Pollyne andrade cezar final

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UNIVERSIDADE VILA VELHA

POLLYNE ANDRADE CEZAR

HIEROFANIA E LUGAR SAGRADO. A GEOGRAFIA CULTURAL NA REABILITAÇÃO DO SÍTIO HISTÓRICO-CULTURAL DA ÁGUA SANTA EM IÚNA ES

VILA VELHA 2014


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POLLYNE ANDRADE CEZAR

HIEROFANIA E LUGAR SAGRADO. A GEOGRAFIA CULTURAL NA REABILITAÇÃO DO SÍTIO HISTÓRICO CULTURAL DA ÁGUA SANTA EM IÚNAES

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Vila Velha, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientador: Luiz Marcello Gomes Ribeiro

VILA VELHA 2014


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HIEROFANIA E LUGAR SAGRADO. A GEOGRAFIA CULTURAL NA REABILITAÇÃO DO SÍTIO HISTÓRICO CULTURAL DA ÁGUA SANTA EM IÚNAES

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Vila Velha, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.

COMISSÃO EXAMINADORA

________________________________ Professor Luiz Marcello Gomes Ribeiro Universidade Vila Velha Orientador

_________________________________ Professor Clovis Aquino Cunha Universidade Vila Velha Coorientador

_________________________________ Vanessa Del vale Faculdades Doctum 3º Membro Convidado


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Dedico esse trabalho aos meus pais, João Luis e Sandra, que sempre incentivaram, me apoiaram. Ao meu Irmão Thiago, ao meu marido Jean, que compreendeu minha ausência e ao meu bebê que está chegando. Amo vocês!


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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, que me iluminou, me deu forças para continuar nas horas difíceis. Aos meus queridos pais, que sempre me ampararam com todo amor e carinho, e sempre confiaram, acreditaram em mim, e com esforço me proporcionaram essa oportunidade. Ao meu irmão Thiago, que sempre me apoiou e muitas vezes abriu mão das coisas para meus estudos. Aos familiares, que me incentivaram. Aos amigos que sempre apoiaram e ajudaram nas horas mais difíceis, em especial Bruna e Diani. Ao meu orientador, Luiz Marcelllo, que me ajudou com sua sabedoria, com importantes contribuições ao meu trabalho. Agradeço ao meu Marido Jean, amigo e companheiro pela paciência, compreensão e carinho que sempre recebi.


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“Se o que celebramos é digno, porque o espaço é tão indigno?” (PASTRO,1993,p.14)


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RESUMO

O Sítio da Pedra da Água santa fica situado a três quilômetros do centro do município de Iúna interior do Espírito Santo, sendo classificado de acordo com a Lei Municipal nº 2182/ 2008, Art. 84, anexo 5 como Patrimônio Histórico e Cultural do Município. Ao longo do tempo o lugar tornou-se um lugar sagrado, pois nele existe a fonte de Santa Luzia que, segundo a crença popular, possui poderes milagrosos; além da “pedra do pecado” a qual se atribui a remissão do pecado. Este trabalho de conclusão do curso de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Vila Velha, busca, através de pesquisas em campo, entrevistas e estudo de casos, encontrar soluções de reabilitação urbana, que venham fortalecer o perfil cultural e religioso do lugar, assim como desenvolver o turismo religioso de forma digna para os fiéis e freqüentadores da Água Santa. Neste contexto surge o reconhecimento dos conceitos de “lugar sagrado” e hierofania, que terão papel importante nessa compreensão do sítio com sua população. Para a elaboração do projeto, foram estudados: o histórico do local, estudos de casos de outros santuários e lugares considerados sagrados, e as características físicas e culturais da Água Santa, visando o desenvolvimento de um projeto que valorize a integração entre a população e o local, e ainda consiga trazer o desenvolvimento social, cultural e ambiental, sem prejuízos para sua principal essência.

PALAVRAS CHAVE: Iúna, Turismo Religioso, Hierofania e Patrimônio Cultural.


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ABSTRACT Where the Stone of Holy Water is located three kilometers from the center of the inner city of the Holy Spirit IĂşna, being classified according to the Municipal Law No. 2182/2008, Article 84, Annex 5 as the Municipality Cultural Heritage. Over time the place became a holy place, because in it the source of Santa Luzia, which according to popular belief, has miraculous powers; beyond the "stone of sin" which is attributed the remission of sin. This work concluded from the Architecture and Urbanism, University of Vila Velha, search through field surveys, interviews and case studies, solutions of urban renewal, which will strengthen the cultural and religious profile of the place, as well as developing religious tourism in a dignified manner and to the faithful patrons of holy water. In this context arises the recognition of the concepts of "sacred place" and hierophany, which will play an important role in understanding the site with its population. For the preparation of the project, were studied: the site's history, studies of other shrines and places considered sacred, and the physical and cultural characteristics of Holy Water, aiming to develop a project that enhances integration between people and place and can still bring the social, cultural and environmental development without damage to its main essence.

KEYWORDS: IĂşna, Religious Tourism, hierophany, Cultural Heritage.


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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Igreja Matriz Nossa Senhora Mãe dos Homens, 2009...............................18 Figura 2 - Mapa do Brasil, destaque Região Sudeste.............................................. 23 Figura 3 - Região Sudeste, destaque Espirito Santo.................................................23 Figura 4 - Mapa do Espirito Santo, destaque Região Caparaó.................................23 Figura 5 - Região do Caparaó, destaque Município de Iúna.....................................23 Figura 6 - Mapa Do Município de Iúna/Distritos....................................................... 24 Figura 7- Gráfico de Religião Predominante em Iúna...............................................25 Figura 8- localização da área de estudo, em relação a área urbana........................26 Figura 9 - Festa da Penha........................................................................................ 34 Figura 10 – Passos de Anchieta................................................................................35 Figura 11 – festa de são benedito, fincada do maestro........................................... 36 Figura 12– Corpus Christi em Castelo...................................................................... 36 Figura 13- Gráfico de Resultados Entrevista aos peregrinos – Faixa Etária.............38 Figura 14 – Gráfico de Resultados Entrevista aos peregrinos – Local de origem....39 Figura 15 - Gráfico de Resultados Entrevista aos peregrinos – Outros Lugares......40 Figura 16 - Gráfico de Resultados Entrevista aos peregrinos - Visitação a Água Santa..........................................................................................................................41 Figura 17 – Gráfico de Resultados Entrevista aos peregrinos – Motivo da Visita.....41 Figura 18 – Gráfico de Resultados Entrevista aos peregrinos – Meios de transporte. Figura 19 - Gráfico de Resultados Entrevista aos peregrinos - Números de acompanhantes..........................................................................................................42 Figura 20 - Gráfico de resultados Entrevista aos peregrinos – Pretende Voltar.......43 Figura 21 -Santuário Bom Jesus da Lapa. Aspecto geral ........................................45 Figura 22 -Santuário Bom Jesus da Lapa.sala dos ex votos................................... 48 Figura 23 - Santuário Bom Jesus da Lapa. Fiéis passando pela pedra................... 49 Figura 24 – Santuário de Bom Jesus da Lapa, Fieis subindo o morro do cruzeiro...49 Figura 25 - Comércio popular no santuário de Bom Jesus da lapa.......................... 50 Figura 26 - caminhão, conhecido como “pau de arara”,2011....................................51 Figura 27 - Bom Jesus da Lapa, Esplanada..............................................................52 Figura 28 -Santuário Bom Jesus da Lapa, Gruta Bom Jesus...................................52 Figura 29 – reforma no altar da Soledade, 2014...................................................... 53


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Figura 30 – reforma no altar da Soledade, 2014.......................................................54 Figura 31– reforma no altar da Soledade, 2014........................................................54 Figura 32 - Fiéis pegando a Água Santa...................................................................61 Figura 33 - Fiéis passando pela pedra do pecado................................................... 61 Figura 34 - fiéis ascendendo velas............................................................................61 Figura 35 - Imagem de Santa Luzia .........................................................................62 Figura 36 - Procissão de domingo de Ramos...........................................................63 Figura 37- Procissão de domingo de Ramos............................................................64 Figura 38 - Procissão de domingo de Ramos.......................................................... 64 Figura 39 - Macrozoneamento municipal................................................................. 65 Figura 40 – Figura fundo, Morfologia........................................................................ 66 Figura 41 - Mapa de Uso e parcelamento do Solo................................................... 67 Figura 42- Mapa de fluxos e acessos........................................................................69 Figura 43 - Água Santa, estacionamento as margens da rua Hermam A. Silveira...69 Figura 44 - Mapa visual............................................................................................71 Figura 45 - Mapa esquemático indicativo dos Equipamentos...................................72 Figura 46 - Água Santa, Banheiros..........................................................................73 Figura 47 - Água Santa, Barracão de apoio para vendas de alimentos....................74 Figura 48 - Água Santa. Área onde se realiza missas..............................................74 Figura 49 - Portal de acesso a Água Santa...............................................................75 Figura 50 - via de pedestre, acesso a Água Santa....................................................76 Figura 51 - Sala dos milagres, vista interna..............................................................77 Figura 52 - Sala dos milagres, construída em baixo da pedra..................................77 Figura 53 - Sala dos milagres, vista interna............................................................. 77 Figura 54 - Água Santa, fonte cercado por muro e gradil..........................................78 Figura 55- Água Santa - Fonte de água com imagens de Na Sra da Consagração e Na Sra de Loudes.......................................................................................................79 Figura 56 - Água Santa, destaque imagem de Santa Luzia em cima da sala dos milagres......................................................................................................................79 Figura 57 - Água Santa, reservatório de água.Espaço apertado no reservatório de água........................................................................................................................... 80 Figura 58- Água Santa, reservatório de Água...........................................................81 Figura 59 - Água Santa, “Pedra do Pecado” ............................................................81 Figura 60 - Água Santa, caminho para a “Pedra do Pecado”...................................82


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Figura 61 – Perspectiva da Via principal...................................................................90 Figura 62- Perspectiva do Pórtico de Acesso ao sítio da Água Santa......................91 Figura 63- Perspectiva do Sítio da Água Santa........................................................91 Figura 64 - Perspectiva do Sítio da Água Santa Praça de eventos..........................92 Figura 65 Lanchonete...............................................................................................92 Figura 66 Praça de eventos......................................................................................93 Figura 67 Perspectiva caminho ligado ao sagrado...................................................96 Figura 68 perspectiva caminho a pedra do pecado...................................................96 Figura 69 Perspectiva Fonte da Pedra do Pecado....................................................97 Figura 70 Perspectiva Fonte de Santa Luzia.............................................................98 Figura 71 Castelo D´água..........................................................................................99 Figura 72 Perspectiva do velário.............................................................................100 Figura 73 Perspectiva da Sala dos Milagres...........................................................101 Figura 74 Perspectiva módulo 01 sanitários............................................................101 Figura 75 Perspectiva módulo 02 sanitários...........................................................102 Figura 76 Perspectiva da capela.............................................................................105 Figura 77 Perspectiva interna da capela.................................................................105


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LISTA DE QUADROS

Quadro 1- catalogação do mobiliário existente......................................................... 83 Quadro 2 -catalogação de placas de sinalização.......................................................84 Quadro 3 –Estudo de caso das capelas...................................................................103


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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS M. Tur.- Ministério do Turismo ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas ES – Espirito Santo BA- Bahia IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IJSN – Instituto Jones dos Santos Neves PDM– – Plano Diretor Muinicpal PMI – Prefeitura Municipal de Iúna INCAPER - Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural SECULT- Secretaria de Estado da Cultura MR - Macrozona Rural Na Sra – Nossa Senhora


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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO .....................................................................................................13 INTRODUÇÃO...........................................................................................................16 1 CONTEXTO HISTÓRICO IÚNA..............................................................................16 1.1 O SÍTIO DA ÁGUA SANTA...................................................................................19 1.2 LOCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE IÚNA..........................................................22 1.2.1 Caracterização do Município..........................................................................24 1.2.2 Definição e Localização da Área de Estudo.....................................................5 CAPITULO 1..............................................................................................................27 2 LUGAR SAGRADO E HIEROFANIA.......................................................................27 2.1 TURISMO RELIGIOSO.........................................................................................31 2.1.1 Iúna e o Turismo Religioso............................................................................37 2.2 ESTUDO DE CASO: SANTUÁRIO DO BOM JESUS DA LAPA – BA................42

2.2.1 História do Santuário de Bom Jesus da Lapa...........................45 2.2.2 Espacialidades e Práticas Religiosas em Bom Jesus da Lapa........................................................................................................47 CAPITULO 2 .............................................................................................................57 3 CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA ÁREA DE ESTUDO: SÍTIO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL DA ÁGUA SANTA................................57 3.1 PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL...........................................................57 3.2 CATOLICISMO, RITUAIS E TRADIÇÃO...............................................................59 3.2.1 Ritual dos Peregrinos na Água Santa............................................................60 3.2.2 Eventos no local...............................................................................................61 3.3 LEVANTAMENTO E DIAGNÓSTICO DA ÁREA..................................................64 3.3.1 Morfologia........................................................................................................65 3.3.2 Uso e Parcelamento do Solo...........................................................................66 3.3.3 Fluxos...............................................................................................................67 3.3.4 Ambiente Histórico e Cultural.........................................................................70 3.3.5 Equipamento pré-existente.............................................................................83 3.4 CONSIDERAÇÕES..............................................................................................84


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4 ESPAÇO SAGRADO MODELANDO A DINÂMICA DO LUGAR.......................................................................................................................87 4.1 DIRETRIZES GERAIS.........................................................................................87 4.2 PROGRAMA NECESSIDADES...........................................................................89 4.2.1 Público Alvo ....................................................................................................89 4.3 O PROJETO.........................................................................................................89 4.3.1 Espaço Profano................................................................................................89 4.3.2 Espaço Sagrado..............................................................................................90 CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................106 REFERÊNCIAS........................................................................................................108 APÊNDICES.............................................................................................................113 APENDICE A -Prancha 01/05..................................................................................114 APÊNDICE B – Prancha 02/05 ............................................................................. 115 APÊNDICE C – Prancha 03/05 ..............................................................................116 APÊNDICE D – Prancha 04/05...............................................................................117 APÊNDICE E – Prancha 05/05 ..............................................................................118 ANEXOS..................................................................................................................119


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APRESENTAÇÃO

O Sítio Água Santa fica situado a três quilômetros do centro do município de Iúna, interior do Espírito Santo, classificado de acordo com a Lei Municipal nº 2182/ 2008, Art. 84, anexo 5 como Patrimônio Cultural do Município. Ao longo dos tempos este se tornou um espaço sagrado, devido a “Fonte de Santa Luzia” que, devido à crença popular, possui poderes milagrosos; além da “Pedra do Pecado” que “redime os pecados” do fiel que por ela passar. O Sítio da Água Santa é um importante marco para o município de Iúna - ES, pois foi a partir da chegada dos religiosos no local em que a cidade se desenvolveu. Desde então se tornou um atrativo para o turismo cultural1; na região e também uma área de grande importância para memória da cidade, pois, segundo os habitantes de Iúna, o crescimento urbano do município se fez paralelamente às histórias de devoção e milagres do lugar. Atualmente a especulação e parcelamento irregular do solo começam a surgir no local2. Assim, é preciso resguardar o Patrimônio Cultural da Água Santa, planejando o crescimento em direção a essa área, conservando sua função de lugar sagrado, mas adaptando-a as necessidades do século XXI, quanto à infraestrutura para melhor receber os visitantes no local. No local, uma vez por mês celebra-se missa, no entanto, não existem condições apropriadas para estas práticas, pois o acesso se faz por vias estreitas, sem passeios ou demais infraestrutura, como sanitários adequados e iluminação no local.

