Jornal do Teatro #4

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04 Marionetas do Porto

John Retallack

António José

da Silva

O Judeu Samuel Beckett António Torrado Lopes Graça Jorge Guimarães

José Eduardo Rocha Lygia Fagundes Telles

João Mota


02 TNDMII >

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Vamos à Feira Internacional do Livro de Teatro de Madrid

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A Livraria do Teatro Nacional D. Maria II estará presente na 7.a edição da Feira Internacional do Livro de Teatro de Madrid, que decorrerá entre 20 a 23 de Outubro e onde levaremos as obras que os editores portugueses generosamente puseram à nossa disposição. Com este gesto, o Teatro Nacional quer reforçar a sua internacionalização e pretende contribuir para a divulgação da dramaturgia portuguesa lá fora.

Editorial Os Clássicos Nossos Contemporâneos

Estes primeiros quatro meses da nossa programação reflectem, por um lado, a importância estratégica que para nós têm os clássicos enquanto elementos fundadores e estruturadores sem os quais não seríamos capazes de fazer hoje o teatro que é importante fazer. Por outro, reflectem a necessidade urgente de se reavivar a nossa memória enquanto estrutura social. Num tempo em que domina o efémero, só as grandes figuras e os grandes momentos sociais da nossa História são capazes de nos ajudar a construir as referências que são fundamentais para sermos capazes de inventar um outro tempo. Um tempo onde a sociedade da aparência e do espectáculo seja definitivamente substituída pela sociedade da inteligência e da sensibilidade. Na verdade nada melhor do que abrir a temporada com um autor português como António José da Silva, cuja obra será abordada em três espectáculos diferentes. Aproveitando o facto de passarem cem anos sobre o nascimento de Samuel Beckett e Fernando Lopes Graça, prestamos também a nossa homenagem ao dramaturgo irlandês que é, hoje, um dos autores de referência do nosso tempo, e a esse vulto maior da nossa cultura que é o compositor Lopes Graça. Estes três nomes serão acompanhados por outros três, já num outro espaço – o da Politécnica –, e que têm de comum entre si o facto de serem figuras de proa na luta entre o conhecimento e o obscurantismo, entre o conhecimento e a ignorância: Sócrates, Giordano Bruno e Galileu. Este é também um tempo de recuperação de espectáculos que nestes últimos anos fizeram história no teatro português. Falamos, naturalmente, dos espectáculos que apresentamos no Ciclo António José da Silva, com a felicidade acrescida de anunciar que um espectáculo como “As Guerras de Alecrim e Manjerona” vai passar a fazer parte do repertório do Teatro Nacional e poder, finalmente, fazer a digressão internacional que há muito tem vindo a ser adiada. Finalmente, gostaríamos de referir o início da abordagem a uma temática que nos irá acompanhar nos próximos anos: a temática do multiculturalismo e da mestiçagem. Nos nossos dias, é fundamental para a sobrevivência desta Terra Pátria que haja um diálogo efectivo entre as diferentes culturas que aqui coexistem. Temos de assumir os cruzamentos e as mestiçagens que são hoje uma realidade por todo o Mundo: só essa atitude aberta e disponível nos poderá salvar. O teatro pode – e deve – ser um espaço privilegiado onde as questões centrais que atravessam as sociedades tenham um efectivo espaço de mostra e reflexão.

Carlos Fragateiro José Manuel Castanheira

Lançamento de Livros no Teatro Nacional

> No dia 21 de Setembro, lançaremos o livro de Fernando Peixoto, “História do Teatro Europeu”, editado pela Edições Sílabo. > No dia 19 de Outubro, faremos, no Salão Nobre, o lançamento de “Máscara Ibérica”, obra de Hélder Ferreira, editado pela Caixotim. O livro desvenda um património intemporal e realça as potencialidades do desenvolvimento turístico e cultural das zonas rurais de Trás-os-Montes, Galiza e Castela e Leão. O lançamento do livro será acompanhado por uma exposição de fotografias e de máscaras.

Ciclo António José da Silva

No âmbito do ciclo dedicado a António José da Silva, o Teatro Nacional exibirá o filme “O Judeu”, de 1995. Uma co-produção entre Portugal e o Brasil realizada por Jom Tob Azuley. O filme, que tem fotografia de Eduardo Serra, conta com interpretações de actores como Antonino Solmer, Dina Sfat, Fernanda Torres, Mário Viegas, Rogério Paulo e Ruy de Carvalho, entre outros. Uma cópia gentilmente cedida pelo Animatógrafo.

Centenário da Morte de Ibsen

No ano em que passam cem anos da morte de Henrik Ibsen (1828-1906), o Teatro Nacional exibirá os filmes ‘O Inimigo do Povo’, de 2001 (legendado em português), e ‘Terje Vigen’, um filme mudo de 1917 baseado em poemas do autor norueguês. Ambas as obras foram exibidas no Festróia deste ano. Entre 23 e 29 de Outubro.

Novo Horário da Livraria do Teatro

Os leitores interessados em consultar as obras da Livraria do Teatro podem fazê-lo no novo horário: de terça a domingo, das 13h00 às 19h00. Nos dias de espectáculo à noite, o horário prolonga-se até às 22h00.

