Fat Pig” is a controversial play where the top American playwright and director explores how society treats a romance between a young single man and his overweight girlfriend. “The Sculptor Clown” is an exercise of stand-up-comedy (International Award Winning Street Show) where the main character is a sculptor clown. This interdisciplinary work is a visual treat for all the family that will never cease to entertain and amaze.

:TNDM II 11

DEVIDO AO SUCESSO DE PÚBLICO, “A GORDA – FAT PIG”, DE NEIL LABUTE, VIU A SUA CARREIRA PROLONGADA. ISTO ENQUANTO PEDRO TOCHAS SE PREPARA PARA APRESENTAR, NO MESMO ESPAÇO, UM ESPECTÁCULO QUE PROMETE FAZER RIR O PÚBLICO COM AS PEQUENAS COISAS DA VIDA TEXTO DE MARGARIDA GIL DOS REIS

© Susana Paiva

:O ONE-MAN-SHOW DE PEDRO TOCHAS A paixão pelo teatro de rua levou Pedro Tochas aos Estados Unidos da América e a Inglaterra estudar técnicas de malabarismo e comédia física. A comunicação através de imagens e da linguagem não verbal é uma arte que actualmente utiliza nos seus espectáculos e que o fez ganhar o prémio de melhor artista de rua, em 2003, no Prosgrunn Internasjonale Teaterfestival, na Noruega. Assim se chega a este “Palhaço Escultor”, também vencedor do Adelaide International Buskers Festival, em 2006, onde, utilizando a técnica de “clown”, Tochas reinventa a sua relação com o público e consigo próprio enquanto malabarista. Progressivamente, os sentimentos tomam conta do malabarista que, influenciado por várias imagens do cinema mudo, recorre a adereços, como balões, para mostrar o que sente. Ao longo de cerca de uma hora, o público assiste a uma performance dinâmica que recupera imagens do imaginário de cada um de nós.


:12 TNDM II

“Três artistas. Três nacionalidades”. Assim é definido o conceito deste espectáculo que reúne três criativos de diferentes proveniências: o compositor Marijan Necak, da Macedónia; e os coreógrafos Stasa Zurovac, da Croácia, e o português Luís Sousa. “Ancient Times Today” - Um olhar actual sobre mitos na antiguidade é uma produção da companhia de reportório CeDeCe e o colectivo croata Rijeka Ballet Ensemble. Luís Sousa trabalhou criativamente com os bailarinos croatas, enquanto Stasa Zurovac investiu a sua criatividade nos bailarinos portugueses. Um intercâmbio cuja diversidade de estilos encontra a sua unidade na música, especialmente criada para esta produção pelo compositor macedónio Marijan Necak. Na rota de aproximação da dança à comunidade, tendo como principal objectivo a formação de novos públicos, a CeDeCe une-se ao Ensemble do Ballet do Teatro Nacional da Croácia, que se apresenta pela primeira vez em Portugal, no âmbito do Exchange International Festival. Saliente-se que este é, aliás, um ciclo dedicado à dança, no concelho de Alcobaça, cidade onde a CeDeCe se radicou desde 1992, e que teve a sua primeira edição em 2007. Apostando num estilo de dança mais lírico mas com uma forte componente técnica, este espectáculo pretende ser um desafio aos limites da imaginação dos dois coreógrafos que se transpõe para os limites do corpo dos bailarinos. Stasa Zurovac parte da temática do texto bíblico “Cântico dos Cânticos”, em contraponto com o texto do poeta croato Janko Polic Kamov, para “criar uma peça que seja uma combinação artística” de ambos os poemas. Do outro lado, Luís Sousa encontrou © Sérgio Claro no mito de Penélope fonte de inspiração: “A espera de Ulisses, a sombra da sua vida (Helena), o desespero do seu filho Telémaco, o abuso dos cavaleiros do reino, a morte das 12 aias. História. Mito. Será que o tempo da História e a Palavra do Mito foram correctos e justos com Penélope?”.