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“Turismo Cultural compreende as atividades turísticas relacionadas à vivência do conjunto de elementos significativos do patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais, valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da cultura”. (Marcos Conceituais – MTur) Disponível em: http://www.turismo.gov.br/turismo/programas_acoes/regionalizacao_turismo/estruturacao_segmentos/turis mo_cultural.html - Consultado em: 27/05/2014. 2 Ver matéria: Iúna consolida reserva ambiental no centro da cidade – Jornal: A Noticia do Caparaó - Iúna ES e Região - 06-Jul-2012. Disponível em: <http://www.anoticiadocaparao.com.br/site/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=977> Consultado em: 27/05/2014.


17 A presente pesquisa propõe realizar uma análise a cerca do conceito “lugar sagrado”, que adquire grande destaque no desenvolvimento urbano local; em decorrência desta geografia cultural, a partir da abordagem da Hierofania na consolidação deste espaço. Para a compreensão do espaço sagrado trabalhou-se com as contribuições de autores como Mircea Eliade (1991/2002), Hy-Fu Tuan (1980) e Zeny Rosendahl (1999/2009). Também complementa a metodologia referências que abordam o desenvolvimento urbano como exposto por Kevin Lynch (1999). Neste contexto buscou-se a valorização e desenvolvimento regional a partir da geografia e paisagem cultural, propondo a reabilitação e requalificação do Sítio da Água Santa, dignificando o espaço sagrado por meio da ordenação dos acessos e dotação de infraestrutura para o local. Especificamente

objetivou-se

a

valorização

para

o

espaço

sagrado,

reconhecendo seu caráter hierofânico, reabilitando-o e criando espaços acolhedores aos fiéis que visitam a Água Santa; visando melhor infraestrutura, assim como espaços apropriados para as celebrações religiosas; sanitários, espaços de convivência e a acessibilidade plena ao local, assim como, orientação para diretrizes visando a promoção de serviços de apoio ao turismo religioso na região. Para o levantamento de dados e pesquisa histórica, além dos depoimentos e registros orais obtido com historiadores da região, foi realizado pesquisas em publicações de autores da região. Importante ainda foi elaboração de dados e construção da memória social do lugar, com aplicação de questionários e entrevistas; assim como a análise e elaboração de um Estudo de Caso – O Santuário do Bom Jesus da Lapa (BA) – delimitando a Área de Estudo, para a elaboração e indicação de diretrizes de projeto, através de metodologias consagradas, como as de Kevin Lynch (1999), considerando: Caminhos, Limites, Pontos nodais e Marcos, estabelecendo os elementos de caracterização e diagnóstico da área.


18 Por fim, o desenvolvimento de propostas para a Área Projeto com o programa de necessidades e o Projeto Básico para reabilitação do Sítio da Água Santa.


19 INTRODUÇÃO

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CONTEXTO HISTÓRICO DO MUNICÍPIO DE IÚNA

A história do município inicia-se no século XIX, quando a área onde, atualmente, se situa o município de Iúna, era uma grande parcela da Mata Atlântica, pertencendo ao município de Vitória- ES. Era habitado somente por índios de diversas tribos, especialmente os Purí e Mocorongos. Em 1816, D. João VI sendo o príncipe regente no Brasil ordenou que todos os Presidentes das Províncias ligassem as capitanias das províncias interioranas ás capitanias litonâneas então, o governador Francisco Alberto Rubim iniciou a construção da estrada de São Pedro de Alcântara, que ligaria a Capitania do Espírito Santo, desde Vitória, a Vila Rica em Minas Gerais, visando o transporte de ouro e pedras preciosas (NOVAES, 1986). Visando a Manutenção desta estrada, construíram diversos quartéis de três em três léguas, onde os viajantes paravam para repousar e ao mesmo tempo encontrar proteção contra os ataques constantes dos índios do local (DEMONER, 1985). O município de Iúna atualmente compreende a região de dois quarteis: o quartel do Chaves, que logo passou a ser chamado de quartel do Rio Pardo, devido ao rio que ficava próximo; e o quartel do príncipe, onde hoje se localiza o distrito de Iúna chamado de São João do Príncipe (ALBARROS, 2009). Com objetivo de Catequizar os índios, que até então eram arredios, construíram o Aldeamento Imperial Afonsino, localizado onde hoje é o município de Conceição do Castelo, Para acomodar os missionários Capuchinhos vindos da Itália (MARCONDI, 1990). A religiosidade na região foi o pilar que estruturou a formação de Iúna, pois a origem do povoado, antes chamado Arraial de São Pedro de Alcântara do Rio


20 Pardo, que surgiu com a construção de uma Capela construída pelo Missionário Capuchinho Frei Paulo de Casanova em 1845 (ALBARROS,2009). Em 1855, o Alferes José Joaquim Ferreira Vale, doou quarenta e dois alqueires de terra para a construção de uma capela e expansão do arraial que formava as margens do Rio Pardo (MARCONDI,1990). Em 1856 o Missionário Capuchinho Frei Bento de Gênova, assumiu a direção do Aldeamento Imperial Afonsino. Verificou que o aldeamento ficava em uma região pouco povoada. Por esse motivo mudou-se para o Quartel do Rio Pardo, e alavancou-se a Campanha para construção da capela dedicada a Nossa Senhora da Pureza (ALBARROS,2009). Em 1859, o arraial foi elevado a distrito de Vitória, com o nome Freguesia de São Pedro de Alcântara do Rio Pardo. Posteriormente passou a pertencer o distrito de Viana, e em 1867 passou a pertencer a Cachoeiro de Itapemirim. Muitos imigrantes chegaram no local, no período de 1865 a 1870, diversas famílias de origem portuguesa, remanescentes da Guerra do Paraguai, ganharam terras do Imperador Dom Pedro II e se instalaram naquela freguesia (RODRIGUES,2010). Em 1879, a capela de Nossa Senhora da Pureza já não abrigava mais o Número de fiéis, sendo necessária a construção de uma nova igreja, mais ampla, Padre José Maria Dias à consagra a Nossa Senhora Mãe dos Homens. Em 1910, devido ao aumento de moradias no local, a igreja foi demolida e, em seu lugar construída uma nova Matriz, em 1948, foi construída uma torre. Anos depois, em 1967, Padre Pedro Luiz Agostinho, faz o lançamento de uma nova Igreja Matriz no mesmo Lugar, inaugurada em 1972, a atual Igreja Matriz Nossa Senhora Mãe dos Homens, que recentemente foi reformada pelo Arquiteto Jones Rodrigues Gonçalves, alterando a fachada para duas torres, (Figura 01), (RODRIGUÊS, 2010).


21 Figura 1- Igreja Matriz Nossa Senhora Mãe dos Homens

Fonte:

IJSN,2009.

No dia 24 de outubro de 1890 que os moradores do Arraial do Rio Pardo, fizeram um pedido formal à Assembleia Constituinte, para que fosse criado o município, fato concretizado em 11 de Novembro do mesmo ano. Sendo assim foi criado o Município da Villa do Rio Pardo, com sede na antiga Freguesia de São Pedro de Alcântara do Rio Pardo, mais dois distritos: Santa Cruz e São Manoel do Mutum (ALBARROS, 2009). Segundo IBGE,2014, foi através do decreto estadual nº 15177, de 31-12-1943, o município Passou a se chamar Iúna, em homenagens ao antigos Habitantes, pois na língua tupi, Iúna significa águas Pardas.

Até 1920, essa região do território do Caparaó permaneceu sem grandes vias de acesso, por isso permaneceu isolada em relação ao resto do Estado, ainda com parte de suas florestas nativas intactas. Com a abertura de novas estradas na região, facilitou-se o acesso, e a partir deste fato iniciou-se, o desmatamento de áreas, e potencializou às lavouras de café e pastagens, introduzindo-se a pecuária leiteira (INCAPER, 2011).


22 Porém, o maior desenvolvimento econômico começou após a construção da BR262, no final dos anos 1960 que liga Vitória a Belo Horizonte, incluído, também, as outras rodovias estaduais que passam no território (INCAPER, 2011). 1.1 O SÍTIO DA ÁGUA SANTA Albarros (2009) relata que após assumir o Aldeamento Imperial Afonsino, em 1856, Frei Bento de Gênova, percebeu que o local ficava isolado e que precisava ir para próximo dos índios. Mudou-se então para onde ficava a maior concentração de Índios a serem catequizados, o Quartel do Rio Pardo, onde hoje é o município de Iúna lá construiu a nova capela de Nossa Senhora da Pureza. Foi a partir da capela que o povoado foi surgindo. Considera-se o frei capuchinho Bento de Genova, muito importante para a memória da cidade, pois foi de certa forma responsável na formação da cidade e na descoberta do Sítio da Água Santa. Segundo o historiador José Olimpio de Almeida3, em entrevista (Anexo 1), o Frei Bento de Genova se sentindo adoentado, resolver refugiar-se nas matas, próximas ao povoado. Ao anoitecer encontrou um lugar protegido por uma pedra muito alta, com nascentes de águas cristalinas, e sentiu que era um lugar místico, podendo ficar mais próximo de Deus até a sua Morte. Após suas orações, bebeu a água da fonte, e no Outro dia acordou melhor, e com isso permaneceu por ali mais alguns dias. Se sentindo curado, voltou para o povoado de São Pedro de Alcântara situado a 3 km. O povo do lugar ficou surpreso com o acontecido, e iniciou-se assim o culto à Santa Luzia, santa de devoção do frei (INFORMAÇÃO VERBAL). Frei Bento de Genova continuou sua função, sempre frequentando e levando seus seguidores para o local. O Frei Permaneceu em sua função até dia 01 de janeiro de 1862, quando foi encontrado morto entre uma fenda estreita que fica anexada a grande pedra do Sítio da Água Santa. Desde então a Pedra ganhou Olímpio de Almeida, José. História da Água Santa. 2014. Entrevista concedida a Pollyne Andrade Cezar, Iúna, dia 09 de maio de 2014. 3


23 a fama de Pedra do Pecado, e a gruta que jorra água, localizada próxima a fenda, na mesma pedreira, ficou conhecida como a Água Santa (RODRIGUES, 2010). Conforme a tradição da época, o que se relacionava com os sacerdotes e as ordens, eram considerados “sagrado”. Assim, o lugar, passou a ser devotado a Santa Luzia a partir de 1879, quando recebeu a imagem da santa na fonte de água cristalina. Desde então, segundo a tradição local, acredita-se que passando três vezes pela fenda formada pela natureza, “redime-se” os pecados. Conforme a crença local, se eventualmente alguém ficar retido na fenda, somente com o auxílio de um padre poderá se soltar. Ainda segundo a tradição local, existem diversos milagres atribuídos à “água santa” e a Santa Luzia, registrados em um painel na sala dos milagres existente naquele sítio. Um dos fatos, acontecido, segundo a tradição, foi em 1899 foi uma terrível seca que atingiu toda a região, prejudicando plantações e a criação de gado. Os moradores perceberam que enquanto todas as minas de águas e nascentes secavam, a pequena fonte da Água Santa, só aumentava e continuava fresca e límpida. Um grande número de pessoas se dirigiram ao local, para buscar a água para uso doméstico. E após uma triste espera, a tão esperada chuva veio no dia 13 do mês de dezembro4. Um grupo de fiéis, segundo a crença popular, liderados pela imigrante italiana Rosa Amigo Lafego, dirigiu-se ao local para agradecer a chuva. Rezavam o terço, acompanhado de canções napolitanas, dentre elas, a de Santa Luzia (Santa Lucia de Siracusa). A partir desse episódio, a fé popular consagrou definitivamente o local a Santa Luzia.

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13 de Dezembro é dedicado a Santa Luzia, dia de seu martírio se deu em 13 de dezembro de 304. (RIBEIRO,2012)


24 Outro fato acontecido segundo a crença popular, ocorreu entre 1914 a 1917, quando uma epidemia popularmente conhecida como “Gripe Espanhola” levou à morte muitas pessoas no Brasil e no mundo. Na vila do Rio Pardo, uma carroça passava recolhendo os mortos; em algumas casas morriam 2 ou 3 pessoas. Os pais desesperados, não tendo outros recursos, levaram seus filhos doentes para a Água Santa, para morrerem. Porém, a maioria que lá foram “deixados” sobreviveu à epidemia. Seguindo com as narrativas do lugar, pode-se destacar o episódio de 1920, quando um grupo de três senhoras, residentes da vila do Rio Pardo foram a Água Santa rezar, como já era de costume, chegando ao local, tiveram, segundo seus depoimentos na época, a visão de Nossa Senhora, que apareceu na pedreira. Muito emocionadas rezaram e correram a vila, onde foram relatar ao padre o fato acontecido. Coincidentemente os nomes das três senhoras, eram Maria: Maria Hipolitto de Castro, Maria Rodriguês Lafego e Maria Lourenço de Castro. Outro caso, registrado pela tradição local, é que certa vez uma pessoa com deficiência visual, muito devota de Santa Luzia, sonhou que a Santa havia lhe falado para ir à Água Santa; arrepender-se de suas culpas, passasse pela Pedra do Pecado, pois uma pessoa de muita fé, ali no pequeno lago da Água Santa, tinha restabelecido a visão naquele lugar. No outro dia, a pessoa pediu a alguém para levá-la até o local e tudo aconteceu como no sonho com Santa Luzia. Após orar junto com a pessoa de fé, que lhe banhou os olhos, voltou a enxergar. A história de Santa Luzia (ou Santa Lucia de Siracusa), segundo Reau (1997 apud RIBEIRO, 2012), inicia-se no século IV, com um jovem chamada Lucia, de uma família rica de Siracusa, Sicília – Italia. A jovem foi prometida a um jovem da corte, chamado Patrício. No entanto Lucia, cristã, havia feito um voto de castidade eterna e pediu para que o casamento fosse adiado. Sua mãe, Eutíquia, foi acometida a uma doença grave, e Luzia conseguiu convence-la a ir até ao túmulo de Santa Águeda ou Ágata. E Eutíquia conseguiu o milagre da cura, diante deste fato, apoiou a filha em seu voto de castidade, concordou em cancelar o casamento e ainda aceitou que seu dote fosse doado aos pobres.


