Opinião Socialista Nº577

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Nº577

De 4 a 17 de setembro de 2019 Ano 22 (11) 9.4101-1917

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O BRASIL PRECISA DE UMA SEGUNDA INDEPENDÊNCIA

talismo MP por racismo em a ver vice de Bolsonaro no mocracia Campanha denuncia Página 16

VERA E HERTZ

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Ano 21 agosto de 2018 De 16 a 29 de

Nº 560

O CAPITÃO DO TRUMP QUEIMA E ENTREGA O BRASIL NACIONALISMO FAKE NEWS DE BOLSONARO É PRA ENTREGAR AMAZÔNIA, PETROBRAS E BASE DE ALCÂNTARA AOS EUA LIQUIDAÇÃO DA SOBERANIA

CONGRESSO DA CSP-CONLUTAS

Bolsonaro quer torrar Petrobras, Assembleias mostram Eletrobrás e Correios PÁGINAS 4 E 5 fortalecimento da CSP-Conlutas PÁGINA 7

Revolta da Chibata: um grito de liberdade contra o racismo

PÁGINAS 12 E 13


Opinião Socialista

páginadois

2

Au revoir

CHARGE

Falou Besteira Você já namorou? Quanto tempo demorou pra levar pro motel? Não é na primeira vez BOLSONARO , sobre a tentativa de emplacar seu filho, Eduardo Bolsonaro, como embaixador em Washington. Apesar de distribuir verbas e cargos, o governo concluiu que vai demorar mais que espera para concluir o caso de nepotismo.

CAÇA-PALAVRAS

Filmes brasileiros indicados no Festival de Cannes

É mamata atrás de mamata. A última foi a carona que a esposa do ministro das Relações Exteriores, o olavista Ernesto Araújo, pegou num avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para umas férias em Paris. A viagem aconteceu de 20 a 25 de maio, mas só foi revelada agora. A mulher de Araújo ficou hospedada junto com ele, que estava em missão oficial, num hotel de luxo com diárias que podem chegar a mais de R$ 2 mil. Tudo pago pelo governo. Bolsonaro, óbvio, não achou nada de mais. “Não vejo

nada de mais nisso aí”, disse. É óbvio, ele mesmo mandou um helicóptero presidencial buscar a família para o casamento de seu

filho e candidato a embaixador nos EUA, Eduardo Bolsonaro, em julho. “É a mesma coisa quando uma irmã minha, um primo, uns três ou quatro entraram num helicóptero no Rio de Janeiro. Eu estava indo a um casamento e o helicóptero estava vazio”, disse. Dessa não dá para discordar. Eduardo Bolsonaro, aliás, acabou de ir aos EUA se encontrar com Trump e aproveitou a viagem para um “modesto” jantar num restaurante de luxo a um preço módico de R$ 4 mil. Pagos por quem? Por você também.

Governador playboy e hipócrita Em campanha eleitoral para 2022 e tentando pescar a base bolsonarista, o governador de São Paulo, João Doria, mandou recolher um material escolar de ciências para estudantes do 8º ano (14 anos) nas escolas estaduais com conteúdo sobre diversidade sexual, que explicava as diferenças entre “sexo biológico, identidade de gênero e orientação sexual”. “Fomos alertados de um erro inaceitável no material escolar dos alunos do 8º ano da rede

estadual. Solicitei ao secretário de Educação o imediato recolhimento do material e apuração dos responsáveis. Não concordamos

e nem aceitamos apologia à ideologia de gênero”, informou Doria, repetindo o absurdo da tal “ideologia de gênero”, o espantalho criado pela extrema direita e por setores fundamentalistas para censurar a discussão sobre diversidade sexual e o combate à lgbtfobia nas escolas. Poucos dias antes, Doria recepcionava com honras no diretório do PSDB o recém-filiado ao partido, o ex-ator pornô Alexandre Frota.

Perseguição aos sindicatos Bolsonaro não quer só destruir os direitos, os empregos e a aposentadoria. Quer acabar com o direito de organização também para que você não possa reclamar nem se organizar para lutar contra isso. Ele declarou guerra aos sindicatos. Quer aprovar o fim da unicidade sindical para que os patrões possam organizar sindicatos chapa-branca nos locais de trabalho. Nas estatais,

a perseguição já vem acontecendo. Para se ter uma ideia, na Casa da Moeda, que o governo quer privatizar, a direção simplesmente proibiu qualquer atividade sindical. “A direção informa que nesta data está notificando o sindicato para que desocupe o espaço onde funciona a Delegacia Sindical dentro das dependências da empresa. Mantendo a transpa-

RESPOSTA: Vidas Secas, Terra em Transe, Bye Bye Brasil, Carandiru, Aquarius, Bacurau

Expediente Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado. CNPJ 73.282.907/0001-64 / Atividade Principal 91.92-8-00. JORNALISTA RESPONSÁVEL Mariúcha Fontana (MTb14555) REDAÇÃO Diego Cruz, Jeferson Choma, Luciana Candido DIAGRAMAÇÃO Jorge H. Mendoza IMPRESSÃO Gráfica Atlântica

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rência com seus empregados, a diretoria informa, ainda, que o sindicato será notificado de que não mais poderá realizar atividades sindicais dentro da empresa”, informou a direção. Na Petrobras e nos Correios, a intimidação, a perseguição e o assédio antissindical também rolam soltos.


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Unidade para lutar, O show antidemocrático não para conciliar da democracia dos ricos ELEIÇÕES 2018

A A

última pesquisa Datafolha mostrou queda expressiva divisão entre os de cima na popularidade de Bolsocontinua. A maior parte da naro: 38% consideram o governo burguesia (grandes empreruim ou péssimo, ou seja, reprovam sários, banqueiros e ruralistas) se Bolsonaro, enquanto 29% o considefiniram por Alckmin. Outra parderam bom ou ótimo. Para além da te apoia Bolsonaro. Há ainda uma fotografia do momento, a pesquisa parte com Marina, outra com Lula indica um viés de baixa, na mediou com quem ele apoiar e outra com da em que Bolsonaro está perdenCiro Gomes. do apoio inclusive em sua base traA campanha eleitoral começa dicional. Ele ainda mantém 29% de para valer a partir de agora. Ela enaprovação, o que, por enquanto, não contra a maioria do povo e da classe é um patamar de ingovernabilidade. trabalhadora indignada, desanimaA tendência de queda, porém, indica da. Uma grande percentagem aponta que Bolsonaro pode cair mais. Ele para abstenção, voto nulo e indecipode ser derrotado. sos. Não é para menos. Os governos, Mas não vai cair ou parar soziaté hoje, mantiveram uma desigualnho. Não é deixando tudo como está dade social indecente, na qual seis para ver como é que fica. O caminho bilionários têm a mesma renda que para organizar a defesa é articulando 100 milhões de pessoas. o ataque. Aliás, defensiva e ofensiva Os debates na TV têm a participase relacionam de forma mútua na luta ção de apenas 8 dos 13 candidatos à de classes, se articulam. Presidência. Os demais são vetados, O projeto de Bolsonaro expressa e entre eles a candidata do PSTU, Vera, responde à profunda crise capitalista. a única que defende um programa A longa estagnação e decadência do socialista nestas eleições. país foi parcialmente mascarada por A falta de democracia não para algum tempo. Com a crise, caiu a posno veto à participação nos debates. A sibilidade de concessões, ainda que desigualdade está também na divisão fossem mínimas, aos mais pobres. do tempo de TV. Enquanto Alckmin O projeto de terra arrasada de Bol(PSDB) terá quase cinco minutos de sonaro é ultraliberal e autoritário. É TV, o MDB, de Temer e Meirelles, e ancorado em pelo menos quatro pio PT terão quase dois minutos cada. lares: ataque total à soberania e total entrega do país aos EUA; guerra EDITORIAL social, superexploração, semiescravidão da classe trabalhadora e do povo pobre; destruição do meio ambiente; um governo autoritário, de ditadura, para projeto o final. Alémimpor de as esse eleições não até servirem Porum isso precisa derrotar a classe trapara debate real entre os diferenbalhadora, a juventude, os quilombotes projetos para o país e imporem las, os indígenas e todos os setores uma enorme desigualdade, a enorexplorados e oprimidos. me maioria dos candidatos não diz As manifestações espontâneas toda a verdade sobre suas propostas contra a destruição da Amazônia para o povo. foram expressivas e demonstram a Exceto Vera, do PSTU, todas as disposição e a capacidade de luta da demais candidaturas apresentam projuventude e da classe trabalhadora. postas dentro dos limites do sistema A reação dos povos indígenas, sua capitalista e da atual localização do unidade e mesmo a disposição para Brasil na divisão mundial do trabaautodefesa, a autodemarcação ea lho,a imposta pelos monopólios interretomada de suas terras dos invasonacionais e pelos países ricos, com res, tudo isso demonstra que vai ter os Estados Unidos à frente. combate. As assembleias massivas O Brasil está sendo recolonizado. dos petroleiros Brasil afora são outra Vem sofrendo uma desindustrialidemonstração de força. zação relativa, especializando-se na Porém essa disposição de luta, que exportação de produtos básicos de gera esperança e alegria, não tem corbaixa tecnologia: produtos agrícolas, respondência nas organizações dos da indústria extrativa e energia. Em trabalhadores, como as centrais sinplena era da nanotecnologia, o Brasil dicais (exceto a CSP-Conlutas) e os é competitivo em produção de carne. partidos de oposição parlamentar, Vende óleo cru e importa derivados. como o PT, PCdoB e mesmo PSOL Vende ferro e importa trilho de trem. e suas respectivas frentes eleitorais.