Assinatura Clássicos ‘06

Ciclo António José da Silva (3) + Centenário de Beckett Custo Assinatura

1a Plateia * / SE 2a Plateia * / SE 1o Balcão / SE 2o Balcão / SE

Assinatura Clássicos ‘06 (2 espectáculos na Sala Garrett + 2 Sala Estúdio)

(-30%

Assinatura Jovens até 25 / + 65 anos ( -50%)

38,50 € 35,00 € 31,50 € 24,50 €

27,50 € 25,00 € 22,50€ 17,50 €

(*) - Espectáculo “Guerras de Alecrim e Manjerona)

Assinatura Contemporâneos ‘06

(Ensemble JER, Hanna & Ana, Leontina, Vermelho Transparente e Casa de Lenha) Custo Assinatura

Assinatura Contemporâneos l’06 (2 espectáculos na Sala Garrett + 1 Sala Estúdio + 2 Salão Nobre)

Plateia / SE / SN 1o Balcão / SE / SN 2o Balcão / SE / SN

(-30%

Assinatura Jovens até 25 / + 65 anos ( -50%)

38,50 € 35,00 € 28,00 €

27,50 € 25,00 € 20,00 €

www.teatro-dmaria.pt Bilhetes Avulso

RESERVAS>

V. Unit

Reservas@teatro-dmaria.pt Reservas> 21 325 08 35 Informações> 21 325 08 27

Ficha Técnica

Sala Garrett

1a Plateia * 2a Plateia * Plateia: 1o Balcão 2o Balcão

20 € 15 € 15 € 12,50 € 7,50 €

14,00 € 10,50 € 10,50 € 8,75 € 5,25 €

Sala Estúdio

Plateia

10,00 €

7,00 €

Salão Nobre

Cadeiras Almofadas

7,50 € 5,00 €

5,25 € 3,50 €

DIRECÇÃO> Carlos Fragateiro e José Manuel Castanheira

DOCUMENTAÇÃO> André Camecelha

COORDENAÇÃO> Pedro Mendonça

GRAFISMO> Nuno Patrício

COORDENAÇÃO EDITORIAL> A. Ribeiro dos Santos

FOTOGRAFIA> Margarida Dias

REDACÇÃO> A. Ribeiro dos Santos,

PROPRIEDADE> TNDM II, SA

Margarida Gil dos Reis, Ricardo Paulouro

IMPRESSÃO> Mirandela Artes Gráficas

Até 25 anos / + 65 anos

(*) - Espectáculo “Guerras de Alecrim e Manjerona)


Ciclo António José da Silva >

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Os Encantos de Medeia

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Entre 1733 e 1739, António José da Silva escreveu algumas das melhores peças do repertório dramatúrgico nacional e inscreveu-se, definitivamente, na História do Teatro Português. Ou seja, em apenas cinco anos, tornou-se o dramaturgo mais importante desde Gil Vicente, só vindo a ser igualado por Almeida Garrett, quase um século mais tarde (“Um Auto de Gil Vicente”, de Garrett, estreou em 1838...). Morto às mãos do Santo Ofício, com apenas 34 anos, legou-nos uma obra de génio, infelizmente pouco divulgada entre nós, de que o Teatro Nacional levará à cena, nesta nova temporada, três grandes marcos: “Os Encantos de Medeia” (de 1735), “Anfitrião” (1736) e “Guerras de Alecrim e Mangerona” (1737).

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teatro da

O Teatro Nacional apresenta, entre dia 14 e 24 de Setembro, “Os Encantos de Medeia”, uma peça de António José da Silva (O Judeu), que transforma uma das tragédias gregas mais marcantes numa comédia. Ricardo Paulouro

As Marionetas do Porto em co-produção com o Teatro Nacional S. João do Porto, trazem ao palco do Teatro Nacional “Os Encantos de Medeia”, uma peça de António José da Silva, escrita para as Marionetas do Teatro do Bairro Alto e aí estreada em 1735. Abordando um tema mitológico, como é aliás recorrente nas obras de “o Judeu”, esta obra recupera tanto quanto possível vários elementos do teatro barroco. A inspiração nos mitos da Grécia antiga, misturada com dragões que lançam fogo, ninfas, combates entre exércitos, nuvens, árvores, trovões permitem cruzar no palco dois mundos distintos, o mundo real e o mundo sobrenatural. Com encenação e cenografia de João Paulo Seara Cardoso, marionetas, figurinos e ilustração de Júlio Vanzeler, música de Roberto Neulichedi e interpretação de Edgard Fernandes, Sara Henriques, Sérgio Rolo, João Paulo Seara Cardoso e Tânia Gonçalves, esta produção tenta recuperar antigas formas do teatro português, como o teatro escrito para marionetas. Esta escrita engenhosa reflecte-se aliás no argumento da peça, onde as personagens mitológicas descem ao palco através de metáforas cénicas. Ao chegar à ilha de Colcos com o objectivo de conquistar o velo

com Creusa e dá-lhe o reino. Desesperada, Medeia desaparece pelos ares. Ao contrário da tragédia de Eurípides, nesta obra tudo acaba bem e os episódios mais trágicos, como a morte dos filhos de Medeia, são omitidos. Para o encenador da peça e director artístico do Teatro de Marionetas do Porto, João Paulo Cardoso, esta peça pode ser classificada como uma “opereta cómica” onde se tenta reconstituir o teatro barroco através de uma acção ritmada, com muitos cenários, que reflecte as questões fundamentais da sociedade da época. O encenador optou pela manipulação das marionetas à vista e por pôr os actores em palco, cantando as cerca de 19 árias que compõem a peça. O espectador pode assim assistir a malabarismos técnicos, possíveis apenas com o auxílio de maquinaria diversa, onde a exuberância visual se associa ao humor. Misturando uma linguagem erudita com uma linguagem popular, posta na boca dos criados e estabelecendo uma ligação às classes mais populares, esta peça faz conviver o cómico com o trágico. A opção estética de Júlio Vanzeler ao fazer aparecer as marionetas sem cabelo, por exemplo, na personagem Medeia, acentua a força da tragédia, mesmo neste que é verdadeiramente um teatro de ilusão.

