Os 10 Melhores do Rock Gaúcho

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especial

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oram 50 personalidades consultadas, entre músicos, críticos, jornalistas e produtores. No total, mais de 80 títulos citados. Tudo para descobrir quais são

os melhores discos da história do rock gaúcho. Cada votante convidado por APLAUSO indicou os cinco melhores álbuns, em ordem de preferência. O melhor de cada um recebeu cinco pontos. O segundo melhor, quatro. E assim por diante, até o quinto melhor, que recebeu um ponto. A seguir, estão destacados os dez discos com a melhor pontuação. O resultado trouxe diversas surpresas, a começar pelo vencedor. A Sétima Efervescência, de Júpiter Maçã, lançado em 1996 pelo selo Antídoto/ACIT, não só amealhou mais pontos como foi o disco mais citado – 26 vezes. Além disso, com 73 pontos, garantiu distância folgada do segundo colocado, Por Favor, Sucesso (1969), da lendária Liverpool, que somou 51 pontos. Primeira grande banda de rock do RS, o Liverpool teve declarada influência (o nome já sugere) dos Beatles. Na década de 70, os mesmos integrantes formariam outro grupo que, com um som influenciado pelo rock progressivo, também fez história – e aparece no ranking: Bixo da Seda. Porém, a expressão “rock gaúcho” – polêmica, por sinal – começou a fazer sentido mesmo só nos anos 80, época do boom do rock nacional. As coletâneas Rock Garagem (1984) e Rock Grande do Sul (1986) apresentaram a primeira geração propriamente dita de bandas locais. Os Engenheiros do Hawaii (e o Nenhum de Nós, de forma passageira) conseguiram sucesso no país, enquanto as demais tiveram apenas incursões além do Mampituba, e até hoje a pergunta permanece: o que há de gaúcho no rock gaúcho? A resposta está em alguns registros dessa geração que figuram no ranking, como Replicantes,TNT, Cascavelletes e De Falla. Foi essa mesma turma que montou a cultuada Graforréia Xilarmônica, que estreou em disco nos anos 90, com o hino Amigo Punk – e que também aparece entre os dez mais. Na segunda metade dessa década, surgiu uma nova leva de bandas, como Bidê ou Balde e Cachorro Grande. Mas é a Ultramen, com uma sonoridade que foge do que se esperaria de uma banda “gaúcha”, a única delas a figurar no ranking, com um disco lançado no sintomático ano 2000. Apesar de também recente, o título vencedor é assinado por um músico de longa ficha corrida no rock gaúcho. Júpiter Maçã é como prefere ser chamado Flavio Basso, ex-TNT e Cascavelletes. A Sétima Efervescência foi seu primeiro trabalho solo (em 2007, ele deve lançar o quarto, Uma Tarde na Fruteira, que já tem faixas circulando nas rádios e na internet). A importância do álbum está na sonoridade e no visual sessentistas,

Os 10 melhores discos do

ROCK ´ GAUCHO A pedido de APLAUSO, 50 músicos e especialistas elegem os álbuns mais importantes e influentes já realizados no Rio Grande do Sul, em um ranking repleto de surpresas. Confira quem ganhou e quem ficou de fora

que praticamente deram o tom do rock gaúcho desde então, influenciando até o modo de os músicos se vestirem. Confira, nas próximas páginas, detalhes e curiosidades sobre os discos, além de descobrir quais são os piores álbuns

FÁBIO PRIKLADNICKI fabio@aplauso.com.br

na opinião do júri e como foi a votação do júri popular, em

CRISTIANO BASTOS

enquete realizada em parceria com a rádio Ipanema FM.

jornalista, co-autor de Gauleses Irredutíveis – Causos e Atitudes do Rock Gaúcho

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#01 A SÉTIMA EFERVESCÊNCIA (1996) – JÚPITER MAÇÃ

Arte sobre foto de Daniel Feix

73 PONTOS No regresso de uma jornada relâmpago pelo folk dylanesco,

Jovem Guarda – em menor escala, mas também presente”.

no começo da década de 90, como Woody Apple, o compo-

Um dos grandes predicados do álbum, comenta, é que

sitor Flavio Basso (ex-Cascavelletes e TNT) inaugurou sua

amalgama ingredientes dos demais discos indicados pelo

fase elétrico-psicodélica ao empunhar novamente a guitar-

júri na votação – da psicodelia-tropicalista do Liverpool ao

ra e assumir a alcunha de Júpiter Maçã. Montou a banda

punk minimalista dos Replicantes, em direção ao pós-tudo

Júpiter Maçã & os Pereiras Azuiz e gravou a fita demo Ao

da Graforréia Xilarmônica.

Vivo na Brasil 2000 FM, de 1995, que já antecipava parte

Em Porto Alegre, o impacto de A Sétima Efervescência

das músicas que entrariam no repertório de A Sétima Efer-

extrapolou as esferas musicais e passou a ditar mudanças

vescência, lançado pelo selo Antídoto/ACIT.

de caráter visual: desde então, as ruas da capital (e do

No estúdio, a lisergia das canções originais foi valoriza-

bairro Bom Fim em especial) foram tomadas de assalto por

da com sofisticadas orquestrações arranjadas pelo músico

um esquadrão de jovens metidos em terninhos de brechó e

Marcelo Birck e partipações especiais de Frank Jorge (ex-

penteados beatle. Muitos formaram bandas que emulam

Graforréia Xilarmônica e Cascavelletes) e do produtor Thomas

as referências mod resgatadas do túnel do tempo por

Dreher. O clima de psicodelia e ousadia experimental está

Júpiter Maçã. Mas a influência também foi sonora: o hino

presente em todas as faixas do disco: em Pictures and

Lugar do Caralho foi gravado por Wander Wildner e Miss

Paintings, Querida Superhist x Mr Frog e The Feaking Alice

Lexotan 6mg Garota ganhou uma versão da banda Ira!

