Jornal do teatro #08

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JORNAL DO TEATRO JANEIRO DE 2007 ^ MENSAL PUBLICAÇÃO GRATUITA

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Do Brasil, doze anos depois, um outro O QUE DIZ MOLERO LÍDIA FRANCO e SUZANA BORGES presas no gelo Crimes conjugais de PAULO PIRES e MARGARIDA MARINHO


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Editorial O início de 2007 é marcado pela ideia do retorno, programar é possivelmente um eterno retorno de ideias e figuras que ajudaram a construir e a dar identidade a esta Casa do Teatro. Um retorno que se faz quase sempre de cruzamentos entre a memória e o presente, entre a história e o quotidiano que habitamos. É desta forma que, em Janeiro, se juntam nos diferentes espaços do Nacional autores portugueses de referência – tão distantes no tempo mas se calhar tão próximos na sua capacidade de nos encantar – como são Dinis Machado e Camilo Castelo Branco, em simultâneo com o regresso, passados poucos meses da apresentação do seu texto “Hotel dos dois Mundos”, de um dos autores maiores da cena teatral internacional como é Eric-Emmanuel Schmitt. Janeiro assinala, também, a estreia de um novo texto, “Frozen - Presos no Gelo” da britânica Bryony Lavery, que, depois do êxito retumbante que foi “Vermelho Transparente”, do dramaturgo português Jorge Guimarães, nos convida a ir mais fundo na compreensão da mente humana e das suas motivações mais escondidas. Quatro propostas que, lado a lado com o espectáculo encantatório que é “Ana e Hanna”, e que estará em cena até Março, julgamos ser apelativas para vários tipos de público. “O que diz Molero” é o espectáculo que nos chega do Brasil cumulado de prémios e que, acreditamos, prova mais uma vez a genialidade do romance de Dinis Machado. Se bem se lembram, em 1994 o Teatro Nacional acolheu uma versão cénica que ficou na História do Teatro. Com adaptação de Nuno Artur Silva (Produções Fictícias) e interpretações de António Feio e José Pedro Gomes, foi um marco na carreira dos dois actores. Agora, chega-nos uma proposta de um encenador cujo trabalho tem sido alvo dos maiores louvores, tanto no Brasil como fora: Aderbal Freire-Filho é conhecido por fazer transposição directa de obras literárias para o palco sem perder o dinamismo da cena e a espontaneidade da interpretação. Foi o que fez com “O que diz Molero”. Inspirado numa histórica verídica - a história de uma jovem assassinada por um “serial killer” - “Frozen - Presos no Gelo” junta no mesmo palco Lídia Franco, Suzana Borges e Bruno Schiappa, interpretando uma história que nos confronta com as motivações de um assassino em série que, ao longo de mais de 20 anos, se entretém a raptar, violar, torturar e matar jovens que com ele se cruzam na rua. De Eric-Emmanuel Schmitt, estrearemos “Pequenos Crimes Conjugais”, uma peça que põe em causa todas as questões relacionadas com a conjugalidade: a duração do amor, a ausência de desejo, a fidelidade... Esta peça, com tradução de Luiz Francisco Rebello e que assinalará a estreia na encenação do realizador José Fonseca e Costa, contará com a interpretação de Paulo Pires e Margarida Marinho. Finalmente, uma proposta mais alternativa para os serões do Teatro Nacional. As Entranhas vão levar à cena, numa adaptação que prometem radical, o “Amor de Perdição” de Camilo Castelo Branco. Um dos autores mais importantes da literatura portuguesa - e o primeiro a viver apenas da escrita - será aqui alvo de uma releitura que envolve a música, e dança e o vídeo, para ver sempre a partir da meia-noite. Como afirmámos desde o início da nossa vinda para o Teatro Nacional, o teatro é para nós um espaço capaz de reavivar a memória, de questionar o presente e de ficcionar os futuros possíveis, podendo encontrar neste conjunto de propostas cruzamentos possíveis entre estes diferentes objectivos, sempre com a certeza de que a pessoa é o centro e o sentido de tudo e de que só poderemos inventar outros mundos se formos capazes de nos compreender, de compreender os nossos actos, de escutar e dialogar com o outro e os outros. Num tempo de cruzamento ou de confronto de culturas é bom termos consciência de que o nosso mundo ou será intercultural ou não será nada. Carlos Fragateiro José Manuel Castanheira

Tosto encerra trilogia O actor italiano Gianluigi Tosto encerrou, no dia 16 de Dezembro, a trilogia “Ilíada, Odisseia, Eneida”, de Homero e Virgílio, com a promessa de regressar em breve ao Teatro Nacional, para trabalhar a partir de textos de Fernando Pessoa e Camões. O seu espectáculo trouxe ao Teatro Nacional personalidades como os filósofos Eduardo Lourenço (na foto) e Fernando Savater, o escritor italiano Antonio Tabucchi e os portugueses Almeida Faria e Ana Hatherly.

Oficina de teatro

com Aderbal Freire-Filho Arranca este mês a oficina de teatro dirigida no Nacional pelo encenador brasileiro Aderbal Freire-Filho a partir das “Crónicas” de António Lobo Antunes. O atelier, intitulado “O actor de teatros” e dirigido a actores profissionais e estudantes de teatro, terá a duração de um mês e dará dar origem a um espectáculo com o mesmo nome a estrear em Fevereiro.

Músicas no Átrio Anabela Duarte

A cantora, que se tornou popular como líder do grupo Mler Ife Dada, que tanto impacto teve nos anos 80, vai lançar, no Átrio do Teatro Nacional D. Maria II, o seu mais recente trabalho discográfico. Trata-se de “Machine Lyrique - Kurt Weill e Boris Vian”, a apresentar nos dias 9 e 10, às 19h00. Um registo discográfico onde se mistura o jazz, a pop e o cabaret, que se unem para produzir diferentes e divertidas interpretações de clássicos como “J’suis snob”, “Bilbao Song” ou “Youkali”. Recorde-se que Kurt Weill foi o grande colaborador musical de Bertolt Brecht e que Boris Vian foi um dos escritores mais influentes do início do século XX francês. A entrada para este concerto é livre.

Livro sobre Gil Vicente lançado no Nacional “A Roda do Tempo, o Calendário Folclórico e Litúrgico no Teatro de Gil Vicente” é o título do livro que Maria José Palla escreveu e cujo lançamento terá lugar no dia 12 deste mês no Teatro Nacional D. Maria II. Esta publicação do Instituto de Estudos Medievais da Universidade Nova de Lisboa é o segundo livro de uma trilogia dedicada a Gil Vicente pela autora, conceituada especialista na obra do dramaturgo, com um doutoramento em Paris sobre o traje vicentino.

Concertos da Antena 2 Ao final da tarde, o público vai continuar a ouvir música erudita no Átrio do TNDM II. Para dia 16, está marcado um concerto pelo Quarteto com Tradição (constituído por piano, bateria, clarinete e contrabaixo), e nos dias 17 e 18 ouvir-se-á música de câmara. Ravel e J. Ibert são os compositores a ouvir no dia 17, pelo Trio de Cordas. No dia 18, tocará o Quinteto Metálica.