25 O jovem não conformado com o cancelamento do casamento; entregou Luzia, relatando a cristandade da moça ao governador Romano Pascácio; como era período de perseguição religiosa a jovem foi levada a julgamento. O governador mandou a jovem a um prostíbulo; como consta a tradição, sem que a jovem fizesse nenhuma força, nada conseguiu move-la do chão. Diante disto, foi condenada à morte ali mesmo, mas não conseguiam matar a moça; somente no dia 13 de dezembro de 304, com um golpe de espada conseguiram executá-la. No mesmo lugar em que foi sepultada, em Siracusa, construíram um Santuário dedicado a Santa Luzia, mártir do cristianismo (RIBEIRO, 2012). A tradição que deu origem a devoção de Santa Luzia como protetora dos olhos e da visão surge quando o governador perguntou a Luzia porquê não queria se casar com Patrício, a moça questionou, o que afinal ele havia visto nela que fosse belo, e Pascácio respondeu: Seus olhos brilhantes, então a jovem Luzia pediu para que trouxessem um prato e arrancou seus dois olhos e colocou sobre o prato e pediu para que enviasse ao jovem Patrício. Embora este fato seja apenas lenda, o nome Luzia, carrega o significado “Caminho de Luz”, fazendo nascer nos povos a grande devoção na santa como protetora dos olhos, atribuindo muitos milagres por sua interseção (RIBEIRO, 2012).

1.2

LOCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO

De acordo com os dados do IBGE, 2014, Iúna situa-se no sudeste do Brasil (figura 2), pertencente ao Estado do Espirito Santo (figura 3). O município possui área territorial de 460 Km2, a sede municipal, localiza-se geograficamente nas coordenadas: Latitude de 20º 20’ 40’’ S e Longitude de 41º 32’06’’ W.


26 Figura 2 - Mapa do Brasil, destaque Região Figura 3 - Região Sudeste, destaque Espirito Sudeste. Santo.

Fonte: dados IBGE, elaborado pela autora.

Fonte: Dados IBGE, elaborado pela autora.

O município pertence a microrregião Caparaó (figura 4), (figura 5). Sua localização estratégica, faz divisa com vários municípios, como: Irupi, Ibatiba, Ibitirama, Muniz Freire e outros no Estado de Minas Gerais. A distância até a capital do Estado do Espírito Santo – Vitória - é de 187 km, sua localização é privilegiada não só pela proximidade com o parque nacional do Caparaó, mas também por ter as rodovias BR 262, ES-185, ES-190 e ES- 379, compondo sua malha viária. Essas rotas trafegam turista de Minas Gerais e Espirito Santo (INCAPER,2011).

Figura 4 - Mapa do Espirito Santo, destaque Figura 5 - Região do Caparaó, destaque Região Caparaó. Município de Iúna.

Fonte: Dados IBGE, elaborado pela autora

Fonte: Dados IBGE, elaborado pela autora


27

1.2.1

Caracterização do Município de Iúna

O município de Iúna está localizado nas montanhas do Espírito Santo, sendo um dos onze municípios que compõem a região do Caparaó. Lugar onde a natureza foi generosa, pelos relevos de formação rochosa, composição da floral, fauna, recursos hídricos, e clima Tropical de altitude (PREFEITURA MUNICIPAL DE IÚNA, 2014). A economia constitui-se basicamente na agricultura cafeeira e agro turismo, que se desenvolve timidamente, pois com seu vasto acervo de belezas naturais, mostra o potencial para turismo de montanha, aventura, ecológico e agro turismo e religião com o sítio da Água Santa, que é palco de peregrinação de fiéis de toda a região (INSTIRUTO SANTOS JONES NEVES, 2009). Sua formação administrativa é constituída por cinco distritos: Nossa Senhora das Graças, Santíssima Trindade, Iúna (sede), São João do Príncipe e Pequiá. (Figura 6), (INCAPER,2011). Figura 6 - Mapa Do Município de Iúna/Distritos.

Fonte: Dados IBGE, elaborado pela autora.


28 Segundo os dados censo, 2010, o município possui uma população de 27.328 habitantes. O sítio da Água Santa pertence a sede de Iúna. Apresenta a religião Católica Apostólica Romana como predominante, com 57% dos habitantes, como mostra o gráfico 1.

Figura 7- Gráfico de Religião predominante em Iúna-ES

Fonte: Dados do IBGE. Gráfico elaborado pela Autora.

1.2.2

Definição e Localização da Área de Estudo

A área de estudo é o Sítio Histórico e Cultural da Água Santa5, um lugar místico, devocional dedicado a Santa Luzia, a protetora dos olhos e da visão. Localizado a 3 km do Centro da cidade de Iúna- ES, como indicado na Figura 8.

5

Classificado de acordo com a Lei Municipal nº 2182/ 2008, Art. 84, anexo 5 como Patrimônio Cultural do Município. Fonte: PDM,2008


29

Figura 8- localização da área de estudo, em relação a área urbana.

Fonte: Dados Geobases, elaborado pela autora.


30 Capitulo 1 2 Conceitos: Hierofania e Lugar Sagrado

O que é sagrado? - De acordo com Pastro (1993), há uma dificuldade no ser humano em demonstrar uma “presença escondida”. Despertamos sentimentos de temor diante do mistério, e um sentimento de perfeita indenidade diante de todo o mistério. O sagrado se opõe ao profano, o homem só compreende o sagrado quando ele se manifesta. Para Eliade (1992) distinção entre o sagrado e o profano constitui-se na medida em que: “a primeira definição que se pode dar ao sagrado é que ele se opõe ao profano”, ou seja, o sagrado possui características próprias que o diferencia do profano, características essas diversas que proporcionam ao homem uma ligação com o mundo transcendente, já o profano é tudo que não proporciona viver experiências do sagrado. Para o autor, essas manifestações do sagrado são definidas como hierofania, em seu tratado sobre a história das religiões.

Piazza (1976) nos explica que a palavra hierofania vem da conjunção de duas palavras gregas: “hierós” (santo, sagrado) e “fanein” (manifestar). Piazza (1976, apud Eliade, 1959) define que hierofania é toda e qualquer manifestação do Sagrado.

Na atualidade, o mundo se converte em um pluralismo étnico, cultural e religioso, onde o espaço sagrado constitui-se em uma fantástica experiência religiosa sendo que em diferentes contextos sócio-espaciais o fato religioso imprime marcas no espaço fazendo-se necessário refletir sobre as relações entre o homem e a divindade (ROSENDAHL, 2009).


31 Segundo, Rosendahl, 2002, “é por meio dos símbolos, dos mitos e dos ritos que o sagrado exerce sua função de mediação entre o homem e a divindade” e essa relação ocorre em um determinado espaço que é denominado “espaço sagrado, enquanto expressão do sagrado, que possibilita ao homem entrar em contato com a realidade transcendente[...]” (ROSENDAHL, 2002,p.30).

Para Eliade (1992) o limite, a baliza, a fronteira que distinguem e opõem dois mundos (Sagrado e Profano) é o lugar paradoxal onde esses dois mundos se comunicam, onde se pode efetuar a passagem do mundo profano para o mundo sagrado. Oliveira (2012) explana que o espaço, na perspectiva do espaço vivido, é o conjunto de representações simbólicas. Entre os símbolos, estão aqueles ligados à religiosidade do homem que singularizam o espaço, transformando-o em um espaço sagrado. Ao contrário do que ocorre no espaço profano, no qual não é possível nenhum tipo de referência e orientação, a manifestação do sagrado, ou seja, caracterizado pela existência de elementos que não possuam sacralidade. Complementando a ideia supra, Rosendahl (2005), nos diz que a identidade de lugares é construída pelas pessoas e que a ocupação humana desses espaços é marcada pelo uso de símbolos transformando-o em um espaço sagrado sendo que esse significado está ligado a cultura do indivíduo ou ao grupo social religioso em que está inserido. Ainda segundo Rosendahl, 2009,p.3, “O território religioso dá segurança aos seus adeptos, representa o símbolo de identidade da fé, e, afirma-se como o espaço de liberdade, de união com o seu Deus”. No dizer da autora, o homem experimenta o sagrado em espaços diferentes do seu cotidiano, esse espaço constitui-se como um ponto fixo onde encontra e reencontra suas lembranças ou experiências já vivenciadas renovando sua fé nesses lugares sagrados (ROSENDAHL, 2005).


32 O espaço, sendo ritualmente construído, torna-se “centros de mundo” geralmente constitui-se significados pela existência de elementos que, como revelações hierofânicas, transformam-se qualitativamente em lugares poderosos (ELIADE, 1991). Na concepção de Rosendahl, 2005, para a geografia o espaço sagrado é um campo de forças e de valores que eleva o homem religioso acima de si mesmo. Em seus estudos sobre a Geografia Cultural, Rosendahl (2008) nos diz que é possível reconhecer o espaço sagrado em três níveis: o fixo, não fixo – móvel – e o imaginalis. O fixo são os espaço e tempos com uma territorialidade definida, como é o caso do sítio da Água Santa em estudo. O não fixo, ou seja, móveis são aqueles que permitem uma mobilidade do espaço sagrado, como por exemplo: as festas religiosas que ocorrem em um circuito de lugares onde ocorrem. Por fim o imaginalis refere-se em casos onde os adeptos mesmo que não haja um espaço disponível, conseguem construir um círculo em sua mente. De acordo com Piazza (1976) esses lugares estão impregnados de elementos hierofânicos que funcionam como “sinais” da presença de uma realidade transcendente e absoluta. Para o autor os elementos hierofânicos se impõem ao homem religioso, seja qual for a sua fé, levando-o sempre a ver neles uma “manifestação do Sagrado”. Destacamos, especificamente, nesta pesquisa a água e a pedra. A água como ponto de origem da criação e a pedra com símbolo da estabilidade e sinal de uma potência superior. Conforme Eliade (1993, p. 157) “a água torna-se a substância mágica e medicinal por excelência; ela cura, rejuvenesce, assegura a vida eterna” nesta pesquisa sobre o sítio da água santa a água está ligada ao simbolismo de cura. Com relação ao simbolismo da pedra, Eliade (1993, p. 175) destaca que “os homens adoram as pedras na medida em que elas representam algo diferente


33 delas mesmas”. Relacionando ao sítio da Água Santa, foco desta pesquisa, a pedra, segundo a crença popular, neste local tem o poder de redimir os pecados. A relação entre pessoas e lugares sagrados pode constituir-se em um elo afetivo entre a pessoa e o lugar. Essa relação é denomina por Tuan (2012) como Topofilia. O autor define Topofilia num conceito amplo como “todos os laços afetivos dos seres humanos com o meio ambiente material” (TUAN, 2012, p 135136). Ao analisarmos, num breve histórico, o município de Iúna, e o sítio histórico da Água Santa, podemos perceber as marcas da fé na formação do lugar, e a importância do sítio da Água Santa, para a população local. O sítio da Água Santa possui uma história de devoção há 150 anos, e desde então, é considerado, pelos peregrinos, um lugar sagrado. Na Água Santa a grande pedra, em conjunto à “pedra do pecado”, são considerados lugares sagrados e a água da fonte de Santa Luzia, como o próprio nome, “Água Santa”, sugere, é considerada sagrada. De acordo com Castro (2008), Os santuários católicos são lugares especiais nos quais os crentes realizam e renovam práticas devocionais, se constituindo assim em ponto de interface entre o mundo material e a dimensão espiritual. Esses lugares sagrados geralmente estão envoltos em muito simbolismo e misticismo, ligados às práticas de ritualização de eventos do passado que, pelo seu caráter excepcional, se tornam transtemporais. (CASTRO. 2008, p.1)

Nesta perspectiva estudar o sítio da Água Santa constitui uma vivência e experienciação dos agentes que estão diretamente ligados ao fenômeno religioso, como os desejos e aspirações daqueles que buscam, no lugar, uma maior proximidade com Deus através dos simbolismos contidos naquele espaço sagrado, fato que fomenta uma modalidade de turismo, chamado turismo religioso.


34 2.1 TURISMO RELIGIOSO Conforme o Ministério do Turismo (2012), cerca de 15 milhões de brasileiros, motivados por crença religiosa, viajam todos os anos por diversos destinos no país, com o objetivo de praticar a peregrinação a centros religiosos e santuários. Ainda conforme os dados do ministério, a importância do turismo religioso no Brasil, tem contribuído para um novo crescimento econômico, pois as festas religiosas que sustentam muitas cidades, geram empregos e uma melhor distribuição de renda. As festas religiosas estão entre as mais fortes expressões da cultura brasileira. O que diferencia um turista religioso de um turista interessado em aventura ou lazer, por exemplo, é a sua motivação: a fé. E cada vez mais, com a expansão do setor em nosso país, os brasileiros podem exercitar suas crenças. (M. Tur. 2010)

De acordo com (SANCHIS, 1983; ESPÍRITO SANTO, 1990; MALDONADO, 1990, p. 79-86 apud VALLE, 2006), historicamente foram os espanhóis e os portugueses, que trouxeram o costume de romarias e peregrinações da Europa, mas já existiam no Brasil costumes semelhantes. Houve uma mistura de tradições e crenças, e no catolicismo latino-americano, as peregrinações a locais sagrados, festas religiosas, tornaram-se, uma expressão marcante da religiosidade do povo. Nos santuários se revela o sagrado, e toca o devoto a presença direta ou indireta de Deus. As figuras de Jesus e de Maria são largamente dominantes, mas os santos estão sempre presentes como intermediários poderosos. Valle (2006) nos diz que ao falar sobre o tema lembra-se de uma palavra muito usada entre os católicos brasileiros: “caminhada”. Termo surgido nas comunidades eclesiais de base6, espalhando para outras, visando expressar uma nova compreensão da vida comunitária cristã. Esta percepção ganhou força

6 Comunidades eclesiais de base são grupos de natureza religiosa e caráter pastoral, organizados em torno da paróquia urbana ou capela rural, com o objetivo de buscar soluções para os problemas de sobrevivência, moradia e melhores condições de vida (SALES, 2010). Disponível em: http://domeugeniosales.webnode.com.br/comunidades-eclesiais-de-base/ consultado em: 11 de maio de 2014.


35 e significado entre as comunidades e os fiéis em um duplo sentido: da vocação e da responsabilidade que cabe a cada católico enquanto fiel consciente.

O autor ainda complementa que: “Caminhar”, “peregrinar”, “fazer romarias” não é algo novo para nosso povo católico. Há séculos existem santuários nacionais, regionais e locais espalhados por todo o Brasil. A todos continuam acorrendo multidões, apesar das grandes mudanças que se verificam no campo religioso brasileiro. São tradições arraigadas em antigos costumes repassados de geração a geração (VALLE, 2006,P.2).