A inspiração nos mitos da Grécia antiga, misturada com dragões que lançam fogo, ninfas, combates entre exércitos, nuvens, árvores, trovões permitem cruzar no palco dois mundos distintos, o mundo real e o mundo sobrenatural. de ouro, Jasão desperta de imediato duas paixões. Quer a princesa Medeia, filha do rei de Colcos, quer Creusa, a sobrinha do rei, se apaixonam por ele. Medeia ajuda assim Jasão a roubar o velo de ouro, mas este apodera-se dele e foge com Creusa. Rejeitada e enganada por Jasão, Medeia move contra eles uma tempestade que os obriga a regressar a Colcos. No entanto, o rei, ao saber que Medeia o roubou, casa Jasão

Ficha Artística TEXTO> António José da Silva (O Judeu) ENCENAÇÃO> João Paulo Seara Cardoso CO-PRODUÇÃO> Teatro de Marionetas Do Porto e Teatro Nacional de São João

“Os Encantos de Medeia”

14a20 SETEMBRO >

SALA GARRETT


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< Ciclo

António José da Silva

Guerras de Alecrim e Manjerona

Uma festa para os Paulo Matos repõe “Guerras” em Lisboa

sentidos

Depois do sucesso alcançado no Acarte e no Teatro da Trindade, “Guerras de Alecrim e Manjerona” chega à Sala Garrett em Outubro numa produção do Teatro Nacional D. Maria II. Oportunidade única para ver um espectáculo verdadeiramente inspirado A. Ribeiro dos Santos Estreado originalmente no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, em 2000, e posteriormente reposto, com enorme êxito no Teatro da Trindade, “Guerras de Alecrim e Manjerona” é um espectáculo que alia o interesse histórico-literário ao puro prazer teatral. Se, por um lado, é a primeira vez que a ópera é levada à cena na sua versão integral, numa reconstituição cuidada ao pormenor, por outro, o encenador Paulo Matos soube criar, em cena, um ambiente de festa e diversão que nos entretém do princípio ao fim. Conforme assinalou, pertinentemente, Alexandre Delgado, crítico musical do jornal “Público”, são três horas e meia “que mais parecem 45 minutos” e que nos deixam completamente rendidos. Para o deslumbre, contribuem vários factores, a começar pela componente musical – interpre-

tada pela Orquestra da Capela Real (a única orquestra barroca existente em Portugal). À música original de António Teixeira, cujas partituras chegaram incompletas até nós, o compositor e maestro Stephen Bull acrescentou música da sua própria lavra, concebida dentro do espírito da época. Depois, num cenário deslumbrante e em encantadores figurinos de época, movem-se os cantores, que, sob a direcção de Paulo Ma-

tos, se transformam em actores versáteis e contracenam com os “colegas” bonifrates. O resultado não podia ser mais divertido. Num ritmo sempre acelerado, estas “Guerras” conseguem realizar este ideal: oferecem-se como um espectáculo simultaneamente erudito e popular, para ver ou rever e que daqui em diante ficará no repertório do Teatro Nacional.

Num ritmo sempre acelerado, estas “Guerras” conseguem realizar o ideal: oferecem-se como um espectáculo simultaneamente erudito e popular

Um êxito na Lisboa do séc. XVIII “Guerras de Alecrim e Manjerona” é unanimemente considerada a melhor das obras de António José da Silva, que, durante cinco anos, animou o Teatro do Bairro Alto com o melhor teatro que se fazia na Lisboa do século XVIII. Por influência do teatro italiano, que era cantado, o autor decidiu acrescentar árias aos seus textos, o que muito agradou aos espectadores da época. Ao mesmo tempo que se afastava das óperas eruditas, o público enchia o Teatro do Bairro Alto a cada novo espectáculo e é caso para perguntar até onde não iria o Judeu, caso não tivesse sido assassinado.

Ficha Artística TEXTO> António José da Silva (O Judeu) ENCENAÇÃO> Paulo Matos PRODUÇÃO> Teatro Nacional D. Maria II

“Guerras de Alecrim e Manjerona”

12a29 OUTUBRO >

SALA GARRETT


Ciclo António José da Silva >

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Anfitrião

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Anfitrião

Vidasde Papel Entre 6 e 22 de Outubro o ciclo António José da Silva continua com “Anfitrião”. Um exercício de ilusão, onde os sons e os efeitos cénicos nos transportam para um universo numa escala miniaturizada. Margarida Gil dos Reis A integrar a programação do ciclo de teatro dedicado ao dramaturgo português António José da Silva, o Teatro Nacional apresenta “Anfitrião”, uma produção do Teatro Nacional de São João, em parceria com o Teatro das Formas Animadas, de Vila do Conde. Criado por Marcelo Lafontana, Victor Madureira, José Coutinhas e Andreia Gomes, com cenografia, marionetas e adereços de Luís da Silva, esta produção retoma os usos e costumes do teatro de bonifrates. Uma comédia contagiante onde o estilo próximo do tradicional teatro popular se cruza com uma história de deuses clássicos, interpretados por actores de cartão. António José da Silva, mais conhecido por “o Judeu”, nasceu no seio de uma família de cristãos-novos no Rio de Janeiro mas acabou por concluir Direito na Universidade de Coimbra. A sua estadia em Portugal foi várias vezes marcada pela prisão e por tor-

turas, acabando por ser condenado como herege, uma verdadeira fonte de inspiração literária para Camilo Castelo Branco (o romance histórico “O Judeu”, 1865) ou Bernardo Santareno (a peça de teatro “O Judeu”, 1966). Vivia-se assim, no século XVIII, em Portugal, na ilusão da riqueza e prosperidade, à semelhança dos tempos áureos da descoberta das riquezas do Brasil e à sombra do triunfo da Contra-Reforma. Face a esta sociedade iludida, enquanto as classes altas se divertiam com a ópera, o povo entretinha-se com o teatro herdado de Gil Vicente, o teatro de bonifrates ou as comédias de costumes. “Anfitrião” vai beber, como aliás quase todas as obras de António José da Silva, à tradição clássica. Aclamada pela primeira vez, em Maio de 1736, no Teatro do Bairro Alto, onde o teatro de bonifrates conheceu grande popularidade, esta peça é uma sátira