(Hippie Undergroove), a consciência perturbadora de Syd

O ex-Replicantes Carlos Gerbase considera A Sétima

Barrett influencia diretamente o artista. No encarte do dis-

Efervescência um disco clássico porque está ligado a uma

co, cuja produção é de Egisto dal Santo, Júpiter faz uma

tradição estética que Júpiter Maçã foi capaz de superar, ou

deferência aos gnomos de estúdio “que mexiam nos con-

até negar, para que pudesse existir plenamente: “As idéias

troles, sem autorização, para melhores resultados”.

musicais do Flavio – ou do Júpiter, como queiram – são

Na visão do jornalista Fernando Rosa, A Sétima Efer-

radicalmente novas”. Além disso, ele completa, foi gravado

vescência, além de ser um grande disco, sintetiza todo o

com excelente qualidade técnica e, muito mais importante,

chamado “rock gaúcho”: “Ali está a paixão gaudéria pela

registrou o momento de exceção de um artista, “o que

década de 60, a psicodelia intravenal de Syd Barrett e a

significa que ele terá vida muito longa”.

JÚPITER MAÇÃ Com A Sétima Efervescência, ele definiu a direção do rock feito no Rio Grande do Sul

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especial

QUEM VOTOU

EM QUEM

Alemão Ronaldo (Bandaliera) Alexandre Matias (jornalista, colaborador Bizz, Folha de S. Paulo) Andrio Maquenzi (Superguidis, vocalista e guitarrista) Arthur de Faria (músico, pesquisador, radialista da Pop Rock) Beto Bruno (Cachorro Grande, vocalista) Biba Meira (ex-De Falla, baterista) Carlinhos Carneiro (Bidê ou Balde, vocalista) Carlo Pianta (Graforréia Xilarmônica, baixista e guitarrista) Carlos Branco (produtor, grav. Barulhinho) Carlos Eduardo Miranda (produtor, ex-gravadora Trama) Carlos Gerbase (ex-Replicantes, baterista) Claudinho Pereira (DJ, radialista) Cláudio Cunha (radialista, Ipanema FM) Diego Medina (ex-Video Hits, vocalista e guitarrista) Duca Leindecker (Cidadão Quem, vocalista e guitarrista) Edinho Espíndola (ex-Liverpool e Bixo da Seda, baterista) Eduardo Santos (radistalista, Ipanema FM) Edu K (De Falla, vocalista) Egisto Dal Santo (músico e produtor) Eron Dalmolin (radialista, Atlântida FM) Fabrício Nobre (diretor grav. independ. Monstro Discos, prod. festivais) Fernando Rosa (jornalista, criador editor do site Senhor F) Frank Jorge (músico e compositor) Gilmar Eitelwein (jornalista, pesquisador) Gustavo “Mini” Bittencourt (Walverdes) Gustavo Telles (Pata de Elefante, baterista) Jimi Joe (músico e jornalista) Juarez Fonseca (jornalista) Julio Fürst (produtor, radialista da Itapema FM) Julio Reny (músico e compositor) Kátia Suman (radialista da Ipanema FM) Léo Henkin (Papas da Língua) Luciano Marsiglia (editor revista Bizz) Luis Porsche (programador Unisinos FM) Marcelo Birck (músico e compositor, ex-Graforréia Xilarmônica) Marcelo Ferla (jornalista, crítico musical) Marcio Petracco (músico, ex-TNT) Mery Mezzari (radialista da Ipanema FM) Mauro Borba (radialista da Pop Rock) Mutuca (músico e compositor) Pedro Verissimo (Tom Bloch, vocalista) Plato Divorak (músico e compositor) Rafael Malenotti (Acústicos & Valvulados, vocalista e guitarrista) Raul Albornoz (produtor, gravadora ACIT) Ricardo Barão (produtor) Silvio Essinger (jornalista, escritor, produtor carioca) Thedy Corrêa (Nenhum de Nós, vocalista) Thomas Dreher (produtor, músico) Tonho Crocco (Ultramen, vocalista) Wander Wildner (músico, ex-Replicantes)

1º LUGAR

2º LUGAR

Ao Vivo (1991) – Bandaliera O Futuro É Vórtex (1986) – Replicantes

Rock Garagem (1984) – Vários A Revolta dos Dândis (1987) – Engenheiros do Hawaii Histórias de Sexo e Violência (1987) – Replicantes Saracura (1982) – Musical Saracura

TNT 1 (1987) – TNT A Sétima Efervescência (1996) – Júpiter Maçã Coisa de Louco II (1995) – Graforréia Xilarmônica A Sétima Efervescência (1996) – Júpiter Maçã As Próximas Horas Serão muito Boas (2004) – Cachorro Grande TNT 1 (1987) – TNT Amnésia Global (2003) – Plato Divorak e Frank Jorge Ao Vivo na Brasil 2000 FM (1995) – Júpiter Maçã & Os Pereiras Azuiz Julio Reny e Expresso Oriente (1990) Último Verão (1983) – Julio Reny

Amnésia Global (2003) – Plato Divorak e Frank Jorge Por Favor, Sucesso (1969) – Liverpool De Falla 2 (1988) – De Falla De Falla 2 (1988) – De Falla A Sétima Efervescência (1996) – Júpiter Maçã Demo da Vórtex (1987) – Cascavelletes Por Favor, Sucesso (1969) – Liverpool Demo da Vórtex (1987) – Cascavelletes A Sétima Efervescência (1996) – J. Maçã Por Favor, Sucesso (1969) – Liverpool Rock Grande do Sul (1986) – Vários Marcelo Birck (2000) – Marcelo Birck