Já Vera, do PSTU, só seis segundos. O que define tudo é a grana. A coligação de Alckmin vai receber R$ 800 milhões só do fundo eleitoral. O As burguesias imperialista e parMDB e o PT, R$ 200 milhões cada. te da brasileira, assim como a grande Isso não chega nem perto do que mídia, mesmo dividida e fazendo reos candidatos vão gastar. Meirelles paros no projeto autoritário de Bolsopode botar do próprio bolso R$ 70 naro, apoiam seu projeto econômico milhões. Amoedo, do velho Partido no atacado. Apostam em controlar ou Novo, tem um patrimônio de R$ 425 impedir seus arroubos mais ditatomilhões e disse que vai torrar R$ 7 riais via Congresso ou STF. A opomilhões do bolso. Bolsonaro é outro sição parlamentar, por sua vez, não que não gasta pouco com robôs na se propõe a construir uma oposição internet, viagens e campanha apoiaque de fato pare Bolsonaro. da por ruralistas, donos de redes de Pelo contrário, a oposição meralojas, como Flávio Rocha da Riachuemente “marca posição” nos corredolo e o dono da Centauro. res atapetados do Congresso. Deixa A verdade é que as mudanças na rolar os ataques, à espera das eleições legislação eleitoral foram feitas sob de 2020 e 2022 para capitalizar seu medida por este Congresso corrupdesgaste. PT e PCdoB (e também PDT to para manter no poder os mesmos e PSB) entram no jogo da burguesia e aceitam negociar, conciliar ou apoiar parte dos planos de ajustes. As cúpulas das principais centrais puxaram o tapete na construção da Greve Geral. Os governadores de oposição defendem a reforma da Previdência De tudo o que o Brasil produz, em seus estados. O PCdoB apoiou a 70% são controlados por empresas entrega da Base de Alcântara para os multinacionais que remetem boa parEstados Unidos. te do lucro que obtêm aqui para fora. Ao mesmo tempo, buscam consOs grandes empresários brasileiros truir frentes amplas ou democráticas (donos de bancos, indústrias, redes de e eleitorais que não organizam, não lojas, meios de comunicação e terras), mobilizam e não servem para uni31 famílias bilionárias, são sóciosficar a luta dos trabalhadores e der-menores das multinacionais. Cada rotar Bolsonaro. Apenas colocam a dia vivem mais de rendas dos altos classe a reboque de setores e figuras juros da dívida pública. burguesas como Rodrigo Maia. A nossa classe trabalhadora receAlertamos que temos dois desabe um dos salários mais baixos do fios perante este governo. mundo. Hoje, até na indústria nos1) Buscar construir uma ampla so salário já é inferior ao da China. frente única para lutar, capaz de paO país é a oitava economia do munrar Bolsonaro. Fazer unidade para do, mas está em 175º lugar em desilutar em defesa do emprego, da apogualdade social. O saneamento não sentadoria, dos direitos trabalhistas, chega nem à metade da população. da Amazônia, da educação, da juSem falar na saúde e na educação ventude pobre e negra da periferia, que estão à míngua e cada vez mais de todos os setores oprimidos, da privatizadas. Petrobras 100% estatal, contra as Os candidatos que estão aí, exceto privatizações, das liberdades demoVera, não dizem como vão garantir cráticas e contra todo autoritarismo. emprego, melhores salários, educaEssa luta defensiva é decisiva para

que estão aí. Enquanto temos desemprego recorde e precarização do trabalho, a maioria das candidaturas faz provirar o jogo, derrotar Bolsonaro e messas vazias para o povo. Elas esseu projeto de ditadura e semiestão mesmo comprometidas com o cravidão. É um desastre não parar mercado e com suas reformas contra Bolsonaro com a ação direta e espea classe trabalhadora. rar seu desgaste para capitalizar nas Não vamos mudar a vida com eleições. Enquanto isso, a Amazôeleições de cartas marcadas. Menos nia vira fumaça, milhões continuam ainda com uma nova ditadura. Só podesempregados, as universidades e demos mudar tudo que está aí com a educação são destruídas, as liberuma rebelião operária e popular, com dades democráticas são atacadas e um governo e uma democracia noso país vira quintal dos EUA. O PSTU sa, dos de baixo, em que possamos defende a unidade para lutar, e se as governar em conselhos populares. cúpulas não vierem, será preciso suA campanha do PSTU estará a perá-las. A construção de uma greserviço da organização dos de baixo ve geral continua sendo necessária. e da construção desse projeto. Pre2) É preciso apresentar um projecisamos que você nos ajude nessa to alternativo que realmente transcampanha. forme o país e não um mero projeto liberal mais desidratado. O Brasil precisa de uma nova independência, que só poderá ser garantida pelos trabalhadores mobilizados, organizados, por uma revolução socialista. Esse projeto socialista ção e saúde públicas, gratuitas e de só poderá ser aplicado por um goqualidade. Pelo contrário, dizem que verno socialista dos trabalhadores, vão investir mais em tudo isso. Poque governe através de conselhos rém nenhum deles diz que vai suspopulares. Para fazer com que sepender o pagamento da dívida, que jam os capitalistas a pagarem pela consome 40% do Orçamento, ou que crise e garantir emprego, revogavai proibir que as multinacionais reção das reformas trabalhista e premetam dinheiro para fora, muito mevidenciária, verbas para educação, nos que vão estatizar e colocar sob saúde e defesa do meio ambiente, controle dos trabalhadores as princisuspendendo o pagamento da falsa pais empresas e colocar a economia dívida aos banqueiros, revogação da para funcionar em prol da maioria. PEC do teto de gastos, garantia da Mesmo com diferenças entre Petrobras 100% estatal sob controsi, os demais candidatos estão enle dos trabalhadores e fim de todas tre 50 tons de capitalismo e conas privatizações. dicionados pelo sistema. Não teVamos à luta! Bolsonaro quer rão margem para mudar nada de fazer do 7 de setembro um dia de substancial para os de baixo. Pelo defesa da ditadura e defender um contrário, ao governar no sistema nacionalismo fake news. Ele é um dos de cima, farão o que a crise mero capacho de Trump. capitalista exige para aumentar o Dia 7 vamos para as ruas, em lucro deles: explorar mais, tirar defesa da educação, da Amazônia, nossos direitos e entregar o país. da Petrobras e contra Bolsonaro. Dia O Brasil precisa de um projeto 20, começa a Semana do Clima. É socialista! necessária uma nova greve geral.

50 tons de capitalismo dependente


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Nacional • Opinião Socialista

SOBERANIA

Bolsonaro transforma Brasil DIEGO CRUZ DA REDAÇÃO

“N

ossa bandeira nunca será vermelha” foi a frase repetida de forma exaustiva por Bolsonaro e seus seguidores durante a campanha eleitoral. Por óbvio, não fez qualquer ressalva a umas listrinhas brancas, como a bandeira dos Estados Unidos, a mesma para a qual prestou continência durante uma visita a Miami quando ainda era candidato. Por trás do discurso nacionalista e do onipresente verde-amarelo, está o governo mais entreguista da história, obstinado em fazer o Brasil retroceder à condição de colônia de Trump.

Bolsonaro deu sinal verde à venda da Embraer à norte-americana Boeing, desfazendo-se de uma das poucas, se não a única, empresa brasileira de tecnologia de ponta. Uma ex-estatal construída com dinheiro público, privatizada durante o governo FHC e agora entregue definitivamente aos EUA. Bolsonaro vendeu a BR Distribuidora, a lucrativa e principal subsidiária da Petrobras. Anunciou a venda de oito refinarias, abrindo o caminho para a privatização da própria Petrobras. Anunciou ainda a venda dos Correios. Pretende entregar a Amazônia às mineradoras norte-americanas, ao mesmo tempo em que, de

forma hipócrita, denuncia as ONGs estrangeiras e o interesse de Macron e da França na região (leia nas páginas 8 e 9).

O projeto de Bolsonaro prevê o desmantelamento e a entrega de estatais e dos recursos naturais aos Estados Unidos e

ao capital estrangeiro num nível sem precedentes. É uma política mais escancarada e piorada do que a que sempre foi implementada no Brasil, em que a covarde burguesia nacional se contentou com o papel de sócia-menor ou garoto de recados do imperialismo, abrindo mão de qualquer tipo de projeto nacional que não seja a completa submissão em troca de migalhas. Por isso a entrega do país é feita junto com o a destruição da pesquisa e da Educação: para que isso se vamos servir só para fornecer gado, soja e minério? Bolsonaro não ama o Brasil, mas Trump, por quem se declarou “cada vez mais apaixonado”.

RECOLONIZAÇÃO

Governo quer entregar a Petrobras Em julho, Bolsonaro vendeu o controle da BR Distribuidora, maior subsidiária da Petrobras e maior empresa de distribuição, com mais de 8 mil postos espalhados nos 26 estados e no Distrito Federal. O governo Temer abriu o capital da empresa e Bolsonaro concluiu sua venda, passando ao capital privado estrangeiro mais de 70% de suas ações e, por consequência, seu controle. A venda foi coordenada pelos bancos JP Morgan junto com os bancos Citi, Merrill Lynch, Credit Suisse, Itaú e Santander. As ações teriam ido para 160 investidores de países como Reino Unido, Canadá e Estados Unidos. Em junho, já havia liquidado a TAG Transportadora de Gás SA. A empresa, dona de uma imensa rede de gasodutos (mais de 4,5 mil quilômetros), foi vendida a uma empresa francesa, a Engie, e a um fundo canadense. A venda teve uma ajuda especial do Supremo Tribunal Federal (STF), que decidiu que o governo pode vender empresas estatais subsidiárias sem ter que passar pelo Congresso Nacional ou mesmo por licitação, numa espécie de privatização expressa.

As empresas já vendidas neste ano e as refinarias previstas para serem entregues fazem parte de um plano maior que simplesmente liquidar o patrimônio nacional para cobrir o rombo fiscal (leia-se para pagar a dívida aos banqueiros). O chamado “plano de desinvestimento” da Petrobras prevê a venda do setor de refino e distribuição, restan-

do ao Estado apenas a extração e a venda do petróleo bruto, sem valor agregado. Num segundo momento, após esse desmonte, será vendida a própria Petrobras.

PEÇA CHAVE NA RECOLONIZAÇÃO O desmonte da Petrobras tem papel chave no projeto do governo Bolsonaro de reverter a condi-

ção do Brasil ao papel de colônia das grandes potências, principalmente dos EUA. Primeiro, pelo papel simbólico que tem a empresa, criada após uma ampla mobilização de massas que exigia a nacionalização do petróleo, a campanha “O Petróleo é nosso”, nos anos 1950. Mas principalmente pelo que ela representa em grana.

