JORNAL ZEITGEIST | N. 2

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Grete Stern, Sonho 31, 1949

JORNAL DO CURSO DE PSICOLOGIA DA NEWTON

N.2 | Maio | 2017 | ISSN 2526-6365

Zeitgeist


Grete Stern, Sem Título, 1949

eDItorIaL O ZEITGESIT segue no caminho, trazendo o espírito da nossa época aqui na Psicologia da Newton. Nesta segunda edição, nossa capa e este editorial são ilustrados por imagens produzidas pela fotógrafa alemã Grete Stern, que nos anos 40 e 50 tinha a difícil missão retratar os sonhos das pessoas em montagens fotográficas, sem Photoshop. Estabelecida em Buenos Aires após fugir do nazismo na Alemanha, Grete Stern era a ilustradora de sonhos da coluna “A Psicanálise te Ajudará”, escrita pelo professor Richard Rest – o psicanalista fictício criado pelo psicólogo Enrique Butelman e pelo sociólogo Gino Germani – para a revista argentina Idilio. As teorias de Freud estavam muito em alta no final dos anos 40 e a ideia era pegar carona na interpretação dos sonhos, respondendo as cartas das leitoras, com seus mais estranhos sonhos, pelo viés da psicanálise. Enquanto a dupla de psicanalistas se virava no divã do professor Rest, cabia à Grete Stern elaborar as montagens fotográficas e ilustrar as discussões. Imagine o esforço para traduzir em imagens as descrições das pessoas, a interpretação dos sonhos e a teoria psicanalítica. Para matar a curiosidade, basta pesquisar pelo nome da fotógrafa e ver mais daqueles sonhos ilustrados. Além referência imagética fundamental da Psicologia, esta edição do Zeitgeist traz também algumas reflexões importantes do nosso curso, como por exemplo o questionamento da aluna Michele Souza sobre a predominância de escritos de homens nas teorias e estudos da Psicologia e a falta de abordagens produzidas por mulheres – assunto que será discutido em breve em um seminário proposto pelas alunas do curso. Também o texto da professora Margaret sobre o filme “O Quarto de Jack”, objeto do último “Cinema em debate” do Mundo Newton, que teve ótima repercussão no evento e agora está disponível por aqui. E a polêmica da marcação de lugares na sala de aula. Ô dificuldade! Dentre mais, o Zeitgeist segue aberto às contribuições, indicações culturais e referências importantes e interessantes para todos nós. Contribuam!

HOMERO NUNES

eXpeDIente ZEITGEIST | JORNAL DO CURSO DE PSICOLOGIA DA NEWTON | ISSN 2526-6365 Coordenação: Andreia Barbosa de Faria Jornalista Responsável: Homero Nunes Estagiária do curso de Jornalismo: Fernanda Casanova Produção: Núcleo de Produção Acadêmica da Newton - NPA Editora de Arte e Projeto Gráfico| Helô Costa - Registro Profissional 127/MG

Dúvidas, críticas e sugestões: homero@newtonpaiva.br


com a paLaVra, a aLUna MICHELE SOUZA 10° período de Psicologia Unidade Silva Lobo | Noite

POR UM CONTATO MAIOR COM OS ESCRITOS DAS MULHERES NA PSICOLOGIA Ao entrar em uma sala de aula do curso de Psicologia o maior numero de estudantes é de mulheres. Mas nem sempre foi assim. Quando a psicologia moderna surgiu como ciência no século XIX, as mulheres em geral não podiam estudar. No entanto, algumas delas não aceitaram as barreiras sociais, para a nossa felicidade, e começaram a lutar pelo direito ao estudo. Claro que não era somente no campo da psicologia que isso acontecia, pois para os homens da época, as mulheres não possuíam capacidade intelectual. Com o tempo isso foi mudando, espaços foram conquistados, a capacidade foi provada. No entanto, ainda hoje quase não temos contato com escritos e teorias realizados por mulheres, nem mesmo tomamos conhecimentos da história delas. Mulheres como Christine Ladd Franklin, Leta Stetter Hollingwort, Melanie Klein, Dorothea Dix, Anna Freud, e muitas outras contribuíram para estudos e pesquisas na psicologia. Cada uma merece um olhar mais profundo em seus trabalhos, para entendermos a importância delas na

historia da nossa profissão. Não é o caso de diminuir a importância dos trabalhos realizados pelos homens, mas acreditamos que a desigualdade na relação homem e mulher tem que começar a ser dissipada também no campo intelectual. Queremos ter a chance de conhecer e estudar essas mulheres, não apenas em textos isolados ou por que elas foram casadas e ajudaram no pensamento de uma teoria, e sim por que elas contribuíram e a ainda contribuem fortemente para a construção da psicologia como profissão. A impressão que temos é que somos muitas e ainda sim muito poucas. Pouco ouvidas, lidas e compreendidas. Ainda não temos nosso lugar nas academias como os homens. E se quisermos um mundo mais igualitário devemos começar pela maneira como pensamos. Portanto, acreditamos que devemos ter mais contato com literaturas como a de Simone de Beauvoir, Nise da Silveira, Laura Perls e outras tantas que deixaram a sua marca na história da psicologia e do mundo.


