Agência Unama: uma análise da relação entre direitos humanos e formação dos alunos de jornalismo

Page 1

UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA

LÍVIA SANCHES CUNHA MEDINA

AGÊNCIA UNAMA: UMA ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE DIREITOS HUMANOS E FORMAÇÃO DOS ALUNOS DE JORNALISMO.

ANANINDEUA – PA 2009


UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA

LÍVIA SANCHES CUNHA MEDINA

AGÊNCIA UNAMA: UMA ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE DIREITOS HUMANOS E FORMAÇÃO DOS ALUNOS DE JORNALISMO.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do grau de bacharel em Comunicação Social Jornalismo.

Orientadora: Profª Ms. Vânia Torres.

ANANINDEUA – PA 2009


LÍVIA SANCHES CUNHA MEDINA

AGÊNCIA UNAMA: UMA ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE DIREITOS HUMANOS E FORMAÇÃO DOS ALUNOS DE JORNALISMO.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do grau de bacharel em Comunicação Social – Jornalismo, do Centro de Estudos Sociais Aplicados da Universidade da Amazônia.

Banca Examinadora: ____________________________________________ Profª. Ms. Vânia Torres – Unama

Banca Examinadora: ____________________________________________ Profª. Drª Larissa Latif – Unama

Apresentado em: ____ / ____/ ____.

Conceito: __________.

ANANINDEUA – PA 2009


Dedico este trabalho Ă minha querida e batalhadora mĂŁe, que sempre priorizou os estudos dos filhos e nunca me deixou desistir.


AGRADECIMENTOS

À minha mãe, que fez de tudo para que não me faltasse estudo e formação.

À minha família, que me apoiou não apenas durante a realização deste trabalho, mas durante toda a minha vida: Saulo, Jérsica, Geovanna, Samuel, Michelle, João Pedro e Celso.

Um agradecimento especial ao Nedo Kriskovic, que me deu suporte para eu chegar aonde cheguei hoje.

Ao meu namorado, amigo e eterno confidente Mariano Jr. Sem ele, eu não conseguiria metade das minhas conquistas.

À segunda família que escolhi, que acreditou e sempre cuidou de mim: Ivani, Keziah, Patrícia, Bianca e Debrinha.

À toda minha família da Agência Unama: onde passei os melhores três anos da minha vida. Danila Cal, Vânia Torres, Tia Kassya, Edna Nunes, Larissa Latif, Tay Marquioro: obrigada por todo o aprendizado.

Às minhas amigas do peito que nunca me abandonaram: Nesh, Leila, Marcela, Nathali, Natália, Alessandra, Yza e Lígia.

Aos alunos, ex-bolsistas, voluntários e estagiários que colaboraram para esta pesquisa.

À minha orientadora Vânia Torres, pela paciência e ótimas ideias para o projeto.


Não é possível mobilizar uma sociedade se não se despertar, previamente, a paixão.

Bernardo Toro.


RESUMO

Este trabalho tem como objetivo analisar a formação jornalística em relação aos direitos humanos e cidadania dos alunos de comunicação da Universidade da Amazônia (Unama). Para fazer um contraponto entre o que é aprendido em sala de aula sobre jornalismo cívico e o que deveria ser estimulado nos alunos sobre o tema, a Agência Unama de Comunicação pelos Direitos da Criança e do Adolescente, projeto de extensão da Universidade, foi utilizada como objeto de estudo para avaliar o nível de formação que a instituição está oferecendo, sendo tanto a partir das disciplinas ministradas quanto ao que a Agência oferece aos alunos que participam do projeto.

Palavras-chave: Jornalismo Cívico, Agência Unama, direitos humanos, Unama.


ABSTRACT

This paper aims to examine the journalistic training in relation to human rights and citizenship of students in communication at the University of Amazonia (UNAMA). To make a contrast between what is learned in the classroom on civic journalism and should be encouraged in students on the topic, the Agency Commission by Unama of Rights of the Child and Adolescent, extension project of the university, was used as object Study to assess the level of training that the university is offering, and both from the subjects taught about the agency offers to students who participate in the project.

Key-words: Civic journalism, Agency Unama, human rights, Unama


LISTA DE QUADROS

QUADRO 1:

Quadro de pessoal da Agência Unama.........................................43

QUADRO 2:

Produtos da Agência Unama........................................................ 50

QUADRO 3:

Eventos realizados pelo projeto.................................................... 58

QUADRO 4:

O que a Agência proporciona aos alunos..................................... 59

QUADRO 5:

Opinião dos ex-bolsistas e ex-voluntários do projeto................... 60

QUADRO 6:

Opinião dos que não passaram pelo projeto................................ 61


LISTA DE ABREVEATURAS

ANDI

Agência Nacional dos Direitos da Infância

AUN

Agência Universitária de Notícias

ECA

Estatuto da Criança e do Adolescente

FNPJ

Fórum Nacional de Professores de Jornalismo

FEBEM

Fundações Estaduais de Bem- Estar do Menor

FBESP

Fundação de Bem-Estar Social do Pará

FUNABEM

Fundação Nacional do Bem Estar do Menor

ONGs

Organizações Não Governamentais

PNBEM

Política Nacional de Bem-Estar do Menor

PLIMEC

Plano de Integração Menor-Comunidade

SAM

Serviço de Assistência ao Menor

UNAMA

Universidade da Amazônia

UNICEF

Fundo das Nações Unidas para a infância


SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................11 2. METODOLOGIA..................................................................................................... 15 3. A TRAJETÓRIA DOS DIREITOS NO BRASIL E A PARTICIPAÇÃO DA MÍDIA NA PROMOÇÃO DA CIDADANIA................................................................................... 17 3.1 As primeiras leis no país: do Brasil Império até os dias de hoje.......................... 17 3.2 O surgimento do Código de Menores.................................................................. 19 3.3 ECA: legalizando os direitos de meninos e meninas........................................... 22 3.4 O papel social do jornalismo: a comunicação e os direitos humanos................. 24 3.5 Jornalismo Cívico e direitos de crianças e adolescentes.................................... 29 4. JORNALISMO E UNIVERSIDADE....................................................................... 33 4.1 Agências Universitárias e sua importância para a comunidade acadêmica...................................................................................................................33 4.2 Unama: O surgimento do curso de Jornalismo e os projetos de extensão..................................................................................................................... 37 4.3 O projeto Agência Unama.....................................................................................41 4.4 Quadro pessoal da Agência Unama..................................................................... 43 4.5 Produtos da Agência Unama................................................................................ 50 4.5.1 Notícias do Dia ............................................................................................. 51 4.5.2 Agenda Criança............................................................................................ 54 4.5.3 Fazendo Bem................................................................................................57 4.6 Eventos realizados................................................................................................58 5. DIREITOS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES E A FORMAÇÃO DOS FUTUROS JORNALISTAS...........................................................................................................59 5.1 Alunos atuais: o que a Agência proporciona aos alunos que atuam no projeto......................................................................................................................... 59 5.2 Ex- voluntários e ex-bolsistas.............................................................................. 60 5.3 Alunos que não passaram pelo projeto............................................................... 60 5.4 Extensão: da experiência profissional à formação crítica.................................... 61 5.5 A influência da Agência no mercado de trabalho................................................. 67 5.6 Curso de Jornalismo versus mercado de trabalho............................................... 69 5.7 Um outro jornalismo é possível............................................................................74 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................... 80 REFERÊNCIAS.......................................................................................................... 83


APÊNDICES............................................................................................................... 85 ANEXOS..................................................................................................................... 91


1 INTRODUÇÃO

Formar profissionais de jornalismo compromissados com a produção de uma mídia diferente, que tenha como principal meta repassar à sociedade notícias de qualidade que informem à população seus direitos e deveres enquanto cidadãos, ainda é um desafio de muitas universidades existentes no país e no mundo. Se é grande a deficiência na produção do jornalismo, maior ainda é a falta de compromisso com temas específicos na nossa sociedade, como o de crianças e adolescentes, que mereciam destaque em todos as mídias por conta da sua importância na divulgação de direitos até hoje não garantidos. A divulgação da área da infância e adolescência dentro do jornalismo ainda é pouco vista no país, tendo como principal incentivadora do assunto a Agência Nacional dos Direitos da Infância (ANDI), que trabalha diretamente com a divulgação de notícias referentes ao tema, além da produção de materiais e pesquisas sobre comunicação e direitos humanos. Basta observar em algumas edições de jornais impressos do Pará, e acompanhar a cobertura da mídia televisiva em todo o Brasil sobre crianças e adolescentes, para concluir que esses atores sociais ainda não possuem seus direitos garantidos pela sociedade, pelo contrário, muitas vezes ainda são tratados como seres inferiores. Em reportagens policiais, por exemplo, quando retratam meninos ou meninas que cometeram ato infracional ou ocasionaram algum tipo de problema, os jornalistas, em sua maioria, demonstram uma falta de “conhecimento” quanto às leis vigentes no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), se referindo a esses meninos e meninas com termos pejorativos como “menores”, “criminosos”, “trombadinhas”, entre outros. A falta de informação por parte dos jornalistas paraenses faz com que muitas lacunas referentes aos direitos da infância e adolescência ainda não estejam preenchidas na região. O tratamento pejorativo só não acontece quando esses meninos e meninas são protagonistas de matérias sociais, como histórias sobre projetos e organizações não governamentais que atuam com crianças e adolescentes. Isso mostra a falta de percepção social e humanista


do profissional de comunicação, que não investiga as causas e condições socioecômicas que levaram aquele adolescente a estar na página policial de uma matéria jornalística. O ensino de jornalismo, por sua vez, pouco estimula uma mudança de comportamento entre os acadêmicos da área, que acabam entrando no mercado de trabalho sem muita base social e crítica a respeito das coberturas realizadas sobre infância e adolescência. Aprender de forma prática os conceitos de cidadania relevantes à profissão jornalística, ainda na academia, requer tempo, dedicação e formação adequada. O grande desafio é sensibilizar as consciências mais pragmáticas de um aluno de jornalismo, que acredita que sua função na profissão é apenas relatar os fatos, sem precisar desempenhar nenhum papel social. A Agência Unama de Comunicação pelos Direitos da Criança e do Adolescente, um projeto de extensão da Universidade da Amazônia (Unama), teve seu trabalho inspirado nas atividades realizadas pela Andi e hoje já possui quatro anos de atuação na divulgação dos direitos da criança e do adolescente por meio da mídia. Alunos de Comunicação Social da Universidade participam do projeto e, este trabalho, por sua vez, pretende analisar como se dá o envolvimento dos universitários de jornalismo, no desenvolvimento de uma formação crítica e em direitos humanos dentro e fora do projeto. O estudo tem como objetivo trazer análises importantes sobre a atual situação deste projeto de extensão, baseado nas opiniões e conhecimentos dos alunos de jornalismo entrevistados para o estudo. Com isso, mudanças podem ser pensadas para que se obtenha uma aceitação abrangente em relação aos projetos de extensão, não somente ao da Agência Unama, mas aos outros desenvolvidos pela universidade. Para os acadêmicos, a relevância social desta pesquisa, está, principalmente, em entender como um projeto de extensão pode colaborar para a formação profissional e, de que forma se dá essa qualificação. Entender a importância do projeto para os alunos de jornalismo é ajudá-los a olharem os projetos de extensão e o curso em si, com uma visão mais crítica, além de poder verificar se a teoria e a prática do jornalismo, a partir de uma extensão universitária, podem contribuir para a vida profissional.


Atuante como bolsista de extensão do projeto desde agosto de 2006, posso dizer que quase tudo que aprendi no campo profissional da comunicação foi devido às informações repassadas para mim pelos profissionais e alunos que passaram pelo local. Portanto, não poderia escolher outro objeto de estudo se não a Agência Unama, ambiente de trabalho que me fez crescer, desenvolveu meu senso crítico sobre a mídia e minha noção de responsabilidade social. A partir destas perspectivas, o objetivo central do estudo é avaliar a importância do projeto Agência Unama de Comunicação pelos Direitos da Criança e do Adolescente, a partir das análises sobre a formação que está sendo oferecida aos estudantes de jornalismo. Além disso, o estudo pretende analisar a formação crítica dos alunos após a participação deles na Agência, entender como a “marca” Agência Unama é vista pelos alunos do curso de jornalismo e, por fim, pesquisar como professores e estudantes constroem uma formação em direitos humanos e como os futuros profissionais aplicam este aprendizado no mercado de trabalho. As hipóteses que este estudo levanta inicialmente são se o projeto oferece uma formação crítica e social a todos os alunos que passaram pela Agência Unama; se o projeto, enquanto “marca”, se mostra desconhecido da maioria dos alunos e professores do curso de jornalismo e, se dentro do curso, os alunos se sentem estimulados em trabalhar com um jornalismo voltado para o “jornalismo cívico”. O primeiro capítulo deste estudo apresenta a trajetória dos direitos no Brasil, relatando desde as primeiras leis no país até as existentes atualmente. Foram relatadas as leis existentes no século XVIII, em relação aos direitos de meninos e meninas, como a Roda dos Expostos, as do século XIX, como as casas de correção, o surgimento do Código de Menores e, por fim, a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Ainda em um dos tópicos do primeiro capítulo, será abordada a questão do papel social do jornalismo e a sua relação com os direitos humanos e de crianças e adolescentes. O segundo capítulo entra na discussão sobre jornalismo e universidade, abordando o surgimento do curso de jornalismo e a importância e a definição de projetos de extensão. O papel da extensão universitária também é abordado em um dos tópicos deste capítulo. Em decorrência do objeto de estudo deste


trabalho, além de ser um projeto de extensão, ser uma agência universitária, a pesquisa também apresenta a importância das agências universitárias para a comunidade acadêmica. O terceiro capítulo aborda a formação dos universitários de jornalismo em relação aos direitos humanos e seu nível de criticidade a partir das entrevistas com alunos, professores e coordenadores. A participação ou não deste aluno na Agência Unama será comparado para observar a influência do projeto na formação do futuro profissional de comunicação.

2 METODOLOGIA


Para a produção deste trabalho, foi realizada uma pesquisa qualitativa com 20 alunos e profissionais de comunicação, entre acadêmicos do curso de jornalismo da Unama que, até o momento da realização das entrevistas, atuavam no projeto Agência Unama, seja como voluntários ou como estagiários. O projeto teve voluntários até o final do mês de fevereiro de 2009. Isso se deu porque, durante a realização da pesquisa com os alunos que atuavam no Projeto, houve a implementação da nova Lei do estágio, de nº 11.788/2008, que dispõe que o estudante não pode mais trabalhar em um estágio sem remuneração. Ou seja, no caso da Agência Unama, os voluntários não poderiam mais atuar no projeto. A saída destes alunos ocorreu em fevereiro deste ano, no entanto, eles são denominados durante todo este estudo como “alunos atuais”, uma vez que, as entrevistas foram realizadas ainda quando a Lei não estava em vigor. Além destes estudantes, foram entrevistados alunos que já passaram pelo Projeto há um certo tempo, para avaliar o que a sua passagem representou para o seu trabalho em outros lugares. Ainda na categoria de pessoas que já passaram pela Agência, foram entrevistados ex-bolsistas e exvoluntários que hoje já estão formados e atuando no mercado de trabalho como jornalistas. Para mostrar a possível diferença entre as concepções dos entrevistados sobre direitos humanos e comunicação, alunos que nunca passaram pelo projeto também foram entrevistados para o estudo. As perguntas do questionário foram referentes a assuntos como projetos de extensão, participação social, direitos humanos, infância, adolescência e a mídia,

visibilidade

da

Agência

Unama

na

Universidade,

experiência

profissional, entre outros temas. O estudo foi embasado a partir de conceitos teóricos sobre jornalismo público e prática de uma agência universitária, fazendo um contraponto com dois tipos de alunos, os que passaram pela Agência e os que não conhecem a fundo o trabalho realizado pelo Projeto.


O tema, a problemática, a justificativa, objetivos e as hipóteses do trabalho foram ainda detalhadas durante o projeto de pesquisa. Após essa produção, referenciais teóricos sobre jornalismo publico foram pesquisados e estudados para o entendimento da relação entre mídia e direitos humanos. O principal instrumento utilizado para esta observação foi o fichamento, que, de acordo com Huhne (2000), é definido da seguinte forma: Fichamento é uma forma de investigação que se caracteriza pelo ato de registrar todo o material necessário à compreensão de um texto ou tema. Para isso, é preciso usar fichas que facilitam a documentação e preparam a execução do trabalho. (...) É também uma forma de estudar e assimilar criticamente os melhores textos ou temas de sua formação acadêmico-profissional (HUHNE, 2000, p. 64).

Um roteiro de perguntas foi aplicado também para professores de jornalismo da Universidade, abordando sobre se é feito o debate de mídia e direitos humanos dentro de sala de aula e, se caso existe esta preocupação, como ela é realizada. Além dos professores, a coordenação do curso e do Projeto foi entrevistada, afim de complementar a análise para identificar como a Universidade e o Projeto se preocupam com o tema. Uma jornalista assistente do Projeto também foi entrevistada para o estudo. O roteiro de perguntas para os alunos, professores e coordenação do curso pode ser visto no apêndice deste estudo. Livros e artigos foram os principais instrumentos da pesquisa bibliográfica deste trabalho. Por meio das análises obtidas neste processo, foi possível identificar opiniões semelhantes e diferenciadas entre alunos e professores em relação ao que os autores abordam sobra o tema.


3 A TRAJETÓRIA DOS DIREITOS NO BRASIL E A PARTICIPAÇÃO DA MÍDIA NA PROMOÇÃO DA CIDADANIA

3.1 As primeiras leis no país: do Brasil Império até os dias de hoje

Uma das primeiras demonstrações das leis no Brasil em relação à infância e à adolescência começou ainda na época do Império, por volta do século XVIII. Neste período, crianças órfãs e rejeitadas eram recolhidas e deixadas na Casa dos Expostos, conhecidas como “roda dos expostos”, um lugar para onde meninos e meninas eram levados sem que a pessoa que a conduzia até lá fosse identificada. O recolhimento destas crianças foi regulamentado no país em 1775, por meio do alvará emitido pelo Ministro Sebastião José de Carvalho e Mello (RIZINNI, 2002). No entanto, Rizinni também mostra que há relatos históricos que afirmam que as primeiras Casas dos Expostos teriam sido criadas nos Estados, da Bahia, em 1726 e no Rio de Janeiro, em 1738. A legislação ainda foi adotada após a independência do Brasil, em 1822. As medidas punitivas aplicadas por Portugal em crianças e adolescentes no Brasil Império, só foram abolidas do país a partir de 1830, quando houve o surgimento de uma lei específica para meninos e meninas menores de 18 anos de idade, contidas no Código Criminal de 1830. Antes da lei de 1830, meninos e meninas eram punidos nas Casas de Correção de maneira drástica, semelhante aos adultos que eram presos, mesmo sendo estes autores de atos delinqüentes e perigosos em relação ao que crianças e adolescentes cometiam. Nesta época ainda não se tinha a educação

como

um

fator

fundamental

para

ocasionar

a

mudança

comportamental de meninos e meninas que eram punidos pelo Estado. A importante discussão sobre o tema ocorreu apenas no final do Século XIX. Rizzini mostra que a lei penal de 1830 responsabilizava todos os adolescentes a partir dos 14 anos por tudo aquilo que praticavam, tendo que encaminhar estes garotos e garotas até às Casas de Correção, onde teriam que permanecer no tempo máximo de três anos. Ou seja, “basicamente o que


se vai considerar na lei de 1830 é o estabelecimento da responsabilidade penal para menores a partir de 14 anos” (RIZINNI, 2002, p.10). Apenas em 1850 começou a se estimular a criação de um regulamento para as Casas de Correção. Ele se baseava na construção de alas separadas para a “correção” dos adolescentes que iam para o local, reconhecidos na época como “delinqüentes, mendigos e vadios” e outra ala para os presos adultos. Segundo Rizzini, as primeiras décadas do Brasil Império foram marcadas, de um modo geral, “por medidas de caráter essencialmente assistencial, lideradas pela iniciativa privada de cunho religioso e caritativo” (RIZINNI, 2002, p.11). A participação administrativa das instituições religiosas no recolhimento e no zelo de meninos e meninas expostos no século XVIII era feita a partir de subsídios provenientes dos cofres públicos, o que demonstra, por sua vez, a relação entre a Igreja e o poder público. Em meados do século XIX, período em que o Brasil estava no auge da transição da vida rural para a urbana, é que as preocupações com a higiene e com o controle e prevenção de doenças infecto-contagiosas começam a surgir. Nesta época, iniciou a discussão sobre quais os melhores cuidados para as crianças, uma vez que, os médicos higienistas constataram que as altas taxas de mortalidade ocorriam na infância, principalmente, nos primeiros 12 meses de vida. Meninos e meninas considerados expostos passaram a ser vistos com certa preocupação pela categoria de médicos, sobretudo, por conta das altas taxas de mortalidade que estas crianças apresentavam constantemente. Em decorrência disso, a busca pelo melhor tratamento para estes indivíduos passou a ser frequente. A transição do século XIX para o século XX é marcada pelas preocupações com as crianças órfãs, abandonadas e expostas no Brasil, o que se tornará visível na promulgação nas leis e pensamentos no país, a partir de então. É no Brasil República, por sua vez, que começa a se dar os primeiros passos (apesar de lentos) em direção à proteção e garantia dos direitos da infância e da adolescência.


