A existência de carvão favoreceu a implantação de ferrovias
O transporte aéreo entra em ação, em 1927, quando é implan-
e de um parque industrial. Em 1869, iniciou-se a construção da
tada a linha regular até Rio Grande, feita por hidroavião, pela recém-
linha ligando São Leopoldo, que foi expandida para Hamburgo-
criada Viação Aérea Rio Grandense, empresa que logo ganhou
Velho, Taquara e Canela. Em 1873, o império determinou a cons-
reconhecimento internacional. Para suporte deste sistema, surgem
trução da linha para Uruguaiana, que se ligou com a Rio Grande-
novas estruturas, os campos de aviação, e, logo, os aeroportos.
Bagé, chegando a Uruguaiana, em 1907. E pouco a pouco, foram
Durante o século XX, o Rio Grande consolida sua posição como
criados outros ramais, ligando as colônias à Zona Sul e fronteira
região celeiro e sofre grandes modificações em sua estrutura fun-
oeste, atingindo o Uruguai. O principal pólo ferroviário do interior
diária estabelecida. O cultivo de trigo e soja, com a introdução da
se consolidou em Santa Maria, uma cidade universitária estrate-
agricultura mecanizada, transforma regiões de minifúndio e gera
gicamente localizada no centro do Estado.
o êxodo rural. Populações se deslocam para áreas periféricas das
As primeiras locomotivas eram movidas a carvão, do tipo maria-fumaça, e cortavam lentamente a paisagem, deixando
“Caminante, no hay camino, se hace camino al andar”
24
uma região metropolitana.
atrás de si um rastro de fuligem negra, com chiados e apitos
No nordeste do Estado, se implantam pólos industriais meta-
característicos. Mais tarde, chegam os trens de luxo, com ar
lúrgicos, moveleiros e vinícolas. A Zona Sul e a fronteira mantêm,
condicionado, tracionados a diesel, como o Minuano e, depois,
principalmente, uma economia vinculada ao latifúndio e seus
o Húngaro.
pólos regionais recebem o excedente dos contingentes populacio-
As ligações rodoviárias eram bastante precárias até cerca de
: : 17 A formação histórico etnográfica do povo Riograndense. Pintura mural. Aldo Locatelli. 1951. Palácio Piratini.
cidades maiores e da própria capital, onde começa a se estruturar
nais em busca de empregos.
1950. O trajeto Rio Grande–Porto Alegre, por exemplo, levava dois
No entorno de Porto Alegre – centro administrativo e de ser-
dias, com trechos de terra e três balsas, até chegar ao trapiche da
viços –, surgem novas cidades e zonas industriais. Também se for-
Vila Assunção, na capital. Lentamente, foram implantadas novas
mam cinturões de pobreza, que passam a demandar infra-estru-
estradas, federais, estaduais, municipais, condicionando o destino
tura e transportes. A cidade cresce e se transforma, incorporando
das localidades por onde passavam ou por onde deixavam de
grandes edifícios e novas práticas sociais. Sucedem-se planos e
passar. O novo modelo rodoviário nacional se reflete no Estado.
projetos urbanos, grandes obras viárias com a abertura de radiais
As ferrovias começam a ser desativadas e as estruturas portuárias
e perimetrais, expansões e aterros. Novos sistemas de transporte
modificam sua forma de operar. A rede rodoviária se estrutura e
substituem os antigos bondes da Carris.
as estradas de chão vão sendo substituidas por asfalto. E novas
A capital é palco de ações, reações e manifestações – memo-
estradas, como a Free-Way, com duas faixas, constituem um
ráveis – ao sabor da conjuntura política local e nacional. É neste
marco na história rodoviária do Estado.
contexto que o velho anseio – a ponte do Guaíba – finalmente se
Ligando as novas vias foram construídas pontes. Nas frontei-
concretiza. Como o grande conector da metrópole com o mosaico
ras, as internacionais, algumas mais estilosas, como a de Jaguarão,
cultural do Estado, um monumento que articula, simbolicamente,
com o Uruguai, e a de Uruguaiana, com a Argentina, ou as mais
o Continente – as paisagens culturais, realidades e sonhos gaúchos
modernas, como a de Quaraí ou São Borja.
– a todo o Brasil.