Teatro na Escola

Ficha Técnica direcção> Carlos Fragateiro

DOCUMENTAÇÃO> André Camecelha

e José Manuel Castanheira

grafismo> Nuno Patrício

Coordenação> Pedro Mendonça

fotografia> Margarida Dias

Coordenação editorial> A. Ribeiro dos Santos

CAPA> Pormenor de desenho para cenário

redacção> A. Ribeiro dos Santos,

de “O que diz Molero”, de José Manuel Castanheira

Margarida Gil dos Reis, Ricardo Paulouro

PROPRIEDADE> TNDM II, SA

COLABORAÇÃO> Viriato Teles

Impressão> Mirandela Artes Gráficas

Vai estar em itinerância, durante o segundo período escolar o espectáculo “Maria”, uma co-produção entre o Teatro Nacional, Útero, Espaço do Tempo e Culturproject. Tratase de uma proposta cuja temática gira em torno das vivências de uma adolescente que, refugiando-se no seu quarto, comunica através das salas de ‘chat’. O espectáculo chegará às escolas da área metropolitana de Lisboa através do Serviço Educativo do TNDM II e será acompanhado por material pedagógico para utilização dentro da sala de aula, nomeadamente na área da formação cívica.


No Brasil, Aderbal Freire-Filho é conhecido por levar à cena, sem adaptação, grandes obras literárias. Este mês, vai dirigir no Teatro Nacional, em Lisboa, “O que diz Molero”, de Dinis Machado, e começar a ensaiar as “Crónicas” de António Lobo Antunes

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A. Ribeiro dos Santos

Directamente do Foi por acaso que Aderbal Freire-Filho descobriu um maná chamado “O que diz Molero”. O encenador brasileiro - conhecido por fazer transposições directas de obras literárias à cena (sem mudar as palavras, sem acrescentar diálogos) - fazia uma ronda pelas livrarias de teatro do Rio de Janeiro, pouco depois da Revolução de 1974, quando se deparou com uma obra que, em Portugal, já vendeu mais de cem mil exemplares. Depois de folhear o livro - e de o achar “curiosíssimo” - ficou determinado a leválo à cena, mas entretanto o tempo foi passando e só em 2004 conseguiu realizar um sonho que parecia eternamente adiado. O encontro com José Manuel Castanheira com quem colabora desde 1999 e que viria a assinar o espaço cénico do espectáculo foi decisivo neste processo. Juntos, os dois

papel para a cena

criadores assinaram um trabalho que se tornaria, nesse ano, num dos espectáculos mais aclamados no Brasil. Apesar da ideia de transposição directa do livro para a cena poder parecer estranha, Aderbal Freire-Filho garante que nada há de mais simples. “Chamo a estes espectáculos ‘romances-em-cena’ e mais não são do que romances que passam para o palco directamente, sem adaptação. Mas também poderia chamar-lhes ‘encenações de romances com adaptações absolutas’, porque, na verdade, não altero um milímetro do texto... É a própria cena que é responsável pela criação de uma dramaturgia que o texto não tem. Em suma, a acção vem para o presente e para a primeira pessoa, mesmo que no livro a narrativa esteja no passado e na terceira pessoa.”

“Quando penso no meu futuro no teatro, penso sempre em levar mais romances à cena”, revela-nos o conceituado encenador brasileiro. “Encaro-o como um novo género teatral e acho que realiza o encontro entre o narrativo e o épico”

Claro que, para que tudo faça sentido, Aderbal Freire-Filho cria, para cada situação, um lugar onde a acção possa decorrer e põe os actores a falarem na terceira pessoa como se falassem na primeira. Depois, faz uma estrutura para as cenas. “Dito assim, parece uma teoria disparatada mas, na verdade, é uma coisa muito simples”, garante o encenador, que tem recebido os maiores elogios por este “Método” . Mais. O próprio explica que o que pretende, no fundo, é uma espécie de síntese entre as teorias aristotélica e brechtiana. Em entrevista a um jornal argentino, disse que “O que diz Molero” é um espectáculo paradigmático do seu teatro e que desde que, em 1990, levou à cena “A Mulher Carioca aos 22 anos”, que não se sentia tão realizado. “Quando penso no meu futuro no teatro, penso sempre em levar mais romances à cena. Encaro-o como um novo género teatral “, revela. “Há muitos teatrólogos que procuraram realizar o encontro entre o narrativo e o épico. Modéstia à parte, acho que o consegui com os meus ‘romances em cena’. Aqui, tanto o épico como o narrativo estão em evidência, alternando um com o outro.” “O que diz Molero” estará em cena na Sala Garrett a partir de dia 11 deste mês e até 4 de Fevereiro.

As“Crónicas”

Ao “Jornal do Teatro” Aderbal Freire-Filho adiantou que o seu atelier sobre as “Crónicas” de António Lobo Antunes, que visa a criação, de raíz, de um espectáculo de teatro a estrear em Março, envolverá “cerca de 15 actores” e que, ao momento em que ocorreu esta conversa, ainda não tinha escolhido os textos sobre os quais iria trabalhar. “Sou um grande admirador de Lobo Antunes desde que li ‘A Morte de Carlos Gardel’, mas quando descobri as crónicas fiquei fascinado. São verdadeiras obras-primas sobre as quais me apetece muito trabalhar.”


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Entrevista

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Nuno Artur Silva

“‘O que diz Molero’ é um dos livros da minha vida” Há 12 anos, o “pai” das Produções Fictícias adaptou “O que diz Molero” à cena com um sucesso totalmente inesperado. Hoje, fala sobre uma experiência que o marcou profundamente e que mudou para sempre as carreiras de António Feio e José Pedro Gomes. Sobre a adaptação brasileira que está quase a chegar ao palco do Teatro Nacional - e que não conhece - confessa-se muito curioso Entrevista conduzida por A.

Ribeiro dos Santos

A pergunta que se impõe, antes de mais, é: porquê adaptar à cena “O que diz Molero”?

“O que diz Molero” é um dos livros da minha vida. Foi-o desde o momento em que o li, aos 17 anos. O livro fascinou-me desde logo porque me devolvia um imaginário que eu conhecia. Aquela não era a minha Lisboa, mas era a do meu pai, que nasceu e cresceu num bairro popular, tal como o rapaz da história. Reconheci imediatamente aquele universo.

O livro também impressiona pela escrita...

Claro que sim. A forma eufórica com que o Dinis Machado trabalha a linguagem e o cruzamento de referências. Nesse sentido, é um livro pop, pois cruza a poesia com o registo oral de bairro, usa o tom descritivo, o narrativo, o evocativo... Tudo isso de forma livre. É uma espécie de 25 de Abril da literatura portuguesa. A melhor descrição feita de “O que diz Molero” foi a que fez o Eugénio de Andrade: este livro é uma alegria. O livro tornou-se na minha obra de cabeceira, de sala de jantar, de praia...

Pedro Gomes para ler partes do livro, e nessa altura convidei o Dinis Machado para estar presente.

