Opinião Socialista Nº576

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Nº576

De 21 de agosto a 4 de setembro de 2019 Ano 22 (11) 9.4101-1917

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6 MESES DE BRUMADINHO

Vale continua a lucrar com a destruição e morte PÁGINA 5

MOVIMENTO

Vem aí o Congresso da CSP-Conlutas PÁGINA 7

Uma rebelião contra o racismo e o tratamento desumano dos governos

PÁGINAS 10 E 11


Opinião Socialista

páginadois

2

Ataque a quilombo no Maranhão

CHARGE

Falou Besteira

Sou o capitão motosserra BOLSONARO ironizando o avanço da destruição da Amazônia (UOL, 6/8/2019)

Os moradores do Quilombo de Açude, em Serrano (MA), tiveram novamente suas terras queimadas por grileiros. Além das plantações incendiadas, a comunidade tem sido vítima das ameaças de um homem armado que se diz detentor da terra. A última plantação foi queimada no domingo, 18 e pertencia ao lavrador quilombola Benedito Silva. O quilombo enfrenta a luta pela regularização de seu território há oito anos. Pouco tempo depois de seus moradores terem dado entrada com o pro-

cesso no Incra, em 2011, herdeiros da família Cadete iniciaram a oferta da área sem alertar os potenciais compradores de que ela poderia ser posteriormente desapropriada pela União. Em

2018, a família vendeu o terreno a um homem chamado Antônio Carlos. Segundo os quilombolas, ele tem andando na região portando uma espingarda e um facão, ameaçando as famílias.

Amazônia em chamas A fumaça escura que pairou no Centro-Sul do Brasil no último dia 19 é um alerta das chamas que consomem o Cer rado e a A ma zôn ia. Segundo o Inpe, são 71.497 focos de incêndio de janeiro até agosto, 82% a mais do que no ano passado. No mesmo período, mais de 53 mil focos foram registrados nos estados que compõem

a Amazônia Brasileira. Em Rondônia, o número de queimadas disparou 190%. O estado está desde o início de agosto encoberto por fumaça. No Acre, nos primeiros 18 dias do mês, o Corpo de Bombeiros registrou 2 mil focos de incêndio. Houve um aumento de 146% em comparação com o mesmo período do ano anterior.

Vítimas de uma guerra insana Em 80 horas, cinco jovens negros foram abatidos pela força das balas de fuzil de segurança do estado do Rio de Janeiro. Nenhum deles tinha antecedentes ou ligação com o tráfico de drogas. O governo do Estado, de forma cínica, chama isso de “efeito colateral” da guerra às drogas. Dyogo Costa Xavier de Brito, de apenas 16 anos, foi morto durante uma operação da PM na comuni-

dade da Grota, em Niterói. Ele foi atingido enquanto seguia para o Centro de Treinamento do América do Rio de Janeiro. Gabriel Pereira Alves, de 18 anos, foi atingido no peito por uma bala enquanto aguardava em um ponto de ônibus na Tijuca. Já o soldado e paraquedista do exército Lucas Monteiro dos Santos Costa, de 21 anos, foi morto enquanto bandidos invadiram atirando

Expediente Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado. CNPJ 73.282.907/0001-64 / Atividade Principal 91.92-8-00. JORNALISTA RESPONSÁVEL Mariúcha Fontana (MTb14555) REDAÇÃO Diego Cruz, Jeferson Choma, Luciana Candido DIAGRAMAÇÃO Jorge H. Mendoza IMPRESSÃO Gráfica Atlântica

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o local onde ele estava. Um amigo de Lucas, Tiago Freitas, também de 21 anos, foi baleado na cabeça. Henrico de Jesus Viegas de Menezes Júnior, de 19 anos, foi atingido na cabeça durante um tiroteio na Comunidade Terra Nova. Ele ia recolher uma moto deixada para conserto numa oficina. Todos foram alvejados entre os dias 9 e 12 de agosto.


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Bolsonaro, o cocô O show antidemocrático e os ricos da democracia dos ricos ELEIÇÕES 2018

E A

nquanto Bolsonaro fala de cocô, ele dispara a sua medivisão entre os de cima tralhadora de barbaridades continua. A maior parte da investindo contra os indígenas, a burguesia (grandes empreciência, as LGBTs, ameaçando as sários, banqueiros e ruralistas) se liberdades democráticas. Ele tamdefiniram por Alckmin. Outra parbém elogia torturadores e a ditadura te apoia Bolsonaro. Há ainda uma e diz que vai varrer do Brasil quem parte com Marina, outra com Lula se oponha a ele. Enquanto isso, os ou com quem ele apoiar e outra com ricos estão ficando cada dia mais riCiro Gomes. cos, e os pobres, mais pobres. A campanha eleitoral começa Um levantamento da Fundação para valer a partir de agora. Ela enGetúlio Vargas mostra que desde contra a maioria do povo e da classe 2014, início da crise, a renda dos trabalhadora indignada, desanima50% mais pobres caiu 17%. Já a dos da. Uma grande percentagem aponta que compõem o 1% mais rico crespara abstenção, voto nulo e indeciceu 10%. Da renda nacional, os mais sos. Não é para menos. Os governos, pobres ficam com 14%: são 71 miaté hoje, mantiveram uma desiguallhões de pessoas sobrevivendo com dade social indecente, na qual seis até R$ 1.200. Já entre os super-ricos, bilionários têm a mesma renda que 1% da população, 1,4 milhão de pes100 milhões de pessoas. soas, ganham R$ 140 mil por mês Os debates na TV têm a participaem média. É uma desigualdade inção de apenas 8 dos 13 candidatos à decente que só perde para o Qatar. Presidência. Os demais são vetados, Nessa situação de barbárie e entre eles a candidata do PSTU, Vera, imensa desigualdade, quem está a única que defende um programa rindo à toa são os banqueiros e os socialista nestas eleições. grandes empresários, com lucros reA falta de democracia não para cordes. Esses não se importam com o no veto à participação nos debates. A que Bolsonaro fala, pois o deles está desigualdade está também na divisão garantido. Enquanto fala em cocô, do tempo de TV. Enquanto Alckmin o presidente e sua família também (PSDB) terá quase cinco minutos de aproveitam a farra dos super-ricos, TV, o MDB, de Temer e Meirelles, e assim como os milicianos aos quais o PT terão quase dois minutos cada. são ligados, que enriquecem aterrorizando o povo pobre e contam com EDITORIAL a proteção do Estado. Enquanto a polícia de Witzel, aliado de Bolsonaro no Rio de Janeiro, mata pobre nos morros todos os dias, as regiões dominadas pelas milícias seguem Além de as eleições não servirem intocadas. para um debate real entre os diferenO Congresso Nacional é aliado tes projetos para o país e imporem de Bolsonaro na política de entrega uma enorme desigualdade, a enordo país aos EUA e aos especuladome maioria dos candidatos não diz res estrangeiros. Embora possam toda a verdade sobre suas propostas ter contradições entre eles, Rodrigo para o povo. Maia (DEM), o PSDB e todo o chaExceto Vera, do PSTU, todas as mado “centrão” apoiam a política de demais candidaturas apresentam proarrebentar com os pobres. postas dentro dos limites do sistema capitalista e da atual localização do GUERRA SOCIAL Brasil na divisão mundial do trabaBolsonaro, o Congresso, os banlho, imposta pelos monopólios interqueiros e todos os capitalistas denacionais e pelos países ricos, com flagram uma guerra social contra os Estados Unidos à frente. os trabalhadores e os mais pobres. O Brasil está sendo recolonizado. A reforma da Previdência vai simVem sofrendo uma desindustrialiplesmente retirar o direito à aposenzação relativa, especializando-se na tadoria de milhões de trabalhadores. exportação de produtos básicos de Quem conseguir se aposentar vai baixa tecnologia: produtos agrícolas, perder grande parte da sua renda. A da indústria extrativa e energia. Em MP da Liberdade Econômica vai tirar plena era da nanotecnologia, o Brasil até o domingo de descanso. Agora é competitivo em produção de carne. querem empurrar uma reforma triVende óleo cru e importa derivados. butária que vai aprofundar esse sisVende ferro e importa trilho de trem. tema em que pobres e trabalhadores

Já Vera, do PSTU, só seis segundos. O que define tudo é a grana. A pagam muitos impostos, enquancoligação de Alckmin vai receber R$ to ricos têm isenção e desoneração. 800 milhões só do fundo eleitoral. O Para justificar essas medidas, diMDB e o PT, R$ 200 milhões cada. zem a balela de que o Estado estaria Isso não chega nem perto do que quebrado. Na verdade, há muito dios candidatos vão gastar. Meirelles nheiro. O problema é para onde ele pode botar do próprio bolso R$ 70 vai. O Estado está sendo saqueado, e milhões. Amoedo, do velho Partido os pobres estão sendo roubados peNovo, tem um patrimônio de R$ 425 los ricos. Bancos e empresários aumilhões e disse que vai torrar R$ 7 mentam seu lucro com a retirada dos milhões do bolso. Bolsonaro é outro nossos direitos, com o desemprego que não gasta pouco com robôs na e maior exploração. A falsa dívida internet, viagens e campanha apoiapública desvia metade do orçamenda por ruralistas, donos de redes de to para os bolsos dos banqueiros. lojas, como Flávio Rocha da Riachuelo e o dono da Centauro. OSARICOS DEVEM PAGAR PELA CRISE verdade é que as mudanças na É preciso derrotar o projeto de legislação eleitoral foram feitas sob barbárie e ditadura de Bolsonaro. medida por este Congresso corrupDerrubar a reforma da Previdência to para manter no poder os mesmos e revogar a trabalhista, defender a educação e a saúde pública. Lutar contra o desemprego, o genocídio da juventude negra e indígena e impedir a destruição do meio ambiente. O céu escuro da fuligem das queimadas que se abateu sobre São PauDe tudo o que o Brasil produz, lo foi um prenúncio da tragédia am70% são controlados por empresas biental que o capitalismo e esse gomultinacionais que remetem boa parverno provocam. É preciso também te do lucro que obtêm aqui para fora. impedir as investidas de Bolsonaro Os grandes empresários brasileiros contra as liberdades democráticas. (donos de bancos, indústrias, redes de Para derrotar o projeto econômilojas, meios de comunicação e terras), co de Bolsonaro, Guedes e Mourão, 31 famílias bilionárias, são sóciosé preciso toda a unidade de ação -menores das multinacionais. Cada possível na luta. E é preciso lutar. dia vivem mais de rendas dos altos A classe trabalhadora não tem juros da dívida pública. nenhum compromisso com a manuA nossa classe trabalhadora recetenção do mandato de quatro anos be um dos salários mais baixos do de Bolsonaro e Mourão, mas tammundo. Hoje, até na indústria nosbém de nada adianta tirar Bolsonaro so salário já é inferior ao da China. para ficar Mourão. Por isso, é preciO país é a oitava economia do munso que a classe trabalhadora avance do, mas está em 175º lugar em desina construção de uma alternativa a gualdade social. O saneamento não esse governo de ultradireita. chega nem à metade da população. Sem falar na saúde e na educação CONSTRUIR UMA ALTERNATIVA que estão à míngua e cada vez mais SOCIALISTA privatizadas. Se é preciso unificar na luta Os candidatos que estão aí, exceto todos os que estejam contra esVera, não dizem como vão garantir ses ataques de Bolsonaro, é muito emprego, melhores salários, educanecessário afirmar uma alternati-