3.2 O surgimento do Código de Menores

Em 1920, começam a surgir no Rio de Janeiro (capital do país, na época), os centros de atendimento a crianças e adolescentes mais especializados. Sete anos mais tarde, nasce, finalmente, o primeiro Código de Menores do Brasil, criado pelo Juiz de Menores da Capital, Mello Mattos, considerado na época como o “apóstolo da infância abandonada” (PEREIRA, 1996, p.16). O documento acabou sendo conhecido como Código Mello Mattos, sendo que o juiz também foi responsável por criar alguns estabelecimentos de proteção e assistência a meninos e meninas abandonados. Já a partir da década de 1940, em pleno período do Estado Novo, o sistema adotado em questão era o Serviço de Assistência ao Menor (SAM), que consistia no internato de meninos e meninas que tinham cometido infrações, além de oferecer para pessoas carentes oficinas de capacitação profissional. Porém, com o passar dos anos, o local levou atribuições como “sucursal do inferno” e “universidade do crime”, por conta do caráter repressivo dos atendimentos, o que fez com o que o SAM passasse a ser julgado pela sociedade. Durante o regime militar, a partir da década de 1960, foram estabelecidos dois instrumentos legislativos para crianças e adolescentes em situação irregular, ou seja, ao “menor carente, abandonado ou infrator”. A primeira foi a Lei 4.513/64, em que se criou a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor, que estabeleceu a Política do Bem Estar do Menor, seguida pela Lei 6.697/79, que já seria a legislação referente ao Código de Menores. O documento, que adotou a Doutrina de Proteção ao Menor em Situação Irregular, passou a vigorar no Brasil a partir da década de 1980, sendo utilizado no país até 1989. As seis categorias das situções especiais que caracterizavam a situação irregular foram lembradas por Tânia Silva Pereira (1996), no livro “Direito da Criança e do Adolescente: uma proposta interdisciplinar”, ao citar os aspectos definidos por Paulo Lúcio Nogueira (1988) em relação às catalogações


existentes no 2º artigo do Código de Menores. Pereira, de acordo com a citação de Nogueira, afirma que estas situações poderiam ser descritas da seguinte maneira: Como as situações de perigo que poderão levar o menor a uma marginalização mais ampla, pois o abandono material ou moral é um passo para a criminalidade. (...) A situação irregular do menor é, em regra, situação irregular da família, principalmente com a sua desagregação (NOGUEIRA apud PEREIRA, 1996, p.21).

A partir de então, a Política Nacional de Bem-Estar do Menor (PNBEM) foi uma forma de gestão centralizada e de metodologia unificada para todo o país, tendo como seu órgão centralizador a Fundação Nacional do Bem Estar do Menor (FUNABEM), além das filiais no restante do país, conhecidas como as Fundações Estaduais de Bem- Estar do Menor (FEBEM) (PEREIRA, 1996, p.18). A filial paraense era conhecida como a Fundação de Bem-Estar Social do Pará (FBESP). De acordo com Fernandes (2008), a Funabem, por sua vez, acabou trazendo artifícios semelhantes ao SAM1, como a cultura da repressão, os equipamentos e os funcionários antigos do outro estabelecimento e ainda sem técnicas inovadoras para utilizar no atendimento de adolescentes. Quando se deu o início do processo de abertura democrática no país, a partir da segunda metade da década de 1970, período em que consistiu no surgimento de setores com visões humanistas que envolviam a educação e os direitos humanos, a PNBEM e o Código de Menores começaram a ser bastante questionados por estes grupos. E foi dentro deste quadro criticado pela sociedade, que foi criado o Plano de Integração Menor-Comunidade (Plimec), programa que tinha como objetivo principal o atendimento e a promoção de meninos e meninas, sem que estes precisassem ser retirados do ambiente familiar em que viviam, o que impedia a institucionalização ou o abandono destes indivíduos. No entanto, de acordo com Fernandes (2008), as demandas existentes no programa fizeram com o que o Plano não se adaptasse às principais

1

Serviço de Assistência ao Menor


necessidades do público, uma vez que adotaram um modelo centralizador e vertical. A partir da década de 1980, por conta do mau êxito do Plimec, movimentos sociais em defesa de crianças e adolescentes começam a surgir no país, além de ser também, o início de várias discussões sobre o assunto, baseado no fracasso do Programa. Fernandes (2008) afirma que meninos e meninas de rua, por exemplo, passam a ser vistos como aspectos de uma realidade presente no Brasil, sendo eles, motivos de preocupação para a sociedade, pois “pelo seu completo desprovimento de direitos, o menino de rua passa a ser um fator de reflexão para a sociedade em um contexto que só crescia no país”. (FERNANDES, 2008, p.34). Com a constante preocupação do quadro lamentável de crianças e adolescentes nas ruas, foi iniciado o projeto Alternativas de Atendimento a Meninos de Rua, criado por especialistas do Fundo das Nações Unidas para a infância (UNICEF), da Funabem e da Secretaria de Ação Social (SAS). A iniciativa teve como função inicial identificar e registrar experiências com meninos e meninas de rua ou de comunidades pobres que estavam tendo experiências positivas no país. Com isto, segundo Rizzini (2002), o projeto passou a realizar encontros e vários grupos espalhados pelo Brasil passaram a se organizar para formar comissões locais e estaduais. O Encontro Nacional de Meninos e Meninas de Rua, por exemplo, foi uma das ações organizadas pelo projeto, o que resultou na participação de várias crianças e adolescentes que, na ocasião, expuseram suas opiniões a respeito da violência, miséria, alimentação, maus tratos físicos e saúde. Após este tipo de demonstrações pelo país, começou a ficar forte a corrente que tinha como principal argumento a defesa pelos direitos das crianças e adolescentes. Para mobilizar e conscientizar ainda mais a sociedade foi assinada, em 1986, a Portaria Interministerial nº449, responsável pela criação da Comissão Nacional Criança e Constituinte, em que vários setores do poder público, assim como a mídia, se uniram para defender os direitos e a cidadania dos indivíduos menores de 18 anos de idade.


Ainda em decorrência da Comissão foram criadas duas emendas de inciativa popular, a primeira denominada “Criança e Constituinte”, seguida pela “Criança-Prioridade Nacional”, ambas com assinaturas de 200 mil eleitores, sendo assim, apresentadas à Assembléia Nacional Constituinte. Foi então que, no dia 05 de outubro de 1988, segundo Pereira (1996) os textos contidos nas emendas foram incluídos na Carta Constitucional. E, em 1990, para regulamentar as experiências citadas na Carta, que o então presidente de República, sancionou a Lei 8.069, o que veio a ser o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

3.3 ECA: legalizando os direitos de meninos e meninas

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), legislação avançada em relação aos direitos da infância e adolescência no Brasil, traz para a sociedade um modelo de democracia em que meninos e meninas possuem direitos de participação e prioridade absoluta nas políticas públicas desenvolvidas pelo Estado brasileiro. A proposta instituída pelo documento se estabelece, primeiramente, na busca pelo entendimento pleno da sociedade para que as crianças possam ser vistas como sujeitos de direito. No entanto, a criação do Estatuto passou por uma série de dificuldades. E tudo só foi possível após a participação e dedicação de vários movimentos sociais, organizações, sociedade civil e poder público, que, durante muitos anos, promoveram seminários, encontros, passeatas e manifestações em prol da garantia de direitos infanto-juvenis. Saeta e Souza Neto (2006) mostram que o processo de construção para a efetivação plena dos direitos da infância podem ser vistos com uma “beleza” diferente, principalmente se comparado aos embates da sociedade civil para a alteração do Código de Menores de 1979. Os autores ressaltam que a mobilização feita pelos aliados do processo de mudança fez com que o ECA se tornasse um projeto da sociedade civil mais do que uma Lei do Congresso.


O processo, feito a partir de instrumentos legais, deixou de estigmatizar meninos e meninas como “um feixe de carências, de coitadinhos, de bandidinhos ou pivetes”, termos encontrados no Código de Menores. Reconhecê-los como sujeitos de direitos não significa negar, omitir a relação de subordinação das crianças e adolescentes aos adultos e nem a responsabilidade destes no crescimento e desenvolvimento daqueles. Contudo, significa questionar, impedir, denunciar aquilo que nesta relação – pessoal ou institucional – tenha marca do autoritarismo discricionário, da violência, do sofrimento, de condições adversas ao bem-estar e à saúde física e mental, que comprometem o desenvolvimento do indivíduo e do cidadão em sua realização pessoal e participação social (SAETA; SOUZA NETO, 2006, p.29).

Na época em que prevalecia a doutrina do Código de Menores no Brasil, crianças e adolescentes, em especial os de baixa renda, eram tratados como seres que precisavam ser tutelados pelo Estado. A partir da vigência do ECA, a garantia dos direitos destes indivíduos passou a ser responsabilidade do Estado, da família e da sociedade, tudo isso para que as determinações do Estatuto fossem cumpridas. De acordo com o ECA, a principal efetivação de direitos por parte do Estado precisa se dar pela prioridade absoluta na elaboração e implementação de políticas públicas para crianças e adolescentes. Castro lembra que alguns conceitos sobre o termo políticas públicas. Os de autoria de Bruno Jobert e Pierre Muller (1987), por exemplo, definem que política pública é o Estado em ação e que uma “política só é pública a partir do momento em que o Estado participa como um agente importante” (CASTRO, 2008, p.66). A autora afirma ainda que toda política pública precisa ter como objetivo a promoção do bem comum e o desenvolvimento das pessoas, a partir dos direitos que possuem. No entanto, Castro revela que na prática a maioria das políticas

atendem a interesses específicos, mesmo sendo elas em prol da

realização de um bem comum. Isto porque, segundo a autora, acontece porque os grupos de poder2 são os responsáveis em implantar e desempenhar as políticas públicas. 2

Portadores de interesses organizados, indivíduos que possuem voz ativa, responsáveis em formular e pressionar seus interesses e demandas. Estes grupos de poder podem fazer parte do Estado ou do setor privado e sociedade civil.


O ECA garante às crianças e aos adolescentes a proteção integral, ao contrário do antigo Código de Menores, que oferecia a proteção apenas a meninos e meninas considerados em situação irregular. Para que o Estatuto chegue ao conhecimento de toda a sociedade, é fundamental que a mídia atue na divulgação e no debate sobre os direitos de meninos e meninas. Fazer com que esta discussão esteja constantemente em pauta ainda é um desafio, uma vez que ainda vemos que esta cobertura não está presente no dia a dia dos veículos de comunicação. A prática de um jornalismo mais comprometido com as questões sociais seria um diferencial na mídia brasileira e, sem dúvidas, faria com que essa temática fosse mais entendida e respeitada pela sociedade.

3.4 O papel social do jornalismo: a comunicação e os direitos humanos

Para se iniciar uma discussão sobre jornalismo e seu papel na sociedade, é necessário, primeiramente, entender o início deste processo no país. O curso de jornalismo no Brasil foi instituído no Sistema de Ensino Superior Brasileiro, no dia 13 de maio de 1943, na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), pelo então ministro da Educação e Saúde, Gustavo Capanema. Porém, a regulamentação do curso aconteceu apenas em 1946, a partir do Decreto 22.245, publicado a mando do atual ministro da Educação e Saúde na época, Ernesto de Souza Campos. A viabilização do curso, por sua vez, ocorreu por conta do empresário Cásper Líbero, famoso no século XX, que transformou seu jornal A Gazeta em um periódico vespertino de São Paulo. (SANTOS, 2007, p.63). Após a morte do empresário, estava decretado que todos os jornais, rádio e revistas de Líbero, seriam constituídos em uma Fundação sob a responsabilidade dos funcionários mais antigos do empresário, o que ocasionou no surgimento da Fundação Cásper Líbero, referência hoje no Brasil no ramo da Comunicação.


A função desempenhada pelos jornalistas, muitas vezes, sofrem interferência do fator “tempo”, que não permite que o produto final realizado pela categoria saia do modo que se deseja. Medina (1989) acredita que o custo que o profissional paga por este imediatismo da notícia é o convívio com a imperfeição, uma vez que, é praticamente impossível dar conta de atender a todas as exigências do dia-a-dia da atividade, em um curto espaço de tempo. A reportagem pode ser interpretada como uma rica peça literária, porque seu único autor trabalhou muito bem a forma; ou ser interpretada como uma rica e polêmica matéria porque muitas pessoas têm oportunidade de falar através dela. São duas maneiras de encarar o papel do profissional – ou se exige dele a perfeição do autor “miraculoso”, onipotente, alfabetizado (...), capaz de concluir sobre o mundo com autoridade de cientista social; ou se dele a humildade do intermediário que sai para a sociedade para rastrear o maior número possível de versões (MEDINA, 1989, p.23).

Bucci (2008) cita que o poder emana do povo e em seu nome é exercido, fundamento este, pertencente à democracia. A imprensa, como parte deste processo democrático, precisa fiscalizar o poder e o exercício do poder que dependem do compartilhamento dos interesses e temas importantes - de interesse público - para o conhecimento dos cidadãos. Sem esta vigilância do poder, segundo Bucci, “não há como se pensar em limites para o exercício do poder na democracia” (BUCCI, 2008, p.46). Tudo isso se dá para que a imprensa possa cumprir melhor seu papel de levar informações de qualidade e verdadeiras para a sociedade. O jornalismo possui uma grande responsabilidade social em nossos dias, uma vez que o direito à informação e à comunicação já foi proclamado como algo fundamental desde o início das declarações de direitos. Neste aspecto, Bucci cita o artigo 11 da “Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão”, de 1789, em que diz que “a livre comunicação das ideias e das opiniões é um dos mais preciosos direitos do homem”. O autor também lembra o artigo 19 da Declaração dos Direitos Humanos, de 1948: Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras (BUCCI, 2008, p.47 – artigo 19 da Declaração dos Direitos Humanos).


Mesmo com toda esta necessidade plena que o ser humano tem de receber informações, este direito ainda não é totalmente garantido, a ponto de vê-los essenciais como os direitos à educação e à saúde. Para Bucci ter acesso à informação é ter liberdade. A defesa dos direitos humanos na mídia pode até ser de conhecimento de uma parte dos profissionais de comunicação. O fato é que estes não põem em prática o que deve ser feito. Outros, porém, desconhecem totalmente as normas relacionadas à garantia de direitos do ser humano, seja ele de classe social inferior a uma outra ou excluído da sociedade por conta de sua cor, religião, sexo ou raça. Almeida (2008) afirma que não existe, ao certo, uma exata definição sobre as percepções de direitos humanos por parte dos profissionais de jornalismo. Por isso, a única dedução que podemos ter em relação a estes profissionais só podemos observar no resultado de seus trabalhos, disponíveis em bancas, rádios, na TV ou em telas de computador: Os meios de comunicação de massa tiveram e têm um importante papel na divulgação, análise e fiscalização das diferentes gerações de direitos humanos e das violações dos mesmos. O trabalho da mídia fomenta e assegura a garantia da liberdade de pensamento e de expressão das múltiplas vozes que compõem uma sociedade (ALMEIDA, 2008, p.257).

Ainda assim, Almeida acredita que estamos tendo certo avanço na produção e cobertura dos temas relacionados aos direitos humanos no país. Porém, segundo a autora, este avanço ainda não alcançou seu patamar ideal. Para Gentilli (2005) os jornais são bons instrumentos de difusão que asseguram direitos: Penso o jornalismo como uma atividade indispensável no mundo contemporâneo, como o instrumento que viabiliza o direito à informação, onde os jornais desempenham a função de mediadores e os jornalistas, individualmente, de representantes do leitor, telespectador e ouvinte, como indivíduos, consumidores e cidadão (GENTILLI, 2005, p.142).

A escassez de espaço editorial e a busca natural por fatos novos, além da inexperiência, história de vida e a deficiência da formação em direitos


humanos no Brasil - tanto nas escolas quanto nas universidades brasileiras – estão entre as principais problemáticas levantadas por Almeida quando se trata da falta de cobertura e atenção no dia-a-dia da mídia para os direitos humanos. O autor também cita a ausência dos cidadãos comuns que não cobram dos grandes veículos, uma abordagem maior sobre o tema em suas reportagens, edições especiais ou até mesmo em pautas rotineiras. Para Maria Victória Benevides, no artigo intitulado Cidadania e Direitos Humanos, apresentado na Cátedra Unesco/USP de Educação para a Paz, Direitos Humanos, Democracia e Tolerância, em 2006, falar em democracia, direitos humanos e paz pode acabar sendo interpretado de forma redundante, já que não se pode entender a democracia se não agregarmos a ela estes aspectos citados acima. Para ela, a ideia de cidadania é uma ideia eminentemente política, que não está necessariamente ligada a valores universais, mas a decisões políticas. Benevides (2006) acredita que o tema relacionado aos Direitos Humanos precisa ser mais colocado em foco nas faculdades e escolas. A autora cita a não participação dos jovens da atualidade na época em que se instaurou a Ditadura Militar no Brasil, mas, que mesmo assim, sabem muito bem ou, pelo menos, devem ter ouvido falar do movimento em defesa dos direitos humanos em prol das pessoas que foram perseguidas por ter envolvimento com a política. Mas, após o período mais opressor da Ditadura, Benevides afirma que a ideia de que todos mereciam a garantia dos direitos fundamentais, independentemente da condição social, não foi levada adiante como se esperava. Segundo a autora, apenas aqueles cidadãos denominados presos políticos eram merecedores da preocupação com a efetivação destes direitos. Por conta disso, a defesa dos direitos humanos passou a estar relacionada a situações de defesa de “criminosos comuns que, quando são denunciados e apenados, pertencem, em sua maioria, às classes populares” (Benevides, 2006. p3). Parte deste cenário foi construída com a ajuda da mídia. O tema dos DH (direitos humanos), hoje, permanece prejudicado pela manipulação da opinião pública, no sentido de associar direitos humanos com a bandidagem, com a criminalidade. (...) as classes populares são geralmente vistas como “perigosas” (...). Então, é por isso que se dá, nos meios de comunicação de massa, ênfase


especial à violência associada à pobreza, ignorância e miséria. É o medo dos de baixo - que, um dia, podem se revoltar – que motiva os de cima a manterem o estigma sobre a ideia de direitos humanos (BENEVIDES, 2006. p.4).

Para a autora, é preciso que as pessoas e os meios mais conservadores percebam a importância de promover, reconhecer e defender os direitos humanos no Brasil, principalmente, com a ajuda de várias campanhas de esclarecimento, demonstrando paras as massas, desde cedo, que é preciso ter um compromisso maior com a educação para a cidadania democrática. A instrução para uma melhor cidadania para o povo, por meio da mídia, pode ser uma das características de um tipo de jornalismo analisado por Nelson Traquina. Para o autor, o surgimento do jornalismo cívico, também denominado jornalismo público, serve para evidenciar que o jornalismo, assim como a democracia, está passando por uma verdadeira crise. O jornalismo cívico, por sua vez, seria uma maneira inovadora de se atuar na profissão, que tem como objetivo promover a mobilização social para se conseguir mudanças e, evidenciar os problemas vivenciados pela sociedade, como as demandas e reclamações dos cidadãos, fatores estes, de fundamental importância na atuação jornalística. Com este tipo de jornalismo, segundo Traquina (2003), a discussão pública entre movimentos sociais e organizações da sociedade civil estaria mais próxima ao dia-a-dia de um profissional que segue este segmento do jornalismo. O movimento do jornalismo cívico ou público, de acordo com Fernandes (2002), também é descrito como uma maneira de ajudar a sociedade a encontrar as soluções para os problemas da comunidade. Para ele, por jornalismo cívico entende-se que: Seja a ação de ‘retomar contato com a comunidade, descobrindo o que os leitores querem e abrindo espaço para discussões de temas de interesse público... um jornalismo que ajude as pessoas a superarem sua sensação de impotência e alienação, definindo-as a envolver-se e tomar para si a responsabilidade sobre problemas comunitários (FERNANDES, 2002, p.96).

