Edição 421

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Municípios Potiguar Notícias | Edição 422 | Parnamirim, 30 de abril de 2012 - segunda-feira

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Antônio de Almeida: Figura conhecida e folclórica em Macaíba Pág. 6

CULTURA

“Seu Poti”: Pioneiro nas charges e HQs em jornais Da ReDação Do PN

Assim como o Modernismo surgiu tardiamente no RN, nos anos 50, nas artes visuais (através do artista Newton Navarro), situação parecida ocorreu com a nona arte (histórias em quadrinhos – ou simplesmente HQ), em 1959. E foi através de um jovem desenhista natalense, de nome José Potiguar Pinheiro, curiosamente chamado “Poti”, então com 30 anos de idade. De acordo com pesquisadores, o debute da nona arte potiguar se deu nas páginas do suplemento “Recreio”, do Diário de Natal, que saía sempre às terças-feiras, sob o comando de Serquiz Farkatt. Tratava-se de uma página semanal de diversões, dedicada às crianças, apresentando contos infantis, passatempos, poesias, curiosidades e até uma “Enciclopédia Mirim”. E foi nessas páginas que Poti desenhou “O fogo através dos tempos”, considerada por muitos como sendo a primeira HQ feita pela prata da casa. O artista também produziu charges e caricaturas de personalidades da capital. José Potiguar Pinheiro nasceu no dia 1º de dezembro de 1928, na Rua Frei Miguelinho, no bairro da Ribeira, em Natal. Filho do conta-

dor Aimbire Pinheiro e Elita Pinheiro, era o segundo dos cinco filhos do casal, recentemente falecido. São seus irmãos Osíris, Aimbire Filho, Manoel e Tertuliano Pinheiro (ex-secretário de Turismo de Natal). Casou-se com Diva Amorim Pinheiro, 80 anos, com quem teve os filhos José, Jaíra, Jacira, João, Josir e Jonir; além de 3 netos e 2 bisnetos. O desenhista conta que adquiriu o gosto pelas artes quando ainda era criança entre 7 e 8 anos. Sua infância foi vivida no Cine Royal (onde hoje é o prédio da Prefeitura de Natal), juntamente com seu irmão Osíris. Lá, via jornais que traziam tiras de Popeye (1929) e outros personagens norte-americanos. Mas não os comprava. “Eu também só ia liso...”, sorriu. Devido à amizade de sua mãe com a esposa do lendário Luiz Romão, dono da Agência Pernambucana, banca especializada na venda de livros e revistas, Poti recebia a chave da loja e deliciava-se vendo revistas em quadrinhos da época. “O Tico-Tico pra mim foi tudo”, mencionou, acrescentando os personagens que lhe encantavam, como Zé Macaco, Faustina e Reco-Reco. Ou seja, foi através da criatividade de um ex-gazeteiro

“Seu” Poti busca por apoio para registrar seu trabalho que estimulou Poti ao gosto pela leitura, em plena era do rádio. Numa época em que não existiam bancas de jornais e revistas na cidade, Luiz Romão trouxe, de Recife para Natal, na década de 30, jornais e revistas do eixo RioSão Paulo para vender na sua loja, na Ribeira. Antes disso, quem desejasse ler um jornal ou uma revista, só era possível se alguém chegasse de viagem e trouxesse. A partir daí, o menino Poti

foi procurando por mais quadrinhos. Ele lembra que adquiriu um álbum de luxo do “Fantasma Voador” (na verdade, o Fantasma, de Lee Falk, que, no Brasil, foi publicado, pela primeira vez, em 1937, nas páginas da Edição Extraordinária do Correio Universal). “Ele voava de um mastro e agarrava-se com os piratas. Eu achava bom!”, recorda-se, referindo-se aos Piratas de Singh, inimigos do “Espírito-que-anda”.

Além do Fantasma, seus personagens de HQs preferidos são Tarzan, Mandrake e Flash Gordon. “Eu fui a Marte muitas vezes com Flash Gordon!”, fantasiava. Os quadrinhos foram a fonte de sua inspiração para o desenho. Mas Poti diz que recebeu um grande incentivo de sua avó paterna Nila Pinheiro, sempre que o via desenhando. “Continue assim, que você vai ver uma coisa”, falava a senhora, estimulando o neto. O futuro chargista iniciou seus estudos numa escola particular, cujo professor era Fontes Galvão. Depois, submeteu-e ao exame de admissão no Atheneu Norte-RioGrandense. Em meados da década de 1940, foi contratado para trabalhar no Banco Comércio e Indústria NorteRio-Grandense S/A (antiga Casa Bancária), até se aposentar nos anos 80. Paralelo ao seu trabalho de bancário, José Potiguar se tornou professor de desenho geométrico da rede estadual de ensino, na década de 50, lecionando em várias escolas da capital, entre elas o Colégio Sete de Setembro. Ao observar o jovem artista dar forma a figuras através do seu traço, Oscar Nogueira Fernandes convidou Poti para ser professor do estabelecimento de en-

sino do seu pai Nogueira Fernandes. “Eu metia o pau em Dinarte Mariz. Ele gostava de viajar. Aí, eu o fiz fantasiado de cachorro e ia pra lua”, citou. Estas e outras charges eram feitas para satisfação pessoal, assim como muitos artistas o fazem, devido não ter como publicá-las. A porta de entrada na mídia potiguar se deu através de Roberto Guimarães, clicherista do Diário de Natal, que, por sua vez, apresentou o trabalho de Poti ao diretor Luiz Maranhão. “Me deu aquele estalo e eu levei um desenho (tira) para ele (Roberto)”, relatou Poti. É do cartunista, por exemplo, a criação do garoto-propaganda “Chagas”, do extinto Supermercado São José, nos anos 90. O nome do personagem foi colocado em homenagem a um vizinho, por conta da sua semelhança com o cartum. Poti tem um sonho a realizar: publicar um livro com suas charges, jogos e curiosidades. Mas não o fez ainda por falta de patrocínio. Infelizmente, os trabalhos não são datados e nem o artista faz idéia de quando os produziu. Portanto, atenção, instituições culturais: o registro do trabalho do nosso primeiro quadrinista é um dever moral para a cultura potiguar.


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