O turismo religioso pode ser definido segundo Andrade, (2002), como, o conjunto de atividades com a aplicação de instrumentos, realização de visitas a lugares que expressam misticismos, fé, esperança e caridade às pessoas ligada a religiões. É uma forma de turismo organizado em programas cujos objetivos religiosos dos fiéis se caracterizam como romaria, peregrinação, e penitência. Os subtipos do turismo religioso podem ser classificados como: romaria, onde o conjunto de atividades que alguém, por livre vontade e sem intuito de recompensas materiais ou espirituais, viaja a lugares sagrados; peregrinação onde o conjunto de atividades ligados as visitas que as pessoas fazem em lugares sagrados está relacionado ao cumprimento de promessas anteriormente realizadas; e penitência ou viagem de reparação, quando um indivíduo, determinado a redimir seus pecados, espontaneamente se dirige aos lugares sagrados em espírito de arrependimento (ANDRADE,2002). Steil, (2005, apud VALLE, 2006), explica que o termo peregrino vem do latim peregrinus que significa estrangeiro, o que não pertence ao local a que designa, a quem percorre caminhos desconhecidos. Valle diferencia o termo romeiro, como o que se refere a caminhos mais curtos, com festividades e participação comunitária e familiares com suas tradições. Para Oliveira (2004), o turismo religioso é o turismo que não perdeu sua origem peregrina, e continua motivado pelo misticismo da celebração. Com isso a festa religiosa explica a complexidade de lugares sagrados nas mais diversas


36 religiões. Em outras palavras, o turismo religioso é o turismo motivado por festas religiosas, por sua vez é um exercício mítico da projeção do mundo idealizado, e a matriz para a compreensão das motivações culturais e espirituais que alimenta o turismo religioso nas diferentes crenças. O turismo e o movimento de peregrinações transformam o espaço a partir de uma experiência com o sagrado (ROSENDAHL, 2009). Segundo, Valle, (2006), amplos são os contextos em que estão inseridas as experiências antropológicas que todo “bom romeiro” vivência. O autor destaca: as motivações pessoais mais imediatas; sua experiência de sair do seu cotidiano e; principalmente, sua experiência, ao lado de outras pessoas, em busca de um lugar sagrado e um encontro com o divino. O Turismo Religioso faz parte do turismo cultural onde o turista adquire novos conhecimentos através de manifestações religiosas, contato com a arquitetura de igrejas, museus e arte sacra. Este segmento turístico envolve um grande movimento de pessoas, que se deslocam de seu local de origem motivados pela fé para outro destino permanecendo alguns dias, gerando assim renda local; pois esses turistas religiosos, romeiros e peregrinos são ainda consumidores de bens e serviços (SANTOS, 2012). Segundo Ignarra (2003) o produto turístico engloba hospedagem, alimentação, transportes, agenciamento, facilidades de compras, atrativos, infraestrutura e comunidade receptiva. Assim para o desenvolvimento do turismo são necessárias parcerias capazes de atender às exigências dos turistas. Parcerias essas, consideradas pelo autor, difíceis e complexas, demandando que haja intervenção do poder público. Para o autor, o papel do poder público pode abranger diversas atividades como: Planejamento das atividades, controle da qualidade, promoção institucional, financiamento dos investimentos da iniciativa privada, capacitação de recursos humanos, controle do uso e da conservação do patrimônio, capacitação, tratamento e distribuição da informação turística, implantação e manutenção da infraestrutura, serviços de segurança pública, captação de investidores privados,


37 desenvolvimento das campanhas para o incentivo ao turismo, apoio ao desenvolvimento de atividades culturais locais, dentre outros. (IGNARA, 2003). O turismo religioso no estado do Espírito Santo está presente em várias manifestações: A festa da Nossa Senhora da Penha, a celebração dos Passos de Anchieta, Festa de São Benedito e Festa de Corpus Christi (POTENCIAL TURISTICO, 2014). A festa da Nossa Senhora da Penha (Figura 9), se realiza, anualmente, oito dias após a páscoa em vários municípios do estado do Espírito Santo devido a Santa ser padroeira do Estado, mas em Vila Velha onde se encontra o Convento da Penha é comemorada com romarias, missa e shows. A festa é considerada a terceira maior manifestação religiosa mariana do Brasil (RIBEIRO,2006). Figura 9 - Festa da Penha

Fonte: Jamille Scopel, 2013

A celebração dos passos de Anchieta (Figura 10), é realizada no feriado de Corpus Christi. Constitui-se num caminho que ficou conhecido como “o caminho das 14 léguas” o trajeto refaz a peregrinação do padre José de Anchieta, recentemente canonizado pela Santa Sé, percorrendo 100 km de da cidade de Anchieta a Vitória por meio de trilhas realizada em quatro dias numa média de 25 km por dia. A caminhada proporciona aos andarilhos momentos de fé e


38 reflexão, e ainda revela os encantos naturais do território capixaba repletos de belas paisagens e símbolos históricos (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS AMIGOS DOS PASSOS DE ANCHIETA, 2014). Figura 10– Passos de Anchieta

Fonte: Passos de Anchieta, 2011.

A Festa de São Benedito (Figura 11), no município da Serra-ES, é realizada no 1º domingo após o dia 8 de dezembro data na qual segundo a tradição oral ocorreu o naufrágio de um navio negreiro no litoral capixaba. Segundo consta os náufragos pediram proteção a São Benedito e se agarraram ao mastro da embarcação, e assim foram salvos. Por isso a festa é caracterizada pela cortada, puxada, fincada e retirada do mastro. Sendo as diversas bandas de congo uma das principais atrações da festa ( PREFEITURA MUNICIPAL DA SERRA, 2014).


39 Figura 11 – festa de são benedito, fincada do maestro.

Fonte: Zelita Viana,2012. A Festa de Corpus Christi é uma celebração nacional, no Estado do Espírito Santo a cidade de Castelo (Figura 12) destaca-se em função da beleza de seus tapetes e extensão que atinge aproximadamente cerca de 3,5 km de extensão ocupando as ruas e avenidas do município (RODRIGUES, 2010). Figura 12– Corpus Christi em Castelo.

Fonte: Festa de Corpus Christi,2013.

O estado do Espírito Santo Também conta com várias construções religiosas além do circuito: Caminhos da Sabedoria, também conhecido como das Três Santas, além das tradições religiosas é contemplado por uma diversidade


40 ecológica agregando valor no turismo religioso local (POTENCIAL TURÍSTICO, 2014).

O Convento da Penha, iconografia urbana simbólica do Espírito Santo, é um santuário construído por escravos em 1558, em cima de um grande rochedo. De lá se divisa a baía de Vitória, Vila Velha e suas praias voltadas para o oceano (RIBEIRO, 2006).

As igrejas são ícones do turismo a igreja Tirol foi construída em 1911, possui estilo neogótico e está localizada em Santa Leopoldina, Região Serrana do Estado. Outro destaque capixaba é a Igreja Matriz Nossa Senhora da Penha, situada no município de Alegre, fundada em 1851, possui vitrais e pinturas retratando a vida de Cristo. Em Presidente Kennedy encontra-se a Igreja Nossa Senhora das Neves, construída em meados do século XVI. Um outro marco histórico do Estado do Espírito Santo é a Igreja Nossa Senhora do Amparo no município de Itapemirim, a igreja Nosso Senhor dos Passos e Igreja Catedral de São Pedro, localizada em Cachoeiro de Itapemirim (RODRIGUES, 2010).

2.1.1 Iúna e o Turismo Religioso

Iúna é um município de grande potencial turístico. Desde o turismo de aventura, em suas montanhas, ao agroturismo e turismo religioso propriamente (INCAPER, 2011). O município está inserido na Rota Imperial7, que foi criado para fomentar o desenvolvimento do turismo (PORTAL DO CAPARAÓ, 2009). No âmbito da metodologia da pesquisa efetuada, visando a compreensão do perfil dos usuários e atividades praticadas quanto ao turismo religioso, foram

Rota Imperial: Estrada Real de São Pedro de Alcântara, construída em 1816, para abrir caminho de Vitória – ES a Ouro Preto. Disponível em: <http://www.es.gov.br/EspiritoSanto/Eventos/1017/detalhes.htm> consultado em 20 de maio de 2014.

7


41 aplicados questionários8, aos peregrinos da Água Santa, onde importantes informações foram levantadas e processadas conforme representadas a seguir nos gráficos 2,3,4,5,6,7,8, 9. (REGISTRO ORAL).

No tocante a faixa etária dos entrevistados (Figura 13), Percebe-se que o sítio da Água Santa abrange uma diversidade de usuários de variadas faixas etária, sendo esse número maior com pessoas acima de 40 anos, esse número inclui idosos e demais peregrinos com mobilidade reduzida. Fato que ressalta necessidade do projeto prever acessibilidade.

Figura 13- Gráfico de Resultados Entrevista aos peregrinos – Faixa Etária.

Faixa Etária Abaixo de 25 7% de 25 a 35 20% Acima de 40 73%

Abaixo de 25

de 25 a 35

Acima de 40

Fonte: Registro Oral, gráfico elaborado pela autora, 2014.

Nota-se que a maior parte dos peregrinos entrevistados é de outros municípios, mostrando que muitos não visitaram outros lugares em Iúna, concentrando-se

8Peregrinos.

Turismo religioso na Água Santa. 2014. Entrevista concedida a Autora, Iúna, 13 de maio de 2014.


42 apenas na visita à Água Santa. Com este dado percebe-se uma maior valorização por partes de visitantes de outros municípios e regiões (Figura 14). Figura 14 – Gráfico de Resultados Entrevista aos peregrinos – Local de origem

Local de Origem Outros Estados 25%

Iúna 40%

Outros Municípios ES 35%

Iúna

Outros Municípios ES

Outros Estados

Fonte: Registro Oral, gráfico elaborado pela autora, 2014.

Foi perguntado aos peregrinos de outras localidades se já visitaram outros lugares em Iúna (Figura 15), percebe-se que a maioria não conhece outro ponto de interesse turístico em Iúna. Essa informação ressalta a importância da valorização do lugar quanto ao seu perfil para turismo religioso.

Figura 15 - Gráfico de Resultados Entrevista aos peregrinos – Outros Lugares

Já visitaram outros Lugares em Iúna?

sim 45%

Não 55%

sim

Não

Fonte: Registro Oral, gráfico elaborado pela autora, 2014.


43 Outra importante questão a destacar, junto ao peregrino: Se já visitaram a Água Santa outras vezes (Figura 16). Para muitos dos peregrinos entrevistados era a primeira vez que visitavam a Água Santa, e mostraram interesse em voltar. Figura 16 - Gráfico de Resultados Entrevista aos peregrinos - Visitação a Água Santa

Já visitaram outras vezes a Água Santa? Sim 16%

Não 84%

Sim

Não

Fonte: Registro Oral, gráfico elaborado pela autora, 2014.

A Figura 17, revela que o maior número dos entrevistados visita a Água Santa motivo religioso; relatam que visitam o lugar para efetuar um pedido em particular ou em agradecimento a uma graça alcançada. Figura 17 – Gráfico de Resultados Entrevista aos peregrinos – Motivo da Visita.

Motivo da visita Turismo 7%

Religioso 93% Religioso

Turismo

Fonte: Registro Oral, gráfico elaborado pela autora, 2014.


44 Importante constatação foi quanto a identificação dos meios de transporte utilizados pelos peregrinos (Figura 18), a maioria chega em carro próprio, e grande parte frequenta excursões organizadas para o local. Essa observação ressalta a importância do projeto abranger soluções adequadas para este perfil de usuário. Figura 18 – Gráfico de Resultados Entrevista aos peregrinos – Meios de transporte.

Meios de transporte Caminhada/Bisciclet a 23%

Carro 41%

Ônibus 36%

Carro

Ônibus

Caminhada/Biscicleta

Fonte: Registro Oral, gráfico elaborado pela autora, 2014.

Em relação a quantidade de pessoas que acompanhavam os entrevistados (Figura 19), percebe-se que a maior parte integrava grupos organizados de visitantes. Figura 19 - Gráfico de Resultados Entrevista aos peregrinos - Números de acompanhantes.

Quantas pessoas veio com você? Sozinho 5%

Mais de 5 pessoas de 2 a 4 pessoas 50% 45%

Sozinho

de 2 a 4 pessoas

Mais de 5 pessoas

Fonte: Registro Oral, gráfico elaborado pela autora, 2014.


45 Foi perguntado ainda se possuem datas específicas para visitar o sítio da Água Santa (Figura 20). As respostas variaram entre, os que sempre visitam o lugar, mensalmente no dia 13 de cada mês, quando acontece missa; sendo estes a maioria dos entrevistados. O dia de Santa Luzia, em 13 de Dezembro, é apontado como uma importante data para os que não possuíam uma data específica para voltar.

Figura 20 - Gráfico de resultados Entrevista aos peregrinos – Pretende Voltar

Possui uma data específica para voltar? sim/data específica 7% sim/13 de Sim/mensalmente 36% Dezembro 30%

Não 27% Sim/mensalmente

Não

sim/13 de Dezembro

sim/data específica

Fonte: Registro Oral, gráfico elaborado pela autora, 2014.

Com a análise dos resultados das entrevistas aos peregrinos da Água Santa, verifica-se o perfil dos usuários, para que possa desenvolver posteriormente as diretrizes projetuais. Percebe-se atualmente o crescimento nos números de visitantes no local, justificando assim a importância de valorizar esse espaço sagrado considerando a necessidade de espaços acessíveis, estacionamentos e áreas para celebrações. Com objetivo de melhor compreensão do perfil e práticas vinculadas ao turismo religioso, desenvolveremos um Estudo de Caso em área análoga ao Sítio Histórico Cultural da Água Santa.


46 2.2

ESTUDO DE CASO: SANTUÁRIO DO BOM JESUS DA LAPA – BA

Em um recenseamento bibliográfico sobre a temática do lugar sagrado e do turismo religiosos chegamos à diferentes produções acadêmicas sobre o Santuário de Bom Jesus da Lapa, BA, que permitiram a elaboração de um estudo de caso onde visamos analisar e entender as transformações ocorridas com a descoberta de um lugar sagrado e, a partir daí, o surgimento de peregrinações.

O Santuário do Bom Jesus da Lapa fica localizado na cidade de Bom Jesus da Lapa9, Centro-Oeste da Bahia. Considerado uns dos santuários mais visitados do Brasil, periodicamente peregrinos se deslocam até Bom Jesus da Lapa para visitar as grutas calcárias e o morro da Lapa que por mais de três séculos são considerados lugares sagrados (CASTRO, 2012).

De acordo com Mota, (2008), as grutas são formadas por um fenômeno natural entre a força das águas e do vento. O autor cita ainda: “o fenômeno geográfico adquiriu dimensão sociológica e religiosa, por relacionar-se àqueles que a ele se encaminham e nele projetam toda a sua mística.”