Divulgar e trabalhar na produção deste tipo de jornalismo é fazer com que temas relevantes da sociedade sejam colocados em pauta, além de ajudar a comunidade no entendimento de questões sociais. Neste contexto, a


divulgação freqüente de matérias e reportagens que abordem os direitos de crianças e adolescentes faria com que a sociedade entendesse com mais facilidade a causa e luta pelos direitos da infância e adolescência.

3.5 Jornalismo Cívico e direitos de crianças e adolescentes

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) propõe a cidadania a meninos e meninas, pois além de legalizar seus direitos fundamentais, oferece a todas as crianças e adolescentes o direito à voz, à opinião, à participação, ao respeito, à liberdade e à dignidade. Ainda precisamos levar mais adiante os debates na mídia sobre os direitos de meninos e meninas e, é por isso, que Vicente (2008) acredita que o papel dos comunicadores neste contexto social é de fundamental importância. Esta participação da imprensa pode acarretar, por exemplo, em reportagens e informações de serviço público que ajudem a população a procurar pelos seus direitos em relação à infância e à adolescência. Um exemplo lembrado por Vicente foi a implementação do Sistema de Garantia de Direitos, da existência no município do Fundo da Infância e Adolescência (FIA), além da implementação dos Conselhos Tutelares e de Direitos. A partir destes temas, muitas discussões podem ser colocadas em pauta, gerando conhecimento para a população e, ao mesmo tempo, dando incentivo para que ela fiscalize estas ações em sua localidade: O pleno sucesso do ECA depende, sob um certo ponto de vista, da capacidade em se fazer conhecer não apenas a legislação em si, mas também todo o aparato previsto para transformá-la em realidade, o que contribui para dar perenidade a uma nova atitude perante a infância e adolescência. A isso soma-se o fato de que a própria imprensa, por definição, pode e deve assumir um papel ativo no processo de monitoramento, fiscalização e cobrança quanto à definição, gestão e avaliação das políticas públicas (VICENTE, 2008, p. 276 - 277).


Um dos desafios referentes à cobertura da infância e da adolescência no país se baseia no aspecto negativo criado pela opinião pública em relação à falsa ideia de que o Estatuto protege os adolescentes que cometem atos infracionais. Vicente (2008) reitera que a imprensa pode colaborar para desfazer este tipo de equívoco, por meio de informações qualificadas e comprometidas com a verdade, que mostrem que a lei garante aos adolescentes que cometem atos infracionais o julgamento adequado para suas ações. O chamado jornalismo cívico, conhecido como um segmento de comunicação que caracteriza a produção de matérias relevantes e de cunho social à população, não é visto cotidianamente nos grandes veículos de comunicação. A ausência deste tipo de jornalismo enfraquece a qualidade do trabalho e da produção jornalística, fazendo com que sejam produzidas apenas matérias e reportagens não aprofundadas sem perspectivas. No artigo “Jornalismo cidadão, uma proposta brasileira ao jornalismo cívico”, Barcellos e Alveti definem muito bem este tipo de jornalismo: O movimento do jornalismo cívico tem como proposta o resgate dos ideais do Jornalismo, independente de interesses econômicos e políticos, visando a cidadania, na defesa das causas de seus cidadãos. Na prática, isso significa fazer uma cobertura que atenda aos direitos dos indivíduos, tratando a informação de modo que ela contribua para que os receptores sejam conscientes de seus direitos em uma sociedade democrática (BARCELLOS; ALVETI, 2007, p.1).

No Brasil, temos bons exemplos de práticas jornalísticas que atuam com mídia e direitos humanos. A principal é a Agência Nacional dos Direitos da Infância (ANDI)3, que tem como objetivo estimular e sensibilizar os profissionais da área sobre os temas relacionados a direitos de meninos e meninas. Fernandes (2008), ao citar Cristina Ponte (2002), é clara ao dizer que ainda são necessárias inúmeras iniciativas que falem e respeitem os direitos humanos, tendo, por sua vez, o trabalho da ANDI em destaque:

3

www.andi.org.br - endereço eletrônico da Andi em que pode se encontrar resumo das principais notícias sobre infância e adolescência do Brasil, além de pautas referentes ao tema e publicações especiais, principalmente para comunicadores, sobre crianças e adolescentes.


Entre outros, destacamos a inscrição da sua cobertura jornalística como tema de reflexão pela Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), envolvendo aspectos deontológicos, e o trabalho de sensibilização de jornalistas por parte da agência brasileira ANDI, que procura nomeadamente influenciar o tratamento jornalístico de crianças em situação de risco social e que a cobertura noticiosa não incida apenas na ‘denúncia de situações’ e contenha também ‘busca de soluções’ (PONTES apud FERNANDES, 2008, p.37).

A Agência disponibiliza em seu site materiais que abordam a situação da criança e do adolescente no país, por meio de guias e manuais que buscam tirar dúvidas sobre palavras, termos e expressões que confundem ou comprometem a qualidade da informação. As publicações existentes no site permitem, principalmente, que jornalistas e estudantes tenham excelentes fontes de consulta sobre temas como exploração sexual contra crianças e adolescentes, situação de risco de meninos e meninas, educação, entre outros temas. Não só de comunicadores profissionais é formado o público que a ANDI deseja atingir. A instituição também acredita que a participação dos acadêmicos de comunicação social é fundamental para se criar uma formação em direitos humanos, em especial, os de crianças e de adolescentes. Para isso, a Agência realiza, anualmente, com o apoio do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ), concursos que envolvem a participação dos alunos de jornalismo, publicidade e relações públicas de instituições de ensino superior de todo o país: é o chamado programa InFormação. O concurso, de acordo com a página eletrônica do programa4, tem como objetivo a ampliação das possibilidades de qualificação dos futuros profissionais de Comunicação para a cobertura das temáticas sociais, especialmente as relativas aos direitos humanos de crianças e adolescentes. O projeto de pesquisa que é enviado à agência precisa ser o mesmo que o aluno (a) irá defender no término de seu curso, no Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Os selecionados no programa, que são divididos em várias

4

Disponível em:

http://www.informacao.andi.org.br/relAcademicas/site/visualizarConteudo.do;jsessionid=4D263 E8FBEB4FA26321165C62CA96EDD?metodo=visualizarHome Acesso em 12.02.09.


categorias na área da infância e adolescência, recebem um auxílio financeiro durante o tempo em que estiver produzindo o estudo final. Mesmo com o objetivo de aproximar estudantes de comunicação do estudo na área da infância, ainda é grande a distância entre os alunos de comunicação da Unama e a Andi, uma vez que ainda é pouca a produção de trabalhos de conclusão de curso sobre esta temática. O distanciamento poderia ser diminuído caso a Universidade trabalhasse com mais eficiência a questão dos direitos de meninos e meninas dentro do conteúdo programático do curso. No entanto, a instituição apresenta iniciativas de extensão que tentam aproximar os alunos desta discussão, como é o caso da Agência Unama.

4 JORNALISMO E UNIVERSIDADE


4.1 Agências universitárias e sua importância para a comunidade acadêmica

A preocupação em ministrar o ensino prático aos universitários de comunicação já era nítida desde a criação do primeiro curso superior de jornalismo, em 1935, na Universidade do Distrito Federal. Mesmo assim, a formação teórica do acadêmico não era esquecida, uma vez que práticas de Redação e oficinas de História, Literatura e Política caminhavam sempre atreladas. No entanto, a prática do ensino de jornalismo só começou a surgir, aos poucos, com a Fundação da Escola de Jornalismo Casper Líbero, em 1947 -, momento em que os cursos começaram a adquirir identidade própria. Segundo Fernandes (1989), houve neste momento de deficiência de instrumentos práticos nos cursos, quem se destacasse no ramo e criasse estratégias para que os alunos tivessem a oportunidade de colocar em prática o que aprenderam em sala de aula. Foi o caso de Luiz Beltrão, da Universidade Católica de Pernambuco, que tentou simular as situações profissionalizantes na sala de aula por meio da implementação do “jornal cobaia”. O autor também atribui o início da melhoria dos ensinamentos práticos de jornalismo no país, à produção de uma pesquisa feita pela Faculdade Casper Líbero em 1967, que teve o objetivo de analisar a experiência de 20 anos dos cursos de jornalismo. Para Lopes, a pesquisa foi uma contribuição valiosa para formar um quadro sobre a situação do ensino nesse campo. Essas contribuições esbarravam na falta de infra-estrutura dos cursos que não estavam aparelhados para enfrentar uma linha de trabalho mais profissionalizante. A isso, somava-se a contínua pressão enfrentada pelos formandos nas redações. Com formação apenas teórica, na maioria dos casos, eles enfrentavam a ironia e o desprezo dos profissionais formados nos jornais (LOPES, 1989, p. 20).

Na obra “Jornal Laboratório: do exercício escolar ao compromisso com o público leitor”, que possui relatos e experiências sobre práticas de extensão e jornal laboratório em uma academia, Lopes afirma que o jornal laboratório pode


ser comparado com o ensino da extensão porque também é vinculado a ele a teoria e a prática do jornalismo, dando oportunidade de alunos atuarem de maneira semelhante às atividades de extensão. Segundo Lopes, que trabalhou com o conceito de jornal-laboratório obtido a partir do III Encontro de Jornalismo Regional sobre Órgãos Laboratoriais Impressos, que aconteceu em 1982, na Faculdade de Comunicação, os jornais-laboratórios são veículos que devem ser feitos a partir de um conjunto de técnicas específicas para um certo público específico, se baseando, por sua vez, em parcerias sistemáticas em todo o desenvolvimento do trabalho. Outra conclusão obtida durante o Encontro, é que a prática de diferentes técnicas jornalísticas deve estar incluída em uma mesma escola, como a existência dos veículos universitários Rádio Unama5 e TV Unama6, além do jornal interno Comunicado,7 no caso da Universidade da Universidade da Amazônia. Porém, definiu-se que é de extrema necessidade que haja em todos os projetos que desenvolvem a prática jornalística em uma universidade ou escola de comunicação, a participação de alunos e professores no desenvolvimento prático, desde a sua formulação até o acabamento gráfico. Instrumento fundamental de um curso de jornalismo, o jornallaboratório dá condições ao estudante de realizar treinamento na própria escola, possibilitando que coloque em execução, ainda que experimentalmente, os conhecimentos teóricos adquiridos nas disciplinas da área técnico-profissionalizante. Integra os alunos na problemática da futura profissão, tornando possível que obtenham uma visão global do processo jornalístico, não apenas no aspecto conceitual, mas também na prática do dia a dia das redações (LOPES, 1989, p.149).

Diferenças geográficas e de origem foram levadas em consideração na tese de doutorado “Prática e Aprendizado – a importância da Agência

5

Rádio universitária da Unama que tem a participação de alunos de jornalismo e publicidade da instituição. 6

Tv universitária da Unama que produz reportagens sobre diversos assuntos da região. Alunos de jornalismo e publicidade também fazem parte da iniciativa. 7

Jornal universitário da Unama existente há mais de 30 anos.


Universitária de Notícias como jornal-laboratório”, de Fernando de Maria dos Santos, pela Universidade de São Paulo (USP), em 2007. No estudo, Santos analisou a experiência de três agências universitárias atuantes no país, entre elas, a Agência Unama de Comunicação (particular)8. As outras duas foram a Agência Universitária de Notícias (AUN - estadual)9, da USP e, a Agência Unaberta, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC - federal)10 citada pelo autor como a mais antiga em atividade no Brasil. A Agência USP, órgão oficial de comunicação da Universidade de São Paulo, uma das maiores da América Latina (Santos, 2007, p.20), é um projeto ligado à Coordenadoria de Comunicação Social (CCS), que tem como objetivo divulgar a produção científica e as atividades da instituição, como cursos e palestras. A exemplo do que ocorre no meio institucional universitário –ainda de forma tímida – alguns cursos de jornalismo já perceberam a potencialidade desta nova proposta para unir a prática acadêmica por meio de atividades laboratoriais. E, em alguns casos, introduziram em sua grade curricular ou como projeto de extensão as atividades na área de Agências de Notícias. (...). Desta forma, busca-se unir o útil aprendizado aos alunos para a prática jornalística e contribuição social na divulgação livre de assuntos importantes à comunidade – ao agradável – divulgação da produção acadêmica junto aos meios de comunicação (SANTOS, 2007, p.21).

Correia (1998), da Universidade da Beira do Interior, em Portugal, fala sobre a construção histórica do jornalismo e afirma que a prática jornalística não deve ser afetada pelas especificidades pressupostas em determinadas regiões. Uma vez que isso acontece, segundo Correia, a formação dos jornalistas

pode

sofrer

conseqüências

sob

pena

de

se

cair

numa

condescendência paternalista em relação às empresas jornalísticas, em relação aos profissionais e em relação aos públicos leitores. Para o autor, as universidades e Centros Superiores possuem um papel fundamental neste trabalho: 8

Que pertence à Universidade da Amazônia

9

Disponível em: http://www.usp.br/aun/_reeng/index.php Acesso em: 20/01/09

10

Disponível em: www.unaberta.ufsc.br/ Acesso em: 20/01/09


As regiões precisam de um jornalismo de excelência. Por isso, a título pessoal, se defende de forma clara e sem tibiezas, que, para já, no imediato, as Universidades e Institutos Superiores através de uma relação institucional com as empresas jornalísticas e com Institutos de Formação já existentes desenvolvam ações viradas para a preparação, formação e reciclagem de profissionais qualificados e de públicos cada vez mais exigentes e informados (CORREIA, 1998, p.8).

Para muitos autores contemporâneos, a relação entre “professor e aluno” dentro de uma sala de aula já não é a mesma existente há tempos atrás, quando o pensamento do mestre tinha que se sobrepor ao pensamento do aluno. Pelo contrário. Para Simone Tuzzo (2004), na relação atual entre discentes e docentes não pode haver personagem principal ou coadjuvante, e sim, deve existir um cenário que tenha complementações de ambas as partes, sem haver, por sua vez, um conceito supremo de verdade. Segundo a autora, o ensino de graduação precisa ser encarado como uma “reflexão sobre a atuação de um profissional para suprir uma lacuna social” (Tuzzo, 2004, p.146). Ou seja, dentro da Universidade, mais ainda, é necessário que os conceitos possam ser sempre reestudados e atualizados para garantir ao acadêmico uma boa formação crítica e, consequentemente, produção de conhecimento. Dentro deste contexto acadêmico, o tripé ensino-pesquisa-extensão de uma Universidade, de acordo com Tuzzo, é essencial para que o aluno perceba que a produção do conhecimento “vai além de uma sala de aula, onde se realizam as aulas teóricas e além dos laboratórios, onde se realizam as aulas práticas” (TUZZO, 2004, p.147). O espaço de aprendizado está em toda a sociedade, pois o aprendizado não necessita de local ou horário predeterminados pelas regras universitárias. Assim, os alunos devem enxergar o cotidiano como um grande laboratório, onde todo tipo de manifestação possa ser analisado, sob a ótica da ciência que se pesquisa e que se quer descobrir. O olhar deve ser crítico e o senso comum deve ceder lugar ao questionamento (TUZZO, 2004, p.147).

No artigo “A Universidade concorre com a mídia”11 Ivana Bentes aborda as diversas formas de circulação de informação existente, atualmente, no 11

Artigo disponível no endereço eletrônico: http://www.scribd.com/doc/9568822/Auniversidade-concorre-com-a-midia-Ivana-Bentes Acesso em: 13/01/09


mundo. Para tanto, Bentes discorre sobre a utilização dos meios de comunicação como TV, rádio, jornais, revistas, além de portais e sítios da Internet e, afirma que estamos mergulhados em um cenário de “excesso e saturação de informações”. A questão levantada pela autora é como se pode tirar proveito, ou absorver algo positivo de todo esse “lixo informacional”? Para Ivana, as universidades são locais onde seria fundamental a capacitação dos universitários para se tornarem bons críticos e terem, a partir de então, o poder de selecionar as informações relevantes do dia a dia. Resta ao ensino, à universidade, mais do que nunca, assumir sua função de formadora – não de mão-de-obra especializada para o mercado, isso qualquer curso técnico pode fazer em poucos meses -, mas formar analistas simbólicos, pessoas, cidadãos capazes de interagir, de se movimentar, de decodificar essas informações, de extrair desse excesso de informações, um pensamento ou uma ação (BENTES, 1998).

4.2 Unama: O surgimento do curso de Jornalismo e os projetos de extensão

Partindo da origem da palavra, extensão é “estender-se, levar a pesquisa e o ensino codificados de forma adequada para bem comunicar além dos muros das universidades” (NEVES; SANTOS, 2008) e, de acordo com os autores, nada mais adequado que um estudante da área de Comunicação Social para efetuar esta ligação. É necessário que, em uma formação acadêmica em jornalismo, além da redação, sejam promovidas técnicas profissionais e critérios específicos de como identificar o que é notícia. É preciso que esta formação acadêmica não fique restrita também apenas ao despertar do universitário para uma formação científica, por meio da pesquisa, por exemplo. Necessita-se de um equilíbrio entre as duas vertentes. Neves e Santos acreditam que é por meio da extensão que o desenvolvimento crítico do aluno é promovido:


Fazê-lo despertar para seu papel social, ampliando a concepção de jornalista para além de suas funções técnicas e formais, mas antes de tudo contribuindo para a formação de comunicadores competentes, capazes de estabelecer e manter uma relação responsável com a sociedade e seus diferentes públicos, aprendendo a tratar com pessoas que trazem em si emoções, sentimentos e histórias de vida (NEVES; SANTOS, 2008, p.03).

A extensão universitária precisa manter uma interação entre a comunidade na qual a instituição de ensino superior está inserida, promovendo atividades que efetuem ligações permanentes entre a universidade e os diversos setores da sociedade. (NEVES; SANTOS, 2008). O capítulo Bases Conceituais da Extensão: construindo os caminhos, escrito por Vera Lúcia Soares (2004), a extensão universitária é vista como uma iniciativa que possui um importante papel na construção de um novo paradigma de conhecimento e na ampliação dos vínculos sociais. Tal importância pode ser retratada no trecho abaixo: Uma reforma deve levar em conta a capacidade de organização do conhecimento, capaz de refletir sobre a condição humana, contribuindo para a existência de uma solidariedade ética, respeitando as desigualdades e respeitando a diversidade, tendo em vista a importância da academia em consonância com os problemas vivenciados. A universidade não pode abdicar da defesa da razão crítica e da gestão de valores insubstituíveis da condição humana, tais como: o direito à vida, à informação, à felicidade, à cultura e ao progresso (FERNANDES, 2008, p. 07)

De acordo Soares (2004), a extensão universitária precisa estar no espaço entre as teorias da academia e as práticas sociais que colaboram com a formação do universitário: O Projeto de Extensão é um conjunto de atividades temporárias de caráter educativo, cultural, artístico e/ou científico, desenvolvidos OBRIGATORIAMENTE por docentes e discentes através de ações sistematizadas, voltadas a questões sociais relevantes. Deve estabelecer um fluxo bidirecional entre conhecimento acadêmico e popular, promovendo ações de estímulo ao desenvolvimento da sociedade. Deve proporcionar aos acadêmicos a formação de uma consciência crítica. Deve ainda contribuir para uma reflexão crítica das práticas curriculares e das linhas de pesquisa (SOARES, 2004, p.10).


Os universitários entrevistados12 que passaram pelo projeto confirmam o que foi dito por Soares, sobre “a formação de uma consciência crítica”. Eles revelam que esta, inclusive, é uma das referências e experiências que a iniciativa proporciona: A Agência para mim, sem dúvida, foi muito além de um ambiente de trabalho. Aliás, o melhor ambiente de trabalho que já tive oportunidade de conviver. Fiz muitos amigos que até hoje fazem parte da minha vida, construí princípios, reafirmei valores e, principalmente, me tornei uma pessoa menos preconceituosa e com 13 mais senso crítico.

