Espanhol & Ensino: relatos de pesquisas

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condições e peculiaridades locais. No entanto, o que temos observado nos dias atuais é que, apesar de existir uma obrigatoriedade do ensino do espanhol a nível nacional, esta lei ainda não está vigorando, de fato, até o momento no Estado da Bahia, e de forma específica, na cidade de Salvador, assim como em outras partes do país. Por esta razão elaboramos um projeto pedagógico, incentivado e respaldado pelo Curso de Graduação da UFBA, com a finalidade de contribuir neste cenário em que estamos incluídos, através da elaboração de um curso que permitisse aos alunos da escola pública ter acesso à língua espanhola.

Refletindo um pouco sobre o Interculturalismo e Multiculturalismo O Interculturalismo e Multiculturalismo são abordagens de ensino/aprendizagem que argumentam que ensinar uma língua estrangeira não é apenas se ater a aspectos linguísticos, mas sim associá-los à cultura a qual eles representam. Em síntese, língua é cultura. Mota (2004, p. 37) nos lembra, através de citação de Bourdieu, que a “linguagem não é só um capital cultural, mas também um capital simbólico, que atua de acordo com as dinâmicas de relações de poder que trazem prestígio político e hierarquia social”. Ao falar do multiculturalismo no livro Recortes Interculturais na Sala de aula de Línguas Estrangeiras, Mota (2004) afirma que o ensino e cultura em sala de aula, devem tentar estabelecer o diálogo sobre os conteúdos culturais que circulam nas práticas de ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras, além de levantar as seguintes questões: a) De que forma os professores de LE têm incentivado - talvez até de forma inconsciente - a exclusão das identidades dos alunos rejeitando suas tradições culturais? ; b) Como o ensino de LE pode abarcar culturas locais, ou outras culturas que não têm tido voz durante esta práxis, contribuindo para a formação de uma sociedade mais coligada? O multiculturalismo aparece com a roupagem de um processo de ensino/aprendizagem que tem como primazia a tolerância, na qual as comunidades sociais que não tinham voz na sociedade passam a ter maior destaque em alguns espaços de livros didáticos, ainda que em segundo plano, por meio de tarefas abordadas como curiosidades culturais, até então vistas como primitivas ou exóticas. Deste modo, concordamos com a pesquisadora quando ela afirma que este tipo de proposta pedagógica é incipiente e não fortalece, interfere, nem colabora na formação de um indivíduo crítico reflexivo, pois os conteúdos são abordados de forma superficial, como sendo um “círculo turístico”, que se caracterizam, pelo menos, por cinco tipos de enfoques que são a trivialização, o souvenir, as celebrações étnicas a estereotipagem e tergiversação. Em resumo: a presença figurativa de elementos culturais não assegura, ou pode, até mesmo, distorcer os princípios autênticos do movimento multiculturalista (ibid., p. 40-41). Logo, a pedagogia multicultural visa dar um maior crédito a voz do indivíduo/professor e do indivíduo/estudante, assim como promover um desenvolvimento dinâmico na sensibilidade


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