Foi na sequência dessa sessão de leitura que se lembrou de adaptar o romance à cena?

O António Feio foi convidado para fazer um espectáculo para a Lisboa 94 - Capital da Cultura e lembrei-me imediatamente de “O que diz Molero”. Desafiei também para o projecto o António Jorge Gonçalves, meu parceiro de bandas desenhadas, que fez os cenários.

Como é que o Dinis Machado reagiu à ideia?

Quando lhe fomos pedir autorização ele perguntou-me se eu tinha a certeza do que estava a fazer, porque a adaptação já tinha sido tentada por muita gente, sem sucesso. Antes de entrar na sala para assistir ao último ensaio antes da estreia, ainda me disse: vocês têm a certeza? Não quero que se metam num problema...

O Dinis Machado ficou muito admirado, porque não estava à espera... Mas a bem da verdade nenhum de nós estava!

Paulo Xavier, das luzes - funcionou muito bem em conjunto. Foi um encontro fantástico. E uma vez que o livro era a festa da linguagem, decidimos que era precisamente a linguagem que devia ter o protagonismo do espectáculo. Imaginámos estas duas personagens, dois seres de desenho animado, oriundos de outro universo, que ficam completamente fascinados pela memória – que só a vida humana pode ter. As duas personagens, Austin e Mister DeLuxe, estão fascinadas pela vida do rapaz.

O espectáculo foi muito bem recebido pelo público...

Houve um trabalho, admirável, do José Pedro Gomes, que foi determinante para o sucesso do espectáculo. Acho mesmo que é o papel da vida do Zé Pedro. A partir daí, a carreira de ambos sofreu uma grande reviravolta... O António Feio, encenador brilhante, teve a humildade de dar o protagonismo ao Zé Pedro, que foi genial.

Como é que o Dinis Machado reagiu ao espectáculo?

Foi comovente. O Dinis Machado gostou muito do que viu. Ficou muito admirado, porque não estava à espera... Mas a bem da verdade, nenhum de nós estava à espera daquilo! Ele nunca quis envolver-se com o processo, portanto quando viu o resultado final, teve uma enorme surpresa.

Quando o leu não conhecia o Dinis E no entanto o espectáculo teve Já ouviu falar da encenação braMachado? um sucesso enorme... sileira que aí vem, feita a partir da Conheci-o mais tarde. Era o Dinis Machado Sim. Há poucas circunstâncias tão felizes mesma obra? que, juntamente com o Vasco Granja, escolhiam as histórias da minha revista preferida de BD, a revista “Tintin”, ironicamente... Um dia, quando estava a organizar leituras numa livraria, decidi desafiar o António Feio e o José

como aquela: um grupo de pessoas encontrou-se no momento certo das suas vidas. A equipa toda - a que se acrescentam os nomes do Nuno Rebelo, que fez a música, da Conceição Cabrita, que fez a produção, e do João

Estou muito curioso para conhecer essa versão. Fico feliz por saber que o livro continua a inspirar pessoas e espero que seja o princípio do reconhecimento internacional que o livro merece.

Perfil Nuno Artur Silva Nuno Artur Silva nasceu em 1962, em Lisboa, e é ficcionista. Fundador e director criativo das Produções Fictícias, empresa de escrita de ideias, argumentos e guiões, foi um dos nomes que esteve por trás do sucesso de programas como “HermanZap”, “Herman Enciclopédia”, “ContraInformação” ou “O Programa da Maria”. Distinguiu-se na Banda Desenhada como criador da célebre personagem Filipe Seems e assinou vários espectáculos de teatro, nomeadamente “O Rapaz de Papel”, a partir de música de Pedro Abrunhosa, “Urgências” ou “Portugal, uma Comédia Musical”. O seu grande sucesso teatral foi, no entanto, a adaptação cénica de “O que diz Molero”, em 1994.


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Citações de

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Dinis Machado

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Mesmo que não tivesse escrito mais nada, um romance chegava para lhe garantir um lugar de destaque na Literatura do século XX. “O Que Diz Molero” é o título do livro Viriato Teles

O que diz

Dinis Publicado pela primeira vez vai para trinta anos, a história narrada por Austin e Mister Deluxe tornou-se num êxito sem precedentes e modificou a vida do homem que a criou: de um dia para o outro, viu-se projectado para a primeira linha do reconhecimento do público, da crítica e, mais difícil ainda, dos seus pares. Tudo com uma história simples feita de muitas histórias. Com duas dezenas de edições em Portugal, o livro alcançou ainda um sucesso retumbante em França e no Brasil e vai ter em breve uma versão cinematográfica. Pequenas coisas que são suficientes para encher de satisfação Dinis Machado, que responde também pelo nome de Dennis McShade, autor de três policiais que fizeram história e de um quarto que será publicado no ano que vem, assinalando os 40 anos da criação de Peter Maynard, um assassino com preocupações filosóficas.

Infância

A minha infância foi magnífica. Foi na rua. Saía de casa, a minha mãe depois batia-me porque chegava tarde, o meu pai às vezes ficava zangado. Eu andava na rua, com os outros miúdos. Ficou aquela nostalgia do tempo que já não volta. Nesse tempo não havia estas periferias, havia os sítios, e era aí que vivíamos. Os meus pais eram pessoas simples. A minha mãe cantava o fado muito bem, o meu pai era autor de fados. Foi ele que escreveu aquele fado muito famoso, “Bairro Alto aos seus amores tão dedicado”, que depois foi publicado se calhar em nome de outro, estas coisas sempre se fizeram.

Bairro Alto

Vivi no Bairro Alto, na Rua do Norte, até aos 34 anos, quando me casei. Era um lugar extraordinário, que tinha um bocado de tudo: a ópera, o teatro, o cinema, os livros, as discussões nos cafés, a política, a música. Era uma coisa muito fervilhante. E eu cresci nesse ambiente, com uma costela política que nessa altura se chamava de esquerda, hoje já não sei como é que se chama. Chamava-se de esquerda porque tinha o desejo de combater as injustiças do mundo.

Cinema e poesia

Parte da minha vida passei-a no Cinema Loreto, a ver filmes de aventuras. Às vezes íamos para lá quando o cinema abria e ficávamos aí até à meia-noite. Tenho uma tentação cinematográfica grande. Vem-me desse tempo, também, a leitura dos poetas. Eu adoro poesia, encheu-me muito a vida. Desde os Cantares de Amigo até à mais recente, li quase tudo o que apanhei. Foi no cinema que aprendi a falar inglês. O meu inglês é americano, dos filmes. A minha formação não foi académica, pelo contrário: às vezes chumbava por faltas porque ia ao cinema ou ficava a ler poesia em vez de ir às aulas. E não passei nunca do que se chama agora 12º ano porque não queria, não me interessava. Sempre tive a tentação de subverter o que me rodeava.

o Raymond Chandler. E depois apareceram autores que eram considerados menores, como o Ross MacDonald ou o Frank Gruber, e que eu utilizava também como suportes do trabalho que eu queria fazer. Lia-os com o meu americano, sabia como é que diziam as coisas, aquela forma seca. A Censura fechava um bocado os olhos, achavam que aquilo não era importante. Não levavam a sério. Mas deviam.

