Revista Perini Edição 11

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FOTOS: DEKLOFENAK E JAMES STEIDL / FOTOLIA

Com o tempo, gradativamente, o glamour foi diminuindo, a plateia foi ficando menos educada e a sala de cinema sofreu uma modernização completa (...) Porém, nesta atual configuração, não foi levado em conta o comportamento do público e, inexplicavelmente, a figura do lanterninha deixou de existir

O mundo mudou, o cinema também. Falei um pouco sobre isso na edição passada, mas analisei pelo viés econômico. Acontece que também está diferente a maneira pela qual as pessoas enxergam a experiência de ir a uma sessão de cinema. Antigamente, ir ao cinema era um verdadeiro evento. As melhores roupas, homens com cabelos e barbas impecáveis, mulheres elegantes. Em um universo sem muitas opções de lazer, o cinema reinava absoluto. E ainda dava oportunidade de, em uma época difícil de se viajar, conhecer outros países e seus costumes. Tudo funcionava bem e filmes eram vistos no mais completo silêncio. Alguns assovios eram escutados nas cenas mais calientes, mas nada além disso. Ainda assim, havia a figura do “lanterninha”. Para os mais contemporâneos que sequer sabem o que isso significa, eu explico: era algo como um inspetor que, com sua lanterna, tinha a função de manter a ordem em uma sessão de cinema e repreender e até expulsar aqueles que não se comportassem e que, por isso, atrapalhavam o divertimento alheio. Com o tempo, gradativamente, o glamour foi diminuindo, a plateia foi ficando menos educada e a sala de cinema sofreu uma modernização completa. Os cinemas tipo “multiplex” (novo padrão das salas) possuem sistema de som e imagem de altíssima qualidade e as poltronas são extremamente confortáveis. Porém, nesta atual configuração, não foi

levado em conta o comportamento do público e, inexplicavelmente, a figura do lanterninha deixou de existir. Fatores econômicos ou simplesmente uma ação comportamental? O fato é que o lanterninha saiu de cena quando mais se precisa dele. Hoje em dia, essa falta de educação de alguns frequentadores é um fator que afasta ainda mais as pessoas do cinema. Ninguém gosta de sair de sua sala, com sofá aconchegante, blu-ray e home theater, para ser importunado em uma sala de cinema. É uma cena mais que comum ver pessoas falando ao telefone celular, narrando o filme, antecipando cenas, jogando comida por todos os lados. Enfim, atrapalhando a sessão. Desde o momento de comprar o ingresso até o the end, temos de aturar esses tipos inadequados. Sessões matinê e corujão ficaram mais atrativas, pois nelas a possibilidade de se encontrar alguém que não esteja querendo mesmo ver o filme é reduzida. Aquelas que acontecem no início da noite são as mais conturbadas. Pense na cena: uma horda de adolescentes entra e, por azar do destino, se senta próximo de onde você está, e conversa, ri, grita e muito mais. Você pensa que aquilo vai acabar com o fim dos trailers, mas isso não acontece. Ao contrário, piora. Já presenciou essa cena? E nessa hora, onde está o lanterninha? A quem reclamar? Volta lanterninha, volta!

Lula Tdscko é cinéfilo declarado e tem orgulho de ser apontado como “aquele cara fera em cinema”. Colecionador de revistas especializadas há 23 anos, ele possui todos os filmes a que assistiu nos últimos 21 anos: clássicos de Hollywood, nacional, cult, drama, terror ou infantil. perini@profashional.com.

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