:Criadores Europeus encontram-se na Sala Garrett

A SALA GARRETT RECEBE UM ESPECTÁCULO QUE FUNDE DIFERENTES LINGUAGENS – A MÚSICA E A DANÇA CONTEMPORÂNEA. AQUI, CONSTRÓI-SE UMA PONTE ARTÍSTICA ENTRE O TRABALHO DE CRIADORES DE TRÊS PAÍSES QUE SE ENCONTRAM EM PALCO TEXTO DE MARGARIDA GIL DOS REIS

:MÚSICA AO VIVO A música, expressamente encomendada para a ocasião, está a cargo de Marjan Necak, cujo trabalho é a unidade e o ponto de fusão do trabalho de ambos os coreógrafos. À interpretação dos bailarinos croatas e portugueses, juntam-se músicos e cantores do Teatro Ivan pl. Zajc de Rijeca, na Croácia. Marjan Necak, que compõe, desde 1997, para teatro, opereta, ópera, musicais e bailado, tem apresentado as suas obras nos teatros nacionais da Macedónia e da Albânia. A versatilidade e a transdisciplinaridade do espectáculo, bem como o dinamismo da coreografia, dependem, em muito, da música ao vivo que estimula o movimento no palco.

APOSTANDO NUM ESTILO DE DANÇA LÍRICO MAS COM UMA FORTE COMPONENTE TÉCNICA, ESTE ESPECTÁCULO PRETENDE SER UM DESAFIO AOS LIMITES DA IMAGINAÇÃO DOS DOIS COREÓGRAFOS QUE SE TRANSPÕE PARA OS LIMITES DO CORPO DOS BAILARINOS

:PORTUGAL E CROÁCIA NO MESMO PALCO Fundada e dirigida artisticamente, em 1992, por Maria Bessa e António Rodrigues, a CeDeCe, radicada no centro do país, mais precisamente em Alcobaça, tem contribuído, de forma significativa, para a implementação da dança contemporânea em Portugal. No seu reportório contam-se nomes como Gagik Ismailian, Jochen Heckman, Mark Haim, Sing Buller ou os portugueses Olga Roriz, Vasco Wellenkamp e António Rodrigues. A celebrar os seus 16 anos de actividade contínua, a CeDeCe une21h30 -se, numa iniciativa de abertura criativa, ao Ballet Nacional da Croácia, um colectivo com um percurso diferente em termos históricos. Com um reportório inspirado no mundo operático, e mais tarde num gesto de promoção de artistas russos, foi talvez com Stasa : FICHA ARTÍSTICA Zurovac, a partir de 2003, que a dança direcção artística CeDeCe | Rijeka Ballet Ensemble Stasa Zurovac contemporânea passa a fazer parte, coreografia Stasa Zurovac | Luís Sousa de forma mais visível, da história desta música Marijan Necak companhia. É inteiramente devido ao desenho de luz António Rodrigues Exchange International Festival que o Ballet do Teatro Nacional da Croácia intérpretes Bailarinos da CeDeCe | Bailarinos, Músicos e Cantores do Theatre se apresenta pela primeira vez em Ivan pl. Zajc Portugal.

Sala Garrett 19 e 20 Jul

co-produção CeDeCe | Rijeka Ballet Ensemble

Synopsis Three artists of different countries – Portugal, Croacia and Macedonia - gather in this dance show that focus on ancient themes from a contemporary point of view. An unique production where the biblical text and Penelope’s myth are sources of inspiration and where live music, especially composed for this production, unifies the choreographies.


:Clássico francês integrado no Festival de Almada

:TNDM II 13

UM TEXTO QUE FEZ HISTÓRIA NO TEATRO DO SÉCULO XVII CHEGA A LISBOA PELAS MÃOS DO ENCENADOR ALAIN OLLIVIER. A MAIS FAMOSA DAS PEÇAS DE CORNEILLE, PARA VER EM FIGURINOS DE ÉPOCA E TEXTO INTEGRAL TEXTO DE A. RIBEIRO DOS SANTOS