A Sétima Efervescência (1996) – Júpiter Maçã Demo da Vórtex (1987) – Cascavelletes De Falla 1 (1987) – De Falla Último Verão (1983) – Julio Reny Bixo da Seda (1976) – Bixo da Seda Fita demo Com Amor Muito Carinho (1988) – Graforréia Xilarmônica O Futuro É Vórtex (1986) – Replicantes Bixo da Seda (1976) – Bixo da Seda Rock Garagem (1984) – Vários

Xeque-Mate (2002) – Fughetti Luz

A Sétima Efervescência (1996) – Júpiter Maçã Cheiro de Vida (1984) – Cheiro de Vida

TNT 1 (1987) – TNT

Olelê (2000) – Ultramen

Kingzobullshitbackinfulleffect92 (1992) – De Falla Último Verão (1983) – Julio Reny

A Sétima Efervescência (1996) – Júpiter Maçã Calendário da Imaginação (1988) – Plato Divorak Bixo da Seda (1976) – Bixo da Seda Cachorro Grande (2001) – Cachorro Grande Anticontrole (2002) – Walverdes

Por Favor, Sucesso (1969) – Liverpool Me Chamam Curto Circuito (1999) – Bebeco Garcia A Sétima Efervescência (1996) – Júpiter Maçã Fita demo Com Amor Muito Carinho (1988) – Graforréia Xilarmônica Por Favor, Sucesso (1969) – Liverpool Bixo da Seda (1976) – Bixo da Seda Rock Grande do Sul (1986) – Vários A Sétima Efervescência (1996) – Júpiter Maçã Por Favor, Sucesso (1969) – Liverpool Alívio Imediato (1989) – Eng. Hawaii Bixo da Seda (1976) – Bixo da Seda TNT 2 (1988) – TNT Uma Tarde na Fruteira (2006) – Júpiter Maçã TNT 2 (1988) – TNT Kingzobullshit...92 (1992) – De Falla De Falla 2 (1988) – De Falla Marcelo Birck (2000) – Marcelo Birck De Falla 1 (1987) – De Falla Saracura (1982) – Musical Saracura De Falla 2 (1988) – De Falla Por Favor, Sucesso (1969) – Liverpool TNT 1 (1987) – TNT Doces, Refrescos e Tratamentos Dentários (2000) – Video Hits Por Favor, Sucesso (1969) – Liverpool Demo da Vórtex (1987) – Cascavelletes De Falla 1 (1987) – De Falla Bixo da Seda (1976) – Bixo da Seda A Revolta dos Dândis (1987) – Engenheiros do Hawaii Aqui (1975) – Almôndegas 2 Violão e 1 Balde (2003) – Irmãos Panarotto De Falla 2 (1988) – De Falla Saudade do Futuro (2005) – Jimi Joe

Por Favor, Sucesso (1969) – Liverpool

LUGAR

De Falla 1 (1987) – De Falla O Futuro É Vórtex (1986) – Replicantes Longe Demais das Capitais (1986) – Engenheiros do Hawaii Aristhóteles de Ananias Jr. (1996) – Aristhóteles de Ananias Jr. Totalmente Rock (1985) – Taranatiriça Armazém de Mantimentos (2002) – Bataclã FC Demo da Vórtex (1987) – Cascavelletes Demo da Vórtex (1987) – Cascavelletes De Falla 1 (1987) – De Falla Olelê (2000) – Ultramen Outubro ou Nada! (2002) – Bidê Ou Balde Almôndegas (1975) – Almôndegas

Bixo da Seda (1976) – Bixo da Seda Olelê (2000) – Ultramen

A Sétima Efervescência (1996) – J. Maçã Carecas da Jamaica (1987) – Nei Lisboa De Falla 2 (1988) – De Falla Buenos Dias! (1999) – Wander Wildner Por Favor, Sucesso (1969) – Liverpool As Próximas Horas Serão muito Boas (2004) – Cachorro Grande Alhos com Bugalhos (1977) – Almôndegas De Falla 1 (1987) – De Falla Olelê (2000) – Ultramen Kingzobullshit...92 (1992) – De Falla Longe Demais das Capitais (1986) O Futuro É Vórtex (1986) – Engenheiros do Hawaii – Replicantes A Revolta do Dândis (1987) – Eng. Hawaii Baladas Sangrentas (1996) – W. Wildner As Próximas Horas Serão muito Boas TNT 2 (1988) – TNT (2004) – Cachorro Grande O Futuro É Vórtex (1986) – Replicantes Olelê (2000) – Ultramen A Sétima Efervescência (1996) J. Maçã Coisa de Louco II (1995) – G. Xilarmônica A Sétima Efervescência (1996) – J. Maçã O Futuro É Vórtex (1986) – Replicantes Coisa de Louco II (1995) Aristhóteles de Ananias Jr. (1996) – Graforréia Xilarmonica – Aristhóteles de Ananias Jr. O Futuro É Vórtex (1986) Longe Demais das Capitais (1986) – Replicantes – Engenheiros do Hawaii O Futuro É Vórtex (1986) – Replicantes Coisa de Louco II (1995) – G. Xilarmônica Ultramen (1998) – Ultramen TNT 1 (1987) – TNT

De Falla 1 (1987) – De Falla Totalmente Rock (1985) – Taranatiriça De Falla 1 (1987) – De Falla

Longe D. Capitais (1986) – Eng.Hawaii Garotos da Rua (1986) – Garotos da Rua 90o (2000) – Walverdes