O Santuário de Bom Jesus da Lapa (Figura 21), é lugar de reflexão e também de festividades religiosas. A geografia é um elemento central e característico às práticas de devoção que se desenvolveram próximo ao Santuário do Bom Jesus da Lapa. A natureza sempre é ressaltada, como elemento importante para a prática religiosa. A peregrinação ao Santuário não só colocou a cidade no mapa

9Segundo

dados do Censo / IBGE 2010, a cidade de Bom Jesus da Lapa está localizada no Centro-Oeste do estado da Bahia, a 900 km da capital, Salvador, em direção ao oeste, e a 800 km de Brasília, dentro do Polígono das Secas. Possui uma população em torno de 63.508 habitantes.


47 religioso, mas também econômico, o que a diferencia de outras cidades da região (MOTA,2008).

Figura 21 -Santuário Bom Jesus da Lapa. Aspecto geral

Fonte: Gente e mercado,2013.

2.2.1 História do Santuário de Bom Jesus da lapa

Há vários relatos sobre a história do santuário, umas das mais aceitas, publicada pelos padres redentoristas e por de Kocik (2000), relata a saga de Francisco Mendonça Mar, nascido em Portugal em 1657, filho de um ourives em Lisboa. Exerceu a profissão do pai sendo ourives e pintor. Ainda jovem, em 1679, chegou à Bahia, onde se instalou em Salvador, tendo sua própria oficina. Em seguida, em 1688 foi contratado pelo governador geral do Brasil na Bahia para pintar o Palácio da Aclamação, então sede do governo. Após os trabalhos, ao invés de receber pelo serviço, foi parar na prisão como escravo. Posteriormente, quando conseguiu sua liberdade, decidiu se dedicar a Deus e, se deslocando pelo sertão


48 baiano como andarilho; Quando encontrou as grutas da Lapa, depositou as imagens de Jesus e Maria que carregava consigo (CASTRO, 2008).

Francisco se compenetrava em suas orações ao lado da imagem do Bom Jesus. Com isso despertou a atenção das pessoas que viajavam pelo rio São Francisco ou que se deslocavam em direção a Minas Gerais em busca das minas de ouro, pois na época, no final do século XVII, início do século XVIII, o melhor caminho para penetrar no interior do Brasil, era através do rio São Francisco. O caridoso Francisco ajudava aos doentes sem nada cobrar e transmitia a sua devoção à imagem do Bom Jesus; Transmitindo para as pessoas sua devoção. Em 1702, o clero da capital tomou conhecimento de seu trabalho e, quatro anos mais tarde, ordenou-o padre Francisco da Soledade (MOTA ,2008).

Ao longo dos séculos os viajantes começaram a fazer uma parada nas grutas para rezar a Deus perante as imagens do Bom Jesus e de Nossa Senhora da Soledade, colocadas por Francisco, então chamado “Monge”, num altar da capela-mor da Gruta. Francisco construiu as portas da gruta, o primeiro hospital de doentes e asilo para os pobres, tomando conta e sendo o próprio enfermeiro. Assim começou a crescer ao lado da lapa do Bom Jesus um povoado, assumindo assim a toponímia de Bom Jesus da Lapa (CASTRO,2005).

A morte do “Monge” ocorre em 1722. A tradição aponta a “Cova do Monge”, ao lado do altar-mor, como túmulo do Padre Francisco da Soledade. É o mesmo lugar onde dormia e fazia suas orações. Possui uma pedra de mármore preto com a inscrição: “Aqui foi Sepultado o Padre Francisco da Soledade, Sacerdote Secular, que trouxe a imagem milagrosa do Bom Jesus a esta lapa e nela viveu em oração e penitência. Descanse" (CASTRO,2005).


49 O povoado do Bom Jesus da Lapa começou e cresceu à sombra do Santuário do Bom Jesus. Com as constantes peregrinações e permanentes romarias de fiéis ao Santuário do Senhor Bom Jesus, o povoado foi se desenvolvendo constantemente, transformando-se em vila em 1870, e mais tarde, em 1923, passou a cidade. Em 1953 formou-se o município de Bom Jesus da Lapa (KOCIK, 2000).

O papel das religiões como produtoras e organizadoras dos espaços, atualmente tem sido valorizada no Brasil, pois ainda que apresente uma ampla diversidade de religiões, tem a Igreja Católica como majoritária. No município de Bom Jesus da Lapa, constata-se que a cidade surgiu e cresceu a partir das peregrinações ao Santuário do Bom Jesus, que recebe visitantes de diferentes regiões. A partir do reconhecimento do lugar como sagrado, criaram-se em seu entorno, funções ligadas ao comércio e aos serviços relacionados às devoções (CASTRO, 2005).

2.2.2 Espacialidades e Práticas Religiosas em Bom Jesus da Lapa

Segundo Oliveira, (2011) pode-se identificar três grandes romarias em Bom Jesus da Lapa; A romaria da Terra e das águas, do Bom Jesus da Lapa e da Soledade, que acontecem todos os anos de julho a setembro. Cada uma dessas romarias, costuma a ter o seu público específico.

Em Bom Jesus da Lapa, o culto ao Senhor Bom Jesus vincula e associa os peregrinos ao lugar sagrado; fazendo com o que muitos consideram o Senhor Bom Jesus, um Deus local. Para o devoto do Bom Jesus da Lapa, não é qualquer lugar que o aproximará do Senhor Bom Jesus, sendo necessário o retorno ao Santuário do Bom Jesus da Lapa sempre. Em dias de festas religiosas muitos depositam uma peça simbólica nas salas de ex-votos, chamada localmente de “sala dos milagres” (Figura 22), como agradecimento a uma graça alcançada.


50 Contudo, para o Catolicismo Romano, o Senhor Bom Jesus é Universal, o que representa Jesus Cristo: O filho de Deus que veio trazer os ensinamentos divinos e que sacrificou a sua vida pela humanidade (CASTRO,2005). Figura 22 -Santuário Bom Jesus da Lapa.sala dos ex votos.

Fonte: A.Nogueira,2011

Segundo Castro, (2005), em Bom Jesus da Lapa a compreensão do Santuário como lugar sagrado ocorre de forma distinta entre moradores e visitantes. Os peregrinos e visitantes valorizam mais o lugar e sua simbologia. Muitos dos moradores são católicos, mas o costume com a proximidade do local passou a ser rotina.

No santuário, as grutas rochosas e o morro são reconhecidos como lugares sagrados (Figuras 23, 24). A água, as imagens e os símbolos que se encontram nesses lugares, são igualmente considerados sagrados.De acordo com Micek, “o fenômeno geográfico adquiriu dimensão sociológica ereligiosa, por relacionarse àqueles que a ele se encaminham e nele projetam toda a sua mística. O morro passa a ser um núcleo de encontro, de festa [...]” (MICEK, 2006, p. 32).


51 Figura 23 - Santuário Bom Jesus da Lapa. Fiéis passando pela pedra.

Fonte: Associação dos romeiros, 2010

Figura 24 – Santuário de Bom Jesus da Lapa, Fieis subindo o morro do cruzeiro.

. Fonte: Leonildo Gasparim, 2009


52 Nas proximidades do Santuário, existem vendedores informais e casas comerciais que lucram com a venda de produtos religiosos (Figura 25). Há também vendedores ambulantes que entram nos recintos sagrados para vender produtos e/ou pedir esmolas. (CASTRO 2005). Essa é uma abordagem sobre a linha tênue que separa o sagrado e o profano e sua definição de limites. (ROSENDAHL 1996).

Figura 25 - Comércio popular no santuário de Bom Jesus da lapa.

Fonte: Cidades religiosas e turísticas, 2013.

Segundo OLIVEIRA (2011) o santuário recebe diariamente pessoas de lugares diversos, geralmente pertencentes às classes mais populares. Procedentes principalmente de outras cidades do estado Bahia e de Minas Gerais, que fazem uma composição entre o catolicismo oficial e o popular, mas sempre em busca de paz, curas, quitação de promessas, entre outros motivos.

Os peregrinos chegam ao santuário através de vários meios de transporte, como, carros, caminhões, ônibus, bicicletas ou a pé. O ônibus predomina como modalidade de transporte coletivo, mas ainda existe uma tradição com caminhão


53 de romeiros, o chamado “pau de arara”, (Figura 26) que resiste no tempo, sendo considerada uma forma de sacrifício. (OLIVEIRA, 2011).

Figura 26 - caminhão, conhecido como “pau de arara”. 13 de setembro 2011

Fonte: Sandro Azevedo,2011.

Os peregrinos costumam se hospedar na cidade, por alguns dias, em casas que foram adaptadas, se transformando em hospedagem coletiva, pois assim tornase mais econômico (CASTRO,2005). Ainda segundo Castro, o primeiro lugar a ser visitado pelo turista é a Esplanada do Santuário (Figura 27), que possui uma cerca que distingue o Santuário da praça pública; em seguida vai até os pontos principais, que são as grutas. A gruta principal, segundo o autor, é a gruta do Bom Jesus, um salão natural formado de pedras calcares (Figura 28). Seu acesso costuma a ser tumultuado, por isso em dias de festividades e romarias intensas, não ocorrem missas nessa gruta.


54 Figura 27 - Bom Jesus da Lapa, Esplanada.

Fonte: Turismo Bahia2011.

Figura: 28 -Santuário Bom Jesus da Lapa, Gruta Bom Jesus.

Fonte: João Guilherme de Carvalho,2013.

Ao lado esquerdo, na percepção do visitante que entra no santuário, localiza-se a chamada, “Gruta da Onça”, que possui uma Pia Batismal de pedra e imagem de Nossa Senhora Aparecida. Em frente situa-se o Altar do Senhor Bom Jesus; do lado direito fica a Gruta do Santíssimo Sacramento, onde são guardados a hóstia e o vinho que simbolizam corpo e sangue de Jesus Cristo.


55

Em direção ao Altar do Bom Jesus, do lado esquerdo, chega-se à Gruta da Soledade. Através da gruta da Soledade, se dá o acesso às outras como, as de São Geraldo e Santa Luzia. (CASTRO,2005). Recentemente, o altar de Nossa Senhora da Soledade vem sendo reformado pela equipe de manutenção do Santuário. Esta atuação visa melhorarias ao acesso dos Romeiros e visitantes para que o contato com a imagem de Nossa Senhora da Soledade seja acessível a todos como mostram as Figuras 29, 30, 31.

Figura 29– Reforma no altar da Soledade, 2014.

Fonte: Santuário de Bom Jesus da Lapa, 2014.


56 Figura 30 – Reforma no altar da Soledade, 2014.

Fonte: Santuário de Bom Jesus da Lapa, 2014. Figura 31– Reforma no altar da Soledade, 2014.

Fonte: Santuário de Bom Jesus da Lapa, 2014.


57 Ribeiro (2010) em sua obra descreve o Santuário: A gruta do Bom Jesus mede cinquenta metros de comprimento, 11 de largura e sete metros de altura. O morro da Lapa mede 1821 metros de comprimento, uma média de 93 metros de altura até a base do cruzeiro. A torre da igreja, um monumento fantástico de estilo espanhol, foi iniciativa do Monsenhor Turíbio. Mede 40 metros de altura e seis de largura. Foi levantada com grandes blocos de pedra lavrada. Em seu interior abriga dois sinos de tamanhos diferentes. Considerado santuário religioso, o morro abriga também as grutas de Santa Luzia, de Santo Afonso da Ressurreição, de Belém, dos Santos Mártires, Santa Helena, Nossa Senhora Aparecida, São Geraldo e São Geraldo do Santíssimo. RIBEIRO

(2010, p. 27).

Conforme Mota, (2008), alguns pesquisadores relatam a liberdade com que o romeiro participa das atividades no Santuário do Bom Jesus da Lapa. Alguns rituais hoje estão proibidos pela administração do santuário, como, tocar nas imagens ou pegar água das fontes para levar como “água benta”. Mas os peregrinos celebram a sua própria fé, suas devoções, cultivadas por sua experiência ou muitos com a própria imaginação.

De acordo com Castro (2008): Os Santuários católicos se constituem em lugares especiais nos quais o sagrado aflora alimentando assim o magnetismo devocional. Nesses lugares, as práticas litúrgicas do catolicismo oficial mesclam-se com práticas do catolicismo popular, criadas e recriadas pelos peregrinos ao longo do tempo. (CASTRO,

2008, p.1)

Segundo Mota (2008), a quantidade de fiéis vem aumentando a cada dia em muitos santuários. Segundo suas pesquisas, no Santuário do Bom Jesus da Lapa a frequência das romarias se dava entre os meses de julho a outubro, atualmente acontece em todos os meses do ano.


58 Ribeiro, (2010) analisou a infraestrutura da cidade de Bom Jesus da Lapa. Segundo o autor, o lugar possui um fluxo intenso de turistas que visitam a cidade atrás de atrativos de caráter histórico, cultural e religioso. Ainda segundo o autor, a infraestrutura de Bom Jesus da Lapa, é composta por diversos segmentos para atender o morador e o visitante, como: restaurantes, lanchonetes, bares, hotéis, motéis, pensões, quartos em residências e rancharias. Complementam a oferta, lugares de entretenimento tais como, teatros e estádios de esportes. Entretanto, o autor destaca que, essa infraestrutura ainda não comporta a demanda de visitantes na cidade. Muitos lugares que oferecem serviços de hospedagem são insuficientes e com serviços precários; como exemplos, algumas “rancharias”, visitadas pelo autor, onde constatou que só havia um banheiro com chuveiro e um único fogão de quatro bocas, para um grupo grande de pessoas. Relata também outros problemas encontrados, tais como: a)

Quantidade de restaurantes insuficientes e funcionários sem treinamento

para o receptivo aos turistas; b)

Ausência de mobiliário urbano básico, tal como: lixeiras, bancos,

sanitários públicos, sinalização, entre outros; c)

Trânsito caótico, onde carros, carroças, motocicletas e ciclistas se

misturam; d)

Ruas muito estreitas e as calçadas ocupadas por barracas;

e)

Serviço de segurança e coleta de lixo é precário;

f)

Dano à paisagem do morro é caminho com a falta de organização dos

comércios, que surgem sem regulamentação. Com esse estudo de caso inicial de Bom Jesus da Lapa, percebe-se a reiteração da prática do catolicismo popular, onde o elemento motivador do deslocamento dos peregrinos para o santuário é o fato desse lugar ser considerado especial; o diferencial é o contato com a natureza, a grande formação rochosa, que encanta e faz o visitante se sentir mais próximo de Deus. Podemos assim estabelecer paralelos com o sítio da Água Santa, que também possui como referência o elemento sagrado pautado na pedra e na água, porém, em uma menor escala de frequência de fiéis, pois a Água Santa ainda não é


59 completamente reconhecido como santuário. Percebe-se, de acordo com entrevistas efetuadas no local, uma grande devoção dos fiéis à “pedra do pecado” e à fonte de “Santa Luzia”. Ainda analisando as relações estabelecidas em ambos os locais, o santuário de Bom Jesus da Lapa origina-se na formação natural rochosa, e possui a gruta dedicado a Santa Luzia. Da mesma forma, a Água Santa é dedicada a Santa Luzia.