A Petrobras é a maior empresa da América Latina e corresponde a quase 7% do PIB do Brasil segundo dados do Instituto Latino-americano de Estudos Socioeconômicos (Ilaese). O valor gerado por sua cadeia produtiva atinge, de forma indireta, 20% do PIB, ou seja, um quinto de tudo o que o Brasil produz num ano depende da Petrobras. Suas reservas são avaliadas entre US$ 5 e 10 trilhões. É muito dinheiro para o imperialismo norte-americano e os banqueiros internacionais deixarem a cargo de intermediadores. Foram sucessivos ataques desde o avanço do neoliberalismo. FHC acabou com o monopólio da estatal, e o controle acionário da empresa foi sendo passado aos acionistas estrangeiros. Hoje, a maior parte da empresa já está nas mãos de grandes investidores na Bolsa de Nova Iorque. Eles que lucram com o aumento da gasolina e do gás de cozinha. Os governos do PT aprofundaram esse processo, e Dilma teve a honra de fazer a maior privatização da história: o leilão dos megacampos de Libra. Bolsonaro e Guedes agora querem liquidar a fatura e vender por completo a Petrobras.


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em colônia dos EUA DERROTAR O IMPERIALISMO

Petroleiros preparam greve Enquanto avança na privatização da Petrobras, Bolsonaro ataca os direitos e os salários dos petroleiros a fim de bombar mais ainda os lucros dos grandes acionistas. Apresentou uma proposta de acordo coletivo que rebaixa salários e direitos, mas vem enfrentando grande resistência da base petroleira. Apesar do assédio sistemático por parte da direção da estatal, os trabalhadores

realizam assembleias massivas. No dia 1º de agosto, as duas federações, FNP e FUP, realizaram um semi-

nário para a preparação da greve, que tem a defesa da estatal 100% nacional como bandeira principal.

ENERGIA

Eletrobrás na bacia do feirão No plano de entrega de Bolsonaro, a Eletrobrás está no topo. A empresa é a maior em geração e transmissão de energia elétrica da América Latina, respondendo a um terço da capacidade instalada no país. A ideia é privatizar via venda de ações, tendo a BR Distribuidora como modelo. O valor previsto com a venda, R$ 16 bilhões, já foi incluído no

plano de Orçamento para 2020 enviado ao Congresso Nacional. O mercado, por sua vez, esfrega as mãos para colocá-las na estatal. No segundo trimestre, a Eletrobrás teve um lucro três vezes maior que em 2018. Com isso, a alta nas contas de luz vai se transformar em lucros para investidores estrangeiros, como acontece hoje com o petróleo.

Por uma verdadeira independência A história do Brasil é a história do saque e da rapina imperialista. São 519 anos de submissão aos interesses das grandes potências. Agora, com o governo Bolsonaro-Mourão, o projeto é aprofundar de forma acelerada o processo de recolonização dos governos anteriores, fazendo com que o país retroceda à condição de mera colônia exportadora de matérias-primas. É um projeto imposto por Trump e o governo Bolsonaro, aliado à patética burguesia brasileira, que se coloca como capacho do imperialismo. Em meio à crise econômica internacional, o plano é raspar o tacho das nossas riquezas e do patrimônio nacional até fundo. Por isso a urgência em

1

aprovar a reforma da Previdência, o desmonte da CLT e o brutal ajuste fiscal que atinge de forma dramática a Educação. É tudo dinheiro desviado para os grandes banqueiros via pagamento da falsa dívida pública. É nesse projeto que se inserem as privatizações e a entrega da soberania. É o avanço da barbárie e da exploração. É impossível mudar as condições de vida dos trabalhadores e da maioria da população sem atacar os interesses do imperialismo e sem parar o roubo e a transferência em massa de riquezas. Isso a burguesia brasileira nunca vai fazer. É necessário um programa dos trabalhadores que derrote esse projeto.

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NA MIRA

Correios vai ser a próxima

“A lista do Programa de Parcerias de Investimentos para o processo de privatização começa pelos Correios, o resto não lembro de cabeça.” Bolsonaro se referia à lista de 17 estatais que o governo pretende vender no próximo período. Não foi à toa que os Correios foi a única empresa que Bolsonaro lembrou “de cabeça”. Assim como a Petrobras, os Correios são um símbolo com mais de três séculos de existência. Com 105 mil funcionários, a estatal atende a quase todos os municípios brasileiros, atingindo regiões que nenhuma empresa privada teria

NÃO PAGAMENTO DA FALSA DÍVIDA PÚBLICA QUE CONSOME 40% DO ORÇAMENTO

3 interesse em atingir. Com a privatização, a universalização do serviço postal sofre grave risco. No processo de desmonte que a estatal enfrenta há anos, os trabalhadores são os mais afetados, com uma precarização absurda. A direção da

empresa lança vários ataques para reduzir o custo da mão de obra para vender mais fácil. Enquanto fechávamos esta edição, os trabalhadores dos Correios discutiam a realização da uma greve no dia 10 de setembro.

ESTATIZAÇÃO DAS MULTINACIONAIS SOB CONTROLE DOS TRABALHADORES

PROIBIÇÃO DAS REMESSAS DE LUCROS

4 FIM DAS PRIVATIZAÇÕES E REESTATIZAÇÃO DAS EMPRESAS PRIVATIZADAS SOB CONTROLE DOS TRABALHADORES


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40 ANOS DA LEI DA ANISTIA

Após 40 anos, muitas contas a acertar LUCIANA CANDIDO DA REDAÇÃO

N

o dia 28 de agosto de 1979, o então o último presidente da ditadura João Batista Figueiredo assinou a Lei da Anistia. Ficava, assim, “concedida anistia a todos quantos, no período compreendido entre 02 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979, cometeram crimes políticos ou conexo com estes”. A lei foi resultado da mobilização social que pressionou uma ditadura já capenga, que enfrentava grandes manifestações estudantis. Em seguida, a classe trabalhadora voltou à cena com as greves operárias país afora. O regime militar que promulgou a lei estava ciente de que a abertura era inevitável. Assim, os militares garantiram a impunidade para si. O “a todos quantos” incluía também os militares e o perdão para torturadores, estuprado-

res e assassinos. Ao longo dos anos, a luta pela revisão da lei não parou.

É PRECISO REVISAR A LEI E PUNIR MILITARES Na semana passada, José Genoino, que participou dos governos do PT e foi assessor do Ministério da Defesa na gestão de Nelson Jobim durante o governo Lula, disse à Folha de S.Paulo

que o melhor para o país foi não ter revisado a Lei da Anistia. Na mesma semana, um vídeo de Nelson Jobim de 2014 voltou a circular na internet. Nele, Jobim conta como atuou para impedir a revisão da Lei de anistia e diz que Genoino havia “trabalhado brutalmente no sentido de apaziguar os entendimentos”. A posição de Genoino é uma vergonha, ainda mais para quem

foi guerrilheiro e lutou contra a ditadura. O argumento dessa gente é nojento. Defendem que a lei foi um acordo reconhecido pelas instituições democráticas que deve ser respeitado. Pedir a revisão para punir os militares seria revanchismo. Vejamos. “Lá pelas quatro horas da madrugada, Chael [Charles Schreider] saíram da sala onde se encontravam, visivelmente

ensanguentados, inclusive no pênis, na orelha, ostentando cortes nas cabeças; (...) ouvia os gritos de Chael dizendo não saber de nada; (...) era uma sexta-feira, tendo Chael morrido no sábado.” “Molharam seu corpo, aplicando consequentemente choques elétricos em todo o seu corpo, inclusive na vagina. (...) se achava grávida, semelhantes sevícias lhe provocaram aborto.” Esses relatos foram extraídos do projeto Brasil: Nunca Mais, coordenado por D. Paulo Evaristo Arns. As pessoas que causaram esse sofrimento nunca foram punidas. O argumento legal perde todo o valor diante desses depoimentos, inclusive porque estamos falando de uma lei que foi promulgada ainda no regime de exceção. É preciso revisar a Lei da Anistia, julgar e punir todos os agentes do Estado envolvidos. Não podemos esquecer os crimes cometidos pelos militares para que não se repitam jamais.

CONSEQUÊNCIAS

A realidade cobra a conta

Bolsonaro, uma sequela da ditadura

Entre as ditaduras da América Latina, o Brasil é o único país que não puniu os torturadores. A Argentina, por exemplo, é considerada um modelo nesse tema. É por isso que hoje o discurso de Bolsonaro pega muito mal até entre os eleitores de Mauricio Macri, político argentino apoiado pelo presidente brasileiro. O Brasil também é o único país do continente que ainda mantém uma polícia mili-

Este debate se torna especialmente necessário nos dias de hoje. A todo instante, Bolsonaro reafirma seu orgulho de ter sido parte de um regime criminoso. Ele presta homenagens ao general Carlos Alberto Brilhante Ustra, um monstro, único militar reconhecido como torturador, que morreu antes de ser punido. Em julho, declarou publicamente que sabia como o pai de Fernando Santa Cruz, presidente da OAB, havia sido morto no período militar. Em seguida, colocou militares favoráveis à ditadura na Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos. Durante a campanha, falou que ia varrer os comunis-

tar, uma das mais violentas do mundo, resquício da ditadura. A prática da tortura ainda existe nas periferias e atinge de forma mais bruta a população pobre e negra. As grandes empresas que financiaram o regime militar não foram punidas. Trabalhadores foram demitidos, passaram fome, tiveram de mudar de estado. Quanto às empresas, continuam superexplorando e perseguindo.

tas. No Nordeste, recentemente, disse que vai “varrer turma vermelha”. A turma vermelha pode ser qualquer um que ele achar que se opõe a ele.

Bolsonaro é uma pessoa desprezível. Com uma mão, tenta meter medo nos trabalhadores e nos pobres, permite o massacre de indígenas e de quilombolas; com a outra, privatiza tudo e entrega nossas riquezas ao imperialismo. A verdade é que ele é cruel com os de baixo, mas é submisso aos ricos e poderosos. Nada disso pode ser visto com naturalidade – e não seria se o Estado brasileiro tivesse acertado as contas com a sua história. A luta por verdade, memória e reparação está na pauta do dia, e a justiça só será feita com a punição aos que cometeram crimes bárbaros contra os que hoje exigem reparação.


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ABSURDO!