Baseado nas ideias de Pessanha (2004), pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da Universidade Cruzeiro do Sul e presidente do Fórum de Extensão das IES Brasileiras, a extensão pode ser caracterizada de várias formas. Entre elas, temos a extensão enquanto projeto, que é analisado por Pessanha como um conjunto de atividades de caráter educativo, cultural, científico ou tecnológico, desenvolvido com um planejamento que contém início e fim definidos. No entanto, por mais que a Agência Unama de Comunicação pelos Direitos da Criança e do Adolescente seja conhecida como um “projeto de extensão”, a definição que mais cabe a ela, de acordo com o autor, é a denominação “programa de extensão”. Para ele, “programa é o conjunto de projetos articulados de forma institucional, contemplando objetivos com características temporal de continuidade e permanência”. (PESSANHA, 2004, p. 17). Ou seja, a Agência Unama, enquanto iniciativa sem fim definido, se encaixaria mais na denominação programa, estabelecida por Pessanha, uma vez que ela realiza ações mobilizadoras e jornalísticas sobre os direitos da infância e da adolescência com permanência e, possui prazos definidos apenas para os projetos internos, como entrega de reportagens, entrevistas e produção visual, atividades estas, também realizadas por agências universitárias. O curso de Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, surgiu na Unama a partir da Resolução CONSUN 022/2002. A implantação do curso foi 12

Universitários da Universidade da Amazônia (Unama) que atuaram no projeto Agência Unama de Comunicação pelos Direitos da Criança e do Adolescente. As análises e os comentários dos alunos acerca do projeto serão detalhados no capítulo 4. 13

Lígia Bernar, ex-estagiária do projeto, em entrevista no dia 20 fevereiro.


feita no ano de 2003, com uma versão anual. Já em 2004, o curso passou a ser semestral, sendo que, em 2007, de acordo com o histórico obtido no endereço eletrônico da Universidade14 o curso passou por uma reformulação que, de acordo com o histórico apresentado no endereço eletrônico da universidade, permitiu

uma

formação

humanística

dos

acadêmicos,

baseada

na

regionalidade, mercado de trabalho e desenvolvimento tecnológico. A universidade caracteriza o método do curso pela interface com uma série de áreas de conhecimento e, tem como princípio repassar aos alunos o exercício da objetividade na futura profissão como um aprendizado essencial, além dos ensinamentos a respeito da produção de informações relacionadas a fatos, contextos sociais e circunstâncias. A carga horária total para o curso de jornalismo é de 3.240 h/a, o que representa um tempo integral mínimo equivalente a oito semestres (quatro anos) e um total de 140 créditos. Ao todo, são oferecidas 100 vagas no primeiro semestre do ano e 50 vagas no segundo semestre, em turnos matutino, vespertino e noturno. Segundo o histórico do curso, a habilitação em Jornalismo da Universidade tem como objetivo oferecer aos alunos do segmento uma formação e compromisso com a cidadania, a partir do conhecimento e da análise regional, além de buscar que os acadêmicos compreendam o “processo de transmissão e recepção de mensagens midiáticas e seus impactos na sociedade”. Outro objetivo do curso está relacionado ao entendimento e aplicação da língua portuguesa nas diversas formas de mensagens jornalísticas existentes no mercado de trabalho. Se compararmos as características que a Universidade afirma desenvolver no curso, como a formação e compromisso (como a cidadania, a partir do conhecimento e da análise regional) é possível observar através das entrevistas que com os alunos de jornalismo, que este compromisso deixa a desejar. Universitários do último ano entrevistados para este estudo, acreditam que não foram estimulados o suficiente pela universidade para atuarem e trabalharem com um jornalismo mais compromissado. No entanto, a ex-

14

Disponível em: http://www.unama.br/graduacao/cursos/Jornalismo/ Acesso em: 15/02/09.


coordenadora do curso Ana Prado15, afirma que o curso de comunicação social se preocupa bastante com o repasse de conhecimento aos alunos para que tenham uma visão ampliada do que venha ser comunicação voltada para o interesse público. Para colaborar com a prática jornalística dos alunos do curso, a universidade possui uma infra-estrutura acadêmica com um laboratório, composto por estúdios de fotografia, TV, áudio, além de ilhas de edição nãolineares e de corte seco, laboratórios de revelação e ampliação fotográfica, quatro laboratórios de informáticas para aulas de computação gráfica e redação jornalística. Outros ambientes na universidade que tem como objetivo proporcionar a prática jornalística são a TV e Rádio Unama FM, onde alunos podem atuar como bolsistas e desenvolverem atividades relacionadas ao dia a dia de cada segmento jornalístico citado acima.

4.3 O projeto Agência Unama

A Agência Unama de Comunicação pelos Direitos da Criança e do Adolescente, da Universidade da Amazônia (Unama), busca analisar, além de outras atividades, a mídia e o cenário da comunicação feita, principalmente, no Estado do Pará, experiência esta que não é papel de muitas práticas jornalísticas existentes no País, quanto mais em experimentos localizados na Região

Norte.

As

atividades

desenvolvidas

pelo

projeto

podem

ser

classificadas em três eixos de atuação, são eles: o monitoramento da mídia, produção de notícias e relações públicas e mobilização social. De acordo com a coordenação do projeto, o monitoramento é feito por meio da clipagem diária realizada na Agência. Durante este processo, é possível que os alunos que trabalham no local possam observar como a mídia aborda a infância e adolescência nos jornais do Estado. 15

Jornalista que está ausente da universidade desde janeiro de 2008, por conta do doutorado que foi fazem em Portugal.


Já a produção de notícias, ainda de acordo com a coordenação da Agência, é feita principalmente pelos alunos que fazem parte do projeto, por meio de rondas telefônicas16 e buscas de pautas por sites da Internet. As notícias que são produzidas são publicadas no site da Agência e em boletins informativos do projeto enviado por email às organizações e veículos de comunicação de todo o Pará. Por fim, a mobilização social é feita a partir de eventos realizados no projeto, como oficinas de comunicação e direitos humanos para comunicadores e debates com a comunidade acadêmica sobre assuntos relevantes da área da infância e adolescência. Acadêmicos

de

Comunicação

Social

e

jornalistas

envolvidos,

primeiramente, com a garantia dos direitos humanos, realizam um trabalho voltado para a área da infância e da adolescência, a partir das atividades exercidas pelo projeto de extensão e pelos preceitos do Eca. O compromisso com a formação cidadã dos alunos está entre as características da Agência Unama, uma vez que ela desenvolve trabalhos e atividades ligadas aos direitos de meninos e meninas e apresenta preocupação com a relação direitos humanos e mídia. Segundo a coordenadora do projeto, Danila Cal17, o papel da Agência Unama está bastante ligado à relação entre mídia e cidadania, pois trabalha diretamente com temas relacionados às questões sociais, como o direito de meninos e meninas. A Agência Unama de Comunicação foi citada no histórico18 do curso como “um projeto que visa acompanhar e monitorar a qualidade da comunicação que é produzida no Pará em relação à infância e adolescência”. Ainda no texto relacionado à extensão universitária, o histórico revela que a Agência não possui fins lucrativos e conta com a parceria do Unicef. A Agência é um projeto de extensão do curso de Comunicação Social e da Superintendência de Extensão da Unama, com apoio do Fundo das Nações Unidas pela Infância (Unicef) e da Fundação Instituto para o Desenvolvimento 16

Processo de contatos por telefone com as instituições e organizações sociais para buscar pauta sobre infância e adolescência.

17

18

Entrevista concedida no dia 17/03/09. Disponível em: http://www.unama.br/graduacao/cursos/Jornalismo/ Acesso em: 15/02/09.


da Amazônia (Fidesa). Existente desde 16 de agosto de 2004, o projeto é uma iniciativa inédita no Estado do Pará e no Brasil, enquanto associado a uma universidade. 4.4 QUADRO DE PESSOAL DA AGÊNCIA UNAMA

QUEM

CARACTERÍSTICAS

Coordenação do projeto

Professor do curso de comunicação responsável em coordenar e definir as ações do projeto.

Jornalista assistente

Responsável pelas ações de clipagem do projeto e produção de notícias.

Bolsista de extensão

Aluno selecionado durante o concurso de bolsa de extensão da universidade. O concurso acontece de seis em seis meses.

Estagiário

Aluno ligado ao projeto Agenda Criança Amazônia, do Unicef.

Voluntário

Alunos selecionados a partir de um processo de seleção realizado pela coordenação do projeto. Os voluntários trabalham sem receber remuneração e ao saírem do projeto, recebem um certificado de participação.

A ideia de criação da Agência Unama surgiu no ano de 2002, durante a realização do seminário Infância e Adolescência na Pauta da Mídia, promovido pelo Fidesa e pelo Unicef na própria Unama. O evento, que reuniu mais de 70 jornalistas da Região Metropolitana de Belém (RMB) e de diversos municípios do interior do Estado, teve como objetivo, de acordo com a coordenadora Danila Cal, discutir alternativas para tornar a comunicação e o jornalismo paraense mais responsável em relação aos direitos de meninos e meninas. Uma das propostas que surgiram após a discussão no seminário, foi a criação de uma agência de comunicação voltada exclusivamente para tratar sobre a comunicação e infância e adolescência: nasce então, dois anos depois, a Agência Unama. O surgimento do projeto se deu também porque a


coordenação de comunicação estava tentando ampliar o trabalho realizado pelo curso na área da cidadania. E, segundo a ex-coordenadora do curso de comunicação, Ana Prado, a Agência atendia essa demanda. Com quatro anos de existência, já passaram pelo projeto cerca de 90 alunos do curso de Comunicação Social da instituição, entre acadêmicos de jornalismo, publicidade e relações públicas, sendo eles, bolsistas de extensão, voluntários e estagiários. De acordo com o relatório das atividades desenvolvidas pela Agência no ano de 2006, mídia e direitos humanos são temas centrais do projeto. Lá, são realizadas atividades referentes à prática de uma comunicação comprometida e preocupada com o social, principalmente, com temas relacionados aos direitos de crianças e adolescentes. A ANDI foi o modelo de agência inspirador para a criação da Agência. Segundo a coordenadora do projeto, durante o período de implementação da Agência, a Andi enviou documentos para colaborar com a fortificação e formação do projeto. Atuante também como professora da Unama, a coordenadora Danila afirma que existe um “pessimismo exagerado” entre certos alunos de jornalismo da universidade, que acreditam que não é possível produzir um jornalismo comprometido com a causa social por conta do domínio e interesses econômicos e políticos dos grandes meios de comunicação. Isso demonstra um certo pré-julgamento por parte dos universitários que acabaram de entrar na academia, uma vez que eles utilizam esse pensamento no decorrer do curso como uma verdade absoluta, que não pode ser modificada. No entanto, Danila explica que as empresas de comunicação são empresas em primeiro lugar, e que é natural ter seus interesses privados. Porém, esses veículos precisam prestar contas à sociedade das ações culturais que estão realizando. Na opinião da coordenadora, “são espaços complexos, mas que podem ser contornados com matérias relevantes e de boa qualidade. Assim, sempre terá uma brecha para pautar questões sociais”.19 Larissa Latif, professora e coordenadora do curso de pós-graduação da Unama “Jornalismo, Cidadania e Políticas Públicas”, também observa essa ideia de que o mercado de jornalismo não pode ser modificado. 19

Danila Cal, em entrevista concedida no dia 20 de março.


O que muitas vezes me acontece é ouvir de alunos que tudo é determinado pelo mercado e que não há espaço para a preocupação com os direitos na competição pelas vendas. Infelizmente essa ideia é reforçada, principalmente nos ambientes de trabalho onde os alunos, frequentemente já estão inseridos. Mas o papel da universidade é justamente buscar construir conhecimento crítico, combater essas "verdades" de almanaque que fazem parte do senso comum20.

Um aluno do 6º semestre de jornalismo da Universidade confirmou que muitos de seus colegas de classe têm a mesma opinião a respeito do mercado. O aluno, que também acredita que não é possível fazer um jornalismo diferente do que existe atualmente, revela que desconhece ações que fazem esse tipo de jornalismo preocupado somente com o social: Jornalismo é mais um ramo de trabalho e, em decorrência disso, mais um meio de se ganhar dinheiro com o que se faz. Visar outra coisa a não ser no lucro que a prática pode trazer, é meio difícil de se ver por aí. Para ter que atuar na área de direitos humanos, seria preciso me especializar bastante21.

Além das vagas para bolsistas de extensão, estagiários e voluntários, o projeto firmou um novo termo de cooperação com o Unicef e, de acordo com o Relatório de Atividades de 2007 ampliou, em agosto de 2007, seu quadro de profissionais. Três jornalistas e três estagiários foram contratados com recursos do Unicef, para atuarem no projeto Agenda Criança Amazônia, um amplo processo de mobilização social, que tem como objetivo incentivar nos municípios paraenses a criação e a prioridade nas políticas públicas voltadas para crianças e adolescentes do estado, por parte da sociedade, das organizações e das autoridades locais. Desde então, o trabalho da Agência Unama foi ampliado para mais 24 municípios do Estado do Pará, além da capital paraense. Com a ajuda das jornalistas assistentes e da coordenadora do projeto, docente de comunicação e mestra em Comunicação e Sociabilidade Contemporânea pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Danila 20

21

Larissa Latif, em entrevista concedida no dia 15 de maio.

Aluno do 6º semestre da Unama que não passou pela Agência Unama. Entrevista no dia 20/04/09.


Cal, os alunos têm a chance de produzir, entrevistar e ter contato com a cobertura jornalística feita por parte dos jornais quando o foco são crianças e adolescentes. Foi a partir do contato com os comunicadores do interior que foi possível produzir mais um produto da Agência Unama, que é “A criança e o Adolescente no município”22 uma sugestão de como os temas relacionados à infância podem ser abordados pelos profissionais de outros municípios. A participação dos alunos envolvidos com o projeto é fundamental para a produção deste material. Outro produto que envolve os acadêmicos é durante a realização dos grupos de estudo e do Agência Bate-Papo, que discute com a comunidade acadêmica temas sobre direitos de meninos e meninas. De acordo com a coordenação da Agência, a importância de buscar as fontes corretas foi observada pela equipe do projeto a partir das análises de conteúdo dos jornais, ao se perceber que os jornalistas nem sempre buscam as fontes corretas, sendo que estas ainda são muito restritas. No relatório das atividades do projeto de 2007, mostra que durante este ano, a Agência Unama realizou três bate-papos, com os temas “O Adolescente e a lei: a maioridade penal em debate”, discutido pela Profª Ana Cristina França, mestre em Psicologia e docente do Curso de Comunicação Social da Unama, e a Defensora Pública Nádia Bentes, coordenadora do Núcleo de Atendimento Especializado da Criança e do Adolescente (NAECA). O segundo evento do ano foi com o tema “Crianças e Adolescentes Negros: cultura e identidade”, realizado por um dos diretores da Fundação Cultural Palmares, ligada ao Ministério da Cultura, Antônio Pompeu. O último evento de 2007 foi sobre a violência contra a criança e o adolescente, que contou com as palestrantes Alda Costa, mestre em Sociologia e atual coordenadora

do

Curso

de

Comunicação

Social;

Eugênia

Fonseca,

coordenadora do Centro Integrado Pró Paz; e Eliane Correa, coordenadora da Linha Educação para a Cidadania da Associação Paraense de Apoio as Comunidades Carentes (APACC). De acordo com dados revelados no relatório,

22

Anexo 2


mais de 430 pessoas participaram dos três eventos, entre alunos e professores da Unama e de outras instituições de ensino superior. No ano de 2007, também de acordo com o relatório, o projeto concluiu suas atividades diárias de monitoramento da cobertura dos três jornais diários da capital do Estado, além do envio do Notícias do Dia para mais de 404 parceiros do projeto. A produção de sugestões de pauta enviadas, desde agosto, passou a ser três vezes por semana e alcançou um público de 208 comunicadores e veículos de comunicação de Belém e do interior do estado, além das atividades relacionadas à atualização do site do projeto23. No entanto, com a pouca quantidade de alunos que estão atualmente no projeto, o envio de sugestões de pauta passou a ser duas vezes por semana, a não ser quando existe uma matéria extra que deva ser enviado fora dos dias estipulados para o envio: às terças e quintas feiras. Um dos produtos promovidos pelo projeto é a pesquisa “Infância e Adolescência na pauta da mídia”. O estudo acontece em razão da clipagem diária dos jornais para a produção do “Notícias do Dia”, o resumo das principais notícias sobre a criança e o adolescente publicadas nos jornais de Belém. A pesquisa avalia os textos selecionados e eles se tornam objetos empíricos do estudo. Por meio da análise das matérias, é possível avaliar a importância dada pelos jornais diários ao tema infância e adolescência e indicar os problemas mais comuns

que podem ser resolvidos

com capacitação para os

comunicadores. A pesquisa pode contribuir ainda como estímulo à presença de jornalistas mais comprometidos com a infância e a adolescência nas redações. Em 2005, de acordo com o relatório final de 2006, foi lançada a primeira edição da pesquisa, referente às matérias publicadas de outubro a dezembro de 2004. No ano de 2007 foi feita a conclusão do banco de dados sobre as matérias de 2005 e 2006, selecionadas para a última edição da pesquisa. Mas, as reportagens ainda não foram concluídas por falta de pessoal e sobrecarga em outras atividades do projeto, o que demonstra que outras ações, como a pareceria da Agência com o projeto do Unicef Agenda Criança Amazônia, foram priorizadas ao invés da conclusão da pesquisa. De acordo com a 23

www.unama.br.


coordenadora Danila Cal, a pesquisa referente aos anos 2005 e 2006 tem previsão para ser lançada em junho deste ano. Uma outra atividade do projeto que também está temporariamente parada: o Grupo de Estudos, que, de acordo com a relatório de atividade da Agência, se caracteriza desta forma: Os integrantes do grupo são todos os alunos bolsistas, voluntários da Agência, jornalistas e demais alunos interessados. Os temas são escolhidos pelo próprio grupo, que pesquisa sobre o tema, prepara o texto e distribui à equipe. A cada reunião duas pessoas ficam responsáveis pela pesquisa e produção de texto.Nas reuniões é possível aprofundar discussões, refletir e tirar dúvidas. Além disso, os alunos são estimulados a produzirem textos e se expressarem oralmente nas apresentações. A avaliação é extremamente positiva e tem reforçado a visão crítica dos alunos sobre temas extremamente pertinentes ao projeto. Em 2007, foi possível realizarmos apenas um grupo de estudos, que teve como tema a redução da maioridade 24 penal.

Os aspectos positivos da Agência citados pela coordenadora Danila são diversos. Na opinião da coordenadora, a formação mais direcionada e focada na área dos direitos humanos dos futuros profissionais é a maior colaboração que a Agência oferece aos universitários que dela participam. “Desde 2004 já passaram mais de 90 alunos pelo projeto, ou seja, podemos dizer que são 90 profissionais e futuros profissionais que podem fazer a diferença no mercado de trabalho25”. A referência e o reconhecimento por parte da imprensa local também é um dos destaques positivos que a Agência possui, de acordo com Danila. Ela revela que o projeto já é reconhecido pelo trabalho realizado na área da infância e adolescência, seja para divulgação de ações de organizações sociais como para produção de matérias jornalísticas para os jornais locais de Belém e sugestão de fontes e especialistas para a imprensa que procura o projeto para se informar sobre assuntos relacionados a meninos e meninas. A partir daí, um outro tipo de comportamento foi observado em relação ao que a imprensa pensa sobre o projeto:

24

Relatório de Atividades 2007 do projeto.

25

Danila Cal, em entrevista concedida no dia 20 de março de 2009.


