Caderno Cidade - Junho de 2009 - Ciencia

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Cidade caderno

CIÊNCIA

Trabalho Interdisciplinar do 3º período de Jornalismo da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas • Junho de 2009

Astrônomos discutem educação Comemorações do Ano Internacional da Astronomia promovem a difusão do conhecimento científico em Belo Horizonte E

RENATA BRANDÃO

Olhar para o céu à noite é um ato mágico que encanta pessoas desde a infância. Entretanto, o conhecimento difundido nas escolas acerca dos astros é limitado e superficial, distanciando a Astronomia da maior parte da população. Com o intuito de popularizar os conhecimentos astronômicos e sanar esta deficiência no ensino, o Ano Internacional da Astronomia (AIA) promove, este ano, diversas atividades direcionadas principalmente ao público estudantil. A capital mineira, uma das cidades mais engajadas durante o AIA, tem organizado um grande número de eventos abertos ao público gratuitamente, mas apesar dos esforços das organizações em divulgar a ciência, o público atingido ainda é muito pequeno. Para Marcelo Moura, coordenador do site especializado em astronomia “Observatório Phoenix”, a presença pouco significativa da população em eventos como os que estão sendo realizados em 2009 se deve, entre outros fatores, ao pouco espaço que a astronomia recebe nas grades curriculares das escolas. Além disso, a falta de capacitação de professores para o ensino da disciplina vem contribuindo para a falta de informação da sociedade acerca do tema ao longo dos anos. “Infelizmente os nossos professores não têm conhecimento para poder explicar isso para as crianças”, lamenta Moura. CARÊNCIA DE INFORMAÇÃO

DIFUSÃO Segundo estudo realizado em 2006 pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil ocupa a 52ª posição entre 57 países listados de acordo com o nível de educação científica. Segundo Peter Leroy, coor-

futuramente, Thiago não descarta a possibilidade de se aprofundar mais nesta ciência, apenas como hobby. Segundo Marcelo Moura, todos os sábados são abertas ao público no Ceamig, com sede na Escola Santo Agostinho, observações do céu e palestras sobre temas

Apesar de pouco disseminada, a astronomia continua a povoar o imaginário infantil

relação ao tema no mundo todo, mas uma carência de informação”. Ele afirma haver uma falta de cultura científica, e acredita que “isso só vai mudar com investimento intelectual”. A professora de Física Maria Lúcia dos Santos Quaresma Pedra explica que a astronomia ensinada nas escolas é muito resumida porque a carga horária é cada vez mais reduzida e a astronomia não esta incluída na grade curricular de forma relevante, já que não é cobrada em provas de vestibular. Além disso, a professora reclama da falta de material específico disponível nos livros de física que supram as necessidades de ensino.

Renata Brandão

A reclamação é recorrente entre profissionais e amadores desta ciência,

que vêem a necessidade urgente de alfabetização científica nas escolas de nível fundamental e médio. Para Peter Leroy, mestre em Astrofísica pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e criador do Grupo de Astronomia e Astrofísica (Gaia), “há um grande interesse em

O que é a Astronomia ?

Clarisse Souza

CLARISSE

denador regional do AIA e criador do Gaia da Pontifícia Universadade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), uma pesquisa realizada por seu grupo de estudo em 32 escolas públicas e privadas de Belo Horizonte apontou que, em 70% delas, os professores não ensinam astronomia, pois não têm conhecimentos aprofundados nessa área. A professora Maria Lúcia destaca que o AIA ajudará na divulgação desta ciência de forma mais ampla para que as pessoas conheçam outras alternativas em BH além do observatório que se encontra na Serra da Piedade. Através de uma aula de geografia sobre o AIA o estudante Thiago Enrique Lara Veas, 13 anos, foi pela primeira vez ao Centro de Estudos Astronômicos de Minas Gerais (Ceamig). Fascinado pelas constelações, o estudante se interessou pelo assunto e decidiu acompanhar a avó Hilda Iturriaga Jimenez, que pretende construir um telescópio com a ajuda do neto. Apesar de admitir que gostaria de ser veterinário

diversos ligados à astronomia. Além disso, serão distribuídos 400 kits para escola públicas contendo material para o ensino adequado do funcionamento do sistema solar. O Gaia também possui uma programação especial para a cidade,com projetos que consistem em promoção de eventos com observações do céu, palestras, estruturação do centro astronômico na PUC, criação de um observatório e um planetário, e a promoção de material didático. “Estamos escrevendo livros que irão constituir uma série chamada Ciência para Crianças, desenvolvida em parceria com a editora da PUC Minas”, informa Leroy. Outro ponto ressaltado pelos coordenadores é a importância da intervenção da mídia para a divulgação da astronomia. São escassas as publicações e artigos especializados na área, e uma maior difusão do Ano Internacional seria essencial para chamar a atenção da população para o principal objetivo do evento, que é a aproximação entre ciência, astronomia e sociedade.