PCdoB vota a favor da entrega da base de Alcântara aos EUA VAI TER RESISTÊNCIA

PSTU-MA

Flavio Dino e o “choque de capitalismo”

N

o momento em que a exigência por reparações históricas para negros e indígenas ganha força em todo o mundo, é justamente sobre as costas dessas comunidades que o chicote dos parlamentares do PCdoB e do governo Flávio Dino estala com mais crueldade. Semanas atrás, foi contra a comunidade tradicional do Cajueiro. Agora, é com a base de Alcântara. Ambas ficam no Maranhão. No último dia 21, os deputados federais do PCdoB, junto com os do PSB e PDT, votaram a favor do acordo que prevê transformar a base de Alcântara num protetorado dos Estados Unidos em terras brasileiras. A comissão que votou o texto final foi presidida pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL). O acordo é uma verdadeira humilhação para o Brasil, mas a deputada federal Perpetua Almeida (PCdoB-AC) teve a coragem de justificar tamanho descalabro com o argumento de que “sempre colocamos no centro da nossa tarefa cotidiana a necessidade de um desenvolvimento nacional, justo e soberano”.

BALELA Essa mesma balela consta na própria cláusula do acordo que foi assinado por Bolsonaro e Trump quando o brasileiro

Em 15 de abril, o governo do Maranhão realizou o seminário “Base de Alcântara: Próximos Passos”, que contou só com membros da casa-grande: governador, secretários, ministros, empresários, parlamentares etc. Nessa reunião, que decidiu sobre o destino de 270 comunidades quilombolas, nenhuma liderança foi convidada a se pronunciar. O astro do seminário foi Marcos Pontes (PSL), atual ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. O PCdoB fala de desenvolvimento de maneira vazia e abstrata, sem consultar as comunidades atingidas. como se elas não existissem. Os parlamentares do PCdoB e governo de Flávio Dino se alinham ao projeto nefasto e autoritário do governo Bolsonaro que permite que nossa soberania seja esmagada pelas patas do imperialismo racista de Trump. esteve nos EUA em março. Algo vergonhoso e vexatório. Mas Perpetua Almeida acha mesmo que Trump e Bolsonaro estão preocupados com nosso desenvolvimento e com a nossa soberania. “É bom para o Maranhão, para o desenvolvimento da região, é bom para os cofres públicos, é

bom para a tecnologia nacional e é bom para os quilombolas que habitam a região”, disse Eduardo Bolsonaro. Qualquer semelhança com as declarações da deputada do PCdoB não é mera coincidência. Todos mentem em nome da submissão do nosso país aos EUA.

O QUE É O ACORDO

Submissão ao imperialismo Esse acordo não é bom para o Brasil, muito menos para os quilombolas. Se fosse, suas lideranças não o teriam questionando. “Se o acordo não diz que não tem expansão, por que o governo não tem coragem de dar o título daquelas comunidades?”, foi o que disse Antônio Marcos

Diniz, liderança da Comunidade Quilombola de Alcântara, que tem plena consciência de que haverá mais remoções. Com os recursos vindos desse acordo, o Brasil fica proibido de fazer investimentos em desenvolvimento de mísseis para não concorrer com os EUA e proibido de lançar

mísseis em Alcântara a não ser que tenham tecnologia norte-americana. Dá para acreditar? Tem mais. Caso ocorra algum acidente na base, como já aconteceu em outras ocasiões, o governo brasileiro só poderá tomar conhecimento ou intervir sob o consentimento dos EUA.

CAJUEIRO Foi apoiando-se nesse mesmo argumento que Flávio Dino mandou despejar arbitrariamente dezenas de moradores da tradicional comunidade do Cajueiro em São Luís. Não bastando, mandou reprimir com balas de borracha e spray de pimenta os que se manifestavam contra tamanha atrocidade. Por trás desse discurso desenvolvimentista, escondem-se os interesses dos proprietários da empresa WPR, citada na Lava

Jato, que pretende construir um porto passando por cima da comunidade para beneficiar capitalistas chineses.

PROMESSA DE CAMPANHA Essas atrocidades são expressão da política do “choque de capitalismo” que Dino prometeu fazer no Maranhão quando ainda era candidato para seu primeiro mandato. Muita gente não entendeu do que se tratava, mas os resultados estão aí. Choque de capitalismo significa ficar de joelhos para o capital internacional, tal como Bolsonaro tem ficado, e passar por cima de tudo e de todos que estiverem na frente desse projeto que não consegue preservar nossas riquezas nem respeitar nosso povo. CHEGA DE FAKE NEWS O PCdoB deveria colocar-se ao lado dos trabalhadores e do seu próprio povo e não fortalecer a direita e os grandes capitalistas internacionais como tem feito. Deveria também deixar de caluniar com fake news aqueles que se colocam ao lado dos trabalhadores, das comunidades tradicionais e contra a usurpação das riquezas do nosso país. É essa postura vacilante que fortalece a ultradireita e não o enfretamento real contra o agronegócio e o imperialismo. Assim como Cajueiro está resistindo, A lcânta ra também resistirá!


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CENTRAIS

Amazônia fica! Bols JEFERSON CHOMA A REDAÇÃO

A

Amazônia em chamas acendeu a indignação. As mobilizações tomaram as ruas no Brasil e no mundo. A fumaça escura que pairou sobre o céu de São Paulo no dia 19 de agosto foi o alerta das chamas da floresta. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), são 71.497 focos de incêndio no país de janeiro até agosto, 82% a mais do que no ano passado. Só nos estados que compõem a Amazônia brasileira, nesse período, são mais de 53 mil focos registrados. A responsabilidade política do governo Bolsonaro-Mourão pelos incêndios e pela crise ambiental é evidente. Além de estimular de forma explícita a invasão e a grilagem de terras

públicas, Unidades de Conservação e Terras Indígenas, o governo desmontou todo o sistema de fiscalização ambiental do país. Desde a posse, o governo e seu ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, não fazem outra coisa a não ser atacar por todos os meios os instrumentos de fiscalização contra incêndios e crimes ambientais. Defendeu o fim das multas contra crimes ambientais e desmonta órgãos públicos de monitoramento e fiscalização, como o Ibama, o ICMBio e o Inpe, um dos institutos mais respeitados no Brasil e no mundo, por divulgar dados sobre as queimadas; investiu contra a Funai para repassá-la ao Ministério da Agricultura, dominado pelo agronegócio; nomeou Ricardo Salles ministro do Meio Ambiente, um cri-

minoso condenado pela Justiça por fraudar mapas para beneficiar empresas de mineração. Como se não bastasse, Bolsonaro tentou culpar as ONGs pelas queimadas na Amazônia. Ele mente descaradamente. Sabe-se muito bem que um grupo de fazendeiros, madeireiros e grileiros promoveu o “dia do fogo” na BR-163 (Cuiabá/Santarém) para, segundo eles mesmos, “mostrar a Bolsonaro que apoia suas ideias de afrouxar a fiscalização do Ibama”. O governo inclusive foi alertado sobre essa ação, mas não moveu uma palha para impedi-la. Bolsonaro quer mesmo expandir a grilagem, a invasão, o roubo e a apropriação de Terras Indígenas, do Estado e das Unidades de Conservação para fazer da floresta pasto, plantar soja e abrir garimpos.

BOLSONARO-TRUMP TAMBÉM NÃO!

Bolsonaro quer entregar a Amazônia aos EUA Protestos e manifestações no Brasil e no mundo pressionaram Bolsonaro a realizar o primeiro pronunciamento em cadeia nacional de TV deste governo. Tomou panelaço de norte a sul do país. Não há nenhuma razão para acreditar nas palavras de Bolsonaro. Um governo que liberou 239 agrotóxicos no mercado brasileiro, muitos deles proibidos na Europa. Que estimula grandes fazendeiros, garimpeiros e madeireiros a invadirem Terras Indígenas e Unidades de Conservação. Como acreditar num governo que trocou o respeitado Inpe por uma empresa estadunidense para fazer o monitoramento das queimadas? O que dizer de um sujeito que fala que para

preservar o meio ambiente basta “fazer coco dia sim, dia não”? Na reunião com os governadores dos estados da Amazônia Legal, Bolsonaro quase não falou em queimadas. No entanto, atacou duramente as Terras Indígenas e disse ainda que não demarcaria mais nenhuma delas. Bolsonaro e os militares tentam posar de nacionalistas e dizem que estão defendendo a Amazônia contra os interesses imperialistas europeus, mas querem mesmo é entregar a Amazônia para os Estados Unidos de Donald Trump. “Quando estive agora com Trump, conversei com ele que quero abrir para ele explorar a região amazônica em parceria”, disse Bolsonaro em 8 de abril.

Bolsonaro disse que Macron tem “mentalidade colonialista”, como se seus aliados, como Trump ou Israel, também não tivessem. Os militares defendem que as mineradoras dos EUA explorem a Amazônia, enquanto Bolsonaro bate continência para a bandeira dos EUA. Que nacionalismo é esse que entrega a Embraer para a Boeing, que privatiza oito refinarias da Petrobras e a BR distribuidora, que dolariza o preço do óleo diesel para favorecer as multinacionais petroleiras? Que nacionalismo é esse que promete privatizar a Petrobras e os Correios e entrega a Base de Alcântara, no Maranhão, para os EUA (leia página 7)?

MACRON E G7 NÃO DEFENDEM A FLORESTA

Macron também é imperialista O presidente da França, Emmanuel Macron, disse que a Amazônia é um “bem comum”. O político francês evocou o velho discurso sobre a “internacionalização da Amazônia”, que corre solto há anos nos meios diplomáticos e na grande imprensa mundial. Na reunião do G7, os países que dirigem o capitalismo mundial disseram que concordam em ajudar no combate às queimadas da Amazônia. São todos como abutres que sobrevoam a carniça. Assim como os EUA e Israel, Macron também possui interesses comerciais na Amazônia. Inúmeras empresas europeias atuam em mineração na região. As nações imperialistas sabem da importância da enorme biodiversidade da floresta. Por isso não são a fa-

vor de convertê-la totalmente em carvão e pasto como pretende Bolsonaro e os militares. Querem apropriar-se da grande biodiversidade biológica e dos saberes dos povos da floresta para converter em lucros para a indústria farmacêutica e de cosméticos. Para isso, desenvolvem estratégia de biopirataria e financiam o Fundo Amazônia, como fazem Noruega e Alemanha, por exemplo. Nem Bolsonaro e Trump, nem Macron e G7 vão salvar a Floresta. A maior floresta do planeta vai continuar ameaçada, e o Brasil e o mundo não estarão livres da ameaça de uma catástrofe ambiental enquanto não superarmos o sistema capitalista, que destrói a Amazônia e converte seus recursos em mercadoria.