que estão aí. Enquanto temos desemprego reva socialista, dos trabalhadores à corde e precarização do trabalho, a crise. Isso passa por rechaçar as maioria das candidaturas faz profalsas alternativas que se constromessas vazias para o povo. Elas esem à direita, como Doria (PSDB) tão mesmo comprometidas com o e Luciano Huck, como também mercado e com suas reformas contra o velho projeto de conciliação de a classe trabalhadora. classes do PT. São alternativas, por Não vamos mudar a vida com um lado, neoliberal, e de outro, de eleições de cartas marcadas. Menos “mal menor” capitalista. O PT proainda com uma nova ditadura. Só popõe a reedição da política que nos demos mudar tudo que está aí com trouxe aonde estamos. uma rebelião operária e popular, com Um projeto que pretenda tirar o um governo e uma democracia nosBrasil da crise, acabar com a decasa, dos de baixo, em que possamos dência do país e a destruição do meio governar em conselhos populares. ambiente precisa, de cara, defender A campanha do PSTU estará a a suspensão imediata do pagamento serviço da organização dos de baixo da dívida pública e fazer a sua aue da construção desse projeto. Preditoria. Algo que o PT, ou mesmo o cisamos que você nos ajude nessa PSOL, está longe de defender. É necampanha. cessário ainda proibir as demissões, reduzir a jornada de trabalho sem reduzir os salários a fim de gerar empregos e aumentar o salário mínimo rumo ao mínimo do Dieese, hoje em R$ 4 mil. Precisamos de um plano de obras públicas que, ao mesmo ção e saúde públicas, gratuitas e de tempo que gere empregos, enfrente qualidade. Pelo contrário, dizem que problemas como a moradia e o savão investir mais em tudo isso. Poneamento. Não dá para enfrentar a rém nenhum deles diz que vai suscrise, do ponto de vista dos trabapender o pagamento da dívida, que lhadores, sem enfrentar banqueiros consome 40% do Orçamento, ou que e grandes empresários. vai proibir que as multinacionais reEnfim! O 1% de ricos que, junmetam dinheiro para fora, muito meto com multinacionais, roubam o nos que vão estatizar e colocar sob país, os trabalhadores e a maioria controle dos trabalhadores as princido povo. pais empresas e colocar a economia O problema é que esse Estado para funcionar em prol da maioria. serve aos ricos e a sua lógica é de Mesmo com diferenças entre aumentar os efeitos da crise contra si, os demais candidatos estão enos de baixo. Por isso, dentro do catre 50 tons de capitalismo e conpitalismo, o que nos espera é mais dicionados pelo sistema. Não temiséria e exploração. rão margem para mudar nada de Precisamos de uma revolução substancial para os de baixo. Pelo socialista, que ponha abaixo esse contrário, ao governar no sistema sistema e construa na luta outro dos de cima, farão o que a crise tipo de Estado, democrático de vercapitalista exige para aumentar o dade, baseado em conselhos populucro deles: explorar mais, tirar lares organizados nas fábricas, nos nossos direitos e entregar o país. locais de trabalho, nas periferias, O Brasil precisa de um projeto onde os trabalhadores e o povo posocialista! bre possam governar.

50 tons de capitalismo dependente


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Nacional • Opinião Socialista

COVARDE

Flavio Dino manda PM expulsar moradores de comunidade tradicional SAIBA

MAIS

PSTU-MA

N

a manhã de 12 de agosto, a Polícia Militar do Maranhão destruiu casas na comunidade tradicional de pescadores de Cajueiro, em São Luís (MA). A ação violenta da PM, que repercutiu na imprensa e nas redes sociais, visava cumprir uma tendenciosa ordem judicial em favor da empresa WPR São Luís que quer construir, em associação com uma empresa chinesa, um imenso empreendimento portuário na região, avaliado em bilhões de reais. A operação foi conduzida mesmo com uma sentença anterior válida que garante o direito de posse aos moradores.

DINO FOI O CHEFE DA REPRESSÃO Para quem não conhece o Maranhão, causou surpresa o fato ter ocorrido logo no estado governado por Flávio Dino, do PCdoB, que em seus discursos tem condenado o autoritarismo e a violência de Bolsonaro. O governador lavou as mãos em relação à comunidade e pregou respeito às ordens judiciais, demonstrando nenhuma solidariedade às vítimas da operação policial. Sequer cogitou averiguar os excessos da PM que usou spray de pimenta e violência contra os moradores. A repressão continuou à noite, sob as ordens do Secretário de Segurança, Jeferson Portela (PCdoB), presente no local e comandando a operação. Moradores e apoiadores que estavam em vigília em frente ao palácio do governo foram expulsos com bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha. Um ativista negro da mídia independente foi detido sem nenhuma acusação formal num verdadeiro ato de racismo. O episódio causou ainda mais comoção com a situação dos moradores do Cajueiro. O governo mudou de tática e passou a mentir, distorcer fatos e caluniar as organizações que apoiam Cajueiro por meio do seu aparato

Flavio Dino tem rabo preso com os poderosos AGILIDADE NA LICENÇA AMBIENTAL O Ministério Público Federal (MPE) e o Estadual (MPMA) investigam irregularidades na agilidade na concessão das licenças ambientais para a construção do Porto na Comunidade Cajueiro. Segundo as investigações, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEMA) deu a licença antes de um parecer da Marinha do Brasil sobre os possíveis riscos da instalação do porto. GRILAGEM DE TERRAS A área onde o novo porto deve ser construído é alvo de duas investigações no MPMA, que apuram um esquema de grilagem de terras. Está sendo investigada a empresa BC3 Hub Multimodal Industrial, que vendeu o terreno onde está a comunidade Cajueiro para a WPR São Luís, responsável pela implantação do empreendimento. Há suspeita de falsificação de documentos das terras. A suspeita é que exista uma organização criminosa que grila as terras da região.

institucional de imprensa e blogs alinhados com sua política.

CRUELDADES E MENTIRAS O governo do PCdoB sentiu a repercussão negativa da crueldade que comandou. Por isso foi para cima da comunidade e das organizações do movimento social, tentando distorcer uma repressão brutal registrada por centenas de imagens e de vídeos disponíveis na Internet. Dino e o PCdoB querem fazer as pessoas acreditarem que tudo não passa de invenção e oportunismo de opositores do governo. Como bons herdeiros do stalinismo, espalharam a calúnia de que o PSTU se juntou com a burguesia e fez o jogo do MBL e de Bolsonaro para detonar com a sua pré-candidatura presidencial. Trata-se de uma grave mentira. Na verdade, quem se juntou com a burguesia foi o PCdoB ao apoiar o empreendimento que despejará toda uma comunidade do seu território, causando ainda um impacto ambiental sem proporções em São Luís. Uma série

de facilidades foram concedidas ao empreendimento, o que mostram as sinistras relações do governador com esquemas de grilagem de terras e financiamento de campanha eleitoral (leia ao lado). É muita cara de pau de Flavio Dino comparar o a oligarquia Sarney, que governou 40 anos o Maranhão, com o PSTU. Ora, recentemente Dino fez uma escandalosa reunião com o corrupto José Sarney para supostamente discutir democracia. Além disso, Dino tem na sua base os mesmos partidos que fazem parte da base aliada de Bolsonaro, como o DEM e o PP. Cajueiro resiste apesar das mentiras que continuarão a ser contadas pelo governo. Vamos continuar enfrentando os ataques de Bolsonaro e de Flávio Dino e as calúnias stalinistas que continuarão a vir. Estamos à disposição da comunidade do Cajueiro para espalhar a verdade sobre os fatos que aconteceram durante estes cinco anos de luta e, principalmente, neste triste e cruel 12 de agosto de 2019.

REINTEGRAÇÃO DE POSSE ILEGAL A Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP-MA) deu ordem para a reintegração de posse da área do Cajueiro na terça-feira (13), mas os moradores foram retirados na segunda (12), mais de 24 horas antes de a PM ser notificada. TERMO DE POSSE IGNORADO Os moradores do Cajueiro possuem um termo de posse concedido pelo governo em 1998. Em 2015, uma sentença judicial garantiu o território para a comunidade e proibiu quaisquer atos contrários ao livre exercício de posse pelos moradores. Mesmo assim, a Justiça concedeu uma liminar favorável a WPR garantindo a demolição das casas e a reintegração de posse. FINANCIAMENTO DE CAMPANHA A W Torre Engenharia, que administra a WPR, foi doadora de campanha do então candidato ao governo do Estado, Flávio Dino, em 2014. Foram mais de R$ 250 mil.

