Caderno Mostras Capixabas de Audiovisual 2004 -2010

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EXPEDIENTE Projeto editorial, reportagem e edição Carolina Ruas (MT - ES: 2681) Haroldo Lima Colaboração Paulo Gois Bastos Revisão e edição Carlos Calente Trindade Projeto gráfico, diagramação e ilustração Juliana Colli Tonini Juliana Lisboa Santana Fotografia Acervo Secult ES Instituto Parceiros do Bem Programa Rede Cultura Jovem Impressão Gráfica Lisboa Tiragem 1000 exemplares Vitória, novembro de 2010.


Depois de sete anos de trabalho intenso na execução de oficinas de audiovisual e na realização de Mostras competitivas, nas quais os participantes concorrem com suas respectivas criações, atingimos a marca de quarenta municípios envolvidos. São três regiões do Espírito Santo, - Caparaó, Centro-serrana e Noroeste - nas quais as mostras temáticas – Ambiental, Rural e Etnográfica – buscaram apoiar-se nos aspectos mais significativos da formação cultural de cada uma delas, a fim de estimular os jovens participantes a refletirem sobre suas condições de vida, seus potenciais, suas dificuldades e suas perspectivas para o futuro. E a arte audiovisual tem se mostrado um instrumento vigoroso para o exercício da consciência crítica e o fomento de um processo identitário e agregador de grande importância para cada uma dessas regiões. Tudo começou em Guaçui, na região do Caparaó, em 2004, onde se realizou a primeira mostra com a participação de onze municípios – MoVA Caparaó -, que com o tempo e os seus aprimoramentos inevitáveis desdobrou-se em três, dando origem ao projeto Mostra Capixaba de Audiovisual, apontando assim para a possibilidade de uma ampliação para todo o Estado do Espírito Santo. A Mostra Capixaba de Audiovisual compõe o Programa Rede Cultura Jovem apoiado no fomento à prática da atividade artística, na interação entre jovens de municípios e regiões diversas e na construção de uma rede social com foco na arte e na cultura. Consideramos fundamental o registro dessa atividade tão importante para os milhares de jovens envolvidos e que se tornou uma das principais estratégias da política cultural voltada à juventude da Secretaria de Estado da Cultura, visando ao reconhecimento de suas diferentes identidades e à articulação da diversidade que caracteriza o nosso Estado.

Dayse Maria Oslegher Lemos Secretária de Estado da Cultura do Espírito Santo




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sumÁrio Por uma cultura audiovisual jovem

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Enfileirando histórias

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MCA Ambiental MoVA Caparaó

14 Vídeos Premiados

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Prêmio Cultura Viva

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Cama e Café

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Oficinas

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MCA Rural

42 Vídeos Premiados

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Programa de Valorização da Juventude

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MCA Etnográfica

54 Vídeos Premiados

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Estratégias em Rede - Cultura Jovem

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Mural da Juventude

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Mural Institucional

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Uma câmera no campo - Alex Reblim Braun

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Experiências somadas - Victor Hugo M. Azevedo

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Protagonismo Sustentável - Geraldo Dutra

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Lista de vídeos produzidos no projeto MCA

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Murais

Crônica Entrevistas


POR UMA CULTURA AUDIOVISUAL JOVEM

Na atualidade, todos nós, de alguma forma, somos afetados por uma cultura audiovisual. O nosso cotidiano está impregnado de narrativas audiovisuais e temos a TV como principal meio de acesso a essas produções culturais. Esses conteúdos têm ganhado espaços e janelas para além do veículo televisivo e, da mesma forma que se ampliam as possibilidades de telas, são cada vez mais 10

acessíveis os aparelhos de captura em vídeo. Simultaneamente, a tecnologia digital facilita o acesso aos canais de circulação e aos meios técnicos necessários à produção audiovisual. Isso é materializado quando percebemos que qualquer portador de um celular com câmera é um potencial videomaker que pode disponibilizar o seu registro em um repositório de vídeos na Internet. Essas potencialidades tecnológicas são um dos aspectos que fazem do audiovisual uma vivência cultural cada vez mais presente no nosso cotidiano.


Porém, essa cultura audiovisual ainda organiza-se de modo a sustentar a existência de centros difusores de conteúdos responsáveis por perpetuar imaginários estereotipados a respeito das diversas realidades juvenis, especialmente sobre aqueles segmentos que se encontram mais afastados dos centros urbanos e que ainda estão pouco familiarizados com as novas formas de produção e circulação cultural. Por outro lado, percebemos que os conteúdos midiáticos são cada vez mais acessados via compartilhamento nas redes sociais da web. Trata-se de um circuito de criação e difusão cultural regido pela horizontalidade e pela colaboratividade. Lançado em novembro de 2009, o Programa Rede Cultura Jovem (PRCJ) aposta nas lógicas das redes virtuais como forma de acesso aos bens simbólicos de interesse das diversas juventudes capixabas. O Programa nasceu com uma audaciosa e apaixonante missão: ser o catalizador de uma rede formada por jovens, de alguma forma, vinculados à produção artístico-cultural. O PRCJ aposta na experimentação cultural enquanto campo propício ao encontro com o outro, à reflexão sobre realidade local e ao contato criativo com a pluralidade de crenças e expressões. Trata-se de um conjunto de ações que busca fortalecer as manifestações e interesses dos jovens por meio do incentivo à capacitação, da realização de atividades temáticas e, principalmente, da promoção do diálogo entre os diferentes grupos juvenis envolvidos com a produção artístico-cultural no Estado. Com as Mostras Capixabas de Audiovisual (MCA), o Programa faz dessa


linguagem a mediadora de um rico intercâmbio entre os jovens dos 40 municípios abrangidos por essa ação. Essas vivências são iniciadas com as oficinas de realização, têm o seu ponto máximo com os dias de Mostra e continuam a ecoar na vida dos jovens realizadores durante as MCA’s Itinerantes. A intensa interação e a troca de contatos possibilitadas ao longo de todo esse processo também geram repercussões criativas no cotidiano do público envolvido nessa ação. O trabalho de criação possibilitado pelas Mostras requer que os jovens negociem suas escolhas e trabalhem em equipe a fim de construírem um produto audiovisual. Esse tipo de registro solicita que os realizadores, além de exercitarem o trabalho coletivo, passem a dar mais atenção a aspectos da sua realidade local. 12

Nas atividades paralelas à mostra competitiva são promovidos o contato com outros usos do audiovisual e o aprofundamento de conhecimentos relacionados a esse fazer artístico. Isso amplia os possíveis campos de atuação e aproxima os jovens realizadores de outras técnicas, aplicações e estéticas do audiovisual. Algumas oficinas específicas promovem o contato com ferramentas disponíveis nas redes socais da web que permitem a esse público continuar fazendo parte


da mobilização em torno das MCA’s, a divulgar as suas produções para outras redes e a estabelecer canais para compartilhamento das suas criações futuras. Durante os debates que acontecem nas Mostras, os jovens realizadores relatam as suas experiências de produção e falam de como exercitaram um novo olhar sobre os temas escolhidos para os seus respectivos documentários. É durante a realização dos vídeos que alguns deles, pela primeira vez, ensaiam uma reflexão sobre o seu entorno. Nessas conversas, os realizadores justificam suas escolhas, comparam o tratamento dado aos seus temas e refletem sobre as construções narrativas. São espaços que funcionam como uma curiosa e crítica audiência feita pelos próprios jovens realizadores. Nesses bate-papos, acontece, de maneira simultânea, um potente processo de identificação e diferenciação: os jovens se identificam pela experiência comum de produzir audiovisual; e se diferenciam pela narrativa singular construída por cada um dos grupos de realizadores. Assim, os relatos de experiência mesclam-se às narrativas audiovisuais e o que aconteceu por trás das câmeras passa a tomar o primeiro plano. Dessa forma, a experiência audiovisual, para além das escolhas estéticas, é o meio de e para onde o diálogo entre aqueles jovens acontece. Mesmo com o visível e animado espírito de competição que rege as Mostras, o que mais comparece são os intercâmbios e o estabelecimento de parcerias. Nesses espaços regidos por uma informalidade juvenil, percebemos a constituição de sujeitos conscientes de sua autonomia criativa e capazes de afetar, de forma autêntica, a cultura audiovisual na qual estamos imersos.

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ENFILEIRANDO HISTÓRIAS Mostras Capixabas de Audiovisual No ano de 1859, quando o Imperador Dom Pedro II ordenou que fincassem uma bandeira no ponto mais elevado da região que margeia a costa brasileira, demarcando assim o Pico da Bandeira, localizado no município de Ibitirama, o regente não poderia imaginar que em nossos dias, a brisa que sopra no Caparaó teria o cheiro de uma linguagem que no alto Brasil Império não poderia ser pressentida: o audiovisual. Quase cento e cinqüenta anos após a primeira bandeira, a Secretaria de Cultura do Estado do Espírito Santo, em 2004, fincou outra, e desde então, com o projeto Mostras Capixabas de Audiovisual (MCA), vem repercutindo olhares e reflexões da juventude do Estado sobre preservação ambiental e sustentabilidade, além de buscar a elevação do sentimento de pertencimento dos moradores da Região do Parque Nacional do Caparaó, com a Mostra Ambiental – MoVA Caparaó, e das regiões Serrana e do Noroeste capixaba, com as Mostras Rural e 14

Etnográfica. Criada a partir de uma iniciativa da Secretaria de Cultura, do Consórcio Caparaó e das prefeituras dos municípios do entorno do Parque Nacional do Caparaó, a MCA Ambiental – MoVA Caparaó foi pensada como uma política de cultura e educação difusora da experiência e da prática do audiovisual em municípios do interior do Espírito Santo que não possuem salas de cinema. Além de incentivar discussões sobre a preservação ambiental na região do Parque, um dos objetivos centrais da MCA Ambiental era promover as potencialidades eco-turísticas da região. Com alto potencial para a exploração da atividade, a


parte capixaba que compõe o Parque Nacional do Caparaó até 1998 não possuía acesso ao Pico da Bandeira, impossibilitando que o turismo fosse explorado nos municípios do Espírito Santo. Durante seis anos a MCA Ambiental foi o protótipo de sucesso para que a expansão do projeto, que aconteceu em 2009, com a criação das MCA’s Rural e Etnográfica, pudesse abranger quarenta municípios com perfis semelhantes aos do da região do Caparaó - potencial turístico, ausência de salas de cinema e outras atividades culturais e oportunidades de desenvolvimento humano por conta da escassez de meios de capacitação. Em parceria com o Projeto Rede Cultura Jovem (PRCJ), iniciativa criada em 2009 pela Secretaria de Cultura e apoiada pelo Instituto Sincades, as Mostras Capixabas de Audiovisual integram-se à um projeto de governo que busca ampliar os sentidos e valorizar a juventude, impulsionando os valores de seu universo simbólico e fortalecendo suas manifestações e interesses culturais por meio de estratégias de capacitação que possam enriquecer e fazer do jovem o agente transformador da sociedade capixaba e brasileira. Construindo uma rede que aos poucos possa integrar a juventude do Espírito Santo em uma iniciativa inédita de desenvolvimento voltado à valorização e preservação de nossa cultura e riquezas naturais, a MCA segue para seu terceiro ano de existência em 2011. Com a perspectiva de ampliação para outras regiões e o objetivo de abranger os setenta e oito municípios do Estado em alguns anos, o projeto investe na capacitação humana com um olhar intramuros. O que procuramos mostrar aqui é um pouco da experiência e da história desses anos de MCA Ambiental – MoVA Caparaó, e seu desdobramento nas jovens MCA’s Rural e Etnográfica.

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MCA Ambiental MoVA Capara贸


A MCA Ambiental - MoVA Caparaó - é uma mostra de vídeos ambientais que acontece desde 2004 nas onze cidades do Caparaó Capixaba. Provocar reflexões sobre desenvolvimento sustentável e a riqueza cultural do lado capixaba do Parque Nacional do Caparaó são seus principais objetivos.


alto do caparAó

Se forças políticas impossibilitaram que movimentos surgidos no Caparaó nos anos 60 mudassem o rumo no qual o Brasil caminhou por mais de vinte anos, em 2004, a articulação de agentes da administração pública e entidades civis, coordenadas pela Secretaria de Estado da Cultura – por meio da coordenadora de Cinema e Vídeo Margarete Taqueti – e pelo Consórcio Intermunicipal do Caparaó – entidade sem fins lucrativos formada pelos municípios do Parque Nacional do Caparaó com o intuito de garantir o desenvolvimento sócio-econômico, cultural e a preservação da região –, criou a Mostra de Vídeo Ambiental do Caparaó – MoVA Caparaó. Um projeto que, por meio do audiovisual, contribuísse para a unificação e desenvolvimento da região e que trouxe consigo novas possibilidades transformadoras. A construção de uma iniciativa como a MoVA Caparaó não é um trabalho para poucas mãos. É uma história que atravessa a vida de muitas pessoas e os sentimentos de toda uma comunidade. Antes das primeiras imagens rolarem em 2004 na tela do Teatro Municipal Fernando Torres, em Guaçuí, na primeira edição do evento, era latente entre as comunidades e lideranças do Caparaó a necessidade de um projeto que pudesse resgatar o potencial do Parque, e também incentivar a cultura como alternativa para o desenvolvimento da região. E


que, além disso, no processo de resgatar as histórias e reflexões destas pessoas e lugares, instituísse os habitantes dos municípios, principalmente os jovens, como protagonistas da empreitada. O projeto da MCA nasceu não só pela inserção de uma ação de desenvolvimento sustentável no Governo do Estado, mas também pela necessidade de criar atividades lúdico-culturais que pudessem unificar as políticas do meio ambiente e provessem espaços para a participação maior da região no mapa turístico capixaba No que concerne à sua programação, a MCA Ambiental surgiu como uma mostra nacional de vídeos ambientais, com diversas outras atividades de caráter prático e reflexivo acontecendo simultaneamente, como oficinas, mesas de discussão e exibições de vídeo paralelas à Mostra Competitiva. Desde sua primeira edição, Alegre, Divino São Lourenço, Dores do Rio Preto, Guaçuí, Ibatiba, Ibitirama, Irupi, Iúna, Jerônimo Monteiro, Muniz Freire e São José do Calçado alternam-se como sede do evento. Além de se criar um espaço de discussão, a cada ano, com roteiro e equipamentos de filmagem em punho, os onze grupos de jovens realizadores selecionados nas escolas de seus municípios produzem os vídeos que serão exibidos em competição. O que faz destes jovens os principais agentes da Mostra. A I MoVA Caparaó, realizada em novembro de 2004 no Teatro Municipal de Guaçuí, marcou os municípios do Parque Nacional pela diversidade apresentada nas produções exibidas durante os quatro dias em que o evento aconteceu. Como atividade principal, uma Mostra Competitiva Nacional exibiu produções capixabas e vídeos selecionados de diversas regiões do país. Em paralelo, na Mostra de Vídeo Convidada, produções internacionais e vídeos premiados no Festival Nacional de Cinema e Vídeo Ecológico (Ecocine 2004) e no Festival Nacional de Vídeo Ambiental (Fica), além de mesas de discussão, debates e atividades e apresentações culturais, fomentavam o debate da preservação ambiental.

