A ponte do Guaìba, Porto Alegre, Brasil.

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A capital gaúcha iniciou o seu povoamento na região entre as atuais Ponta do Gasômetro e praça da Alfândega, e se estendeu em direção à Zona Sul e, logo após, à Zona Norte, então zonas semi-rurais. Desde 1806, quando foi aberto o Caminho Novo (atual avenida Voluntários da Pátria), a área urbana e central que delimitava Porto Alegre passou a se comunicar com os municípios da Região Norte (Gravataí, Santo Antônio, Osório e Vacaria), desfrutando de um novo e belo passeio que margeava o lago, sendo, ao mesmo tempo, abastecida por meio dele. O Caminho Novo se tornou, após 1850, rota de um intenso tráfego de carretas dirigidas ao mercado público central. Foi neste eixo que o Navegantes se desenvolveu, ganhando impulso a partir da construção da estrada de ferro entre Porto Alegre, São Leopoldo ::3

(1874) e Novo Hamburgo (1876) e da abertura das primeiras ruas, a partir de 1870.

: : 3 Panorama da rua Voluntários da Pátria na década de 1910: vista do centro em direção ao arrabalde dos Navegantes.

Uma Travessia entre Margens e Vidas

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belecidos nas redondezas para dar suporte aos trabalhadores.

Fatores como o loteamento de algumas chácaras e a melho-

Operários locais e técnicos franceses e alemães tiveram os seus

ria dos transportes impulsionaram a densificação populacional

trabalhos acompanhados por engenheiros como Edmundo Régis

da região. Aproveitando a abundante mão-de-obra, a existência de

Bittencourt, o diretor do DNER, Ildo Meneguetti e Leonel Brizola,

vias férreas e a proximidade de pontos de atracação, ali se instala-

respectivamente governador do Estado e prefeito de Porto Alegre,

ram as primeiras indústrias, contribuindo para que o Navegantes

além do padre Arthur Wickert, da paróquia de Nossa Senhora dos

se afirmasse como o arrabalde operário da cidade na virada do

Navegantes, que visitaram habitualmente o canteiro de obras.

século. Essas primeiras fábricas eram pequenos e médios estabe-

A localização do trecho inicial da travessia no bairro

lecimentos que produziam para consumo interno, abastecendo

Navegantes e o seu prosseguimento nas ilhas provocaram altera-

com bens não duráveis a região colonial. Destacaram-se as indús-

ções não só sobre o aspecto físico da região, mas sobre o cotidiano

trias de fiação e tecidos, crescendo e ganhando renome nacional

de seus respectivos moradores. Ao longo de sua história, a região

fábricas como A. J. Renner & Cia. e Companhia Industrial Rio

do Navegantes sofreu grandes transformações físicas e sociais.

Guahyba, entre outras.

Inicialmente uma zona rural, fora dos limites urbanos da cidade,

A partir de 1926, quando foram estendidas redes de água até

local de fixação de residências de verão e chácaras de abastados

as residências do arrabalde, ocorreu um expressivo aumento da

portugueses e seus descendentes, cedeu lugar ao uso residencial

construção de moradias, sobretudo de madeira. Novos moradores

de classes menos privilegiadas, constituídas, sobretudo, por imi-

chegaram à região, entre os quais imigrantes europeus, fugindo

grantes, no século XIX.

das guerras na Europa. Entre estes estava o polonês Wasyl Trusz,


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