Flávio Dino (PCdoB), governador do Maranhão.


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Nacional

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SEIS MESES DE BRUMADINHO

Vale continua a lucrar com a destruição, o terror e a morte ROUBO

Barão de Cocais, Nova Lima e a expulsão das terras

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GERALDO ARAÚJO ‘BATATA’ DE CONTAGEM (MG)

eis meses se passaram do crime da Vale em Brumadinho. O segundo crime de proporções gigantescas cometido pela mineradora em quatro anos, com consequências desastrosas à vida de milhares de pessoas. Vez ou outra, trombamos com trabalhadores em fábricas por todo o estado que conhecem alguma vítima da Vale. O colapso de Brumadinho se soma a outros crimes cometidos pelos governos e pelo capitalismo, que vão desde as queimadas na floresta Amazônica em favor do agronegócio até os assassinatos de indígenas por madeireiros e jagunços.

QUANTO MAIS MORTES, MAIS LUCRO Num documento da Vale intitulado “desempenho da Vale no 2T19”, referente aos resultados do segundo trimestre, a empresa reconhece abertamente que lucrou com o assassinato. “Nossa geração de caixa de US$ 2,2 bilhões no 2T19 permitiu a retomada de nossa trajetória de redução de dívida e forta-

leceu nosso balanço ainda mais. Consequentemente, nossa dívida líquida foi reduzida de US$ 12,0 bilhões no 1T19 para US$ 9,7 bilhões no 2T19”, explicam. Trocando em miúdos, a Vale avalia um prejuízo líquido de US$ 133 milhões. Só que a geração de caixa somou US$ 2,2 bilhões e reduziu a dívida líquida. No final das contas, a empresa saiu ganhando. O crime em Brumadinho obrigou a empresa a reduzir a produção no país, que caiu em 33%. Soma-se a isso a recuperação da demanda chinesa que levou ao aumento dos preços do minério. Assim, no primeiro semestre de 2019 a Vale faturou US$ 17,4 bilhões frente a US$ 17,2 no primeiro semestre de 2018. A falta de segurança nas barragens, o assassinato de quase 300 trabalhadores e trabalhadoras, a destruição do Rio Paraopebas, do Rio Doce e de seus afluentes, o risco da falta de água para mais de 2,5 milhões de pessoas na Grande Belo Horizonte, entre outros episódios bárbaros provocados pela Vale, significou um grande negócio para a empresa e seus acionistas, que ganharão muito dinheiro a longo prazo.

Fruto do grande impacto que seus crimes provocaram na sociedade, a Vale passou a antecipar medidas de segurança. Desde fevereiro começou um programa de retirada de famílias em áreas de risco nas quais as barragens não conseguiram laudos para funcionamento. Na verdade, os laudos anteriores eram fraudados, do mesmo modo como fizeram na barragem de Córrego-Feijão, em Brumadinho. Até abril, pelo menos 32 barragens chegaram a ser interditadas, e milhares de famílias foram removidas de suas casas e de suas terras. É claro que essas medidas são fundamentais para evitar a morte de milhares de pessoas que vivem na rota da lama. No entanto, começaram a surgir indícios de que a Vale estaria tiran-

REGRESSÃO COLONIAL CONTINUA

Ampliação do prazo para descomissionamento

No último dia 12, a Agência Nacional de Mineração (ANM) decidiu mudar o prazo final para a eliminação das barragens a montante de agosto de 2023 para setembro de 2027. Isso mostra que as medidas dos governos Bolsonaro e Romeu Zema (Novo) foram só para mostrar algo à grande mídia. Aos poucos, vão demonstrando que seu objetivo é facilitar ainda mais a mineração desenfreada sobre os recursos naturais.

do proveito dessa medida para conquistar novas áreas para seus projetos. Em Barão de Cocais (MG), por exemplo, moradores denunciaram uma política da empresa de pedir aos moradores para assinarem um documento intitulado “Autorização para Fins de Estudos Espeleológicos e Identificação de Cavidades”, emitido pelo Setor de Aquisição de Compras de Imóveis da Vale. Isso permite que a Vale faça pesquisas nessas áreas.

Essas mesmas denúncias foram feitas em Brumadinho e Nova Lima. Além disso, a empresa tem se aproveitado da necessidade de construir diques de proteção para que lama não atinja as comunidades e os rios que abastecem a Grande Belo Horizonte para avançar seus projetos de exploração sobre a Serra da Gandarela, que possui um imenso aquífero e inumeráveis nascentes.

SAÍDA

Estatização sob controle dos trabalhadores e das comunidades O PSTU vem buscando construir uma frente única com os setores atingidos por esse modelo de mineração parasitária e irracional. Defendemos que a única maneira de enfrentar a Vale, a CSN e outras mineradoras e seu banditismo é construindo a unidade dos trabalhadores da mineração, dos moradores das cidades mineradoras e das comunidades atingidas. Essa unidade deverá incluir o máximo de movimentos populares, considerando a importância da mineração para o Estado e o grau de destruição provocado. Por isso, chamamos o MAB, o

MAM, os sindicatos dos trabalhadores em mineração, as centrais sindicais, a FETAEMG (Federação dos Trabalhadores em Agricultura) e os sindicatos rurais para realizarmos, o mais breve possível, um grande encontro para definirmos um programa e um plano de lutas. Essa frente deverá ter como centro mudar por completo este modelo de mineração. Mas qualquer mudança efetiva passa pela estatização desse ramo de produção, sob o controle dos operários e das comunidades diretamente atingidas, em conjunto com as organizações dos trabalhadores.


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BOLSONARO É LADRÃO DE ENERGIA

Governo miliciano pretendia fazer gato em Itaipu SAIBA

MAIS Itaipu: um tratado colonial O Tratado de Itaipu é um instrumento de pilhagem e dominação colonial do Paraguai por um punhado de capitalistas. É por isso que trabalhadores paraguaios e brasileiros precisam unir forças para anular esse acordo colonial. Saiba mais:

Itaipu nasceu de uma invasão militar brasileira

Desde 1955, o Brasil estudou o potencial hidroelétrico da área dos Saltos do Guairá (também conhecida como Sete Quedas). Em junho de 1965, sob a ditadura militar, o Brasil invadiu Puerto Renato e uma zona de 20 quilômetros. Nessa área, seria construída a hidroelétrica de Itaipu.

Bolsonaro e o presidente do paraguai, Mario Abdo Benítez

JEFERSON CHOMA DA REDAÇÃO

O

acordo de Itaipu mobilizou o povo paraguaio e ameaça seriamente o presidente do país, Mario Abdo Benítez, com um processo de impeachment. Pelo acordo negociado às escondidas da população, o Paraguai pagaria mais caro pela energia proveniente de Itaipu. A estimativa é que o aumento de custo obrigaria o Paraguai a pagar mais de US$ 200 milhões por ano. Quando acordo veio a público no mês passado, o presidente Benítez foi acusado de traição à pátria por tê-lo assinado. Milhares foram às ruas do país vizinho, e um amplo e justo debate sobre o caráter colonial do Tratado de Itaipu, assinado em 26 de abril de 1973, tem sido realizado (leia ao lado). No entanto, há outro elemento podre nessa história. A interferência do governo miliciano de Jair Bolsonaro, que pretendia fazer um gato numa das maiores hidroelétricas do mundo e beneficiar sua família e amigos.

PUXANDO OS FIOS Uma reportagem do jornal ABC Color, em colaboração com o Estado de S. Paulo, mostrou que o empresário Alexandre Giordano, que é suplente do senador Major Olímpio (PSL-SP), serviu como intermediário do esquema para mudar o acordo de Itaipu e favorecer a empresa brasileira Léros Comercializadora, da qual ele é sócio. O acordo entre Bolsonaro e Benítez suprimia o item 6, que permitia à Ande (estatal paraguaia de energia) vender diretamente no mercado brasileiro a chamada energia excedente mais barata. Com a remoção do item 6, o acordo privilegiaria empresas brasileiras que quisessem comprar o excedente, como a Léros. O plano era simples: pagar barato pela energia paraguaia e revendê-la mais caro no Brasil. Isso significaria que o povo paraguaio e você pagariam uma energia mais cara, enquanto a Léros faturaria milhões. Bolsonaro e sua família de milicianos também ganhariam muito dinheiro com isso. Segundo o advogado José “Joselo” Rodríguez, que se apresentava como assessor jurídico do vice-

-presidente do Paraguai, Hugo Velázquez, a Léros se dizia representante da família presidencial e do governo brasileiro. A empresa é tão próxima dos Bolsonaro que até a sede do diretório estadual do PSL de São Paulo, cujo presidente é o deputado Eduardo Bolsonaro, funcionou no mesmo prédio no qual ficam as empresas de Giordano.

MODUS OPERANDI O acordo é muito pedagógico, pois mostra como age o governo miliciano de Bolsonaro. As milícias que atuam nas comunidades do Rio de Janeiro vivem da extorsão dos moradores. Cobram taxas por serviços básicos como água, luz, gás, transporte alternativo, venda de imóveis, sinal clandestino de TV, Internet e, claro, segurança. Esse é o projeto de Bolsonaro para o Brasil, e começa querendo fazer um gato em Itaipu para cobrar mais caro pela energia. Lá no Paraguai, o acordo virou um escândalo que pode derrubar um governo. Por aqui, no entanto, a grande mídia, como a Rede Globo e a Record, fazem um silêncio ensurdecedor.