Com o passar do tempo e com a divulgação de nosso trabalho na grande mídia, passamos até a ser visto por alguns colegas da área como se a Agência fosse pudesse falar sobre qualquer assunto relacionado à infância e adolescência. Quando na verdade, o que fazemos é sugerir fontes que trabalhem com o tema. Mas isso é bom, é sinal que estamos nos tornando referência no que fazemos. 26

O lado negativo também foi lembrado pela coordenadora do projeto. Segundo Danila, o principal problema da Agência está relacionado à sustentabilidade da iniciativa, uma vez que atualmente não conta mais com parcerias de peso como o Unicef, que ajudava a custear o pagamento dos profissionais que atuam no projeto. A parceria com Unicef continua, no entanto, de acordo com a coordenadora, desde 2007 o Unicef deixou de colaborar com o pagamento dos jornalistas e ficou apenas apoiando a Agência na construção do Agenda Criança Amazônia. Danila afirma que para melhorar e ampliar o projeto, a ideia é conseguir novos parceiros para a Agência. “Assim podemos contratar mais alunos estagiários, oferecer mais oportunidade a outros alunos e ampliar nosso trabalho como agência de notícia da criança no Pará”. A Universidade da Amazônia oferece toda a infraestrutura para a realização das atividades do projeto. Sala, computadores, Internet, material administrativo, além do pagamento dos bolsistas de extensão, da secretária e da coordenadora do projeto. Além da estrutura já oferecida pela universidade, a coordenação do curso disponibiliza um recurso financeiro de R$ 15 mil para pagamento dos jornalistas assistentes e das assinaturas de jornais. A mudança que deveria ser feita enquanto atuava no projeto, na opinião da aluna Rayza, está relacionada ao tempo em que cada aluno ficava em uma determinada atividade. Para ela, os alunos passavam pouco tempo em uma única função. “O rodízio era muito grande, mas apesar de ser bom, não treinava em maior grau os alunos para cada uma das tarefas”, acredita Rayza. Para Ingrid Bico, ex-voluntária do projeto, o aumento da produção de texto para o site da Agência e para os jornais diários de Belém seriam uma das soluções para a melhoria do trabalho feito no projeto.

26

Danila Cal, em entrevista concedida no dia 20 de março de 2009


4.5 PRODUTOS DA AGÊNCIA UNAMA:

PRODUTO Notícias do Dia

Agenda Criança

Fazendo Bem

Destaques

Artigos

CONCEITO

CARACTERÍSTICAS

PÚBLICO ALVO

Boletim com o resumo das principais notícias sobre infância e adolescência publicadas nos jornais diários do Pará. Bloco de sugestão de pauta sobre direitos da infância e adolescência produzido pelos alunos de jornalismo do projeto. Divulgação de projetos e iniciativas sociais paraenses que envolvem crianças e adolescentes.

O boletim é enviado por email, de segunda a sexta-feira, após o processo de clipagem realizado todas as manhãs na Agência Unama.

ONGs; rádios comunitárias; alunos antigos e atuais da Agência;

O documento é enviado duas vezes por semana, às terças e quintas.

ONGs; rádios comunitárias; alunos antigos e atuais da Agência;

A divulgação acontece por meio do site do projeto, através da sessão Fazendo Bem. As matérias também são enviadas semanalmente para o jornal Diário do Pará. Geralmente, é produzido pelos alunos de jornalismo que trabalham no local. As matérias e as fotos que servem para a ilustração saem creditadas.

A todos os interessados que acessam ao site do projeto.

A produção não é limitada às pessoas que atuam na Agência e à Universidade. Qualquer pessoa pode escrever o artigo.

A todos os interessados que acessam ao site do projeto.

O Destaque é um produto exposto também no site do projeto, sendo atualizado diariamente com as matérias divulgadas no Agenda Criança. Sessão do site que permite a publicação de artigos relacionados à infância e adolescência.

Visitantes do site do projeto.


Espaço no site destinado para tirar as principais dúvidas sobre infância e adolescência. Análise que Pesquisa Infância e revela como a mídia trata a Adolescência questão da na Mídia infância e adolescência no Pará.

SOS Comunicador

O espaço já possui nove perguntas e respostas prontas para ajudar no trabalho do interessado em tirar dúvidas. A base do estudo é a seleção diária de tudo o que é veiculado nos jornais do Pará sobre os temas de c/a.

A sessão recebe, tira as dúvidas e dá apoio, principalmente, ao trabalho de comunicadores. Comunicadores, estudantes de comunicação e sociedade em geral.

4.5.1 Notícias do Dia

Um

resumo

das

principais

notícias

relacionadas

à

infância

e

adolescência, publicadas nos jornais O Liberal, Diário do Pará e Jornal Amazônia, todos periódicos que circulam na capital e em outros municípios paraenses. É assim que o projeto define o produto “Notícias do Dia”, um documento enviado – via e-mail-27, pela Agência Unama, de segunda a sextafeira, para representantes do governo do Estado do Pará, organizações nãogovernamentais e empresas privadas. Baseado

no

“Relatório

de

Atividades

da

Agência

Unama

de

Comunicação – 2007”, o produto, que é enviado gratuitamente, tem como objetivo informar e atualizar as organizações a respeito das notícias sobre crianças e adolescentes, principalmente, as que acontecem no território paraense. O ‘Notícias do Dia’ chega para mais de 405 endereços eletrônicos, entre pessoas e organizações. De acordo com a jornalista assistente do projeto, Edna Nunes28, os alunos têm grande participação na produção do “Notícias”. O processo de construção deste produto começa ainda na leitura dos jornais, atividade realizada diariamente (de segunda a sexta-feira) pelos voluntários, bolsistas e 27

28

Anexo 3 Entrevista concedida no dia 17 de abril de 2009.


estagiários que trabalham no projeto no período da manhã. De acordo com a coordenação da Agência Unama, os três periódicos – que chegam à portaria do prédio anexo à Universidade, onde se localiza o projeto, por meio de assinaturas -, precisam ser lidos até, aproximadamente, às 10h, pois o processo seguinte precisa ser iniciado: a clipagem (corte e colagem das matérias selecionadas) e o resumo das notícias. Segundo Edna Nunes, que é a jornalista responsável pela clipagem e resumo das notícias no projeto, o processo precisa ser feito atenciosamente pelos alunos. O resumo, independentemente de se tratar de uma grande reportagem, precisa obedecer a critérios estipulados pela metodologia da Pesquisa Infância e Adolescência na Mídia, que passam desde a escolha das matérias para o resumo, até a análise das reportagens, levando em consideração vários fatores, como estes a seguir:

A matéria precisa ter, no mínimo, 500 toques para entrar na clipagem.

Adolescentes apenas são clipados nos jornais quando suas idades estiverem relatadas até os 17 anos.

O resumo é feito pelos alunos da Agência, sob observação da jornalista responsável e, deve conter, no máximo, entre sete e 10 linhas.

Após a produção dos resumos, a jornalista responsável faz a edição dos pequenos textos e orienta os alunos, caso algo esteja incorreto, como construção de frases e incompatibilidade de informações em relação aos jornais clipados. Segundo Edna, é na produção dos resumos que ela observa os primeiros passos de alguns alunos rumo à escrita de qualidade. Ela conta que após o término do resumo produzido pelo aluno, ela revisa e lhe informa onde foi o erro causado por ele e explica como melhor fazer da próxima vez. “É um trabalho coletivo muito interessante, porque eles produzem, eu reviso e troco ideias com eles. Percebo um nível de aprendizado muito grande neles”, revela a jornalista. Logo depois de todo este processo, o documento com todos os resumos produzidos é enviado para os parceiros.


Para a jornalista Edna a clipagem é uma das atividades fundamentais para que os alunos que estagiam na Agência comecem a criar uma visão mais crítica sobre as matérias contidas nos jornais. Ela percebe que a maioria dos alunos que chega ao projeto, principalmente os que ainda não têm muita noção do jornalismo, pega o jornal durante a clipagem e apenas lêem por ler, como se não tivessem interesse de fato no que estavam lendo ou não se importavam com a maioria das notícias. No entanto, após um período no projeto, a jornalista afirma que a leitura passa a ser diferente: Depois que eles já começam a perceber e entender o espírito do projeto, eles passam a ter um olhar mais atento, conhecem até como é a estrutura do jornal, sabendo o que é título, subtítulo, manchetes e chamadas de caderno, por exemplo. Passam ainda a ter uma visão mais crítica do que estão lendo, porque estão comparando um jornal 29 com outro e a leitura deixa de ser aquela leitura superficial .

A partir das entrevistas realizadas para o estudo, foram verificadas também a mudança de pensamentos e concepções novas a partir das atividades realizadas no Projeto. Camila Aquino, estudante do 5º semestre do jornalismo da Unama, afirma que o dia-a-dia no projeto fez com que ela passasse a ver com outros olhos a situação da infância e adolescência retratada nos jornais paraenses. Antes de fazer parte da Agência, segundo ela, Camila acreditava que ninguém na mídia se importava com os direitos de meninos e meninas e que não existiam interesses em garantir esses direitos na sociedade. Atividades realizadas na Agência, como a clipagem, por exemplo, foi um dos destaques que a universitária utilizou para expressar o motivo das novas concepções: Com as clipagens, percebi a necessidade de garantia dos direitos à infância e adolescência, já que agora vejo nos principais jornais belenenses crianças e adolescentes tendo seus direitos violados. E, após ver as matérias que voluntários, bolsistas e estagiários produziram ali (Agência), falando sobre projetos e pessoas interessadas em defender os direitos de crianças e adolescentes, mudei de concepção e percebi o que, como jornalista, posso fazer 30 para também contribuir com o desenvolvimento da sociedade .

29

Edna Nunes, em entrevista concedida no dia 20 de março de 2009.

30

Camila Aquino, em entrevista concedida no dia 19 de março de 2009.


Uma das mudanças que poderiam ser feitas na rotina de trabalho do local, de acordo com os alunos, é o processo de clipagem. No entanto, para o bolsista Pablo Almeida, nada precisaria ser modificado, pois as rotinas já são alteradas normalmente. Segundo ele, “o trabalho acaba fluindo naturalmente do jeito que está, o que, na minha opinião, é o mais importante”, acredita o bolsista. As mudanças que o aluno está se referindo acima faz parte do cronograma de atividades de cada aluno, explicado pela coordenadora do projeto, Danila Cal, como o “momento que cada acadêmico possui para passar pelas atividades ligadas ao projeto”. Para o voluntário Raphael Marinho, o método da clipagem utilizada dentro do projeto deveria ser modificado, uma vez que, com a utilização de ferramentas como a “clipagem online”, o processo seria mais dinâmico e facilitaria o trabalho. “As publicações on-line de alguns jornais irão ajudar em muito na atividade do clipping”, acredita o aluno. A demora no processo da clipagem é uma das reclamações da maioria dos entrevistados, por conta de sua demora e repetição. Porém, a jornalista Edna Nunes explica que a atividade é importante para que os acadêmicos conheçam como os direitos humanos estão sendo tratados pelos jornais diários do estado.

4.6.2 Agenda Criança

A Agenda Criança31 é um bloco de sugestão de pauta sobre direitos da infância e adolescência produzido pelos alunos de jornalismo do projeto. De acordo com o Relatório de Atividades – 2007, as sugestões são enviadas, geralmente, três vezes por semana (terças, quintas e sextas-feiras), com o intuito de pautar a mídia local com assuntos que dizem respeito à situação de meninos e meninas paraenses. Ainda de acordo com o relatório, as matérias são elaboradas a partir de entrevistas realizadas pelos alunos, além da prática da ronda, em que os acadêmicos ligam para parceiros do projeto, instituições públicas, privadas e 31

Anexo 4.


Organizações Não Governamentais (ONGs) que atuam na área da infância, para verificar se existem programações que renderiam matérias. Após análise feita em alguns documentos do Agenda Criança, foi possível observar que a presença de trechos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é recorrente em determinados assuntos. As sugestões são produzidas pelos próprios alunos de jornalismo, que contam com a ajuda dos jornalistas assistentes do projeto para tirar dúvidas e receber orientações sobre quais as melhores linhas de apuração a seguir. Cotta (2005) define o momento da apuração de uma matéria como a aproximação do repórter com a verdade dos fatos. Em alguns casos, a produção de textos para o Agenda Criança é feita pelos profissionais de comunicação do projeto. Dados do Relatório de 2007 mostram ainda que neste mesmo ano foram 88 sugestões de pauta envidas para os 208 parceiros contidos no mailling do projeto, entre comunicadores e veículos de comunicação da capital e de outros municípios do estado. Nesses 88 documentos, 154 matérias foram produzidas. Segundo a coordenação do projeto, jornalistas e meios de comunicação entram em contato frequentemente com a equipe, solicitando mais detalhes e informações a respeito do que foi produzido, o que mostra que o documento tem uma grande repercussão com a mídia local, como concluiu Fernandes (2008). Além do interesse de jornalistas e veículos de comunicação em reproduzir outras reportagens de acordo com o que foi proposto pela equipe do projeto, os três principais jornais de Belém –O Liberal, Diário do Pará e Amazônia – utilizaram as matérias enviadas por meio do Agenda Criança para publicá-las na integra em seus periódicos. Por meio das sugestões de pauta do Agenda Criança para a imprensa paraense, clipagem e envio das principais notícias relacionadas à área da infância e da adolescência, como o “Notícias do Dia” publicadas diariamente, nos jornais Amazônia, Diário do Pará e O Liberal (Belém), além de matérias especiais produzidas exclusivamente para cada um dos periódicos citados acima - sendo que a mesma matéria utilizada em O Liberal é publicada no jornal Amazônia -, o projeto vem se transformando em uma referência para alguns comunicadores de Belém (PA) quando o assunto é mídia e direitos


humanos de meninos e meninas. A referência pode ser constada no estudo feito por Fernandes (2008), que observou o interesse e admiração de vários jornalistas e produtores dos dois principais veículos de comunicação do meio impresso da capital paraense, são eles o jornal O Liberal e Diário do Pará:

Admiro muito o trabalho da Agência Unama pelo ineditismo da iniciativa no Pará. Na faculdade e mesmo no mercado de trabalho há uma total ausência de orientações éticas acerca da cobertura da infância e juventude, então muitas vezes os jornalistas "erram" mais por desconhecimento e falta de informação do que por mal-vontade ou algo do gênero. Assim, é fundamental repassar informações técnicas (Repórter 1, 29/05/2008) (FERNADES, 2008, p.76). Essa é uma das maiores contribuições: a possibilidade de atualização e aprendizagem do ECA, entre outros elementos importantes para o exercício da profissão (Repórter 2, 30/05/2008) (FERNADES, 2008, p.76).32

Os números do Relatório de 2007 afirmam que entre os meses de agosto e dezembro deste mesmo ano, 34 pautas foram repercutidas nos jornais

impressos.

Mesmo

não tendo

este

exato monitoramento

do

aproveitamento do Agenda Criança pelas rádios, TVs e portais na Internet, a coordenação acredita que existe “uma ampla utilização das sugestões que enviamos para esses veículos”33. Eu considero o meu estágio na Agência Unama a melhor experiência que pude ter como estudante de jornalismo. Porque a Agência representa o estilo de jornalismo que me instigou a entrar na faculdade de comunicação e lá, aprendi a fazer matérias, por meio do Agenda Criança, que tinham um valor cívico muito grande. Lá eu experimentei de tudo um pouco, fui repórter, produtora, fotógrafa, revisora de textos, ministrei oficina, fui relações públicas, assessora de imprensa e ainda tive a oportunidade de trabalhar com a mobilização social, que é um segmento da comunicação que muitos 34 desconhecem, até mesmo, os jornalistas.

32

Depoimentos cedidos à pesquisa realizada pela jornalista Kassya Fernandes, em sua monografia sobre o jornalismo público no Pará.

33

Relatório de Atividades Agência Unama – 2007, p. 6.

34

Lígia Bernar, ex-estagiária, em entrevista concedida no dia 20 de fevereiro de 2009.


Podemos perceber que a ex-aluna do comentário acima aproveitou sua passagem pela Agência e se identificou com as atividades realizadas na iniciativa. O grande ponto de discussão desta identificação, é que a exestagiária poderá, agora que já está no mercado de trabalho, fazer a diferença em relação ao tipo de jornalismo que aprendeu dentro do projeto.

4.5.3 Fazendo Bem

A seção Fazendo Bem, que faz parte do site da Agência, é voltada para a divulgação de projetos e iniciativas sociais paraenses que envolvem crianças e adolescentes. A divulgação é feita por meio de matérias jornalísticas publicadas no endereço eletrônico do projeto, onde também é possível colocar fotos dos entrevistados ou da organização.

Os alunos de jornalismo também são atores fundamentais neste processo de produção, pois, segundo a coordenação do projeto, são eles que


se encaminham até o local da organização para entrevistar os responsáveis pela iniciativa. As matérias ficam publicadas no site no período entre 15 e 20 dias e, após cada espaço deste de tempo, outras matérias são colocadas no local. A divulgação dos projetos, de acordo com o relatório de atividades, permite que as organizações ganhem destaque da sociedade e da grande mídia.

4.6 EVENTOS REALIZADOS:

EVENTO / ATIVIDADE

CONCEITO

Encontros entre Agência Bate Papo estudantes de comunicação e especialistas ou pessoas atuantes das áreas de direitos humanos e infância e adolescência. Grupo de Estudos Reuniões entre os estudantes e jornalistas que atuam na Agência. O debate gira em torno de algum tema sobre direitos humanos, criança e adolescente. Oficinas sobre Oficinas sobre Mídia e Direitos comunicação Humanos promovidas pela equipe do projeto. Matérias especiais Parceria com os para os jornais O dois principais Liberal e Diário do jornais do Estado Pará para publicar matérias sobre os direitos de meninos e meninas.

CARACTERÍSTICAS

PÚBLICO ALVO

O evento está temporariamente parado. A última vez que foi realizado foi em no final de 2008.

Estudantes de comunicação de todas as faculdades de Belém.

Dois alunos que atuam no projeto ficam responsáveis em produzir o material que será discutido com o grupo. A iniciativa também está paralisada desde o final de 2007. Já foram realizadas oficinas na redação do jornal Diário do Pará e durante o Congresso de Jornalistas do Pará (2008). A Agência Unama leva os créditos das matérias publicadas. Geralmente, as matérias publicadas no jornal O Liberal, também são publicadas no jornal Amazônia, pertencente à mesma empresa.

Alunos e profissionais que atuam na Agência Unama.

Estudantes e profissionais de comunicação. Leitores dos jornais O Liberal, Amazônia e Diário do Pará.


5 DIREITOS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES E A FORMAÇÃO DOS FUTUROS JORNALISTAS

5.1 ALUNOS ATUAIS: O que Agência proporciona aos alunos que atuam no projeto:

O seguinte quadro mostra a relação que os alunos atuais35 estabeleceram com a Agência Unama a partir das experiências obtidas no Projeto. Os comentários abaixo foram retirados dos depoimentos dos alunos que atuam na Agência, que falaram sobre a participação no Projeto, experiência profissional e formação crítica, além da visão de futuro que a maioria tem.

ENQUANTO EXPERIÊNCIA: UMA FORMAÇÃO CRÍTICA E PROFISSIONAL.

RECLAMAÇÕES E SUGESTÕES

VISÃO DE FUTURO

Oportunidade de colocar em prática o que se aprende em sala de aula.

Demora no processo diário da clipagem.

Modificação do método de clipagem atual para o método de “clipagem online”.

Entendimento sobre a importância de fazer ações ligadas aos direitos humanos no decorrer da profissão.

Pouca divulgação do projeto por parte da universidade.

Se o projeto fosse mais divulgado, mais alunos participariam.

Facilidade em trabalhar em grupo em outros locais de trabalho e respeito com o público leitor e com os entrevistados.

Falta de incentivo de professores para o jornalismo cidadão.

Mais tempo nas atividades do projeto – menos rotatividade para o aluno fixar o aprendizado.

5.2 EX- VOLUNTÁRIOS, EX-BOLSISTAS:

35

Maioria dos chamados alunos atuais que atuaram até o final do mês de fevereiro. A saída destes voluntários se deu por conta da nova Lei do Estágio, que não permite mais que estudantes trabalhem sem remuneração.


O quadro abaixo mostra a relação dos antigos alunos que atuaram na Agência Unama. De acordo com os depoimentos obtidos para este estudo, a maioria dos estudantes afirma que a passagem pelo Projeto foi fundamental para que sua linha profissional seja com um jornalismo responsável e compromissado com os direitos de meninos e meninas. Os ex-alunos falaram sobre aprendizado que levaram para a vida profissional, da influência do Projeto em outros lugares que já trabalharam ou ainda trabalham e comentaram sobre a relação entre o curso de jornalismo e a prática jornalística ensinada em sala de aula.