POVO DAS FLORESTA

Bolsonaro prepara um novo genocídio dos povos da floresta O projeto de Bolsonaro-Mourão é de total submissão aos EUA. Um projeto ditatorial, de superexploração, semiescravidão e altamente predatório que provoca uma grave crise ambiental no país. Nos próximos dias, Bolsonaro vai apresentar um projeto para abrir as Terras Indígenas à mineração. Isso vai colocar os povos originários na iminência de um novo ciclo genocida, particularmente perigoso se lembrarmos

da crescente militarização da Amazônia. Diante desse quadro, resta aos povos originários o caminho da autodemarcação e da organização da autodefesa para protegerem suas vidas e território. É um exemplo que hoje é seguido por outras etnias da região, como os mundurucus, que expulsam grupos de madeireiros e garimpeiros de seu território. É tarefa número um defender os povos da floresta. Se eles caírem, a floresta cai junto.


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CENTRAIS

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sonaro-Mourão sai! SAIBA

Dados do desmatamento GILBERTO SOUZA DE BELÉM (PA)

O

Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) constatou, entre agosto de 2018 e julho de 2019, um crescimento exponencial do desmatamento na região amazônica (veja a linha vermelha no gráfico), período que coincide com a ascensão de Bolsonaro na corrida presidencial do ano passado, sua eleição e os sete primeiros meses de governo. O mesmo Imazon pesquisou os municípios com maior quantidade de áreas desmatadas. Ao identificar esses municípios no mapa da região, fica nítida a dinâmica de expansão do latifúndio e do agronegócio sobre a floresta. O desmatamento parte das áreas já consolidadas com essas atividades (Mato Grosso, Rondônia, Tocantins, Sul do Maranhão e Sudeste do Pará) e se intensifica na área de expansão. Recorrendo aos dados mais recentes, o Prodes/Inpe, assim como o Imazon, constata-se uma retomada do crescimento do desmatamento desde 20132014, momento de intensificação da crise política no Brasil, cujo desfecho recente foi a posse de Bolsonaro. A linha de tendência do mapa (em laranja) comprova essa afirmação. As informações indicam um avanço do desmatamento. Entre 22 de agosto de 2010 e a mesma data em 2019, a Amazônia Legal registrou um total de 17.822,04 km² de floresta desmatada. Os piores casos são Mato Grosso e Pará, seguidos por Roraima, Rondônia e Amazonas.

EVOLUÇÃO DO DESMATAMENTO E DEGRADAÇÃO DA AMAZÔNIA

REGIME DE CHUVAS A floresta produz quase metade da chuva que cai sobre ela. Parte dessa água é trazida por ventos em forma de vapor para as regiões Sul e Sudeste. A diminuição da floresta também diminui a umidade que evapora da Amazônia, e isso afeta o regime de chuvas nas outras regiões.

2000 900 600 300 0

MAIS Qual a importância da Amazônia?

AGO

SET

OUT

DESMATAMENTO AGO-2017 / JUL-2018

NOV

DEZ

JAN

FEV

DEGRADAÇÃO

MAR

ABR

DESMATAMENTO AGO-2018 / JUL-2019

AGO-2017 / JUL-2018

MAI

JUN

JUL

DEGRADAÇãO

AGO-2018 / JUL-2019

DEsmatamento na2 AMAzÔNIA LEGAL EM KM

FONTE: INPE / PRODEs

7000

6418

5891 4571

2010

2011

2012

2013

6207

5012

2014

2015

7893

2016

6947

2017

BIODIVERSIDADE 2018

DETER 22/8/18 - 11/8/19

1.619 6.884

1.675 1.623 4.752

LEIA O ARTIGO COMPLETO EM:

Além de abrigar o maior rio do mundo, a Amazônia também possui o maior aquífero do mundo, o Sistema Aquífero Grande Amazônia (Saga), com 160 trilhões de litros de água.

7563

DEsmatamento na2 AMAzÔNIA LEGALEM KM 173 594 486

ÁGUAS

MATO GROSSO PARÁ RONDÔNIA RORAIMA AMAZONAS ACRE MARAnhÃO TOCANTINS

Estimativas da Plataforma Brasileira de Biodiversidade sugerem que 20% das espécies da Terra estão na Amazônia. Essa imensa variedade do mundo natural é ainda bastante desconhecida. Segundo os cientistas, é nessa biodiversidade que pode estar o princípio ativo para muitos medicamentos.

MUDANÇAS CLIMÁTICAS A maior floresta tropical do mundo tem um papel importante no que se refere às mudanças climáticas. A floresta age como um aspirador de gás carbônico (CO2), ou seja, absorve o principal gás do efeito estufa e lança oxigênio na atmosfera. O desmatamento da floresta significa a emissão de mais gases de efeito estufa da atmosfera.


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CENTRAIS

CRISE AMBIENTAL

Sob o capitalismo, humanidade caminha para a barbárie JEFERSON CHOMA A REDAÇÃO

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sit u aç ão do me io ambiente no mundo e na Amazônia é muito grave. Estamos à beira de uma catástrofe ambiental provocada pelo sistema capitalista. Estudos científicos mostram que a floresta não terá mais volta a partir de certo ponto de desmatamento e devastação. Se isso acontecer, ocorrerá um processo de desertificação, com consequências catastróficas para o clima de todo o planeta.

CAPITALISMO É INSUSTENTÁVEL A devastação da Amazônia e as mudanças climáticas demonstram que o capitalismo, baseado no lucro e na acumulação de capital por um punhado de monopólios – bancos e grandes empresas

– é altamente destrutivo. O ciclo de reprodução do capital depende de uma crescente apropriação dos recursos naturais, a um ritmo muito maior que o tempo que a natureza precisa para se regenerar. O capitalismo é predatório por sua natureza. Não existe possibilidade de desenvolvimento sustentável dentro dele. Sob o controle dos capitalistas, o avanço da tecnologia, que deveria servir para proteger a natureza e para a humanidade viver melhor, causa exploração, pobreza, miséria, desemprego, ignorância e destruição. Bolsonaro é expressão e grande defensor da barbárie capitalista. Por isso radicaliza e acelera esse processo predatório de destruição da Amazônia e dos povos da floresta e nos ameaça com uma catástrofe ecológica.

Propostas emergenciais do PSTU para a Amazônia 1 Fim do desmonte do

Ibama, do Inpe e do ICMBio e fortalecimento desses órgãos. 2 Combate ao fogo

sob controle civil, coordenado pelo Ibama, com a participação de organizações indígenas e dos povos da floresta, apoiado em bombeiros, com auxílio policial no enfrentamento a grileiros armados mediante requisição dos órgãos e comunidades que defendem a floresta. 3 Monitoramento pelo

INPE e não por empresa privada norte-americana em conluio com Salles-Trump.

4 Prisão e confisco dos bens

8 Impedir a votação de PEC

de todos os fazendeiros, madeireiros, mineradores e grileiros que queimarem e destruírem a floresta.

pelo Congresso liberando atividades agrícolas de larga escala e mineração em Terras Indígenas.

5 Demarcação de todas

Destinar o dinheiro do pagamento da falsa dívida pública e da dívida dos ruralistas à União, revertendo o perdão criminoso desta à defesa da Amazônia.

as Terras Indígenas, quilombolas e reservas extrativistas. Todo apoio à autodemarcação das Terras Indígenas realizadas pelos povos originários. 6 Impedir a política de Bolsonaro-Mourão de entrega da Amazônia a Trump, ao agronegócio e às multinacionais dos EUA ou de qualquer país. 7 Não à intromissão de Macron

e do G7 na Amazônia.

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10 Fora Ricardo Salles, já!

Ministro corrupto a serviço do agronegócio e dos garimpeiros 11 Derrotar Bolsonaro-

Mourão e seu projeto de ditadura, entrega do país, semiescravidão e destruição ambiental.

O SOCIALISMO E A “FLORESTA EM PÉ”

O sonho de Chico Mendes é também nosso sonho A luta de Chico Mendes se tornou um símbolo de defesa da floresta e dos seus povos. Do interior da Amazônia, o seringueiro acalentava o sonho de construir uma sociedade socialista que “integrasse todos os povos numa só irmandade”, como escreveu em carta pouco antes de ser assassinado. Pensava numa sociedade em que pudesse explorar os recursos da Amazônia “com a floresta em pé”, como dizia. Algo que garantisse uma vida digna aos povos da floresta e, ao mesmo tempo, assegurasse que seus recursos pudessem ser apropriados pelo conjunto da sociedade de forma racional, usando toda sua biodiversidade em prol da humanidade.

O desenvolvimento capitalista, entretanto, é predatório e contra o meio ambiente. Traz consigo a destruição e a morte que vitimaram o próprio Chico e muitas lideranças indígenas e camponesas. Davi Kopenawa, uma liderança do povo Yanomami, refere-se de forma crua à sociedade capitalista como a do “povo da mercadoria”. O desenvolvimento com “a floresta em pé” só é possível com a construção da sociedade socialista tão sonhada por Chico. Uma sociedade que não esteja voltada para o lucro e para a acumulação de capital por um punhado de bilionários: ruralistas, banqueiros, mineradoras a serviço da indústria farmacêutica e de cos-

méticos. Uma sociedade governada por todos os trabalhadores da cidade, do campo e da floresta. Que combine o mais alto desenvolvimento científico moderno com os saberes milenares daqueles que vivem na floresta. A defesa da Amazônia e do meio ambiente deve ser uma tarefa dos trabalhadores e de suas entidades representativas. Ela envolve ações para o presente e para o futuro. As manifestações em todo o mundo e aqui no Brasil, unindo a juventude, os trabalhadores e os povos da floresta é o caminho para derrotar de imediato esse governo e para abrir caminho para a construção de outra sociedade, a socialista.