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Os onze grupos de jovens realizadores selecionados nas escolas de seus municípios produzem os vídeos que serão exibidos em competição. O que faz destes jovens os principais agentes da Mostra

Foram premiados com o troféu Pico da Bandeira na categoria Melhor Vídeo – júri oficial e júri popular – a produção Lobo Solitário (PR/ 2001, 15’), de Silvana Corona, , e como Melhor Vídeo Capixaba, Ortlieb (ES/ 2002, 13’), de Tatiana Wuo e Elisângela Bello. O vídeo de Tatiana e Elizângela é um documentário que retrata as transformações sofridas pela população e os impactos causados ao meio-ambiente com a construção de uma usina hidrelétrica em Itueta, cidade mineira

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que foi inundada pela represa, desaparecendo do mapa. Para Tatiana Wuo, a produção audiovisual voltada para o meio ambiente “além de agir como mecanismo de conscientização, pode contribuir para a documentação de histórias que vêm sendo atropeladas pelo progresso”. O curta Mangue e Tal (ES/2002, 7’), produzido por 150 alunos de escolas da rede municipal de ensino de Vitória por meio do projeto Anima Azul, do Instituto Marlin Azul foi lembrado pelo MoVA, levando uma Menção Honrosa. De acordo com Sáskia Sá, profissional do audiovisual e integrante da As-


sociação Brasileira de Documentaristas e Curtas Metragistas – ABD Capixaba – , “quaisquer que sejam as formas que propiciem acesso ao cinema, principalmente ao cinema brasileiro e à cinematografias diferenciadas que tenham como característica a diversidade, são importantes”. Sáskia também pontua que “só a formação pontual do público não é suficiente, é preciso que seja dada oportunidade para que este público se organize e encontre suas próprias possibilidades”. O que tem se concretizado, principalmente, no Município de Muniz Freire. Nesse município, a passagem da MoVA foi tão impactante que se criou um Núcleo de Audiovisual Permanente, que funciona na Casa da Cultura e faz vários projetos com as escolas, tendo produzido documentários e, inclusive, um longa-metragem, La Serena, dirigido por Giandro Gomes. E, segundo a Secretária Municipal de Educação, Cultura, Desporto e Turismo de Muniz Freire, Roseane de Souza Ribeiro, isso se iniciou “quando a comunidade se integrou no projeto da MoVA”.


Itinerâncias Em continuidade aos trabalhos da I MoVA e esquentando os tambores para a segunda edição da Mostra, em 2005, o projeto MoVA Itinerante, uma versão compacta da Mostra realizada em Guaçuí, rodou os municípios do Caparaó com exibição de vídeos da programação do ano anterior, atividades para educadores da região voltadas à aplicação do audiovisual na sala de aula e as primeiras oficinas de produção para os jovens das cidades do entorno capixaba do Parque Nacional. Os vídeos produzidos na MoVA Itinerante culminaram na I Mostra Caparaoense, inserida na programação da II Mova, com sede compartilhada nas cidades de Ibitirama, Iúna e Irupí. A MoVA Itinerante surge da necessidade de levar aos públicos que não puderam comparecer à Guaçuí a ideia de integração e de construção de pertencimento da Mostra e a possibilidade do fazer audiovisual por meio das oficinas. Segundo Marcelo Siqueira, Assessor de Formação Artística e Cultural da Secult, “a partir da itinerância da MoVA, o jovem passou a ser o fio condutor do acervo histórico, social e turístico da região; o que os moradores das cidades chamavam de “causos”, logo que a MoVA rodou pelos 22

municípios pela primeira vez começaram a chamar de “causos audiovisuais’”. Apesar do sucesso dessa edição da Mostra Itinerante, a iniciativa não se repetiu durante os anos seguintes. Só em 2010, após a MCA Etnográfica, em Pancas, o projeto foi retomado. Para Leonardo Gomes, Presidente do Instituto Parceiros do Bem, “ele nunca deveria ter sido abandonado, pois fecha os trabalhos com chave de ouro”. A Mostra Itinerante, como se configura atualmente, tem o objetivo de levar para mais cidades do Estado os filmes que passaram nas MCA’s, aumentando assim o seu escopo de visibilidade para um público que


não teria a possibilidade de entrar em contato com esses produtos realizados muitas vezes em suas próprias cidades. Para tanto, são levados equipamentos de exibição para as localidades que receberão a Mostra, enquanto os municípios mobilizam os alunos das escolas locais e oferecem lugar para a projeção, normalmente um pequeno auditório local. São exibidos os três filmes vencedores da MCA e também aquele que foi produzido na própria cidade. A recepção da Mostra Itinerante feita a partir da reformulação do projeto foi tão positiva que a ação terá continuidade em todas as versões das MCA’s. Segundo Leonardo, com essas exibições, as famílias dos jovens realizadores conseguiram conferir o trabalho em sua própria cidade, assim como os personagens das obras e toda a população do município, que é chamado a participar através de uma ampla divulgação. Dessa forma, a Mostra Itinerante faz circular no Estado as reflexões audiovisuais produzidas por alguns dos seus próprios jovens e também estimula a curiosidade e o interesse naqueles que ainda não tiveram contato com o audiovisual.


Caparaoense A programação da II MoVA, além de contar com a Mostra Competitiva Nacional, a Mostra de Vídeos Ambientais Convidada, mesas redondas, oficinas de fomento à atividade cineclubista e uma homenagem ao cineasta e crítico capixaba Amylton de Almeida, inaugurou a série Mostra Caparaoense. Composta pelos seis vídeos produzidos por jovens do Caparaó durante as oficinas da MoVA Itinerante, a Mostra Caparaoense sinalizou o formato que as MCA’s adotariam em 2009, com a programação voltada para a produção dos jovens das regiões em que estão inseridos. Os jovens assistiam a filmes de várias partes do mundo e do Brasil, mas não possuíam contato com experiências audiovisuais da região. Marcelo Siqueira cita a importância de preservar a memória local, fundamental para que o projeto fosse vitorioso, além de criar uma oportunidade para que os jovens se identificassem, localizando suas paisagens geográficas e culturais para fortalecer a auto estima por meio dos vídeos exibidos. A consolidação de um projeto da amplitude da MoVA Caparaó só é possível se o esforço dos poderes forem refletidos nas comunidades em que 24

estão inseridos. A iniciativa de integrar jovens caparaoenses na produção do audiovisual possibilitou outra dimensão para a Mostra. Permeado por grandes ambições em seu começo, aos poucos o projeto foi refilado para alçar os voos que faz hoje. A manutenção das discussões e a exibição e competição de vídeos, aliada às reflexões trazidas por produções oriundas das oficinas possibilitou que, em 2006, meses antes da terceira edição da MoVA, a Secretaria de Cultura do Estado recebesse o prêmio de segundo lugar na categoria Gestão Pública do I Prêmio Cultura Viva. Com o tema ‘Cultura e Cidadania’, a iniciativa do Ministério


da Cultura, apoiada pela Petrobrás, premiou as ações culturais que valorizam a cultura brasileira como meio de construção da identidade regional. Assim, a MoVA, legitimada na região do Caparaó e em todo o estado, com o Prêmio Cultura Viva passou a ser reconhecida pela sua dimensão e importância em todo o Brasil. Para a Secretária de Estado da Cultura, Dayse Lemos, “a importante premiação da MoVA Caparaó em 2006 aconteceu porque o evento buscou fortalecer os conceitos de identidade local e do fazer cultural, em sintonia com as idéias que o Prêmio visa estimular, sendo, além disso, uma experiência que pode ser replicado no Estado (como já acontece) e mesmo no resto do Brasil”. Foi na terceira edição da MoVA, em Pedra Menina, Dores do Rio Preto, em 2006, com a criação da Mostra Competitiva Caparaoense que foram firmadas as parcerias com as escolas dos onze municípios do Caparaó. Cerca de um mês antes da Mostra acontecer, cada cidade da região seleciona um grupo de vinte alunos para participar das oficinas de vídeo que devem originar os onze vídeos concorrentes na Mostra. As oficinas funcionam como iniciação à prática audiovisual e objetivam a construção de olhares sobre a região do Parque são também uma oportunidade para que a juventude tenha o audiovisual como forma de refletir sobre suas interações com o mundo. Nelas, os jovens escolhem o argumento, criam o roteiro, aprendem a manusear os equipamentos que serão usados nas filmagens e produzem o vídeo.

Além de criar uma oportunidade para que os jovens se identificassem, localizando suas paisagens geográficas e culturais para fortalecer a auto estima por meio dos vídeos exibidos

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Segundo João Moraes, do Instituto Parceiros do Bem, responsável por ações de produção – em parceria com o Canal Brasil nas MoVAs de 2006 e 2007 – e execução das Mostras e oficinas de produção em vídeo, além de outras oficinas

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A organização da MoVA montou uma grande tenda no distrito de Pedra Menina. Por meio do projeto turístico Cama e Café, uma dos principais ferramentas de desenvolvimento sustentável na região do Caparaó

que acontecem durante a Mostra, foi a partir de 2006, “com olhar introspectivo, com a visão intramuros que a comunidade pensa a sua região pela linguagem do audiovisual” que o formato estabelecido a partir das MCA’s de 2009 tomou forma. Para abrigar as sessões da Mostra Internacional, Mostra Animação, Mostra Competitiva Nacional e a I Mostra Competitiva Caparaoense, a organização da MoVA montou uma grande tenda no distrito de Pedra Menina. Por meio do projeto turístico Cama e Café, uma dos principais ferramentas de desenvolvimento sustentável na região do Caparaó, os 80 participantes de outras cidades que compareceram à Mostra foram alojados em residências e pousados do entorno da cidade. Dalva Ringuier, Secretária Executiva do Consórcio Caparaó, pontua que “o aproveitamento do projeto Cama e Café, iniciado com a abertura da Portaria Capixaba do Parque, radicalizou a maneira como os moradores da região interagem com o fluxo de turistas que começou a crescer nesta década. Uma ferramenta importante usada para aquecer a economia da região e que otimizou a execução das Mostras em cidades que não contavam com estrutura para abrigar os participantes da MoVA”. O mesmo aconteceu na IV edição da MoVA, em 2007, realizada no distrito de Patrimônio da Penha, em Divino de São Lourenço. Com uma programação inflada de atividades que extrapolam o audiovisual, como apresentação de Folia de Reis, de cantigas de roda e de bandas de congo, desfile de charretes e carros de bois, além de espaço para exposição do artesanato produzido na região, a IV MoVA é lembrada com carinho pelos organizadores do evento e moradores de Patrimônio da Penha pelas suas proporções e pela movimentação que causou na cidade.


Novos Projetos Muniz Freire e Alegre, sedes do evento em 2008 e 2009, foram decisivas para a nova formatação da MoVA. Mantendo ainda uma grande estrutura, como a das Mostras anteriores, percebeu-se que um direcionamento para a juventude local talvez fosse a saída para que o projeto se consolidasse em um dos seus objetivos centrais: fomentar a produção audiovisual dos jovens caparaoenses e aproximar ainda mais a população do entorno do Parque à realidade da região, seja pelas belezas naturais ou pelos seus problemas ambientais.


Como dito anteriormente, a realização do MoVA teve um grande impacto no município de Muniz Freire, fazendo aflorar ali um espírito que se abre para as possibilidades de realização de projetos na cidade e acabando com a idéia de que não há nada para se fazer por lá. “Os projetos mexem com a auto estima do pessoal, nós vemos as pessoas gostando. Todos participam e têm para todas as idades, todas as classes sociais. As coisas estão fluindo”, diz Roseane de Souza Ribeiro, Secretária Municipal de Educação Cultura Desporto e Turismo do município. Já o prefeito, Delson Oliveira, acredita que o MoVA é uma forma de integrar a região do Caparaó através da cultura, da inter-relação e da troca de experiências. Para ele, “essa produção audiovisual não faz só a integração da região, mas também a divulga para o resto do Estado e do Brasil, aumentando assim o turismo local e o sentimento de pertencimento da população”. De volta à cidade que abrigou a primeira MoVA, a VII edição do evento aconteceu em Guaçuí, entre os dias 15 e 18 de setembro de 2010. Repaginada, agora com o nome MCA Ambiental – MoVA Caparaó, chegou à cidade com um espaço de vivência na parte externa do Teatro Municipal Fernando Torres, ao lado do local de projeção ao ar livre que levou à Guaçuí produções do cinema nacional em película. Além de shows de artistas da região, a MCA Ambiental 28

montou um aquário conectado à Internet onde foram oferecidas oficinas de redes sociais e ferramentas de comunicação na web. Enquanto as exibições aconteciam no interior do Teatro, no Centro Cultural Solar Jurema Moret-sohn em uma escola do município eram oferecidas oficinas de animação, atuação e fotografia. Também no Teatro foram lançados os vídeos produzidos para a VII MCA Ambiental – MoVA Caparaó em sessões lotadas. No meio da tarde, mais de 300 pessoas, entre jovens realizadores e moradores da cidade, disputavam lugares


para assistir às sessões que mostraram a diversidade cultural e as iniciativas ambientais capturadas pelos jovens da região. Para o Prefeito de Guaçuí, Vagner Rodrigues, a mostra levou um aprendizado a respeito da cultura e das coisas que podem ser feitas, principalmente para os jovens do município. “A partir da MoVA o jovem tem outro pensamento”, conclui, reiterando a importância da Mostra para o desenvolvimento cultural e principalmente humano da região.

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A MoVA é minha vida Nosso Deus fez esse mundo recheado de belezas Fez os remansos dos rios, queda d’agua e correntezas Fez a MoVA para todos, sol e chuva no sertão Fez os vales e colinas, verdes matas e campinas, Deus é minha inspiração A MoVA é minha vida, a MoVA é minha paixão Tatuada no meu peito, gravada no coração Não tem coisa mais bonita que o luar deste rincão Ver as montanhas cobertas com o branco da serração O despertador tocando no meio da madrugada Ouço o berrante tocando e a MoVA registrando o mugido da boiada *Música do videoclipe produzido na oficina da VII MCA Ambiental - MoVA Caparaó

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Vídeos PREMIADOS I MoVA Caparaó - Guaçuí, 2004 Melhor Vídeo Mostra Competitiva Nacional - Júri oficial e Júri popular: Lobo Solitário (PR) - Direção Silvana Corona; Melhor Vídeo Capixaba: Ortlieb (ES) - Direção de Tatiana Wuo e Elisângela Bello; Menção honrosa: Mangue e Tal (ES) - Instituto Marlin Azul;

II MoVA Caparaó - Irupi, Iúna, Ibitirama, 2005 Melhor Vídeo Mostra Competitiva Nacional - Júri Oficial: Para ¿Onde Está America Latina? Uma Mina de ouro em PuelMapu (SP) - Direção de Pedro Dantas; Melhor Vídeo Mostra Competitiva Nacional - Júri Popular: O moleque (SP) - Direção de Ari Candido Fernandes; 32

III MoVA Caparaó – Pedra Menina, Dores do Rio Preto, 2006 Melhor Vídeo Mostra Competitiva Nacional - Júri Oficial: Governança - Nossa Relação com o Poder (SP) - Direção de Júlio Wainer; Melhor Vídeo Mostra Competitiva Nacional - Júri Popular: Peixe Frito (GO) - Direção de Ricardo Podestá; Melhor Vídeo Capixaba: O Homem que Não Pode Responder por Sua Própria Existência (ES) - Direção de Gui Castor; Menção Honrosa: Júnior (RJ) - Direção de Priscilla Botto e Christian Steinhauser; Menção Honrosa - Imbé gikegü - Cheiro de Pequi (MT) - Direção de Tarumã e Maricá Kuikuro


IV MoVA Caparaó – Divino São Lourenço, Patrimônio da Penha, 2007 Melhor Vídeo Mostra Competitiva Nacional - Júri Oficial: Kollasuyo - A Guerra do Gás (SP) - Direção de Pedro Dantas; Melhor Vídeo Mostra Competitiva Caparaoense: Usina São José - Um Sonho (São José do Calçado);

V MoVA Caparaó - Muniz Freire, 2008 Melhor Vídeo Mostra Competitiva Nacional - Júri Oficial: Terra Livre (PE) - Direção de Ernesto Teodósio do coletivo Telephone Colorido. Melhor Vídeo Mostra Competitiva Nacional - Júri Popular: Ecos da Terra (SP) - Direção de Paulo Abel Baraldi; Menção Honrosa Mostra Competitiva Nacional - Júri Oficial: Até Onde a Vista Alcança (PE) - Direção de Felipe P. Calheiros; Melhor Vídeo Mostra Competitiva Caparaoense: Samba da Saudade (Iúna); Menção Honrosa Mostra Competitiva Caparaoense: Loló (Ibitirama);

VI MoVA Caparaó - Alegre, 2009 Melhor Vídeo Mostra Competitiva Nacional - Júri Oficial: O Pesadelo é Azul (GO) - Direção de Ângelo Lima; Melhor Vídeo Mostra Competitiva Nacional - Júri Popular: Antes que a Casa Caia (RJ) - Instituto Humanomar Araruama; Melhor Vídeo Mostra Competitiva Caparaoense: Feliz Lembrança (Alegre);

VII MCA Ambiental - MoVA Caparaó, Guaçuí, 2010 Melhor Vídeo - Júri Oficial: Comunidade Bio-Iluminada (Jerônimo Monteiro); Melhor Vídeo - Júri Popular: O Caminho da Glória (Muniz Freire); Melhor Edição - Júri Oficial: Caminho Imperial (Iúna); Melhor Roteiro - Júri Oficial: Vai Rasgando (Ibatiba).