De Falla 1 (1987) – De Falla

Último Verão (1983) – Julio Reny

TNT 1 (1987) – TNT

Acústico, ao Vivo e a Cores (2006) – Acústicos & Valvulados Os Cascavelletes (1988) – Cascavelletes TNT 1 (1987) – TNT Coisa de Louco II (1995) – Graforréia Xilarmônica De Falla 1 (1987) – De Falla – Engenheiros do Hawaii A Sétima Efervescência (1996) – Júpiter Maçã Hein?! (1988) – Nei Lisboa

TNT 1 (1987) – TNT Rock Garagem (1984) – Vários De Falla 1 (1987) – De Falla Saracura (1982) – Musical Saracura Fita demo Com Amor Muito Carinho (1988) – Graforréia Xilarmônica Histórias de Sexo e Violência (1987) – Replicantes Coisa de Louco II (1995)–G. Xilarmônica

De Falla 1 (1987) – De Falla

LUGAR

Pista Livre (2005) – Cachorro Grande 90o (2000) – Walverdes Playback (2005) – Walverdes Fita demo (1993) – Aristhóteles de Ananias Jr. O Futuro É Vórtex (1986) – Replicantes O Futuro É Vórtex (1986) – Replicantes Os Cascavelletes (1988) – Cascavelletes O Futuro É Vórtex (1986) – Replicantes De Falla 1 (1987) – De Falla A Sétima Efervescência (1996) – Júpiter Maçã Último Verão (1983) – Julio Reny Ao Vivo Acústico (2004) –Papas da Língua Kingzobullshitbackinfulleffect92 (1992) – De Falla Fita demo de Carteira Nacional de Apaixonado (1998) – Frank Jorge Longe Demais das Capitais (1986) – Engenheiros do Hawaii Lory F. Band (1996) – Lory F. Band O Incrível Caso da Música Que Encolheu... (2002) – Ultramen Coisa de Louco II (1995) – Graforréia Xilarmônica Ao Vivo (2001) – Bebeco Garcia TNT 1 (1987) – TNT

LUGAR

Bandaliera 15 Anos (1997) – Bandaliera Carteira Nacional de Apaixonado (2000) – Frank Jorge A Sétima Efervescência (1996) – Júpiter Maçã Julio Reny e Expresso Oriente (1990) – Julio Reny e Expresso Oriente Rock Grande do Sul (1986) – Vários Nenhum de Nós (1987) – Nenhum de Nós O Futuro É Vórtex (1986) – Replicantes Bixo da Seda (1976) – Bixo da Seda Introdução (1988) – Colarinhos Caóticos Histórias de Sexo e Violência (1987) – Replicantes TNT 1 (1987) – TNT Rock Grande do Sul (1986) – Vários A Sétima Efervescência (1996) – Júpiter Maçã Em Amplitude Modulada (2000) – Os Atonais Ao Vivo (1991) – Bandaliera Pata de Elefante (2004) – Pata de Elefante Pista Livre (2005) – Cachorro Grande Bixo da Seda (1976) – Bixo da Seda

A Sétima Efervescência (1996) – J. Maçã Acústico MTV (2004) – Engenheiros do Hawaii Pata de Elefante (2004) Carteira Nacional de Apaixonado – Pata de Elefante (2000) – Frank Jorge O Futuro É Vórtex (1986) – Replicantes A Sétima Efervescência (1996) – Júpiter Maçã Pata de Elefante (2004) – P. Elefante De Falla 1 (1987) – De Falla Me Chamam Curto Circuito (1999) – TNT 1 (1987) – TNT Bebeco Garcia A Sétima Efervescência (1996) – J. Maçã Olelê (2000) – Ultramen Chapinhas de Ouro (1998) Bixo da Seda (1976) – Bixo da Seda – Graforréia Xilarmônica A Sétima Efervescência (1996) – J. Maçã Baladas Sangrentas (1996)–Wander Wildner Por Favor, Sucesso (1969) – Liverpool TNT 1 (1987) – TNT TNT 1 (1987) – TNT Totalmente Rock (1985) – Taranatiriça A Sétima Efervescência (1996) – J. Maçã Ao Vivo (2001) – Bebeco Garcia De Falla 2 (1988) – De Falla Ao Vivo (2001) – Bebeco Garcia & O Bando dos Ciganos Buena Onda (2000)–Sombrero Luminoso Broncas Legais (1999) – Comun. Nin-Jitsu O Futuro É Vórtex (1986) – Replicantes 90o (2000) – Walverdes De Falla 1 (1987) – De Falla Os The Darma Lóvers (2000) Calendário da Imaginação (1988) Registro Sonoro Oficial (2001) – Plato Divorak – Video Hits A Sétima Efervescência (1996) Carteira Nacional de Apaixonado – Júpiter Maçã (2000) – Frank Jorge Deluxe (2001) – Cowboys Espirituais Pata de Elefante (2004) Pra Viajar no Cosmos não Precisa Ramilonga (1997) – Vitor Ramil Gasolina (1983) – Nei Lisboa Rock’A’ula (1989) – Cascavelletes Ao Vivo (1991) – Bandaliera Julio Reny & Expresso Oriente (1990) Cowboys Espirituais (1998) Compacto duplo (1985) – Replicantes Coisa de Louco II (1995) – Graforréia Xilarmônica Calendário da Imaginação (1988) A Sétima Efervescência – Plato Divorak (1996) – Júpiter Maçã Coisa de Louco II (1995) As Próximas Horas Serão muito – Graforréia Xilarmônica Boas (2004) – Cachorro Grande Coisa de Louco II (1995) Pra Viajar no Cosmos não Precisa – Graforréia Xilarmônica Gasolina (1983) – Nei Lisboa Longe D. Capitais (1986) – Eng.Hawaii Cheiro de Vida (1984) A Sétima Efervescência (1996) Por Favor, Sucesso (1969) – Júpiter Maçã – Liverpool O Papa É Pop (1990) Histórias Reais, Seres Imaginários (2001) – Nenhum de Nós Calendário da Imaginação (1988) O Futuro É Vórtex (1986) – Plato Divorak – Replicantes A Sétima Efervescência (1996) Pata de Elefante (2004) – Júpiter Maçã – Pata de Elefante A Sétima Efervescência (1996) – J. Maçã Barata Oriental (1988) – Barata Oriental

>>Todos os jurados tiveram liberdade para votar em qualquer disco, gravado e distribuído em qualquer formato, seja em fita demo, cassete, vinil, CD ou pela internet. Os votos foram computados entre janeiro e março de 2007. >>>O único trabalho a receber voto tanto para sua fita demo quanto para o disco propriamente dito foi Carteira Nacional de Apaixonado, de Frank Jorge. Nesse caso, os votos foram unificados.