Dennis McShade

Um dia, a minha filha estava para nascer, e eu precisava de vinte contos, fui falar com o Roussado Pinto. E ele disse: “Está bem, ganhas vinte contos, mas fazes três romances policiais com um nome americano, como eu faço”. E fiz três romances policiais num ano. E pensei: “Bom, já agora aproveito o gozo da

que me saiu. E foi feliz, foi muito feliz. É um livro que tem a ver com a infância, com tudo. Foi um sucesso. Agora está para sair a vigésima edição, há um grupo de “molerianos”.

Consagração

O êxito do livro surpreendeu-me. Eu achava que estava a inovar, mas não tenho a certeza, nunca se sabe. O texto foi apadrinhado pela chamada vanguarda da literatura, os elogios foram enormes. Invejas? Mais tarde é que comecei a sentir. Mas eu não tenho razão de queixa. Os outros livros foram como que prolongamentos de “O Que Diz Molero”. Mas eu sabia que não se pode repetir a mesma coisa, criar um êxito generoso duas ou três vezes seguidas. Sempre fugi à lógica da repetição da receita.

O Que Diz Molero tem uma história, inacabada ainda, que me dá para preencher a vida. E portanto é uma história que espero que não acabe nunca , que as gerações novas possam lidar com isso. Diário Ilustrado

Um dia, o Roussado Pinto, que era o director do Diário Ilustrado, chamou-me e disseme que o jornal ia fechar. Tinham-lhe dado o prazo de um mês e uma determinada verba para ele fazer o jornal durante esse tempo. E ele propôs-me fazermos aquilo os dois: ele fazia um caderno, eu fazia o outro, e dividíamos o dinheiro pelos dois. Inventávamos histórias, inventámos coisas que não sabíamos se as pessoas iam perceber ou não. E no dia em que o jornal fechou, despedimo-nos à porta, e ele disse-me: “Agora espera pela minha chamada”. E quando me chamou foi para fazer a Rififi.

Rififi

Fui chamado para a Íbis pelo Roussado Pinto para dirigir a colecção Rififi, que era uma espécie de contraponto à Vampiro, mas muito mais desalinhada. Às vezes apareciame o restolho dos americanos, acho que cheguei a publicar o Dashiell Hammett e também

subversão do romance negro”. Acho que fui um bocado subversor nos romances policiais: é a mistura do investigador com o assassino, um intelectual. Tem um lado de paródia: colocar um intelectual em zonas esconsas da vida, a fazer aquele tipo de trabalho. Foram três livros que fizeram escola: as pessoas que perceberam o que eu queria fazer, perceberam que ali estava o veículo para uma nova literatura. E a Censura também deve ter percebido, porque ao terceiro livro apareceu-me lá um tipo a perguntar quem era aquele McShade.

Molero

Quando apareci na Bertrand com “O Que Diz Molero”, diz-me a Piedade: “Eu vou publicar este livro nem que seja despedida”. Porque o livro tinha aquela linguagem um bocado desbragada... O Molero era uma ideia que me vinha de trás. Estava eu a escrever os policiais e já queria fazer o Molero. Eu queria fazer um livro subversor, um livro com uma linguagem própria desse livro. E foi assim

Vida

Recentemente, o Molero foi publicado em França, e as revistas de cultura de Paris, desde o “Magazine Littéraire”, ao “Figaro”, vieram dizer que é “um dos grandes livros do século”. E eu fiquei satisfeito com isso, naturalmente. E tenho que reconhecer que eles foram muito generosos comigo. “O Que Diz Molero” tem uma história, inacabada ainda, que me dá para preencher a vida. E portanto é uma história que espero que não acabe nunca, que as gerações novas possam lidar com isso. O mundo de hoje é feito de coisas tão fragmentadas, com tão pouco sentido, que as coisas acabadas perdem validade com o tempo. Mas eu acho que há coisas que vão ficando, o que me satisfaz bastante. Porque há sempre leitores exigentes, e eu gosto de leitores exigentes. Eles é que fizeram o livro. Eu só o escrevi. entrevista publicada na íntegra na revista “Autores”, da Sociedade Portuguesa de Autores


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Uma obra que marcou uma geração

Destinado

Foi uma pedrada no charco no panorama literário português, ainda muito conservador: quando, no final da década de 70, foi publicado “O que diz Molero”, ninguém imaginava que se pudesse escrever com tanta liberdade, com tanto entusiasmo, com tanta imaginação. Mesmo sem ter voltado a publicar, Dinis Machado ficou para sempre na memória de toda uma geração de leitores Margarida Gil dos Reis Em 1977, Dinis Machado publicou “O que diz Molero”. Um escritor de um romance só? Talvez. Mas este romance consagrou-o no mundo editorial e conheceu onze edições no ano seguinte à sua publicação. “O que diz Molero” foi um caso nunca visto na ficção portuguesa. A história de um relatório, escrito por Molero, que é lido por dois burocratas que vão revivendo as suas memórias fez reflectir a crítica sobre a necessidade de nos interrogarmos culturalmente, bem como dos possíveis rumos de formas romanescas até então ignoradas. O texto brinca com o leitor e com a própria tradição literária, utilizando uma linguagem coloquial, bem-humorada. Um “non-sense” que é, segundo Duarte Faria, “um verdadeiro romance de estratégia do dizer”. Através de uma escrita solta, cruzada com a gíria alfacinha, Dinis Machado faz de Molero um coleccionador de instantes, alguém que, através de um relatório, colecciona histórias e pedaços de vidas. Surge de imediato uma questão: quem é Molero? Sabemos apenas, como se diz no tex-

to, que “Molero esteve lá”, Molero testemunhou e fixou o tempo. É em Molero que acreditamos, ou não fosse essa a virtude do escritor, a de nos fazer acreditar na realidade filtrada pelo seu olhar. E, justamente, apercebemo-nos que Molero escreve muito mais do que um simples relatório. Molero escreve uma história que contém outras pequenas histórias que se desdobram interminavelmente, como se nos oferecesse autênticas paisagens urbanas, filtradas pela memória. Austin e Mister Deluxe narram as viagens de Molero que deambula pela cidade e pelos seus bairros, por um quotidiano onde a realidade humana é a protagonista. Bexigas Doidas, Metro e Meio, Tonecas Arenas e Bigodes Piaçaba são algumas das personagens, quase caricaturas, que reflectem a inventividade de Dinis Machado. Criando uma estrutura de livro dentro do próprio livro, Dinis Machado cristaliza imagens de um quotidiano que parece estar perdido e faz de cada personagem uma pequena ilha humana. A escrita de Dinis Machado não é, aliás, alheia à ironia, ao retrato de pessoas e lugares que se vão cruzando sucessivamente e que falam entre si.