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PRÊMIO CULTURA VIVA Projeto MoVA Caparaó

Criado em dezembro de 2005 pelo Ministério da Cultura, sob coordenação técnica do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec) e patrocínio da Petrobras, o Prêmio Cultura Viva mobilizou cerca de 1500 iniciativas culturais geridas pelos governos e sociedade civil. Realizada em 2006, a primeira edição do Prêmio concedeu o segundo lugar na categoria Gestão Pública ao projeto MoVA Caparaó. Com o objetivo de favorecer o conhecimento da riqueza e da diversidade cultural do Brasil, além de mobilizar, reconhecer e dar visibilidade às políticas culturais, o Prêmio Cultura Viva validou a iniciativa da MCA Ambiental de promover o debate da sustentabilidade entre os jovens da região do Parque Nacional do Caparaó ao colocar em pauta as potencialidades turísticas, culturais e ambientais da região por meio do audiovisual. Poucos meses antes da terceira edição do projeto, que aconteceria no distrito de Pedra Menina, em Dores do Rio Preto, o Cultura Viva laureou o projeto 34

pelas duas primeiras MoVAs e, principalmente, pelas potencialidades do projeto no futuro. Ao designar os jovens caparaoenses como público alvo e protagonistas do projeto, o que aos poucos se tornava evidente pelo resultado das oficinas a cada edição do evento, ampliou-se o raio de ação da produção e difusão cultural entre os moradores do Caparaó. E a partir de 2009 o projeto foi expandido para outras partes do Espírito Santo, permitindo que os jovens se apropriassem dos instrumentos técnicos e reflexivos capazes de romper a paralisia causada pela inexistência de


métodos e iniciativas que impedem uma postura crítica diante do mundo. Focado em regiões do Estado de riqueza cultural e étnica, mas com fragilidades econômicas e sociais aparentes, o projeto Mostras Capixabas de Audiovisual é uma vertente de uma política de cultura e educação estendida por várias ações da última gestão do Governo do Espírito Santo centrada na formação do jovem como transformador de seu meio social. Uma política que acompanha o futuro promissor que tem sido anunciada no Espírito Santo na última década. Como política pública de cultural, as MCA só podem ser um sucesso, como aponta o Coordenador do Prêmio Cultura Viva, Célio Turino, publicado no livro da primeira edição do Prêmio, “porque convida as pessoas a refletirem sobre sua realidade. Forma consciências, oferece alternativas, amplia o repertório cultural do povo. Informa, democratiza o conhecimento, respeita as diferenças, formata a produção criativa”. Turino enfatiza que projetos de gestão cultural como a MCA “tem como alicerce o desenvolvimento efetivo dos conceitos de patrimônio cultural, formação, informação, criação, distribuição e acesso. E que uma gestão profissional e competente deve apresentar uma conduta pública coerente na qual os conceitos e as políticas apresentadas à sociedade permitam o debate, transformando-o em realizações e conquistas da cidadania”. Ao apostar no potencial criativo e transformador da juventude do Espírito Santo, a MCA, como política pública, aposta também na construção de um Estado mais forte e mais unificado, que propicia, através das produções desses

Poucos meses antes da terceira edição do projeto, que aconteceria no distrito de Pedra Menina, em Dores do Rio Preto, o Cultura Viva laureou o projeto pelas duas primeiras MoVAs e, principalmente, pelas potencialidades do projeto no futuro

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jovens, o diálogo entre diversos grupos sociais que estão refletindo sobre suas relações entre si e com o ambiente em que vivem. Dessa forma, segundo Erlon José Paschoal, Subsecretário de Estado da Cultura e Coordenador do Rede Cultura Jovem, “a Mostra cria novas possibilidades de relacionamento, não só entre os jovens de uma dada comunidade, mas dos jovens desta comunidade com o restante do Estado, com o país e o mundo. Essas possibilidades de relacionamento passam tanto pelas oficinas quanto por iniciativas como o Cama e Café, que cria um laço entre a comunidade em que as Mostras acontecem e os seus visitantes, propiciando mais uma interação produtora de outras vivências, transformadoras para ambos os lados envolvidos”.

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CAMA E CAFÉ

Divino de São Lourenço é uma cidade pequenina. Localizada a 23 km do acesso ao Pico da Bandeira e rodeada pela maior reserva de Mata Atlântica do Espírito Santo, o menor município do Estado atrai levas de turistas à região do Caparaó pelas belezas naturais e o frio que passa longe da região litorânea. Entretanto, o tamanho do município não foi impedimento para que, em 2007, a quarta edição da MCA Ambiental – MoVA Caparaó acontecesse no distrito de Patrimônio da Penha, pertencente à cidade. Patrimônio é um lugar de passagem para aqueles que seguem ao Pico do Bandeira. Fuga para quem busca cura física e espiritual, renovação de energia pelo contato com o misticismo atribuído às montanhas. Habituados ao trânsito de pessoas que o turismo leva à região, os moradores receberam a Mostra de braços abertos. E isso inclui os visitantes de outras cidades que não encontraram vagas nas poucas pousadas da região e ficaram alojados na casa dos moradores de Patrimônio. De acordo com Dalva Ringuier, Secretária Executiva do Consórcio do Caparaó, “o evento só pode acontecer na cidade porque foi recebido de braços abertos pelos moradores do distrito por meio do projeto Cama e Café”. A história do projeto começa com a criação do acesso capixaba ao Parque Nacional do Caparaó, em 1998. Nos anos anteriores, segundo Dalva, “por má vontade política ou falta de articulação do governo do Estado, só existia acesso ao Pico da Bandeira por Minas Gerais”. A partir da mobilização realizada pelo Con-

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sórcio do Caparaó e de políticos capixabas, a Portaria Capixaba foi aberta no final dos anos 90, possibilitando a exploração do turismo na região. No entanto, não havia estrutura para sustentar a rotatividade das pessoas que passavam por ali. Essa questão foi levantada antes mesmo da abertura do acesso capixaba ao Parque se tornar realidade. Pensando nisso, o Consórcio do Caparaó criou o Cama e Café, um estímulo à hospedagem solidária baseado em experiências em outras partes do Brasil, para que o mínimo de estrutura fosse oferecido à quem visitasse o Caparaó. “Não foi capricho nosso, foi necessidade mesmo. Enquanto a estrutura para receber o turista não existisse deveríamos contar com o que tínhamos. Começamos com oito famílias credenciadas, hoje são 32”. As famílias credenciadas passaram por cursos 38

que abrangem tanto a forma de receber o visitante, a arrumação da casa, noções de higiene, o que oferecer como cardápio e como administrar a renda obtida para, caso seja de interesse da família, ampliar o negócio para uma pequena pousada. Com o projeto implementado e se desenvolvendo, o Consórcio levou o Cama e Café ao Sebrae-ES, que desde então é parceiro da empreitado e colabora com assistência aos


“A atividade cultural é essencial para o turismo. O visitante não procura só belas paisagens, ele tem que ter o que fazer, ter uma experiência com a comunidade” cursos de formação e investimento nas ações dos novos

e renda alternativa, poderíamos mostrar na prática uma

pequenos empresários que surgiram com o desenvolvi-

das principais idéias da Mostra: integrar as comunidades

mento do turismo na região.

do Caparaó no momento de reflexão e formação em que

Kelly Machado, Gestora de Projetos do Sebrae- ES para a Região do Caparaó e Vale do Café, defende a

o evento estava se tornando”. Na Mostra seguinte, realizada em Patrimônio da

parceria firmada com a Mostra e o Consórcio. Segundo

Penha, a mesma articulação teve que acontecer para

ela, “a atividade cultural é essencial para o turismo. O vi-

que a cidade abrigasse não só a enorme tenda monta-

sitante não procura só belas paisagens, ele tem que ter o

da para a exibição dos filmes e vídeos. Pelo segundo

que fazer, ter uma experiência com a comunidade. Daí a

ano consecutivo, as famílias integradas ao Cama e Café

importância do empreendedor, daquele que vai abrir sua

acolheram a maioria dos participantes da Mostra. Não é

casa para receber o visitante, o pequeno empresário que

por menos que as edições de Pedra Menina e Patrimônio

precisa de uma rede de apoio, seja pela atividade cultural

são lembradas com tanto carinho pelos participantes

localizada ou pelo turismo, que dê condições para que

dos eventos. Marcelo Siqueira, assinala que “o tamanho

ele possa se desenvolver”.

dos distritos e a possibilidade de ‘implantar’ uma célula

Na MCA Ambiental – MoVA Caparaó, o projeto

da Mostra dentro das residências da localidade integrou

Cama e Café foi adotado a partir da terceira edição,

a população com a MoVA, fez com eles se sentissem

realizada em Pedra Menina. Entre oficineiros, jurados,

ainda mais participantes daquele projeto”. A percepção

palestrantes e pessoal de apoio, a estrutura das MCA’s,

de Marcelo aponta para os pilares que sustentam as

dependendo da edição do evento, leva entre 60 e 80 pes-

MCA’s: promover o desenvolvimento sustentável e o

soas para o município em que é instalada. Um número

pertencimento entre os moradores das regiões em que

considerável de vagas de hospedagem para uma cidade

acontecem e, além, é claro, de difundir a cultura audio-

do interior. Dalva aponta que “foi em Pedra Menina que

visual para a juventude como modo de sobrevivência e

percebemos que além de estimular a integração dos

encontro com realidades que se não estão esquecidas,

moradores ao turismo do Parque, propiciando formação

precisam muito ser expostas.

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OFICINAS Ao todo foram mais de 700 dias de filmagens nos sete anos das Mostras Capixabas de Audiovisual. Neste tempo, jovens das escolas públicas do Espírito Santo realizaram mais de 100 vídeos de documentário e ficção que ao longo deste tempo motivaram as três MCA – Ambiental, Rural e Etnográfica. Assim como acontece desde as oficinas itinerantes realizadas antes da II MoVA, em 2005, os vídeos realizados pelos jovens das cidades do Caparaó são o ponto de partida para a união das Secretarias de Educação dos 40 municípios que participam do projeto MCA atualmente. Mas, antes da sala escura, a experiência vivida pelos jovens realizadores do Espírito Santo passa por um ambiente em que a produção audiovisual ainda é muito pouco abordada: a sala de aula. “Quando a gente entra na sala de aula o filme já começou”. A afirmação de João Moraes não é mentira. Moraes é cineasta e fundador do Instituto Parceiros do Bem ao lado de Leonardo Gomes, entidade por trás das oficinas de produção que originam os vídeos das Mostras. Mesmo antes de ouvirem a palavra audio40

visual, os jovens viveram, experienciaram, participaram e contribuíram para a formação das comunidades em que moram. As produções exibidas nas Mostras retratam o cotidiano, as histórias e os questionamentos de suas localidades, são um resgate da cultura das regiões realizadas pelos responsáveis pela preservação e modificação de seu ambiente. “São estas experiências, a visão deles que será primordial quando entrarmos na sala de aula para iniciarmos o trabalho”. Os estudantes responsáveis pelos vídeos de seus municípios passam por uma oficina que dura sete dias. Ali os jovens serão iniciados no audiovisual e


completarão todo o processo de produção do vídeo que será exibido menos de um mês depois na Mostra de sua região. Cada município adota um sistema de seleção dos estudantes. A maioria destes alunos são selecionados por seu rendimento em sala de aula, por engajamento em suas comunidades ou por mostrarem de alguma maneira interesse em participar. Em outros municípios, no entanto, a seleção é feita por redações temáticas, em que os melhores textos são escolhidos. Mas também existem casos como o do estudante Jerônimo Oliveira, de 17 anos, que convenceu sua professora em Jerônimo Monteiro a participar da oficina só para fugir da sala de aula e hoje está inserido no projeto. “Vai muito da vontade do aluno, às vezes o melhor aluno não se mostra interessado, sai na metade da oficina. Em outras, o aluno que foi parar ali por castigo, para dar descanso a professora, surpreende, acaba engajado, apaixona-se pela coisa”, afirma João Moraes.