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LIVERPOOL A banda sessentista foi uma das grandes precursoras do rock no Rio Grande do Sul

#02 POR FAVOR, SUCESSO (1969) – LIVERPOOL

51 PONTOS Com todas as facilidades para se lançar um disco hoje em dia, pelo caminho da independência ou não, é absurdo que o cultuado álbum Por Favor, Sucesso, uma gema perdida no abismo do rock nacional, permaneça sem reedição brasileira no formato digital. Enquanto ninguém realiza a empreitada por aqui, o selo alemão Shadoks Music, que já reeditou títulos raros nacionais (Spectrum, Módulo 1000), está anunciando no seu site o lançamento do único álbum do Liverpool. A história dessa peça rara está ligada à era dos festivais de música popular brasileira que, nos anos 60 e 70, tinham para os artistas o valor de um passaporte ao reconhecimento. Depois de o Liverpool – que por sinal inaugurou o rock no Rio Grande do Sul juntamente com as

#03

bandas Os Cleans e Os Brasas – vencer o 2º Festival Universitário da Música Popular Brasileira, em Porto Alegre, o tema Por Favor, Sucesso (de autoria de Carlinhos Hartlieb)

DE FALLA 1 (1987) – DE FALLA

foi classificado para as eliminatórias do 4º Festival Internacional da Canção, no Rio de Janeiro, em setembro de

50 PONTOS

1969. A banda não arrebatou prêmio algum, mas ganhou um contrato com a gravadora Equipe, para produzir o seu

Foto: reprodução Por Favor, Sucesso

primeiro – e único – LP, o homônimo Por Favor, Sucesso.

O primeiro disco do De Falla, lançado em plena efervescência

O disco, com sua combinação de harmonias ousadas,

do rock nacional, é o típico caso de um fenômeno que se

distorções fuzz no talo e acidez verde-amarela, mergulha

passa, até hoje, com promessas locais: a banda é agracia-

na fonte do rock inglês e americano, levando bossa-rock,

da pela crítica, mas não chega a lograr reconhecimento do

folk e boogie-woogie em estrondosa colisão com a

público de fora do RS. Em meio ao oba-oba do rock brasilei-

tropicália. Composições como Olhai os Lírios do Campo, Im-

ro dos anos 80, o título foi uma das apostas do selo Plug da

pressões Digitais, Voando e Cabelos Varridos são retratos

gravadora RCA, junto com as bandas cariocas Picassos Fal-

expressivos da juventude da época. Segundo o crítico

sos e Hojerizah. O disco fez a cabeça dos jovens que fuçavam

musical e colunista de APLAUSO Juarez Fonseca, participar

as lojas em busca de novidades, e a crítica especializada

de um festival universitário, e vencê-lo, motivou ainda mais

se rendeu ao álbum – e ao De Falla –, incensando-o como

a banda do bairro IAPI que, no começo, só tocava Rolling

uma das propostas mais criativas surgidas no rock nacio-

Stones, mas que já começava a mostrar músicas próprias

nal. O repertório do disco, com canções que vão da decla-

no programa que o disc-jockey Glênio Reis tinha na TV

ração de desamor de Não Me Mande Flores à perversão de

Gaúcha. Por Favor, Sucesso não vendeu quase nada. Mas se

Sodomia e à desilusão gótica de Sobre Amanhã, antecipa-

tornou objeto de culto – até mesmo fora do Brasil – graças

va a sonoridade caótica que a banda assumiria em traba-

à receita de música brasileira moderna e jovem feita por

lhos posteriores. Ou seja, um flerte desvairado entre pós-

quatro cabeludos carismáticos e muito bons músicos: “O

punk, microfonias, colagens, ruídos e outros elementos.

disco colocou o Liverpool em pé de igualdade com os

Para o jornalista e crítico musical Marcelo Ferla, o primeiro

Mutantes e, logo depois, com os Novos Baianos, como

disco do De Falla foi um retrato perfeito de época: “É a pós-

definidor de uma nova linguagem, para além da ingenuida-

modernidade do Bom Fim, o lugar de Porto Alegre naquele

de banal da Jovem Guarda”, completa Juarez Fonseca.

momento, transposta para o disco”. 29

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especial

o músico Mutuca: “Era passar numa rua e verificar: se havia um grupo reunido em volta de um tocador de violão, não estaria tocando samba nem pop, mas sim TNT”.