© Bellamy

Um espectáculo esteticamente deslumbrante e que respeita o texto original, dando a ouvir a peça Corneille em todo o seu esplendor linguístico. Eis como a crítica se tem referido a “Le Cid”, espectáculo do encenador Alain Ollivier que cumpriu carreira no Théâtre Gérard Philipe de Saint-Denis no final do ano passado e tem andado em digressão desde o início deste ano, chegando agora a Lisboa como resultado de uma colaboração entre o Teatro Nacional D. Maria II e a Companhia de Teatro de Almada e integrado na programação do Festival Internacional de Teatro de Almada. Nomeado para os prestigiados Prémios Molière – Melhor Actor Revelação, para Thibaut Corrion (Don Rodrigue), e Melhor Guarda-Roupa, para Florence Sadaune – o espectáculo tem sido muito elogiado, também, pelo desempenho do protagonista, a quem o crítico Gilles Costaz (no jornal francês “Les Echos”) classificou de um “actor fascinante”. A importância de “Le Cid” não se esgota, porém, no espectáculo de Alain Ollivier. Quando o texto estreou cenicamente, em 1637, a sociedade francesa mais pudica gritou, a plenos pulmões: “Escândalo!” A Academia Francesa, essa, sob o alto patrocínio do Cardeal Richelieu, quis proibir Corneille de escrever “tais barbaridades”: a peça não respeitava a regra das três unidades de Aristóteles. Apesar da acção decorrer em 24 horas, como “manda a lei”, Corneille faz caber dentro deste período de tempo demasiados acontecimentos para que a história se torne credível. Mas estas foram, “apenas”, as opiniões dos especialistas. O público, esse, delirou, acolhendo com entusiasmo as ousadias do autor e fazendo do espectáculo um dos maiores êxitos da sua carreira. A peça conta a história dos amores contrariados de Chimène e Don Rodrigue, cujas rivalidades familiares desembocarão em desgraça: o jovem cavaleiro mata o pai da amada, para grande aflição desta. No entanto, tratando-se de uma tragi-comédia (Corneille abordou todos os subgéneros teatrais), a história terá um desfecho feliz.

: FICHA ARTÍSTICA encenação Alain Ollivier cenografia Daniel Jeanneteau desenho de luz Marie-Christine Soma figurinos Florence Sadaune cabelo e maquilhagem Catherine Saint-Sever conselheiro técnico em esgrima François Rostain com John Arnold, Irina Solano, Bruno Sermonne, Philippe Girard, Thibaut Corrion, Mathieu Marie, Stéphane Valensi, Fabrice Farchi, Claire Sermonne, Myriam Tadessé, Júlia Vidit, Malik Rumeau coprodução Théâtre Gérard Philipe de Saint-Denis-Centre Dramatique National, Les Nuits de Fourvière, La FilatureScène National de Nulhouse, Maison de la Culture d'Amiens co-apresentação Teatro Nacional D. Maria II / Culturesfrance Instituto Franco-Português / Festival Internacional de Teatro de Almada

Synopsis Rodrigue and Chimène are in love, but their parents hate each other. In a duel, Rodrigue kills her lover’s father and Chimène has no choice but to go to the king and demand the head of the man she loves. Rodrigue goes to war, becomes a national hero and then can claim his love for Chimène.

Sala Garrett 16 e 17 Jul 21h30


Apoio:

:14 TNDM II

:Notícias

:Um mês de Concertos no Rossio A esplanada do Teatro Nacional, no Rossio, recebe, de 16 de Julho a 16 de Agosto, vários concertos que animarão as noites da capital. Treze boas razões que o obrigarão a sair de casa

:TNDM II ASSINA PROTOCOLO COM amo.te O Teatro Nacional D. Maria II e o Grupo amo.te acabam de assinar um protocolo com vista à criação do novo espaço amo.te Lisboa, que dinamizará, dentro em breve, o antigo Café Garrett. O protocolo prevê ainda a abertura da nova unidade Cupido Express (sub-marca amo.te), no Villaret, passando assim os dois espaços de restauração afectos ao TNDM II a poder receber, condignamente, os frequentadores de teatro e de oferecer, aos lisboetas, novos e agradáveis locais de convívio, com boa comida em ambiente descontraído.

:DEBATES NO SALÃO NOBRE A propósito da apresentação, na Sala Garrett, do espectáculo “Um Conto Americano – The Water Engine”, o Teatro Nacional está a realizar uma série de encontros/debates com personalidades de diversas áreas, com vista a discutir algumas das questões suscitadas pela peça, da autoria do norte-americano David Mamet. O texto, inicialmente destinado à representação radiofónica e posteriormente adaptado para argumento de cinema, é uma fábula complexa que coloca em confronto o indivíduo e a sociedade. Conta a história de Charles Lang (Luís Gaspar), um jovem cientista que inventa um motor que funciona apenas a água e acredita assim que vai ficar rico e viver para o campo com a irmã, Rita (Paula Neves). No entanto, a realidade será bem diferente… Depois dos debates "História e Sociologia" e "Arte e Ciência", segue-se, no próximo dia 26 de Junho, Política e Economia". No Salão Nobre, às 19h00, com entrada livre.