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Esse é também o caso do alegrense Victor Hugo Merçon Azevedo, de 18 anos, que confessa que, selecionado para a oficina, só aceitou ir para matar aula. No entanto, desde então já participou competindo de três Mostras Ambientais. Na segunda vez que participou, inclusive, levou o troféu de Melhor Vídeo pelo documentário Feliz Lembrança (ES/2009, 10’). Atualmente, junto com amigos de Alegre, Victor montou um grupo de produção e pretende continuar fazendo vídeos. As seleções para as oficinas formam turmas de vinte estudantes. A maioria deles nunca foi à uma Mostra, nunca pôs a mão em uma câmera ou entrou em uma sala de cinema. É realmente um início: as oficinas começam com os alunos com o equipamento em punho, registrando entrevistas de cada um. “Eles precisam se conhecer, criar espírito de equipe, uma intimidade entre eles, saber que aquele equipamento não é intocável, que eles estão aptos a manuseá-los, que vão se envolver. Quantas vezes a gente não viu os meninos chorarem um na frente do outro dando entrevista? Com o drama do outro sendo descoberto, mesmo que existisse conflito entre alguns, ali eles acabavam virando amigos”, conta Leonardo Gomes, presidente do Instituto Parceiros do Bem e oficineiro do projeto. As oficinas fogem das questões teóricas. É um momento de libertação da metodologia da sala de aula. Leonardo também conta, que “se começássemos 42

com uma explanação teórica eles correriam, estas questões surgem depois, conforme eles vão se acostumando, ficando instigados”. A dinâmica é de produção e discussão. Já no primeiro dia cada aluno sugere uma história a ser contada, um fato que pode gerar um documentário, para no segundo dia estas histórias serem colocadas em discussão e o argumento do vídeo ser fechado. “Eles defendem suas histórias, tentam justificá-la. Às vezes vemos o potencial de alguma, mas eles acabam escolhendo outra, nós não podemos fazer nada”. A partir do argumento, no terceiro dia o roteiro começa a ser trabalhado,


além das possíveis locações, entrevistados, atores, caso seja uma ficção, e questões práticas a serem tomadas. “Vamos vendo nestes momentos quem pode fazer o quê. Os interessados em escrever, a menina que anota tudo e tem perfil de produção, quem não desgruda da câmera, o que sempre está atento ao áudio”. Com o roteiro escrito o processo de feitura do vídeo começa. É quando a sala de aula é abandonada e as filmagens se iniciam. “No quarto e quinto dia as filmagens acontecem. Se precisar, filmamos no sexto dia e começamos a editar. São sete dias no pau. A gente brinca na sala dizendo que se alguém da equipe for pra casa, dormir e sonhar com outra coisa, não precisa voltar!”, brinca Leonardo. Com as filmagens concluídas, começa o trabalho de edição das imagens. “É edição bruta em cima do roteiro. No sétimo dia o vídeo tem que estar editado conforme vai ser exibido na Mostra. Ele sai do município em que foi gestado para ser finalizado em Vitória já com um título”. O acabamento do projeto é feito na capital porque os jovens não conhecem os softwares de edição em que o vídeo é finalizado. Em Vitória áudio, transições e créditos são inseridos. Com o projeto completo, cópias em DVD do filme começam a ser produzidas para que na Mostra, cerca de um mês após a finalização do vídeo, sejam distribuídas entre os participantes das oficinas e escolas.

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Sediada em Afonso Cláudio, o projeto Mostras Capixabas de Audiovisual levou aos 16 municípios da região Serrana do Estado a I MCA Rural, em 2009. A segunda edição do evento, realizada em 2010, reafirmou o compromisso de zelar pelas riquezas do imaginário popular do campo e das vivências no interior.


MCA RURAL


A força do campo Tempos atrás, quem nascia na zona rural do Espírito Santo não via muita alternativa de vida além de ter que se mudar para a cidade em busca de outras oportunidades. Mas isso foi antes da juventude rural ajustar o foco da câmera de vídeo para redescobrir o vasto leque de potencialidades que o campo tem para lhe oferecer. Novos caminhos se abriram para essa juventude quando, em 2009, foi realizada a I Mostra Capixaba de Audiovisual Rural. Pela atuação desses jovens no projeto que a Secretaria de Cultura do Estado, em parceria com o Instituto Sincades e o Sebrae, levaram para a região central-serrana, o campo está cada vez mais interessante e cheio de atitude. O projeto de levar a cultura audiovisual às juventudes rurais foi formulado a partir da bem-sucedida experiência na região do Caparaó com a MCA Ambiental - MoVA Caparaó. Na sua versão rural, ao todo 16 municípios participam do projeto que encontra eco nos programas da Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aqüicultura e Pesca (SEAG) e da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEAMA). Isso sem contar os demais colabora46

dores deste processo de estimular as potencialidades artístico-educativas das oficinas de audiovisual. São jovens vindos de núcleos rurais de Afonso Cláudio, Alfredo Chaves, Brejetuba, Castelo, Conceição do Castelo, Domingos Martins, Itarana, Itaguaçu, Laranja da Terra, Marechal Floriano, Santa Leopoldina, Santa Maria de Jetibá, Santa Teresa, São Roque do Canaã, Vargem Alta e Venda Nova do Imigrante. Com uma câmera nas mãos, eles aprendem a valorizar sua origem e tradições através do registro em vídeo captado nos documentários de curta duração. E


não é tão simples quanto parece à primeira vista. Na campo, para quem tem pouco ou nenhum contato com o cinema, os sete dias de oficinas de audiovisual são como um profundo mergulho na tecnologia e nas histórias filmadas. Mas dessas novas experiências que tocam a juventude é que surgem as idéias para inovadoras práticas agrícolas, formas de desenvolver a economia local baseadas em sustentabilidade e uma nova concepção de vida no interior. Os jovens rurais, que aprenderam com os pais e os avós a cultivar o café e o feijão, estão provando tecnologias para desenvolver tipos diferentes de milho ou inhame. Para Maria Aparecida Chiesa do Instituto Estadual do Meio Ambiente (IEMA), a criação da Mostra Rural demarcou o amadurecimento do projeto das Mostras Capixabas de Audiovisual, que cresceu para atingir as necessidades de

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diferentes regiões do estado, cada qual vivendo uma realidade específica. Mas, ainda que tenham temas diferenciados, todas estão focadas no homem e na sua relação com o ambiente em que vive. “A mostra é, na verdade, uma grande oportunidade do homem conhecer a si e ser meio ambiente”. É pela noção de pertencimento que um dos maiores aprendizados do programa está na oportunidade de conhecer os jovens da região, saber quem são e como se relacionam. Pouco a pouco a expressão que a MCA Rural proporciona para essa juventude deixa a ver os sinais de mudança na relação do jovem com o meio rural. E gradualmente, os jovens vão descobrindo que investir na vida no campo pode lhes dar a autonomia e a qualidade de vida que está se perdendo na confusão das grandes cidades. Segundo Célia Kieffer, do Núcleo Social Rural da Seag, este tipo de iniciativa “está permitindo que eles dêem um salto de conhecimento e se apropriem do que a gente chama de contemporâneo na ruralidade. Esse conjunto de oportunidades e ações culturais gera um estímulo para eles se reconhecerem como jovens e cidadãos”. É a partir de ações como a MCA Rural que se operam as mudanças no olhar da juventude, principalmente no que tange à descoberta de sua identidade. Como protagonistas de suas histórias, os jovens que participam da MCA 48

Rural têm em mente que o seu desenvolvimento no campo pode ser tão proveitoso quanto na cidade. E, tendo formado consciência social, eles podem escolher o que lhes é mais agradável. Por essas e outras que a MCA também conta com o apoio de entidades como a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Espírito Santo (Fetaes), o Movimento de Educação Promocional do Espírito Santo (Mepes), a Associação Diacônica Luterana (ADL) e demais sindicatos rurais, que trabalham a valorização da juventude no campo contra qualquer tipo de determinismo social.


Estreia em Afonso Cláudio Em novembro de 2009, o município de Afonso Cláudio recebeu de braços abertos a I Mostra de Cinema Rural, a primeira do programa de governo das Mostras Capixabas de Audiovisual a estrear o formato que prioriza o público jovem, com uma programação centralizada na mostra competitiva de vídeos originários das oficinas de audiovisual. Coincidência ou não, também foi essa a Mostra lembrada, por quem esteve lá, como uma das mais empolgantes. Com sessões lotadas e a participação massiva da população local nas atividades do evento, a I MCA Rural provou que a juventude do campo tem grande poder de expressão na sua região. Foram mais de 320 jovens que participaram da produção dos vídeos e cerca do triplo de pessoas que assistiram. Resultado do suporte da prefeitura de Afonso Cláudio que reivindicou a sede da primeira Mostra do gênero e proporcionou a seus habitantes a oportunidade de participar de um espetáculo de cultura e cidadania. O prefeito Wilson Costa afirmou que o município teve interesse imediato em sediar o evento devido a grandiosidade que as Mostras Capixabas de Audiovisual representaram na proposta apresentada para os municípios integrantes. O que mais lhe chamou atenção foi a concepção do evento, que não se restringia apenas em exibições de filmes, mas tinha um foco na formação dos jovens, ao lhes imputar a responsabilidade da elaboração de todo o processo de construção do roteiro, produção e edição uma obra. “O envolvimento e a participação das escolas, a recepção dos municípios vizinhos e o evento em si tiveram uma


repercussão extremamente positiva não só em Afonso Cláudio, mas em toda a região”, confirma o prefeito. Melhor que um bom evento que reúna a população em torno das atividades é poder colher os frutos ao longo do tempo. Com a semente do audiovisual plantada no coração dos jovens, já começam a aparecer algumas iniciativas como o cineclube que está sendo criado no distrito de Serra Pelada e que, por conta própria, já está fazendo circular os vídeos que foram exibidos na Mostra.


Do tamanho do Castelão Os jovens que vivem no município de Castelo não sabiam, mas os vídeos que competiram na tenda da II Mostra Capixaba da Audiovisual Rural que foi armada no centro de eventos ‘Castelão’, em outubro de 2010, são fruto de um projeto que passou por muitos desdobramentos e demorou anos até atingir este último formato. A última MCA realizada no ano de 2010 traz os benefícios da experiência, da organização e o sucesso que o projeto tem recolhido por onde passa, no bojo dos sete anos de experiência da MCA Ambiental – MoVA Caparaó. Os jovens de Castelo sabem agora que, além de viver na cidade onde se fazem os mais belos tapetes de Corpus Christi, também é lá que germina uma semente que os torna parte da Rede Audiovisual que está se formando no Espírito Santo. Para o prefeito Cleone Gomes do Nascimento, o mais estimulante é ver a motivação dos jovens na torcida pelo seu município. “É uma experiência única. Eles querem mostrar a cultura deles, as histórias da cidade deles, suas histórias de vida e de suas famílias. Não há dúvidas de que valeu a pena ter trazido o evento para a nossa cidade”. A exemplo de outros municípios por onde passam as MCA’s, é a partir dali que se começa a pensar iniciativas para que prefeituras do interior, como a de Castelo, possam desenvolver os processos culturais iniciados pela sua juventude. “A ideia de continuidade vai nascer em conjunto com esses jovens e eu tenho certeza que nós vamos criar novas propostas para daqui pra frente essa semente possa crescer ainda mais”, garante o prefeito.

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Vídeos PREMIADOS I Mca Rural - Afonso Cláudio, 2009 Melhor Vídeo - Júri Oficial: Ous Land (Nossa Terra) – ES/10’/2009 (Laranja da Terra); Melhor Vídeo - Júri Popular: Arrependido - ES/10’/2009 Afonso Cláudio); Melhor Edição: Ous Land (Nossa Terra) – ES/10’/2009 (Laranja da Terra); Melhor Roteiro: Bulling – ES/10’/2009 (Itaguaçu);

II Mca Rural – Castelo, 2010 Melhor Vídeo - Júri Oficial: No tempo da Nonna – ES/11’/2010 (Vargem Alta); Melhor Vídeo - Júri Popular: Sua terra...minha vida! – ES/10’/2010 (Castelo); Melhor Roteiro: Simplicidade - ES/10’/2010 (Itaguaçu); Melhor Roteiro: Saudade da minha tropa - ES/10’/2010 (Afonso Cláudio);

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Programa Valorização da Juventude Rural A iniciativa da Secult de levar a reflexão e cultura através de uma câmera de vídeo para os jovens do interior foi felizmente articulada com uma outra iniciativa, partin-

cultura, oferta de empregos e qualidade de vida. Na perspectiva de proporcionar formação cultural

do da Seag, de estimular o desenvolvimento dos jovens

para a juventude rural, a participação dos núcleos de

que residem em comunidades rurais. O Programa de Va-

jovens do campo na MCA Rural tem se mostrado uma

lorização da Juventude Rural, criado em 2008, tem como

experiência mais que bem-sucedida. Na visão de Célia

principais diretrizes a facilitação do acesso aos meios de

Kieffer, este é um enorme ganho para as ações da Seag,

produção agrícola, à educação tradicional e profissional,

pois proporciona o acesso à informação e a tecnologia

assim com o acesso às tecnologias e a cultura.

que muitos dos jovens rurais nunca tiveram contato. “A

Célia Kieffer explica que o programa cuida de

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encontravam-se políticas no que se refere à educação,

gente fez um casamento legal com a Secult que utilizou

fortalecer essas lideranças já existentes no campo, assim

a nossa articulação com o meio rural para inserir o proje-

como estimular a criação de outras. “O que nós estamos

to de criar essa rede audiovisual que já está se formando

fazendo é conversar com essa juventude e começar a

no Estado”.

pensar na possibilidade de uma sucessão no campo; e

Para os núcleos rurais mapeados pela Seag, a

criar oportunidades para que os jovens pudessem fazer

experiência vivida na MCA Rural começa a se desdobrar

uma opção de ficar no campo”.

com a aquisição de kits multimídia que fornecem equi-

Segundo um levantamento feito pela Seag, duran-

pamentos de base para projetos autônomos de comuni-

te muito tempo houve um vácuo de políticas públicas

cação e cultura. Fixados em escolas rurais, já começam

que estivessem voltadas para a juventude rural. Desde

a multiplicar as iniciativas de rádios comunitárias, blogs,

1970, os dados mostravam um intenso movimento de

cineclubes, além de vários novos documentários sobre a

migração desses jovens para a cidade, onde, até então,

vida no campo.



MCA etnogrรกfica


Centrada em 13 municípios do Noroeste capixaba, a I MCA Etnográfica aconteceu em Pancas em junho de 2010. A mistura de diversas etnias e manifestações culturais, marcas que caracterizam a região, são as principais referências presentes nos vídeos produzidos por esses jovens.


Exploradores de si mesmos A primeira vez que um antropólogo cunhou o termo ‘Etnografia’, provavelmente pensava em comunidades tribais de algum canto esquecido da África anos-luz distante deste que é o Brasil em que vivemos. Se, entretanto, tivesse passado pelo Espírito Santo, conseguiria enxergar em uma estreita faixa à noroeste, pequenos municípios de traços tão expressivos quanto diferentes do resto do mundo. Quando a versão Etnográfica chegou aos treze municípios da região que integram a Mostra Audiovisual Capixaba, foi como uma forma de confluir a vastidão de histórias dos povos ali representado, com a disposição juvenil de fazer cinema. Na juventude, a História muitas vezes prega peças, se desencaixa e até se desapropria. Mas se é nas tradições antigas que se encontram as respostas para o comportamento cotidiano, a missão da Mostra Capixaba de Audiovisual Etnográfica é levar aos jovens deste interior de Espírito Santo a oportunidade de 58

revirar seus passados para assim, entender seus presentes. Sediado em Pancas, a primeira ação da Secretaria de Estado da Cultura em expandir as Mostras de Audiovisual até os municípios do Noroeste, encontrou uma região com tantas vicissitudes históricas quanto se é necessário para captar com a câmera de vídeo. Por ali, a imigração européia encontrou a paisagem ideal para perpetuar suas tradições e se fundir a outras para construir uma nova. Pomeranos, italianos e alemães que vieram, ainda no início do século passado, se misturar às comunidades quilombolas e aos últimos remanescentes de botocu-


dos, fazem da região um prato cheio para uma exploração antropológica. E não é preciso ter mais de 14 anos para se tornar um explorador. Expandindo uma iniciativa que nasceu no Caparaó e foi subindo pelo mapa do Espírito Santo até o semi-árido de Pancas, Águia Branca, Alto Rio Novo, Baixo Guandu, Barra de São Francisco, Colatina, Governador Lindemberg, Mantenópolis, Marilândia, Nova Venécia, São Domingos do Norte, São Gabriel da Palha e Vila Pavão, a MCA Etnográfica tem como principal objetivo trabalhar a subjetividade dos jovens da região pela valorização de suas culturas e identidades, sejam elas tradicionais ou não. Tudo isso atravessado pela magia da imagem em movimento. Os jovens do ensino público, de 14 a 24 anos, se tornam antropólogos de suas tradições a partir das oficinas de realização audiovisual. Ao final de sete dias de intensa busca pelas imagens de suas histórias, os adolescentes têm um filme pronto nas mãos, que irá disputar a mostra competitiva, e uma bagagem sócio-cultural de bônus nas cabeças fervilhantes de idéias. Para além de uma ação de fomento do audiovisual local, a MCA Etnográfica se torna o centro de um sistema de modificações operadas na região em várias vertentes. No campo turístico, no social, no educativo, no cultural e, inclusive, no econômico. Como um laboratório de formação e desenvolvimento humano, os jovens que passam por esse processo estão escrevendo suas histórias e aprendendo a enxergar novos horizontes.

