revista Mundo Escola

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tem acontecido um fenômeno perigoso no Brasil. “Temos observado que o aluno avança na escolaridade sem ter se alfabetizado”, analisa. Ele explica que esse “fenômeno” está relacionado com a experiência prévia da língua escrita a que o aluno é submetido. “É pior nas famílias carentes porque os pais não tiveram acesso à leitura, mas acontece também nas famílias que tem mais oportunidade, mas cujos pais não são leitores”, explica. A relação do processo de alfabetização da criança com a família não pode ser considerada um fator isolado. Para Faraco, a família, sem dúvida, favorece o processo de compreensão da linguagem. Uma situação que vai acontecer mais tarde na escola, mas que é importante que seja trabalhado naturalmente desde cedo, no ambiente familiar. “Já na escola, acho que os professores se concentram muito em métodos e menos no processo social do letramento. A pedagogia da escola pública está defasada porque não considera que o processo de alfabetização envolve tudo, incluindo o meio social e não apenas um método específico”, conclui. Para a diretora do departamento de Ensino Fundamental da Secretaria Municipal de Educação de Curitiba, Nara Salamunes, a escola tem como papel básico formar um leitor, mas ela também não descarta a importância da família nesse processo. “Ensinar a ler é também ensinar a mergulhar nas práticas sociais onde a leitura acontece”, salienta. Ela defende que esse processo acontece desde muito cedo, quando a criança entende que as letras formam um conjunto de convenções, que informam coisas e que dependem de regras (na nossa cultura, da esquerda para direita, por exemplo). Identificadas essas habilidades na criança, que devem acontecer da forma mais natural possível, o aluno está pronto para participar do processo de leitura. “É importante compreender que a informação não está presente apenas nos livros didáticos, mas sim nas dinâmicas sociais”, diz. Para ela, quando mais cedo a criança aprender a ler as convenções sociais e criar um hábito de leitura, mais cedo ela estará apta a ser alfabetizada. “E a leitura nos faz desenvolver a capacidade de pensamento. É claro que não devemos acelerar o processo de alfabetização, mas sim incentivar a criança a vivenciar esse processo da forma natural e de acordo com a realidade dela”. Um estímulo que deve ser uma ação conjunta entre escola e família. É só começar.

Estímulo para leitura deve começar cedo Não existe idade certa para começar a gostar de ler. O estímulo, aliás, pode acontecer desde a mais tenra idade. A escritora e diretora do departamento de Tecnologia e Difusão Educacional da Secretaria Municipal de Educação de Curitiba, Maria Marilda Confortin Guiraud, aconselha que já sejam dados livros de material maleável, como tecido e borracha, desde cedo para as crianças. ''O importante é proporcionar o contato das crianças com os livros e mostrar que ler é um prazer, não uma obrigação'', salienta a educadora que realiza um trabalho de formação de agentes estimuladores da leitura dentro das escolas públicas. Sejam eles professores ou bibliotecários. ''O importante é que o adulto também goste de ler, para despertar esse prazer na criança'', reforça. Ela dá algumas dicas de como o prazer pela leitura pode ser despertado dentro da sala de aula: • Mesmo que a criança ainda não saiba ler,

ofereça livros para ela. Livros de materiais resistentes são ótimos para bebês manusearem. • Conte histórias para as crianças, desperte

atenção pelo tema e depois mostre o livro. Faça a relação entre a história oral e a escrita. • Use livros de histórias para complementar

o conteúdo trabalhado. A literatura sempre pode ser usada como recurso pedagógico. • Não importa a faixa-etária. Deixe que a

criança escolha o livro de acordo com a sua maturidade. • Desperte a autoestima das crianças

emprestando livros para ela. Incentive a criança a contar a história para família e mostre o quanto é importante cuidar da obra para que outras pessoas possam lê-la. • Leitura não é castigo. Realize atividades

em que os livros sejam complemento da atividade e transporte a criança para um mundo lúdico.

. abril 2009

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