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4º CONGRESSO

Assembleias de preparação mostram fortalecimento da CSP-Conlutas Congresso ocorre em Vinhedo (SP) entre 3 e 6 de outubro ATNÁGORAS LOPES DE SÃO PAULO (SP)

“O

Congresso de nossa central encara o desafio político e de organização da classe trabalhadora contra Bolsonaro-Mourão e seu projeto de ditadura, semiescravidão, entrega da soberania e destruição do meio-ambiente”, resume Luiz Carlos Prates, o Mancha, metalúrgico de São José dos Campos (SP) e da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas. “É nesse contexto de exercício da resistência e enfrentamento a esses ataques, priorizando a ação direta e buscando se afirmar como alternativa de direção para o movimento de massas, que a central vem preparando o seu 4º Congresso”, destaca Moisés, dirigente do Sinasefe, Ifes de Santa Tereza no Espírito Santo. Desde o primeiro dia do governo, a CSP-Conlutas está à frente da luta contra os ataques e batalha pela construção da mais ampla unidade de ação. “Apesar das nossas exigências às direções das demais centrais, não conseguimos que topassem convocar e organizar uma greve geral para

Independência de classe e vocação estratégica barrar a reforma da Previdência, o papel da cúpula das outras centrais foi lamentável”, diz o operário da construção civil e dirigente nacional da CSP-Conlutas, Zé Batista. Em seus anos de existência, a central sempre manteve sua independência de classe. “Fomos

sempre independentes e enfrentamos todos os governos, incluindo os de conciliação de classes capitaneados pelo PT e seus aliados que, ao governar o capitalismo, também atacaram a nossa classe”, enfatiza Paulo Barela, servidor federal e dirigente da CSP-Conlutas.

CONSTRUÇÃO

Delegados e delegadas são eleitos em assembleias de base Neste momento, ativistas, sindicatos, oposições, movimentos populares e de luta contra as opressões, movimentos de juventude e trabalhadores da cidade e do campo de todo o país realizam assembleias e arrecadam finanças pela base para custear o congresso. “O congresso vai debater a conjuntura nacional e internacional e definir um plano de lutas. Por exemplo, vai discutir e deliberar sobre a defesa da Amazônia, dos povos originários, da reforma agrária e da moradia, bem como sobre a luta em defe-

sa da soberania nacional, contra as privatizações e, ainda, contra os ataques aos sindicatos e às liberdades democráticas e, com destaque, em defesa da educação nas três esferas”, explica Rejane Oliveira, professora da educação básica do Rio Grande do Sul e dirigente da central. Ela reforça ainda que as assembleias de base já realizadas pelo país vêm demonstrando que este será um grande congresso. Enquanto fechávamos esta edição, já haviam sido marcadas quase 400 assembleias em todo o país. Para Irene Maestro, do mo-

vimento Luta Popular, uma das maiores dificuldades para a construção do congresso hoje é financeira. “De um lado, temos os ataques aos sindicatos por parte do governo que quer impedir até o desconto em folha daqueles que livremente se associam e, de outro, como sempre foi nossa dura realidade, nós do movimento de luta por moradia e território ainda temos o aumento das dificuldades com o desemprego em massa e a violência contra nosso povo nas periferias. Mas nada disso vai nos impedir de realizar um grande congresso”, disse.

Na preparação do 4º Congresso, é importante enfatizar a vocação da central de afirmar um projeto estratégico e alternativo para a nossa classe. A expressão dessa vocação da CSP-Conlutas, de ser vanguarda na unidade para lutar, mas de se construir pela base com independência de classe, com democracia operária e internacionalista, pode verificar-se nas lutas das quais participamos. Em meio à construção do congresso, nossa central continua tendo protagonismo. Um exemplo é o papel que a CSP-Conlutas tem na luta da comunidade do Cajueiro e contra a entrega da Base de Alcântara por Bolsonaro, num enfretamento direto com o governo Flávio Dino (PCdoB) no Maranhão. É também na luta junto aos quilombolas e indígenas, como os Tremembés. Outro exemplo é a batalha que travamos em petroleiros para que se unifique com os terceirizados contra o projeto de privatização da empresa. Ou junto aos imigrantes venezuelanos e haitianos, num exercício de solidarie-

dade ativa e internacionalismo proletário. Nosso congresso está de portas abertas a todos os ativistas que queiram lutar.

CALENDÁRIO 3 DE OUTUBRO 14h30: Painel de Conjuntura Nacional e Internacional 4 DE OUTUBRO 14h30: Grupos de Trabalho sobre os desafios do movimento sindical e popular em meio aos ataques à livre organização 5 DE OUTUBRO 9h: Ato em defesa dos indígenas e quilombolas e contra a destruição do meio ambiente 17h: Painel sobre a luta contra as opressões VEJA A PROGRAMAÇÃO

COMPLETA


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ESPECIAL • Opinião Socialista

A S R E V O L U Ç Õ E S E R E V O LTA S D O

POVO BRASILEIRO

REVOLTA DA CHIBATA (1910)

A rebelião dos marinheiros negros POR ELISA GUIMARÃES, DE RIO DE JANEIRO (RJ)

Seriam talvez quatro horas da manhã. E vi imediatamente na baía, frente a mim, navios de guerra, todos de aço, que se dirigiam em fila para a saída do porto. Reconheci o encouraçado Minas Gerais que abria a marcha. Seguiam-no o São Paulo e mais outro. E todos ostentavam, numa verga do mastro dianteiro, uma pequenina bandeira triangular vermelha. Eu estava diante da revolução. (...) de repente vi acender-se um ponto no costado do Minas e um estrondo ecoou perto de mim, acordando a cidade. Novo ponto de fogo, novo estrondo. Um estilhaço de granada bateu perto, num poste da Light. (...) Naquele minuto-século, esperava me ver soterrado, pois parecia ser eu a própria mira do bombardeio. (...) Era contra a chibata e a carne podre que se levantavam os soldados do mar. (...) Quando mais tarde assisti à exibição do filme soviético Encouraçado Potemkin, vi como se ligavam às mesmas reivindicações os marujos russos e brasileiros.”

João Cândido, líder da revolta.

OSWALD DE ANDRADE, poeta e escritor

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m 1910, os aviões começavam a alçar os primeiros voos. Um ano depois, foram usados pela primeira vez como arma de guerra pela Itália contra a Turquia. Porém os navios de guerra com seus canhões eram ainda as armas mais poderosas existentes na época. Esses navios, grandes encouraçados, tinham capacidade para destruir cidades inteiras e foram tomados pelos marinheiros, que dirigiram seu ultimato ao recém-

-empossado presidente da República, Hermes da Fonseca, num comunicado: “Nós, marinheiros (...), não podendo mais suportar a escravidão na Marinha Brasileira (...) rompemos o negro véu que nos cobria aos olhos do patriótico e enganado povo. Achando-se todos os navios em nosso poder, tendo a seu bordo prisioneiros todos os oficiais (...) mandamos esta honrada mensagem para que V. Exa. faça aos Marinheiros

Brasileiros possuirmos os direitos sagrados que as leis da República nos facilita, acabando com a desordem e nos dando outros gozos que venham engrandecer a Marinha Brasileira; bem assim como: retirar os oficiais incompetentes e indignos de servir a Nação Brasileira. Reformar o Código Imoral e Vergonhoso que nos rege, a fim de que desapareça a chibata, o bolo, e outros castigos semelhantes; aumentar o nosso soldo (...). Tem V. Exa. o prazo

de doze (12) horas para mandar-nos a resposta satisfatória, sob pena de ver a pátria aniquilada. Bordo do Encouraçado ‘São Paulo’ em 22 de novembro de 1910. (...) Marinheiros.”

APOIO E CASTIGO O Rio de Janeiro era a maior cidade brasileira em 1910. Contava com cerca de 812 mil habitantes. Perante a ação dos marinheiros que colocaram lenços vermelhos no pescoço e ame-

açaram bombardear a capital, parte da população, a que tinha recursos para isso, fugiu do centro da cidade para os subúrbios ou Petrópolis, enquanto outros correram para o cais para acompanhar o movimento, demonstrando simpatia e solidariedade aos marinheiros rebelados. Eram, na sua maioria, negros e pobres, como os marujos, decepcionados com o governo republicano que não melhorou suas vidas. Ao contrário, os excluiu e criminalizou. O governo republicano, que ia supostamente civilizar a capital, prendeu os pobres por “vadiagem” e derrubou suas casas. O governo que ia civilizar a Marinha modernizando sua frota, criou, em 12 de abril de 1890, com o Decreto 328 de Deodoro da Fonseca, a Companhia Correcional na Marinha, reintroduzindo o castigo físico que havia sido abolido em 16 de novembro de 1889. Cedeu às exigências da oficialidade branca que considerava a chibata indispensável para a manutenção da disciplina a bordo.

MARINHA

Um abismo de raça e classe Na hierarquia da Marinha, existia um abismo de raça e classe: de um lado, uma massa de marinheiros e praças negros filhos de escravos libertos, como João Cândido; do outro, uma pequena porção de oficiais brancos filhos de proprietários de terras. Os marinheiros dos encouraçados constituíam um proletariado embarcado que contava com trabalhadores especializados: artilheiros, eletricistas, foguistas, mecânicos, timoneiros, telegrafistas etc. Submetidos a

um regime de trabalho desumano, se insubordinavam, e as punições se tornavam cada vez mais duras. A duração dos castigos ficava a critério dos oficiais e, não raro, ultrapassavam muito o limite de 25 chibatadas. O marujo castigado tinha os vencimentos reduzidos à metade, era rebaixado de posto e poderia ficar detido por meses. A situação se tornou insuportável. “Tinha-se tornado impossível a vida a bordo. Só em um dia,

por esse tempo, a bordo do ‘Minas Gerais’, foram chibatados nada menos que 42 marinheiros. Foi só então que se resolveu tomar providência para fazer cessar esse estado de coisas, ficou assente tomar-se por meios violentos as providências”, escreveu João Cândido, líder da revolta.