Brasil compra energia paraguaia a preço de banana O Tratado de Itaipu, assinado pelas ditaduras paraguaia e brasileira em 1973, impôs a transferência compulsória da energia não utilizada por um dos países para outro, não a preço de mercado, mas a preço prefixado. Entre 1984 e 2017, o Paraguai usou apenas 7% da energia produzida em Itaipu e foi obrigado a ceder os 43% restantes ao Brasil por US$ 9,4 por megawatt/hora de energia produzida, enquanto o preço de mercado é de cerca de US$ 120. Não vamos nos enganar. Você, trabalhador brasileiro, também está sendo roubado. A energia que a Eletrobras compra por US$ 9,4 do Paraguai é revendida por US$ 206 por megawatt/hora para o consumo residencial no Brasil

A dívida da Itaipu é injusta e impagável O orçamento inicial para a construção de Itaipu foi de US$ 3,5 bilhões, mas a corrupção e o superfaturamento fizeram com que a obra custasse US$ 26,9 bilhões. Esse custo se tornou dívida. Alguns estudos estimam que ela esteja em torno de US$ 80 bilhões. Embora o Brasil use 93% da energia produzida e o Paraguai apenas 7%, a dívida é paga meio a meio. O Paraguai paga anualmente US$ 2 bilhões pela dívida de Itaipu, o que sangra a economia do país.


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Movimento

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ALTERNATIVA DE LUTA

Vem aí o 4° congresso da CSP-Conlutas PAULO BRAELA DE SÃO PAULO (SP)

O

4º Congresso Nacional da CSP-Conlutas acontecerá nos dias 3 a 6 de outubro no Clube Adler, em Vinhedo, São Paulo. Serão quatro dias de profundas discussões políticas envolvendo os pontos de pauta aprovados na reunião da Coordenação Nacional de novembro de 2018. O congresso ocorrerá num momento de muita importância para a luta da classe trabalhadora. A central nasceu no calor das lutas contra as políticas dos governos do PT e agora se afirma no momento em que os trabalhadores são duramente atacados por Bolsonaro. O evento visa armar o conjunto da central para defender a aposentadoria, os direitos trabalhistas, à educação e às liberdades democráticas. Para defender o povo oprimido um governo defensor da ditadura militar e da tortura, das ideologias racista, lgbtfóbico, xenófobo, machista e propagador de toda forma de discriminação e opressão. A classe trabalhadora mostrou que não está derrotada e tem muita disposição para lutar. Mostrou toda sua indignação em vários dias nacionais de luta que vêm acontecendo, como o 8 de março, protagonizado pelas mu-

lheres; o 14 de março, por Justiça para Marielle e Anderson; o 22 de março, dia nacional de paralisação e protestos; o 1º de Maio unitário; o 15M e o 30M, contra os cortes na educação e a reforma da Previdência; e a greve geral de 14 de junho.

NEGOCIAÇÃO É TRAIÇÃO No dia 6 de agosto, enquanto as centrais sindicais negociavam em torno da reforma com o Congresso Nacional, a CSP-Conlutas organizou manifestações por todo o país, enquanto os parlamentares votavam o projeto em segundo turno. A traição das demais centrais e dos governadores, incluindo os do PT, PCdoB e PSB, custou caro para os trabalhadores, custou a aprovação da reforma. Porém a luta não acabou, e a resistência segue para barrá-la no Senado. Com esse espírito de enfrentamento e combatividade, o congresso deve refirmar a vocação da central de construir a unidade na luta e seguir fortalecendo essa alternativa classista; uma organização de frente única de caráter sindical e popular, estimulando, participando e disputando os processos que ocorrem na base, em particular no movimento operário e no campo, apresentando nossa alternativa e aproximando ainda mais esses setores de nossa entidade.

REORGANIZAÇÃO

Um perfil classista, operário e popular

O congresso tem a tarefa de reafirmar e fazer avançar a construção da CSP-Conlutas como central sindical e popular. Nosso projeto é algo inédito na organização da classe trabalhadora, e a tendência é que o congresso tenha uma participação que reflita muito mais os setores pauperizados do campo, das

periferias das grandes cidades e os oprimidos. Por isso, a organização permitiu um valor de taxas mais acessível, assim como vai garantir alojamento e alimentação para esses setores. No processo de reorganização que vive os trabalhadores, os setores camponeses e de luta por moradia, bem como quilom-

bolas e indígenas, são as expressões mais dinâmicas de luta e resistência à Bolsonaro. Rompem de modo mais fácil com o reformismo e têm buscado a CSP-Conlutas como alternativa de organização e direção. Isso demonstra o acerto no projeto de central que construímos. No mesmo sentido, embora um pouco mais complexo, o congresso também deve expressar uma participação mais operária. A classe operária que rompeu com o petismo, e neste momento muitos não acreditam mais no atual governo. Ao mesmo tempo, buscam uma alternativa que não seja a repetição das experiências petistas. A CSP-Conlutas, no terreno sindical, também se mostra como um importante polo de atração para esses setores.

RETA FINAL

Realizar assembleias, eleger delegados e aprovar propostas Os prazos de construção do congresso já estão em sua reta final. Por isso, é muito importante que façamos o esforço final para garantir o registro no site da central e convocar a base para realizar grandes assembleias para a tirada de

delegados e a aprovação das resoluções do Bloco Classista Sindical e Popular. Temos a oportunidade de realizar um grande encontro – que também vai contar com uma expressiva delegação internacional – para reafirmar

nossa central e elaborar políticas que organizem a classe e preparem o enfrentamento contra o governo de Bolsonaro, os patrões e a burguesia em nosso país. Todos ao 4º Congresso Nacional da CSP-Conlutas!

CALENDÁRIO 3 DE JUNHO A 11 DE SETEMBRO período de realização das assembleias das entidades sindicais e movimentos populares (comunicação à Secretaria com pelo menos cinco dias de antecedência). 30 DE AGOSTO Data final para recebimento das contribuições e propostas de resoluções

10 DE SETEMBRO Data limite para filiação de novas entidades com direito a delegados ao 4º Congresso da CSP-Conlutas

13 A 27 DE SETEMBRO Eleição dos representantes dos movimentos de luta contra a opressão e juventude (5% conforme o Estatuto)

12 DE SETEMBRO Data limite para inscrição dos participantes das entidades sindicais e dos movimentos populares e pagamento das taxas desses setores

28 DE SETEMBRO Data limite para inscrição e pagamento das taxas dos movimentos de luta contra a opressão e juventude 3 A 6 DE OUTUBRO 4º Congresso Nacional da CSP-Conlutas


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Opinião Socialista

CENTRAIS

Semiescravidão: nova lei vai domingos e feriados Bolsonaro e o Congresso Nacional estão aprovando uma nova reforma trabalhista que vai precarizar ainda mais o trabalho e causar mais desemprego DA REDAÇÃO

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ocê trabalha a semana inteira para receber um salário que mal dá para pagar as contas. No sistema capitalista, em que o trabalho é uma tortura que só serve para enriquecer o patrão, o final de semana é um breve respiro. Único momento em que você pode juntar a família para almoçar, passear com os filhos num domingo, ver futebol ou simplesmente descansar. Mas até isso pode acabar agora. Bolsonaro baixou uma Medida Provisória, a MP 881, que funciona como uma espécie de

minirreforma trabalhista. Essa MP foi ao Congresso Nacional, onde se transformou em pro-

jeto de lei que, entre outras coisas, libera o trabalho aos domingos e aos feriados. Cha-

mado de forma cínica de “MP da Liberdade Econômica”, o governo e a imprensa repetem que as medidas desburocratizam o emprego e que isso vai gerar milhões de empregos. A única liberdade que essas medidas trazem, no entanto, é para o patrão explorar ainda mais o trabalhador, acabando até mesmo com o domingo e os feriados, além de forçá-lo a fazer hora extra sem receber, entre outros ataques. Estão aprovando essas medidas a toque de caixa, como fizeram com a reforma trabalhista em 2017. Disseram, na época, que a reforma criaria 6 milhões de empregos. O que se viu, na realidade, foi mais de-

semprego, mais informalidade e precarização. Agora dizem, com a maior cara lavada, que a MP vai criar 3,7 milhões de postos de trabalho. O que vai acontecer é a piora da situação que já estamos vendo. A MP do trabalho aos domingos faz parte do projeto de Bolsonaro, de atacar a aposentadoria e os direitos trabalhistas para que patrões, banqueiros e grandes empresas lucrem mais. Um projeto de semiescravidão, aumentando a superexploração num cenário de terra arrasada em que, para não cair no exército de miseráveis, você terá de se submeter às piores condições de trabalho e salário.

ENTENDA

CONSEQUÊNCIA

MP da liberdade para te explorar

Você à mercê do patrão

TRABALHO AOS DOMINGOS

PONTO E HORAS EXTRAS

COMO É HOJE

COM A MP

Só é permitido a determinadas categorias, como médicos, garçons, comércio etc. As horas trabalhadas aos domingos são pagas como horas extras, ou seja, em dobro.

Todas as categorias estão liberadas para trabalhar aos domingos. Quem determina se o funcionário trabalha no domingo ou não é o patrão. A única limitação é que a folga caia num domingo a cada três trabalhados. E, mais, se o trabalhador receber como compensação uma folga no meio da semana, ele não mais recebe dobrado ao trabalhar no domingo.

COMO É HOJE

COM A MP

O trabalhador precisa marcar a hora que chega e sai do serviço, assim como as eventuais horas extras. Só não é obrigado a registrar o ponto em empresas com menos de 10 funcionários.

Ficam desobrigadas de registrar o ponto as empresas com até 20 funcionários, que são mais de 90% das empresas no país. Também permite, via acordo coletivo ou individual, que qualquer empresa tire o ponto, só registrando a hora extra. Na prática, é o liberou geral nas horas extras. O patrão vai pressionar para que o funcionário trabalhe além da jornada e não registrar.

A minirreforma trabalhista representada pela MP 881 submete ainda mais seu tempo aos desejos e às necessidades do patrão. Não tem mais essa de planejar a esticada na praia no domingo ou a pelada com os amigos. Se ele mandar trabalhar, você vai ter que ir. E sem receber nada a mais por isso. Já o fim da exigência do ponto é o liberou geral para

a hora extra sem pagamento. Se o patrão te mandar ficar até mais tarde no serviço sem marcar, você não vai poder dizer sem ter seu emprego ameaçado. Principalmente num momento em que o desemprego e a informalidade só aumentam. A MP funciona como uma enorme chantagem para arrancar os poucos direitos que ainda temos.