APRENDIZADO PARA A VIDA PROFISSIONAL

INFLUÊNCIA DO PROJETO EM OUTROS TRABALHOS

CURSO DE JORNALISMO VERSUS PRÁTICA JORNALÍSTICA

Maior aprendizado da prática jornalística na Agência Unama, ao invés das disciplinas do curso. no Compatibilidade do Respeito ao espaço alheio, Destaque ensinado companheirismo e a confiança conhecimento sobre o conteúdo nas pessoas com quem se Estatuto da Criança e no curso com as atividades realizadas do Adolescente (ECA). convive. na Agência. Responsabilidade em relação à Alerta aos colegas de abordagem jornalística. profissão para que não utilizem termos pejorativos.

5.3 ALUNOS QUE NÃO PASSARAM PELO PROJETO: Neste último quadro foi possível analisar a relação dos alunos que não trabalharam na Agência Unama com a prática jornalística compromissada com os direitos humanos. Os depoimentos de alguns desses alunos abordam a questão sobre o conhecimento ou não do Projeto, a relação que eles fazem com o jornalismo e a direitos humanos e, por fim, sobre o engajamento deles em possíveis trabalhos que desenvolvem ações sociais.


CONHECIMENTO A RESPEITO DA AGÊNCIA UNAMA

RELAÇÃO ENTRE JORNALISMO E DIREITOS HUMANOS

Conhecimento do projeto a O Jornalismo nem partir de um trabalho sempre caminha de acadêmico. mãos dadas com os direitos humanos.

VONTADE DE TRABALHAR COM QUESTÕES SOCIAIS Sem vocação para exercer atividades de comunicação voltadas para o lado social.

Conhecimento do projeto a Jornalismo possui Trabalhar na Agência partir do recebimento do relação com qualquer mudaria a forma do produto Agenda Criança. área. jornalismo feito no Pará pelas futuras gerações. Conhecimento a partir do Respeitar os Direitos contato com as professoras Humanos é fazer um Vânia Torres e Danila Cal. jornalismo responsável.

5.4 Extensão: da experiência profissional à formação crítica

Para os 10 alunos entrevistados para este estudo, entre bolsistas, estagiários e voluntários que participam atualmente do projeto, no período analisado entre dezembro de 2008 e fevereiro de 2009, a entrada na Agência de Comunicação foi motivada por questões relacionadas ao aprendizado profissional que pode ser adquirido por eles e, também, por conta de não estarem ligados a nenhuma atividade prática de comunicação. Para 20% destes alunos, o clima existente no local, definido pelos alunos como um ambiente de aprendizagem “alegre e harmônico” e, a vontade de conhecer o trabalho realizado para a garantia dos direitos na área da infância e da adolescência estão entre os principais motivos da curiosidade dos alunos em relação ao projeto. A permanência dos alunos atuais na Agência Unama pode ser observada também como um caminho que leva os acadêmicos a terem uma experiência a mais na futura carreira jornalística.


Desde que comecei a cursar jornalismo na Unama, tive a vontade de praticar e conhecer o que aprendia nos estudos em sala de aula. (...). Também me interessei em saber quais eram os direitos das crianças e dos adolescentes, a sua abrangência e o que era feito para que esses direitos fossem garantidos.36

A curiosidade em conhecer um “jornalismo público37” foi o que impulsionou o voluntário Raphael Marinho a entrar no projeto da Agência Unama. O estilo jornalístico citado pelo acadêmico chegou aos seus ouvidos por meio de amigos da Universidade que já tinham participado do projeto. No entanto, Raphael ainda desconhecia o que era feito dentro da Agência, o que fez com que ele buscasse mais informações e participasse do processo de seleção de voluntários logo em seguida. O termo jornalismo público, elemento que despertou a curiosidade do aluno para participar do projeto, é definido por Traquina (2003), como uma maneira inovadora de se atuar na profissão, que tem como objetivo promover a mobilização social para se conseguir mudanças e, evidenciar os problemas vivenciados pela sociedade. Para alguns alunos que passaram pela Agência Unama, o projeto traz, além da experiência na prática jornalística, a oportunidade de estabelecer contatos profissionais, tanto com os futuros colegas de trabalho, no caso, os acadêmicos que serão jornalistas após se formarem na Universidade, quanto com os profissionais que já atuam no mercado de trabalho, como os jornalistas que trabalham no local. O trabalho diferenciado realizado pela Agência - focado nos direitos de meninos e meninas-, foi um dos motivos de interesse da ex-voluntária Ingrid Bico, que entrou no projeto por conta também da oportunidade de estágio e por querer adquirir experiência na área. Segundo a universitária, após a passagem na Agência foi possível ver a sua futura profissão de maneira diferente: Desde que saí da Agência minha visão de jornalismo, de uma maneira geral, mudou. Isso certamente fez a diferença na hora de escrever meus trabalhos. Hoje tenho uma preocupação em produzir 36

37

Camila Aquino, voluntária, em entrevista concedida no dia 21 de fevereiro de 2009.

Maneira inovadora de se atuar na profissão, que tem como objetivo promover a mobilização social para se conseguir mudanças e, evidenciar os problemas vivenciados pela sociedade. TRAQUINA (2003).


sempre trabalhos de qualidade, bem escritos, bem apurados, com respeito a si mesmo e ao outro, tanto no relacionamento profissional em si quanto na hora de escrever reportagens, matérias, etc. (...) Principalmente as que digam respeito a crianças e adolescentes; além da ética, sempre.38

A orientação e o repasse de informações aos alunos do projeto fica por conta dos profissionais de comunicação existentes na Agência e também pelos alunos mais experientes que já estão há mais tempo no trabalho. Outra forma de orientação são os manuais entregues aos alunos que entram no projeto. As cartilhas são relacionadas ao processo de clipagem realizado na Agência, além de cartilhas sobre os direitos de crianças e adolescentes para que os alunos comecem a se aproximar do tema. A aluna Rayza Sarmento, ex- voluntária e ex-estagiária do projeto, no período entre fevereiro e setembro de 2007, afirma que a Agência foi a grande responsável pelo seu interesse pela responsabilidade no fazer jornalístico, além do interesse e curiosidade pela pesquisa acadêmica sobre o sistema de garantia de direitos e a mídia. Ela também caracteriza a passagem pela Agência como um divisor de opiniões, pois após trabalhar no projeto, ela passou a questionar coisas que, na vida pessoal, por exemplo, eram tidas como normal: Minha mãe foi trabalhadora doméstica quando criança e para mim, que sou do interior, da cidade de Vigia, isso era natural, afinal ela "venceu na vida" apesar desse trabalho. Depois da Agência, mudei minha concepção sobre isso. Sempre digo que para estar na Agência você precisa acreditar. Acreditar que com o seu trabalho você pode mudar alguma coisa. Carrego muito isso comigo, de ter responsabilidade com o que escrevo, com a forma de abordagem, não só na área da infância. Se você tem em mente que seu trabalho pode influenciar de alguma forma você se empenha ao máximo. Foi assim com os outros estágios posteriores da Agência, nos quais a passagem pelo projeto foi determinante para o ingresso e pela postura que assumi neles. 39

Rayza afirma que resolveu entrar no projeto após ver um cartaz sobre a seleção de voluntários que a Agência iria realizar. Em um primeiro momento,

38

Ingrid Bico, em entrevista concedida no dia 21 de fevereiro de 2009.

39

Rayza Sarmento, em entrevista concedida no dia 22 de fevereiro de 2009.


de acordo com ela, tentou fazer o concurso de bolsas por conta do desconto na mensalidade e pela “importância curricular de um projeto de extensão”, conta Rayza. Após não passar no concurso para bolsista de jornalismo, a aluna conta que resolveu entrar como voluntária mesmo assim. A universitária lembra que sua participação na Agência também foi fundamental para ser “marcada” nos outros estágios em que atuou, ficando conhecida como a pessoa mais experiente quando o assunto se tratava de direitos de meninos e meninas. Na Rádio Unama, por exemplo, tanto os outros colegas estagiários, quanto os próprios jornalistas, sempre se referiam à minha experiência na Agência para o esclarecimento de dúvidas quanto ao ECA, a procura de fontes na área da infância, ou até 40 responsabilidades em editar matérias de cunho social.

Um outro exemplo citado pela aluna foi quando ela precisou fazer uma matéria para o jornal paraense O Liberal (empresa que atualmente trabalha como estagiária) sobre uma decisão judicial que permitia a utilização de fotos de cadáveres nas páginas dos jornais. Rayza lembra que fazer a matéria foi um sofrimento para ela, pois ela era contrária à decisão e a empresa de comunicação queria que a reportagem fosse a favor. “Eu acreditava que não era certo, então procurei encontrar pessoas que também se manifestassem contra e tentei encaixar no texto sem prejuízo ao jornal”, lembra a aluna. Para Vera Soares41, a importância para os acadêmicos que participam de um projeto de extensão é a possibilidade de vivenciar na prática do que se trabalha em sala de aula. Para ela, participar de um projeto de extensão possibilita que o universitário tenha uma visão de mundo diferenciada, mais focada na realidade social. Vera também acredita que Agência Unama realiza e oferece esta visão aos alunos que participam do projeto. A criação da Agência tambem foi de certo modo uma luta da Supex,pois entendemos que a sua criação era e é fundamental para a formação dos nossos alunos, como tambem para auxiliar os meios de comunicação a entender melhor a linguagem e a problemática

40

41

Rayza Sarmento, em entrevista concedida no dia 22 de fevereiro de 2009.

Superintendente de extensão da Unama, em entrevista concedida no dia 10 de março de 2009.


sobre a criança e o adolescente.Creio que estamos prestando um 42 excelente serviço nesse sentido.

A aluna Brenda Soares, do 5º semestre do curso de jornalismo, foi uma das entrevistadas que não passaram pelo projeto. Segundo a universitária, ela tomou conhecimento da existência da Agência a partir de um trabalho acadêmico que realizou no ano passado. Mesmo assim, ela confessa que não sabe muito a respeito do projeto. "A única coisa que eu sei é que na Agência são realizados trabalhos de textos jornalísticos, por exemplo, mostrando informações que digam respeito a criança e ao adolescente e sobre seus direitos43". O produto Agenda Criança, definido pelo projeto como um bloco de sugestão de pauta sobre infância e adolescência, foi citado como referência da universitária Tainá Aires, aluna do 7º semestre. Tainá, que também não passou pelo projeto, afirma que conhece a Agência apenas por meio do Agenda Criança que recebe. Além das sugestões de pauta, a aluna revela que, por meio do produto, ela pode analisar que a Agência "trabalha como uma espécie de "fiscalização" do que sai na mídia, como no caso da menina de Abaetetuba.44 As professoras do curso de jornalismo da Universidade Vânia Torres e Danila Cal são citadas frequentemente pelos alunos que foram entrevistados para o estudo. A relação das duas professoras com o projeto se dá pela passagem de ambas pela coordenação da Agência, sendo que a Vânia coordenou o projeto no período de 2004 a fevereiro de 2007 e a professora Danila coordena de 2007 até os tempos atuais. Elas são citadas nas entrevistas, principalmente, em decorrência da disciplina do curso de jornalismo “Comunicação, Cultura e Cidadania”, em que as duas administram na Universidade. A disciplina é ensinada aos alunos do terceiro semestre do curso e tem como objetivo, de acordo com o Guia Acadêmico 2008 disponível no site da 42

Entrevista concedida no dia 10 de março de 2009.

43

Entrevista concedida por Brenda Soares, no dia 31 de março de 2009.

44

Caso da adolescente de 15 anos que ficou na mesma cela com mais de 20 homens. O caso aconteceu no município de Abaetetuba (PA), em novembro de 2007.


Unama, “formar nos alunos de jornalismo atitudes críticas e abertas quanto aos valores culturais como mediadores da comunicação, (...) Para que possam dar ênfase ao receptor como sujeito ativo dos processos de comunicação”. No entanto, a questão é: será que apenas a disciplina garante uma formação cidadã aos alunos do curso de jornalismo? Pelo menos, a intenção da universidade é que esta formação seja garantida aos universitários. Porém, o que se pode observar com os depoimentos dos acadêmicos é que o curso inda não dispõe de ferramentas e disciplinas suficientes para que os alunos estejam completamente envolvidos com os temas direitos humanos, cidadania e mídia. Uma aluna do último ano do curso, afirma que apenas a disciplina de Comunicação, Cultura e Cidadania não é o bastante para estimular o interesse dos alunos pela área. Uma das únicas disciplinas que eu gostei de verdade no curso foi a de Comunicação e Cidadania. Mas, infelizmente, o tema foi abordado apenas naquela matéria e outros professores não levaram adiante o compromisso com o jornalismo cidadão.45

A partir das entrevistas foi possível perceber também que a relação dos alunos

com

a

disciplina

Comunicação

Cultura

e

Cidadania

e,

consequentemente, com as professoras citadas Danila e Vânia, foram fundamentais para que muitos acadêmicos se interessassem em trabalhar na Agência Unama ou, simplesmente, para passar a conhecer de alguma forma o trabalho que o projeto realiza. De acordo com o estudante do 7º semestre de jornalismo Lucas Eugênio Barbosa, por exemplo, primeiramente voluntário do projeto e um dos estagiários da Agenda Criança Amazônia até o mês de fevereiro de 2009, a Agência foi uma oportunidade que ele avistou para colocar em prática as coisas que aprendia dentro da universidade, desde as práticas mais simples de jornalismo impresso até às ideias debatidas em uma das disciplinas do curso. Tive conhecimento da Agência Unama por meio de uma palestra ministrada pela professora Vânia Torres e gostei muito. Depois tive contato com a disciplina “Comunicação, Cultura e Cidadania” em que criei gosto pela matéria sobre jornalismo público, o que me motivou ainda mais a entrar no projeto. Lá, pude aprender práticas do

45

Depoimento de uma aluna do último semestre de jornalismo.


jornalismo impresso e ainda obtive mais conhecimento sobre esse tipo novo de jornalismo que a Agência promove. 46

Outro aluno de jornalismo que não passou pelo projeto, mas que também conheceu a Agência Unama por meio da disciplina e das professoras citadas acima foi Augusto Lobato, do sétimo semestre do curso. Ele afirma que o contato com as professoras foi essencial para saber o que a Agência propõe. Antes mesmo de conseguir meu primeiro estágio, já havia tido algum conhecimento sobre o trabalho da Agência por meio das professoras Vânia Torres e Danila Cal, ambas constantemente envolvidas com o trabalho do projeto. Apesar de nunca ter estagiado lá, sempre considerei seu trabalho inovador, produtivo e relevante. Além de funcionar como uma espécie de "monitor" da atividade de imprensa, de sua cobertura quanto às questões ligadas à infância e à adolescência, a Agência é um espaço de produção de notícias, pautas e artigos que sempre vêm a ser úteis, inclusive, à imprensa diária. 47

Pode-se observar a partir deste depoimento que o projeto possui reconhecimento de alunos que nunca fizeram parte da Agência, fazendo com que a passagem pelo projeto não seja fator determinante para que alguns universitários realizem ou tenham vontade de fazer um jornalismo diferente.

5.5 A influência da Agência no mercado de trabalho A maioria dos ex-bolsistas e ex-voluntários entrevistados que passaram pelo projeto e, hoje já estão no mercado de trabalho, afirmam que a Agência foi essencial para sua atuação responsável e consciente em outros empregos. A ex- bolsista Amanda Aguiar, hoje jornalista do site do jornal Diário do Pará48 afirma que a passagem pela Agência lhe ensinou a ter mais responsabilidade em relação à abordagem jornalística que realizou em outros

46

Entrevista concedida no dia 21 de março.

47

Entrevista concedida no dia 29 de março de 2009.

48

Disponível em: www.diariodopara.com.br.


trabalhos. De acordo com a aluna, “a sensibilidade e o respeito que aprendeu a ter no projeto, são valores que irão perdurar por toda a vida”. 49 O respeito também foi citado pela ex-voluntária (hoje jornalista assistente da Agência Unama), Tayana Marquioro, que atuou no projeto no período de outubro de 2004 a abril de 2005. Desta vez, o respeito foi citado em relação ao espaço alheio, além da confiança em si mesmo e nas pessoas com quem a jornalista convive. Quando a questão é se a Agência Unama influenciou na formação dos alunos que por lá passaram, as respostas são categóricas: sim. Segundo a exbolsista Amanda, o que mais interferiu na forma com que trabalha em outros lugares, é que a jornalista está sempre alerta para que os colegas de profissão com quem convive, não cometam erros em relação à maneira como eles se referem a meninos e meninas. Amanda revela que “recomendo aos colegas que não utilizem termos que sejam de alguma maneira, ofensivos para designar crianças e adolescentes”. Baseado nas repostas dos alunos que passaram pelo projeto, é possível verificar a presença do pensamento e ideias de Bentes (2002), no entanto, não em relação à universidade e seu ensino, mas, diretamente, à Agência Unama pela sua influência para cada universitário que fez parte do projeto. Bentes defende que cabe à universidade assumir a função de formadora, porém não apenas de mão de obra especializada para o mercado, mas, principalmente, formar analistas simbólicos e cidadãos capazes de interagir e codificar informações. Para a ex-voluntária Ingrid Bico, que atuou no projeto em 2008, a iniciativa trouxe para sua vida pessoal e profissional uma relação de respeito ao próximo, principalmente nas atividades que realiza. Mais uma vez, os termos “jornalismo social”, “jornalismo responsável” e “jornalismo sério” foram citados nas entrevistas concedidas pelos acadêmicos que participaram do projeto. A partir das entrevistas com os ex-bolsistas e ex-voluntários, é possível notar que este comportamento é um dos diferenciais das pessoas que atuaram no projeto. O respeito ao que diz os artigos do Eca, por sua vez, foi citado em 49

Em entrevista concedida no dia 10 de março de 2009.


todas as respostas dos alunos que passaram pela Agência, sendo esta, de acordo com os entrevistados, a melhor maneira de se começar a construção de um jornalismo mais compromissado com a causa da infância e adolescência, além de ser o início da melhoria na prática jornalística ensinada em sala de aula.

5.6 Curso de jornalismo versus prática jornalística

A prática jornalística dentro da Universidade, na opinião da ex- voluntária Tayana Marquioro, não foi bem estimulada e incentivada pelo curso. De acordo com ela, nos dois primeiros anos de faculdade, as teorias eram ensinadas aos alunos sem que estes pudessem colocar em prática o que estavam aprendendo, a não ser em atividades pontuais, como provas e trabalhos que valessem pontuação. “Eu acredito que grande parte da prática que o curso deveria ter me oferecido na academia eu assimilei nos meus estágios e, claro, na Agência”, revela Tayana. Já para a ex- voluntária e ex- estagiária Rayza, as atividades que realizava no projeto condiziam com as disciplinas ministradas em sala de aula, tanto na prática quanto na teoria. Sim, tanto em teoria, quanto em prática. Entrei na Agência na época, por exemplo, em que estudava teorias sobre cidadania e comunicação e também quando estava aprendendo as primeiras 50 técnicas da redação jornalística.

Para a universitária Rayza, a relação entre o projeto e a universidade quando a aluna ainda atuava na Agência não era das melhores. Segundo ela, a “Unama ainda não deu o devido valor ao projeto”, acredita a ex-estagiária, que conta que se refere não somente à instituição em si, mas também pela falta de conhecimento dos próprios alunos e professores da Unama sobre a iniciativa.

50

Entrevista concedida no dia 2 fevereiro de 2009.