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Pancas A Cidade Poesia

Quem vê a monumental formação rochosa na região dos Pontões Capixabas, entende perfeitamente porque Pancas é conhecida como Cidade Poesia. A 190 km da capital, foi este o município escolhido para receber a I Mostra Capixaba de Audiovisual Etnográfica. Em uma tenda montada no centro da cidade, os 13 documentários etnográficos de curta duração produzidos para a MCA foram exibidos para uma média de 2,5 mil pessoas que celebraram suas próprias histórias na tela do cinema. Sob o tema ‘Culturas e Identidades Étnicas’, os jovens encontraram um ce60

nário rico e diverso para se aprofundar. Seja nas lendas do pescador que habita o Rio Doce, ou na filosofia de vida de um simples ceramista na beira da estrada, os documentários são ao mesmo tempo aprendizado e ensinamento para os jovens que têm valorizado seu potencial artístico-cultural. Em Pancas, a I MCA Etnográfica, além de um evento que mobiliza toda a cidade, também inicia um investimento nas potencialidades turísticas da região. Reconhecida como um parque natural para a prática de esportes de ar e de montanha, a Pancas é visitada esporadicamente por alguns atletas para participar de


competições radicais, como o motocross e vôo livre. Mas nunca a cidade recebeu tantos convidados quanto nos quatro dias em que aconteceu a I MCA Etnográfica. O resultado se viu em hotéis lotados, bares e restaurantes funcionando a pleno vapor para atender ao público do evento. Para o prefeito municipal Luiz Pedro Schumacher, os ganhos da realização da mostra ainda estão repercutindo nos jovens. “A Mostra foi muito boa aqui para nosso município, um verdadeiro incentivo para a juventude e um trabalho muito bem feito que a comunidade abraçou, e deixou os jovens daqui muito empolgados”. Segundo ele, a iniciativa movimentou a cidade de uma forma nunca antes vista, pois conseguiu provocar benefícios nas áreas da Cultura, da Educação e do Turismo, além de promover a integração entre todos os municípios da região com a produção dos filmes. O impacto econômico só não foi maior que o envolvimento da população. O subsecretário de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer de Pancas, Élson Augusto do Nascimento, que foi também o coordenador local da I MCA Etnográfica, reconhece que o evento gerou grande satisfação na população, principalmente

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porque levou a muitas pessoas a oportunidade de conhecer a magia do cinema. “A gente sabe que, numa cidade do interior, isso não é comum. E, ao mesmo tempo, é um evento que pode fazer reconhecer a região e a cidade. Gerou desenvolvimento turístico sem precedentes”, explica. Diante de todas essas transformações, a prefeitura de Pancas entende que é preciso dar continuidade a esse tipo de ação. Nas palavras do prefeito Schumacher: “Agora a gente já está se preparando para fazer outras coisas nesse sentido, que é para não deixar morrer esse estímulo que a Mostra trouxe”. Quantos aos jovens, estes já estão se organizando para formar um núcleo de Audiovisual na cidade com todos que desejam se inserir ainda mais fundo no processo. É a prova de que, depois do primeiro documentário, ainda há muitos caminhos para se trilhar no audiovisual.


VÍDEOS PREMIADOS I MCA Etnográfica - Pancas, 2010 Melhor Vídeo - Júri Oficial: James Johnson – ES/11’44”/2010 (Baixo Guandu); Melhor Vídeo - Júri Popular: Garimpando Histórias – ES/11’19”/2010 (Pancas); Melhor Edição: Brechó – ES/11’14”/2010 (Alto Rio Novo); Melhor Roteiro: O Senhor do Sol – ES/11’49’’/2010 (Nova Venécia);

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ESTRATÉGIA EM REDE CULTURA JOVEM O olhar para a juventude, que é um dos pontos principais das MCA, foi também o que estimulou a Secretaria de Cultura do Estado na formulação da Rede Cultura Jovem, em meados de 2009. Até então, de fato a única iniciativa da Secretaria voltada para o jovem era o MoVA Caparaó. Apesar das diversas ações que a Secult executava, não se alcançava propriamente a juventude capixaba, não contemplada, por exemplo, pelos seus Editais, que costumam privilegiar artistas com mais tempo de estrada. Foi a partir da constatação da dificuldade dos jovens desenvolverem suas idéias que se começou a articular a Rede Cultura Jovem. Desde o princípio, a iniciativa não propunha uma ação que levasse idéias pré-concebidas e produtos prontos para a fruição dos jovens do Estado, mas sim que estimulasse as propostas que já estavam latentes por ali. Nas palavras de Vânia Tardin, Plataforma de Projetos do Programa Rede Cultura Jovem, ele não impõe, ele dispõe, ele visa ser um mediador dentro desse espaço de diálogo, comunicação e formação do 64

jovem capixaba. Nesse sentido, a ação começou com um mapeamento que identificou onde estavam os jovens e as suas idéias criativas no Espírito Santo. Para isso foi contratada uma empresa que já havia feito um levantamento similar no Nordeste. A partir desse mapeamento e de subseqüentes reuniões em diversas cidades do Estado, além da percepção da necessidade de que o contato com essas iniciativas jovens fosse feita também por jovens (Agentes Cultura Jovem), foram criadas uma série de políticas públicas pela Secult, tanto presenciais quanto virtuais.



Dentre essas políticas, as principais ações da Rede são o Portal Yah! e os Editais de fomento à produção. Segundo Vânia, o Portal foi pensado como uma via mais rápida e fácil para a comunicação com e entre os jovens. Não apenas como um site, mas como uma rede social que pudesse articular todas essas iniciativas e idéias que estavam sendo identificadas Espírito Santo afora - a política pública pensada mesmo como uma mediadora das conexões entre forças criativas que já estão latentes na sociedade. Segundo Erlon José Paschoal, a Rede Cultura Jovem “visa promover o intercâmbio e a relação dos jovens do Espírito Santo através das artes e cultura e criar espaços de visibilidade, a fim de que ele se expresse em relação ao mundo e em relação a si mesmo através de uma linguagem artística”. Assim, o jovem passa a entender a cultura como um lugar de desenvolvimento social e humano, e também como espaço de comunicação e constituição de si mesmo e da comunidade em que vive. É importante ressaltar que a Rede Cultura Jovem é executada em parce66

ria com o Instituto Sincades, que é, ao mesmo tempo, uma Organização Não Governamental e um Fundo Financeiro criado a partir do Contrato de Competitividade e mantido por cerca de 500 empresas atacadistas capixabas, que estão inseridas no Programa para Incremento da Competitividade Sistêmica do Estado do Espírito Santo (COMPETE-ES). Em função da desoneração fiscal que essas empresas têm, elas compõem o fundo com intuito de apoiar projetos culturais no Estado, principalmente aqueles apontados pelo governo como políticas públicas para todo o Espírito Santo. Segundo Dorval Uliana, o Instituto Sincades


apóia não só o custeio da equipe que toca a Rede Cultura Jovem, mas também as ações específicas, as cartilhas, as revistas, e até mesmo o Portal Yah!. Além de participar de reuniões de planejamento e avaliação com a equipe da Secult e de ajudar muito na divulgação das ações da Rede. Nesse contexto, as MCA’s, que foram pensadas como tais antes mesmo da Rede se estabelecer, acabaram se tornando uma ação integrada à Rede, por terem em seus DNA’s essa preocupação fundamental com a juventude capixaba. Para Erlon, “rede aqui significa conectar todas as ações culturais produzidas pelos jovens de nosso Estado”, e as Mostras também são feitas com e para o jovem. Assim, “a rede como um programa, alimenta as mostras e as mostras realimentam o programa como um todo”. Vânia Tardin compartilha dessa opinião, e acredita que ambas as iniciativas se beneficiam mutuamente. Por um lado, a Rede amplia seu público para mais regiões do Estado, e “por outro lado, o programa agrega às mostras incorporando nelas os jovens das outras ações, e partilhando ali as manifestações descobertas no Estado todo”. Assim a Rede Cultura Jovem e as Mostras Capixabas de Audiovisual se articulam na potencialização e na mediação dos diálogos das juventudes capixabas, propiciando reflexões, estimulando idéias e produções, não só de obras culturais, mas também de subjetividades com maior poder de crítica e de transformação, visando àqueles que serão os agentes do futuro, aqueles que construirão um Espírito Santo mais forte e socialmente desenvolvido.

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Pertencimento e transformação: palavras que traduzem a experiência que os jovens participantes das Mostras Capixabas de Audiovisual vivenciam a cada ano e levam para a vida toda. Abaixo você lê depoimentos de participantes das MCA’s que aos poucos encontram caminhos para trilhar. “Sem saber o que era a MoVA levantei à mão e disse à professora que queria José Rodrigo Teixeira, 20 anos - Guaçuí

fazer as oficinas. Lembro que quando saí para gravar pela primeira vez fiquei louco, nunca imaginei que tinha tanto trabalho por trás da TV e dos filmes. Desde 2004 estou na MoVA, a cada ano participo de projetos diferentes. Mesmo tendo terminado a escola continuo produzindo coisas. Mas o mais legal é que essa experiência possibilitou que eu conseguisse um caminho; hoje estagio no Consórcio Caparaó, que me fez conhecer muito da região e dos envolvidos no projeto. Tenho certeza que quero trabalhar com isso. Já me considero um realizador audiovisual, agora quero me especializar, fazer faculdade de fotografia”.

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Rafael Siqueira Chagas, 17 anos Ibatiba

“Esse é o quinto ano que participo da MoVA e para mim é muito gratificante. Durante esses anos tentei aproveitar o máximo que eu pude, todo ano eu voltava. O que eu mais aprendi foi o quanto é importante levar para as outras pessoas coisas que estavam esquecidas na minha cidade, que se não fossem os vídeos poderiam se perder. E claro conhecer coisas que eu não conhecia, saber da importância delas para que nossa vida funcione, como a questão de cuidar do meio ambiente”.


“Eu não fui escolhido para participar das oficinas. Tive que encher o saco da professora para me encaixar porque eu não era um aluno exemplar, até hoje eu não

Lourenço Oliveira, 17 anos - J. Monteiro

sou, né? Mas como fiquei muito curioso ela me colocou na oficina para a Mostra de 2009, quando fizemos o vídeo A Árvore Solitária. Este ano participei com o videoclipe A MoVA é Minha Vida e a ficção A Cor Desta Noite. Na MoVA 2010 entrei no grupo permanente do Consórcio do Caparaó, onde fiz cursos e discuti coisas para a Mostra. Não quero parar de produzir. Junto com os amigos da minha banda estamos fazendo vídeos para as nossas músicas e agora vamos postar no YouTube”. “Adorei manusear a câmera, adorei poder entrevistar as pessoas. Pra mim foi uma experiência incrível, em que a gente pode aprender várias coisas e entender direito essa coisa de fazer vídeos que é algo que a gente nunca pensa em fazer na

Rafaela B. Andreão, 13 anos - Venda Nova do Imigrante

vida. Mesmo que não seja a minha profissão, quero continuar fazendo vídeos”. “Acho que fazer as entrevistas foi a coisa mais difícil porque eu ficava nervosa, eu era um pouco tímida, mas depois deu pra fazer direitinho. A coisa mais legal

Poliana Bautz, 14 anos – Santa Teresa

da Mostra é que você consegue interagir mais com as pessoas, você aprende a lidar melhor com os outros”. “Pra mim, fazer o filme pra MCA Rural foi uma experiência sem comparação. A gente aprende um monte de coisas. A gente conhece os instrumentos pra se fazer um filme, a gente aprende coisas sobre o nosso município que a gente nunca tinha imaginado e que, talvez, a gente nunca ia conhecer. E então dá pra mostrar a importância daquelas coisas do nosso município pra um monte de gente de fora. E é muito divertido”.

71 José Helber Vinco, 14 anos - Domingos Martins


Graziele Davoli, 15 anos – Venda Nova do Imigrante

“Eu gostei muito, não tem nem o que falar. Eu tive oportunidade de fazer, além do documentário, a oficina do videoclipe que passa na Mostra Paralela. E foi assim, muito diferente, videoclipe é bem legal porque dá pra você fazer coisas que não dá no documentário, tem um roteiro diferente um jeito de fazer diferente e ainda tem o fato de que de que os integrantes da banda com a qual a gente fez o videoclipe são meus amigos também. E a galera gostou muito, a gente fica muito feliz. E ainda fiz vários amigos porque a gente acaba tendo que se entrosar com o pessoal dos outros municípios. É uma oportunidade única que surge e a gente tem que aproveitar”.

Eduark Gava Cibin, 17 anos – Alfredo Chaves

“Participei da MCA Rural pela primeira vez esse ano (2010) e acho que foi uma das coisas mais legais que eu fiz. O melhor é que a gente faz várias coisas que a gente nunca ia fazer antes, que nem aprender a usar o equipamento profissional. E aí a gente vê como as coisas são feitas e toda vez que eu vejo TV eu fico reparando porque agora eu consigo enxergar como que é feito e aí a gente aprende a criticar. Eu nunca mais vou assistir TV do mesmo jeito”.

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Fabricia Orlandi, 16 anos – Alfredo Chaves

“Além de conhecer gente nova e aprender a interagir, a gente acaba ajudando a divulgar o que tem na nossa cidade, porque assim a gente ajuda as histórias a não se perderem com o tempo. Pra mim, a melhor coisa de ter participado da MCA Rural é que passei a conhecer a história das pessoas”.

Geovane Almeida Dias, 17 anos – Brejetuba

“Você acaba ganhando muito conhecimento. No ano passado, eu não participei das oficinas, mas ficava pensando se ia ser legal, se ia ser difícil mexer na câmera. Mas aí esse ano eu quis experimentar e, pra mim foi ótimo, fiz um monte de amigos, até os oficineiros ficaram amigos da gente. E deu pra conhecer a tecnologia


que a gente nem sonhava. Fazer o filme foi muito interessante, a galera deu o máximo possível para ficar um trabalho legal e acho que o resultado ficou muito bom. Agora vamos ver se a gente continua fazendo outras coisas daqui pra frente”. “Pra mim foi tudo ótimo. Aprendi técnicas de filmagem, conheci gente. Achei que ia ser muito difícil, mas acabou sendo até fácil. Aprendi a conviver com

Robson R. Rodriguesl, 16 anos - Santa Maria de Jetibá

pessoas que são diferentes de mim. Agora eu tenho amigos em todos os cantos do estado”. “A gente gostou muito de fazer, foi muito legal, uma experiência única. Decidi fazer as oficinas porque era diferente, e ia dar pra matar aula, confesso. Mas no

Fernanda da Silva, 14 anos - Vargem Alta

final todo mundo participou com muita vontade. Eu gosto muito de ir ao cinema, mas a gente nunca pode estar atrás das câmeras, e desta vez a gente estava, e foi muito legal saber como é feito. Eu adorei, era eu que operava a câmera e até decidi seguir isso como profissão; agora quero ser fotógrafa”. “Eu fiquei super animada em participar porque moro em Pancas há pouco tempo e não conhecia muita coisa da região. Fazendo o vídeo eu criei um amor tão 73

grande pela cidade que eu não sei explicar. O que mais me motivou a participar da MCA Etnográfica foi ir aos locais da cidade para ver onde íamos filmar. Eu não conhecia o lugar onde moro, foi maravilhoso conhecer. Antes eu morava na Serra, eu ia ao cinema, mas não tinha noção de como era fazer um filme e que um dia eu poderia fazer isso também. Com o projeto vi a importância das histórias que contamos”.