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CENTRAIS

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i fazer você trabalhar aos CONTO DO VIGÁRIO

Reforma trabalhista trouxe mais desemprego e precarização Em qualquer cidade você vai ver uma verdadeira legião de homens e mulheres com motos ou bicicletas, equilibrando-se com uma enorme mochila térmica nas costas. São os trabalhadores de entrega por aplicativo, como os que trabalham para a Uber, que recorrem a esse tipo de serviço para sobreviver. Sem horário para terminar, sem direitos ou qualquer tipo de proteção social. São quase 4 milhões de trabalhadores nessa situação. Dois anos após a aprovação da reforma trabalhista, durante o governo Temer, o desemprego não só não diminuiu como ocorreu uma explosão da informalidade

e do trabalho precário. O número de desempregados oficial (segundo o critério do IBGE) continua na casa dos 12%, o que dá quase 13 milhões de pessoas. Mas o número real é bem maior. O número de pessoas fora do mercado de trabalho formal supera os 50 milhões. Os trabalhadores informais, por sua vez, têm crescimento recorde. São mais de 24 milhões de trabalhadores “por conta própria”, gente que sobrevive, em sua esmagadora maioria, vendendo produtos na rua ou em serviços do tipo. Isso porque está cada vez mais difícil achar um emprego. O desemprego a longo prazo, aquele

PRECARIZADOS

com mais de dois anos, tem recorde desde 2002. São 3,3 milhões procuram trabalho. O projeto de Bolsonaro, dos banqueiros e dos patrões prevê justamente isso: o fim do trabalho formal, dos direitos trabalhistas e sociais, e a generalização do trabalho precário. No país de Bolsonaro e Paulo Guedes, vai ser todo mundo Uber.

de 9,5% no segundo trimestre deste ano. Entre os trabalhadores negros (autodeclarados negros e pardos), era de 28,5%. Isso também se reflete nos salários. Enquanto a renda do brasileiro caiu 2,4%, em mé-

dia, desde o início da crise em 2014, a dos negros caiu 7,4%. Enquanto isso, as mulheres continuam recebendo menos que a média dos trabalhadores homens e são mais submetidas ao trabalho precário.

NEGROS SOFREM MAIS COM DESEMPREGO Nessa guerra social contra os trabalhadores e os pobres, os negros são os mais atingidos. Segundo o IBGE, entre os trabalhadores brancos, o desemprego era

PLENO EMPREGO E SALÁRIO DIGNO

Tomando o lugar dos trabalhadores formais

Contra a barbárie do desemprego, uma proposta socialista

O chamado trabalho intermitente mostra como a reforma trabalhista não cria emprego, só troca o trabalho atual por outro mais precário. Trabalho intermitente é aquele em que o trabalhador é contratado por hora. Ao final do mês, pode sair com menos de um salário mínimo e não pode nem sacar o FGTS. Em junho, esse tipo de contrato foi responsável por 21% do total de vagas criadas no mês, mas nos setores em que já há alta formalização, como o de serviços e comércio. Ou seja, as empresas estão demitindo o trabalhador com contrato normal para substituí-lo pelo intermitente. A mesma coisa vai acontecer com o trabalho aos domingos. O patrão não vai contratar mais gente para trabalhar nos finais de semana, vai forçar o atual a perder o seu domingo para estar no serviço.

A guerra social contra os pobres é a receita do capitalismo para a crise, para garantir os lucros dos banqueiros e dos patrões. O futuro que o capitalismo nos reserva é a barbárie, o desemprego e a “uberização” do trabalho. Ao final da vida, vem a miséria, pois nem a aposentadoria estará garantida. O desemprego é um dos principais dramas desse sistema baseado no lucro e na exploração. Trabalhar, ou seja, vender a sua força de trabalho para sobreviver e garantir a boa vida do patrão se tornou um privilégio. Ao mesmo tempo, um verdadeiro exército de milhões de pessoas definha nas ruas. Gente que poderia estar trabalhando, produzindo, mas que é desperdiçada porque, para o capital, não é vantagem que todos trabalhem.

O DRAMA DO EMPREGO EM NÚMEROS DESEMPREGO

12,8 MILHÕES SUBUTILIZAÇÃO DA FORÇA DE TRABALHO*

27,9 MILHÕES DESALENTO

4,9 MILHÕES DEPENDEM DE APLICATIVOS

3,8 milhões

COMPLEMENTAM A RENDA COM APLICATIVOS

23,8 milhões

(*gente que precisaria trabalhar mais pra sobreviver)

pregos e, ao mesmo tempo, atue na falta de moradias, no saneamento básico e nas demais obras para a população.

É possível sim que todos tenham trabalho com salário digno:

Para que isso seja possível, é necessário atacar os lucros das grandes empresas. E parar de pagar a chamada dívida pública aos banqueiros, que já foi paga várias vezes, aumentar o salário mínimo e as aposentadorias rumo ao mínimo do Dieese (R$ 4 mil).

• revogando a reforma trabalhista e a lei das terceirizações; • reduzindo a jornada de trabalho sem reduzir os salários, para que todos tenham emprego; • proibindo as demissões, e estatizando as empresas que insistirem em demitir; • criando um plano de obras públicas que gere em-

GOVERNO SOCIALISTA DOS TRABALHADORES Por dentro do capitalismo, é impossível acabar com o desemprego e a desigualdade. Só com uma revolução socialista, construindo na luta um governo dos trabalhadores, baseado em conselhos populares, poderemos ter pleno emprego e uma vida digna para todos.


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ESPECIAL • Opinião Socialista

A S R E V O L U Ç Õ E S E R E V O LTA S D O

POVO BRASILEIRO

REVOLTA DA VACINA (1902)

Uma rebelião contra o racismo e o tratamento desumano dos governos POR DAYSE OLIVEIRA GOMES, DE RIO DE JANEIRO (RJ)

POBREZA E DESEMPREGO

A realidade das cidades brasileiras

A

A população enfurecida tomava as ruas do Rio de Janeiro para protestar contra a truculência do governo.

Revolta da Vacina foi um movimento de combate à vacinação obrigatória contra a varíola que ocorreu no Rio de Janeiro em 1902. Foi protagonizado por trabalhadores negros e negras principalmente. A varíola havia se espalhado em razão do descaso dos governos que ofereciam péssimas condições de vida, racismo, falta de campanha de esclarecimento, de educação e vários outros fatores. Até a própria burguesia e a classe média não sabiam o que era uma vacina. Por isso, é um movimento complexo. Sem a devida contextualização histórica, os trabalhadores, o movimento operário, os negros e negras aparecem de forma errada como se fossem os vilões, como gente atrasada contrária ao progresso do país.

trabalhadores assalariados aos olhos dos governantes. Não havia plena liberdade para a população negra, que não tinha acesso à terra, ao emprego, à educação e às mínimas condições dignas de vida. Nessa conjuntura, nos primeiros anos da República, aconteceram revoltas como a de Canudos, na Bahia, a do Contestado, em Santa Catarina, entre outras. A Revolta da Vacina faz parte dessa onda de revoltas, ocorrida na maior cidade do país de então. O Brasil da época republicana era explorado pelo imperialismo e pela classe dominante formada pelas oligarquias dos grandes fazendeiros do café, uma burguesia descendente de senhores de escravos. Essa burguesia estava ligada a uma industrialização dependente de capital estrangeiro.

ABOLIÇÃO E RACISMO A abolição da escravatura, em 1888, não trouxe bem-estar para os negros, que foram substituídos pelos imigrantes como mão de obra nas fábricas com o intuito de branquear o Brasil. Negros e negras serviam como trabalhadores escravos e não como

RACISMO CIENTÍFICO Nesse mesmo período, havia um processo de colonização da África, da Ásia e da América Latina, cujo objetivo era a apropriação das matérias-primas dessas regiões, ao mesmo tempo em que serviam de mercado para o excedente de produção da in-

dústria europeia. Muitas ideologias foram usadas para justificar essas ações de exploração e colonização, como o racismo científico, teorias eugenistas de pureza da raça etc. O racismo científico é uma teoria criada por Joseph Arthur de Gobineau (1816-1882). Segundo ela, a mistura de raças (miscigenação) era inevitável e levaria a raça humana a graus sempre maiores de degenerescência física e intelectual. É atribuída a Gobineau a frase: “Não creio que viemos dos macacos mas creio que vamos nessa direção”. Para ele, as regiões formadas majoritariamente por negros, índios e mestiços jamais alcançariam o progresso. Essas ideologias foram importadas para o Brasil e adaptadas por intelectuais da burguesia e dos fazendeiros. Assim, todo o atraso do Brasil passou a ser responsabilidade dos indígenas e do povo negro. A República dos fazendeiros, que usava o dinheiro público para compensar quedas nos preços do café no mercado internacional, garantia o bem-estar e os negócios da burguesia contra os interesses da maioria da população.

Naquela época, não havia direitos trabalhistas, como a jornada de oito horas ou férias. Toda luta social e sindical era vista como caso de polícia. Isso motivava a atuação do movimento operário diante de uma desigualdade social não resolvida. Muitos trabalhadores eram europeus. A maioria da população dos grandes centros urbanos estava desempregada. No setor de serviços, o trabalho informal predominava, o que contribuía muito para um crescimento urbano desordenado e com problemas de transportes, iluminação, saneamento, mau abastecimento de água e difícil alimentação. A população pobre morava em cortiços imundos. Esse cenário de crise social era propício para o surgimento de doenças como a febre amarela, a peste bubônica e a varíola, que matavam milhares de pessoas. Isso dificultava a visita de autoridades europeias ao Brasil, o que atrapalhava os negócios dos capitalistas e dava ao país uma imagem muito ruim no exterior.