“O VERDADEIRO NAVIO NEGREIRO” Embora as reivindicações dos marinheiros incluíssem aumento de salários, redução da

jornada com uma nova tabela de serviços e educação dos marinheiros, o fim dos castigos físicos ganhou centralidade durante o movimento. O deputado escolhido como interlocutor junto aos amotinados, tendo testemunhado os efeitos do açoite, anunciou na Câmara que as costas do marujo Marcelino pareciam “as de uma tainha pronta para ser salgada”. A imagem de marinheiros negros sendo amarrados e açoitados na presença de seus pares

repercutiu na imprensa: “(...) é doloroso sim, ver-se a nossa marinha de hoje passar fome e todas as privações (...). Os nossos pobres marinheiros e foguistas vieram como verdadeiros escravos, passando fome e sendo constantemente castigados com os ferros, a chibata e o bolo (...) estes coitados, faziam 6 horas de quarto e não tinham o direito ao descanso que, pela lei, lhes toca, porque eram logo chamados para outros serviços. O verdadeiro navio negreiro”, de-


Opinião Socialista •

A S R E V O L U Ç Õ E S E R E V O LTA S D O

POVO BRASILEIRO

nunciou “um marinheiro” em carta publicada no Correio da Manhã (25/11/1910) Nos cinco dias em que os navios de guerra estiveram sob o total controle dos marinheiros, a denúncia da situação dos marujos ganhou todo o mundo, revelando que o racismo no convés os tornava verdadeiros escravos dos oficiais brancos. Não por acaso, o fim dos castigos físicos ocuparia papel de destaque nas reivindicações dos marinheiros rebelados.

PREPARAÇÃO DA REVOLTA A revolta não foi espontânea. Há registros de várias reuniões ocorridas em segredo para preparar a tomada

dos navios pelos marinheiros. Foi uma ação organizada por um setor explorado e oprimido, como relata João Cândido: “Pensamos no dia 15 de novembro. Acontece que caiu forte temporal sobre a parada militar e o desfile naval. A marujada ficou cansada e muitos rapazes tiveram permissão para ir à terra. Ficou combinado, então, que a revolta seria entre 24 e 25. Mas o castigo de 250 chibatadas no Marcelino Rodrigues precipitou tudo. O Comitê Geral resolveu, por unanimidade, deflagrar o movimento no dia 22. O sinal seria a chamada da corneta das 22 horas. (...) Não houve afobação. Cada canhão ficou guarnecido por cinco ma-

ESPECIAL

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ro respondeu foi o ‘São Paulo’, seguido do ‘Bahia’. (...) Expedi um rádio para o Catete informando que a Esquadra estava levantada para acabar com os castigos corporais.”

rujos, com ordem de atirar para matar contra todo aquele que tentasse impedir o levante. Às 22h50, quando cessou a luta no

SIGNIFICADO

Um dos capítulos mais importantes da história do Brasil

convés, mandei disparar um tiro de canhão, sinal combinado para chamar à fala os navios comprometidos. Quem primei-

PRISÕES Sem ter como enfrentar os marinheiros e seus canhões, o governo republicano foi obrigado a negociar e anunciou o fim dos castigos físicos e a anistia para os rebeldes. Entretanto, com a retomada do controle sobre os navios de guerra, a anistia foi desrespeitada. Dois dias após o término da revolta, foi assinado um decreto que permitiu a exclusão dos marinheiros da marinha. Iniciaram-se as prisões.

PRESSÃO DOS MILITARES

Anistia sem indenização Em 2008, depois de muita pressão dos movimentos negros, João Cândido e seus companheiros receberam uma anistia post mortem. Ainda assim, sua reintegração à Marinha e a reparação financeira à qual seus herdeiros tinham direito foram vetadas de forma vergonhosa pelo governo Lula, que se curvou diante das pressões feitas pelos ministérios da Defesa, da

Fazenda e do Planejamento. Apesar da recusa do governo e do fato de que eles tenham sido praticamente apagados dos livros das salas de aula, a Revolta da Chibata não só está gravada “nas pedras pisadas dos cais”, como diz a bela música de Aldir Blanc e João Bosco, como revive nas lutas de todos os explorados e oprimidos, em especial dos negros e negras.

PARA

LER Modernização do material e do pessoal da Marinha nas vésperas da revolta dos marujos de 1910: modelos e contradições Silvia Capanema P. Almeida

1910: a revolta dos Marinheiros. Uma saga negra Em dezembro, o início de uma revolta no Batalhão Naval da Ilha das Cobras foi duramente reprimido. Foi decretado estado de sítio. Mais de cem marinheiros foram enviados para o Acre num navio junto a outros detentos. Dezenas foram fuzilados. Não foi esse o destino de João Cândido, líder da revolta. Cândido foi preso com outros 17 marinheiros numa cela na Ilha das Cobras, onde jogaram cal para envenená-los. Morreram sufocados 16 marinheiros. “Depois da retirada dos cadáveres, comecei a ouvir gemidos dos meus companheiros mortos, quando não via os

infelizes, em agonia, gritando desesperadamente, rolando pelo chão de barro úmido e envoltos em verdadeiras nuvens da cal. A cena dantesca jamais saiu dos meus olhos”, disse Cândido ao jornalista Edgar Morel.

SÍMBOLO O líder da rebelião sobreviveu e sofreu intensa perseguição por toda vida, sendo internado num hospital psiquiátrico e demitido de todos os empregos pelos quais passou, sem jamais ter qualquer reparação do Estado. Apesar da violenta repressão ocorrida após a anistia,

com centenas de presos, dezenas de mortos e 1.200 expulsos da corporação, os castigos físicos foram extirpados da Marinha como resultado da rebelião dos marinheiros negros. João Cândido se tornou um símbolo da resistência negra, e a Revolta da Chibata, a revolta dos marinheiros negros, um dos capítulos mais importantes da história do Brasil. Os revoltosos são heróis que nos ensinaram que, para conquistar justiça e liberdade, é preciso voltar nossos canhões contra os membros da elite e os poderes constituídos.

Mário Maestri

A revolta da chibata Edmar Morel PARA

ASSISTIR O Encouraçado Potemkin Sergei Einsenstein. Rússia, 1925 Em 1909, um ano antes da Revolta da Chibata, tomou-se conhecimento do movimento realizado pelos marinheiros russos em 1905, no encouraçado Potemkin. Eles reivindicavam melhores condições de trabalho e alimentação. PARA

OUVIR O Mestre-Sala Dos Mares Aldir Blanc e João Bosco


Cultura • Opinião Socialista

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CINEMA

Tela em trevas WILSON HONÓRIO SILVA DA SECRETARIA DE FORMAÇÃO DO PSTU

ROMPER COM A ALIENAÇÃO

Cena de Afronte.

Barrar a censura e libertar o cinema

B

Bolsonaro tenta impor seu projeto opressivo fundamentalista com os mesmos métodos e com a fúria de um terrorista miliciano. Quer atingir o maior número de pessoas com extrema violência, provocando o máximo de estragos no menor tempo possível. Agora, volta sua metralhadora giratória contra algo que pode registrar, problematizar e provocar reflexão sobre tudo isso: o cinema.

LGBTFOBIA EM CENA No dia 21 de agosto, o ministro da Cidadania, Osmar Terra, anunciou a suspensão de um edital de março de 2018 que selecionou produções sobre diversidade de gênero e sexualidade que seriam exibidas nas emissoras públicas de TV. O processo havia sido conduzido pela Agência Nacional do Cinema (Ancine) em parceria com o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) e a Empresa Brasileira de Comunicação (EBC). Os selecionados seriam financiadas pelo Fundo Setorial do Audiovisual (FSA). Cumprindo a promessa de que não permitiria a liberação de verbas públicas para produções LGBTs, Bolsonaro mirou diretamente em quatro produções: Afronte, longa-metragem de Bruno Victor e Marcus Azevedo sobre negros e negras LGBTs em Brasília; Transversais, série documental de Émerson Maranhão e Allan Deberton sobre transexuais cearenses; Religare Queer, da Válvula Produções, sobre uma ex-freira lésbica; e O sexo reverso, de Maurício Macêdo, baseado no trabalho da antropóloga Bárbara Arisi junto a indígenas que pesquisaram as práticas sexuais dos brancos). Com a grosseria de sempre e seu estilo “pichação de porta de banheiro”, Bolsonaro foi citando cada um dos filmes acompanhados de frases como “vamos abortar esta missão”, “mais um filme que foi pro saco” e “é dinheiro jogado fora”. Anunciou ainda

Os ataques de Bolsonaro se dão exatamente quando o cinema nacional atravessa uma fase muito rica e criativa, algo reconhecido tanto pelo público quanto por alguns dos principais festivais do Brasil e do mundo. Em maio, por exemplo, Bacurau, de Kléber Mendonça e Juliano Dornelles, e A vida invisível de Eurídice Gusmão, de Karim Aïnouz, saíram de Cannes, na França, com os prêmios do Júri e da mostra “Um Certo Olhar” respectivamente. Meses antes, Marighella, de Wagner Moura, e Estou me guardando para quando o carnaval chegar, de Marcelo Gomes, causaram furor em Berlim, onde o genial documentário Espero Tua (Re)volta, dirigido por Eliz a Capai, foi vencedor do prêmio concedido pela Anistia Internacional para o filme relacionado aos direitos humanos. Assim como todos os demais filmes citados no artigo, o filme de Capai diz muito sobre o porquê dos atentados de Bolsonaro contra o cinema. O filme conta como a participa-

“Aqueles dois”

“Bicha Travesty”

que pretende trocar os membros e rever “critérios e diretrizes para a aplicação dos recursos do FSA”, ou seja, garantir que projetos semelhantes sequer tenham chance de serem avaliados.

PERSEGUIÇÃO IDEOLÓGICA E HIPOCRISIA O ataque lgbtfóbico faz parte de um projeto de intervenção na Ancine. Por isso a intenção de mudar a sede da agência do Rio de Janeiro para Brasília como forma de controlar o órgão e censurar os projetos. “É muito importante que o produto da Ancine esteja alinhado com o sentimento da maioria da nossa sociedade. Um sentimento de dever, de cultura adequada, um sentimento cristão”,

disse o porta-voz do governo, Otávio Rêgo Barros. Uma ideia que foi reforçada por Bolsonaro em 31 de agosto, quando anunciou o perfil de quem ele quer ver à frente da agência: “É Bíblia embaixo do braço e que saiba 200 versículos da Bíblia.” Dá para imaginar os roteiros que passariam por um filtro como esse. Em 20 de julho, por exemplo, a Ancine autorizou a captação de R$ 530 mil para a produção de um documentário intitulado Nem tudo se desfaz, cujo enredo é a ascensão do “mito” ao poder. O diretor da empreitada é o obscuro Josias Teófilo, autor do não menos sinistro Jardim das aflições, sobre a vida e a obra de Olavo de Carvalho, guru dos Bolsonaro.