à sociedade do seu tempo, uma crítica à facilidade com que se aceitava o adultério quando o desfrutador era alguém de uma classe alta. Este “Anfitrião” de António José da Silva retoma aliás muito do tema de Anfitrião dramatizado pelo comediógrafo latino Plauto. A intriga gira em torno das aventuras de Anfitrião enquanto rival de Júpiter, o eixo a partir do qual surgirá o mito do herói Hércules. Esta obra de “o Judeu” centra-se sobretudo no encontro de Júpiter com Alcmena, esposa de Anfitrião. Com Anfitrião na guerra, Júpiter transforma-se e, sob a forma de Anfitrião, engana Alcmena, proporcionando um conflito trágico-cómico, por vezes quase hilariante, que resulta do próprio adultério. O diálogo entre as personagens é intercalado por textos para serem recitados e cantados, tão ao gosto da “opera buffa” italiana e apreciada pelo público da épo-

Uma comédia contagiante onde o estilo próximo do tradicional teatro popular se cruza com uma história de deuses clássicos, interpretados por actores de cartão

ca. Os sons, produzidos por instrumentos acústicos que remetem para um imaginário popular tradicional, acompanham e imprimem o ritmo à peça, muito próximo do cinema de animação. Quanto à temática do duplo, bem no centro da intriga, esta será um convite aliciante aos autores de todas as épocas. Refira-se que o cruzamento de técnicas de ilustração gráfica, do teatro de marionetas e do contador de histórias fazem desta obra, onde os deuses se disfarçam de mortais, uma produção interessante que nos desperta algumas questões. Por exemplo, quão próximo estará o teatro de papel do cinema de animação, das marionetas e do teatro de sombras. Da escola de Marte à batalha de Cupido, para assistir de 6 a 22 de Outubro.

Ficha Artística TEXTO> António José da Silva (O Judeu) CRIAÇÃO> Marcelo Lafontana CO-PRODUÇÃO> Teatro das Formas Animadas e TNSJ

“Anfitrião”

06a22 OUTUBRO >

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< Centenários

100 anos de Beckett

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Começar a Acabar

No ano em que se assinala o centenário de Samuel Beckett, Prémio Nobel da Literatura em 1969, é tempo de ouvir na voz de João Lagarto, um monólogo inédito nos nossos palcos. A partir de 15 de Setembro, aplausos para o homem que mudou o teatro do século XX A. Ribeiro dos Santos

Samuel Beckett 1906-1989

palavras para que vos quero “Começar a Acabar” (“Beginning to End”, no original), começou por ser o projecto do actor Jack MacGowran que, no início da década de 60, ganhou notoriedade ao dar corpo, como ninguém, às personagens de Beckett e que, por iniciativa própria, começou a juntar fragmentos da obra do dramaturgo irlandês para constituir um monólogo que pudesse levar à cena. Em 1970, o próprio Beckett decidiu meter mãos à obra e, a partir de alguns dos seus textos mais emblemáticos, deu à luz este “Começar a Acabar”, uma peça em que, in-

Perfil Samuel Beckett

variavelmente, fala... da morte. Aqui, um homem que está muito perto do fim conta-nos histórias com que todos nos podemos identificar. É esse, de resto, o grande segredo de Beckett: soube traduzir, os nossos estados de alma mais melancólicos e os nossos terrores mais indizíveis. O monólogo acabaria por ser utilizado no extraordinário romance “O Inominável” e incluído numa trilogia de que fazem também parte “Molloy” e “Malone Está a Morrer”. Estreado originalmente a 23 de Abril de 1970, no Théâtre Édouard VII, em Paris, onde

se manteve em cena durante três anos (até à morte de MacGowran, de pneumonia, aos 55 anos), “Começar a Acabar” nunca mais foi levado à cena. Pelo menos essa é a convicção de João Lagarto, que agora decidiu “ressuscitar” a peça e interpretá-la, para quem o quiser ouvir, na Sala Estúdio do Teatro Nacional. Segundo o actor, Beckett teria dado instruções a MacGowran para fazer rir o público (“o máximo de gargalhadas que tu consigas”) e, embora não tenha assinado a encenação, acompanhou todos os ensaios, dando fre-

Samuel Beckett nasceu no seio de uma família burguesa próspera mas, ao contrário das expectativas dos progenitores, não conseguiu dedicar-se aos negócios. Inclinando-se desde sempre para as letras, conheceu James Joyce e tornou-se seu secretário, tendo sido fortemente influenciado por este escritor modernista. Foi professor e ensaísta, mas rápidamente passou a dedicar-se apenas à Literatura. Durante a II Guerra Mundial, envolveu-se directamente na Resistência Francesa. “À Espera de Godot”, escrita em 1952, operou uma verdadeira revelação no teatro da época, sendo ainda hoje uma das peças mais representadas no mundo inteiro.

quentemente a sua opinião e alterando as indicações cénicas sempre que lhe pareceu pertinente. “Nas primeiras versões, MacGowran ficava estático, sorria apenas uma vez e mantinha-se naquela posição neutra e de transmissor dos ritmos das frases que se atribui muitas vezes ao actor beckettiano”, diz João Lagarto. No entanto... “Progressivamente ele (e Beckett) foram mudando...” João Lagarto que produziu este espectáculo juntamente com o Teatro do Bolhão, apresentará “Começar a Acabar” também no Porto e no Circuito da Artemrede.