#04

É que o grupo liderado por Charles Master apresentava, também nesse disco, outras pérolas que entraram rapidamente no repertório das bandas cover locais (e nacionais):

O FUTURO É VÓRTEX (1986) – REPLICANTES

Ana Banana, Oh! Deby e Entra Nessa, que um ano antes,

42 PONTOS

do Sul junto a faixas de Engenheiros do Hawaii, Replicantes,

O primeiro LP dos Replicantes, O Futuro É Vórtex (nome de uma máquina de pinball que mostrava um futuro perigoso), foi lançado com o estigma da censura federal, que vetou a execução pública de três músicas: Choque, Mulher Enrustida e Porque Não. A alegação era de que continham “palavras de baixo calão”. Deliberadamente, a gravadora RCA picotou Porque Não, que tinha a frase “Eu quero que o Caetano vá

em 1986, havia aparecido no histórico álbum Rock Grande De Falla e Garotos da Rua. Nas letras do TNT, os problemas de jovens rapazes urbanos com as mulheres (ou sem elas) e a angústia com suas próprias identidades. Quanto ao som, puro rock’ n’roll. Com algumas particularidades, claro: guitarras distorcidas sem exagero, base baixo-bateria afiada e um vocal que deixa transparecer um inegável timbre juvenil. No caso deles, a primeira impressão foi a que ficou.

pra puta que o pariu!”. A imprecação foi banida da faixa, como se o vocalista Wander Wildner emudecesse repentinamente no refrão. O então baterista Carlos Gerbase lembra que a justificativa da RCA para a solução tosca é que não ficava bem atacar um artista de outra gravadora. O

#06

disco, que tem as clássicas Surfista Calhorda, Hippie-PunkRajneesh e Censor, destoa do padrão de punk feito no Brasil, na época, marcado pelas letras de protesto. Para o

BIXO DA SEDA (1976) - BIXO DA SEDA

jornalista Luciano Marsiglia, os Replicantes desafiaram o cânone paulista, cujo movimento professava sério

34 PONTOS

compromisso político: “Eles tinham uma preocupação estética que passou longe do punk brasileiro. O fato de os Replicantes serem do Sul favoreceu a liberdade e a criatividade da banda”.

Os rapazes do Liverpool voltaram anos depois de Por Favor, Sucesso com novo nome: Bixo da Seda. O som também era outro. Estava mais pesado, somando ao rock’n’roll a influência do rock progressivo, com mudanças de andamento e harmonias complexas. O quinteto formado por Renato Ladeira, Marcos Lessa, Mimi Lessa, Edinho Espíndola e Fughetti Luz estava em sua melhor forma. Chegavam a ensaiar durante oito horas por dia e adquiriram rapidamente a fama

#05 TNT 1 (1987) – TNT

de “destruir” qualquer show ou festival em que estivessem – freqüentemente tinham de fazer sessões extra para contentar a gurizada que tinha ficado do lado de fora. Em 1976, lançaram este que é seu único LP (relançado em

37 PONTOS

CD em 2002 pela Warner). Apesar da ressalva de fãs de que o registro não retrataria a banda na plena energia que demons-

Tornou-se conhecida a comparação do músico Julio Reny,

trava no palco, o álbum desperta interesse até hoje, com

segundo a qual os garotos do TNT seriam “os Beatles do Rio

letras que ainda respiravam um ar meio hippie, como em É

Grande do Sul”, enquanto os Cascavelletes seriam a versão

como Teria Que Ser (“Não adianta perguntar / Porque tudo

local dos Rolling Stones, pela postura mais ousada. Se o

existe dentro de você”), e de transgressão, como na faixa-hino

segundo LP da banda, de 1988, ganha por pontos, por cau-

que leva o nome da banda, com um jogo de palavras venenoso

sa da maturidade, esse primeiro registro ganha por nocau-

entre “bixo da seda” e “bicho, dá a seda”. “Eles tinham o

te, com a faixa Cachorro Loco (assim mesmo, sem o “u”),

verdadeiro espírito do rock, que nasceu nos subúrbios de

que virou, desde então, hino de iniciação para qualquer

famílias operárias – eles eram do IAPI, em Porto Alegre. O

jovem roqueiro local. E não apenas isso, como testemunha

resto era rock de burguês”, afirma o produtor Ricardo Barão.

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DE FALLA Liderada por Edu K (de óculos), foi a única banda a figurar com dois discos entre os dez mais

#07 DE FALLA 2 (1988) – DE FALLA

31 PONTOS upgrade de Como Vovó Já Dizia, de Raul Seixas, numa versão

Edu K de It's Fuckin’ Borin’ to Death (o que é controverso, pois

rap com muitos escratch e batidona arrasa quarteirão. Na

o nome só é perceptível na lombada do vinil), é o último

opinião do guitarrista Gustavo “Mini” Bittencourt, da banda

álbum da banda pelo selo Plug da major BMG. Cercados pela

Walverdes, o disco sintetiza uma parte importante do espí-

crítica, que aguardava da banda novo sopro de criatividade, o

rito do rock gaúcho, que é estar extremamente conectado

De Falla não frustrou as expectativas: do pós-punk do primo-

ao que está rolando, mas, ao mesmo tempo, cultivar certa

gênito LP, a banda partiu para o crossover maluco de rap,

atitude de “não tô nem aí para nada”: “Nesse disco, a mis-

funk e heavy metal, em 1988 – o que prova que estavam de

tura de pop, hip-hop, rock, pós-punk e funk soa incrivel-

ouvidos atentos às últimas tendências estrangeiras que, há

mente chinela e sofisticada ao mesmo tempo”.

quase 20 anos, recém saíam do berço. São notáveis as influên-

A insanidade prossegue faixa após faixa, como na ver-

cias de Run-DMC, Beastie Boys e Red Hot Chili Peppers, sem

são desconstruída de Revolution (que inicialmente era para

que a banda perdesse de vista microfonias, vinhetas absur-

ser uma versão dos Beatles, mas, como não ficou nada

das e letras fundindo português e inglês (como em I Have to

semelhante à original, virou música do De Falla mesmo) e

Sing a Song). Também não fizeram concessões à peculiar

Repelente, hit absoluto da banda. O “lado B” inicia-se com

obssessão por temas sobre sexo e violência.

a clássica It’s Fuckin’ Borin’ to Death, uma balada cuja letra

O disco é um dos pioneiros do uso do sampler no Brasil.

cita o filme Nascido para Matar, de Stanley Kubrick, e pros-

Entre outras colagens, quem prestar atenção, pode sacar

segue com o groove demoníaco de Satã (É Coisa do Diabo).

uma fala do ator Dennis Hopper no clássico filme Veludo

Tonho Crocco, da Ultramen, atesta a diversão: “Gastei o vinil

Azul, do diretor David Lynch. Logo na abertura, a versão

e a fita cassete de tanto ouvir!”.