Mariane Zambon, 15 anos - Pancas


MURal institucional “As Mostras Capixabas de Audiovisual se tornaram a grande ação presencial do Dayse Maria Oslegher Lemos Secretária de Estado da Cultura - SECULT.

grande projeto que é a Rede Cultura Jovem, pois percebemos a importância de trabalhar com a juventude no Espírito Santo, não que a gente queira com este trabalho formar nenhum artista ou cineasta. O que a gente quer é desenvolver e ampliar a capacidade de compreensão do mundo. E que a juventude tenha a oportunidade de refletir por meio da cultura o mundo e seu papel no mundo, e que isso possibilite que ela tenha uma compreensão melhor deste mundo e que possa fazer as melhores escolhas em sua vida. Então, a Rede Cultura Jovem trabalha com este conceito de cultura como transformadora, que a cultura além de ser fonte de prazer e de entretenimento, ela principalmente leva a uma reflexão, a estreitar suas relações com outros seres humanos”. “Há muito tempo a população do Caparaó cobrava um projeto que levasse cultu-

Dalva Ringuier Secretária Executiva do Consórcio Intermunicipal do Caparaó.

ra para a região e mostrasse as riquezas ambientais e culturais que temos no Parque. Quando colocamos a demanda para a Secretaria de Cultura idealizamos um projeto vitorioso, que tem transformado o ponto de vista das pessoas em relação ao lugar em que elas vivem, cuidando do Parque e ao mesmo tempo deixando a auto estima das pessoas muito elevadas, porque os jovens têm buscado nossa

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cultura e costumes e as cidades têm se desenvolvido por meio do turismo”. “O Instituto entende que essas mostras têm uma finalidade muito importante em Idalberto Luis Moro Presidente do Instituto de Ação Social e Cultural SINCADES.

oferecer aos jovens oportunidades que eles não tem, em participar desse projeto que é extremamente rico em cultura. E, além disso, cria uma oportunidade de integração para esses jovens do interior. Por isso o Instituto apóia e entende como uma grande contribuição para o desenvolvimento do cidadão capixaba”.


“As mostras realizadas para apresentação dos documentários produzidos pelos jovens já faz parte do cotidiano cultural capixaba e tece uma rede que envolve os 40 municípios, com a promoção de intercâmbios intra e inter-regionais. Por meio das atividades culturais disponibilizadas que resultaram em documentários significativos sobre o cenário rural é que se vê a capacidade produtiva, cria-

Enio Bergoli da Costa Secretário de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca SEAG.

tiva e sensibilizadora dos atores naturais, ou seja, da valorosa gente do mundo rural capixaba”. “Já participei do Mova Caparaó de inúmeras maneiras: como homenageada, pois sou alegrense, como jurada, apresentando filmes do nosso núcleo audiovisual na mostra paralela ou em apresentações do grupo Manguerê. Eu vejo que esse projeto é sensacional porque o audiovisual é uma ferramenta de inúmeras possi-

Alcione Dias Atriz e fundadora do Cecaes e do Ponto de Cultura Manguerê.

bilidades, principalmente quando se trata dessa faixa etária, a juventude a quem a mostra é dirigida. Porque alem de ser instrumento de exercício de autonomia e uma forma de envolver a juventude com as questões do seu ambiente e do seu território, também é instrumento de afirmação de identidade. São muitos os benefícios que o projeto traz. Cada vez que eu vou numa dessas mostras me é revelado um aspecto cultural do Espírito Santo que eu não conhecia e essa riqueza que tem nas trocas culturais é a coisa que mais me motiva a participar com muito prazer”. 75 “Em dias de Internet e liberdade exagerada, o audiovisual remete esses meninos à história e à valorização do seu espaço. Muitas vezes nos deparamos com garotos que não conhecem nada de seus municípios e eles ficam encantados com todas as histórias que podem contar. Eu me emociono a cada premiação. Vê-los chorando com o troféu na mão... é uma conquista deles. O evento é feito por eles e para eles. A Secretaria da Cultura está de parabéns. Investir em cultura e não em entretenimento é uma grande saída para o futuro desses meninos”.

Simone Marçal Produtora Executiva do Instituto Parceiros do Bem.


MURal institucional “Nosso grande objetivo é dar oportunidade ao jovem de dizer o que pensa, o que Dorval Uliana Gerente Executivo do Instituto de Ação Social e Cultural SINCADES.

escreve, o que atua. Criar o espaço em que ele possa se apresentar, de mostrar ao mundo sua produção e, principalmente, se capacitar, se reciclar, se animar a continuar produzindo. Se não houver espaço, oportunidade e vez ele acaba não tendo voz, acaba não tendo como continuar e muitas vezes nós perdemos talentos pela falta destes espaços e oportunidades. Quando o Estado estende a mão ao cidadão, se faz presente, ele se sente apoiado, se sente animado. Quando o Estado cria uma oportunidade como esta, o jovem aproveita, cresce. É assim que formamos um cidadão mais consciente, mais participativo da sociedade”. “Para a ADL esse é um projeto muito importante porque deu visibilidade para

Siegmund Berger Presidente da Associação Diacônica Luterana - ADL.

as atividades que os nossos jovens desenvolviam na área cultural. Os nossos alunos puderam vivenciar, de fato o que é a cultura. Porque a cultura é tão enraizada no cotidiano, que às vezes a gente não percebe. E quando você trabalha dando visibilidade para as manifestações, você mostra para as pessoas a sua história. As filmagens colocam os alunos de frente com o que eles vêem e com o que eles sonham e eles até aprendem a sonhar mais e a pensar na vida deles com o audiovisual. Por isso eu considero esse trabalho como de extrema

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importância para os nossos jovens que já estão querendo fazer outros vídeos e continuar pesquisando sobre a historia de suas famílias”. “As Mostras Capixabas de Audiovisual conduzem à reflexão sobre a conexão do Maria da Glória Brito Abaurre Secretária de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos SEAMA.

homem e o meio ambiente, estimula a visão crítica e abre espaço para a livre manifestação. Por isso, além de ser um instrumento de resgate e fortalecimento das identidades das comunidades que integram o projeto, é uma das grandes ferramentas de educação ambiental do Espírito Santo”.


“Eu acho que as mostras têm uma função bastante interessante que é sair do circuito tradicional do cinema para ir a um espaço onde geralmente não chega. E isso provoca uma expectativa muito grande nas cidades para onde vão. Porque muda radicalmente o olhar das pessoas que estão envolvidas que passam a perce-

Orlando Bonfim Netto Cineasta e jurado nas MCA’s.

ber o seu cotidiano, coisas que fazem parte do seu processo cultural, da formação da identidade da região. E isso faz aflorar uma série de sentimentos e compreensões que são muito ricos e isso é muito forte. Acho que o que a mostra faz é colocar um grande número dentro desse processo e incentivar mesmo a pensar isso de uma forma que pode engrandecer o conhecimento de vida desses meninos”. “Em alguns municípios, como Alegre, Guaçuí e Jerônimo Monteiro, há uma disputa ferrenha entre os alunos para entrar na MCA Ambiental. É uma questão muito importante, mostra o reconhecimento da juventude em relação ao projeto. Dali eles aprendem a trabalhar em equipe, escutar, respeitar o silêncio para

Marcelo Siqueira Coordenador de Formação Artística e Cultural da Secult.

ouvir o outro, formar uma reflexão sobre o que foi dito. Essa é uma das conquistas, um passo que demos dentre os muitos a serem trilhados”. “O Mepes é muito grato por participar como parceiro deste projeto que é tão importante para resgatar a cultura do jovem e para frisar sua identidade. O principal é isso: resgate e valorização de sua cultura, mas o evento vem melhorando a cada ano e é preciso mobilizar ainda mais a região e envolver realmente a população local. Permitir ao jovem trabalhar com a técnica do audiovisual, principalmente ao jovem rural, fortalece a sua auto estima, porque ele percebe que é capaz, que pode fazer. Hoje a tecnologia está em toda parte, então as mostras fazem a juventude perceber que também faz parte desse processo, e assim eles podem criar imagens de sua própria realidade e descobrir as riquezas do campo”.

Idalgizo José Monequi Superintendente Geral do Movimento de Educação Promocional do ES - MEPES.

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MURal institucional “A MoVA nasceu como um festival de cinema, no formato clássico, a não ser João Moraes Realizador audiovisual e coordenador das oficinas nas MCA’s.

pelo fato de ser feito lá no interior. E é excelente! Porque na nossa maneira de ver – e é por isso que a gente trabalha com isso – é chegar onde geralmente não chega. Mas o grande lance da MoVA, sempre foi a interação entre quem trabalha e quem é convidado com a população local. Não é só o fato de comparecer na tenda pra assistir, mas além disso, tem toda uma transformação local, toda uma movimentação de gente que vem. Eu considero até hoje uma das ações de Estado mais importantes para a cultura. Ganhou o Prêmio Cultura Viva e se mostrou uma ação de cultura eficiente. A MoVA foi um grande laboratório para o que são hoje as MCA’s”. “A juventude hoje vive um momento em que as distâncias, as fronteiras diminuí-

Erlon José Paschoal Subsecretário de Estado da Cultura e Coordenador do Programa Rede Cultura Jovem.

ram muito em função das redes sociais, da telefonia e da Internet. Quando estas distâncias diminuem, as mudanças, as problemáticas se aproximam, então, a cada dia, os jovens rurais e urbanos compartilham reflexões que se assemelham muito. Este é o mundo moderno, onde as formas de comunicação a cada dia integram a todos. Investir na cultura significa investir nas relações sociais e ter a possibilidade que as pessoas tenham instrumental para se manifestar social-

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mente de uma maneira sadia e criativa. Esse programa pode e vai dinamizar toda a vida cultural do Estado do Espírito Santo”. Sáskia Sá Realizadora audiovisual e Vice-presidente do CNC - Conselho Nacional de Cineclubes.

“Com a implantação de cineclubes, equipamentos de produção e formação continuada, considero que assim, haverá uma verdadeira revolução audiovisual no nosso Estado, onde as questões mais prementes para a vida dessas comunidades, como a questão ambiental, possam ser pensadas usando-se o audiovisual como plataforma para discussões e transformações sócio-cultural”.


“As experiências da Mostra Ambiental, a Mova Caparaó, foram sendo aperfeiçoadas e levadas para outras regiões do Estado, com outros temas também, mas que sempre acabam envolvendo o meio de ambiente; o homem e sua relação com o ambiente em que vive. A Mostra Etnográfica e Mostra Rural têm muito

Maria Aparecida Chiesa Assessora Especial da SEAMA/IEMA.

desse tema também, porque é uma grande oportunidade de se aprender sobre si mesmo. Uma das coisas mais importantes das Mostras é conhecer as pessoas da região, saber quem elas são, como elas se relacionam, como elas vivem”. “O Programa Rede Cultura Jovem vai até onde estão as ideias: o que os jovens estão pensando, o que os jovens estão querendo e propondo. A partir deste potencial criativo do jovem nós criamos possibilidades para que ele possa potencializar isso, fazer ele aparecer; vamos dar um gás nele. Esse é o diferen-

Vânia Tardin de Castro Plataforma de Projetos do Programa Rede Cultura Jovem.

cial do PRCJ. Por que a gente acredita exatamente nisso, na formação do sujeito enquanto cidadão”. “Assim que foi lançado o Projeto para realização da Mostra Capixaba de Audiovisual Rural, imediatamente demonstramos o interesse em sediar o evento que não se restringia apenas a exibições de filmes e sim na formação e capacitação de adolescentes e jovens. Logo, o projeto vem de encontro com nossos objetivos, onde buscamos oferecer aos nossos munícipes e principalmente aos nossos jovens, oportunidades de lazer, atividades culturais, elevando a autoestima de nossos moradores, desfrutando da qualidade de vida inigualável que aqui encontramos, ao mesmo tempo em que se interligam com as novas tecnologias. Pode-se observar durante a Mostra uma mudança não só na vida dos participantes, mas de toda a cidade, que parou frente às telas e respirou cultura e arte durante quatro dias”.

Wilson Costa Prefeito do município de Afonso Cláudio.

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CRÔNICA

Uma câmera no campo Alex Reblim Braun* Desde criança sempre senti muita curiosidade com as imagens que via na TV. Pensava: como os filmes eram feitos e podiam trazer histórias tão diversificadas? Ficava encantado com as cenas produzidas de um imaginário inquieto. Cenas de um homem das cavernas entretido com ossos de animais ou de um período futurista diferente da nossa realidade. Foi sempre a minha curiosidade que possibilitou a aproximação com diversas artes, como a música, o teatro, a poesia e recentemente o audiovisual. A Mostra Capixaba de Audiovisual Rural propôs um novo olhar para a ruralidade nessa região, através do audiovisual. Jovens de quinze municípios, após participarem de oficinas de roteiro, iluminação, captação de áudio, câmera e edição, desenvolveriam documentários de curta duração, se tornando protagonistas desde as oficinas até as exibições na Mostra. Na primeira exibição da MCA Rural, sediada no município de Afonso Cláudio, nós, dessa mesma localidade, produzimos nosso primeiro documentário. Discutimos 80

através de falas de personagens respeitados no município a necessidade da preservação dos recursos hídricos locais. Era um tema bastante comum, mas apresentado pelo povo simples. Valorizamos as pessoas comuns, seus conhecimentos e práticas. Vi nesse trabalho o poder da arte de educar, transformar e valorizar. A partir de então, eu fui agregando mais uma forma de expressão ao meu repertório de práticas. Foi no audiovisual que encontrei uma forma barata, clara e eficaz de divulgar a instituição onde eu trabalho há três anos, a Associação Diacônica Luterana - ADL que é uma das parceiras da MCA. Criamos um canal no Youtube, onde mensalmente


são postados diversos vídeos das atividades e do dia-a-dia da instituição. Hoje eu vivo com uma pequena filmadora amadora captando tudo que acho interessante e, nesse processo, notei o interesse dos alunos pelo o que eu fazia e gradativamente comecei a incluí-los os alunos nessas pequenas produções também. Nós sempre tentamos participar das exibições e apresentamos as produções dos jovens das MCA’s para todos os alunos na ADL. Até que um dia um aluno sugeriu que deveríamos fazer essas exibições também para as pessoas da comunidade, criando assim, um Cineclube. Boa ideia! Fizemos parceria com a escola local e partimos para a prática. Na primeira exibição contamos com a participação em média de 150 pessoas da comunidade no Cineclube Lagoa. Foi um sucesso!!! Pretendíamos dali em diante oficializar um encontro a cada dois meses, de uma hora e meia, para exibir produções das MCA’s e outras. Nesse ano, as Oficinas Galpão divulgaram seu edital, selecionando quinze roteiros de jovens, em nível nacional, ligados a instituições de caráter social. Fui um desses selecionados, onde em dez dias, pude experimentar com ainda mais intensidade o audiovisual. Ainda esse ano também, eu e meus alunos vamos criar mais um curta sobre uma história local. Vi com muita clareza que a MCA Rural foi o trampolim para essa oportunidade. Além das outras que ainda estão reservadas. O audiovisual mexe bastante comigo, noto transformações significativas através dessa arte entre meus alunos. A cada Mostra, em cada exibição sinto-me desafiado a não parar. Estou me transformando! No peito bate uma vontade de estar produzindo constantemente. Como costumam dizer: “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”. *Alex Reblim Braun tem 24 anos e vive no distrito de Serra Pelada em Afonso Cláudio. Participou das duas primeiras edições da MCA Rural. Também é professor na Associação Diacônica Luterana - ADL.