Ficha Artística TEXTO> Samuel Beckett ENCENAÇÃO> João Lagarto CO-PRODUÇÃO> Teatro Nacional D. Maria II, Os Crónicos e Teatro do Bolhão

“Começar a Acabar”

15 SETa01 OUT >

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Centenários >

100 anos de Fernado Lopes Graça

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A Casa de Lenha

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Memória de um resistente

Fernando Lopes Graça:

No centenário do nascimento de Fernando Lopes Graça, o Teatro Nacional, em co-produção com o Teatro da Comuna, apresenta “A Casa da Lenha”. Um texto de António Torrado, encenado por João Mota, para ver de 16 de Novembro a 30 de Dezembro. Um exercício de memória que revisita um dos mais notáveis compositores e musicólogos do século XX Ricardo Paulouro Fernando Lopes Graça nasceu em Tomar, em 1906. A peça “A Casa da Lenha”, de António Torrado e com encenação de João Mota, começa com um Fernando Lopes Graça em idade avançada, em pleno processo de criação da canção “A Minha Terra”, uma das suas últimas obras de música coral. Esta peça é uma quase autobiografia, um percurso de vida contado pelo próprio Lopes Graça. Nela podemos encontrar memórias, sentimentos e uma extensa galeria de personagens cujo caminho se cruzou com o “Graça”, como é apelidado em várias ocasiões no próprio texto. Os “flashes” de memória que subitamente se tornam visíveis ao nosso olhar dão lugar a muitos excertos musicais, desde música coral, dança sevilhana, filarmónica, instrumental e, obviamente, composições de Lopes Graça, essas sim inscritas na nossa memória, como “Acordai” ou “O Menino de sua Mãe”. A memória de infância, tornada mais real com a presença da mãe, primeiro com 30 anos e depois com 65, ou do pai ajudam a traçar o caminho por vezes sinuoso que Lopes Graça teve de percorrer. Desde os estudos musicais concluídos no Conservatório Nacional de Lisboa, que frequentou entre 1924 e 1931, até aos anos em que esteve em Coimbra, anos esses precedidos e encerrados com duas detenções por

motivos políticos que o impediram de ensinar em escolas públicas durante os anos posteriores, o Lopes Graça aqui retratado adopta um registo confessional. Os momentos de ternura entre pais e filho, a secreta paixão pela arte dramática, as “conspirações de infância” na casa da lenha, o empenhamento social e político

A mãe, o pai, a tia Helena, o irmão, o amigo João José Cochofel, Júlio Dantas, o director do Conservatório, o Tenente Aboim, os companheiros de tertúlia, Pedro Prado, Vieira da Silva e Arpad Szènes, Bela Bartok, todos estão representados numa extensa galeria de personagens que, marcaram o percurso de Lopes Graça.

Esta peça é uma quase autobiografia, um percurso de vida contado pelo próprio Lopes Graça. Nela podemos encontrar memórias, sentimentos e uma extensa galeria de personagens cujo caminho se cruzou com o “Graça” em busca da liberdade, a colaboração com a “Presença”, o exílio em Paris (1937) e a prisão, a sua participação no Movimento de Unidade Democrática, assim como no PCP, do qual se tornou militante por volta de 1944, o reconhecimento oficial da importância de Lopes Graça para a cultura portuguesa através de diversas homenagens e encomendas estatais, com o fim do Estado Novo, tudo cabe neste texto notável de António Torrado. Um texto onde dificilmente conseguimos separar a ficção da realidade.

O mestre que dá lições de música onde o folclore musical ganha destaque prova que “a língua portuguesa não é adversária da música”. E apesar do tempo que vemos passar frente aos nossos olhos, no palco, a casa da lenha, onde ia buscar lenha com o irmão ou onde se reunia com “o bando” também muda. O local onde se aprendeu a sobreviver é no fim uma casa da lenha, “como se ardesse” e dela restasse apenas a memória.

Ficha Artística TEXTO> António Torrado ENCENAÇÃO> João Mota CO-PRODUÇÃO > Teatro Nacional D. Maria II, Teatro da Comuna - Teatro de Pesquisa

“A Casa da Lenha”

16 NOVa30 DEZ >

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SALA GARRETT


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Vermelho Transparente Rui Mendes encena “Vermelho Transparente”

As pessoas nem sempre

contam a verdade aos psicanalistas Uma mulher procura um psicanalista. Diz que se chama Mercedes. Diz que tem uma irmã gémea e um marido. Será verdade? As pessoas nem sempre contam a verdade aos psicanalistas. Muitas arranjam máscaras convincentes para aparecerem ao Mundo à melhor luz possível. E no entanto... surdamente gritam por socorro A. Ribeiro dos Santos