Arte sobre foto de Antônio Meira

O segundo disco do De Falla, apelidado pelo líder e vocalista

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especial

O VEREDITO

POPULAR

#08 COISA DE LOUCO II (1995) – GRAFORRÉIA XILARMÔNICA

27 PONTOS Vanguarda, regionalismo, rock, dodecafonia, atonalismo, multiplicidade temática, Jovem Guarda. Todas essas vertentes sonoras – e muitas outras – definem o debut em disco da Graforréia Xilarmônica, que teve como base a famosa fita demo Com Amor Muito Carinho (Vórtex, 1988). Produzido por Carlos Eduardo Miranda, foi uma aposta da finada Banguela Records. Na época, Miranda mostrou Coisa de Louco II para o produtor grunge Jack Andino (Nirvana, Titãs), que se mostrou encantado com as peripécias musicais dos gaúchos. Os hits Eu e Nunca Diga foram gravados pelo Pato Fu, o que ajudou a difundir a banda. A milonga-rock Amigo Punk rompeu fronteiras e hoje é cantada em coro em redutos alternativos de todo o Brasil, graças à movimentação do rock independente e à participação da Graforréia em festivais de rock do país. Mas é com o nonsense irresistível das letras que a banda continua arrebanhando novos fãs. Uma das discussões da época era sobre o português ser um idioma complicado para cantar rock. “Como não tínhamos a intenção de compor em inglês, partimos para a espontaneidade: letras sem a menor pretensão de fazer sentido e, na maioria das vezes, criadas de improvisos”, diz Marcelo Birck, que com-

OS

PIORES

pôs com Frank Jorge a maior parte das músicas do álbum.

Não teve jeito: os Engenheiros do Hawaii viram confirmada sua fama de banda amada por muitos e odiada por outros muitos. Quase entraram na lista dos dez melhores com seu primeiro álbum, Longe Demais das Capitais (1986), além de ter obtido boa votação com A Revolta dos Dândis (1987). Mas O Papa É Pop (1990) foi escolhido o pior do rock gaúcho, com cinco votos de um total de 21 (os demais 29 votantes preferiram se abster nesta categoria). No disco do trio Gessinger, Licks e Maltz, sucessos estrondosos como Era um Garoto Que, Como Eu, Amava os Beatles e os Rolling Stones e O Exército de um Homem Só I. O título não foi por acaso: esse é, até hoje, um dos álbuns mais pop e de fácil audição da banda. Daí para obter o desprezo de parte da crítica e do meio musical foi apenas um passo.

Não é sempre que especialistas e público entram em acordo, mas os melhores discos do rock gaúcho, conforme enquete popular, têm muitos pontos de contato com a lista dos 50 integrantes do júri oficial. Durante um mês, leitores de APLAUSO e ouvintes da Ipanema FM enviaram seus votos para a redação da revista e para os apresentadores da emissora. O disco mais lembrado foi Coisa de Louco II, da Graforréia Xilarmônica (46 votos), seguido por A Sétima Efervescência, de Júpiter Maçã (42 votos), e O Futuro É Vórtex, dos Replicantes (36 votos). Os Cascavelletes aparecem duas vezes entre os mais votados, com o EP homônimo de 1988 (32 votos) e com Rock’A’Ula (26 votos) – sinal de que os discos oficiais da banda estão mais vivos na memória do público que a cultuada fita demo da Vórtex, de 1987. Também em comum com a lista dos especialistas, foram bem lembrados Olelê, da Ultramen (32 votos), e os primeiros discos do TNT (29 votos) e do De Falla (17 votos). Bixo da Seda (12 votos) foi o único registro anterior à década de 80 na memória do público, que também laureou Longe Demais das Capitais, dos Engenheiros (25 votos), Pra Viajar no Cosmos não Precisa Gasolina, de Nei Lisboa (17 votos) e Baladas Sangrentas, de Wander Wildner (12 votos). Cachorro Grande (com o disco homônimo), Tequila Baby (com Sangue, Ouro e Pólvora) e O Incrível Caso da Música Que Encolheu e Outras Histórias, da Ultramen, receberam 11 votos cada. Logo atrás, com quatro votos, aparece o obscuro álbum Agradeça ao Senhor (1993), da banda Atahualpa Y Us Panquis – trocadilho bem ao gosto do rock local com o nome do payador argentino Atahualpa Yupanqui. Não há dúvida de que os Atahualpa foram “a mais chinelona das bandas gaúchas”, como já escreveu o músico Jimi Joe, que por sinal liderou a chinelagem. Conta o produtor Carlos Eduardo Miranda que tudo começou quando ele ganhou 40 horas em um estúdio de gravação: “Aí compramos uns engradados de cerveja, um conhaque Dreher e uma lata de cola Dun Dun e fomos gravar. Fizemos todas as músicas na hora, com a velha intenção de Atahualpa: ser o mais horrível possível. Conseguimos”. Loopcínio (2004), de Thedy Corrêa, ganhou três votos – embora não se trate exatamente de um disco de rock. O álbum presta homenagem a Lupicínio Rodrigues com versões modernas de suas músicas, abusando de recursos eletrônicos. Lupi, que sabia transformar em poesia suas desilusões, poderia muito bem consolar Thedy: não se pode agradar a todos, afinal.