comportamento

LUGARES MARCADOS GERAM CONFLITOS É correto marcar lugar na sala de aula para quem chega depois? A polêmica não é nova, mas tem gerado discussão em algumas turmas de Psicologia. Alguns alunos têm reclamado que chegam no horário, mas que não conseguem se sentar na frente ou em lugares que consideram melhores porque estes estão marcados para quem nem chegou ainda. É que alguém que chega cedo coloca algum material nas carteiras em volta para certos colegas, de modo a demarcar um território no espaço coletivo da sala de aula. “Essa marcação de lugar virou quase uma disputa. Eles começaram a chegar mais cedo para guardar o lugar e ficava aquela luta de ego. Quando a gente chegava e via que eles já tinham se sentado, eles olhavam por cima e davam aquelas risadinhas insuportáveis e a gente o mesmo!”, relata a aluna Ana Carolline, sobre um mal-estar ocorrido em uma turma da Psicologia. Segundo a aluna, ela e duas colegas trocaram de turno, da manhã para a noite, e quando chegaram em sala quiseram ocupar um lugar parecido ao que ocupavam de manhã: as carteiras da frente, encostadas à parede. Só que ali também era o lugar preferencial de alguém. “Eram outros alunos, outros costumes e com certeza já tinha gente que sentava nessas cadeiras que até então eram ‘nossas’, mas mesmo assim a gente insistiu em sentar no nosso lugar de costume. Nem preciso falar que deu ruim, né?”, completa a aluna. A piora da convivência acirrou alguns ânimos, mas sobretudo trouxe à tona a discussão sobre a marcação de lugares. Certamente, ter ao redor

pessoas com as quais se tem alguma identificação torna a experiência da faculdade mais agradável. O problema está quando novas pessoas entram no ambiente ou simplesmente quando alguém quer mudar de lugar, num espaço de adultos, onde não existe lugar definido para ninguém. “Não vejo problemas quando alguém senta no lugar do outro, mas quando estamos com o sétimo período já vi brigas acontecendo por alguém ocupar lugares dos outros”, conta Catharina, uma das representantes de turma da Psicologia. “Já fugi de alguns lugares por causa de pessoas que conversam muito e me incomodavam durante a aula, tirando isso acho bem tranquilo”, completa. Para o professor Fernando Dório, a marcação de lugares na sala de aula entra em conflito com a filosofia que o curso de psicologia prega: “Hoje, quando se fala em igualdade, tolerância e fim dos preconceitos, marcar lugar é um tipo de segregação.” A vontade de estar em um ambiente familiar, cercado de pessoas com quem se tem um bom relacionamento é natural, mas também demonstra uma falta de empatia com as pessoas que chegam. O que poderia ser uma experiência de troca, na qual o novo lhe acrescenta algo, pode se tornar um pesadelo. Antes de marcar lugar e ser mais um territorialista egoísta, lembre-se da frase de Tolstói: “o lugar que ocupamos é menos importante do que aquele para o qual nos dirigimos”. Fernanda Casanova Da redação | Zeitgeist


FaLe-me maIS SoBre...

CINEMA EM DEBATE: “O QUARTO DE JACK” O filme conta a história de Jack, um menino de cinco anos que é criado por sua mãe, carinhosamente chamada de Mã, em um quarto, mais precisamente um cativeiro. Apesar de delicado ao abordar uma situação tão aterrorizante, o filme é impactante e comovente. É comovente reconhecer como essa criança salva sua mãe e a si próprio em diferentes momentos: salva-a de um possível enlouquecimento com sua própria vinda ao mundo uma vez que Joy faz do “cuidar do filho” o motivo de sua existência a fim de não sucumbir ao horror a que estava submetida. Salva os dois do próprio cativeiro ao seguir as orientações de sua mãe para fugir. E, por fim, salva sua mãe de um sofrimento ainda mais inexplicável para ela, quando retorna para casa e se depara com o fato de ter tido uma vida interrompida aos 17 anos por um sequestro e ver abalada a solução que até então encontrara para sua existência. Joy não suporta ser desalojada do lugar de mãe pela indiferença do próprio pai (avô) com seu filho (neto) e pela pergunta da entrevistadora de Tv que sugere que ela não teria sido uma boa mãe ao manter o filho também em cativeiro. Ela tenta suicídio. Como um pequeno Sansão, Jack envia-lhe parte de seu cabelo e