Em 1997, António Rama estreava, na Sala Estúdio do Teatro Nacional, “Cenas de uma Tarde de Verão”, a peça que apresentava ao público um novo dramaturgo português: Jorge Guimarães. Quase dez anos decorridos, o autor regressa ao mesmo espaço, para apresentar “Vermelho Transparente”, um “thriller” psicológico que nos propõe uma viagem alucinante à cabeça de uma mulher seriamente perturbada. Decorrendo num clima de mistério que se adensa gradualmente para se desvendar quase no final, com uma surpresa, o texto de Jorge Guimarães apresenta-nos uma personagem psicologicamente rica, a braços com uma doença mental de que pouco se conhece. Mercedes padece de uma perturbação cujos verdadeiros contornos só percebemos no final. Este texto, que não deixará de cativar o espectador ao apresentar-lhe uma mulher que tem tanto de misterioso quanto de potencialmente letal. No palco da Sala Estúdio Rey-Colaço – Robles Monteiro, o público do Teatro Nacional encontrará a actriz Helena Laureano, que vai dar cara e corpo a Mercedes. Ao seu lado, Luís Esparteiro será o psicanalista que, a pouco e pouco, se aproximará dela por (com)paixão, desvendará o mistério e acabará por mudar o rumo da vida dos dois. Na direcção do espectáculo, um homem que o público também conhece: Rui Mendes, que assinará a encenação deste drama intenso. “Vermelho Transparente” estreará fora de Lisboa, percorrendo o circuito da Artemrede.

Jorge Guimarães: Um talento multifacetado Artista plástico, ensaísta, poeta e romancista, Jorge Guimarães tem-se dedicado nos últimos anos sobretudo ao teatro, tendo um conjunto substancial de peças publicadas. Para além de “Cenas de Uma Tarde de Verão”, estreado no Teatro Nacional, o autor viu também irem à cena as suas peças “Marianna Alcoforado” (pelo TEC) e “O Concerto para Piano” (Bescénico). “Tudo para Nada” fez a sua estreia absoluta em Londres, pela mão do encenador português Eduardo Barreto. Neste momento, o Teatro Experimental de Cascais ensaia “Queiroz”, que estreará ainda este ano no Mirita Casimiro.

Rui Mendes: O homem do leme Rui Mendes estreou-se como actor na peça “A Ilha do Tesouro”, apresentada em 1956 no Teatro da Trindade. Ao longo da sua carreira, tem sido dirigido por encenadores como Francisco Ribeiro (Ribeirinho), Costa Ferreira, Fernando Gusmão, João Mota, Luís Miguel Cintra, João Lourenço, Jorge Lavelli, Fernanda Alves e José Peixoto, entre outros. A partir de 1975 passou também a dedicar-se à encenação. Dirigiu, entre outros, “As Três Irmãs”, de Tchekov, no Teatro da Cornucópia, “Sonho de Uma Noite de Verão”, de Shakespeare, no Teatro da Malaposta, ou “A Louca de Chaillot”, aqui mesmo no Teatro Nacional. É também um actor conhecido pelas suas passagens pelo cinema (“Francisca”, “Os Abismos da Meia-Noite”) e pelo pequeno ecrã, onde fez várias séries e telenovelas.

A peça vai cativar o espectador ao apresentar-lhe uma mulher que tem tanto de misterioso quanto de potencialmente letal

Ficha Artística TEXTO> Jorge Guimarães ENCENAÇÃO> Rui Mendes PRODUÇÃO> Teatro Nacional D. Maria II

“Começar a Acabar”

07 NOVa30 DEZ >

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SALA ESTÚDIO


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A Confissão de Leontina

Uma

mulher, uma narrativa solitária “Já contei a minha história tantas vezes mas ninguém quis me acreditar. Agora vou contar tudo pra senhora”. Assim começa o monólogo “A Confissão de Leontina”, com Kelzy Ecard, dirigido por António Guedes (Teatro Pequeno Gesto), com produção de Dudu Sandroni e cenografia de Ney Madeira. A comovente história de uma mulher que vem do campo para a cidade grande e é acusada, apesar de inocente, de assassinato, reproduz a emoção que atravessa a escrita da escritora paulista Lygia Fagundes Telles. Ao longo de 60 minutos de espectáculo, Leontina torna-se vítima e autora de uma tragédia, retratando uma história de sobrevivência de uma mulher brasileira, igual a tantas outras. Órfã de pai e mãe aos 12 anos, Leontina revela um conjunto de valores humanos e mostra-se como uma brasileira sofredora. A miséria e o desamparo da prostituição são dois dos temas que fixam a dolorosa e quase indizível relação do homem com a vida. Como não ser solidário com Leontina que, ao revelar-se e ao encher o palco com a sua presença, conduz os espectadores para uma imensa aventura da vida alheia, da sua e da nossa própria vida. Escrito numa linguagem próxima do registo oral, coerente, aliás, com a personagem marginalizada, a

protagonista expressa-se livremente sobre tudo o que lhe aconteceu, desde os tempos de infância que permanecem tão actuais como o presente, até ao presente injusto e degradado. O “tempo em que era criança e morava em Olho d’Água” é o tempo que ainda se entranha no presente. À semelhança de outras obras de Lygia Fagundes Telles, a personagem é espontânea e o monólogo não obedece a uma ordem lógica. Pelo contrário, Leontina carrega um pesado fardo

O Salão Nobre recebe, de 8 a 19 de Novembro, “A Confissão de Leontina”, baseada no conto homónimo de Lygia Fagundes Telles (Prémio Camões, 2005). Um espectáculo estreado no Rio de Janeiro, aclamado pela crítica e onde se pode ver o poder do teatro e da literatura através do poder uma actriz Margarida Gil dos Reis

seus sentimentos e desejos. Esta depuração traduz-se também no cenário, montado com tecidos, que acompanha o ritmo da narração e utiliza durante o monólogo uma projecção de imagens fragmentadas, tal como as imagens que vão atravessando o pensamento de Leontina. A actriz Kelzy Ecard interpreta de forma intensa a personagem que, assumindo-se como uma mulher simples, não deixa de ter igualmente uma presença marcante.