Outro ponto a destacar a partir deste Estudo de Caso é que em Bom Jesus da Lapa, existe uma diferente compreensão de lugar sagrado entre o visitante peregrino e o morador do local. Percebe-se, que o visitante peregrino mostra um sentimento de maior importância aos valores simbólicos do Santuário. Muitas vezes o morador, mesmo católico, com a proximidade do local, passou a fazer parte da rotina, não dando, assim, tanta importância ao simbolismo do lugar sagrado. Fato que também pode ser observado no município de Iúna, onde se percebe que os visitantes dão mais valor à Água Santa, como lugar sagrado, o que pode ser constatado a partir das entrevistas realizadas com os peregrinos na Água Santa, onde 60% dos entrevistados são oriundos de outras cidades e relatavam, com mais intensidade, a sua fé em Santa Luzia.

Igualmente ao caso de Bom Jesus da Lapa a falta de infraestrutura para receber os fieis é notória no Sítio da Água Santa, pois o local é distante da área urbana e não possui lanchonetes ou outros equipamentos para atender os visitantes, os sanitários públicos são mal conservados e insuficientes, percebe-se ainda ausência de funcionários para receber os visitantes com segurança no local.


60 CAPITULO 2 3 CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA ÁREA DE ESTUDO: SÍTIO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL DA ÁGUA SANTA

Desde o início das histórias de devoções, pouco foi feito para valorização do sítio da Pedra da Água Santa. Como já vimos no capítulo anterior, o sítio da Água Santa é importante para a memória histórica do município e também uma fonte de desenvolvimento econômico, representada pelo turismo religioso. Diante deste fato, é de suma importância, não apenas a sua preservação, como melhorias no lugar, para atender, de forma qualitativa, a demanda de visitantes no local.

A proteção ao sítio da Água Santa é regido pela Lei Municipal nº 2182/2008; Artigo 84: “São de Interesse de Preservação Histórica e Cultural as expressões arquitetônicas ou históricas do patrimônio cultural edificado, compostas por conjuntos de edificações e edificações isoladas e constituem suporte físico de manifestações culturais de tradições populares do Município, especialmente as festas religiosas, o folclore, a culinária e o artesanato”. (PDM,2008).

3.1 PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL

Patrimônio Histórico é um conjunto de bens materiais ou imateriais que possui um valor simbólico para a nação, Pois conta a história de um povo (FUNARI, 2009).


61 De acordo com SECULT ES: Patrimônio cultural é tudo aquilo que identifica um grupo social. Pode ser de natureza material ou imaterial. Do ponto de vista material são as obras,

objetos,

documentos,

edificação,

paisagens,

sítios

arqueológicos e ecológicos, acervos museológicos, fotográficos, cinematográficos, bibliográficos. Do ponto de vista imaterial são os idiomas, contos, provérbios, rituais, músicas, técnicas de reprodução, aprendizagem, costumes alimentícios ou mesmo culinários (SECULT, 2013).

O patrimônio Cultural requer a criação de leis de proteção e ações de preservação, como, o tombamento; conscientização da população que é preciso cuidar do Patrimônio, proteger contra a deterioração natural, e revitalizar. “Preservar, é conservar o patrimônio e a identidade para reconhecer o passado e compreender o passado e reconhecer o presente” (SECULT, 2013).

Esse trabalho possui o objetivo de Reabilitação no sítio da Água Santa. Segundo a Carta de Lisboa, (1995) define-se reabilitação como uma estratégia de gestão urbana com objetivo de requalificação, com intervenções para destacar as potencialidades sociais, econômicas e funcionais.

No caso da Água Santa percebe-se o potencial sociocultural do lugar conforme as características místico-religiosas já apontadas ao longo da pesquisa. Desta forma procura-se a compreensão desta trajetória e sua interface direta com o lugar e seu desenvolvimento.


62 3.2 CATOLICISMO, RITUAIS E TRADIÇÃO

O catolicismo no Brasil foi introduzido pelos missionários que acompanhavam os colonizadores portugueses, numa tentativa de organizar os índios em aldeamento e catequiza-los (VAINFAS, 2002).

O Sítio da Água Santa é um lugar devocional, voltado a fé católica, introduzido; como

citado

anteriormente

pelos

missionários

Capuchinhos

que

acompanharam a construção da estrada imperial. Na Água Santa a história de devoções

começa

com

o

Frei

Capuchinho

Bento

de

Gênova

(RODRIGUES,2010).

A tradição católica brasileira foi herdada de Portugal e Espanha, e obteve influências da cultura e religiosidade de povos indígenas e africanos. É fortemente permeada pelo “catolicismo popular” que, após o Concílio Vaticano II, pretendia acabar com as formas celebrativas que não estivessem integradas à Liturgia Sagrada. Entretanto, aos poucos, permaneceu aceita no sentido e no valor das devoções (BECKHÄUSER, 2013).

Para Azevedo (2002) a vida religiosa dos brasileiros reduz-se aos cultos aos santos, padroeiras das cidades, ou protetoras das lavouras, de suas profissões, um culto em grande parte doméstico e que não se restringe ao calendário oficial da Igreja nem com as prescrições litúrgicas; geralmente esse culto se traduz, fortemente, através de novenas, orações recitadas e cantadas, procissões e romarias aos santuários, em que se veneram as imagens mais populares; há também manifestação por meio das promessas e dos sacrifícios.


63 No Sítio da Água Santa ocorre a devoção a Santa Luzia, segundo o historiador José Olímpio de Almeira, essa tradição, advinda de frei Bento de Gênova é fortalecida pela presença dos imigrantes Italianos e portugueses na região.

3.2.1 Ritual dos Peregrinos na Água Santa

Uma análise, efetuada in loco, sobre o comportamento dos fiéis ao chegarem ao Sítio da Água Santa; observa que existe certa tradição local, onde o peregrino se dirige à Fonte de Santa Luzia, onde habitualmente faz uma oração para, em seguida se encaminhar à bica, onde a água da fonte está canalizada. No local, lavam os olhos; alguns bebem a água, e até mesmo levam para a casa, chamada popularmente de “Água Santa”, como mostra a Figura (32). Após, seguem até a “Pedra do Pecado”, onde cumprem a tradição ritual de passar três vezes, para se “redimirem” de seus pecados, (Figura 33). Outro ritual comum é o acendimento de velas, para uma intenção particular. (Figura 34) O catolicismo oficial convive harmonicamente com estas práticas de devoção do “catolicismo popular”. Para Eliade, (1992). “para aqueles que têm experiência religiosa, toda a natureza é suscetível de revelar-se como sacralidade cósmica”


64 Figura 32 - Fiéis pegando a Água Santa.

Fonte: Prefeitura Municipal de Iúna, 2013.

Figura 33 - Fiéis passando pela pedra do pecado.

Fonte: Prefeitura Municipal de Iúna, 2013.

Figura 34 - fiéis ascendendo velas.

Fonte: Prefeitura Municipal de Iúna, 2013.

3.2.2 Eventos no Local A cada dia 13 de dezembro, devido às comemorações do dia de Santa Luzia, o Sítio da Água Santa recebe peregrinos de diversos lugares, havendo missas


65 durante todo o dia. Neste dia, em especial, a imagem de Santa Luzia (Figura 35) é destacada ao centro da área onde se realizam as missas dos demais meses. Conforme a entrevista com o pároco Joaquim Cazian Filho10 (Anexo 2), este relatou que a tradição de missas em todos os dias 13 de cada mês, foi repassada de “padre para padre”. À medida que trocavam os responsáveis pela Paróquia, transmitia-se o compromisso de todo dia 13, realizar missa na Água Santa as 7h00. Complementa o pároco, que estas são realizadas pela manhã, devido à inexistência de rede elétrica no local. Acontecem ainda as caminhadas em peregrinação, saindo do Centro da cidade, distante 3 km, até ao Sítio da Água Santa, em datas tais como: dia de Santa Luzia e Semana Santa (INFORMAÇÃO VERBAL), (Figuras 36, 37, 38). Figura 35- Imagem de Santa Luzia

Fonte: Prefeitura municipal de Iúna,2013.

10Cazian

Filho, Joaquim. Santuário Água Santa. 2014. Entrevista concedida a Pollyne Andrade Cezar, Iúna, dia 09 de maio de 2014.


66

Figura 36 - Prociss達o de domingo de Ramos.

Fonte: Arquivo Pessoal,13 de abril de 2014. Figura 37- Prociss達o de domingo de Ramos.

Fonte: Arquivo Pessoal,2014.


67

Figura 38 - Procissão de domingo de Ramos.

Fonte: Arquivo Pessoal ,2014.

3.3 LEVANTAMENTO E DIAGNÓSTICO DA ÁREA De acordo com o mapa de mapa macrozoneamento municipal (Figura 39), verifica-se que o Sítio da Água Santa está localizado na Macrozona Rural-MR.


68 Figura 39 - Macrozoneamento municipal.

Fonte: PDM,2008

3.3.1 Morfologia

O mapa figura fundo, para análise morfológica (Figura 40), a partir da análise dos dados obtidos no local, observa-se que existem poucas residências no entorno, porém, há indícios, confirmados pelo setor de fiscalização da PMI, do início de especulação em lotes irregulares, próximo ao Sítio Histórico. Observase ainda a inexistência de atividades comerciais no entorno do Sítio da Água Santa, dificultando a permanência dos visitantes no local.


69

Figura 40 – Figura fundo, Morfologia.

Fonte: Dados Geobases, 2014. Com elaboração pela autora

3.3.2 Uso e Parcelamento do Solo

Para o estudo da configuração do espaço, a partir dos quais é possível analisar as diversas partes da área de estudo, e constatar as diferenças e semelhanças responsáveis pela identidade local e como se formam e se relacionam a partir do parcelamento do solo. Através do Mapa de uso e parcelamento do solo (Figura 41), nota-se que a região da área de estudo, é uma área de processos naturais, com conformação em relevo, pouco modificado pelas áreas residências. As áreas que circundam o Sítio da Água Santa, localizado entre o afloramento rochoso e vegetação nativa. São áreas privativas, de forração rasteira e de produção de café, sem grande densidade ou consolidação da


70 ocupação do território, o que possibilita a utilização dessas áreas no desenvolvimento do projeto de reabilitação do sítio histórico-cultural da Água Santa, visando a valorização e proteção do sítio. Outro ponto importante que podemos perceber através deste mapa é o avanço de imóveis residenciais no entorno imediato do Patrimônio Histórico e Cultural. De acordo com Lynch, (1999), limites caracterizam-se como descontinuação, as fronteiras entre dois setores. Podem ser classificado como barreira quando há quebra total da continuidade ou quando se relacionam. Podemos classificar como limites as áreas residenciais mais imediatas.

Figura 41 - Mapa de Uso e parcelamento do Solo.

Fonte: Dados do Geobases,2014. Com elaboração pela autora

3.3.3 Fluxos Para o mapa de fluxos (Figura 42), foi realizado o levantamento in loco, em dias diversos, permitindo analisar o fluxo da área de estudo. O fluxo principal de


71 veículos acontece pela rua Herman A. Silveira, via municipal, sentido duplo, largura de 12 metros sem acostamento, passeios ou faixas para bicicletas. O estacionamento dos veículos para atendimento a Água Santa, acontece no eixo da rua Hermam A. Silveira, ocasionando nos finais de semana, dias de missa e festividades, uma aglomeração de veículo indesejados, conflitando com os veículos de passagem (Figura 43). A falta de estacionamento é um dos problemas de infraestrutura. Um exemplo da precariedade é os ônibus de turismo que não consegue estacionar nas proximidades, necessitando de deixar os turista, e retornar ao Centro da cidade, há 3 km, retornando após algumas horas para buscá-los. Este fato resulta em Pontos Nodais, que segundo Lynch, (1999), são pontos em lugares estratégicos de focos intensivos, que o observador pode encontrar, pode ser junções, locais de bloqueios do transporte, cruzamentos de vias, ou concentrações de adensamentos. A partir desta situação o acesso ao Sítio da Água Santa é feito exclusivamente por uma pequena passagem de pedestre. Lynch (1999), define vias,como: [...] são os canais de circulação ao longo dos quais o observador se locomove de modo habitual, ocasional ou potencial. Podem ser ruas, alamedas, linhas de trânsito, canais, ferrovias. Para muitas pessoas, são estes os elementos predominantes em sua imagem (LYNCH,1999, p.52).

O autor ainda completa que caminho e percursos são fundamentais na elaboração das representações mentais, pois a medida em que os habitantes percorrem por elas, observam as informações morfológicas para sua memorização.


72 Figura 42 - Mapa de fluxos e acessos

Fonte: dados Geobases, 2014. Elaborado pela autora

Figura 43 - Ă gua Santa, estacionamento as margens da rua Hermam A. Silveira.

Fonte: Arquivo pessoal,2014.


73 3.3.4 Ambiente histórico e cultural

O mapa do ambiente histórico e cultural (Figura 44) nos permite identificar as paisagens visuais e culturais referenciais da área de estudo.

A área de estudo constitui-se de uma região de características rurais, em meio urbano; uma comunidade simples, detentora de uma igreja que atende a essa comunidade. A paisagem cultural predominante é marcada pelo Sítio da Água Santa, com a vista de uma grande rocha com vegetação nativa, tendo como marco visual um cruzeiro. Segundo Lynch (1999), os marcos visuais são elementos de referência ao observador que permitem uma perfeita orientação na compreensão do sentido do lugar.

De acordo com a Carta de Bagé, A paisagem cultural é o meio natural ao qual o ser humano imprimiu as marcas de suas ações e formas de expressão, resultando em uma soma de todos os testemunhos resultantes da interação do homem com a natureza e, reciprocamente, da natureza com homem, passíveis de leituras espaciais e temporais (CARTA DE BAGÉ,2007).

Mascaró (2008), define a paisagem como um “espaço aberto que se abrange com um só olhar”. Ainda destaca que a paisagem é entendida como uma realidade ecológica, materializada fisicamente num espaço que se pode chamar natural, antes da intervenção humana. Quando se insere os elementos e as estruturas construídas pelo homem com determinada cultura, se designa paisagem cultural.


74


75

3.3.5

Equipamentos pré-existentes

Para uma análise espacial e situação atual dos equipamentos pré-existentes no Sítio da Água Santa, foi feito um levantamento in loco visando a localização em um mapa esquemático (Figura 45). Com o mapa podemos identificar a área pertencente a Paróquia Nossa Senhora Mãe dos Homens, e o entorno com áreas particulares. Figura 45 - Mapa esquemático indicativo dos Equipamentos

Fonte: Dados Bing Mapas, 2013. Elaborado pela autora


76 A análise da situação dos equipamentos presentes no Sítio da Água Santa foi realizada a partir de entrevistas com o Secretário de Cultura Adalto Gomes11 Faria (Anexo 3) e o Padre Joaquim Cazian Filho. Ainda que tombado pelo município poucas foram as melhorias realizadas no local por iniciativa da administração pública. De acordo com o secretário Adalto Gomes Faria, o município tem interesse na melhoria da infraestrutura local, visando o incremento do turismo religioso na região. Ainda segundo o Secretário, a municipalidade tem a intenção de desapropriar áreas do entorno do Sítio da Água Santa para a criação de um “Parque Municipal da Água Santa”.