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ENTREVISTA

Experiências Somadas Como qualquer outro adolescente, há três anos Victor Hugo Merçon Azevedo costumava ir à escola com a empolgação de quem se prepara para ficar de castigo. Mas isso foi antes dele esbarrar na oportunidade de fazer parte da MCA Ambiental - Mova Caparaó. Em um daqueles dias em que nem Jesus Cristo consegue ficar dentro de uma sala de aula, o garoto caiu por acidente na reunião de uma das oficinas de produção de vídeo e não quis sair mais. E ele não é o único. Em Alegre, assim como no resto de interior do Espírito Santo, Victor Hugo é somente um dos jovens que descobriram uma motivação a mais para freqüentar a escola e participar de projetos interdisciplinares como a Mostra de vídeos. Os documentários feitos por esses jovens atravessam suas histórias de vida e ensinam mais sobre convivência, trabalho em equipe e ambientalismo do que uma aula teórica em sala de aula. Mas Victor Hugo é um daqueles que gostaram tanto que desde aquele dia ele não parou mais de experimentar o audiovisual. Aos 18 anos, o jovem alegren82

se de cabelos ruivos participou competindo de três edições da MCA Ambiental, e esteve presente em mais três mostras do gênero, onde até conseguiu abrir uma brecha para trabalhar como voluntário da equipe de produção. O jovem agora vive o desafio de prestar vestibular para o curso de Direito, mas diz que o Audiovisual é algo que ele nunca mais vai abandonar, mesmo que não siga necessariamente uma carreira cinematográfica. E mais do que aprender a fazer vídeos, ele tem certeza de que carrega uma experiência de vida sem comparações para sua formação como cidadão.


Como começou a participar das Mostras Capixabas de Audiovisual? De onde surgiu o interesse pelas oficinas de Audiovisual? Bom, na minha primeira oficina da Mova Caparaó, eu fui participar mais para matar aula que qualquer outra coisa, mas foi tão legal que eu me identifiquei muito, pois dei o melhor de mim e percebi que tudo o que queremos com muito esforço, nós conseguimos conquistar. E aí aconteceu que na segunda mostra que eu participei, esse esforço foi recompensado com o troféu de Melhor Filme para o nosso documentário, o Feliz Lembrança. Mas a competição é uma coisa mais simbólica porque, na verdade, todo mundo ganha ali. Você já tinha participado de alguma coisa parecida antes? Já tinha alguma experiência com Audiovisual? Não, a primeira vez foi com a Mova Caparaó. Nem imaginava uma coisa assim. Depois você foi chamado para participar nas mostras, na produção das mostras ou na apresentação dos vídeos. Como foi mudar de papel? Quais as maiores dificuldades? E o que mudou na questão de aprendizado?


“A mostra mudou a minha vida completamente, para melhor, criei contatos tanto com novos amigos, como contatos profissionais” Tudo isso serviu para que eu aprendesse e adquirisse mais conhecimento. Dificuldades foram muitas, mas com a ajuda de Deus consegui superar e o aprendizado em si foi cada vez se fortalecendo mais e mais. A MCA Ambiental me deu a oportunidade de conhecer o Programa Rede Cultura Jovem, assim eu também me tornei membro da primeira turma de Agentes Cultura Jovem do Estado, e, na II Mostra Rural, tive a oportunidade de participar da equipe de produção. Acho que enchi tanto o saco deles que eles me deixaram ficar. Qual foi a melhor coisa que você aprendeu nesse tempo de Mostras? O que mudou na sua vida com essa experiência? Aprendi a me organizar melhor e redividir o meu tempo. Aprendi que a amizade é um tesouro que não se deve entregar a qualquer um pelas ruas da vida, pois nem sempre dá tempo de conhecer realmente uma pessoa em tão pouco tempo e às vezes eles podem não ser o que aparentam ser. Mas, claro que não custa nada dar um pouco de atenção às pessoas ao seu lado, porque suas idéias podem completar as delas e as delas podem completar as suas. Mas a melhor coisa são as amizades que você faz.


Qual foi a melhor mostra que você esteve presente? A melhor foi a I MCA Rural em 2009, de Afonso Cláudio. Ela foi a melhor em organização, na produção e

O que você diria para incentivar um jovem a participar da mostra? Que conselho você daria? Bom, não é bem um conselho, mas uma frase de

o município deu uma atenção imensa a nossa presença

apoio e incentivo: não desista dos seus sonhos e seus de-

lá, e também a população acolheu de braços abertos o

sejos, pois só eles podem guiar o seu futuro. Não receba

evento e os convidados. Ficou lotada todos os dias.

um não como uma notícia negativa, mas sim como um obstáculo que você terá que vencer. A mostra mudou a

Você pretende continuar fazendo alguma atividade liga-

minha vida completamente, para melhor, criei contatos

da ao Audiovisual?

tanto com novos amigos, como contatos profissionais.

Eu e mais dois amigos montamos um núcleo de

Então, o que eu quero deixar para os jovens é: participe,

produção independente e temos alguns projetos pra

pergunte, seja curioso ao ponto de querer descobrir cada

fazer mais vídeos. Mas ainda não temos todos os equi-

vez mais, participe de tudo o que puder e, principalmen-

pamentos necessários para uma produção profissional.

te, participe porque gosta e não por obrigação, porque só

A gente faz vídeos sem compromisso, pra trabalhos de

assim você vai conseguir captar tudo o que é passado a

escola, festa, o que for. E agora eu também faço parte do

você pelas pessoas envolvidas neste processo. É a melhor

núcleo de produção audiovisual permanente do Consór-

oportunidade que um jovem tem de aprender algo que

cio Caparaó, que é tipo uma escola mesmo, você apren-

não seja obrigatório. É isso que todo jovem quer hoje,

de bastante. Isso tem pouco tempo, uns cinco meses, a

fazer algo que seja por prazer e não por obrigação.

gente costuma fazer um encontro por mês. No primeiro encontro é que nós fizemos o videoclipe que passou na MCA Ambiental de 2010, “A Mova é minha vida” e foi muito bom fazer.

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ENTREVISTA

Protagonismo Sustentável

Há sete anos o educador ambiental Geraldo Dutra viu nascer o projeto da I Mova Caparaó e da Secretaria de Estado da Cultura, a Mostra Capixaba de Audiovisual Ambiental, nascida do esforço do Consórcio do Caparaó em se criar uma cultura ambientalista. Na entidade, poder público e sociedade civil organizada trabalham em conjunto para preservar as potencialidades de seu território e para estimu86

lar a cultura da população local em ações baseadas em Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável. Acompanhando a história desde o princípio, Geraldo Dutra não é somente o coordenador local da MoVA, como também um dos maiores entusiastas do evento e, mais ainda, da interação que os vídeos proporcionam aos jovens em sala de aula. Como fruto desse processo, o caparaoense nascido em Alegre discute as transformações que a Mostra tem provocado na formação para a cidadania e consciência ambiental dos jovens envolvidos.


Como professor, como você enxerga essas experiências

me dizer que as pessoas não querem mais saber das his-

que a mostra proporciona, na função de fortalecer o

tórias dele, da família, de quando puxava carro de boi, da

aprendizado desses jovens?

tropa. De certa forma, o jovem está ficando alienado. No

O maior ganho que eu tenho em acompanhar essas mostras é que eu fico vendo o brilho nos olhos deles e

sentido de conhecer o passado, pra entender o presente e projetar o futuro.

como eles se envolvem. Mas eu vejo que eles não estão

E eu acho que o audiovisual modifica isso, porque

usando todo esse potencial. E eu estou usando, porque na

o aluno é protagonista. Ele vai passar a conhecer um ter-

condição de professor eu faço uma adaptação ao conteú-

ritório que é dele. Ele passa fazer parte. Esse ano já tem

do que a gente está trabalhando na sala de aula.

uma aluna, do distrito onde eu moro e que participou da

E a linguagem do audiovisual é que está me facili-

Mova, que ta fazendo um vídeo sobre gravidez na adoles-

tando esse diálogo. Falar de questões ambientais – sócio-

cência, por conta própria. Então a linguagem é deles, são

-ambientais – e mostrar os vídeos. Quando eu digo que

eles que estão indo atrás.

é um aluno que fez, a galera não acredita. Porque é uma linguagem diferente, sobre a qual você vê e discute. Mais

Então, isso quer dizer que fazer um documentário sobre

do que isso, quem está fazendo o vídeo é o protagonista

sua região torna o jovem mais consciente de seu papel?

daquilo que está fazendo, e não o espectador de um filme

O processo pra fazer um filme, que é o que está sen-

qualquer. O aluno ajudou a construir. Isso faz com que o

do aprendido, é mais importante que o produto. O filme

aluno não seja passivo, ele é o agente, é o protagonista,

não é o mais importante. Talvez para a platéia seja. Mas

não o ator manipulado.

para quem está ali construindo, o mais importante é a relação interpessoal, é a dificuldade pra fazer o filme, é a diver-

Mas você acha que os jovens, de uma maneira geral, não

gência pra fazer uma edição. Acho que um projeto como

tem interesse em aprender sobre a cultura da sua região?

MoVA Caparão, que se tornou, a partir de 2010, a Mostra

De onde vem essa fragilidade? Como isso pode ser mo-

Capixaba de Audiovisual Ambiental (mas fizemos questão

dificado?

de que se firmasse o nome ‘MoVA Caparaó’, porque pra

Nós não conhecemos o nosso próprio território do Caparaó. Conversando com um senhor de idade, ele veio

gente é uma questão de pertencimento afirmar: sou caparoense, nasci em Alegre), é excepcional por causa disso.

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“A mostra traz a oportunidade da reflexão e mais do que refletir traz as atitudes pra eles”

A força que o Consórcio do Caparaó dedica à Mova Caparaó é um dos grandes motivos para a Mostra ter se desenvolvido de uma maneira tão eficaz. Como surgiu o projeto naquela região? Há uns anos, o Governo do Estado queria que o Consórcio participasse de um evento de vídeos lá em Cachoeiro. Mas como nós tínhamos um território fortalecido com 11 municípios nas nossas mãos, nós dissemos que queríamos fazer o nosso próprio evento. A integração entre os municípios via Consórcio é muito forte, ele já tem 14 anos. Aí que tivemos a primeira mostra em Guaçuí, que se repetiu como sede agora em 2010. Mas é uma realização legitimamente caparaoense, ainda que tenha o aporte financeiro do Estado, que tenha a presença de parceiros como o IEMA e tantos outros. A Mostra Rural e a Etnográfica são frutos do sucesso da Mova Caparaó. Deu certo lá e o governo tem adaptado em outros lugares. O que é uma grande vitória. Com sete anos de duração, a Mova se modificou muito a cada edição e pouco a pouco foi se superando enquanto política pública. Quais são os principais desafios que a Mostra ainda tem pela frente? Esse ano já vai ter nos outros 10 municípios pelo menos um dia em que esses vídeos vão ser exibidos em algum lugar, um teatro, para um público assistir a esse


material produzido pelos alunos, a Mostra Itinerante.

Como você avalia o papel desses vídeos produzidos pelos

Outra proposta é distribuir isso também nas escolas, para

alunos nas Mostras? Eles conseguem despertar a consci-

que as escolas possam usar essa linguagem mais próxi-

ência ambiental?

ma deles para estimular o aprendizado.

Eu já utilizo esse material nas minhas aulas, que eu prefiro chamar de diálogo, mas às vezes a escola dificulta

Historicamente o Caparaó capixaba é uma região de fra-

isso. Na escola ainda não caiu a ficha de que tem que ter

gilidade tanto econômica quanto ambiental. Como a che-

um processo. Não adianta a escola usar no Dia da Árvo-

gada das Mostras modificou a relação da população local

re, plantar uma árvore e deixar lá, nunca mais voltar pra

com o meio ambiente?

cuidar.

O nosso território tem potencialidades, tem uma

Eu mostro os vídeos e falo: “olha, são alunos como

beleza ímpar, tem o Parque Nacional do Caparaó, mas ao

vocês aqui. Todos vocês também podem fazer”. Porque

mesmo tempo tem muita caça, pesca predatória, assorea-

assim eu faço com que ele se envolva no seu território,

mento dos rios. A Mova vem exatamente mostrando pra

então ele passa a enxergar aquilo ali.

uma faixa etária, os jovens, que a gente tem tantas belezas

Estar consciente é uma coisa. Estar sensível é ou-

naturais, muita cultura, folclore, etc., mas tem problemas

tra. E o que a gente faz com as Mostras é oferecer uma

também. E aí essa faixa etária está tendo contato, através da

oportunidade de desenvolvimento para que o jovem se

MoVA, com essas potencialidades, com os problemas, mas

torne sensível e, assim, possa adquirir consciência. Nin-

também com a possibilidade de refletir e fazer a diferença.

guém conscientiza ninguém; a gente informa, envolve, aí

Durante três anos fizemos vídeos mostrando os pro-

a consciência é de formação pessoal.

blemas. Até que teve um ano em que os alunos resolveram fazer um vídeo chamado Plantando água, colhendo vidas,

Essa é uma geração que já nasce envolta na linguagem

que fala sobre um proprietário de um sitio que planta água.

audiovisual, da televisão, do cinema, da Internet. Mas

Quer dizer, ele não planta água, ele planta árvores que fa-

como isso pode se tornar uma ferramenta de mobilização

vorecem a infiltração da chuva no lençol freático. Mas você

social entre a juventude?

vê que a Mostra traz a oportunidade da reflexão e, mais do que refletir, traz as atitudes pra eles.

Acho que é uma geração em que Imagem e Som é muito mais eficaz do que o conteúdo do professor. E no

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“O processo pra fazer um filme, que é o que está sendo aprendido, é mais importante que um produto” caso deles, eles não são espectadores, eles são protagonis-

Então você acha que é uma questão de diferenças das ge-

tas do que querem filmar. A diferença é essa: porque ele

rações?

fez. Por isso as mostras conseguem envolver a rapazia-

Não acho que é só a geração, acho que é a falta de

da toda. Já chegamos na VII MoVA Caparaó. São muitos

formação, a falta de capacitação mesmo pra isso. Eu sem-

filmes produzidos dos 11 municípios envolvidos. É uma

pre brinco que é preciso fazer um evento ‘MoVA Profes-

média de 220 alunos por ano só no Caparaó.

sor’ para os professores. Para que ele filme a sua linguagem de mundo para depois ser reproduzido lá, e então

Os vídeos que são produzidos nas Mostras Capixabas de

ele veja como é.