A programação de “Outros Palcos” aposta na diversidade e na qualidade. Aos vários espectáculos espalhados pelos originais palcos de Lisboa, somam-se treze concertos, de entrada gratuita, que recuperam o estilo do jazz e da world music. Dando espaço à multiculturalidade, este ciclo de concertos faz da esplanada um ponto de encontro criativo, feito de cumplicidades entre alguns dos melhores artistas portugueses. Uma experiência que acrescenta sonoridades tradicionais ou improvisações de base jazzística comum a todos os artistas. A abertura está, por isso, a cargo da Big Band, constituída, na sua formação por dezanove músicos, alguns dos quais artistas profissionais experientes no panorama musical do nosso país. O repertório, dedicado exclusivamente aos clássicos interpretados pelas grandes orquestras de Jazz dos anos 50, revisita temas inesquecíveis de Glenn Miller, Duke Ellington, Frank Sinatra ou Ella Fitzgerald e tenta recriar o ambiente das festas dos anos 50. Salienta-se Joana Rios e Ian Mucznik que dão voz a temas com uma originalidade única. Destaque ainda para o Bárbara Lagido Trio, uma das divas do jazz nacional, cuja capacidade interpretativa, torna os arranjos de grande temas do cancioneiro americano, como Cole Porter, Miles Davis ou Gershwin, dotados de criatividade. Marta Plantier é a senhora que se segue, onde a linguagem do jazz se cruza com várias influências de músicas do mundo e estilos musicais como o soul, blues ou african music. Open Source, apresentado à sexta-feira, junta os meios de fazer dançar através da sinergia desenvolvida em tempo real entre o conhecido DJ Johnny – bem conhecido por animar a noite lisboeta com os seus discos, responsável pela programação das Lux Jazz sessions -, o trompetista Ricardo Pinto e o trombonista Eduardo Lála.

Trio Bárbara Lagido

:LIVROS LANÇADOS NO TNDM II “Cuidado com as Mulheres”, de Miguel Reis, e “Sete Mulheres para D. Sebastião”, de Helena Belmonte, são dois romances cujos lançamentos terão lugar no Teatro Nacional, respectivamente nos próximos dias 18 e 27, ao fim da tarde. A primeira obra é uma edição da Prime Books, editora que iniciou a sua actividade em 2003 e que aposta sobretudo nos autores portugueses e em conteúdos para o grande público. Inicialmente vocacionada para os temas desportivos, tem gradualmente vindo a alargar o seu espectro de acção, abarcando agora áreas como o jornalismo e a reportagem, o cinema e televisão, o turismo e as viagens e a culinária. Recentemente, passou a editar, também, ficção. Quanto a “Sete Mulheres para D. Sebastião”, livro de ficção de Helena Belmonte, é um lançamento da DG Edições, editora fundada e dirigida por Daniel Gouveia, reconhecido especialista em fado e também ele autor de ampla obra publicada.

:“ORESTÉIA”ANIMOU O PALÁCIO DA INDEPENDÊNCIA Assinalando mais uma colaboração entre o Teatro Nacional D. Maria II e o FITEI – Festival Internacional de Expressão Ibérica, o espectáculo “Orestéia – O Canto do Bode” abriu, no Palácio da Independência, a iniciativa “Outros Palcos”. Assinado pelo brasileiro Marco Antônio Rodrigues – o mesmo que trouxe a Lisboa, na MITE de 2006, uma versão inesperada e brechitana de “Otelo” – o espectáculo propõe uma revisão do clássico grego adaptando-o à realidade da América Latina contemporânea. Baseado no conhecido clássico de Ésquilo, constituído pelas tragédias “Agamémon”, “Coéforas” e “Euménides”, acompanhamos as aventuras e desventuras da família dos Atridas, a quem os deuses lançaram uma maldição: até à intervenção final de Atena, que vem por fim à contenda, os membros desta família estão condenados a digladiarem-se até à morte. Agamémnon mata a filha Efigénia, Clitemnestra mata o marido Agamémnon, Orestes mata a mãe, Clitemnestra. Orestes só será poupado porque a deusa exige a paz, finalmente.