Ainda em entrevistas com o Padre Joaquim Cazian Filho, este relatou que as realizações no local foram efetuadas com recursos próprios da paróquia e ajudas dos fiéis. Segundo este depoimento, com recursos da paróquia foram construídos sanitários, no entanto estão mal localizados e, atualmente, não se encontram em boas condições de uso (Figuras 46). Também com recursos de mesma origem foi construido um “barracão” para comercialização de alimentos em dias festivos (Figura 47). Completa o pároco que não existe ainda um espaço apropriado para as missas. (Figura 48).

11

FARIA. Adalto Gomes,. Água Santa. 2014. Entrevista concedida a Pollyne Andrade Cezar, Iúna, dia 09 de maio de 2014.


77 Figura 46 - Ă gua Santa, Banheiros.

Fonte: arquivo Pessoal, 2014


78 Figura 47 - Água Santa, Barracão de apoio para vendas de alimentos.

Fonte: arquivo Pessoal, 2014 Figura 48– Água Santa. Área onde se realiza missas.

Fonte: Arquivo pessoal, 2014.


79 •

O Portal de Acesso

O acesso ao sítio da Água Santa é marcado por um portal (Figura 49). Este é um lugar de transição do profano para o sagrado, ao entrar nesse ambiente, o fiel sente a manifestação de um mistério por não saber o que vai encontrar. Entretanto, para este acesso, apresenta escadas e rampas com inclinação inadequada para atender às questões de acessibilidade plena e mobilidade reduzida. O Portal não chama a atenção do usuário, pois possui porte e sinalização inadequada para indicar o Sítio da Água Santa. A diante, para o acesso ao recinto da Água Santa, este se faz por uma pequena via, restrita ao transito de pedestres (Figura 50) que se encontra com a pavimentação irregular, dificultando o acesso de pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. Figura 49 - Portal de acesso a Água Santa.

Fonte: Prefeitura Municipal de Iúna, 2013.


80 Figura 50- via de pedestre, acesso a Água Santa.

Fonte: Prefeitura Municipal de Iúna, 2013.

Sala dos Ex-Votos

A sala dos ex-votos, oficialmente chamada Sala dos Milagres Paulo Expedito do Amaral, foi construída a 2 metros do nível do terreno, aproveitando-se uma fenda na rocha (Figura 51, 52, 53). Metade da sala foi construída em baixo da pedra, e permanece ainda com o piso de terra batida. Não possui locais específicos para guarda de objetos, além de não permitir acessibilidade plena aos usuários, pois seu único acesso se faz através de uma escada.


81 Figura 51 - Sala dos milagres, construĂ­da em baixo da pedra, 2014.

Fonte: Arquivo Pessoal,2014. Figura 52 - Sala dos milagres, vista interna

Fonte: Arquivo Pessoal,2014

Figura 53 - Sala dos milagres, vista interna

Fonte: Arquivo Pessoal,2014


82 •

A Fonte de Água

Atualmente a fonte de água cristalina, que origina a tradição da “Água Santa”, possui proteção por um gradil, para evitar o contato do público direto com a água, evitando-se sua contaminação, (Figura 54). A fonte Apresenta imagens sacras de Na Sra da Consagração e Na Sra de Lourdes (Figura 55). A imagem de Santa Luzia, de fato, está localizada em um nicho na pedra, em cima da “sala dos milagres”, fora do alcance do expectador (Figura 56). No entanto, popularmente os devotos chamam essa fonte de “Fonte de Santa Luzia”, ainda que conste imagem da santa na fonte.

Figura 54 - Água Santa, fonte cercado por muro e gradil.

Fonte: arquivo pessoal, 2014


83 Figura 55- Água Santa - Fonte de água com imagens de Na Sra da Consagração e Na Sra de Loudes.

Fonte: arquivo pessoal, 2014

Figura 56 - Água Santa, destaque imagem de Santa Luzia em cima da sala dos milagres.

Fonte: Prefeitura Municipal de Iúna, 2013. Marcado pela autora.

A Água da fonte foi canalizada e direcionada a um reservatório com capacidade de 10 mil litros, para que os fiéis possam seguir o ritual da “Água Santa” sem que


84 haja falta do líquido. Neste ponto, o espaço destinado para os fiéis não é suficiente (Figura 57), gerando tumulto em dias de missa. O revestimento da parede do Reservatório encontra-se degradado com presença de lodo e manchas de umidade (Figura 58). Figura 57- Água Santa, reservatório de água. Espirito espaço apertado no reservatório de água.

Fonte: Prefeitura Municipal de Iúna,2013 Figura 58 Água Santa, reservatório de Água.

Fonte: arquivo pessoal,2013


85 •

A Pedra do Pecado

Para o fiel chegar até a fenda, conhecida como “Pedra do Pecado” (Figura 59), é necessário percorrer um caminho (Figura 60), paralelo ao grande paredão rochoso e a arborização; no entanto, no local encontra-se apenas uma pequena placa de sinalização indicando o local da tradição. Figura 59 - Água Santa, “Pedra do Pecado”

Fonte: O Guia,2011 Figura 60 - Água Santa, caminho para a “Pedra do Pecado”

Fonte: Prefeitura Municipal de Iúna, 2013.


86 •

Mobiliário existente

Os mobiliários foram cadastrados, de acordo com a quadro 1, visando melhor representar a situação dos mobiliários existentes no Sítio da Água Santa. Percebe-se que não existe uma padronização no mobiliário que não contribuem para a estética, tampouco oferecem conforto aos peregrinos. Quadro 1- Catalogação do mobiliário existente.

Fonte: Arquivo pessoal, elaborado pela autora, 2014.


87 •

Sinalização

Foi feito um levantamento das placas de sinalização presentes nos acessos ao Sítio da Água Santa, catalogadas na quadro 2. Nos três acessos, desde a cidade, até ao Sítio da Água Santa, só existem placas de sinalização na Av. Prof. Anfilófio de Oliveira, devido ao maior fluxo existente para o acesso ao município de Muniz Freire; às margens do Sítio da Água Santa e na Rua Hermam A. Silveira. Os demais acessos são carentes de sinalização. Quadro 2 - Catalogação de Placas de Sinalização

Fonte: Arquivo pessoal, elaborado pela autora, 2014.


88 3.4 Considerações

Através do levantamento e análises realizadas, compreende-se o contexto urbano e rural onde serão propostas as intervenções. Esse estudo colabora com a viabilidade da inserção das requalificações e reabilitação no local proposto, articulando melhorias, serviços de apoio, atividades circundantes ao Sítio Histórico e Cultural da Água Santa. Esta seção contribui para a definição da escala da área de estudo, tipologia e a preservação dos visuais.


89 4. O ESPAÇO SAGRADO MODELANDO A DINÂMICA DO LUGAR A proposta de intervenção para o sítio da Água Santa tem como objetivo requalificar este espaço sagrado e ampliar áreas para suporte e atendimento a demanda de fiéis no local. A partir do desenvolvimento da metodologia empreendida, reconhecimento dos conceitos, análise do estudo de caso sobre o Santuário de Bom Jesus da Lapa e estudo de caso de capelas integradas à natureza (quadro 03), análises do contexto urbanístico e análise do Sítio da Água Santa, foram pontuadas diretrizes que nortearam o desenvolvimento do Projeto Básico para a intervenção de Reabilitação do Sítio Histórico e Cultural da Água Santa em Iúna, ES.

4.1 DIRETRIZES GERAIS

A Proposta de intervenção para o Sítio Histórico e Cultural da Água Santa tem por objetivo reabilitar e potencializar a área para as peregrinações e desenvolvimento do turismo religioso na região. Esta constitui um conjunto de ações e recomendações, aliadas ao projeto que vem reforçar o significado do “lugar sagrado”, proporcionando o resgate de valores religiosos, culturais e ambientais; além de infraestrutura adequada para a demanda de fiéis no local, e minimização dos efeitos causados pelo turismo predatório, preservando a natureza existente como um diferencial. O conceito que norteou o projeto é o binômio, sagrado e profano. O sagrado enfatiza o recinto do Sítio da Água Santa, enquanto o profano, o entorno imediato da área do sítio. Com este partido, sugere-se ao Sítio da Água Santa o estabelecimento de soluções sustentáveis e autossustentáveis para sua operação, manutenção e conservação.


90 4.2 PROGRAMA DE NECESSIDADES

Seguindo o conceito e a delimitação do espaço profano, recomenda-se à Administração Pública Municipal o desenvolvimento de ações de suporte e infraestrutura em direção ao Sítio da Água Santa, tais como:

Agregar valor ao município promovendo boa infraestrutura de acessos ao Sítio da Água Santa, requalificando as vias de acessos;

Implementar passeios e ciclovias nas vias de acesso ao Sítio da Água Santa, permitindo aos visitantes diferentes opções para o acesso;

Desapropriar de áreas do entorno visando o estabelecimento local apropriado para estacionamentos e pontos de apoio e infraestrutura ao peregrino;

Promover campanhas de comunicação didáticas para descoberta de novos atrativos e pontos de referência e turísticos na região;

Implantar sinalização de indicação aos caminhos de acessos ao Sítio da Água Santa;

Implantar a iluminação pública no local;

Incentivar a criação e implantação de espaços e equipamentos que possibilitem o desenvolvimento e a preservação da cultura e identidade local e serviços de apoio aos turistas, como pousadas e restaurantes.

Para o espaço sagrado, a proposta visará, no Sítio da Água Santa, o desenvolvimento de projetos e soluções que venham dotar o lugar de infraestrutura e serviços que contribuam para a operação sustentável e a manutenção do lugar. As diretrizes para esta proposta sugerem:

Elaboração e desenvolvimento do Programa de Necessidades

pautado na implantação de: • Ponto de atenção ao peregrino e informações turísticas;


91 • Espaços aberto para eventos e missas; • Capela integrada com a natureza; • Proposição de setorização e zoneamento para reordenação dos espaços no recinto do Sítio da Água Santa; • Desenvolvimento de Projeto para implantação de Mobiliário Urbano, adequado ao novo perfil do espaço, oferecendo conforto aos peregrinos; • Reordenação do espaço e reforma da “Sala dos milagres”; • Requalificação paisagística, recuperando o ambiente natural e integrando os ambientes e setores do recinto religioso; • Iluminação ecoeficiente funcional e monumental, visando possibilitar visitas e eventos noturnos, assim como garantia de segurança do local.

4.2.1 Público Alvo Quanto ao perfil do público alvo do projeto, percebe-se que o local abrange uma diversidade de perfis de usuários, sendo registrada a maioria de idosos; Assim, trabalhou-se o espaço acessível, voltado à comodidade e conforto deste público, para que os fiéis sintam-se acolhidos para manifestar sua fé.

4. 3 O PROJETO

4.3.1 Espaço Profano Para o conceito do espaço profano, o projeto urbanístico, na via de acesso, proporcionou melhorias e infraestrutura aos visitantes. Prevê-se para a via local, adequações de acordo com o plano diretor municipal, com redimensionamento adequado, faixa de pedestres, passeios, canteiros, iluminação e arborização, além de ciclovia, uma necessidade constatada no local através de entrevistas


92 aos visitantes, durante a etapa de diagnóstico.(Apêndice A- prancha 01/05), (Figura 61). Figura 61 – Perspectiva da via principal

Fonte: Arquivo pessoal, elaborado pela autora, 2014.

Propõe-se o incentivo ao desenvolvimento de atividades próximas, tais como estacionamento privado; da mesma forma, nas residências da vizinhança propõe-se o incentivo e capacitação ao empreendedorismo para a implantação e pousadas, albergarias e restaurante para o atendimento a demanda de fiéis no local. (Apêndice A- Prancha 01/05).

4.3.2 Espaço Sagrado

A implantação do Projeto permitiu, pelo menos, dois acessos diferenciados: o acesso dos fiéis e visitantes e aquele para serviços e colaboradores. A entrada de serviços/colaboradores possibilitará local para carga e descarga de veículos.


93 O acesso de fiéis se faz por meio da “Via Sensível”. Que começa a partir do pórtico principal de acesso ao sítio, com painel e letreiros em relevo, remetendo ao tato, e continua seguindo a topografia existente por uma rampa de 3 metros de largura, com aclive suave de 8%. Figura 62 – Perspectiva do pórtico de acesso ao sítio da Água Santa

Fonte: Arquivo pessoal, elaborado pela autora, 2014.

Em seguida, a “Via Sensível” apresenta mais 4 pequenas praças, sendo a primeira possui uma pequena fonte de água, em ciclo retornável, aguça o sentido da audição.

Em seguida, a praça próxima ao cruzeiro já existente remete a visão, simbolismo atrelado a devoção à Santa Luzia, marcada pela paginação de piso e, pontuada de espécies floridas de múltiplas cores, conforme as diferentes estações.

A próxima praça apresenta canteiros, com vasos para facilitar a manutenção, com espécies degustáveis, tais como: Hortelã (Mentha spicata), Manjericão (Ocimum basilicum), Tomilho (Thymus vulgaris), Calêndula (Calendula


94 officinalis ) e Capuchinha (Tropaeolum majus), que permitirão ao fiel evocar o paladar.

A última praça remete ao olfato, contará com canteiros com espécies de plantas com odores marcantes, tais como: Jasmim do Cabo (Gardenia jasminoides), Madressilva (Lonicera japônica), Dama-da-noite (Cestrum nocturnum) e Murtade-cheiro (Murraya paniculata). Figura 63 – Perspectiva vista do sítio da Água Santa

Fonte: Arquivo pessoal, elaborado pela autora, 2014.

No platô próximo à grande formação rochosa, o projeto conta com ampliação e nivelamento do solo de modo a setorizar 2 diferentes ambientes; um lado proposto está ligado a eventos, para isso foi projetado uma grande praça com paginação de piso flor da vida12, e neste lado possui a capela, um módulo de banheiro e uma lanchonete que possui uma pequena administração no pavi mento superior. (Apêndice B- prancha 02/05), (Figura 64, 65).

A Flor da Vida é o padrão geométrico da criação e da vida, em todo lugar. Partindo da primeira esfera (com o ponto central) o Espírito projeta uma nova esfera, obedecendo às mesmas regras. Neste momento encontramo-nos perante um símbolo sagrado muito antigo conhecido como “Vesica Piscis associado ao Cristianismo. Disponível em: http://thoth3126.com.br/geometria-sagrada-a-flor-da-vida-e-a-linguagem-da-luz/ , Consultado dia 10 de outubro de 2014. 12


95 Figura 64 – Perspectiva do sítio da Água Santa, praça de eventos.

Fonte: Arquivo pessoal, elaborado pela autora, 2014.