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#09 DEMO VÓRTEX (1987) – CASCAVELLETES OS CASCAVELLETES

25 PONTOS

Nei Van Soria, Frank Jorge, Alexandre Barea e Flavio Basso (ou Júpiter Maçã), numa das mais clássicas (e bagaceiras) formações do rock gaúcho. Anos 80, é claro

Depois de deixarem o TNT, Flavio Basso e Nei Van Soria se juntaram a Frank Jorge e Alexandre Barea para fazer tudo que não podiam fazer na banda anterior. Assim nasceram os Cascavelletes, que, apesar de terem lançado três registros oficiais (um EP, um LP e um single com duas faixas), são mais cultuados por essa sua primeira e rara fita demo, gravada no estúdio Isaec (na época um dos mais bem equipados de Porto Alegre), em 1986, e lançada no ano seguinte pelo selo independente Vórtex, com tiragem inicial de 500 cópias. As faixas circulam hoje pela internet e em gravações em CD-R, inclusive vendidas em lojas de disco mais antenadas. Com uma mistura de rock’n’roll, rockabilly e punk, as composições tratam de sexo, sexo e mais sexo – sempre no limite entre o escrachado e o ingênuo. “Era um som extremamente envolvente, picante, com uma energia juvenil que influenciou uma geração do rock, categoria na qual eu me incluo”, diz Rafael Malenotti, dos Acústicos & Valvulados. Entre as faixas, clássicos como Morte por Tesão e O Dotadão Deve Morrer (regravada pelos Ratos de Porão). Além da primeira versão de seu maior sucesso, Nega Bom Bom, que em 1990 entrou para a trilha da novela global Top Model. Nessa época, no entanto, a banda já tinha outra formação e um som mais trabalhado.

Arte sobre foto de Eurico Salis

Menstruada (“mas mesmo assim eu vou transar”, diz a letra),

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especial

ELES QUASSEEGUIRAM CON

ULTRAMEN Apenas dois pontos à frente de Julio Reny e Engenheiros, acabou sendo a única banda da geração anos 90 entre as dez mais

#10 OLELÊ (2000) – ULTRAMEN

19 PONTOS A Ultramen se projetou no final da década de 90, em meio ao estouro de uma nova geração de bandas, com uma proposta que fugia de todos os estereótipos que se possa ter do “rock gaúcho”. O som é um amálgama vigoroso de funk, hip hop, reggae e o que mais viesse pela frente – uma postura de reverência à diversidade que está também na própria formação da banda (são oito integrantes, incluindo dois percussionistas e um DJ) e nas letras, que aspiram a uma certa preocupação social. Olelê, o segundo disco da trupe (que lançou, este ano, seu quarto trabalho), é o amadurecimento dessa proposta. A verdade é que poucas bandas surgidas no Rio Grande do Sul se levaram tão a sério quanto a Ultramen – mesmo que o grande hit do disco, Dívida, tocado exaustivamente nas rádios, possa enganar com sua aparente despretensão. “É uma banda que podesal, madura”, afirma Edinho Espíndola, veterano baterista das bandas Liverpool e Bixo da Seda. Esse É o Meu Compromisso é um elogio ao ofício da rima em um hip hop pesado, a faixa-título fala de problemas da cidade em ritmo funkeiro e Peleia coloca em pauta a questão da identidade gaúcha, com o bordão da milonga sobre uma base de rap.

Arte sobre foto de Ado Henrichs

ria estar no centro do país. Eles têm uma linguagem univer-

Apenas alguns pontos atrás do décimo colocado, alguns álbuns merecem menção honrosa. É o caso de Longe Demais das Capitais (1986), disco de estréia dos Engenheiros do Hawaii (o segundo, A Revolta dos Dândis, de 1987, também aparece bem colocado), a mais bemsucedida banda gaúcha em vendagem e popularidade. Abrindo o álbum, o primeiro grande hit, Toda Forma de Poder, que já apontava um dos diferenciais do (então) trio liderado por Humberto Gessinger: qualidade musical e letras inteligentes, repletas de uma discreta ironia. O disco somou 17 pontos no ranking de APLAUSO, empatado com Último Verão, de Julio Reny, lançado oficialmente em fita cassete, em 1983, e relançado posteriormente em CD, com destaque para a faixa-título. Com apenas oito músicas, o trabalho ainda é a maior referência do hoje veterano roqueiro, que já chegou a ser chamado de “Lou Reed dos pampas” e é responsável por bandas fundamentais da cena local como Expresso Oriente e Cowboys Espirituais. Como se não bastasse ter emplacado dois entre os dez mais, o De Falla quase emplacou um terceiro, com 15 pontos: o álbum de nome bizarro Kingzobullshitbackinfulleffect92 (1992), com 24 músicas de títulos não menos incompreensíveis, finalizando com uma versão de Sossego, de Tim Maia. O ranking também reservou outras surpresas. As bandas das gerações mais recentes ficaram bem representadas, como a Cachorro Grande, com três discos lembrados – As Próximas Horas Serão muito Boas (2004), que teve quatro citações, Pista Livre (2005) e o primeiro disco, homônimo (2001) –, a Walverdes, também com três álbuns – 90º (2000), Anticontrole (2002) e Playback (2005) –, e o trio instrumental Pata de Elefante, que em 2004 lançou seu primeiro disco homônimo lembrado por cinco votantes. As históricas coletâneas Rock Garagem (1984) e Rock Grande do Sul (1986), ambas com 12 pontos, quase figuraram entre os dez mais, mas surpreendentemente ficaram de fora.

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