Baruk

Concertos na Esplanada do Rossio

Marta Plantier e Luís Barrigas

Data

Banda de Abertura Big Band Era - Anos 50

16 Julho

On Dixie

17, 22, 26 Julho

Open Source

18 Julho e 16 Agosto

Jon Luz

19 Julho e 8 Agosto

YemanJazz

23 Julho e 15 Agosto

Little Cat Blues Band

24 Julho

Moi Non Plus

25 Julho e 6 Agosto

Marta Plantier e Luís Barrigas em “Fucking Notes”

29 Julho e 12 Agosto

Box of Blues

30 Julho

FunkOffAndFly

31 Julho e 7 Agosto

Uma coisa em forma de assim

1 Agosto

Trio Bárbara Lagido

2 e 13 Agosto

Baruk

5 Agosto

Funky Touch

9 e 14 Agosto

3ª a Sáb. 23h30 P/todos (entrada livre)


:TNDM II 15

:Destaques da Livraria :1/ ENSAIO Peter Brook / O Espaço Vazio Trad. Rui Lopes, Orfeu Negro, 2008, 213 pp. A recém-lançada chancela da editora Antígona tem-se dedicado à edição e tradução de obras no âmbito das artes contemporâneas. Disso é o melhor exemplo esta obra de Peter Brook, referência incontornável para aqueles que se interessam pelas artes performativas. Publicado em 1968, e adaptado a partir de várias conferências proferidas pelo autor, o livro, o primeiro sobre teatro escrito por Peter Brook, incide sobre o destino do teatro contemporâneo e a sua natureza. O "espaço vazio" é o conceito central desta obra, empregue por Brook para designar, em termos visuais, aquilo que considera a característica privilegiada para definir o espaço cénico. Entendendo o espaço como uma ferramenta, passível de ser explorado quer ao nível dos seus limites físicos, quer no que diz respeito aos materiais e texturas empregues, para Brook o importante é a criação do momento presente e a comunicação entre os actores e o público. O espaço vazio é, então, analisado na sua dupla faceta: espaço intemporal e, por isso, a-espacial, e o espaço interior (vazio) que o actor deve conceder à personagem. A edição é ainda complementada com fragmentos de uma conversa com o encenador, dramaturgo e pedagogo João Mota, a propósito da sua experiência de trabalho com Peter Brook, bem como uma bibliografia do autor. MGR Outros títulos disponíveis na Livraria: The Open Circle. Peter Brook´s Theatre Environments, de Andrew Todd e Jean-Guy Lecat (2003); The Man Who: A Theatrical Research, de Peter Brook (2002); There are no secrets : thoughts on acting and theatre, de Peter Brook (1993); Conversations With Peter Brook 1970-2000, de Margaret Croyden (2005), L'homme qui, suivi de: Je suis un phénomene!, de Peter Brook e Marie-Hélène Estienne (1998), Apprendre 8: avec Shakespeare, de Peter Brook (1998).

:2/ ENSAIO David Mamet / Three Uses of the Knife. On the Nature and Purpose of Drama

Outros títulos disponíveis na Livraria: American Buffalo (1986); Romance (2006); Mamet Plays: 1 - Duck Variations; Sexual Perversity in Chicago; Squirrels; American Buffalo; The Water Engine; etc (1994); Mamet Plays: 2 - Reunion; Dark Pony; A Life in the Theatre; The Woods; Lakeboat; Edmond (1996); Mamet Plays: 3 - Glengarry Glen Ross; Prairie du Chien; The Shawl; Speed-the-Plow (1996); Mamet Plays: 4 - Crytogram, Oleanna, The Old Neighborhood (2002).

:3/ ANTOLOGIA Autores Vários / Modern Drama. Plays of the 80’s and 90’s Methuen Drama, 2001, 425 pp.