Como não ser solidário com Leontina que, ao se revelar e ao encher o palco com a sua presença, conduz os espectadores para uma imensa aventura da vida alheia, da sua e da nossa própria vida de factos, imagens e memórias que partilha com o espectador. No fundo, fala-se também da tragédia da condição humana através de um testemunho da vida social, carregada de problemas existenciais. A plateia tem assim a possibilidade de se identificar com a personagem de Lygia Fagundes Telles, galardoada no ano passado com o Prémio Camões, e de se rever nos

Leontina é mais uma das personagens da galeria de Lygia Fagundes Telles que se revelam complexas no seu mundo interior mas que vão de encontro a uma autenticidade e a uma universalidade. Como se todos os caminhos de Leontina se cruzassem, de algum modo, com os nossos, em breves momentos de alegria ou sofrimento.

Ficha Artística TEXTO> Lygia Fagundes Telles ENCENAÇÃO> António Guedes PRODUÇÃO> Dudu Sandroni

“A Confissão de Leontina”

08a19 NOVEMBRO >

SALÃO NOBRE

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04

Hannah and Hanna

« Hannah e Hanna », um conto os nossos

para

dias

De 3 de Novembro a 30 de Dezembro, chega-nos “Hannah e Hanna”, de John Retallack. Uma história sobre o choque de mundos e de culturas, com um toque de diversão, encenada por António Feio Ricardo Paulouro O que têm em comum Britney Spears, Abba, karaoke, música pop, disco ou “a capella”? Todos estes diferentes estilos de música fazem parte desta peça e são, curiosamente, aquilo que une as duas protagonistas. “Hannah e Hanna”, uma obra de John Retallack, é um drama simples mas emocionalmente cativante que nos faz reflectir sobre os problemas do exílio, da imigração e das diferenças culturais. Hannah é uma jovem inglesa de 16 anos que simpatiza com a extrema direita local e não é receptiva, tal como a sua comunidade, à chegada de refugiados. O seu sonho é

ser rica. Hanna é uma refugiada do Kosovo que, com a sua mãe e o seu irmão, chegam a Margate em busca de refúgio e são confrontados com a falta de hospitalidade. Hanna sonha ser um dia farmacêutica. Quando Hannah se encontra com Hanna convencese de que a refugiada chegou para se apoderar do seu nome e da sua cidade, algo que dará origem a um conjunto de hostilidades. Os caminhos distintos destas duas adolescentes cruzam-se e, apesar das diferenças, só a paixão comum pela música as irá unir. Ambas partilharão um caminho de esperança e de crescimento interior e as diferenças

culturais que até então as afastavam, passarão a dar lugar a uma profícua troca de experiências. John Retallack, director da célebre companhia londrina Company of Angels, aborda nesta peça, através de aspectos mais lúdicos como a dança e a música, problemas da sociedade contemporânea. “Hannah e Hanna” desperta-nos para a necessidade de nos posicionarmos não como ilhas mas como habitantes do Mundo, convivendo com todas as diferenças que possamos encontrar. O espectador pode assistir às vivências de duas adolescentes e a uma relação de amizade

Um drama simples mas emocionalmente cativante que nos faz reflectir sobre os problemas do exílio, da imigração e das diferenças culturais

que, na sua simplicidade, se torna autêntica. Se aparentemente John Retallack escreveu esta peça para um público adolescente, ele explora um problema à escala mundial, isto é, o clima de tensão que nasce numa comunidade que recebe refugiados. Aborda-se uma questão socio-política actual que cruza momentos de alegria com momentos de tristeza. Esta é uma peça sobre o racismo e a exclusão que se transforma numa reflexão surpreendente pela forma como é formulada através da música, deixando-nos com uma mensagem de esperança no futuro.

Ficha Artística TEXTO> John Retallack ENCENAÇÃO> António Feio PRODUÇÃO> Teatro Nacional D. Maria II

“Hannah e Hanna”

03 NOVa30 DEZ >

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SALA GARRETT


Ciclo do Conheciment

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Jer / Ciclo do Conhecimento >

O Ensemble JER apresenta um programa constituído por grandes obras da música portuguesa. Diogo Melgás, Carlos Seixas, Manuel Cardoso ou Miguel de Leitão Andrade serão alguns dos autores que vão estar representados no projecto «Cozido à Portuguesa» Margarida Gil dos Reis

pelo

ensembleJER

Obras-primas da Música Nacional num Cozido à Portuguesa

O “Ensemble JER” apresenta no Teatro Nacional um espectáculo inovador, de 28 de Setembro a 1 de Outubro e de 5 a 8 de Outubro, às 19 horas, revisitando sonoridades marcantes da música portuguesa. No seu mais recente projecto, sob o título genérico de “Cozido à Portuguesa”, o Ensemble JER apresenta um programa constituído por grandes obras de autores portugueses, tais como: Manuel Cardoso e Diogo Melgás, ambos da famosa “Escola de Évora”, mas também Carlos Seixas, da “Escola de Coimbra”, ou outros paradigmas da música portuguesa como Miguel de Leitão Andrade. Destaque

ainda para o compositor contemporâneo convidado, Hugo Ribeiro. Do século XVII ao século XX, tudo cabe neste “cozido à portuguesa” que revisita a história de algumas escolas canónicas de composição portuguesas. O JER define-se como um conjunto de «artistas-músicos» e o seu trabalho é um manifesto de humor e ironia. Fundado em 1990 por José Eduardo Rocha (JER), o mentor do Ensemble com o seu nome, o JER retoma o conceito de Cage, “toy instruments”, e apresenta um repertório para instrumentos de plástico aplicado essencialmente à música erudita. Com mais de 100 espectáculos

realizados, quer em peças instrumentais ou Teatro Musical (originais e adaptações), a versatilidade dos elementos deste projecto leva-os a tocar instrumentos como violinos Chicco, melódica, corneta de plástico, sinos rústicos, apito-comboio de plástico, entre muitos outros. E não se espante o espectador se os elementos do grupo aparecerem vestidos ora como antigos soldados romanos, ora com pequenos fraques vermelhos. O humor e a fantasia aliados à liberdade de interpretação, onde as versões e os arranjos de obras-primas de música portuguesa se tornam surpreendentes.