A lanchonete é cercada por um deck e um pergolado de madeira de reflorestamento pinus. Para a proteção da insolação nesta regiãorizaço foi feito uma barreira de Arborização de Grande porte, permitindo maior conforto aos usuários. (Figura 65,66) Figura 65 – Perspectiva vista do sítio da Água Santa, praça de eventos.

Fonte: Arquivo pessoal, elaborado pela autora, 2014.


96 Figura 66 – Perspectiva vista do sítio da Água Santa, Lanchonte.

Fonte: Arquivo pessoal, elaborado pela autora, 2014.

O outro lado é mais ligado ao percurso sagrado que leva à Fonte de Santa Luzia e, daí, até a “Pedra do pecado”. O paisagismo neste setor é definido com canteiros no formato da Vesica Piscis

13

e Triqueta

14

referências simbólicas

cristológicas e mantém a arborização nativa ao logo deste percurso. Esta solução remete ao fiel um contato direto com a natureza e com espaços para reflexão e momentos de oração. (Figura 67,68,69)

Vesica Piscis é uma das figuras mais encontradas na natureza depois do círculo, como nas formas da maioria das folhas das plantas, no mundo cristão, o vesica piscis, foi associado diretamente ao Cristo, ao ícone existencial de ser deus e homem num único corpo. A figura do vesica piscis pode ser encontrada em quase todas as igrejas antigas e no principio da propagação do Cristianismo era o símbolo dos cristãos desenhados no chão de modo a proteger de seus perseguidores. (PENIDES, 2011). 14 Triqueta é um símbolo tripartido composto por três vésicas pisces entrelaçadas, marcando a intersecção de três círculos. É utilizada como um símbolo da Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo) pela Igreja cristã.( MENDONÇA,2009) Disponível em: http://numinosumteologia.blogspot.com.br/2009/11/qual-o-significado-da-triqueta-ou.html , consultado em: 10 de outubro de 2014. 13


97 Figura 67– Perspectiva do sítio da Água Santa caminho ligado ao sagrado

Fonte: Arquivo pessoal, elaborado pela autora, 2014. Figura 68– Perspectiva do sítio da Água Santa caminho a Pedra do Pecado

Fonte: Arquivo pessoal, elaborado pela autora, 2014.


98 Figura 69 Perspectiva da “Pedra do Pecado”

Fonte: Arquivo pessoal, elaborado pela autora, 2014.

No local da Fonte de Santa Luzia propõe-se uma cobertura em concreto moldado in loco e revestido de pedra para a proteção do manancial evitando-se a contaminação. A imagem de Santa Luzia é relocada para este ponto, ao alcance do espectador, sobre uma base de concreto e, a frente, o projeto prevê o uso de barreira de vidro para que os fies possam contemplar a imagem. (Figura 70)


99 Figura 70 – Perspectiva da fonte de santa Luzia

Fonte: Arquivo pessoal, elaborado pela autora, 2014.

A água da fonte deve ser canalizada e encaminhada a um reservatório com filtro, revestido com uma “pele” de aço corten recortado a laser, com simbolismos cristológicos e marianos o consumo desta água pelos fiéis será facilitado pelo uso de torneiras evitando-se assim o desperdício. (Figura 71).


100 Figura 71– Perspectiva da fonte do castelo D´agua.

Fonte: Arquivo pessoal, elaborado pela autora, 2014.

Com objetivo de atender demandas existentes, foi proposto um velário para que se concentre a queima de velas em um só ponto do santuário natural. O velário proposto utiliza um reservatório de água em sua base para facilitar o recolhimento da cera queimada, assim como a manutenção e reciclagem deste resíduo. Uma parede divisória com painel artístico e uma pequena cobertura, para proteção, completam o conjunto.(Figura 72).


101 Figura 72- Perspectiva do velário

Fonte: Arquivo pessoal, elaborado pela autora, 2014.

Na sala dos milagres foi proposto uma reforma, onde preservou-se a topografia e a estrutura existente, implementando melhor acesso através de rampa, com inclinação de acordo a normas de acessibilidade, e escada para acessos rápidos. Todo o perímetro está protegido com guarda corpo a 1,10 m de atura em metal pintado. No interior propõe-se o piso em granilite e janelas com esquadrias de vidro para permitir iluminação natural e manutenção do telhado com reposição de telhas.(Figura 73).


102 Figura 73- Perspectiva da sala dos milagres

Fonte: Arquivo pessoal, elaborado pela autora, 2014.

O banheiro antigo será demolido e dois módulos de sanitários, com sanitários acessíveis, serão implantados no local. A volumetria e materiais de acabamento foram pensados visando segurança, conforto e estanqüeidade aos ambientes. (Figura 74, 75) Figura 74– Perspectiva do Modulo 01 sanitários

Fonte: Arquivo pessoal, elaborado pela autora, 2014.


103 Figura 75– Perspectiva do módulo 02 de sanitários

Fonte: Arquivo pessoal, elaborado pela autora, 2014.

Para o programa e o desenvolvimento do projeto de arquitetura da capela foram consideradas as orientações da CNBB, para projeto e construção de igrejas e disposição de Espaços Celebrativos e através do estudo de caso das capelas integradas a natureza, (Quadro 3) que possibilitou compreender esta relação e apartir daí sugerir um espaço celebrativo que ofereça transparência a essa paisagem natural já existente, e liberdade ao peregrino para que possa circular no por todo espaço mantendo um contato direto com a natureza.


104


105


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107


108 O Partido Arquitetônico se origina da ideia da Pedra do Pecado, onde a grande cobertura curva da capela remete àquela formação. A cobertura proposta é de concreto moldado in loco, impermeabilizada e revestida de placas pré-moldadas de concreto para a proteção mecânica.(Figura 76).

A capela está no nível + 1.30 m. Seu acesso se faz por meio de uma rampa com inclinação de 8,33% e a porta de entrada possui uma área com linhas remetendo ao simbolismo da Vesica piscis que se converte em um palco externo para celebração de missas em eventos especiais que congregam muitos fiéis. Na área externa, a praça possui na paginação de piso a flor da vida. Figura 76– Perspectiva da capela.

Fonte: Arquivo pessoal, elaborado pela autora, 2014.


109 O fechamento em vidro na capela permite a máxima flexibilidade layout , contato direto com a natureza em seu entorno. Além da porta principal, mais 4 portas laterais permitem abertura total aos fiéis. Na capela a iluminação natural foi projetada de forma a potencializar a orientação do sol e seu movimento ao longo do dia. Sua face envidraçada está voltada para o leste, recebendo a maior parte de luz da manhã. O sol da tarde está protegido pela porção mais fechada, com a calota de concreto da cobertura, de forma a evitar a incidência direta dos raios solares sobre os peregrinos; A capela possui acentos para cerca de 50 pessoas. O altar fica em um nível elevado a 15cm, e possui o formato da Vesica piscis. No altar está localizada a mesa da palavra que, de acordo com Menezes (2006), deve ser em pedra, madeira ou ferro. E a mesa da eucaristia, segundo o mesmo autor, deve ser em pedra bruta, ou madeira trabalhada ou metal nobre.(Figura 77) Figura 77– Perspectiva da interior da capela.

Fonte: Arquivo pessoal, elaborado pela autora, 2014.


110 Um pequeno ambiente para a sacristia, com pia e armário, foi criado conforme necessidades relatadas pelo frei Joaquim, em entrevista.

4.3.3 Observações do projeto

Os acessos ao Novo Espaço do Sítio da Água Santa buscou preservar, ao máximo a topografia existente ao mesmo tempo em que promove ajustes para facilitar a movimentação dos usuários e visitantes como rampas de inclinação máxima de 8,33% em todos ambientes permitindo a mobilidade e acessibilidade plena.

As edificações estão, na medida do possível, concebidas com um sistema estrutural que possibilita economia e praticidade, alinhamento com práticas sustentáveis e autóctones, permitindo ainda flexibilidade para futuras modificações de layouts;

Os setores de serviço e de infraestrutura de apoio recebem pés-direitos compatíveis com suas dimensões e com o volume de público que recebem; nas demais construções, notadamente o espaço edificado para atividades litúrgicas, foram adotadas dimensões adequadas a este tipo de atividade, baseadas em regras geométricas de proporções e simbolismos como o duplo quadrado, assim como, aplicações de desempenho térmico e acústico desenvolvidas em acordo com as posturas municipais vigentes. Os revestimentos e demais acabamentos adotados foram pensados de forma compatível com a utilização em áreas de uso coletivo público e de fácil manutenção, conservação e reposição, buscando ainda a valorização dos aspectos do decoro religioso e seus elementos simbólicos.


111 4.1.1

Considerações finais

Este trabalho baseou-se no estudo da geografia cultural e hierofania para compreender e constatar a importância do lugar para o município. A apartir da pesquisa fundamentada teórica, percebeu-se a importância do sítio histórico e cultural da Água Santa para a memória da cidade. Outra importância constatada durante a pesquisa foi constatada a importância do Sítio Histórico e cultural da água santa, para os peregrinos e turista que visitam o lugar frequentemente para manifestarem a sua fé. A falta de infraestrutura, serviços e a insegurança no sítio e nas residências próximas, são os principais motivos que induziram a realização deste trabalho que objetiva-se a solução dentre esses problemas encontrados atualmente e a busca pelo reconhecimento dessa área quanto ao valor histórico e cultural. O trabalho resgata, principalmente conceitos e simbolismos católicos, paisagismo que conduz o peregrino para a manifestação de sua fé em caminhos acessíveis que transmitem paz e aconchego. A metodologia de diagnostico utilizada permitiu o reconhecimento da área de estudo através de análises morfológicas e da paisagem. E com isso percebe-se o desenvolvevimento da cidade com sua expanção voltada ao Sítio da Água Santa, necessitando resguardar esse patrimônio histórico e cultural buscando integrar com o desenvolvimento local valorizando a paisagem cultural préexistente, além de tornar o Sítio da Água Santa um polo de ações de gestão autossustentáveis para o turismo religioso na região, que faça com que as pessoas pensem em preservar o local e promover sua identidade cultural.


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Fenomenologia

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116 GASPARIM ,Leonildo, Santuário Bom jesus da lapa. Disponível em: https://www.flickr.com/photos/gasparzinho/3935752772/lightbox/. Acesso em: 14 de maio de 2014. CARVALHO, João Guilherme de. Santuário Bom Jesus da Lapa. Disponível em: https://www.flickr.com/photos/jotagedf/9346758124. Acesso em: 13 de maio de 2014.


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122 ANEXOS 01 Modelo de entrevista Registro Oral, aplicado ao Historiador José Olimpio de Almeida. 1 – Qual é o raio de influência do Santuário? Como se dá o reflexo da presença do santuário na cidade? Até aonde vai o conhecimento ou repercussões de sua existência? 2 – O que leva as pessoas à Água Santa? Qual a motivação da visita? Considerando a precariedade encontrada no lugar, o que de fato mobilizam as pessoas a visitar o lugar? 3 – Qual é a relação de identidade entre o santuário e a cidade? A visita ao Santuário estaria ligada a algum outro objetivo de visitação no município? Seria o Santuário da Água Santa o lugar mais visitado no município? Seria o Santuário um símbolo de identidade do município? 4 – Considerando o tempo de existência do Santuário, como é a frequência de visitação hoje? Estaria a visitação vinculada a algum evento? Existe uma rotina de visitação em tempos comuns? 5 – Qual o meio utilizado pelos peregrinos para chegar ao Santuário? Em dias de evento, seriam as caravanas ou excursões o principal meio de transporte utilizado refletindo num Impacto maior? E em dias comuns, seria o transporte particular ou o uso de transporte coletivo municipal o meio de acesso utilizado, e com isso um impacto menos evidente? 6 – Como são organizadas as peregrinações à Água Santa? Qual o perfil do peregrino encontrado em Iúna? 7 – O que o peregrino faz ao longo do período em que se encontra no santuário? 8 – É possível identificar em que fase de desenvolvimento a Água Santa se encontra atualmente? Através do comportamento religioso de retornar ao santuário para rememorar o que foi vivido, estaria dessa forma encontrando um elo de envolvimento e possibilidade de crescimento futuro? 9 – Quais são os dias mais visitados no santuário? Como planejar a cidade para esses momentos eventuais?


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124 ANEXOS 2 Modelo de entrevista Registro Oral, aplicado ao Padre Joaquim Cazian Filho. 1-O sítio Histórico -Cultural da Água Santa é considerado um santuário? 2- Como um santuário é reconhecido? 3- O santuário da Água Santa é reconhecido pelo Vaticano? Se não for, tem um outro tipo de reconhecimento? 4-Como a Água Santa é organizado administrativamente? 3-Quando foi adquirido/doado o terreno da Água Santa? 4- A localização da Água Santa é estratégica para a paróquia? 5- O que existia de edificação na Água Santa antes do início da peregrinação ou existência das devoções? Quando iniciaram as modificações? 6-Quais são as necessidades espaciais para um Santuário? 7-Como é a relação da Igreja Matriz com a Água Santa. O que pode acontecer com a Matriz se forem implementadas melhorias no sítio da Água Santa? 8- Quais os eventos que acontecem na Água Santa? 9-Como analisa o impacto de um projeto para um Santuário no Sítio da Água Santa? 10- A natureza é muito marcante na Água Santa; seria esta relação, somada à fé e religiosidade, um diferencial? Seria a Água Santa o único santuário em devoção a Santa Luzia no Brasil? E na Itália? Existe em Siracusa o sepulcro da santa? Que características podemos relacionar com essa devoção lá e aqui? 11-O que o ser humano busca na religião? 12-Existe uma estimativa de visitação ao santuário? Como são registrados esses números? 13-Existe o registro de histórias de vida dos peregrinos e suas graças alcançadas? 14-O início de ocupações de loteamentos próximo a Água Santa poderá prejudicar o desenvolvimento e acolhida dos fiéis?


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ANEXOS 3 Modelo de entrevista Registro Oral, aplicado ao Secretário de Cultura Adalto Gomes Faria. 1-Existe alguma relação entre o Santuário e os novos loteamento que estão surgindo no entorno do Água Santa? 2-O início das ocupações em torno da Água Santa e de novos loteamentos que começam a surgir, teria alguma relação com a Água Santa? Seria está uma forma de desenvolver a expansão da cidade, atraindo pessoas na compra de um terreno junto a um espaço sagrado? 3-Como o poder público vê a presença de um santuário religioso em seu território? 4-O Sítio da Água Santa representa um marco na identidade do município? 5-O poder público reconhece a Água Santa como centro de convergência populacional e religioso? 6- Alguma proposta para a melhoria nos acessos à Água Santa, como, por exemplo, na pavimentação, Iluminação, Drenagem? Possui alguma previsão para o Santuário? E para a cidade como um todo? 7-O poder público tem previsto alguma ação/política urbana/ para a localidade? 8-Como analisa o impacto de um projeto para um Santuário no Sítio da Água Santa? 9-Como pensar o impacto em Iúna? O que tem sido previsto para cidade?


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