Curiosamente, Molero diverte-se e isso transparece na própria escrita. Talvez a grande questão subjacente a este romance é o que se faz às palavras e para que servem. Ao longo da obra fala-se do estilo de Molero, de como as repetições fazem parte da sua própria escrita. Esta reflexão metalinguística e simultaneamente metaliterária mostra-nos como Molero é alguém mais do que o simples autor de um relatório. Arriscaríamos a dizer que Molero é também um filósofo, entendendo por filósofo aquele que sabe olhar para a realidade e tenta decifrar a sua existência no contexto em que se insere. “Tudo o que criamos é apenas o que somos”. Ouvimo-lo, durante o romance, pela voz de uma das personagens. Na realidade, o “rapaz” de que se fala ao longo do relatório, dando-nos a impressão de ser o protagonista da história, mais não é do que um simples pretexto para se falar de tantas outras personagens que com ele se cruzaram e dos seus dramas. Talvez porque, a escrita é uma revelação, o preenchimento de quem gosta de escrever para se reconhecer naquilo que escreve. Segundo a crítica na imprensa

da época, Dinis Machado soube encontrar a mão para a escrita depurada de “Molero”. Um bestseller que catapultou Machado para o mundo literário português aos 47 anos, contando já com uma vasta experiência no campo do jornalismo e da edição. Para Dinis Machado definir este sucesso é senti-lo: “Sabe ao mel do prazer, sabe ao fel da responsabilidade. Sabe também àquilo que não tem sabor como quando estamos constipados. Como se um livro fosse uma espécie de gripe epidémica literária. Benigna espero.” (A Luta 13/10/78). A intenção do escritor com esta obra era “deixar um registo de passagem” (Visão 27/10/94). O testemunho de imagens perdidas do quotidiano onde a realidade humana não tem medo de ser demasiado humana é também uma história de um lugar onde se nasce para viver. “Um grito de amor”, nas palavras do autor, cujo desejo para o livro “é que não se deixe ficar pelo caminho, de forma a poder olhar para ele mais tarde com o mesmo amor”. “O que diz Molero” está traduzido para 11 línguas diferentes.


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Duas adaptações: a memória de 1994 e a montagem brasileira

ao sucesso

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Com uma década de intervalo, o livro do escritor português inspirou a dois encenadores a criação de dois espectáculos de teatro diferentes. António Feio fez história em Lisboa, com a sua versão cénica inspirada na estética dos desenhos animados. Aderbal Freire-Filho fez história no Rio de Janeiro, levando a obra ao palco de acordo com os princípios do “romance-em-cena”. Gabriel Henriques O ESPECTÁCULO PORTUGUÊS > 1994 A estreia do espectáculo “O que diz Molero”, de Dinis Machado, no palco da Sala Estúdio do Teatro Nacional D. Maria II, numa adaptação de Nuno Artur Silva e com interpretações de António Feio e José Pedro Gomes, foi um dos acontecimentos teatrais do ano de 1994. O romance – único e irrepetível – de Dinis Machado, que tanta tinta tinha feito correr após a sua publicação, no fim da década de 70, chegava ao teatro pela mão de dois artistas que ainda não tinham o reconhecimento de que hoje gozam, numa leitura completamente inesperada e que deixou rendidos tanto o público como a crítica da altura. Ao “Jornal do Teatro”, António Feio confessa que o livro de Dinis Machado o tinha encantado desde a primeira leitura. “Achei logo que o romance tinha muito potencial teatral”, recorda. “Era muito divertido, tinha grandes personagens e conflitos que poderiam facil-

mente ser transpostos à cena.” José Pedro Gomes lembra-se de ter feito, a pedido de Nuno Artur Silva, a leitura de excertos da obra, com a qual fez grande sucesso. “Quando cheguei àquela cena de pancadaria dos ‘camones’, foi a gargalhada geral... Depois, é claro, viria a ser a cena mais emblemática do nosso espectáculo. É aquela de que toda a gente se lembra quando fala dele.” Curiosamente, a obra, que relata a viagem iniciática de um jovem nascido e criado num bairro típico de Lisboa – com as suas figuras-tipo, os seus tiques muito próprios de linguagem e permanentemente a braços com situações só ultrapassáveis com muito sentido de humor – já tinha sido alvo de várias tentativas - falhadas - de adaptação. Quer a teatro quer a cinema. A proposta de António Feio e José Pedro Gomes foi a primeira a conseguir sair do papel para a realidade... Mas não seria a única. Uma década mais tarde, o encenador brasileiro Aderbal Freire-Filho decidiu tentar a sua sorte, com resultados igualmente brilhantes.

O ESPECTÁCULO BRASILEIRO > 2007 O espectáculo que Aderbal Freire-Filho estreou no Rio de Janeiro a partir da obra de Dinis Machado foi mais um dos sucessos da sua carreira. O espectáculo, onde - ao contrário do que acontecia na versão de António Feio e José Pedro Gomes - há vários actores em cena, que repartem todas as personagens do romance original, foi acolhido pela crítica de forma entusiástica e o crítico Lionel Fischer não hesitou em considerá-lo “um dos melhores trabalhos de encenação” da carreira de Freire-Filho. Aliás, “O que diz Molero” valeu-lhe o prémio de melhor encenador do ano e convenceu-o de que tinha

em mãos tudo aquilo de que precisava para realizar um grande filme. Este ano, e depois da apresentação do seu espectáculo em Lisboa, o criador brasileiro tenciona começar a preparar uma longa-metragem baseada na obra-prima de Dinis Machado e que contará com direcção de fotografia de Walter Carvalho (o aclamado director de fotografia de “Central do Brasil”). Mas antes que esse sonho venha a tornar-se realidade, o público de Lisboa pode apreciar esta proposta teatral que conta, ainda, com cenografia de José Manuel Castanheira. Em cena, encontrará um mundo claustrofóbico e kafkiano onde Austin e Mister DeLuxe são reis e senhores.

Este ano, Aderbal Freire-Filho e José Manuel Castanheira começarão a rodar um filme baseado na obra-prima de Dinis Machado


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Frozen Presos no Gelo >

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Uma peça sobre a mente do homicida

Perdoar

e seguir em frente

A norte-americana Marcia Haufrecht encena um texto que entra na cabeça de um assassino em série. Lídia Franco é, no espectáculo, a mãe que aprende a perdoar. A actriz conta como nasceu este projecto, que protagoniza ao lado dos actores Suzana Borges e Bruno Schiappa A. Ribeiro dos Santos Considerada a Melhor Peça do Ano de 1998 no Reino Unido, aquando da sua estreia mundial, “Frozen - Presos no Gelo” conta a história de Nancy, uma mulher que perde uma filha de dez anos e só 20 anos decorridos sobre o sucedido descobre o que realmente aconteceu à pequena Rhona. Escrita pela britânica Bryony Lavery, a peça foi inspirada por uma história verídica, amplamente divulgada pela Comunicação Social em todo o mundo. Em 1994, a polícia descobria dezenas de cadáveres de jovens raparigas enterradas no jardim de uma casa de Cromwell Road. A residência – rapidamente baptizada como “A Casa dos Horrores” – pertencia a Frederick e a Rosemary West, um casal que durante duas décadas raptou, violou e matou várias raparigas jovens. Uma delas era Lucy Partington, estudante universitária e prima do romancista Martin Amis. Os relatos da família de Lucy – nomeadamente da sua irmã mais velha, Marian, que se converteu ao budismo e decidiu perdoar aos assassinos – ajudaram a escritora a compor esta história. A peça chega agora ao palco do Teatro Nacional, fruto do encontro entre a actriz Lídia Franco e a encenadora Marcia Haufrecht que, na sequência de “Vidas Publicadas” – que fizeram na Comuna em Janeiro de 2005 – decidiram voltar a trabalhar juntas em “Frozen - Presos no Gelo”.