ção nas ocupações de escolas paulistas em 2015 mudou a vida de três secundaristas da periferia. Assim, mergulha no universo da gente comum, marcada por uma diversidade imersa em algo que une a maioria do povo brasileiro: as carências produzidas por um sistema caracterizado pela exploração de classe e pelas mais diversas formas de opressão. Estes filmes nos ajudam a pensar sobre tudo que o governo quer mascarar. Não se trata de defender de forma cega as gestões da Ancine nos governos anteriores. Pelo contrário. É consenso no setor que as políticas de fomento vinculadas à isenção fiscal concedida às empresas que financiam as produções sempre funcionaram como uma espécie de “censura econômica”, já que nunca foi do interesse das empresas patrocinar obras que questionem o sistema que lhes garante os lucros. A diferença agora é a intervenção direta do Estado através da mais pura e descarada censura. Derrubar esse projeto se coloca à frente de todo o resto.

Cartaz de Mariguella, dirigido por Wagner Moura


Opinião Socialista

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mural NÃO TEM JOGO

SOLIDARIEDADE

Cartão Vermelho para a lgbtfobia Somos todos Al-Janiah! Na madrugada do dia 1º de setembro, o restaurante, bar e centro cultural Al-Janiah, em São Paulo, foi atacado por um grupo de neofascistas. O Al-Janiah é um espaço formado por refugiados palestinos e realiza um importante contraponto de denúncia ao projeto colonial de Bolsonaro. “Enquanto as aparições de Bolsonaro e asseclas são acompanhadas sempre da bandeira do Estado racista de Israel, o Al-Janiah porta em suas paredes e espaços, orgulhoso, a bandeira palestina e imagens da resistência histórica e heroica que não se dobra (...). Também acolhe democraticamente diversas culturas e povos e suas

No duelo contra o São Paulo, no estádio São Januário, parte da torcida do Vasco da Gama gritou xingamentos homofóbicos. De imediato, o árbitro Anderson Daronco interrompeu a partida e só deu sequência assim que a torcida parou com os xingamentos. Fato inédito no futebol brasileiro, a atitude do árbitro atende a uma instrução do Superior Tri-

bunal de Justiça Desportiva do Futebol (STJD) que recomenda a paralisação de jogos em caso de cânticos homofóbicos da torcida. Esse tipo de manifestação preconceituosa pode resultar em punição ao clube, multa e até a perda de pontos no Campeonato Brasileiro. Em nota, o time carioca se desculpa pela conduta de vasca-

SÃO PAULO

Jovem negro é torturado com chibata

Um jovem negro amordaçado, com as calças abaixadas, recebe várias chibatadas enquanto é xingado por dois seguranças. A cena foi gravada no supermercado Ricoy, na Zona Sul de São Paulo. Disseram que a agressão era um castigo porque o rapaz, de 17 anos, teria tentado furtar um chocolate... A violência aconteceu no mês de julho. Ele foi agredido pelos seguranças denominados como Santos e Neto. Segundo o boletim de ocorrência, “a vítima per-

maneceu por cerca de 40 minutos, sendo agredida o tempo todo”. No vídeo, é possível ouvir as ameaças entre uma chicotada e outra. “Vai tomar mais uma. Nós vamos ter que te matar, moleque. Vai voltar? Você é corajoso”, grita um dos homens, apontado pela vítima como Santos. Ele também teria ameaçado: “caso falar algo para alguém, vou te matar.” O rapaz foi liberado, mas não registrou a tortura na época porque ficou com medo de ser morto pelos dois.

lutas, numa expressão da solidariedade entre os oprimidos”, diz nota do PSTU. O partido repudia de forma veemente o ataque covarde ao Al-Janiah e expressa sua total solidariedade: “Contra agressões por grupos fascistoides, como a que ocorreu na madrugada deste domingo, o PSTU se coloca na mesma trincheira dos que resistem, assim como historicamente se coloca ao lado do povo palestino.” A nota ainda chama todos a cercarem de solidariedade o Al-Janiah, os refugiados e todos que lá trabalham. O palestino é meu amigo, mexeu com ele mexeu comigo! Somos todos Al-Janiah!

ínos na arquibancada. “O Club de Regatas Vasco da Gama lamenta e repudia qualquer canto de caráter homofóbico por parte de alguns de seus torcedores.” No jogo seguinte, contra o Atlético Mineiro, o Vasco entrou em campo com uma faixa contra a homofobia. “Homofobia é crime. Respeito e Igualdade são a nossa história”, dizia a faixa.

RIO DE JANEIRO

A barbárie de cada dia

Imagina acordar e ter sua casa demolida pelo caveirão do Bope. Foi assim que os moradores da Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, amanheceram no dia 3 de setembro. Segundo os moradores, o blindado chegou na favela, conhecida como Rocinha 2, por volta das 6h, levando ca-

sas, telhas e fios, inclusive casas com crianças dentro. Nenhuma criança se feriu fisicamente. No mesmo dia o pedreiro José Pio Bahia Júnior, de 45 anos, foi morto com um tiro nas costas enquanto trabalhava na construção de uma laje numa casa na Vila Kennedy. De acordo com morado-

res e parentes, policiais militares teriam feito disparos em direção à obra. Em protesto contra a ação da PM, moradores fizeram uma manifestação que fechou a Avenida Brasil. “Ele não era bandido. Estava trabalhando. Não havia confronto”, disse um morado ao jornal O Globo.


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Internacional • Opinião Socialista

SEMANA DO CLIMA

Defesa do meio ambiente precisa ser uma luta contra o capitalismo DA REDAÇÃO

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ntre os dias 20 e 27 de setembro, será realizada a Semana Global para Combater as Mudanças Climáticas. Realizado em todas as regiões do planeta, o evento tem como objetivo debater e impulsionar a luta contra as mudanças climáticas provocados pelo aquecimento global que, de acordo com os cientistas do Painel da ONU sobre Mudanças Climáticas (IPCC), tende a se intensificar neste século. A crise climática e ambiental já é algo palpável. Não é o produto de um desastre natural. A ganância do capitalismo imperialista por lucro é responsável por essa destruição. O que está acontecendo hoje com a Amazônia é uma prova trágica disso. É produto do desmonte irresponsável promovido a favor dos lucros dos latifundiários, das empresas de mineração e das madeireiras. O aquecimento global terá efeitos devastadores para toda a humanidade, especialmente nos países semicoloniais. Os próprios cientistas do IPCC preveem con-

sequências como migrações forçadas, escassez de recursos naturais, aumento das inundações e das secas, fome e insegurança alimentar. “Dizer que a culpa da situação atual é do ‘comportamento humano’ (em geral) ou fundamentalmente dos hábitos de consumo individual, é mascarar a realidade. A mudança climática tem culpados com nome e sobre-

nome. Apenas 100 grandes empresas são responsáveis por 70% das emissões globais. São grandes empresas petrolíferas, de energia ou de carvão e gás. Eles acumulam fortunas gigantescas no bolso de alguns poucos, à custa da destruição do planeta. Do outro lado da moeda, a classe trabalhadora e os setores populares, especialmente nos países semicoloniais (que têm menos responsabilidade), são

os que pagam as consequências mais devastadoras na forma de inundações, ciclones, insegurança alimentar ou sendo forçados a migrar. Portanto, a crise climática e ecológica também é uma questão de luta de classes”, aponta o manifesto da LIT-QI sobre a Semana Climática. O manifesto ataca o discurso capitalista sobre a promoção da chamada “economia verde”, uma

política ambiental marcada pela mercantilização dos recursos naturais e que exalta as soluções de mercado para supostamente salvar o meio ambiente. “O problema de fundo dessa abordagem é simples; é que o capitalismo é absolutamente insustentável do ponto de vista ambiental. O ciclo de reprodução ampliado do capital depende de uma crescente apropriação dos recursos naturais, a um ritmo muito maior do que o tempo que a natureza precisa para se regenerar. Os sistemas naturais se desenvolvem ao longo dos séculos e seu ciclo de recuperação é incompatível com o ciclo de reprodução do capital, que impõe uma violenta e intensa exploração dos recursos naturais, levando à ruptura de sua dinâmica natural”, explica. LEIA A MATÉRIA

COMPLETA

ARGENTINA

Daniel Ruiz completa um ano de prisão política DA REDAÇÃO

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á um ano, Daniel Ruiz, sindicalista e membro do PSTU da Argentina, foi preso pela Justiça do governo Macri. O juiz Sergio Torres ordenou sua detenção preventiva pela sua atuação no protesto em massa contra a reforma da Previdência, realizado em dezembro de 2017. Em 12 de setembro de 2018, a Justiça ordenou sua prisão. Sem condenação e sem data de julgamento, o militante do PSTU passa seus dias na prisão. Daniel é um preso político. Não há nada, nenhuma prova contra ele. “O juiz Torres decidiu que eu deveria ser

preso por estar no mesmo movimento sindical que Sebastián Romero”, explicou em entrevista ao jornal argentino

Popular. “Eles não têm nada contra mim se ainda não o levaram ao tribunal, e não há nada”, disse.

Sebastián Romero é outro perseguido político do governo Macri. Sua imagem se tornou emblemática em todas as redes sociais após a marcha contra a reforma previdenciária. Com dreadlocks, camisa vermelha, óculos e rojão apontando para a polícia, sua foto se multiplicou. Virou símbolo de resistência contra os ataques de Macri e a violência da repressão policial. “O governo quer que eu seja preso para por medo em todos aqueles que estão lutando”, falou Sebastián em carta escrita em 2018. Ele continua sendo caçado como um criminoso pela justiça de Macri. Seus familiares e até seu advogado sofrem intimidação.

Basta de perseguição política a Sebastián Romero! Liberdade imediata para Daniel Ruiz! A repressão de Macri tenta frear a resistência dos trabalhadores, que já demonstraram que não estão dispostos a deixar que seus direitos sejam arrancados. LEIA A MATÉRIA

COMPLETA


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