de sua força para ajudar sua mãe a sair daquele sofrimento. O filme nos ensina que, dessubjetivada enquanto sujeito e mulher, restou a Joy a solução de ser mãe. Isso ancorou sua existência durante os sete anos presa no cativeiro mantendo-a viva e com a esperança que valeria ainda a pena apresentar o mundo ao filho. Em distintos momentos do filme, Jack solicita à mãe ir ao quarto quando se sente inseguro. Sair de um cativeiro é uma decisão difícil para qualquer sujeito. Ao entrar no quarto pela última vez, Jack faz uma pergunta: ele encolheu? Parece estranhar aquele lugar que lhe foi tão familiar e não lhe cabe mais. Pode então se despedir dos objetos que ali ainda permanecem. Jack então deixa a porta aberta entre ele e a mãe, experimenta o mundo com suas diferentes ofertas e encontra amigos. MARGARET PIRES DO COUTO Professora do curso de Psicologia da Newton O QUARTO DE JACK, 2016 DIREÇÃO: LENNY ABRAHAMSON ELENCO: BRIE LARSON, JACOB TREMBLAY, JOAN ALLEN GÊNERO: DRAMA NACIONALIDADES: CANADÁ, IRLANDA


o InDIcaDor | PELA PROFESSORA ANDRÉIA BARBOSA DE FARIA LIVROS CRIME E CASTIGO - DOSTOIÉVSKI Li na época da faculdade e foi um livro que me marcou profundamente. Conta a história de um rapaz humilde, Raskólnikov, que cometeu um crime (difícil de ser descoberto) em função de dinheiro. Esse livro me marcou pela capacidade do autor em transmitir ao leitor exatamente o que o personagem sentia e pensava. A culpa devora o personagem e ele começa a sucumbir diante desse sentimento. Psicológico!

A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER - MILAN KUNDERA É um livro que vale a pena se ater aos pequenos detalhes. O livro fala sobre o cotidiano, o amor e suas diversas facetas a partir de quatro personagens. A leitura nos convoca a refletir sobre a responsabilidade que temos a partir das escolhas (e não escolhas) que fazemos durante a vida. Leia o livro e depois veja o filme.

FILMES AS PONTES DE MADISON Uma história de amor breve, porém intensa. Não sei precisar quantas vezes já assisti esse filme, mas sempre me emociono. Sugiro um balde de pipocas e uma caixa de lenço. Com Clint Eastwood e Meryl Streep. Dirigido pelo próprio Clint Eastwood.

UM SONHO DE LIBERDADE O filme conta a história de um banqueiro que foi condenado por causa de um assassinato. Um filme que na minha opinião explora a questão da superação e da amizade de forma sublime. Com Tim Robbins e Morgan Freeman.

DISCOS BACK TO BLACK - AMY WINEHOUSE O disco é perfeito! Uma curiosidade: “Na música ‘Rehab’, Amy cantava sobre a primeira vez em que os amigos e a família tentaram levá-la a uma clínica de reabilitação para tirá-la do álcool. Amy respondeu ao convite com um enfático ‘no, no, no’. Essa repetição tão simples quanto memorável tornou-se um slogan de seu trabalho e um resumo de sua vida” (Livro: Amy e o Clube dos 27, Howard Sounes, 2014, p.10)

MAR DE SOPHIA - MARIA BETHÂNIA Escutar/saborear esse disco é um mergulho em águas profundas, só não vale se afogar. A música do álbum que mais gosto é Debaixo d’Água (composição de Arnaldo Antunes). Um CD para ser ouvido com o som no talo.

O QUE MAIS RECOMENDA?

O tradicional Edifício Maleta, localizado na Avenida Augusto de Lima, bem no centro de Belo Horizonte. Lugar para todos os gostos, raças e tribos. Lá tem pequenos sebos, cerveja gelada, bons petiscos e gente interessante. Recomendo também uma esfiha de carne deliciosa que como desde pequena (por recomendação da minha saudosa mãe Lúcia) numa pastelaria localizada dentro do próprio Maleta.


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