A REFORMA URBANA Diante desse caos, surgiu a proposta de reestruturação dos grandes centros como São Paulo e, principalmente, Rio de Janeiro, que era a capital do Brasil. Para a classe dominante, era necessário sanear o Rio de Janeiro, elitizando a cidade. Essa tarefa foi encarada pelos presidentes Campos Sales (18981902) e Rodrigues Alves (19021906) em parceria com Francis-

co Franco Pereira Passos, prefeito do Rio de Janeiro nomeado por Alves. O prefeito realizou uma operação de limpeza, conhecida como reforma urbana, que resultou na demolição de barracos e cortiços, expulsando do centro do Rio de Janeiro a população negra e pobre. Para isso, a legislação foi modificada, e Passos teve plenos poderes para que as autoridades judiciárias, federais ou locais, não pudessem revogar medidas e atos administrativos do município. Desse modo, teve o caminho livre para realizar demolições, despejos e interdições sem ser incomodado pela Justiça. A finalidade era tornar os grandes centros numa “Europa possível”. No caso do Rio, o objetivo era transformá-lo numa capital “nos moldes franceses”. A demolição das pensões e dos cortiços provocou uma imensa crise de habitação que elevou os aluguéis e pressionou as classes populares para os subúrbios e para cima dos morros que circundam a cidade.


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A S R E V O L U Ç Õ E S E R E V O LTA S D O

POVO BRASILEIRO

ESPECIAL

LEVANTE

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A revolta explode nas ruas do Rio

Para que isso desse certo, era necessário culpar a população pobre e negra pelas doenças. O médico Oswaldo Cruz foi o escolhido para coordenar a vacinação. Não houve preocupação alguma em garantir informação sobre as vacinas. Os trabalhadores tinham várias razões para não confiar nas agulhas do governo nas peles de suas crianças. Isso favorecia boatos como a de que a vacina seria na virilha, região

íntima. Vacinar pessoas não é semelhante à vacina de gado. Sem convencimento, praticamente ninguém compareceu aos postos de vacinação. Esse quadro contribuiu para que o Congresso aprovasse, em 1904, a Lei da Vacina Obrigatória, que autorizou os funcionários da saúde a vacinar todos os brasileiros a partir dos seis meses de idade. Quem não acatasse a ordem teria de pagar multas e seria demitido do tra-

balho. O projeto também exigia comprovantes de vacinação para a realização de matrículas nas escolas, viagens, hospedagens e casamentos. Os trabalhadores viram a vacinação como mais um ataque do governo, assim como as demolições de suas moradias e as propagandas racistas. Assim, entre 10 e 16 de novembro de 1904, a população foi para as ruas armada com paus, pedras e pedaços de ferro contra a vacinação obrigatória. Setores contrários ao presidente Rodrigues Alves, além do movimento operário, uniram-se à rebelião. Até cadetes das forças armadas fizeram parte dos protestos. O governo desarticulou o movimento, prendeu vários manifestantes e suspendeu a vacinação obrigatória contra a varíola. Tempos depois, em 1908, houve uma forte epidemia de varíola. O povo, convencido pela realidade, correu para os postos de vacinação.

Charge publicada na capa da revista O Malho, em 1904, mostrando os conlfitos de rua.

CONCLUSÃO

O que foi a revolta Não se pode compreender a Revolta da Vacina sem entender o contexto de exploração e opressão do povo negro e pobre do Rio de Janeiro. A população estava revoltada com os despejos provocados pela reforma urbana. Também estava cada vez mais oprimida pelas políticas racistas que levaram à marginalização dessa população. Desse modo, a campanha de vacinação foi encarada como mais uma ação desumana e autoritária do governo Rodrigues Alves. A insistência em resolver questões sociais com a polícia e com extrema violência contra a população mostra o desespero e o medo que a burguesia brasileira tem dos trabalhadores. Temia que o povo pobre e negro pudesse desa-

lojá-la do poder por meio de uma rebelião. Por isso, foi feita uma campanha de vacinação que tratava o povo pobre como animais e não como seres humanos que deveriam ser convencidos so-

bre a mesma. Graças a isso, milhares de pessoas, inclusive da própria burguesia, pagaram com a vida quando veio a epidemia de varíola em 1908. A Revolta da Vacina mostra, mais uma vez, que a burguesia nacional é totalmente cruel com os trabalhadores. São completamente submissos aos interesses econômicos do imperialismo e às suas teorias racistas que desqualificam a maioria da população brasileira. Um dos líderes populares da revolta foi Horácio José da Silva, mais conhecido como Prata Preta. Capoeirista e estivador, Prata Preta liderou os revoltosos na barricada do bairro da Saúde contra o exército. Foi preso e deportado para o Acre.

PARA

LER O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil Lilia Moritz Schwarcz

A abolição e a manutenção das injustiças: a luta dos negros na Primeira República brasileira Thiago Dantas da Silva e Maíra Rodrigues dos Santos

A revolta da vacina FIOCRUZ PARA

ASSISTIR Sonhos tropicais (2001) Direção: André Sturm


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Partido • Opinião Socialista

MEMÓRIA

Os 79 anos do assassinato de Leon Trotsky DA REDAÇÃO

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o dia 20 de agosto, completam-se 79 anos do atentado que tiraria a vida de Leon Trotsky. O assassinato foi cometido por um agente do stalinismo e pode-se dizer que não foi algo inesperado. Foi parte de um esforço para eliminar qualquer ligação entre os dirigentes da Revolução de Outubro e as gerações mais jovens

O ASSASSINO Ramón Mercader, o nome verdadeiro do assassino, era um agente da NKVD, serviço secreto soviético antecessor da KGB. Foi um crime longamente planejado pelo stalinismo. Mercader viajou para a URSS em 1937, lá permanecendo por seis meses. Depois, foi ao México, onde se aproximou de uma secretária de Trotsky, Sylvia Ageloff, com quem estabeleceu uma relação pessoal. A partir de então, apresentou-se ao velho revolucionário como um simpatizante de suas

Trotsky e sua esposa Natália Sedova

ideias. No dia do assassinato, entregou um texto para que Trotsky opinasse. Aproveitando-se de sua distração, assassinou-o golpeando-o na cabeça com um picador de gelo. Depois de sair da prisão, em 1961, Mercader foi condecorado na URSS com a medalha de Herói da União Soviética.

POR QUE MATAR TROTSKY O assassinato de Trotsky

era parte de uma política consciente de Stalin de eliminar qualquer ligação entre os velhos dirigentes da Revolução Russa de 1917 com as gerações mais jovens. Era a tentativa de cortar o fio de continuidade do marxismo revolucionário num momento em que se preparava uma nova guerra mundial com suas consequências revolucionárias. Havia a possibilidade de se construir uma alternati-

LUTA CONTRA A BUROCRATIZAÇÃO Ele não foi apenas um dos principais dirigentes da Revolução Russa ou o organizador do Exército Vermelho, como é lembrado de costume. Foi o primeiro a travar o combate à crescente burocratização do partido e do Estado operário soviético, que ameaçava as conquistas da Revolução de Outubro, que Lenin identificou, mas não teve tempo de combater em vida. Depois da morte de Lenin, dedicou sua vida a uma luta prática e teórica para libertar o movimento operário internacional da dominação stalinista.

Lançou-se numa batalha sem tréguas contra a burocratização e em oposição à desastrosa política da burocracia dirigida por Stalin. Para isso, o revolucionário russo organizou a Oposição de Esquerda e se opôs radicalmente à teoria do socialismo num só país defendida por Stalin. Trotsky sustentava que era impossível construir o socialismo limitado às fronteiras nacionais de um país economicamente atrasado como a Rússia. Como Lenin, acreditava que a Revolução Russa era só o princípio da revolução socialista mundial.

A IV INTERNACIONAL Trotsky dedicou os últimos anos de sua vida a construir uma alternativa à desastrosa política dos partidos comunistas, intervindo nos processos revolucionários. Realizou o que em sua própria opinião era o trabalho mais importante de sua vida: a construção da IV Internacional.

SAIBA

UM HOMEM SEM PÁTRIA

A perseguição implacável do stalinismo Em 1927, Trotsky foi expulso do partido comunista soviético. No início de 1928, foi deportado para o Cazaquistão. No ano seguinte, foi banido da URSS e sua condição de cidadão soviético foi cassada. Trotsky era um homem sem nacionalidade ou cidadania. Começava assim uma longa jornada de exílios e expulsões. Iniciou na Turquia, passou pela Noruega e pela França, até chegar, finalmente, ao México em 1937, único país que aceitou dar asilo ao revolucionário russo. Naquele momento, Stalin havia iniciado a campanha de terror com o objetivo de suprimir toda oposição contra a usurpação do poder feita pelo stalinismo. A grande maioria dos revolucionários bolcheviques que

va de direção revolucionária em torno do velho bolchevique russo. Trotsky pertenceu a uma geração de revolucionários sem precedentes na História. Uma geração que deu respostas teóricas e políticas desde a questões relacionadas à organização do partido revolucionário até a construção do poder de Estado pela classe operária.

MAIS

Quer saber mais sobre Trotsky? Trotsky está na moda. Virou personagem de uma série mentirosa na Netflix e é citado com frequência na imprensa. Afinal, quem foi Trotsky? Para esclarecer isso, separando o que é verdade do que é mentira, criamos uma série em nosso canal:

dirigiram a revolução ao lado de Lenin foram assassinados. Em 24 de maio de 1940, deu-se a primeira tentativa de assassinato de Trotsky. Um bando de assassinos stalinistas, liderados pelo pintor David Siqueiros, dis-

parou rajadas de balas contra a casa do revolucionário que escapou do atentado. Na segunda tentativa, conseguiram seu objetivo. Stalin havia finalmente liquidado o último dos grandes dirigentes da Revolução de Outubro.

“Trotsky, Vida, Obra e Luta”, apresentado pelo jornalista Bernardo Cerdeira. Você poderá conhecer a sua história, suas ideias, sua militância política e sua luta pela revolução socialista. Não deixe de conferir e se inscreva em nosso canal.