:5/ DVD Olga Roriz. Solos (1 e 2)

Esta antologia reúne cinco peças contemporâneas que conheceram grandes sucessos de público, quer ao nível nacional ou internacional. Caryl Churchill, dramaturga inglesa, é aqui representada com uma peça de 1982, “Top Girls”, já estreada em Portugal (encenação de Fernanda Lapa) um texto cuja estrutura híbrida oscila entre a exuberância e as consequências das mudanças sociais e económicas. Obra notada nos anos 80 foi também a de Terry Johnson, conhecido por criar cenários a partir da cultura popular, explorando a relação entre o mito público e a realidade privada. “Hysteria” (1993), a peça que representa Johnson nesta antologia, é um ‘thriller’ intelectual que explora a ambiguidade na psicanálise de Freud. “Blasted” (1993), de Sarah Kane, é o terceiro texto que aborda o tema de um relacionamento abusivo em Inglaterra. Traduzido em mais de 12 línguas, é um marco na dramaturgia contemporânea, como aliás o é a obra de Sarah Kane, pela forma inovadora como explora a arte dramática. Produzida pelo Royal Court e Out of Joint Theatre Company, “Shoping and Fucking” (1996), de Mark Ravenhill, centra-se nas relações humanas e na forma como, à mercê do capitalismo corrosivo, são reduzidas a transacções comerciais. Também produzida pelo Royal Court e Druid Theatre Company é a última peça desta antologia, “The Beauty Queen of Leenane” (1996), de Martin McDonagh, a sua primeira peça para teatro aos 25 anos e a primeira parte da trilogia “Leenane Trilogy”. MGR

Em vídeo por Rui Simões, Real Ficção, 2007

Methuen Drama, 1998, 69 pp. Como se constrói a peça perfeita? Para que existe o teatro? Perguntas como estas fazem parte deste guia para qualquer dramaturgo ou teatrólogo sobre a natureza do teatro e os seus objectivos. "Faz parte da nossa natureza encenar", afirma o dramaturgo David Mamet na abertura deste ensaio, onde se definem os seres humanos como criadores de dramas que, no seu dia a dia, impõem estruturas narrativas a tudo o que os rodeia, desde apreciações metereológicas, até previsões eleitorais. Através de um conjunto de metáforas, Mamet esmiúça os objectivos, expectativas e escolhas das ferramentas dramáticas que usamos no quotidiano, estabelecendo, de seguida, um paralelo com o mundo do espectáculo. Mamet distingue ainda o verdadeiro drama das suas falsas variantes e considera a misteriosa persistência do solilóquio no teatro contemporâneo. MGR

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TNDM II Praça D. Pedro IV, 1100 - 201 Lisboa

:4/ REVISTA Artistas Unidos Nº20, Dezembro 2007, 154 pp. Uma das melhores publicações sobre teatro, cuja particularidade é a transversalidade com que aborda temas e criativos, brinda-nos com o seu vigésimo número, desta vez contando com um tema de actualidade premente: “O que é feito da crítica?”. É este o dossier que abre esta publicação semestral, onde se reflecte sobre a importância que a crítica tem na sociedade contemporânea, bem como os problemas inerentes ao financiamento das artes, mais precisamente o mecenato. Jorge Silva Melo, no texto de abertura, expressa com extraordinária clareza esta problemática: “O que é feito da crítica? E dos críticos? E das relações conflituosas, escandalosas entre crítica e arte? O que é feito da reflexão, da

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VILLARET Av. Fontes Pereira de Melo, 30-A, 1050-122 Lisboa

www.teatro-dmaria.pt

sombra da arte? Não foi isso o que a crítica nos prometeu, a sombra clara?”. Não será por acaso que a publicação abre com uma mesa-redonda constituída por várias personalidades ligadas a orgãos de comunicação, a que se seguem depoimentos de Alexandre Pomar, António Guerreiro, Augusto M. Seabra, Luís Miguel Oliveira, Manuel Gusmão, Pedro Boléo ou Maria Helena Serôdio. Para além de dois dossiers sobre Enda Walsh e Jean-Luc Lagarce, destaque ainda para a questão do mecenato debatida por José Maria Vieira Mendes, Jacinto Lucas Pires e Miguel Castro Caldas. MGR