Ficha Artística TEXTO> José Eduardo Rocha DIRECÇÃO> José Eduardo Rocha PRODUÇÃO> Ensemble JER

“Cozido à Portuguesa”

28 SETa08 OUT >

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SALÃO NOBRE

Entre o conhecimento e o obscurantismo De 16 de Outubro a 23 de Dezembro, o Teatro da Politécnica recebe uma trilogia que revisita “Os últimos dias” de Sócrates, Giordano Bruno e Galileu Galilei. Uma oportunidade para observar a vida e as convicções de três condenados que desbravaram os caminhos do conhecimento Margarida Gil dos Reis O Teatro Nacional apresenta, no espaço da Politécnica, um ciclo de três espectáculos que aborda o percurso daqueles que se podem considerar três espíritos livres. Os “últimos dias” da vida de Sócrates, Giordano Bruno e Galileu Galilei são apresentados numa mesma estrutura cénica, com um elenco comum aos três espectáculos. Com encenação de Amândio Pinheiro e produção de Catarina Melo, cenografia de Pedro C. Costa e figurinos de Carmo Stichini, os espectáculos tentarão reviver os últimos dias de vida de três das maiores personagens da História da humanidade. A escolha de Sócrates, Giordano Bruno e

Galileu Galilei, que dão o mote a cada peça, não foi aliás aleatória. Todos eles foram pensadores que reflectiram não só sobre o seu tempo, mas desbravaram também caminhos futuros em disciplinas como a Filosofia, a História, a Matemática, a Física, a Astronomia ou a Biologia. Sócrates foi um dos fundadores da Europa enquanto civilização, Giordano Bruno um humanista e Galilei um dos estruturadores do método científico. Os três foram condenados pelos homens e valores do seu tempo, mas lançaram as bases dos grandes paradigmas da modernidade que subsistem até aos nossos dias. Para Amândio

Pinheiro, “ao escolher estes três nomes, estes três processos, colocámos em cena frente a frente, o confronto entre conhecimento e obscurantismo”. Uma invocação que é também um retrato fiel dos procedimentos judiciais e penais da época, uma lição de vida onde a liberdade de pensamento “obedece a valores maiores que os do seu tempo” A expressão dos conflitos éticos da ciência e as consequências que os mesmos podem ter na vida das pessoas é abordado nesta trilogia onde o teatro se assume como um espaço privilegiado de cruzamentos entre as diferentes áreas do saber. E

este é um bom exemplo da função social da arte, colocando-nos frente a um palco onde a provocação social e a intervenção são fundamentais. Revive-se o duelo que cada uma das personagens travou com a sociedade do seu tempo e descobre-se que a ciência e a filosofia não são só dos cientistas e dos filósofos, mas sim uma responsabilidade de todos. Uma temática actual que investiga a relação da arte com a ciência e a filosofia e nos desperta também para o conjunto de responsabilidades que temos face ao rumo que o conhecimento pode ter na nossa civilização.


SALÃO NOBRE

“Cozido à Portuguesa” De José Eduardo Rocha 6 a 22 Outubro

SALA ESTÚDIO

“Anfitrião” De António José da Silva (O Judeu) 12 a 29 Outubro

SALA GARRETT

“Guerras de Alecrim e Manjerona” De António José da Silva (O Judeu)

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3 Nov. a 30 Dez.

SALA GARRETT

“Hannah & Hanna” De John Retallack 7 Nov. a 30 Dez.

SALA ESTÚDIO

TNDMII

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SET/DEZ

“Vermelho Transparente” De Jorge Guimarães

Teatro Nacional D. Maria II Encenação RUI MENDES

8 a 19 Novembro

SALÃO NOBRE

“A Confissão de Leontina” De Lygia Fagundes Telles

Dudu Sandroni Encenação ANTÓNIO GUEDES 16 Nov. a 30 Dez. <

PRODUÇÃO

28 Set. a 8 Out.

Teatro Nacional D. Maria II Encenação ANTÓNIO FEIO

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PRODUÇÃO

“Começar a Acabar” De Samuel Beckett

Teatro Nacional D. Maria II Encenação PAULO MATOS

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PRODUÇÃO

SALA ESTÚDIO

Teatro das Formas Animadas e Teatro Nacional de São João Criação MARCELO LAFONTANA <

CO-PRODUÇÃO

PRODUÇÃO

15 Set. a 1 Out.

Ensemble JER Direcção JOSÉ EDUARDO ROCHA <

PRODUÇÃO

“Os Encantos de Medeia” De António José da Silva (O Judeu)

Teatro Nacional D. Maria II, Os Crónicos e Teatro do Bolhão Encenação JOÃO LAGARTO <

CO-PRODUÇÃO

SALA GARRETT

Teatro de Marionetas do Porto e Teatro Nacional de São João Encenação JOÃO PAULO SEARA CARDOSO <

CO-PRODUÇÃO

14 a 24 Setembro

CO-PRODUÇÃO

SALA GARRETT

“A Casa da Lenha” De António Torrado

Teatro Nacional D. Maria II e Teatro da Comuna - Teatro de Pesquisa Encenação JOÃO MOTA


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