Opinião Socialista •

Internacional

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ARGENTINA

A derrota de Maurício Macri DA REDAÇÃO

N

o último dia 11, o governo de Mauricio Macri sofreu uma derrota esmagadora nas eleições primárias para a presidência da Argentina. Nesse tipo de eleição, os argentinos só podiam votar em uma das chapas. Cada eleitor escolheu uma cédula de um partido. Por isso, na prática, essas prévias servem como uma grande pesquisa eleitoral sobre o primeiro turno da votação, que acontece no dia 27 de outubro. Macri perdeu para a coalizão peronista Frente de Todos, liderada por Alberto Fernández e pela ex-presidente Cristina Kirchner. O resultado, porém, mostra que a classe trabalhadora e os setores humildes do povo argentino, junto com a classe média empobrecida, votaram maciçamente para expulsar Macri do poder. Diante desse resultado, o dólar disparou, as ações das empresas multinacionais e nacionais que operam na Argentina caíram, e a feroz remarcação de preços começou. Logo virão outro aumento das tarifas de gás, luz, água etc. e uma nova espiral inflacionária.

Acontece que tanto o FMI quanto os mercados estavam sustentando de forma artificial a economia doente para tentar colaborar com a candidatura de Macri. Antes mesmo de sua derrota, a fuga do capital já havia começado. Em seu discurso, Macri reafirmou o rumo econômico do país. Daqui até dezembro, data de entrega da presidência, a Argentina e o povo sofrerão um ataque brutal que reduzirá ainda mais seu padrão de vida. Haverá mais fome, desemprego e miséria.

QUERIDINHO DE BOLSONARO Macri é o queridinho da direta do continente americano, tendo ótimas relações com Bolsonaro, Doria, Trump e uma longa lista de políticos reacionários e entreguistas. O castigo que Macri recebeu nas urnas tem a ver com suas políticas antipopulares, de um governo que atacou os trabalhadores em defesa dos capitalistas. Suas principais medidas nesse sentido foram as reformas da previdência e trabalhista e o acordo com o FMI, que se traduziu em mais subordinação da Argentina aos interesses capitalistas inter-

nacionais. Nos últimos quatro anos de governo Macri, mais de um milhão de pessoas passaram para a pobreza, e o desemprego e o subemprego são uma realidade que atravessa a vida de milhões de pessoas. No contexto internacional, os resultados significam uma der-

NÃO DÁ PARA ESPERAR

Derrubar Macri e seu governo já! O que está levando a Argentina ao colapso social são as políticas neoliberais de Macri. Ele já anunciou um conjunto de medidas que significam um ataque brutal aos trabalhadores. Vai dedicar os últimos dias que restam do seu governo para implementar uma agenda política que vai resultar no fechamento de mais fábricas, em mais desemprego e inflação, enquanto as dívidas com o FMI vão crescer. A situação política da Argentina mudou completamente com a derrota de Macri. Por isso, a luta social no país não pode esperar até as eleições presidenciais de outubro, pois isso sig-

nificaria dar tempo a Macri e ao FMI para aprofundarem os ataques aos trabalhadores. É preciso ocupar as ruas e derrubar o governo Macri. Como diz em nota o PSTU argentino: “A CGT [principal central sindical

argentina] e os sindicatos têm de romper seus acordos com a patronal e o governo, declarar uma greve geral e um plano de luta para acabar com essa situação e convocar uma mobilização para a Plaza de Mayo”.

rota para Donald Trump e para o FMI, que foram e ainda são um importante respaldo para sustentar o governo Macri. Bolsonaro também ficou apavorado com a derrota de Macri que poderá levar o seu governo a um isolamento na América do Sul. Por isso, re-

agiu com suas declarações inundadas de xenofobia e preconceito ao comparar a Argentina com a Venezuela, dizendo que se Macri não vencer as eleições em outubro, o Rio Grande do Sul, estado fronteiriço, pode se tornar “um novo estado de Roraima”.

POR UMA SAÍDA DOS TRABALHADORES

Não podemos esperar até dezembro Leia um trecho da declaração do PSTU argentino que defende a derrubada imediata de Macri. Macri não pode governar um único dia se ele não tiver o apoio de Alberto Fernández e Cristina Kirchner. Eles têm o poder de segurá-lo ou fazê-lo cair. Exigimos que os vencedores da eleição reivindiquem a renúncia imediata do governo. Se Macri chegou até aqui, é porque a oposição e a CGT se recusaram a derrubá-lo antes. E se continuar até dezembro, será culpa deles. No entanto, Alberto Fernández já disse que Macri deve continuar até o final do mandato. Nós não podemos aceitar isso! Fora Macri já!

Exigimos a saída de Macri não porque acreditamos que um novo governo Kirchner vá resolver nossos problemas. Apenas um governo dos trabalhadores, baseado em suas organizações democráticas de luta, pode tomar as medidas de fundo e definitivas que os trabalhadores precisam (...). A queda desse governo pela mobilização deixará os trabalhadores em melhores condições para enfrentar o que está por vir, a necessidade de romper com o FMI e enfrentar todos os ataques que ele quer impor ao nosso povo.


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Movimento• Opinião Socialista

MOBILIZAÇÃO

O 13 de agosto e os descaminhos da luta contra Bolsonaro JÚLIO ANSELMO DO REBELDIA - JUVENTUDE DA REVOLUÇÃO SOCIALISTA

A

s manifestações do dia 13 de agosto foram um importante passo na luta em defesa da educação e da aposentadoria. Porém é preciso muito mais se quisermos derrotar os planos de Bolsonaro, que deseja transformar o país numa colônia dos EUA. O governo quer transformar o nosso povo em semiescravo. Faz reforma da Previdência, Medida Provisória que retira mais direitos trabalhistas, “Future-se” para privatizar as universidades, aumento do genocídio da juventude negra e violência contra os povos indígenas junto com destruição da Amazônia e privatização das riquezas do país. Diante disso, todas as movimentações das organizações que deveriam jogar-se de cabeça na luta se mostram muito abaixo do necessário para barrar a barbárie do governo.

APROFUNDAR A LUTA OU NEGOCIAR COM O GOVERNO? Se Bolsonaro ainda tem uma base de apoio, não é verdade que não há disposição de

luta por parte dos trabalhadores e da juventude. O movimento estudantil mostrou sua disposição para lutar e ser linha de frente na resistência.

QUAL É A SAÍDA?

O dia 15 de maio foi o maior exemplo disso. Para resolver a polarização social e política, ou o governo vence e derrota os trabalhado-

res ou os trabalhadores vencem e derrotam o governo. Sem preparar as lutas para já, só teremos a certeza da derrota. A luta é o caminho, mas as direções das centrais sindicais, à exceção da CSP-Conlutas, e a maior parte das organizações de esquerda preferiram o caminho das negociações. Os governadores do PT fizeram esse movimento de forma aberta com a reforma da Previdência. Algumas centrais sindicais também, como a Força Sindical, e outras de forma mais acanhada, como a CUT. A UNE chegou a se reunir com o ministro da Educação numa movimentação inútil, que mostra mais a ânsia de ficar pelos gabinetes e palácios do que a preocupação em mobilizar de fato. Tanto é que a movimentação da entidade segue baixíssima na base. Negam-se a estar a serviço da greve geral. Recusam-se a construir uma luta real com os trabalhadores. Vivem apenas de marcar atos de rua que não constroem.

REVOLUÇÃO X CONCILIAÇÃO

O movimento estudantil na encruzilhada Duas estratégias na luta dos trabalhadores

Para avançar, é preciso que o movimento estudantil se dê a tarefa de construir a unidade necessária com os trabalhadores para parar o país. É preciso aprofundar as mobilizações de rua, mobilizar escolas e universidades com paralisações, ocupações e greves. Há disposição dos estudantes para a luta, mas não há organização na base, sequer preocupação com isso. O papel dessas organizações burocráticas que traem ajuda a dispersar aqueles que querem lutar. Há um problema político grande para que as mobilizações ganhem o volume necessário e incendeiem o país. Cada vez mais a pauta “Lula Livre” divide a luta e gera repúdio em parte daqueles milhões que poderiam ir às ruas contra Bolsonaro.

Para angariar apoio da massa, é preciso que as pessoas compreendam que ir para a rua não tem nada a ver com defender Lula e o PT. Mas o PT faz exatamente o contrário. Tenta manipular as lutas da educação, por exemplo, e transformá-las em manifestações pró-PT. E aí a coisa toda desanda. A unidade para lutar está sendo surrupiada por aqueles que miram

apenas o calendário eleitoral e a volta do PT ao governo como suposta saída para o país. Defendemos a mais ampla unidade para lutar contra os ataques. Essa unidade deve ter como centro derrotar os ataques de Bolsonaro e colocar milhões em luta. Mas negociações, traições e desorganização estão minando a luta.

Os ricos devem pagar por essa crise que eles criaram. Temos de parar de pagar a injusta dívida pública para garantir investimentos em educação e aposentadoria. Expropriar as 100 maiores empresas e os grandes bancos que vivem de superlucros enquanto o povo fica na miséria. Diante do desgaste dessa democracia dos ricos, Bolsonaro vem querendo impor uma ditadura, o que só vai piorar ainda mais. Estamos na linha de frente contra a escalada autoritária de Bolsonaro e em defesa das liberdades democráticas. O PT segue com o mesmo projeto eleitoralista de alianças com os empresários. Querem voltar ao governo para repetir

o que fizeram: governar com a burguesia. São parte do sistema e defendem um capitalismo mais humano, o que é impossível. São também responsáveis pela situação que vivemos, ajudaram o fortalecimento da direita. Por isso, também não são a solução. A saída dos trabalhadores passa pelo repudio à estratégia de conciliação de classes do PT. Defendemos o poder na mão dos trabalhadores, em conselhos populares, construindo uma verdadeira democracia da classe trabalhadora, que seja capaz de aniquilar esse sistema. Só com essa revolução socialista será possível garantir as reivindicações dos trabalhadores, da juventude e do povo pobre.