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Esta é uma colecção de sete DVD’s, cujo objectivo é dar a conhecer as principais obras coreográficas de uma das maiores criadoras de dança contemporânea portuguesa do século XX – Olga Roriz. Com uma já longa carreira profissional, Olga Roriz tem tido um papel de destaque nos mais importantes movimentos de dança em Portugal nas três últimas décadas. Será talvez o seu estilo artístico muito próprio que faz dela um caso ímpar. A comprová-lo, Rui Simões oferece-nos, através do seu olhar, a singularidade do seu percurso. “Situações Goldberg” (51 min) e “In-Fracções” (30 min) compõem o primeiro DVD, enquanto no segundo se pode assistir a “Jardim de Inverno” (36 min) e “Os Olhos de Gulay Cabbar” (30 min). MGR

:6/ DVD Lissabon Wuppertal Lisboa De Fernando Lopes, Midas Filmes, 1998 Se há quem saiba captar a singularidade e a luz de Lisboa esse alguém é, sem dúvida, Fernando Lopes, cuja obra, onde se destacam filmes como “Belarmino” ou “Uma Abelha na Chuva”, nos habituou a encontrar neles uma poeticidade e um olhar (o do realizador) sempre presente. “Lissabon Wuppertal Lisboa” é um documentário que acompanha o trabalho de criação de “Masurca Fogo”, de Pina Bausch, desde o primeiro workshop conduzido pela coreógrafa em Lisboa até à sua estreia em Wuppertal. Fernando Lopes partilha aqui a experiência sublime da criação, acompanhando em termos fílmicos e de montagem o sentido coreográfico que se quer transmitir. Quarenta horas de filmagens, repletas de pormenores da cidade, desde a calçada portuguesa, à música de Amália, sem esquecer a luz de Lisboa, fazem parte do processo de ensaio da companhia. Fernando Lopes teve a sorte de conseguir penetrar no universo privado de Pina Bausch, acompanhando-a nesse périplo entre Lisboa e Wuppertal. "Foi um dos trabalhos mais fortes que fiz. É quase uma declaração de amor", afirmou Fernando Lopes por ocasião da estreia do documentário, agora numa edição especial com depoimentos de Maria João Seixas e Augusto M. Seabra. MGR

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RUÍNAS DO CONVENTO DO CARMO Largo do Carmo 1200-092 Lisboa

PALACIO DA INDEPENDÊNCIA Largo de São Domingos, 11 1150-320 Lisboa (Junto ao TNDM II)

INFORMAÇÕES E RESERVAS Tel. +351 213 250 835 / +351 213 538 586 reservas@teatro-dmaria.pt

LIVRARIA DO TEATRO livraria@teatro-dmaria.pt Tel. 21 325 08 37


Jun Jul Ago

‘08 Sala Garrett

Ruínas do Carmo

UM CONTO AMERICANO – The Water Engine M/12 Até 13 Julho 3ª a SÁB. 21H30 DOM.16H00

VIEIRA, O CÉU NA TERRA

LE CID (Théâtre Gérard Philipe de Saint-Denis / França) M/12

16 e 17 Julho 21H30

M/12

18 Julho a 16 Agosto 3ª a SÁB. 22H00

Palácio da Independência SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO

ANCIENT TIMES TODAY (Portugal / Croácia / Macedónia) M/12

M/4

5 Julho a 16 Agosto 3ª a SÁB. 22H00

19 e 20 Julho 21H30

Sala Estúdio

Esplanada no Rossio CONCERTOS DE MÚSICA

TRÍPTICO + 1 (exercício final da ESTC) M/12

1 a 13 Julho 3ª a SÁB. 21H45 DOM.16H15

Villaret

P/ Todos

16 Julho a 16 Agosto 3ª a SÁB. 23H30

Palácio Nacional de Mafra

A GORDA – Fat Pig M/12

MEMORIAL DO CONVENTO

Até 28 Junho 4ª a SÁB. 21H30 DOM.17H00

M/12

PEDRO TOCHAS – O PALHAÇO ESCULTOR

Até 29 Junho 1º SÁB. / mês 16H00

M/12

17 a 20 Julho 5ª a SÁB. 22H00 DOM.18H00

4ª a 6ª 11H00 e 15H00 (Para escolas, sob marcação.)

A programação poderá ser alterada por motivos imprevistos. Por favor consulte a informação no site ou bilheteira do TNDM II.


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