Audiovisual, por exemplo, poderiam ser utilizados como material didático nas escolas. Onde estão as falhas dessa

Como que o trabalho de Educação Ambiental pode se ex-

relação?

pandir junto com as mostras para as demais regiões do

As escolas não conseguem se articular para pinçar

90

Estado?

seus alunos e oferecer a eles essa proposta. E a proposta

Eu sempre digo que meio ambiente cultural tam-

é que depois ele filme a festa da escola, que depois ele

bém é Meio Ambiente. O fazedor de balaio – é cultura –

tenha prazer em fazer seus vídeos. Mas a escola não é

ele tira a taquara certa, no mês certo, que é pro bambuzal

cúmplice. Porque o professor, a diretora, a pedagoga não

não morrer. Ano passado a gente trabalhou com o tema

teve essa formação.

“Ofícios” na Mova. O filme que ganhou falava de uma

Nós somos formados na faculdade para o simples,

comunidade de feirantes, e aproveitou para falar também

não para o complexo. Nós somos formados para educar 30

do homem no campo, dos produtos orgânicos, agroeco-

alunos, mas não 30 pessoas diferentes na mesma sala. E

lógicos, do êxodo urbano. A gente vai tentando amarrar

o conteúdo é o mesmo, mas são todas pessoas diferentes.

todas essas coisas pra inserir cultura no tema ambiental. E o oficineiro tem um compromisso de amarrar esse viés. Não é possível falar de Meio Ambiente sem falar de Cultura e falar de Cultura sem falar do Meio Ambiente.



FILMES PRODUZIDOS POR JOVENS NAS OFICINAS DE AUDIOVISUAL – MCA AMBIENTAL – MOSTRA CAPARAOENSE

II MOVA CAPARAÓ Ibitirama, Iúna e Irupi, 2005. Passado, Presente...Que Futuro? – Doc/ES/10’/2005 – Muniz Freire; Os Pássaros e os Passos de Dona Helena – Doc / ES/10’/2005 – Irupi; Ciça: Um Amor de Café – Ficção/ES/10’/2005 – Iúna; O Horto Florestal – Doc/ES/10’/2005 – Alegre; Quanto vale preservar? – Doc/ ES/10’/2005 – Ibitirama; A Lenda da Pedra Menina – Doc/ES/10’/2005 – Dores do Rio Preto ANIMAÇÃO - Zecaparaó ‘8’ /ES/2005 – realizado por alunos de toda região do Caparaó capixaba em parceria com o Núcleo de Animação do Instituto Marlin Azul.

III MOVA CAPARAÓ Pedra Menina (distrito de Dores do Rio Preto), 2006. 92

Mova-se – Doc/ES/10’/2006 – Alegre; Ecodesenvolvimento – Doc/ES/10’/2006 – Divino de São Lourenço; As Dores do Rio Preto – Doc/ES/10’/2006 – Dores do Rio Preto; Cotidiano do Caparaó – Doc/ES/10’/2006 – Ibitirama; Na Trilha do Jequitibá – Doc/ES/10’/2006 – Jerônimo Monteiro; Marcas do Passado – Doc/ES/10’/2006 – Guaçui A Lenda da Pedra da Tia Velha – Doc/ES/10’/2006 – Irupi;

A Lenda da Água Santa – ficção/ Iúna; Como Tudo Começou – Doc/ES/10’/2006 – Ibatiba; Marcas de um Passado – Doc/ES/10’/2006 – de São José do Calçado; As Desventuras de Zé da Grota – Doc/ES/10’/2006 Muniz Freire. ANIMAÇÃO - Casamento Caipira – ES/6’/2006 – direção coletiva dos alunos de toda região do Caparaó capixaba.

IV MOVA CAPARAÓ Patrimônio da Penha (distrito de Divino de São Lourenço), 2007. Museu do Zé – Doc/ES/13’/2007 – Irupi; Boi Verde Verdim – Ficção/ES/11’/2007 – Divino de São Lourenço; Belezas Ameaçadas – Doc/ES/12’/2007 – Ibitirama; Um Grande Gesto – Ficção/ES/11’/2007 – Muniz Freire; Usina São José – Doc/ES/14’/2007 – São José do Calçado; Rio Veado – Doc/ES/13’/2007 – Guaçui; Plantando Água, Colhendo Vidas – Doc/ES/14’/2007 – Alegre; A Vingança da Pedra Menina – Ficção/ES/11’/2007 – Dores do Rio Preto; Fazenda Gironda – Doc/ES/11’/2007 – Jerônimo Monteiro; A Lenda da Mulher de Pedra – Ficção/ES/11’/2007 – Iúna; Trilha das Águas – Doc/ES/11’/2007 – Ibatiba ANIMAÇÃO - Natureza em Perigo – ES/5’/2007 – direção coletiva dos alunos de toda região do Caparaó capixaba.


V MoVA Caparaó Muniz Freire, 2008. Seu Antônio do Caxambu – Doc/ES/10’/2008 – Alegre; Reza – Doc/ES/10’/2008 – Divino de São Lourenço; A Festa do Princípio do Mundo – Doc/ES/10’/2008 – Dores do Rio Preto; Charola de São Sebastião – Doc/ES/10’/2008 – Guaçui; Vai Chorar, Mineiro! – Doc/ES/10’/2008 – Jerônimo Monteiro; Loló – Doc/ES/10’/2008 – Ibitirama; Burro Frouxo – Doc/ES/10’/2008 – Irupi; Tô no Bolinho – Doc/ES/10’/2008 – Muniz Freire; Memórias do Carro de Boi – Doc/ES/10’/2008 – São José do Calçado; Venida – Doc/ES/10’/2008 – Ibatiba; Samba da Saudade – Doc/ES/10’/2008 – Iúna.

VI MOVA CAPARAÓ Alegre, 2009. Feliz Lembrança – Doc/ES/10’/2009 – Alegre; Branco – Doc/ES/10’/2009 – Divino de São Lourenço; Toda Casa uma História Tem – Doc/ES/10’/2009 – Dores do Rio Preto; Dodola –Doc/ES/10’/2009 – Guaçui; A Árvore Solitária – Doc/ES/10’/2009 – J. Monteiro; Flores – Doc/ES/10’/2009 – Iúna; Gentileza – Doc/ES/10’/2009 – Ibatiba; O Guardião da Pedra – Doc/ES/10’/2009 – Irupi; Ouro Negro – Doc/ES/10’/2009 – Muniz Freire;

Guia – Doc/ES/10’/2009 – Ibitirama; O Desafio do Silêncio – Doc/ES/10’/2009 – São José do Calçado.

VII MOVA CAPARAÓ Guaçui, 2010. O Pai da Cachoeira – Doc/ES/10’/2010 – Alegre; O Poder do Natural – Doc/ES/10’/2010 – Divino de são Lourenço; Néctar da Vida – Doc/ES/10’/2010 – Dores do Rio Preto; Vai Rasgando – Doc/ES/10’/2010 – Ibatiba; Entalhes e acordes de um Urucungo – Doc/ES/10’/2010 – Guaçui; 29540, A Interferência Humana no Meio – Doc/ ES/10’/2010 – Ibitirama; Virgínia – Doc/ES/10’/2010 – Irupi; Caminho Imperial – Doc/ES/10’/2010 – Iúna; Comunidade Bio-Iluminada – Doc/ES/10’/2010 – Jerônimo Monteiro O Caminho da Glória – Doc/ES/10’/2010 – Muniz Freire; ... E o Lixo? O Que Fazer? – Doc/ES/10’/2010 – São José do Calçado FICÇÃO – A Cor desta Noite – direção coletiva com jovens realizadores da região do Caparaó; VIDEOCLIPE – A MoVA é Minha Vida - direção coletiva com jovens realizadores da região do Caparaó.

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FILMES PRODUZIDOS POR JOVENS NAS OFICINAS DE AUDIOVISUAL – MCA RURAL I MCA RURAL Afonso Cláudio, 2009.

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Arrependido - ES/10’/2009 - Afonso Cláudio; Ecotur – ES/10’/2009 - Alfredo Chaves; Bonzim, Bonzim? – ES/10’/2009 - Brejetuba; Mãos que Movimentam – ES/10’/2009 - Castelo; Formosa – ES/10’/2009 - Conceição do Castelo; São Bento Tira o Chapéu – ES/10’/2009 - Domingos Martins; Bulling – ES/10’/2009 – Itaguaçu; Brote – ES/10’/2009 - Itarana; Ous Land (Nossa Terra) – ES/10’/2009 - Laranja da Terra; Warneri – ES/10’/2009 - Marechal Floriano; Os Filhos do Sol e das Águas – ES/10’/2009 - Santa Leopoldina; Lewig Land – Terra Viva – ES/10’/2009 - Santa Maria de Jetibá; Sim, Senhora – ES/10’/2009 - Santa Teresa; Terra – ES/10’/2009 - São Roque do Canaã; De Onde Vem? – ES/10’/2009 - Vargem Alta; Orelha d’Onça – ES/10’/2009 - Venda Nova do Imigrante;

II MCA RURAL Castelo, 2010. Saudade da Minha Tropa - ES/10’/2010 - Afonso Cláudio; Taro São Bento – ES/10’/2010 - Alfredo Chaves; Colhendo Conseqüência, Plantando Consciência – ES/13’/2010 - Brejetuba; Sua Terra...Minha Vida! – ES/10’/2010 - Castelo;

Café com Leite – ES/10’/2010 - Conceição do Castelo; Ous Hübschigkeit, Ous kultur (Nossa beleza, Nossa cultura) – ES/12’/2010 - Domingos Martins; Simplicidade – ES/10’/2010 - Itaguaçu; Arte pelas Mãos – ES/10’/2010 - Itarana; Doce Sabor – ES/11’/2010 - Laranja da Terra; Einen Kaffe Trinken? – ES/10’/2010 - Marechal Floriano; Tanque Rede – ES/10’/2010 - Santa Leopoldina; Quitungo, A Força da Água – ES/10’/2010 - Santa Maria de Jetibá; Raízes – ES/11’/2010 - Santa Teresa; No Tempo da Nonna – ES/11’/2010 - Vargem Alta; Socol – ES/12’/2010 - Venda Nova do Imigrante; FICÇÃO – A Menina da Corrente – ES/15’/2010 - direção coletiva com jovens realizadores da MCA Rural. VIDEOCLIPE – Meu Novembro (Banda Scrap) – ES/5’/2010 - direção coletiva com jovens realizadores da MCA Rural.


FILMES PRODUZIDOS POR JOVENS NAS OFICINAS DE AUDIOVISUAL – MCA ETNOGRÁFICA I MCA Etnográfica Pancas, 2010. Orzel Bialy - ES/10’27’/2010 – Águia Branca; Brechó – ES/11’14”/2010 – Alto Rio Novo; James Johnson – ES/11’44”/2010 – Baixo Guandu; Sentinela Capixaba – ES/10’17’/2010 – Barra de São Francisco; História de Pescador – ES/11’11”/2010 – Colatina; Nossa Terra, Nosso Orgulho – ES/10’/2010 – Governador Lindemberg; De Ametista a Mantenópolis – ES/10’11’/2010 – Mantenópolis; Através de um Dom – ES/10’29’/2010 – Marilândia; O Senhor do Sol – ES/11’49’/2010 – Nova Venécia; Garimpando Histórias – ES/11’19”/2010 – Pancas; Encantamento – ES/9’28’/2010 – São Domingos do Norte; Na Garupa da História – ES/9’27’/2010 – São Gabriel da Palha; Três Etnias, Um Sonho – ES/10’44’/2010 – Vila Pavão; 95


FICHA TÉCNICA Governador do Estado do Espírito Santo Paulo César Hartung Gomes Vice-governador do Estado do Espírito Santo Ricardo de Rezende Ferraço Secretária de Estado da Cultura Dayse Maria Oslegher Lemos Subsecretário de Estado da Cultura Erlon José Paschoal

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Subsecretária de Estado de Patrimônio Cultural Anna Luzia Lemos Saiter Gerente de Ação Cultural Maurício José da Silva Coordenação de Formação Artística e Cultural Luiz Carlos de Almeida Lima - Coordenador Marcelo Siqueira Raquel Baelles

Secretário de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aqüicultura e Pesca Enio Bergoli da Costa Subsecretário de Estado do Desenvolvimento Agropecuário, da Aqüicultura e da Pesca Gilmar Gusmão Dadalto Núcleo Social Rural Célia Kiefer Paulo Sarmento Letícia Couvre Amorim Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos - SEAMA e Presidente do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos - IEMA Maria da Gloria Brito Abaurre Diretora Presidente do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos - IEMA Sueli Passoni Tonini Assessora Especial da SEAMA/IEMA Maria Aparecida Chiesa


Presidente do Instituto de Ação Social e Cultural SINCADES - Instituto SINCADES Idalberto Luis Moro

Presidente da FETAES - Federação dos Trabalhadores na Agricultura do ES Paulo de Tarso Caralo

Vice-Presidente Instituto de Ação Social e Cultural SINCADES - Instituto SINCADES Carlos Antônio Marianelli

Programa Rede Cultura Jovem Erlon José Paschoal - Coordenador Marcelo Maia – Plataforma Digital Vânia Tardin de Castro – Plataforma de Projetos Roberto Alves Santos – Administrativo-financeiro Equipe Técnica - PRCJ Fernanda de Castro Barbosa Filipe Alves Borba Gustavo Rocha Pereira de Souza Ivo Godoy Kênia Lyra Maira Rocha Moreira Paulo Gois Bastos Samara Amorim Monteiro

Gerente Executivo – Instituto SINCADES Dorval de Assis Uliana Diretor Superintendente do Sebrae/ES - Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequenas Empresas José Eugênio Vieira Presidente do Consórcio Intermunicipal do Caparaó Ezanilton Delson de Oliveira Vice-presidente do Consórcio Intermunicipal do Caparaó Lindon Jonhson Arruda Pereira

Presidente do Instituto Parceiros do Bem Leonardo Gomes Souza

Secretária Executiva - Consórcio do Caparaó Dalva Ringuier

Produção Executiva Simone Marçal

Superintendente Geral do MEPES - Movimento de Educação Promocional do ES Idalgizo José Monequi

Equipe de Produção Bruno Fernandes Detogni Fernanda Marinho Maurício Guedes Jacob Patrícia Rohsner Ricardo Viana Roberta Fernanda Frisso Simone Devens

Diretor Geral da ADL - Associação Diacônica Luterana Sigmund Berger

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Barra de São Francisco

MCA Etnográfica

Vila Pavão

Nova Venécia

MCA Rural

Mantenópolis

Águia Branca

Alto Rio Novo

MCA Ambiental - Caparaó

São Gabriel da Palha São Domingos do Norte

Pancas

Governador Lindenberg

Colatina

Marilândia

MG Baixo Guandú Itaguaçu

São Roque do Canaã

Laranja da Terra

Santa Teresa Itarana

Brejetuba

Afonso Cláudio

Santa Maria de Jetibá

Itatiba Irupi

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Domingos Martins Iúna

Ibitirama Divino de São Lourenço Dores do Rio Preto Guaçuí

Conceição Venda Nova do do Imigrante Muniz Cas telo Freire

RJ

Marechal Floriano

Castelo Vargem Alta Alegre Jerônimo Monteiro

São José do Calçado

Santa Leopoldina

Alfredo Chaves

Oceano Atlântico



Execução:

Parceria:

Realização:


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