Opinião Socialista

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mural ATÉ O SOCIALISMO!

ATÉ O SOCIALISMO!

Ricardo, Presente! Armando, Presente! No dia 17 de agosto, o camarada Armando Soares nos deixou. Armandovisk, como era chamado carinhosamente pelos militantes em homenagem a sua luta em defesa da revolução socialista, militou na Convergência Socialista e foi fundador do PSTU. Funcionário do Tribunal de Justiça Eleitoral, fundou o Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário do Estado do Pará (SINJEP-PA). “Parauara de orgulho, cheirando sempre a Patchuli, cultuava a culinária mais exótica das terras cabanas. Como disse,

Após anos de luta contra o câncer, Carlos Ricardo Silva nos deixou no último dia 12. Ricardo foi um militante histórico do PSTU. Veio da Liga Operária nos anos 1970, o grupo que está na raiz da Convergência Socialista, a principal organização que impulsionou a fundação do partido. Ricardo sempre foi mergulhado no mundo das artes, em particular no Teatro. Artista no sentido mais profundo e amplo do termo, ele não só nos ajudou a pensar sobre o tema, mas também a fazer arte e militar em torno dela. Quando necessário, escrevia documentos e textos defendendo suas ideias. De forma quase obsessiva, sempre tentou organizar núcleos, seminários etc. com artistas e agitadores culturais do partido.

eu já o encotrei lanhado por anos de luta de classes e satisfeito por assim viver, mas isso não me impede de falar assim tão próximo desse nosso camarada. Viramos parceiros, como qualquer um sempre o pode ter”, diz Atnágoras Lopes, camarada de partido e amigo. Armando estará sempre presente na luta em defesa do socialismo. Seguiremos seu exemplo e sua força na luta revolucionária em defesa da libertação da classe trabalhadora do julgo do capital. Armando, Presente! Hoje e sempre!

Socialista até a medula, organizou o sindicato da categoria, no qual militou por décadas. Para nosso prazer, ainda nos brindou com montagens, espetáculos e produções. Fez parte do grupo LGBT que participou do ato do Primeiro de Maio na Vila Euclides do final dos anos 1970. Ricardo estará eternizado no compromisso de que seguiremos adiante, levantando as mesmas bandeiras que ele ergueu, com orgulho, humor felino e disposição de menino, até quando já lhe faltavam forças. Eternizá-lo com o compromisso de que ergueremos sim o mundo livre e igualitário ao qual ele dedicou sua vida. Ricardo sempre estará presente entre nós. Presente no legado político, social, pessoal e artístico que nos deixou.

PARTIDO

PSTU realiza seminário “Marxismo e opressões” em todo o país No dia 28 de junho, foram encerradas as turmas dos seminários “Marxismo e Opressões” nas cidades de Recife (PE) e São Luís (MA). O seminário é parte dos estudos realizados no PSTU, iniciados em abril deste ano, em João Pessoa (PB), que se seguiram nas cidades de Porto Alegre (RS), São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG) e Belém (PA). Ainda ocorrerá nas principais capitais do país até o final do ano, envolvendo centenas de militantes . O seminário realiza o estudo teórico sobre as elaborações de Marx, Lenin e Trotsky, a relação entre exploração e as diversas formas de opressão que afetam a classe trabalhadora no sistema capitalista e o lugar que elas ocupam no programa socialista. São estudadas

as elaborações históricas de nossa corrente e comparadas com as elaborações do marxismo revolucionário. Por fim, as teorias que buscam refutar o método marxista na explicação do machismo, racismo, xenofobia e lgbtfobia, traçando uma resposta crítica a elas.

Desde 2014, surgiram inúmeros levantes por questões democráticas, tais como o movimento “Vidas Negras Importam” (2015), as mobilizações pelo direito à autodeterminação da Catalunha (2017), o levante das mulheres contra Trump nos EUA (2017), as manifestações “Ele não” contra Bolsonaro no Brasil (2018), o ascenso gigantesco pela legalização do aborto na Argentina (2019) e o chamado à greve internacional de mulheres que já marca os atos de 8 de Março há três anos. Vivemos um momento no qual emergem e se reciclam inúmeras teorias e programas: liberalismo, reformismo, stalinismo e pós-modernismo, que pretendem se apresentar como alternativa, tentando complementar o marxismo por um lado, desfigurando-o por outro e, na

maioria das vezes, negando-o. São ecletismos teóricos ou teorias diretamente burguesas que não asseguram (algumas sequer se propõem a fazê-lo) uma saída estratégica e definitiva para os oprimidos da classe trabalhadora. Apresentar uma saída revolucionária para a luta contra as opressões no marco da luta pelo socialismo, estar à altura dos desafios da realidade, ser um contraponto a toda ideologia que promete uma saída para libertar as mulheres, negros e LGBTs por dentro do capitalismo e se apresentar como uma alternativa para os oprimidos da classe trabalhadora: esses são os desafios para os quais os revolucionários de nosso tempo estão sendo chamados. Os seminários são passos valiosos em direção a esse caminho.


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Cultura • Opinião Socialista DA REDAÇÃO

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ascido em Salvador, em 28 de junho de 1945, Raul Seixas cresceu cercado de livros e, ainda adolescente, foi embalado, simultaneamente, pelos xotes e baiões, particularmente de Luiz Gonzaga, e pelo rock de Elvis Presley, Little Richard e Chuck Berry. O esquisitão que nunca fez muito esforço para se enquadrar nos padrões sociais, Raul se transformou num ícone nacional, uma verdadeira lenda, que 30 anos depois de sua morte continua vendendo 300 mil discos por ano e empolgando uma multidão de seguidores. Suas músicas e letras estão cheias de referências autobiográficas, marcadas por uma espécie de esoterismo anárquico, e ao mesmo tempo recheadas de críticas à sociedade. Isso fez dele o amalucado porta-voz de um setor da sociedade que buscava alternativas diante da repressão da ditadura militar, do consumismo capitalista e da mediocrização do ser humano.

DESOBEDIÊNCIA E CRIATIVIDADE Radical no melhor sentido da palavra, Raul Seixas era uma espécie de trovador fora do tempo e do espaço. Comportando-se como uma daquelas figuras da Idade Média que recolhiam histórias das margens da história oficial e as transformavam em poesias cheias de ironia, sensualidade e visão crítica, o cantor repetia que tudo o que criava era resultado de sua convicta postura de desobediência diante da lógica do mundo. O primeiro sucesso veio em 1972, quando a música “Let me sing, let me sing”, uma mistura de rock com baião que Raulzito interpretou travestido de Elvis Presley – ficou entre as classificadas no 7º Festival Internacional da Canção. No ano seguinte, Raul emplacou um de seus maiores e mais fantásticos sucessos, “Ouro de tolo”, com uma letra em que aspectos autobiográficos se misturam com a mais debochada crítica à ditadura, ao “milagre econômico” e à censura. VIVA A SOCIEDADE ALTERNATIVA! Essa busca ganhou verdadeiros hinos em 1974, com o lançamento do disco Gita. Além da música-título e de outras belíssimas, como “Medo da Chuva”

O eterno maluco beleza 30 ANOS SEM RAUL SEIXAS

e “Trem das Sete”, o disco trazia a anárquica “Sociedade Alternativa”, que se transformou em sucesso imediato entre a juventude. “Faze o que tu queres, há de ser tudo da lei”, foi uma ousadia que não passou despercebida pela repressão: Raul foi preso e acabou exilando-se nos Estados Unidos. A volta ao Brasil foi marcada por uma sequência de discos bem-sucedidos, lançados entre 1975 e 1977,

como “Novo Aeon”, “Há 10 Mil Anos Atrás” e “O Dia Em Que a Terra Parou”, música que celebra uma espécie de greve geral, além da música que se tornou o verdadeiro sinônimo do artista: “Maluco Beleza”.

“ALUGAR O BRASIL” Cada vez mais celebrado por jovens que se rebelavam contra a ditadura das for-

mas mais distintas, seja pela ruptura com os padrões de comportamento, seja pelo engajamento na luta política, Raul respondia à altura, compondo músicas que se transformaram em manifestos de uma época, como “Aluga-se”. Lançada no disco Abra-te Sésamo (1980), era uma mordaz ironia à dívida externa do país que engordava o bolso dos estrangeiros. O refrão, “nós não vamos pagar nada”, tornou-se um hino contra a dívida na época. A letra da canção nunca foi tão atual quanto nestes tempos em que Bolsonaro e Paulo Guedes afirmam aos quatro ventos que “a solução é alugar o Brasil” para os gringos.

ÚLTIMOS SUCESSOS Em 1984, Raul lançou Metrô Linha 743, cuja música-título, com versos cortantes como “Eu morri e nem sei mesmo qual foi o mês”, mostravam a amargura do cantor. O último grande sucesso veio com “Cowboy Fora da Lei”, lançada em 1987, num disco que trazia o impagável título de Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum!. Os trabalhos seguintes, como A Pedra do Gênesis (1988) e A Panela do Diabo (lançado em 1989) foram feitos em meio a uma situação de crescente deterioração das condições físicas de Raul, atingido por pancreatite e hepatite crônicas, uma situação que o levou a uma fatal parada cardíaca em 21 de agosto de 1989. TOCA RAUL! Autor de frases como “O homem é o único ser que tem o poder de modificar as coisas” e “A desobediência é uma virtude necessária à criatividade”, Raul Seixas foi uma figura inigualável na história de nossa música e, por isso mesmo, continua sempre atual. Dotado de uma paixão desenfreada pela vida, de capacidade de se metamorfosear permanentemente e de uma (nem sempre) lúcida maluquez, Raulzito não só marcou uma época, como continua a embalar os corações e mentes de todos aqueles que sonham e lutam por uma sociedade alternativa. É exatamente por isso que, em pleno século 21, é praticamente impossível que uma noitada num boteco com música ao vivo, uma festa ou um show que reúna gente antenada com o mundo possa acabar sem que alguém encha os pulmões para gritar: “Toca Raul!”.


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