Outra reclamação de Rayza em relação à universidade, é que a instituição oferece um número de bolsas inferior ao que poderia ser ofertado. A sala de aula parece não ser um ambiente muito exemplar para alguns dos alunos entrevistados. As discussões que lá são feitas, de acordo com o bolsista Pablo, “entram em contradição quando é debatida na agência, pois alguns professores mostram uma visão diferente da que nos é mostrada no projeto”. Ele explica essa afirmação citando que certas coisas que são debatidas no ambiente de trabalho da Agência acabam sendo “modeladas” na cabeça dos alunos, ou seja, estes passam a ver determinados assuntos com uma “visão mais ética e respeitadora, ao contrário do que é discutido pelos professores”, afirma Pablo. Já o conteúdo prático ensinado na academia, segundo o bolsista, são compatíveis com o que é feito na Agência, uma vez que os alunos podem exercitar na prática o que aprendem em sala de aula. Quando a discussão se baseia entre a Agência Unama e a própria universidade, a queixa maior do voluntário Raphael Marinho em relação ao curso de jornalismo é sobre a atuação de alguns professores. De acordo com o acadêmico, existem determinados professores no curso que desestimulam as atuações dos alunos em práticas que envolvam comunicação e direitos humanos: Já tive professores que entravam na sala de aula só para tirar as forças dos alunos. Eles dizem que a realidade do jornalismo é diferente e que nós, alunos, não iremos conseguir mudar o mercado da mídia, pois os meios de comunicação, por exemplo, só querem saber de vender jornal. No entanto, entrar na Agência foi fundamental para o desenvolvimento de uma visão de responsabilidade que todo jornalista deveria ter, nada melhor que desenvolver essa responsabilidade durante a Universidade e saber que existe uma forma de fazer um jornalismo responsável. 51

O papel do professor no contexto de uma formação voltada para a qualidade da produção jornalística social é fundamental para diferenciar os futuros profissionais que ainda estão na academia. Danila Cal, coordenadora da Agência, acredita que o professor deve orientar o aluno sobre qual é o melhor trabalho que ele pode fazer e ainda dar instrumentos para que ele

51

Entrevista concedida no dia 23 de fevereiro de 2009.


ponha isto em prática no mercado de trabalho. Na opinião da coordenadora, o professor

pode

despertar

ideias

interessantes

para

diversos

alunos,

principalmente, no que diz respeito à mudanças de comportamentos negativos de alunos relacionados à pauta social: Como não é possível mudar se somos nós que estamos fazendo o jornalismo agora e, principalmente, se são esses alunos que vão fazer o jornalismo de amanhã? É muito complicado chegar no mercado de trabalho já achando que seu trabalho não vai fazer diferença na sociedade. Então, professor tem que estimular a 52 responsabilidade social do aluno.

Marcelo Vieira, professor da instituição há mais de quatro anos e responsável em administrar as disciplinas de Jornalismo Impresso I e II, Jornalismo Especializado e História da Imprensa aos alunos da universidade, afirma que o curso de jornalismo da Unama permite sim a formação crítica dos alunos, uma vez que estes recebem aulas de disciplinas de variadas abordagens. Em relação às questões sobre direitos humanos e jornalismo, o professor, que revela que conhece o trabalho realizado pela Agência Unama, acredita que a universidade também consegue repassar aos alunos informações relacionadas a esta temática.

“De uma forma geral, essa

preocupação está presente em todas as disciplinas e professores”, conta o docente. O professor Marcelo Vieira define a atuação do Projeto como uma iniciativa que acompanha o tratamento dado a questões relacionadas à infância e adolescência na mídia. Marcelo conta que é difícil ver outros professores com este tipo de característica, como se não quisesse estimular os alunos para um jornalismo cidadão. “Se há professores com essa postura fazem parte de uma exceção. A questão dos direitos na minha disciplina é trabalhado com estudos de caso e debates sobre os temas”. A pouca divulgação da Agência Unama dentro do curso de jornalismo é uma das principais reclamações do voluntário Raphael. Segundo ele, os alunos

52

Entrevista concedida no dia 20 de março.


tomam conhecimento do projeto por meio da famosa propaganda “boca-aboca”, ou até mesmo pelas reportagens publicadas nos jornais O Liberal, Diário do Pará ou Amazônia. “A Agência precisa ser mais divulgada por parte da Universidade. Tenho certeza que muitos alunos de jornalismo iriam se interessar por este tipo de formação”, revela o voluntário. Este não reconhecimento da Agência por parte dos professores é bastante criticado pela ex-coordenadora do curso. Ana Prado, que confessa que existem sim dentro da universidade professores que não se interessam pelo projeto, afirma que a coordenação luta para que os docentes se aproximem mais do projeto. Ela revela que a coordenação do curso sempre fala sobre a Agência durante as reuniões de planejamento, nas reuniões de congregação e nas listas de discussões dos professores. No entanto, de acordo com Ana, o trabalho ainda não é suficiente. Penso que também assim como temos alunos desinteressados na universidade, ainda temos docentes desse jeito, uma pequena parte, mas há. Para combater isso, temos que pensar em novas estratégias para atraí-los para os projetos, pelo menos para eles conhecerem melhor. 53

A professora doutora do curso de comunicação social, Larissa Latif, afirma que o curso de jornalismo consegue passar uma formação crítica baseada nos direitos humanos para os alunos, uma vez que as ementas das disciplinas do curso que têm relação com a interface comunicação / sociedade, já possuem essa preocupação em repassar esse tipo de formação aos universitários. Disciplinas como Comunicação, Cultura e Cidadania, Estudos de Mídia e Política, Estudos e Formação da Opinião Pública estão entre as principais disciplinas que fazem despertar no aluno a criticidade a respeito de cada tema proposto, acredita a docente. Não posso afirmar se todos os professores trabalham ou não nessa perspectiva. O que posso dizer é que muitos, e aí me incluo, buscam, sim, conscientizar seus alunos para a cidadania e proteção dos direitos. Esse tema é frequente nas minhas aulas não só no curso de jornalismo, como nos de publicidade e relações públicas. Não vejo como pensar processos comunicacionais sem articular a reflexão à 53

Entrevista concedida no dia 06 de março de 2009.


importância dos processos políticos e de cultura nas sociedades contemporâneas. Então, a importância da discussão sobre direitos 54 humanos é clara.

Segundo Mattos (1994), a solução pode ser relativamente simples: basta que se vençam os desafios de integração teoria-prática. É necessário também uma análise crítica para a identificação dos pontos dificultadores do ensino do jornalismo. Mas, sobretudo, de acordo com o autor, é necessário ousar, forçando mudanças na estrutura e desenvolvimento curricular. Para Mattos, o ensino em que apenas o teórico é desenvolvido vem perdendo e deve perder ainda mais espaço para a aprendizagem prática. Por conta disso, o autor afirma que é necessário haver um equilíbrio no ensino para que exista uma interação entre a teoria e a prática: Para tanto, se de um lado é necessário que os professores de prática jornalística mantenham alguma atividade profissional além da que exercem em sala de aula, para manter um elo entre a escola e o mercado de trabalho, é igualmente imprescindível que os professores das disciplinas teóricas, pelo menos entendam essa necessidade. (MATTOS, 1994, p. 35).

A ex-voluntária Ingrid Bico lembra que sua experiência no projeto foi “enriquecedora”. Para ela, a Agência é importante porque dá a oportunidade para que o aluno cresça tanto no lado profissional quanto no pessoal, além de ser um benefício para a própria universidade, “que ganha um destaque especial por desenvolver projetos de extensão que não são apenas laboratórios de calouros: são amostras da vida profissional real”, acredita a aluna.

5.7 Um outro jornalismo é possível

A mudança é constatada não apenas para a vida profissional dos envolvidos com o projeto, mas também para o lado pessoal dos acadêmicos. A voluntária Lorena Palheta, que atua no projeto desde novembro de 2008, 54

Professora Larissa Latif, em entrevista concedida no dia 15 de maio de 2009.


acredita que a Agência contribui para a formação de seu senso crítico, tanto para as causas que envolvem infância e adolescência, quanto para outros assuntos contemporâneos. “Passei a me indignar com coisas que antes passariam despercebidas por mim, como a forma que crianças e adolescentes são tratados pela mídia” (Lorena Palheta). Para a aluna Carolina Eulálio, a mudança tem a ver com o tipo de jornalismo que ela irá construir. “Acredito que posso seguir por um jornalismo diferente e melhor do que é feito em muitos lugares. Saberei respeitar e ouvir sempre os dois lados”.55 Podemos verificar na declaração das duas universitárias que a experiência adquirida por elas no projeto, se compara com a ideia citada por Tuzzo (2004), que afirma que os acadêmicos devem se inserir no tripé ensinopesquisa-extensão de uma universidade, justamente para perceber que a produção do conhecimento não se resume apenas dentro de uma sala de aula, onde se realizam as aulas teóricas. Pelo contrário, devem ir além também dos laboratórios, onde se realizam as aulas práticas, para que eles possam começar a enxergar o mundo com olhos mais críticos. O pensamento de “mudança” e as “atitudes diferenciadas” citadas pelas alunas comprovam a finalidade do espaço acadêmico, exposta pela autora, quando se refere que este espaço de aprendizado pode ajudar a construir uma visão diferenciada do cotidiano. As mudanças pessoais já são perceptíveis na opinião do voluntário Raphael Marinho. De acordo com ele, “lidar com direitos humanos ajuda na reflexão e ensina a se relacionar com o próximo”, acredita. Já na questão profissional, ele revela: Na minha vida profissional é clara a contribuição que a Agência teve para mim e, acredito que, de alguma forma, com todos os que passaram por ela. Ao entrar nesse trabalho nos é esclarecida a importância de fazer ações ligadas aos direitos humanos e o aluno 56 entende a importância e a responsabilidade do seu trabalho .

Tuzzo explica que a maioria dos alunos que passam por projetos como os de extensão, por exemplo, devem passar a “enxergar o cotidiano como um grande laboratório, onde todo tipo de manifestação possa ser analisado, sob a 55

Entrevista concedida no dia 21 de fevereiro de 2009.

56

Entrevista concedida no dia 23 de fevereiro de 2009.


ótica da ciência que se pesquisa e que se quer descobrir” (TUZZO, 2004, p.147). Quanto ao olhar de questionamento em relação ao senso comum defendido pela autora, também pode ser observado na declaração da aluna Lorena Palheta, que diz que “tudo que for fazer e questionar futuramente terá como base o que estou aprendendo na Agência”, afirma a aluna. Outro fato constatado a partir das entrevistas com os alunos é que, conceitos como “ética” e “responsabilidade social”, definidos por Bucci (2008) como elementos cruciais para a existência da democracia, podem ser observados no discurso dos alunos. A questão do jornalismo social tratado por Bucci (2008), pode ser observada nos discursos dos alunos que atuam na Agência, mostrando que estes acadêmicos já possuem uma certa visão crítica das coisas que envolvem a mídia, como o direito à informação e à comunicação, citado pelo autor em sua discussão teórica sobre o assunto. O acadêmico Pablo Almeida, por exemplo, que atuou no projeto como voluntário no período entre junho e dezembro de 2008 e, atualmente é bolsista de jornalismo desde fevereiro de 2009, revela que a experiência que a Agência lhe proporciona será lembrada por toda vida, uma vez que o projeto preza pelo respeito em seus produtos e aos colegas de trabalho. Todos são muito atentos com todos. Saber que faço parte de um espaço que milita por uma questão necessária e sempre ativa, que é a luta pelos direitos da criança e do adolescente, me faz ser mais responsável e satisfeito em me dedicar a esta causa. 57

Em alguns alunos, a passagem pela Agência Unama é crucial para que estes obtenham uma formação crítica diferenciada voltada para os direitos humanos, além de apresentarem mudanças quanto à sua postura e desenvoltura com os produtos de comunicação. Esta é uma das definições da coordenadora Danila sobre a participação dos universitários no projeto. Têm certos alunos que chegam na Agência super tímidos, tatiando os produtos de comunicação que o projeto trabalha. No entanto, após um período de experiência na Agência, estes já se apresentam mais confiantes, tanto para a área da comunicação quanto para o lado social58.

57

Bolsista Pablo Almeida, em entrevista concedida no dia 28 de fevereiro de 2009.

58

Danila Cal, em entrevista concedida no dia 20 de março.


As opiniões sobre mídia e direitos humanos são diferenciadas entre os alunos que não participaram do projeto. Enquanto uns acreditam que esta relação é essencial para que haja um trabalho de qualidade no jornalismo paraense, outros alunos apenas afirmam que a atuação na área é “admirável”. Para o aluno Augusto Lobato, que não estagiou na Agência Unama, o jornalismo nem sempre caminha de mãos dadas com os direitos humanos, isso porque, na opinião do universitário, “a conjuntura empresarial transforma relatos, fere direitos que deveriam estar assegurados e, “obriga” seus funcionários a cometerem atos contrários aos direitos humanos em nome de um salário”, acredita o aluno. Para o acadêmico, a relação entre jornalismo e direitos humanos pode ser uma combinação naturalmente normal, uma vez que, segundo ele, os jornalistas são os próprios responsáveis em disseminar um conteúdo de qualidade e que tenha importância para a sociedade. Tainá Aires, também acadêmica do curso, possui a mesma opinião de Augusto e, defende que “fazer jornalismo que respeite os direitos humanos é fazer um jornalismo cidadão e responsável”.59 A partir das falas dos dois alunos é possível analisar que, mesmo sem terem participado do projeto, os acadêmicos conseguem ter um olhar sensível à causa dos direitos humanos. No entanto, outros alunos entrevistados para o estudo e que não passaram pela Agência, apresentaram um certo despreparo e desconhecimento, desde a relação entre mídia e direitos humanos até em relação a definição de projetos de extensão. “Acredito que projeto de extensão seja algo que tenha relação com pesquisas de campo, feitas com diversas pessoas a partir de uma enquete60”. Sendo que, Neves e Santos afirmam que o conceito de projeto de extensão está relacionado a “estender-se, levar a pesquisa e o ensino codificados de forma adequada para bem comunicar além dos muros das universidades” (NEVES; SANTOS, 2008, p. 08). Uma outra aluna do mesmo semestre e que também não estagiou no projeto, afirma que conheceu a Agência por meio de um trabalho acadêmico

59 60

Entrevista concedida no dia 29 de março de 2009. Entrevista concedida no dia 30 de março por uma aluna do quarto semestre.


que produziu na universidade, no entanto, ela revela que admira o trabalho do projeto, mas não se sentiu interessada em seguir sua carreira profissional atuando em causas sociais. Acho natural a relação entre jornalismo e direitos humanos, até porque acredito que o jornalismo pode ter relação com qualquer área. Mas, nunca trabalhei em nenhum lugar que seja envolvido com alguma causa social. Já cheguei até a me interessar por este tipo de jornalismo mais compromissado, mas olhando mais de perto vi que não tinha vocação. Acho que cada pessoa tem afinidade com um determinado assunto. Eu, apesar de respeitar e admirar muito as pessoas que atuam nesses locais, não me vejo exercendo esse tipo 61 de atividade.

Uma aluna do sexto semestre de curso que não passou pela Agência Unama também acredita que é preciso se fazer um jornalismo mais comprometido, divulgando, principalmente, assuntos relacionados a direitos humanos. No entanto, a universitária afirma que esta prática ainda está distante das redações das grandes mídias, pois “esse tipo de jornalismo ainda é pouco visto atualmente”. Mesmo acreditando que é necessária a prática de um jornalismo cidadão, a aluna demonstrou pouco interesse e disposição para atuar e produzir um jornalismo cívico: Acredito que os jornalistas deve sempre ser a favor daqueles que mais necessitam de ajuda, mostrando o que está errado na sociedade, para que possa ser consertado. Mas, para ser sincera, nunca pensei em trabalhar nesse tipo de atuação.62

Apesar de nunca ter participado do projeto, a aluna Tainá Aires não defende a mesma opinião que as universitárias citadas acima. Segundo Tainá, trabalhar em algo voltado para o social sempre foi uma de suas grandes vontades, mesmo sendo fã número um de trabalhar na redação de um veículo de comunicação. A diferença de trabalhar em uma redação jornalística e um espaço que seja voltado para a mídia social, de acordo com a aluna, que atualmente trabalha na redação do jornal O Liberal, é que:

61

Entrevista concedida no dia 29 de março de 2009.

62

Depoimento de uma aluna do sexto semestre de jornalismo.


Na redação nem sempre temos a oportunidade de abordar determinadas questões que contribuem para a efetivação de direitos na sociedade. Trabalhar em um local como a Agência Unama, por exemplo, seria uma forma de tentar mudar a triste realidade em que a mídia do Estado se encontra63.

Afinal, a Agência Unama e o curso de comunicação, por sua vez, estão correspondendo às expectativas de alunos como a Tainá, por exemplo, que acredita que trabalhar no projeto ou praticar bastante o exercício do jornalismo comprometido com a cidadania mudaria a forma do jornalismo feito no Pará pelas futuras profissões? De acordo com a coordenadora do projeto, Danila Cal, as atividades realizadas na Agência Unama estão bastante ligadas à relação entre mídia e cidadania, uma vez que trabalha com temas relacionados às questões sociais, como o direito de meninos e meninas. Já no curso de jornalismo ainda é pouco visível a existência de uma formação dos futuros profissionais em relação aos direitos humanos e cidadania. As entrevistas concedidas por diversos alunos do curso demonstram que o jornalismo cívico ainda é pouco estimulado dentro da universidade. Ana Prado acredita que a procura pelos projetos de extensão na Unama ainda é baixa e que os alunos deveriam buscar investir mais na sua formação, uma vez que "a grande maioria dos estudantes que passa pelo projeto saem com uma outra visão, mais humana e cidadã", acredita Ana, que afirma ainda que, do ponto de vista crítico e científico, a Agência contribui bastante para uma formação mais ampliada. A ex-coordenadora ressalta que ainda há uma cultura ruim dentro da universidade, que é a de que os alunos não buscam a qualificação e formação, apenas esperam que tudo caia às mãos. "Os alunos deveriam usar mais tudo na universidade, ousar e procurar conhecimento seja num estágio (não remunerado, por vezes) em cursos, grupos de estudo, etc”.64 O futuro passa a ser observado com mais atenção pelos alunos que fazem parte do projeto. Prova disso é a preocupação citada pelo bolsista Pablo, que afirma que “tudo que aprendeu na Agência servirá para o meu futuro, pois a cada dia que passa surge algo novo para eu aprender, o que vai influenciar quando for jornalista”, revela o aluno. 63

Entrevista concedida no dia 29 de março de 2009.

64

Entrevista concedida no dia 06 de março de 2009.


A partir das entrevistas, foi notório observar que, a maioria dos alunos que atuam como voluntários permaneceriam no projeto até conseguirem um estágio remunerado. O fato passa a até ser visto com uma certa evidência, pois muitos alunos universitários gostam e planejam sua vida profissional pensando no quanto podem ser bem sucedidos financeiramente com a carreira que escolheu. A permanência do voluntário Raphael Marinho na Agência Unama também está ligada à questão financeira. Ou seja, o aluno irá estagiar no projeto até quando conseguir encontrar um estágio remunerado, “mesmo não sendo minha vontade sair daqui”, completa Raphael. Já com os bolsistas a realidade parece ser diferente. Pablo Almeida afirma que ainda não sabe se vai deixar o projeto quando seu contrato acabar, pois, segundo ele, as funções que ele passou a assumir atualmente na Agência estão sendo mais precisas, o que faz com que o aluno sinta vontade de aprender ainda mais. “Creio que ainda tenho muito a aprender na Agência. Por isso, prefiro deixar as coisas fluírem. Acho que ficarei tempo suficiente para me sentir satisfeito com o trabalho e deixar a Agência satisfeita com o trabalho feito por mim”, afirma o aluno.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo revelou as diversas opiniões e ideias a respeito da importância da formação acadêmica em relação ao jornalismo cívico, mostrando como alunos e professores pensam a respeito do fazer jornalístico voltado para as causas sociais. Observa-se que ainda existe uma necessidade significativa de estimular os universitários de jornalismo da Universidade da Amazônia, principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento de sua criticidade em relação aos fatos da sociedade. A formação acadêmica relacionada aos direitos humanos, por sua vez, foi o que mais chamou atenção neste estudo. De acordo com as entrevistas e depoimentos de alunos e professores da universidade, foi possível analisar que


a formação neste segmento ainda é considerada pouco estimulada por parte dos alunos. No entanto, professores garantem que a formação cidadã é uma preocupação constante do quadro pedagógico, uma vez que possui disciplinas diretamente ligadas a formação crítica e cidadã, como discussões sobre mídia, política, cultura, cidadania e opinião pública. Porém, o que os universitários entrevistados reclamam é que o aprendizado não foi suficiente para que eles se sentissem estimulados a atuarem na área. Entre os alunos entrevistados que trabalharam ou não na Agência Unama, foi observado uma diferença entre os depoimentos dados a este estudo. Os que já haviam passado pelo projeto, afirmam que aprenderam mais dentro da Agência do que em sala de aula, enquanto que os que não passaram revelam que o curso não deu suporte suficiente para o interesse nessa temática. Ou seja, o que alguns não aprenderam em sala de aula, outros se estimularam dentro do projeto. Mas, o fazer jornalístico sobre cidadania e direitos humanos não parece ser tão simples. Foi possível observar nos depoimentos que é preciso ter vontade, vocação e acreditar naquilo que defende para atuar na área. O que para alguns era apenas como uma prática “bonita” e “elogiável”, para outros o jornalismo cidadão era visto como um rumo a ser seguido pelo resto da carreira jornalística. Este rumo, no entanto, não foi um desejo observado apenas nos universitários que trabalharam na Agência Unama.