“Quando a carreira do espectáculo terminou eu e a Marcia olhámos uma para a outra e dissemos, quase em uníssono, que queríamos voltar a trabalhar juntas”, recorda Lídia Franco. “Ela deu-me esta peça para a mão e ao princípio fiquei assustada. Afinal, o texto é uma sequência de monólogos... O que, quanto a mim, é uma coisa dificílima de fazer. Depois, à medida que o tempo passava, fiquei decidida a fazê-lo. Um monólogo é, também, um grande desafio e uma forma de nós, actores, podermos aprofundar o nosso trabalho. Levei o projecto ao Teatro Nacional e foi aceite.”

A escolha da restante equipa de actores foi praticamente automática. “A Marcia conhecia perfeitamente a Suzana (Borges) e o Bruno (Schiappa) porque eles também fazem parte do grupo de trabalho dela…” Os dois integram o grupo de actores que, anualmente, se reúne para aprofundar o Método (ler caixa). “A Marcia sabe o que eles são capazes de fazer e não hesitou em atribuirlhes estas personagens.” Bryony Lavery, que antes de começar a escrever para teatro também tinha sido actriz, conheceu um êxito instantâneo graças a esta sua peça, mas nem por isso o sucesso

esteve isento de problemas. Como nos conta Lídia Franco, a estreia da peça viu-se subitamente envolta numa onda de polémica... “Houve um psiquiatra que acusou a autora de plágio, porque em determinada altura da peça ela disserta sobre o que move a mente de um assassino em série e, obviamente, terá tirado essa informação de livros científicos...” No entanto, tudo está bem quando acaba bem e a história teve um final feliz. “O psiquiatra acabou por retirar a queixa, concluindo que, como é óbvio, um objecto artístico pode perfeitamente basear-se em verdades científicas”.

Escrita por Bryony Lavery, a peça foi inspirada numa história verídica: em 1994, a polícia descobria dezenas de cadáveres na “Casa dos Horrores”, de Frederick e Rosemary West. Entre eles, o de Lucy Partington, prima do romancista Martin Amis O Método Marcia Haufrecht é internacionalmente reconhecida como especialista do “Método”, um sistema de preparação de actores iniciado no início do séc. XX por Stanislavski, em Moscovo, e posteriormente desenvolvido por Lee Strasberg nos Estados Unidos. Actores como James Dean, Meryl Streep ou Robert DeNiro foram formados na mítica escola de Strasberg – o Actor’s Studio – onde Marcia Haufrecht se iniciou como aluna e se tornou, com o tempo, professora. Entre os seus alunos mais famosos contam-se Uma Thurman, Ellen Barkin ou David Duchovny.


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TNDMII 09

Pequenos Crimes Conjugais >

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O casamen t o e as mentiras piedosas Eric-Emmanuel Schmitt escreveu a história de um casal em crise que, confrontado com o desgaste dos anos, tem de decidir se vai ou não continuar junto. Margarida Marinho e Paulo Pires são Luísa e Jaime no palco do Teatro Nacional A. Ribeiro dos Santos

“Pequenos Crimes Conjugais” fez a sua estreia mundial em Paris em 2003, contando com a interpretação de dois grandes actores: a britânica Charlotte Rampling (que conhecemos de filmes como “O Veredicto”, com Paul Newman) e o francês Bernard Giraudeau. O espectáculo teve um sucesso tão grande no Théâtre Edouard VII que esteve esgotado durante meses a fio, conhecendo desde então outras montagens, um pouco por todo o mundo. Este mês, fará a sua estreia entre nós, no Salão Nobre do Teatro Nacional e numa encenação de José Fonseca e Costa - realizador que assim se estreia na direcção teatral. Em cena, o espectador encontrará duas caras bem conhecidas do grande público: Paulo Pires e Margarida Marinho, que são, respectivamente, Jaime e Luísa. O enredo de “Pequenos Crimes Conjugais” conta-se em poucas palavras: Jaime regressa a casa depois de alguns dias passados no hospital. Ficou amnésico na sequência de um acidente doméstico e agora não sabe quem é, não se recorda do seu apartamento nem dos seus livros, não reconhece sequer a própria mulher, com quem está casado há 15 anos.

É o intrigante início de uma peça que nos propõe uma reflexão sobre o que é isso de amar alguém e predispôr-se a viver com ele “para o Bem e para o Mal, até que a morte nos separe”. Como é apanágio das peças de EricEmmanuel Schmitt (ler caixa), aqui numa tradução de Luiz Francisco Rebello, o texto surpreende até ao fim, pois nada é aquilo que parece. A imagem que Luísa pretende dar do seu casamento não corresponde, afinal, à realidade, e Jaime revela-se tão manipulador quanto a mulher. Será possível amar alguém para sempre? E será que homens e mulheres têm mesmo formas diferentes de amar? Será inevitável andar a pular de relação em relação, na busca permanente de novos estímulos afectivos e sexuais? A peça, que nos apresenta personagens credíveis - porque complexas e até contraditórias - não nos oferece propriamente uma resposta definitiva, mas mostra-nos como Jaime e Luísa vão resolver os seus problemas e decidir se vão, ou não, continuar juntos por mais 15 anos... Mas só depois de jogarem um jogo de rato e de gato, onde ninguém sabe quem caça quem e que, no final, terminará sem vencidos nem vencedores.­

Eric-Emmanuel Schmitt:

Fonseca e Costa:

Eric-Emmanuel Schmitt é um dos autores do momento. Nascido em 1960, formouse em filosofia e chegou a exercer a docência, até que, na sequência do sucesso alcançado com as suas duas primeiras peças de teatro, decidiu dedicar-se exclusivamente à escrita. São dele êxitos como “Variações Enigmáticas” (interpretado por actores como Paulo Autran, Donald Sutherland ou Alain Delon), “A Visita” (que o Teatro Aberto fez com João Perry e João Reis), ou “O Hotel dos Dois Mundos”, que passou recentemente pela Sala Estúdio do TNDM II. Em 2000, Eric-Emmanuel Schmitt recebeu o Grande Prémio de Teatro da Academia Francesa, pelo conjunto da sua obra teatral.