A Astronomia é a mais antiga das ciências naturais. Surgiu na Antiguidade, tendo as suas origens enlaçadas com as práticas religiosas, mitológicas e astrológicas das civilizações antigas. Com o passar dos tempos, ela se desvencilhou destas correntes e começou a se firmar como uma ciência ao se aliar à biologia, a química e, principalmente, à física, inaugurando um período de grandes e significativas descobertas. O seu objeto de estudo é muito abrangente, por isso defini-lo não é uma tarefa simples. Segundo a União Internacional dos Astrônomos (IAU), a astronomia se dedica à análise de todos os objetos celestes. Ela examina virtualmente todas as propriedades do Universo, desde as estrelas, planetas e cometas até as maiores estruturas e fenômenos cosmológicos. É o estudo de tudo aquilo que foi, que é e que será no Cosmos – desde os menores átomos até a aparência do Universo nas

suas maiores escalas. “Esta ciência é subdividida em vários ramos”, lembra Peter Leroy, coordenador do Gaia. Astrofísica (teorias físicas aplicadas na astronomia), Cosmologia (estudos da origem dos astros), Arqueoastronomia (estudo de registros de fenômenos astronômicos em sítios arqueológicos), entre outras, são exemplos destas ramificações. As pesquisas realizadas através destas subdivisões trouxeram avanços científicos muito benéficos à humanidade, afetando diretamente a vida de milhões de pessoas. Alguns resultados astronômicos, ou derivados de estudos nesta área, estão presentes no nosso cotidiano materializados na criação do GPS (Sistema de Posicionamento Global), em lançamentos de satélites e a sua manutenção em orbita, no conhecimento das marés induzidas pelo Sol e pela Lua, além de outros inúmeros ganhos. (Vanessa Goia Zilio)

Uma celebração global Em 1609 Galileu Galilei, físico e astrônomo, fez a primeira observação através de um telescópio. Quatrocentos anos depois deste acontecimento, a Itália, pátria do estudioso, teve sua reivindicação aceita quanto à criação do Ano Internacional da Astronomia (AIA). Foi durante a 62° Assembléia da Organização das Nações Unidas(ONU) que 2009 ganhou este título, simbolo de uma conquista ímpar na história desta ciência. O AIA é uma iniciativa da União Internacional dos Astrônomos e da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), com o intuito de envolver a população mundial, provocar um engajamento dos jovens em relação às ciências e enfatizar a importância da educação. Para Renato Las Casas,

coordenador do Grupo de Astronomia da UFMG, a criação do AIA vem de encontro à necessidade sentida nos quatro cantos do mundo de tornar a população do nosso planeta mais culta cientificamente. O interesse crescente, mas ainda tímido do público sobre o espaço cósmico se choca com a falta de publicações nos meios de comunicação sobre o tema. Devido a isso, este ano comemorativo se propõe a satisfazer a demanda por informações astronômicas e incentivar uma propagação do conhecimento nos anos subseqüentes.“A nossa expectativa é que sejam criados grupos que se mantenham mesmo após o final deste ano para continuarmos este trabalho”, enfatiza Las Casas. (Vanessa Goia Zilio)

Conheça alguns Observatórios Astronômicos Observatório Astronômico Frei Rosário da Universidade Federal de Minas Gerais(UFMG) Serra da Piedade-Caeté-MG Observatório Oswaldo Nery Aimorés, 2.735-Bairro: Santo Agostinho-Belo Horizonte-MG

Observatório Astronômico do Colégio Santa Dorotéia Rua: Chicago, 240-Bairro: Sion-Belo Horizonte-MG Observatório Astronômico do Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG Rua: Gustavo da Silveira, 1035-Bairro: Santa Inês-Belo Horizonte-MG


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