Tanto que alguns dos

alunos que não passaram pela Agência - e, mesmo assim, possuem uma consciência diferenciada a respeito dos direitos humanos e a mídia -, apresentaram interesse em trabalhar com um jornalismo mais responsável. Porém, o que é mais preocupante, é que essa característica não foi a apresentada pela maioria dos alunos entrevistados que não participaram do projeto. Deste modo, avaliou-se que muitos alunos que não tiveram a oportunidade de conhecer as práticas jornalísticas voltadas para a divulgação dos direitos humanos e compromisso social, realizadas pela Agência, podem acabar não tendo o mesmo desempenho no mercado de trabalho em relação ao jornalismo cívico que os alunos que atuaram e aprenderam essa prática no


projeto. Esta diferença foi constatada, inclusive, em inúmeras falas dos alunos que já tinham passado pela Agência e hoje são profissionais. Neste trabalho, a primeira hipótese – que seria a de comprovar se o projeto oferece uma formação crítica e social a todos os alunos que passaram pela Agência Unama – foi comprovada a partir das entrevistas feitas com alunos, professores e coordenadores, que afirmam que o projeto possui uma importância fundamental para que os universitários tenham uma visão mais ampliada de cidadania e direitos humanos. Sobre a questão relacionada ao projeto enquanto marca, que tinha o objetivo de descobrir se a marca se mostra desconhecida, a maioria dos alunos e professores do curso de jornalismo, apresentada neste estudo como a segunda hipótese a ser analisada, foi possível observar que a marca Agência Unama é conhecida pela maioria dos alunos e professores. No entanto, muitos desconhecem a real intenção do projeto e afirmam que apenas sabem que o projeto trabalha com a questão dos direitos da criança e do adolescente. Porém, essa constatação não é muito difícil quando o trabalho da Agência já vem estampado no próprio nome do projeto: Agência Unama de Comunicação pelos Direitos da Criança e do Adolescente. Foi comprovado pela própria ex-coordenadora do curso de comunicação que ainda é preciso que os professores de jornalismo se interessem mais pelo projeto e divulguem mais suas ações para que mais alunos tenham a experiência de passar pelo projeto. A terceira e última hipótese, que era a de pesquisar se dentro do curso os alunos se sentem estimulados em trabalhar com um jornalismo voltado para o jornalismo cívico, já foi analisada no início deste tópico e comprovada que esta hipótese ainda não é verdadeira. Muitos universitários demonstraram pouco interesse pela prática social jornalística. É necessário que o curso de jornalismo, além de ensinar as teorias e as práticas relacionadas à profissão, trabalhe e estimule a atuação destes futuros profissionais na área do jornalismo cidadão, que preze, em primeiro lugar, a responsabilidade e comprometimento da prática jornalística, independente de interesses econômicos e políticos, visando a cidadania e a defesa dos direitos de todo cidadão. Caso contrário, continuaremos com a ideia, que já se tornou


verdade absoluta, que alguns universitários e jornalistas possuem: a de que não é possível fazer um jornalismo diferente.


REFERÊNCIAS ALMEIDA, Verônica. A mídia e os direitos humanos. In: CANELA, Guilherme (org). Políticas públicas sociais e os desafios para o jornalismo. São Paulo: Cortes Editora, 2008. BENEVIDES, Maria Victória. Cidadania e Direitos Humanos. Artigo apresentado na Cátedra Unesco/USP de Educação para a Paz, Direitos Humanos, Democracia e Tolerância, 2006 BENTES, Ivana. A universidade concorre com a mídia. Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2002. BUCCI, Eugênio. A imprensa e o dever da liberdade: a responsabilidade social do jornalismo em nossos dias. In CANELA, Guilherme (org). Políticas públicas sociais e os desafios para o jornalismo. São Paulo: Cortes Editora, 2008.

CASTRO, Maria Helena Guimarães. Políticas públicas: conceitos e conexões com a realidade brasileira. In CANELA, Guilherme (org). Políticas públicas sociais e os desafios para o jornalismo. São Paulo: Cortes Editora, 2008. COTTA, Pery. Jornalismo: teoria e prática. [S.l]: Ed. Rúbio, 2005. FACHIN, Odília. Fundamentos de Meteodologia. São Paulo: Ed. Saraiva, 2001. FERNANDES, KASSYA. Jornalismo público no Pará: a experiência da Agência Unama de Comunicação pelos Direitos da Criança e do Adolescente. Universidade

da

Amazônia,

Belém

(PA),

2008.

FERNANDES, Márcio. Jornalismo Cívico: um estudo comparado dos modelos americano e brasileiro. In: BARBOSA, Marialva; e HOHLFELDT, Antonio (org.). Jornalismo no século XXI: a cidadania. Porto Alegre: Mercado Aberto, 2002. GENTILLI, Victor. Democracia de massas: jornalismo e cidadania. Porto Alegre, Ed. EDIPUCRS, 2005.


LOPES, Dirceu Fernandes. Jornal Laboratório: do exercício escolar ao compromisso com o público leitor. São Paulo: Summus Editorial, 1989. MATTOS, Sérgio. Ensino de Jornalismo: sem a Integração Teoria-Prática não haverá solução. In: MELO, José Marques (org). In: Transformações do jornalismo brasileiro: ética e técnica. Intercom, 1994. MEDINA, Cremilda. Profissão jornalista: responsabilidade social. São Paulo, Ed. Forense Universitária, 1982. NEVES, Manoella e SANTOS, Clayton. In: Atividades de Extensão Universitária em Jornalismo: dossiê Alagoas, 2008. PEREIRA, Tânia da Silva. Direito da Criança e do Adolescente: uma proposta interdisciplinar. Rio de Janeiro, Ed. Renovar, 1996. RIZZINI, Irene. A criança e a Lei no Brasil: revisitando a história (1822- 2000). Rio de Janeiro, Ed. USU Universitária, 2002. SAETA, Beatriz Pereira; SOUZA NETO, João Clemente. As crianças e os adolescentes na sociedade brasileira. In: NASCIMENTO, Maria Letícia B.P; SOUZA NETO, João Clemente (org). IN: Infância: Violência, Instituições e políticas públicas. São Paulo: Expresso e Arte, 2006. SANTOS, Fernando de Maria dos. Prática e aprendizado: a importância da agência universitária de notícias como jornal-laboratório. Tese de doutorado. Universidade de São Paulo (USP): São Paulo, 2007. SOARES, Vera Lúcia; PESSANHA Jorge. Institucionalização da extensão: passo a passo. In: Fórum de Extensão das IES Brasileiras. Brasília, 2004. TUZZO, Simone Antoniaci. Deslumbramento Coletivo: opinião pública, mídia e universidade. São Paulo, Ed. Annablume, 2004.


APÊNDICES


Roteiro de perguntas para a coordenação do curso

1- Você acompanha a Agência desde o começo. Como se deu a criação da Agência Unama?

2- Quais eram as primeiras impressões da Agência por parte do curso de jornalismo (universidade) na época?

3- No que você acha que a Agência pode contribuir na formação dos alunos de jornalismo?

4- Você acha que a procura pelos cursos de extensão ainda é baixa na Unama? Por quê você acha que que isso acontece?

5- Como acontece a distribuição de recursos para os projetos da Unama? Qual o critério que a Universidade utiliza para decidir a questão dos transporte, por exemplo?

6- A maioria dos professores de Comunicação desconhecem a existência da Agência. A Universidade já pensou em alguma forma de aproximar esses profissionais do projeto?


Roteiro de perguntas para os alunos atuais

1- Por quê você teve a iniciativa de entrar no projeto?

2- O que você está achando de trabalhar na Agência?

3- Você mudaria alguma coisa na rotina de trabalho? O quê e Por quê?

4- Você acredita que a experiência vai lhe acrescentar algo no futuro? O quê?

5- Pretende ficar no projeto até quando?

6- O quê você acha da relação entre a Agência e Universidade (curso)?

7- Acredita que vai lhe trazer mudanças para a vida pessoal e profissional?


Roteiro de perguntas para os alunos que já passaram pelo Projeto

1- Como você define a sua participação na Agência Unama? 2- Como e por quê você resolveu entrar no projeto? 3- O quê você leva de aprendizado para a sua vida profissional após a passagem pelo projeto? 4- E para a vida pessoal? 5- A Agência já influenciou seu comportamento em outros trabalhos? 6- O quê você mudaria no projeto na época em que trabalhava lá? 7- O que aprendeu no curso de jornalismo condizia com as atividades realizadas no projeto? 8- O que você achava da relação entre o projeto e a Universidade?


Roteiro de perguntas para os alunos que não passaram pelo Projeto

1- Você sabe o que é e para quê serve um projeto de extensão de uma universidade? 2- Você conhece ou já participou de algum projeto de extensão da Unama? Qual? 3- Você tem conhecimento sobre o trabalho desenvolvido pela Agência Unama de Comunicação pelos Direitos da Criança e do Adolescente? O que sabe a respeito e o que acha? 4- O que você acha sobre a relação entre jornalismo e direitos humanos? É possível? 5- Você acha que a mídia pode colaborar na construção ou efetivação de direitos? De que forma? 6- Já trabalhou ou tem vontade de trabalhar em um local que contribua com sua formação profisisonal no lado social? Por quê?


Roteiro de perguntas para os professores

1- Você conhece a Agência Unama de Comunicação pelos Direitos da Criança e do Adolescente? Sabe que tipo de trabalho realiza? 2- Na sua concepção, o curso de jornalismo da Unama permite a formação crítica dos alunos? De que forma? 3- Você acha que o curso de jornalismo consegue repassar aos acadêmicos uma formação cidadã, baseada principalmente nos direitos humanos? 4- Em entrevista, uma das reclamações dos alunos que já estagiaram na Agência, era que alguns professores pouco incentivavam a defesa dos direitos humanos na comunicação. Isso realmente acontece? Como você trabalha isso em sala de aula?


ANEXOS


ANEXO 1

Agenda Criança Extra – 08.05.2009 Sugestões de pauta sobre infância e adolescência

Em caso de publicação do texto do Agenda Criança é obrigatório o crédito à Agência Unama

ASSUNTO: VIOLÊNCIA SEXUAL É TEMA DE BATE PAPO COM IMPRENSA O Fórum Municipal de Enfrentamento à Violência Sexual de Belém promove na próxima terça-feira (12), no Cine Acyr Castro, localizado no Espaço Cultural Memorial dos Povos, em Belém (PA), um bate papo com a imprensa sobre violência sexual contra crianças e adolescentes. O evento, que vai acontecer das 8h às 12h, terá vagas limitadas. Para participar, é preciso confirmar a presença pelos telefones (91) 4009 93 90 / 9370. O bate papo faz parte da programação referente ao Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Meninos e Meninas, lembrado no próximo dia 18 de maio. Para falar sobre o tema com os profissionais de comunicação, especialistas e representantes das mais de 80 instituições que compõem o Fórum, caracterizadas, principalmente, por desenvolverem um trabalho de combate à violência sexual na Região Metropolitana de Belém, estarão presentes para mostrar o quanto o assunto pode ser tratado de uma maneira diferente pela mídia. “Nós, que participamos do Fórum de Enfrentamento, sempre acompanhamos o que sai sobre o tema na mídia. Acreditamos que a imprensa ainda não divulga o problema o suficiente, apenas em datas relevantes como o 18 de maio, ou acontecimentos extraordinários”, afirma Eugênia Melo, uma das organizadoras do evento. De acordo com ela, a mídia ainda trata o tema da violência sexual de forma equivocada, uma vez


que “muitas informações que saem na mídia não são coerentes aos dados e informações apresentados pelas organizações”, diz. Para mudar a forma com que a mídia aborda o assunto, Eugênia aposta num processo de “sensibilização” para que jornalistas e profissionais da comunicação vejam com outros olhos a questão da violência sexual contra meninos e meninas. “Nosso objetivo com este evento é chamar atenção desses profissionais para que eles possam produzir matérias diferentes, mostrar quais as instituições responsáveis que podem tratar uma criança ou um adolescente que sofrer qualquer tipo de violência sexual”, completa Eugênia, que ressalta que o tema ainda é tratado de maneira superficial pela grande mídia. O evento conta com apoio da Agência Unama de Comunicação pelos Direitos da Criança e do Adolescente, Universidade da Amazônia(Unama), Fundação Cultural Municipal de Belém (Fumbel) e Memorial dos Povos. Contatos: Eugênia Melo, organizadora do evento: (91) 3212 2496 / (91) 9144 0949 Agência Unama de Comunicação: (91) 4009 9370 / 4009 9391 Serviço Assunto: VIOLÊNCIA SEXUAL É TEMA DE BATE PAPO COM IMPRENSA Data: 12 de maio (terça-feira) Local: Cine Acyr Castro, localizado no Espaço Cultural Memorial dos Povos – rua Governador José Malcher, entre Dr. Moraes e Assis de Vasconcelos.

Acesse o site www.agencia.unama.br Este é um produto da Agência Unama, a agência paraense de comunicação pelos direitos da criança e do adolescente. 4009-9391/4009--9390 agenciacomunic@unama.br


ANEXO 2

A CRIANÇA E O ADOLESCENTE NO MUNICÍPIO NÚMERO 26 ANO I 19.08.2008 Sugestões de pauta sobre a situação da infância e da adolescência nos municípios

ASSUNTO: O DIREITO DE CONVIVER EM FAMÍLIA E NA SOCIEDADE Crianças e adolescentes têm direito ao convívio em família e também em sociedade, seja nas escolas, ou em atividades culturais e esportivas nos seus bairros. O direito a convivência familiar e comunitária deve ser garantido pela sociedade e pelo estado por meio de ações que fortaleçam as famílias e que permitam a vida em comunidade. É com a convivência que se tem o desenvolvimento social e psicológico das crianças. Principalmente porque é nos primeiros anos de vida que meninos e meninas obtêm elementos que mais tarde refletem em sua auto-estima, em sua forma de conviver com o outro e até em seu desenvolvimento emocional. A contribuição da família e da comunidade no crescimento se dá pela mediação e auxilio na relação do público infanto-juvenil com o mundo, colocando para crianças e adolescentes os limites e proibições necessárias para a vida em sociedade. Garantir esse direito aumenta a possibilidade dos indivíduos de enfrentarem e superarem condições adversas no futuro, ou seja, evita problemas sociais presentes no dia-a-dia dos cidadãos, como a violência e a pobreza. Mesmo nos casos em que


crianças e adolescentes vivem em abrigos ou unidades de internação é necessário que a convivência seja facilitada por meio de atividades que envolvam os familiares e amigos.

O direito à convivência familiar e comunitária é mais uma conquista da nova forma de ver o público infanto-juvenil, proposta pela Convenção dos Direitos da Criança e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Essa diretriz prima que a institucionalização de meninos e meninas só aconteça em casos extremos em que não há mais como se ter uma vida saudável em família. Para que esse direito seja respeitado, foi criado em 2006, o Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes a Convivência Familiar e Comunitária. O Plano é constituído de diversas ações que têm como responsáveis o governo federal, os estados e os municípios. A política tem entre suas diretrizes, a centralidade da família nas políticas públicas e a primazia da responsabilidade do Estado no fomento de políticas integradas de apoio à família. O que diz a lei? A Constituição Federal (Artigo 227) e o ECA (Artigo 4°) dispõem que toda criança e adolescente tem o direito de conviver em família e na comunidade. Estes seriam fatores primordiais para o desenvolvimento das mesmas. O Estatuto coloca que meninos e meninas têm “direito a ser criado e educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes”. (artigo 19°)

Dentro do direito à convivência familiar, a lei determina (artigo 22°) que os pais têm o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores de 18 anos e que a falta ou carência de recursos de ordem econômica (artigo 23) não justificam a destituição do poder familiar. Mesmo em casos extremos, como de pobreza e violência, a criança ou o adolescente deve permanecer na convivência de “sua família de origem, a qual


deverá obrigatoriamente ser incluída em programas oficiais de auxílio” (parágrafo único do artigo 23). O poder familiar só pode ser suspenso (artigo 24) a partir de decisão decretada judicialmente, “em procedimento contraditório, nos casos previstos na legislação civil, bem como na hipótese de descumprimento injustificado dos deveres e obrigações a que alude o artigo 22”. ENCAMINHAMENTOS: 1) As crianças e adolescentes de seu município têm seus direitos familiares garantidos? 2) As famílias que têm crianças em vulnerabilidade são inclusas em programas assistenciais para garantir que elas tenham sua convivência familiar garantida? 3) As pessoas reconhecem este direito ou ainda pensam que é melhor colocar as crianças em abrigos e unidades de internação? 4) Os abrigos e as unidades de internação promovem atividades que garantam o convívio de crianças e adolescentes com suas famílias?

Mais informações Para conhecer o Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes a Convivência Familiar e Comunitária, acesse o site da presidência da república:

http://www.presidencia.gov.br/estrutura_presidencia/sedh/.arquivos/pncfc.pdf

Com quem falar sobre isso? Entreviste conselheiros tutelares e de direito para saber se o direito a convivência familiar e comunitária está sendo respeitado.


Procure a secretaria de assistência do município para saber quais ações estão sendo realizadas para o fortalecimento das famílias. Visite abrigos ou unidades de internação de seu município para saber quais são as atividades que eles promovem para garantir esse direito. Psicólogos e assistentes sociais podem ser boas fontes sobre a importância da convivência familiar e comunitária para o desenvolvimento de crianças e adolescentes.

Dicas Entreviste uma família que tenha conseguido criar seus filhos por conta do bom relacionamento entre os familiares. Mostre como é importante uma boa base familiar para o desenvolvimento de crianças e adolescentes.

Acesse o site: www.agencia.unama.br Este é um produto da Agência Unama, a agência paraense de comunicação pelos direitos da criança e do adolescente. 4009-9391/4009-9390 agenciacomunic@unama.br


ANEXO 3

Notícias do dia - 04.03.08 O resumo das principais notícias sobre infância e adolescência veiculadas nos jornais diários do Pará.

• Conselhos tutelares serão fiscalizados em todo o país • Funcap promove curso profissionalizante • Funpapa capacita profissionais sobre o ECA

Conselhos tutelares serão fiscalizados em todo o país As condições de funcionamento dos conselhos de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, dos conselhos tutelares e dos fundos da Infância e da Juventude serão vistoriadas este semestre pela Ação Nacional dos Conselhos do Brasil. O secretário executivo de Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente (Comdac), Sérgio Rodrigues, informou que em todos os municípios do Pará existem conselhos tutelares, entretanto, alguns estão inativos por não existir nos locais um Comdac, que é o órgão responsável para promover as eleições para conselheiro. As inspeções serão realizadas em cerca de três mil municípios, com conclusão prevista para julho deste ano (Diário do Pará, Cidades, p. A-4).

Funcap promove curso profissionalizante A Fundação da Criança e do Adolescente do Pará (Funcap) oferecerá este mês, no Município de Santarém (PA), cursos de profissionalização a 42 adolescentes e jovens, de 12 a 19 anos, assistidos pela instituição. O objetivo é evitar outros tipos de revoltas internas, como a ocorrida no dia 25 de fevereiro passado. A assistente social, Adriana Rego dos Santos, conta que todos os monitores, educadores e demais profissionais participaram na semana passada de um projeto político-pedagógico da própria instituição para se capacitar como instrutores dos adolescentes (Diário do Pará, Cidades, p. A-7).


Funpapa capacita profissionais sobre o ECA A Fundação Papa João XXIII começou ontem em sua sede, em Belém (PA), um curso de capacitação dos novos profissionais que vão atuar nos Programas de Liberdade Assistida e de Prestação de Serviços à Comunidade. Um total de quinze pessoas, entre psicólogos e assistentes sociais, aprimoram seus conhecimentos sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), medidas socioeducativas e outras previstas no Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase). Segundo a presidente da Funpapa, Maria Costa, 204 jovens são atendidos pela instituição. Os profissionais irão atuar nos Programas de Liberdade Assistida e de Prestação de Serviços à Comunidade (Diário do Pará, Regional, p. A-10).

Fones para contato: 4009-9391/4009-9390. Se você ou sua instituição não quiser receber mais este informativo, por favor, mande uma mensagem para agenciacomunic@unama.br


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.