O sugestivo título “Viúva Rica Solteira Não Fica” é a mais recente aventura cinematográfica de José Fonseca e Costa, realizador que agora se estreia na encenação teatral com “Pequenos Crimes Conjugais”, do francês Eric-Emmanuel Schmitt, no Teatro Nacional D. Maria II. O homem que rodou “Balada da Praia dos Cães” ou “Kilas, o Mau da Fita”, protagonizados respectivamente por Raul Solnado e Mário Viegas, e que dirigiu Paulo Pires no filme que lançou a sua carreira - “Cinco Dias, Cinco Noites”, inspirado numa obra de Manuel Tiago - volta a trabalhar com o actor, agora numa peça recheada de suspense, para ver no Salão Nobre até 11 de Março.

um autor aplaudido

do cinema para o teatro

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Amor de Perdição Ana e Hanna

Amar perdidamente >

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no palco do Nacional

Cento e oitenta anos depois do seu nascimento, Camilo Castelo Branco continua a inspirar jovens criadores com as suas obras ultra-românticas. As Entranhas sucumbiram ao fascínio Gabriel Henriques

Quando

aderruba música fronteiras Ana e Hanna estreou no dia 1 de Dezembro e estará em cena até Março. Um musical que tem um tema na ordem do dia Ricardo Paulouro

Camilo Castelo Branco nasceu há 180 anos, mas continua a exercer um grande fascínio sobre os jovens criadores. Que o diga Vera Paz, actriz das Entranhas, que falou ao “Jornal do Teatro” sobre a sua mais recente encenação, a estrear este mês no Átrio do Teatro Nacional D. Maria II. Falamos, evidentemente, de “Amor de Perdição”, um espectáculo que, à semelhança das anteriores produções das Entranhas, junta o teatro com a música, a dança e o vídeo. “Sim, é um projecto multidisciplinar, como o são todos os nossos trabalhos”, explica a actriz e encenadora, “mas destina-se a todo o tipo de público”, acrescenta. “Ou seja, não estamos a trabalhar para um público necessariamente jovem ou adepto de propostas mais alternativas. O nosso público é o mais ecléctico que se possa imaginar: desde famílias a estudantes de artes... O que é preciso é que sejam noctívagos, porque normalmente trabalhamos em horários tardios.” “Amor de Perdição” estará, efectivamente, em cena a partir da meia-noite. Só ao domingo irá ter um horário menos “radical”: sete da tarde. E o que pretendem as Entranhas com esta produção? “Reflectir sobre o amor, que é sempre o tema preferencial de todos os nossos espectáculos”, adianta a actriz. “Escolhemos o Camilo porque é um passional, como nós. e porque fala daquilo de que nos apetece falar: de relações humanas.” Camilo Castelo Branco, cuja vida dava, só por si, um romance, usou as suas pró-

prias experiências como material de escrita, mas recorreu também a “fait-divers” da sua e de outras épocas. Casado com Ana Plácido - de quem teve dois filhos (para além daquele que ela tinha tido do primeiro marido) - Camilo viu-se obrigado a escrever freneticamente para garantir o sustento do lar. Foi, de resto, o primeiro escritor português a viver apenas daquilo que escrevia. Daí que recorresse frequentemente aos arquivos dos jornais, sempre à procura de histórias de amor - de preferência infelizes e com finais trágicos - para se inspirar. Os especialistas dizem que foi a sua infância triste - ficou orfão de mãe com apenas um ano de idade e orfão de pai aos dez - que determinou este apelo pela desgraça, esta convicção de que as pessoas vêm ao mundo para sofrer e fazer sofrer os outros. “Muitas das histórias que o Camilo contou são verdadeiras, ou pelo menos inspiradas em factos reais”, diz Vera Paz, “e é por isso que as suas personagens e os seus dilemas fazem tanto sentido para nós.” No espectáculo das Entranhas, o público não vai ouvir o texto integral do romance camiliano, nem pouco mais ou menos, mas reconhecerá nele os principais acontecimentos que marcam o percurso trágico de Teresa e Simão, assim como a linguagem romântica que as personagens de Camilo usam. Teresa e Simão serão interpretados, respectivamente, por Maria João Pereira e Rui Lacerda. Para ver ver no Átrio do Nacional de 18 de Janeiro a 17 de Março.

“Ana e Hanna”, do inglês John Retallack, fez a sua estreia na Sala Garrett no dia 1 de Dezembro, sob a direcção de António Feio e com interpretações de Rita Calçada Bastos (Hanna) e Vânia (Ana). Na estreia, ninguém ficou indiferente ao espectáculo: pequenos e graúdos viram-se confrontados com uma história comovente sobre a tolerância e a exclusão social mas, sobretudo, sobre o valor da amizade. Este foi, aliás, um grande desafio para as actrizes Rita Calçada Bastos e Vânia, que se estreia no teatro com este espectáculo. Ambas tiveram de dar materialidade a um problema que se tornou, infelizmente, num problema quotidiano. No palco, assistimos ao encontro de duas jovens de 19 anos, que se chamam, curiosamente, Ana e Hanna, uma portuguesa, outra kosovar. As óbvias diferenças culturais entre as duas começam por afastá-las mas, à medida que o tempo passa, ambas percebem que têm muito a aprender uma com a outra. Se a portuguesa odeia viver em Tavira, no Algarve, e sente o seu território invadido pelos imigrantes, a kosovar sente-se feliz em Portugal, país que lhe devolveu a tão desejada liberdade. A paixão comum pela música leva-as a cantar juntas temas de Madonna, Britney Spears ou Alanis Morissette. A música pop passa assim a funcionar como o elo de ligação entre duas jovens tão diferentes mas que, por pertencerem à mesma geração, encontram o caminho para uma amizade duradoira.

Num cenário depurado, onde, graças ao trabalho de luzes, parece que somos por vezes transportados para um concerto de música, as actrizes têm um extraordinário desempenho físico - muito por “culpa” de Olga Roriz, que coordenou o movimento do espectáculo. A forma como dançaram contagiou a plateia. Aliás, a música e a dança mostramse, sem dúvida, a linguagem universal capaz de compatibilizar até diferentes personalidades. Ana é, numa fase inicial, temperamental e vive preocupada com as aparências. O seu grupo de amigos rejeita tudo o que é novo e diferente. Hanna, pelo seu lado, é doce, tímida e insegura, numa sociedade que parece não a querer acolher. Progressivamente, a história vai mudando, os comportamentos alteramse e ambas libertam o que de melhor têm para dar uma à outra. Para António Feio, este espectáculo - que começou por ser destinado sobretudo aos jovens - tem emocionado também os adultos, que o consideram uma grande lição de vida. “O espectáculo trata da exclusão social e da integração dos imigrantes, temas que são hoje um problema com o qual nos debatemos todos os dias”. No final de “Ana e Hanna”, todos se mexiam nos assentos, ao ritmo da música, como querendo juntar a sua voz à voz de quem cantava, ou incomodados por uma lágrima teimosa que queria soltar-se. “Ana e Hanna” mostra-nos como podemos ser humanamente melhores.


Calendário SALA GARRETT SALA ESTÚDIO SALÃO NOBRE ÁTRIO

ESPAÇO ALTERNATIVO

OFICINA TNDM II

JANEIRO 01SEG 02TER 03QUA 04QUI 05SEX 06SÁB 07DOM 08SEG 09TER 10QUA 11QUI 12SEX 13SÁB 14DOM 15SEG 16TER 17QUA 18QUI 19SEX 20SÁB 21DOM 22SEG 23TER 24QUA 25QUI 26SEX 27SÁB 28DOM 29SEG 30TER 31QUA

Actor de Teatros (Aderbal) workshop Anabela Duarte concerto 19h Actor de Teatros (Aderbal) workshop Anabela Duarte concerto 19h Actor de Teatros (Aderbal) workshop

O Que Diz Molero 21h

Actor de Teatros (Aderbal) workshop Actor de Teatros (Aderbal) workshop

Ana e Hanna 18h

O Que Diz Molero 21h

Ana e Hanna 18h

O Que Diz Molero 21h

Ana e Hanna 19h30

O Que Diz Molero 16h Actor de Teatros (Aderbal) workshop O Que Diz Molero 21h

Antena 2 concerto 19h

Actor de Teatros (Aderbal) workshop Actor de Teatros (Aderbal) workshop

Ana e Hanna 11h

O Que Diz Molero 21h

Frozen 21h45

Antena 2 concerto 19h

Ana e Hanna 18h

O Que Diz Molero 21h

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Amor de Perdição 24h Actor de Teatros (Aderbal) workshop

Ana e Hanna 18h

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Amor de Perdição 24h Actor de Teatros (Aderbal) workshop

Ana e Hanna 18h

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Actor de Teatros (Aderbal) workshop O Que Diz Molero 21h

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Actor de Teatros (Aderbal) workshop

Ana e Hanna 11h

O Que Diz Molero 21h

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Actor de Teatros (Aderbal) workshop

Ana e Hanna 18h

O Que Diz Molero 21h

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Amor de Perdição 24h Actor de Teatros (Aderbal) workshop

Ana e Hanna 18h

O Que Diz Molero 21h

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Amor de Perdição 24h Actor de Teatros (Aderbal) workshop

Ana e Hanna 18h

O Que Diz Molero 21h

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O Que Diz Molero 21h Ana e Hanna 11h

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Actor de Teatros (Aderbal) workshop

Escrita Teatral (J.S. Sinisterra) workshop

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Pequenos Crimes Conjugais 21h30

Actor de Teatros (Aderbal) workshop

Escrita Teatral (J.S. Sinisterra) workshop

Frozen 21h45

Pequenos Crimes Conjugais 21h30

Actor de Teatros (Aderbal) workshop

Escrita Teatral (J.S. Sinisterra) workshop

SALA GARRETT SALA ESTÚDIO SALÃO NOBRE ÁTRIO

SALA EXPERIMENTAL

OFICINA TNDM II

FEVEREIRO 01QUI 02SEX 03SÁB 04DOM 05SEG 06TER 07QUA 08QUI 09SEX 10SÁB 11DOM 12SEG 13TER 14QUA 15QUI 16SEX 17SÁB 18DOM 19SEG 20TER 21QUA 22QUI 23SEX 24SÁB 25DOM 26SEG 27TER 28QUA

O Que Diz Molero 21h

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Pequenos Crimes Conjugais 21h30 Amor de Perdição 24h Actor de Teatros (Aderbal) workshop

Escrita Teatral (J.S. Sinisterra) workshop

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Pequenos Crimes Conjugais 21h30 Amor de Perdição 24h Actor de Teatros (Aderbal) workshop

Escrita Teatral (J.S. Sinisterra) workshop

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Pequenos Crimes Conjugais 21h30 Amor de Perdição 24h

Escrita Teatral (J.S. Sinisterra) workshop

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Pequenos Crimes Conjugais 16h30 Amor de Perdição 19h45 O Actor Teatros workshopworkshop 14h Actor dede Teatros (Aderbal) Pequenos Crimes Conjugais 21h30

Actor de Teatros (Aderbal) workshop

Pequenos Crimes Conjugais 21h30

Actor de Teatros (Aderbal) workshop

Extremadura em Lisboa

Extremadura em Lisboa

Pequenos Crimes Conjugais 21h30 Extremadura em Lisboa Actor de Teatros (Aderbal) workshop

Extremadura em Lisboa

Extremadura em Lisboa

Pequenos Crimes Conjugais 21h30 Extremadura em Lisboa Actor de Teatros (Aderbal) workshop

Extremadura em Lisboa

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Pequenos Crimes Conjugais 21h30 Extremadura em Lisboa

Extremadura em Lisboa

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Pequenos Crimes Conjugais 16h30 Extremadura em Lisboa

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Ana e Hanna 11h

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Ana e Hanna 11h

Livro de Crónicas 21h30

Livro de Crónicas 21h30

Preços>

Sala Garrett de €7,50 a €15,00 <> Sala Estúdio €10,00 <> Salão Nobre €12,00 <> Átrio €8,00

Descontos>

Dia do Espectador (5ª feiras) - 50% de desconto Bilhete do Dia - entre as 13h00 e 14h00 - €5,00 (limite 60 bilhetes Sala Garrett; 10 bilhetes Sala Estúdio)

Até 25 anos, + de 65 anos e grupos + 15 pessoas - 30% de desconto Descontos para grupos - entre 30 a 40% de desconto

RESERVAS>

Reservas@teatro-dmaria.pt Reservas> 21 325 08 35 Informações> 21 325 08 27/8

www.teatro-dmaria.pt


11 Jan. a 4 Fev.

3ª a SÁB. 21H00 DOM. 16H00

O que diz Molero

Sala Garrett

de DINIS MACHADO

Armazém de Teatro Produções Artísticas (Rio de Janeiro, Brasil) Produção

encenação ADERBAL FREIRE-FILHO 4ª-feira 11h00 6ª A sáb. 18h dom. 19h30

Ana e Hanna

Sala Garrett

de John Retallack Produção

TNDM II

encenação António Feio

17 Jan. a 11 Mar.

Frozen

3ª a SÁB. 21H45 DOM. 16H15

Sala Estúdio

de BRYONY LAVERY Produção

TNDM II

encenação MARCIA HAUFRECHT

30 Jan. a 11 Mar.

3ª a SÁB. 21H30 DOM. 16H30

Pequenos Crimes Conjugais Salão Nobre

de ERIC-EMMANUEL SCHMITT Produção

TNDM II

encenação JOSÉ FONSECA E COSTA

18 Jan. a 17 Mar.

5ª a SÁB. 24H00 DOM. 19H45

Amor de Perdição ou good bye my love good bye as long

Átrio

as you remember me I’ll never be too far a partir de CAMILO CASTELO BRANCO Produção

TNDM II

encenação RICARDO MOURA e VERA PAZ

Estreias em Fevereiro 15 Fev. a 3 Mar.3ª a SÁB. 21H30 DOM. 16H30

Livro de Crónicas

SaLA EXPERIMENTAL

Oficina “O Actor de Teatros” de ANTÓNIO LOBO ANTUNES Produção

TNDM II

direcção ADERBAL FREIRE-FILHO

8 a 11 Fevereiro Extremadura em Lisboa

MOSTRA DE TEATRO E MÚSICA DA EXTREMADURA ESPANHA SALA GARRETT > SALA ESTÚDIO > ÁTRIO


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